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1 (2022)
Revista da Pós-Graduação em Letras – UNIANDRADE
Curitiba, Paraná, Brasil
GABRIEL ESTEVES, Gabriel. O ultrarromantismo como doença no Brasil do século XIX. Scripta
Uniandrade, v. 20, n. 1 (2022), p. 74-93.
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ULTRA-ROMANTICISM AS ILLNESS
IN THE 19TH CENTURY BRAZIL
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Sem o gênio e belezas dos trágicos Românticos, com todos os seus defeitos, foram
pesquisar no meio dos tempos passados os crimes os mais feios e tenebrosos, e
romântico”, que entendem ser “o absurdo o que vai ferir logo as vistas do maior número”
(RIO DE JANEIRO, 1835, p. 3925), mas parece que ainda não se buscava fazer uma
clara distinção entre duas naturezas de romantismo.
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não souberam fazer deles sair lições de moral e ciência para a sociedade. A
imoralidade foi o caráter do teatro de Victor Hugo e de Alexandre Dumas; a
exageração e a falsificação histórica os meios de que se serviram, o horrível e o
feio o seu tipo. Nada de natural, nada de histórico, nada de progresso para a
arte; retrogradaram à vista do precipício que eles mesmos tinham aberto e
desampararam os adeptos quando viram os crimes se amontoar na sociedade, a
perversão dos costumes em aumento e a voz dos homens sensatos acusá-los
como autores de um tal resultado. (SILVA, 1837b, p. 68)
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(1839, p. 15) enfatiza que trata dos excessos da nova escola, não do todo: “é escusado
advertir que falo do abuso e não da coisa”.
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10 No original: “in cancer, the patient is ‘invaded’ by alien cells, which multiply, causing
an atrophy or blockage of bodily functions”.
11 Ao leitor interessado nos textos (byronianos ou não) publicados pela revista Ensaios
brasileiros da primeira metade do século XIX, termos ao redor dos quais ainda orbitam
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14 “The disease that individualizes, that sets a person in relief against the environment,
is tuberculosis” (SONTAG, 1978, p. 37). Traduzindo: “a doença que individualiza, que
coloca a pessoa em relevo contra o ambiente, é a tuberculose”.
15 No original: “Consumption was understood as a manner of appearing, and that
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Tranquilizai-vos, meu caro leitor. Eu vo-lo suplico. Esse poeta a Byron está gordo
e robusto. Ele tem o cabelo ruivo, os olhos doces e palradores, a fisionomia
risonha e o passo tímido. Ontem saiu do colégio e apenas ousa levantar a voz
diante de seu professor de retórica. Ide, leitor, a qualquer teatro cômico, e ali o
vereis tomar parte nas mais vulgares diversões do gênero humano. [...] acreditai,
leitor, o nosso poeta não pensa em nada mau, e só é um bom garçom que nada
transtornará nem moverá, de sorte que o leitor pode muito bem dormir sem
susto. Porém, então, meu senhor, a que vem esses gritos de furor, essas
imprecações tão estupendas? – A que vem? – Eu vou dizer-vo-lo. São elas uma
mentira de moda nestes tempos que correm; são uma vestimenta que é
necessário enfiar no corpo para ser poeta. Uma vez terminada a obra, volta ele a
16 No original: “Many of the literary and erotic attitudes known as ‘romantic agony’ derive
from tuberculosis and its transformations through metaphor. Agony became romantic
in a stylized account of the disease's preliminary symptoms (for example, debility is
transformed into languor) and the actual agony was simply suppressed”.
17 Uma tradução dele pode ser encontrada no Diário de Pernambuco de 5 de fevereiro de
1840, p. 2-3.
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Os seus próprios praticantes não apenas não lhe davam importância [à poesia
pantagruélica], mas, a partir do momento em que entravam na vida prática,
como advogados, magistrados, funcionários, parlamentares, diplomatas ou
simples chefes de família, punham de lado as provas de loucura da mocidade e
com certeza as destruíam, como fizeram com a poesia obscena, que jamais
pensariam em assumir e muito menos publicar.
Ubiratan Machado chega à mesma conclusão. Ele acredita que boa parte
dos versos bestialógicos compostos por poetas acadêmicos, “declamados nas
reuniões estudantis, nas salas das repúblicas paulistanas, entre a fumaça
cheirosa dos charutos e tragos de vinho ou conhaque” (MACHADO, 2001, p.
147) tenha se perdido por negligência, descaso, ou pela própria ação dos autores
e seus familiares. Bernardo Guimarães, por exemplo, o único que “deixou
reproduzir algumas das suas produções nesses setores condenados”
(CANDIDO, 1993, p. 230), teria deixado “centenas de poemas fesceninos, que
escrevia num álbum, acessível apenas aos amigos mais íntimos” (MACHADO,
2001, p. 153), mas somente meia dúzia deles chegaram até nós. Das produções
de Álvares de Azevedo, há razão para crer que uma parcela nunca foi publicada.
Segundo Candido (1993, p. 231), “não se imagina a família de Álvares de
Azevedo [...] publicando junto com o material que formou a póstuma Lira dos
vinte anos algum soneto pícaro ou pantagruélico do rebento morto, cuja glória
era preciso alicerçar segundo as boas normas”. O próprio Conde Lopo, uma de
suas obras mais flagrantemente byronianas, só foi publicado, “de entre vários
manuscritos inéditos” (O CONDE LOPO, 1887, p. 1), depois de “autorizado pela
veneranda mãe do grande poeta” (S., 1887, p. 324), em 1887, “época em que
não pode mais ser apreciado como seria nos tempos em que foi escrito” (R.O.,
1887, p. 1), nem provocar tormentas em uma nação que já se habituava a ler
Baudelaire.
CONCLUINDO
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e raras, à escola byroniana”, pois “suas crenças são doces e firmes; os seus
pesares de moço não o levaram às excentricidades do spleen”, e porque “o seu
canto é melancólico, às vezes desdenhoso, quase sempre grave” (HYERONIMUS,
1847, p. 3); Casimiro de Abreu, cujo Livro negro deve ter causado alguma
sensação, “não é um poeta filho do ceticismo, esse gênio mau que tanto se tem
enxertado na poesia moderna; se alguma cousa nele encontramos que pareça
com isso, é mais um sofrimento, uma dor que o fazem soltar frases tristes, e na
aparência descridas” (PAMPLONA, 1861, p. 10).
Aureliano Lessa, que, segundo Antonio Candido (1993, p. 230-231), deve
ter compartilhado também com Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães
alguma coisa de pantagruélico e byroniano, é descrito por esse último, já
entrado na vida séria da maturidade, como um jovem folgazão, mas não (Deus
o livre!) byroniano:
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REFERÊNCIAS
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p. 261-267.
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SILVA, J. M. P. da. Estado dos teatros na Europa. Jornal dos Debates. Número
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SILVA, J. M. P. da. Lord Byron. Jornal dos Debates. Número 24. Rio de Janeiro,
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SONTAG, S. Illness as Metaphor. Nova Iorque: Farrar, Straus and Giroux, 1978.
iEste trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – Brasil.
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