Nossa saúde e nossa paz seguem sendo atingidas no dia a dia. Saúde não tem preço e os
cuidados relativos a ela não podem nunca ser postergados.
A própria natureza da atividade de pular parece estimular a expressão dos praticantes por
meio de gritos – no caso presente tais emissões sonoras são reiteradas e muitas vezes
contínuas (por longos períodos). Não bastassem os gritos das crianças que estão no
brinquedo, as práticas são frequentemente acompanhadas dos gritos de estimulação ou de
aplauso dos acompanhantes, como também do choro de inconformismo/frustração das
crianças que não puderam entrar no jogo naquele momento.
Cabe perguntar: quantos ruídos dessa natureza e intensidade, que excedem os limites das
normas ambientais aplicáveis, pode uma pessoa normal suportar a cada hora, dia, mês, antes
que registre problemas nervosos sérios ou enlouqueça???? Já demonstramos à exaustão que
o problema por nós enfrentado não é um mero incômodo passageiro e suportável, e sim um
problema grave e com efeitos deletérios à nossa saúde, que vão se agravando na medida em
que as soluções adequadas deixam de ser adotadas por quem de direito.
A Senhora nos informou, a título de exemplo de sua atuação, que censurou e advertiu o
vendedor de picolé para que cessasse o uso de equipamento de som para chamar clientes em
razão dessa conduta ser imprópria e proibida por normas ambientais locais, por prejudicar a
paz e o sossego dos moradores. Num exercício de livre imaginação pode-se pensar no que
representaria de perturbação da paz da vizinhança se todos pudessem produzir os ruídos que
bem entendessem nos sopés dos edifícios, como por exemplo, se alguém entendesse ser seu
direito fazer serenatas de diversas horas de duração em todos os dias, impondo a todos o seu
próprio gosto musical e ruídos. Para limitar as condutas impróprias foi que a legislação
ambiental evolui no sentido de conter a emissão de ruídos em qualquer atividade, em área
pública ou privada, que representem a potencialidade de perturbar a paz ou prejudicar a
saúde das pessoas.
Não por outra razão, senão a de preservar a paz e tranquilidade das pessoas em qualquer
horário, a legislação mais recente, a exemplo da de trânsito, traça diretrizes rígidas para a
emissão sonora, tanto que proíbe o som automotivo em volume que ultrapasse o espaço
interno dos veículos, e restringe o uso de buzinas ao mínimo necessário.
Disso decorre que se a autoridade responsável pela instalação e manutenção de
equipamento e/ou obra geradora de violações da paz e tranquilidade dos circunvizinhos
afetados não dispõe de meios eficazes para assegurar a preservação e/ou o regate das
condições ambientais que a lei impõe como meio de preservar a saúde e bem-estar( como
bem maior/mais relevante), tem essa autoridade o dever legal de fazer cessar a atividade
até que encontre os meios adequados para tal. (Vide as disposições do Código Civil e as da Lei
n. 9.605/98 - art. 54 acerca das normas de convivência e da poluição de qualquer natureza).
A questão da poluição ambiental decorrente de ruídos (poluição sonora), em razão das graves
repercussões à saúde, é tão relevante, que as violações aos limites estabelecidos nas normas
de regência, recebeu tratamento de máxima severidade, sendo considerado crime grave,
elastecendo aquela visão antiga de mera perturbação, que caracterizava a transgressão como
mera contravenção de perturbação da paz. O som é considerado uma energia, que gera
impactos físicos constatáveis, tanto aqueles mais óbvios e clássicos (como por exemplo: um
agudo de soprano que é capaz de quebrar cristais; ou o ruído de aviões que podem destruir as
vidraças de edifícios), quanto os mais sutis (pouco visíveis) como os que atingem seres vivos,
causando lesões auditivas, neurológicas e outras.
Deve ficar consignado que a Reclamação de 3/3 foi realizada em desdobramento de inúmeros
contatos informais anteriores que tiveram início após a reativação do uso do equipamento de
lazer (que havia sido interditado por longo período em razão de problemas de
manutenção/segurança).
Cabe também refutar quaisquer alegações ou insinuações de que os ruídos devem ser
suportados pelos circunvizinhos por serem normais, produzidos durante o dia e em área
apropriada e destinada a esse tipo de uso.
A legislação ambiental é mandatória, e não admite escusas ao seu cumprimento, seja pelos
cidadãos, seja pelas autoridades. Assim, qualquer obra, atividade ou intervenção em área
pública (e até mesmo privada) deve respeitar presentemente (“no momento atual”) os
padrões e limites estabelecidos na norma, , impondo inclusive as adaptações e atualizações
necessárias, sob pena de responsabilização de quem os transgrida. Desse modo, o uso do
equipamento em questão está sujeito às limitações aqui apontadas, não podendo ser
justificada a continuidade das transgressões por qualquer razão.
Da mesma forma, qualquer obra nova só pode ser autorizada pela autoridade pública ante o
asseguramento prévio do cumprimento dos limites impostos pela legislação ambiental, com
imposição de adoção de padrões construtivos/arquitetônicos adequados, sendo que o
desrespeito ao cumprimento das exigências pode acarretar desde a não autorização para
edificar, a interdição da obra, ou até mesmo o embargo de utilização ou a demolição. Registre-
se, em adição, que em relação à alocação de parques e equipamentos de recreação infantil, as
decisões de instalação, além de estarem subordinadas às normas relativas ao ruído aqui
apontadas, devem atender aos requisitos técnicos das NBRs específicas (NBR15926-
Equipamentos de parques de diversão e NBR 14350-1 -Segurança de brinquedos de
playground), que, aparentemente, sequer foram consideradas na decisão de instalar o pula-
pula em nossa quadra.
Segundo Celso Antonio Pacheco Fiorillo, o mais eminente doutrinador da atualidade na área
do direito ambiental, em sua obra Curso de Direito Ambiental Brasileiro - 18ª edição de 2018,
Ed Saraiva (p.340-341):
(...)
Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as interferências,
poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação, quando estas se tornarem
possíveis.
A tutela jurídica do meio ambiente e da saúde humana no que diz respeito à exposição a níveis
excessivos de ruídos é regulada atualmente pela Resolução n. 1/90 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente – Conama, que por sua vez adota os padrões estabelecidos pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e pela NBR n. 10.152 (cujo teor é relativo ao
estabelecimento de “procedimentos técnicos a serem adotados na execução de medições de
níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações, bem como os valores de
referência para avaliação dos resultados em função da finalidade de uso do ambiente. (...)
valores de referência estabelecidos de acordo com a finalidade de uso do ambiente no local
onde a medição for executada, visando a preservação da saúde e do bem-estar humano.”).
Diz a referida Resolução:
Considerando que os problemas dos níveis excessivos de ruído estão incluídos entre
os sujeitos ao Controle da Poluição de Meio Ambiente;
II - São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os fins do item anterior aos
ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.152 -
Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
(...)
Fiorillo afirma (na mesma obra antes citada, p.360), ao discutir aspectos das repercussões no
direito penal (em especial as da Lei de Crimes Ambientais- Lei n. 9.605/98 - art. 54) de
condutas calcadas em produção excessiva de ruídos:
“(...) o delito em tela é crime de perigo concreto, o que significa dizer que o legislador
não presumiu o perigo, exigindo do acusador a sua prova. A adoção de crimes de
perigo encontra-se em perfeita consonância com o direito ambiental, privilegiando-se
o princípio da prevenção. Dessa forma, a conduta criminosa já estará caracterizada
com a potencialidade do dano, sendo desnecessária para a tipificação a realização do
resultado naturalístico danoso.
Registre-se, ainda, por pertinente, que o STF vem reiteradamente confirmando em suas
decisões a adoção desses parâmetros como critério interpretativo da matéria (vide Fiorillo, p
352).
Cabe advertir que embora seja atribuível responsabilidade aos pais pelas transgressões às
normas referidas em razão dos ruídos aqui registrados (que usam o equipamento de boa-fé,
julgando regular a presença do brinquedo naquele local), como o problema tem origem e
existência em razão da instalação irregular de equipamento de lazer em área pública, com
(“suposta”) autorização da autoridade competente, a eventual responsabilização
(administrativa, civil e/ou penal), por óbvio, recairia sobre o ente público e autoridades
responsáveis, em razão de violarem a legislação ao descuidarem da preservação da qualidade
ambiental nos atos que constituem a instalação e manutenção do equipamento.
Na condição de educadores (pais, avós, professores, terapeutas), sentimos ser nosso dever
suscitar a reflexão de V.S.ª relativa aos danos à saúde que as camas elásticas provocam. Há
vários registros de que tal brinquedo é capaz de causar danos de ordem física e neurológica, a
ponto de existirem advertências médicas contra o uso desse tipo de equipamento, com
recomendações de banimento (vide a título de exemplo a matéria publicada em:
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/diretrizes-para-o-uso-da-cama-elastica/) . Em
face dos riscos à saúde que o brinquedo produz, cabe ponderar que eventuais lesões aos
usuários podem resultar em responsabilização dos mantenedores/autoridades autorizadoras,
possibilidade esta que não pode ser afastada pela mera colocação de avisos de advertência
dos riscos apostos no brinquedo, transferindo as responsabilidades do uso aos
usuários/acompanhantes, haja vista ser a decisão de instalação/manutenção que estabelece à
indução de uso.
Cabe reforçar aqui, em finalização, que a competência legal para conceder a autorização de
instalação e uso de equipamento de lazer em área pública, bem como a responsabilidade por
qualquer fato relacionado ao equipamento em questão, s.m.j., é exclusiva e indelegável da
Administração Regional do Sudoeste, sendo sem valor jurídico a atuação nesse sentido da
Prefeitura Comunitária da SQSW 302 (ONG-Entidade da Sociedade Civil – Privada).
A imediata ciência do inteiro teor desta nossa manifestação, bem como da anterior e seus
anexos, à Administradora Regional do Sudoeste, para conhecimento, acompanhamento e
providências cabíveis.
Atenciosamente,
xxxxxxxxxxxxxxxxx
Dispõe o Artigo 5º da Constituição Federal, que trata dos direitos e garantias individuais:
(...)
“X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.”( Incisos do art. 5º da
Constituição Federal)
A inviolabilidade em questão se estende, por óbvio, a qualquer coisa que invada a casa do
indivíduo, inclusive, o som, que por ser uma espécie de energia, produz impactos físicos
mensuráveis.
Em razão da proteção constitucional à inviolabilidade do lar (por qualquer meio que seja), ao
contrário do que sustenta a crença popular, a emissão de ruído excessivo, capaz de invadir a
esfera privada de outras pessoas causando-lhes perturbações e danos à saúde e ao sossego
não é permitida em nenhum horário do dia ou da noite, não existindo em nosso ordenamento
jurídico qualquer norma que estabeleça o período do dia anterior às 22 horas como limite
usual de liberação ou relativização do dever original e absoluto de não prejudicar outros com
nossas condutas.
Para um melhor esclarecimento do público em geral acerca dos direitos dos cidadãos que
sofrem com a poluição sonora, o Ministério Público Estadual de Pernambuco em parceria com
vários órgãos do governo local e de entidades da sociedade civil, instituiu a campanha
denominada “Som Sim, Barulho Não”, que resultou na produção de uma Cartilha bastante
didática (acessível em
http://www.mppe.mp.br/mppe/attachments/article/1807/Cartilhapoluicaosonoraweb.pdf).
Cópia anexa.
Do capítulo 5 desse documento, destinado a responder as dúvidas mais frequentes acerca do
tema, destacamos, por pertinentes ao que aqui discutimos, as respostas aos seguintes
questionamentos (os grifos são nossos):
3. Até que horas posso fazer barulho?
Em nenhum horário. Pouco importa se é manhã, tarde, noite ou madrugada.
Infelizmente, criou-se uma ideia errada no Brasil de que seria permitido abusar de
sons e ruídos entre as 8h e 22h, como se o sossego e a saúde das pessoas não pudesse
ser atingido neste período. Lembre-se: o objetivo das leis em torno desse assunto é a
proteção do sossego, do trabalho e da saúde, qualquer que seja o horário.
4. Somente sons ou ruídos muito altos geram poluição sonora?
Não. Pequenos ruídos e mesmo sons baixos emitidos, por exemplo, por um rádio em
sua casa, podem ser tão incômodos e nocivos à saúde de terceiros quanto outras
fontes poluidoras mais perceptíveis. Tudo vai depender do contexto em que se acha
inserida a pessoa atingida. Se o som ou ruído que você produz de algum modo alcança
aos ouvidos do seu vizinho, este é quem poderá dizer se é ou não aceitável. A
Constituição Federal diz que o lar é asilo inviolável e a democracia garante a cada um
as suas próprias escolhas. O princípio a ser observado é o de conter o som ou ruído no
próprio ambiente em que ele é gerado.
16. Dentro de minha casa, posso fazer o barulho que eu quiser?
A casa é asilo inviolável do indivíduo, e esta é uma garantia constitucional. Tal
inviolabilidade é absoluta, donde se conclui não ser permitida a transgressão da paz
ou do trabalho alheios. O próprio Código Civil prevê o direito de fazer cessar as
interferências prejudiciais ao sossego provocadas pelo mau uso da propriedade
vizinha, podendo o prejudicado exigir que as interferências sejam reduzidas ou
eliminadas (arts. 1.277 a 1.279). A resposta, portanto, é não.
24. Quem é mais adequado para identificar a poluição sonora?
A vítima é sempre a pessoa mais adequada para revelar o incômodo. Quem provoca
o ruído raramente se apercebe ou se incomoda com ele. O dever de restringir o som
no ambiente é de quem o produz. Quando qualquer som ou ruído invade o espaço
alheio, que obrigação teria o ofendido de suportar isso? Embora não possam ser
vistos, os sons e ruídos podem aborrecer, em maior ou menor grau, dependendo de
uma série de elementos subjetivos e peculiaridades ligados exclusivamente a vítima. E
nunca é demais repetir: a Constituição Federal garante a cada um as suas próprias
escolhas e o lar é o asilo inviolável do indivíduo.