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ENTOMOLOGIA AGRÍCOLA –

PRAGAS DE PLANTAS
CULTIVADAS
AULA 6

Prof. Klaus Dieter Sautter


CONVERSA INICIAL

As plantas, assim como os seres humanos, podem sofrer o ataque de


muitos outros organismos. Nos seres humanos, é mais comum o ataque por
microrganismos, resultando em doenças. Todavia, nas plantas, além do ataque
de microrganismos que podem resultar em doenças sérias para as plantas
cultivadas, podemos ter o ataque de insetos e outros animais, como ácaros,
nematóides etc., que também podem provocar uma grande perda de
produtividade, chegando a tornar os cultivos inviáveis ou mesmo comprometer a
qualidade de nosso produto final. Portanto, é importante que conheçamos os
principais métodos de controle de pragas disponíveis.

TEMA 1 – INTRODUÇÃO

Como as pragas podem levar a perdas consideráveis nas nossas


lavouras, é necessário que apliquemos técnicas que tenham como objetivo
reduzir ou mesmo impedir a ocorrência, tanto de pragas quanto de doenças,
assim conseguimos evitar os danos aos nossos plantios.
O termo fitossanidade refere-se à saúde das plantas ou ao seu estado de
saúde. Diz-se que fitossanidade é o estudo das técnicas que auxiliam na
preservação da saúde das plantas. Também podemos dizer que é a aplicação,
de modo prático, no campo, de medidas de controle de pragas e doenças de
plantas. É importante notar que ela compreende uma série de outras ciências,
outras especialidades, que, reunidas, proporcionam a proteção da saúde das
plantas.
Podemos usar de muitos métodos de controle para reduzir ou mesmo
evitar o ataque de pragas nas lavouras. Esses métodos têm como objetivo
principal evitar que populações dos agentes causadores surjam ou também
manter a população desse agente causador em níveis baixos, quer dizer,
aceitáveis quanto ao dano econômico que podem causar.
Existem muitas maneiras que podemos utilizar para controlar pragas na
lavoura:

a. Controle cultural – quando usamos de prática de manejo, como rotação


de culturas;
b. Controle por comportamento – uso de substâncias ou outras estratégias
que modifiquem o comportamento das pragas;
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c. Controle por resistência de plantas – uso de plantas geneticamente
modificadas que resistem às pragas;
d. Controle biológico – quando usamos de outro organismo para atacar a
praga;
e. Controle físico – métodos físicos, como fogo, inundação, temperatura etc.
para controlar as pragas;
f. Método genético – modificação genética das pragas como método de
controle;
g. Método químico – controle das pragas com o uso de substâncias
químicas;
h. Métodos legislativos – uso de legislação para determinar certa ação
obrigatória;
i. Manejo integrado de pragas – uso de vários métodos ao mesmo tempo.

Mas no seu caso, para escolher o melhor método, é importante estudar


bastante qual praga é o alvo, sua etiologia, isto é, as causas dessa praga estar
lá, e também conhecer o clima, culturas suscetíveis, ciclo da praga, e o próprio
método, como modo de ação, eficiência etc.
Com o aumento do comércio mundial, a abertura comercial para
importação e exportação aumentou também a possibilidade de novas pragas
entrarem em nosso país. Elas podem entrar por meio de importação de frutas,
grãos ou outras partes vegetais in natura, quer dizer, ainda não processados. A
maioria das pragas entrou assim no Brasil, com exceção daquelas que já
existiam aqui.
Também devemos lembrar que o uso de diferentes métodos de controle,
principalmente métodos químicos, também podem trazer riscos ao meio
ambiente. Os produtos fitossanitários, como é o caso dos agrotóxicos
(defensivos agrícolas), devem ser utilizados a campo com supervisão técnica e
orientação, principalmente seguindo todas as normas para não ocasionar danos
ao meio ambiente, como contaminação de rios e solo, surgimento de pragas
resistentes àqueles métodos de controle e mesmo riscos e prejuízos ao próprio
ser humano (Figura 1).

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Figura 1 – Uso incorreto de agrotóxicos

Crédito: Gualberto Becerra/Shutterstock.

É importante seguirmos a legislação específica da área para não


incorrermos em nenhum ato ilegal. Essa legislação determina quais são os
princípios básicos que vão direcionar a sociedade no uso de métodos de controle
de pragas e doenças. É baseada em atos normativos, como leis, decretos,
portarias, acordos, instruções normativas e até mesmo campanhas
educacionais, que têm como intuito impedir que novas pragas se estabeleçam
no país, orientar o uso correto dos métodos, garantir padrões mínimos de
qualidade nos produtos, assim como evitar os danos à saúde do ser humano e
ao meio ambiente.
A lei básica no que se refere aos agrotóxicos é a Lei Federal n. 7.802/89,
que o faz de uma forma mais generalizada:

Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem


e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a
propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o
controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes
e afins, e dá outras providências. (Brasil, 1989)

Para maiores detalhes, devemos consultar o seu decreto regulamentador,


Decreto n. 4.074/02 (Brasil, 2002), que dispõe, em maiores detalhes, todo o
detalhamento do registro de agrotóxicos no país, da embalagem, rotulagem e
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fracionamento, destinação final de sobras e embalagens, propaganda,
armazenamento e transporte, do receituário agronômico, controle de qualidade,
fiscalização e inspeção, entre outros.
É importante citar que os agrotóxicos só poderão ser adquiridos com a
apresentação do receituário agronômico:

Capítulo VI
Da Receita Agronômica
Art. 64. Os agrotóxicos e afins só poderão ser comercializados
diretamente ao usuário, mediante apresentação de receituário próprio
emitido por profissional legalmente habilitado.
Art. 65. A receita de que trata o art. 64 deverá ser expedida em no
mínimo duas vias, destinando-se a primeira ao usuário e a segunda ao
estabelecimento comercial que a manterá à disposição dos órgãos
fiscalizadores referidos no art. 71 pelo prazo de dois anos, contados da
data de sua emissão.
Art. 66. A receita, específica para cada cultura ou problema, deverá
conter, necessariamente:
I - nome do usuário, da propriedade e sua localização;
II - diagnóstico;
III - recomendação para que o usuário leia atentamente o rótulo e a
bula do produto;
IV - recomendação técnica com as seguintes informações:
a) nome do(s) produto(s) comercial(ais) que deverá(ão) ser utilizado(s)
e de eventual(ais) produto(s) equivalente(s);
b) cultura e áreas onde serão aplicados;
c) doses de aplicação e quantidades totais a serem adquiridas;
d) modalidade de aplicação, com anotação de instruções específicas,
quando necessário, e, obrigatoriamente, nos casos de aplicação aérea;
e) época de aplicação;
f) intervalo de segurança;
g) orientações quanto ao manejo integrado de pragas e de resistência;
h) precauções de uso; e
i) orientação quanto à obrigatoriedade da utilização de EPI; e
V - data, nome, CPF e assinatura do profissional que a emitiu, além do
seu registro no órgão fiscalizador do exercício profissional.
Parágrafo único. Os produtos serão prescritos com observância às
recomendações de uso aprovadas em rótulo e bula ou com base em
recomendações oficiais aprovadas pelos órgãos de agricultura, de
saúde e de meio ambiente.
Art. 67. Os órgãos responsáveis pelos setores de agricultura, saúde e
meio ambiente poderão dispensar, com base no art. 13 da Lei no 7.802,
de 1989, a exigência do receituário para produtos agrotóxicos e afins
considerados de baixa periculosidade, conforme critérios a serem
estabelecidos em regulamento.
Parágrafo único. A dispensa da receita constará do rótulo e da bula do
produto, podendo neles ser acrescidas eventuais recomendações
julgadas necessárias pelos órgãos competentes mencionados
no caput. (Brasil, 2002)

É importante nos lembrarmos também de que, se necessário, existem


outras legislações de cunho municipal, estadual e federal, como outros atos
normativos, que podem regulamentar o uso de agrotóxicos e outros meios de
controle, por exemplo, em pragas e vetores humanos, em alimentos, em
estabelecimentos de alimentos etc. Além do mais, a legislação sempre muda,

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por isso devemos tentar ficar o máximo possível atualizado quanto às novas
legislações, principalmente acompanhando os debates em torno dos projetos de
lei, tanto na esfera municipal quanto estadual e federal.

Saiba mais

Quer sugestões de como se atualizar na legislação? Estes são alguns


sites que você pode encontrar a legislação federal em vigor. Mas não se esqueça
de também dos níveis municipal e estadual:
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Atos normativos.
Conama, S.d. Disponível em: <http://conama.mma.gov.br>. Acesso em: 1 fev.
2023.
BRASIL. Legislação Federal Brasileira. Gov.br, S.d. Disponível em:
<https://legislacao.presidencia.gov.br/>. Acesso em: 1 fev. 2023.

TEMA 2 – CONTROLE QUÍMICO

As pragas estão causando problemas na sua lavoura? Chegaram a um


nível de dano sério? Então devemos pensar em controlar.

2.1 Agrotóxicos

Hoje o método mais usado, mais comum, é o controle químico das pragas,
por meio do uso de agrotóxicos.

Saiba mais

Agrotóxicos são substâncias químicas que, aplicados de forma direta ou


mesmo indireta sobre um organismo de importância agrícola, em concentrações
consideradas adequadas, provocam a sua morte ou pare sua atividade.
São utilizados os seguintes princípios:

a. Exclusão – quando previne a entrada do organismo no local;


b. Erradicação – quando elimina ou diminui a população do organismo no
local;
c. Imunização – deixa as plantas imunes ao organismo;
d. Proteção – forma uma barreira que impede a penetração do organismo; e
e. Terapia – faz a cura da planta afetada pelo organismo.

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Os agrotóxicos podem ser classificados de várias maneiras, sempre com
o organismo alvo no radical da palavra e o sufixo “cida” na parte posterior. Cida
significa aquele que mata algo. Então temos um inseticida (que mata insetos),
nematicida (que mata nematoides), fungicida (que mata fungos), bactericida (que
mata bactérias), herbicida (que mata ervas daninhas) e assim por diante.
Independentemente de qual é o organismo-alvo, o agrotóxico deve ter
algumas qualidades, algumas características que justifiquem o seu uso:

a. Ele deve ser efetivo, isto é, ter excelente eficácia biológica, ter efeito
residual adequado, ter baixo risco de desenvolvimento de resistência, ter
boa compatibilidade com plantas, e ter início rápido de atividade;
b. Ele deve ser compatível com o meio ambiente, isto é, ter baixa toxicidade
para organismos benéficos (seletividade), ter baixo resíduo no alimento,
ter baixo resíduo no alimento animal, ter degradação rápido no ambiente,
ter baixa ou não nenhuma lixiviação no solo;
c. Ele deve ser seguro para o usuário, isto é, ter baixa toxicidade, possuir
formulações adequadas, ter estabilidade no armazenamento, ter baixa
dosagem/concentração, ter compatibilidade com outras medidas de
manejo;
d. E, por último, devemos atentar para os aspectos econômicos, quer dizer,
é preciso ter boa relação custo/benefício, ter amplo espectro, ter
capacidade competitiva, patentabilidade, perfil inovativo do produto,
amplo espectro de aplicação.

Algumas vantagens que podemos citar do controle químico são:


eficiência, economia, ação rápida, facilidade de usar e ser geralmente seguro.
Mas nem tudo é perfeito nesse mundo, por isso os agrotóxicos também têm
problemas, desvantagens, entre as quais podemos citar: alívio somente
temporário; pode causar resistência; pode gerar resíduos tóxicos; é um problema
quando têm efeitos colaterais em organismos não alvo, geralmente organismos
benéficos (como as abelhas), e alguns ainda apresentam riscos diretos ao ser
humano.

2.2 Inseticidas

No controle de pragas, utilizamos os inseticidas. O poder tóxico de um


inseticida é determinado pela dose mínima que é necessária para matar o inseto-

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alvo. Essa dose é muito variável, podendo mudar conforme o produto, as
reações fisiológicas de cada inseto etc. Assim, cada inseticida apresenta uma
toxicidade diferente, conforme o inseto-alvo, a natureza química do inseticida, a
dose que empregamos, e também seu estado físico. Quanto maior o grau de
dispersão do inseticida, maior a área de contato com o inseto, sendo assim mais
eficiente.
Existem alguns requisitos que devemos levar em conta no momento da
escolha de qual inseticida utilizar:

1. Alvo de controle (identificação);


2. Modo de ação do agroquímico;
3. Época do ano;
4. Nível populacional;
5. Formulação mais adequada;
6. Seletividade aos inimigos naturais; e
7. Equipamento disponível.

O inseticida ainda pode agir de diferentes formas:

a. Por ingestão – quando ele é absorvido pelo intestino médio, circula pela
hemolinfa e atinge o sistema nervoso do inseto. Foi o caso dos inseticidas
mais antigos;
b. Por contato – o inseticida entra em contato com o corpo do inseto,
entrando pela epicutícula, indo através do tegumento até as terminações
nervosas. Mata pelo simples contato com as superfícies;
c. Por fumigação – o inseticida entra no inseto pelas vias respiratórias, sendo
inalado na forma de gás. Este penetra pelos espiráculos e vai agir no
sistema nervoso;
d. Por profundidade – quando o inseticida é capaz de atingir os insetos
através do tecido vegetal (ação translaminar), como sob uma folha ou
mesmo dentro de um fruto;
e. Sistêmico – é considerado sistêmico o inseticida que quando aplicado
sobre folhas, troncos, ramos, raízes e sementes, seja capaz de ser
absorvido e circular com a seiva em todas as partes da planta.

A formulação de um inseticida permite que ele seja utilizado de forma


adequada, conforme o organismo alvo e seu modo de ação. Por isso, a
formulação sempre compreende o ingrediente ativo, mais os inertes (Figura 2).

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Figura 2 – Produto comercial (formulação)

Produto técnico
(Ingrediente
ativo)
Formulação
comercial do
agrotóxico
(produto
Inertes (aditivos
comercial)
e
processamento)

As formulações são sempre constituídas de:

1. Ingrediente ativo (IA), que é a substância química que realmente controla


a praga;
2. Inertes, que podem ser ainda:
2.1. Carrier (veículo), como um solvente orgânico ou de argila mineral;
2.2. Ingredientes tensoativos, surfactantes, como adesionantes ou
espalhantes;
2.3. Outros ingredientes, como estabilizantes ou corantes.

Podemos ter as formulações secas e as formulações líquidas.


Entre as formulações secas, temos grânulos dispersíveis (WG), granulado
(GR), isca granulada (GB), pó molhável (WP), pó solúvel (SP), e pó seco (DP).

2.2.1 Pó seco

O pó seco (DP) é um pó para polvilhamento nas plantas, animais ou solo.


São refratários à água e são usados no campo sem qualquer diluição.
Normalmente contém de 1 a 10% de ingrediente ativo. O restante é inerte,
veículo (Figura 3).

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Figura 3 – Aplicação de pó seco

Crédito: Ground Picture/Shutterstock.

2.2.2 Pó molhável

No pó molhável (WP), o inseticida recebe um agente molhante, com alto


grau de absorção, para permitir sua mistura com água e assim formando
suspensões de grande estabilidade. Então o inerte deve ter grande capacidade
de absorção, o que ajuda na adesão do produto na folha.

2.2.3 Pó solúvel

O pó solúvel (SP) é uma formulação de ingrediente ativo sólido, que seja


solúvel em água na forma moída ou de pequenos cristais. Para uso em campo
deve ser dissolvida em água.

2.2.4 Granulados

Os granulados (GR) são formulados como pequenos grânulos. Utilizados


normalmente para o controle de pragas subterrâneas, ou como no caso dos
sistêmicos granulados, são absorvidos através da raiz e translocados para o
restante da planta, para controle de pragas da parte aérea. Um exemplo de
granulados são as iscas granuladas (GB), utilizadas no caso de saúvas. Nos
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grânulos dispersíveis (WG) é adicionado um tensoativo, para manter o
ingrediente ativo dispersante em calda, durante o processo de aplicação. Eles
não formam nuvens na hora da aplicação, porém têm alto custo e é um processo
muito complexo de se fazer.

2.3 Formulações líquidas

As formulações líquidas podem ser: suspensão concentrada (SC),


concentrado emulsionável (EC), concentrado solúvel (SL), suspensão de
encapsulado (CS), óleo mineral e vegetal, ultrabaixo volume (UL) (chamado
antes de UBV); fumigantes e outros (Figura 4).

Figura 4 – Aplicação de formulações líquidas

Crédito: S. Leitenberger/Adobe Stock.

2.3.1 Suspensões concentradas (SC)

As suspensões concentradas (SC) são compostas de ingrediente ativo,


água, tensoativo (dispersante/umectante), agente de estrutura e anticongelante.
O tensoativo é adicionado para molhar o IA antes do processo de moagem e
mantê-lo disperso, tanto na formulação quanto em calda durante a aplicação; já

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o agente de estrutura é adicionado para aumentar a viscosidade do meio, dando
assim maior tempo para decantação/compactação do ativo.

2.3.2 Óleos minerais

Os óleos minerais são uma mistura de óleos minerais parafínicos, com


alto grau de pureza.

2.3.3 Concentrado emulsionável (EC)

O concentrado emulsionável (EC) tem na sua composição o ingrediente


ativo, solvente orgânico e tensoativo (emulsionante). O tensoativo é usado para
emulsionar o ativo e o solvente, quando o produto é aplicado à água. Tem boa
eficiência biológica.

2.3.4 Concentrado solúvel (SL)

O concentrado solúvel (SL) é uma formulação líquida cujo objetivo é a


aplicação após a diluição em água, sob a forma de uma solução verdadeira de
ingrediente ativo.

2.3.5 Suspensão de encapsulado (CS)

A suspensão de encapsulado (CS) tem na sua composição ingrediente


ativo, solvente orgânico, tensoativo (dispersante), água, agente de estrutura e
copolímero (agente encapsulante). O tensoativo é utilizado para dispersar as
cápsulas e o copolímero (agente encapsulante) envolve o conjunto ingrediente
ativo mais o solvente, formando assim um filme sobre eles. Tem as vantagens
de ter pouca toxicidade e uma liberação controlada.

2.3.6 Óleos minerais

Os óleos minerais são uma mistura de óleos minerais parafínicos, com


alto grau de pureza. Têm boas qualidades de espalhamento, por isso são
normalmente utilizados como adjuvantes.

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2.3.7 Ultrabaixo volume (UL)

O ultrabaixo volume (UL) é uma formulação para fins especiais que possui
quase 100% de ingrediente ativo. Não deve receber diluição a campo. O produto
é oleoso e exige equipamento especial, para sua aplicação. Esta é mais eficiente
quando por via aérea, o que pode provocar deriva. Proporciona uma grande
economia de mão de obra, pois se aplica no máximo 8 litros por hectare. Porém,
isso resulta em uma calibração crítica do equipamento. Poucos são os
inseticidas formulados dessa maneira.

2.3.8 Fumigantes

Os fumigantes são aplicados por termonebulização (Figura 5). Têm como


vantagens o fato de facilmente preencherem um espaço grande e fechado. E
como desvantagens: precisam de equipamento muito especializado; é difícil
confinar totalmente um espaço, e o agrotóxico pode escapar; e ainda talvez seja
necessário o uso de equipamentos respiratórios para evitar problemas pela
inalação do agrotóxico. Podem ser utilizados ainda para ambientes abertos, com
fins muito específicos, por exemplo, o combate a mosquitos que são
intermediários de doenças.

Figura 5 – Fumigação em ambientes abertos contra mosquitos

Crédito: Sukjanya/Shutterstock.
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TEMA 3 – CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS

Sem dúvida, o uso de agrotóxicos foi o método de controle mais usado no


último século, principalmente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mas
começamos a ver que o uso indiscriminado e exagerado de agrotóxicos iniciou
uma série de mudanças drásticas no meio ambiente, as quais, inclusive, estavam
prejudicando as próprias lavouras, o ser humano e os outros seres vivos não
alvos destes agrotóxicos.
Entre essas mudanças, podemos citar: uma forte seleção de populações
resistentes aos agrotóxicos, desequilíbrios ecológicos em geral, efeito da
toxicidade dos agrotóxicos em outros organismos e o acúmulo de resíduos
destes agrotóxicos no ambiente. Vimos que precisávamos de opções diferentes
para fazer o controle de pragas na agricultura, daí surgiu o controle biológico.
Controle biológico consiste no uso de outros organismos para controle de
pragas. Esses organismos são então chamados de inimigos naturais, pois
naturalmente eles acabam por controlar as populações das pragas. Faz parte da
ecologia deles. A ideia básica não é que os inimigos naturais das pragas acabem
totalmente com elas, mas sim manter a população da praga em um nível não
econômico de danos, quer dizer, a praga não estará comprometendo o resultado
econômico da lavoura. Esses inimigos naturais podem ser predadores,
parasitoides ou microrganismos. Predador é aquele que se alimenta de outros
organismos, já os parasitoides colocam seus ovos nas pragas, que ao eclodirem,
as larvas acabam por matar a praga. Os microrganismos são fungos, bactérias
e vírus que colonizam a praga, matando-a ou, em alguns casos, esterilizando-a
(Figuras 6, 7 e 8).

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Figura 6 – Exemplo de predador. Afídeos e seu inimigo natural, as Joaninhas
(Coccinella sptempunctata; Coleoptera: Coccinellidae)

Crédito: Protasov AN/Shutterstock.

Figura 7 – Exemplo de parasitoide. Afídeo (Aphis fabae) sendo parasitado por


Diaeretiella rapae (Hymenoptera: Braconidae).

Crédito: Tomasz Klejdysz/Shutterstock.

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Figura 8 – Exemplo de microrganismo no controle biológico. Fungos
entomopatogênicos, Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, em
Rhynchophorus ferrugineus (Coleoptera).

Crédito: Protasov AN/Shutterstock.

O controle biológico tem algumas vantagens perante o controle químico:


ele é econômico em grandes áreas, é muito específico e seletivo, não tem efeitos
secundários, não polui o ambiente, não é tóxico para outros organismos, e,
principalmente, não tende a selecionar indivíduos resistentes. O controle
biológico é uma solução considerada como de longo prazo, porém tem algumas
desvantagens. Lembrem-se de que o mundo não é perfeito: o espectro de ação
não é tão grande; tem ação mais lenta, podendo demorar um pouco para agir;
precisa de condições favoráveis de aplicação, principalmente no que se refere à
temperatura e umidade do ar; o armazenamento é mais restrito, principalmente
ao longo do tempo; e só funcionam se forem aplicados de forma correta, com
estratégias adequadas.
Para um programa de controle biológico nem sempre precisamos
introduzir novos organismos (organismos exóticos) no ambiente. Podemos
estudar e selecionar organismos do próprio local que atuem como agentes de
controle biológico. Porém o mais comum é construirmos um programa de
controle biológico a partir de espécies (predadores, parasitoides e
microrganismos), que são conhecidos como bons agentes de controle biológico.
Para escolher um bom agente de controle biológico, precisamos levar em
conta alguns fatores: espécie alvo (praga), opções de controle biológico,
localização da praga, densidade da praga, ameaça da praga à lavoura, tempo
necessário para o controle se estabelecer, barreiras, ligações com a
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comunidade, biologia e ecologia do agente de controle biológico, condições
sazonais (clima, temperatura etc.), assim como aquisição e transporte do agente,
licenças e registros necessários para soltura deste agente, método de liberação,
entre outros.
Entre os microrganismos utilizados para o controle biológico, podemos
citar as bactérias, vírus e fungos.

3.1 Bactérias

A bactéria mais utilizada é o Bacillus thuringiensis (Bt), a qual produz um


cristal com substância tóxica, que é muito específica para o pH do aparelho
digestório de lagartas, que, por sua vez, ingerem o cristal, que é solubilizado e
então ativado no aparelho digestório, liberando uma toxina mortal para a lagarta.
Inclusive o gene que produz essa toxina já foi identificada e introduzida em
algumas plantas. Assim, essas plantas podem criar seus próprios princípios
ativos de combate às pragas. Não faz nenhum mal ao ser humano.

3.2 Vírus

Existem três famílias de vírus que são utilizadas no controle biológico:


Baculoviridae, Poxviridae e Reoviridae. A penetração do vírus na praga se dá
por via oral. Ele é aplicado na lavoura. As lagartas se alimentam das folhas que
contenham na sua superfície o vírus e penetram no sistema digestório, onde as
partículas virais são liberadas. Então começa uma infecção generalizada das
células do intestino e depois há a disseminação pelo sistema traqueal do inseto.
Como sintomas, podemos notar a falta de apetite, menor mobilidade e
clareamento da epiderme.

3.3 Fungos

Entre os microrganismos, ainda temos os fungos, que são os


microrganismos mais utilizados ao longo do tempo. Há relatos de fungos no
controle biológico desde o século XVIII. Os principais gêneros de fungos
utilizados são Beauveria, Metarhizium, Lecanicillium, Nomuraea, Hirsutella e
Isaria. As espécies mais utilizadas no mundo são a Beauveria bassiana e o
Metarhizium anisoplae. Os fungos têm algumas vantagens, como a grande
variabilidade genética, e são os patógenos de largo espectro, pois atacam ovos,

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larvas, pupas e adultos, com capacidade de disseminação horizontal e
penetração via tegumento.
O mecanismo de ação ocorre na seguinte sequência: adesão,
germinação, penetração, colonização do corpo, produção de toxinas e
reprodução. Depois da adesão, se houver condições ambientais favoráveis, ele
forma um tubo germinativo na epicutícula do inseto e penetra no inseto por
processos físicos e químicos. Assim, a hifa se engrossa e ramifica dentro do
corpo do inseto e começa a produzir uma série de toxinas, matando o inseto ou
deixando-o praticamente inerte. Depois disso, as hifas emergem novamente e
esporulam, reproduzindo-se e espalhando-se ainda mais pelo ambiente (Figura
9).

Figura 9 – Exemplo de insetos não afetados e afetados por Beauveria bassiana


e Metharizium anisoplae. Nota-se os corpos de frutificação dos fungos,
espalhando no ambiente mais fungos depois da morte da praga

Crédito: Protasov AN/Shutterstock.

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3.4 Parasitoides

O último grupo de organismos que podem ser utilizados no controle


biológico são os parasitoides, que são organismos que provocam a morte de
seus hospedeiros, com a finalidade de completar seu desenvolvimento. O
interessante é que são parasitas somente no seu estágio larval, e os adultos são
de vida livre. Já foram catalogadas mais de 200 mil espécies de parasitoides,
principalmente das ordens Hymenoptera (vulgarmente chamadas de vespinhas)
e Diptera. Porém, poucas são utilizadas efetivamente em controle biológico de
pragas da agricultura. Podem ser endo (quando se desenvolvem dentro da
praga), ou ectoparasita (quando se desenvolvem fora da praga) (Figura 10).

Figura 10 – Exemplo de parasitoides ectoparasitas

Crédito: Young Swee Ming/shutterstock.

Normalmente são muito específicos, escolhendo somente uma espécie


de hospedeiro: Neodusmetia sangwani (Hymenoptera: Encyrtidae), só parasita
a cochonilha‐dos‐capins – Antonina graminis (Hemiptera: Pseudococcidae). Mas
existem também os generalistas: Compsilura concinnata (Diptera: Tachinidae),
ataca mais de 100 hospedeiros diferentes de três ordens de insetos. O controle

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biológico com o uso de parasitoides é bem avançado no Brasil, desde a década
de 1970, principalmente na cultura da cana-de-açúcar.
Temos avançado tanto que, em 2022, foi lançada uma Portaria do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Secretaria de Defesa
Agropecuária, uma Especificação de Referência (ER) (Portaria n. 527/22) (Brasil,
2022). Esta Especificação de Referência (n. 51) coloca como ingrediente ativo
uma vespa parasitoide, Tetrastichus howardi, que pode assim ser utilizada para
o manejo de duas pragas: broca-da-cana (Diatraea saccharalis) e lagarta-de-cor-
parda (Thyrinteina arnobia). Os parasitoides podem ser classificados pela
maneira que exploram suas presas: Idiobiontes e coinobiontes.

3.4.1 Idiobiontes

Os idiobiontes injetam um veneno na presa, antes de fazerem a


oviposição. Desta maneira eles paralisam a presa permanentemente. A presa
não se alimenta, nem cresce mais, mas os ovos e posteriormente as larvas
podem se alimentar do hospedeiro (Figura 11).

3.4.2 Coinobiontes

Já os coinobiontes atacam os hospedeiros que, mesmo sendo


parasitados, ainda continuam se alimentando e crescendo, porém a taxa de
alimentação e crescimento é muito menor quando parasitados, assim como sua
imunidade a doenças em geral.

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Figura 11 – Vespa parasitoide (Sphecidae podalonia) predando uma lagarta de
Euchloe aegyptiaca (Lepidoptera: Pieridae), onde colocará os ovos após
paralisá-la

Crédito: Dan Shachar/Shutterstock.

TEMA 4 – MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

Apesar do ganho de produtividade com o uso de agrotóxicos de forma


mais intensa na agricultura, a partir da Segunda Guerra Mundial, o meio
ambiente sofreu muitas agressões e houve a necessidade de tomarmos outro
caminho no controle de pragas. Um desses caminhos é o Manejo Integrado de
Pragas (MIP), cujo objetivo é a diminuição no uso de agrotóxicos, diminuindo
assim a contaminação do meio ambiente, do ser humano e dos alimentos.

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Podemos definir o MIP como o uso de métodos de controle de pragas, de
forma isolada ou associada de forma harmoniosa, levando em conta a questão
de custo/benefício e seus impactos sobre o meio ambiente, produto e a
sociedade. É um método de controle de pragas que procura preservar e
aumentar aqueles fatores que causam a mortalidade natural das pragas,
pensando no uso integrado de diferentes métodos de controle, que são
escolhidos com base em parâmetros técnicos, econômicos, ecológicos e
sociológicos. Também é chamado de Manejo Ecológico de Pragas (MEP) e
Manejo Agroecológico de Pragas (MAP).
A ideia do MIP é manter a população das pragas abaixo do nível de dano
econômico, também chamado de Limite de Danos Econômicos (LDE). O LDE é
o nível de ataque da praga, no qual o benefício do controle iguala seu custo.
Assim não gastamos dinheiro à toa, e não jogamos sobre o meio ambiente
produtos tóxicos que não sejam necessários.
Para determinar o LDE, precisamos de algumas coisas:

1. Função do dano – devemos relacionar o dano (menos qualidade e/ou


quantidade) com a injúria, com o problema encontrado, sua incidência e/
ou severidade;
2. Preço da produção;
3. Função de controle – relacionando a diminuição da praga à medida de
controle; e
4. Custo do agrotóxico, incluindo para isso os custos de aplicação.

O LDE deve ser calculado para cada praga em cada cultura, por isso é
muito trabalhoso e institutos de pesquisa já têm esses valores pré-determinados.
O MIP tem alguns componentes básicos.

1. Diagnose: devemos identificar rapidamente quais são as pragas, seu ciclo


de vida e seus inimigos naturais (Figura 12).
2. Tomada de decisão: aqui devemos decidir se utilizamos ou não métodos
artificiais de controle (químico, biológico aplicado ou comportamental).
Essa decisão deve ser tomada com base em amostragem e outros fatores
pertinentes. Essa amostragem deve ser feita de tal maneira que os
resultados mostrem a real população da praga na lavoura alvo. Pode ser
feita pelo método do pano (como é o caso da soja), contagem direta,
armadilhas de solo, armadilha adesiva (Figura 13), bandeja de água (de

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preferência de cor amarela, pois a cor atrai os insetos) (Figura 14), frascos
caça mosca, armadilhas com feromônios sexuais (assim atraem os
insetos adultos), e armadilhas luminosas. Comparando-se o resultado das
armadilhas com o LDE, parte-se para a etapa seguinte (Figura 15).
3. Seleção dos métodos de controle de pragas: estes devem ser
selecionados utilizando-se parâmetros técnicos (eficácia), econômicos
(maior lucro), ecotoxicológicos (preservação do ambiente e da saúde
humana) e sociológicos (adaptáveis ao usuário). Podem ser métodos
culturais, controle biológico, controle químico, controle por
comportamento, resistência de plantas, e assim por diante (Figura 16).

Figura 12 – Identificação de pragas a campo

Crédito: Catherine Eckert/Shutterstock.

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Figura 13 – Armadilha adesiva pode ser acrescida ainda com feromônios, para
aumentar o grau de atração de adultos

Crédito: Martchan/Shutterstock.

Figura 14 – Armadilha de bandeja, de cor amarela, atraindo as pragas da


lavoura, para monitoramento

Crédito: Tomasz Klejdysz/Shutterstock.

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Figura 15 – A tomada de decisão por algum tipo de controle deve ser feita sempre
que a população da praga chega ao nível (Limite) de controle (NC), antes de esta
população chegar ao Nível (Limite) de Dano Econômico (NDE ou LDE). NE
significa Nível de Equilíbrio natural da espécie.

Temos de lembrar que, para controlar uma praga, não precisamos


exterminá-la simplesmente. É natural que existam diversos organismos no
ambiente, só precisamos mantê-la abaixo dos níveis de dano econômico.
Sugerimos consultar os diversos órgãos de pesquisa, para obter dados sobre os
níveis de dano econômico e nível de controle, para as diferentes culturas
agrícolas. A Embrapa, em especial, já desenvolveu Programas de Manejo
Integrado de Pragas para inúmeras culturas.

Saiba mais

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível


em: <www.embrapa.br>. Acesso em: 1 jan. 2023.

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Figura 16 – Base do MIP

TEMA 5 – OUTROS TIPOS DE CONTROLE DE PRAGAS

Além do controle químico, do controle biológico, do manejo integrado de


pragas, outros métodos de controle de pragas podem ser utilizados na
agricultura.

5.1 Métodos legislativos

Baseiam-se em leis e outros atos normativos, as três esferas de governo


(municipal, estadual e federal) e têm como objetivo legislar sobre o
comportamento dos interessados.

a. Serviço quarentenário: visa prevenir a entrada de pragas não existentes


no Brasil. Técnicos do Ministério da Agricultura devem fiscalizar as
fronteiras, de modo a detectar, tratar e destruir qualquer material que
possa conter uma praga ainda não existente no Brasil. São as chamadas
pragas quarentenárias.
b. Medidas obrigatórias de controle: são aquelas que obrigam o agricultor a
realizar alguma ação de controle, como destruir restos de cultura. São
mais comuns a nível estadual.
c. Fiscalização de comércio de agrotóxicos: visa evitar fraude nas
formulações, bem como analisar os resíduos tóxicos em alimentos, e a
cumprimento do período de carência.

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Lembre-se que a legislação pode mudar a qualquer instante. Por isso,
mantenha-se sempre atualizado.

5.2 Métodos mecânicos

Os métodos mecânicos são medidas de controle utilizadas em casos


específicos, por exemplo, quando fazemos catação manual de alguma praga,
formação de barreiras ou sulcos, para menor expansão da praga, uso de
armadilhas etc. Normalmente são feitos em pequenas áreas, como hortas, não
sendo viável em grandes áreas.

5.3 Métodos culturais

É quando se utilizam certas práticas culturais, com base na ecologia e


biologia dessas pragas, para controle.

5.3.1 Rotação de culturas

É o plantio alternado de diferentes culturas agrícolas, utilizando-se de


espécies de plantas que não sejam hospedeiras da mesma praga. Assim, a
praga de um ciclo não sobrevive em outro, pois não tem a sua planta hospedeira,
reduzindo assim a sua população (Figura 17).

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Figura 17 – Rotação de culturas

Crédito: Alchemist from India/Shutterstock.

5.3.2 Aração do solo

É o caso de pragas que, nas suas vidas adultas ou formas jovens (ovo,
larva, pupa, se for o caso), vivem no solo. A ideia é expor estes estágios à luz
solar, bem como pela destruição mecânica pelos implementos agrícolas.

5.3.3 Época de plantio e colheita

Simplesmente antecipando ou atrasando o plantio ou colheita, pode se


diminuir a infestação de uma praga, por causa do fotoperíodo, temperatura,
umidade, ou outros fatores. Mas temos de tomar cuidado para não atrapalhar o
ciclo da própria cultura agrícola.

5.3.4 Destruição de restos culturais

Algumas vezes os restos de culturas podem servir de abrigo para alguma


praga no período sem cultura.

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5.3.5 Poda

Utilizada principalmente em plantas perenes, como frutíferas, serve como


controle para certas pragas, principalmente as brocas e cochonilhas.

5.3.6 Adubação e irrigação

Uma planta que esteja bem nutrida suporta um dano muito melhor que
planta malnutrida, isso é válido tanto para nutrientes quanto para o estado hídrico
da planta.

5.4 Resistência de plantas

Uma planta resistente é aquela cuja soma relativa de qualidades


hereditárias influencia a intensidade de dano provocado pela praga em questão.
A resistência é sempre hereditária, isto é, sua prole ainda manterá as mesmas
características. Normalmente a resistência é específica a uma determinada
praga. Podemos ter vários níveis de resistência:

a. Imunidade – a planta é imune à praga e não sofre nenhum dano;


b. Alta resistência – a planta sofre pouquíssimos danos pela praga;
c. Resistência moderada – o dano é menor que o dano médio normalmente
provocado pela praga;
d. Suscetibilidade – a planta sofre mais o menos o mesmo dano que sofreria
se não tivesse resistência alguma;
e. Alta suscetibilidade – a planta sofre um dano maior que o dano médio.
Este tipo de variedade é rapidamente eliminado em um programa de
melhoramento genético de plantas.

Uma planta pode ainda ter uma resistência de não preferência, isto é,
inseto pode não querer atacar essa planta. Isso pode ocorrer por vários
mecanismos:

a. Quando a planta produz ou não produz estimulação para a sua localização


pela praga;
b. Quando a planta produz ou não estímulo para a interrupção da
movimentação da praga;
c. Quando a planta produz ou não estímulos para o início da alimentação da
praga; e
29
d. Quando a planta produz ou não estímulos para a manutenção da
alimentação.

Pode haver ainda a antibiose, ou seja, quando a planta hospedeira


provoca um efeito adverso à praga, principalmente à sua biologia, por exemplo,
no crescimento do inseto. Pode ser pela presença de uma toxina, inibidor de
crescimento ou reprodução, ou mesmo qualidades nutricionais ruins para a
praga.
E ainda podemos encontrar a chamada tolerância, quando a planta
suporta um dano maior pela praga, comparando-se com outras plantas da
mesma espécie ou de espécies diferentes.

5.5 Métodos de controle por comportamento

São métodos baseados na fisiologia dos insetos. Comparando-se aos


métodos químicos, os métodos de controle por comportamento têm algumas
vantagens:

a. Os insetos não desenvolvem resistência;


b. Não há perigo de intoxicação dos seres humanos e outros animais;
c. Não têm resíduos; e
d. Não provocam desequilíbrios ambientais.

Esse tipo de controle é baseado no uso de hormônios. Podem ser


hormônios endócrinos, neuro-hormônios, mas os mais utilizados são os
feromônios, os quais podem ser de vários tipos: de alarme, de dispersão, de
agregação, porém os mais comuns são feromônios sexuais. Os hormônios são
colocados em armadilhas, que atraem os insetos e nesta armadilha eles ficam
presos (Figura 18).

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Figura 18 – Armadilha com feromônio

Crédito: Tomasz Klejdysz/Shutterstock.

Nos métodos de controle por comportamento ainda podem ser utilizadas


armadilhas com atraentes de alimentação, nas quais colocamos substâncias
químicas que estão presentes nas plantas hospedeiras dessas pragas, com a
intenção de atração alimentar das pragas (Figura 19). Podem ser compostos
nutritivos da planta.
Ainda temos as armadilhas luminosas, que visam atrair insetos de voo
noturno principalmente. Muitas das pragas agrícolas são mariposas, e quando
adultas só voam durante a noite (Figura 20).

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Figura 19 – Armadilha muito simples, feita para atrair moscas das frutas. Dentro
há limão e açúcar

Crédito: Nkula/shutterstock.

Figura 20 – Armadilha luminosa movida à energia solar. Durante a noite, a


armadilha liga a sua lâmpada

Crédito: MA Bashar/Shutterstock.

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5.6 Métodos genéticos

Consistem basicamente no controle de pragas pela esterilização dos


insetos. Por esterilização entende-se o ato de tornar o inseto incapaz de gerar
descendentes. Muitas vezes ele ainda é capaz de fazer a cópula, porém essa
cópula não gera descendentes, por ser causada por infecundidade da fêmea,
inativação dos machos, incapacidade para acasalar, mutação letal nas células
reprodutivas de machos ou fêmeas. O método mais comum é criar a praga em
laboratório, separar os machos, esterilizá-los por radiação ionizante, por
exemplo, e soltar esses machos a campo. Os machos vão procurar as fêmeas
para acasalar, competindo com os machos naturais, porém não vão gerar
descendentes. Assim, diminui a população total da praga ao longo do tempo. É
a chamada técnica do inseto estéril (Figura 21).

Figura 21 – A produção de machos estéreis já é amplamente utilizada para o


controle de Aedes aegypti, mosquito da dengue, Chikungunya, zica e febre
amarela.

Crédito: Tacio Philip Sansonovski/Shutterstock.

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FINALIZANDO

Temos nos dias de hoje muitos métodos para controlarmos os insetos e


pragas em nossas lavouras. Mas devemos ter em mente, ao escolher qual
método utilizar, alguns fatores, como a questão de custo/benefício, o que é mais
barato, a questão humana, de perigo toxicológico ao ser humano e ao alimento
produzido, bem como a questão ambiental. Lembre-se de que nem toda praga
precisa ser exterminada, o que significa que podemos trabalhar com baixos
níveis populacionais dessas pragas, sem causar danos econômicos. E cada
caso é diferente, não existem receitas predeterminadas. Pense, raciocine.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto n. 4.074, de 4 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União,


Poder Legislativo, Brasília, DF, 8 jan. 2002.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento/Secretaria de


Defesa Agropecuária. Portaria SDA n. 527, de 7 de fevereiro de 2022. Diário
Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 fev. 2022.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos


Jurídicos. Lei n. 7.802, de 11 de julho de 1989. Diário Oficial da União, Poder
Legislativo, Brasília, DF, 12 jul. 1989.

FONSECA, E. M. S.; ARAÚJO, R. C. de. Fitossanidade: princípios básicos e


métodos de controle de doenças e plantas. São Paulo: Érica, 2015.

GALLO, D. et al. Manual de entomologia agrícola. São Paulo: Ed. Agronômica


Ceres, 1988.

PEDROSA-MACEDO, J. H. (org.) Pragas florestais do sul do Brasil. Brasília:


IPEF/SIF, 1993.

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