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UNIDADE 2

ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E


LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Prof. Dr. José Augusto de Oliveira

Objetivos
• Compreender e aplicar a Avaliação de Impacto Ambiental.
• Identificar e desenvolver o estudo de um Impacto Ambiental.
• Entender e elaborar um relatório de Impacto Ambiental.
• Compreender e aplicar o processo de Licenciamento Ambiental.

Conteúdos
• Sistema de Avaliação de Impacto Ambiental.
• Integração da Avaliação de Impacto Ambiental ao processo de planejamen-
to e implementação de projetos.
• Aplicação da Avaliação de Impacto Ambiental.
• Estudo de Impacto Ambiental.
• Relatório de Impacto Ambiental.
• Licenciamento Ambiental.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Caro aluno, não se limite ao conteúdo deste Caderno Básico de Referên-


cia; busque outras informações em sites confiáveis e/ou nas referências
bibliográficas, apresentadas ao final de cada unidade. Lembre-se de que,

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na modalidade EAD, o engajamento pessoal é um fator determinante para


o seu crescimento intelectual.

2) Procure estudar o assunto de maneira exploratória e identifique exemplos


no cenário brasileiro e internacional. Estes são cada vez mais encontrados
no meio empresarial atual.

3) A cada conceito apresentado, procure relacionar suas aplicações na práti-


ca e tenha sempre uma postura crítica frente ao que a teoria apresenta e
o que o Governo e as empresas praticam.

4) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteú-


do Digital Integrador.

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1. INTRODUÇÃO
De acordo com o que estudamos no tópico Esquema de Con-
ceitos-chave deste material, devemos destacar que, de forma geral,
os impactos ambientais de uma empresa devem ser identificados
e avaliados em duas fases distintas. A primeira fase é representada
pela concepção de um empreendimento e a segunda, pelos proces-
sos de negócios da empresa. Nesta unidade, estudaremos a primei-
ra fase e, na Unidade 3, abordaremos aspectos da segunda fase.
Na primeira fase, o projeto do empreendimento passa pelo
processo de Licenciamento Ambiental, que é sustentado pela
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e pelo Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA). Esta etapa, que possui um caráter de Gestão Ambiental
Pública, é importante para o licenciamento e para a instalação
do empreendimento, bem como para o planejamento do geren-
ciamento adequado dos aspectos e impactos ambientais da em-
presa em sua posterior fase de operação.
Nesta unidade analisaremos, de forma geral, a AIA, o EIA/
RIMA e como eles se aplicam ao processo de Licenciamento Am-
biental. Além disso, estudaremos o sistema de Avaliação de Im-
pacto Ambiental (AIA) e como ele se integra ao planejamento e à
implementação de projetos e empreendimentos.
Bons estudos!

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

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2.1. AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA)

Neste tópico, veremos como se aplica a Avaliação de Im-


pacto Ambiental (AIA) na prática.
A funcionalidade da AIA como instrumento de suporte ao
processo decisório está ligada à estruturação de um sistema que
possibilite o desenvolvimento das etapas e dos procedimentos
voltados para:
1) avaliação dos impactos provocados por empreendi-
mentos e atividades;
2) definição de medidas de mitigação para os efeitos
significativos;
3) monitoramento desses efeitos após a implantação da
atividade; e
4) retroalimentação do sistema a partir dos resultados
obtidos.
Para tanto, é importante integrar a AIA ao processo de
planejamento e implementação de projetos, ou seja, ao ciclo do
projeto. Conforme o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (UNEP, 1988), ao se desenvolver um sistema de AIA no
qual as informações de interesse para os tomadores de decisão
sejam entregues no exato momento de sua necessidade dentro
do ciclo do projeto, a AIA pode provocar efeitos substantivos so-
bre eles.
Essa visão é reforçada ao se afirmar que o estudo dos im-
pactos, em especial sua identificação e análise, é essencial para
a promoção da melhoria dos sistemas produtivos, realizado por
meio do estabelecimento de medidas para que o desempenho
ambiental apresentado pela organização esteja em conformida-

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de com a legislação e/ou de acordo com a sua própria política


ambiental (BARBIERI, 2006).
Entretanto, os objetivos estabelecidos para a AIA vão
além da influência que esta pode exercer individualmente so-
bre os projetos de empreendimentos ou atividades, ainda que
tal influência seja absolutamente relevante no contexto de sua
aplicação.
Neste sentido, podemos dizer que a AIA (1999) tem como
objetivos:
1) Assegurar que considerações ambientais sejam expli-
citamente consideradas e incorporadas ao processo
decisório.
2) Antecipar e evitar, minimizar ou compensar os efeitos
adversos significativos (biofísicos, sociais e outros rele-
vantes) de projetos de empreendimentos.
3) Proteger a produtividade e a capacidade dos sistemas
naturais e dos processos ecológicos que mantêm as
suas funções.
4) Promover um desenvolvimento que seja sustentável
e que otimize o uso e as oportunidades de gestão de
recursos.
A AIA se colocará como uma ferramenta eficiente de políti-
ca pública ao desempenhar alguns papéis, tais como: suporte ao
processo decisório e subsídio à concepção e elaboração de pro-
jetos e propostas de desenvolvimento e instrumento de negocia-
ção social e gestão ambiental (SÁNCHEZ, 2008). Dessa forma, o
processo de AIA deve ser aplicado:
1) No início do processo de decisão e ao longo do ciclo de
vida da atividade proposta.

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2) A todas as propostas que possam potencialmente cau-


sar impactos significativos.
3) Considerando os impactos biofísicos e os fatores so-
cioeconômicos relevantes, incluindo a saúde, a cultu-
ra, a igualdade, o estilo de vida e os efeitos cumula-
tivos consistentes com o conceito e os princípios do
desenvolvimento sustentável.
4) De modo a promover o envolvimento e a participação
ativa das comunidades e dos setores econômicos afe-
tados pela proposta, bem como o público interessado.
5) De acordo com atividades e medidas internacional-
mente aceitas (IAIA, 1999).
É relevante mencionar que a AIA se mostra limitada ao
considerar essencialmente o impacto advindo do projeto pro-
posto no momento da avaliação da viabilidade ambiental de
empreendimentos, não levando em conta outros projetos que
possam vir a ser implantados na mesma área em decorrência da
implantação do primeiro. Trata-se, evidentemente, de uma falha
do sistema que opera o instrumento, e não do instrumento em
si (FEARNSIDE, 2002).
As limitações sobre os sistemas de AIA têm apresentado
efeitos cumulativos e sinérgicos em relação à consideração. É
comum que impactos ambientais associados a um determina-
do projeto, considerados de baixa magnitude, sejam avaliados
como insignificantes.
Porém, é relevante destacar que os impactos de baixa mag-
nitude de projetos individuais podem se tornar impactos de alta
significância quando esses são somados aos impactos causados
por todos os projetos alocados em um mesmo sistema ambien-
tal durante um período de tempo (ERICKSON, 1994).

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Esses efeitos são preocupantes, pois podem facilmente


levar a uma “degradação fragmentada" ou à perda de compo-
nentes-chave do meio ambiente, podendo resultar em mudan-
ças altamente significativas (e até irreversíveis), em longo prazo,
nesse ambiente.
Por esse motivo, sugere-se que os sistemas de AIA ado-
tem mecanismos que o façam considerar o impacto gerado pelo
conjunto de projetos inter-relacionados, utilizando como refe-
rencial, por exemplo, a bacia hidrográfica, antes de considerar os
projetos e seus impactos de forma individual (FEARNSIDE, 2002).

2.2. APLICAÇÃO DA AIA NO PROCESSO DE LICENCIAMENTO


AMBIENTAL

A maioria dos sistemas de AIA apresenta uma estrutura co-


mum, com aplicação de procedimentos similares. Vale ressaltar,
contudo, que os componentes específicos, etapas e atividades
podem variar em função dos requisitos estabelecidos em dife-
rentes jurisdições.
A Figura 1 ilustra a estrutura básica da AIA aplicada no Bra-
sil, que preconiza a integração com o licenciamento ambiental
em suas diferentes fases (licenças prévias, de instalação, de ope-
ração) e, por sua vez, com a gestão ambiental dos empreendi-
mentos (durante a etapa de instalação e ao longo de sua ope-
ração). Podemos notar que a AIA é amparada, em diferentes
momentos, pela participação da sociedade, condição essencial
para o alcance de seus objetivos.

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Fonte: adaptado de Sánchez (2008).


Figura 1 O processo de AIA no Brasil.

O processo de AIA normalmente se inicia com a triagem


dos empreendimentos ou atividades que estarão sujeitos a uma
avaliação detalhada dos impactos, considerando o potencial de
alterações significativas na qualidade ambiental. A aplicação da
AIA deve ser direcionada às propostas de empreendimentos que
realmente importam em termos ambientais, otimizando o inves-
timento de tempo e recursos.
É importante ressaltar que, após a apresentação do proje-
to que se pretende implantar, procura-se responder à seguinte
questão: existe a possibilidade de impactos significativos?
Com base na resposta, têm-se uma das seguintes situações:
• há necessidade de estudos aprofundados; ou

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• não há necessidade de realização de estudos aprofun-


dados; ou
• há dúvidas sobre o potencial de causar impactos signifi-
cativos ou sobre a efetividade das medidas de controle.
Durante esta primeira etapa, é comum lançar mão de de-
terminados critérios que auxiliem a enquadrar as propostas de
intervenção. Os critérios básicos de triagem envolvem:
1) Listas positivas: são listas de projetos para os quais é
obrigatório um estudo detalhado.
2) Listas negativas: são listas de projetos que causam im-
pactos pouco significativos ou que possuem medidas
eficazes para mitigar impactos negativos.
3) Critérios de corte: esses critérios são aplicados aos
dois tipos de listas (positivas e negativas) e são basea-
dos no critério "porte do empreendimento".
4) Localização do empreendimento: são áreas considera-
das sensíveis, que exigem um estudo mais aprofunda-
do, independentemente do porte ou tipo de atividade.
5) Recursos ambientais potencialmente afetados: esse
critério deve ser considerado em projetos que afetam
os recursos ambientais que se deseja proteger (SÁN-
CHEZ, 2008).
É importante destacar que, no Brasil, a AIA é respaldada
legalmente pela Resolução CONAMA nº 237, de 19 de novembro
de 1997.

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Com as leituras propostas no Tópico 3. 1., você comple-


mentará seus estudos a respeito do processo de Avaliação de
Impacto Ambiental – AIA. Antes de prosseguir para o próximo
assunto, realize as leituras indicadas.

2.3. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA)/RELATÓRIO DE


IMPACTO AMBIENTAL (RIMA)

Estudaremos agora dois importantes instrumentos utiliza-


dos pelo processo de Licenciamento Ambiental.
Segundo Brasil (1986), a Resolução CONAMA nº 001/1986
regulamenta os critérios básicos, as diretrizes gerais e as ativida-
des técnicas que devem ser desenvolvidas na elaboração de um
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e de um Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA). De acordo com seu art. 2º, é uma relação de
atividades modificadoras do meio ambiente que dependem da
aprovação do EIA e do seu respectivo RIMA para fins de Licencia-
mento Ambiental. A legislação brasileira estabelece que os ór-
gãos ambientais competentes tenham autonomia para definir os
critérios e os estudos ambientais apropriados para cada situação
em termos da significância dos impactos potenciais da atividade.
A análise detalhada dos impactos ambientais a serem pro-
vocados pela atividade é aplicada apenas em casos cuja proposta
tenha potencial de causar significativo impacto ambiental. Neste
caso, define-se o escopo da avaliação de impactos, estabelecen-
do-se a abrangência e a profundidade dos estudos ambientais
que, uma vez concluídos, deverão permitir compreender como os
impactos se manifestarão, sua magnitude, intensidade e os meios
disponíveis para mitigá-los ou compensá-los (SÁNCHEZ, 2008).

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A etapa de escopo é finalizada com a elaboração do Termo


de Referência, que orientará a preparação de um EIA a partir da
formalização das diretrizes, conteúdo e abrangência deste estu-
do. O órgão licenciador poderá elaborar o Termo de Referência
a partir de informações fornecidas pelo empreendedor ou, em
alguns casos, poderá solicitar que o empreendedor elabore uma
primeira proposta para este termo, reservando-se ao papel de
analisá-lo, julgá-lo e aprová-lo.
De qualquer maneira, a etapa de escopo é de suma impor-
tância para a efetividade da AIA em termos da inclusão em suas
etapas iniciais dos impactos significativos associados à proposta
de intervenção. Nesta etapa, a participação da sociedade é vis-
ta como potencialmente benéfica pela contribuição efetiva na
identificação dos impactos significativos associados ao projeto.
Após a definição do escopo, procede-se à elaboração do
EIA e do RIMA, instrumentos considerados como parte central
do processo de Avaliação de Impacto Ambiental por constituir o
principal elemento de comunicação das conclusões da AIA aos
tomadores de decisão e ao público interessado.
A elaboração do EIA demanda um conjunto de atividades
que envolvem a coleta de informações referentes aos aspectos
ambientais de interesse; a elaboração do diagnóstico ambien-
tal para estabelecimento da linha de base para a avaliação dos
impactos; a identificação, descrição dos impactos e posterior
interpretação em termos de sua significância; a proposição de
medidas mitigadoras e programas de monitoramento de impac-
tos; planos de ação para minimização dos efeitos sobre o meio
ambiente e estratégias de compensação ambiental; e o delinea-
mento de ações para acompanhamento dos efeitos sobre o meio
e efetividade das medidas mitigadoras propostas.

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As etapas de previsão, avaliação e identificação de me-


didas mitigadoras ocorrem de maneira sequencial e cíclica, ob-
servando informações referentes ao diagnóstico ambiental (en-
vironmental baseline) e às características da ação estratégica em
análise, valendo-se do emprego de métodos e de técnicas para
identificação e previsão de impactos.
A previsão dos impactos resulta na descrição – quantitativa
ou qualitativa – de atributos como magnitude, extensão, dura-
ção, reversibilidade etc. Esta descrição resulta na hierarquização
dos impactos por meio da avaliação de sua significância, para
posterior verificação das possibilidades de mitigação dos efeitos
negativos e potencialização dos efeitos positivos, retomando-se
o ciclo a partir da reavaliação dos impactos previstos anterior-
mente (THERIVEL, 2004; GLASSON; THERIVEL; CHADWICK, 2005).
Um dos maiores desafios colocados ao EIA está em man-
ter suas atividades focadas nas questões realmente relevantes,
o que reforça a importância da etapa de escopo. O estudo, por
sua vez, será estruturado em torno destas questões importantes,
que direcionarão as atividades de coleta de dados, a análise dos
impactos e a proposição de medidas de gestão (FOGLIATTI; FILIP-
PO; GOUDARD, 2004; SÁNCHEZ, 2008).
A Resolução CONAMA nº 001/1986 estabelece diretrizes
gerais para a elaboração do EIA:
I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localiza-
ção de projeto, confrontando-as com a hipótese de não execu-
ção do projeto (art. 5º, I).
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambien-
tais gerados nas fases de implantação e operação da atividade
(art. 5º, II).
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indireta-
mente afetada pelos impactos, denominada área de influência

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do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográ-


fica na qual se localiza (art. 5º, III).
lV - Considerar os planos e programas governamentais, propos-
tos e em implantação na área de influência do projeto, e sua
compatibilidade (art. 5º, IV) (BRASIL, 1986).

O processo de elaboração de um EIA/RIMA obedece a uma


sequência lógica de atividades encadeadas. A observação des-
sa sequência é fundamental para que se obtenha um estudo fi-
nal de qualidade e com informações confiáveis. Com base em
Stamm (2003) e Sánchez (2008), disponibilizamos nos subtópi-
cos a seguir um breve descritivo de cada uma dessas etapas.

Conhecimento e caracterização do projeto e suas alternativas


Nesta etapa, os estudos ambientais devem incluir o pro-
jeto em questão e suas alternativas. Deve-se estudar certo nú-
mero de alternativas tecnológicas e locacionais, descartando,
eventualmente, aquelas que se mostrarem menos favoráveis.
Esta atividade deve possibilitar a disseminação de informações
consistentes aos membros da equipe que elabora o EIA a fim de
permitir uma boa compreensão do projeto e suas alternativas.
Entre as atividades que auxiliam nesta etapa estão o levan-
tamento de bases cartográficas, o levantamento ou a aquisição
de fotografias aéreas e imagens de satélite, o levantamento pre-
liminar de dados socioambientais e da região, entrevistas ou re-
uniões de trabalho com os projetistas e o proponente para escla-
recimentos, a visita a empreendimentos semelhantes, conversas
informais na área do entorno do projeto, a avaliação da legisla-
ção aplicável, a identificação da equipe necessária e o orçamento
para a execução dos serviços.

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Existem vários métodos de AIA, entre os quais podemos citar:


1) Método Ad hoc.
2) Check lists.
3) Matrizes.
4) Redes de interação.
5) Superposição de mapas.
Contudo, este não é o foco principal deste material de es-
tudos e, por isso, não cabe aqui detalhá-los. Para aprofundamen-
to do tema tratado, sugerimos a obra de Sánchez (2008).

Reconhecimento Ambiental Inicial


O Reconhecimento Ambiental Inicial é realizado por meio
da análise de dados extraídos preliminarmente, tais como: ma-
pas topográficos oficiais, fotografias aéreas, imagens de satéli-
te, plantas relativas ao projeto, estudos ambientais anteriores,
breve pesquisa bibliográfica, bases de dados socioeconômicos,
bases de dados ambientais e conversas com moradores locais,
órgãos não governamentais e governamentais.

Identificação preliminar dos impactos


Na etapa de identificação, deve ser feita uma lista das possí-
veis alterações que podem ocorrer em decorrência da instalação do
empreendimento. Os impactos irrelevantes devem ser descartados.

Determinação do escopo e elaboração do Plano de Trabalho/


Termo de Referência
O escopo deve ser elaborado com base nas questões mais
relevantes a serem analisadas, estabelecendo o conteúdo do EIA

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e a abrangência dos estudos de base. Por sua vez, o Termo de Re-


ferência deve conter uma breve descrição do empreendimento,
a descrição das alternativas que serão avaliadas, sua localização,
delimitação da área de estudo, principais impactos prováveis re-
lacionados ao empreendimento, estrutura proposta para o EIA,
métodos para levantamento de dados e análise dos impactos,
entre outras, devem fazer parte desse documento.

Estudos de base
Os estudos de base são estruturados de forma a fornecer
informações necessárias para o estabelecimento da linha de
base ambiental, ou seja, o diagnóstico da situação do meio no
instante em que será afetado e a descrição das tendências veri-
ficadas para o futuro, sem a implantação do empreendimento.
Além disso, eles fornecem subsídios para as etapas de pre-
visão dos impactos, avaliação de sua importância e elaboração
de um plano de gestão ambiental. Normalmente, é a atividade
mais custosa em termos de tempo e de recursos.

Identificação dos impactos


Na identificação dos impactos, são descritas as consequên-
cias esperadas de um empreendimento e as relações de causa e
efeito decorridas a partir de ações modificadoras do meio am-
biente e que compõem esse empreendimento.

Previsão de impactos
É a caracterização dos impactos mediante aspectos quan-
titativos ou qualitativos e posterior levantamento de hipóteses
sobre a magnitude e a intensidade dos potenciais impactos.

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Avaliação dos impactos


Analisa a significância desses impactos no contexto no qual
o empreendimento será inserido.

Plano de gestão
O plano de gestão é constituído pelas ações necessárias à
implementação das medidas de mitigação de efeitos negativos
e potencialização de efeitos positivos sobre o meio, e pela ava-
liação contínua de sua efetividade por meio do monitoramento
dos impactos.
Integram, ainda, o plano de gestão as medidas compensa-
tórias que visam equilibrar a perda de elementos importantes
do ambiente no qual o empreendimento está inserido. Além dis-
so, deve incorporar ações, iniciativas ou programas que tenham
como objetivo a recuperação ou melhoria da qualidade ambien-
tal na área de influência do projeto em análise.
A Figura 2 a seguir ilustra a sequência descrita, destacando
as fases de planejamento e execução do EIA. Observe:

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Fonte: Sánchez (2008, p. 166).


Figura 2 Principais Etapas do Processo de Planejamento e Execução de um EIA.

É fundamental ressaltar que a qualidade das informações


técnicas apresentadas no EIA é de responsabilidade conjunta
dos profissionais que o elaboram e de empreendedores, estan-
do esses sujeitos a sansões administrativas, civis e penais caso
apresentem informações inverídicas. Além disso, as decisões to-
madas a partir das informações e análises apresentadas no EIA
serão tão mais consistentes quanto maior o rigor científico apli-
cado em sua elaboração (MIRRA, 2002).
Um aspecto importante relacionado à efetividade da AIA
como instrumento de suporte à tomada de decisão relaciona-
-se com os custos da realização dos serviços necessários para a
elaboração dos estudos ambientais, em termos de tempo e re-
cursos financeiros.

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Vale dizer, no entanto, que EIAs bem preparados propiciam


economia de recursos aos responsáveis pelo projeto, sem men-
cionar o fato de que um dos efeitos derivados da AIA tem sido
a melhoria do desempenho ambiental dos projetos, implicando
menores gastos em medidas de mitigação e controle e, sobretu-
do, remediação. Afinal, o custo da prevenção é invariavelmente
menor se comparado aos recursos financeiros necessários para
reparar danos ambientais e modificar ou introduzir tecnologias
capazes de equilibrar as consequências ambientais danosas ge-
radas pelo empreendimento, caso essas não tivessem sido iden-
tificadas no início do projeto.
Autores como Glasson e Salvador (2000) e Sánchez (2008)
já mencionavam o risco enfrentado pela AIA de burocratização
excessiva em seus procedimentos, o que implicaria muito tempo
até sua finalização. Afinal, dependendo da complexidade do pro-
jeto e da sua aplicação, é comum que se passem dois anos entre
a apresentação da proposta, a elaboração dos estudos ambien-
tais e a decisão final.
Como consequência, aumentam-se as pressões para a des-
burocratização da AIA – o que é salutar – porém, com o efeito
inverso de abrir caminho para propostas de desregulamentação
que podem, num limite, desconfigurar o instrumento. Assim,
devem-se estabelecer limites claros para o tempo de tramita-
ção dos processos, ao mesmo tempo em que se criam condições
adequadas para o funcionamento dos sistemas de AIA (GLAS-
SON; SALVADOR, 2000).
De modo a auxiliar no processo de análise técnica dos estu-
dos de impacto, a consulta pública orientada para a discussão das
conclusões do EIA/RIMA tem a finalidade de coletar as impres-
sões e as manifestações da sociedade a respeito das expectativas

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suscitadas pelo empreendimento, além das contribuições de ca-


ráter técnico sobre pontos específicos da proposta em discussão.
Assim, ressalta-se a importância da participação pública no pro-
cesso da AIA, afirmando a necessidade de se encontrarem me-
canismos que garantam essa participação (O’FAIRCHEALLAIGH,
2010).
É possível mencionar ainda que a expectativa da partici-
pação do público sem uma contrapartida dos empreendedores
e a falta de feedback à participação do público podem estimu-
lar um ambiente contrário à proposta do projeto, constituindo
um problema a ser contornado antes da implantação do projeto
(STAMM, 2003).
Uma forma de envolver o público no processo de AIA é
considerá-lo portador e receptor de informação: no seu envol-
vimento no processo decisório por meio da facilitação do aces-
so às informações relativas ao projeto ou atividade proposta; na
disseminação do conhecimento sobre os impactos esperados
que este projeto ou atividade possa causar aos grupos e locali-
dades afetados; e na disponibilização de canais de comunicação
com os responsáveis pela decisão a ser tomada.
Devem-se explorar os diferentes momentos em que o pro-
cesso de AIA oferece espaço para a participação da sociedade –
além da etapa de escopo e consulta pública – para discussão do
EIA. Como já comentado, é possível e desejável envolver a popu-
lação no momento da identificação e avaliação dos impactos, da
tomada de decisão e do acompanhamento e gestão ambiental
do projeto após a sua aprovação (O’FAIRCHEALLAIGH, 2010).
A análise técnica do EIA deve levar em consideração as
manifestações do público e eventuais informações e questiona-

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mentos apresentados. Ao final, o parecer técnico emitido pelos


órgãos responsáveis incluirá uma das seguintes recomendações:
• Projeto aprovado.
• Projeto aprovado com restrições.
• Necessidade de maiores investigações acerca dos pro-
blemas específicos a serem realizadas antes da aprova-
ção do projeto ou exigência de documento suplementar,
caso houver problemas significantes relacionados com
o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) original.
• Projeto rejeitado.
Em determinados sistemas de AIA, a decisão final é to-
mada por órgãos colegiados que congregam a participação de
representantes do governo e da sociedade civil, levando-se em
consideração as recomendações do parecer técnico e as mani-
festações colhidas durante as audiências públicas. É o caso, por
exemplo, do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA),
em São Paulo, e do Conselho Estadual de Política Ambiental (CO-
PAM), em Minas Gerais.
Por fim, caso a proposta tenha sido aprovada, a continuida-
de do processo de AIA se dá por meio da aplicação das medidas de
gestão estabelecidas no EIA, com as quais o empreendedor deve
assumir um compromisso. Tais medidas devem reduzir, eliminar
ou compensar os impactos negativos causados pela atividade, ou
potencializar os impactos positivos. O mesmo deve ocorrer ao lon-
go do funcionamento do empreendimento até a sua desativação.
É relevante mencionar que o monitoramento é fundamental
nesta etapa, e visa averiguar se o projeto atende aos requisitos
aplicáveis (legislação, condicionantes de licença, padrões de qua-
lidade ambiental, entre outros) ou se há necessidade de ajustes.

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O monitoramento deve ser realizado em conjunto com a


implementação de medidas mitigadoras. Além disso, o monito-
ramento fornece as condições básicas para avaliar a efetivida-
de das medidas mitigadoras, por meio da documentação e do
gerenciamento dos impactos, validando as técnicas de previsão
de impactos utilizadas. A partir daí ficam estabelecidos requisi-
tos e condicionantes básicos para a estruturação de um sistema
de gestão ambiental com foco nos aspectos ambientais e res-
pectivos impactos provocados sobre o meio ambiente (CANTER,
1996).
Neste momento, sugerimos que faça as leituras propos-
tas no Tópico 3. 2. para aprofundar seus estudos acerca desse
tema, especialmente acerca dos casos em que EIA/RIMA são
aplicados. Antes de prosseguir para o próximo assunto, faça a
leitura dos textos indicados, procurando assimilar o conteúdo
estudado.

2.4. VISÃO GERAL DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AM�


BIENTAL

Neste tópico, apresentaremos de maneira breve o proces-


so de Licenciamento Ambiental, pois ele é o objetivo final dos
EIA e RIMA que ocorrem em todo o território brasileiro. Contu-
do, cabe mencionar superficialmente outros documentos, como
o Estudo Ambiental Simplificado (EAS) e o Relatório Ambiental
Preliminar (RAP), que são exigidos especialmente no Estado de
São Paulo para alguns empreendimentos específicos.
No Estado de São Paulo, o Licenciamento Ambiental de
empreendimentos com potencial ou ainda que são efetivamen-
te causadores de degradação ambiental deve ser realizado com

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base em estudos ambientais (EIA, RAP ou EAS), definidos pelas


Resoluções Conama 01/86 e 237/1997, além da Resolução SMA
54/2004, considerando que esta segunda é a que especifica as
ações e os procedimentos para o Estado e instituiu dois instru-
mentos preliminares ao EIA/RIMA: o Relatório Ambiental Preli-
minar (RAP) e o Termo de Referência (TR).
Desse modo, para saber qual estudo deve apresentar no
momento de solicitação da LP, o empreendedor pode se dirigir à
CETESB ou às secretarias ambientais estaduais, quando não for o
caso do Estado de São Paulo, para obter orientações.
O processo ou procedimento de Licenciamento Ambiental
tem como um dos objetivos principais licenciar um empreendi-
mento ou projeto sob o ponto de vista ambiental, mas não se
resume a isso. Então, o que é uma Licença Ambiental?
Segundo Brasil (1997), refere-se ao
[...] ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competen-
te, estabelece as condições, restrições e medidas de controle
ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor,
pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e ope-
rar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos
ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras
ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degrada-
ção ambiental.

Concluímos então que a Licença Ambiental é o documen-


to, com prazo de validade definido, em que o órgão ambiental
estabelece regras, condições, restrições e medidas de controle
ambiental a serem seguidas por sua empresa.
Mas essa licença pode ser cancelada? Quando isso acon-
tece? A licença poderá ser cancelada a qualquer momento, bas-

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UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

tando para isso que a fiscalização ambiental constate irregulari-


dades do tipo:
• Falsa descrição de informações nos documentos exigi-
dos pelo órgão ambiental para a concessão da licença.
• Graves riscos ambientais ou à saúde.
• Alteração do processo industrial sem que o órgão am-
biental seja informado.
O Licenciamento Ambiental é visto como um procedimen-
to administrativo que permite que o órgão ambiental aprove ou
não, por meio de licenças (prévia, de instalação e operação), o
desenvolvimento de atividades que possam causar impactos so-
bre a qualidade do ambiente. A licença só deverá ser concedida
após a verificação da compatibilidade entre a atividade propos-
ta e a qualidade ambiental garantida pelo projeto (KIRCHHOFF,
2007).
Entre as principais características avaliadas no processo,
podemos ressaltar o potencial de geração de líquidos poluentes
(despejos e efluentes), os resíduos sólidos, as emissões atmosfé-
ricas, os ruídos e o potencial de riscos de explosões e de incên-
dios. Ao receber a Licença Ambiental, o empreendedor assume
os compromissos para a manutenção da qualidade ambiental do
local em que se instala.
Seguindo o contexto, o licenciamento ambiental refere-se
a um processo administrativo que se desenvolve em três fases e
resultará na emissão de três licenças (uma em cada fase), confor-
me estabelecido na Resolução CONAMA nº 237, em seu art. 8º
(BRASIL, 1997):
I – Licença Prévia (LP): concedida na fase preliminar do plane-
jamento do empreendimento ou atividade aprovando sua loca-
lização e concepção, atestando a viabilidade ambiental, que é

© PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL 59
UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

subsidiada pelo EIA/RIMA, no caso de empreendimentos com


potencial de causar significativo impacto ambiental, e estabele-
cendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos
nas próximas fases de sua implementação;
II – Licença de Instalação (LI): autoriza a instalação do empreen-
dimento ou atividade de acordo com as especificações constan-
tes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as
medidas de controle ambiental, e demais condicionantes, da
qual constituem motivo determinante;
III – Licença de Operação (LO): autoriza a operação da ativida-
de ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumpri-
mento do que consta das licenças anteriores, com as medidas
de controle ambiental e condicionantes determinadas para a
operação.

Para maior compreensão acerca das licenças mencionadas


anteriormente, vamos esclarecer os seguintes aspectos:
• Na LP (Licença Prévia), o EIA deve ser apresentado para
obtenção da Licença Prévia dos empreendimentos com
potencial de causar significativo impacto ambiental. A
análise técnica decidirá se o projeto apresentado é pas-
sível ou não de receber essa licença ambiental prévia,
que definirá as condicionantes a serem atendidas para
tornar esse projeto ambientalmente viável (MIRRA,
2002).
• Na LO (Licença de Operação): as condicionantes do mo-
nitoramento do empreendimento são apresentadas na
Licença de Operação e devem estar orientadas para as
conclusões da AIA (no caso de empreendimentos com
potencial de causar significativo impacto ambiental).
O controle ambiental determinado nesta licença, por
meio das condicionantes estabelecidas, visa garantir

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UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

que o empreendimento atenda aos padrões de qualida-


de estabelecidos pela legislação.
Os prazos de validade de cada uma das licenças são apre-
sentados na Figura 3.

Fonte: Brasil (1997).


Figura 3 Prazos de validade das licenças ambientais.

A contagem do prazo será suspensa durante a elabora-


ção dos estudos ambientais complementares ou a preparação
de esclarecimentos por parte do empreendedor, bem como tais
prazos poderão ser alterados, mediante justificativa e com a con-
cordância do empreendedor e do órgão ambiental competente
(BRASIL, 1997).
Devem participar ativamente deste processo o empreen-
dedor, a equipe técnica que elaborou o EIA/RIMA, o órgão am-
biental fiscalizador e a comunidade afetada. O empreendedor
deve apresentar o estudo ambiental elaborado por uma equipe
técnica habilitada. Ao órgão ambiental compete a emissão ou
não da licença ambiental da atividade depois de concluída a aná-

© PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL 61
UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

lise dos estudos ambientais. À comunidade envolvida compete


participar do processo em todas as suas fases, tomando conhe-
cimento dos riscos vinculados às atividades que serão desenvol-
vidas naquele empreendimento, pelas quais eles poderão ser
afetados.
É importante ressaltar que o monitoramento da atividade
licenciada após a realização do EIA/RIMA é exigência fundamen-
tal em razão de o licenciamento poder ser modificado, ou até
revogado, a qualquer momento. A Política Nacional do Meio Am-
biente (PNMA) prevê a possibilidade de revisão do licenciamen-
to, que pode ocorrer quando uma atividade regularmente licen-
ciada estiver se revelando, na prática, nociva ao meio ambiente
(BRASIL, 1997).
Você notou que o Licenciamento Ambiental é composto
por várias atividades distintas? Pois bem, por isso ele é comu-
mente chamado de processo ou procedimento e não se limita
somente ao ato de emitir licenças.
Algumas etapas e/ou procedimentos do Licenciamento
Ambiental mudam de acordo com o estado em que o empreen-
dimento está localizado. Além disso, a natureza e a finalidade
do negócio, bem como as classificações dos prováveis impactos
ambientais também influenciam as licenças e, por sua vez, todo
o processo de Licenciamento Ambiental.
As seguintes obrigações são de responsabilidade do em-
preendedor e, portanto, devem ser custeadas por ele:
• contratação da elaboração dos estudos ambientais [...];
• contratação, se necessário, de empresa de consultoria para
interagir com o órgão ambiental [...];
• despesas relativas à realização de reuniões e/ou audiências
públicas [...];

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• despesas com publicações na imprensa de atos relaciona-


dos com o processo de licenciamento;
• pagamento da compensação ambiental;
• pagamento das taxas (emissão das licenças e da análise dos
estudos e projetos) cobradas pelo órgão licenciador; e
• despesas relativas à implementação dos programas am-
bientais (medidas mitigadoras) (BRASIL, 1997).

Como vimos, os EIAs e todo o processo de Licenciamento


Ambiental são importantes instrumentos para a Gestão Ambien-
tal Pública que, por sua vez, sustentam as obrigações legais das
empresas para com o meio ambiente e social.
Lembrando que estes instrumentos de caráter público de-
vem ser empregados nas fases de projeto dos empreendimentos.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique na funcionalidade
Videoaula, localizada na barra superior. Em seguida, digite o nome do vídeo
e selecione-o para assistir.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos" e selecione:
Produção Sustentável – Vídeos Complementares – Complementar 2.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

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UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

3.1. AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL (AIA)

Nesta primeira referência do Conteúdo Digital Integrador


disponibilizada a seguir, você terá acesso ao trabalho científico
que aborda a história do surgimento da AIA no mundo e no Brasil,
bem como o processo pelo qual se desenvolve esse instrumento
de Gestão Ambiental Pública. Além disso, essa dissertação abor-
da as normas da série ISO 14000, em que é realizada uma análise
comparativa entre esse instrumento de Gestão Ambiental Em-
presarial/Privado e a AIA, no intuito de apontar potenciais de
integração entre esses instrumentos.
Já na segunda referência, indicamos a tese de Gallardo que
apresenta, entre outras informações, dados acerca das etapas
que compõem o processo de Avaliação de Impacto Ambiental no
Brasil, com foco na etapa de acompanhamento.
E, por fim, na terceira referência de estudos, há um refe-
rencial teórico sobre as etapas de realização da AIA e de como
esse instrumento é conduzido no Brasil, com foco no Estado de
São Paulo.
• SANCHES, R. A Avaliação de impacto ambiental e as
normas de gestão ambiental da série ISO 14000: carac-
terísticas técnicas, comparações e subsídios à integra-
ção. 2011, 268 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Engenharia Ambiental) – Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos, 2011.
Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/dis-
poniveis/18/18139/tde-25042011-103032/pt-br.php>.
Acesso em: 29 jun. 2016.

64 © PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

• CENED CURSOS. Avaliação de Impacto Ambiental


(AIA). Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=vth0uslLexw>. Acesso em: 29 jun. 2016.
• DIAS, E. G. C. S. Avaliação de impacto ambiental de
projetos de mineração no Estado de São Paulo: a eta-
pa de acompanhamento. 2001. 283 f. Tese (Doutorado)
– Departamento de Minas e de Petróleo, Escola Poli-
técnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001.
Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/dispo-
niveis/3/3134/tde-23052001-171051/pt-br.php>. Aces-
so em: 29 jun. 2016.

3.2. APLICAÇÃO DA AIA NO PROCESSO DE LICENCIAMENTO


AMBIENTAL

Nesta unidade, estudamos que as práticas de AIA, o EIA/


RIMA e o Licenciamento Ambiental, assuntos de nossa próxima
unidade, são realizados de acordo com os tipos de atividades an-
trópicas, pois os impactos ambientais dependem desses fatores.
Dessa forma, sugerimos que pesquise por estudos de outros es-
tados e compare-os.
No primeiro site indicado, você encontrará os termos de
referência para elaboração de EIA/RIMA no estado de Minas Ge-
rais e observará que esses termos de referência são divididos por
tipos de atividades.
Já no segundo site, é apresentado o EIA/RIMA do Porto
de São Sebastião. Faça uma leitura atenta do texto e lembre-se
de que você deve adotar uma postura mais crítica, uma vez que
é membro de uma sociedade e será, no futuro, um profissional
que atuará com as questões ambientais.

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UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

No terceiro e último link, indicamos a publicação do acei-


te do EIA/RIMA do Reator Multipropósito Brasileiro pelo IBAMA.
Aproveite para explorar outros estudos que o IBAMA publica neste
site e procure exemplos e EIA/RIMA já realizados. Não se esqueça
de analisar criticamente os estudos pesquisados por você.
• SEMAD. Termos de Referência para Elaboração de Es-
tudo de Impacto/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/
RIMA). Disponível em: <http://www.meioambiente.
mg.gov.br/noticias/1/1167-termos-de-referencia-para-
-elaboracao-de-estudo-de-impactorelatorio-de-impac-
to-ambiental-eiarima>. Acesso em: 30 jun. 2016.
• PORTO SÃO SEBASTIÃO. EIA/Rima. Disponível em:
<http://www.portodesaosebastiao.com.br/pt-br/eia-
-rima.asp>. Acesso em: 30 jun. 2016.
• BRASIL. Ibama publica o aceite do EIA/RIMA do Reator
Multipropósito Brasileiro. IBAMA MMA. 2016. Disponí-
vel em: <http://www.ibama.gov.br/publicadas/ibama-
-publica-o-aceite-do-eia/rima-do-reator-multiproposi-
to-brasileiro>. Acesso em: 30 jun. 2016.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-
dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Analise as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta:
I - O EIA/RIMA deve ser elaborado por profissionais legalmente
habilitados.
II - O custeio do EIA/RIMA deve ser efetuado pelo empreendedor.

66 © PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

III - É necessário a elaboração do EIA/RIMA para as atividades considera-


das potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental.
IV - O EIA/RIMA é um instrumento meramente compensatório ao dano
causado por uma atividade.
a) Apenas I, II e III estão corretas.
b) Apenas I, III e IV estão corretas.
c) Apenas III e IV estão corretas.
d) Todas as afirmações estão corretas.

2) As siglas EIA/RIMA/CONAMA significam:


a) Etapa Prévia de Impacto Ambiental; Resumo de Impacto sobre o Meio
Artificial; Comissão Nacional do Meio Ambiente.
b) Estudo de Impossibilidade Ambiental; Resumo de Impacto ao Meio
Ambiente; Cooperação Nacional para Preservação do Meio Ambiente.
c) Elaboração de Impacto Ambiental; Relatório de Impacto sobre o Meio
Ambiente; Consagração Natural do Meio Ambiente.
d) Estudo de Impacto Ambiental; Relatório de Impacto sobre o Meio Am-
biente; Conselho Nacional do Meio Ambiente.
e) n.d.a.

Gabarito
Confira as respostas das questões autoavaliativas
propostas.
1) a.

2) d.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final de nossa Unidade 2. Agora é possível
compreender que um empreendimento passa por avaliações
prévias, sustentadas pela AIA, por estudos sustentados pelo EIA/

© PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL 67
UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

RIMA que, por sua vez, fornecem suporte ao processo de Licen-


ciamento Ambiental.
Vimos esses conceitos de forma superficial e geral, pois,
neste momento, tornou-se essencial conhecer essa etapa de su-
porte para posteriormente compreender a estratégia Produção
mais Limpa (P+L), que é adotada no âmbito interno da empresa.
A P+L, então, é considerada uma abordagem de Gestão
Ambiental Privada e se aplica durante as operações da empre-
sa. Estudaremos detalhadamente essa estratégia na próxima
unidade.
É relevante se posicionar criticamente frente a essa temá-
tica, pois, como profissional, você deverá se preocupar com esta
questão, uma vez que na sociedade todos têm direitos e deveres
para com o Meio Ambiente.
Desejamos a todos bons estudos!

6. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Ministério do Meio
Ambiente. Dispõe sobre licenciamento ambiental; competência da União, Estados e
Municípios; listagem de atividades sujeitas ao licenciamento; Estudos Ambientais,
Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>. Acesso em: 30
jun. 2016.
______. Resolução CONAMA nº 001, de 23 janeiro de 1986. Ministério do Meio
Ambiente. Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as
diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como
um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html>. Acesso em: 30 jun. 2016.
INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR IMPACT ASSESSMENT – IAIA. Principles of
Environmental Impact Assessment: best practice. 1999. Disponível em: < https://
www.eianz.org/document/item/2744>. Acesso em: 13 maio 2016.

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UNIDADE 2 – ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E LICENCIAMENTO AMBIENTAL

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São
Paulo: Saraiva, 2006.
CANTER, L. W. Environmental Impact Assessment. 2.. ed. Nova York: Irwin McGraw-Hill, 1996.
ERICKSON, P. A. A practical guide to Environmental Impact Assessment. San Diego:
Academic Press, 1994. p. 12-15; 48-50.
FEARNSIDE, P. M. Avança Brasil: environmental and social consequences of Brazil’s planned
infrastructure in Amazonia. Environmental Management, v. 30, n. 6, p. 742, 2002.
FOGLIATTI, M. C.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliação de impactos ambientais:
aplicação aos sistemas de transporte. Rio de Janeiro: Interciência, 2004, p. 27-28.
GLASSON, J.; SALVADOR, N. N. B. EIA in Brazil: a procedures-practice gap. A comparative
study with reference to the European Union, and especially the UK. Environmental
Impact Assessment review, v. 20, p. 203-204, 2000.
______; THERIVEL, R.; CHADWICK, A. Introduction to Environmental Impact
Assessment. 3. ed. Oxon: Routledge, 2005.
KIRCHHOFF, D. et al. Limitations and drawbacks of using preliminary environmental reports
(PERs) as an input to environmental licensing in São Paulo State: A case study on natural gas
pipeline routing. Environmental Impact Assessment review, v. 27, p. 301-318, 2007.
MIRRA, A. L. V. Impacto ambiental: aspectos da legislação brasileira. 2. ed. revista e
aumentada. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2002, p. 75.
O’FAIRCHEALLAIGH, C. Public participation and Environmental Impact Assessment:
purposes, implications, and lessons for public policy making. Environmental Impact
Assessment Review, v. 30, p. 21-22, 2010.
SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo:
Oficina de Textos, 2008.
STAMM, H. R. Método para avaliação de impacto ambiental (AIA) em projetos de
grande porte: estudo de caso de uma usina termelétrica. 2003. 265 f. Tese (Doutorado)–
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina, 2003.
THERIVEL, R. Strategic environmental assessment in action. Londres: Earthscan, 2004,
p. 134; 171-172.
UNEP – UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. Environmental Impact
Assessment: basic procedures for developing countries. Bangkok: UNEP Regional
Office for Asia and the Pacific, 1988.

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