Você está na página 1de 20

Scripta Uniandrade, v. 20, n.

1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

O ULTRARROMANTISMO COMO DOENÇA


NO BRASIL DO SÉCULO XIXi

GABRIEL ESTEVES (DOUTORANDO)


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/CNPQ)
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
(gabrielesteves@gmail.com)

RESUMO: O objetivo deste trabalho é mostrar, através de exemplos colhidos em jornais


da época, como o ultrarromantismo foi, no Brasil do século XIX, tratado como uma
doença sociocultural ligada à decadência do “corpo da nação” e combatido por
intelectuais engajados no desenvolvimento de um romantismo moderado, representado
por instituições imperiais e periódicos como o Jornal dos Debates, a Minerva Brasiliense
e o Guanabara. Na primeira parte do trabalho, mostro de que forma os representantes
desse romantismo moderado buscaram desestimular a importação de obras
consideradas ultrarromânticas até o momento (e depois dele) em que o Brasil passou a
contar com o seu próprio ultrarromantismo (ou byronismo, como também ficou
conhecido), em meados da década de 1840. Na segunda parte do trabalho, mostro de
que maneira atuaram essas instituições e periódicos associadas ao projeto imperial
para, a partir de 1840, estimular a produção de autores identificados com o romantismo
"normal" e refrear os “anormais”, quer dizer, aqueles que exibiam tendências
ultrarromânticas e poriam a harmonia social em perigo.

Palavras-chave: Romantismo. Byronismo. Ecletismo. Doença.

Artigo recebido em: 07 mar. 2022.


Aceito em: 10 jun. 2022.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
74
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

ULTRA-ROMANTICISM AS ILLNESS
IN THE 19TH CENTURY BRAZIL

ABSTRACT: The objective of this work is to show, through examples collected in


periodicals of the time, how Ultra-Romanticism was treated in Brazil, during the
19th century, as a sociocultural disease linked to the decay of the “body of the
nation” and fought by intellectuals engaged in the development of a moderate
Romanticism, represented by imperial institutions and periodicals such as
Jornal dos Debates, Minerva Brasiliense and Guanabara. In the first part of this
article, I show how the exponents of this moderate Romanticism sought to
discourage the importation of works considered ultra-romantic until the
moment (and after it) when Brazil started to rely on its own Ultra-Romanticism
(or Byronism, as it also became known) in the mid-1840s. In the second part of
this article, I show how these institutions and periodicals associated with the
imperial project worked, from 1840 on, to stimulate the production of authors
identified with "normal" Romanticism and curb the “abnormal”, that is, those
who exhibited ultra-romantic tendencies and would endanger social harmony.

KEYWORDS: Romanticism. Byronism. Eclecticism. Illness.

O ROMANTISMO “VERDADEIRO”, A IMPORTAÇÃO ULTRARROMÂNTICA,


O CORPO SOCIAL

Quando, em 1836, os integrantes da delegação enviada à Europa para


formar uma nova geração de intelectuais cosmopolitas1 começaram a retornar
ao Brasil, nosso romantismo moderado, embebido na filosofia eclética de Victor
Cousin2, passou a ser divulgado nas folhas periódicas. Já em Paris se havia feito

1 A respeito da delegação liderada por Luís Moutinho e financiada pelos liberais


moderados do período regencial, veja-se em PINASSI, 1998, p. 81-82.
2 Ainda jovem iniciado na filosofia eclética por Frei Monte Alverne, Gonçalves de

Magalhães dedicou particular atenção ao seu aprofundamento enquanto esteve em


Paris, como atestam as cartas que ele e Araújo Porto Alegre enviaram ao mestre, e que
foram compiladas por Roberto Lopes no livro Cartas a Monte Alverne (1964). Seu projeto
romântico, que seria sempre o dos companheiros da Niterói, da Minerva e da Guanabara
(veja-se, a respeito, em BARROS, 1973, p. 120-121), foi marcado “por um fundo
filosófico bebido em Cousin, cujas ideias, não só epistemológicas, históricas ou éticas,

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
75
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

a publicação de dois títulos importantes: a revista Niterói e a coletânea dos


Suspiros poéticos e saudades. A primeira, redigida coletivamente, continha
artigos assinados por Gonçalves de Magalhães, Sales Torres Homem, Manuel
Pereira da Silva et alii, possuía a nobre ambição de conduzir a pátria pela
“estrada luminosa da civilização e tocar ao ponto de grandeza que a Providência
lhe destina” (AO LEITOR, 1836, p. 6), e lançava as ideias capitais do que viria a
ser a doutrina do nosso “alto romantismo”, doutrina essa que seria, passado o
período regencial, estreitamente ligada ao projeto cultural do Segundo Reinado
e se baseava, como este, em uma ideologia moderadamente liberal, monárquico-
constitucional e espiritualista; a segunda, composta por Gonçalves de
Magalhães, tentava pôr a nova doutrina em prática, atualizar o gosto literário
do país e exemplificar o papel tutelar que se pensava caber à intelligentsia de
uma grande nação. Quem lê, ademais, as primeiras páginas do Ensaio sobre a
história da literatura do Brasil, que Magalhães publicou na Niterói, compreende
imediatamente que, para ele e seu grupo, a literatura é investida de um grande
poder capaz de transformar toda a vida moral de um povo:

A Literatura de um povo é o desenvolvimento do que ele tem de mais sublime


nas ideias, de mais filosófico no pensamento, de mais heroico na moral e de mais
belo na Natureza; é o quadro animado de suas virtudes e de suas paixões, o
desenvolvimento de sua glória e o reflexo progressivo de sua inteligência.
(MAGALHÃES, 1836, p. 132)

As transformações filosófica e literária que Magalhães e seus


companheiros propõem através da Niterói são “instrumentos para uma ‘reforma
de vida’ e de ‘ideais de vida’” (BARROS, 1973, p. 57) que integram um projeto
total da civilização brasileira. Trata-se, para Maciel de Barros, do “projeto
brasileiro de Magalhães”, projeto “romântico e espiritualista” que pretendia “dar
à nação uma nova dimensão espiritual, que há de balizar os caminhos de nossa
literatura, de nossa filosofia, de nossa educação, de nossa política” (BARROS,
1973, p. 73), ou, em outras palavras, promover “uma reforma espiritual inteira
da sociedade brasileira, sob a égide da filosofia espiritualista e do romantismo
‘comedido’, dominado pela visão propiciada pelo ecletismo” (BARROS, 1973, p. 73).
É apenas no ano seguinte, contudo, quando a maior parte da delegação
já está no Rio de Janeiro, que essa proposta romântica começa a ser definida
em contraposição ao que, em Paris, se chamava negativamente de
ultrarromantismo3, mas ainda não era produzido por aqui. Nessa campanha

mas mesmo as estéticas, constituiriam o ‘centro de gravidade’ do pensamento de


Magalhães” (BARROS, 1973, p. 30).
3 O termo “ultraromantisme” (grifado com e sem hífen) era já moeda corrente nas

discussões literárias parisienses desde o período da restauração dos Bourbon. Em 1831,


por exemplo, Narcise-Achille de Salvandy publica, no livro Seize Mois ou La Révolution

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
76
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

inicial, João Manuel Pereira da Silva desempenhou um papel importante: atuou,


sobretudo, como crítico teatral e divulgador das ideias literárias abraçadas pelo
grupo da Niterói. Entre 1837 e 1838, ele publicou uma série de artigos no Jornal
dos Debates (periódico, aliás, que também contou com a contribuição ativa de
Gonçalves de Magalhães, Araújo Porto Alegre e outros colegas da delegação
parisiense) com o fim de avaliar o estado dos teatros europeus e orientar o
desenvolvimento futuro da literatura brasileira, dando especial destaque à
função instrutiva e moralizante que ele julgava caber aos poetas dramáticos nas
sociedades modernas. É dessa época que data a primeira distinção escrita entre
romantismo moderado e ultrarromantismo na imprensa nacional4: “assim se
podem definir os dois sistemas: romântico puro e ultrarromântico. O primeiro
agradável, interessante, natural; o segundo exagerado, furioso, sanguinário,
cadavérico, monstruoso” (SILVA, 1837a, p. 146), de onde também se pode
concluir, por contraste, que o ultrarromantismo é desinteressante, desagradável
e, mais importante, não natural (monstruoso, como ele escreve). Victor Hugo e
Alexandre Dumas, os dois dramaturgos a quem Pereira da Silva atribui a
paternidade do teatro ultrarromântico, teriam ficado impressionados com a
grandiosidade do teatro shakespeariano, com o “ceticismo e desesperação de
Byron” (SILVA, 1837b, p. 68), e assim se lançado, apenas buscando pelo efeito,
à cata de inspirações nos mais torpes acontecimentos da história:

Sem o gênio e belezas dos trágicos Românticos, com todos os seus defeitos, foram
pesquisar no meio dos tempos passados os crimes os mais feios e tenebrosos, e

et les Révolutionnaires, um capítulo chamado Anarchie morale — littérature, théatres,


onde argumenta o seguinte: “Si la littérature était l'expression de la société, il faudrait
désespérer de la France. La littérature se montre empreinte de tous les genres de
corruption. Elle se fait une loi et un jeu d'attaquer tous les sentiments et tous les intérêts
dont l'ordre social et politique se compose. On dirait qu'elle s'étudie à rendre à la société
française tous les vices qu'elle en avait reçus dans le dernier siècle. Une sorte de cynisme
dogmatique l'a envahie tout entière” (SALVANDY, 1831, p. 407-408), quer dizer, “se a
literatura fosse a expressão da sociedade, seria preciso desesperar da França. A
literatura se mostra impregnada de todos os tipos de corrupção. Ela transforma em lei
e jogo o atacar todos os sentimentos e todos os interesses de que a ordem social e política
se compõe. Dir-se-ia que ela planeja devolver à sociedade francesa todos os vícios que
dela havia recebido no último século. Um tipo de cinismo dogmático a invadiu
completamente”. Já no ano seguinte, contudo, a Revue de Paris se apressava em
esclarecer: “...M. de Salvandy a un peu trop généralisé ses anathèmes. Ne confondons
ni la licence avec la liberté, ni le dévergondage de l'ultra-romantisme avec l'énergique
élan de nos vrais romantiques” (J.B., 1832, p. 264), ou seja, “o senhor de Salvandy
generalizou um pouco demais os seus anátemas. Não confundamos nem a licença com
a liberdade, nem a sem-vergonhice do ultrarromantismo com o impulso enérgico dos
nossos verdadeiros românticos”.
4 Já em 1835, na verdade, a Aurora Fluminense falava em “exageradores do gênero

romântico”, que entendem ser “o absurdo o que vai ferir logo as vistas do maior número”
(RIO DE JANEIRO, 1835, p. 3925), mas parece que ainda não se buscava fazer uma
clara distinção entre duas naturezas de romantismo.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
77
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

não souberam fazer deles sair lições de moral e ciência para a sociedade. A
imoralidade foi o caráter do teatro de Victor Hugo e de Alexandre Dumas; a
exageração e a falsificação histórica os meios de que se serviram, o horrível e o
feio o seu tipo. Nada de natural, nada de histórico, nada de progresso para a
arte; retrogradaram à vista do precipício que eles mesmos tinham aberto e
desampararam os adeptos quando viram os crimes se amontoar na sociedade, a
perversão dos costumes em aumento e a voz dos homens sensatos acusá-los
como autores de um tal resultado. (SILVA, 1837b, p. 68)

As palavras escolhidas por Pereira da Silva para ilustrar esse “exumado”


sistema ultrarromântico, essa ave carniceira que só se alegra “à vista de
cadáveres”, bem como as “delirantes” produções que “exalavam” dos teatros
parisienses estão sempre ligadas, e não por acaso, ao campo semântico do
horrendo, da morte e da psicopatologia. Isso acontece porque a crítica do tempo
levava muito a sério a teoria de que a produção artística de um povo está
estreitamente ligada à sua situação moral, política e industrial. Exemplo
ilustrativo desse modo de conceber o papel das artes na sociedade está em dois
textos que Araújo Porto Alegre escreveu durante a primeira metade do século
XIX. No primeiro, publicado pelo Jornal dos Debates, Porto Alegre argumenta
que a arte é “o termômetro que marca, insensivelmente, o grau de civilização de
um povo; é o hino que o progresso entoa à perfeição; ela aparece colorida do
mesmo vigor que reina na filosofia e na indústria!”, e fecha seu discurso
convocando, ao mesmo tempo, os literatos e os industriais: “onde estão a nossa
literatura e as nossas fábricas?” (PORTO ALEGRE, 1837, p. 149). Já no segundo
texto, publicado de forma fragmentada pela revista Guanabara5, intitulado
Algumas ideias sobre as belas artes e a indústria no Império do Brasil, Porto
Alegre chama atenção para a improdutividade brasileira (na indústria e nas
artes) causada pela sua tendência ao ceticismo e ao egoísmo – “a época é a do
egoísmo, é a do eu; a do retrato somente” (PORTO ALEGRE, 1850, p. 310) –,
destaca a relação da arquitetura com o estado moral de um povo e volta a
associar o cultivo das artes ao sucesso industrial:

As nações começam e acabam da mesma maneira que o indivíduo, e na escala


proporcional do papel que representam. O círculo de sua existência, traçado
entre os três pontos do nascimento, grandeza e decadência, está baseado na
história de suas ideias, no domínio de suas crenças e no triunfo de suas
máximas. [...] todas as sociedades que promoveram com nobres incentivos este

5Vale lembrar que os próprios editores da Guanabara a consideravam uma continuação


do pensamento que “presidiu à publicação do Niterói e da Minerva, pensamento que foi
nobremente segundado pela Revista Filomática, em São Paulo, e pela Revista Nacional
e Estrangeira nesta capital” (GUANABARA, 1850, p. 1), o que garante a existência de
um fio ideológico unindo todas elas.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
78
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

culto do belo, apresentaram esse grande resultado que admiramos, essa


perfeição que procuramos imitar, e essa preferência de seus produtos industriais
em todos os mercados. (PORTO ALEGRE, 1850, p. 139)

Progresso cultural e civil eram vistos como processos análogos do mesmo


organismo nacional: se saudável, se moralmente estabilizado, arte e indústrias
deveriam prosperar em conjunto; se doente, corroído pela imoralidade, o país
não produziria senão degenerações artísticas e, industrialmente, produtos
irrelevantes. Nos jornais brasileiros do século XIX, essa analogia entre
organismo e sociedade era rotineiramente sintetizada em expressões como
“corpo social” e “corpo da nação”, o que possibilitava, através da metáfora, o
trânsito semântico entre os campos da medicina, da cultura e da política – e
justifica, em parte, as palavras escolhidas por Manuel Pereira da Silva e outros
autores, como se verá adiante, para descrever o ultrarromantismo como
monstro, doença, veneno etc. Daí a argumentação de textos como este,
publicado pela Aurora Fluminense, que equipara soldados insubordinados a
monstros e membros amputáveis de um corpo doente: “tais homens não são
nossos concidadãos; são monstros, são bestas ferozes indignos de viver na
sociedade dos homens, são membros corruptos do corpo social, que se devem
amputar para não gangrenar o resto” (DROZ, 1831, p. 2302).
Vê-se que, segundo os entusiastas dessa teoria corporativa, não há
espaço para o desregramento individual em um organismo social que deve se
nacionalizar e operar em conjunto – Araújo Porto Alegre (1850, p. 141), em mais
de uma ocasião, escreve que “a arte não progride, não forma escola, não adquire
um caráter de superioridade e de permanência enquanto não se nacionaliza:
apressar este passo é conquistar o futuro, é encurtar o tempo”. Os indivíduos
da nação, portanto, e especialmente os artistas, devem fazer parte de uma
coletividade organizada pelos mesmos princípios morais e orientada pelos
mesmos objetivos políticos, econômicos e culturais, condição sem a qual não
existiria progresso material, nem progresso cultural. Chega-se mesmo a
argumentar, como em um artigo do Edinburgh Review que a Revista Nacional e
Estrangeira (também editada por Manuel Pereira da Silva, como logo se verá)
traduziu e republicou em 1840, que a sociedade pode ser equiparada a um corpo
unificado pelos mesmos pensamentos e pela mesma alma:

A agregação que se chama sociedade forma um verdadeiro corpo, dotado de vida,


suscetível de moléstia e de saúde. Um magnetismo maravilhoso propaga, de uma
alma a outra, a mesma série de comoções e ideias. [...] A sociedade se torna um
indivíduo vivente, coletivo, enérgico, que tem sua alma, seu espírito, seu
pensamento, seus sofrimentos, sua organização externa e seu mecanismo físico,
seus períodos de fraqueza, de moléstia, de convalescença, de saúde, de
decrepitude e de morte. (PHILOSOPHIA, 1840, p. 87)

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
79
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

Não é de estranhar, portanto, que a literatura ultrarromântica,


descompromissada com a moralidade espiritualista e com o progresso
(identificado, vale lembrar, com a monarquia constitucional e o liberalismo
moderado), marcada por um notório impulso revolucionário e individualista,
fosse descrita como uma monstruosidade, uma ameaça à estabilidade do corpo
social, e soasse como um alarme de decadência iminente para os intelectuais
de um Brasil que, em plena crise política, corria o risco de ser esfacelado pelas
revoluções6. “Entre nós”, escrevia Gonçalves de Magalhães em um artigo
sintomaticamente intitulado Movimento de decomposição no Brasil (1837a, p.
67), “tudo pende sem esforço para a decomposição” e, consequentemente, para a
morte7: o país não tem “nem marinha, nem indústria, nem artes, nem liberdade
moderada, nem excessiva, nem arte militar” (MAGALHÃES, 1837b, p. 73); os
brasileiros, indiferentes a tudo, “estão contagiados de um grande mal que se
ignora a causa, o fim e o remédio” (MAGALHÃES, 1837a, p. 67); e é justamente
nesse período caótico, francamente doentio, que “começa a mania das traduções
dos dramas ultrarromânticos, quando já ninguém deles se lembra em França e na
Europa, para desmoralizar ainda mais o país” (SILVA, 1837b, p. 68).
Entende-se, assim, que a “mania” de traduzir e importar obras
ultrarromânticas fosse interpretada como mais um sintoma (e, ciclicamente,
causa) da enfermidade moral que parecia corromper o corpo da sociedade e lavá-
lo à ruína. “É, pois, necessário”, conclui Pereira da Silva (1837b, p. 68), “que
criemos uma literatura nacional, apropriada a nossos costumes e religião”,
orientada pelos cultores do “verdadeiro e puro romantismo” (SILVA, 1837a, p.
146), e mais: “é mister que extirpemos essa fúria de traduções ultrarromânticas”
(SILVA, 1837b, p. 68), da mesma forma como se “extirpa” um tumor cancerígeno
de um organismo decadente.
Assim, em 1839, Manuel Pereira da Silva se uniu a outros dois
intelectuais ligados ao projeto cultural do Segundo Reinado, Pedro de Alcântara
Bellegarde e Josino do Nascimento Silva (ambos membros do Instituto Histórico
e Geográfico) e criou a Revista Nacional e Estrangeira com o objetivo de instruir
o povo brasileiro por meio da publicação de obras modelares (poemas,
geralmente, identificados com o romantismo moderado: de Magalhães, Casimir
Delavigne, Alfred de Vigny et alii) e artigos selecionados ou escritos pelos
editores. Abundam, nesse periódico, textos que clamam por uma literatura

6 Em 1837, vale lembrar, o Brasil atravessava o seu conturbado período regencial e


enfrentava uma série de revoltas que iam do nordeste (sobretudo a Cabanagem, no
Grão-Pará) ao sul (a Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul).
7 “A decomposição é um estado tão natural como a organização, somente seu aspecto é

horrível, imoral, irreligioso e corrupto; é o estado precursor da morte para as nações, se


pode haver outra morte para as nações que não seja esse mesmo estado de abjeção”
(MAGALHÃES, 1837b, p. 74).

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
80
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

moderada e atacam os excessos do ultrarromantismo parisiense, buscando


associá-lo à perversão pública e ao aumento da criminalidade8. Em seu primeiro
tomo, a revista reproduz uma longa crítica do Edinburgh Review, publicada
originalmente em 1833, que aborda justo o estado desastroso da literatura
francesa em meados de 1830: “depois dos três grandes dias” da Revolução de
Julho, viu-se nascer em França uma literatura que ri “como uma louca, com o
verdadeiro riso da desesperação”, que proclama “seu nada, sua loucura, sua
impotência”, e que só faz agravar “pelo contágio do exemplo, o mal que revela”
(LITTERATURA, 1839, p. 150). Esses excessos ultrarromânticos, exemplificados
pelas obras de Jules Janin, Honoré de Balzac, Victor Hugo e outros mais, são
claramente descritos como um mal contagioso, como um “fermento de
corrupção e de desordem” (LITTERATURA, 1839, p. 156) e, enfim, como uma
“enfermidade intelectual” (LITTERATURA, 1839, p. 156) ou uma “enfermidade
social” (LITTERATURA, 1839, p. 162): “parece que em todas essas produções
francesas de hoje devem inevitavelmente esconder-se, como a podridão em
certos frutos, uma enfermidade íntima, um princípio envenenado e corruptor”
(LITTERATURA, 1839, p. 157).
O mal ultrarromântico é, portanto, oculto: degenera por dentro, como o
câncer, essa “demonic pregnancy” (SONTAG, 1978, p. 14), gravidez demoníaca
que, sem fazer alardes, ganha todo o corpo e o corrompe intimamente.
Republicando esse artigo, a revista de Pereira da Silva faz um gesto claro de
anuência e alerta sanitária: a importação do ultrarromantismo é um mal para
os britânicos, também será para os brasileiros; ele deve ser encarado, portanto,
como uma doença perigosa, uma ameaça ao corpo social.
De Portugal, Antônio Feliciano de Castilho expressava a mesma opinião.
Em carta publicada no segundo tomo da Revista Nacional e Estrangeira por
conter censuras ajuizadas aos “abusos perigosos do romantismo”9, ele se refere
ao gosto pelas produções ultrarromânticas como “enfermidade contagiosa da
literatura” (CASTILHO, 1839, p. 21), aos seus poetas como manipuladores e
vendedores de veneno (CASTILHO, 1839, p. 21), e conclui, afinal, que “os
dramas de Hugo e seus escolares ou companheiros só poderão talvez convir
quando eles houverem acabado de depravar a sociedade, quando, à força de
meterem por toda a parte o rosto de Medusa, nos houverem petrificado”
(CASTILHO, 1839, p. 19).

8 Veja-se também, a respeito dessa relação, o livro Influence de la littérature française


de 1830 à 1850 sur l'esprit public et les mœurs (1852), escrito por Charles Menche de
Loisne. O cônego Fernandes Pinheiro, autor de um interessante Curso elementar de
literatura nacional (1862) e membro ativo dos círculos culturais do Império, o cita
explicitamente no prefácio ao Jó (1852) de Elói Ottoni.
9 A frase está em nota de rodapé escrita pelos editores, na página 14. O próprio Castilho

(1839, p. 15) enfatiza que trata dos excessos da nova escola, não do todo: “é escusado
advertir que falo do abuso e não da coisa”.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
81
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

Vê-se, assim, que quando Fausto admira a aterradora beleza da Medusa


na Walpurgisnacht imaginada por Goethe, não é “todo o romantismo” que fala
pela sua boca, como sugere Mario Praz (1996, p. 44). Muitos românticos
moderados deste e daquele lado do Atlântico temiam que a sociedade, a preço
de lidar com tantas obras ultrarromânticas, acabasse petrificada, ou, para usar
a outra expressão de Castilho, envenenada.

A MARGINALIZAÇÃO DO ULTRARROMANTISMO BRASILEIRO

Se prestarmos atenção à argumentação desses textos, veremos que eles


se opõem sempre a um ultrarromantismo importado através de traduções,
contrabandeado como veneno estrangeiro (tanto no Brasil, quanto em Portugal
e na Inglaterra). Ainda aqui, é possível enxergar uma relação entre o
ultrarromantismo e o câncer: “No câncer, o paciente é ‘invadido’ por células
alienígenas que se multiplicam, causando uma atrofia ou bloqueio das funções
corpóreas” (SONTAG, 1978, p. 14)10. Como acontece com o paciente de câncer,
também o corpo social se vê invadido por células alienígenas que anunciam a
atrofia de todas as funções: as traduções ultrarromânticas. Isso acontece
porque, até meados de 1840, o Brasil ainda não tinha a sua própria produção
ultrarromântica – ela só passaria a ser publicada em 1847, e ainda muito
modestamente, nas páginas da Ensaios Literários, revista concebida por
estudantes da Academia de Direito de São Paulo11. Como é bem sabido, esse
ultrarromantismo paulistano se notabilizou por uma afeição especial à obra de
Byron, motivo pelo qual também ficou conhecido por “byroniano”. A “escola de
Lord Byron”, como Pereira da Silva (1837c, p. 96) já a descrevia no Jornal dos
Debates, antes que se consolidasse no Brasil,

depois de haver muito influído nas composições de outros poetas modernos,


devia cessar com o nascimento da civilização atual, toda espiritualista e
inspirada pelo puro cristianismo. Ela foi o adeus último do materialismo, o
arranco derradeiro da velhice do passado século.

Para sua frustração, no entanto, a influência byroniana não desapareceu


com o século XIX; antes se intensificou. Note-se que Pereira da Silva fala em um
velho “materialismo”12 que, com o avanço da civilização moderna (quer dizer,

10 No original: “in cancer, the patient is ‘invaded’ by alien cells, which multiply, causing
an atrophy or blockage of bodily functions”.
11 Ao leitor interessado nos textos (byronianos ou não) publicados pela revista Ensaios

Literários, recomendo o estudo de Hélder Garmes, O romantismo paulista (2006).


12 “Materialismo”, esclareçamos, é um sinônimo de “sensualismo” para os intelectuais

brasileiros da primeira metade do século XIX, termos ao redor dos quais ainda orbitam

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
82
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

monarquista-constitucional e católica), deveria ser substituído pelo


espiritualismo. Por estranho que hoje nos pareça, era muito comum por essa
época que a disputa entre o romantismo moderado e sua contraparte
ultrarromântica fosse traduzida nesses dois termos filosóficos, pois o
byronismo, embora viesse a caracterizar um fenômeno tipicamente oitocentista,
estava ligado à corrente materialista que dominou a filosofia do século XVIII,
levou às grandes revoluções republicanas, e contra a qual se posicionaram
políticos (monarquistas, sobretudo) e filósofos espiritualistas no início do século
XIX13. Há, portanto, na disputa entre românticos moderados e ultrarromânticos,
uma grande mistura de fatos políticos, filosóficos e literários que deve ser levada
em conta na avaliação da postura comedida declarada pelos estudantes da
Academia de Direito de São Paulo. O ecletismo espiritualista não só
fundamentava a nossa alta literatura, como fazia parte do programa de ensino
oficial do Segundo Reinado, inclusive da própria Academia de Direito:

O ciclo de apogeu da Escola Eclética abrange as décadas de cinquenta, sessenta,


setenta e parte da de oitenta. Nesses anos os seus principais integrantes
estruturaram o ensino de filosofia, ao nível do Colégio Pedro II e dos Liceus
Provinciais e também nos Cursos Anexos das escolas superiores e mesmo
nestas. (PAIM, 1999, p. 317)

No Rio de Janeiro, e especialmente no Colégio Pedro II, com o qual


Gonçalves de Magalhães, Santiago Nunes Ribeiro e Sales Torres Homem
estavam diretamente envolvidos, o ecletismo foi a doutrina dominante até os
anos 80: “no Rio de Janeiro, o predomínio eclético parece ter sido assegurado
até os anos oitenta, em que pese Silvio Romero haja ganho o concurso [a cátedra
de filosofia do Colégio Pedro II] de 1880” (PAIM, 1999, p. 319). Assim, quando
logo na introdução de seu primeiro número, os redatores da Ensaios Literários
reivindicam uma missão civilizadora e religiosa, afirmando que “a crença é o
alimento da alma”, e que o homem cético, “ralado de tristeza, se tortura no
espaço imenso que lhe vagou a ausência da fé” (INTRODUÇÃO, 1847, p. II), eles
estão, a um só tempo, declarando apoio ao espiritualismo eclético, à monarquia
constitucional e ao romantismo moderado – em suma, apoio à doutrina oficial

outros (empirismo, egoísmo, ateísmo, ceticismo etc.), formando um vago campo


semântico que, de maneira geral, se opõe ao espiritualismo e à religião católica.
Representam-no Locke, Condillac, Helvétius e outros mais. “Materialismo” (ou “sistema
materialista”) é o termo costumeiramente empregado pelos intelectuais da época para
se referir à totalidade desse vago campo semântico; o emprego, neste trabalho, com o
mesmo fim.
13 Sobre a disputa entre o materialismo do século XVIII e o espiritualismo do século XIX

transpostos para o universo literário e representados, respectivamente, por Lord Byron


e Lamartine, veja-se o artigo de Adolphe Mazure, Influência do espiritualismo sobre o
gênio literário, publicado pela Minerva brasiliense em 1º de fevereiro de 1844, p. 9-14.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
83
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

do Segundo Reinado. Não é de estranhar, portanto, que a essa declaração se


suceda uma comparação entre a escola byroniana, materialista, e a escola
espiritualista encabeçada por Lamartine e Victor Hugo (como lírico, não como
dramaturgo). Byron,

esse tipo da poesia frenética da nossa época, cheio de ironia e entusiasmo, de


spleen e esperança, agonizava entre a desolação e o desespero, porque ele sentia
em si, em toda a intensidade, a vitalidade do veneno: ele quis crer e duvidou;
quis ter fé em alguma cousa e descreu de tudo, desde as romanescas ilusões do
poeta, até as altas e profundas realidades do sábio: blasfemou de Deus, renegou
o mundo e abjurou de si. (INTRODUÇÃO, 1847, p. II)

É claro que uma revista comprometida com a instrução popular e com a


sanidade (moral, espiritual e física, pois vem tudo a dar no mesmo, como vimos)
do corpo social, que diz ter o objetivo de “instruir o povo pelo povo”, de “purificar
a crença pela convicção profunda e pela ilustração civilizadora” (INTRODUÇÃO,
1847, p. II), que se quer lida pelos intelectuais de uma sociedade profundamente
católica e, mais importante, cujos redatores pretendem ingressar nessa mesma
sociedade como servidores públicos ou profissionais liberais, deve se declarar
contrária a essa literatura corrosiva. Daí o contraponto a que, pelo menos em
tese, se abraçam os estudantes:

Outra escola de literatura se criou na reação contra esses princípios: Lamartine


e Hugo, renegando altamente a literatura byroniana, se lançaram na religião e
nas crenças misteriosas e poéticas de tradição, e exalaram seus cantos com mais
doçura e placidez, mais suavemente ternos e melancólicos. (INTRODUÇÃO,
1847, p. III)

Assim, embora se confessem (dubiamente, é verdade) seguidores do


romantismo “oficial”, liderado, no Brasil, por Gonçalves de Magalhães, Araújo
Porto Alegre, Gonçalves Dias, enfim, todos os escritores agremiados ao redor de
instituições imperiais e periódicos filiados à coroa, as produções em prosa e
verso da Ensaios Literários revelam que a maioria dos estudantes cultivava
veladas, quase nunca assinadas tendências byronianas: “mais da metade dos
poemas publicados são ‘byronianos’, uma vez que seu tema central é o ceticismo
em relação à vida, ou em relação a Deus ou, principalmente, em relação ao amor
e à mulher” (GARMES, 2006, p. 111).
No universo acadêmico de São Paulo, em grande parte devido ao legado
de Álvares de Azevedo, o byronismo se transformou em uma influente escola
que conservou adeptos até a segunda metade do século XIX, levou à criação de
uma suposta “Sociedade Epicureia” – fantasiosamente descrita, aliás, por Pires
de Almeida em uma série de artigos coligida sob o título A escola byroniana no

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
84
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

Brasil (1962) –, e chegou mesmo a possuir os seus próprios gêneros literários,


como a poesia absurda, dita “pantagruélica”, de que apenas alguns poucos
exemplos chegaram até nós:

O que conhecemos da poesia pantagruélica faz dela, essencialmente, um


fenômeno da Faculdade de Direito de São Paulo, entre os decênios de 1840 e
1860. Pertence, por conseguinte, ao Romantismo paulistano, marcado pelo
satanismo, o humor e a obscenidade, exprimindo a sociabilidade especial dum
grupo de rapazes confinados no limite estreito da cidadezinha provinciana e
convencional, procurando libertar-se por atitudes de negação. (CANDIDO, 1993,
p. 230)

A escola deixada por Álvares de Azevedo, amplificada por um método


educacional que passava impreterivelmente pela poesia, encontrou na
Academia de Direito o ambiente perfeito para se transformar em uma verdadeira
mania, e o “o clima de exceção reinante no meio estudantil de São Paulo
favoreceu a constituição de algo próximo ao que Antonio Candido [...] entende
por sistema literário” (CAMILO, 1997, p. 38-39), uma vez que os textos eram
produzidos e consumidos pela mesma comunidade. No Império, os estudantes
eram, conta Nelson Werneck Sodré (1964, p. 299), os homens de letras por
excelência, e “todos pagavam tributo literário, pelo menos versejando, quando
não discursando”. Tal foi o prestígio da poesia na Academia que, segundo
Vagner Camilo (1997, p. 38), “a dada altura, a poesia transformou-se em
obsessão, uma doença a se proliferar pela cidadela acadêmica”, e o byronismo,
agravante dessa “doença”, a se proliferar com ela.
A resposta a esse ultrarromantismo byroniano fora da Academia nem
sempre se dava da mesma forma: ora os críticos mediam os estragos causados
ao corpo social e o atacavam com seriedade, ora faziam pouco caso da moda
passageira e o descreviam com ironia. No primeiro caso, eram os representantes
do romantismo moderado e nacionalista que desciam à liça para, mais uma vez,
lembrar os jovens de que a corrupção literária e o declínio civilizacional andam
de mãos dadas. Em meados de 1850, como já vimos, Araújo Porto Alegre (1851,
p. 46) e seus colegas aconselhavam a nova geração a nacionalizar-se e moderar
as tintas do romantismo: “estude-se a natureza, que foi a mestra dos mestres,
e sejamos brasileiros, não caindo nos extremos, mas sim debaixo dos princípios
de uma santa estética e de um moderado patriotismo, sem carregar as cores e
os contornos da nova escola”.
Dez anos mais tarde, no entanto, o problema persistia. Quando Fagundes
Varella publicou as suas Noturnas em 1861, foi acusado de copiar Azevedo e
incorrer nos velhos vícios ultrarromânticos (ainda associados, vale notar, com
a sua origem estrangeira) que, desde os anos 30, iam ruinando a literatura
nacional:

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
85
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

O autor da Noite na taverna deixou em São Paulo uma escola, preceitos,


doutrina, sistema, discípulos, imitadores, tradições [...]. Essa tendência de
alguns poetas à poesia byrônica tem sido um grave prejuízo à literatura nacional,
que começa disfarçada em estrangeirismos; mas confiemos que ela termine à
medida que formos estudando mais a nossa língua e o nosso espírito nacional.
(VASCONCELLOS, 1862, p. 2)

A essa crítica, inúmeras outras vêm somar-se. Em um notável artigo


sobre a escola byroniana publicado no periódico Forum Litterario, por exemplo,
Macedo Soares repete as palavras que Madame de Staël proferiu a respeito do
Werther e classifica o byronismo como “doença de imaginação” (SOARES, 1861,
p. 12) ocasionada por distúrbios religiosos, políticos e literários típicos do século
XVIII. Noutro interessante artigo do mesmo ano, O byronismo, publicado pela
revista A Saudade, os byronianos são descritos como almas que “teimam em
sofrer de uma cousa a que chamam mal moral” (E. L., 1861, p. 106), o
byronismo é descrito como “escola satânica” que não aperfeiçoa, nem conduz o
“movimento da vida social” como deveria, mas põe a sociedade em perigo: “o
byronismo [...] toma por única missão tornar a existência tempestuosa e
amarga, privando os homens das ilusões da fé e preparando à sociedade
revoluções que abalam a liberdade e as existências domésticas” (E. L., 1861, p.
106).
Eis a toada da época; a década de 60 está repleta de críticas similares à
escola byroniana e aos seus integrantes, muitos dos quais deliberadamente
adotavam uma aparência e um comportamento ligados a estados doentios (o
que também deve ter contribuído de maneira significativa para engrossar o coro
moderado contra o ultrarromantismo), sobretudo à tuberculose, doença tida por
interessante, “individualizante”14: “A tuberculose era compreendida como um
modo de aparecer, e essa aparência se transformou em uma parte importante
das maneiras do século XIX. [...] Era glamuroso parecer doente” (SONTAG,
1978, p. 28)15, e não apenas parecer doente, mas agir como quem sente todos
os sintomas preliminares da agonia:

Muitas das atitudes literárias e eróticas conhecidas como “agonia romântica”


derivam da tuberculose e da sua transformação através da metáfora. A agonia
tornou-se romântica em uma descrição estilizada dos sintomas preliminares da

14 “The disease that individualizes, that sets a person in relief against the environment,
is tuberculosis” (SONTAG, 1978, p. 37). Traduzindo: “a doença que individualiza, que
coloca a pessoa em relevo contra o ambiente, é a tuberculose”.
15 No original: “Consumption was understood as a manner of appearing, and that

appearance became a staple of nineteenth century manners. [...] It was glamorous to


look sickly”.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
86
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

doença (a debilidade, por exemplo, é transformada em langor), e a agonia mesma


foi simplesmente suprimida. (SONTAG, 1978, p. 29)16

Ao leitor interessado nas críticas feitas ao byronismo e à “agonia


romântica” que o acompanha na década de 1860, recomendo que leia, além dos
acima mencionados, dois artigos compilados pelo professor Aderaldo Castello
em seu Textos que interessam à história do romantismo (1963): a crítica escrita,
em 1859, por Antônio Joaquim Macedo Soares a respeito do livro Sombras e
suspiros (1858), de José Alexandrino Teixeira e Melo, fruto da “péssima
influência exercida pelo byronismo sobre a literatura deste século” (SOARES,
1963, p. 80); e o raivoso artigo Anarquia moral, publicado anonimamente em
1861 com o objetivo evidente de denunciar a “moda introduzida por Byron”
(ANARQUIA, 1963, p. 139) e os males da “praga romântica” (ANARQUIA, 1963,
p. 136) – atenção para o vocabulário médico! –: uma “epidemia de ceticismo”
(ANARQUIA, 1963, p. 136), um coro de “blasfêmias e maldições” (ANARQUIA, 1963,
p. 140), um “hino eterno da dúvida e da dor” (ANARQUIA, 1963, p. 140) etc.
Quando, por outro lado, se reagia ao byronismo com ironia, era aos
artigos de costumes que os jornais recorriam, muitas vezes pretendendo
ridicularizar a incoerência entre a vida e a obra dos poetas byronianos (o que
também acabava naturalizando o byronismo, pois mostrava aos leitores que os
poetas não passavam de rapazes ordinários). Já em 1846, por exemplo, a Nova
Minerva publicava a releitura de um texto ainda mais antigo, escrito por Jules
Janin17, em que se busca confortar os leitores espantados com a primeira
impressão de um byroniano:

Tranquilizai-vos, meu caro leitor. Eu vo-lo suplico. Esse poeta a Byron está gordo
e robusto. Ele tem o cabelo ruivo, os olhos doces e palradores, a fisionomia
risonha e o passo tímido. Ontem saiu do colégio e apenas ousa levantar a voz
diante de seu professor de retórica. Ide, leitor, a qualquer teatro cômico, e ali o
vereis tomar parte nas mais vulgares diversões do gênero humano. [...] acreditai,
leitor, o nosso poeta não pensa em nada mau, e só é um bom garçom que nada
transtornará nem moverá, de sorte que o leitor pode muito bem dormir sem
susto. Porém, então, meu senhor, a que vem esses gritos de furor, essas
imprecações tão estupendas? – A que vem? – Eu vou dizer-vo-lo. São elas uma
mentira de moda nestes tempos que correm; são uma vestimenta que é
necessário enfiar no corpo para ser poeta. Uma vez terminada a obra, volta ele a

16 No original: “Many of the literary and erotic attitudes known as ‘romantic agony’ derive
from tuberculosis and its transformations through metaphor. Agony became romantic
in a stylized account of the disease's preliminary symptoms (for example, debility is
transformed into languor) and the actual agony was simply suppressed”.
17 Uma tradução dele pode ser encontrada no Diário de Pernambuco de 5 de fevereiro de

1840, p. 2-3.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
87
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

pôr as luvas amarelas e o seu vestido mais fashionable. (COSTUMES


CONTEMPORÂNEOS, 1846, p. 2-3)

Entre os representantes do discurso oficial, no entanto, comprometidos


com a definição de um projeto moralista e civilizacional, prevaleceu, como não
podia ser diferente, a primeira resposta: uma oposição sisuda ao
ultrarromantismo. Pode-se dizer mesmo, de uma perspectiva foucaultiana, que
as instituições imperiais (de ensino e de pesquisa; academia e institutos), bem
como as revistas e jornais ligados ao Segundo Reinado (Jornal dos Debates,
Minerva, Guanabara etc.), atuaram como dispositivos regulatórios visando à
normalização da produção literária (i.e., a exclusão, por meio de críticas
negativas, do ultrarromantismo, e a premiação do romantismo moderado), sem
a qual o corpo social corria o risco de ser esfacelado pelas revoluções ou
corromper-se moralmente, o que ocasionaria, segundo as teorias da época, uma
redução completa da produtividade nacional. O controle literário expresso
nessas críticas jornalísticas e no posicionamento dessas instituições, portanto,
estava diretamente ligado à normalização da moral pública, do território
nacional e da economia industrial. Em suma, a organização do universo literário
devia espelhar a organização total do próprio corpo social.
Dom Pedro II, que pessoalmente “nunca viu com bons olhos aos
byronianos” (BROCA, 1979, p. 101), e que, dada a sua posição de monarca, não
podia fazer as vezes de “protetor e guia dos imitadores do autor de Childe Harold,
cujos poemas representavam a dúvida, a descrença, o ultraliberalismo, e não
raro também a volúpia” (ALMEIDA, 1962, p. 167), se manifestou “francamente
desafeito aos tresvarios byronianos” (ALMEIDA, 1962, p. 168) e parece ter
promovido, como estamos vendo, uma espécie de campanha contra a circulação
de obras ultrarromânticas. Os estudantes do tempo do Império, condicionados
pela necessidade material de ingressarem na vida pública ou no mercado de
trabalho, viam-se obrigados a abrir mão dos descabelados projetos de juventude
assim que se formavam: “numerosos foram os estudantes dos cursos superiores
que arrefeceram de seu entusiasmo, receando insuperáveis obstáculos à
carreira diplomática e sobretudo à magistratura”, renegando para todo o sempre
“a turbulenta escola” (ALMEIDA, 1962, p. 168). O próprio neto do patriarca da
independência, José Bonifácio (o moço), que dizem ter sido um ardoroso
apreciador do pantagruelismo paulistano, capaz de armazenar um “farto
estoque de bestialógicos” (MACHADO, 2001, p. 147), quando publicou a sua
coleção de poemas juvenis, Rosas e goivos (1849), abraçou-se quase
exclusivamente ao romantismo católico, patriótico, comedido. Do byronismo
que, como seus colegas, deve ter cultivado, quase nenhum traço.
Para Antonio Candido (1993, p. 230), é bastante provável que essas
produções ultrarromânticas, humorísticas e pantagruélicas fossem destruídas
com a entrada na vida prática:

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
88
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

Os seus próprios praticantes não apenas não lhe davam importância [à poesia
pantagruélica], mas, a partir do momento em que entravam na vida prática,
como advogados, magistrados, funcionários, parlamentares, diplomatas ou
simples chefes de família, punham de lado as provas de loucura da mocidade e
com certeza as destruíam, como fizeram com a poesia obscena, que jamais
pensariam em assumir e muito menos publicar.

Ubiratan Machado chega à mesma conclusão. Ele acredita que boa parte
dos versos bestialógicos compostos por poetas acadêmicos, “declamados nas
reuniões estudantis, nas salas das repúblicas paulistanas, entre a fumaça
cheirosa dos charutos e tragos de vinho ou conhaque” (MACHADO, 2001, p.
147) tenha se perdido por negligência, descaso, ou pela própria ação dos autores
e seus familiares. Bernardo Guimarães, por exemplo, o único que “deixou
reproduzir algumas das suas produções nesses setores condenados”
(CANDIDO, 1993, p. 230), teria deixado “centenas de poemas fesceninos, que
escrevia num álbum, acessível apenas aos amigos mais íntimos” (MACHADO,
2001, p. 153), mas somente meia dúzia deles chegaram até nós. Das produções
de Álvares de Azevedo, há razão para crer que uma parcela nunca foi publicada.
Segundo Candido (1993, p. 231), “não se imagina a família de Álvares de
Azevedo [...] publicando junto com o material que formou a póstuma Lira dos
vinte anos algum soneto pícaro ou pantagruélico do rebento morto, cuja glória
era preciso alicerçar segundo as boas normas”. O próprio Conde Lopo, uma de
suas obras mais flagrantemente byronianas, só foi publicado, “de entre vários
manuscritos inéditos” (O CONDE LOPO, 1887, p. 1), depois de “autorizado pela
veneranda mãe do grande poeta” (S., 1887, p. 324), em 1887, “época em que
não pode mais ser apreciado como seria nos tempos em que foi escrito” (R.O.,
1887, p. 1), nem provocar tormentas em uma nação que já se habituava a ler
Baudelaire.

CONCLUINDO

Em suma, vimos que os defensores do romantismo moderado


conseguiram, através de uma campanha contra a importação do
ultrarromantismo francês e, depois, contra o cultivo do byronismo estudantil,
regularizar a produção romântica brasileira e, consequentemente, impedir a
corrosão moral e física que pensavam ameaçar o corpo social da nação. O
ultrarromantismo foi associado a tantas qualidades negativas que, quando um
poeta consagrado ou bem relacionado parecia incorrer em algum tipo de
exageração, era preciso dissociá-lo explicitamente da escola byroniana através
de uma crítica pública. Assim, Gonçalves Dias “não pertence, senão por vezes,

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
89
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

e raras, à escola byroniana”, pois “suas crenças são doces e firmes; os seus
pesares de moço não o levaram às excentricidades do spleen”, e porque “o seu
canto é melancólico, às vezes desdenhoso, quase sempre grave” (HYERONIMUS,
1847, p. 3); Casimiro de Abreu, cujo Livro negro deve ter causado alguma
sensação, “não é um poeta filho do ceticismo, esse gênio mau que tanto se tem
enxertado na poesia moderna; se alguma cousa nele encontramos que pareça
com isso, é mais um sofrimento, uma dor que o fazem soltar frases tristes, e na
aparência descridas” (PAMPLONA, 1861, p. 10).
Aureliano Lessa, que, segundo Antonio Candido (1993, p. 230-231), deve
ter compartilhado também com Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães
alguma coisa de pantagruélico e byroniano, é descrito por esse último, já
entrado na vida séria da maturidade, como um jovem folgazão, mas não (Deus
o livre!) byroniano:

Epicurista por natureza, Aureliano queria passar a vida em um contínuo festim.


Não vá, porém, o leitor pensar que era ele um desses sensualistas libertinos e
descridos, como os que a imaginação de Byron criou à sua própria imagem e
semelhança, ou um conviva crapuloso das tascas e dos bordéis, como esses que
Álvares de Azevedo, exagerando Musset, tanto folgava de esboçar, esperdiçando
em tão monstruosas criações as brilhantes cores de sua rica palheta. Não;
Aureliano não tinha parentesco algum com D. Juan, nem tampouco com J.
Rolla, e muito menos com Bocage. Era um epicurista sui generis. Suas orgias,
se orgias se podem chamar, nunca tinham por teatro o lupanar ou a casa de
jogo, ou outro qualquer lugar de devassidão e crápula grosseira. Eram delírios
galhofeiros em roda da mesa, em companhia de alguns poucos amigos. O fumo
dos vinhos eles os evaporavam rindo, cantando, poetizando, ou em passatempos,
não direi escolásticos, mas quase infantis. Era uma devassidão do espírito – se
assim me posso exprimir – jovial e inofensiva, e não os gozos de sensualismo
material. Eram – desculpem-me, se repito tantas vezes a frase que melhor o
caracteriza – eram orgias de criança. (GUIMARÃES, 2000, p. 135-136)

Assim se operou, através de doutrinas institucionais e artigos


desestimulantes, a extração do cancro ultrarromântico que ameaçava a
estabilidade do corpo social brasileiro. Purificado, despido de todas as suas
dimensões anormais, monstruosas, patológicas, pantagruélicas, imorais, o
romantismo chegou ao decênio de 1870 enfraquecido, vulgarizado por êmulos
inábeis, e foi (ironicamente!) como escola de poetas doentes e “virgens pálidas,
cloróticas” que a nova geração o recebeu, dando início ao confronto literário que
culminaria, em 1878, na célebre Batalha do Parnaso.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
90
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, J. R. P. de. A escola byroniana no Brasil. São Paulo: Conselho


estadual de cultura, 1962.

ANARQUIA moral. In: CASTELLO, J. A. Textos que interessam à história do


romantismo. Segundo volume. São Paulo: Conselho estadual de cultura, 1963,
p. 135-144.

AO LEITOR. Niterói. Número 1. Paris, 1836, p. 5-6.

BARROS, R. S. M. de. A significação educativa do romantismo brasileiro:


Gonçalves de Magalhães. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
1973.

BROCA, B. Românticos, pré-românticos e ultra-românticos: vida literária e


romantismo brasileiro. São Paulo: Polis, 1979.

CAMILO, V. Risos entre pares: poesia e humor românticos. Editora da


Universidade de São Paulo, 1997.

CANDIDO, A. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993.

CASTILHO, A. F. de. O theatro romântico. Revista Nacional e Estrangeira. Tomo


2. Rio de Janeiro: Tipografia de J. E. S. Cabral, 1839, p. 14-23.

COSTUMES CONTEMPORÂNEOS. Nova Minerva. Tomo 1. Número 5. Rio de


Janeiro: Tipografia de M. A. da Silva Lima, 1846, p. 1-3.

DROZ. Pernambuco. Aurora Fluminense. Número 543. Rio de Janeiro, 12 out.


1831, p. 2300-2302.

E. L. O byronismo. A Saudade. 2ª série. Número 13. 6 out. 1861, p. 105-106.

GUANABARA. Guanabara. Tomo 1. Rio de Janeiro: Tipografia Guanabarense de


L. A. F. de Menezes, 1850, p. 1-2.

HYERONIMUS. Litteratura. Sentinella da Monarchia. Número 903. Rio de


Janeiro, 14 abr. 1847, p. 3-4.

INTRODUÇÃO. Ensaios Literários. São Paulo, set. 1847, p. I-IV.

J.B. Album. Revue de Paris. Tomo 35. Paris: Bureau de la Revue de Paris, 1832,
p. 261-267.

GUIMARÃES, B. In: LESSA, A. J. Poesias. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p.


133-142.

LITTERATURA. Revista Nacional e Estrangeira. Tomo 1. Rio de Janeiro:


Tipografia de J. E. S. Cabral, 1839, p. 145-162.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
91
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

MACHADO, U. A vida literária no Brasil durante o romantismo. Rio de Janeiro:


EdUERJ, 2001.

MAGALHÃES, D. G. de. Ensaio sobre a história da literatura do Brasil. Niterói.


Número 1. Paris, 1836, p. 132-159.

MAGALHÃES, D. G. de. Estado crítico do Brasil. Jornal dos Debates. Número


19. Rio de Janeiro, 8 jul. 1837b, p. 73-74.

MAGALHÃES, D. G. de. Movimento de decomposição no Brasil. Jornal dos


Debates. Número 17. Rio de Janeiro, 1 jul. 1837a, p. 66-67.

O CONDE LOPO. O Paiz. Ano 4. Número 1099. Rio de Janeiro, 9 out. 1887, p.
1.

PAIM, A. A escola eclética. Londrina: CEFIL, 1999.

PAMPLONA, Z. A. Casimiro de Abreu. Forum litterario. Número 2. São Paulo, 27


jul. 1861, p. 9-10.

PINASSI, M. O. Três devotos, uma fé, nenhum milagre. São Paulo: Fundação
Editora da UNESP, 1998.

PORTO ALEGRE, M. A. Algumas ideias sobre as belas artes e a indústria no


Império do Brasil. Guanabara. Tomo 1. Rio de Janeiro, 1850, p. 108-115, 135-
142, 305-310.

PORTO ALEGRE, M. A. Os hinos da minha alma. Guanabara. Tomo II. Rio de


Janeiro, 1851, p. 41-46.

PORTO ALEGRE, M. A. Obras públicas. Jornal dos debates políticos e literários.


Rio de Janeiro, 11 out. 1837, p. 148-149.

PRAZ, M. A carne, a morte e o diabo na literatura romântica. Campinas: Editora


da UNICAMP, 1996.

R. O. Cornucópia. Diário de Notícias. Ano 3. Número 849. Rio de Janeiro, 6 out.


1887, p. 1.

RIO DE JANEIRO. A Aurora Fluminense. Rio de Janeiro, 5 jun. 1835, p. 3925-


3926.

S. Notas bibliographicas. A Semana. Ano 3. Número 145 e 146. Rio de Janeiro,


15 out. 1887, p. 324.

SALVANDY, N.-A. de. Seize Mois ou La Révolution et les Révolutionnaires. Paris:


Ladvocat, 1831.

SILVA, J. M. P. da. Casimir Delavigne. Jornal dos Debates. Número 36. Rio de
Janeiro, 3 abr. 1837a, p. 146-147.

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
92
Scripta Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil

SILVA, J. M. P. da. Estado dos teatros na Europa. Jornal dos Debates. Número
17. Rio de Janeiro, 1 jul. 1837b, p. 67-68.

SILVA, J. M. P. da. Lord Byron. Jornal dos Debates. Número 24. Rio de Janeiro,
29 jul. 1837c, p. 95-96.

SOARES, M. Da literatura byrônica. Forum Litterario. Número 2. São Paulo, 27


jul. 1861, p. 11-14.

SOARES, M. Ensaios de análise crítica. In: CASTELLO, J. A. Textos que


interessam à história do romantismo. Segundo volume. São Paulo: Conselho
estadual de cultura, 1963, p. 76-87.

SODRÉ, N. W. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1964.

SONTAG, S. Illness as Metaphor. Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 1978.

VASCONCELLOS, F. de. Folhetim do Constitucional. Constitucional. Número 95.


Rio de Janeiro, 21 out. 1862, p. 1-2.

iEste trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – Brasil.

GABRIEL ESTEVES é mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa


Catarina (2020). Atualmente é doutorando do Programa de Pós-Graduação em
Literatura da mesma instituição, bolsista CNPq e membro do Núcleo de
Pesquisas em Informática, Linguística e Literatura – NuPILL. Dentre suas
publicações estão o artigo "Na mesa gordurenta das orgias: Alberto de Oliveira,
poeta realista?" (Aletria: Revista de Estudos de Literatura, 2022) e o capítulo de
livro "Especulações sobre três romantismos moderados" (Literatura e seus
híbridos III: 25 anos do NuPILL, 2022).

GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
Curitiba, Paraná, Brasil
Data de edição: 11 ago. 2022
93

Você também pode gostar