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MOVIMENTAÇÃO DE ELÉTRONS E

A DESCARGA DE UM CAPACITOR
Alexandre Leopoldino Barcellos – matrícula 2018016944
Breno Monteiro Dos Santos – matrícula 2018017182
Carina Reis Passos Malturato – matrícula 2017015147
Juliana Scherrer Barbosa – matrícula 2018016659

Resumo. O presente artigo faz parte do processo de avaliação das disciplinas de Prática de
Ensino I e Introdução à Física Experimental, no curso de licenciatura de Física – EAD da
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O processo de descarga de um capacitor foi estudado, sendo coletados dados de diferença de
potencial fornecidos por um capacitor ligado a um voltímetro. Através do ajuste da função de
decaimento exponencial pode-se determinar os valores da resistência interna do voltímetro,
da diferença de potencial inicial fornecida pelo capacitor e de sua carga inicial.
Os resultados experimentais mostraram-se condizentes com a previsão do modelo teórico,
apesar da ocorrência de erros que limitaram o tempo de coleta e análise dos dados.

1. INTRODUÇÃO menor para o maior potencial elétrico,


acumulando-se em uma das placas e
O capacitor, também chamado de
conferindo a ela uma carga elétrica negativa.
condensador, é um dispositivo de circuito
Visto que não há fluxo de cargas através do
elétrico que tem como função armazenar
dielétrico, essa carga negativa acumulada
cargas elétricas e consequentemente energia
em uma das placas repele os elétrons da
eletrostática (ou elétrica). É constituído de
outra placa, criando uma carga induzida
duas peças condutoras, chamadas de
positiva nela.
armaduras, sendo que entre essas armaduras
existe um dielétrico, substância isolante que A carga elétrica possível de ser
possui alta capacidade de resistência ao armazenada em um capacitor (Q) está
fluxo de corrente elétrica (Figura 1). relacionada com a ddp a qual ele foi
submetido (U) e a sua capacitância (C),
constante característica dos capacitores
associada à natureza do dielétrico usado e às
suas dimensões, conforme a Equação 1
abaixo:
𝑄
𝐶= (1)
𝑈

Figura 1 – Esquema de um capacitor plano Um capacitor de placas planas tem sua


(disponível em https://alunosonline.uol.com.br/fisica/ capacitância dada pela equação 2, onde ε é a
capacitor-plano.html). permissividade elétrica do meio, A a área
das placas e d a distância entre elas.
𝜀𝐴
As armaduras do capacitor, assim como 𝐶= (2)
𝑑
os condutores a elas ligados, são corpos
metálicos. Possuem assim elétrons livres A utilização dos dielétricos tem por
que ao serem submetidos a uma diferença de função aumentar o valor da permissividade
potencial elétrico (ddp) movimentam-se do elétrica (ε) e diminuir a distância d entre as
placas do condutor, aumentando o valor da

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capacitância, sem o risco de que as placas
entrem em contato. Qualquer substância que
for submetida a uma intensidade muito alta
de campo elétrico pode ser tornar condutor,
por esse motivo é que o dielétrico é mais
utilizado do que o ar como substância
isolante, pois se o ar for submetido a um
campo elétrico muito alto ele acaba por se
tornar condutor.
Os capacitores são utilizados nos mais Figura 4 –Multímetro digital.
variados tipos de circuitos elétricos, como
nas máquinas fotográficas armazenando
Ligando-se um capacitor carregado a
cargas para o flash por exemplo. Eles podem
um voltímetro obtém-se um circuito RC
ter o formato cilíndrico ou plano,
(resistor/capacitor), onde a resistência
dependendo do circuito ao qual ele está
considerada corresponde à resistência
sendo empregado. Os dielétricos mais
interna do voltímetro (Figura 5).
utilizados são cerâmica, óxido de alumínio,
poliéster, mica, dentre outras substâncias.
O voltímetro é um instrumento de
medida de diferença de potencial elétrico
(ddp). Possui uma elevada resistência
elétrica (resistência interna) e deve ser
ligado em paralelo ao circuito, medindo a
ddp entre os pontos ao qual foi conectado Figura 5 – circuito RC usado para determinação da
resistência interna de um voltímetro (Silva et al.,
(Figuras 2, 3 e 4). 2018).
Neste circuito o capacitor fornece uma
diferença de potencial U ao resistor R
produzindo uma corrente elétrica i, sendo
estes valores relacionados pela 1ª lei de
Ohm (Equação 3):
𝑈 = 𝑅𝑖 (3)
Figura 2 – Montagem de um voltímetro em paralelo
a um circuito de resistência R (disponível em
Em um condutor metálico a corrente
http://osfundamentosdafisica.blogspot.com/2013/08/c elétrica é constituída por um fluxo de
ursos-do-blog-eletricidade_21.html). elétrons movendo-se em direção a um maior
potencial elétrico. A intensidade (i) de uma
corrente elétrica é dada pela taxa de
variação instantânea da carga elétrica em
função do tempo, definida através da
Equação 4:
𝑑𝑄
𝑖= (4)
𝑑𝑡
Em um circuito RC a ddp fornecida
pelo capacitor não é constante, decaindo
com o tempo devido à movimentação dos
elétrons que partem da placa inicialmente
Figura 3 –Multímetro analógico. carregada negativamente em direção à placa
com carga positiva. Combinando as
equações (1), (3) e (4), e resolvendo a

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equação diferencial obtida, chega-se a 𝑄
𝑖 = − 𝑅𝐶 (8)
Equação 5, que fornece a ddp fornecida pelo
capacitor em um dado instante no tempo t Substituindo a Equação 4 na equação
(U(t)), onde U0 corresponde a ddp no acima obtém-se a Equação 9, cuja solução é
instante inicial: dada pela Equação 10, citadas abaixo.
𝑡 𝑑𝑄 𝑄
𝑈(𝑡) = 𝑈0 𝑒 (−𝑅𝐶) (5) = − 𝑅𝐶 (9)
𝑑𝑡
𝑡
O objetivo deste trabalho é estudar a 𝑄(𝑡) = 𝑄0 𝑒 (−𝑅𝐶) (10)
descarga de um capacitor em um circuito
RC e calcular do valor da resistência interna onde Q(t) corresponde à carga armazenada
de um voltímetro. O valor da resistência no capacitor em um certo instante t, Q0 à
interna do voltímetro será determinado carga inicial do capacitor, R à resistência
através do ajuste da curva de decaimento interna do multímetro e C à capacitância do
exponencial, obtida a partir dos dados capacitor.
experimentais coletados de ddp fornecida Dividindo a Equação 10 pela
pelo capacitor ao longo do tempo. capacitância (C) é possível relacionar a
diferença de potencial fornecida por um
capacitor na sua descarga com o tempo
2. MATERIAIS E MÉTODOS (U(t)), como mostrado na Equação 5
𝑡
(𝑈(𝑡) = 𝑈0 𝑒 (−𝑅𝐶) ).
2.1 Materiais Para o estudo da movimentação de
- capacitor Hitano ECR (3300 μF / 16V); cargas elétricas e determinação da
resistência interna do voltímetro foram
- circuito de carregamento (fonte DC,
coletados dados da diferença de potencial
resistor de 22W, placa e fios);
(ddp) durante a descarga do capacitor
- multímetro digital HGL 2000N; previamente carregado, sendo os dados
- cronometro digital (precisão de 0,2s) obtidos e suas respectivas análises
apresentados a seguir.
- calculadora científica
- software SciDAvis (laptop)
2.3 Dados obtidos
As medidas de diferença de potencial
2.2 Modelo Metodológico elétrico (ddp) coletadas durante a descarga
Ao aplicar a lei das malhas (2ª Lei de do capacitor estão apresentadas na Tabela 1.
Kirchhoff) ao circuito representado na
Figura 5, é obtida a Equação 6, que descreve
as variações de potencial elétrico observadas Tabela 1: Diferença de potencial (U(t)) em
em uma carga elétrica ao percorrer o diferentes instantes de tempo durante a
circuito RC. descarga do capacitor, e seus respectivos
𝑈𝐶 + 𝑈𝑅 = 0 (6) erros.

Na equação acima UC corresponde à


ddp fornecida pelo capacitor, podendo ser Tempo (t) ddp (U(t))
obtida a partir da Equação 1, e UR
corresponde à ddp observada no resistor 1 (0±1)s (11,50±0,09)V
(Equação 3). Desta forma é possível definir 2 (24±1)s (11,00±0,08)V
as Equações 7 e 8, ilustradas abaixo.
3 (75±1)s (10,50±0,08)V
𝑄
𝑅𝑖 + = 0 (7) 4 (176±1)s (10,00±0,08)V
𝐶

3
Tabela 2: parâmetros característicos do
5 (420±1)s (9,50±0,08)V
ajuste da curva de decaimento exponencial
6 (985±1)s (9,00±0,07)V referente à descarga de um capacitor.
7 (1972±1)s (8,50±0,07)V
8 (3347±1)s (8,00±0,07)V Parâmetro Valor calculado
A (2,55±0,07)V
2.4 Análise dos Resultados y0 (8,69±0,06)V
Os dados referentes à Tabela 1 estão T (312,95±0,01)s
representados no gráfico abaixo (Figura 6).
r2 0,95

Através dos valores listados na


Tabela 2 e do valor nominal da capacitância
do capacitor utilizado (C=3300µF) foi
possível determinar os valores da resistência
interna do voltímetro (R=T/C), da tensão
inicial do capacitor (U0 = y0 + A) e da sua
carga inicial (Q0 = CU0), sendo estes valores
apresentados na Tabela 3.
Figura 6 – dados coletados de ddp (V) em função do
tempo (s).
Tabela 3: valores determinados
experimentalmente e seus respectivos erros.
Através do software SciDAvis foi feito
o ajuste da função de decaimento
exponencial, de primeira ordem, da ddp R (94833,33±14225,00)Ω
fornecida pelo capacitor em função do V0 (11,24±0,09)V
tempo, sendo obtidos os parâmetros y0, A e
𝑥 y0 (8,69±0,06)V
T de uma função do tipo 𝑦 = 𝑦0 + 𝐴 𝑒 (−𝑇),
Qo (0,04±0,01)C

3. DISCUSSÃO DO MÉTODO E
DOS RESULTADOS
O valor da resistência interna do
voltímetro obtido experimentalmente foi
elevado, o que está de acordo com o
esperado, pois um voltímetro deve ter a
maior resistência possível a fim de interferir
o mínimo possível na medida efetuada (um
Figura 6 – dados coletados de ddp (V) em função do voltímetro ideal apresenta uma resistência
tempo (s) e a curva de ajuste do decaimento interna infinita).
exponencial.
Observou-se uma diferença entre o
A Tabela 2 apresenta os valores dos valor da ddp inicial (U0) obtido pelo ajuste
parâmetros obtidos no ajuste da curva. dos dados (11,24V) e o medido
experimentalmente (11,50V). Uma possível
causa para essa divergência seria a

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ocorrência de corrente elétrica (corrente de 5. REFERÊNCIAS
fuga) através do dielétrico (óleo mineral). HALLIDAY, D, RESNICK, R, & MERRIL,
Devido ao fato de ser uma função de J.; Fundamentos de Física – volume 2.; 2ª
decaimento exponencial, no início das ed; LTC editora (1994).
medidas observou-se uma maior taxa de Hickel, G.R; Apostilas para o curso de
variação da ddp em relação ao tempo, já que
Introdução à Física Experimental;
ddp´s maiores geram correntes maiores, UNIFEI (2018).
sendo liberada uma potência maior no início
da descarga. Com o passar do tempo a taxa
de variação diminui, sendo necessários
intervalos de tempo cada vez maiores para a
observação de uma mesma redução de ddp.
O valor do coeficiente de correlação
para a curva obtida (r2 = 0,95) indica uma
boa concordância entre dados coletados e a
previsão do modelo teórico.
Os resultados poderiam ter sido
melhores caso não tivessem ocorrido falhas
no carregamento do capacitor, que demorou
mais do que o previsto, e também falhas no
funcionamento do voltímetro, que desligou
sozinho diversas vezes. Estes imprevistos
limitaram o tempo de aquisição dos dados e,
consequentemente, o número de medidas
realizadas ficou abaixo do ideal.

4. CONCLUSÕES
O processo de descarga de um
capacitor possibilitou a determinação da
resistência interna de um instrumento de
medida elétrica (voltímetro), sendo
observado uma boa concordância entre o
modelo teórico e os dados coletados.
A utilização de um software de
análises matemáticas se mostrou um
procedimento simples e útil na análise de
dados experimentais, fornecendo valores
com boa precisão.
Ficou evidente que erros na
preparação de um experimento podem
comprometer os resultados obtidos, sendo
necessária também a utilização de
equipamentos em bom estado de
conservação e funcionamento, para evitar
que ocorram imprevistos indesejáveis.

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