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1. Lei Federal nº 7.802/89

Incontestavelmente o entendimento dos artigos da Lei nº 7.802/89 é fundamental para a formação do


aprendizado sobre os diversos temas que envolvem os agrotóxicos. Por este motivo, vamos discorrer sobre
todos os artigos da Lei. Para os demais atos normativos, vamos comentar por assuntos afins, denominados de
assuntos temáticos.

Especificamente para este item, após a citação integral do artigo da Lei nº 7.802/89, serão realizados os
comentários necessários sobre os pontos mais relevantes.

Art. 1º A pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o


armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, serão regidos por esta Lei.

Este artigo definiu o escopo da Lei nº 7.802/89, onde é possível observar a abrangência e o seu vasto
campo de atuação, que serão explorados nos artigos posteriores.

Art. 2º Para os efeitos desta Lei consideram-se:

I - agrotóxicos e afins:

a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos


setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens,
na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de
ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou
da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;

b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e


inibidores de crescimento;

II - componentes: os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os


ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e afins.

Neste artigo estão as definições do que são agrotóxicos e afins e do que são os componentes. Mesmo
que o conceito de agrotóxicos e afins seja amplo, existem linhas que delimitam a atuação segundo a Lei. Há
quem considere uma “chinelada” sobre um inseto que esteja atacando uma cultura agrícola, um agrotóxico ou
afim. Argumenta-se para isto que se trata de um produto de processo físico, destinado ao uso no setor de
produção, cuja finalidade foi de alterar a flora, a fim de preservá-la da ação danosa de um ser vivo
considerado nocivo. Analisando friamente o que está definido na Lei, podemos até considerar esta “chinelada”
uma agrotóxico, passível de registro, inclusive. Mas não foi esta a intenção do legislador. O foco são os
produtos que realmente sejam utilizados na agricultura, ou no meio urbano ou no meio ambiente, visando o
controle de pragas. Após este preâmbulo, vamos à conceituação objetiva e esquemática sobre o que é um
agrotóxico ou afim.
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Quanto ao processo de obtenção, um agrotóxico pode ser o produto ou o agente de processo:
- físico,
- químico ou
- biológico.

Quanto ao local de uso, um agrotóxico pode ser utilizado:


- na agricultura (produção, armazenamento, beneficiamento, pastagem ou florestas implantadas),
- nos ambientes urbanos ou industriais
- nos ambientes hídricos, nas florestas nativas ou outros ecossistemas.

Quanto à finalidade, um agrotóxico deve servir para:


- alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres
vivos considerados nocivos.

Ou ainda que o produto seja um:


- desfolhante, dessecante, estimulador e inibidor de crescimento.

Caso o produto não se enquadre nestas definições, ele não poderá ser considerado um agrotóxico ou
afim e, portanto, não será regido pelas obrigações da Lei nº 7.802/89.

Com relação aos componentes, a conceituação da Lei não gera dúvida no entendimento, porém,
mesmo assim, vamos detalhar cada item conforme as definições que constam no Decreto nº 4.074/02.
Segundo o inciso II, do art. 2º da Lei nº 7.802/89, componentes são os princípios ativos, os produtos técnicos,
suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e afins. A
definição de cada componente consta no art. 1º do Decreto nº 4.074/02, conforme descrito abaixo:
(...)
I - aditivo - substância ou produto adicionado a agrotóxicos, componentes e afins, para melhorar
sua ação, função, durabilidade, estabilidade e detecção ou para facilitar o processo de produção;
XVII - ingrediente ativo ou princípio ativo - agente químico, físico ou biológico que confere
eficácia aos agrotóxicos e afins;
XVIII - ingrediente inerte ou outro ingrediente - substância ou produto não ativo em relação à
eficácia dos agrotóxicos e afins, usado apenas como veículo, diluente ou para conferir
características próprias às formulações;
XXIV - matéria-prima - substância, produto ou organismo utilizado na obtenção de um
ingrediente ativo, ou de um produto que o contenha, por processo químico, físico ou biológico;
XXXVII - produto técnico - produto obtido diretamente de matérias-primas por processo químico,
físico ou biológico, destinado à obtenção de produtos formulados ou de pré-misturas e cuja
composição contenha teor definido de ingrediente ativo e impurezas, podendo conter
estabilizantes e produtos relacionados, tais como isômeros;
(...)

Dando seqüência, vamos agora para o principal artigo da Lei, que é aquele que trata da obrigação do
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registro dos agrotóxicos, seus componentes e afins.

Art. 3º Os agrotóxicos, seus componentes e afins, de acordo com definição do art. 2º desta Lei,
só poderão ser produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados, se previamente
registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais
responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.

§ 1º Fica criado o registro especial temporário para agrotóxicos, seus componentes e afins,
quando se destinarem à pesquisa e à experimentação.

§ 2º Os registrantes e titulares de registro fornecerão, obrigatoriamente, à União, as inovações


concernentes aos dados fornecidos para o registro de seus produtos.
§ 3º Entidades públicas e privadas de ensino, assistência técnica e pesquisa poderão realizar
experimentação e pesquisas, e poderão fornecer laudos no campo da agronomia, toxicologia,
resíduos, química e meio ambiente.

§ 4º Quando organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio


ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de acordos e convênios,
alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins,
caberá à autoridade competente tomar imediatas providências, sob pena de responsabilidade.

§ 5º O registro para novo produto agrotóxico, seus componentes e afins, será concedido se a sua
ação tóxica sobre o ser humano e o meio ambiente for comprovadamente igual ou menor do
que a daqueles já registrados, para o mesmo fim, segundo os parâmetros fixados na
regulamentação desta Lei.

§ 6º Fica proibido o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins:

a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de
modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provoquem riscos ao meio ambiente e à
saúde pública;

b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;

c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo com os


resultados atualizados de experiências da comunidade científica;

d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com


procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica;

e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais,
tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados;

f) cujas características causem danos ao meio ambiente.

Este artigo é um dos mais importantes da Lei nº 7.802/89, porque somente o registro dos agrotóxicos e
afins é que possibilita que estes sejam produzidos, formulados, manipulados, exportados, importados,
comercializados e utilizados. Se isto não for cumprido, o produto é considerado um agrotóxico ilegal.

Para os componentes, é concedido o registro para os produtos técnicos, que é o componente que
contém o ingrediente ativo.
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O registro deverá ser feito em órgão federal competente, de acordo com as diretrizes e exigências dos
órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.

No caso dos agrotóxicos, seus componentes e afins utilizados na agricultura (produção,


armazenamento, beneficiamento, produtos agrícolas, pastagem ou florestas plantadas), o órgão competente
para realizar o registro é o MAPA, que segue as diretrizes e exigências dos órgãos da saúde, no caso o MS,
representado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do meio ambiente, no caso o MMA,
representado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
No caso dos agrotóxicos, seus componentes e afins utilizados nos ambientes urbanos, industriais,
domiciliares, públicos ou coletivos, no tratamento de água e no uso em campanhas de saúde pública, o órgão
competente para realizar o registro é a ANVISA, que segue as diretrizes e exigências do MAPA e do IBAMA.

No caso dos agrotóxicos, seus componentes e afins utilizados nos ambientes hídricos, nas florestas
nativas ou outros ecossistemas, o órgão competente para realizar o registro é o IBAMA, que segue as
diretrizes e exigências do MAPA e da ANVISA.

Como o produto a ser registrado deve ser submetido às pesquisas, foi criado o Registro Especial
Temporário – RET, conforme o § 1º do art. 3º.

No § 3º do art. 3º ficou definido que as entidades públicas e privadas de ensino, assistência técnica e
pesquisa poderão realizar experimentação e pesquisas, e poderão fornecer laudos no campo da agronomia,
toxicologia, resíduos, química e meio ambiente. Estas entidades de pesquisa, para terem seus estudos e laudos
aceitos para fins de registro, devem possuir credenciamento no MAPA, conforme veremos mais na frente.

No § 4º do art. 3º está um dos amparos legais para a realização das reavaliações dos agrotóxicos, onde
os registros podem ser cancelados totalmente ou terem alguma restrição de produção, comercialização ou uso,
visando extinguir os efeitos negativos que motivaram o processo de reavaliação.

No § 5º do art. 3º ficou definido um mecanismo para impedir o registro de agrotóxicos, que por mais
que sejam eficazes no combate às pragas, possuem ação mais tóxica ao ser humano e ao meio ambiente do
que outros agrotóxicos já registrados para a mesma finalidade. Neste parágrafo está também um dos motivos
de porque é cada vez mais difícil o registro de agrotóxicos com novos ingredientes ativos, que
obrigatoriamente devem respeitar este princípio legal.

No § 5º do art. 3º estão listados os motivos que necessariamente levam a proibição de agrotóxicos no


Brasil. Procurou-se preservar ao máximo qualquer risco à saúde e ao meio ambiente. O risco analisado levou
em consideração tanto as exposições agudas, onde apenas um único contato já é danoso, quanto às exposições
crônicas ao agrotóxico, ou seja, aquelas em que o ser humano ou o meio ambiente, mesmo em contato com
quantidades pequenas do agrotóxico ou seu resíduo, no decorrer do tempo, podem desencadear doenças,
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distúrbios ou danos à saúde ou ao meio ambiente.

Art. 4º As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços na aplicação de


agrotóxicos, seus componentes e afins, ou que os produzam, importem, exportem ou
comercializem, ficam obrigadas a promover os seus registros nos órgãos competentes, do
Estado ou do Município, atendidas as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis
que atuam nas áreas da saúde, do meio ambiente e da agricultura.
Parágrafo único. São prestadoras de serviços as pessoas físicas e jurídicas que executam
trabalho de prevenção, destruição e controle de seres vivos, considerados nocivos, aplicando
agrotóxicos, seus componentes e afins.

Também considerado um dos mais importantes da Lei nº 7.802/89, este artigo define a necessidade do
registro dos estabelecimentos, aqui considerado, como pessoas físicas ou jurídicas, que sejam produtoras,
exportadoras, importadoras, comercializadoras ou que prestem serviço na aplicação de agrotóxicos. Note que
o usuário, que na maioria dos casos, é o agricultor, não necessita de registro.

O registro deve ser feito nos órgãos competentes do Estado ou do Município, atendidas as exigências
do MAPA, ANVISA e IBAMA. O que predomina são os registros de estabelecimentos realizados pelos
órgãos estaduais responsáveis pela agricultura ou pelas agências estaduais de defesa agropecuária. Poucos são
os registros feitos pelos órgãos estaduais do meio ambiente e praticamente não existe registro de
estabelecimentos em órgãos municipais.

Foi definido também, no parágrafo único, o que são as prestadoras de serviços no uso de agrotóxicos e
afins, da qual são conhecidas também como prestadoras de serviços fitossanitários, quando executam a
aplicação de agrotóxicos em vegetais e partes de vegetais que circulam dentro do território nacional e
prestadoras de serviços fitossanitários com fins quarentenários quando realizam tratamentos fitossanitários
com fins quarentenários no trânsito internacional de vegetais, seus produtos, subprodutos e embalagens de
madeira.

Art. 5º Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a impugnação, em nome


próprio, do registro de agrotóxicos e afins, argüindo prejuízos ao meio ambiente, à saúde
humana e dos animais:

I - entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor;

II - partidos políticos, com representação no Congresso Nacional;

III - entidades legalmente constituídas para defesa dos interesses difusos relacionados à
proteção do consumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais.

§ 1º Para efeito de registro e pedido de cancelamento ou impugnação de agrotóxicos e afins,


todas as informações toxicológicas de contaminação ambiental e comportamento genético, bem
como os efeitos no mecanismo hormonal, são de responsabilidade do estabelecimento
registrante ou da entidade impugnante e devem proceder de laboratórios nacionais ou
internacionais.

§ 2º A regulamentação desta Lei estabelecerá condições para o processo de impugnação ou


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cancelamento do registro, determinando que o prazo de tramitação não exceda 90 (noventa)
dias e que os resultados apurados sejam publicados.

§ 3º Protocolado o pedido de registro, será publicado no Diário Oficial da União um resumo do


mesmo.
Este artigo traz mais um mecanismo que permite que a sociedade, legitimada por entidades de classes,
partidos políticos ou entidades de defesa de direitos difusos relacionados à proteção do meio ambiente, à
saúde humana e dos animais, possa requerer junto ao órgão registrante, solicitação de cancelamento ou
impugnação do registro de qualquer agrotóxico ou afim registrado ou em processo de registro.

De acordo com o art. 33 do Decreto nº 4.074/02, o requerimento de cancelamento ou impugnação deve


estar acompanhado de laudos técnicos firmados por, no mínimo, dois profissionais habilitados, acompanhados
dos relatórios dos estudos realizados por laboratórios, seguindo metodologias reconhecidas
internacionalmente.

Art. 6º As embalagens dos agrotóxicos e afins deverão atender, entre outros, aos seguintes
requisitos:

I - devem ser projetadas e fabricadas de forma a impedir qualquer vazamento, evaporação,


perda ou alteração de seu conteúdo e de modo a facilitar as operações de lavagem,
classificação, reutilização e reciclagem; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)

II - os materiais de que forem feitas devem ser insuscetíveis de ser atacados pelo conteúdo ou de
formar com ele combinações nocivas ou perigosas;

III - devem ser suficientemente resistentes em todas as suas partes, de forma a não sofrer
enfraquecimento e a responder adequadamente às exigências de sua normal conservação;

IV - devem ser providas de um lacre que seja irremediavelmente destruído ao ser aberto pela
primeira vez.

§ 1o O fracionamento e a reembalagem de agrotóxicos e afins com o objetivo de


comercialização somente poderão ser realizados pela empresa produtora, ou por
estabelecimento devidamente credenciado, sob responsabilidade daquela, em locais e condições
previamente autorizados pelos órgãos competentes. (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

§ 2o Os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão efetuar a devolução das


embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de
acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contado da
data de compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante, podendo a devolução
ser intermediada por postos ou centros de recolhimento, desde que autorizados e fiscalizados
pelo órgão competente.(Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

§ 3o Quando o produto não for fabricado no País, assumirá a responsabilidade de que trata o §
2o a pessoa física ou jurídica responsável pela importação e, tratando-se de produto importado
submetido a processamento industrial ou a novo acondicionamento, caberá ao órgão
registrante defini-la.(Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

§ 4o As embalagens rígidas que contiverem formulações miscíveis ou dispersíveis em água


deverão ser submetidas pelo usuário à operação de tríplice lavagem, ou tecnologia equivalente,
conforme normas técnicas oriundas dos órgãos competentes e orientação constante de seus
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rótulos e bulas.(Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

§ 5o As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, são


responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e
comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela ação
fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à sua reutilização,
reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e
sanitário-ambientais competentes. (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

§ 6o As empresas produtoras de equipamentos para pulverização deverão, no prazo de cento e


oitenta dias da publicação desta Lei, inserir nos novos equipamentos adaptações destinadas a
facilitar as operações de tríplice lavagem ou tecnologia equivalente.(Incluído pela Lei nº 9.974,
de 2000)

Os requisitos exigidos para as embalagens definidos neste artigo, priorizam a segurança dos usuários
com regras que evitem sobretudo, qualquer vazamento do produto durante o armazenamento e manipulação.
São exigidos também que as embalagens sejam fabricadas com materiais que conservem a eficácia dos
agrotóxicos e evitem o aumento de sua toxicidade, por possíveis reações do produto com a embalagem, além
da necessidade da embalagem possuir mecanismos de segurança contra falsificações e fraudes.

Convém destacar que com a publicação da Lei nº 9.974, de 06 de junho de 2000, foram incluídos na
Lei nº 7.802/89, além de obrigações para que as embalagens sejam construídas de forma a facilitar as
operações de lavagem, classificação, reutilização e reciclagem, parágrafos com obrigações sobre a devolução
das embalagens vazias e regras para o fracionamento de embalagens.

A devolução das embalagens vazias de agrotóxicos é considerada também um sistema de logística


reversa dos agrotóxicos, onde todos possuem obrigações, conforme esquema abaixo:

O comerciante informa na Nota Fiscal o local de devolução das embalagens;

O usuário (agricultor), após o uso, realiza a tríplice lavagem nas embalagens rígidas que possuem
agrotóxicos solúveis em água. O usuário armazena em local adequado as embalagens lavadas e as não
lavadas, incluindo as tampas, até a devolução, em no máximo, 01 ano após o uso, no local indicado pelo
comerciante.

O comerciante ou o posto de recebimento vinculado a ele recebe as embalagens e emite um


comprovante de devolução ao usuário.

O produtor de agrotóxico realiza o recolhimento das embalagens para reutilização, reciclagem ou


inutilização, conforme o caso e as condições da embalagem.

Os fabricantes de equipamentos de pulverização inserem nos novos equipamentos adaptações


destinadas a facilitar as operações de tríplice lavagem ou tecnologia equivalente.

No final, o resultado é que o problema causado pelas embalagens vazias de agrotóxicos, que antes
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desta Lei, recebia orientações com destinos diversos, entre eles, a queima o enterrio das embalagens, foram
praticamente anulados com a implantação do sistema de logística reversa utilizado pela Lei nº 7.802/89 e pelo
Decreto nº 4.074/02.

Abaixo estão descritos dois artigos sobre este assunto e que fazem parte do Decreto nº 7.404, de 23 de
dezembro de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

(...)
Art. 13. A logística reversa é o instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado
pelo conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
Art. 14. O sistema de logística reversa de agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, seguirá o
disposto na Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, e no Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de 2002.
(...)

Encerrando o artigo que trata das embalagens de agrotóxicos, veremos na seqüência as regras para
rótulo e bula.

Art. 7o Para serem vendidos ou expostos à venda em todo o território nacional, os agrotóxicos e
afins são obrigados a exibir rótulos próprios e bulas, redigidos em português, que contenham,
entre outros, os seguintes dados: (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)

I - indicações para a identificação do produto, compreendendo:

a) o nome do produto;

b) o nome e a percentagem de cada princípio ativo e a percentagem total dos ingredientes


inertes que contém;

c) a quantidade de agrotóxicos, componentes ou afins, que a embalagem contém, expressa em


unidades de peso ou volume, conforme o caso;

d) o nome e o endereço do fabricante e do importador;

e) os números de registro do produto e do estabelecimento fabricante ou importador;

f) o número do lote ou da partida;

g) um resumo dos principais usos do produto;

h) a classificação toxicológica do produto;

II - instruções para utilização, que compreendam:

a) a data de fabricação e de vencimento;

b) o intervalo de segurança, assim entendido o tempo que deverá transcorrer entre a aplicação e
a colheita, uso ou consumo, a semeadura ou plantação, e a semeadura ou plantação do cultivo
seguinte, conforme o caso;
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c) informações sobre o modo de utilização, incluídas, entre outras: a indicação de onde ou
sobre o que deve ser aplicado; o nome comum da praga ou enfermidade que se pode com ele
combater ou os efeitos que se pode obter; a época em que a aplicação deve ser feita; o número
de aplicações e o espaçamento entre elas, se for o caso; as doses e os limites de sua utilização;

d) informações sobre os equipamentos a serem usados e a descrição dos processos de tríplice


lavagem ou tecnologia equivalente, procedimentos para a devolução, destinação, transporte,
reciclagem, reutilização e inutilização das embalagens vazias e efeitos sobre o meio ambiente
decorrentes da destinação inadequada dos recipientes; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de
2000)

III - informações relativas aos perigos potenciais, compreendidos:

a) os possíveis efeitos prejudiciais sobre a saúde do homem, dos animais e sobre o meio
ambiente;

b) precauções para evitar danos a pessoas que os aplicam ou manipulam e a terceiros, aos
animais domésticos, fauna, flora e meio ambiente;

c) símbolos de perigo e frases de advertência padronizados, de acordo com a classificação


toxicológica do produto;

d) instruções para o caso de acidente, incluindo sintomas de alarme, primeiros socorros,


antídotos e recomendações para os médicos;

IV - recomendação para que o usuário leia o rótulo antes de utilizar o produto.

§ 1º Os textos e símbolos impressos nos rótulos serão claramente visíveis e facilmente legíveis
em condições normais e por pessoas comuns.

§ 2º Fica facultada a inscrição, nos rótulos, de dados não estabelecidos como obrigatórios,
desde que:

I - não dificultem a visibilidade e a compreensão dos dados obrigatórios;

II - não contenham:

a) afirmações ou imagens que possam induzir o usuário a erro quanto à natureza, composição,
segurança e eficácia do produto, e sua adequação ao uso;

b) comparações falsas ou equívocas com outros produtos;

c) indicações que contradigam as informações obrigatórias;

d) declarações de propriedade relativas à inocuidade, tais como "seguro", "não venenoso",


"não tóxico"; com ou sem uma frase complementar, como: "quando utilizado segundo as
instruções";

e) afirmações de que o produto é recomendado por qualquer órgão do Governo.

§ 3º Quando, mediante aprovação do órgão competente, for juntado folheto complementar que
amplie os dados do rótulo, ou que contenha dados que obrigatoriamente deste devessem
constar, mas que nele não couberam, pelas dimensões reduzidas da embalagem, observar-se-á o
seguinte:
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I - deve-se incluir no rótulo frase que recomende a leitura do folheto anexo, antes da utilização
do produto;

II - em qualquer hipótese, os símbolos de perigo, o nome do produto, as precauções e instruções


de primeiros socorros, bem como o nome e o endereço do fabricante ou importador devem
constar tanto do rótulo como do folheto.

Neste artigo podemos destacar que nos rótulos constam informações sobre o produto, instruções de uso
e as informações sobre as precauções com a saúde e o meio ambiente.

Com relação à saúde e ao meio ambiente destacam-se a obrigatoriedade da faixa colorida com a
classificação toxicológica, a classificação quanto ao potencial de periculosidade ambiental, os pictogramas e o
símbolo de perigo com uma caveira, duas tíbias cruzadas e a expressão CUIDADO VENENO.

Por mais que o § 2º do art. 7º tenha definido que é facultada a inscrição, nos rótulos, de dados não
estabelecidos como obrigatórios, desde que cumpram os incisos I e II deste mesmo parágrafo, o que ocorre é
que pelo volume de informações que são obrigatórias segundo as exigências que constam no art. 48 do
Decreto nº 4.074/02, a inclusão de mais informações é praticamente impossível. Ademais, conforme prevê o §
1º do art. 7º, os textos e símbolos impressos nos rótulos devem ser claramente visíveis e facilmente legíveis
em condições normais e por pessoas comuns. Esta afirmação, todavia é de difícil mensuração e interpretação.
Para facilitar o entendimento e diminuir o aspecto discricionário desta interpretação poderia ter sido definido
pelo legislador um padrão mínimo de tamanho de letra que deveria ser utilizada no rótulo.

O folheto complementar previsto no § 3º do art. 7º acabou perdendo a função após a regulamentação


da Lei nº 7.802/89, uma vez que no § 2º do art. 49 do Decreto nº 4.074/02 ficou definido que a bula supre o
folheto complementar.

Art. 8º A propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em qualquer meio de


comunicação, conterá, obrigatoriamente, clara advertência sobre os riscos do produto à saúde
dos homens, animais e ao meio ambiente, e observará o seguinte:

I - estimulará os compradores e usuários a ler atentamente o rótulo e, se for o caso, o folheto,


ou a pedir que alguém os leia para eles, se não souberem ler;

II - não conterá nenhuma representação visual de práticas potencialmente perigosas, tais como
a manipulação ou aplicação sem equipamento protetor, o uso em proximidade de alimentos ou
em presença de crianças;

III - obedecerá ao disposto no inciso II do § 2º do art. 7º desta Lei.

Além destas restrições, as empresas devem cumprir as exigências estabelecidas na Lei nº 9.294/96 e no
Decreto nº 2.018/96, que dispõe sobre restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas
alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da Constituição
Federal.
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Art. 9º No exercício de sua competência, a União adotará as seguintes providências:

I - legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação, importação,


transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico;

II - controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e exportação;

III - analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, nacionais e importados;

IV - controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação.

Do artigo 9º até o artigo 12 estão definidas as competências da União, dos Estados e dos Municípios.

Art. 10. Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos arts. 23 e 24 da Constituição
Federal, legislar sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos
agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o
armazenamento e o transporte interno.

Sobre as competências, a Constituição Federal de 1988 definiu algumas distinções que merecem
destaque, por fazerem parte da estrutura da legislação dos agrotóxicos. Resumidamente, o caput dos artigos da
Constituição destacados abaixo já nos mostra esta divisão de competências.

Exemplos de competência na Constituição Federal de 1988:


(...)
Art. 21. Compete à União:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)

O entendimento básico sobre este artigo é que os Estados e o Distrito Federal possuem competências
para fiscalizar o uso, o consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte interno, bem como para legislar
concorrentemente sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus
componentes e afins.

Ao legislar concorrentemente, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não podem contrariar as


diretrizes da Lei Federal, assim como não podem ser menos restritivos com relação às obrigações e exigências
definidas na Lei Federal.

Em linhas gerais, segundo a hierarquia dos atos normativos entre os entes federativos, temos que as
normas dos municípios não podem contrariar as normas estaduais e federais, assim como as normas estaduais
não podem contrariar as normas da União. Por outro lado, a União também possui limitação, pois não pode
contrariar a Constituição.
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Ainda é bom ressaltar que os Estados e o Distrito Federal podem legislar sobre a produção de
agrotóxicos e afins, mas não lhes compete controlar ou fiscalizar a produção, pois, como vimos anteriormente,
esta atividade é exclusiva dos órgãos da União.

Art. 11. Cabe ao Município legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento dos
agrotóxicos, seus componentes e afins.

Nesse artigo também podemos destacar a obrigação dos Municípios com relação à necessidade de
coerência da legislação municipal em relação à Lei Federal, inclusive ao fato da legislação municipal não ser
menos restritivo quanto às exigências relacionadas ao uso e armazenamento dos agrotóxicos, seus
componentes e afins.

Art. 12. A União, através dos órgãos competentes, prestará o apoio necessário às ações de
controle e fiscalização, à Unidade da Federação que não dispuser dos meios necessários.

Art. 12A. Compete ao Poder Público a fiscalização: (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

I – da devolução e destinação adequada de embalagens vazias de agrotóxicos, seus


componentes e afins, de produtos apreendidos pela ação fiscalizadora e daqueles impróprios
para utilização ou em desuso; (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

II – do armazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de embalagens vazias


e produtos referidos no inciso I. (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000)

Junto ao Art. 12 foi incluído pela Lei nº 9.974/00, o Art. 12A . Neste artigo, ficou definido que ao
Poder Público compete a fiscalização da devolução, armazenamento, transporte e outros pontos envolvendo as
embalagens vazias. Nota-se que a definição do Poder Público ficou propositadamente estabelecida de forma
genérica, sem fazer distinção de quais Poderes e de qual instância do Poder refere-se esta atribuição,
ampliando ao máximo as ações de fiscalização, especificamente sobre as embalagens vazias.

Art. 13. A venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário próprio,
prescrito por profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais que forem previstos
na regulamentação desta Lei.

O receituário próprio, comumente chamado de receituário agronômico, é um instrumento de exercício


profissional que busca, através do conhecimento amplo da situação, decidir pela prática fitossanitária mais
adequada.

Por se tratar de uma atividade reservada aos profissionais habilitados, não cabe ao agricultor decidir
quando e como aplicar o agrotóxico. Esta é uma decisão do profissional, que pode inclusive, decidir pela
aplicação de outras técnicas, pelo manejo integrado ou até mesmo dispensar o uso do agrotóxico.

Os profissionais habilitados para a emissão do receituário agronômico são os Engenheiros Agrônomos


e os Engenheiros Florestais. Todavia, após a publicação do Decreto nº 4.560, de 30 de dezembro de 2002, os
13
Técnicos Agrícolas de nível médio ou de 2º grau receberam autorização para responsabilizar-se pela emissão
de receituários.

O único caso excepcional da não necessidade de receituário refere-se aos produtos fitossanitários com
uso aprovado para a agricultura orgânica, que, a despeito de também serem obrigados a seguirem os ditames
desta Lei, possuem algumas particularidades como esta de não necessitar de receituário para o uso.

Art. 14. As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das
pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e
destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não cumprirem o
disposto na legislação pertinente, cabem: (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)

a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida;

b) ao usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo com o receituário ou


as recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação dada
pela Lei nº 9.974, de 2000)

c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a


receita ou recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação
dada pela Lei nº 9.974, de 2000)

d) ao registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações
incorretas;

e) ao produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do


registro do produto, do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação às
embalagens vazias em conformidade com a legislação pertinente;(Redação dada pela Lei nº
9.974, de 2000)

f) ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados à
proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e
aplicação dos produtos.

Neste artigo, observamos que as pessoas envolvidas de alguma forma com a produção, a prescrição, a
prestação de serviço e ao uso dos agrotóxicos, podem ser responsabilizadas por danos causados à saúde das
pessoas ou ao meio ambiente. A responsabilização pode ser administrativa, culminando na aplicação das
sanções previstas no art. 17 da Lei nº 7.802/89. Pode ser uma responsabilidade civil, cabendo a quem deu
causa, o pagamento de indenização por prejuízos a terceiros, por exemplo. E, ainda mais grave, quando se
trata de uma responsabilidade penal, podendo ser imputado à pessoa que cometeu o crime, penas de reclusão e
multa.

Art. 15. Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, prestar serviço, der destinação
a resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento
às exigências estabelecidas na legislação pertinente estará sujeito à pena de reclusão, de dois a
quatro anos, além de multa. (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)
14
Neste caso, o artigo trata exclusivamente do crime pelo descumprimento às exigências estabelecidas na
legislação pertinente, relacionada à produção, o transporte, a aplicação, a prestação de serviço na aplicação do
agrotóxico e o destino a resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins.

Art. 16. O empregador, profissional responsável ou o prestador de serviço, que deixar de


promover as medidas necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente, estará sujeito à pena
de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, além de multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. Em
caso de culpa, será punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, além de multa de 50
(cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR.

No referido artigo o crime pode também ser imputado ao empregador, ao profissional responsável ou
ao prestador de serviço, independente de estar diretamente vinculado à ação de aplicação do agrotóxico,
quando estes deixarem de promover as medidas necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente.

Nos artigos 14 e 16, observa-se que a preocupação central com relação à responsabilização
administrativa, civil e penal está vinculada exclusivamente a possíveis danos à saúde e ao meio ambiente. Não
se vislumbrou nestes artigos, a responsabilização por danos às lavouras e cultivos, por exemplo. Já no artigo
15, a ocorrência do crime já pode ser imputada a quem, em qualquer situação vinculada à produção, o
transporte, a aplicação, a prestação de serviço na aplicação do agrotóxico e o destino a resíduos e embalagens
vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, descumprir com as exigências estabelecidas na legislação
pertinente.

Art. 17. Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração de disposições
desta Lei acarretará, isolada ou cumulativamente, nos termos previstos em regulamento,
independente das medidas cautelares de embargo de estabelecimento e apreensão do produto ou
alimentos contaminados, a aplicação das seguintes sanções:

I - advertência;

II - multa de até 1000 (mil) vezes o Maior Valor de Referência - MVR, aplicável em dobro em
caso de reincidência;

III - condenação de produto;

IV - inutilização de produto;

V - suspensão de autorização, registro ou licença;

VI - cancelamento de autorização, registro ou licença;

VII - interdição temporária ou definitiva de estabelecimento;

VIII - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, com resíduos acima do permitido;

IX - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, nos quais tenha havido aplicação de
agrotóxicos de uso não autorizado, a critério do órgão competente.
15
Parágrafo único. A autoridade fiscalizadora fará a divulgação das sanções impostas aos
infratores desta Lei.

Este artigo trata das sanções previstas pelas infrações administrativas. As sanções podem ser aplicadas
isoladas ou cumulativamente, por exemplo:

Exemplo de sanção isolada:


Advertência
Multa

Exemplo de sanção cumulativa:


Multa (por infração ao art. 3º) + Multa (por infração ao art. 4º)
Multa + Condenação do produto
Multa + Interdição Temporária do Estabelecimento

Ficou definido também neste artigo, que as sanções administrativas devem ser aplicadas, sem prejuízo
das responsabilidades civil e penal cabíveis e independente das medidas cautelares de embargo de
estabelecimento e apreensão do produto ou alimentos contaminados. Ou seja, a apuração das
responsabilidades civil e penal deve seguir seu trâmite normal, mesmo que tenha um processo administrativo
também em curso. Assim também acontece com as medidas cautelares de embargo de estabelecimento e
apreensão do produto ou alimento contaminado. A medida cautelar, com o próprio nome já sugere, é uma
ação sumária, amparada nos princípios da legalidade e da precaução, onde diante da previsão de ofensa
iminente ao interesse público e visando prevenir um mal ou prejuízo maior, o Fiscal Agropecuário, impõe ao
infrator esta condição, mediante a emissão de um termo específico.

Art. 18. Após a conclusão do processo administrativo, os agrotóxicos e afins, apreendidos como
resultado da ação fiscalizadora, serão inutilizados ou poderão ter outro destino, a critério da
autoridade competente.

Parágrafo único. Os custos referentes a quaisquer dos procedimentos mencionados neste artigo
correrão por conta do infrator.

A inutilização de um agrotóxico requer uma série de cuidados, sobretudo os ambientais, já que este
procedimento quase sempre é realizado por meio de incineração, que obrigatoriamente deve ser realizado em
fornos licenciados ambientalmente. Todavia, sempre que houver viabilidade técnica, as autoridades
competentes, podem decidir por outra modalidade de destino que seja menos impactante ao meio ambiente e a
saúde das pessoas, como o reprocessamento do agrotóxico apreendido.

Art. 19. O Poder Executivo desenvolverá ações de instrução, divulgação e esclarecimento, que
estimulem o uso seguro e eficaz dos agrotóxicos, seus componentes e afins, com o objetivo de
reduzir os efeitos prejudiciais para os seres humanos e o meio ambiente e de prevenir acidentes
decorrentes de sua utilização imprópria.

Parágrafo único. As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus


componentes e afins, implementarão, em colaboração com o Poder Público, programas
16
educativos e mecanismos de controle e estímulo à devolução das embalagens vazias por parte
dos usuários, no prazo de cento e oitenta dias contado da publicação desta Lei. (Incluído pela
Lei nº 9.974, de 2000)

Este artigo trata das ações de educação sanitária envolvendo os agrotóxicos, assunto que será tratado
em capítulo específico nesta apostila.

Art. 20. As empresas e os prestadores de serviços que já exercem atividades no ramo de


agrotóxicos, seus componentes e afins, têm o prazo de até 6 (seis) meses, a partir da
regulamentação desta Lei, para se adaptarem às suas exigências.

Parágrafo único. Aos titulares do registro de produtos agrotóxicos que têm como componentes
os organoclorados será exigida imediata reavaliação de seu registro, nos termos desta Lei.

Neste artigo estão algumas disposições transitórias da Lei, que hoje não possuem mais aplicação,
devido ao tempo transcorrido desde a sua publicação.

Art. 21. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, contado da
data de sua publicação.

A Lei nº 7.802/89 foi regulamentada primeiramente pelo Decreto nº 98.816, de 11 de janeiro de 1990,
que foi revogado pelo Decreto nº 4.074, de 04 de janeiro de 2002, vigente até a presente data.

Art. 22. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 23. Revogam-se as disposições em contrário.

Agora, após encerrarmos a discussão dos artigos da Lei nº 7.802/89, vamos tratar de alguns assuntos
temáticos relacionados à legislação dos agrotóxicos, inclusive de assuntos que estão pormenorizados na
legislação complementar, como as Instruções Normativas.

2. Competências

O sistema de competências no controle de agrotóxicos envolve vários órgãos governamentais, tanto na


esfera federal, quanto na estadual e municipal, conforme demonstrado no quadro 1 e na figura 1.
17
Quadro 1: Sistema de Competências nas Ações de Legislar e Fiscalizar os Agrotóxicos.

Fonte: Ralph Rabelo

Figura 1: Sistema de Competências no Controle de Agrotóxicos, seus componentes e afins.


18
A competência pelo registro dos agrotóxicos, seus componentes e afins para uso agrícola é do MAPA,
que deve seguir as diretrizes e exigências também da ANVISA e do IBAMA.

A competência pela fiscalização da pesquisa, produção, importação, exportação, coleta de amostras de


agrotóxicos seus componentes e afins para uso agrícola e o uso de agrotóxicos e afins em tratamentos
quarentenários e fitossanitários no trânsito internacional de vegetais é do MAPA.

A competência pela coleta de amostra de produtos agrícolas para análise de resíduos de agrotóxicos e
afins é do MAPA e da ANVISA.

A competência pela fiscalização do comércio, uso, armazenamento, prestação de serviços, transporte


interno, embalagens vazias, coleta de amostras de agrotóxicos e coleta de amostra de produtos agrícolas para
análise de resíduos de agrotóxicos e afins é dos órgãos estaduais, que podem ser os órgãos estaduais de
agricultura, saúde ou meio ambiente.

Entre os órgãos da União, as competências podem ser assim discriminadas:


CABEM AO MAPA, MS (ANVISA) e MMA (IBAMA), NO ÂMBITO DE SUAS RESPECTIVAS
ÁREAS DE COMPETÊNCIAS:
- estabelecer diretrizes para o registro;
- estabelecer o LMR - Limite Máximo de Resíduo e o Intervalo de Segurança dos agrotóxicos e afins;
- estabelecer os parâmetros para rótulo e bula;
- estabelecer as metodologias oficiais para análise de resíduos;
- promover a reavaliação de registro;
- avaliar os pedidos de cancelamento ou impugnação;
- autorizar o fracionamento de embalagem;
- fiscalizar a produção, importação e exportação;
- controlar a qualidade dos agrotóxicos;
- desenvolver ações de instrução sobre o uso correto;
- prestar apoio às UF nas ações de fiscalização;
- indicar e manter representante no CTA – Comitê Técnico para Assessoramento para Agrotóxico;
- manter o SIA – Sistema de Informações sobre Agrotóxicos;
- publicar no DOU – Diário Oficial da União, os resumos dos pedidos e das concessões de registro.

CABE AO MAPA E AO MS (ANVISA), NO ÂMBITO DE SUAS RESPECTIVAS ÁREAS DE


COMPETÊNCIAS:
- monitorar os resíduos de agrotóxicos em produtos de origem vegetal.
19

CABE AO MAPA E AO MMA (IBAMA):


- registrar os componentes (matéria-prima, inertes e aditivos).

CABE SOMENTE AO MAPA:


- avaliar a eficiência agronômica dos agrotóxicos e afins de uso agrícola;
- conceder o registro e o RET para os agrotóxicos de uso agrícola, de acordo com as diretrizes da
ANVISA e IBAMA;

CABE SOMENTE AO MS (ANVISA):


- avaliar e classificar toxicologicamente os agrotóxicos, seus componentes e afins;
- avaliar a eficiência dos agrotóxicos, produtos técnicos, pré-misturas e afins de uso em ambientes
urbanos;
- realizar avaliação toxicológica preliminar dos agrotóxicos destinados à pesquisa (RET);
- estabelecer intervalo de reentrada;
- conceder o RET dos agrotóxicos de uso ambientes urbanos;
- monitorar os resíduos de agrotóxicos em produtos de origem animal.

CABE SOMENTE AO MMA (IBAMA):


- avaliar a eficiência dos agrotóxicos e afins de uso ambientes hídricos, florestas nativas e outros
ecossistemas;
- realizar avaliação ambiental preliminar dos agrotóxicos, produtos técnicos, pré-misturas e afins,
destinados à pesquisa (RET);
- conceder o RET dos agrotóxicos de ambientes hídricos, florestas nativas e outros ecossistemas.

3. RET – Registro Especial Temporário

Para registrar um agrotóxico é necessário que sejam apresentados Relatórios Técnicos contendo o
resultado de pesquisas sobre o produto, nas áreas da agronomia, toxicologia, resíduos, química e meio
ambiente. Para viabilizar e legalizar o produto para estas pesquisas, inclusive a sua importação, no § 1º do art.
3º da Lei nº 7.802/89 foi previsto o Registro Especial Temporário (RET).

De acordo com o art. 1º do Decreto nº 4.074/02, entende-se por:

(...)
XLIII - Registro Especial Temporário - RET - ato privativo de órgão federal competente,
destinado a atribuir o direito de utilizar um agrotóxico, componente ou afim para finalidades
20
específicas em pesquisa e experimentação, por tempo determinado, podendo conferir o direito de
importar ou produzir a quantidade necessária à pesquisa e experimentação;
(...)

De acordo com o art. 26 do Decreto nº 4.074/02, os produtos destinados à pesquisa e experimentação


no Brasil serão considerados de Classe Toxicológica e Ambiental mais restritiva, no que se refere aos
cuidados de manipulação e aplicação. Então, os agrotóxicos com RET serão considerados de Classe
Toxicológica I - Extremamente tóxico e Classe I - Produto Altamente Perigoso ao Meio Ambiente

Outro ponto a considerar é que as pesquisas serão enquadradas em fases, de acordo com o
delineamento do projeto experimental e do produto a ser testado, conforme resumo abaixo:
Fases da PESQUISA:
FASE I – Preliminar executados em laboratório, casas de vegetação, estufas, aquários, caixas d’água e
estações experimentais credenciadas. (área = máximo de 1.000 m2 - solo ou 100 m2 - água)
FASE II – Inicial executados em tanques, lagoas e parcelas em estações experimentais. (área = máx.
5.000 m2 - solo ou 1.000 m2 - água)
FASE III – Final executados em estações experimentais credenciadas ou área de terceiros, com
contrato. (área = caso a caso de acordo com o projeto experimental)

As embalagens dos produtos com RET devem possuir rótulo com as seguintes informações: nome ou
código do produto; nome do titular do registro; número do RET; nome do ingrediente ativo; concentração do
ingrediente ativo; nome e endereço do fabricante; nome e endereço do formulador; quantidade, peso ou
volume; data fabricação e data vencimento.

4. Pesquisa

As entidades públicas e privadas de ensino, assistência técnica e pesquisa poderão realizar


experimentação e pesquisas, e poderão fornecer laudos no campo da agronomia, toxicologia, resíduos,
química e meio ambiente.

Para que seus estudos e laudos sejam aceitos para fins de registro, estas entidades de pesquisa devem
possuir credenciamento no MAPA. A Instrução Normativa nº 36, de 24 de novembro de 2009 estabelece as
diretrizes e exigências para o credenciamento e para a realização de pesquisa e experimentação, conforme a
descrição de seu art. 1º abaixo:

(...)
Art. 1º Estabelecer as diretrizes e exigências para a realização de pesquisa e experimentação,
para credenciamento de entidades que as realizam e para submissão de pleitos de registro e
alteração, no que concerne à condução e emissão de laudos de eficiência e praticabilidade
21
agronômica, de fitotoxicidade e ensaios de campo para fins de estudo de resíduos de agrotóxicos
e afins.
(...)

Somente as entidades de pesquisa credenciadas no MAPA terão seus laudos de eficiência e


praticabilidade agronômica, de fitotoxicidade e de resíduos aceitos para fins de registro do agrotóxico.

Para estudo de resíduos é necessário que a entidade de pesquisa possua também a certificação em Boas
Práticas de Laboratório – BPL, concedida pelo Instituto Nacional de Metrologia – INMETRO.

As pesquisas com agrotóxicos devem ser conduzidas dentro de critérios técnicos definidos pela
Instrução Normativa nº 36/09. Entre estes critérios, destacam-se os exigidos no art. 14, conforme descritos
abaixo:
(...)
Art. 14. A pesquisa e a experimentação deverá ser conduzida:
I - em casa de vegetação ou em condições de campo e em região representativa do cultivo da
cultura no território nacional;
II - em atendimento às recomendações fitotécnicas preconizadas para a cultura, conforme a
região onde o ensaio será instalado, respeitando-se as boas práticas agrícolas e experimentais;
III - com níveis adequados de infecções ou infestações de pragas, que possibilitem atestar, com
segurança, a eficácia do tratamento avaliado;
IV - seguindo as orientações dos protocolos internacionais da FAO ou os desenvolvidos pela
comunidade científica brasileira;
V - de forma a possibilitar a emissão de laudo que atenda às exigências e ao conteúdo
estabelecido por esta Instrução Normativa;
VI - de acordo com o que consta no RET e em seu Projeto Experimental ou, quando em
desacordo, sob o amparo de justificativas adequadas; e
VII - em consonância com as normas de proteção individual e coletiva.
Parágrafo único. O descumprimento de quaisquer requisitos previstos neste artigo ensejará o
cancelamento do experimento pela fiscalização federal agropecuária.
(...)

5. Registro de agrotóxicos, seus componentes e afins

O registro é um ato privativo de órgão federal competente, que atribui o direito de produzir,
comercializar, exportar, importar, manipular ou utilizar um agrotóxico, componente ou afim.

Os agrotóxicos, seus componentes e afins, podem ser classificados conforme o seu uso. Os de
agrotóxicos de uso agrícola – são registrados no MAPA. Os agrotóxicos de uso em ambiente urbano, também
chamados de domissanitários – são registrados na ANVISA. Os agrotóxicos de uso em ambientes hídricos e
florestas nativas, também chamados de produtos Não-Agrícolas – são registrados no IBAMA.
22
É importante distinguir algumas diferenças entre as pessoas envolvidas com o registro de agrotóxicos.
O Órgão Registrante é o órgão competente do governo federal, que registra o agrotóxico, componente ou
afim. No caso o MAPA, quando se trata de um agrotóxico ou afim de uso agrícola. O Registrante é a pessoa
física ou jurídica que solicita o registro de um agrotóxico, componente ou afim. O Titular de Registro é a
pessoa física ou jurídica que detém os direitos e obrigações conferidas pelo registro de um agrotóxico,
componente ou afim.

9.1 O processo de Registro

Para facilitar o entendimento do roteiro para a realização de um registro de agrotóxico no Brasil, desde
a pesquisa até o cadastro nos Estados, segue abaixo um organograma representado pela figura 2.
Figura 2: Organograma do registro de agrotóxicos no Brasil.

Fonte: FFA Débora Cruz, com adaptações do autor.

A Avaliação da Eficiência Agronômica, que é uma atribuição exclusiva do MAPA, é finalizada com a
emissão do Parecer de Eficiência e Praticabilidade Agronômica – EPA. Os laudos das pesquisas de avaliação
da eficiência e praticabilidade agronômica dos agrotóxicos e afins devem conter entre outras informações: os
dados de eficiência absoluta, contrastados por análises estatísticas referendadas; os dados de eficiência
23
relativa, em % por meio de fórmulas estatisticamente referendadas; os dados de produtividade da cultura e a
curva de dose/resposta da eficiência, identificando a faixa de eficiência.

Segundo o Manual de Procedimentos para Registro de Agrotóxicos (2012), o EPA é o documento


oficial de análise dos aspectos de eficiência agronômica de um agrotóxico no âmbito do MAPA. É levada em
consideração, para sua elaboração, toda a estrutura documental do processo de registro bem como as análises
técnicas dos laudos de eficiência para cada cultura e resíduos, em relação à parte de campo. As exigências
para condução de laudos de eficiência e praticabilidade agronômica para fins de registro constam na IN
36/2009.

São avaliados pelo Fiscal Federal Agropecuário os aspectos ligados aos sintomas relatados de
fitotoxidez do produto e demais informações consideradas relevantes para a conclusão da eficiência do
produto nas condições propostas. Para os produtos genéricos, os pareceres fazem menção ao produto ao qual
foi comparado e indicações de uso disponíveis na base de dados do MAPA bem como consideram os estudos
de resíduos realizados para sustentar os LMR’s e as culturas disponíveis na bula. (Manual de Procedimentos
para Registro de Agrotóxicos, 2012)

Deve ser considerado que existe uma desobrigação constante no Decreto de que, para fins de avaliação
de pleitos de registro de produtos genéricos, não é necessária apresentação de estudos de resíduos e de eficácia
desde que o produto pleiteado tenha o mesmo tipo de formulação; teor de ingrediente ativo por unidade de
área e mesmas indicações de uso (culturas, alvos e modo de aplicação). (Manual de Procedimentos para
Registro de Agrotóxicos, 2012)

Os estudos de toxicologia dos agrotóxicos e afins envolvem estudos complexos e dispendiosos, para
que ao final sejam definidas, entre outras, três informações fundamentais sobre os agrotóxicos. Duas são
relacionadas à toxicologia humana, a Classificação Toxicológica e a Avaliação Toxicológica, que são
determinadas pela ANVISA. A outra se refere à toxicologia do meio ambiente, água e solo e animais, também
chamada de ecotoxicologia, que é a Classificação do Potencial de Periculosidade Ambiental, definida pelo
IBAMA.

Na Classificação Toxicológica, os estudos relacionam-se a intoxicações agudas, ou seja, aquelas que


acontecem em uma única exposição, geralmente durante o manuseio ou acidentalmente, com o agrotóxico em
sua concentração registrada. As pesquisas analisam, utilizando animais de laboratório (cobaias), a dose letal
média (DL 50), a dose letal média - dérmica (DL 50 dérmica), a irritabilidade ocular, a sensibilidade dérmica
e a concentração letal média - inalatória, para o caso de agrotóxicos com ação fumigante (CL 50 inalatória).
Estas informações são fundamentais para a definição de cuidados durante o manuseio e os Equipamentos de
24
Proteção Individual (EPI) e os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) a serem utilizados, tanto pelos
trabalhadores da fábrica quanto pelos usuários dos agrotóxicos. A Classificação Toxicológica do agrotóxico
não tem relação com a eficiência do produto, mas sim com a sua toxicologia. Com estes estudos é possível
definir a CLASSIFICAÇÃO TOXICOLÓGICA DO AGROTÓXICO, conforme exemplificado no quadro 2:

Quadro 2: Classificação Toxicológica dos Agrotóxicos em um exemplo hipotético de doses necessárias


para atingir a DL 50 para ratos e a extrapolação para uma pessoa com 70 kg de peso corpóreo.

Fonte: Portaria nº 03/MS/SNVS, de 16/01/1992, com adaptações do autor .

Já na Avaliação Toxicológica, os estudos relacionam-se a intoxicações crônicas, ou seja, aquelas que


acontecem em longo prazo e em várias doses, podendo ser no manuseio, mas também ao ingerir os alimentos
contendo resíduo. As pesquisas são feitas com animais de laboratório (cobaias) e extrapoladas para o homem.

Os principais estudos referem-se aos possíveis efeitos mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos,


onde é definido, entre outros parâmetros, o NOEL (Nível de Não Efeito Observável). Teoricamente esta dose
de agrotóxico (mg. do produto/ kg de peso vivo) poderia ser ingerida continuamente sem que fossem
observados efeitos durante a vida do animal testado. Sobre o NOEL, aplica-se um fator de segurança, que
pode variar de 100 a 1000, para que sejam extrapolados os dados para o homem. Este dado final, depois de
aplicado o fator de segurança, resulta na chamada IDA – Ingestão Diária Aceitável. A IDA é então o NOEL
dividido pelo Fator de Segurança.

Conceitualmente a IDA - Ingestão Diária Aceitável - é a quantidade máxima que, ingerida diariamente
durante toda a vida, parece não oferecer risco apreciável à saúde, à luz dos conhecimentos atuais. É expressa
25
em mg. do agrotóxico por kg de peso corpóreo (mg/kg p.c.). Com o valor da IDA estabelecido, a ANVISA
define outro parâmetro importantíssimo para o registro dos agrotóxicos. Este parâmetro é o LMR – Limite
Máximo de Resíduo – que é um valor estabelecido por meio da avaliação de estudos conduzidos em campo
pelos pleiteantes ao registro ou à alteração pós-registro. Neles são analisadas as concentrações de resíduos que
permanecem nas culturas após a aplicação dos agrotóxicos, respeitadas as BPA – Boas Práticas de Agrícolas.

E por último, é estabelecido um parâmetro conhecido pelos usuários de agrotóxicos, pelo menos,
deveria ser conhecido, que é o Intervalo de Segurança ou Período de Carência – que é o intervalo de tempo
entre a última aplicação e a colheita ou a comercialização ou o consumo do pasto, conforme o caso. Na figura
3 é possível observar uma curva teórica de degradação de um agrotóxico, atingindo o LMR em um período de
tempo que seria o Intervalo de Segurança deste produto.

Figura 3: Curva teórica de degradação de um agrotóxico e o Intervalo de Segurança, em dias.

Para definir a Classificação do Potencial de Periculosidade Ambiental, os estudos abrangem como o


próprio nome sugere, uma avaliação do potencial de periculosidade ambiental do produto, contendo, entre
outros, dados e informações sobre: as propriedades físico-químicas do agrotóxico; a toxicidade para
microorganismos, microcrustáceos, peixes, algas, organismos de solo, aves, plantas e insetos não-alvos; o
comportamento do produto no solo, definindo os critérios de bioacumulação, persistência e mobilidade; e a
toxicidade para animais superiores. Com esta avaliação o IBAMA determina a CLASSIFICAÇÃO DO
POTENCIAL DE PERICULOSIDADE AMBIENTAL do agrotóxico ou afim, que se divide em quatro
classes:
26
Classe I - Produto Altamente Perigoso ao meio ambiente
Classe II - Produto Muito Perigoso ao meio ambiente
Classe III - Produto Perigoso ao meio ambiente
Classe IV - Produto Pouco Perigoso ao meio ambiente

No final de todos os estudos e após análise destes relatórios técnicos, são gerados 03 documentos sobre
o agrotóxico ou afim, que é consolidado com o Parecer Final de Registro. A consolidação do Parecer de
Eficiência e Praticabilidade Agronômica (EPA) emitido pelo Fiscal Federal Agropecuário, do Informe de
Avaliação Toxicológica (IAT), emitido pela ANVISA, e da Avaliação do Potencial de Periculosidade
Ambiental (APPA), emitida pelo IBAMA, será conduzida considerando os aspectos mais restritivos das três
avaliações. Neste momento será elaborado o Parecer Final de Registro, que refletirá as avaliações dos três
órgãos segundo a ótica mais restritiva. Para isso os seguintes pontos são observados:
fabricantes/formuladores/manipuladores; classificações toxicológicas e ecotoxicológica; culturas; dose
máxima aprovada para cada cultura; número máximo de aplicações aprovado para cada cultura; restrições de
equipamentos ou modalidades de aplicação; intervalo de segurança; tipos de embalagens; composição quali-
quantitativa. (Manual de Procedimentos para o Registro de Agrotóxicos, 2012)

9.2 Tipos de Registro

A Lei nº 7.802/89 exige que os agrotóxicos, seus componentes e afins possuam registro. Além dos
componentes, existem diversas moléculas e produtos que podem ser registrados como agrotóxicos e afins, que
com o tempo foram sendo agrupados por características especiais e homogêneas. Hoje, podemos separar o
registro de agrotóxicos nos seguintes grupos:
AGROTÓXICOS E AFINS:
- RET – Registro Especial Temporário;
- REX – Registro Exclusivo para Exportação;
- Produto Formulado (QUÍMICO);
Produtos clones;
Produtos atípicos (espalhantes adesivos, cobre inorgânico, enxofre inorgânico, óleo
mineral e óleo vegetal, safener, adjuvantes);
- Produto Biológico;
- Produto Microbiológico;
- Produto Semioquímico;
- Produto Bioquímico;
- Produto fitossanitário com uso aprovado para a agricultura orgânica.
27
COMPONENTES:
- Produto Técnico;
- Produto Técnico por Equivalência;
- Pré-misturas;
- Outros Componentes.

9.3 Registro de produtos para a Agricultura Orgânica

Para atender a demanda de produtos para a agricultura orgânica, que não pode utilizar algumas
substâncias proibidas, o Decreto nº 6.913, de 23 de julho de 2009, trouxe a definição do produto fitossanitário
com uso aprovado para a agricultura orgânica, que é um agrotóxico ou afim contendo exclusivamente
substâncias permitidas, em regulamento próprio, para uso na agricultura orgânica. Este Decreto prevê ainda:
que o processo de registro tenha tramitação própria e prioritária; que no rótulo e bula não conste os símbolos
da caveira com duas tíbias cruzadas; que estes produtos estão dispensados de receituário agronômico e se o
produto for para uso próprio, estará isento de registro

O processo de registro de produtos para a agricultura orgânica possui rito próprio e envolve
organizações ligadas à agricultura orgânica, que organizam e analisam os pleitos de registro. Mesmo assim, o
pedido de registro deverá ser protocolado no MAPA, ANVISA e IBAMA.

Por serem considerados produtos de baixo impacto ambiental e também de baixa toxicidade, a
legislação foi idealizada no intuito de acelerar o seu registro sem deixar de lado a preocupação com a saúde, o
meio ambiente e a eficiência agronômica. (http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-
sustentavel/organicos/produtos-fitossanitarios. Acesso em 05 de janeiro de 2014.)

De maneira geral, os produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica são
registrados com base em outro produto que seja um produto de referência. Se não houver este produto de
referência, o primeiro registro para determinada substância deverá estabelecer esta referência. Tecnicamente
este processo é chamado de Especificação de Referência – EC. A Coordenação de Agroecologia (COAGRE),
do MAPA, é responsável por identificar os produtos fitossanitários prioritários para o estabelecimento de
Especificações de Referência, tendo por base a demanda da rede de produção orgânica apresentada pelas
Comissões da Produção Orgânica nas Unidades da Federação (CPOrgs-UF). Se já existir uma ER, o pleiteante
do novo produto deverá comprovar que o seu produto possui Especificação igual à ER já publicada. Em regra,
não é necessário apresentação de novos estudos. Na figura 4 está um exemplo de Especificação de Referência
publicado na Instrução Normativa nº 2, de 12 de julho de 2013, complementado pela IN nº 1/2015.
28
Figura 4: Especificação de Referência (ER) do agente biológico de controle – Cotesia flavipes, publicada
na Instrução Normativa nº 2/13.

Fonte: Anexo da IN 2/13. Site do MAPA. Sislegis, 2014

9.4 Registro de Produto para Culturas de Baixo Suporte Fitossanitário – “Minor Crops”

Visando atender a demanda pela ampliação da oferta de ingredientes ativos registrados para o uso em
pequenas culturas ou culturas especiais, conhecidas mundialmente como “minor crops”, as áreas técnicas dos
três órgãos federais envolvidos no registro de agrotóxicos formaram um grupo de trabalho no âmbito do
Comitê Técnico de Assessoramento para Agrotóxicos – CTA, com o objetivo de reunir e avaliar as
experiências de outros países para o desenvolvimento de uma política que contemplasse estas culturas no
Brasil (http://www.agricultura.gov.br/vegetal/agrotoxicos/csfi. Acesso em 05 de janeiro de 2014.)

Neste contexto, foi publicada Instrução Normativa Conjunta - INC nº 01, de 23 de fevereiro de 2010,
que define estas culturas pequenas e/ou especiais como "Culturas de Suporte Fitossanitário Insuficiente -
CSFI" e cria agrupamentos de culturas nos moldes do Codex Alimentarius, levando em consideração ainda
aspectos morfológicos das cultivares produzidas no Brasil, sua proximidade taxonômica, a semelhança de
práticas agrícolas e a forma de consumo. Define também regras e procedimentos para autorizar a extrapolação
dos Limites Máximos de Resíduos - LMR, de um ingrediente ativo registrado para uma cultura representativa
do grupo para as demais culturas deste mesmo agrupamento, desde que respeitadas às indicações de alvos
biológicos e dosagens previstas. (http://www.agricultura.gov.br/vegetal/agrotoxicos/csfi. Acesso em 05 de
janeiro de 2014.)
29
Mesmo com todo o esforço do governo e das entidades representativas dos produtores rurais, estas
regras estabelecidas pela IN nº 1/10 demoraram a resultar em avanços significativos.
Todavia, com a publicação da Instrução Normativa Conjunta nº 1, de 16/06/2014, foram realizadas
atualizações nos Anexos da Instrução Normativa anterior e alterados alguns procedimentos administrativos,
que resultaram em ganhos significativos nos processos de registro de agrotóxicos para as culturas de suporte
fitossanitário insuficiente.
Mesmo assim, esta norma só terá avanços se houver um envolvimento efetivo entre o governo, a
pesquisa, as indústrias e os produtores rurais.
O interesse público em registrar produtos para atender a demanda dos produtores rurais que cultivam
estas culturas desprovidas de agrotóxicos registrados deve ser perseguido com ações que envolvem o setor de
pesquisa, sobretudo, os institutos públicos de pesquisa agropecuária. Não menos importante é a criação de
regulamentações que incentivem as empresas detentoras dos registros de agrotóxicos a incluírem estas
culturas nos processos de registro.
Na figura 5, está a situação dos processos referente à Janeiro/2015, envolvendo as culturas de suporte
fitossanitário insuficiente.
Figura 5: Processos em análise e finalizados, alvos incluídos, culturas incluídas e inclusões de culturas
em análise, envolvendo as culturas de suporte fitossanitário insuficiente – Janeiro/2015.

Fonte: Apresentação do FFA Álvaro Inácio – Site do MAPA


30
9.5 Reavaliação de Registro

Outro assunto que envolve este capítulo sobre o registro de agrotóxicos refere-se às reavaliações de
produto. Veja o que determinam a Lei nº 7.802/89 e o Decreto nº 4.074/02:
Lei nº 7.802/89
(...)
Art. 3º.
(...)
§ 4º Quando organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio
ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de acordos e convênios,
alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins,
caberá à autoridade competente tomar imediatas providências, sob pena de responsabilidade.
Decreto nº 4.074/02
(...)
Art. 2o Cabe aos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Saúde e do Meio
Ambiente, no âmbito de suas respectivas áreas de competências:
VI - promover a reavaliação de registro de agrotóxicos, seus componentes e afins quando
surgirem indícios da ocorrência de riscos que desaconselhem o uso de produtos registrados ou
quando o País for alertado nesse sentido, por organizações internacionais responsáveis pela
saúde, alimentação ou meio ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de
acordos;
(...)
Art. 19. Quando organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio
ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de acordos e convênios,
alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins,
caberá aos órgãos federais de agricultura, saúde e meio ambiente, avaliar imediatamente os
problemas e as informações apresentadas.
Parágrafo único. O órgão federal registrante, ao adotar as medidas necessárias ao atendimento
das exigências decorrentes da avaliação, poderá:
I - manter o registro sem alterações;
II - manter o registro, mediante a necessária adequação;
III - propor a mudança da formulação, dose ou método de aplicação;
IV - restringir a comercialização;
V - proibir, suspender ou restringir a produção ou importação;
VI - proibir, suspender ou restringir o uso; e
VII - cancelar ou suspender o registro.
(...)

Os processos de reavaliação são permanentes. Alguns ingredientes ativos são totalmente banidos, com
a exclusão das monografias pela ANVISA, como é o caso do Aldrin, DDT, BHC, Paration, Metamidofós,
etc... Há também os casos em que ingredientes ativos, e por conseqüência os agrotóxicos contendo este
ingrediente ativo, sofrem restrições de uso.
31
6. Registro de Estabelecimentos

Apesar do título deste capítulo, na legislação de agrotóxicos, utiliza-se o termo registro de pessoa física
ou jurídica e não registro de estabelecimento. De toda a forma, como os registros são na sua quase totalidade
de pessoas jurídicas, para fins didáticos trataremos como sendo registro de estabelecimento.

O registro do estabelecimento é obrigatório para todos que sejam prestadores de serviços na aplicação
de agrotóxicos, seus componentes e afins, ou que os produzam, formulem, manipulem, importem, exportem
ou comercializem. Para todos estes estabelecimentos o registro deverá ser feito nos órgãos estaduais
competentes. Uma observação importante é que mesmo os estabelecimentos produtores, importadores ou
exportadores de agrotóxicos, que são fiscalizados pelos órgãos da União, devem possuir o registro apenas nos
Estados. Por outro lado, os órgãos estaduais para registrar devem atender as diretrizes e exigências dos órgãos
federais (MAPA, ANVISA e IBAMA), que com a publicação do Decreto nº 4.074/02, resume-se nos itens que
constam no Anexo V. Dentre estas exigências, está à necessidade do estabelecimento possuir a Licença
Ambiental, expedida pelo órgão estadual competente.
Atenção para os termos utilizados para produtos e estabelecimentos.
AGROTÓXICOS são REGISTRADOS no MAPA.
ESTABELECIMENTOS são REGISTRADOS no ÓRGÃO ESTADUAL.
AGROTÓXICOS podem ser CADASTRADOS no ÓRGÃO ESTADUAL
ESTABELECIMENTOS devem ser CREDENCIADOS no MAPA, no caso de entidades de pesquisa
com agrotóxicos e empresas prestadoras de serviços fitossanitários no trânsito internacional de vegetais.

7. Produção de Agrotóxicos e Afins

De acordo com o inciso XXXIII do art. 1º do Decreto nº 4.074/02, a produção é o processo de natureza
química, física ou biológica para obtenção de agrotóxicos, seus componentes e afins. O termo fabricante é
utilizado para os estabelecimentos que produzem componentes (princípio ativo, produto técnico, matérias
primas, ingrediente inertes e aditivos utilizados na fabricação de agrotóxicos e afins). O formulador é quem
efetivamente produz os agrotóxicos ou afins. E o manipulador é o estabelecimento autorizado a fracionar e
reeembalar os agrotóxicos ou afins.

A formulação de um agrotóxico ou afim compreende basicamente a mistura do produto técnico, que


possui o ingrediente ativo, com os aditivos e ingredientes inertes. Porém, todos estes componentes devem
constar nos documentos aprovados na ocasião do registro, por exemplo, no Informe de Avaliação
Toxicológica (IAT), emitido pela ANVISA. A empresa só poderá formular o agrotóxico utilizando os
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componentes registrados ou aprovados, que também devem estar presentes na formulação na quantidade e
proporções aprovadas.

Então, a formulação de um agrotóxico ou afim seria basicamente a mistura de:

Produto Técnico – REGISTRADO (ingrediente ativo)

+
Aditivos (melhorar a ação, função, estabilidade ...)

+
Ingredientes Inertes (diluentes)

11.1 Controle de qualidade

O controle de qualidade dos agrotóxicos, seus componentes e afins é realizado pelos estabelecimentos
que os produzem, pelos órgãos públicos responsáveis pela fiscalização e pelos titulares de registro. De acordo
com o art. 69 do Decreto nº 4.074/02, os estabelecimentos destinados à produção e importação de agrotóxicos,
seus componentes e afins devem dispor de unidade de controle de qualidade próprio, com a finalidade de
verificar a qualidade do processo produtivo, das matérias primas e substâncias empregadas, quando couber, e
dos produtos finais. Somente para as empresas produtoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, segundo
o § 1º do art. 69 do Decreto nº 4.074/02 é facultado à realização destes controles em institutos ou laboratórios
oficiais ou privados. Nota-se que os estabelecimentos importadores devem possuir a sua própria unidade de
controle de qualidade.

O controle de qualidade oficial incia-se com as análises dos processos de registro dos agrotóxicos, seus
componentes e afins, por meio dos relatórios técnicos e laudos que comprovem a sua eficácia e a sua
inocuidade toxicológica e ecotoxicológica. Após o registro, o controle de qualidade é efetivado durante as
fiscalizações de rotina, onde são verificados vários aspectos que visem à identidade, pureza e eficácia dos
produtos.

Também participam do controle de qualidade dos agrotóxicos, os titulares de registro dos agrotóxicos,
componentes e afins, que devem fornecer aos órgãos de registro e fiscalização, laudos de análise do teor de
impurezas toxicologicamente relevantes, conforme exigência do § 2º do art. 69 do Decreto nº 4.074/02, cujo
assunto está regulamentado pela Instrução Normativa nº 2, de 20 de junho de 2008.
33
11.2 Embalagem

De acordo com o art. 43 do Decreto nº 4.074/02 as embalagens devem atender às especificações


aprovadas pelos órgãos federais dos setores da agricultura, da saúde e do meio ambiente, dentro de suas
respectivas áreas de competências, por ocasião do registro. Quem dá o parecer final sobre as embalagens
autorizadas é o IBAMA, que é realizado no documento de Avaliação do Potencial de Periculosidade
Ambiental (APPA).

De acordo com o art. 44 do Decreto nº 4.074/02 as embalagens dos agrotóxicos e afins deverão atender
aos seguintes requisitos:
- devem impedir vazamentos, evaporação, perdas ou alteração de conteúdo;
- facilitar a lavagem, reciclagem e destinação final;
- não reagir com o agrotóxico;
- ser resistente e possuir lacre;
- apresentar de forma indelével e irremovível, em local de fácil visualização, exceto na tampa, o nome
da empresa titular do registro e advertência quanto ao não reaproveitamento da embalagem.

Neste último item a legislação foi muito diligente ao exigir esta marca indelével e irremovível, já que
mesmo que o rótulo com o tempo ou por algum outro motivo seja removido, o nome da empresa responsável
pela aquela embalagem permanecerá registrado. Isto permite rastrear o responsável pela embalagem, na falta
da identificação de quem destinou inadequadamente, por exemplo. Esta marca indelével é feita nas
embalagens, não podendo ser na tampa, utilizando marcação em baixo ou alto relevo.

11.3 Rótulo

Assim como as embalagens, de acordo com o art. 43 do Decreto nº 4.074/02, os rótulos devem atender
às especificações aprovadas pelo MAPA, ANVISA e IBAMA, dentro de suas respectivas áreas de
competências, por ocasião do registro.

Deverão constar OBRIGATORIAMENTE os dados do Anexo VIII, do Decreto nº 4.074/02, onde


podemos destacar alguns itens:
- geralmente o rótulo possui 03 colunas, contendo na coluna do meio, as informações sobre o produto,
e nas outras duas colunas, as informações referentes aos cuidados com a saúde e ao meio ambiente;
- O rótulo possui uma faixa colorida, que corresponde às diferentes classes toxicológicas estabelecidas
pela ANVISA.
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- O rótulo possui também a classificação do potencial de periculosidade ambiental, porém esta
classificação não é indicada por cores, apenas é descrito em qual faixa o produto é enquadrado,
segundo os critérios definidos pelo IBAMA.
- No rótulo deve ser incluído no painel frontal, na faixa colorida, um círculo branco, contendo uma
caveira e duas tíbias cruzadas na cor preta, com os dizeres CUIDADO VENENO.
- Ao longo da faixa colorida deverão constar também os PICTOGRAMAS específicos,
internacionalmente aceitos.
Veja na figura 6 um modelo de rótulo, com destaque para a faixa colorida contendo a classe
toxicológica, os pictogramas, a caveira com as duas tíbias cruzadas e a expressão cuidado veneno.

Figura 6: Modelo de rótulo

Fonte: Manual de Procedimentos para Registro de Agrotóxicos. Site do MAPA, 2014.

Destaque da faixa colorida – figura 6.


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11.4 Bula

Também a bula deve atender às especificações aprovadas pelo MAPA, ANVISA e IBAMA, dentro de
suas respectivas áreas de competências, por ocasião do registro.
Deverão constar NECESSARIAMENTE além de todos os dados do rótulo, os dados do Anexo IX, do
Decreto nº 4.074/02. Nas bulas consta um detalhamento das informações que não couberam no rótulo. As
bulas devem ser apensadas às embalagens unitárias de agrotóxicos e afins. Como devem constar todos os
dados do rótulo na bula, a faixa colorida com todas as informações também deve estar na bula. Na figura 7
está demonstrado um modelo de bula.

Figura 7: Modelo de bula

Fonte: Manual de Procedimentos para Registro de Agrotóxicos. Site do MAPA, 2014

11.5 Folheto Complementar

Existe na Lei nº 7.802/89, em seu § 3º do art. 7º previsão para o uso do folheto complementar,
conforme descrito abaixo:
(...)
Art. 7º
(...)
36
§ 3º Quando, mediante aprovação do órgão competente, for juntado folheto complementar que
amplie os dados do rótulo, ou que contenha dados que obrigatoriamente deste devessem constar,
mas que nele não couberam, pelas dimensões reduzidas da embalagem, observar-se-á o seguinte:
I - deve-se incluir no rótulo frase que recomende a leitura do folheto anexo, antes da utilização do
produto;
II - em qualquer hipótese, os símbolos de perigo, o nome do produto, as precauções e instruções
de primeiros socorros, bem como o nome e o endereço do fabricante ou importador devem
constar tanto do rótulo como do folheto.
(...)

Porém, com a publicação do Decreto nº 4.074/02, ficou definido em seu § 2º do art. 49, que a bula
supriria o folheto suplementar de que trata o § 3º do art. 7º da Lei nº 7.802/89. Desta forma, hoje,
praticamente não se utiliza mais o folheto complementar.

8. Importação e Exportação

Para um agrotóxico, componente ou afim ser exportado ou importado é necessário que este possua
registro, podendo ser o registro convencional, o RET – Registro Especial Temporário ou o REX - Registro
Especial para Exportação.

Além do registro do produto é necessário também o registro do estabelecimento importador ou


exportador.

Para a importação de um agrotóxico é necessário de uma autorização pré-embarque, ou seja, antes do


produto embarcar no país de origem, é necessário que a empresa importadora tenha esta autorização emitida
pelo MAPA. Este processo é chamado de licenciamento de importação e está regulamentado pela Instrução
Normativa nº 51, de 04 de novembro de 2001 e pela Instrução Normativa nº 19, de 08 de julho de 2013. A
documentação é aportada pelo interessado no sistema da Receita Federal, chamado SISCOMEX – Sistema
Integrado de Comércio Exterior, da qual os Fiscais Federais Agropecuários do MAPA possuem acesso. No
ponto de ingresso (porto, aeroporto, posto de fronteira, EADI e outros) o agrotóxico é fiscalizado pelo MAPA,
sendo que neste momento a Fiscalização Federal Agropecuária utiliza as regras do Manual do Vigiagro,
aprovado pela Instrução Normativa nº 36, de 10 de novembro de 2006.

Na exportação não é necessário a autorização pré-embarque, restando somente à necessidade da


fiscalização dos fiscais do VIGIAGRO. Caso o agrotóxico seja produzido no Brasil visando atender
especificamente o país de destino, inclusive com rótulo e bula escritos em língua estrangeira, é necessário que
o produto possua o REX – Registro Especial para Exportação.
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9. Comércio

Para um agrotóxico ou afim ser comercializado é necessário que este possua registro e que esteja
adequado as exigências da legislação.

Em alguns estados existe o cadastro estadual, sendo obrigatório também neste caso, que o produto
tenha o referido cadastro. Neste cadastro podem ocorrer restrições totais ou parciais ao uso do agrotóxico no
território do Estado. Um agrotóxico pode estar registrado no MAPA e não estar cadastrado no Estado ou
então estar cadastrado, mas possuir restrições de uso. Neste caso, se não houver cadastro o agrotóxico não
pode ser comercializado ou ser houver restrição, o agrotóxico não pode ser comercializado para o uso para
determinada cultura ou praga que haja a restrição de uso.

Assim também como os importadores e exportadores, o estabelecimento comercial deverá possuir


registro do estabelecimento como comerciante de agrotóxico e afins.

Os comerciantes de agrotóxico devem ser assistidos por um Responsável Técnico, possuir um


armazém de agrotóxicos e afins adequado e licenciado ambientalmente, por meio de uma Licença de
Operação. Em conjunto com os fabricantes, o comerciante é responsável também pelo recolhimento e destino
das embalagens vazias devolvidas pelos usuários. Outro ponto importante é que a comercialização dos
agrotóxicos deve ser feita ao usuário somente mediante receita agronômica.

E assim como para qualquer empresa registrada para operar com agrotóxicos, seja ela uma
formuladora, manipuladora, importadora, comerciante ou empresa prestadora de serviço, além da legislação
federal e estadual, estas empresas devem cumprir as restrições municipais, se houverem.

10. Receita Agronômica

De acordo com o art. 64 do Decreto nº 4.074/02, os agrotóxicos e afins só poderão ser comercializados
diretamente ao usuário, mediante apresentação de receituário próprio emitido por profissional legalmente
habilitado.

Como já tínhamos visto nos comentários do art. 13 da Lei nº 7.802/89 que trata também do receituário,
os profissionais habilitados para a emissão do receituário agronômico são os Engenheiros Agrônomos e os
Engenheiros Florestais. Todavia, após a publicação do Decreto nº 4.560, de 30 de dezembro de 2002, os
Técnicos Agrícolas de nível médio ou de 2º grau receberam autorização para responsabilizar-se pela emissão
de receituários.
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A receita deverá ser feita por cultura ou problema e os produtos só podem ser prescritos com
observância das recomendações de rótulo e bula. Se a recomendação não seguir estas regras o profissional
estará infringido a legislação de agrotóxicos.

11. Propaganda

A propaganda de agrotóxicos deve obedecer às restrições da Lei nº 7.802/89, do Decreto nº 4074/02 e


também as estabelecidas na Lei nº 9.294/96 e no Decreto nº 2.018/96. Estes últimos atos normativos
estabeleceram regras e restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas,
medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da Constituição Federal.

O art. 8º da Lei nº 9.294/96 estabeleceu que a propaganda de defensivos agrícolas (agrotóxicos e afins)
que contenham produtos de efeito tóxico, mediato ou imediato, para o ser humano, deverá restringir-se a
programas e publicações dirigidas aos agricultores e pecuaristas, contendo completa explicação sobre a sua
aplicação, precauções no emprego, consumo ou utilização, segundo o que dispuser o órgão competente do
Ministério da Agricultura e do Abastecimento, sem prejuízo das normas estabelecidas pelo Ministério da
Saúde ou outro órgão do Sistema Único de Saúde.
Além destas obrigações podemos destacar também que a propaganda para agrotóxicos deve:
- restringir-se a programas dirigidos aos agricultores;
- conter completa explicação sobre a aplicação, precauções, consumo ou utilização;
- estimular o comprador a ler o rótulo e a bula;
- não conter apresentação de práticas perigosas;
- não conter informações como “seguro”, “não venenoso”, “não tóxico”;
- não conter afirmações que produto é recomendado pelo governo;
- fazer referência à exigência de receita agronômica;
- conter orientação para que o usuário consulte um profissional habilitado;
- destacar a importância do manejo integrado de pragas e;
- chamar atenção para o destino correto das embalagens vazias e dos restos ou sobras dos produtos.

12. Armazenamento

De acordo com o art. 62 do Decreto nº 4.074/02, o armazenamento de agrotóxicos, seus componentes e


afins obedecerá à legislação vigente e às instruções fornecidas pelo fabricante, inclusive especificações e
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procedimentos a serem adotados no caso de acidentes, derramamento ou vazamento de produto e, ainda, às
normas municipais aplicáveis, inclusive quanto à edificação e à localização.

De modo geral, deverão ser respeitadas as normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas, em especial a NBR 9843, que trata do armazenamento, movimentação e gerenciamento de
armazéns, depósitos e laboratórios de agrotóxicos e afins. Além disto, o armazenamento deve seguir as
instruções do fabricante, que consta no rótulo e bula e também as normas municipais e do corpo de
bombeiros.

As principais exigências para um armazém, que é um depósito para quantidades maiores de


agrotóxicos e que se diferem daqueles depósitos de uma propriedade rural, são:
- ter construção em alvenaria;
- possuir pé-direito de no mínimo 4 metros;
- se houver escritório, cozinha, banheiro, estes devem ficar isolados do armazém;
- o piso deve ser impermeável;
- deve haver contenção de resíduos com lombadas ou outro sistema compatível;
- o piso não pode ter drenagem para rede pluvial;
- a ventilação deve ser adequada, podendo ser natural, mecânica, forçada ou mista;
- deve possuir extintor de incêndio, pára-raios, alarme incêndio e outros mecanismos exigidos pelo
corpo de bombeiros.
- respeitar o zoneamento de ocupação da prefeitura.

Já para pequenos depósitos, como os existentes nas propriedades rurais, as exigências principais são:
- ter construção em alvenaria, sem goteira, possuir iluminação natural e manter as portas trancadas;
- ter boas instalações elétricas para evitar curto-circuito;
- manter os produtos em suas embalagens originais;
- ter sinalização do depósito, inclusive com o sinal de perigo com o símbolo da caveira, duas tíbias e a
frase “cuidado veneno”;
- a localização do depósito deve estar livre de inundações, isolado de residências, animais, etc...
- o armazenamento deve ser organizado e exclusivo para agrotóxicos, não misturando com sementes,
fertilizantes, ferramentas, etc...
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13. Transporte

De acordo com o art. 63 do Decreto nº 4.074/02 o transporte de agrotóxicos, seus componentes e afins
está sujeito às regras e aos procedimentos estabelecidos na legislação específica.

Assim como no armazenamento, a legislação de agrotóxicos se restringiu a fazer referência à


necessidade do cumprimento da legislação específica, que inclusive é dinâmica e está sempre sofrendo
atualizações.

Para o transporte de agrotóxicos recomenda-se seguir as normas do Ministério dos Transportes, ANTT
– Agência Nacional dos Transportes Terrestres, INMETRO e ABNT.

14. Uso

Sem dúvida é no momento do uso onde os principais problemas existentes com os agrotóxicos
acontecem. E na grande maioria os problemas ocorrem pela falta de informação e capacitação das pessoas que
trabalham com os agrotóxicos. Claro que deve ser levado em consideração que as condições nos locais onde
são utilizados os agrotóxicos são muito heterogêneas, desde os equipamentos utilizados até o nível de
instrução do usuário. De toda a forma, incessantemente busca-se aperfeiçoar esta atividade exercida pelos
usuários, objetivando sempre extrair dos agrotóxicos apenas os seus benefícios, minimizando ao máximo os
riscos e danos causados pelo seu mau uso ou pelo uso desnecessário.

Para se chegar ao tão almejado uso correto e seguro dos agrotóxicos, as ações do usuário são
fundamentais. Todavia, mesmo que ele não queira, existem obrigações da qual deverá cumprir, entre elas:
OBRIGAÇÕES AO USUÁRIO:
- utilizar o agrotóxico conforme a recomendação da receita, recomendações do fabricante ou dos
órgãos oficiais (necessário ler ou pedir para alguém ler o rótulo, a bula e o receituário);
- consultar o profissional habilitado (se necessário usar o agrotóxico, será emitida receita);
- adquirir somente produtos registrados no MAPA e cadastrados nos Estados;
- adquirir os agrotóxicos mediante Nota Fiscal;
- armazenar adequadamente os agrotóxicos;
- utilizar EPI ou fornecer ao funcionário;
- utilizar equipamentos de aplicação adequados;
- respeitar o intervalo de segurança (carência);
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- fazer a tríplice lavagem, em embalagens rígidas contendo formulação dispersível ou miscível em
água;
- devolver embalagens vazias, no prazo de 1 ano após uso;
- no caso de produtos impróprios para o uso (ex. vencidos), deverá seguir as recomendações da bula
- sempre manter à disposição da fiscalização, a receita agronômica, a Nota Fiscal e os comprovantes
de devolução de embalagens vazias; e
- não opor embaraço à fiscalização.

Depois de cumpridas todas estas exigências, é provável que se chegue ao objetivo que é o...

15. Devolução de Embalagens Vazias

O setor de agrotóxicos é um exemplo de organização nesta área. A sistemática de devolução de


embalagens vazias, que modernamente é conhecida como sistema de logística reversa, foi uma grande
inovação trazida pela Lei nº 9.974/00 e pelo Decreto nº 5.549/05, já incorporados, respectivamente, na Lei nº
7.802/89 e no Decreto nº 4.074/02.

Esta sistemática de recolhimento de agrotóxicos foi reforçada no Decreto nº 7.404/10, que instituiu a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, onde ficou estabelecido em seu art. 14, que o sistema de logística
reversa de agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, seguirá o disposto na Lei no 7.802, de 11 de julho de
1989, e no Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de 2002.

Para que o sistema funcionasse perfeitamente foi necessário o envolvimento de todas as pessoas que
trabalham com os agrotóxicos. É evidente que este envolvimento acabou se efetivando pelas obrigações da
legislação, mas também, porque houve ganhos importantes a todos os envolvidos, destacando-se os
ambientais.

Dentre as obrigações previstas na legislação, destacam-se:


- Os usuários devem devolver as embalagens vazias aos estabelecimentos comerciais, no prazo de 1
ano.
- A devolução pode ser feita em postos ou centros de recolhimento.
- O acesso e o funcionamento destes postos não podem dificultar a devolução.
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- As empresas produtoras e comercializadoras são responsáveis pela destinação: das embalagens
vazias; dos produtos apreendidos pela fiscalização e dos produtos impróprios para utilização ou em
desuso.
- O destino das embalagens e produtos pode ser: a reciclagem; a reutilização ou a inutilização.
- Os centros de recebimento devem fornecer comprovante de recebimento ao usuário.
- Para os agrotóxicos importados, é o importador o responsável pelo recebimento e destinação.
- O transporte das embalagens vazias deve seguir as recomendações do rótulo e bula.
- Os responsáveis pelos centros de recolhimento deverão manter à disposição da fiscalização sistema
de controle das quantidades e dos tipos de embalagens recebidas e encaminhadas para destinação final.
- Os fabricantes de equipamentos para pulverização deverão inserir equipamentos para facilitar as
operações de tríplice lavagem ou tecnologia equivalente.

16. Empresas Prestadoras de Serviços Fitossanitários

Podemos dividir as empresas prestadoras de serviços fitossanitários, conforme a área de atuação.


Temos aquelas que prestam o serviço de aplicação de agrotóxicos em vegetais e lavouras no território
nacional onde os produtos tratados ficam no mercado interno e as que prestam serviço na aplicação de
agrotóxicos no trânsito internacional de vegetais.

PRESTADORA DE SERVIÇO NO USO DE AGROTÓXICOS E AFINS EM VEGETAIS NO


MERCADO INTERNO
Dentre estas empresas, temos as empresas de fumigação, de tratamento de sementes e de aviação
agrícola. Todas utilizam agrotóxicos de uso agrícola. Caso utilizassem os agrotóxicos de uso urbano (produtos
domissanitários), estas empresas não seriam prestadoras de serviços fitossanitários, mas sim as chamadas
desinsetizadoras.

As empresas prestadoras de serviços fitossanitários devem possuir registro no órgão competente do


estado, no caso do Paraná, na ADAPAR – Agência de Defesa Agropecuária do Paraná. A fiscalização destas
empresas é feita pelos órgãos estaduais. Além da legislação federal e estadual, estas empresas devem cumprir
as restrições municipais, se houverem.

Além destas obrigações, as empresas de aviação agrícola possuem outras obrigações que estão
previstas na Instrução Normativa nº 2, de 03 de janeiro de 2008. Entre as obrigações, destacam-se: que a
empresa esteja devidamente registrada no MAPA; que o piloto, o coordenador e o executor em aviação
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agrícola possuam curso específico na área; que a empresa possua pátio de descontaminação para o tratamento
adequado dos restos de produtos e água contaminada da lavagem das aeronaves e que as empresas enviem
mensalmente ao MAPA os relatórios operacionais.

A fiscalização é realizada: pelo órgão estadual de defesa agropecuária, com relação ao uso do
agrotóxico; pelo MAPA, com relação a operação aero - agrícola e pela ANAC – Agência Nacional de Aviação
Civil, com relação a homologação da aeronave e dos equipamentos de aplicação do produto.

PRESTADORA DE SERVIÇO DE VEGETAIS NO TRÂNSITO INTERNACIONAL


Estas empresas executam os seguintes tratamentos quarentenários e fitossanitários de vegetais ou seus
subprodutos e embalagens de madeira: fumigação, tratamentos térmicos, tratamentos hidrotérmicos e
incineração;

É exigido o registro do estabelecimento no órgão estadual e também o credenciamento no MAPA,


seguindo as obrigações e diretrizes estabelecidas na Instrução Normativa nº 66, de 27 de novembro de 2006,
que é operacionalizada pelo MAPA e onde constam regras específicas para os credenciamentos e
fiscalizações.

17. Agrotóxicos Ilegais

Os agrotóxicos ilegais (sem registro, contrabandeados e falsificados), não possuem registro no MAPA,
não atendem as diretrizes e exigências do MAPA, do IBAMA e da ANVISA e por isto representam prejuízos
ao agricultor pela baixa eficácia, além de causar danos ao meio ambiente, à saúde do aplicador e do
consumidor.

A produção com boas técnicas agrícolas e o emprego de insumos idôneos e de qualidade são pré-
requisitos para obtenção de alimentos seguros para o mercado nacional e internacional.

Os principais problemas advindos do uso de agrotóxicos ilegais são: a baixa eficácia; os resíduos em
alimentos; a contaminação ambiental; o descarte indevido de embalagens e a contribuição com a
diversificação de atuação e reforço na rede de criminalidade.

Desta forma, as autoridades competentes têm realizado nos últimos anos várias ações integradas de
combate aos agrotóxicos ilegais, contribuído para a segurança alimentar por meio da produção e obtenção de
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alimentos sadios, com qualidade ambiental e tecnológica. Na figura 8 está o registro fotográfico de
agrotóxicos ilegais aprendidos em propriedade rural o Estado do Paraná.

Figura 8: Agrotóxico ilegal apreendido em propriedade rural.

Os principais enquadramentos e sanções a que estão sujeitos os infratores que se envolvem com os
agrotóxicos ilegais são:
CRIME AMBIENTAL – Lei nº 9.605/98
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar,
armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana
ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos.
- Reclusão de 1 a 4 anos, e
- Multa de R$ 500,00 a 2.000.000,00

CRIME DE CONTRABANDO - Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/40)


Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
- Reclusão de 2 a 5 anos . (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

INFRAÇÃO E CRIME PREVISTOS NA LEI DOS AGROTÓXICOS – Lei nº 7.802/89


Art. 15. Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, prestar serviço, der destinação a
resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento às exigências
estabelecidas na legislação pertinente estará sujeito à pena de reclusão, de dois a quatro anos, além de
multa. (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)
- Reclusão de 2 a 4 anos, além de multa.
- Multa administrativa de até R$ 19.000,00
23.4 Destruição de vegetais, alimentos e lavouras.

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