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Baseada no Uso:
Explorando Métodos,
Construindo Caminhos
LINGUÍSTICA
Baseada no Uso:
Explorando Métodos,
Construindo Caminhos
Maria Maura Cezario
Karen Sampaio B. Alonso
Dennis Castanheira
(org)
1ª Edição 2020
Editores
Denise Corrêa e Daverson Guimarães
Produção gráfica
Maristela Carneiro
Revisão Ortográfica
Algo Mais Soluções
Capa
Romulo Matteoni // 2mL Design
Todos os direitos desta edição são reservados a:Editora Grupo Rio Books Ltda.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/
ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocopias e gravação) ou arqui-
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Todos os esforços foram feitos no sentido de se encontrar a fonte dos direitos
autorais de todo o material contido neste livro. Os editores gostariam de ouvir os de-
tentores dos direitos autorais para corrigir qualquer erro ou omissão.
— 5 —
6 — Coleção Pesquisadores
Apresentação 5
1 Uma análise do verbo “arrasar” a partir da gramática 13
de construções (GC)
Dany Thomaz Gonçalves / Caroliny Batista Massariol
— 11 —
12 — Coleção Pesquisadores
– INTRODUÇÃO –
É comum, em plena segunda década do século XXI, a partir dos avanços
tecnológicos, que criaram outras possibilidades de expressões linguís-
ticas, encontrarmos ressignificações em construções gramaticais pro-
venientes de mudança na interface forma função. Essa mudança não
precisa ocorrer na forma e na função concomitantemente; algumas ve-
zes, encontramos uma mudança somente na forma; outras, somente
na função. Este artigo tem o intuito de analisar a mudança nas constru-
ções com o verbo arrasar, realizadas em interações de políticos na rede
social Twitter, à luz dos pressupostos teóricos-metodológicos da GC
(GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT, 2001).
— 13 —
14 — Coleção Pesquisadores
1
“A constructional change is a change affecting one internal dimension of a construction. It does not
involve the creation of a new node.”
2
“Constructionalization is the creation of form new-meaning new (combinations of) signs. It forms
new type nodes, which have new syntax or morphology and new coded meaning, in the linguistic
network of a population of speakers. It is accompanied by changes in degree of schematicity, produc-
tivity, and compositionality. The constructionalization of schemas always results from a succession of
micro-steps and is therefore gradual. New micro-constructions may likewise be created gradually, but
they may also be instantaneous. Gradually created micro-constructions tend to be procedural, and
instantaneously created micro-constructions tend to be contentful.”
Dany Thomaz Gonçalves / Caroliny Batista Massariol — 17
3
Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 2 dez. 2019.
18 — Coleção Pesquisadores
Figura 1
Microconstruções com o verbo arrasar
Gráfico 1
Análise geral dos resultados sobre quem o informante achava
que utilizava o verbo arrasar com o novo sentido
SIM 0 0 1 0 1 1 3
NÃO 0 1 0 0 0 1 2
HOMEM
- - - - - - 5
HOMOSSEXUAL
SIM 0 3 1 1 0 0 5
MULHER
- - - - - - 8
HÉTERO
SIM 1 0 0 1 2 1 5
NÃO 0 0 2 0 1 0 3
MULHER
- - - - - - -
HOMOSSEXUAL
SIM 0 0 0 0 0 1 1
TOTAL 1 4 4 2 4 4 19
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Este artigo traz como algo inovador a aplicação do teste de avalia-
ção subjetiva à LFBU, ainda pouco explorado nos estudos linguísticos
no Brasil, entre os quais destacam-se, na área, os trabalhos de Freitag
(2016), Cardoso (2015) e Oushiro (2015). Todavia, esses estudos são vol-
tados para a sociolinguística. Nossa intenção, com esse teste, era a de
ratificar as hipóteses propostas em Gonçalves e Massariol (2019) de que
a microconstrução “X arrasar” seria mais encontrada na fala/escrita de
jovens e, talvez, a pessoas interligadas ao mundo LGBT+.
26 — Coleção Pesquisadores
Referências bibliográficas
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no português brasileiro. Documentação de avaliação, produção e percepção linguística
Estudos em Linguística Teórica e Aplicada na cidade de São Paulo. 2015. 394f. Tese
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FURTADO DA CUNHA, M. A.; BISPO, E. B.; SILVA, Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
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conceitos básicos e categorias analíticas. TOMASELLO, M. (ed.). The new psychology
In: CEZARIO, M. M.; FURTADO DA CUNHA, M. of language: cognitive and functional
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nagem a Mário Martelotta. Rio de Janeiro; NJ; London: LEA, 2003. v. 2.
Cataguases, MG: FAPERJ; Mauad, 2013. TRAUGOTT, E. C.; TROUSDALE, G.
GIVÓN, T. Syntax: an introduction. Amsterdam; Constructionalization and constructional
Philadelphia: John Benjamins, 2001. v. 1. changes.Oxford: OUP, 2013.
28 — Coleção Pesquisadores
– ANEXO –
Questionário para um estudo linguístico
Olá, a gente montou este questionário para fazer uma pesquisa linguís-
tica. Você, ao respondê-lo, nos ajudará a saber mais a respeito do por-
tuguês brasileiro a partir de alguém que é nativo da língua. É importante
que você seja informado(a) que não há resposta certa ou errada. Então
fique tranquilo(a) e vamos lá!
– INTRODUÇÃO –
O foco deste texto é apresentar o resultado preliminar de um estudo em
andamento sobre o uso do verbo volitivo querer como fonte de constru-
ções com valores de futuro no português brasileiro (PB).
— 31 —
32 — Coleção Pesquisadores
1. BASES TEÓRICAS
Segundo Bybee e Pagliuca (1987), muitos dos morfemas utilizados por
diversas línguas para sinalizar futuro possuem outros usos que não são
estritamente temporais, expressando, por exemplo, desejo, intenção,
obrigação, entre outros. Os autores explicam que verbos que indicam
desejo ou movimento são as fontes mais frequentes para noções de
futuro. Argumentam, ainda, que marcadores de futuro derivados de ver-
bos de desejo usualmente trazem a percepção de intenção.
1
Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/.
Maria Maura Cezario / Karen Sampaio B. Alonso / Dennis Castanheira — 33
2. OBJETIVOS
A partir do que foi mencionado, nossos objetivos são: i) verificar quais
valores são relacionados ao uso de construção com verbos volitivos
com base em predicadores complexos com o verbo querer; e ii) analisar
quais fatores motivam cada valor, levando em consideração as hipóte-
ses estabelecidas por Szcześniak (2017).
3. METODOLOGIA
O corpus do estudo que subsidia este artigo foi retirado do acervo
on-line “Roteiro de Cinema”2 e é composto por enunciados de roteiros
de filmes nacionais lançados entre os anos 2001 e 2010, sendo dez lon-
gas e seis curtas, totalizando 240 mil palavras. Apesar de se tratar de
textos escritos, a escolha por roteiros se deu devido à proximidade com
a fala espontânea. Além disso, ressalta-se que a inferência dos valores
dos dados foi feita por meio da composição entre o texto do roteiro e
as cenas dos filmes.
“Que não quer calar” é, por outro lado, uma expressão popularmente
usada no português brasileiro. À primeira vista, parece apresentar-se
relativamente cristalizada no que tange à configuração lexical, morfos-
sintática e semântica, e à frequência com que é empregada sem signi-
ficativa modificação, o que serve de indício à hipótese de que ela pos-
sivelmente resulte de um processo de construcionalização lexical. Uma
rápida pesquisa, via ferramenta de busca na web, revela que não são ra-
ros os constructos envolvendo os lexemas “pergunta” (“uma/a pergunta
que não quer calar”) e “calar”, embora também se encontrem outros
lexemas relacionados a essa expressão, bem como outro formato dela:
“a crise que não quer calar”, “dúvida que não quer calar”, “a moda que
não quer calar”, “perguntas que não querem calar”, “uma pergunta que
não quer silenciar”, “perguntas que querem calar”. De todo modo, esse
tipo de uso do predicador complexo com querer se presta à retomada de
um referente e à preparação do interlocutor para uma proposição/for-
mulação de pergunta que se apresenta em seguida. Consideramos que
também seu estatuto panfórico potencializa a inferência de futuridade,
bem como sua funcionalidade gramatical.
Gráfico 1
Distribuição dos dados por valores acionados
pela construção querer + Vinfinitivo
12,6%
19,8%
3,6%
1,2%
3,6%
59,3%
Figura 1
Representação dos valores acionados pela construção querer + Vinfinitivo
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Apresentamos aqui um breve mapeamento de potencialidades de sig-
nificação acionadas a partir da construção querer + Vinfinitivo, centrado
na análise de dados oriundos de roteiros de cinema (longas e curtas) e
inspirado em categorização formulada por Szcześniak (2017) pelo viés
do estudo da mudança por gramaticalização e com base em algumas
línguas (entre as quais o português).
tivo) – [V1volitivo Predicador [V2 Predicador de um estado de coisas na forma de infinitivo]Predicação OD]
Predicação complexa – ou de um predicador verbal complexo, envolvendo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BYBEE, J.; PAGLIUCA, W. The evolution of PEREK, F.; GOLDBERG, A. E. Linguistic
future meaning. In: RAMAT, A. G.; CARRUBA, generalization on the basis of function
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Future Meaning. Papers from the 7th preemption. Cognition, 168, p. 276-293, 2017.
International Conference on Historical RAPOSO, E. B. P.; BACELAR DO NASCIMENTO, M.
Linguistics. Amsterdam: John Benjamins, F.; MOTA, M. A. C. da; SEGURA, L.; MENDES, A.
1987. p.107-122. (coords.). Gramática do português. Lisboa:
CARNEIRO, A. Descrição e classificação das Fundação Calouste Gulbenkian, 2013.
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português do Brasil. Universidade Federal de querer com implicaturas de futuridade.
de São Carlos, 2016. Dissertação (Mestrado 2015. 133 f. Dissertação (Mestrado) -
em Linguística) – Programa de Pós- Programa de Pós-graduação em Linguística,
Graduação em Linguística, Universidade Universidade Federal de Santa Catarina,
Federal de São Carlos, São Carlos, 2016. Florianópolis, 2015.
Disponível em: www.repositorio.ufscar.
br/bitstream/handle/ufscar/8015/DissASC. SZCZEŚNIAK, K. É um não querer mais que
pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: bem querer: gramaticalização de conceitos
11 jan. 2020. volitivos. Revista de Estudos Linguísticos da
Universidade do Porto, n. 12, p. 179-200, 2017.
FERRARI, L. V.; ALONSO, K. S. B. Subjetividade
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brasileiro. Alfa, São Paulo, v. 53, n. 1, p. Constructionalization and constructional
223-241, 2009. changes. Oxford: Oxford University Press,
2013.ticais, têm sido absorvidos pela
HEINE, B.; CLAUDI, U.; HÜNNEMEYER, F. corrente que vem adotando o rótulo de
Grammaticalization: a conceptual framework. linguística funcional baseada no uso (LFBU).
Chicago: University of Chicago Press, 1991. Esse modelo linguístico.
3
Construções Marcadoras Discursivas
Formadas Por Afixoides Locativos
No Português do Brasil:
uma Abordagem Sincrônica
Cristian Matias do Nascimento Corrêa (UFF/Pibic)
Mariangela Rios de Oliveira (UFF/CNPq; UERJ/Faperj)
– INTRODUÇÃO –
Neste capítulo, descrevemos e analisamos um tipo de construção do
português brasileiro contemporâneo formado originalmente por uma
parte nuclear verbal e por seu complemento circunstancial – aí e lá. Em
determinados contextos de uso, esses complementos, que têm como
fonte pronomes locativos, passam a exercer papel afixoide, nos ter-
mos de Booij (2010; 2013), ou seja, itens dependentes limítrofes entre o
léxico e a gramática.
— 51 —
52 — Coleção Pesquisadores
(1) “Falamos com o embaixador sobre a postura da Tüv Süd. Ele nos
garantiu que tomará as providências cabíveis e que a sede da
Tüv Süd na Alemanha estaria disposta a colaborar”, apontou o
deputado Rogério Correia (PT-MG), relator do colegiado. # Os de-
putados também colocaram uma viagem até a Alemanha como
possibilidade para ajudar a CPI. “Colocamos à disposição a nossa
ida para a Alemanha. Não temos data definida, mas vamos lá en-
contrar com os técnicos e responsáveis da Tüv Süd”, disse André
Janones (Avante-MG). # Também estiveram presentes na embai-
xada a deputada Aurea Carolina (PSOL-MG) e Júlio Delgado (PSB-
-MG), presidente do colegiado. (Corpus do Português NOW).
(2) O importante é que você mude e se adapte aos nossos conselhos
e dicas, além de, claro, criar sua forma pessoal de estudos. Isso
vai acontecer, contanto que você continue tentando, se esforçan-
do e nunca desistindo. Agora, vamos lá ao tema de nosso artigo:
a recém-aplicada prova de Aprendiz de Marinheiro. A prova veio
como esperávamos que viria: distinta das anteriores, mais difícil
1
Traugott e Trousdale (2010) fazem distinção entre gradualidade, relativa à dimensão diacrônica da
mudança linguística e sua trajetória unidirecional, e gradiência, que diz respeito aos distintos graus
de gramaticalização manifestados pelos padrões de uso numa mesma sincronia. Dessa maneira, a
gradiência é considerada o resultado sincrônico da gradualidade.
Cristian Matias do Nascimento Corrêa / Mariangela Rios de Oliveira — 53
2
Disponível em: www.corpusdoportugues.org.
3
Disponível em: www.discursoegramatica.com.
Cristian Matias do Nascimento Corrêa / Mariangela Rios de Oliveira — 55
4
Numa perspectiva construcional, o constructo constitui o token empiricamente levantado no
uso linguístico.
5
Referência à negociação de sentidos intersubjetivos em contextos específicos.
Cristian Matias do Nascimento Corrêa / Mariangela Rios de Oliveira — 57
2. A MACROCONSTRUÇÃO [XLOCAF]MD
E SEUS CONTEXTOS DE USO
Teoricamente, concebemos que há ambientes pragmático-discursivos e
semântico-sintáticos que favorecem micropassos ou neoanálises6 que
podem culminar na formação de um novo pareamento de forma e senti-
do, de um novo padrão construcional da gramática de uma língua.
6
Utilizamos o termo neoanálise no lugar do tradicional rótulo reanálise, no entendimento de
que se trata de nova representação na mente do usuário e não retomada de algo já repre-
sentado.
58 — Coleção Pesquisadores
(4) Margateh foi atrás do Pezão. Ao passar por mim, falei baixinho
para ela: – Eu e o gordo vamos esperar por você lá embaixo. –
Ela me olhou espantada. – Como assim? Eu quero dormir! –
[A gente espera] [lá embaixo]. – Não estou te entendendo. (Corpus
do Português: Now).
(6) “Não sei se você percebeu, mas eu e o Alain estamos juntos. Ele
te contou? Pela sua cara, já vi que o Alain não te contou nada.
Típico de homem. O sonho deles é ter as duas. Eu não topo, não
sei você”, dirá a pilantra. “Você é baixa”, ofenderá Cris. “Pera
aí. Só comecei a aceitar as investidas do Alain depois que você
terminou com ele. Você terminou, não esquece. Deixou ele solto.
Ele está soltinho, miga”, alfinetará Isabel. “Não acredito que vo-
cês estejam juntos. O Alain sente desprezo por você.” (Corpus do
Português: Now).
Espera aí 87 56 33 176
Vamos lá 72 42 15 129
Vai lá 34 11 - 45
Calma aí 19 3 6 28
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Da classe dos afixoides, lá e aí, por conta de suas propriedades semân-
ticas (distância espacial e granulidade), são os mais recrutados para a
formação de novos types do esquema [XLocaf]MD. Constatamos também
que essa construcionalização relaciona a sintaxe construcional à mor-
fologia construcional, uma vez que a segunda subparte, Loc, passa a
atuar como afixoide (Booij, 2010; 2013), constituindo-se como elemento
marginal de X.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Cristian Matias do Nascimento Corrêa / Mariangela Rios de Oliveira — 65
– INTRODUÇÃO –
As cenas comunicativas do cotidiano geram constantes modificações na
língua, fazendo com que seja vista como em mudança contínua. Segun-
do Hopper (1991) “a gramática de uma língua é sempre emergente, ou
seja, estão sempre surgindo novas funções/valores/usos para formas já
existentes [...]”.
— 67 —
68 — Coleção Pesquisadores
1
Disponível em: http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj.
Luciana Andrade de Souza — 69
1. FUNCIONALISMO E ABORDAGEM
CONSTRUCIONAL DA GRAMÁTICA
De acordo com Bybee (2010), em visão funcional da gramática, as lín-
guas naturais são aprendidas, isto é, elas se formam baseadas em con-
tato, pressões gerais cognitivas, pragmáticas e de processamento. Há
forte relação entre a estrutura da língua e o uso que os falantes fazem
dela na cena comunicativa real; assim, a organização gramatical é for-
jada pelo uso da língua. A partir disso, gramática define-se como o
conhecimento do sistema linguístico, como representação cognitiva da
experiência com a língua. De acordo com a linguística funcional centrada
no uso (LFCU), a gramática da língua é o resultado da cristalização ou
regularização de estratégias discursivas rotineiras, que surgem de pres-
sões cognitivas e de uso.
2. MUDANÇAS CONSTRUCIONAIS
Segundo Oliveira e Rosário (2016), a abordagem construcional da gra-
mática é uma teoria do uso. Desse modo, os processos de mudança lin-
guística geralmente surgem a partir da interação dos falantes, que ne-
gociam novos significados. De acordo com Traugott e Trousdale (2013),
nessa abordagem, a língua pode ser considerada uma rede de pares de
forma e significado. É característico dessa rede apresentar diferentes
graus de instabilidade que levam ao processo de mudança linguística.
Considerando esse processo, destacam-se a construcionalização e a
mudança construcional.
II – Convencionalização
• Outro ouvinte passa a utilizar o construto com o novo sentido
em nichos específicos.
Luciana Andrade de Souza — 73
III – Construcionalização
• Quando a neoanálise morfossintática e semântica conven-
cionaliza-se na população de falantes, cria-se uma nova
microconstrução.
IV – Pós-construcionalização
• A nova microconstrução pode ser expandida.
3.2 Gradiência
Segundo Rosário e Lopes (2019), a gradiência sincrônica é atestada por
meio da negociação de sentidos operada entre falantes e ouvintes, na
interface entre formas e significados numa dada sincronia. Os autores
afirmam também que a gradiência está interconectada com a mudança
linguística gradual.
Luciana Andrade de Souza — 77
4. OS MARCADORES DISCURSIVOS
O marcador discursivo é elemento linguístico que atua no plano pro-
cedural da gramática, isto é, constituinte não referencial que articula
relações entre componentes, partes ou itens do discurso. Segundo Tei-
xeira (2015), os marcadores evidenciam a presença do falante-autor,
sinalizando ao interlocutor de que maneira ele deve compreender a in-
formação transmitida na sequência. Assim, funcionam como coadjuvan-
tes, na medida em que enfatizam o rumo da interlocução, acentuando
a intersubjetividade.
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Ao longo deste trabalho, constatamos que os locativos do português
brasileiro contemporâneo apresentam, nos contextos de mudança, sen-
tidos polissêmicos, os quais se tornam dependentes e periféricos em
relação à forma verbal olha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BYBEE J. L. A usage-based perspective CUNHA, M. A. F. da.; SILVA, J. R.; BISPO, E. B. O
on language. In: Language, usage, and pareamento forma-função nas construções:
cognition. Cambridge, UK: CUP, 2010. questões teóricas e operacionais. Revista do
CROFT, W. Radical construction grammar: Programa de Pós-Graduação em Linguística
syntactic theory in typological perspective. da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
New York: Oxford University Press, 2001. Rio de Janeiro, volume especial, p. 55-67,
dez. 2016.
DIEWALD, G. A model of relevant types of
contexts in grammaticalization. In: WISCHER, GOLDBERG, A. E. Constructions: a
I.; DIEWALD, G. (ed.). New reflections on construction grammar approach to
grammaticalization. Amsterdam: John argument Structure. Chicago: Chicago
Benjamins, 2002. p. 103-120. University Press, 1995.
– INTRODUÇÃO –
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise inicial de cons-
truções de verbos seriais com verbos de movimento na língua Wa’ikha-
na (também conhecida como Piratapuya), da família Tukano Oriental.
A análise se alinha aos princípios teóricos da gramática de constru-
ções baseada no uso (GOLDBERG, 1995; 2006; CROFT, 2001; BYBEE, 2010;
TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013) e procura descrever dois tipos de constru-
ções de verbos seriais que existem na língua Wa’ikhana.
— 81 —
82 — Coleção Pesquisadores
(1) chówe-ruka+a
vomit-begin-assertive.perfect
“(The big snake) began to vomit (him) up” (STENZEL 2014, p. 231).
1
Os dados são apresentados em formato interlinear com linhas representando: i) forma ortográfica;
ii) forma morfológica subjacente com segmentação e algumas informações fonológicas (os morfemas
inerentemente nasais são precedidos por ~); iii) linha de glosas correspondentes a cada morfema da
linha 2; e iv) traduções livres em português. As abreviações das glosas se encontram no final do capítulo.
Bruna Cezario — 83
2
No texto original, “Lexical constructions and syntactic constructions differ in internal complexity, and
also in the extent to which phonological form is specified, but both lexical and syntactic constructions
are essentially the same type of declaratively represented data structure: both pair form with meaning”.
84 — Coleção Pesquisadores
Figura 1
Esquema de uma construção
2. METODOLOGIA
O tipo de análise adotado neste trabalho é a análise qualitativa de um
corpus. Os dados provêm: i) do Acervo Linguístico-Cultural do Povo
Wa’ikhana, disponível no ELAR3; e ii) dados coletados por mim durante
duas viagens de campo feitas à cidade de São Gabriel da Cachoeira,
Amazonas, em 2018.4
3
Endangerous Language Archive
4
As viagens foram receberam apoio financeiro do projeto do Museu do Índio Salvaguarda do pat-
rimônio linguístico e cultural dos povos indígenas transfronteiriços e de recente contato na região
Amazônica, financiado pela FUNAI em parceria com a UNESCO, e da National Science Foundation,
Grant No. BCS-1664348.
86 — Coleção Pesquisadores
5
A Gramática Pedagógica Wa’ikhana ainda está em desenvolvimento.
Bruna Cezario — 87
6
Acredita-se que a partícula ne seja um empréstimo do “nem” do português. Desse modo, não coloca-
mos a nasalidade morfêmica na forma subjacente (ver seção 5.1.4). O mesmo ocorre com misa “missa’.
88 — Coleção Pesquisadores
3. ANÁLISE
3.1 A construção de verbos seriais com verbo ativo + verbo de movimento
Stenzel (2007), em sua análise de verbos seriais em Wa’ikhana e em
Kotiria, afirma que no slot 2 podem ocorrer os verbos wa’a “ir” e a’ta
“vir”, acompanhados de um verbo de ação no slot 1. Nesses casos, a
serialização indica que a ação foi feita por meio de um movimento físico
para longe ou em direção do falante (ou outro ponto de referência). Por
exemplo, em (7), a construção com a raiz núcleo ~baha, que significa
“ir para cima da colina”, seguida do verbo a’ta “vir” pode ser lida como
“venha até em cima (para minha casa)”. Ou seja, a ação é feita com um
movimento acoplado, em direção ao falante.
(7)
~baha-a’ta-ya ~bʉ’ʉ-~gʉ’ʉ
subir.morro-vir-imper 2sg-adic
“Venha até em cima (para minha casa) também.”
(STENZEL, 2007, p. 279)
7
É comum, em narrativas, o uso do pronome antes do discurso direto para introduzir um pensamento.
90 — Coleção Pesquisadores
casos só foram encontrados com wa’a “ir” e a’ta “vir”, que também é
um verbo de movimento bastante frequente.
8
Tipo de planta utilizada nos telhados de certas construções.
92 — Coleção Pesquisadores
de um link lexical, pois existe uma relação entre cada construção esque-
mática e o item lexical. A figura 2 representa esses links.
Figura 2
Links lexicais entre duas construções esquemáticas
com o verbo wa’a e o próprio item verbal wa’a
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Neste trabalho, foram analisadas duas construções de verbos seriais da
língua Wa’ikhana com verbos de movimento. Uma das construções é
composta por um verbo de ação e um verbo de movimento na segunda
posição, e seu significado é o de indicar que a ação do primeiro verbo
é feita com o movimento do segundo. A outra construção contém o
verbo wa’a “ir” em sua forma, e apenas um slot em aberto, no qual
podem ocorrer tanto verbos estativos como verbos que indiquem ine-
rentemente processos.
LISTA DE GLOSAS
anph anafórico loc locativo
affec afetado neg negação
clf classificador nmlz nominalizador
cop cópula pfv perfectivo
deic dêitico pl plural
emph ênfase pres (evidencial) presumido
fem feminino prox próximo
indf indefinido sg singular
ins instrumental sgf singular feminino
ipfv imperfectivo swrf switch reference
irr irrealis vis (evidencial) visual
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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handbook of construction grammar. Oxford: motivadas por pressões do uso. Ao
Oxford University Press, 2013. interagirem oralmente, os falantes
6
A presença de complemento
verbal na construção com adjetivo
adverbial: um estudo sobre
variação na rede construcional
Rodrigo Pinto Tiradentes (UFRJ – Mestrando)
Priscilla Mouta Marques (UFRJ)
– INTRODUÇÃO –
O estudo sobre os adjetivos adverbiais é fortemente marcado por deba-
tes e divergências, a começar pela nomenclatura utilizada para designar
esse elemento. Tradicionalmente é intitulado como adjetivo adverbia-
lizado, considerando-se que se trata de um adjetivo que passa a as-
sumir a função tipicamente adverbial de modificar um verbo (CUNHA;
CINTRA, 1985; ROCHA LIMA, 1994); na atualidade, porém, tem sido cha-
mado maiormente ora de adjetivo adverbial, concedendo-lhe maior va-
lor de advérbio, ora de suposto adjetivo adverbializado (LOBATO, 2008),
reconhecendo apenas seu caráter adjetival. E há quem ainda não se
contente com nenhum dos termos (cf. FOLTRAN, 2010).
— 95 —
96 — Coleção Pesquisadores
vos, tais como seu escopo de predicação, sua flutuação categorial entre
adjetivo e advérbio e a realização sintática dos argumentos dos verbos
que os acompanham. No entanto, no que diz respeito ao uso e a uma
sintaxe de superfície, as pesquisas caminham para um consenso de
que tais adjetivos tendem – majoritariamente – a ocorrer em sentenças
desprovidas de argumento verbal e a se posicionarem próximos e à
direita do verbo. Autores de diferentes abordagens teóricas (BARBOSA,
2006; LEUNG, 2007; FOLTRAN, 2010; TIRADENTES, 2018; CAMPOS, 2019), a
partir tanto de introspecção como de coleta de dados, têm observado
igualmente que é muito mais comum e natural uma sequência como
“pagar (mais) caro”, exposta em (1), do que outra como “pagar caro
esses cursos”, em (2).
(1) “[...] os taxistas pedem a unificação da bandeira 1 na Região Metropolitana
do Recife. ‘Os municípios são muito próximos um do outro e não tem sentido
o passageiro pagar mais caro’, informou Ferreira.” (19N:Br:Recf)
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Decorrente do Funcionalismo Norte-americano e das contribuições da
Linguística Cognitiva, a Linguística Funcional Centrada no Uso é uma
teoria preocupada com a íntima relação entre as instâncias de uso e
a estrutura linguística (KEMMER; BARLOW, 2000). Intitula-se baseada/
98 — Coleção Pesquisadores
Diante desse quadro teórico, uma possibilidade, que de fato tem sido
maiormente defendida, é considerar que idealmente todas as estruturas
linguísticas se distinguem umas das outras, cada qual motivada por um
fator específico, cada qual composta por propriedades formais e discur-
sivo-pragmáticas diferentes (GOLDBERG, 1995). Tal visão pode, assim,
justificar a existência de construções muito semelhantes, uma vez que
se há entre duas construções diferença na forma deve haver diferença
também no sentido e/ou na pragmática (Princípio da não-sinonímia); o
contrário também se aplica, havendo por força cognitiva diferença for-
mal entre construções diferentes no sentido e/ou na pragmática (decor-
rência do princípio de poder expressivo maximizado). Goldberg (1995)
postula esses princípios com base na proposta de Haiman (1985) de
uma representação mental isomórfica e motivada.
Figura 1
Representação da metaconstrução e respectivas aloconstruções
2. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
O debate sobre o papel da variação na rede construcional interessa-nos
para compreender a estrutura argumental da construção com adjeti-
vo adverbial. Muito embora estudos de diferentes correntes teóricas
(que serão mencionados a seguir) observem que os adjetivos adverbiais
tendem a não coocorrer com complementos verbais em uma mesma
sentença, existe a possibilidade de coocorrência, que corresponde a um
número expressivo de dados na coleta de nossa pesquisa. Uma vez que
o complemento apresenta mobilidade de posição em relação ao verbo,
são possíveis, pelo menos, quatro padrões sintáticos para a construção
104 — Coleção Pesquisadores
co, porque licenciado por um verbo leve. Campos, por sua vez, coletou
maior quantidade de dados e observou igualmente número pouco ex-
pressivo de ocorrências transitivas (aproximadamente 15%, 58 dados),
frente à maioria de ocorrências intransitivas (aproximadamente 84%,
329 dados); outros três dados (aproximadamente 1%) corresponderam
a ocorrências impessoais, em que o verbo não seleciona argumento ex-
terno. Diante dos resultados, as autoras afirmam que há uma tendência
à intransitividade, motivada pela relação icônica entre verbo e adjetivo
que os mantém próximos no enunciado. Campos, adotando perspectiva
teórica da LFCU, não trata da possibilidade de diferenciar a construção
com adjetivo adverbial em duas (uma para o padrão intransitivo e outra
para o transitivo), mas observa que a intransitividade é uma caracte-
rística que diferencia as sentenças com adjetivo adverbial de sentenças
com advérbios qualitativos terminados em –mente.
3. METODOLOGIA
Como apresentado na primeira seção deste texto, sob a perspectiva
da LFCU, analisar a língua em uso é de extrema importância para com-
preender a representação cognitiva da linguagem. Dessa forma, nossa
pesquisa se pauta na coleta de ocorrências de adjetivos adverbiais em
textos de uso real do PB.
5
Disponível em: http://www.corpusdoportugues.org.
Rodrigo Pinto Tiradentes / Priscilla Mouta Marques — 107
estudo. Logo, temos um total de 1.173 dados que serviram de base para
a análise aqui exposta.
4. ANÁLISE
4.1 Resultados gerais e considerações sobre o padrão [V + AA]
(5) “E antes que respondessem, concluiu: – Não creio. Parto difícil e típico de
primípara, embora a eclâmpsia mascare tudo. – Falava olhando para Canecão
e Pavuna, sem saber a qual dos dois se dirigir certo; isto é, qual deles, seria o
esposo, o viúvo.” (19:Fic:Br:Vieira:Mais)
(6) “Ele continuava ali, bem perto, também ferido. E, de repente, como
se percebesse que o perdia para toda a vida, deixou tombar o chapéu,
enlaçou-o forte, procurando os braços que a apertassem [...]” (19:Fic:Br:
Peixoto:Chamada)
(7) “Um acidente. Do topo do mastro desprendeu-se uma das vigas que atin-
giu Filippo na base do pescoço numa pancada seca. O monsenhor perdeu os
sentidos, mais profundo do que o sobrinho possuído pelo diabo.” (19:Fic:Br:-
Comparato:Guerra)
(8) “JC – Você, pelo jeito, deve ter uma coleção de amigos...
Leda – Eu faço amizades muito fácil. O meu primeiro trabalho, também como
contato, foi na Editora Abril.” (19Or:Br:Intrv:Cid)
6 0 6 0 12 24
STATUS INFORMACIONAL
(11) “Policiamos os choques sociais mas não policiamos a nossa conduta mo-
ral. Não apagando antagonismos, ela faz por separar bem claro, os nutridos e
os desnutridos.” (19N:Br:Cur)
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Ao final desta breve e inicial análise, identificamos que o padrão
[C + V + AA] é uma exceção contextual e que os padrões [V + AA], [V + C
+ AA] e [V + AA + C] correspondem a três construções diferentes: [V AA],
[V C AA] e [V AA C]. Mais além, conseguimos identificar a microconstru-
ção [V Direto C].
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CUNHA, C. F. da; CINTRA, L. Nova gramática BARLOW, M.; KEMMER, S. (eds.). Usage based
116 — Coleção Pesquisadores
– INTRODUÇÃO –
Noções de gênero, em relação aos seus valores sociais, são assimétricas.
Por exemplo, ao se chamar um homem de “cachorro”, pode-se avaliá-lo
quanto aos seus roteiros de relacionamentos, indicando, em geral, um
perfil promíscuo, ou seja, uma pessoa que mantém múltiplas parcerias
sexuais. Esse homem, porém, tende a ser analisado positivamente pelos
seus pares, pois se enquadra como um homem de sucesso (sobretudo
se heterossexual), um bom exemplar da categoria, segundo a qual se
prevê uma sexualidade masculina ativa. No entanto, ao se chamar uma
mulher de “cachorra”, ainda se mantém uma avaliação de promiscui-
dade, mas, dessa vez, trata-se de uma avaliação pejorativa, visto que a
— 117 —
118 — Coleção Pesquisadores
4
Ver Traugott e Trousdale (2013, p. 16) para um tratamento mais adequado dos níveis de represen-
tação construcional.
5
Carvalho (2019) emprega chaves para referir-se ao componente semântico-funcional das construções.
122 — Coleção Pesquisadores
Figura 1
Rede construcional das construções desinenciais de gênero
9
Para uma análise construcionista sobre “puta” como intensificador, remeto a Feltes e Borchert (2018).
128 — Coleção Pesquisadores
10
Poderíamos postular uma construção [put-sex.], válida para os gêneros feminino e masculino, analog-
amente a [put-irrit.]. No entanto, visto que apenas um dado de “puto” com valor sexual foi encontrado
e especialmente porque essa ocorrência nasce a partir de uma menção à “puta”, acredito que se deva
destacar a relevância do feminino na representação mental dessa construção.
Andrei Ferreira de Carvalhaes Pinheiro — 133
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Na última seção, busquei evidenciar que, de fato, os usos de “puta” ten-
dem a instanciar uma referência pejorativa à sexualização feminina, en-
quanto as ocorrências de “puto”, de modo geral, bloqueiam referência
semelhante ao gênero masculino. Apontei, ainda, que os usos de “puto”
estão amplamente associados à semântica de “homem extremamente
irritado” e que o significado de “mulher extremamente irritada” também
se encontra entre as instanciações de “puta”, apesar de os dados ana-
lisados demonstrarem baixa frequência nesse último caso. Notam-se,
então, dois padrões construcionais distintos armazenados na mente dos
sujeitos: [putasex.], cuja semântica associa-se à sexualização feminina
negativa, e [put-irrit.], que, combinado às construções desinenciais de
gênero [N-a] ou [N-o], veicula um significado de alta irritabilidade.11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970. Cambridge University Press, 2006. p. 288-313.
– INTRODUÇÃO –
Este capítulo trata dos usos de construções adverbiais temporais ini-
ciadas pelas formas “sempre que” e “toda vez que” no português do
Brasil. A linha teórica adotada é a da linguística funcional centrada no
uso, a partir da qual procuraremos verificar a motivação para o uso
das formas consideradas sinônimas pela visão tradicional. Cada forma,
“sempre que” e “toda vez que” é uma microconstrução de uma cons-
trução maior formadora de construções conectivas com várias funções,
a construção [X que]CONECT (cf. SILVA; CEZARIO, 2019). As formas aqui es-
tudadas têm papel dentro de uma construção maior, que é a cláusula
adverbial temporal [CONECT V]CL HIP TEMP.
— 137 —
138 — Coleção Pesquisadores
Figura 1
Rede construcional das orações hipotáticas temporais
2. METODOLOGIA
No que diz respeito à metodologia, utilizamos o Corpus do Português,
aba Web, para a coleta de dados. É um corpus on-line que reúne uma
série de textos de diferentes gêneros discursivos (jornalístico, acadêmi-
co, ficcional, digital), desde o século XIII até o século XXI, oriundos de
quatro variedades do português (Brasil, Portugal, Moçambique e Ango-
la), totalizando em sua composição aproximadamente 45 milhões de
palavras. Em 2016, adicionou-se a esse banco de dados uma nova aba
de coleta, a aba Web, que possui cerca de 1,4 bilhão de palavras em sua
totalidade, provenientes, também, das quatro variedades do português.
Essa nova ferramenta contém registros extraídos do domínio da inter-
net, nos anos de 2013 e 2014, retirados majoritariamente de sites e blogs
com diferentes temáticas. É dessa nova adição ao Corpus do Português
que foram coletados os dados dessa pesquisa.
Gráfico 1
Posição da oração hipotática face à principal: “sempre que”
Gráfico 2
Posição da oração hipotática face à principal: “toda vez que”
(5) “Mas se você se queixar: Por que, toda vez que eu tenho algum amor novo
em meu coração, esse amor é desafiado? então você ainda não compreendeu
a finalidade de sua vida aqui.” (Corpus do Português)
4
Vale destacar que embora tenha havido casos de orações intercaladas com as duas microconstruções,
o exemplo em questão é um registro de “toda vez que” devido ao maior número de ocorrências com
essa microconstrução: 6 ocorrências com “toda vez que” contra apenas 1 com “sempre que”.
150 — Coleção Pesquisadores
Gráfico 4
Modo e tempo verbal da oração hipotática “toda vez que”
Gráfico 6
Simultaneidade temporal: “toda vez que”
5
Foram casos de oração sem sujeito, como as orações existenciais e as que expressam fenômenos
da natureza.
156 — Coleção Pesquisadores
Analisando esse quadro, seria possível dizer que essas duas micro-
construções apresentam as mesmas propriedades: ambas tendem a in-
troduzir orações mais antepostas, com verbos no presente do indicativo,
tempos simultâneos etc. No entanto, se comparados os resultados de
cada fator, pode-se depreender que, embora ambas tendam a introduzir
orações mais antepostas, por exemplo, isso ocorre com maior frequên-
cia com a microconstrução “toda vez que”, já que seu percentual de
ocorrência é maior que o percentual de “sempre que”: 73% contra 57%,
respectivamente. Consequentemente, a posposição parece estar mais
atrelada ao uso de “sempre que”, já que esses casos são mais frequen-
tes com essa microconstrução em comparação a “toda vez que”: 42%
contra 21% respectivamente.
dos dados contra 68% com a microconstrução “sempre que”. Isso posto,
pode-se conjecturar que as orações introduzidas por “toda vez que”
tendem a estar mais integradas entre si, enquanto as que são intro-
duzidas por “sempre que” tendem a estar menos integradas, já que o
percentual de dados que não apresentam simultaneidade temporal com
essa microconstrução é relativamente grande se comparado a “toda vez
que”: 32% contra 9%, respectivamente.
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Este trabalho se propôs a apresentar uma análise acerca das orações
hipotáticas introduzidas por “sempre que” e “toda vez que” no PB
contemporâneo. Essa análise teve como objetivo mapear diferenças e
semelhanças no que diz respeito ao uso dessas microconstruções na
oração, a fim de compreender o que leva o falante a escolher uma ou
outra em diferentes contextos. Tendo como base o arcabouço teórico da
LFCU, a hipótese que norteou este estudo é a de que essas microcons-
truções, embora se apresentem em contextos semelhantes, não seriam
sinônimas, pois apresentariam especificidades estruturais, semânticas
e/ou pragmáticas.
Por ora, essa hipótese ainda não foi totalmente comprovada. En-
tretanto, a partir dos resultados obtidos com a verificação dos sete
fatores de análise, constatamos que essas duas microconstruções
apresentam algumas especificidades de uso, tais como a predileção
de “toda vez que” por orações antepostas, a alta frequência do modo
Maria Maura Cezario / Beatriz Lones dos Santos — 159
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– INTRODUÇÃO –
Este capítulo se propõe a investigar as orações hipotáticas introduzidas
pelos conectivos [visto que], [dado que] e [posto que], tendo como objeti-
vo analisar os contextos em que cada uma dessas construções é utilizada,
mapeando suas semelhanças e diferenças. Para isso, nos baseamos nos
pressupostos teóricos da linguística funcional centrada no uso (LFCU).
Essa abordagem considera a existência de uma estreita relação entre a
estrutura das línguas e o seu uso nos contextos reais de comunicação.
— 161 —
162 — Coleção Pesquisadores
Obs.: X – visto, posto, dado, ainda, se bem, toda vez... / Vpp – visto, dado ou posto / Y – sujeito
/ V – verbo / W – argumento ou complemento
Fonte: Elaborada pelos autores.
1
Disponível em: https://www.corpusdoportugues.org.
Juliana Barboza do Nascimento / Dennis Castanheira — 163
(2) “Visto que as mulheres são apaixonadas por bijuterias nada mais justo do
que propor a elas uma compra mais simples através da internet.”
(3) “Os jogos simbólicos são possíveis dado que, nesta fase, a criança já é
capaz de produzir imagens mentais.”
1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Baseamos nossos estudos no arcabouço teórico da LFCU, uma aborda-
gem que considera que há uma estreita relação entre a estrutura das
línguas e o seu uso nos contextos reais de comunicação (cf. BYBEE,
2010; CEZARIO; FURTADO DA CUNHA, 2013; DIESSEL, 2015). Essa perspec-
tiva não se restringe apenas a aspectos formais, levando em conta, em
suas análises, também, questões pragmáticas, semânticas e cognitivas.
A LFCU propõe, para isso, uma união entre pressupostos da linguística
funcional norte-americana e da linguística cognitiva.
2. METODOLOGIA
Nossa metodologia compreende uma análise tanto qualitativa quanto
quantitativa, com fatores de ordem estrutural, semântica e pragmática.
Para nossa análise, utilizamos como auxílio o programa Excel para a codi-
ficação e contabilização de nossos dados, como também para o cruzamen-
to de alguns de nossos fatores. Isso permitiu, além de um detalhamento
dos resultados de cada construção, uma comparação precisa entre elas.
3. ANÁLISE DE DADOS:
TRÊS FORMAS EM COMPETIÇÃO?
3.1. Os valores semânticos-pragmáticos das orações hipotáticas: o
continuum causal-condicional-concessivo
Partindo do pressuposto de que algumas conjunções poderiam apre-
sentar valores semânticos não previstos pela tradição, fomentado pelo
trabalho de Rodrigues (2018), foi realizada uma revisão da abordagem
das gramáticas tradicionais, buscando observar como elas apresentam
as orações subordinadas adverbiais e as conjunções que as introduzem
e que foram destacadas nesta pesquisa.
2
Só foram encontrados dentro da amostra utilizada valores híbridos de condicionalidade, isto é,
valores causais-condicionais. Sendo assim, buscamos este único exemplo externo a amostra do site
“Dicionário Informal”. (https://www.dicionarioinformal.com.br/dado+que/)
170 — Coleção Pesquisadores
[posto que] 90 4 6
Total 281 13 6
[visto que] 7 0 93
[posto que] 12 0 88
Total 53 4 243
(8) “Mas o P.S. não funciona como um tipo de qualificação, dado que se for
acrescentado em qualquer lado, deve ser acrescentado em todo o lado.” (Cor-
pus do Português)
(9) “Os blocos que praticamente não sofreram alterações foram os de inovação
e de pesquisa, visto que são áreas nas quais existem indicadores objetivos à
profusão e que já foram bastante discutidas na literatura internacional.” (Cor-
pus do Português)
Gráfico 1*
Posição e valor semântico-pragmático das orações hipotáticas
*Esse gráfico apresenta o número de ocorrências dos dados. Não apresenta percentuais.
174 — Coleção Pesquisadores
(11) “Por demorar para ser detectada (geralmente é vista no início da vida
escolar), muitas crianças disléxicas são rotuladas de desmotivadas e preguiço-
sas, visto que têm dificuldades de aprender.” (Corpus do Português)
Gráfico 2
Correferencialidade entre os sujeitos
(15) PRONOME – “O autor diz que esses novos gêneros não são criações inéditas,
visto que se construíram a partir de outros gêneros já existentes.” (Corpus do
Português).
Gráfico 3
Codificação formal do sujeito da oração hipotática
(18) IND. e IND.: “Está claro que esta é uma maneira de fazer com que nos
próximos bimestre as notas dos alunos sejam “maquiadas”, visto que esse
método é uma forma de nos inibir, de nos forçar a não “dar” tantas notas
vermelhas.” (Corpus do Português)
(19) IND. e IND.: Gostaria de ter uma resposta firme à minha indagação, posto
que a legenda é dúbia. (Corpus do Português)
Juliana Barboza do Nascimento / Dennis Castanheira — 177
Gráfico 4
Simultaneidade entre os modos verbais das orações
(22) PRES. e PRES.: “A autora refere ainda que os termos transtorno e dificul-
dade não podem ser confundidos, visto que na dificuldade, a criança apre-
senta insucesso escolar, porém tem uma capacidade motora adequada, boa
inteligência, visão, audição, dentre outras, enquanto que o transtorno envolve
problemas em diversas habilidades.” (Corpus do Português)
178 — Coleção Pesquisadores
Gráfico 5
Simultaneidade temporal entre as orações
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
De forma geral, as três construções possuem as seguintes tendências:
expressam causa; ocorrem em posição posposta às orações matrizes; o
evento da hipotática e da principal são simultâneos temporalmente e
codificados com o mesmo modo; os sujeitos das hipotáticas têm a forma
de sintagmas nominais; e, por fim, os sujeitos de ambas orações não
são correferentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Society, 1984, p. 437-449. 2016. p. 20-41.
– INTRODUÇÃO –
Este estudo tem como objetivo principal apresentar uma análise so-
bre a formação dos conectores contrastivos instanciados pelo esquema
[Xque] em português: ainda que e mesmo que. Utilizamos os pressupos-
tos teóricos da abordagem cognitivo-funcional, bem como o modelo de
mudança linguística apresentado por Traugott e Trousdale (2013) para
explicar como se deu a formação das construções e como os processos
cognitivos de domínio geral (BYBEE, 2010) contribuíram para o surgimen-
to desses conectores na língua.
— 185 —
186 — Coleção Pesquisadores
(4) nós temos as reuniões (...) muito mais participação, porque, mesmo que
alguns professores faltem porque tenham outros ... outros afazeres no ambu-
latório, mas sempre tem um bom número de reuniões. (NEVES, 2000).
1
Disponível em: http://www.corpusdoportugues.org.
188 — Coleção Pesquisadores
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A abordagem baseada no uso, ao contrário das abordagens formalistas,
adota o pressuposto de que a estrutura da língua emerge à medida em
que esta é usada. (BARLOW; KEMMER. 2000). Nesse sentido, correntes
baseadas no uso estabelecem uma relação entre estrutura e motivações
discursivas, além disso não excluem da análise fatores de ordem se-
mântico-pragmática.
2. METODOLOGIA
Nesta pesquisa, fazemos uso dos dados coletados do Corpus do Portu-
guês, uma plataforma on-line que reúne diversos textos em vários dialetos
da língua portuguesa. No site, encontramos 4 subtipos de corpus, e nesta
pesquisa fazemos uso do denominado gênero/histórico, que reúne dados
do século XIII ao século XXI e possui mais de 45 milhões de palavras, di-
vidido em várias subseções, incluindo fala e escrita. Entretanto, em nossa
análise, verificamos apenas as ocorrências na modalidade escrita.
(8) E ainda que contradisessem que as nõ fezesse deue lhas dar dos bëës do
morto ante que paguë në hûã das cousas que mandou en seu testamëto në
das diuidas que deuia en qual quer maneyra que as deue E ante que partã në
hûã cousa seus filhos de sseus aueres ou outros que os ouuerë derdar tanto
que estas despesas seiã feitas Outrossy teue por bë a sancta eygreia que mor-
rendo algûû que nõ ouuesse quë sse trabalhasse pera fazer estas despesas
pera seia soterramëto que o julgador as fezesse ou mandasse as fazer a outrë.
(CORPUS DO PORTUGUÊS, século XIII)
(9) Não vou me arrepender, mesmo que o Rio não seja escolhido. É uma causa
em que eu acredito. (CORPUS DO PORTUGUÊS, século XX)
(10) Mesmo que o termo seja utilizado meio vagamente, existem duas condi-
ções gerais nas quais pode ser produzido o efeito-expulsão. Em primeiro lugar,
o gasto público pode expulsar o investimento devido às limitações de recursos.
(CORPUS DO PORTUGUÊS, século XVIII)
Figura 1
Processo de formação de ainda que
Figura 2
Processo de formação de mesmo que
Figura 3
Rede construcional dos conectores instanciados pelo esquema [Xque]
4. DISCUSSÃO
Após a fundamentação teórica e os resultados expostos neste capítulo,
defendemos que, a partir do modelo de mudança linguística apresen-
tado, os conectores estudados passaram por um processo de constru-
cionalização, visto que houve mudança na forma e na função. Qual é a
nossa justificativa?
Figura 4
Representação da construção ainda que
Figura 5
Representação da construção mesmo que
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Tivemos como objetivo descrever a formação dos conectores contrastivos
instanciados pelo esquema [Xque] a partir da abordagem construcional
da gramática. De acordo com os dados coletados, no século XIII já encon-
tramos ainda que com função contrastiva e com a semântica concessivo-
-condicional em maior ocorrência coocorrendo com as de caráter conces-
sivo. Nos séculos seguintes e até o português atual, o conector tende a
aparecer denotando, na maioria dos usos encontrados, ideia concessiva.
explicar a história dos itens, alertando que há vários aspectos que não
abordamos, mas que podem servir para investigações futuras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Language, v. 64, n. 3, p. 501-538, 1988. português: uma análise construcional de
Thiago dos Santos Silva — 201
– INTRODUÇÃO –
Por meio deste estudo, tem-se como objetivo geral discutir o comporta-
mento de “com certeza” a partir de dados diacrônicos. Para isso, con-
sideram-se duas construções adverbiais em que figura “com certeza”:
uma qualitativa, que pode ser representada pelo esquema [V com cer-
teza]qualitativa; e uma modalizadora, representada como [com certeza
(Or)]modal. Abaixo, tem-se um exemplo da construção qualitativa na
sincronia atual:
(1) “A doença do alcoolismo se caracteriza por uma obsessão pela bebida que
se instala lentamente na vítima, até, nos últimos estágios, dominá-la inteira-
mente. Apesar da imensa gravidade da doença, pouco ou nada se sabe com
certeza sobre suas causas.” (aabr.com.br)
— 203 —
204 — Coleção Pesquisadores
1
Disponível em: http://www.corpusdoportugues.org.
Ester Moraes Gonçalves / Deise C. de Moraes Pinto — 205
2
Para este trabalho, analisou-se “com certeza” dado a dado apenas nessas sincronias. Das
sincronias posteriores, traz-se apenas um recorte a título de comparação.
206 — Coleção Pesquisadores
(4) “Não duvido que estes Ministros, vendo a Portland com mais exterior de
prudência que talento, lhe fizessem alguma insinuação de mediação e arbítrio,
para com isto tentar a El-Rei de Inglaterra e atraí-lo ao seu partido. Porém,
nada se sabe com certeza, ainda que, nesta matéria, eu tenho por evidente
tudo o que é verosímil.” (17:Brochado:Cartas2)
duas que tanta coisa se havia passado durante aquela ausência... Jandira re-
lutara quando Dona Flor propusera visitar a pensão: – Bobagem, titia! E capaz
da gente nem encontrar lá uma cara conhecida. Me disseram até que o dono
é outro. Com certeza os hóspedes velhos também se mudaram... – Bobagem é
a sua, retrucou Dona Flor.” (19:Fic:Br:Peixoto:Chamada)
2.1 Categorização
Segundo Bybee (2016), a categorização se dá por meio da experiência;
desse modo, os membros de uma categoria não possuem um mesmo
estado, isto é, há elementos que são exemplares mais centrais (pro-
totípicos), enquanto outros são mais periféricos, mais marginais (não
prototípicos). Portanto, as fronteiras entre as categorias também não
são nítidas e delimitadas. Ainda, de acordo com essa perspectiva, a fre-
quência se faz primordial, pois é esse fator que vai tornar um exemplar
mais “fraco/forte” em sua representação cognitiva.
Nesse dado de fala do século XX, “com certeza” parece retomar toda
a oração que está contida na pergunta do entrevistador: “Com toda essa
aceitação na Inglaterra, vai haver continuidade nesse trabalho com a
Royal Shakespeare Company?” “Com certeza (vai haver continuidade
nesse trabalho com a Royal Shakespeare).” Esse uso de “com certeza”
210 — Coleção Pesquisadores
parece ser mais típico da oralidade, portanto, não aparece nos séculos
XVI, XVII e XVIII, já que só se tem dados da escrita desse período.
2.2 Chunking
Bybee (2016, p. 65) diz que é esse processo que está “por trás da
formação e do uso de sequências de palavras formulaicas ou pré-fabri-
cadas [...] e também é o mecanismo primário que leva à formação de
construções e de estrutura de constituinte”.
Desse modo, o chunk pode ser entendido como uma unidade in-
formacional constituída por duas palavras ou mais, ou por unidades
menores, como morfemas, que ocorrem juntas repetidamente. Em “com
certeza”, temos um chunk, visto que “com” e “certeza”, ao ocorrerem
frequentemente juntas, formam um único bloco de informação, e esse
chunk junto a verbo ou à oração forma chunks maiores. Isto é, as cons-
truções adverbiais qualitativa e modalizadora, por exemplo, também se
constituem chunks.
Dos treze tipos verbais que se tinha em vista, apenas quatro ocorre-
ram na construção qualitativa, sobressaindo-se os de atividade verbal e
de cognição, que se configuram em mais da metade dos dados (27 de
34 dados). Sendo assim, parece que há certa restrição quanto ao slot
verbal dessa construção qualitativa com “com certeza”.
Dos dados coletados do século XVI até o século XVIII, “com certeza”
é majoritariamente qualitativo e frequentemente usado como nos exem-
plos (3) e (4), discutidos na seção 1.1: “dizer com certeza” e “saber
com certeza”. Nesses casos, “com certeza” ocorre logo após o verbo,
respectivamente, de atividade verbal e de cognição. No entanto, nessas
mesmas sincronias, “sem dúvida” já é usado majoritariamente como
modalizador, como no exemplo (7), do século XVIII:
(7) “O Sertão (a quem parece não pode ainda penetrar todo, ou o valor, ou a
cobiça) é sem dúvida imenso em terras, e Nações.” (17:Barros:Vieira)
5
Foram considerados todos os usos e grafias de “sem dúvida” e “com certeza”, apesar de as
representarmos aqui pela grafia padrão.
Ester Moraes Gonçalves / Deise C. de Moraes Pinto — 215
5. AMBIGUIDADE
Assim como se apresentou um dado ambíguo de “sem dúvida”
anteriormente, a ambiguidade também se faz presente na construção
“com certeza”, como neste exemplo do século XVII:
(9) “Eu bem sei que as boas obras só pódem merecer de congruo a perseve-
rança e graça final. Mas essa mesma congruencia, a qual tem o effeito depen-
dente da aceitação e vontade divina, depois de São Pedro declarar que o dito
effeito é certo, fica fóra de toda a duvida e contingencia. Sendo, pois, assim
(como parece que não póde deixar de ser) toda a consequencia das tres pro-
posições do Apostolo corre formalmente; porque a terceira segue-se com cer-
teza da segunda, e a segunda da primeira. A primeira assenta o fundamento
das boas obras: Ut per bona opera certam vestram vocationem, et electionem
faciatis.” (16:Vieira:Sermons)
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
A partir deste trabalho, foi possível alcançar algumas considerações
que podem ser expandidas em passos futuros do estudo sobre “com
certeza”. A primeira consideração é que os processos cognitivos de
domínio geral são muito importantes para a análise desse objeto de es-
tudo, visto que são imprescindíveis para explicar os usos dessas cons-
truções e os percursos que podem ter possibilitado as mudanças. A
respeito da categorização, por exemplo, viu-se que, ao analisar alguns
dados, não se conseguiu delimitá-los a uma determinada categoria,
pois se encontram entre fronteiras que permitem mais de uma leitura,
o que reforça a categorização como um fenômeno gradiente. Ademais,
é válido ressaltar que os processos cognitivos se entrelaçam o tempo
todo, sendo, portanto, interdependentes.
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ILARI, R. et al. Considerações sobre a tionalization and constructional change.
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12
A Construção Idiomática
“[VerimpSe] S” no Português
Brasileiro: uma Abordagem
Construcionista para a
Mudança Linguística
Dennis de Oliveira Alves (UFRJ – Mestrando)
– INTRODUÇÃO –
O desenvolvimento da gramática de construções (GC), na década de
1980, é motivado, em grande medida, pela avaliação de que a porção
irregular (isto é, que apresenta algum tipo de irregularidade sintática
e/ou semântica) do conhecimento linguístico do falante é muito mais
vasta do que parece sugerir a tradição hegemônica dos estudos da lin-
guagem ao longo do século XX – a saber, a linguística gerativa, da qual o
trabalho de Chomsky (1957) é pioneiro. Essa percepção levou os primei-
ros construcionistas – em particular, Charles Fillmore, Paul Kay e George
Lakoff, todos pesquisadores do campus de Berkeley, da Universidade
da Califórnia – a se debruçarem, preferencialmente, sobre os chamados
idioms: padrões linguísticos que apresentam irregularidade em face das
regras gerais da gramática de uma dada língua.
— 221 —
222 — Coleção Pesquisadores
1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Nesta seção, são apresentados, inicialmente, os princípios teóricos da
GCBU, quadro teórico que norteia esta pesquisa, e, na sequência, a
proposta de Traugott e Trousdale (2013) para aplicação da abordagem
construcionista ao fenômeno da mudança linguística.
1
Disponível em: https://www.corpusdoportugues.org.
224 — Coleção Pesquisadores
2. METODOLOGIA
Como apontado anteriormente, propomo-nos a investigar: i) como e
quando se deu o surgimento da construção [VERIMP SE] S na rede cons-
trucional do PB; e ii) por que mudanças ela passou ao longo do tempo.
Para isso, nosso método de investigação consiste em análise de corpus.
Os dados foram extraídos do Corpus do Português, que contém uma
base de dados com 45 milhões de palavras de quase 57 mil textos em
português dos séculos XIII ao XX, à qual recentemente (agosto de 2018)
foi feita uma adição de mais 1,4 bilhão de palavras de jornais e revistas
on-line de 2012 até a atualidade (junho de 2019).
2
Disponível em: https://www.corpusdoportugues.org/hist-gen.
3
Disponível em: https://www.corpusdoportugues.org/now.
230 — Coleção Pesquisadores
3. ANÁLISE E DISCUSSÃO
No que diz respeito às informações semântico-pragmáticas subjacentes à
construção, postulamos que o padrão [VERIMP SE] S veicula semântica geral
de avaliação negativa, podendo levar à emergência de diferentes interpre-
tações pragmáticas, a depender do contexto interacional. Mais especifica-
mente, postulamos que a semântica da construção é a de avaliação nega-
tiva de situação. Para fins dessa descrição, estamos entendendo situação,
seguindo a proposta de Vendler (1967), como qualquer estado (físico ou
mental), processo (limitado ou ilimitado) ou evento que aconteça.
Nesse uso, a sequência [VERIMP SE] S (em itálico) pode ser interpreta-
da com um sentido mais composicional, ou seja, como um pedido para
Dennis de Oliveira Alves — 233
que o criado veja, verifique, descubra alguma roupa, mas também com
um sentido mais idiomatizado, em que o locutor cobra que o seu criado
descubra alguma roupa – em outras palavras, em que há uma avaliação
negativa de comportamento potencial, tal como em (5).
Figura 2
Neoanálise e a construcionalização da sequência [VERIMP SE] SVPRS
Figura 4
Indução e reorganização da rede construcional
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Este estudo buscou explicar, sob uma perspectiva construcionista, o
processo de mudança linguística que teria dado origem ao surgimento
e posterior desenvolvimento de uma construção idiomática, à qual nos
referimos como [VERIMP SE] S, no PB. Como já dissemos, e vale ressaltar,
a crescente produção construcionista sobre o PB, embora se debruce so-
bre questões como estrutura argumental, padrões de modificação verbal
e construções aspectuais, acaba por deixar de lado a descrição de um
Dennis de Oliveira Alves — 237
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GOLDBERG, A. E. Constructions at work: the alcoolismo. Em contrapartida, tem-se a
nature of generalization in language. 1. ed. seguir um comportamento diferente do
Oxford: Oxford University Press, 2006. apresentado anteriormente:
13
A Construção Marcadora
Discursiva Perceptivo-Visual em
Rota de Convencionalização
Vania Rosana Mattos Sambrana (UFF – Doutoranda)
– INTRODUÇÃO –
Este capítulo se dedica à análise da trajetória de convencionalização dos
marcadores discursivos formados de uma base de sentido visual (olhar e
ver) e, em alguns casos, amalgamados por elemento afixoide, nos termos
de Booij (2007; 2013), de valor locativo ou focalizador (lá, aqui, aí, só, bem).
Dentre os marcadores discursivos levantados temos: olha, olhe, olhem,
olha aqui, olhe aqui, olha lá, olhe lá, olha aí, olha só, olha bem, vê, veja,
vejam, vejamos, viu, vê lá, veja lá, vê só, veja só, vejam só, vê bem, veja
bem e vejam bem. Nossa coleta de dados estende-se do século XV até o
século XX. Em nossas análises sobre a formação e o uso desses marcadores
discursivos, averiguamos diferenças na trajetória de convencionalização
desse grupo de marcadores discursivos. Com base na linguística funcional
centrada no uso, apontamos que mecanismos de neoanálise e analogiza-
ção, nos moldes de Traugott e Trousdale (2013) e Fischer (2011), atuam
na construcionalização desses novos pareamentos. Assumimos ainda que,
no século XX, um esquema mais geral surge, o qual codificamos como
[Vvisual(x)afixoide]Marcador Discursivo, que passamos a tratar como [Vv(x)af]MD.
— 239 —
240 — Coleção Pesquisadores
O primeiro padrão é constituído por apenas uma parte, que diz res-
peito à origem verbal de sentido visual – no nosso caso, olhar ou ver,
por exemplo, olha e vejam. Ilustramos esse padrão construcional com
os fragmentos a seguir:
(1) Olha, eu confio em todos eles, eu... eu costumo assim analisar bem a pes-
soa quando (conheço) observo, estou atento a tudo, nos mínimos detalhes, se
a pessoa tive assim com um dedinho de fora, eu vou olha aquele dedinho, tá
entendendo? (PEUL/RJ, XX, falante 9, 1999)
(2) Sabe-se agora: o Inter tentou vetar o árbitro desta noite, mas a FGF não
teve força suficiente. Vejam: a direção colorada não queria Sidrak Marinho, era
o único juiz que não gostaria de ver apitando, e a Conaf escala o sujeito. Aqui
entre nós: é provocação. (Corpus do Português, XX, noticiário, H. Mombach,
De primeira, 1997)
(4) [...] não resisti à tentação de comparar Mirante dos Aflitos, de sol abrasan-
te e esquecida das curvas do vento, a uma nova Fênix ressurgindo das cinzas.
– Veja lá – advertiu Botelho. – Veja se não vai igualar nosso avô a Napoleão.
– Isso não, jamais! – repliquei de imediato. (Corpus do Português, XX, Guido
Guerra, Vila nova da rainha doida)
Vania Rosana Mattos Sambrana — 241
(6) Aluno: mas aí... mas... aí... você vai... você vai de encontro... ter que ir toda
uma filosofia de administração... veja bem... você tem a multinacional... até
que ele comece a implantar uma... uma empresa... mesmo com os maiores
recursos que ele tem e a tecnologia e tudo... (NURC-RJ, Inquérito 364, EF, 1977)
Dessa maneira, olha, vejam, olha aqui, veja lá, olha só e veja bem
representam usos distantes da centralidade na sintaxe, como seriam se
estivessem instanciados pela construção transitiva. Uma vez centrados
no monitoramento da interação, manipulando a atenção do ouvinte para
cumprir propósitos sociocomunicativos, são recrutados como marcadores
discursivos e, por sua vez, pertencentes ao nível pragmático da língua.
Figura 1
Pareamento da construção marcadora discursiva perceptivo-visual
3. ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
Neste trabalho, damos ênfase às análises qualitativas, sem desmerecer,
é claro, o impacto da frequência (BYBEE, 2010). Como corpus, seleciona-
mos dados do século XV ao XX representativos do português brasileiro
e europeu em diferentes fontes.1 Na perspectiva diacrônica, coletamos
dados por sincronias e os agrupamos por representatividade de contex-
tos com base na escalaridade proposta. Dessa forma, de cada século
levantado, temos análises baseadas nas especificidades de usos, que
formam um continuum dos usos mais concretos para usos mais abs-
tratos. Para demonstrar nossos resultados, utilizamos como exemplares
um elemento de cada padrão apontado.
4. A TRAJETÓRIA DE
CONVENCIONALIZAÇÃO DE [VV(X)AF]MD
Nesta seção, demostramos a convencionalização de [Vv(x)af]MD a partir das
trajetórias de construcionalização dos marcadores discursivos olha, olha lá
e olha só. Detectamos diferenças nas atuações dos mecanismos de neoa-
nálise e analogização o que defendemos ser um dos motivos tanto para a
1
Fontes disponíveis em: Corpus D&G http://www.discursoegramatica.letras.ufrj.br/corpus.html;
Corpus NURC-RJ: http://www.letras.ufrj.br/nurc.rj/corpora/mapa.html;
Corpus do Português: http://www.corpusdoportugues.org/x.asp;
PEUL/RJ: http://www.letras.ufrj.br/peul/amostras%201html.
246 — Coleção Pesquisadores
(8) Quando escolheres o açor, olha que tenha a pinta grande e o mais alvo e
que aja bõa titella, bõa coixa e cano grosso e curto e os dedos grossos e gra-
çosos e o collo delgado e a cabeça pequena e cham ëcima e o rosto comprido
e bõa ventã. (Corpus do Português, XV)
(9) Milagres são que as fermosas fazem a que se não pode dar razão. Em pago
de me pesar do teu mal, queres ser lausa do meu. Mais pesa a seu aio, e mais
pesara a seu pai quando o souber: Olha que ainda se pode remediar tudo.
Não abolsa, que trouvemos que arqueja, e tira quanto pode polo folego.
(Corpus do português, XVI)
(10) Coloquei uma colher ... uma colher de cloreto de sódio ... foi um fogaréu
tão grande ... foi uma explosão ... quebrou todo o material que estava exposto
em cima da mesa ... eu branca ... eu fiquei ... olha ... eu pensei que eu fosse
morrer sabe ... quando ... o colégio inteiro correu pro laboratório pra ver o que
tinha sido ... (D&G, Natal, XX)
(12) Excomungado seja o mafarrico, que assim me quer atentar logo que entro
em casa! Olha lá que não morresses de fome! Estás mal acostumado. Louvado
seja Deus! Já não há quem queira sofrer neste mundo mortificações! (Corpus
do Português, XIX)
(15) Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu! E sacudiu todo
o corpo num movimento de desdém que lhe era peculiar. – Olha só que peste!
considerou Augusta, rindo, muito mole, na sua honestidade preguiçosa. (Cor-
pus do Português, XIX)
– CONSIDERAÇÕES FINAIS –
Neste trabalho, objetivamos demonstrar como diferentes rotas assu-
midas pelos marcadores de base visual contribuem para formar uma
construção mais geral, captada no século XX. Tais rotas implicam três
padrões construcionais.
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