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Carga e descarga de capacitores

Igor Peixoto Rodrigues


Luiz Paulo Barbosa

Departamento de Ciências Naturais – DCNAT/ UFSJ


Praça Dom Helvécio, 74 - Fábricas, 36301-160 - São João del Rei – MG
igorpexoto@outlook.com, luiz.paulobarbosa06@gmail.com

Resumo
Um capacitor é um dispositivo utilizado para armazenar energia elétrica. Neste experimento
verificamos a relação entre os fenômenos de carga e descarga de capacitores num circuito RC, assim como
o comportamento da carga e corrente em função do tempo. Através de ajustamentos gráficos encontramos
a constante de tempo característica do circuito RC e a corrente inicial no capacitor.

1 Introdução Capacitores carregados são capazes de fornecer


energia com uma rapidez muito maior, o suficiente por

O primeiro capacitor operativo, conhecido como exemplo, para produzir um clarão quando a lâmpada de

garrafa de Leyden, foi construído por experimentadores no flash de uma máquina fotográfica é acionada.

século XVIII, na Holanda 1. Desde então, com o avanço da A física dos capacitores pode ser aplicada a outros

tecnologia, muitas aplicações foram atribuídas ao dispositivos e outras situações que envolvem campos

capacitor. Entre elas destacam-se o funcionamento de elétricos. Em nossa discussão sobre capacitores

máquinas fotográficas e o ajuste fino nos circuitos de procuraremos determinar a quantidade de carga que um

sintonia de aparelhos de rádio, televisão e telefones capacitor é capaz de armazenar em função do tempo, essa

celulares. quantidade é descrita por uma grandeza conhecida como

Neste experimento verificamos a relação entre os capacitância.

fenômenos de carga e descarga de capacitores num circuito


RC, assim como o comportamento da carga e corrente em 1.2 Objetivos
função do tempo. Através de ajustamentos gráficos
encontramos a constante de tempo característica do  Estudar o comportamento da corrente e tensão
circuito RC e a corrente inicial no capacitor. com o tempo num processo de carga e de descarga em um
capacitor.

1.1 Apresentação  Determinar a constante de tempo RC de um


circuito e a corrente inicial .

Um capacitor é um dispositivo utilizado para


1.3 Teoria
armazenar energia elétrica (Figura 1).

Um capacitor de placas paralelas, é formado por


duas placas paralelas condutores de área A e separadas por
uma distância d (Figura 2). Quando um capacitor está
carregado, as placas contem cargas de mesmo valor
absoluto e sinais opostos +𝑞 𝑒 −𝑞 . Por convecção, a

Figura 1 - Capacitor eletrolítico


carga de um capacitor é o valor absoluto da carga de uma 𝑞
𝑉𝑐 =
𝐶
das placas.
(2)
Como as placas são feitas de material condutor,
Quando a diferença de potencial é igual a
apresentam superfícies equipotenciais e além disso existe
diferença de potencial entre os terminais da fonte (força
uma diferença de potencial entre as placas.
eletromotriz ℰ), a corrente deixa de circular e de acordo
A carga q e a diferença de potencial V de um
com a equação (2), a carga final (equilíbrio) do capacitor é
capacitor são proporcionais e é dado por:
igual C ℰ.
𝑞 = 𝐶𝑉
Analisando a variação da carga q, a diferença de
(1)
potencial 𝑉𝑐 , e a corrente i com relação ao tempo enquanto
o capacitor está sendo carregado, aplicamos a regra das
malhas ao circuito, temos:
𝑞
ℰ − 𝑖𝑅 − =0
𝐶
(3)
Como as variáveis i e q não são independentes, elas se
relacionam através da equação:
𝑑𝑞
𝑖=
Figura 2- Um capacitor de placas paralelas 𝑑𝑡
(4)
A constante de proporcionalidade C é chamada Combinando a equação (3) e (4), obtemos:
capacitância. 𝑑𝑞 𝑞
𝑅 + = ℰ
Uma forma de carregar um capacitor é colocá-lo 𝑑𝑡 𝐶
em um circuito elétrico com uma certa diferença de (5)
potencial. Um circuito onde a corrente varia com o tempo, Esta equação diferencial descreve a variação com
é chamado de circuito RC. o tempo da carga q no capacitor e tem sua resolução dada
O capacitor de certa capacitância C (Figura 2), por:
está inicialmente descarregado. O circuito RC em série é 𝑞 = 𝐶ℰ(1 − 𝑒 −𝑡⁄𝑅𝐶 )
formado por um capacitor, uma fonte ideal de força (6)
eletromotriz ℰ e uma resistência R. Onde 𝐶ℰ é a carga final atingida, RC a constante de tempo.
A derivada de q em relação ao tempo é a corrente de carga
do capacitor:
𝑑𝑞 ℰ
𝑖= = ( ) 𝑒 −𝑡⁄𝑅𝐶 = 𝐼𝑜 𝑒 −𝑡⁄𝑅𝐶
𝑑𝑡 𝑅
(7)
Onde 𝐼𝑜 é a corrente inicial. Combinando a equação (2) e
(6), descobre-se que a diferença de potencial 𝑉𝑐 (𝑡) entre as
placas do capacitor durante o processo de carga é dado por:
Figura 3- Circuito RC 𝑞
𝑉𝑐 = = ℰ(1 − 𝑒 −𝑡⁄𝑅𝐶 )
𝐶
No momento em que o circuito é completado, (8)
cargas começam a se mover e surge uma corrente i. Essa O produto RC presente nas equações (6) e (8) tem
corrente acumula uma carga q cada vez maior nas placas dimensão de tempo e é chamado de constante de tempo
do capacitor e estabelece uma diferença de potencial capacitiva.
𝜏 = 𝑅𝐶  2 Resistências
(9)  1 capacitores
No instante em que 𝑡 = 𝜏 = 𝑅𝐶, a carga do capacitor  Dois multímetros
inicialmente descarregado aumentou de zero para:  Cronômetro
−1 )
𝑞 = 𝐶ℰ(1 − 𝑒 = 0,63𝐶ℰ
(10)
3 Experimento
Observa-se que que durante a primeira constante de tempo
𝜏 a carga aumentou de zero para 63% do valor final de 𝐶ℰ.
Foi montado um circuito similar ao da figura (3),
utilizando a fonte de tensão continua com um valor
Como o capacitor está totalmente carregado, o
constante de 15V. Utilizou-se um capacitor de 𝐶 =
potencial é igual à força eletromotriz da fonte. Com o
2200𝜇𝐹. Posicionou-se os multímetros no circuito de
intuito de descarrega-lo, faz-se o capacitor ser
forma a retirar informações sobre a tensão e a corrente, e
descarregado através da resistência R. A equação
com o auxílio do cronômetro foi medido o tempo
diferencial que descreve a variação de q com o tempo é
simultaneamente com os valores da corrente e tensão. A
semelhante a (5), porém a fonte não está mais no circuito e
fim de verificar a constante de tempo RC, mediu-se esses
por tanto ℰ = 0, assim:
valores para duas resistências diferentes 𝑅1= 9,98𝐾 𝑒 𝑅2 =
𝑑𝑞 𝑞
𝑅 + = 0 68,9𝐾 e anotou-se seus respectivos valores.
𝑑𝑡 𝐶
(11)
A solução da equação diferencial é: 4 Análise e discussão
−𝑡 ⁄𝑅𝐶
𝑞 = 𝑞0 𝑒
(12) Utilizando as resistências 𝑅1= 9,98𝐾 𝑒 𝑅2 =
Onde 𝑞 = 𝑉𝐶 𝐶 é a carga inicial do capacitor, substituindo 68,9𝐾 o capacitor foi carregado e os valores da tensão em
na equação (12) é possível determinar o potencial de função do tempo foram anotados e para cada resistência e
descarga: então foi montadas as Tabelas 1 e 2 para carga e descarga
−𝑡⁄𝑅𝐶
𝑉𝐶 = 𝑉0 (𝑒 ) respectivamente (Anexo 1). Com os dados das tabelas
(13) foram montados os Gráfico 1,2,3,4,5,6 auxiliado pelo
De acordo com (12), a carga q diminuiu exponencialmente programa AlphaPLot.
com o tempo, a uma taxa que depende da constante de Os Gráficos 1 e 4 referem-se a carga do capacitor,
tempo. No instante em que 𝑡 = 𝜏 = 𝑅𝐶, a carga do os Gráficos 2 e 5, referem-se a descarga e os Gráficos 3 e
capacitor diminui aproximadamente 37% do valor inicial. 6 referem-se a linearização dos gráficos de descarga.
A derivada de q em relação ao tempo é a corrente Os valores dos Gráfico 1 e 4 são descritos pela
de descarga do capacitor: equação (8), atribuindo essa equação ao programa para
𝑑𝑞 𝑞0 fazer análise dos gráficos foi possível obter o valor da
𝑖= = − ( ) 𝑒 −𝑡 ⁄𝑅𝐶 = 𝐼𝑜 𝑒 −𝑡⁄𝑅𝐶
𝑑𝑡 𝑅𝐶
constante de tempo RC =20,01 +/- 0,20 (s) para a 𝑅1 e RC
(14)
=128,984 +/- 0,12 para 𝑅2
O valor teórico para 𝜏 = 𝑅𝐶 , para os valores de
2 Materiais
𝑅1 = 9,98𝐾 e C=2200𝜇𝐹 é de 21,96 +/- 0,02 (s), e 151,58
+/- 0,02 (s) para 𝑅2 = 68,9𝐾.
 Fonte de alimentação de tensão contínua
Fazendo a descarga do capacitor com as
 Painel para ligações
resistências 𝑅1 𝑒 𝑅2 , foram obtidos os dados de acordo com
 Cabos para conexões
a Tabela 2 (Anexo 1) e posteriormente montado os podem ser explicados por talvez o capacitor apresentar uma
Gráficos 2 e 5 . capacitância inferior ao que se encontra na descrição do
Linearizando a equação (13) temos: mesmo, a interferência da resistência interna dos fios
1𝑡 utilizados durante o experimento.
𝑙𝑛𝑉𝑐 = 𝑙𝑛𝑉0 −
𝑅𝐶 Demonstramos experimentalmente o
(15)
comportamento dos circuitos RC e compreendeu-se que a
A partir da linearização foi possível construir os
carga do capacitor é devida à tensão na fonte, e a descarga
Gráficos 3 e 6, dados 𝑙𝑛𝑉𝑐 versus t. Os gráficos apresentam
do mesmo é devida uma diferença de potencial e ocorre
uma reta da forma 𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏 cujo coeficiente angular é
sobre as resistências existentes no circuito.
−1
𝑎= e linear 𝑏 = 𝑉0 .
𝑅𝐶

Com o valor da constante RC obtida através da Referências bibliográficas


análise dos Gráfico 2 e 5, foi possível analisar também o
valor do coeficiente angular, -0,0449 +/- 0,004 para 𝑅1 e
 Loyd, David H. Physics laboratory manual. 3
-0,0078 +/- 0,00003 para 𝑅2 , obtido através da
ed. Belmont: Thomson Books/Cole, 2008.
linearização dos Gráfico 3 e 6. O valor teórico era de -
0,0455 +/- 0,001 e -0,0078 +/- 0,0001
 Walker, J. Halliday/Resnick Fundamentos da

respectivamente. Física, Capítulo 25 Capacitância e capítulo


No instante imediato ao fechamento da chave no 27 Circuitos Elétricos. 9 ed. Rio de Janeiro:
circuito t=0, o circuito comporta-se como se o capacitor LTC, 2008. v. 3. Young, H.;
não existisse, por tanto a corrente no instancia inicial é
igual a 𝐼𝑜 = ℰ/𝑅 . 𝐼𝑜 para 𝑅1 = 0,0015 A e 𝐼𝑜 para 𝑅2 =
0,000217A.
Feita todas essas análises e discussões foi feita a
Tabela 3.
Tabela 3 – Resultados Finais
𝑅1 𝑅2
RC Teórico 22 (s) 151 (s)
RC 20,01 +/- 0,20 128,984 +/-
Experimental (s) 0,12 (s)
-1/RC -0,005 -0,0078
Teórico
-1/RC -0,0449 +/- -0,00775 +/-
Experimental 0,004 0,00003
𝑰𝒐 0,0015 A 0,000217 A

Com base nesses dados é possível concluir que o


experimento foi realizado com sucesso. Os valores da
constante de tempo e da corrente inicial foram
determinados através de análises gráficas e algébricas. As
diferenças entre os valores teóricos e os experimentais
Tabela 1 – Carga do capacitor com 𝑹𝟏 e 𝑹𝟐 respectivamente

Voltagem Tempo Voltagem Tempo


(v) (s)
(v) (s)
0,02 0
0,03 0 7,48 102
1,9 3
3,64 6 0,33 3 7,63 105
4,96 9 0,63 6 7,85 110
6,41 12 0,93 9 8,07 115
7,62 15 8,29 120
1,22 12
8,9 18
1,5 15 8,48 125
9,27 21
1,81 18 8,68 130
9,84 24
10,47 27 2,07 21 9,08 140
10,95 30 2,34 24 9,43 150
11,42 33 9,74 160
2,59 27
11,78 36
2,87 30 10,04 170
12,09 39
3,11 33 10,28 180
12,37 42
12,6 45 3,35 36 10,54 190
12,83 48 3,58 39 10,77 200
13,01 51 3,84 42 11,41 230
13,18 54 11,87 260
4,05 45
13,3 57
4,27 48 12,25 290
13,42 60
4,48 51 12,55 320
13,59 65
13,74 70 4,69 54 12,79 350
13,86 75 4,89 57 13,09 400
13,94 80 5,11 60 13,28 450
14,01 85 13,42 500
5,3 63
14,07 90
5,51 66 13,51 550
14,13 95
14,18 100 5,67 69 13,59 600
14,22 110 5,85 72
14,32 120 6,03 75
14,36 130
6,22 78
14,41 140
6,39 81
14,45 150
14,47 160 6,57 84
14,5 170 6,71 87
14,52 180 6,86 90
14,53 190 7,04 93
7,19 96
7,33 99
Tabela 2 – Descarga do capacitor com 𝑹𝟏 e 𝑹𝟐 respectivamente

Voltagem Tempo Voltagem Tempo


(v) (s) (v) (s)
13,96 0 14,68 0
12,75 2 14,41 3
11,84 4 14,04 6
10,08 6 13,73 9
9,22 8 13,43 12
8,43 10 13,1 15
7,71 12 12,8 18
6,93 14 12,53 21
6,22 16 12,22 24
5,69 18
11,98 27
5,12 20
11,89 30
4,6 22
11,44 33
4,24 24
11,19 36
3,88 26
10,94 39
3,53 28
3,18 30 10,67 42
2,92 32 10,44 45
2,58 34 10,18 48
2,37 36 9,99 51
2,17 38 9,75 54
1,99 40 9,54 57
1,8 42 9,31 60
1,62 44 8,98 65
1,51 46 8,67 70
1,34 48 8,34 75
1,23 50 8,03 80
1,12 52 7,79 85
1,04 54 7,48 90
0,92 56 7,18 95
0,85 58 6,93 100
0,78 60 6,45 110
0,62 65 5,94 120
0,5 70
5,55 130
0,4 75
5,15 140
0,32 80
4,76 150
0,26 85
4,42 160
0,22 90
4,13 170
0,18 95
3,84 180
0,15 100
0,12 105 3,27 190
0,11 110 3,3 200
0,09 115 2,66 230
2,14 260
1,73 290
1,4 320
1,14 350
0,93 380
0,75 410
0,61 440
0,5 470

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