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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO LETRAS – PORTUGUÊS

PROF.: PEDRO HENRIQUE REIS

ESTUDOS MORFOSSINTÁTICOS

TURMA 212204A07

Sandra Regina dos Santos Garcia - 3077499

ATIVIDADE APS

São Paulo, SP

2023
O artigo “Funcionalismo(s) em Linguística: interface(s) entre morfossintaxe,
semântica e pragmática na descrição e análise de língua(s)”, (Revista Delta, 2016),
escrito por Flávia Bezerra de Menezes Hirata-Vale e Taísa Peres de Oliveira explora
que o enfoque funcionalista no estudo da linguagem está centrado nas diversas funções
que a linguagem desempenha dentro do âmbito da descrição linguística. Ademais, se
reconhece também, com base em Neves (2011), que sob o rótulo do funcionalismo
existem diferentes correntes teóricas que frequentemente são referidas pelos nomes de
seus proponentes ou pelos lugares onde são desenvolvidas.

As autoras apresentam evidencias que demonstram a diversidade dos estudos


funcionalistas no Brasil, e no exterior, e sua capacidade de estabelecer conexões com
áreas relacionadas, como a Linguística Cognitiva e a Linguística Computacional.
Destacam, primeiramente, a Teoria da Gramática Discursivo Funcional (GDF)
apresentada por Daniel García Velasco, da Universidad de Oviedo, Espanha. Esse autor,
estabelece que a GDF possui uma estrutura em módulos, conforme proposto por Sadock
(2012), uma vez que apresenta quatro níveis de representação independentes, cada um
com sua própria base linguística, que se relaciona entre os diferentes níveis, e mais
precisamente, a natureza das interfaces, é um aspecto central. No entanto, a GDF
acredita que certos módulos não poderão funcionar até que sejam estabelecidas
formulações pragmáticas ou até mesmo semânticas. Essas formulações têm como base
dois princípios fundamentais que visam como objetivo criar representações linguísticas
psicologicamente viáveis e, se necessário, permitir evitar complicações, tornando as
representações mais simples e permitindo sua não conformidade.

Já no artigo “A interface sintaxe, semântica e pragmática no Funcionalismo” de


Maria Helena de Moura Neves (UNESP/UPM), evidencia a corrente funcionalista nas
diferentes dimensões relacionados as particularidades dos objetos de estudo referente à
sintaxe, semântica e pragmática, estruturados nas concepções das teorias linguísticas
funcionalista contemporâneas.

Pode-se mencionar também os artigos com teorias mais específicas referente a


distintas correntes funcionalistas praticadas no Brasil: o artigo dos autores Torrent,
Lage, Tavares e Laviola, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, associa
as contribuições da Linguística Cognitiva ao domínio da Linguística Computacional,
que trata das inferências do domínio computacional no âmbito da FrameNet Brasil,
laboratório de Linguística Computacional; o artigo “Mecanismos utilizados pelos
destinatários do discurso para identificação de relações de coerência não sinalizadas por
conectores”, de Juliano Desiderato Antonio, docente da Universidade Estadual de
Maringá, Paraná, utilizando-se com base da Teoria da Estrutura Retórica, que se trata de
uma teoria descritiva com foco no estudo da organização dos textos, compreendendo as
relações estabelecidas entre as diferentes partes do texto.

Na sequência, são apresentadas outras teorias, que também se concentram nas


particularidades atuais do funcionalismo. Especificamente, enfocam a perspectiva
teórica da Linguística Centrada no Uso (Furtado da Cunha, Bispo & Silva, 2013). Dessa
forma, Angélica Furtado da Cunha, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
propõe que as construções de movimento causado (CMC) e ditransitiva (CD) para
investigar seus elos de polissemia, referenciado através de aspectos sintáticos,
semânticos e pragmáticos que elas possam compartilhar. Desse mesmo modo, Campos,
Cezário e Alonso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendem o modelo da
construcionalização/mudança construcional, proposto por Traugott e Trousdale (2013),
tanto para a formação de novos pareamentos simbólicos de forma e função, como para
as mudanças de diferentes ordens que possam ocorrer com as construções já existentes.

O artigo Evidential subtypes and tense systems in Brazilian native languages, na


tradução livre "Subtipos evidenciais e sistemas de tempo nas línguas nativas brasileiras"
aborda a relação de interação entre a Gramática Discursivo-Funcional e os estudos
tipológicos. Neste estudo, a acadêmica Marize Mattos Dall’aglio Hattnher, da
Universidade Estadual Paulista/São José do Rio Preto/SP, investiga a relação entre
evidencialidade e tempo em um grupo de línguas nativas do Brasil. Com base na análise
dos dados das amostras dessas línguas, nota-se que existem poucas restrições absolutas
em relação à combinação entre evidencialidade e tempos específicos. Em suma,
Hattnher argumenta que, apesar de haver variação nos sistemas temporais das línguas
representadas no corpus, a abordagem teórica da GDF sobre a evidencialidade permite
estabelecer certas regularidades, indicando que, nessa amostra das línguas, é a
semântica da evidencialidade que determina as opções temporais.
Utilizando-se da fundamentação da Teoria dos Espaços Mentais (Sanders,
Sanders & Sweetser 2009, 2012; Ferrari & Sweetser 2012), Diogo Pinheiro e Lilian
Ferrari, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendem uma abordagem cognitiva
para o fenômeno da inversão do sujeito no português brasileiro (PB). Os autores
afirmam que a inversão do sujeito no PB está relacionada à habilidade cognitiva de
mudar o ponto de vista, ou seja, à categoria conceitual de perspectiva. Segundo eles, as
estruturas SV e VS evocam diferentes redes de espaços mentais: a primeira orienta o
ouvinte a posicionar o Ponto de Vista no Centro Dêitico da Comunicação, enquanto a
segunda indica a mudança do Ponto de Vista para o Domínio do Conteúdo. Nesse
sentido, os autores estabelecem através de sua análise, que o significado das sentenças
estão diretamente relacionados os processos cognitivos subjacentes à construção através
do sujeito pré e pós-verbal e não de parâmetros formais (monoargumentalidade,
inacusatividade, peso fonético, etc.) ou de parâmetros funcional-discursivos
(acessibilidade referencial, topicalidade, etc.).

Helen de Andrade e Lilian Ferrari da Universidade Federal do Rio de Janeiro,


discutem em seu artigo intitulado “Deixis, espaços mentais e categorização: o caso dos
pronomes we e you em inglês” com base no referencial teórico da Linguística
Cognitiva. As autoras destacam que a utilização de prototípicos dos pronomes we e you
em inglês, com base no Modelo Cognitivo Idealizado dos dêiticos, permite a ocorrência
de utilizações atípicas e afirmam que essa polissemia, ou seja, a existência de múltiplos
significados para uma palavra, nos dêiticos de pessoa we e you na língua inglesa, resulta
de diferentes processos de mesclagem conceptual, promovendo novas possibilidades
descritivas e explicativas para o estudo em outras línguas.

Em seguida, através do artigo “Alinhamento e estratégias de relativização” de


Roberto Gomes Camacho, pode-se constatar que o autor propõe que a escolhas de
diferentes formas disponíveis na gramática do português depende do grau de
transparência entre a forma e o conteúdo, resultando em um maior ou menor facilidade
no processamento cognitivo. Desta forma, para Camacho, quanto mais direta a relação
entre referência e codificação morfossintática, tanto maior o grau de iconicidade e,
portanto, de transparência.

Além disso, com base na teoria da Gramática Discursivo-Funcional, (Hengeveld


& Mackenzie, 2008), as pesquisadoras Joceli Catarina Stassi-Sé e Erotilde Goreti
Pezatti, defendem que as orações iniciadas por “como” e “se”, apesar de apresentarem a
forma de uma subordinada adverbial, não dependem formalmente de uma oração
principal. Nesse sentido, elas consideram essas orações como “Movimentos”, que
apresentam contribuições autônomas para uma interação em desenvolvimento que
podem desencadear uma reação. Tais construções são utilizadas para reativar a memória
do interlocutor e as informações fornecidas no discurso. A partir dessas concepções
pode-se determinar o tipo de construção que é hierarquicamente superior em termos
funcionais, aos domínios representacionais, morfossintáticos e fonológicos
característicos da GDF.

Enquanto o artigo de Taísa Peres de Oliveira e Flávia Bezerra de Menezes


Hirata-Vale explora diferentes padrões de construções condicionais no português, a
partir de uma abordagem cognitiva da condicionalidade. Com isso, as autoras afirmam
que a gramática se baseia em uma rede de construções, cujo significado é relativamente
instável e sujeito às determinações cognitivas, perceptivas e discursivas. A partir dessa
constatação, as pesquisadoras argumentam que os aspectos básicos da condicionalidade
como parâmetros que definem as diferentes molduras sintáticas – estruturas iniciadas
por “se” e “caso”; estruturas iniciadas por conectores condicionais complexos; e
estruturas marcadas por conectores de outros esquemas conceituais, como os temporais,
aditivos e alternativos. As pesquisadoras concluem que a reflexão principal ocorre
através dos traços da condicionalidade, que não pode ser simplificado, assim como os
efeitos que a acomodação de elementos com complexidade morfossintática tão
diferenciada tem no significado condicional, bem como, como se relacionam com
outros membros dessa categoria.

Em suma, as organizadoras procuraram aproximar as diferentes correntes através


da apresentação das distintas abordagens sobre o Funcionalismo no Brasil. Assim, ao
analisar as informações expostas neste artigo, conclui-se que o modelo funcionalista
oferece uma perspectiva diferenciada sobre a linguagem, acreditando que os aspectos
formais, sociais e cognitivos estão interrelacionados no ato da comunicação. Dessa
maneira, o paradigma funcional leva em conta não apenas às características da
morfossintaxe, que estuda os morfemas gramaticais relativamente à sua função sintática,
mas principalmente, os aspectos semânticos que estudam o significado e as
propriedades pragmáticas que examinam a linguagem no seu uso contextual e
comunicativo.

Referência:

HIRATA-VALE, Flávia Bezerra de Menezes; OLIVEIRA, Taísa Peres de. Funcionalismo(s) em


Linguística:. Interface(s) entre morfossintaxe, semântica e pragmática na descrição e
análise de língua(s), 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/delta/a/qzKx7BXd6ZgKX8jT9cMHdPf/?lang=pt#. Acesso em: 31 out.
2023.
MESSIAS, Rozana Aparecida Lopes; GARCIA, Daniela Nogueira de Moraes; LOPES, Jorge
Augusto. Formação Docente. Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da
SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio, São Paulo, 2011. Disponível em:
https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40430/7/2ed_ing_m1d2.pdf. Acesso em: 31
out. 2023.

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