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Caderno de Resumos

1º Seminário
Interfaces Linguísticas
MARCOS LUIZ WIEDEMER; ROBERTO FREITAS JUNIOR (ORGS.)

Foto: Rudy Issa

ISBN 978-65-00-21985-2 2021


Caderno de Resumos e Programação do
1º Seminário Interfaces Linguísticas

São Gonçalo – RJ, 19 de abril de 2021

Organização

Marcos Luiz Wiedemer (UERJ/Faperj)


Roberto Freitas Junior (UFRJ/UERJ)

Apoio

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)


Faculdade de Formação de Professores (FFP)
Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística (PPLIN)
Laboratório de Formação Permanente em Letras: ações coletivas,
docência e ensino (LABLETRAS/UERJ)
Núcleo de Estudos sobre Interlínguas (NEIS/UFRJ)
Caderno de Resumos e Programação do
1º Seminário Interfaces Linguísticas

São Gonçalo – RJ, 19 de abril de 2021


Apresentação

O presente caderno de resumos do 1º Seminário Interfaces Linguísticas,


sob a organização dos professores Marcos Luiz Wiedemer (UERJ/Faperj) e
Roberto Freitas Junior (UFRJ/UERJ), é resultado das atividades desenvolvidas
pelos discentes nos cursos “Língua, Cognição e Gramática de Construções: a
dinamicidade do sistema linguístico”, ministrada pelo professor Dr. Marcos
Luiz Wiedemer e “Da linguística funcionalista americana à LFCU”, ministrada
pelo professor Dr. Roberto Freitas Jr, no primeiro semestre de 2021, no
âmbito do Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística (PPLIN), da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Ambos os cursos estão inseridos na linha de pesquisa “Teoria e Análise


Linguística”, que concentra estudos de descrição dos componentes sintático,
articulando-o com as dimensões semânticas e pragmáticas da linguagem”, na
área de concentração “Estudos Linguísticos”. Os resumos, aqui expostos,
representam um trabalho coletivo, bem como oferecem um panorama das
pesquisas desenvolvidas nos dois cursos.

Boa leitura!
Os organizadores

.
PROGRAMAÇÃO
A ARGUMENTAÇÃO COMPARATIVA DE CONTRASTE
ATRAVÉS DO ESQUEMA [DÊITICO + ADVÉRBIO DE
CONTRASTE]

Ana Carolina dos Santos Cardoso

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

Esta comunicação analisa o papel dos dêiticos no uso argumentativo-comparativo de


construções formadas pelo esquema [DÊITICO + ADV contrastivo], por exemplo: aqui não, hoje
não, eu não; em contextos de uso argumentativo, em que se lança a estratégia de comparação
através do esquema citado, como em: “– Mas e teus vizinhos lá? Pessoal ali da área deve tá com
saudade do senhor, vamos lá! – Que saudade de mim o que? Tão não, 27 anos que eu moro lá
nunca nem me convidaram pro aniversário de ninguém, só sabem reclamar dos meus cachorro.
Aqui não! Aqui graças a Deus é pet friendly”. Conforme se observa no excerto, há a relação
entre duas porções textuais, sendo a primeira, sobre a antiga casa e, a segunda porção textual,
a proposição é negada, como é o lugar onde mora agora. Dessa forma, são comparados dois
eventos discursivos, em que é acionado o dêitico “aqui”, que realiza um apontamento espacial e
o advérbio de contraste “não”, este, que não apenas realiza uma asserção negativa, mas que
corresponde a um operador de formação inversão polar, na qual ocorre a ideia de comparação.
Um dos recursos existentes de construção de argumentação é justamente a apresentação de
uma proposição e a negação dessa. Assim, tem-se a ênfase da argumentação e o efeito do
princípio cognitivo-comunicativo universal de marcação linguística, que prevê que formas que
são estruturalmente mais marcadas tendem a ser empregadas em contextos comunicativos
mais complexos e formas que são estruturalmente menos marcadas tendem a ser empregadas
em contextos comunicativos menos complexos (Givón, 2001). A investigação tem por base
teórico-metodológica a Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), que corresponde à
integração dos modelos teórico-metodológicos, o Funcionalismo Norte-americano (GIVÓN,
1993), a Linguística Cognitiva (LANGACKER, 2008) e a Gramática de Construções (GOLDBERG,
1995, 2006, CROFT, 2001, DIESSEL, 2015), que abriga a concepção de que as línguas são
moldadas pela complexa interação de princípios cognitivos e funcionais. Dessa forma,
assumimos a comparação como um processo cognitivo de domínio geral que pode se
materializar de diferentes formas linguísticas, ou seja, diferentes construções podem atuar para
a representação da comparação, no Português Brasileiro; e as construções, aqui, estudadas
promovem um contexto argumentativo marcado. Os dados foram recolhidos de vídeos nas
redes sociais (YouTube, Instagram e Facebook) principalmente em canais de humor a análise
será feita pelo método qualitativo.

Palavras-chave: Linguística Funcional Centrada no Uso. Comparação. Argumentação.

Página 05
A REFERÊNCIA CORPORAL EM EXPRESSÕES
IDIOMÁTICAS DE NATUREZA INTENSIFICADORA

Ana Ligia Scaldelai Salles

Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP/IBILCE

Resumo:

Inúmeras construções existentes no dia a dia do falante resultam, em grande medida, das
experiências corporais que ele mantém com o mundo atreladas ao pensamento e à cognição.
Dessa maneira, o sistema conceitual é predominantemente de base metafórica, uma vez que
tais construções são formadas a partir de metáforas conceituais. Baseada na Linguística
Funcional Centrada no Uso (BYBEE, 2010; 2016) e na junção da abordagem construcionalista
(TRAUGOTT e TROUSDALE, 2013) com a teoria da metáfora conceitual (LAKOFF E JOHNSON,
2003), o objetivo desta pesquisa é analisar e descrever como as expressões idiomáticas de
natureza intensificadora “armado até os dentes”, “falar pelos cotovelos” e “fazer das tripas
coração” são criadas a partir de metáforas conceituais, mais especificamente, como a referência
corporal é projetada para que a compreensão acerca do fenômeno seja captada pelo
falante/ouvinte. Como universo de investigação, utiliza-se o Corpus do Português, subamostra
Web/Dialects, organizado por Davis e Ferreira (2015-2016). Depreende-se que ao emitir a
intensidade de um dado elemento, pessoa, evento, acontecimento, o sentido passa de uma
noção mais abstrata (a intensidade) para uma mais concreta, como vemos em “falar pelos
cotovelos”, por exemplo. Nesse caso, a posição dos cotovelos, próximos à boca, remete a mais
dois membros que teriam como função parolear, quando, na verdade, apenas um é necessário;
logo, se não se faz essencial, torna-se excessivo.

Palavras-chave: Expressões idiomáticas. Referência corporal. Intensidade.

Página 06
[LÁ VEM X] CONSTRUÇÃO EM SAMBAS-ENREDO

Danielle da Silva Martins

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

A presente comunicação tem por objetivo apresentar a pesquisa, em fase inicial, da investigação
dos contextos de usos da construção locativa [Lá vem X] em sambas-enredo como em “Lá vem
a Viradouro aí… (Viradouro, 1997), “Lá vem, Portela, malandro...” (Portela, 2015), a partir dos
pressupostos teóricos da Linguística Cognitiva e da Gramática de Construções. Sabe-se que
construções são unidades básicas na língua e pares de forma-função (Goldberg, 1995) e estão
intimamente relacionadas ao contexto, ou seja, à experiência social e cultural do indivíduo (cf.
Fisher & Goldberg, 2004). Busca-se demonstrar que a construção [Lá vem X] nos sambas-
enredo assume significado específico e diferente de outros usos da mesma construção em
músicas populares brasileiras. A partir do princípio da não-sinonímia (Goldberg, 2005) em uma
pesquisa qualitativa/comparativa, observaremos estes dois objetos de estudo nas seguintes
etapas da pesquisa: caracterização do corpus, coleta de dados e análise focando no caráter
social e cultural da construção escolhida. Partindo da esfera carnavalesca, também
trabalharemos com Tomasello (2003) no que diz respeito à herança cultural, bem como os
estudiosos sobre carnaval, africanidades e brasilidades como Nei Lopes, Luiz Antônio Simas,
Muniz Sodré, entre outros.

Palavras-chave: Gramática de construções, construção locativa, Samba-enredo.

Página 07
ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO [MÓX] NO PB: UM
POSSÍVEL CASO DE CONSTRUCIONALIZAÇÃO

Érica Cristina da Silva

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

Esta comunicação apresenta um estudo sobre a possível construcionalização de [MóX], tendo


como aporte teórico a Linguística Funcional Centrada no Uso (GOLDBERG, 2006; CROFT, 2001;
HILPERT, 2014; PEREK, 2015; BYBEE, 2008, & 2010; TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013, entre
outros). O objetivo é mapear, analisar e descrever sincronicamente os contextos de uso de
expressões como [Mó barato], [Mó legal], [Mó viajei] no Português do Brasil, na tentativa de
compreender como se deu esse possível processo de construcionalização. Sob a perspectiva
construcional, algumas propriedades do pareamento ‘forma e função’ serão observadas, visto
serem estes os critérios que determinam e definem o novo nó na rede construcional. Para
robustecer a ideia de que [MóX] possa ser, de fato, um modelo de construcionalização,
processos cognitivos de domínio geral como analogização, chunking e memória enriquecida
serão abordados. Com a finalidade de demonstrar a criação desse novo nó na rede a partir de
dados do PB, a pesquisa realizará um mapeamento sincrônico utilizando diferentes Corpora
(memes, conversas em redes sociais, letras de música, gibis) e o Corpus do Português (desde o
século XX) para analisar historicamente a evolução e transformação da construção em estudo.

Palavras-chave: Contexto. Construcionalização. MóX.

Página 08
IMPERATIVO E PERÍFRASE DO FUTURO NA
PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL EM ESPANHOL:
MUDANÇA CONSTRUCIONAL?

Fernanda Silva Torres

Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas


Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo:

A possibilidade de alternância entre a forma verbal imperativa e a perífrase de futuro


flexionadas na primeira pessoa do plural em espanhol (hagamos e vamos a hacer,
respectivamente) é fenômeno ainda pouco estudado e sua atestação na literatura (Sedano,
1994; Gómez Torrego, 1999; Martín, 2009), além de escassa, é restrita à sua observação para a
expressão de um único valor, o exortativo. O tema parece, portanto, não ter sido tratado com
maior profundidade e nenhuma possível explicação para sua ocorrência foi levantada.
Pautando-nos na teoria da Gramática de Construções, propomos o estudo do tema à luz dos
conceitos de pensamento analógico e analogização, a fim de encontrar relação entre a
coexistência das formas verbais em análise - para a expressão de proposições- e um possível
panorama de mudança construcional (consoante Traugott e Trousdale (2013) desenvolvido a
partir dessa alternância. Adotaremos análise de natureza qualitativa e quantitativa dos dados
selecionados de Corpora de variedades do espanhol falado. Em dissertação de mestrado
(Torres, 2020), confirmou-se a possibilidade de alternância entre as formas verbais citadas para
a expressão da função comunicativa proposicional por meio de revisão da literatura e análise de
corpus. Este estudo, portanto, parte da hipótese de possível existência de mudança
construcional em curso, partindo da já atestada alternância entre as formas. O objeto de
estudo, portanto não é a alternância entre os verbos, senão a averiguação de caso de mudança
em curso.

Palavras-chave: Mudança linguística em Língua Espanhola. Gramática de Construções.


Imperativo da primeira pessoa do plural. Futuro Perifrástico.

Página 09
CONSTRUÇÃO HIPOTÉTICA COMPARATIVA “COMO
SE”: AS FACETAS DO CONSTRUAL

Graziela Jacques Prestes

Programa de Pós-Graduação em Letras


Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo:

Este trabalho objetiva investigar a construção hipotética comparativa “como se” a partir do
arcabouço teórico-metodológico da Gramática Cognitiva (Langacker, 1987, 1991, 2005, 2013).
Conforme Langacker (2013), o construal apresenta quatro amplas facetas: especificidade, foco,
proeminência e perspectiva. Nesta pesquisa, são aplicadas as noções de figura/fundo e escopo
(ambas da faceta foco), perfilamento e alinhamento trajetor(tr)/marco(lm) (ambas da faceta
proeminência), e arranjo de visualização padrão, arranjo de visualização especial e ponto de
vantagem (VP) (da faceta perspectiva). O corpus, de língua escrita em instância pública de
linguagem (Britto, 2003), foi compilado de pesquisa anterior (Prestes, 2012). Dessa maneira,
foram encontradas 22 ocorrências de “como se”, agrupadas de acordo com seus construals.
Foram identificados dois padrões: construal 1 e contrual 2. No construal 1, o ponto de
vantagem (VP1) apresenta (tr) e (lm) em contraste com o alinhamento (tr)-(lm) de outro
visualizador/conceptualizador, em uma relação de figura/fundo entre o arranjo de visualização
padrão e o arranjo de visualização especial. O construal 1 foi encontrado em trechos
argumentativos de variados gêneros do discurso (Bakhtin, 2004). No construal 2, a relação
comparativa representada pelos alinhamentos (tr)-(lm) no arranjo padrão e no arranjo especial
mantém-se, mas não em contraste. Nesse grupo, o alinhamento é desenhado sob a perspectiva
de um mesmo e único conceptualizador, que, com o uso de “como se”, põe em foco não o
arranjo padrão, como no grupo 1, mas, sim, o arranjo especial, o da fantasia, do imaginário.
Nesse padrão. quanto à tipologia, “como se” foi encontrado em trechos narrativos e descritivos
em diferentes gêneros do discurso.

Palavras-chave: Perspectivação conceptual. Construal. Construção hipotética comparativa.


Linguística cognitivo.

Página 10
PADRÕES DE USO DA CONSTRUÇÃO [BATER (X)] NO
PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

Iolanda Ferreira dos Santos

Programa de Pós-graduação em Letras: Linguagens e Representações


Universidade Estadual de Santa Cruz

Resumo:

No intuito de demonstrar a dinamicidade e a regularidade de padrões de experiência


rotinizados/emergentes no português brasileiro contemporâneo, objetivamos, com esta
pesquisa, investigar padrões construcionais com o verbo bater, tendo como corpus
comentários informais coletados na rede social Twitter. Nessa direção, nosso referencial teórico
é constituído pelos pressupostos da Linguística Funcional Centrada no Uso (cf., Cunha, Bispo e
Silva (2013), Oliveira (2015), Rosário e Oliveira (2016), entre outros), e para dar conta do tipo de
construções que analisaremos, recorremos ao aporte teórico da Gramática de Construções (cf.
Goldberg (1995), Croft (2001), Bybee (2010) e Traugott; Trousdale (2013)). Partimos da hipótese
de que esse verbo apresenta propriedades que só podem ser compreendidas se levarmos em
consideração a ideia de construção, concebida como um pareamento de forma e sentido, como
defende Croft (2001). Nesse sentido, nossos principais objetivos são: buscar, no corpus, as
construções com o verbo bater; selecionar as construções gramaticais que indicam pareamento
de forma-sentido; verificar a natureza dos elementos que ocupam os slots de X em termos de
forma e função; analisar os padrões considerando fatores como produtividade e
composicionalidade; e esquematizar, por meio de uma rede construcional, os padrões
instanciados. Na primeira etapa, nossa investigação é de natureza bibliográfica, pois visa reunir
os pressupostos que nortearão a análise dos padrões instanciados pelo verbo bater, e na
segunda etapa, utilizaremos o método misto de análise - qualitativa e quantitativa -, conforme
Lacerda (2016). Numa sondagem inicial do corpus, verificamos que o verbo bater é utilizado em
construções com significados diversos, evidenciando o seu caráter polissêmico. Visto isso,
esperamos, com esta pesquisa, confirmar a existência de diferentes padrões construcionais
envolvendo os usos do verbo bater, e contribuir com os estudos de descrição desse verbo no
português brasileiro contemporâneo, em particular, para os estudos construcionais e as
pesquisas pautadas em uso efetivo de língua. Financiamento: CAPES.

Palavras-chave: Verbo bater. LFCU. Gramática de Construções.

Página 11
O ESQUEMA [ESP N] DO PB EM PRODUÇÕES
ESCRITAS DE APRENDIZES NÃO NATIVOS: UMA
ABORDAGEM CONSTRUCIONAL DIASSISTÊMICA

João Paulo da Silva Nascimento

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

Esta comunicação visa à apresentação de uma pesquisa em andamento, de caráter descritivo,


acerca da representação do esquema [ESP N] do Português do Brasil (PB), tais como em (i)
[muitos homens de palavra], (ii) [o rapaz feliz] e (iii) [este aluno], em produções escritas de
aprendizes não nativos desta língua. Parte-se de problemas observados em estudos sobre a
recorrência dos fenômenos de apagamento, preenchimento indevido e mismatch de
quantificadores, determinantes e dêiticos no slot especificador, que pode inibir a
gramaticalidade deste esquema no PB (FREITAS et al, 2018; NASCIMENTO et al, 2019;
NASCIMENTO, 2020; NASCIMENTO et al, 2020). Tem-se como objetivo primordial analisar a
maneira como produções lacunadas e truncadas, que representam padrões atípicos (e.g. [Ø N
(X)] e [Mismatch N (X)]) em um contexto em que ESP mostra-se relevante à manutenção de
aspectos sintático-semânticos, podem demonstrar o status cognitivo particular dos
subesquemas [Quantificador N (X)], [Determinante N (X)] e [Dêitico N (X)] no constructicon
bilíngue de aprendizes de PB. Partimos, para tanto, de pressupostos da Linguística Funcional
Centrada no Uso (BYBEE, 2016; GOLDBERG, 2006; PEREK, 2015), em particular de estudos sobre
aquisição e uso de L2 em abordagem construcional baseada no uso (SOARES, 2018;
GOLDBERG, 2019; FREITAS; NASCIMENTO, 2020; SOARES; NASCIMENTO, 2020) e do modelo da
Gramática de Construções Diassistêmica (HÖDER, 2018, 2020; FREITAS et al, no prelo), a fim de
sustentarmos a hipótese de que a recorrência de incompatibilidades na produção deste padrão
pode ser explicada por especificidades de forças construcionais destes mesmos subesquemas
da L1 dos aprendizes, os quais prevaleceriam em vista de seu maior grau de entrincheiramento.
Em termos metodológicos, adere-se à análise quantitativa e qualitativa de dados escritos do
PBL2, produzidos por aprendizes anglófonos, com o intuito de que os resultados sejam
categorizados e comparados em vista das hipóteses previamente elencadas. Estima-se, assim,
que a hipótese de representação variável dos subesquemas de [ESP N], sobretudo no que se
refere à instabilidade no uso de ESP, possa refletir efeitos de transferência construcional do
inglês, L1 dos aprendizes selecionados para o recorte, trazendo à tona a possibilidade de
vislumbrar a capacidade explanatória do modelo da Gramática de Construções Diassistêmica –
um construto teórico ainda pouco explorado no Brasil – à questão da aquisição de L2. O
trabalho é financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e desenvolve-se no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Aquisição de L2. Gramática de Construções Diassistêmica. Aprendizes


estrangeiros.

Página 12
A SUBJETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO [Vind] X
[Vsubj] NA MODALIDADE EPISTÊMICA

Joelma Pereira Silva

Resumo:

A subjetividade, nos termos de Traugott (2003), pode ser compreendida como um processo
semasiológico por meio do qual os usuários da língua, desenvolvem significados novos para
formas já existentes, passando a codificar perspectivas e atitudes baseadas nas características
do evento comunicativo. De acordo, ainda, com a autora (Traugott, 1989), a modalidade
epistêmica define-se pelo fato de o falante se colocar em maior ou menor grau como fonte da
informação, compreendendo o posicionamento do falante diante de determinado conteúdo, o
que pode ser observado em ocorrências em que o verbo cognitivo aparece nas construções,
uma vez que o falante apresenta uma afirmação e, em seguida, uma ressalva, no sentido de que
o conteúdo não é um fato, mas um pressuposto. Considerando que o verbo cognitivo tem
também natureza epistêmica (TRAUGOTT; DASHER, 2001; BYBEE, 2016), observamos a relação
entre o eixo da cognição e o da modalidade epistêmica, sob a hipótese de que quanto menos
representativo de um processo mais específico, há maior possibilidade de o verbo ser usado no
âmbito da modalidade epistêmica. Temos como objetivo: investigar os processos de
subjetivação em usos de alguns verbos cognitivos; analisar os graus de produtividade de
algumas construções com verbos cognitivos e identificar a frequência token e type e suas
implicaturas semântico-pragmáticas. Como metodologia, será composto um corpus de artigos
de opinião extraídos da revista Veja, versão digital. As ocorrências de construções subjetivas
epistêmica serão classificadas a partir dos lexemas selecionados pelo slot epistémico. Além
disso, as ocorrências serão submetidas à análise qualitativa. Os resultados parciais apontam
que o tempo verbal indicativo vem ganhando novas funcionalidades, nuances semânticas em
confluência com o subjuntivo que já exercia essas funções. Além disso, os verbos cognitivos são
caracterizados por apresentarem processos mentais que envolvem o conhecimento, crença e
julgamento do falante. São verbos que, prototipicamente, encaixam orações na condição de
argumento interno. Com isso, percebemos algumas manifestações como, por exemplo, o uso
de verbos cognitivos que possam sustentar seu argumento diante do tema em discussão.

Palavras-chave: Subjetividade; Modalidade Epistêmica; Indicativo; Subjuntivo.

Página 13
ENCAPSULAMENTO POR APONTAMENTO:
ESQUEMAS CONSTRUCIONAIS FORMADOS POR
PREPOSIÇÃO COMPLEXA E ENCAPSULADOR
ANAFÓRICO

Joyce Guimarães Leite

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

O cerne da pesquisa compreende o estudo de anáforas encapsuladoras e preposições


complexas (mais precisamente as descritas por Castilho (2010) – diante de, em face de, por trás
de e antes de). A pesquisa objetiva a investigação e postulação de um encapsulamento
específico resultante da construção formada pelo processo de chunk (BYBEE, 2010) desses dois
elementos, que denominamos encapsulamento por apontamento. Assim, intenciona-se
evidenciar um processo que se destaca pela marcação de espaço/tempo de um referente
supracitado e por licenciar o encapsulamento de porções textuais que, além de permitir a
retomada do assunto, direciona e prepara para o que será dito posteriormente. Alicerçada nos
pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Cognitivo-Funcional e da Linguística Textual,
a pesquisa contou com os dados de diferentes corpora (blog, jornal online entre outros). Foi
observado que a natureza relacional das preposições e sua função locativotemporal se aplicam
também a nível discursivo, enquanto a anáfora encapsuladora atua na recapitulação e
sumarização de um referente anteriormente citado. Assim, operam na articulação de partes do
texto e imprimem a noção de localização através do apontamento do referente, configurando o
encapsulamento por apontamento.

Palavras-chave: Preposições complexas; Articulação Textual; Linguística Cognitivo-Funcional.

Página 14
O DISCURSO HOMOFÓBICO SOB A ÓTICA DA
GRAMÁTICA DAS CONSTRUÇÕES: UMA ANÁLISE
DAS CONSTRUÇÕES ACIONADAS PARA MARCAÇÃO
DE VIOLÊNCIA À COMUNIDADE LGBTQ+

Marcele Mendes Goulart

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

Essa pesquisa, em andamento, analisa o discurso agressivo (Amossy, 2011) usados na


conversação em rede (Recuero, 2012) em contexto de violência à comunidade LGBTQ+, com o
intuito de verificar as construções (Goldberg, 1995) acionadas para ofender tal grupo. O
trabalho visa também refletir a teoria do ataque à face segundo Goffman (1980), associada às
estratégias de (im)polidez Brown e Levinson (ano), para que seja possível observar como regras
interpessoais falham nesses espaços virtuais, mesmo as redes sociais se mostrando um
ambiente no qual os indivíduos procuram aceitação dos demais daquilo que enunciam e
compartilham. Segundo Goffman (1980), as escolhas discursivas dos envolvidos na interação
influenciam na legitimação da face pelos demais atores, porém, quando tratamos de interações
virtuais, encontramos frequentemente estratégias ou recursos expressivos utilizados por
determinados usuários dispostos a ameaçar pessoas que se identificam com o grupo LGBTQ+,
sem ao menos pensar na construção/ preservação de suas próprias faces. Assim, esse estudo
nos leva a pensar se existem construções linguísticas formuladas com o intuito de agredir e se
essas construções são utilizadas só para atacar esse grupo social específico ou se também
servem como marcas de agressão a outros contextos interacionais. Além disso, Jacob Mey
(2014) afirma que as pessoas constroem a língua para se comunicar e, ao se comunicarem,
automaticamente elas reafirmam a organização social e tudo aquilo que torna a sociedade um
conceito viável, por isso, é necessário entender por que ainda hoje são acionadas construções
que marcam ofensas vinculadas à intolerância e ao preconceito, isto é, se a língua é um
instrumento social e o reflexo de uma sociedade, deve-se pensar o motivo da criação desses
sentidos agressivos nas construções já existentes e, para além disso, refletir os contextos de
interação em que esses elementos aparecem, sem ignorar a representação social desses
falantes virtuais.

Palavras-chave: Ataque de face, discurso de ódio, comunidade LGBTQ+.

Página 15
CONSTRUÇÕES DE CONCERNÊNCIA FORMADAS
PELO ESQUEMA [NO QUE [X] A…]: PADRÕES DE USO,
GRADIÊNCIA E O PROCESSO DE CHUNKING

Maria Eduarda Oliveira da Silva

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

De acordo os estudos linguísticos inseridos em uma perspectiva tradicional/normativa, as


microconstruções inseridas no esquema [no que [x] a…], como no que se refere a; no que diz
respeito a; no que concerne a; no que corresponde a são classificadas como locuções
prepositivas – já que, observando sua formação, o último elemento trata-se de uma preposição
– ou, locuções adverbiais – pois, expressam circunstâncias de modo. Entretanto, este estudo
tem como objetivo investigar os contextos motivadores dessas microconstruções, para
demonstrar que, em algumas situações, o esquema [no que [x] a…] conecta porções textuais,
ou seja, exercem a função prototípica das locuções conjuntivas. Dessa forma, demonstra-se o
conceito de gradiência categorial (Traugott e Trousdale, 2010), que aborda a imprecisão das
fronteiras entre as categorias gramaticais. Para a realização desse trabalho serão analisadas, de
maneira quantitativa e qualitativa, amostras de diferentes produções textuais, coletadas no
corpus eletrônico intitulado Corpus do Português. Comprovar o caráter conjuntivo dessas
microconstruções tem como intuito demonstrar que a língua é um objeto dinâmico, que se
adapta conforme às necessidades dos indivíduos. Logo, percebe-se que, para observar dados
linguísticos, é preciso, também, considerar os contextos de produção de cada construção.

Palavras-chave: Preposições complexas. Linguística Funcional Centrada no Uso. Língua


Portuguesa.

Página 16
CONSTRUCTICON BI(MULTI)LÍNGUE-
BI(MULTI)MODAL: DESCREVENDO TRADUÇÕES DA
LIBRAS PARA O PORTUGUÊS ESCRITO COM BASE
NA(S) GRAMÁTICA(S) DE CONSTRUÇÕES

Ruan Sousa Diniz

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

O presente artigo busca descrever possíveis componentes do constructicon de usuários de


libras (especificamente tradutores), isto é, possíveis construções idiossincráticas da língua
brasileira de sinais, bem como identificar como o conhecimento dessas estruturas pode
contribuir para o ofício do tradutor. Durante as análises, foram percebidos determinados
padrões na língua fonte (libras), que merecem aprofundamento e descrição. As análises
debruçam-se sobre os pressupostos da Linguística Funcional Centrada no Uso, sobretudo na
abordagem construcional da gramática( baseada no uso e diassistêmica). Os textos que
compõem o corpus foram retirados da TV INES, primeira webtv brasileira a produzir e a adaptar
conteúdos em libras por, para e com pessoas surdas. A metodologia empregada parte da
seleção de vídeos que retratem a língua de modo on-line e identificação de possíveis padrões
que possam sugerir generalizações na libras. Nesses padrões não se encaixam as constatações
mais canônicas, como o padrão sintático SVO ou construções bitransitivas, mas, sobretudo, as
que indicam ser idiossincráticas da libras. Em sequência, elenca-se as ocorrências de modo que
possam ser descritos níveis de maior abstração. Tendo-se, assim, a descrição de parte do
constructicon de usuários de libras descreve-se intercorrências encontradas no texto traduzido
(português, nas legendas) em comparação com o texto produzido na língua fonte (libras) e de
que forma a compreensão do funcionamento das construções em cada uma das línguas pode
contribuir para maior aceitabilidade do produto na língua de chegada. É possível identificar, a
priori, construções evidenciadoras de argumento - [SN/Prep.(arg-ex) | O] - em libras, um padrão
bastante produtivo e que é idiossincrático. Por fim, o presente trabalho busca evidenciar que o
conhecimento do funcionamento e organização das construções das línguas de trabalho
favorece o trabalho do tradutor, por meio de escolhas tradutórias que destaquem dados da
língua em uso.

Palavras-chave: Gramática de Construções. Estudos da Tradução. Língua Brasileira de Sinais.

Página 17
ASPECTOS COGNITIVOS E CULTURAIS SUBJACENTES
ÀS METÁFORAS: EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
PRESENTES NA EDIÇÃO DE LUXO DE: REINAÇÕES DE
NARIZINHO

Thaís Silva Alcântara de Souza

Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo:

Este trabalho se insere no campo dos estudos cognitivos, no contexto da Linguística Cognitiva
(LC) e da Gramática de Construções. A Teoria Cognitiva da Metáfora (TCM), que encontra
subsídios na Teoria da Metáfora Conceptual (LAKOFF e JOHNSON, 1980) e na proposta de
metáforas primárias formulada por Grady (1997), alega ser a metáfora um alicerce fundamental
da linguagem humana.Objetiva-se, com este estudo, (i) analisar as expressões idiomáticas (a)
ENGOLIR SAPO, tendo como metáfora base: o corpo é recipiente, e (b) PERDER TEMPO COM
BOBAGEM, com a metáfora de que tempo é dinheiro. Essas expressões estão contidas na
edição de luxo de “Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato, organizada por Marisa Lajolo.
A análise proposta tem como finalidade evidenciar como acontece o processamento cognitivo
do discurso no momento em que se constrói a compreensão. Além disso, procura-se (ii) aplicar
a Teoria da Metáfora Conceitual, a fim de esclarecer a relação entre significados literais e
metafóricos. E, por último, busca-se (iii) evidenciar como se dão os mapeamentos de elementos
do domínio-fonte para o domínio-alvo nas metáforas conceptuais encontradas. A escolha pelo
tema justifica-se pelo fato de que as metáforas não são meros recursos estilísticos, mas uma
forma de compor a própria experiência humana. Assim, é importante pensar no pressuposto de
que as experiências humanas, considerando os sujeitos inseridos em contextos socioculturais
específicos, servem de base para a organização cognitiva e que tal organização é, de certa
forma, evidenciada pela estrutura linguística. O aporte teórico é utilizado para compreender os
diferentes domínios cognitivos, de modo a assegurar as construções metafóricas, é de base
interacionista, articulando, assim, a tríade linguagem, cultura e cognição.

Palavras-chave: Linguística Cognitiva. Metáfora Conceptual. Gramática de Construções.


Reinações de Narizinho.

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