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Experimento II - Capacitância, constante dielétrica

Ariane Farias, Guilherme Aquino Souza Andrade e Saul R. Schuster – Turma 33_311
Laboratório de Física III– Departamento de Física
Universidade Federal de Santa Maria
e-mail: ariane.farias@acad.ufsm.br, andrade.guilherme@acad.ufsm.br, saul.schuster@acad.ufsm.br

Resumo. Este relatório é referente à segunda aula experimental de Física Geral e Experimental
III. Nele é apresentado os resultados e conclusões sobre dois experimentos relacionados à
capacitância. No primeiro, mediu-se a capacitância de um capacitor com diferentes materiais
entre as placas, a fim determinar a constante dielétrica dos mesmos. No segundo experimento,
mediu-se a capacitância de diferentes configurações de capacitores, série e paralelo.

Palavras chave: capacitores, constante dielétrica, capacitância.


quantidade de carga (porém de sinais contrários).
Introdução As placas são condutores, os quais são separados
por um isolante (dielétrico), permitindo que a carga
Capacitância é uma medida da capacidade de seja armazenada na superfície das placas.
armazenar carga para uma dada diferença de Como as cargas armazenadas são de sinais
potencial eletrostático. opostos, a carga total armazenada no capacitor é
Em outubro de 1745, o físico alemão Ewald sempre zero.
Georg von Kleist descobriu que era possível Podemos definir a capacitância de um capacitor,
armazenar carga elétrica através da ligação entre como sendo a razão entre a quantidade armazenada
um gerador de alta tensão eletrostática a uma jarra pelas placas com a diferença de potencial existente
de vidro contendo água. Nesse experimento, tanto a entre as mesmas:
água quanto a mão do físico agiam como
𝑞
condutores, enquanto a jarra de vidro agia como um C= 𝑈
meio dielétrico.
Von Kleist descobriu que, após remover o onde:
gerador e tocar o fio que o conectava ao jarro, ele
recebia choques fortes. No ano seguinte, o físico ● C - capacitância, em coulomb por volt
holandês Pieter van Musschenbroek realizou um [C/V]
experimento semelhante ao de Von Kleist e deu o ● q - carga, em Coulomb [C]
nome a esse aparato de: Garrafa de Leyden. ● U - potencial eletrostático, em volts [V]
Mais tarde, o físico Daniel Gralath foi o
primeiro a associar diversas Garrafas de Leyden em A capacitância também é afetada por fatores
paralelo, com o intuito de aumentar a capacidade de geométricos dos capacitores:
armazenamento de carga.
Benjamin Franklin, por sua vez, descobriu que ● a distância (d) entre as placas da armadura
as cargas elétricas num Jarro de Leyden eram dos capacitores; e
armazenadas na superfície do jarro, e não na água, ● sua área (A) influenciam a quantidade
como outros físicos haviam proposto. máxima de cargas que podem ser
As garrafas de Leyden foram usadas acumuladas por eles.
exclusivamente para o armazenamento de cargas
elétricas até 1900, quando precisaram ser Outro fator que pode afetar a capacitância é a
substituídas por capacitores de baixa capacitância. permissividade dielétrica (ε) do meio inserido entre
as placas de um capacitor: quanto maior for a
permissividade dielétrica do meio, maior será a
quantidade máxima de cargas armazenadas em um
capacitor.

Figura 1: Corte de um capacitor eletrolítico. O


dielétrico é um isolante. Capacitor de placas paralelas no vácuo
O formato padrão dos capacitores consiste em
duas placas (ou eletrodos) que armazenam a mesma
O capacitor de placas paralelas utiliza duas ● 𝐴 - área das placas
placas condutoras paralelas. São geralmente finas ● 𝑑 - distância das placas
folhas metálicas separadas e isoladas uma da outra
por um fino filme plástico. Assim, a capacitância depende, de fato, apenas
Quando um capacitor está carregado, as placas de fatores geométricos, no caso a área 𝐴 das placas
contêm cargas de mesmo valor absoluto e sinais e a distância 𝑑 entre as placas.
opostos, +q e -q. O valor absoluto da carga de uma Essa equação é válida no vácuo. Para aplicação
das placas, por convenção, é q, a carga de um em um meio material, deve-se realizar mais
capacitor. algumas considerações.
Como são feitas de material condutor, as placas
são superfícies equipotenciais: todos os pontos da Capacitor de placas paralelas com um Dielétrico
placa de um capacitor estão no mesmo potencial
elétrico. A capacitância aumenta quando um dielétrico é
A carga q e a diferença de potencial U de um colocado entre as placas de um capacitor.
capacitor são proporcionais: Para capacitores de placas paralelas que tiverem
o espaço entre as placas preenchido por um
𝑞 = 𝐶𝑈 dielétrico, é considerada a permissividade elétrica
do material utilizado (ε), que é obtida pela relação:
onde:
ε = κ · ε0
● q - carga, em Coulomb [C]
● C - capacitância, em coulomb por volt onde:
[C/V] ● κ - constante dielétrica
● U - potencial eletrostático, em volts [V] ● ε - permissividade elétrica
● ε0- permissividade elétrica no vácuo

Dessa forma, para o caso em que há um


dielétrico, a capacitância pode ser obtida por:

κε0𝐴
𝐶 = 𝑑

onde:
● κ - constante dielétrica
● C - capacitância
● ε0 - permissividade elétrica no vácuo
● 𝐴 - área das placas
● 𝑑 - distância das placas.
Figura 2: (a) Linhas de campo elétrico entre as
Pela variação do campo elétrico entre as placas,
placas de um capacitor de placas paralelas. As linhas
estão igualmente espaçadas entre as placas, indicando
ocorre a variação na capacitância quando insere-se
que o campo elétrico é uniforme. (b) Linhas de campo o dielétrico. O mesmo fica polarizado, como se
elétrico de um capacitor de placas paralelas mostradas observa na figura 3, criando um segundo campo que
por pequenos pedaços de fibra suspensos em óleo. se opõe ao campo gerado pelas duas placas. Dessa
forma, o campo resultante se enfraquece mais.
Neste contexto, a capacitância aumenta quanto mais
A capacitância de um capacitor de placas isolante for o dielétrico, pois o campo é
paralelas planas de área 𝐴, separadas por uma inversamente proporcional à capacitância.
distância 𝑑, é dada por:

ε0𝐴
𝐶 = 𝑑

onde:
● C - capacitância, em coulomb por volt
[C/V]
● ε0 - permissividade dielétrica no vácuo [ε0
−12 2 2
= 8, 85 × 10 𝐶 /𝑁 · 𝑚 ]
Figura 3: Capacitor de placas paralelas carregado. resma de folha de papel sulfite A4 [κ𝐴4],
Uma superfície gaussiana envolve a carga da placa
positiva. poliestireno expandido (EPS) [κ𝑒𝑝𝑠] e o etileno
acetato de vinila (EVA) [κ𝑒𝑣𝑎]. Os cálculos foram
Circuitos
obtidos utilizando a equação já mencionada
Um circuito elétrico consiste
anteriormente:
essencialmente num sistema composto por uma
fonte e um cabo condutor, que apresenta uma κε0𝐴
resistência, mas que normalmente também é 𝐶 = 𝑑
composto por outros aparelhos, como receptores,
capacitores, dispositivos de controle e de segurança. Dois discos condutores, de 10 cm cada,
formavam o capacitor. Acoplada a ele, havia uma
régua milimetrada, utilizada para medir a distância
entre as placas. Também foi utilizado um
capacímetro conectado aos dois discos.
As medições da capacitância foram realizadas
com marcação pelo capacitor ao longo de variadas
distâncias. Foi feito o processo com o ar, folhas de
papel sulfite A4, folhas de EVA e pedaços de EPS
entre as placas, vide figura 4.
Figura 4: Exemplo de circuito elétrico.
Quando a fonte é ligada, ela realiza
trabalho sobre os portadores de carga, presentes no
fio condutor, mantendo uma diferença de potencial
entre os dois terminais. Dessa forma, é possível
manter um movimento constante de cargas ao longo
do fio condutor. Assim, diz-se que a fonte produz
uma força eletromotriz, submetendo os portadores
de carga a uma diferença potencial U.
Nesse contexto, capacitores são utilizados
para o armazenamento de cargas elétricas em um
circuito. Eles retêm grandes quantidades de cargas Figura 5: A4, EVA e EPS utilizados.
elétricas, liberando-as rapidamente quando
solicitados. Devido a isso, são muito úteis em Após coletar os dados deste experimento, foi
circuitos que necessitam grandes correntes elétricas realizado o exercício de circuitos para determinar
para operarem, além de atenuar variações de experimentalmente a capacitância equivalente em
corrente elétrica em um circuito. associação de capacitores em série e paralelo. Para
Ao longo de um circuito elétrico, é isso, foi necessário um protoboard e 2 capacitores
possível haver mais de um capacitor, situados em (de voltagem diversa) e um capacímetro.
diferentes configurações. Dessa forma, calcula-se a Primeiramente, foram posicionados 2
capacitância equivalente, que representa a capacitores em série no protoboard, um de 100V e
capacitância que um único capacitor precisaria ter outro de 220V. Logo em seguida, foi calculado o
para ser equivalente aos presentes no circuito. Para Ceq teórico e comparado com o experimental,
se obter a capacitância equivalente, usa-se as coletado através do capacímetro. Repetiu-se esse
seguintes equações: procedimento para os capacitores em série e para
Capacitores em série: uma diferente voltagem e coletou-se os resultados.
𝑛
1 1
𝐶𝑒𝑞
= ∑ 𝐶𝑗
𝑗=1

Resultados e Discussão
Capacitores em paralelo:
𝑛 Os dados medidos estão presentes na tabela 1 a
𝐶𝑒𝑞 = ∑ 𝐶𝑗 seguir:
𝑗=1

Procedimento Experimental Ar A4 EVA EPS


O objetivo do experimento foi determinar as
constantes dielétricas para o ar [κ𝑎𝑟], um pouco da
𝑑𝑎𝑟 𝐶𝑎𝑟 𝑑𝐴4 𝐶𝐴4 𝑑𝐸𝑉𝐴 𝐶𝐸𝑉𝐴 𝑑𝐸𝑃𝑆 𝐶𝐸𝑃𝑆
[mm] [pF] [mm] [pF] [mm] [pF] [mm] [pF]

5,0 14,3 3,0 61,5 5,0 15,0 14,0 5,7

10,0 8,2 5,0 40,1 10,0 8,4 28,0 3,2

15,0 5,6 7,0 31,5 15,0 6,0 42,0 2,4

20,0 4,4 9,0 27,9 20,0 4,7 56,0 1,9

25,0 3,7 13,0 23,0 25,0 4,0 - -

30,0 3,2 14,0 18,4 30,0 3,3 - -


Figura 7: Gráfico C × d para A4.
Tabela 1: Dados coletados.

Plotando os dados em gráficos e encontrando os


pontos obtemos:

Figura 8: Gráfico C × d para o EVA.

Figura 6: Gráfico C × d para o ar.

Figura 9: Gráfico C × d para o EPS.


Achar as equações mais próximas das curvas
dos gráficos não é nada trivial. Portanto, é bem
1
mais simples elaborar gráficos 𝐶 × 𝑑 . Dessa
forma, as retas equivalem a retas de coeficiente
angular λ. Tornando válido que:

𝐶 = λ· ( )
1
𝑑

𝐶 = κε0𝐴 ( ) 1
𝑑

λ
λ = κε0𝐴 ⇔ κ = ε0𝐴
1
Figura 11: Gráfico 𝐶 × 𝑑
para A4.
Portanto, vamos analisar os dados da tabela 2 a
seguir e os gráficos linearizados apresentados nas
figuras 9, 10 e 11:

Ar A4 EVA EPS

−1 𝐶𝑎𝑟 −1 𝐶𝐴4 −1 𝐶𝐸𝑉𝐴 −1 𝐶𝐸𝑃𝑆


𝑑𝑎𝑟 𝑑𝐴4 𝑑𝐸𝑉𝐴 𝑑𝐸𝑃𝑆
[pF] −1 [pF] −1 [pF] −1
[pF]
−1 [𝑚 ] [𝑚 ] [𝑚 ]
[𝑚 ]

200 14,3 333 61,5 200 15,0 714 5,7

100 8,2 200 40,1 100 8,4 357,14 3,2

66,67 5,6 142,86 31,5 66,67 6,0 238 2,4

50 4,4 111 27,9 50 4,7 178,6 1,9

40 3,7 77 23,0 40 4,0 - - 1


Figura 12: Gráfico 𝐶 × 𝑑
para o EVA.
33,34 3,2 71,4 18,4 33,34 3,3 - -

Tabela 2: Dados coletados linearizados.

1 1
Figura 10: Gráfico 𝐶 × para o ar. Figura 13: Gráfico 𝐶 × 𝑑
para o EPS.
𝑑
Para obter os coeficientes angulares próximos o implicaram diretamente no valor da capacitância
bastante das retas, é utilizada uma regressão linear. obtida.
Dessa forma, os coeficientes são obtidos a partir de: A partir dos resultados foi possível observar que,
quanto maior for o valor da constante dielétrica do
𝑁
Σ𝑛=1𝐶𝑛 material utilizado como isolante entre as placas,
λ= 𝑁 1 maior será a capacitância do capacitor. Também foi
Σ𝑛=1 𝑑
𝑛
possível observar que quanto menor for a distância
entre as placas, maior é a sua capacitância. É valido
ressaltar que podem ter ocorrido erros no momento
Portanto, da prática, tanto por erro dos materiais utilizados
−14 2
para medição quanto erro humano na hora de
λ𝑎𝑟 = 8, 04 × 10 [𝐶 /𝑁] coletar os dados.
−14 2 Já no exercício de circuitos, nota-se que há uma
λ𝐴4 = 6, 41 × 10 [𝐶 /𝑁] diferença do resultado teórico para o resultado
λ𝐸𝑉𝐴 = 8, 05 × 10
−14 2
[𝐶 /𝑁] experimental e que esse resultado experimental
manteve um valor menor que o teórico. Isso pode
−14 2
λ𝐸𝑃𝑆 = 8, 87 × 10 [𝐶 /𝑁] dar-se ao fato de ocorrer erros no aparelho de
medição ou até mesmo erro humano. Também é
2 2 possível perceber que há diferenças entre os
Considerando ε0 = 8, 85[𝐶 /𝑁𝑚 ]e resultados dos capacitores em série para os em
−3 2 paralelo, já que a maneira como a tensão e a
𝐴 = 7, 85 × 10 [𝑚 ], aplicando os valores de λ
corrente apresentam-se são de formas diferentes.
na equação, obtemos:
Referências
κ𝑎𝑟 = 1, 15
κ𝐴4 = 0, 92 [1] TIPLER, P.A.; MOSCA, G. Física para
κ𝐸𝑉𝐴 = 1, 16 Cientistas e Engenheiros - Vol. 2 - Eletricidade e
Magnetismo, Ótica, 6ª edição. Grupo GEN, 2009.
κ𝐸𝑃𝑆 = 1, 27 978-85-216-2622-0.

[2] HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER,


Já falando sobre o exercício de circuitos, obteve-se J. Fundamentos de Física - Vol. 3 -
os resultados da seguinte tabela: Eletromagnetismo, 10ª edição. Grupo GEN, 2016.
9788521632092.

Capacitores Ceq Teórico Ceq Exp. [3] SADIKU, M. N. O. Elementos de


(µF) (µF) Eletromagnetismo, vol. único. Porto Alegre, Rio
Grande do Sul: Bookman, 2004.
Em série (220V 69 68,4
e 100V) [4] NUSSENZVEIG, Herch Moysés. Curso de
física básica: Eletromagnetismo (vol. 3). Editora
Em paralelo 320 316 Blucher, 2015. 9788521208020.
(220V e 100V)
[5] MACHADO, Kleber Daum.
Em série (220V 111 109
e 220V)
Eletromagnetismo, Vol. 1. Ponta Grossa: Toda
palavra editora, 2012.
Em paralelo 440 437
(220V e 220V)
Tabela 3: Dados coletados do exercício circuitos.

O cálculo realizado para obter o Ceq teórico em


série foi 1/Ceq=1/C1+1/C2. Já para obter o Ceq
teórico em paralelo foi Ceq=C1+C2.

Conclusão
Após obter os resultados do experimento,
pode-se concluir que as características dos
capacitores de placas paralelas, o material utilizado
entre as placas e a distância foram variáveis que

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