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Em contexto idêntico, situa-se a Portaria n.º 180/2002, integrada, bem como o regime das normas técnicas aplicá-
de 28 de Fevereiro, que estabeleceu as condições e o pro- veis à protecção integrada, produção integrada e modo de
cedimento para o reconhecimento das organizações de produção biológico, e cria um regime de reconhecimento
agricultores em modo de produção biológico, bem como de técnicos em protecção integrada, produção integrada
para o reconhecimento dos técnicos que podem prestar e modo de produção biológico, no âmbito da produção
assistência em modo de produção biológico. Este regime, agrícola primária.
criado em sede de implementação do programa RURIS,
trouxe também inegáveis benefícios à agricultura, através Artigo 2.º
do acompanhamento dos agricultores pelas suas organiza-
ções e de técnicos dotados de qualificação específica para Definições
o desenvolvimento da actividade agrícola em modo de Para efeitos do presente decreto-lei, entende-se por:
produção biológico. Também, nesta área, foi reconhecida
a prerrogativa de os agricultores poderem, paralelamente, a) «Estimativa do risco» a avaliação quantitativa de
recorrer a regimes de ajudas financeiras públicas no âm- inimigos das culturas e análise da influência de certos
bito do programa RURIS, mediante adequada assistência factores nos prejuízos que possam causar;
técnica das suas organizações, de acordo com os requisitos b) «Meio de protecção» o método de combate contra
previstos na referida portaria. os inimigos das culturas, abrangendo medidas indirectas
Considera-se, agora, oportuno consolidar e actualizar de luta ou meios directos de luta;
num único diploma a legislação vigente, eliminando e c) «Modo de produção biológico» a utilização do modo
simplificando procedimentos a cumprir pelos agricultores, de produção conforme as regras estabelecidas no Regula-
tendo em vista uma maior adesão à prática da protecção mento (CE) n.º 834/2007, do Conselho, de 28 de Junho, e
integrada e aos modos de produção integrada e biológico sua regulamentação;
e, paralelamente, promover a difusão do conhecimento téc- d) «Nível económico de ataque» a intensidade de ataque
nico e científico desenvolvido ao longo dos últimos anos,
de um inimigo da cultura a que se devem aplicar medidas
bem como a valorização das competências profissionais
dos técnicos oficialmente reconhecidos. Neste sentido, limitativas ou de combate para impedir que a cultura corra
mantém-se a exigência do cumprimento de um conjunto o risco de prejuízos superiores ao custo das medidas de
de regras técnicas para um correcto exercício da protecção luta a adoptar, acrescidos dos efeitos indesejáveis que estas
e produção integradas e do modo de produção biológico, e últimas possam provocar;
são reconhecidas as competências obtidas pelos técnicos e) «Produção integrada» a utilização do modo de produ-
especializados cujos conhecimentos são passíveis de serem ção conforme as regras estabelecidas no presente decreto-
utilizados, embora sem carácter obrigatório, no apoio aos -lei;
agricultores na melhoria da produção agrícola nacional. f) «Produtos fitofarmacêuticos» os produtos homologa-
Pelo exposto, com o presente decreto-lei aprova-se um dos em Portugal ao abrigo do Decreto-Lei n.º 94/98, de
novo quadro regulamentar, que consagra os princípios, 15 de Abril, relativo à colocação de produtos fitofarma-
orientações e prevê a elaboração de normas técnicas subja- cêuticos no mercado;
centes à prática da protecção integrada, produção integrada g) «Protecção integrada» a utilização do método de
e modo de produção biológico, enquanto método de pro- protecção conforme as regras estabelecidas no presente
tecção da produção vegetal e modos de produção agrícola, decreto-lei;
e sua regulamentação, procedendo-se, em consonância, à
h) «Uso de produtos fitofarmacêuticos» a aplicação
revogação do Decreto-Lei n.º 180/95, de 26 de Julho, e da
Portaria n.º 180/2002, de 28 de Fevereiro, mantendo-se, de produtos que obedece ao disposto no Decreto-Lei
no entanto, em vigor a Portaria n.º 131/2005, de 2 de Fe- n.º 173/2005, de 21 de Outubro, que regula as actividades
vereiro, relativa a medidas de controlo e certificação. de distribuição, venda, prestação de serviços de aplicação
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Re- de produtos fitofarmacêuticos e a sua aplicação pelos uti-
giões Autónomas. lizadores finais.
Foram ouvidos, a título facultativo, a Federação Nacio-
nal das Cooperativas de Consumidores e a União Geral Artigo 3.º
de Consumidores. Competências
Foi promovida a audição à Associação Nacional de
Municípios Portugueses e ao Conselho Nacional de Con- 1 — Para efeitos do presente decreto-lei, compete à
sumo. Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural
Assim: (DGADR):
Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Cons-
tituição, o Governo decreta o seguinte: a) Estabelecer os princípios, orientações e normas técni-
cas necessárias à protecção integrada e produção integrada,
bem como as normas técnicas necessárias ao modo de
CAPÍTULO I produção biológico;
Objecto, definições e competências b) Estabelecer os requisitos necessários ao reconhe-
cimento de técnicos em protecção integrada, produção
Artigo 1.º integrada e no modo de produção biológico e proceder ao
reconhecimento destes técnicos;
Objecto c) Apoiar as direcções regionais de agricultura e pescas
O presente decreto-lei estabelece os princípios e orien- (DRAP) no domínio do disposto no presente decreto-lei e
tações para a prática da protecção integrada e produção sua regulamentação.
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2 — Colaboram com a DGADR na elaboração de nor- e) Selecção dos produtos fitofarmacêuticos em função
mas técnicas, nos termos previstos no presente decreto- da sua eficácia, persistência, custo e efeitos secundários
-lei: em relação ao homem, aos auxiliares e ao ambiente.
a) O Instituto Nacional dos Recursos Biológicos, I. P.,
nomeadamente nas áreas da nutrição, fertilização e outras Artigo 6.º
práticas culturais; Exercício da protecção integrada
b) A Direcção-Geral de Veterinária (DGV), nomeada-
mente na área da produção, bem-estar e saúde animal e no 1 — A protecção fitossanitária das culturas rege-se
processo de reconhecimento de técnicos na componente pelos princípios enunciados no artigo anterior e tem por
da produção animal; base a estimativa do risco, o nível económico de ataque,
c) O Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP), nas a selecção dos meios de luta e a tomada de decisão, nos
normas técnicas complementares necessárias ao modo de termos seguintes:
produção biológico. a) A tomada de decisão baseia-se na análise global da
estimativa do risco, na referência a níveis económicos de
3 — O controlo da prática de protecção integrada, pro- ataque e na selecção dos meios de protecção, de modo a
dução integrada e a certificação dos produtos produzidos de fornecer uma decisão fundamentada sobre a indispensa-
acordo com estas formas de protecção e produção compete bilidade de intervenção, os meios de luta a adoptar, privi-
aos organismos de controlo e certificação, reconhecidos legiando a integração dos meios de luta cultural, genética,
para o efeito pelo GPP, nos termos da Portaria n.º 131/2005, biológica e biotécnica e a selecção dos produtos fitofar-
de 2 de Fevereiro, relativa a medidas de controlo e cer- macêuticos, se for o caso;
tificação. b) A utilização de auxiliares em certas culturas e para
4 — O apoio técnico à prática da protecção integrada, determinadas pragas, cuja eficácia se revele determinante,
produção integrada e do modo de produção biológico com- deve ser fomentada com largadas de auxiliares ou com a
pete aos técnicos reconhecidos para o efeito no âmbito introdução de órgãos de outras plantas;
do disposto no presente decreto-lei, os quais prestam o c) A realização de tratamentos contra os inimigos das
serviço individualmente ou através de uma entidade em culturas, em particular, os agentes patogénicos, deve ter
que estejam integrados. por base os métodos de previsão ou os modelos de desen-
volvimento dos inimigos das culturas, preconizados pelo
CAPÍTULO II Sistema Nacional de Avisos Agrícolas (SNAA);
d) O uso de produtos fitofarmacêuticos apenas pode ter
Protecção integrada lugar quando atingido o nível económico de ataque ou,
quando este não tenha sido estabelecido a nível nacional,
Artigo 4.º seja devidamente justificado o seu uso face à importância e
extensão dos estragos ou prejuízos causados pelo inimigo
Noção de protecção integrada
a combater;
A protecção integrada consiste na avaliação ponderada e) Apenas podem ser aplicados produtos fitofarmacêu-
de todos os métodos de protecção das culturas disponí- ticos homologados em Portugal e que constem da lista
veis e a integração de medidas adequadas para diminuir de produtos fitofarmacêuticos permitidos em protecção
o desenvolvimento de populações de organismos nocivos integrada da cultura ou grupos de culturas em causa, nos
e manter a utilização dos produtos fitofarmacêuticos e termos definidos no artigo 11.º
outras formas de intervenção a níveis económica e eco-
logicamente justificáveis, reduzindo ou minimizando os 2 — Em cada parcela homogénea em protecção inte-
riscos para a saúde humana e o ambiente, privilegiando grada deve proceder-se ao registo no caderno de campo,
o desenvolvimento de culturas saudáveis com a menor devidamente datado, das intervenções fitossanitárias e ou-
perturbação possível dos ecossistemas agrícolas e agro- tras práticas culturais, de forma a garantir a rastreabilidade
-florestais e incentivando mecanismos naturais de luta e a qualidade da protecção fitossanitária.
contra os inimigos das culturas. 3 — Sem prejuízo do disposto nos números anterio-
res, em protecção integrada apenas podem ser adoptadas
Artigo 5.º práticas que obedeçam às normas técnicas específicas,
Princípios da protecção integrada publicadas de acordo com o definido no artigo 11.º
A protecção integrada rege-se pelos seguintes princípios
básicos: CAPÍTULO III
a) Implementação de medidas visando a limitação na- Produção integrada
tural dos inimigos das culturas com vista a prevenir ou
evitar o seu desenvolvimento; Artigo 7.º
b) Redução, ao mínimo, das intervenções fitossanitárias Noção de produção integrada
nos ecossistemas agrícolas e agro-florestais;
c) Utilização de todos os meios de luta disponíveis, A produção integrada é um sistema agrícola de produ-
integrando-os de forma harmoniosa e privilegiando, sem- ção de alimentos e de outros produtos alimentares de alta
pre que possível, as medidas indirectas; qualidade, com gestão racional dos recursos naturais e
d) Recurso aos meios de luta directos, nomeadamente privilegiando a utilização dos mecanismos de regulação
o uso de produtos fitofarmacêuticos, quando não haja al- natural em substituição de factores de produção, contri-
ternativa; buindo, deste modo, para uma agricultura sustentável.
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nicos reconhecidas pela DGADR, na área da produção -administrativa, cabendo a sua execução administrativa
biológica. aos serviços e organismos das respectivas administrações
7 — Os actuais técnicos reconhecidos para a protecção regionais autónomas com atribuições e competências no
integrada e produção integrada e para o modo de pro- âmbito da agricultura, sem prejuízo das atribuições da
dução biológico, ao abrigo da legislação revogada pelo DGADR, na qualidade de autoridade responsável pela
artigo 18.º, mantêm o seu reconhecimento pela DGADR, coordenação e definição dos princípios, orientações e
ficando sujeitos aos condicionalismos que venham a ser normas técnicas para a protecção integrada, produção
estabelecidos nos termos do artigo 14.º integrada e normas técnicas para o modo de produção
8 — O reconhecimento na área da protecção integrada, biológico.
produção integrada, componentes vegetal ou animal, e
modo de produção biológico certifica que o seu titular Artigo 16.º
possui, respectivamente, competências que lhe permitem, Taxas
nomeadamente:
Pelos serviços prestados ao abrigo do disposto no
a) Zelar pela correcta aplicação da legislação relativa presente decreto-lei, designadamente em matéria de
à protecção integrada, produção integrada e ao modo reconhecimento de técnicos em protecção integrada,
de produção biológico nas explorações agrícolas e agro- produção integrada e modo de produção biológico, e
-florestais; atentos os custos administrativos, técnicos e logísti-
b) Divulgar orientações técnicas correctas, nomeada- cos, são devidas taxas a fixar por portaria do membro
mente as emanadas pelos serviços oficiais; do Governo responsável pela área da agricultura e do
c) Orientar e dar apoio técnico aos agricultores nas dife- desenvolvimento rural.
rentes vertentes associadas à protecção integrada, produção
integrada e ao modo de produção biológico, tendo em vista Artigo 17.º
uma correcta aplicação dos princípios deste método de
protecção e modos de produção. Regulamentação
A regulamentação técnica complementar à prevista no
Artigo 13.º presente decreto-lei, nomeadamente em matéria de nor-
Pedido de reconhecimento e decisão mas técnicas, reconhecimento de técnicos, ou controlo e
certificação no âmbito da protecção integrada, produção
1 — O reconhecimento como técnico em protecção integrada e modo de produção biológico, é definida por
integrada, produção integrada ou modo de produção portaria do membro do Governo responsável pela área da
biológico é requerido ao director-geral de Agricultura agricultura e do desenvolvimento rural.
e Desenvolvimento Rural, acompanhado dos compro-
vativos que satisfaçam os requisitos enunciados no Artigo 18.º
artigo anterior.
2 — O reconhecimento de técnicos na componente de Norma revogatória
produção animal está condicionado a parecer da DGV. São revogados:
3 — Após a recepção do pedido, o director-geral de
Agricultura e Desenvolvimento Rural decide no prazo de a) O Decreto-Lei n.º 180/95, de 26 de Julho;
30 dias e, se for o caso, é emitido comprovativo oficial b) As Portarias n.os 180/2002, de 28 de Fevereiro, e
do reconhecimento. 422/2003, de 11 de Maio.