AO JUÍZO DE DIREITO DO 3° JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE
CEILÂNDIA/DF
Processo nº: 0728083-04.2023.8.07.0003
KELLY SILVA MACEDO, brasileira, solteira, do lar,
inscrita no CPF sob nº 016.135.841-13, residente e domiciliada na SHSN OH 45 LOTE 12, Sol Nascente, Ceilândia - DF, por meio de sua advogada infra-assinada, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar
CONTESTAÇÃO
em face da Ação de obrigação de fazer c/c danos morais, movida
por ROQUE DE ALMEIDA SILVA FILHO, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.
I - DOS FATOS
A Parte requerente, nos autos da Ação de Obrigação de fazer
C/C Danos morais, alega que está sendo prejudicada pela parte Requerida, uma vez que ela supostamente provoca ruídos excessivos que perturbam a paz e o sossego de sua família e dos vizinhos. Ademais, alegou que procurou solucionar o conflito de forma amigável, porém, sem obter sucesso, e que por isso registrou cinco boletins de ocorrência contra a requerida por perturbação do sossego.
Por essa razão, o autor propôs a ação de obrigação de fazer
em face da ré, pleiteando o fim dos ruídos e a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) à título de danos morais, pelo estresse e os transtornos causados pelos barulhos.
O pleito autoral não merece prosperar, uma vez que o autor
não se desincumbiu do ônus da prova. Por essa razão a ação dever ser julgada improcedente.
II - DO DIREITO
Conforme narrado, cuida-se pretensão de reparação de
danos morais decorrentes de suposto excesso de ruído causado pela ré KELLY SILVA MACEDO.
Pleiteia o autor a reparação pelos supostos danos morais
suportados, a serem fixados em montante não inferior a R$ 10.000,00.
No entanto, por mais que o autor tenha juntado vídeos
com imagens e ruídos, nenhum desses vídeos, por si só, dão plena certeza de que seja a Requerida que produz esses barulhos.
Ainda que fosse a autoria, não é possível mensurar se
estes extrapolaram os limites de som permitidos por Lei.
O art. 1.277 do Código Civil estabelece que o
proprietário ou possuidor de um imóvel tem o direito de exigir que as atividades realizadas na propriedade vizinha não prejudiquem a sua segurança, o seu sossego e a sua saúde:
“Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um
prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências
considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança.”
A Lei Distrital n. 4.092/2008, regulamentada pelo
Decreto n. 33.868/2012, estabelece as normas gerais sobre o controle da poluição sonora e dispõe sobre os limites máximos de intensidade da emissão de sons e ruídos, resultantes de atividades urbanas e rurais no Distrito Federal:
“Art. 2º É proibido perturbar o sossego e o bem-estar público
da população pela emissão de sons e ruídos por quaisquer fontes ou atividades que ultrapassem os níveis máximos de intensidade fixados nesta Lei.
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, são
estabelecidas as seguintes definições:
I – Poluição sonora: toda emissão de som que,
direta ou indiretamente, seja ofensiva ou nociva à saúde, à segurança e ao bem-estar da coletividade ou transgrida o disposto nesta Lei;
II – Atividades potencialmente poluidoras:
atividades suscetíveis de produzir ruído nocivo ou incomodativo para os que habitem, trabalhem ou permaneçam nas imediações do local de onde decorre;
III – atividades ruidosas temporárias:
atividades ruidosas que assumem caráter não permanente, tais como obras de construção civil, competições desportivas, espetáculos, festas ou outros eventos de
diversão, feiras, mercados etc.;
IV – ruído de vizinhança: todo ruído não
enquadrável em atos ou atividades sujeitas a regime específico no âmbito do presente dispositivo legal, associado ao uso habitacional e às atividades que lhe são inerentes, produzido em lugar público ou privado, diretamente por alguém ou por intermédio de outrem, ou de dispositivo à sua guarda, ou de animal colocado sob sua responsabilidade que, pela duração, repetição ou intensidade do ruído, seja suscetível de atentar contra a tranquilidade da vizinhança ou a saúde pública;”
A lei estabelece limites diferentes para o horário
diurno: “o período do dia compreendido entre as 7 e as vinte e duas horas, e horário noturno: “o período compreendido entre as vinte e duas horas e as sete horas do dia seguinte ou, nos domingos e feriados, entre as vinte e duas horas e as oito horas”
De acordo com a legislação supra, o nível máximo de
pressão sonora permitido em ambientes internos – área estritamente residencial urbana ou de hospitais, escolas e bibliotecas – é de 40 dB (A) no período diurno, conforme critérios estabelecidos pela ABNT e 35 dB (A) no período noturno, conforme critérios estabelecidos pela ABNT NBR 10.151 e pela ABNT NBR 10.152 e especificado na Tabela II anexada ao Decreto n. 33.868/2012.
Pela regra da distribuição do ônus da prova, cabe ao
autor provar quanto ao fato constitutivo de seu direito, na forma do art. 373, I, do CPC. No caso, não há nos autos prova que comprove que os ruídos e barulhos supostamente produzidos pela Requerida extrapolam o limite máximo fixado na Lei Distrital n. 4.092/2008 e no Decreto n. 33.868/2012.
Na hipótese em apreço, para demonstrar a violação ao seu
sossego, o autor colacionou aos autos os inúmeros registros sob a alegação que a Demandada
tem perturbado o seu sossego noturno, sendo possível extrair do
conteúdo de alguns deles que, na realidade, não se tem certeza de onde os ruídos e/ou barulhos são provenientes.
Nesse sentido, vídeos reforçam a ideia de incerteza
quanto à origem geradora dos ruídos e/ou barulhos que perturbam o sossego do autor.
Além disso, os alegados barulhos não podem ser vistos
como uma conduta antissocial, se adequados aos limites máximos de intensidade da emissão de sons e ruídos resultante de atividades urbanas fixados na Lei Distrital n. 4.092/2008 e no Decreto n. 33.868/2012, que a regulamentou.
A nominada Lei do Silêncio estabelece limites diferentes
para o período do dia, que vai das 7h até as 22 horas, e o período da noite, onde os limites são menores, indo das 22h até as 7 horas. Nos domingos e feriados, entre as 22h e 8 horas da manhã (incisos XIV e XV do artigo 3º).
Em consonância com a lei, o referido Decreto, em seu
artigo 2º, assevera ser proibido perturbar o sossego e o bem- estar público da população pela emissão de sons e ruídos por quaisquer fontes ou atividades que ultrapassem os níveis máximos de intensidade fixados na Lei nº 4.092, de 30 de janeiro de 2008, e no seu Regulamento.
Nesse sentido, o autor não produziu nenhuma prova sequer
da intensidade da emissão dos alegados sons e ruídos que poderiam ser comprovados por meio de utilização de equipamento para medição do nível sonoro ou aplicativos para tal fim.
Pelo contrário, a parte autora não produziu prova
pericial.
Nesse contexto, é cediço que o dever de reparar o
prejuízo decorrente de ato ilícito exige, conforme os artigos 186 e 927 do Código Civil, o ato ilícito, o prejuízo e a relação de causa e efeito entre o ato e o dano.
O autor não demonstrou qualquer violação aos direitos
da personalidade.
Nesse ponto, confira-se a lição de Sérgio Cavalieri
Filho (Programa de Responsabilidade Civil, 8.ed. – São Paulo: Atllas, 2008, p.83/84) sobre o tema:
"Nessa linha de princípio, só deve ser reputado
como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não
se entender, acabaremos por banalizar o dano
moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.” A nossa Jurisprudência mais recente assim estabelece:
DIREITO CIVIL. PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL.
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REGULARIDADE NA DOCUMENTAÇÃO PARA MATRÍCULA. FALTA DE PROVAS. 1. A regra geral de distribuição legal do ônus da prova incumbe a quem afirma o fato, ou seja, cabe ao autor a prova do ato ou fato constitutivo do seu direito. 2. Não se desincumbindo a parte autora do ônus que lhe competia, provando fato constitutivo de seu direito, a improcedência da medida vindicada é medida que se impõe. 3. Negou-se provimento ao apelo. (Acórdão 1775903, 07087210320208070009, Relator: ANA MARIA FERREIRA DA SILVA, 3ª Turma Cível, data de julgamento: 19/10/2023, publicado no DJE: 8/11/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)
Ora, nos termos do art. 373, I, do CPC, cabe ao autor a
prova dos fatos constitutivos do seu direito, ônus do qual ele não se desincumbiu.
Portanto, diante da ausência de provas quanto à
perturbação do sossego, a improcedência do pedido de reparação por danos morais é medida que se impõe.
Ausente prova quanto à perturbação do sossego do autor,
com infringência à legislação de regência, não há que se falar em indenização por danos morais. III – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, por não restar devidamente comprovado
o alegado dano, a improcedência da ação é medida que se impõe!
ROL DE TESTEMUNHAS:
1. VANESSA RODRIGUES PIRES, inscrita no CPF nº 710.589.521-
70, telefone: (61)991348979;
2. POLLIANA COSTA SILVA, inscrita no CPF nº 059.818.721-95,
telefone: (61)994350798;
3. DAIANE BORGES DA SILVA, inscrita no CPF nº 031.995.831-05,