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EQUIPE

EDITOR CHEFE SUPORTE


Arno Alcântara Alessandra Figueiredo Pelegati
Márcia Corrêa de Oliveira
REDAÇÃO E CONCEPÇÃO Rayana Mayolino
Marcela Saint Martin Douglas Pelegati
Marra Signorelli
Raul Martins FINANCEIRO
William Rossatto
REVISÃO Joline Pupim
Cristina Alcântara Douglas Pelegati

DIREÇÃO DE CRIAÇÃO COORDENAÇÃO DE PROJETOS


Matheus Bazzo Arno Alcântara
Italo Marsili
DESIGN E DIAGRAMAÇÃO Matheus Bazzo
Jonatas Olimpio
Vicente Pessôa O CARA QUE NUNCA DORME
Douglas Pelegati
ILUSTRAÇÃO DA CAPA
André Martins

TRANSCRITORES
Edilson Gomes da Silva Jr
Rafael Muzzulon
Raíssa Prioste

Material exclusivo para assinantes do Guerrilha Way.

Transcrição das lives realizadas no Instagram do Dr. Italo Marsili.

2
ENTENDA O
SEU MATERIAL
1. O Caderno de Ativação ajudará você a incorporar
e a colocar em prática o conteúdo de uma das
fabulosas lives. É um material para FAZER.

2. No LIVES você encontrará transcrições, resumos


e uma visão geral das lives selecionadas para a
semana. É um material para se CONSULTAR.

3. Se quiser imprimir, utilize a versão PB, mais


econômica.

4. Imprima e pendure o seu PENDURE ISTO.

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A SEMANA NUMA TACADA SÓ _______________ 5

O PONTO CENTRAL _______________________ 6

IMPORTE-SE COM A OPINIÃO


DE QUEM IMPORTA _______________________ 11

SUJAR OS OUTROS NÃO TORNA


VOCÊ MAIS LIMPO ________________________ 34

A SOLUÇÃO PARA SUA VIDA


(QUE VOCÊ NÃO COLOCARÁ EM PRÁTICA) _____ 47

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A SEMANA
NUMA TACADA SÓ
LIVE #7
IMPORTE-SE COM A OPINIÃO DE QUEM IMPORTA
Só não suporta a opinião alheia quem seleciona mal
seus opinadores. A opinião de quem está atento à nos-
sa vida, tem experiência e quer o nosso bem é funda-
mental para nossa orientação.

LIVE #99
SUJAR OS OUTROS NÃO TORNA
VOCÊ MAIS LIMPO
Quem sente remorso sem arrependimento está fada-
do à infelicidade. Não é para remorder seus erros, mas
para agir positivamente sobre eles.

LIVE #100
A SOLUÇÃO PARA SUA VIDA
(QUE VOCÊ NÃO COLOCARÁ EM PRÁTICA)
As soluções para nossa auto-piedade são muitas ve-
zes paliativas. O remédio está em fazer obras de cari-
dade. Visitando asilos, orfanatos, casas de acolhimen-
to e ajudando a cuidar dos necessitados.

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O PONTO CENTRAL
R E S U M O S D A S E M A N A
LIVE #7
IMPORTE-SE COM A OPINIÃO
DE QUEM IMPORTA

Só existe uma besteira maior do que importar-se com a opi-


nião de todo mundo: não se importar com a opinião de nin-
guém. Todo mundo que realizou alguma coisa na vida ou-
viu a opinião de alguém. É bom que você ouça opiniões,
desde que saiba escolher bem os seus opinadores. Devem
ser pessoas que estejam prestando atenção na sua vida, que
o queiram bem, e que tenham experiência.

A maior parte das pessoas não gosta de ouvir a opinião


alheia porque passou a vida toda dando ouvidos aos opina-
dores errados. A opinião do seu vizinho sobre o ano do seu
carro, a quantidade de filhos que você tem ou a cerveja que
você toma não tem de fato importância nenhuma. E, de tan-
to se importar com palpiteiros, o sujeito acaba criando uma
rejeição à ideia mesma de que alguém opine sobre sua vida.

Entretanto, aproximar-se de pessoas que realizaram coisas


grandes, que você também deseja realizar; que superaram
dificuldades que você também tem, e pedir, com toda hu-
mildade, a ajuda e a opinião delas, é fundamental. Sem isso,
você está sozinho, é seu único e exclusivo juiz. E ninguém é
bom juiz em causa própria.

Por isso, é preciso inventariar os seus desejos e ver se, no


fundo deles, existe a influência de uma pessoa, e se essa
pessoa é alguém cuja opinião você deveria levar em conta.

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Uma pessoa madura sabe dizer de onde vieram suas moti-
vações, por que agiu como agiu — sabe nomear os elemen-
tos que compõem suas decisões. O contrário disso é agir às
cegas, no impulso, fazendo trapalhadas. O antídoto contra
cabeçadas é buscar as melhores cabeças — e orientar-se por
elas.

LIVE #99
SUJAR OS OUTROS NÃO TORNA
VOCÊ MAIS LIMPO

Existem dois tipos de pessoas: as que limpam o próprio car-


ro e as que sujam o carro dos outros. Infelizmente, o segun-
do tipo é maioria entre nós. Se você é desses que não perde
a chance de fazer um comentariozinho maldoso, ou mesmo
só uma “piadinha” com os colegas, saiba que você é medío-
cre. Na verdade, você está vivendo para se comparar com os
demais.

Ao reconhecer sua própria miséria, lhe restam duas opções:


o remorso ou o arrependimento. Remorso é quando a gente
olha as porcarias que fizemos e remordemos aquilo, e daí
para começar a enlamear a propriedade alheia é um pulo.
Cometemos, com isso, um duplo crime: o da porcaria feita e,
agora, o da maldade, da injustiça. Muito diferente do remor-
so é o arrependimento, que consiste num ato de confissão
seguido de ação positiva. Só se arrepende de verdade quem
reconhece a própria mediocridade e trabalha para melhorá-
-la.

O remorso é concentrar o olhar na sujeira sem pensar na


limpeza possível. O arrependimento verdadeiro vem a partir

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do olhar amoroso, que age sobre os erros cometidos, a des-
peito do que qualquer um venha a pensar. Sempre temos do
que nos arrepender; se não pela besteira feita, pela bondade
que deixamos de fazer. Foquemos no amor, no serviço, nas
boas ações, nos sorrisos, nos abraços, nas conversas olho a
olho. Transformar o remorso em arrependimento é um dos
segredos da felicidade.

LIVE #100
A SOLUÇÃO PARA A SUA VIDA
(QUE VOCÊ NÃO COLOCARÁ EM PRÁTICA)

Um problema muito comum que trava nosso amadurecimen-


to, é que nos tratemos com auto-piedade o tempo todo. Há
muitas soluções para esse assunto, algumas das quais muito
conhecidas, como tomar café sem açúcar ou tomar banho
frio. Porém, aqui cabe dar mais um passo, e talvez esse pas-
so não seja para você. Se você tem alguma ressalva em dar
esmola a mendigo, por exemplo, essa live não é para você.
Porque o remédio para sua auto-piedade está em algo que
vai além da esmola: está na caridade. E por caridade enten-
de-se: procurar uma instituição de caridade, olhar para um
mendigo que está fedendo, que está com as feridas abertas
e cheias de bicho, e cuidar dele.

Procure, por exemplo, a Toca de Assis. Ela é formada por fran-


ciscanos, que são aqueles sujeitos que não caíram no conto
da carochinha. Eles não acham, como nós achamos, que ter
todos os produtos da Apple trará felicidade. Os franciscanos
estão lá, tocando no cerne da vida, resgatando gente que
não tem sequer um pedaço de pano para se proteger do frio.
Para isso, eles abdicaram de tudo: de sua beleza, de seus

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bens, de seus sonhos de juventude. Quando olhamos para
um desses franciscanos e pensamos: “tadinho, ele nunca vai
se casar”, deveríamos nos envergonhar de como nossa vida
está mesquinha.

Em geral, somos muito egoístas. Até quando queremos me-


lhorar, estamos pensando em nós mesmos. Sem a caridade,
vamos explodir de tanto amor-próprio. Mas não basta a ca-
ridade de sempre dar esmola. Sem a caridade de ver o sofri-
mento humano alheio, de dar banho em mendigo, de ajudar
a trocar a fralda de velho no asilo, você ainda está abaixo da
dignidade humana. Tente fazer isso pelo menos doze vezes
por ano, que seu coração vai se reposicionar.

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LIVE #7

IMPORTE-SE COM A OPINIÃO


DE QUEM IMPORTA
Vou começar o assunto com aquela frase que todo
mundo já ouviu, repetiu alguma vez na vida, ou para
um lado, ou para o outro. Ela é dita como fosse uma
moeda, de dois modos.

O primeiro modo como as pessoas a dizem é: “Italo,


eu me preocupo com a opinião de todo mundo.”.

O outro lado dessa mesma moeda diz o seguinte: “Eu


não me importo com opinião de ninguém. Eu não
queria me importar com a opinião de ninguém.”.

São duas faces da mesma moeda, e queria analisar


aqui hoje essa moeda: a da opinião do outro.

Vou começar pelo lado menos usual, quebrando um


pouco a ideia que talvez esteja presente na cabeça
de muita gente, que é: “Você não deveria se importar
com a opinião de ninguém. O que importa é a sua
opinião sobre você.”. Bobeira. Vamos parar com essa
frescura.

Todo mundo que se preza, que é grande, que per-


formou na vida, que conquistou algo relevante (olha
que atendo muita gente, de todos os extratos sociais,

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de todos os cantos), ouve a opinião de outros. É óbvio
que ouvem a opinião de outros. É muito importante
você ter gente da qual você possa ouvir a opinião.
Não tem problema em ouvir opinião. Pelo contrário.

Você tem que conquistar, conhecer pessoas. Aí está o


ponto da sabedoria: pessoas cuja opinião valha algo.

Então, quando você conhece alguém que de fato é


superior a você, já viveu aquilo que você pretende
viver um dia, você tem que ir lá e implorar para essa
pessoa dar uma opinião na sua vida.

“Se opinião fosse bom, não dava. Cobrava.”.

Tem um monte de gente cobrando por opinião, para


você ver como é bom.

Opinião é bom, sim.

Uma coisa é dar opinião em sua vida, outra coisa é o


pessoal se intrometer na sua vida dizendo o que tem
que fazer em casa. O problema está aqui, e é o pro-
blema central.

Uma coisa é você pedir opinião, voluntariamente


querer ouvir alguém. Outra coisa é uma pessoa que
sequer está prestando atenção na sua vida chegar
para você e dizer o que você tem que fazer.

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Aqui está o ponto central: uma pessoa tem todo o di-
reito de lhe dar uma opinião, desde que ela esteja
prestando atenção na sua vida, queira o seu bem e
tenha experiência.

Se você está sozinho, ninguém dá opinião na sua vida,


tem um problema grande aí. Você está perdido. Nós
não somos bons juízes em causa própria. É sempre
bom termos alguém do nosso lado balizando nossas
ações.

“A cada instante precisamos de alguém para balizar


nossas ações?”

É claro que não.

Mas, é bom termos pessoas que possam nos ajudar.


Essa é uma das funções do Guerrilha Way, por exem-
plo. Vocês pegam um pouco da minha visão de mun-
do, da experiência de já ter visto centenas, milhares
de vidas. Sei os caminhos que funcionam, os que não
funcionam, pela minha própria experiência e pela
das centenas de milhares de pessoas, porque estava
atento à vida delas.

Então, é claro que é bom recebermos a opinião de


alguém.

Mas, veja. Não é qualquer um que tem direito de dar

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opinião na nossa vida. Por quê? Porque a pessoa pode
estar dando uma opinião na nossa vida por mil moti-
vos. O brasileiro tem uma mania de dizer que nada vai
dar certo. Então, você vai falar para a sua mãe: “Mãe,
vou empreender. Vou montar uma loja de brownie.”.
A sua mãe vai chegar e jogar um balde de água fria
na sua cabeça. Aí você tem que pensar: “A opinião da
minha mãe, do meu pai, estão vindo de onde? Pode
ser que esteja vindo do medo deles, de uma frustra-
ção, de lugar nenhum, que estejam só repetindo um
senso comum: ‘Empreender não funciona, o negócio
é concurso público. Tem que entrar para o Banco do
Brasil’”.

Tem que tomar cuidado. Em primeiro lugar, é isso:


não rechaçar a opinião só porque é a opinião de ou-
tras pessoas.

Em segundo lugar, e aqui é o mais importante, ou tão


importante quanto, é não ficar escravo da opinião do
outro. O fundamental é esse.

De que vale a opinião do seu vizinho sobre o carro


que você tem? De que vale a opinião do seu vizinho
sobre o número de filhos que você tem? Sobre você
viajar nas férias ou não?

Para quê vale essa opinião? Por que escolher o seu vi-
zinho como um opinador que pode ter alguma força

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sobre sua vida? Esse é o ponto.

A maior parte das pessoas, no fim das contas, tem


essa rejeição à opinião balizada e verdadeira porque,
no fundo de tudo, escolhem um monte de gente para
dar opinião o tempo todo sobre a própria vida. Tem
que tomar cuidado.

Vamos repassar isso até entendermos por que temos


que conseguir nos livrar desses abutres, juízes da nos-
sa história, da nossa vida. Esse é o ponto central.

Tem que fazer um inventário. “Estou aqui no meu tra-


balho, na minha vida, no meu relacionamento, me au-
toeducando, querendo comprar esse carro. Por quê?”

Meu primeiro ponto é o seguinte: quais desejos você


tem no coração, de verdade, hoje? O que você quer?

Vamos colocar os desejos materiais: “Eu quero mudar


de casa, comprar um carro novo. Quero mudar meu
vestuário, cortar meu cabelo.”. Tudo bem. Alguém
está mandando no seu desejo? Isso é importante nós
sabermos. Você está querendo fazer isso por causa
de uma pessoa em concreto? Ótimo. Então você vai
chegar à conclusão de dizer: “É realmente por uma
pessoa.”. Aí você não vai rejeitar a coisa de cara. Você
vai parar e pensar o seguinte: “Essa pessoa tem poder
sobre mim?”. Você pode chegar à conclusão de que a

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pessoa tem muito poder sobre você. Nesse caso você
tem que fazer a coisa por causa dessa pessoa mesmo.

Imagine que seja um amigo, um mestre, um pai, uma


pessoa que de fato se preocupa contigo, que gosta
de você, e que está preocupada com você. Ela tem
a opinião de que você tem que mudar o jeito como
você se veste. Ou então que você tem que mudar de
trabalho. Se é uma pessoa que, de fato, está prestando
atenção na sua vida, que se preocupa com você, você
tem que entronizar essa opinião. É uma boa opinião.
É uma pessoa experiente, não tem segunda intenção
contigo. Então você diz: “De repente, vale a pena.”.

Mas, imagine que você tenha 50 mil reais. Ganhou


uma bonificação, o FGTS, uma herança, enfim. Você
poderia empreender e ficar mais um tempo andando
de ônibus, ou poderia comprar um carro. Para que
você quer um carro? “Quero um carro porque meu
vizinho tem um carro. Ele tem um Corolla novinho, e
eu estou andando de ônibus. Estou ali com um carro
velho, com um Civic velho, caindo aos pedaços.”. Aí
você olha para o seu vizinho e diz: “Eu também tinha
que ter um carro desse aqui igual ao dele.”. Burro.

Por quê? Porque você está se comparando com o seu


vizinho.

Em primeiro lugar, o seu vizinho não está nem aí para

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você. Em segundo lugar, para quê você quer se com-
parar com ele? Para quê quer ter um carro igual ao
dele? Você poderia pegar o seu dinheiro e investir
em um negócio próprio, fazer uma viagem que que-
ria fazer e que, de fato, é mais importante para você.

O problema da opinião não está na opinião do outro


sobre você. Está na qualidade do juiz, do opinador.
Aqui está o ponto central.

Esse exercício é realmente importante.

Você vai olhar: “Quais são os meus desejos agora?”


Ficar mais rico? Ganhar mais intimidade espiritual?
Mudar de casa? Comprar uma bicicleta?

Por que você quer isso?

Vocês sabem que eu estava querendo comprar uma


moto. Vou dar um exemplo pessoal para retomar o
processo. Parei, e pensei: “Por que estou pensando
tanto em comprar uma moto? Eu já tive moto quando
era mais novo.” Aqui já está uma porta de entrada:
já tive, sei como se pilota, da praticidade. Mas, por
que isso voltou na minha cabeça agora? Tem duas
coisas que pesaram: a primeira foi que meu sogro e
meu cunhado compraram uma moto. Então, é claro,
seria muito legal poder sair com eles. Não foi por in-
veja. “Quero ter uma moto porque eles têm também”.

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O ponto não foi esse.

Peguei na moto do meu sogro, na do meu cunhado, e


falei: “Legal, cara. Tem um grupo aqui para eu andar
de moto. Esse aqui é um motivador.”. Isso, sozinho,
seria capaz de fazer eu comprar uma moto? Talvez
sim. Talvez seria bom ter uma moto na garagem para
poder sair final de semana com meu sogro e meu
cunhado. Ia ser bom subir Petrópolis e voltar. Seria
maravilhoso. Minha sogra, minha cunhada, que amo,
iam de carro porque tem medo de andar de moto e
nós iríamos de moto. Seria fantástico poder fazer isso.

Falei: “Mas, isso justifica comprar uma moto?”. Enten-


de qual o processo? Tem que justificar.

Então, um monte de gente começa a dar uma opinião:


“Italo, não compra moto. É perigoso. Você tem 6 filhos
e é muito perigoso.”. Você tem de ficar consciente
dessas coisas para não tomar uma decisão às cegas.
Muita gente diz: “É muito perigoso andar de moto.”.
Quão perigoso? Quem, de fato, morre de moto? É o
motoboy que anda igual um maluco, cheio de pres-
sa, moto pequenininha. A pessoa da Harley Davidson
não morre de moto. É uma moto barulhenta, não sai
costurando todo mundo.

É um processo que é importante de ser tomado. Tem


que tomar consciência dessas coisas.

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No meu caso, em concreto: eu estava sem carteira de
carro, já tive moto durante muito tempo. Existiu um
elemento precipitante: meu sogro e meu cunhado
compraram uma moto, andei na moto do meu sogro
e falei: “Excelente. Bom mesmo.”. Relembrei como era,
tenho o dinheiro, não vai onerar minha família, en-
tão falei: “Vai lá e compra uma moto.”. Entende como
funciona?

Queria que, para vocês, este fosse um ano em que


não tomassem decisões às cegas. Não vejo problema
nenhum em tomar decisão no impulso. Acho que às
vezes as decisões têm que ser no impulso mesmo e
funcionam. O que não pode é tomar decisão às ce-
gas. Não saber por que está fazendo a coisa, ainda
que você declare: “Olha, quero comprar um Corolla
porque meu vizinho tem um Corolla e não quero fi-
car por baixo dele.”. Tudo bem, mas declare isso e
não tenha medo de dizer: “Eu sou um invejoso mes-
mo, preciso de um Corolla porque meu vizinho tem
um Corolla.”.

Então, não tomem decisões às cegas. Sobretudo, se


você puder não tomar decisões motivadas por motiva-
ções baixas, seria fantástico para você. Estou falando
de bens materiais, mas depois posso falar de bens in-
telectuais, espirituais e afetivos. Hoje estou falando de
bens materiais porque é mais fácil de visualizar, mas
é a mesma coisa para bens intelectuais e espirituais.

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Lembram que eu estava falando aqui, há um tempo,
que não uso relógio, mas seria bom ter um, e pensei
em comprar um Apple Watch? Fiz o processo mental
e falei: “Não. Esse aqui é francamente por causa de
inveja. Para mim não vai ser útil ter um Apple Watch.
Não vai servir. Eu compraria um Apple Watch para
fazer parte do grupo das pessoas que têm Apple Wat-
ch.”. Então não comprei. Para mim não faria diferença
financeira, eu poderia comprar um, se for parar para
pensar em termos financeiros. Mas, falei “não”. Esse
Apple Watch seria 100% motivado por um motivo bai-
xo.

Sempre que agimos motivados por um motivo baixo,


nós pioramos. O que é um motivo baixo? É um motivo
de soberba, luxúria, preguiça, de estar apegado aos
bens materiais.

Queria que, nesse ano, não agíssemos às cegas; que


soubéssemos colocar no lugar a opinião dos outros de
forma direita; que escolhêssemos pessoas boas, que
têm direito de opinar, para opinarem. Por quê? Porque
são pessoas que têm experiência, que se preocupam
com a gente, que não têm segundas intenções.

Esse exercício é para fazermos todo santo dia.

Faremos o seguinte: “Por quê eu quero fazer isso?”.


“Por que quero fazer esse curso?”. O curso para psi-

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cólogos, por exemplo. Por que quero fazer esse curso
para psicólogos? “Porque ele vai ser dado pelo Italo,
porque quero melhorar minha profissão, quero me
conhecer melhor”. São motivações muito boas.

“Quero fazer esse curso para não ficar de fora”. De


fora do que? Você não sabe nem onde vai entrar. En-
tão tem que pensar nessas coisas.

“Quero emagrecer.”. Tudo bem. Quer para ficar mais


bonita para não ter vergonha de ir na piscina? É uma
boa motivação. Declare isso.

Quando você declara, já não há mais problema.

O problema é quando você está falseando a sua his-


tória. Você não declara, quer colocar um motivo no-
bre em cima de uma coisa ruim. Jamais faça isso. Esse
ano não é o ano para fazermos isso.

A coisa do Apple Watch era apenas modinha. Para


que vou querer um Apple Watch? Para entrar na mo-
dinha? Não é para mim, não vou. Se eu não tivesse
consciência, provavelmente estava de Apple Watch
na frente de vocês agora.

Às vezes temos sensações que entram em nossa his-


tória e não sabemos de onde vêm. Nos sentimos meio
estranhos, deslocados. Por quê? Porque a maior parte

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das decisões você tomou às cegas. Tomou decisões
baseado na opinião do vizinho, do primo, do paren-
te que não está nem aí para sua história, para a sua
vida. Esse é um cuidado que a gente tem que ter com
a nossa saúde biográfica a cada decisão que a gente
tomar. Não espero que tenham a prática de fazer isso
a cada segundo, mas uma vida plena, uma personali-
dade madura, consegue dar os motivos de cada uma
das suas ações.

Se perguntar para uma pessoa madura qual o motivo


de cada uma das suas ações, ela saberá explicar para
você. Esse é um dos elementos da maturidade: saber
de onde vem sua ação e para onde ela se dirige.

Quais foram os elementos que fizeram a composição


da sua ação? Isso não é difícil fazer, mas tem que es-
tar consciente.

Vamos começar, então, a convocação de hoje.

E a convocação de hoje é: quem opina sobre sua vida?


Quem tem poder de operar sobre sua vida?

Então você pode se surpreender que, de repente, o


cara que cuida da piscina é um juiz da sua vida. Aí
você pensa: “É por isso que penso em ir pra piscina
levando não sei o quê.”. Sei lá, cada um tem uma ideia
maluca na cabeça.

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Vamos prestar atenção nisto: quem são os juízes da
nossa vida.

Depois, pensaremos o seguinte: quais as coisas que


estou querendo fazer? Com o que estou “encuca-
do” hoje? Estou querendo comprar uma Land Rover?
Comprar um Celtinha? Um Apple Watch? Esses são
exemplos materiais. Depois falaremos de exemplos
intelectuais e espirituais.

Vi muita gente escrevendo que os idosos são bons


conselheiros. Não são, não. Idoso, em nossa época e
civilização, hoje, é um poço de ignorância. Me des-
culpem os idosos, mas é difícil acharmos um idoso
de 60, 70, 80 anos, que tenha algo para oferecer. Es-
ses sujeitos foram deformados, são de uma geração
completamente deformada, não tem nada na cabeça.
É uma das coisas mais tristes da nossa história. É la-
mentável olhar para os anciãos e não poder contar
com eles. Ancião não tem ideia nenhuma.

Se está na rua, com sua família, aí vem uma idosa de


70 anos e tem uma opinião idiota sobre sua família,
sua história, uma opinião que não significa nada, sol-
tando coisas que ouviu na Ana Maria Braga, no Rati-
nho.

Os idosos, hoje, só valorizam bens de jovem. O que o


idoso quer? Sabedoria? Prudência? O dom do conse-

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lho? Não. Quer ter um abdômen tanquinho, se vestin-
do igual a um jovem, estar ágil, fazendo cooper, pi-
lates. Grande coisa. Isso é bem de jovem. Quem tem
que ter vigor físico é jovem.

Tudo bem, o idoso também pode possuir vigor físico,


mas não pode valorizar. Isso não é um bem valorizá-
vel, no primeiro plano, por um idoso. O idoso cuida
da saúde como qualquer um cuida.

A morte tem que estar presente para o idoso. Ele tem


que ter uma morte presente.

É claro que nem todos os idosos são assim. Tem gente


que não é imaturo, mas tem gente que é. Estou falan-
do da maioria. A maioria dos idosos são assim, sim.

A maioria dos idosos não estão com nada. Têm medo


da morte.

Você vai ter medo da coisa que está mais próxima da


sua vida? O idoso tem que dizer: “Vou morrer daqui
a pouco. Então tenho que cuidar do meu espírito, da
minha alma, dos que estão perto de mim.”. Não tem
que querer estar com o abdômen trincado. O abdô-
men vai decompor daqui a pouco mesmo.

Temos que ter na cabeça que vamos envelhecer.

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A minoria dos idosos são sábios, hoje em dia. A maior
parte não sabe de nada. É uma tristeza.

Atendi idosos durante muito tempo. A verdade é essa:


a maior parte dos idosos não cultiva os bens próprios
da sua idade. Está cultivando bens de outra idade, da
juventude, por medo. É uma lástima.

Por quê a sociedade está tão mal? Um dos motivos é


isso: não temos mais patrimônio. O patrimônio dos
idosos está decomposto. Então, escolher um idoso
para ser um juiz da sua vida apenas porque é idoso é
burrice. Tem que escolher alguém sábio.

A sabedoria era para ser identificada com a idade,


mas em nosso tempo não está.

“A minha avozinha não é assim.”. Então tudo bem, a


sua avó não é assim, mas a maioria é.

O pessoal se dói por tudo. Amadureçam. Parem com


isso.

Vamos, então, escolher bons juízes para nós. Vamos


entender de onde vem a motivação, porque, no fim
das contas, se você está motivado por um sujeito
que não tem nada a ver com a sua vida, então o que
vai acontecer? Você vai estar agindo às cegas nesse
mundo. Aqui está o ponto.

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Ninguém está falando para desrespeitar idoso. É inte-
ressante como as pessoas se doem quando falamos
de idoso. Não poder falar de idoso é uma das amar-
ras do politicamente correto. É a mesma coisa de não
poder falar de negro, judeu, só porque é negro, judeu,
ou gay.

O fato de o sujeito estar classificado como “uma mi-


noria” não santifica esse sujeito. Cuidado com isso.
Isso é fator de emburrecimento. Tem que se livrar
disso para ontem.

Existe gente sacana e imatura em todos os estamen-


tos, classes e idades. Não é pelo fato do sujeito ser
idoso que ele vai ter sabedoria. Ele pode ser um su-
jeito que passou a vida toda desatento. Como vai ser
sábio só porque é velho? Não tem como.

Cuidado. Pense.

Olha o que aconteceu com parte das pessoas que


estão comigo na live: eu toquei em uma das vacas
sagradas da nossa civilização. Existem algumas pes-
soas, grupos, que estão imunes à crítica. Essa é a coisa
mais idiota do mundo. Ninguém está imune à crítica
por conta de cor de pele, desejo sexual, por deficiên-
cia física, por ser velho. Ninguém. Isso é um vitimis-
mo enorme. Abandonem isso para ontem.

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Se o sujeito, porque é branco, judeu, velho, não pode
ser criticado, acessado, vai piorar a cada dia. Isso é
um desserviço que você faz para as minorias. Se nin-
guém tem a coragem de falar para um negro, para um
homossexual, para um velho, que ele está ruim, mal,
esse sujeito só piora. O vitimismo só piora as pessoas.

Você acha que o mundo inteiro tem que cuidar de


mim? Não. Tem que cuidar como cuida de todo mun-
do. É igual para todo mundo: com dignidade, amor,
respeito.

Mas, não é porque o sujeito é velho que tem que pri-


vá-lo disso. É o contrário: o sujeito vai morrer e eu vou
privar esse sujeito de se confrontar com a realidade
última da sua vida, que, de fato, vai dar sentido para
a vida dele? Óbvio que não.

Não pode ter medo de declarar isso. Eu declaro isso


porque sei o que estou fazendo. Vocês não precisam
chegar e falar dessas coisas, podem acabar fazendo
besteira. Então não façam ainda. Não há problema
nenhum.

O pessoal diz que estou atacando idoso. Estou falan-


do que não é pelo fato de ser idoso que você vai es-
colher essa pessoa para ser seu juiz. Isso é uma tris-
teza, e é um fato. Todo mundo sabe disso.

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Olhe para a sua avó: “A minha avó é santa.”. As pes-
soas adoram endeusar pessoa idosa. Tem que cuidar
dele para ter uma boa morte, para se confrontar com
sua realidade última, se arrepender dos pecados, dei-
xar de ser fofoqueiro, para ver se amadurece no final.
Essa é a ideia.

Há um vitimismo muito grande.

Meu avô teve um câncer no cérebro. Amava meu avô,


e ele ia morrer, todo mundo sabia disso. Ele é um tipo
de ídolo na família, e chamava-se Italo também. To-
dos o amávamos, e descobrimos um câncer em sua
cabeça. Em uma noite, ele estava bem e começou a
tropeçar, fez radiografia e descobrimos um câncer
na cabeça dele que o mataria em 3 meses. Minha fa-
mília dizia: “Não vamos contar para ele que vai mor-
rer.”. É óbvio que tem que contar que ele vai morrer.
Não pode privar o sujeito de se confrontar com sua
realidade última. Eu fui lá e falei com todo o amor do
mundo: “Vô, o senhor sabe, fez cirurgia...”. Conversei
com ele e ele me disse: “Estava desconfiando mesmo
que a coisa era grave.”. Foi o que ele disse.

E começou a revisar as coisas e agradeceu, disse: “Que


bom. Obrigado.”. Alguém tem que falar a verdade.

Outro dia o pessoal estava perguntando: “Como eu


abordo a minha avó? Ela está para morrer.”. Falei:

28
“Avise ela que ela está para morrer.”. “Mas e se ela fi-
car com medo?”. Eu disse: “Que diferença faz? Ela vai
morrer de qualquer jeito. Ao menos você dá a ela a
chance que ela tem para se resolver espiritual, inte-
lectual, efetiva, materialmente. Você tem que dar uma
chance para as pessoas.”.

Nesses grupos de minoria você não pode falar para a


pessoa que ela é ruim.

Um dia eu estava em um cruzamento aqui no Rio de


Janeiro. O trânsito tinha andado um pouco, coloquei
o carro um pouco para frente para liberar o de trás e
parei no meio do cruzamento, mas o trânsito estava
andando. Então, ouvi uma pancada na minha janela.
Tomei um susto, abaixei o vidro e falei: “Rapaz, toma
cuidado. Me deu um susto, e se tem um sujeito meio
doido e armado, te dá um tiro.”.

Então, o rapaz começou a gritar igual um louco: “Só


porque sou preto.”. Eu nem tinha visto a cor do rapaz.
O que tem a ver o rapaz ser negro com o fato de ter
me dado um susto? Um vitimismo muito grande. Fa-
lei: “Nem vi que você era negro. Deixa de vitimismo.”.
Coisa maluca.

Mas o problema é esse: nós também nos colocamos


nessa posição de minoria: “Eu não tive opção. Não
tive oportunidade.”.

29
Cresça. Amadureça. Pare com essa palhaçada.

Não fiquemos endeusando nossos defeitos. Falo para


nós, não para o grupo de minorias. Cada um aqui iria
se incluir em um grupo de minoria. Pare com isso.

Quando revestimos nossos defeitos de santidade, ja-


mais melhoramos. Não tem nada a ver com política
pública (e políticas públicas têm que ter mesmo). O
problema é isso, aqui que está a engenharia social:
quando se entroniza isso na sua biografia, na sua
personalidade. Você jamais melhora. Por quê? Por-
que pegou um defeito, santificou esse defeito, e você
se torna inacessível por conta daquele defeito ou ca-
racterística que você possa ter. Que coisa absurda. Aí
não pode falar “velho”. Tem que falar “idoso”, “tercei-
ra idade”.

“Velho” é uma palavra que existe, e não é depreciati-


vo. “Terceira idade”, “velhice”, “ancião”, tudo isso, de
algum modo, é depreciativo. Por quê? Porque a pes-
soa está depreciando mesmo, está acabando, mor-
rendo, por um lado. Por outro lado, está melhorando.
O problema é esse: você não vê melhora em velho, vê
apenas depreciação.

Você vê um velho melhorando? Eu não vejo. Só vejo


apenas velho piorando. Não conheço um velho ma-
duro (apenas um, o professor Olavo de Carvalho). To-

30
dos os outros que conheço estão piorando.

O que é melhorar para um velho? Ficar ágil? Atlético?


Isso não é melhora para um velho porque no limite
isso vai acabar, ele vai morrer.

Melhora para velho é ficar mais sábio, saber dar con-


selho, saber ouvir, não encher o saco, como todos nós.

Então, não é preciso endeusar alguém.

Essa é uma das coisas que precisamos destravar da


nossa cabeça. “Não posso ouvir. Não pode juntar a
palavra ‘velho’ e ‘mau’, porque os velhos são tão fofi-
nhos.”. Nem todo velho é fofinho!

É a mesma coisa de “melhor idade”. Que eufemismo


imbecil. Melhor idade em quê? Melhor idade se, de
fato, a pessoa estiver cultivando os bens intelectuais,
espirituais. E o sujeito que cultiva isso não vai se im-
portar com isso de “melhor idade”, e todos sabem dis-
so.

Se houver um velho me ouvindo que seja consciente,


maduro, vai dizer: “É isso aí mesmo. Você tem razão.”.
Mas é óbvio. Não há nada de mais aqui.

“Velho é melhor intelectual.”. E velho lê? Você conhe-


ce algum brasileiro que lê?

31
“Mas velho é melhor intelectualmente.”. Agora me
diga a verdade: qual velho está mais inteligente, mais
sábio, culto, sabe dar mais conselhos, mais nobre?
Conhece algum assim? Conheço um monte de velho
bobo, fofoqueiro, ou então mau, ruim. Acha que todos
devem tudo só porque é velho. “Tem que me levar
aqui, levar ali.”. Calma aí. Se você é um velho maduro,
você fica na sua. Então, nós cuidamos do velho com
todo o amor do mundo. É assim que se faz.

Temos que cuidar do velho, honrá-lo, esconder as


suas vergonhas. Isso temos que fazer.

Amadureça. Estou aqui para isso.

Se for para o bem, não pouparei ninguém.

Não elejam vacas sagradas, palavras intocáveis. Isso


é receita para o emburrecimento e imaturidade. Per-
ca isso do dia para a noite.

Precisamos destravar todas essas ideias.

O politicamente correto matou toda a nossa capa-


cidade de raciocinar, é uma idiotice, uma mordaça
verbal que acaba, por não permitir que a gente fale
o que a gente vê e faz com que a gente emburreça.
Vamos abandonar isso do dia para a noite.

32
Então é isso, vamos escolher alguns atos nossos, e
entender a origem deles. Vamos entender de onde
ele vem, para onde vai e o que o motiva.

33
LIVE #99

SUJAR OS OUTROS NÃO TORNA


VOCÊ MAIS LIMPO

Existem duas maneiras de se ter o carro mais limpo


do condomínio: a primeira delas é indo lá e lavando
seu próprio carro com muito capricho. É acordar cedo
no domingo, pegar o aspirador de pó, os apetrechos
e fazer a limpeza. Eu me lembro de que, quando era
mais novo, íamos para a nossa casa de praia em São
Pedro da Aldeia, e se tinha uma coisa que eu gostava
de fazer, era lavar o carro do meu pai. Eu achava uma
graça ver como o pneu era sujo, coisa de criança que
não tem nada na cabeça, enfim.

O segundo -- e mais fácil -- jeito de se ter o carro mais


limpo do condomínio é pegar um balde de lama e su-
jar o carro dos outros. É batata: nosso carro será com
certeza o mais limpo. Só existem essas duas manei-
ras, não há uma terceira.

Infelizmente, 99,9% das pessoas que querem ter o car-


ro mais limpo do condomínio usam o segundo expe-
diente; afinal é mais fácil sujar o carro dos outros do
que limpar o seu.

Ontem apareceu um sujeitinho, cujo nome não me


lembro, fazendo um comentário ao melhor estilo su-

34
ja-carro-dos-outros. Um dito médico, dito psiquia-
tra, chegou no vídeo de propaganda do nosso curso
presencial e fez um comentário dizendo que eu não
era médico coisa nenhuma, muito menos psiquiatra,
que eu um bobão, um charlatão, ou algo assim. Ele fa-
lou umas besteiras lá, o teor exato eu não me lembro.

Quando você vai dar uma olhada na cara do sujeito,


vê aquela cara triste, amarga, e ele com um monte de
títulos irrelevantes na bio do Instagram, tipo “Fui na
quermesse da minha cidade em 2017 e fiz atendimen-
to do padre”, “Em 2018, fui convidado pela tia Joqui-
nha da escola infantil da minha comunidade para fa-
zer uma palestra para as crianças”, “Visitei minha avó
em 2016 lá em Guapimirim”, aí o maluco vai e me põe
essas coisas no currículo. Tudo o que ele fez na vida,
ele põe no currículo. Fica uma coisa engraçadíssima
-- e quem “não é psiquiatra” sou eu!

Esse cara é um desses que quer denegrir a imagem


dos outros, quer se achar o maioral da história jogan-
do lama no carro dos outros. O problema, meu filho,
é que você até pode jogar lama, mas se o alvo é uma
Ferrari e seu carro é um fusca, bem, já sabemos para
quem vai ficar feio. Você ainda não entendeu como
funciona a vida. Você obviamente é um sujeito que
está vivendo baseado na opinião dos outros, ou seja,
vivendo não diante de um arrependimento, mas de
um remorso.

35
Se você tem esse expediente na vida, se você é esse
cara que precisa se autoafirmar mediante essas “con-
quistas” absolutamente irrelevantes que nem sequer
são conquistas, sinto muito por você.

Obviamente, se você está vivo, alguma coisa você fez;


você comeu o bolo de fubá que a sua tia Cristina te
ofereceu, você usou uma blusa azul na noite de Na-
tal de 1998... Essas coisas aconteceram, mas querer se
valorizar baseado nelas é absurdo. Elas são um nada,
são irrelevâncias absolutas, você não fez nada útil na
vida, e por isso é que ninguém te escuta, sua mulher
não te escuta, seu filho não te escuta, o pessoal do
seu trabalho não te escuta. Ninguém te escuta, meu
amigo, você é uma irrelevância.

E não há problema em não ser escutado, afinal nem


todo o mundo será escutado na comunidade. O pro-
blema é ficar denegrindo a imagem dos outros e ficar
se exaltando baseado nas porcarias nenhumas que
você fez. Não seja essa pessoa -- não sejamos essa
pessoa!

Não estou falando só para esse médico psiquiatra


que andou me denegrindo, não, estou falando para
você que está me ouvindo agora, e para mim tam-
bém, me olhando no espelho. Quando, numa rodinha
de amigos, você é o que faz um comentário sobre al-
guém, um comentário divertidíssimo, muito engra-

36
çado, apenas uma “piadinha” sobre um colega, pode
ter certeza: você está francamente num sistema de
comparação com os outros, você está vivendo no
império do remorso, e remorso não é arrependimento.

Remorso é quando olhamos para uma merda que fi-


zemos e não temos arrependimento, apenas ficamos
olhando para aquela vida medíocre que tivemos ou
que estamos tendo, para um ato ruim ou medíocre
que praticamos e, em vez de colocar ali um elemento
positivo, de esforço, de mudança, ou seja, em vez de
limpar nosso próprio carro, começamos a sujar o car-
ro dos outros -- a remorder. O remorso é propriamen-
te o remordimento, é ficar remordendo nossa falta,
nossa miséria.

O sujeito olha para a vida dele e percebe que é uma


vida francamente medíocre, como a desse psiquiatra
aí que fez o comentário no Facebook. E tudo bem que
seja medíocre, não há problema algum, mas quando
nos damos conta da mediocridade, temos uma coisa
a fazer: agir positivamente sobre essa mesma vida. É
daí que vem o arrependimento: “Eu me arrependo de
ter vivido abaixo da dignidade humana até hoje”.

O arrependimento é propriamente um ato de confis-


são; você tem que confessar sua miséria existencial,
tem que confessar que é uma nulidade, um zero à es-
querda, que ainda não entrou no jogo da vida, que é

37
um sujeito que está abaixo daquilo que se espera de
um ser humano adulto, de um profissional, daquilo
que foi convocado a ser.

Apenas quando esse sujeito conseguir confessar sua


miséria, sua mediocridade, sua mesquinharia, sua
patifaria, sua canalhice, toda essa plêiade de negati-
vidade, apenas quando ele conseguir confessar essa
nulidade que tem sido até hoje, é que virá o arrepen-
dimento de ter vivido uma vida medíocre. Enquanto
ele não conseguir se olhar no espelho envergonhado
e falar “Você é um bosta, um merda, você perde tem-
po na internet fazendo comentários maldosos no Fa-
cebook, fazendo calúnia e difamação dos outros”, ele
não irá se arrepender.

Quando esse cara conseguir olhar no espelho e con-


fessar que tem inveja da prima e do vizinho que tem
um carro mais bonito, conseguir confessar que finge
que lê livros e que sabe coisas sem jamais ter investi-
gado droga nenhuma, conseguir se olhar no espelho
e, diante de si e da verdade de seus olhos, confessar
que é um bosta, só então ele conseguirá começar a
lavar seu próprio carro. Isso é o arrependimento da
vida; o sujeito olha para si e se arrepende das merdas
que fez.

E se arrepender das bostas que fizemos na vida e des-


ta merda que somos até hoje exige uma ação em se-

38
quência. Jogar lama no carro dos outros não adianta,
o seu carro continua sujo, meu filho, e a sua biografia
agora está sarjeta, porque você enlameou os outros.
Agora você tem um duplo crime que recai sobre a
mediocridade da sua biografia, sobre esta porcaria
que você tem sido até hoje. Até então, você era ape-
nas uma nulidade, mas agora você é uma nulidade
maldosa. Veja que drama existencial no qual você
se meteu, criatura. Antes você era apenas um bosta,
agora você é um bosta difamador. Não vai funcionar.
Você ficará triste, basta olhar para a sua cara para
perceber, meu amigo. Você é um sujeito triste, mes-
quinho, que está francamente com problemas.

Colocar no currículo que usou uma blusa azul na


quermesse de 1998, que ajudou sua avó a atravessar
sua rua, que fez um curso de extensão em culinária...
mas que lixo, que autoafirmação ridícula é essa? Nin-
guém liga para você, meu filho -- não é nem que “nin-
guém liga”, é que você é nulo, não está servindo para
droga nenhuma, nem seus pacientes você atende di-
reito. Você é um bosta, e é claro que é, porque uma
pessoa com um mínimo de dignidade, de decência,
de robustez de caráter, não se presta a esse tipo de
atitude. Você é um sujeito mesquinho, pequeno, que
não vale as fezes que saem das suas nádegas. Você
está abaixo da dignidade desses excrementos que
você expele de 4 em 4 dias, porque apenas um su-
jeito com prisão de ventre poderia fazer uma sujeira

39
dessas. É isto; as fezes sobem para a cabeça do sujei-
to e ele começa a soltá-las pela boca.

Eu estou falando isso para você, e não só para esse


sujeitinho lá que fez o comentário. Você, que fica fa-
zendo piadinha do seu amigo, que fica denegrindo
a imagem da sua tia, que fica contaminando o am-
biente de trabalho com a sua mesquinharia, fazen-
do fofoquinha. Estou falando para você também, meu
filho, você é um bosta, assim como eu sou um bosta
quando me disponho a fazer isso.

Só existe uma única forma de nos livrarmos dessa


doença biográfica: matar o remorso, que é esse re-
morder-se sem agir. Quando nos remordemos, suja-
mos tudo o que está à nossa volta. Seremos contados
entre aqueles sujeitos que não serviram para nada
neste mundo, entre aqueles sujeitos que mancharam
a dignidade do ser humano, entre aqueles que não
valiam as calças que vestiram. Você quer ser esse tipo
de gente? Foi para isso que você foi criado? É para
isso que você tem vivido? Não!

Se queremos ter o carro mais limpo do condomínio,


temos que limpar o nosso carro, e não ficar sujando o
carro dos outros. Esse é o processo real daquilo que
chamamos de arrependimento. Ele vem quando cons-
tatamos que estamos sujos, que o nosso carro está
sujo, e que não é sujando o carro dos outros que te-

40
remos uma aparência de limpeza. O arrependimento
vem quando constatamos a sujeira e agimos sobre
ela. Vamos agir, no sentido de fortalecer aquilo que
temos de melhor. Isso é o arrependimento verdadei-
ro, caramba.

Ora, o sujeito que ainda não fez essa meditação, que


é fofoqueiro, que entra em ambientes profissionais
falando mal de todo o mundo, ainda não entrou na
dignidade da vida. Ele ainda não tem dignidade, ain-
da está funcionando abaixo. Ele tem que olhar para
as merdas que tem sido e repensar suas atitudes -- e
eu já disse quais são as merdas, são as 7 Bostas Inte-
riores, elas são tudo o que temos.

Tem um pessoal aqui jumento comentando “Nossa,


o doc se incomodou mesmo!!” Vá pastar, minha filha.
Tudo nesta porcaria é gancho, então quando um ju-
mento fala uma porcaria daquelas, eu falo com ele,
mas não só. Aqui eu estou falando dele, obviamente,
mas estou falando de você, minha filha. Vocêzinha,
que fez esse comentário maldoso: preste atenção.
Olhe para si mesma no espelho.

Você com certeza é uma pessoa absolutamente cega


sobre a própria vida; não tem capacidade de ouvir o
que estou te falando. Não estou falando para ele, não,
estou falando para você, minha querida. Você é esta
pessoa. Se não tem capacidade de ouvir um sabão,

41
um esporro, e entender que ele é para você, eu não te
quero aqui. Saia, pode sair, pode parar de me seguir.
Eu não preciso de você aqui, é você quem precisa ou-
vir essas coisas, porque tem vivido às cegas, surda,
anestesiada.

Se eu dou um sabão num sujeito que fez uma bur-


rada, num sujeito que agiu de forma antiética, estou
falando com você, minha filha, porque você faz isso
todo santo dia! Você está sujando o carro dos outros
todo santo dia, porque ainda não se responsabilizou
por seus atos, ainda não entendeu que precisa se ar-
repender, meu amor. Não há nada que cegue mais a
nossa existência que o não-arrependimento. Vou te
dar mais uma chance: o arrependimento é um movi-
mento necessário. Arrependimento é olhar para a su-
jeira que existe na nossa lataria e limpá-la, e a gente
se limpa nessa vida agindo bem.

Você é essa sujeitinha que adora fazer esse tipo de


comentariozinho engraçado, “Hahaha, olha como o
doc se incomodou”. Vá se lascar, não me incomodei,
estou estudando e trabalhando, acha que estou inco-
modado com alguma porcaria? Não estou incomoda-
do com nada. Francamente falando, olhe para a mi-
nha vida, estaria incomodado com o quê, sua louca?

Eu parei vinte minutos do meu dia para falar um ne-


gócio que vai ajudar você, vai te ajudar a limpar essa

42
lataria suja de merda, esse pára-choque todo encar-
quilhado, mas você é só uma sujeitinha que faz sem-
pre um comentariozinho inteligentinho. Você não
está ouvindo nada do que estamos falando?! Meu
Deus! Onde você está, onde é que você vive, meu
amor? É isto que tem sido sua vida: cegueira, surdez,
anestesia existencial. Você não tem vivido uma vida
arrependida, minha filha.

É ótimo estarmos arrependidos na vida, o mau é o


remorso. Já expliquei e vou explicar de novo, porque
gente como você não consegue prestar atenção em
nada, está sempre ocupada fazendo um comentario-
zinho inteligentinho, sarcasticozinho, não consegue
calar a porcaria da boca e ouvir. Fique quieta e ouça,
minha filha; são apenas vinte minutinhos, nem tem
ninguém ao seu lado. Você pode ficar quieta, é uma
coisa que te é facultada.

O que mata é o remorso, o remordimento, é olhar


não para a limpeza possível, mas só para a sujeira.
Quando só vemos sujeira, começamos a sujar todo o
mundo, e ficamos com remorso. O remorso te afunda.
Vou repetir, porque você é uma lerda que não presta
atenção: o remorso te joga num duplo crime. O pri-
meiro crime é que você já era um lixo, uma imoral,
uma preguiçosa, uma estúpida. Disso tudo já sabía-
mos, não precisava contar, mas agora você adicio-
nou um duplo crime, que é sujar todo o resto. Você

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vira, portanto, uma pessoa injusta, maldosa. Isso é o
princípio do remorso. Você e aquele psiquiatra são
apenas uma amostra dos 99,99% das pessoas na vida.
É muito mais fácil jogar lama no carro dos outros.

O arrependimento verdadeiro vem a partir do olhar


amoroso. Você olha para o seu carro, para a sua lata-
ria, para a sua vida, entende que ela está toda suja --
porque a de todos nós está -- e aí começa a agir bem,
sem se importar com a opinião dos outros. Começa
a trabalhar direito, a servir os outros, a olhar no olho
dos outros. Quando agimos bem, nosso carro vai se
limpando, vamos ficando limpos. O arrependimento
se torna uma ação positiva. O movimento sequencial
ao arrependimento não é se afundar, seu animalzi-
nho, é agir bem, para cima, com amor, com alegria,
é melhorar seu ambiente e não fazer fofoca, é elo-
giar alguém e não mais depreciar, é tentar entender
os motivos daquele sujeito. Isso é o arrependimento
diante da vida.

Todos têm um motivo diário para se arrepender. O


sujeito que não está arrependido de nada do que fez
é um jumento que não entendeu o que é a vida. Ora,
agimos mal todo santo dia. Temos algum santo entre
nós? Se temos, que ele levante a mão e saia daqui,
porque nem precisaria ouvir o que estou dizendo.
Mas não estamos vendo algum santo por aqui.

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Temos motivos todos os dias para nos arrepender-
mos de uma besteira que fizemos ou de um bem que
deixamos de fazer -- em regra, é até melhor assim:
deixamos de elogiar alguém, de prestar o serviço que
precisávamos prestar, deixamos de fazer a tarefa que
é o nosso dever... Remorso é sujar o carro dos outros,
é olhar só para a sujeira, para o mal; arrependimento
é perceber que, uma vez sujo, é preciso agir positiva-
mente no mundo para se limpar. Focar no amor, nas
boas ações, no serviço.

Eis uma coisa que foi esquecida: focar no sorriso. Sor-


ria, minha filha. Entre num ambiente e sorria, olhe nos
olhos. Vieram me dizer ontem “Italo, vi sua entrevista
no fantástico da Record e você é um docinho!”. Ora,
mas é óbvio, seria o quê? Estou com pessoas ali, vou
falar como? Vou olhar nos olhos e vou sorrir, normal-
mente, como as pessoas fazem, não é mesmo? Dê um
sorriso, um abraço, olhe nos olhos.

Temos de nos arrepender dos lixos que temos sido,


das porcarias que temos pensado. Sorria, abra um sor-
riso largo, dê um bom dia para a vizinha, para o seu
chefe, para o seu colega. Qual é a dificuldade nisso? E
olhe nos olhos -- esse está entre um dos expedientes
mais fantásticos da humanidade e da convivência, e
isso também se perdeu, infelizmente.

Olhe no olhos, sorria, abrace, aperte as mãos. Como

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a vida vai fluir! É o arrependimento te inscreve na di-
nâmica da vida, que vira bondade, que vira uma ação
positiva. O arrependimento, e o não o remorso, que é
coisa de invejosos, de gente pequena, nula, que ain-
da não serve para nada. Transformar o remorso em
arrependimento está entre os segredos da felicidade.

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LIVE #100

A SOLUÇÃO PARA A SUA VIDA


(QUE VOCÊ NÃO COLOCARÁ
EM PRÁTICA)

Recebi a pergunta de uma seguidora no Instagram


em que ela falava assim: “Italo, após a leitura do seu
livro, considerei ser mais antipática comigo”. Ou seja,
ela tem que se tratar com menos autopiedade. Há uma
razão nisto! Talvez a totalidade de nossos problemas
esteja ligada ao fato de estarmos pensando em nós
o tempo todo (como nos sentimos, como as pessoas
nos veem e julgam, o que nossos pais pensam sobre
nós etc.). Então, eu gostaria de falar um pouco sobre
a solução muito prática para esse assunto – a qual
praticamos muito pouco.

Existe muitos recursos – os quais abordamos desde


o início nas lives –, por exemplo: para não se mimar,
você bebe um café sem açúcar (é claro que depois
você acaba gostando do café assim, não conseguin-
do retomar o costume anterior); o banho gelado, a
que, inclusive, na noite de autógrafos de ontem, um
seguidor fez referência: “Italo, sempre que tomo ba-
nho gelado eu te odeio, por ser algo horrível”. Mas tá
certo!

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Vamos, então, dar o próximo passo, que, infelizmente,
não é para todos. Infelizmente, não é para você. Isso
vai bater no seu ouvido, você vai achar legal, mas
não fará nada do que falaremos hoje. A live de hoje
aborda um assunto terrível, que é “sair de si”. O que é
isso? É olhar um pouco para fora, para o que aconte-
ce no mundo, o sofrimento que está fora de nós.

Aqui está o grande drama da história: independente-


mente do seu sofrimento – se você não está encon-
trando o sentido da vida, vive uma grande crise fi-
nanceira, briga constantemente com seu cônjuge ou
seu filho está usando drogas –, e de fato são gran-
des problemas – quem já passou por crise financei-
ra sabe que até conseguir “virar a chave” e entender
que apenas deve dinheiro é muito difícil... ou um filho
que seguiu um rumo inesperado, deixando os pais
apavorados, pois estes projetam um futuro para os fi-
lhos, a fim de que não saiam do caminho (o que leva
as pessoas a botarem os meios humanos ali, do tipo
levar um filho ao psicólogo, um casal fazer terapia ou
pedir empréstimo a parentes, agiotas etc.) –, às vezes,
a questão objetiva começa a ser resolvida, mas por
dentro, quando os indivíduos questionam “Por que
aconteceu comigo? Nunca fiz mal a ninguém, não
matei e nem roubei. O pessoal que rouba está melhor
na vida. Aquela pessoa desonesta está melhor, en-
quanto eu estou aqui, tentando fazer o bem e o que é
certo”, esse papo todo que nos aflige. Aí começamos

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a afundar, acabamos nos vitimizando e sentindo au-
topiedade. Quem tem religião começa a pedir a Gra-
ça de Deus, rezando e se ajoelhando no culto, indo à
sinagoga, fazendo despacho no terreiro etc., ou seja,
usando os expedientes que têm na mão – pedindo
a graça dos céus – para resolver um cenário interior
devastador (nada do que citei é ruim também). Mas
há uma coisa à mão que pouquíssimas pessoas fa-
zem.

Existe uma coisa no mundo chamada sofrimento real/


objetivo – de gente. O seu sofrimento não é nenhum
desses. Ele é seu! O tema de hoje é muito “espinhoso”
e duro, e a solução para esse negócio não será algo
feito por você, mas eu preciso falar. Mesmo ao pedir
a graça dos céus, pôr os meios humanos e tentar re-
solver as coisas, ainda continuamos “dando voltas” –
aqui é onde está o ponto. Quando lidamos com nos-
so sofrimento, tentando resolver algo que nos aflige
e tira nossa paz, muitas vezes ele não vai embora –
usamos paliativos para tentar resolver. Só que existe
um remédio disponível no mundo: o sofrimento ob-
jetivo de outra pessoa. Que pessoa é esta que sofre
objetivamente?

O remédio infalível chama-se olhar para uma pessoa


(que, assim como você, é um ser humano), que está fe-
dida, cagada, podre, com uma ferida aberta (de onde
saem bichos), desdentada e passando frio – alguém

49
totalmente na merda –, ou seja, um mendigo. Reto-
mando, por isso mencionei que isso não é para todo
mundo, esmola para mendigo é o mesmo que nada,
pouquíssimo. É só o início da conversa! Se você não
dá esmola, pensando “Ah, ele vai comprar cachaça...
a mendiga vai comprar esmalte em vez de comida,
querendo ficar bonita para o marido mendigo”, en-
tão esta live não é realmente para você. O que falarei
aqui é a respeito do próximo passo: a caridade. Isto
não tem o mesmo efeito da esmola.

Como próximo passo, você deve procurar alguma


das instituições de caridade que limpam mendigos e
tiram a podridão das feridas deles. Isso deve ser feito
uma ou duas vezes por mês. Num determinado dia,
passe a madrugada cuidando de gente, limpando fe-
rida de mendigo. Preste atenção! Isso é remédio para
desamor. Se sua vida está uma merda, procure, na
sua cidade, por exemplo, um lugar chamado Toca de
Assis. Não precisa nem ser religioso, apenas digite
isto no Google, para saber onde tem um lugar assim.

Os caras da Toca de Assis não caíram na mesma fan-


tasia que nós. Para sermos felizes, sempre pensamos
necessitar da cultura da badulaqueria, ou seja, acu-
mular badulaques, os gadgets. É, por exemplo, ter to-
dos os itens da Apple. Eu sou esse cara, facilita mi-
nha vida, trabalho com isso, para mim é importante...
há mil justificativas reais, não é algo falso, preciso

50
desses equipamentos por causa das lives. O proble-
ma é: onde está o coração? E só existe um remédio
para nos posicionar na vida e nos livrar dessa cul-
tura: você pegar seu carro, se deslocar até a Toca de
Assis – pode ser qualquer outra instituição – e falar
com um dos seus membros, isto é, sujeitos que não se
confundiram como acontece continuamente conos-
co; eles largaram tudo. Vestem uma roupa marrom,
puída, andam descalços ou de chinelo, não se preo-
cupam com corte de cabelo. Simplesmente, esses
sujeitos acordam e dormem pensando em livrar os
mendigos do sofrimento imediato e possibilitar um
pouquinho de paz para estes. Eles entregaram a vida
para isso. Quando olhamos para esse pessoal que en-
tregou a vida para cuidar de gente que nos faz torcer
o nariz e achar que nem são pessoas – achamos difí-
cil dar-lhes R$5,00 –, vemos caras que deram a vida,
ou seja, acabaram abrindo mão de namorada, de ter
filhos – inclusive conheço alguns que poderiam ter
sido diretores de empresas e presidentes de multi-
nacionais. Eles deram a vida inteira, não guardaram
nada. Essa vida pode não ser para nós – certamente
não é –, só que você deve tirar um ou dois dias por
mês para ir lá e se humilhar.

“Os grandes coaches” dos imperadores da Roma An-


tiga falavam para os Césares algo semelhante – de-
vemos lembrar que estes eram “imperadores do mun-
do”, de tudo –, uma prescrição muito clara: “Durante

51
uma semana, você precisará se despojar da coroa,
das vestes de linho. Você deverá se vestir como os
mendigos, viver mendigando e cuidar deles”. E eles
faziam essa porra, a fim de não se confundirem.

É muito fácil ganharmos e perdemos os bens que


estão diante de nós... a badulaqueria também... isso
aqui não conta, entendeu!? “Ah, Italo! Você fala assim
porque tem as coisas”. Meu filho, eu não tinha até
“anteontem”. Hoje, eu tenho; pode ser que eu não te-
nha amanhã. Foda-se! A única coisa que reposiciona
o seu coração é você olhar para um ser humano, que
tem a mesma carne que a sua e foi gerado da mesma
forma, e vê-lo deitado no chão, com um cobertor que
não o aquece, passando fome, sofrendo com uma fe-
rida aberta (cheia de vermes) e com a bunda suja...
ele é um mendigo!

A questão é esta: se você não consegue dar R$5,00,


provavelmente esta live não é para você. “Ah, Italo! Já
dou essa quantia e até agora não aconteceu nada”.
Sabe por quê? Porque a quantia de R$ 5,00 não é porra
nenhuma. Um drinque que que você toma no final de
semana custa R$ 20,00. O que sugiro aqui é algo além
mesmo: digitar “obras de caridade com mendigos” no
Google e ligar para os caras desses lugares – pessoas
que deram a vida, os sonhos de juventude e de pater-
nidade/maternidade, a beleza etc. Para que fizeram
isso? Para serem símbolos e sinais de que somos uns

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merdas, entendeu? Ao olhar um religioso desses, por
mais que você não siga uma religião, quero que você
escute agora! Mesmo que você não tenha uma reli-
gião, esses sujeitos que andam vestidinhos com há-
bito na rua, cabelo raspado e muitas vezes descalços,
entregaram a vida inteira. São símbolos e sinais que
demonstram o quanto somos medíocres e apegados,
algo que ilustra também nossa própria infelicidade.

Quando nossos olhares batem num sujeito assim e


pensamos “Coitadinho, ele poderia ter casado, po-
deria ter uma boa moradia, ele não tem uma roupa
boa...”, francamente, onde está nossa cabeça? E nosso
coração? Estou falando a respeito de nós aqui! Onde
estamos, por pensarmos assim sobre esses sujeitos?
Esse é o chamado, a vocação e o sentido da vida de-
les. Provavelmente, meu sentido e o de vocês é o de
cuidar de nossas famílias, do mercado financeiro ou
do marketing digital, ser médico, enfermeiro ou ad-
vogado – nós precisamos de todas essas funções no
mundo. Estou querendo dizer que a função desses su-
jeitos é esta: serem sinais para nós. Se passamos por
eles sem olhar (sem sentirmos um toque no coração),
posso dizer que nossos corações são secos, resseca-
dos, que ainda não têm amor.

Qual é a solução para esta porra, então? É digitar no


Google... sei que você está vendo pornografia ago-
ra na internet ou alguma merda que não serve para

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nada... “Ah, Italo! Estou estudando” ... foda-se! Vol-
tando, é digitar algo como Toca de Assis, sei lá! Não
precisa nem se converter, virar religioso, não é nada
disso! É só para virar ser humano! É chegar lá e falar:
“Oh, sou playboy!”, “Sou patricinha! Só penso em co-
locar cílios postiços e comprar bolsa de marca!”, “Só
penso em mim!”. Este é o ponto: até quando penso
em melhorar, estou pensando em mim. Olhem que
coisa maluca! “Ah, Italo! Eu quero melhorar! Então, eu
tenho que me tornar menos antipática e reclamona.
Então, eu, eu, eu!”. Assim, você explode! Lembra da-
quela brincadeira da infância, em que os pestinhas
colocavam um cigarro na boca do sapo? Como este
animal só consegue puxar o cigarro para dentro, o
tanto de fumaça que entra no seu corpo o leva a ex-
plodir. Isso somos nós! Somos sapos cheios de fuma-
ça no interior.

Você deve olhar para um mendigo e botá-lo no colo,


enquanto o irmãozinho da Toca de Assis cuida da
frieira desse mesmo mendigo, troca sua roupa, esco-
va seu cabelo e cata seus piolhos – já vi muitas cenas
assim –, fazendo isso 12 vezes ao ano – lembrando
que você deve dar dinheiro para mendigos todos os
dias. “Ah, Italo! Quero me preparar para o Natal! Vou
fazer uma novena de Natal. Preciso nem falar tanto,
virei beata!”. Foda-se! Acho ótimo seu ato de rezar.
Mas existem umas questões aí. Se você não vai para a
rua cuidar de um mendigo à noite, arriscando a vida...

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“Ah, eles são perigosos!”... eu sei disso. Por isso, você
não vai sozinho (a), ou seja, vai com uma pessoa da
Toca de Assis ou de outra instituição, por exemplo. O
fato de você não conseguir fazer isso demonstra que
seu coração ainda não é humano. O único problema
é este. A Humanidade passou longe.

Não estou dizendo que você precisa parar com as


orações. Nosso primeiro dever não é cuidar de men-
digo – você não é da Toca de Assis, não é religioso
e nem monge budista. Sua vocação não é essa. Por
isso, digo que você deve fazer isso apenas uma vez
por mês. “Ah, Italo! Tenho muito medo de mendigo! É
difícil começar pelo mendigo”. Então, você deve pro-
curar um orfanato ou asilo. Se você gosta de velho,
procure um orfanato. Se gosta de criança, procure
um asilo. Velhinho de asilo não é sua avó, entendeu?
Coitadinho! Ele está babando, está com a fralda suja.
Fazer isso independe de sua posição social – estou
falando aqui para todos –, pois esta é a que menos
importa. Quando falo aqui, a posição social é a do
coração, uma posição espiritual e humana, ou seja,
a posição biográfica. Um sujeito que deixa de fazer
isso, mesmo sendo um presidente de multinacional,
um astro de rock ou um atleta famoso, não vale nada
– ainda não tem um coração humano. Sua vocação é
outra (jogador de futebol, empresário, contador, mú-
sico, médico etc.), então você precisa fazer isso extre-
mamente bem todo santo dia. Além disso, uma vez

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por mês você exercerá uma vocação que é própria de
todos os seres humanos, isto é, a vocação de reposi-
cionar o coração. Como é que se faz isso? Digite no
Google e procure.

Preste atenção! Eu conheci esse pessoal todo – é um


pessoal que deu a vida para isso. Não é ação social
(fazer um negócio bonito, bem estruturado etc.). Por
exemplo: “Vou fazer o mutirão da hipertensão arte-
rial. No meu bairro, montarei uma tenda para aferir
a pressão de todos que não têm condições para ir ao
médico”. Não estou falando disso! Isso é fazer a cari-
dade dentro da sua profissão, ou seja, uma filantro-
pia na sua profissão. “Ah, Italo! Um dia por semana,
eu atendo de graça no meu consultório!”. Ou “Sou um
campeão olímpico da natação. Tenho uma obra so-
cial na favela, para a qual empresto meu nome, meu
prestígio e meus contatos, a fim de beneficiar aque-
las crianças”. Não estou falando de voluntariado! Isso
é filantropia do seu trabalho. Estou falando de cuidar
de cu de mendigo! Cuidar de ferida de mendigo! Ca-
tar piolho de mendigo! Você tem que ir lá e ver essa
porra! Só assim “a gente consegue sair da gente”! E
não é por comparação, do tipo “Ah, eu comparo o so-
frimento dele com o meu”. Os idiotas já vêm falar “Ah,
mas todo sofrimento é relativo”. Não estou falando de
comparar e relativizar o sofrimento. Sei que seu sofri-
mento é muito ruim! Mesmo morando numa cobertu-
ra ou mansão e sendo bem casado, você pode ter um

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sofrimento do tamanho do seu mundo no seu peito
– porque ele é seu. Não estou comparando um sofri-
mento com outro, porque isso é a coisa mais idiota do
mundo.

O que estou dizendo é: quando você vai lá e “se baixa”,


segurando o mendigo para que o outro possa cuidar
dele, o seu coração se reposiciona. Isso é uma voca-
ção própria de todos. Por exemplo, precisamos passar
umas duas horas com um idoso num asilo – não es-
tou dizendo que é para dar docinho. Você deve pedir
para a assistente social ou enfermeira e se prontificar
a trocar a fralda de um idoso ou a dar banho nele –
algo que jamais faríamos. Isso precisa ser feito umas
12 vezes no ano. Esta é a ideia! Sei que esta live não é
para todos. Há 2.000 pessoas online comigo. Se duas
ou três delas fizerem, está de bom tamanho. Mas eu
sei que ninguém vai fazer essa porra! Eu desejo que
muitos façam, pois é um grande caminho. Sabe quan-
do você deve fazer isso? Hoje! Se deixar para amanhã,
você não fará.

Eu sei que é muito ruim! Por exemplo, ir numa cra-


colândia... mas quando você conhece a Toca de As-
sis, por exemplo, eles te dão uma segurança, pois co-
nhecem o local, sabem como ir e o jeito de falar. Esta
é a ideia: cuidar de ferida de mendigo, abraçar um
sujeito que jamais seria abraçado por você. O pessoal
está perguntando se eu faço: foda-se se eu faço ou

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não! Eu falo das coisas que faço, vejo e sei. Não im-
porta se faço ou não! Quero que você faça! Você só
vai fazer se eu já tiver feito? Não vou falar sobre mim,
porque isso não interessa! Então, faça você! Isso dá
efeito. Você olha para algumas pessoas que, de fato,
têm uma força diferente, uma visão clara do mundo,
provavelmente elas fazem isso e você não sabe. Esse
é um dos segredos, um dos truques.

Aqui, às 1h20 da manhã, há 2.000 pessoas online. Isso


significa que vocês têm tempo para fazer o que foi
mencionado. Nesse horário, vocês já teriam voltado
de uma ação como essa.

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@italomarsili
italomarsili.com.br

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