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DIREITO DO AMBIENTE
(Ambiente e Território. Urbanismo e Reabilitação urbana)
ALMEDINA
2016
Dedicatória
Índice
1Teoria pretoriana do efeito direto de normas que não tenham sido transcritas nacionalmente no prazo imposto, desde que precisas,
claras, incondicionais e não carentes de medidas complementares de génese nacional ou europeia. Jurisprudência do Tribunal de
Justiça da CE, no Acórdão Van Gend en Loosde, 5 de Fevereiro de 1963. CONDESSO, Fernando -Lições sobre Introdução ao
Estudo do Direito e Princípios Gerais de Direito. Lições Policopiadas.Ano 2009/2010. Lisboa: ISCSP, 2010-2011; Em: Direito
Internacional Público. Lições policopiadas. UML.Lisboa, 1992.
2 Etimológicamente, ontologia deriva do grego ον, οντις, o que é (o ser, o ser das coisas); e ergonologia, de έργον, ου, função, que
finalidade do seu uso e transformação de modo a compatibilizar-se com as suas aptidoes e vocações, sem colocar em causa a
permanência dos valores de bem-estar biológico e de estabilidade geológica, em ordem a viabilizar a potenciaçao das respetivas
capacidade de suporte de vida.
4 Sobre o conceito de desenvolvimento resiliente, que na última Cimeira Mundial do Ambiente, irrompeu em força para tentar dar
um conteúdo mais preciso e operativo ao difuso conceito de sustentabiliddade, vide CONDESSO, F. –“Direito Constitucional
Ambiental”. In Direito do Ambiente. Almedina, 2014, p.11, nota 5.
5 Pelo menos, os municipais e intermunicipais. Atualmente, os poderes locais constitucionalizados em funcionamento são os
municípios e, também, ainda as freguesias, no futuro as regiões administrativas, assembleias representativas e outras figuras
possíveis de nas regiões autónomas (art.º235.º CRP).
1987, que vence de novo. Com efeito, a atual lei não conseguiu erigir-se numa linha de
“depuração” material, tal como a nova lei de bases da política dos solos se viu obrigada a
agregar à sua designação os vocábulos e as grandes orientações para o “ordenamento do
território” e o “urbanismo”, não afastando aí a relativa centralidade da problemática ambiental.
Na maioria dos Estados Europeus, a principal condição humana já é a condição urbana. E
em Portugal, embora os níveis de urbanização não sejam tão elevados, como na média Europeia,
são já bastantes significativos e crescentes. Decorre desta condição que uma preocupação
dominante em qualquer cenário de desenvolvimento é viver melhor nas cidades. Mas se o
Homem Europeu vive em cidades, para viver melhor terá que ter melhores cidades. A qualidade
de vida nas cidades depende da qualidade do Ambiente Urbano, onde os problemas ambientais
evoluem em ininterrupto rescendo de temas e de complexidade.
Outra razão, mais ligada às problemáticas do Ambiente em geral, é que é nas cidades que
se geram muitos dos problemas associados à poluição, porque é aí que o homem produz, ou
seja, as cidades são focos e fontes de problemas ambientais. Por isso, é também nelas que se
devem procurar as soluções de muitos dos problemas do Ambiente, até problemas
transfronteiriços, originados pelas emanações originadas em torno das grandes cidades. Por isso,
as políticas ambientais vão evoluindo continuamente, para integrar a componente urbana.
Numa linha paralela ao do direito do urbanismo, que vai ter de caminhar rapidamente de
um direito tradicional da construção e edificação para um direito centrado na reabilitação do
edificado, marginalizando o fenómeno expansivo dos lugares e do edificado, e integrando
fortemente componentes de qualidade de vida e de defesa do ambiente, dos espaços de vida, das
paisagens, no fundo da defesa do património histórico, estético e ambiental existente.
Também é importante que a metodologia do ambiente (a visão sistémica das questões
ambientais e que constitui, hoje em dia, uma ciência) aborde o tratamento das questões da
cidade. O habitat do homem, o seu espaço cultural, é a cidade, pelo que é necessário procurar
aplicar à cidade a metodologia das questões ambientais. Ou seja, há que trazer a perspetiva dos
ambientalistas à solução de alguns problemas urbanos. Outro motivo para o tratamento dos
problemas do ambiente urbano, a nível comunitário europeu, é a grande semelhança entre as
cidades europeias quanto aos problemas ambientais com que se debatem, semelhança que se
deve a terem tido quase todas processos muito semelhantes de crescimento, desenvolvimento e
envelhecimento. As cidades europeias e a sua vivência são património cultural europeu da maior
relevância e, portanto, a conclusão que a Comissão Europeia tem vindo propor à reflexão é que
o problema do ambiente nas cidades europeias oferece uma oportunidade grande à cooperação
entre os Estados.
Aliás, o ambiente urbano, é hoje um dos temas de política comunitária, precisamente
porque, na União Europeia, cerca de 80 % da população vive em cidades e as áreas urbanas são
os locais onde os problemas do ambiente mais afetam a qualidade de vida dos cidadãos.
As tendências demográficas, incluindo a evolução da população, a dimensão dos agregados
familiares e a ocupação do espaço, continuaram a levar ao aumento das pressões nas áreas
urbanas. Embora de acordo com o princípio da subsidiariedade, a responsabilidade pelas
medidas de defesa, de correção e de melhoria da qualidade do ambiente urbano recai sobre as
autoridades competentes, essencialmente as autoridades locais.
Mas a União Europeia também tem preocupações neste âmbito. Parte da sua legislação
sobre o ambiente, por exemplo as diretivas relativas à incineração de resíduos urbanos
(Diretiva 89/369/CEE e Diretiva 89/429/CEE) e ao tratamento de águas residuais urbanas
(Diretiva 91/271/CEE), bem como muitas atividades desenvolvidas através dos fundos
estruturais, levam-na inevitavelmente a desempenhar um papel importante no desenvolvimento
das cidades. Os transportes, a energia, a indústria e, nalguns casos, o turismo constituem as
principais atividades sectoriais com impacto na qualidade do ambiente urbano e que, ao mesmo
Quanto aos n.º1 e 2 do artigo 268.º da CRP, embora com caráter geral, vem consagrar
direitos e garantias dos administrados, de extrema utilidade para a defesa de valores
ambientais, não só no plano corretivo, como sobretudo preventivo e precautivo.
Aí se consagra, como direito fundamental, o direito de se ser informado pela
Administração, não só sobre o andamento dos processos em que se seja diretamente interessado
(e o Código de Procedimento Administrativo tal como o Código de Processo nos Tribunais
Administrativos vêm consagrar um conceito amplo de interessado, integrando todos os titulares
de interesses difusos), assim como também o direito de acesso aos “arquivos e registos
administrativos”, com exceções muito limitadas. De base também constitucional, expressos ou
imanentes a outros valores aí consagrados, todos já densificados na lei.
Desde logo, a primeira e anterior legislação, a Lei n.º 65/93, de 26.8, complementada pela
Lei nº8/95, de 29 de Março (ambas, fruto de propostas de lei do autor), que integraram as
expressas (relativas à segurança interna e externa, à investigação criminal e à intimidade das
pessoas), e, numa conceção de limite imanente resultante de outros valores constitucionalmente
previstos (referentes à vida interna das empresas), o que o Tribunal Constitucional viria a
coonestar em posterior Acórdão de 1999, o Tribunal Constitucional 254/99. A LADA de 1993
foi ainda objeto de alterações introduzidas pela Leis nº 94/99, de 16 de Julho, e n.º19/2006, de
12 de Julho. Atualmente a matéria foi transferida para dois diplomas e com algum sentido de
retrocesso no domínio da transparência, as Leis nº 46/2007, de 24 de Agosto de 2007 (LADA,
mas com novo âmbito mais vasto, passado a ter uma parte que trata da comercialização de
dados públicos) e a Lei 19/2006 de 12 de Junho (acesso à informação ambiental) 8.
6 CONDESSO, Fernando -“Desenvolvimento rural, património e turismo”. In Cuadernos de desarrollo rural, International Journal
(n.º4). Em geral, as regras fundamentais do instituto português da expropriação são as seguintes: o seu objeto são bens imóveis e
direitos a eles inerentes (direito de propriedade, outros direitos reais — usufruto, superfície, uso e habitação e servidões prediais —
ou direitos obrigacionais, vg. o direito de habitação). Os seus pressupostos de legitimidade são: a)-o princípio da legalidade (só é
possível com base na lei); b)-o princípio da utilidade pública (por causa de utilidade pública compreendida nas atribuições da
entidade beneficiária); c)-o princípio da interdição de excesso (necessidade, adequação e proporcionalidade); e o princípio da
garantia patrimonial (indemnização justa, isto é compensação total do valor do bem, medido pela quantia que seria recebida na
alienação livre no mercado, descontando os fatores especulativos).
8 Vide críticas em Fernando CONDESSO: obras citadas e editadas pela Dykinson, Madrid, Espanha, 2011 e LAMBERT
9 A revisão geral do texto constitucional, em 1982, foi efetivada por proposta da respetiva comissão parlamentar, de que o autor foi
primeiro vice-presidente e coordenador por parte do partido maioritário, três anos antes de ter terminado o processo de adesão à
CEE e em 1 de janeiro ter integrado o primeiro elenco de deputados portugueses ao Parlamento Europeu.
10 Vide CONDESSO, Fernando -“El marco orgánico y de gestión y el modelo jurídico fijado para la Administración del agua en
Portugal”..Em VVAA: Planificación y Gestión del Agua ante el Cambio Climático: Experiencias Comparadas y el Caso de Madrid.
Ángel Menéndez Rexach (Dir.). La Ley. Madrid, 2012, Pp. 341-384.
11 Sobre o tema, vide “Restriçoes administrativas”. In Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2001, Pp.1213-1273.
Não pode, ainda, deixar de se destacar que o direito de impedir ou corrigir, preventiva ou
sucessivamente, a degradação do ambiente está reconhecido a todos os cidadãos e
organizações, em conformidade com a natureza do bem ambiental, justificando mesmo o
exercício do direito de resistência em face da Administração ou de concessionários de bens
(como é o caso da água) ou de serviços públicos.
Cabe à lei definir os termos do seu exercício, que integra vários domínios de atuação,
desde ações de manifestação e ações de representação individuais ou coletivas (ao abrigo dos
direitos gerais de manifestação e petição), acesso à informação ambiental, meios
impugnatórios administrativos (reclamações e recursos hierárquicos ou tutelares), meios
jurisdicionais (desde a impugnação contenciosa dos atos administrativos, o acionamento dos
meios de proteção penal e a ação popular, pública ou cível, para defesa do ambiente e execução
do princípio poluidor-pagador). Este, de qualquer modo, porque já não evita o mal, não pode
dispensar outras técnicas jurídicas com maiores virtualidades no domínio da prevenção de
lesões ambientais 12. O que nos coloca face à pertinente problemática da comutação de coimas e
multas por medidas alternativas voluntárias.
Com efeito, mesmo com determinação do poluidor, a este (v.g., se for industrial) pode ser
financeiramente preferível indemnizar a inovar tecnologicamente. Nestas situações, as
indemnizações são configuradas em termos relativos, como custos menores, em termos de
montante e de momento de desembolso (aliás, alongado desde logo pela morosidade dos
tribunais), mesmo que se se tivesse como certa a condenação no seu pagamento (o que a
dificuldade de prova e a impossível democratização do acesso à justiça em termos de condições
de igualdade no mérito do exercício da procuradoria, não assegura).
A constituição ambiental formal e material e as normas que ela implica traduzem uma
normação muito ampla. Em geral, na sua linha de orientação, se quisermos defender um
conceito material integral, teremos uma tríade dos elementos implicados, naturais, sociais e
territoriais (ordenamento do território, meio urbano13 e infraestruturas, transportes, património
cultural, etc.). Sem o que o direito não cobriria o espectro das exigências atuais de regulação
jurídica, como se o mundo pudesse ser visto sem a intervenção reconformadora do homem, ele
mesmo destinatário do direito e o objeto central dos efeitos das condutas humanas face aos
elementos naturais da vida e à sua retroação imediata ou a posteriori sobre a natureza e os
próprios homens.
Face ao texto constitucional, legislação nacional básica, e ao direito unionista europeu que
se lhe sobrepõe, temos um conceito bastante amplo. Ou seja, não só um direito vertical do
ambiente, mas também planos de interferência horizontal, integradores de preocupações
ambientais em todas as políticas sectoriais (limitações à localização da vivência e das
atividades humanas em geral: “ambiente de vida” humano, sadio e ecologicamente
“equilibrado”).
Ele poderá ainda ser devidamente operativo, sobretudo, se se reduzir a sua apetência
hiperbólica a três grandes objetivos essenciais: a proteção da natureza e recursos, o combate à
poluição e disfunções ambientais e a melhoria da qualidade de vida? E aqui não deixam de
confluir valores ligados simultaneamente ao direito do ambiente e aos direitos de personalidade
(v.g., proteção contra o ruído de vizinhança, protegido também pelo direito civil).
Então, quais deveriam ser os critérios fundamentais em que deveria assentar em geral o
objeto do direito do ambiente, face aos problemas do meio ambiente, a tratar, numa guerra
colaboração dos consumidores através da ecoetiqueta, a ecoauditoria, a ecogestão e ecocontabilidade, além das técnicas fiscai s, etc..
13 Em geral, CONDESSO, Fernando ; CONDESSO, Catarina -“Urbanismo sustentável”. Em Direito do urbanismo. Quid Juris.
Lisboa, 1999, Pp.141-209; –“The problem of the aesthetic in modern law of the urbanism: a case of leakage systematic of the right
for public administration and courts». Em VVAA: Revista Electrónica Iberoamericana, Centro de Estudios Iberoamericanos,
URJC, Madrid, Vol.4, N.º1, 2011 http://www.urjc.es/ceib, Pp.38-57.
1.2. Posição geral sobre o direito constitucional do ambiente. Estado direito ambiental
14 CONDESSO, Fernando -Direito do ambiente. Almedina. Coimbra, 2001, 1319 p.; La defensa del medio ambiente y el derecho a
la información en las Instituciones de la Unión Europea y en la Península Ibérica. Biblioteca da URJC. Madrid, 2003, p.995;
“Direito do Ambiente”.Em VVAA: acto-um, arte, ciência, cultura, n.º1. Universidade Moderna. Setúbal, Junho 2001, Pp. 66-85.
15 CONDESSO, Fernando -“Recapitulação sobre o conceito de ordenamento do Território, a nova política territorial europeia e o
futuro modelo territorial peninsular”. Em: O Ordenamento do Território: Administração e Políticas Públicas, Direito
Administrativo e Desenvolvimento Regional. Lisboa: ISCSP, 2005, Pp.737-800.
16 Sobre o tema, com grande clareza, profundidade e síntese, o desenvolvimento de José Joaquim Gomes CANOTILHO em
“Procedimento Administrativo e Defesa do Ambiente”. Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 123.º, n.º3799, Pp.291 e ss.
bastante evoluído da consciência ambientalista presente nesse ano em que foi elaborada, 1975,
embora ainda abordado em termos antropocêntricos.
Não se aposta, aqui, propriamente, numa conceção do ambiente como tal, mas em
preocupações jurídicas com a defesa da vida humana, designadamente em termos de
obrigações-atribuições constitucionalizadas do Estado. Estas abarcam um elenco material
exemplificativo, que é bastante amplo, que vai desde prevenir e controlar a poluição, os seus
efeitos e as formas prejudiciais de erosão; criar e desenvolver reservas e parques naturais e de
recreio; classificar, proteger e promover sítios paisagens e sua valorização, de modo a garantir a
conservação da natureza; promover o aproveitamento racional dos recursos naturais,
salvaguardando a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica, com respeito pelo
princípio da solidariedade entre gerações; promover a integração de objetivos ambientais nas
várias políticas de âmbito sectorial; promover a educação ambiental e o respeito pelos valores
do ambiente; assegurar que a política fiscal compatibilize desenvolvimento com proteção do
ambiente e qualidade de vida; até ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em
vista uma correta localização das atividades, um equilibrado desenvolvimento socioeconómico;
garantir a preservação de valores culturais de interesse histórico ou artístico e promover, em
colaboração com as autarquias locais, a qualidade ambiental das povoações e da vida urbana,
designadamente no plano arquitetónico e da proteção das zonas históricas.
Em termos de considerações gerais acerca deste conceito constitucional de ambiente,
constata-se que a Constituição portuguesa não define nem distingue os conceitos de ambiente e
qualidade de vida, usados de modo interligado. No entanto, a junção das duas expressões, com a
referência autónoma à qualidade de vida, e tendo presente o amplíssimo espectro de matérias
elencadas, revela que este conceito não só não se identifica com o de ambiente num sentido
estrito, como é marcado pelo espírito da época.
17 Sobre o tema, desenvolvidamente, CONDESSO, Fernando -“Principios de Gestión y Objetivos Medioambientales. El Agua:
¿Necesidad básica o Derecho Humano?”; “Experiencias Comparadas: El Marco Orgánico y de Gestión del Modelo Jurídico para la
Administración del aAgua en Portugal”. Em VVAA: REXACH, Ángel Menéndez (Dir. -. Planificación y Gestión del Agua ante el
Cambio climático: Experiencias Comparadas y el Caso de Madrid. La Ley. Madrid, 2011, respectivamente, Pp.49-78 e Pp. 341-
384; ; -“Derecho nacional, europeo e internacional de las aguas peninsulares: Marco orgânico y de gestión. Tratado de Albufeira”.
Revista Monfragüe, Espanha, n.º1, 2013, Pp.22-49, http://monfragueresiliente.com/numero1/inv2.html; Face à legislaçao anterior,
CONDESSO, F. –“O Direito das Águas”. In Direito do Ambiente, o.c., Pp.814-942.
18 CONDESSO, Fernando -“O âmbito material e as características do direito do ambiente”. Em:Direito do ambiente. Almedina.
19 CONDESSO, Fernando dos Reis– “Do Ambiente Urbano”. In Direito do Ambiente. O.c., Pp.1132-1213.
20 “Os sistemas físicos, químicos e biológicos e os factores económicos sociais e culturais, além de serem interativos entre si,
produzem efeitos, direta ou indiretamente, sobre unidades exis-tenciais vivas e sobre a qualidade de vida do homem».
21 Em geral, CONDESSO, Fernando -Direito do ambiente. Almedina. Coimbra, 2001; “Direito ambiental em Portugal. Fundamentos
concetuais, Caracterização e princípios gerais”. REIB, URJC, Madrid, jun2013; RIDARN, IJ-LXVIII-618, n.º9. Disponível em
http://www.ijeditores.com.ar/articulos.php?idarticulo=65618&print=2>. [Em linha].(Consultado em 1.12.2013).
22 Matéria hoje disciplinada no na Lei n.º 67/2007, de 31.12.Vide capítulo XI.
23 Ver CANOTILHO, José Joaquim Gomes -«A Responsabilidade por Danos Ambientais:Aproximação juspublicística. In Direito
como conceito comumente aceite pelas instituições e pelo próprio ordenamento jurídico 24.
No fundo, vamos vivendo com um conceito aberto e em contínua expensão, dado que o
objetivo do bem-estar do homem e da proteção da qualidade de vida é um objetivo de
realização contínua. Por isso, é difícil formar um conceito material, tendo de nos contentar
com um conceito normativo.
Entre os conceitos materiais, importa começar por referir que o mero conceito de matriz
material não enquadra adequadamente as matérias submetidas à lei por razões ambientais. É
puramente naturalista. Inclui apenas os recursos naturais abióticos e bióticos, a flora e fauna.
Basta referir que certas interdições, condicionamento e sanções, fora do âmbito do ambiente
natural, por exemplo no plano urbanístico, só têm sentido numa lógica ambiental.
A exigência da aplicação de certos instrumentos específicos de intervenção ambiental,
como a avaliação do impacto ambiental, estende-se a áreas que atiram o conceito para fora do
âmbito naturalocêntrico, etc.. O que implica a não vigência de uma conceção restrita. Em
termos mais amplos, o conceito material “naturalossocial”, embora acentue a abordagem
antropocêntrica, vai mais longe, integrando ainda os conceitos de bem-estar, qualidade de vida e
desenvolvimento da personalidade. E mesmo um conceito material integral, que abranja a
tríade dos elementos natural, social e territorial, integrando os elementos do ordenamento do
território, designadamente o meio urbano25 e as respetivas infraestruturas, como o habitat,
transportes, património cultural26, etc., não cobriria o espectro das exigência atuais de regulação
jurídica.
O conceito restrito procura reduzir a complexidade temática do conceito amplo, isolando o
conceito de ambiente ao de ambiente natural, como se o mundo presente pudesse ser visto sem a
intervenção reconformadora do homem. E como se o mundo do direito não tivesse que ter
presente a “retroação”, com o homem para regular o agir deste. Independentemente dos seus
beneficiários, destinatário do direito é apenas o homem.
O objeto central da proteção jurídico-ambiental diz respeito aos eventuais efeitos da
adoção de certas medidas do homem relativamente aos elementos naturais da vida e a respetiva
retroação sobre os próprios homens.
O conceito normativo é amplo, embora não totalizante e imperialista, mas tendo em conta
o âmbito normativo e os domínios de proteção das normas jurídicas incidentes sobre os
problemas do ambiente27-28.
Portanto, tal não significa que, face ao quadro de regulação jurídica, ou seja, em termos de
conceito de operatividade normativa, embora não se possa aceitar um conceito restrito, se possa
defender um conceito totalizante. Atendendo à normação internacional, europeia e nacional,
constata-se que só é possível construir um conceito “intermédio”, que seja fruto de uma
contenção artificial, negociada, conjuntural, que não esconde as dificuldades de contrariar
outros interesses instalados e de balizar uma área de vocação para-imperialista, como é a do
tratamento da problemática ambiental. Uma área do real, construível de acordo com o princípio
da verticalidade ou o da transversalidade29, no tratamento dos elementos que o compõem. Isto
é, sem poder também esquecer o princípio da integração das preocupações ambientais em
24 No mesmo sentido, como refere o autor citado, MARTÍN MATTEO, R. –Tratado de Derecho Ambiental. Vol.I, Madrid:Trivium,
1991, p.80 e segs. Este autor considera que o ambiente integra os elementos naturais de titulatidade comum e de característi cas
dinâmicas (já em Derecho Ambiental –Madrid:IEAL, 1977).
25 Em geral, CONDESSO, Fernando e Catarina –Direito do urbanismo. Lisboa: Quid Juris, 1999.
26 CONDESSO, F. –Fundamentos conceptuales, económicos y jurídicos de la ordenación del territorio. (Lecciones policopiadas al
curso de doctorado). Madrid: UICA, Universidad Complutense de Madrid, 2010, Pp.229 e ss. (Desarrollo y cohesión en la
Península Ibérica: El problema de la ordenación territorial. Barcelona: Erasmus Ediciones, Jan 2010): -Direito do Ambiente.
Coimbra: Almedina, 2014.
27 A «ratio legis», a razão de ser da lei, da norma jurídica.
28 CARAVITA - Diritto pubblico dell’ambiente. Bolonia, 1990, pág. 50.
29 CONDESSO, F. –“Princípios Fundamentais do Direito Ambiental”. Direito do Ambiente.Coimbra:Almedina, 2014, p.141 e ss.
todos os sectores de atividade, o que aponta para a consideração dos elementos do ambiente
humano, quando tal for necessário à consecução de objetivos ambientais.
Se o conceito de direito do ambiente em sentido estrito é o sistema de normas jurídicas
que, tendo especialmente em vista as relações do homem com o meio, prossegue certos
objetivos (conservação da natureza, manutenção dos “equilíbrios” ecológicos, salvaguarda do
património genético como conjunto de espécies vivas que atualmente existem na face da Terra),
efetiva a proteção dos recursos naturais e o leva ao combate às diversas formas de poluição: é
um conceito naturalocêntrico), a verdade é que a lei fundamental prevê outras regulações, desde
o ordenamento do território e a defesa da qualidade ambiental das povoações e da vida urbana, a
proteção das zonas históricas, como, em geral, a preservação de valores culturais de interesse
histórico, artístico e arquitetónico.
Há, nesta perspetiva, uma integração no conceito de ambiente de matérias que ultrapassam
o âmbito da natureza, que são enquadráveis, numa delimitação temática estrita, nos conceitos de
direito do ordenamento do território, do urbanismo e da proteção do património cultural 30. Tal
como as normas criadas para satisfazer as orientações protetivas em termos de medicina,
designadamente no âmbito da ecotoxicologia, são em termos estritos enquadráveis no conceito
de direito da saúde. As referentes ao enquadramento da economia, no direito agrícola ambiental,
industrial ambiental, turismo ambiental, etc., são de direito económico.
Este conceito amplo pode ser tao extensivo, que se torne totalizante, mas tem pelo menos
que admitir o complexo de relações de uma unidade vital para com a sua envolvência específica,
exprimindo no essencial a globalidade das condições de vida, isto é, os animais, as plantas e o
mundo social e artificial, humanamente conformado. Em termos tendenciais, poderá, pois,
afirmar-se que nos interessarão, sob o ponto de vista jurídico, todas as medidas juridicamente
vinculantes que se destinem a proteger e a regular, de forma planificada, conformadora,
preventiva e promocional, o ambiente natural e humano perante os feitos perturbadores do
´processo civilizacional.
Um conceito unitário passa pela formulação de um conceito funcional, escatológico ou
teleológico pode ter em conta a transversalidade, a horizontalidade, a integração em geral das
preocupações ambientais. Em relação a todos os bens a considerar subsiste uma ideia finalista:
proteger e melhorar a qualidade de vida e em concreto a qualidade de vida do homem, a sua
saúde, a sua cultura, o seu bem-estar, a sua envolvente natural.
30 Em geral, NABAIS, José Casalta –Introdução ao Direito do Património Cultural. Almedina, 2010.
31 CONDESSO, F. –Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2001.
como modo de ser global da realidade natural, em termos de equilíbrio, mesmo que
naturalmente instável, dos seus diferentes elementos, sem prejuízo de abarcar ainda áreas
territoriais particularmente importantes pela sua beleza, valor paisagístico, científico ou
histórico e os suportes territoriais32 de referência relativamente a empreendimentos agrícolas,
industriais e comerciais, que possam ter implicações no ambiente.
Quanto à noção de direito ambiental, que concluir então? Em face do direito unionista, do
texto constitucional e da legislação nacional básica parece que se aponta para a consagração
tendencial de um conceito que poderíamos designar de conceito para-imperialístico do
ambiente, que aparece sobremaneira, quer na amplitude vertical da temática abrangida, isto é,
no plano da sua concretização objetiva, referente às águas, ar, conservação da natureza,
resíduos, etc. (direito vertical do ambiente), quer no plano da interferência horizontal, em face
do mandato comunitário e constitucional de integrar as preocupações ambientais em todas as
políticas sectoriais, desde logo as limitações à localização da vivência e das atividades humanas
em geral.
Isto, compreensivelmente, porque se trata de um conceito que tem que ver com um
“ambiente de vida” “humano, sadio e ecologicamente equilibrado”, a que o homem tem direito.
De qualquer modo, em termos genéricos, podemos afirmar que, sem prejuízo de se integrarem
normas de cunho ambiental em todos os ramos de atividade, em Portugal as principais normas
vigentes na matéria, que são abordadas apenas com a designação de direito do ambiente, e que
protectivas.
aparecem designadamente nas normas constitucionais e nas incluídas na Lei de Bases, têm três
grandes objetivos essenciais: a proteção da natureza e dos recursos, o combate à poluição e às
disfunções ambientais e a melhoria da qualidade de vida.
O direito do ambiente coloca especial relevância nos fins que visa alcançar e que têm a ver
com os direitos fundamentais do homem, sendo o direito “o meio privilegiado para toda a
política a favor do ambiente”35.
O direito vem combater a agressão ao ambiente para salvar o homem da devolução natural
da sua agressão. Isto é, é o ambiente agredido–agressor, reagindo às condutas humanas, que
levou à criação do direito ambiental, na medida em que isso, por mexer com o equilíbrio
ecológico da biosfera ou dos diferentes ecossistemas, seja necessário para a conservação e
continuidade dos ecossistemas. Desde logo, evitando mudanças danosas ao nível climático,
hidrográfico, edáfico, que podem pôr em causa a espécie humana e a continuidade
intergeracional.
Este é o critério fundamental em que tem assentado em geral o direito do ambiente (sem
prejuízo das motivações referentes à melhoria da qualidade de vida). Não porque os problemas
do ambiente sejam só da espécie humana, mas porque, no estádio atual de enquadramento do
tema, a grande tensão passa pela ação nefasta do homem. Com efeito, os problemas do ambiente
colocam, há muito, frente a frente, em guerra contra o desenvolvimento quantitativo, a
preservação da biodiversidade biológica e a promoção de um desenvolvimento económico-
social sustentável.
Como direito com uma parte de matriz ecológica é um direito tendencialmente pan-
natural. E é-o, na medida em que não é apenas antropocêntrico e do presente, mas protege cada
vez mais os outros seres vivos, todos os seres vivos e a natureza enquanto tal,
independentemente das razões escatológicas subjacentes. É um ramo do direito que, na
perspetiva fundante do conceito de desenvolvimento sustentável, implica direitos do homem
atual, concebidos como se fossem “direitos” de outros seres, regulando não só as relações dos
homens entre si como também as relações entre o homem e a natureza e “direitos” de homens
que ainda não existem, concebidos abstratamente como vindouros, direitos de uma geração,
humanidade, que virá. Esta é uma sua finalidade e o critério heurístico-base do direito do
ambiente. O critério de descoberta das suas normas no emaranhado da sua atual dispersão.
Posto isto, o direito do ambiente pode ser definido como o conjunto de normas jurídicas
que enquadram o relacionamento do homem com os elementos naturais e artificiais, que
condicionam, direta ou indiretamente, os seres vivos em geral e a qualidade de vida humana.
Ou, se se preferir, numa leitura antropocêntrica, que não exclui a proteção da natureza, essencial
à própria vida do homem e à sua qualidade, e à subsistência do género humano, o direito
ambiental é o direito que regula a atuação do homem em relação ao conjunto dos sistemas
físico-químico-biológicos, as suas relações ecossistémicas e os fatores económico-culturais com
efeito direto e indireto, mediato e imediato, na natureza e na vida do homem, em si, e em termos
da sua qualidade36
São características do direito do ambiente, tal como o concebemos hoje, o ser um direito
constituído por normas recentes. É um direito novo. E, embora não somente por isso, é um
direito ainda não sedimentado, mesmo dogmática e conceptualmente, densificado sobretudo a
partir da década de sessenta, em grande parte integrando e vivendo da tipologia da intervenção
administrativa, mas que tende a avançar para uma construção científico-jurídica autónoma. E
um direito disperso por um número extenso de diplomas normativos e, portanto, não codificado.
35 Declaração de Limoges, de Novembro de 1990, proclamada em reunião de associações ambientalistas de todos os continentes.
36 CONDESSO, F. – Direito do Ambiente. Almedina, 2014, p.278.
37 Quanto a sançoes financeira, já o Código hitita, elaborado de 1380 a 1346, previa uma «coima» em prata para a contaminação de
um reservatório ou de um poço de utilização comunitária (OST, François –la nature hors la loi: l’écologie à l’épreuve du droit.
Paris:éditions la découvert, (textes à l’appui/série écologique et societé), 1995, p. 29). Diga-se que a primeira reserva natural data de
1370 antes de cristo (Akhenaton, no Egipto) e a primeira lei de proteção de espécies é do imperador indiano Asoka no século III
a.c.( LYSTER, S. –International Wildlife Law. Cambridge, 1985, p.XXI. Apud OST, François –la nature hors la loi: l’écologie à
l’épreuve du droit. Paris:éditions la découvert, (textes à l’appui/série écologique et societé), 1995, p. 29, nota 5).
38 “Direito da conservação da natureza”. In Direito do Ambiente. Almedina, 2001,Pp.689-813
económica (al.f, 2, art.º 66 da CRP39), designadamente agrícola (alínea d) do n.º1 e n.º2 do art.º
96.º da CRP); o direito do planeamento ambiental (al.b, 2, art.º 66.º da CRP40); o direito à
informação ambiental, designadamente o direito de acesso a documentos administrativos com
informação ambiental (n.º 1 e 2 do art.º 268.º da CRP41) e o direito de participação
procedimental42 e de acesso à jurisdicional ambiental, designadamente através da ação
popular (n.º3 do art.º 52.º).
No entanto, se falamos de direito ambiental vertical em sentido estrito, no sentido de corpo
de normas que constituem o tratamento integrado do direito ambiental, referimos estas áreas,
além da organização da Administração ambiental: os princípios constituintes da política e do
direito ambiental, os princípios teleológicos da política e do direito ambiental e os princípios
ambientais constitucionalmente expressos43; o direito ambiental instrumental: os meios de ação,
designadamente o planeamento, o Estudo de Avaliação do Impacto Ambiental, o direito de
acesso à informação ambiental, a eco-etiqueta e a auditoria ambiental; o direito ambiental das
águas doces e marítimas; o direito da conservação da natureza (conservação dos espaços
naturais; proteção dos habitats, zonas húmidas, fauna, flora, florestas) e a conservação dos
solos; o direito da antipoluição na atmosfera, isto é, o direito ambiental atmosférico: a proteção
do ar e a proteção contra a emissão de ruído através do ar e o direito dos resíduos (regimes
jurídicos dos resíduos urbanos, dos resíduos perigosos, desde os químicos, hospitalares até aos
radioativos, e do vasilhame). Além disso e em síntese, é um direito recente, não sedimentado,
disperso, experimental, até porque de matriz e base científica ecológica, e, por isso,
especialmente vocacionado para a evolução permanente, estratégico, prospetivo.
Há várias teorias sobre a natureza do bem jurídico ambiental. Nem as teorias do bem
ambiental individual ou nem as do bem coletivo, indivisível, parecem poder merecer
acolhimento.
Desde logo, o direito do ambiente assenta na necessidade de proteger em termos
autónomos, um bem ou o seu gozo, o bem ambiental, simultaneamente pela comunidade ou
pelos indivíduos como cidadãos. Este é o seu fundamento, que implica que haja necessidade de
normações circunscritivas ao exercício de direitos dominiais ou a atividades humanas, sejam
públicas ou particulares44.
Nos termos constitucionais (princípio geral), todos os cidadãos têm direito a um ambiente
humano e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender, incumbindo ao Estado, por meio
de organismos próprios e por apelo a iniciativas populares e comunitárias, promover a melhoria
da qualidade de vida, quer individual, quer coletiva. E os cidadãos diretamente ameaçados ou
lesados no seu direito a um ambiente de vida humana sadio e ecologicamente equilibrado
podem pedir, nos termos gerais de direito, a cessação das causas de violação e a respetiva
indemnização. O direito ao ambiente e qualidade de vida é um direito fundamental autónomo,
referido essencialmente à defesa da qualidade dos elementos naturais, componentes ambientais
naturais (referidos no art.º7.º da LBA), e portanto, estruturalmente, um “direito ecológico”, sem
prejuízo de ele implicar, pela sua teleologia, elementos económicos, sociais e culturais.
A abordagem é sempre para-ecológica, mesmo que transnatural. Isto é, ele gira em geral à
volta da perspetiva ecológica, que unifica os diferentes elementos de incidência, sem negar
importância a dimensões económicas, sociais e culturais. Há, desde logo, na própria
Constituição, normas sobre o direito subjetivo ambiental, e portanto, no nosso ordenamento
jurídico, ele é um direito fundamental. E não há apenas normas sobre tarefas e fins ambientais
do Estado.
39 Vide, em geral, sobre a tese neoliberal, designadamente face a problemas ambientais, CONDESSO, F. – Europa em crise:
«Procedimento Administrativo e Defesa do Ambiente», na Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 123.º, n.º3799, p.291 e
segs.
Sobre a natureza das intervenções e das normas ambientais, ele recorre a toda a tipologia
de intervenção administrativa e de normação, designadamente administrativa.
Embora seja essencialmente preventivo e circunscritivo da liberdade individual (limitando
e condicionando através de valores-limites permitidos e autorizações prévias de atividade),
também é corretivo das poluições e sancionatório – simultaneamente contraordenacional e
crimininalizador, isto é, de sanções administrativas e criminais e incentivador48, com uma gama
de instrumentos de subsidiação financeira promotores de boas práticas e inovações para-
ambientais.
Enfim, é um direito tendencialmente imperialista ou para-imperialista, porque não se
contenta em criar normas próprias, verticalmente enquadradas, na defesa de bens-objetivos.
Exige, já, o respeito de todas as atividades particulares ou públicas, transversalmente,
interditando ou condicionando atuações em setores de intervenção humana, independentemente
da importância permanente daquelas suas normas naturais.
Quanto a ser um direito de conformação da intervenção antropotópica, a intervenção do
homem no território modificar os ecossistemas existentes e contaminando-os, e a partir deles os
outros componentes naturais do ambiente.
Por isso, uma vertente fundamental da defesa do ambiente passa pelo controlo da
degradação e erosão dos solos e por preocupações localizadas, situadas no ambiente urbano,
indicação nos produtos agrícolas e nos géneros alimentícios, o Regulamento n.º2080/92, de 30 de Junho de 1992, que institui um
regime comunitário de ajudas às medidas florestais na agricultura, o Regulamento 1765/92, de 30 de Junho de 1992, que institu i um
sistema de apoio aos produtores de determinadas culturas arvenses, etc..
v.g. sobre os resíduos, a conservação dos habitats para a proteção da vida selvagem e das áreas
territoriais sensíveis, como as costas marítimas e as praias.
A temática relacional dos solos, a urbanização e a construção passa pela procura de um
novo modelo de arquitetura, a arquitetura ambiental, que vai ganhando adeptos e doutrinadores
sob a designação de “arquitetura verde” ou “arquitetura ecológica”. Tudo revelações de uma
incidência crescente da aplicação ambiental do princípio da transversalidade, no que diz respeito
ao uso, transformação e ocupação dos solos.
Como direito de proteção de um bem de natureza complexa, destaco apenas que existe um
direito criminal ambiental, embora as diferentes legislações divirjam sobre o âmbito do
penalmente punível. Os diferentes códigos penais foram recolhendo orientações oriundas de
organismos e congressos internacionais. Com efeito, a criação de novos tipos de crimes, em
vários países, deve-se a tomadas de posição de organismos internacionais.
Em Portugal, a punição criminal vem expressa no Código Penal. Esta criminalização,
iniciada com as alterações de 1995 ao Código penal, vêm proteger o ambiente de forma direta,
em si mesmo, embora com limitações subjetivas. As suas normas restringem-se à proteção dos
elementos componentes do ambiente natural e não aos elementos referentes ao ambiente
humano, isto é, aos aspetos culturais, históricos ou artísticos ligados ao conceito amplo de
ambiente, ao ambiente construído. Por exemplo, o direito do urbanismo, contrariamente do que
acontece noutros países, sofre sempre e apenas sanções contraordenacionais e nunca é objeto de
tipificações criminais específicas.
Dito tudo isto, não deixo de afirmar que o direito ambiental é já um direito
tendencialmente autónomo. Com efeito, a sua autonomia não dispensa, em grande parte, a
teoria geral do direito administrativo, nem normas, gerais ou outras especiais, deste. E
enquanto direito dependente da legislação unionista europeia, especialmente Diretivas é
dependente destas na sua transcrição e interpretação concreta, se não mesmo na aplicabilidade
direta (efeito direto)49. Estas normas aplicam-se-lhe em tudo o que envolve, orgânica, funcional
e relacionalmente, a atuação da Administração (ou de entidades particulares de regime jurídico
misto, desempenhando tarefas da função administrativa do Estado-comunidade), quer em gestão
pública, quer em gestão privada (que é sempre administrativizada, nos termos do n.º2 do
art.º266.º e n.º5 do art.º2 do Código do Procedimento Administrativo).
A gestão pública sujeita, contenciosamente, ao controlo da jurisdição administrativa e a
gestão dita privada sujeita, indevidamente, em geral à apreciação da jurisdição comum.
Portanto, é um direito com especificidades: em termos do valor protegido50, da sua
operatividade e indivisibilidade das ordens jurídicas e do seu conteúdo, de contenção dos
objetivos, em termos de contributo de todos os ramos clássicos do direito e da sujeição intensa
às ciências naturais, natural ao seu destacado carácter para-autónomo, e, sobretudo, em termos
de princípios fundamentais.
49CONDESSO, F. – Direio do Ambiente, o.c, 2014, p.35-37; -Direito Internacional Público. Lisboa: Lições policopiadas, 1992.
50Há a autonomia do bem jurídico ambiente, tutelado por si e em si, como bem jurídico da comunidade dos viventes, abrangendo
valores e interesses integrantes do interesse geral da sociedade.
observações escritas ser em número superior a 20, poderá a autoridade instrutora optar pela
publicação das respostas aos interessados em dois jornais diários e num jornal regional, quando
exista (LPPAP: artigo 10.º, n.º 4, da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto).
Findo o período de discussão pública, a câmara municipal ou a entidade estadual
responsável ponderam e divulgam, designadamente através da comunicação social e da
respetiva página da Internet, os respetivos resultados e elaboram a versão final da proposta para
aprovação.E, aliás, há mesmo obrigações informativas ativas, que se impõem ao labor da
própria Administração. Com efeito, as entidades públicas responsáveis pela elaboração,
alteração, revisão, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial (uns ambientais,
de aplicação direta aos particulares –PEOT- emitidos pelo ministério do ambiente para enformar
políticas, projetos e outros planos – PSIT-; e outros oriundos de entidades várias mas contendo
matéria ambiental e a integrar-se em planos de aplicação plurisubjetiva, ou seja a respeitar pelas
administrações e também logo pelos particulares) devem divulgar, designadamente através da
comunicação social: a) Decisão de desencadear o processo de elaboração, alteração ou revisão,
identificando os objetivos a prosseguir; b) Conclusão da fase de elaboração, alteração ou
revisão, bem como o teor dos elementos a submeter a discussão pública; c) Abertura e a
duração da fase de discussão pública; d) Conclusões da discussão pública; e) Mecanismos de
execução utilizados nos IGT; e f) O início e as conclusões dos procedimentos de avaliação.
As entidades públicas estão sujeitas ao dever de ponderação das propostas e dever de
resposta fundamentada aos pedidos de esclarecimento formulados. Ou seja, o domínio do
ambiente é orientado (porque a defesa do ambiente é um direito e também um dever de todos),
pelos princípios de um forte apelo à participação e à afirmação do princípio da informação
pública, oficiosa ou por livre iniciativa dos cidadãos. Isto é, pela obrigação de dar a conhecer e
promover a intervenção (“apelo e apoio” a iniciativas particulares) dos cidadãos e das
Organizações Não Governamentais na elaboração e aplicação da política do ambiente.
Começo por destacar, agora, dois princípios axilares, cuja distinção nem sempre é bem
compreendida: o princípio da prevenção, com medidas atuando na fonte das poluições para
evitar a sua criação, prevenir a degradação ambiental, sempre mais eficaz do que a repressão e a
correção “a posteriori” dos males causados. Demonstrado que esteja a relação de causalidade
adequada, ele entra em ação. E o princípio da precaução, que impõe a inexigência de prova
científica para interditar ou condicionar certas condutas, em certas situações especiais com um
mínimo de comprovação factual, independentemente da incapacidade de se apresentar ainda
prova cientificamente comprovada. Ele age quando a evolução da ciência e da tecnologia
disponíveis ainda não permitiram comprovações sobre a sua origem, desde que haja suficientes
razões casuísticas para poder suspeitar-se e, portanto, atribuir –se a hipótese da existência de
uma dada fatoriedade, relacional o possível, poder desencadear de um dado mal ambiental ou à
saúde. O `próprio direito do urbanismo já assumiu este princípio ambiental no caso de
instalações eletromagnéticas. Isto é, ele é invocável desde que haja a constatação ou
desconfiança, fundada em certa repetição de efeitos, repetidos face a certos factos, de que pode
haver uma dada relação ou propiciação entre certos eventos anti-ambientais face a certas
condutas, mesmo que a ciência ainda não tenha podido dar como provada uma relação de
causalidade (fatoriedade)-efeito. Neste âmbito, apontarei ainda outros dois subprincípios, um
de natureza cautelar, o da resiliência, e outro, ativo, o da cooperação. O princípio da
cooperação, a todos os níveis das administrações nacionais, intergovernamentais e
supranacionais, implica a concertação também internacional de soluções adequadas à dimensão
dos problemas. Aliás, mais do que isso, a globalização económica e, independentemente desta,
1
O conceito de conservação da natureza aponta para a ideia de utilização humana cautelosa da Natureza, de modo a
nao pôr em causa de forma perene simultaneamente quer máxima rentabilidade das atividades e usos quer a sua
compatibilidade com a manutenção da capacidade de regeneração de todos os recursos vivos.
1
CONDESSO, Fernando -“O Direito da Conservação da Natureza”. In Direito do Ambiente, o.c., Pp.689-813.
1
http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=1369&tabela=leis.
1
A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica resultante da aplicação das Directivas n.º 79/409/CEE (Diretiva Aves) e
n.º 92/43/CEE (Diretiva Habitats), de acordo com o sintetizado no quadro seguinte e tem por objectivo contribuir
para assegurar a biodiversidade através da conservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens no
1
A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica de âmbito europeu com um regime de diploma próprio, compreendendo
as áreas classificadas como zona especial de conservação (ZEC) e as áreas classificadas como zona de proteção
especial (ZPE). Deriva da aplicação da Diretiva Aves (Diretiva n.º 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de abril, alterada
pelas Diretivas n.ºs91/244/CEE, da Comissão, de 6.3, 94/24/CE, do Conselho, de 8.6, e 97/49/CE, da Comissão, de
29.6), e da Diretiva Habitats (Diretiva n.º 92/43/CEE, do Conselho, de 21.5, com as alterações da Diretiva
n.º97/62/CE, do Conselho, de 27.10) (artigo 25.º).
1
Espaços terrestres ou marinhos dedicados particularmente à proteção e à manutenção da biodiversidade e dos
recursos naturais e culturais associados, integrados, pelo menos, por uma área protegida, estabelecida em
conformidade com este RJCNB, e por uma área natural adjacente, situada em território não nacional ou nas águas
marítimas de um Estado que partilhe uma fronteira terrestre ou marítima com Portugal e aí sujeita a um regime
jurídico especial de conservação da natureza e da biodiversidade.
1
Visando o reforço da proteção e manutenção da biodiversidade e recursos naturais e culturais associados, áreas
delimitadas no território nacional ou nas águas marítimas sujeitas a jurisdição nacional, coincidentes com áreas
protegidas integradas na RNAP ou com áreas que integrem a Rede Natura 2000, cujos valores naturais sejam
reconhecidos como de relevância supranacional. V.g., ao abrigo da Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância
Internacional Especialmente como «Habitat» de Aves Aquáticas (Convenção de Ramsar), adotada em Ramsar em 2
de fevereiro de 1971; Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (Convenção OSPAR),
adotada em Paris em 22 de setembro de 1992; Convenção Relativa à Proteção do Património Mundial, Cultural e
Natural, adotada em Paris em 16 de novembro de 1972, na parte relativa aos valores naturais; Programa
ManBiosphere, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), lançado em
1970; Resoluções do Comité de Ministros n.º (76) 17 sobre Reservas Biogenéticas do Conselho da Europa e (98) 29
sobre Áreas Diplomadas do Conselho da Europa; Decisão do Conselho Executivo da UNESCO (161 EX/Decisions,
3.3.1), adotada em Paris em 2001, relativa aos geossítios e geoparques.
1
O artigo 28.º trata do Sistema de Informação sobre o Património Natural (SIPNAT), constituído pelo inventário da
biodiversidade e do património geológico presentes no território nacional e nas águas sob jurisdição nacional e o
artigo 29.º trata do Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados.
1
Artigo 42.º, 47º, 48.º e Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, designadamente artigos 18.º e 19.º.
1
Atualmente, 884 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a água potável segura. 2,6 mil milhões de pessoas
não têm acesso a saneamento básico, 40% da população mundial.
1
Sobre esta temática em termos desenvolvidos, ver CONDESSO, Fernando -“El Agua: ¿necesidad básica o derecho
humano?”. In Ángel Menéndez Rexach (Dir.). Planificación Y Gestión del Agua ante el Cambio Climático:
Experiencias Comparadas y el Caso de Madrid. Madrid: La Ley, 2012; -“Direito Internacional, Europeu e Peninsular
da água. Factualidade e Normação”. In Gestión de Recursos Hídricos en España e Íberoamérica. Madrid: Thomson
Reuters Aranzadi, 2015, Pp.85-107; -“Planificación y gestión de aguas en áreas metropolitanas”. In I e II Seminario
iberoamericano sobre planificación y gestión del agua en áreas metropolitanas. URJC, Madrid, 2008 e 2010; -
«Agua, Cambio Ambiental y Derechos Humanos». In Congreso sobre Ambiente 2010, Organização da Asociación
Mundial de los Juristas Ambientalistas, México: Facultad de Derecho, Universidad Autónoma de México, Octubre
2010;–“El marco orgánico y de gestión y el modelo jurídico fijado para la Administración del Agua en Portugal”. Em
VVAA: Planificación y Gestión del Agua ante el Cambio Climático: Experiencias Comparadas y el Caso de Madrid.
Ángel Menéndez Rexach (Dir.). Madrid: La Ley, 2012, Pp. 341-384; -“Agua: Cambios en la Disponibilidad, Uso y
Gestión del Recurso”. In Jornadas Internacionales Agua y Cambio Ambiental Global. Comité Científico Español de
IHDP (International Human Dimensions Programme). Madrid: IUCA-UCM, 9-10.6.2009; -Direito do Ambiente.
Coimbra: Almedina, 2014;–“El Agua: aún sobre la idea de necesidad básica o ya derecho humano”. In II Seminario
iberoamericano sobre planificación y gestión del agua en áreas metropolitanas. Organización: Universidad
Autónoma de Madrid y Universidad Rey Juan Carlos, Madrid, 21-22.10.2010; -«Agua, Cambio Ambiental y
Derechos Humanos». In Congreso sobre Ambiente 2010, Organização da Associação Mundial dos Juristas
Ambientalistas, México: Faculdade de Direito, Universidade Autónoma de México, outubro de 2010; -“Planificación
y gestión de aguas en áreas metropolitanas”. In I e II Seminario iberoamericano sobre planificación y gestión del
agua en áreas metropolitanas. URJC, MADRID, 2008 y 2010;–“O Direito das Águas”. In Direito do Ambiente.
Coimbra: Almedina, 2001, Pp.814-942, Pp. 1213-1273; - «Medio Ambiente y Territorio en Europa: Propuestas para
una Política de Ordenación Espacial en la Península Ibérica». Revista Consejo General del Poder Judicial. Escuela
Judicial, Madrid, Vol. 67, 2004, Pp. 95-124; –“Desenvolvimento rural, património e turismo”. In Cuadernos de
desarrollo rural, International Journal of Rural Development, 8, (66), p.197-222. Revista indexada en ISI, SCopus,
Publindex A1, Redalyc, Scielo. Código SICI: 0122-1450.(201106)8:66<195:DRPT>2.0.TX;2-U. Bogotá: Facultad de
Estudios Ambientales y Rurales, Instituto de Estudios Rurales, Departamento de Desarrollo Rural y Regional,
Pontificia Universidad Javeriana, enero-junio 2011. ISSN: 2215-7727; -Políticas urbanas y territoriales en la
Península Ibérica. Tomo I, GIT, Mérida, Serie Estudios Portugueses, n.º28, 2005. Vva –El Cambio climático en
España y sus consecuencias en el Sector del Agua. Aqualia, Universidad Rey Juan carlos, 2008. VVA -Gestión de
Recursos Hídricos en España e Íberoamérica. Madrid: Thomson Reuters Aranzadi, 2015. CONDESSO, F. –
“Derecho Nacional, Europeo e Internacional de las aguas peninsulares. Marco orgánico y de Gestión. Tratado de
Albufeira”. In Revista Monfragüe: Resarrollo resiliente. Artículos de investigación, Volume I, n.1, p. 22- 49.
1
“Water is a limited natural resource and a public good fundamental for life and health. The human right to water is
indispensable for leading a life in human dignity.”: Introdução ao Comentário n.º15, de 2002, do CDESC da ONU:
Committee on Economic, Social and Cultural Rights, Twenty-ninth session, Geneva, 11-29 November 2002, Agenda
item 3, Substantive issues arising in the implementation of the international covenant on economic, social and
cultural rights , General Comment No. 15 (2002), The right to water (arts. 11 and 12 of the International Covenant
on Economic, Social and Cultural Rights), p.1.
1
A fonte tradicional de captação para abastecimento humano vem dos rios e da chuva. Em geral, só 2,5% da água
existente na terra é doce. Desta, 67,4 % situa-se nas calotes polares e glaciares (a maioria na Antártida), e 30, 1% é
subterrânea. A água doce à superfície e na atmosfera representa apenas 0,4%. E mesmo desta , só 1,6% circula em
rios (2/3 está em lagos).
1
CONDESSO, F. – Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2001, Pp.94 e ss. Os problemas à volta do rio Nilo e
do Planalto do Tibete (com tensões provocadas pelo Egipto e China) ou o conflito de Israel com a Palestina (Israel
depende de três aquíferos palestinianos para o seu abastecimento de água doce em mais de 50%: Strategic Foresight
Group –The Blue Peace: Rethinking Middle East Water, 2010,
http://www.strategicforesight.com/Highlights%20The%20 Blue%20Peace.pdf, consultado em 20.6.2013; Institute for
Defence Studies and Analyses, IDSA Comment, Hari Bansh Jha -Tibetan Waters: a source of cooperation or
conflict? 30.9.2011,
http://www.idsa.in/idsacomments/TibetanWatersASourceofCooperationorConflict_hbjha_300911, consultado em
20.6.2013); Brahma Chellaney -Coming Water Wars, in International Economy, Fall 2009, Pp.38-39) revelam bem o
que está em jogo e o potencial explosivo do tema do abastecimento de água.
1
Vide, já no virar do século, CONDESSO, Fernando – Direito do Ambiente. Coimbra: Almedina, 2001.
1
Há uma enorme interdependência entre Estados soberanos. Mais de 2/3 dos Estados existentes (com 40% da
população mundial e 60% dos fluxos de água doce) partilham rios comuns. Há 263 bacias de rios internacionais para
145 Estados ribeirinhos. Até 2013, ano da entrada em vigor do primeiro tratado de carácter universal na matéria, só
em 117 bacias existiam órgãos comuns de gestão.
1
V.g., 60% da população mundial (Ásia) ocupa um espaço que apenas possui 36% dos recursos de água doce
acessível. Aqui, quer a China quer a Índia já vivem em stress hídrico
1
Mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. Até o final do século, 3,2 bilhões sofrerão com escassez.
No mundo todo, estima-se que 1,7 milhão de mortes anuais sejam causadas pelas águas poluídas, segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde). E a poluição tende a crescer
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u351817.shtml, 25.2.2009). A irrigação para cultivos
agrícolas atualmente responde por mais de dois terços de toda a água retirada de lagos, rios e reservatórios
subterrâneos. Com efeito, já hoje mais de um bilhão de pessoas já não têm acesso a água potável suficiente para
suprir suas necessidades básicas diárias. A pecuária, que por vezes contamina rios e lençóis freáticos, contribui de
maneira decisiva para a escassez de água, uma vez que, de acordo com relatório publicado em 2003 pela FAO, para
se produzir 1 kg de carne são consumidos cerca de 15.000 litros de água, enquanto são necessários apenas 1.300 litros
para se produzir a mesma quantidade de grãos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Escassez_de_%C3%A1gua). Segundo a
FAO (ONU) referia em 2007, no prazo de 20 anos, faltará água para dois terços (60%) da população mundial e mais
de 2,5 bilhões não têm já saneamento básico adequado (Pasquale Steduto).Vide CLARKE, Robin e KING, Jannet -O
Atlas da Água. São Paulo: Publifolha, 2006).
1
V.g., GERBER, Leda Maria Dummer –“Outorga do direito de uso da água”. In
http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/leda.pdf.
1
SHAFFER, Gregory e POLLACK, Mark –“Hard vs. Soft Law: Alternatives, complements and Antagonists”. In
International Governance, Legal Studies Research Paper Series. Research paper 9-23, University of Minnesota Law
School, 2010; DWORKIN, Ronald -Law’s Empire. Cambridge Massachussets: Belknap Press, 1986; TRUBEK,
David et alteri - “Soft Law”, “Hard Law” and EU integration. Grainne de Burca e Joanne Scott (eds.), 2006; -Law
and the New Governance in the EU and the US. Oxford and Portland: Hart Publishing.
1
Convenção de Helsínquia elaborada sob a égide da Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa
(UNECE), aprovada em 17.3.1992, assinada por Portugal em 9.6.1992 (Diário da República Portuguesa Série I-A, n.º
1714, de 26.7.1994; depósito em 9.12.1994). Entrada em vigor na ordem internacional em 6.10.1996:
http://www.gddc.pt/siii/im.asp?id=616. Vide, v.g., PAPACONSTANTINOU, Maria –“The ECE Convention on the
Protection and the Use of Transboundary Watercourses and International Lakes and the UN Convention on
International Watercourses”. In Revue Hellénique de Droit International, 1999, Vol.1, No.52, p.263-266.
1
Vide, v.g., ONU, ACNUDH, ONU-Habitat, OMS. (O) Direito à Água, Fact Sheet Nº 35. 2010.
1
http://www.un.org/waterforlifedecade/pdf/human_right_to_water_and_sanitation_media_brief_por.pdf, consultado
em 10.9.2014. Vide, em geral sobre o tema, PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2006. A água para lá da
escassez: Poder, pobreza e a crise mundial da água. 2006; OMS -O direito à água. 2003.
1
A favor, votaram 122 representantes de Estados, tendo havido 41 abstenções, nenhum voto contra, e estavam
ausentes da Sala 29 representantes.
1
ONU-HABITAT, COHRE, AAAS, SDC -Manual sobre o Direito à Água e Saneamento, 2007.
1
Em Portugal, vide, v.g., a obra coletiva no âmbito do ICJP, FDUL e ERSAR, Direito à Água. In
http://www.icjp.pt/sites/default/files/publicacoes/files/curso_tecnico_3.pdf.
1
A água serve para regar as culturas agrícolas em España, admitindo-se que possa acordar-se a sua abrangência para
várias dezenas de hectómetros cúbicos.
1
www.cadc-albufeira.org.
1
“Acessibilidade económica aos serviços de água e saneamento na Região Norte”, in Público, de 28.11.2013, p.17
(Local).
1
1
Transpondo a Diretiva n.º2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23.10.
1
Transpondo a Diretiva n.º 98/83/CE, do Conselho, de 3.11.
1
CONDESSO, Fernando -“Principios de Gestión y Objetivos Medioambientales : El Agua: ¿Necesidad Básica o
Derecho Humano?”; “Experiencias Comparadas: El Marco Orgánico y de Gestión del Modelo Jurídico para la
Administraión del Agua en Portugal”. In Ángel Menéndez Rexach (Dir.). Planificación y gestión del Agua ante el
Cambio Climático: Experiencias Comparadas y el Caso de Madrid. Madrid: La Ley, 2012, Pp.49-78 e Pp.341-384 ; -
“Derecho nacional, europeo e internacional de las aguas peninsulares: Marco orgânico y de gestión. Tratado de
Albufeira”. Revista Monfragüe, Espanha, n.º1, 2013, Pp.22-49, http://monfragueresiliente.com/numero1/inv2.html;
Face à legislaçao anterior, CONDESSO, F. –“O Direito das Águas”. In Direito do Ambiente, o.c., Pp.814-942.
1
Diretiva n.º91/271/CEE, do Conselho, de 21.5.
1
Trnaspondo a Diretiva n.º 91/676/CEE, do Conselho, de 12. 12.
1
Site do MAOTDR.
1
Só podendo delegar esta tarefa na ARH, se as aguas não se destinam a consumo humano ou a fins múltiplos que o
incluam
1
Vide, ainda, DL 372/93, DL 101/97 e programas, avaliações e correções, iniciados em 2000, quando se publica o
PEAASAR 2000-2006; os poderes de regulação do Instituto Regulador das Águas e dos Resíduos (IRAR);
PEAASAR 2007-2013, atual documento fundamental de orientação da política nacional até 2013 ou mesmo mais.
Hoje, o DL n.º90/2009, de 9 de Abril, veio prever modificações no modelo de gestão dos sistemas hídricos, que passa
a estar baseado em contratos de parceria Estado-municípios e na integração dos sistemas em baixa nos sistemas em
alta, e procede à exploração e gestão partilhada dos sistemas: Ministério do ambiente -“Tratamento de Águas
Residuais Urbanas em Portugal Continental”, Junho de 1996 e -“É Necessário Cuidar das Águas. Programa Nacional
de Tratamento de Águas Residuais Urbanas. Contratualização com as Autarquias”, Dezembro de 1996; Ministério do
ambiente e Instituto da água -“Recursos Hídricos de Portugal Continental e sua Utilização”, Dezembro de 1995;
Ministério do ambiente e recursos naturais -“Livro Branco sobre o Estado do Ambiente em Portugal”, Abril 1991;
Ministério do ambiente e recursos naturais -“Plano Nacional da Política de Ambiente”, 1995; Ministério do ambiente
e recursos naturais, Direcção-geral do ambiente -“Investimentos em Ambiente no Âmbito do PDR. Período
1994/1999”, Julho 1995.
1
Decisão n.º 1600/2002/CE, de 22.6. 2002.
Em: http://europa.eu/legislation_summaries/agriculture/environment/l28027_pt.htm.
1
Diretiva n.º 2010/75/EU.
Em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2010:334:0017:0119:pt:PDF.[Em
linha].(Consultado em 15.11.2013).
1
Instalaçao de incineraçao é uma “unidade ou equipamento técnico, fixo ou móvel, destinado ao tratamento térmico
de resíduos, com ou sem valorização do calor gerado pela combustão, através da queima dos resíduos por oxidação e
outros processos de tratamento térmico, como a pirólise, a gaseificação ou processos de plasma, se as substâncias
resultantes do tratamento forem subsequentemente incineradas”.
1
Instalação de coincineração de resíduos é uma “unidade técnica fixa ou móvel que tem como principal finalidade a
geração de energia ou a produção de materiais e que utiliza resíduos como combustível habitual ou complementar, ou
na qual os resíduos são sujeitos a tratamento térmico com vista à sua eliminação através da incineração dos resíduos
por oxidação ou por outros processos de tratamento térmico, como a pirólise, a gaseificação ou processos de plasma,
se as substâncias resultantes do tratamento forem subsequentemente incineradas”.
1
Com efeito, abrange domínios antes regulados de modo disperso pelos regimes de prevenção e controlo integrado
da poluição proveniente de certas atividades, limitação das emissões para o ar de certos poluentes provenientes das
grandes instalações de combustão, incineração e coincineração de resíduos, limitação da emissão de compostos
orgânicos voláteis resultantes da utilização de solventes orgânicos em certas atividades e instalações e condições de
licenciamento para a descarga, armazenagem, deposição ou injeção no solo de águas residuais ou de resíduos da
indústria de dióxido de titânio.
1
DR N.º167, 1.ª Série, 30.8.2013, Pp. 5324 e ss..
Em: http://dre.pt/pdf1sdip/2013/08/16700/0532405389.pdf. [Em linha].(Consultado em 30.8.2013)
1
Sobre prevenção e controlo integrado geral da poluição proveniente de certas atividades (Diretiva n.º 96/61/CE,
24.9.1996, Diretiva n.º 2003/35/CE, de 26.5.2003, Diretiva de codificação n.º2008/1/CE, de 15.1.2008; emissões para
o ar de certos poluentes provenientes das grandes instalações de combustão (Diretiva n.º2001/80/CE, de 23.10.2001);
incineração e coincineração de resíduos (Diretiva n.º2000/76/CE, de 4.12.2000; emissão de compostos orgânicos
voláteis resultantes da utilização de solventes orgânicos em certas atividades e instalações (Diretiva n.º1999/13/CE,
de 11.3.1999; condições de licenciamento para a descarga, armazenagem, deposição ou injeção no solo de águas
residuais ou de resíduos da indústria de dióxido de titânio (Diretivas n.º78/176/CEE, de 20.2.1978, n.º 82/883/CEE,
3.12.1982 e n.º92/112/CEE, de 15.12.1992)
1
Quanto ao conteúdo da licença ambiental, esta, que deve indicar o seu prazo de validade, tem de integrar e respeitar
várias exigências (artigo 41.º), desde os “documentos de referência” sobre as MTD para a definição das condições de
licenciamento das atividades previstas no anexo I (n.1, n.º4 e n.º 6 a 8.º), medidas necessárias ao cumprimento das
condições referidas nas normas deste regime (artigos 7.º e 31.º), para assegurar a proteção do ar, água e solo e
prevenir ou reduzir a poluição sonora e a produção de resíduos, visando alcançar um nível elevado de proteção do
ambiente no seu todo, o estatuído no Decreto-Lei n.º78/2004, de 3 de abril, relativo à prevenção e controlo das
emissões atmosféricas, para assegurar a proteção do recurso natural ar, com o objetivo de alcançar, evitar ou reduzir a
níveis aceitáveis a poluição atmosférica originada pelas instalações abrangidas. Cabe-lhe fixar (al. a, n.º3, n.º5 e n.º9.º
a 11.º), os VLE para as substâncias poluentes (lista constante do anexo II, etc.), suscetíveis de serem emitidas em
volume significativo, tendo em conta a sua natureza e potencial de transferência de poluição de um meio físico para
outro, concretamente água, ar e solo (valores que a APA pode sempre complementar ou substituir por parâmetros ou
medidas técnicas equivalentes); indicações que, na medida do necessário, garantam a proteção do solo e das águas
subterrâneas, o controlo do ruído e medidas sobre a gestão dos resíduos gerados pela instalação e as medidas de
monitorização das emissões da instalação, incluindo a descrição da metodologia, a frequência e o processo de
avaliação das medições, de modo a assegurar a verificação do cumprimento das condições da licença, bem como a
previsão da respetiva comunicação à autoridade competente, em conformidade com a legislação aplicável, com a
obrigação de comunicação à APA dos dados relativos à monitorização das emissões e sua periodicidade (artigo 14.º)
assim como os requisitos para a manutenção e controlo periódicos das medidas para prevenir as emissões poluentes
previstas na alínea b), no que se refere ao solo e às águas subterrâneas, bem como os requisitos de monitorização
periódica relativos a substâncias perigosas relevantes, suscetíveis de estarem presentes no local ou que apresentem a
possibilidade de causar poluição do solo e das águas subterrâneas no local da instalação; medidas relativas às
condições não habituais de exploração que possam afetar o ambiente, designadamente o arranque, as fugas, as
avarias, as paragens momentâneas e a desativação definitiva da instalação; condições suplementares para garantir o
cumprimento do objetivo de qualidade ambiental, se para esse efeito forem exigíveis condições mais restritivas do
que as que podem ser obtidas com a utilização das MTD e os prazos de entrega de relatórios e planos
complementares, nomeadamente para a melhoria do desempenho ambiental ou para a desativação da instalação.
1
Mas isto desde que se respeite a Lei n.º 58/2005, de 29.12 (posteriormente alterada pelos Decretos-Leis n..º
245/2009, de 22.9, 103/2010, de 24.9, 60/2012, de 14.3 e 130/2012, de 22.6).
1
Importa optar por modos, incluindo tecnologias, de projetação, construção, conservação, exploração e desativação
da instalação e os utilizados no processo de produção, incluindo tecnologias, que sejam considerados os mais eficazes
para alcançar um nível geral elevado de proteção do ambiente no seu todo, desde que desenvolvidos a uma escala que
permita a sua aplicação no contexto do sector económico em causa em condições económica e tecnicamente viáveis,
tendo em conta os custos e os benefícios, quer sejam ou não utilizadas ou produzidas a nível nacional, desde que
acessíveis ao operador em condições razoáveis. A sua determinação deve ter em conta os custos e benefícios que
podem resultar de uma ação, os princípios da precaução e da prevenção, os critérios do anexo III ao decreto-lei, e um
conjunto variado de documentos de referência sobre as MTD (n.º3).
1
O pedido de licenciamento da atividade de incineração ou coincineração de resíduos é divulgado pela APA, de
forma a garantir a informação e a participação do público (artigo 65.º sobre acesso à informação. Vide artigo 39.º, no
que concerne à licença ambiental.).
1
Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de julho, alterado pelos Decretos-Leis n.os 245/2009, de 22 de setembro, 29-
A/2011, de 1 de março, e 60/2012, de 14 de março
1
Artigo 10.º.
1
Entre muitos outros não deixaria de destacar a importância dos artigos artigo 27.º, sobre avaliação de impacte
ambiental ou regime de prevenção de acidentes graves que envolvam substâncias perigosas; artigo 28.º, sobre gestão
de resíduos; 36.º, instalações sujeitas ao regime de avaliação de impacto ambiental e ao regime de prevenção de
acidentes graves que envolvam substâncias perigosas; artigo 38.º, avaliação técnica; artigo 24.º, emissões de gases
com efeito de estufa; artigo 25.º, utilização dos recursos hídricos; artigo 26.º, gestão de efluentes pecuários, etc.
1
Este regime não se aplica às instalações de gaseificação ou de pirólise nas situaçoes em que os gases resultantes
deste tratamento térmico de resíduos atinjam “um tal grau de pureza” que tenham deixado de constituir resíduos
mesmo antes de serem incinerados e não possam produzir emissões superiores às da combustão do gás natural.
1
Produtos que consistam, na totalidade ou em parte, em matéria vegetal derivada da agricultura e silvicultura, a qual
possa ser utilizada como combustível para efeitos de recuperação do seu teor energético e vários outros resíduos
quando utilizados como combustível (matéria-prima vegetal resultante de atividades nos domínios da agricultura e da
silvicultura; resíduos vegetais da indústria de transformação de produtos alimentares, se o calor gerado for
recuperado; resíduos vegetais fibrosos da indústria de pasta virgem e de produção de papel, se forem coincinerados
no local de produção e se o calor gerado for recuperado; matérias-primas de cortiça; resíduos de madeira, com
exceção dos que possam conter compostos orgânicos halogenados ou metais pesados resultantes de tratamento com
conservantes ou revestimento, incluindo, em especial, resíduos de madeira deste tipo provenientes de obras de
construção e demolição: subalíneas i a v da alínea f do artigo 3.º).
1
Regulamento (CE) n.º 1774/2002, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 3 de outubro de 2002, que estabelece
as regras sanitárias relativas aos subprodutos animais não destinados ao consumo humano
1
Artigo 86.º.
1
Temperaturas que devem ser medidas próximo da parede interior ou noutro ponto representativo da câmara de
combustão autorizado pela APA, durante, pelo menos, dois segundos. Visa-se que, após a última injeção de ar de
combustão, os gases resultantes do processo atinjam, de forma controlada e homogénea, no interior da câmara de
combustão, mesmo nas condições mais desfavoráveis, uma temperatura de 850ºC. Tratando-se de incineração e de
coincineração de resíduos perigosos com um teor superior a 1 /prct. de substâncias orgânicas halogenadas, expressas
em cloro, a temperatura deve atingir 1100ºC durante, pelo menos, dois segundos. Nas instalações de incineração, a
câmara de combustão tem de ser equipada com, pelo menos, um queimador auxiliar, o qual deve ser ativado
automaticamente sempre que a temperatura dos gases de combustão, após a última injeção de ar de combustão, desça
para valores inferiores a 850 ºC ou 1100 ºC, respetivamente. Os queimadores auxiliares têm de ser obrigatoriamente
utilizados durante as operações de arranque e de paragem, a fim de garantir a manutenção da temperatura mínima,
durante aquelas operações e enquanto a câmara de combustão contiver resíduos não queimados. Nas instalações de
incineração de resíduos, durante o arranque e a paragem ou sempre que a temperatura dos gases de combustão desça
para valores inferiores aso mínimos indicados, os queimadores auxiliares não podem utilizar combustíveis suscetíveis
de provocar maiores níveis de emissão do que os resultantes da combustão de gasóleo (alínea c) do n.º 1 do artigo 2.º
do Decreto-Lei n.º 281/2000, de 10 de novembro, alterado pelos Decretos-Leis n.os 69/2008, de 14 de abril, e
142/2010, de 31 de dezembro, que fixa os limites ao teor de enxofre de certos tipos de combustíveis líquidos
derivados do petróleo). No que concerne ainda a condições de exploração (artigo 90.º), a exploração das instalações
de incineração de resíduos deve processar-se de modo a atingir um nível de incineração que permita que o teor de
COT das escórias e das cinzas de fundo seja inferior a 3 /prct. ou que a sua perda por combustão seja inferior a 5
/prct. do peso, sobre matéria seca, do material, e para tal, se necessário, devem ser utilizadas técnicas adequadas de
tratamento prévio dos resíduos. Quanto à alimentação de resíduos e à descarga dos poluentes (artigo 87.º), as
instalações de incineração e de coincineração têm de possuir e ter em funcionamento um sistema automático que
impeça a alimentação de resíduos no arranque, enquanto não for atingida a temperatura dos referidos 850 ºC ou de
1100 ºC ou enquanto não for atingida a temperatura especificada pela APA; se a temperatura descer abaixo de 850ºC
ou de 1100ºC ou, sempre que não seja mantida a temperatura especificada pela APA ou, finalmente, se a
monitorização em contínuo das emissões indicarem que foi excedido qualquer dos VLE devido a perturbações ou a
avarias dos dispositivos de tratamento dos efluentes gasosos.
1
Neste caso terá de haver um novo procedimento de licenciamento. O legislador define como alterações substanciais
não só aquelas em que o operador de resíduos não perigosos pretende a incineração ou a coincineração de resíduos
perigosos, como outras modificações ou ampliações que consistam, no mínimo, num aumento de capacidade igual ao
valor dos limiares estabelecidos para as operações de incineração ou coincineração de resíduos no anexo I
1
Diversas das reguladas no artigo 86.º, n.º s 1 e 2 do artigo 90.º e, no que se refere à temperatura de combustão, n.º 1
do artigo 87.º.
1
Idem.
1
Artigo 2.º (Âmbito de aplicação): 1-O presente decreto-lei é aplicável às operações de gestão de resíduos destinados
a prevenir ou reduzir a produção de resíduos, o seu carácter nocivo e os impactes adversos decorrentes da sua
produção e gestão, bem como a diminuição dos impactes associados à utilização dos recursos, de forma a melhorar a
eficiência da sua utilização e a proteção do ambiente e da saúde humana.2-Excluem-se do âmbito de aplicação do
presente decreto-lei: a) Os efluentes gasosos lançados na atmosfera, o dióxido de carbono captado e transportado para
efeitos de armazenamento geológico e geologicamente armazenado, nos termos do regime jurídico relativo ao
armazenamento geológico de dióxido de carbono, e o dióxido de carbono objeto de armazenamento geológico em
quantidades totais inferiores a 100 000 t, destinado à investigação, desenvolvimento ou ensaio de novos produtos e
processos; b) A terra (in situ), incluindo os solos contaminados não escavados e os edifícios com ligação permanente
ao solo; c) O solo não contaminado e outros materiais naturais resultantes de escavações no âmbito de atividades de
construção desde que os materiais em causa sejam utilizados para construção no seu estado natural e no local em que
foram escavados; d) Os resíduos radioativos; e) Os explosivos abatidos à carga ou em fim de vida; f) As matérias
fecais não abrangidas pela alínea c) do n.º 3, as palhas e outro material natural não perigoso de origem agrícola ou
silvícola que seja utilizado na agricultura ou na silvicultura ou para a produção de energia a partir dessa biomassa
através de processos ou métodos que não prejudiquem o ambiente nem ponham em perigo a saúde humana; g) Os
sedimentos deslocados no interior das águas de superfície para efeitos de gestão das águas e dos cursos de água, de
prevenção de inundações ou de atenuação dos efeitos de inundações e secas ou da recuperação de terras caso se
demonstre a sua não perigosidade.3-São ainda excluídos do âmbito de aplicação do presente decreto-lei, nos termos
da lei: a) As águas residuais; b) Resíduos resultantes da prospeção, extração, tratamento e armazenagem de recursos
minerais, bem como da exploração de pedreiras, abrangidos pelo Decreto-Lei n.º 10/2010, de 4 de Fevereiro; c) Os
subprodutos animais, incluindo os produtos transformados abrangidos pelo Regulamento (CE) n.º 1069/2009, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Outubro, com exceção dos destinados à incineração, à deposição em
aterros ou à utilização numa unidade de biogás ou de compostagem; d) As carcaças de animais cuja morte não tenha
resultado de abate, incluindo os animais mortos para erradicação de doenças epizoóticas, e que tenham sido
eliminadas nos termos do Regulamento (CE) n.º 1069/2009, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de
Outubro.
1
CONDESSO, Fernando -“O Direito dos Resíduos”.In Direito do Ambiente, o.c., Pp.986-1089.
1
Transcrevendo a Diretiva 2008/50/CE, de 21 de Maio, relativa à qualidade do ar ambiente e a um ar mais limpo na
Europa. Ela agregou num único diploma as normas da Diretiva 96/62/CE, de 27.9 e das Diretivas 1999/30/CE, de
22.4, 2000/69/CE, de 16,11 e 2002/3/CE, de 12.2) relativas aos poluentes SO2, NO2, NOx, PM10, Pb, C6H6, CO e
O3, e ainda a Decisão 97/101/CE, do Conselho, de 27.1.1997). Ou seja, passou a conter toda a legislação comunitária
nesta matéria, sendo em geral revista com o objectivo de incorporar os últimos progressos científicos e técnicos neste
domínio bem como a experiência adquirida nos Estados-Membros.
1
http://www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=82&sub2ref=316. Vide, ainda, para a legislaçao anterior,
CONDESSO, F. – “O Direito de Combate às Poluiçoes no Meio atmosférico: O Direito de combate à Poluiço
Gasosa”. In Direito do Ambiente, o.c., Pp.94-967.
1
Vide Declaração de Rectificação nº 18/2007, de 16 de Março. O RGR contém quatro capítulos (disposições gerais,
planeamento municipal, regulação da produção de ruído e fiscalização e sanções) e 2 Anexos.
1
Vide Diretrizes para elaboração de mapas de ruído, Instituto do Ambiente, março de 2007, em www.iambiente.pt.
1
Zona sensível é a área definida em plano municipal de ordenamento do território como estando vocacionada para
uso habitacional, ou para escolas, hospitais ou similares, ou espaços de lazer, existentes ou previstos, podendo conter
pequenas unidades de comércio e de serviços destinadas à população local,
tais como cafés e outros estabelecimentos de restauração, papelarias e outros estabelecimentos de comércio
tradicional, sem funcionamento no período nocturno.Consideram-se os seguintes períodos de referência: diurno, das
7h00 às 20h00; do entardecer, das 20h00 às 23h00 e noturno, das 23h00 às 7h00.
1
E Declaração de Rectificação nº 57/2006, de 31 de Agosto. Transpõe para o direito nacional a Directiva
2002/49/CE, de 25.6, relativa à avaliação e gestão do ruído ambiente. Sobre a normaçao anterior às alteraçoes
normativas da última década, CONDESSO, Fernando -“O Direito de Combate ao Ruído”. In Direito do Ambiente,
o.c., Pp.968-985.
1
Os Mapas Estratégicos de Ruído e os Planos de Ação sao divulgados e disponibilizados ao público, com resumo não
técnico (disponíveis para consulta nas entidades gestoras ou concessionárias, nas Câmaras Municipais e no Instituto
do Ambiente).
2.1.Enquadramento geral
51 Sobre o planeamento ambiental, vide CONDESSO, Fernando –“O Planeamento Ambiental”. In Direito do Ambiente, o.c.,
PP.1123-1131.
52 CONDESSO, Ricardo Alexandre Azevedo e Fernando Condesso –O.c.In Jurismat, n.5 .
Este regime dos Instrumentos de Gestão Territorial mantém-se, naturalmente, numa linha
de orientação que vem do passado, com o ambiente a aparecer no ordenamento do território
como um bem primordial a acautelar e a justificá-lo.
Com efeito, aos programas e planos territoriais, que devem conter os indicadores
qualitativos e quantitativos para a sua elaboração e para efeitos de avaliação, cabe explicitar
claramente, nos fundamentos das suas previsões, indicações e determinações, os elementos
(com base no conhecimento sistematicamente adquirido) referentes às características físicas,
morfológicas e ecológicas do território, aos recursos naturais e ao património arquitetónico e
arqueológico e às transformações ambientais, económicas, sociais e culturais. Além,
naturalmente, dos elementos referentes à dinâmica demográfica natural e migratória, às
assimetrias regionais e às condições de acesso às infraestruturas, aos equipamentos, aos serviços
e às funções urbanas (artigo 4.º)
Os IGT devem identificar os recursos e valores naturais e os sistemas indispensáveis à
utilização sustentável do território. E estabelecer as medidas e os limiares mínimos e máximos
de utilização, de modo a garantir a renovação e a valorização do património natural. Assim
também proceder à identificação de recursos e valores naturais com relevância estratégica
para a sustentabilidade ambiental e a solidariedade intergeracional. Designadamente, no que
se reporta à orla costeira e zonas ribeirinhas, albufeiras de águas públicas, áreas protegidas e
zonas únicas que as integram, rede hidrográfica e outros recursos territoriais relevantes para a
conservação da natureza e da biodiversidade.
Em geral, os programas territoriais devem definir os princípios e apontar as diretrizes que
concretizam as orientações políticas relativas à proteção e à valorização dos recursos e valores
naturais.
Entre os valores a proteger por todos eles, destacam-se diretamente os ambientais, desde os
recursos e valores naturais e sistemas indispensáveis à utilização sustentável do território (com
medidas e limiares mínimos e máximos de utilização, que garantem a renovação e valorização
Quanto à invalidade das normas dos planos e programas (artigo 129.º), elas são nulas se
violarem qualquer programa ou plano territorial com o qual devessem ser compatíveis ou
conformes.
Em geral, as orientações e as normas dos programas e dos planos territoriais que
extravasem o âmbito material são nulas, tal como o são as normas de regulamentos do sistema
de Instrumentos de Gestão Territorial que desrespeitem as normas legais ou outras
regulamentares com que devam conformar-se ou com elas sejam incompatíveis. E os programas
e os planos territoriais aprovados em violação de instrumentos de ordenamento do espaço
marítimo também são nulos se não tiverem previsto as necessárias medidas de compatibilização
(artigo 25.º)
O regime a declaração de nulidade não prejudica os efeitos dos atos administrativos
anteriormente praticados com base no plano, salvo disposição expressa em contrário,
acompanhada da necessária comunicação do dever de indemnizar.
No domínio da violação dos programas e planos territoriais, o princípio geral é o de que a
compatibilidade ou a conformidade entre os diversos programas e planos territoriais é condição
da sua validade (n.º1, artigo 128.º). Sendo eles, desde logo, obrigados a aplicar os conceitos
técnicos e as definições nos domínios do ordenamento do território e do urbanismo fixados por
decreto regulamentar, sem que sejam admissíveis outros conceitos, designações, definições ou
abreviaturas para o mesmo conteúdo e finalidade.
Os regulamentos dos Instrumentos de Gestão Territorial ficam também sujeitos à aplicação
do regime da anulabilidade dos planos, por invocação do desrespeito de princípios gerais da
atividade administrativa, tais como o da falta de (justa) ponderação dos interesses públicos e
privados relevantes, etc..
Tal como são nulos os atos administrativos que decidam pedidos de licenciamento com
inobservância das proibições ou limitações constantes do estabelecimento de medidas
preventivas ou que violem os pareceres vinculativos nelas previstos (artigo 115.º) quando
expressamente negativos, e emitidos nos prazos legalmente previstos.
No entanto, a declaração de nulidade de um plano ou norma de um plano, a ocorrer, não
prejudica os efeitos dos atos administrativos entretanto praticados com base no plano, exceto se
houver menção expressa em contrário, a qual só é válida quando acompanhada da comunicação
do dever de indemnizar.
O legislador estabelece com precisão nos diferentes tipos de programas e planos a sua
abrangência espacial e objetivos genéricos.
Quanto ao programa nacional de ordenamento do território, ele tem a natureza de
referência estratégica global, dado que é um instrumento essencial articulador das políticas de
ordenamento do território e de desenvolvimento económico e social territorializado (situado).
Os seus objetivos (artigo 30.º e ss.) são o estabelecimento das grandes opções com
relevância para a organização do território nacional, tendo presente os compromissos de
cooperação com os outros Estados europeus, especialmente o EDEC/ETE, consubstanciando o
enquadramento geral a ter em conta na elaboração de todos os programas e planos territoriais37.
No sentido de promover a “coesão territorial” de todo o País em ordem a se ir
ultrapassando as assimetrias regionais e a desigualdade de oportunidades dos cidadãos das
diferentes regiões, ele define os princípios orientadores da disciplina de ocupação do território
ao mesmo tempo que aponta no espaço nacional as estratégias de desenvolvimento económico e
social, definindo elementos de base para o desenvolvimento territorial integrado, harmonioso e
sustentável de todo o território nacional, sem prejuízo do respeito da identidade própria das suas
diversas parcelas e da inserção global no espaço da União Europeia 54, articulando as políticas
sectoriais com incidência na ordenação do território, racionalizando o crescimento da
população, a implantação de equipamentos estruturantes e a definição das redes, estabelecendo
os parâmetros de acesso às funções urbanas e às formas de mobilidade
54CONDESSO, F. - «Situación actual de la ordenación del territorio en la península ibérica». In V Congreso Internacional sobre
Fronteras del desarrollo y desarrollo de fronteras». Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de Extremadura. Cáceres, 30 y 31
de Octubre 2000-10-21, p. 10.
Estes programas intermunicipais têm como interesse maior assegurar a articulação entre o
programa regional e os planos intermunicipais e municipais, em áreas territoriais estrutural ou
funcionalmente interdependentes ou em áreas homogéneas de risco, que aconselhem uma “ação
integrada de planeamento”.
Devem servir, nomeadamente, para traçar as grandes opções estratégicas de organização
do território e de investimento público, as suas prioridades e a programação, em articulação com
as estratégias definidas nos programas de âmbitos nacional e regional, efetivar a avaliação dos
impactos das estratégias de desenvolvimento adotadas e desenvolvidas (atentas as
especificidades e recursos diferenciadores de cada território) e coordenar a incidência
intermunicipal dos projetos de redes, equipamentos, infraestruturas e de distribuição das
atividades industriais, turísticas, comerciais e de serviços (constantes do programa nacional da
política de ordenamento do território, dos programas regionais e dos programas setoriais e
especiais aplicáveis).
Em geral, cabe-lhes articular melhor a estratégia intermunicipal de desenvolvimento
económico e social, de conservação da natureza e de garantia da qualidade ambiental, com
diretrizes e orientações para os planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal e sobre
redes de infraestruturas, de equipamentos, de transportes e mobilidade e de serviços, assim
como os padrões mínimos e objetivos a atingir em matéria de qualidade ambiental, de
conservação da natureza e de valorização paisagística, definindo também os objetivos, a médio
55 A classificação do solo (classes de solos) é efetivada nos planos municipais de ordenamento do território, de acordo com os
critérios uniformes de classificação e reclassificação do solo estipulados no Decreto Regulamentar n.º 11/2009, de 29 de Maio, e
tendo presente o regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial, aprovado pelo Decreto-Lei n.º80/2015, de 14 de maio. É solo
rural aquele que “se destina ao aproveitamento agrícola, pecuário e florestal ou de recursos geológicos, a espaços naturais de
proteção ou de lazer ou a outros tipos de ocupação humana que não lhe confiram o estatuto de solo urbano”. Esta classificação do
solo como rural visa “proteger o solo como recurso natural escasso e não renovável, salvaguardar as áreas afetas a usos agrícolas e
florestais, à exploração de recursos geológicos ou à conservação da natureza e da biodiversidade e enquadrar adequadamente ou tras
ocupações e usos incompatíveis com a integração em espaço urbano ou que não confiram o estatuto de solo urbano”
(http://www.dgterritorio.pt/glossario/ordenamento_e_cidades/conceitos_igt/solo_rural/). O solo urbano é o solo que se destina a
urbanização e edificação, nele se compreendendo os terrenos urbanizados e aqueles cuja urbanização seja possível programar,
constituindo o seu todo o perímetro urbano. ste conceito corresponde ao conceito de solo urbano estabelecido no Regime Jurídi co
dos Instrumentos de Gestão Territorial”. Esta classificação do solo (urbano) visa “a sustentabilidade, a valorização e o pleno
aproveitamento das áreas urbanas, no respeito pelos imperativos de economia do solo e dos demais recursos territoriais. O sol o
urbano compreende os terrenos urbanizados e aqueles cuja urbanização seja possível programar, incluindo os solos afectos à
estrutura ecológica necessários ao equilíbrio do espaço urbano”.
56 “A qualificação do solo rural regula o seu aproveitamento sustentável com base nas seguintes funções: a) Produção agrícola,
pecuária e florestal; b) Exploração de recursos geológicos; c) Produção de energias renováveis; d) Conservação de recursos e
valores naturais, ambientais, florestais, culturais e paisagísticos; e) Outras funções compatíveis com o estatuto de solo rural. A
qualificação do solo urbano respeita as finalidades do processo de urbanização e da edificação e os princípios da
multifuncionalidade dos espaços urbanos, da compatibilização e integração de usos, do equilíbrio ecológico e da salvaguarda e
valorização dos recursos e valores naturais, ambientais, culturais e paisagísticos. A qualificação do solo urbano processa-se através
da sua integração em categorias funcionais e operativas a estabelecer e a regulamentar nos planos municipais de ordenamento do
território de acordo com os seguintes critérios: a) As categorias funcionais são estabelecidas com base na utilização dominante e em
caraterísticas morfotipológicas de organização do espaço urbano; b) As categorias operativas são estabelecidas para efeitos de
execução do plano municipal de ordenamento do território, com base no grau de urbanização do solo, no grau de consolidação
morfotipológica e na programação da urbanização e da edificação”
(http://www.dgterritorio.pt/glossario/ordenamento_e_cidades/conceitos_igt/qualificacao_do_solo/).
O solo considera-se rústico se não está classificado como urbano e se, tendo aptidão para
isso, se destine o outros fins diferentes da urbanização, designadamente para o aproveitamento
agrícola, pecuário, florestal ou a conservação, a valorização e a exploração de recursos naturais,
de recursos geológicos ou de recursos energéticos, ou ainda se destine para espaços naturais,
culturais, de turismo, de recreio e de lazer ou vise a proteção de riscos, independentemente de
ser ocupado por infraestruturas (artigo71.º).
Pode ocorrer sempre e apenas a reclassificação de solo urbano em solo rústico. Não é
livre, antes excecional, a reclassificação do solo rústico para solo urbano (artigo 72.º). Esta só
deve ocorrer se inequivocamente puder contribuir para o desenvolvimento sustentável do
território.
Tal apenas deve ocorre nos casos de inexistência de áreas urbanas disponíveis e
comprovadamente necessárias para o desenvolvimento económico e social e tal seja
indispensabilidade de qualificação urbanística, desde que traduza uma opção de planeamento
sustentável em termos ambientais, patrimoniais, económicos e sociais.
Findo o prazo fixado sem a realização das operações urbanísticas em causa ocorre
automaticamente a caducidade, total ou parcial, da classificação do solo como urbano (sem
prejuízo das faculdades urbanísticas adquiridas, mediante título urbanístico nos termos da lei),
situação em que a câmara municipal deve, no prazo de 60 dias, iniciar o procedimento de
alteração ou de revisão do plano, em ordem a garantir a coerência do modelo territorial (n.º8).
Quanto à qualificação do solo (artigo 74.º), esta, sem pôr em causa a sua classificação, visa
definir o conteúdo do seu aproveitamento, face às suas concretas potencialidades no âmbito dos
objetivos de desenvolvimento do território, fixando os usos dominantes e, quando admissível, a
sua edificabilidade e processa-se através da sua integração em categorias de que vai depender a
suscetibilidade de urbanização ou de edificação, obedecendo a critérios uniformes
regulamentados e aplicáveis a todo o território nacional.
Estas categorias podem ser, designadamente, espaços agrícolas ou florestais, de exploração
de recursos energéticos e geológicos; afetos a atividades industriais diretamente ligadas às
utilizações antes enunciadas, espaços naturais e de valor cultural e paisagístico, espaços
destinados a infraestruturas ou a outros tipos de ocupação humana que não impliquem a
57 Esta reclassificação do solo processa-se nos termos previstos no decreto regulamentar que estabelece os critérios uniformes de
classificação e reclassificação do solo, através dos procedimentos de elaboração, de revisão ou de alteração de planos de pormenor,
com efeitos registais, acompanhado do respetivo contrato (n.º4 do artigo 72.º). se se destinar apenas à execução de infraestruturas e
de equipamentos de utilização coletiva processa-se através dos procedimentos de elaboração, de revisão ou de alteração de planos
territoriais, nos quais é fixado o prazo de execução (n.º6).
Os planos municipais podem ter um prazo de vigência máximo previamente fixado, com
consequências intraadministrativas várias, mas sem prejuízo de se manterem em aplicação até à
entrada em vigor de outra regulamentação de planeamento, nos termos gerais do regime dos
regulamentos do CPA.
58 Anexo ao Decreto-Lei n.º232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio.
Quanto ao Plano Diretor Municipal (artigo 95.º e ss.), que é um plano da autoria do
Município, cobre todo território. É considerado ainda como instrumento não só de urbanismo
mas também de ordenamento do território e de desenvolvimento local.
É o único plano objetivamente pan-municipal (para todo o concelho) e a quem cabe já
diretamente a proteção e a salvaguarda de recursos e de valores naturais que condicionem a
ocupação, uso e transformação do solo.
Hoje, o território nacional está ordenado por estes planos, pois a sua vigência leva à
cobertura de todo o território nacional.
Sendo, por isso, o mais importante Instrumentos de Gestão Territorial existente, na
prática, em Portugal. Estabelece, embora numa lógica de interdependência coerente com os
municípios vizinhos, o modelo territorial municipal, o modelo de estrutura espacial do território
municipal.
Constitui uma síntese da estratégia de desenvolvimento e de ordenamento local, com as
opções de localização e de gestão de equipamentos de utilização coletiva, integrando as opções
de âmbito nacional, setoriais, regionais e intermunicipais, com incidência na respetiva área de
intervenção.
Mas neste aspeto, tanto é documento de referência para a elaboração dos outros planos
municipais, como, face ao princípio ordenamental da coordenação das estratégias de
ordenamento territorial global, para o desenvolvimento das intervenções setoriais da
administração do Estado no território do município.
Não pode deixar de efetivar a articulação do modelo de organização municipal do território
com a disciplina consagrada nos vários instrumentos de gestão territorial aplicáveis.
59 As categorias de solo rural são os espaços agrícolas ou florestais, os espaços agrícolas ou florestais de produção, os espaços
agrícolas ou florestais de conservação, os espaços de uso múltiplo agrícola e florestal, os espaços de exploração de recursos
geológicos, os espaços naturais, os espaços afetos a atividades industriais, os espaços de atividades industriais (diretamente ligadas
ao aproveitamento de produtos agrícolas, pecuários, florestais e geológicos), aglomerados rurais, áreas de edificação dispersa,
espaço cultural, espaço de ocupação turística e espaço destinado a equipamentos e outras estruturas ou ocupações compatíveis com
o estatuto de solo rural.
No que diz respeito aos programas de âmbito nacional e regional, o programa nacional da
política de ordenamento do território, os programas sectoriais, os programas especiais de
ordenamento do território e os programas regionais de ordenamento do território exige-se que
eles traduzam um compromisso recíproco de compatibilização das respetivas opções.
O programa nacional da política de ordenamento do território, os sectoriais e os especiais
estabelecem os princípios e as regras orientadoras para os programas regionais de ordenamento
do território, sendo que o nacional condiciona os setoriais e especiais, cujas orientações
desenvolvem e concretizam.
60Quanto aos novos planos de urbanização e de pormenor intermunicipais, são-lhes aplicáveis as regras adaptadas dos planos de
urbanização e de pormenor municipais.
durante o qual apenas poderão ser objeto de alteração em circunstâncias excecionais, por força
da entrada em vigor de leis ou regulamentos ou para introdução de meros ajustamentos de
natureza técnica, estando, nos dois últimos casos, sujeita a um procedimento simplificado e
célere, igualmente sujeito a publicidade.
Os instrumentos de gestão territorial podem ser objeto de alteração e de revisão. A
dinâmica dos instrumentos de gestão territorial estrutura-se em torno do conceito central de
alteração, estabelecendo-se que a mesma pode decorrer, para além da entrada em vigor de leis
ou regulamentos que colidam com as respetivas disposições ou estabeleçam servidões
administrativas ou restrições de utilidade pública que as afetem, da evolução das perspetivas de
desenvolvimento económico e social que lhes estão subjacentes e, nos casos de plano regional,
sectorial e intermunicipal, ainda da ratificação de planos municipais ou aprovação de planos
especiais que com eles não se conformem.
O conceito de revisão é reservado para os planos especiais e municipais, isto é, para os de
aplicabilidade direta às operações urbanísticas, estabelecendo-se que a mesma pode decorrer da
necessidade de adequação à evolução, a médio e longo prazos, das condições que determinaram
a respetiva elaboração tendo em conta os relatórios de avaliação da sua execução, ou ainda da
respetiva suspensão e consequente necessidade de adequação à prossecução dos interesses
públicos que a determinaram, a qual apenas poderá ocorrer, à exceção da decorrente de
situações de suspensão, após o referido período de três anos. Mas vejamos mais detalhadamente
o seu regime.
61A deliberação das entidades competentes é tomada no prazo de 60 dias a contar da data da verificação da desafetação (capítulo
VIII, artigo 123.º).
O prazo da sua vigência não pode ser superior a dois anos, sem prejuízo de poder ser
prorrogado por mais um, quando se demonstre essa necessidade.
Deve ser fixado no ato que as decrete, mas na falta dessa fixação, elas regem apenas pelo
prazo de um ano, prorrogável por seis meses.
As prorrogações processam-se nos mesmos termos do seu estabelecimento, devendo o
parecer da CCDR, para ser considerado, ser emitido no prazo de 10 dias (artigo 141.º)
E não só deixam de vigorar se forem revogadas ou tiver decorrido o prazo fixado, como
caducam se entrar em vigor o plano que motivou a sua adoção (caso em que os planos devem
62 Neste caso, cabe ao órgão competente para o seu estabelecimento das medidas preventivas determinar quais as entidades a
consultar.
63 No caso de plano municipal compete à assembleia municipal aprovar as medidas preventivas e as normas provisórias, sob
proposta da câmara municipal. No caso de programa ou plano intermunicipal compete ao conselho metropolitano ou à assembleia
intermunicipal ou às assembleias municipais dos municípios associados aprovar as medidas preventivas e as normas provisórias,
mediante proposta, respetivamente, da comissão executiva metropolitana, do conselho metropolitano ou das câmaras municipais dos
municípios associados. Nos casos previstos no n.º 8 do artigo 134.º, as medidas preventivas são aprovadas por resolução do
Conselho de Ministros, salvo norma especial que determine a sua aprovação por decreto-lei ou decreto regulamentar (artigo 137.º).
64 Na delimitação dessa área a abranger, os limites, quando não possam coincidir, no todo ou em parte, com as divisões
administrativas, devem ser definidos, sempre que possível, por referência a elementos físicos facilmente identificáveis,
designadamente vias públicas e linhas de água.
referir tal fato expressamente), se a entidade competente desistir da elaboração do plano que as
motivara ou se cessar o interesse na salvaguarda das situações excecionais de reconhecido
interesse público.
As medidas preventivas devem ser total ou parcialmente revogadas quando se revelem
desnecessárias no decorrer dos trabalhos de elaboração ou de revisão do plano. E, a menos que
ocorram casos excecionais fundamentados, uma área só pode voltar a ser abrangida de novo por
medidas preventivas ou normas provisórias quatro anos depois da data da sua anterior
caducidade.
Por fim, refira-se que a adoção de tais medidas e normas cautelares implica o dever de
indemnizar nos casos em que delas resulte sacrifício de direitos preexistentes e juridicamente
consolidados (artigo 142.º, artigo 171.º).
65Regime do Decreto-Lei n.º80/2015, de 14 de maio e aplicação da legislação atual a situações que vêm do passado: no domínio da
aplicabilidade do Decreto-Lei n.º 80/2015 a situações que venham do passado, há normas transitórias a atentar 65. Se, por uma lado
(artigo 197.º), há aplicação direta das atuais regras aos procedimentos já iniciados à data da sua entrada em vigor, sem prejuízo da
salvaguarda dos atos já praticados, não deixa de se excetuar os procedimentos relativos aos instrumentos de gestão territorial que se
encontrem em fase de discussão pública, à data da entrada em vigor do novo diploma, a que se aplica o regime do DL n.º 380/99, de
22.9. Quanto aos programas especiais em vigor (artigo 198.º), o seu conteúdo deve ser integrado no prazo e nas condições agora
estabelecidas (artigo 78.º) na lei bases de política pública de solos, do ordenamento do território e urbanismo. Na sua transposição
para os planos municipais ou intermunicipais, tem de ser assegurada a conformidade entre os dois planos ao nível dos regulamentos
e das plantas, sendo aplicáveis de modo adaptado as novas regras (n.º 4 do artigo 3.º e artigo 91.º). No que concerne à classificação
do solo (artigo 199.º), as atuais regras são aplicáveis nos termos do artigo 82.º da lei bases de política pública de solos, do
ordenamento do território e urbanismo. Mas os planos municipais ou intermunicipais têm de, no prazo máximo de cinco anos após a
entrada em vigor do DL 80/2015, passar a incluir as regras de classificação e qualificação agora previstas, sob pena de suspensão
das normas do plano territorial que deveriam ter sido alteradas, impedindo-se que, na área abrangida e enquanto se mantiver tal
suspensão, se pratiquem atos ou operações que impliquem a ocupação, uso e transformação do solo. No que se refere aos
“instrumentos de gestão territorial” (artigo 200.º), deve, no período de dois anos a contar da data de entrada em vigor do re gime
atual, reconduzir-se os planos setoriais e regionais aos novos programas com este âmbito, findo o qual, a inexistir tal transposição do
conteúdo dos planos especiais (artigo 78.º da lei bases de política pública de solos, do ordenamento do território e urbanismo), eles
resíduos, de incineração de resíduos perigosos, de prevenção do ruído, tal como outros com
origem setorial distinta, mas com relevância ambiental, tais como os florestais e agrícolas, etc.).
O programa setorial da Rede Natura 2000 (PSRN2000) é um instrumento dinâmico,
atualizável periodicamente face a informação de base que o justifique, de gestão territorial da
biodiversidade visando a salvaguarda e valorização (habitats naturais e seminaturais e as
espécies da flora e da fauna dos sítios, ZPE do continente e manutenção das espécies e habitats
num estado de conservação favorável nestas áreas)66.
Na sua essência, é um instrumento para a gestão. Define as orientações estratégicas para a
gestão do território em causa. Vincula as Entidades Públicas, dele se extraindo orientações
estratégicas e normas programáticas para a atuação da Administração Central e Local.
Quanto aos programas especiais de ordenamento do território, eles são instrumentos
ambientais específicos. Atualmente, existem vários tipos de PEOT, tendo por objeto a orla
costeira, as áreas protegidas, as albufeiras de águas públicas, os estuários 67 e os parques
arqueológicos (artigo 42.º)68.
Os programas especiais de ordenamento do território, à semelhança do estabelecido em
matéria de planos sectoriais, são elaborados aprovados pelo governo. Estabelecem as diretivas
para a proteção e valorização de recursos e valores naturais e definem normas de execução.
Portanto, visam a prossecução de objetivos considerados indispensáveis à tutela de
interesses públicos nacionais com incidência territorial delimitada, designadamente recursos de
relevância nacional com repercussão territorial, estabelecendo, exclusivamente, regimes de
salvaguarda desses recursos e valores naturais e garantindo as condições de permanência dos
sistemas indispensáveis à utilização sustentável do território.
Neste aspeto, cabe-lhes caso a caso explicitar a sua finalidade, com menção expressa dos
interesses públicos prosseguidos, a especificação dos objetivos a atingir, a indicação da entidade
publica responsável pela respetiva elaboração e o respetivo âmbito territorial, com menção
expressa das autarquias locais envolvidas.
Estão proibidas normas que procedam à classificação ou à qualificação do uso do solo, que
são nulas.
Até aqui tínhamos os planos especiais com direta vinculação dos particulares, pelo que a
sua disciplina de elaboração exigia a discussão pública nos termos previstos para o planeamento
municipal. Agora, transformados em programas, impõe-se apenas que as normas que
estabelecem ações permitidas, condicionadas ou interditas, relativas à ocupação, uso e
transformação do solo, devam ser integradas nos planos territoriais, o que já era obrigação
prevista na legislação anterior, embora, enquanto não ocorresse, como instrumento de supletiva
aplicação direta, fossem vinculativos dos particulares em geral.
De qualquer modo, a sua função preventiva geral do ambiente implica por princípio o
estabelecimento dessas “ações permitidas, condicionadas ou interditas”, de acordo com os
diferentes objetivos, pelo que, no fundo vem antecipar estas em ordem à sua obrigatória
transcrição (n.º2 do artigo 44.º e n.º 5 do artigo 3.º).
As normas de gestão das suas áreas abrangidas, designadamente as relativas à circulação
de pessoas, veículos ou animais, à prática de atividades desportivas ou a quaisquer
devem, no prazo de um ano, passar a ser reconduzidos aos programas especiais 65-65. Para efeitos de cálculo de áreas destinadas à
implantação de espaços verdes e de utilização coletiva, de infraestruturas viárias e de equipamentos, sempre que os planos
municipais não determinarem os parâmetros de dimensionamento, é aplicável o disposto na Portaria n.º 216-B/2008, de 3 de março.
66 Enquadrado pelo artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 49/2005 de 24/4, aprovado em
valorização das características ambientais dos estuários, garantindo a utilização sustentável dos recursos hídricos, assim como dos
valores naturais associados; assegurar a gestão integrada das águas de transição com as águas interiores e costeiras confinantes, bem
como dos respectivos sedimentos; assegurar o funcionamento sustentável dos ecossistemas estuarinos;
Preservar e recuperar as espécies aquáticas e ribeirinhas protegidas ou ameaçadas e os respetivos habitats e garantir a articulação
com os instrumentos de gestão territorial, planos e programas de interesse local, regional e nacional, aplicáveis na área abrangida.
68 Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro e o Decreto-Lei n.º 131/2002, de 11 de maio.
69 Decreto-Lei n.º 107/2009, de 15 de Maio. Aplica-se às albufeiras de águas públicas de serviço público, abreviadamente
designadas albufeiras de águas públicas, decorrentes da construção de uma infra-estrutura hidráulica, bem como aos respectivos
leitos, às margens e aos terrenos circundantes, numa faixa que corresponde à zona terrestre de protecção e lagoas ou lagos de águas
públicas identificados no anexo i do presente decreto-lei, do qual faz parte integrante, bem como aos respectivos leitos, às margens e
aos terrenos circundantes, numa faixa que corresponde à zona terrestre de protecção.
70 Decreto-Lei n.º 129/2008, de 21 de Julho. Aplica-se aos estuários (águas de transição e seus leitos e margens) e às orlas estuarinas
(zona terrestre de protecção cuja largura é fixada na resolução do Conselho de Ministros que aprovar o POE até ao máximo de 500
m, contados a partir da margem, sem prejuízo de os perímetros urbanos definidos nos planos municipais de ordenamento do
território, integrados na zona terrestre de protecção, os POE apenas disporem sobre regras e medidas de protecção, salvaguarda,
valorização e qualidade dos recursos hídricos, em conformidade com o disposto na Lei da Água e nos seus termos). A elaboração
dos POE é uma competência das Administrações de Região Hidrográfica. Os seus objetivos gerais são a proteção e valorização das
características ambientais dos estuários, garantindo a utilização sustentável dos recursos hídricos, assim como dos valores naturais
associados; assegurar a gestão integrada das águas de transição com as águas interiores e costeiras confinantes, bem como dos
respectivos sedimentos; assegurar o funcionamento sustentável dos ecossistemas estuarinos; Preservar e recuperar as espécies
aquáticas e ribeirinhas protegidas ou ameaçadas e os respetivos habitats e garantir a articulação com os instrumentos de gestão
territorial, planos e programas de interesse local, regional e nacional, aplicáveis na área abrangida.
71 A Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro, estabelece as bases da política e do regime de protecção e valorização do património
cultural. Tendo vindo proceder ao enquadramento da matéria em causa, consagrando também os parques arqueológicos, que define
como instrumentos do regime de valorização dos bens culturais.A sua legislação de desenvolvimento para assegurar o ordenamento
e a gestão dos parques arqueológicos faz-se designadamente através da elaboração de um programa especial de ordenamento do
território, designado por plano de ordenamento de parque arqueológico: Decreto-Lei n.º131/2002, de 11 de Maio. Artigo 2.º (Parque
arqueológico): “Entende-se por ‘parque arqueológico’ qualquer monumento, sítio ou conjunto de sítios arqueológicos de interesse
nacional, integrado num território envolvente marcado de forma significativa pela intervenção humana passada, território esse que
integra e dá significado ao monumento, sítio ou conjunto de sítios, cujo ordenamento e gestão devam ser determinados pela
necessidade de garantir a preservação dos testemunhos arqueológicos aí existentes.”
72 DL n.º 159/2012, de 24 de Julho. Artigo 1.º (Objeto e âmbito de intervenção): “1-O presente diploma regula a elaboração e a
implementação dos planos (agora programas) de ordenamento da orla costeira, adiante designados por POOC, e estabelece o regime
sancionatório aplicável às infrações praticadas na orla costeira, no que respeita ao acesso, circulação e permanência indevidos em
zonas interditas e respetiva sinalização. 2-Os POOC incidem sobre a orla costeira, compreendendo, do lado da terra, uma ‘zona
terrestre de proteção’ e, do lado do mar, uma ‘zona marítima de proteção’.”
instituir em cada uma das áreas protegidas da Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP), a
sujeitar a procedimento especial para viabilizar uma gestão compatível com a utilização
sustentável do território, através de diferentes regimes de proteção e respetivo zonamento (usos
e atividades a interditar, a condicionar e a promover, por regime de proteção), e num conjunto
de Áreas de Intervenção Específica (AIE). Os POAP em vigor são vinculativos para as
entidades públicas, mas já não para os particulares.
Há programas de Ordenamento de Áreas Protegidas de Portugal continental de âmbito
nacional73. As 25 Áreas Protegidas (AP) com POAP em vigor são um Parque Nacional, 13
Parques Naturais, 9 Reservas Naturais e 2 Paisagens Protegidas.
O conjunto de 25 áreas protegidas de âmbito nacional com POAP abrange uma área total
que corresponde a 7,6% do território de Portugal continental, sendo que desde 2008 todas as
áreas protegidas ficaram dotadas de POAP.
73 PNPG - Parque Nacional da Peneda-Gerês; PNAl - Parque Natural do Alvão; PNArr - PN da Arrábida; PNDI - PN do Douro
Internacional; PNLN - PN do Litoral Norte; PNM - PN de Montesinho; PNRF - PN da Ria Formosa; PNSE - PN da Serra da
Estrela; PNSSM - PN da Serra de São Mamede; PNSAC - PN das Serras de Aire e Candeeiros; PNSC - PN de Sintra-Cascais;
PNSACV - PN do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina; PNTI - PN do Tejo Internacional; PNVG - PN do Vale do Guadiana;
RNB - Reserva Natural das Berlengas; RNDSJ - RN das Dunas de São Jacinto; RNES - RN do Estuário do Sado; RNET - RN do
Estuário do Tejo; RNLSAS - RN das Lagoas de Santo André e da Sancha; RNPA - RN do Paul de Arzila; RNPB - RN do Paul do
Boquilobo; RNSCMVRSA - RN do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António; RNSM - RN da Serra da Malcata;
PPAFCC - Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica; PPSA - PP da Serra do Açor.
74 Artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio.
75 Já em 1964, o artigo de ALARCÃO, Alberto –“Êxodo rural e atração urbana”. Análise Social, n.º7-8, Vol.II, 1964, Pp.538-563.
Instituciones Europeas, 1996; MARINERO PERAL, A.M. –“La ordenación del Territorio en la Unión Europea. In Noticias de la
Unión Europea, 190, 2000; AUBY, Jean-Bernard -Droit de lÚrbanisme et droit europén: Doctrine. AJDA, L’Actualité Juridique,
Droit Administratif, Actualité de l’Urbanisme, n.º10, oct.1995, Pp.667 e ss.
81 A nível europeu, importa destacar pelo menos três pilares de atuação: cooperação transfronteiriça, programas de ordenamento
territorial (CONDESSO, F. -El desarrollo armónico de la Península Ibérica: El problema de la ordenación territorial. Barcelona:
Erasmus Ediciones, Jan 2010); competências setorais da uniao europeia e os novos objetivos territoriais do Tratado de Lisboa
(CONDESSO, F. -«Medio ambiente y territorio en Europa: Propuestas para una política de ordenación espacial en la Península
Ibérica». Revista Consejo General del Poder Judicial. Escuela Judicial, Madrid, Volume 67, 2004, Pp.95-124; -Políticas urbanas y
territoriales en la Península Ibérica. Tomo I, GIT, Mérida, Serie Estudios Portugueses, n.º28, 2005; -Direito do ambiente. Coimbra:
Almedina, 2001; -Direito do Urbanismo: Noções Fundamentais. Em colaboração com Catarina Condesso. Lisboa. Quid Juris?,
1999.AUBY, J.B. –“Droit de l’urbanisme et droit européen”.L’Actulalité juridique: Droit administratif, 1995; Bouyssou, F. –“Droit
de l’’urbanisme et Droit international”.Melanges Pierre Vella. Paris, 1995.
82 LARA CARVAJAL, J.M.DE –“La actividade urbanizadora”. In PEREZ HERRERO, J.M. (Dir.) –La carestia de suelo y
Direito Administrativo e Desenvolvimento Regional.Lisboa: ISCSP, 2005; GONZÁLEZ-VARAS IBAÑEZ, Santiago –Urbanismo y
Ordenación del Territorio. Madrid: Thomson-Aranzadi, 2004, p.25
86 Sobre o valor da estética e a possível valorização negativa de uma envolvente urbana, vide NEUMAN, M. –“La imagen y la
ciudad. Ciudad y Territorio, n.º104, 1995, p.377. Em geral, CONDESSO, F. -“Sobre a estética urbana”. Direito do
Ambiente.Coimbra: Almedina, 2014, p.259 e ss.; -“Questão da degradação estético-cultural do ambiente urbano por demissão dos
poderes administrativo e jurisdicional. Problema da estética urbana”, “Direito do Ambiente em Portugal”.In Eugenio Soriano, José
(coord.) -Derecho Ambiental Iberoamericano. São Paulo, Brasil.
87 BIELZA DE ORY, V.; MIGUEL GONZÁLEZ, R. –“El patrimonio cultural: Componente de ordenación del territorio”. Revista
Ambiental e a Gestão do Meio Ambiente na América Ibérica: Balanço de Resultados das Quatro Décadas da Conferência de
Estocolmo. Santos: Unisantos, 2012, Pp.157-170.
90 Não aplicável ao ordenamento e à gestão do espaço marítimo nacional, que conta com legislação específica, mas sem prejuízo da
coerência, articulação e compatibilização da política de solos e de ordenamento do território com a política do ordenamento e da
gestão do espaço marítimo nacional.
91 c)-“Economia e eficiência, assegurando a utilização racional e eficiente dos recursos naturais e culturais, bem como a
sustentabilidade ambiental e financeira das opções adotadas pelos programas e planos territoriais”.
92 Subordinadas aos seguintes princípios ambientais: “a)-Do desenvolvimento sustentável, que obriga à satisfação das necessidades
do presente sem comprometer as das gerações futuras, para o que concorrem a preservação de recursos naturais e a herança cultural,
a capacidade de produção dos ecossistemas a longo prazo, o ordenamento racional e equilibrado do território com vista ao combate
às assimetrias regionais, a promoção da coesão territorial, a produção e o consumo sustentáveis de energia, a salvaguarda da
biodiversidade, do equilíbrio biológico, do clima e da estabilidade geológica, harmonizando a vida humana e o ambiente; b) -Da
prevenção e da precaução, que obrigam à adoção de medidas antecipatórias com o objetivo de obviar ou minorar os impactes
adversos no ambiente; c)-Da transversalidade e da integração de políticas ambientais nas políticas de ordenamento do território e
urbanismo, nomeadamente mediante a realização de avaliação ambiental que identifique e monitorize efeitos significativos no
ambiente que resultem de um programa ou plano territorial; d)-Do poluidor-pagador e do utilizador-pagador, que obriga o
responsável pela poluição ou o utente de serviços públicos a assumir os custos da atividade poluente ou os cu stos da utilização dos
recursos; e)-Da responsabilidade, que obriga à responsabilização de todos os que direta ou indiretamente, com dolo ou negligência,
provoquem ameaças ou danos ao ambiente; f)-Da recuperação, que obriga o causador do dano ambiental à restauração do estado do
ambiente tal como se encontrava anteriormente à ocorrência do facto danoso.
93 CONDESSO, F –“Definição e caraterísticas do direito do urbanismo”. In CONDESSO, Fernando e Catarina -Direito do
designação nos planos municipais de ordenamento do território, que fixam os perímetros urbanos.
São muitas as questões fundamentais que o atual sistema de planeamento físico suscita,
designadamente relacionadas com a aplicabilidade direta ou não dos regulamentos dos planos, a
compatibilidade e conformidade das normas dos diferentes planos e a sua função integradora, a
leitura doutrinal do princípio da discricionariedade do plano, o significado e operatividade do
princípio da justa ponderação dos interesses relevantes, os standards (padrões urbanísticos) de
operatividade imediata e de operatividade diferida, a relação do direito geral dos solos com o
planeamento e entre eles e o direito de construir 96.
O implica a questão da natureza do direito de propriedade, do planeamento e dos
instrumentos jurídicos de gestão urbanística.
São muitos os princípios a que obedece o planeamento territorial, todos eles, desde os
substantivos, operativos, aos orgânico-procedimentais, de importância axilar para que esta
função pública possa atingir os seus objetivos globais em termos de adequada administração do
território97.
Importa começar por referir que o planeamento, enquanto atividade regulamentar pública
de natureza especial, está sujeito aos princípios constitucionais da atividade administrativa, com
realce para o da proibição de excesso, e ainda aos princípios específicos ou que, nele, assumem
um especial enfoque.
Da vasta gama de princípios do planeamento destacarei os basilares, muitos deles mera
modulação específica da aplicação a este campo de estudo de princípios gerais da atividade
administrativa, agregando-os em quatro grandes tópicos caracterizadores do direito do
planeamento territorial, supremacia do planeamento face à administração urbanística, tipicidade
e procedimentalização do planeamento, ampla margem de conformação administrativa e
hiperbolicidade da intervenção administrativa 98.
99 Artigo 60.º (Edificações existentes): “1-As edificações construídas ao abrigo do direito anterior e as utilizações respetivas não
são afetadas por normas legais e regulamentares supervenientes. 2 - A licença de obras de reconstrução ou de alteração das
edificações não pode ser recusada com fundamento em normas legais ou regulamentares supervenientes à construção originária,
desde que tais obras não originem ou agravem desconformidade com as normas em vigor ou tenham como resultado a melhoria das
condições de segurança e de salubridade da edificação. 3 - O disposto no número anterior aplica-se em sede de fiscalização
sucessiva de obras sujeitas a comunicação prévia. 4 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a lei pode impor condições
específicas para o exercício de certas atividades em edificações já afetas a tais atividades ao abrigo do direito anterior, bem como
condicionar a execução das obras referidas no número anterior à realização dos trabalhos acessórios que se mostrem necessários
para a melhoria das condições de segurança e salubridade da edificação.” Quanto ao n.º 4.º, temos v.g., exigência de licenciamento
para efeitos de casas abertas ao público, restauração e bebidas, etc., em que se impõe não só licença de exploração típica como
prévia autorização de utilização.
100 Atual artigo 88.º (Obras inacabadas): “1-Quando as obras já tenham atingido um estado avançado de execução, mas a licença ou
comunicação prévia haja caducado, pode ser requerida a concessão de licença especial para a sua conclusão, desde que não se
mostre aconselhável a demolição da obra, por razões ambientais, urbanísticas, técnicas ou económicas.”
101 Artigo 83.º (Alterações durante a execução da obra): “1-Podem ser realizadas em obra alterações ao projeto, mediante
comunicação prévia” (artigo 35.º), “desde que essa comunicação seja efetuada com a antecedência necessária” de modo que as obras
estejam concluídas antes da apresentação do pedido de autorização de utilização, para que não se esteja face a um mero fenóme no
de tentativa encapotada de regularização de situações de ilegalidade (ou seja, antes de os responsáveis da obra terem declarado que a
“obra está concluída e que foi executada de acordo com os projetos de arquitetura e especialidades, bem como com os arranjos
exteriores aprovados e com as condições do respetivo procedimento de controlo prévio e que as alterações efetuadas ao projeto estão
em conformidade com as normas legais e regulamentares que lhe são aplicáveis”( n.º1 do artigo 63.º). “2-Podem ser efetuadas sem
dependência de comunicação prévia à câmara municipal as alterações em obra que não correspondam a obras que estivessem
sujeitas a controlo prévio.3-As alterações em obra ao projeto inicialmente aprovado ou apresentado que envolvam a realização de
obras de ampliação ou de alterações à implantação das edificações estão sujeitas”, consoante os casos, ao procedimento de
licenciamento normal de alterações dos termos e condições da licença original (salvo as exceções previstas, precedência de consulta
pública, sujeição a aprovação de terceiros portadores de interesses legítimos na sua manutenção, limites no domínio do loteamento:
artigo 27.º, 48.º) ou o procedimento de comunicação prévia (indicação de prazo da sua execução e limitações previstas no arti go
35.º; e aplicação da al.a, n2, artigo 11.º e do artigo 121.º).4-(…), apenas são apresentados os elementos instrutórios que sofreram
alterações”.
102 Sistema de gestão territorial (título III), capítulo I Gestão territorial, Artigo 37.º Objetivos da gestão territorial.
103 “3 -Os particulares interessados na elaboração, alteração ou revisão de um plano de urbanização ou de plano de pormenor podem
apresentar propostas de contratos para planeamento aos municípios”.
104 A ele também se referem, a propósito de imposições administrativas de conservação, várias leis de solos de regiões autónomas
espanholas, vide, v.g., GONZÁLEZ-VARAS IBAÑEZ, Santiago –Urbanismo y Ordenación del Territorio. Madrid: Aranzdi, 2004,
P.274.
oficialidade, registos para efeitos fiscais ou prediais, numa situação de isotonia exigindo
tratamento igual à de uma situação de construção sem licença, por esta ser nula e portanto de
nenhum efeito, mas ter decorrido tempo largo (10 anos, na tese de Marcelo Caetano, em seu
Manual de Direito Administrativo, tudo hoje com cobertura expressa ou por analogia, dado não
se ver argumentos que possa justificar tratamento distinto, com base mesmo em lei escrita: o
artigo 134, n.º 3 (efeitos putativos de ato nulo; o ato é ilegal mas a Administração deve fazer de
conta que é legal e tratar como se o fosse, em nome de princípios basilares do direito, como o da
segurança jurídica e o da boa fé, da proporcionalidade, etc.). E, casos há em que este princípio
do aproveitamento do existente total ou do existente parcial, quando seja o fato, pode mesmo
ser, se não diretamente baseado, pelo menos apoiado, em razões relacionadas com a existência
anterior a legislação impositiva de controlo prévio (zonas urbanas e envolventes, 1951; zonas
rurais, inexistindo regulamento municipal de extensão do RGEU, 1991); neste caso, fatos
passíveis de constatação por inspeção local e análise física ao solo e subsolo de terrenos com
vestígios de ruínas referentes a casario de família ou de apoio agrícola, até documentos de
acesso oficial, e mesmo um amplo conhecimento de cidadãos da zona, ainda vivos. Portanto, de
fato, temos hoje vigente este princípio da demolição apenas quando nada em termos
regularizadores o proprietário queira fazer ou, mesmo que o queira, nada seja possível fazer para
dar ao edificado condições de legalização. O artigo 106.º do RJUE pressupõe um licenciamento
de regularização edificatória normal, em situações que caibam na normação vigente no
momento em que se pretende regularizar a ilegalidade, mas não pode deixar de se invocar
extensivamente o artigo 88, n.º 3, para o licenciamento especial aí previsto (situações quase
acabadas, em que seria desperdício demolir, e por maioria de razão, situações de construção já
acabadas, em que o desperdício seria maior).
Concluindo este ponto, face ao ordenamento jurídico português, são absolutamente
residuais os casos em que, por incapacidade total de dotar o imóvel de condições de salubridade
e segurança, a sua salvação (mesmo que com imposição eventual de condições para o efeito), se
revele, em apreciação casuística, completamente e na totalidade impossível. Mesmo que um
proprietário não tenha apresentado em dado momento, pretendido pelo município, um pedido de
licenciamento com projeto de regularização-legalização, pode sempre fazê-lo e o pedido de
licenciamento deve ser deferido, mesmo que possa haver norma de PDM aplicável (então face
ao artigo 88.º, n.º3, seja obra acaba, seja obra inacabada, em ordem a evitar uma demolição,
cabendo ao município atentar nos artigos 115.º e 116.º do Código do Procedimento
Administrativo, e ter presente que também é tarefa sua tentar por sua iniciativa enquadrar
situações construtivas anómalas, sob pena de um eventual assumir de responsabilidades e de
obrigação de indemnizar por uma demolição que poderia ser evitada, por lhe caber em primeira
linha aplicar devidamente o direito aos fatos, que portanto também lhe cabe diligenciar apurar
(Decreto-Lei n.º Lei n.º67/2007, de 31 de Dezembro, em concretização do artigo 22.º da
Constituição). Decidir mandar demolir e executar tal ordem sem diligenciar a efetivação do
preceituado no artigo 106, n.º1 e 2, ou sem ter presente o artigo 60.º, caso seja aplicável, ou
desprezando a possibilidade de licenciamento especial do artigo 88.º, a justificar adequadamente
que nas situações de poder vinculado quer nas de “poder discricionário”, é algo inadmissível e
responsabilizante.
Face às normas citadas, pode referir-se que o art.º 65.º da Constituição tem também de ser
chamado à colação em matéria de regularização de edificações ocupadas ou aptas para
habitação, pois nele o urbanismo está intimamente, teleologicamente, imbricado no direito
fundamental à habitação, da natureza dos “direitos económicos, sociais e culturais”, que integra
e consagra. Pelo que, independentemente da sua possibilidade concreta de maior ou menor
concretização pelo legislador, pelo menos há que considerar as situações urbanísticas referentes
a edificações (e, nesta linha protetiva de loteamentos e edificações ilegais a regularização a todo
o custo, temos as leis das AUGI) ou edifícios isolados aptos a habitação, e por maioria de razão
uma obra (para ou) já ocupada para habitação de uma família, e ainda mais se não tem outra
para o efeito. Portanto, independentemente da densidade, maior ou menor, com que o legislador
ordinário o tenha ou venha a concretizar, pelo menos, integra e exige a ponderação
regularizadora pelo município, aberta-permitida pelo legislador, para levar – neste caso de
habitação, impor mesmo o reconhecimento do “interesse”, referido no normativo em apreço
(n.º3 do art.º88.º RJUE), na manutenção e mesmo na conclusão (situação expressada, por que
seria aquela em que as dúvidas legitimadoras da emissão de uma licença especial poderiam
ocorrer: se o que ainda não está concluído deve ser defendido, muito mais o já concluído, sem
necessidade de o expressar e a resultar portanto da incontornável metodologia científica de
interpretação jurídica). Basta fundar a concessão da licença numa das razões, mas naturalmente
que razões técnicas e ambientais (ambiente rural ou urbano) podem existir também, v.g., se não
se vislumbrar a vantagem de transformar um pequeno terreno, sem unidade mínima legal de
cultura, em terreno agrícola, quando não serve a mais do que a construção e horta de
subsistência familiar: inútil para a atividade agrícola a não ser de apoio à casa, ficaria
abandonado, numa zona de casario, irracionalmente, sem se ver qual o interesse público a criar à
custa do desinteresse privado!? Tecnicamente e economicamente, poderíamos estar face a uma
demolição que só poderia ser utilmente seguida de uma reconstrução sensivelmente idêntica,
ofendendo o princípio da proporcionalidade se tudo fosse deitado abaixo e não só algo disforme,
em grande desproporção face à relação custo económico e também como se referiu custo de
agressão ao direito fundamental à habitação, valor superior a qualquer norma regulamentar de
duvidosa legalidade, porque valor constitucional em comparação com o benefício municipal
concreto, que em geral não se enxergaria.
O macro-princípio do direito urbanístico, mesmo colocando em causa a normação de
planeamento geral em vigor, hoje claramente previsto no ordenamento jurídico vigente, é o da
preservação do edificado ilegal, mesmo que tenha de haver “dispensa” do cumprimento de
“requisitos de legalidade relativos à construção, cuja aplicação se tenha tornado impossível ou
que não seja razoável exigir”, desde que se assegure o mínimo, que é o cumprimento dos
“requisitos atinentes à saúde pública e à segurança de pessoas e bens” (art.º 59.º, n.º3,
LBPSOTU).
A demolição é, pois, a ultima ratio, reservada apenas para os casos em que, por sua
iniciativa ou, na inércia do proprietário, por iniciativa a efetivar pelo Câmara Municipal, os
proprietários não tenham querido diligenciar a sua regularização, no todo ou em parte. E, isto,
aliás, se o município não entender haver interesses públicos que permitam mesmo impor-lhe a
“salvação” do edificado ou do já edificado, designadamente face às razoes relacionadas com os
condicionalismos do art.º 88.º e outros, que justifiquem não a demolição mas um procedimento
expropriativo para-regularizador (art.º 34, 35.º LPSOTU, etc.).
105 CONDESSO, F.; MORA ALISEDA, J., SÂO PEDRO, B. (Dir.) -Infraestructuras, Competitividad y Cooperación Territorial.
Madrid. Ministerio de Educación y Ciência; -Planeamiento y Pespectivas del Territorio. Madrid. EMinisterio de Educación y
Ciencia, 2001; CONDESSO, F. -Desarrollo y cohesión en la Península Ibérica: El problema de la ordenación territorial. Barcelona:
Erasmus Ediciones, 254 pág.s.; -Ordenamento do Terrritório: Administração e Políticas Públicas, Direito Administrativo e
Desenvolvimento Regional, Lisboa: ISCSP, 2005, p. 964;-Desenvolvimento rural, património e turismo”. Cuadernos de desarrollo
rural, International Journal of Rural Development, 8, (66), p.197-222, Código SICI: 0122-1450 (201106)8:66<195:drpt>2.0.TX;2-
U. Bogotá: Facultad de Estudios Ambientales y Rurales, Instituto de Estudios Rurales, Departamento de D esarrollo Rural y
Regional, Pontificia Universidad Javeriana, enero-junio 2011.Revista indexada en ISI, SCopus, Publindex A1, Redalyc, Scielo;
ISSN: 2215-7727; -O Ordenamento do Território da Península Ibérica e o novo contexto da Estratégia Territorial Europeia (tese
interdisciplinar sobre temas de Administração Pública, Políticas Públicas e Direito do Planeamento Territorial;-“O ordenamento do
território e o seu enquadramento legal em Portugal”. In A efetividade do direito ambiental e a gestão do meio ambiente na américa
ibérica: Balanço de Resultados das Quatro décadas da Conferência de Estocolmo. Santos: Unisantos, 2012, p.157-170
rústicos, o direito de explorar a sua aptidão produtiva, mas preservando e valorizando os bens
culturais, naturais, ambientais e paisagísticos e de biodiversidade (art.º13.º). Este uso legal do
solo deve respeitar os limites constantes dos planos intermunicipais e municipais, face à
classificação e qualificação aí efetivada, cabendo ao regime de uso do solo definir a disciplina
relativa à sua ocupação, utilização e transformação (art.º 9.º LPSOTU). Com efeito, o uso do
solo é definido exclusivamente pelos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal,
ao indicarem as áreas de construção ou, na impossibilidade dessa definição, ao preverem
parâmetros e índices legais quantitativos e qualitativos de aproveitamento ou de edificabilidade
(art.º20.º).
No entanto, segundo a nova LBPSOTU (art.º2.º, al. i), garante-se a “segurança jurídica” e a
“proteção da confiança”, através da estabilidade dos regimes legais e do respeito pelos direitos
preexistentes e juridicamente consolidados. Em causa, não estará em geral a estabilidade dos
regimes legais, face à garantia do adequado desenvolvimento dos direitos dos cidadãos pelo
reconhecimento das situações jurídicas validamente constituídas e dos direitos a tal ligados. Há
a garantia da existência de um período de vigência mínima dos planos vinculativos, embora seja
uma garantia de natureza relativa, na medida em que existe também a admissão legal de um
princípio da adaptação em face das evolução das perspetivas de desenvolvimento económico e
social, o que permite que também os instrumentos de aplicabilidade direta (vinculativos dos
particulares) fiquem sujeitos quer ao princípio da revisão obrigatória (segundo prazos ou
condições a prever legalmente), quer da revisão excecional fora desse prazo.
Serve, ainda, à ideia de segurança e de confiança o princípio geral da não retroatividade,
sem prejuízo de estar poder ocorrer quanto a certas normas jurídicas (instrumentos
supervenientes com que colidam ou estes se criarem servidões ou restrições de utilidade pública,
afetando as suas disposições). E não pode ainda esquecer-se o princípio da suspensabilidade
dos planos em casos excecionais, de relevante interesse público, ou de normas de planos
vinculativos dos particulares, no caso dessas normas não terem sofrido a devida alteração no
prazo fixado por planos não vinculativos sobre-ordenadores (nova LBPDOTU).
Por fim, refira-se que esta garantia não impede o direito planificador físico de admitir o
sacrifício de direitos preexistentes e juridicamente consolidados, quer nos casos legalmente
expressamente previstos quer através de planos territoriais aplicáveis, mas, como expropriação
do plano que é, tal implica adequadas ou o pagamento de indemnização. Estas, aliás, têm de ser
previstas obrigatoriamente e de forma expressa no plano territorial de âmbito intermunicipal ou
municipal, que fundamenta a imposição do sacrifício, onde nomeadamente pode passar pela
definição dos seus mecanismos de perequação. No entanto, é inquestionável que serão
indemnizáveis todos sacrifícios impostos aos proprietários do solo que tenham efeito
equivalente a uma expropriação (art.º 17.º LBPSOTU). Além disso, a reserva de solo para
infraestruturas urbanísticas, equipamentos, espaços verdes ou outros espaços de utilização
coletiva, incidindo sobre solos privados, implica a obrigatoriedade da aquisição pela
Administração Pública, em prazo que deve ficar consignado no plano territorial ou instrumento
de programação, sob pena de caducidade (a amenos que o atraso seja imputável à falta de
iniciativa do proprietário ou ao incumprimento dos respetivos ónus ou deveres urbanísticos). No
caso de não fixação de prazo, essa reserva do solo caduca no prazo de cinco anos contados a
partir da data da entrada em vigor do plano territorial que a prevê (Artigo 18.º), sendo as
“associações” de municípios, institucionalizadas (ou formadas ad hoc apenas para a elaboração
de planos intermunicipais de ordenamento do território) e os municípios obrigadas a declarar a
caducidade essa reserva de solo, e a efetivar uma redefinição do uso do solo, no caso de o plano
territorial vigente não haver previsto um regime supletivo para tal.
106CONDESSO, F. -Derecho a la Información. Crisis del Sistema Político. Transparencia de los Poderes Públicos. Madrid:
Dykinson, 2011; -Derecho de acceso de los ciudadanos a la documentación e información. Cuestiones y fundamentos politológicos,
económico-financieros, comunicacionales y ambientales. Tomo I, EUA, RU, Tubinguen: Lambert Academic Publishing Gmbh &
Co, KG, março de 2012; -Derecho de acceso de los ciudadanos a la documentación y información: Regímenes jurídicos Unión
Europea y Península Ibérica. Tomo II, Saarsbruck, Lambert Academic Publishing Gmbh & Co, KG, EAE, 2012.
107 Vide, desenvolvidamente, este tema do direito de acesso à informação administrativa, o capítulo intitulado “Princípio geral do
livre acesso à informação e regime específico do acesso à informação ambiental no direito nacional”.
108 Vide, sobre um certo entendimento coordenador do conceito, PONCE SOLÉ, J. –Discrecionalidad urbanística y autonomía
Almedina, 2005.
111 Em geral, CONDESSO, F. –“As restrições urbanísticas”. In Direito do urbanismo. Lisboa: Quid Juris?, 1999, Pp.353468;
com respeito pela sua classificação básica, o aproveitamento dos terrenos em função da
atividade dominante que neles possa ser efetuada ou desenvolvida, do princípio da salvaguarda
dos valores naturais essenciais, integrando as edificações na paisagem, preservando os recursos
hídricos, as zonas ribeirinhas, a orla costeira, as florestas e outros locais com interesse particular
para a conservação da natureza, e as paisagens resultantes da atuação humana, caracterizadas
pela diversidade, pela harmonia e pelos sistemas socioculturais que suportam, e do princípio da
adequação dos níveis de densificação urbana (impedindo a degradação da qualidade de vida,
bem como o desequilíbrio da organização económica e social), do princípio da rentabilização
das infraestruturas (evitando a extensão desnecessária das redes e dos perímetros urbanos e
racionalizando o aproveitamento das áreas intersticiais).
De qualquer maneira, em relação à chamada “discricionariedade de planificação”, importa
referir que os poderes de planificação são atribuídos com liberdade criadora, que traduz uma
forma de atuação específica em face da discricionariedade administrativa tradicional, na medida
em que se entenda que esta é a faculdade resultante da lei de, dentro de certos pressupostos, a
Administração poder escolher entre várias soluções, consideradas igualmente justas, corretas.
No entanto, a liberdade de decisão no domínio da planificação releva da natureza programática
das suas normas, orientadas para situações futuras. Trata-se de uma liberdade para criar normas
e executá-las ao longo do tempo, implicando a ponderação e a prognose. A decisão
planificadora, entrando na política da Administração, pauta-se essencialmente por critérios
jurídicos, resultando, aliás, em geral do preenchimento de conceitos jurídicos indeterminados, e
nessa medida vinculada, embora não passível de total controlo jurisdicional, integral, dado que
assenta essencialmente na ponderação de interesses e na prognose.
O tribunal fica limitado no seu controlo devido à liberdade de inovação existente nas mãos
da Administração. Ou seja, o controlo jurisdicional não sofre limitações no preenchimento dos
conceitos imprecisos, dos trâmites processuais, da forma e da fundamentação, do tratamento das
informações e da fundamentação da ponderação. Mas, fora destes domínios, fica limitado aos
seus contornos externos: existiu ou não uma ponderação de interesses? O tribunal poderá saber-
se todos os interesses a integrar na ponderação foram ou não tomados em consideração, se o
princípio da proporcionalidade foi ou não violado num exercício em que os vários interesses
deviam ser objeto de adequada ponderação, se os diferentes interesses foram ponderados com o
devido significado. Isto é, no fundo, o tribunal limita-se a verificar a exatidão dos dados
objetivos (desde logo, o material a ser ponderado), e a coerência da fundamentação aduzida,
tendo presente os padrões gerais de atuação e com “uma representável apreciação de
prognoses”.
Embora seja uma margem de liberdade limitada. Limitada mesmo pelo princípio da
sujeição às diretivas gerais e setoriais de planeamento e pelos padrões urbanísticos (critérios
materiais de planeamento, impostos por normas jurídicas; limites antepostos à planificação e
gestão, de garantia mínima inderrogável de certas soluções, fixando a proporção de espaços
públicos e equipamentos coletivos, limite máximo de densidades urbanas, etc.) e pelas diretivas
sectoriais e gerais do planeamento, entre as quais a que obriga à justa ponderação dos interesses
públicos e privados dignos de relevo. Mas a discricionariedade está limitada também em geral
pelos princípios do planeamento urbanístico, e desde logo pelos importantes princípios
constitucionais da legalidade, da proporcionalidade em sentido amplo ou princípio da proibição
de excesso (que engloba os princípios da adequação, da necessidade e da proporcionalidade em
sentido estrito), o princípio da igualdade112, e o da justiça e o da imparcialidade. Portanto, a
planificação dos aglomerados urbanos do território é naturalmente uma atividade
“discricionária”, embora sempre norteada pelo interesse urbanístico, que é o desenvolvimento
racional, isto é, mais correto e adequado, da urbe ou em geral do território abrangido. E
112 Vide JOUANJAN, Olivier –Le principe d’égalité devant la loi en droit allemand. Paris, 1992.
113Sobre o planeamento, constituição do ius aedificandi e direitos adquiridos, vide CONDESSO, F. –Direito do Urbanismo:
(…).com CATARINA CONDESSO. Lisboa: Quid Juris, 1999, Pp.60-67; Soriano, José Eugenio – Hacia la tercera desamortización
(por la reforma de la Leyndel Suelo). Madrid, 1995.
114 COUTET, William -“La notion de compatibilité dans le droit de l’Urbanisme”. In AJDA, 1976 (6), Pp.291 e ss.
admissibilidade marcava, portanto, a vigência, não de uma hierarquia de planos, mas realmente
de uma hierarquia de poderes, com domínio final do poder estadual. Após a aprovação do
programa nacional da política de ordenamento do território e dos novos planos regionais de
ordenamento do território, a ratificação de planos municipais pelo Governo passou a só ter lugar
nos casos em que fosse suscitada, no âmbito do procedimento de elaboração e aprovação dos
planos, a desconformidade com as disposições legais e regulamentares vigentes ou com
instrumentos de gestão territorial eficazes. E a não revisão normal dos PDM, após 10 anos de
vigência, obrigava à ratificação dos PU e PP, que se elaborassem após aquele período.
Entretanto, tornou-se um instituto excecional.
Atualmente, nos termos da LBPSOTU, reafirma-se que a ratificação pelo Governo do
plano diretor intermunicipal ou do plano diretor municipal, que pode ser total ou parcial
(aproveitando apenas a parte objeto de ratificação é excecional), só pode ocorrer nas situações
em que, no âmbito do respetivo procedimento de elaboração e aprovação, seja “suscitada pela
associação de municípios ou pelo município a sua incompatibilidade com programa especial,
regional ou sectorial”. A acontecer, essa ratificação tem como efeito a revogação ou alteração
das normas incompatíveis do programa regional, sectorial ou especial (art.º51.º), a substituir.
dos planos físicos, aquando da sua formação (que designaria por padrões de aplicação mediata
ou padrões para transposição. São normas que exigem o método da concretização, isto é, de
“transcrição” do conteúdo da norma extra-planificante para a do plano. Em obediência a
exigências ordenamentais mínimas, a integrar no regulamento dos planos. E, portanto, de
aplicabilidade diferida, porque obrigam o planificador, e só por via dele vinculam os
particulares. E há também normas dirigidas a estes, ou seja, à atividade de construção, na fase
do seu concreto desenvolvimento (padrões de aplicação direta), independentemente da
existência do plano ou na omissão dispositiva deste, nas situações de normas supletivas.
Assim, há normas de operatividade direta, que se impõem à Administração e aos
particulares, na ausência de planos. Com elas, a lei pretende evitar o comprometimento negativo
do ordenamento do território. E, por isso, ela visa sujeitar posteriormente a atividade de
construção a um regime particularmente limitativo, com interdição de lotear, urbanizar e
edificar, antes da aprovação de instrumentos de urbanização geral. São normas interditadoras,
próprias da atividade circunscritiva dos poderes públicos. Intentam, por vezes, limitar a
atividade de edificação na ausência de instrumentos urbanísticos fundamentais. Em geral, o
direito de intervenção nos solos conta com normas de aplicação direta, impostas, com ou sem
plano, há limites ex-lege (v.g., reservas de solo junto ao mar, distâncias mínimas de proteção
estradal fora do aglomerado urbano, normas de proteção do ambiente que imponham restrições
para a manutenção de certo habitat, de proteção da zona costeira, de centros históricos,
interdição de construções de qualquer tipo em zonas de incêndios de florestas, etc.
No entanto, há algumas normas que, mais do que impedir o atuar dos particulares,
interditam o atuar de um certo modo, para garantir a configuração e utilização das coisas face a
objetivos funcionais pré-fixados. Impõem um dado atuar, ou seja, enunciam exigências
padronizadas ao desenvolvimento urbanístico, a integrar em todas as situações previstas no
quadro de referência indicado. Aqui temos um tipo de “normas-padrão”, no sentido de padrões
urbanísticos de aplicabilidade direta. Basta que tal seja a intenção da norma jurídica e a sua
configuração técnica permita essa aplicação imediata, sem a intermediação regulamentar do
plano. Ou seja, que tenha carácter impositivo a uma dada realidade urbanística concreta, pela
sua pormenorização, incondicionalidade e precisão (sem o que a sua invocação para indeferir
qualquer projeto introduziria insegurança jurídica e arbitrariedade, que chocariam com a
realização do direito de propriedade urbana, com as faculdades edificatórias já definidas). Aqui
cabem todas aquelas normas extra-planificantes com indicação de limites variados de volume,
altura, etc., em conformidade com a tipologia das zonas em que se pretende construir (centro
histórico, centro habitado ou restante parte do território) e em relação com as funções da própria
construção (residencial, comercial ou industrial).
À teoria do planeamento interessam os padrões de planeamento. Há padrões urbanísticos
(a final, dirigidos aos particulares, de aplicação derivada do plano), contidos em normas extra-
planificantes de operatividade diferida (só são aplicáveis aos particulares depois da aprovação
do plano). Ou seja, normas com padrões a inserir nos instrumentos planificadores. Elas
funcionam como limite importante à discricionariedade da planificação. São padrões de
fixação de limites mínimos, a ser concretizados (e que podem ser elevados) em sede de
formação do plano, correspondendo a exigências de interesse público, em face dos dados
factuais justificativos de um maior sacrifício da posição do proprietário.
Os parâmetros concretizadores destes padrões dependem, por vezes, da individualização
de zonas territoriais homogéneas. Prevendo, para cada uma, padrões adequados para cada tipo
de zonas ou da simples situação de expansão urbana, prevendo uma dada proporção de
equipamentos comunitários ou estabelecimentos de serviços e comércio na inserção urbana (nos
ordenamentos jurídicos em que tal ocorre, articulando o planeamento comercial de natureza
económica com o urbanismo comercial). A sua função é de ordenação de interesses e poderes
administrativos diferentes. A fixação ou modificação dos “padrões urbanísticos” configuram
certa área por fogo, no caso de moradias unifamiliares. Os equipamentos de utilização coletiva
[edificações destinadas à prestação de serviços à coletividade (saúde, educação, assistência,
social, segurança, proteção civil, etc.), à prestação de serviços de carácter económico
(matadouros, feiras, etc.) e à prática, pela coletividade, de atividades culturais, de desporto e de
recreio e lazer, etc.] devem ocupar uma área razoável de cerca de um quarto de área bruta de
construção para habitação ou definida por fogo nas moradias unifamiliares. A rede viária e o
estacionamento devem ter também exigências mínimas, por área bruta de construção para
habitação, com dimensões diferentes conforme o lugar é à superfície ou em estrutura edificada
(para o cálculo das áreas por lugar de estacionamento devendo considerar-se certos valores
normais para os veículos ligeiros (v.g., 20 m2 por lugar à superfície e 25 m2 por lugar em
estrutura edificada) e os veículos pesados (v.g., 75 m2 por lugar à superfície e 130 m2 por lugar
em estrutura edificada). Nos espaços para serviços e comércio (inserem-se nesta tipologia todos
os casos em que a percentagem de área construída destinada a serviços e comércio exceda uma
significativa percentagem do total da área construída), impõe-se cerca de um quarto por cada
área bruta considerada, quer quanto a espaços verdes e de utilização coletiva, quer também
quanto a equipamentos de utilização coletiva. Nos espaços industriais, o dimensionamento
destes espaços obrigatórios pode reduzir-se face à área bruta de construção para a indústria. Nos
espaços mistos, de habitação, comércio e serviços, devem aplicar-se as mesmas dimensões, de
acordo com a área-destino, a cada uma das áreas brutas para habitação ou comércio e serviços.
Quanto a estacionamento em áreas não habitacionais ou mistas (além de se dever destinar uma
percentagem da área de estacionamento a uso público, grátis ou não: cerca de um terço da área
de estacionamento afeta a habitação e indústria; dois terços da área de estacionamento afeta a
comércio e serviços), há que reservar espaços com as dimensões significativas. Quanto às áreas
de arruamentos (isto é, o espaço construído destinado à circulação de pessoas e viaturas,
incluindo a faixa de rodagem e os passeios e com exceção de arruamentos em áreas urbanas
consolidadas com alinhamentos definidos), nas várias zonas funcionais, deve impor-se o
respeito de um dado perfil tipo total, face à dimensão da faixa de rodagem e também quanto à
dimensão mínima dos passeios.
Nesta linha de orientação, vigora, hoje, a Portaria n.º 216-B/2008, de 3 de Março, que fixa
os parâmetros para o dimensionamento das áreas destinadas a espaços verdes e de utilização
coletiva, infraestruturas viárias e equipamentos de utilização coletiva, tendo presente que o
RJUE, na redação da Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro, impôs que os projetos de loteamento
tivessem de prever áreas destinadas à sua implantação, com parâmetros de dimensionamento a
definir em plano municipal de ordenamento do território, e cujos valores mínimos face aos tipos
de ocupação do espaço constam dos quadros I e II anexos à portaria116.
Em suma, no poder planificador coexistem áreas de discricionariedade e áreas com
soluções vinculadas pelo legislador, desde logo os padrões urbanísticos, porquanto os critérios
materiais condicionam o poder discricionário de disposição sobre o plano.
116Hoje, nesta matéria, vigoram os padrões de dimensionamento estabelecidos na Portaria n.º216-B/2008, de 3.3 e seus dois quadros
anexos (Diário da República, 1.ª série, n.º 44,PP.1372-(3) e 1372-(4).
CAUPERS, João –“Estado de Direito, Ordenamento do Território e Direito de Propriedade”. Revista Jurídica do urbanismo e do
117
Neste domínio dos interesses a ponderar, temos a segurança pública, a ordem pública, a
proteção da natureza, da paisagem, da vizinhança, a segurança e fluidez do tráfego, a saúde das
pessoas, a posse e a propriedade, etc.
Em termos da ponderação dos interesses, a planificação tem três fases: reunião do material
a sujeitar a ponderação (levantamento dos interesses a recolher), valorização-pesagem em si de
cada um desses interesses (atribuição de relevo) e a sua ponderação no conjunto (relativização).
A que se segue a decisão de integração na solução do plano, em termos conjugados ou
excludentes, isto é, a sua aceitação ou não.
É através da participação dos particulares, quanto seja eficaz, e, de qualquer modo, de
métodos prognósticos que se efetiva a investigação, a determinação dos interesses futuros a
ponderar, recorrendo-se assim juízos de plausibilidade, princípios da experiência na procura de
padrões de probabilidade naturalmente muito inseguros. E quanto à medição relativa do valor
dos interesses reunidos não há normalmente critério normativo definidor da sua priorização.
Tem que se proceder, tendo presente os objetivos a alcançar e os princípios gerais da
planificação, sem bitolas rígidas ou listagens fixas de valor universal. Não há, de antemão,
interesses com primazia, nem se pode, de antemão, fazer uma ordenação objetiva dos interesses
concorrentes. Apenas se pode, uma vez recolhidos os interesses relevantes, conformar
aproximativamente critérios de ponderação orientadores para ajudar o planeador desde o início
do processo de valorização relativa. Um interesse privado pode ter valor semelhante ou superior
a um dado interesse público. Há interesses originariamente privados que, pelo seu alcance,
podem acabar por dever assumir carácter de interesse público. O peso dos interesses só pode
resultar de uma apreciação, caso a caso.
Há vícios do planeamento, quer quando o resultado não aparece orientado pelo princípio
da ponderação, como quando o processo de criação de um plano de urbanização padece ele
mesmo de vícios evidentes de procedimento, que tenham influenciado os resultados da
ponderação. Deve entender-se que há violação do princípio da ponderação justa dos interesses
concorrentes quando a ponderação não existiu, não foram tomados em consideração interesses
que o deveriam ser, seja desconhecido o valor e significado de cada interesse em apreciação,
desde logo desprezando-se o valor-prioridade resultante de norma jurídica ou de princípios
gerais reconhecidos, se constate uma hierarquização desequilibrada ou uma falta de relação
objetiva desse peso relativo de cada interesse em presença.
1999, p.228 e ss
122 Designadamente, recursos e valores naturais, estrutura ecológica, património arquitetónico, arqueológico e paisagístico, áreas
125 Quanto ao princípio da fundamentação técnica, os instrumentos de gestão territorial devem explicitar, de forma racional e clara,
os fundamentos das respectivas previsões, indicações e determinações, a estabelecer com base no conhecimento sistematicamente
adquirido (artigo 4.°) das características físicas, morfológicas e ecológicas do território, dos recursos naturais e do património
arquitectónico e arqueológico, da dinâmica demográfica e migratória, das transformações económicas sociais culturais e ambientais
e das assimetrias regionais e das condições de acesso às infraestruturas, aos equipamentos, aos serviços e às funções urbanas.
126 Face ao desaparecimento da pressão demográfica que caracterizou os anos 60 e 70.
127 Portanto, garantia de participação na vertente da intervenção ao longo de todo o procedimento e na vertente da divulgação das
decisões de desencadear os processos de elaboração, alteração ou revisão, da conclusão das diversas fases e teor dos elementos a
submeter a discussão pública, das conclusões desta bem como dos procedimentos de avaliação (alargando-se o dever de publicitação
designadamente através da comunicação social).
128 O art.º 277.º refere-se a infração de regras de construção, dano em instalações e perturbação de serviços e o art.º278-A refere-se
diretamente a violação de regras urbanísticas. Para o primeiro, quem, no âmbito de atividade profissional, criar perigo para a vida ou
para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado, é punido com pena de prisão se tal resultar
por haver infringido regras legais, regulamentares ou técnicas que devam ser observadas no planeamento, direção ou execução de
construção, demolição ou instalação, ou na sua modificação ou conservação; destruir, danificar ou tornar não utilizável, total ou
parcialmente, instalação para aproveitamento, produção, armazenamento, condução ou distribuição de água, óleo, gasolina, calor,
eletricidade, gás ou energia nuclear, ou para proteção contra forças da natureza; impedir ou perturbar a exploração de serviços de
comunicações ou de fornecimento ao público de água, luz, energia ou calor, subtraindo ou desviando, destruindo, danificando ou
tornando não utilizável, total ou parcialmente, coisa ou energia que serve tais serviços; destruir, danificar ou tornar não u tilizável,
total ou parcialmente, aparelhagem ou outros meios existentes em local de trabalho e destinados a prevenir acidentes, ou,
infringindo regras legais, regulamentares ou técnicas, omitir a instalação de tais meios ou aparelhagem. De facto, estamos aqui face
a um “crime de infração de regras de segurança (artº277º, nº1, al.b), 2ª parte do Código Penal), que pode tocar também em bens
ambientais. Face a um crime de perigo concreto quanto ao grau de lesão dos bens jurídicos, e de resultado, quanto à forma de
consumação do ataque ao objeto da ação. As condutas assumem relevância criminal ao preencher o tipo incriminador do crime de
infração de regras de construção com criação de perigo concreto para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para b ens
patrimoniais alheios de valor elevado.
129 Em geral, vide LOPES, Mouraz –“Os Novos Crimes Urbanísticos no Código Penal”. in As Alterações de 2010 ao Código Penal e
desvantagem, não permitindo correto arejamento, iluminação natural, exposição à luz solar, etc.
(art.º 58.º do RGEU131).
131 Artigo 58.º: “A construção ou reconstrução de qualquer edifício deve executar-se por forma que fiquem assegurados o
arejamento, iluminação natural e exposição prolongada à acção directa dos raios solares, e bem assim o seu abastecimento de
água potável e a evacuação inofensiva dos esgotos. § único. As câmaras municipais poderão condicionar a licença para se
executarem obras importantes em edificações existentes à execução simultânea dos trabalhos acessórios indispensáveis para lhe s
assegurar as condições mínimas de salubridade prescritas neste regulamento.
132 Artigo 71.º (poderes de pronúncia do tribunal): “1-Ainda que o requerimento apresentado não tenha obtido resposta ou a sua
apreciação tenha sido recusada, o tribunal não se limita a devolver a questão ao órgão administrativo competente, anulando ou
declarando nulo ou inexistente o eventual acto de indeferimento, mas pronuncia-se sobre a pretensão material do interessado,
impondo a prática do acto devido. 2 - Quando a emissão do acto pretendido envolva a formulação de valorações próprias do
exercício da função administrativa e a apreciação do caso concreto não permita identificar apenas uma solução como legalmente
possível, o tribunal não pode determinar o conteúdo do acto a praticar, mas debe explicitar as vinculações a observar pela
Administração na emissão do acto devido”.
A questão do preenchimento de conceitos vagos é que o seu uso pode ser acompanhado de
reais poderes discricionários (quanto ao tempo e), neste caso quanto a recorrer ou não à sua
lógica aplicativa.
Há casos em que a Administração pode também não se entender sequer obrigada (poder
discricionário) a recorrer à aplicação desses conceitos vagos; e portanto, nestes casos, vai
decidir uma questão sem ter de resolver o caso mediando a ponderação sobre o conteúdo a dar a
um conceito vago na sua aplicação, que não chega a colocar-se. Nesse aspeto, ela foge a usá-lo.
Mas se a Administração, no uso de poder discricionário entende dever aplicar o conceito
num dado procedimento, decide ponderar aplicá-lo. E então coloca-se na apreciação da sua
decisão final de fundo a questão em termos de análise da fundamentação oferecida,
eventualmente inadequada, incoerente, contraditória ou de qualquer modo com uma conclusão
que não é a que melhor serve o interesse público e a justiça do caso na sua densificação
concreta. E, por isso, o tribunal não pode deixar de se pronunciar por princípio, com muito
maior margem de poder interventivo na solução final.
É que se, em causa, estava o exercício de um poder discricionário (“pode”), logo o que
passa também a ficar sujeito a análise é o modo adequado ou não como ela preencheu o
conceito indeterminado, que não implica discricionariedade de conteúdo, mas obrigação de,
decidindo com recurso a ele, a Administração se conformar com a melhor solução na sua
aplicação.
Isto é controlável jurisdicionalmente em termos que vão para além, ou seja, mais intensos
do que o do mero uso ou não do poder discricionário. Isto é, não há a atribuição de um poder
discricionário no âmbito do recurso pelo legislador aos conceitos imprecisos, especialmente
indeterminados, pois o que há é no poder discricionário a possibilidade de recorrer ou não a uma
dada cláusula com conceitos imprecisos.
Uma nota complementar cabe fazer no domínio de legislação sobre dos solos e
administração territorial, designadamente a lei que traça a política geral do direito dos solos, e
que tem duas vertentes. Uma que pretende concretizar uma política pública sectorial realizadora
de uma oferta de terrenos suficientes e a preços anti-especulativos para a construção em
aglomerados urbanos.
É um direito instrumental de objetivos urbanísticos, direito programático ao serviço do
urbanismo, preocupado em dar instrumentos jurídicos à Administração Pública para prosseguir
certos objetivos de interesse público. Uma outra vertente contém normas de aplicação direta,
regimes jurídicos particulares aplicáveis a certos tipos de bens imóveis, e que tornarão nulas
quaisquer normas de um plano que sejam incompatíveis com eles.
O direito dos solos visa dar à Administração Pública instrumentos para corrigir os defeitos
ou os excessos do jogo do livre funcionamento do mercado de terrenos urbanizáveis, traduzindo
uma intervenção administrativa económica corretiva dos mercados, com o objetivo da
regularizar os preços dos solos, de obter terrenos a preços razoáveis para a construção social e
de constituir património imobiliário público para programas públicos de urbanização, através do
controlo público da iniciativa privada, do recurso à expropriação e ao direito de preferência, e
da atividade económica da administração como agente imobiliário, comprando, trocando e
vendendo terrenos para construção, numa abordagem de Estado social que não se compadece
com as teorias económicas do Estado mínimo.
A nossa legislação de solos, na parte respeitante à política dos solos, apontava
tradicionalmente sobretudo para a aquisição de reservas de terrenos para urbanização, mas
falhou neste aspeto por inexistência de meios financeiros por parte dos municípios.
O macro-enquadramento da política dos solos, consta dos artigos 65.º, n.º 4 do artigo 80.º,
al. c) do artigo 65.º, al. d) da Constituição, que fixam os seguintes princípios: o princípio do
controlo efetivo do parque imobiliário por parte da Administração Pública (Estado e
133 A importância deste instituto como instrumento ao serviço do correto ordenamento do território, aparece logo na própria
obrigação condicionante da expropriação mas que revela também a relação entre expropriação e planeamento territorial, tal como
resulta do conteúdo do artigo 10.º (Resolução de expropriar): 1 - A resolução de requerer a declaração de utilidade pública da
expropriação deve ser fundamentada, mencionando expressa e claramente:
a) A causa de utilidade pública a prosseguir e a norma habilitante;
b) Os bens a expropriar, os proprietários e demais interessados conhecidos;
c) A previsão do montante dos encargos a suportar com a expropriação;
d) O previsto em instrumento de gestão territorial para os imóveis a expropriar e para a zona da sua localização.
134 Não havendo fixação de prazo, a reserva caduca no prazo de cinco anos desde a data da entrada em vigor do plano territorial.
135 Artigo 18.º.
136 O RJUE obriga a relacionar os instrumentos de gestão territorial, das servidões e restrições de utilidade pública e de outros
instrumentos relevantes, a disponibilizar no sítio da Internet do município (artigo 119.º). As câmaras municipais têm de manter
atualizada a relação destes instrumentos e das zonas de servidões administrativas e de restrições de utilidade pública aplicáveis na
área do município, desde os referentes aos programas regional e especiais de ordenamento do território e planos intermunicipais e
municipais de ordenamento do território, medidas preventivas, áreas de desenvolvimento urbano prioritário, áreas de construção
prioritária, áreas de reabilitação urbana, alvarás de loteamento vigentes, zonas de proteção de imóveis classificados ou em vias de
classificação, reservas arqueológicas de proteção e zonas especiais de proteção de parque arqueológico, zonas de proteção a
edifícios e outras construções de interesse público, imóveis ou elementos naturais classificados como de interesse municipal, zonas
terrestres de proteção das albufeiras, lagoas ou lagos de águas públicas, zonas terrestres de proteção dos estuários, áreas integradas
no domínio hídrico público ou privado, áreas classificadas, áreas integradas na Reserva Agrícola Nacional e na Reserva Ecológ ica
Nacional e zonas de proteção estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 173/2006, de 24 de agosto, assim como a relação atualizada dos
regulamentos municipais sobre urbanismo, dos programas de ação territorial em execução e das unidades de execução delimitadas.
Até à codificação das normas técnicas de construção, cabe aos membros do Governo responsáveis pelas obras públicas e pelo
ordenamento do território promover a publicação da relação das disposições legais e regulamentares a observar pelos técnicos
responsáveis dos projetos de obras e sua execução, devendo essa relação constar dos sítios na Internet dos ministérios em causa.
137 O DL n.º 48/2011, de 1 de Abril, veio simplificar o regime de acesso e de exercício de diversas atividades económicas no âmbito
da iniciativa «Licenciamento zero», face à autorização legislativa efetuada pela Lei n.º 49/2010, de 12.11, e pelo artigo 147.º da Lei
n.º 55-A/2010, de 31.12, e na Portaria n.º 131/2011, de 4.4.
138Isto, sem prejuízo da responsabilidade civil, criminal ou disciplinar. Quanto à culpa que é, “por força da lei, um elemento
constitutivo da contraordenação, diferenciado da tipicidade e da ilicitude”, ela “analisa-se na possibilidade de um juízo de censura
ou de reprovação da conduta do agente, por, em face das circunstâncias, poder e dever agir de outro modo”. Em processo de
contraordenação fiscal (alínea a, n.º 1, artigo 379.º e n.º 2, artigo 374.º, do Código de Processo Penal [aplicáveis face à L ei-Quadro
das Contraordenações: artigo 41.º, Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro), uma sentença é nula se cometer omissão de pronúncia
quanto à questão da “ilicitude,
culpa e gravidade da conduta da arguida serem nulas ou, pelo menos, de baixa intensidade” (Acórdão do STA, proferido em 26 -04-
2007, no proc. n.º 01168/06 (relator Jorge Lino).
139 Acórdão da Relação de Lisboa de 30-05-2011, Proc. 301/09.2TFLSB.L1-5, Relator Neto de Moura.
à habitação própria ou arrendada; incentivo e apoio a iniciativas das comunidades locais e das
populações, tendentes a resolver os respetivos problemas habitacionais e ao fomento da criação
de cooperativas de habitação e à autoconstrução; adoção de políticas tendentes a estabelecer um
sistema de renda compatível com o rendimento familiar e de acesso à habitação própria.
Que o Estado não tenha até hoje conseguido realizar estes objetivos, tendo presentes a
escassez de recursos financeiros, défices orçamentais e endividamentos públicos, é uma coisa,
mas que o Estado feche os olhos, não querendo aceitar a realidade de muitas construções
(erigidas fora dos regimes procedimentais legalmente estabelecidos) mas traduzindo às
situações que deixou criar em todo o país, quer nas zonas urbanas e periurbanas depois de 1951
quer em zonas inicialmente rurais, depois de 1991, descansando com normas transitórias para
zonas declaradas ou não como AUGI ou deixando aos tribunais, conforme as dispares
dinâmicas locais e meios jurisdicionais, e às desigualitárias posturas de gestão municipal do
País a resolução de imensas situações de habitações irregulares ou mesmo ilegais, é algo de
incompreensível.
Urge uma lei de caracter geral que legalize todas as habitações construídas ilegalmente
(fora de áreas ambientalmente protegidas ou de arias de domínio público) cuja construção tenha
perdurado por mais de 10 anos sem que as entidades públicas as tenham feito demolir, amenos
que os municípios demonstrem a sua insustentabilidade em termos de segurança ou
insalubridade insuperáveis.
Uma lei nacional que acabe com confusões nos autarcas e populações. E respeite um
tratamento igual para todos. Acabando com incertezas de décadas, criadas por governantes,
autarcas e dirigentes (por vezes ineptos, para levar à aprovação de PP de zona, se não mesmo
corruptos) de comissões de AUGI, ou com gestões municipais assentes umas vezes em jogos
financeiros (exigência atual de licenciamentos regularizadores de habitações, no tempo da sua
construção, não os exigiam), outras em jogos eleitorais de gestores municipais.
edificações para habitação existentes, que não ameacem ruína nem estejam com falhas no plano
da segurança.
Esta é uma das grandes questões sociais, que se prende com a clarificação da situação
jurídica de mais de metade do parque habitacional nacional. Em relação a prédios
irregularmente construídos, serão os mesmos objeto de imediata regularização no plano jurídico,
com interdição de demolição, por força de lei geral. Com dispensa de pareceres dos Estado e de
atos autorizatórios municipais, através de diploma legal, aplicável automaticamente a todo o
país, em relação a todas as edificações com habitação ou aptas para tal, mesmo que sujeitas a
qualquer decisão administrativa ou judicial, ainda não cumpridas, desde que não construídas há
mais de 10 anos e, em alternativa, o respetivo proprietário apresente teros de responsabilidade
emitidos por técnico legalmente habilitado que garanta a segurança do edifício e seus residentes,
ou, não o apresentando, o município não o notifique de que considera existir perigo de
estabilidade, com as devidas provas técnicas, indicando as alterações a efetivar para a sua
regularização definitiva e, em caso de famílias economicamente carenciadas, prontificando-se
pagar tais obras e a realojá-las pelo período de realização das mesmas.
atividades em edificações já construídas que se pretendam para fins diferentes e mesmo já afetas
a tais atividades ao abrigo do direito anterior há leis que impõem legitimamente condições
específicas para tais obras ou utilizações. Tal como pode a lei condicionar a execução destas
obras à realização dos trabalhos acessórios que sejam necessários para a melhoria das condições
de segurança e salubridade da edificação.
141141Artigo 105.º.
142 Artigos 107.º-108.º e artigos 25.º e 54.º, respetivamente. Logo que se mostre reembolsada das despesas efetuadas, a câmara
municipal procede ao levantamento do embargo que possa ter sido decretado ou, quando se trate de obras de urbanização, emite
oficiosamente alvará, competindo ao presidente da câmara dar conhecimento das respetivas deliberações, quando seja caso disso, à
Direção-Geral do Território, para efeitos cadastrais, e à conservatória do registo predial.
143 O requerimento é instruído com cópia do alvará ou do título da comunicação prévia, orçamento a preços correntes do mercado
relativo à execução das obras de urbanização em conformidade com os projetos aprovados e condições fixadas no licenciamento e
quaisquer outros elementos que o requerente entenda necessários para o conhecimento do pedido. Antes de decidir, o tribunal
notifica a câmara municipal, o titular do alvará ou o apresentante da comunicação prévia para responderem no prazo de 30 dias e
ordena a realização das diligências que entenda úteis para o conhecimento do pedido, nomeadamente a inspeção judicial do local. Se
deferir o pedido, o tribunal fixa especificadamente as obras a realizar e o respetivo orçamento e determina que a caução a que se
refere o artigo 54.º fique à sua ordem, a fim de responder pelas despesas com as obras até ao limite do orçamento. Na falta ou
insuficiência da caução, o tribunal determina que os custos sejam suportados pelo município, sem prejuízo do direito de regresso
deste sobre o titular do alvará ou o apresentante da comunicação prévia. Da sentença cabe recurso nos termos gerais. Compete aos
Este processo, pesem alterações da lei de custas anteriores à última revisão deste RJUE, é
urgente e isento de custas.
As edificações existente, qualquer que tenha sido o regime jurídico que as amparou, têm de
ser objeto de conservação pelo menos de oito em oito anos, devendo o proprietário,
independentemente desse prazo, realizar todas as obras necessárias à manutenção da sua
segurança, salubridade e arranjo estético. E a câmara municipal pode ainda, a todo o tempo,
oficiosamente ou a requerimento de qualquer interessado, obrigar a obras de conservação que
sejam necessárias para a correção de más condições de segurança ou de salubridade ou à
melhoria do arranjo estético, tal como pode, oficiosamente ou a requerimento de qualquer
interessado, ordenar a demolição total ou parcial das construções que ameacem ruína ou
ofereçam perigo para a saúde pública e para a segurança das pessoas.
A câmara municipal pode ordenar o despejo sumário dos prédios ou parte de prédios onde
importa realizar as obras de conservação, se tal for necessário para a sua execução, o qual pode
ser determinado oficiosamente ou, quando o proprietário pretenda proceder às mesmas, a
requerimento deste. Se não houver risco iminente de desmoronamento ou grave perigo para a
tribunais administrativos de círculo onde se localiza o prédio no qual se devam realizar as obras de urbanização conhecer estes
pedidos. A câmara municipal emite oficiosamente alvará para execução de obras por terceiro, competindo ao seu presidente dar
conhecimento das respetivas deliberações à Direção-Geral do Território, para efeitos cadastrais, e à conservatória do registo predial,
quando tenha havido receção provisória das obras; ou seja integralmente reembolsada das despesas efetuadas.
144 Uma vistoria prévia, a realizar por três técnicos a nomear pela câmara municipal, dois dos quais com habilitação legal para ser
autor de projeto, correspondentes à obra objeto de vistoria, segundo o regime da qualificação profissional dos técnicos responsáveis
pela elaboração e subscrição de projetos. Do ato que determinar a realização da vistoria e respetivos fundamentos é notificado o
proprietário do imóvel, mediante carta registada expedida com, pelo menos, sete dias de antecedência. Até à véspera da vistor ia, o
proprietário pode indicar um perito para intervir na realização da vistoria e formular quesitos a que deverão responder os técnicos
nomeados. Da vistoria é imediatamente lavrado auto, do qual constam obrigatoriamente a identificação do imóvel, a descrição d o
estado do mesmo e as obras preconizadas e, bem assim, as respostas aos quesitos que sejam formuladas pelo proprietário. A
descrição do estado do imóvel inclui a identificação do seu estado de conservação, apurado através da determinação do nível de
conservação do imóvel (artigo 5.º do Decreto-Lei n.º266-B/2012, de 31 de dezembro), e na respetiva regulamentação. O auto é
assinado por todos os técnicos e pelo perito que hajam participado na vistoria e, se algum deles não quiser ou não puder assiná-lo,
faz-se menção desse facto. Quando o proprietário não indique perito até à data devida, a vistoria é realizada sem a presença deste,
sem prejuízo de, em eventual impugnação administrativa ou contenciosa da deliberação em causa, o proprietário poder alegar factos
não constantes do auto de vistoria, quando prove que não foi regularmente notificado.
145 Artigos 107.º e 108.º.
saúde pública, em que o despejo poderá executar-se imediatamente, ele deve executar-se no
prazo de 45 dias a contar da sua notificação aos ocupantes 146.
146 A deliberação que ordene o despejo é eficaz a partir da sua notificação aos ocupantes. Ao despejo de ocupante titular de contrato
de arrendamento aplica-se o disposto no Decreto-Lei n.º 157/2006, de 8 de agosto.
147 Além de diversa documentação, nos casos em que não haja obras de ampliação ou de alteração a realizar: apresentação da
calendarização da execução da obra, estimativa do custo total da obra, documento comprovativo da prestação de caução, apólice de
seguro de construção, apólice de seguro que cubra a responsabilidade pela reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho,
títulos habilitantes para o exercício da atividade de construção válidos à data da construção da obra, livro de obra, plano de
segurança e saúde.
público de água) depende, embora com certas exceções, da obtenção de uma licença, da
efetivação de comunicação prévia (com prazo de espera para permitir o controlo da sua
legalidade) e de autorização de utilização posterior ao término das respetivas obras.
148 Ações que tenham por objeto ou por efeito a constituição de um ou mais lotes destinados, imediata ou subsequentemente, à
edificação urbana e que resulte da divisão de um ou vários prédios ou do seu reparcelamento
149 Obras de criação e remodelação de infraestruturas destinadas a servir diretamente os espaços urbanos ou as edificações,
designadamente arruamentos viários e pedonais, redes de esgotos e de abastecimento de água, eletricidade, gás e tel ecomunicações,
e ainda espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva.
150 operações urbanísticas não compreendidas nas alíneas anteriores que impliquem a destruição do revestimento vegetal, a alteração
do relevo natural e das camadas de solo arável ou o derrube de árvores de alto porte ou em maciço para fins não exclusivamente
agrícolas, pecuários, florestais ou mineiros.
151 Obras destinadas a manter uma edificação nas condições existentes à data da sua construção, reconstrução, ampliação ou
edificação existente
154 Obras de que resulte a modificação das características físicas de uma edificação existente ou a sua fração, designadamente a
respetiva estrutura resistente, o número de fogos ou divisões interiores, ou a natureza e cor dos materiais de revestimento exterior,
sem aumento da área total de construção, da área de implantação ou da altura da fachada
155 Obras de destruição, total ou parcial, de uma edificação existente.
156 A edificação é definida como atividade ou o resultado da construção, reconstrução, ampliação, alteração ou conservação de um
imóvel, desde que destinado à utilização humana e qualquer outra construção incorporada no solo com caráter de permanência,
enquanto as obras de construção serão as obras de criação de novas edificações,
157 Artigo 125.º (Alvarás anteriores): As alterações aos alvarás emitidos ao abrigo da legislação agora revogada e dos Decretos-Leis
n.os 166/70, de 15 de abril, 46 673, de 29 de novembro de 1965, 289/73, de 6 de junho, e 400/84, de 31 de dezembro, regem-se pelo
disposto no presente diploma.
das taxas devidas, por autoliquidação, dispensando a prática de quaisquer atos permissivos)
reporta-se a um conjunto alargado de outras operações urbanísticas, não só operações
urbanísticas precedidas de informação prévia favorável (n. os 2 e 3, artigo 14.º) e edificação de
piscinas associadas a edificação principal, como mesmo a obras de reconstrução desde que dela
não resulte um aumento da altura da fachada ou do número de pisos, obras de urbanização e
trabalhos de remodelação de terrenos em área abrangida por operação de loteamento, obras de
construção, de alteração ou de ampliação em área abrangida por operação de loteamento ou
plano de pormenor, obras de construção, de alteração ou de ampliação em zona urbana
consolidada158 que respeitem os planos municipais ou intermunicipais e das quais não resulte
edificação com cércea superior à altura mais frequente das fachadas da frente edificada do lado
do arruamento onde se integra a nova edificação, no troço de rua compreendido entre as duas
transversais mais próximas, para um e para outro lado. A comunicação prévia é dirigida ao
presidente da câmara municipal, efetuada através da plataforma eletrónica.
Para dar plena execução ao RJUE, impõe-se quer portarias governamentais de natureza
procedimental e aplicação nacional quer regulamentos municipais, que por sua vez estão
dependentes, normas legais e regulamentares, indiretamente da programação e diretamente do
planeamento territorial disciplinado no RJIGT.
Quanto ao papel regulamentar dos municípios, no exercício de poderes próprios ou
remetidos pela lei material, a elas cabem aprovar regulamentos municipais quer de urbanização
e edificação quer relativos ao lançamento e liquidação das taxas e prestação de caução
legalmente devidas. Estes regulamentos devem ter como objetivo a concretização e execução do
RJUE, designadamente a concretização das obras de escassa relevância urbanística para efeitos
de delimitação das situações isentas de controlo prévio, pormenorização, quando possível, dos
aspetos que envolvem a formulação de valorações próprias do exercício da função
administrativa, em especial os aspetos morfológicos e estéticos a que devem obedecer os
projetos de urbanização e edificação, e as condições exigíveis para avaliar a idoneidade da
utilização dos edifícios e suas frações; disciplinar os aspetos relativos ao projeto, execução,
receção e conservação das obras e serviços de urbanização, podendo, em particular, estabelecer
normas para o controlo da qualidade da execução e fixar critérios morfológicos e estéticos a que
os projetos devam conformar-se; disciplinar os aspetos relativos à segurança, funcionalidade,
economia, harmonia e equilíbrio socio-ambiental, estética, qualidade, conservação e utilização
dos edifícios, suas frações e demais construções e instalações; fixar os critérios e trâmites do
reconhecimento de que as edificações construídas se conformam com as regras em vigor à data
da sua construção, assim como do licenciamento ou comunicação prévia de obras de
158Zona caracterizada por uma densidade de ocupação, que permite identificar uma malha ou estrutura urbana já definida, onde
existem as infraestruturas essenciais e onde se encontram definidos os alinhamentos dos planos municipais.
reconstrução ou de alteração das edificações para efeitos da aplicação do regime da garantia das
edificações existentes; fixar os montantes das taxas a cobrar; indicar a instituição e o número da
conta bancária do município onde é possível efetuar o depósito dos montantes das taxas devidas,
identificando o órgão à ordem do qual é efetuado o pagamento; condições a observar na
execução de operações urbanísticas objeto de comunicação prévia; determinar quais os atos e
operações que devem estar submetidos a discussão pública, designadamente, concretizar as
operações de loteamento com significativa relevância urbanística e definir os termos do
procedimento da sua discussão e regular outros aspetos relativos à urbanização e edificação cuja
disciplina não esteja reservada por lei a instrumentos de gestão territorial.
Antes da sua aprovação pelos órgãos municipais, têm que ser submetidos a discussão
pública (por prazo não inferior a 30 dias), todos os projetos dos regulamentos s municipais de
urbanização, edificação e os relativos ao lançamento e liquidação das taxas e prestação de
cauções devidas pela realização de operações urbanísticas. Uma vez aprovados, os regulamentos
são publicados na 2.ª série do Diário da República, independentemente da efetivação de outras
formas legais de publicidade.
Os projetos de regulamento municipal da taxa pela realização, manutenção e reforço de
infraestruturas urbanísticas devem ser acompanhados da fundamentação do cálculo das taxas
previstas.
Para o efeito, a assembleia municipal tem de ponderar, entre outros elementos pertinentes,
o programa plurianual de investimentos municipais na execução, manutenção e reforço das
infraestruturas gerais (que pode ser definido por áreas geográficas diferenciadas), os usos e as
tipologias das edificações e, eventualmente, a localização e correspondentes infraestruturas
locais.
Para a resolução de conflitos na aplicação dos regulamentos municipais destes podem os
interessados requerer a intervenção de uma comissão arbitral, cuja constituição e funcionamento
obedece à lei sobre a arbitragem voluntária.
As associações públicas de natureza profissional e as associações empresariais do setor da
construção civil podem promover a criação de centros de arbitragem institucionalizada para a
realização de arbitragens neste âmbito.
Fora destes centros, a comissão arbitral é constituída por um representante da câmara
municipal, um representante do interessado e um técnico designado por cooptação que seja
especialista na matéria sobre que incide o litígio, que preside, mas, na falta de acordo, este
técnico é nomeado pelo presidente do tribunal administrativo de círculo competente.
159 Sem prejuízo da sujeição a comunicação prévia das obras de construção, de alteração ou de ampliação em zona urbana
consolidada que respeitem os planos municipais ou intermunicipais e das quais não resulte edificação com cércea superior à altura
mais frequente das fachadas da frente edificada do lado do arruamento onde se integra a nova edificação, no troço de rua
compreendido entre as duas transversais mais próximas, para um e para outro lado (al. d, n.º 2, artigo 4.º),
160 Obras de edificação ou demolição que, pela sua natureza, dimensão ou localização tenham escasso impacte urbanístico
161 N.os 4 e 5, artigo 6.º. 1. Sobre o destaque de parcelas de terreno em perímetro urbano, vide o Parecer n.º115/2005, de 25.10.2005,
da CCDR do Alentejo, relatora Gertrudes Maria C. do Castelo Gonçalves, e sobre o destaque de parcelas de terreno fora do
perímetro urbano, o Parecer n.º137/2005, de 15.12.2005, da CCDR do Alentejo, relator Luís Manuel Rosmaninho Santos.No RJUE
também o artigo 50.º trata do fraccionamento de prédios rústicos e respectivas notas.
as duas parcelas resultantes do destaque confrontem com arruamentos públicos 162, quer esses
atos quando, em áreas situadas fora dos perímetros urbanos 163, cumulativamente se mostrem
cumpridas certas condições (na parcela destacada só seja construído um edifício que se destine
exclusivamente a fins habitacionais e que não tenha mais de dois fogos, e na parcela restante se
respeite a área mínima fixada no projeto de intervenção em espaço rural em vigor ou, quando
aquele não exista, a área de unidade de cultura fixada nos termos da lei geral para a região
respetiva). Se a parcela a destacar se situar em perímetro urbano e fora deste, o regime será o
respeita à localização da área maior.
Em nenhum caso serra permitido efetuar na área correspondente ao prédio originário um
novo destaque (a menos que siga para todo o prédio originário, o devido procedimento de
controlo administrativo) durante um prazo de 10 anos contados da data do destaque anterior 164.
O registo predial da parcela destacada efetiva-se face a certidão emitida pela câmara municipal
comprovativa da verificação dos requisitos do destaque.
O conceito de obras de escassa relevância urbanística engloba as edificações contíguas ou
não ao edifício principal com altura não superior a 2,2 m ou, em alternativa, à cércea do rés-do-
chão do edifício principal com área igual ou inferior a 10 m2 e que não confinem com a via
pública; a construção de muros de vedação até 1,8 m de altura que não confinem com a via
pública e de muros de suporte de terras até uma altura de 2 m ou que não alterem
significativamente a topografia dos terrenos existentes; a edificação de estufas de jardim com
altura inferior a 3 m e área igual ou inferior a 20 m2; as pequenas obras de arranjo e
melhoramento da área envolvente das edificações que não afetem área do domínio público; a
edificação de equipamento lúdico ou de lazer associado a edificação principal com área inferior
à desta última; a demolição das edificações referidas nas alíneas anteriores; a instalação de
painéis solares fotovoltaicos ou geradores eólicos associada a edificação principal, para
produção de energias renováveis, incluindo de microprodução, que não excedam, no primeiro
caso, a área de cobertura da edificação e a cércea desta em 1 m de altura, e, no segundo, a cércea
da mesma em 4 m e que o equipamento gerador não tenha raio superior a 1,5 m, bem como de
coletores solares térmicos para aquecimento de águas sanitárias que não excedam os limites
previstos para os painéis solares fotovoltaicos; a substituição dos materiais de revestimento
exterior ou de cobertura ou telhado por outros que, conferindo acabamento exterior idêntico ao
original, promovam a eficiência energética e outras obras, como tal qualificadas em
regulamento municipal.
Excetuam-se as obras e instalações em imóveis classificados ou em vias de classificação,
de interesse nacional ou de interesse público; imóveis situados em zonas de proteção de imóveis
classificados ou em vias de classificação e imóveis integrados em conjuntos ou sítios
classificados ou em vias de classificação165.
162 Vide, sobre o tema, o Parecer n.º 115/2005, de 25.10.2005, da CCDR do Alentejo, sendo relatora Gertrudes Maria C. do Castelo
Gonçalves.
163 Vide, sobre este tema, o Parecer n.º 137/2005, de 15.12.2005, da CCDR do Alentejo, o ASTJ de 24-05-2011 e, também, o artigo
166 O comprovativo eletrónico de apresentação do requerimento de licenciamento, informação prévia ou comunicação prévia contém
a identificação do gestor do procedimento, bem como a indicação do local, do horário e da forma pelo qual pode ser contactado. Em
caso de substituição do gestor de procedimento, é notificada ao interessado a identidade do novo gestor, bem como os elemento s
referidos no número anterior.
167 O pedido de licenciamento ou a comunicação prévia de operação urbanística devem ser publicitados sob forma de aviso, segundo
o modelo aprovado por portaria do membro do Governo responsável pelo ordenamento do território, a colocar no local de execuçã o
da operação de forma visível da via pública, no prazo de 10 dias a contar da apresentação do requerimento inicial ou comunicação.
168 Constam de diploma próprio os projetos, estudos e certificações técnicas que carecem de consulta, de aprovação ou de parecer,
interno ou externo, bem como as condições a que deve obedecer a sua elaboração.
projeto legalmente habilitado (lei da qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis
pela elaboração e subscrição de projetos, fiscalização de obra e direção de obra) que ateste o
cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis, incluindo a menção a plano
municipal ou intermunicipal de ordenamento do território em vigor ou licença de loteamento,
estão dispensados da apresentação na câmara municipal de consultas, certificações, aprovações
ou pareceres externos (sem prejuízo da necessidade da sua obtenção quando legalmente
prevista).
A realização de vistoria, certificação, aprovação ou parecer, pelo município ou por
entidade exterior, sobre a conformidade da execução dos projetos das especialidades e outros
estudos com o projeto aprovado ou apresentado é dispensada mediante emissão de termo de
responsabilidade por técnico legalmente habilitado para esse efeito, de acordo com o respetivo
regime legal, que ateste essa conformidade, com exceção das especialidades de eletricidade e de
gás que são reguladas por legislação especial que assegure a segurança das instalações.
No termo do prazo fixado para a promoção das consultas, o interessado pode solicitar a
passagem de certidão dessa promoção, a qual é emitida pela câmara municipal no prazo de oito
dias e, se esta for negativa, promover diretamente as consultas que não hajam sido realizadas
(artigo 13.º-B), ou pedir ao tribunal administrativo que intime a câmara municipal (artigo 112.º),
podendo o interessado obter comprovativo eletrónico da promoção ou não promoção da
consulta das entidades externas pela câmara municipal e promover diretamente a consulta das
entidades externas.
Não sendo possível obter a posição de todas as entidades, por motivo de falta de
comparência de algum representante ou por ter sido submetida a apreciação alguma questão
nova, os trabalhos da conferência podem ser suspensos por um período máximo de cinco dias.
Quando a CCDR não adote posição favorável a uma operação urbanística por esta ser
desconforme com instrumento de gestão territorial, pode a CCDR, quando a operação se revista
de especial relevância regional ou local, por sua iniciativa ou a solicitação do município,
respetivamente, propor ao Governo a aprovação em resolução do Conselho de Ministros da
alteração, suspensão ou ratificação, total ou parcial, de plano da sua competência relativamente
ao qual a desconformidade se verifica.
Quando a decisão seja proferida em conferência decisória, os pareceres emitidos têm
natureza não vinculativa, independentemente da sua classificação em legislação especial. O
procedimento de decisão da administração central previsto nos números anteriores é objeto de
portaria dos membros do Governo responsáveis pelo ordenamento do território e pela
administração local.
A CCDR comunica ao município a decisão da conferência decisória no prazo de cinco dias
após a sua realização. Caso a CCDR não cumpra este dever de comunicação no prazo devido,
considera-se que as consultas tiveram um sentido favorável.
O RJUE refere-se expressamente a questões relacionadas com áreas para espaços verdes e
de utilização coletiva, infraestruturas e equipamentos (artigo 43.º), mandando que os projetos de
loteamento prevejam áreas destinadas à implantação de espaços verdes e de utilização coletiva,
infraestruturas viárias e equipamentos. Os espaços verdes e de utilização coletiva,
infraestruturas viárias e equipamentos de natureza privada constituem partes comuns dos lotes
resultantes da operação de loteamento e dos edifícios que neles venham a ser construídos,
regendo-se pelos artigos 1420.º a 1438.º-A do Código Civil.
Os parâmetros para o dimensionamento destas áreas são os definidos no plano municipal
ou intermunicipal de ordenamento do território. Para aferir se o projeto de loteamento respeita
estes parâmetros consideram-se quer as parcelas de natureza privada a afetar àqueles fins quer
as parcelas a ceder à câmara municipal nos termos previstos para a sua gestão.
O RJUE viabiliza esta administração por moradores e grupos de moradores das zonas
loteadas e urbanizadas, através de acordos de cooperação ou de contratos de concessão do
domínio municipal, com sujeição a um prazo de vigência e a fiscalização pela câmara municipal
sobre o respeito pelas regras referentes ao conteúdo do direito de uso privativo, obrigações do
concessionário e do município em matéria de obras, prestação de serviços e manutenção de
infraestruturas, garantias a prestar e modos e termos do sequestro e rescisão170).
O proprietário e os demais titulares de direitos reais sobre o prédio a lotear têm de ceder
gratuitamente ao município as parcelas para implantação de espaços verdes públicos e
equipamentos de utilização coletiva e as infraestruturas que, de acordo com a lei e a licença ou
comunicação prévia, devam integrar o domínio municipal. Por isso, com o pedido de
licenciamento ou comunicação prévia, o requerente deve assinalar as áreas de cedência ao
município em planta a entregar. As parcelas de terreno cedidas ao município integram-se no
domínio municipal com a emissão do alvará ou, nas situações e comunicação prévia, através de
instrumento notarial próprio a realizar no prazo de 20 dias após a receção da comunicação
169Artigo 112.º.
170 O sequestro traduz-se (na expectativa de dificuldade meramente transitórias de cumprimentos do acordo) na substituição
temporária da sua gestão, com posse momentânea por parte da entidade pública de todos os meios usados pelos moradores,
enquanto os gestores particulares não estiverem em condições de desempenhar as suas tarefas normalmente. O resgate, em princípio,
pressupõe ou um interesse público para o município entender dever reassumir diretamente as tarefas de gestão dessas áreas ou a
desconfiança credível sobre a possibilidade de os moradores poderem voltar a desempenhar tais tarefas nos termos acordados.
178 Implicando a emissão de novo alvará e a publicação e submissão a registo deste, a expensas do município.
interessado, conceder uma nova prorrogação (n.º 2, artigo 116.º). O prazo pode também ser
prorrogado se houver alteração da licença ou da comunicação prévia.
Quanto ao contrato de urbanização, se o interessado apresentar proposta de contrato de
urbanização até à aprovação das obras de urbanização, ele pode ser celebrado, estipulando-se
então as obrigações das partes contratantes sobre a execução das obras de urbanização,
responsabilidades a que ficam sujeitas as partes e o prazo de cumprimento) quando a execução
de obras de urbanização envolver, em virtude de disposição legal ou regulamentar ou por força
de convenção, mais de um responsável.
No que concerne às obras de edificação, cabe à câmara municipal fixar as condições da
sua execução ao deferir o pedido de licenciamento ou, no caso das obras sujeitas a comunicação
prévia, através de regulamento municipal. Devendo cumprir-se sempre o regime da gestão de
resíduos de construção e de demolição que se tenha de efetivar. Cabendo ao requerente ou
comunicante propor as condições referentes à ocupação da via pública, colocação de tapumes e
vedações.
Quanto ao prazo, as soluções são idênticas às anteriormente referidas (artigo 58.º).
No caso de procedimentos de licenciamento ou de comunicação prévia de obras quando
respeitem a edifícios contíguos e funcionalmente ligados entre si, que determinem, em termos
urbanísticos, impactes semelhantes a uma operação de loteamento, nos termos a definir por
regulamento municipal, terá de haver a áreas para espaços verdes e de utilização coletiva,
infraestruturas viárias e equipamentos, e os parâmetros para o seu dimensionamento estão
definidos em plano intermunicipal ou municipal de ordenamento do território. E, para aferir se
se respeita esses parâmetros consideram-se as parcelas de natureza privada a afetar a esses fins e
as parcelas a ceder à câmara municipal. Devendo os licenciados ou comunicantes ceder
gratuitamente ao município as parcelas para a sua implantação a integrar no domínio municipal
(artigo 43.º,n.º1 a 3 do artigo 44.º). Se
O município é responsável pelos prejuízos causados aos proprietários dos imóveis, enqudrada
em matéria de atos ilícitos179. A demolição não prejudica os direitos legalmente estabelecidos de
realojamento dos ocupantes. O direito de reversão não pode ser exercido quando os fins das
parcelas cedidas sejam legalmente alterados (n.º 1, artigo 48.º). A gestão das infraestruturas e
dos espaços verdes e de utilização coletiva pode, em muitos aspetos (n.º2, artigo 46.º) ser
confiada a moradores ou a grupos de moradores das zonas loteadas e urbanizadas, mediante a
celebração com o município de acordos de cooperação ou de contratos de concessão do domínio
municipal.
Qualquer interessado pode pedir à câmara municipal, a título prévio, informação sobre a
viabilidade de realizar determinada operação urbanística ou conjunto de operações urbanísticas
diretamente relacionadas, bem como sobre os respetivos condicionamentos legais ou
regulamentares, nomeadamente relativos a infraestruturas, servidões administrativas e restrições
de utilidade pública, índices urbanísticos, cérceas, afastamentos e demais condicionantes
aplicáveis à pretensão.
O interessado pode, em qualquer circunstância, designadamente quando o pedido respeite a
operação de loteamento em área não abrangida por plano de pormenor, ou a obra de construção,
ampliação ou alteração em área não abrangida por plano de pormenor ou operação de
loteamento, requerer que a informação prévia contemple especificamente os seguintes aspetos,
em função da informação pretendida e dos elementos apresentados, a volumetria, alinhamento,
cércea e implantação da edificação e dos muros de vedação; o projeto de arquitetura e memória
descritiva; o programa de utilização das edificações, incluindo a área total de construção a afetar
aos diversos usos e o número de fogos e outras unidades de utilização, com identificação das
áreas acessórias, técnicas e de serviço; as infraestruturas locais e ligação às infraestruturas
gerais; a estimativa de encargos urbanísticos devidos e as áreas de cedência destinadas à
implantação de espaços verdes, equipamentos de utilização coletiva e infraestruturas viárias.
Quando o interessado não seja o proprietário do prédio, o pedido de informação prévia
inclui a identificação daquele bem como dos titulares de qualquer outro direito real sobre o
prédio, através de certidão emitida pela conservatória do registo predial. Neste caso, a câmara
municipal deve notificar o proprietário e os demais titulares de qualquer outro direito real sobre
o prédio da abertura do procedimento.
No âmbito do procedimento de informação prévia, há lugar a consultas externas às
entidades cujos pareceres, autorizações ou aprovações condicionem legalmente a informação a
prestar, sempre que tal consulta seja exigível num eventual pedido de licenciamento ou com a
apresentação de comunicação prévia. Esta pronúncia não incide sobre avaliação de impacte
ambiental.
A câmara municipal deve deliberar sobre o pedido de informação prévia no prazo de 20
dias ou, no caso de requerimento o particular de informação prévia contemplando
especificamente aspetos pormenorizados atrás enunciados (em função da informação pretendida
e dos elementos apresentados), no prazo de 30 dias contados a partir, prazos que se contam da
data da receção do pedido ou dos elementos solicitados na apreciação liminar do requerimento
para suprir deficiências ou da data da receção do último dos pareceres, autorizações ou
aprovações emitidos pelas entidades exteriores ao município, quando tenha havido lugar a
consultas ou, ainda, do termo do prazo para a receção dos pareceres, autorizações ou
aprovações, sempre que alguma das entidades consultadas não se pronuncie até essa data.
179 Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro. Vide o seu enquadramento no respetivo capítulo.
181 Alínea c, n.º 2, artigo 4.º, al. c, n.º2 e n.º5, artigo 24.º; n.º5, artigo 25.º.
A comunicação prévia traduz-se numa declaração que, desde que corretamente instruída
(segundo portaria específica do governo e com junção de termo de responsabilidade subscrito
por técnico legalmente habilitado), permite ao interessado (após o pagamento das taxas devidas,
por autoliquidação, nos termos da regulamentação da assembleia municipal respetiva), com
dispensa da prática de quaisquer outros atos permissivos, proceder imediatamente à realização
de determinadas operações urbanísticas com respeito pelas normas legais e regulamentares
aplicáveis, designadamente as relativas às normas técnicas de construção e o disposto nos
instrumentos de gestão territorial. O prazo de pagamento não pode ser inferior a 60 dias,
contados do termo do prazo para a eventual notificação de despacho de suprimento de
182 Quanto a alterações no interesse público, para a execução de instrumentos de gestão territorial e outros instrumentos urbanísticos,
por iniciativa pública as condições são necessidade, fundamentação, emissão de novo alvará, não oposição dos titulares da maioria
dos lotes, etc.: artigo 48.º.
183 Artigos 53.º, 54.º e 58.º.
O pedido de autorização de utilização deve ser instruído com as telas finais, acompanhadas
de termo de responsabilidade subscrito pelo diretor de obra ou pelo diretor de fiscalização de
obra, no qual aqueles devem declarar que a obra está concluída e que foi executada de acordo
com os projetos de arquitetura e especialidades, bem como com os arranjos exteriores aprovados
e com as condições do respetivo procedimento de controlo prévio e que as alterações efetuadas
ao projeto estão em conformidade com as normas legais e regulamentares que lhe são
aplicáveis. O pedido de autorização de utilização pode ainda ser instruído com termo de
responsabilidade subscrito por pessoa legalmente habilitada a ser autor de projeto, nos termos
do regime jurídico que define a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela
elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção de obra188.
188 Os pedidos de autorização de utilização e de suas alterações são apresentados através da plataforma eletrónica (n.º 1, artigo 8.º-
A), podendo ser utilizado o «Balcão do Empreendedor», para os pedidos relativos à instalação de estabelecimento e suas alterações
de utilização (portaria específica).
189 N.º 2 do artigo 62.º.
190 A data da sua realização é notificada pela câmara municipal ao requerente da autorização de utilização, o qual pode fazer -se
acompanhar dos autores dos projetos e do técnico responsável pela direção técnica da obra, que participam, sem direito a voto, na
vistoria.
devidamente instruído (artigo 63.º, n.º5 do artigo 65.º), o qual é emitido no prazo de cinco dias e
sem a prévia realização de vistoria.
191 O Decreto-Lei n.º 120/2013 de 21 de Agosto, veio aprovar um regime excecional de extensão de prazos (dobro) previstos para a
execução de obras, caducidade de licença ou admissão de comunicação prévia e a apresentação de requerimento do respetivo alvará
de licenciamento ou de autorização de utilização, previstos nos artigos 58.º, 59.º, 71.º e 76.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de
dezembro.
192 N.º 3 do artigo 76.º.
193 Alínea g) do n.º 1 do artigo 77.º.
194 Alíneas b) a e) do n.º 2, n.º 4 do artigo 4.º.
O abandono das obras ou trabalhos por período superior a seis meses presume-se sempre
que eles se encontrem suspensos, sem motivo justificativo registado no livro de obra; decorram
na ausência do diretor da obra ou se desconheça o paradeiro do titular da respetiva licença ou
comunicação prévia sem que este haja indicado à câmara municipal procurador bastante que o
represente195.
A caducidade, nestas situações, deve ser declarada pela câmara municipal, verificadas as
situações-pressuposto, mas só depois de audiência prévia do interessado.
O titular de licença ou comunicação prévia que haja caducado pode requerer nova licença
ou apresentar nova comunicação prévia. Neste caso, serão utilizados no novo processo os
elementos que instruíram o processo anterior desde que o novo requerimento seja apresentado
no prazo de 18 meses a contar da data da caducidade ou, se este prazo estiver esgotado, não
existirem alterações de facto e de direito que justifiquem nova apresentação.
direitos. Nos casos a que se refere o n.º 2 do artigo 105.º, a licença pode ser revogada pela
câmara municipal decorrido o prazo de seis meses a contar do termo do prazo estabelecido de
acordo com o n.º 1 do mesmo artigo.
XXX
As operações urbanísticas objeto de licenciamento são tituladas por alvará, cuja emissão é
condição de eficácia da licença. O requerimento de emissão de alvará só pode ser indeferido
com fundamento na caducidade, suspensão, revogação, anulação ou declaração de nulidade da
licença, na caducidade ou cassação do título da comunicação prévia ou na falta de pagamento
das taxas.
A comunicação prévia relativa a operações urbanísticas é titulada pelo comprovativo
eletrónico da sua apresentação emitido pela plataforma eletrónica referida, acompanhado do
documento comprovativo do pagamento das taxas e, no caso de operações de loteamento, é
titulada, ainda, por documento comprovativo da prestação de caução e da celebração do
instrumento notarial (n.º 3 do artigo 44.º) ou por declaração da câmara municipal relativa à sua
inexigibilidade. A autorização de utilização dos edifícios é titulada por alvará.
Cabe ao presidente da câmara municipal emitir o alvará para a realização das operações
urbanísticas, podendo delegar esta competência nos vereadores, com faculdade de
subdelegação, ou nos dirigentes dos serviços municipais.
O interessado deve, no prazo de um ano a contar da data da notificação do ato de
licenciamento ou da autorização de utilização, requerer a emissão do respetivo alvará,
apresentando para o efeito os elementos previstos em portaria aprovada pelo membro do
Governo responsável pelo ordenamento do território. Pode ainda o presidente da câmara
municipal, a requerimento fundamentado do interessado, conceder prorrogação, por uma única
vez, do prazo previsto no número anterior.
No caso de operação de loteamento que exija a realização de obras de urbanização, é
emitido um único alvará, que deve ser requerido no prazo de um ano a contar da comunicação
prévia das obras de urbanização. Sem prejuízo do disposto sobre a concessão da autorização de
utilização (artigo 64.º) e sobre a realização da vistoria (artigo 65.º), o alvará é emitido no prazo
de 30 dias a contar da apresentação do requerimento ou da receção dos elementos referentes ao
suprimentos de deficiências da instrução inicial do requerimento, desde que pagas as taxas
devidas. No caso de substituição do titular de alvará de licença, o substituto deve disso fazer
prova junto do presidente da câmara para que este proceda ao averbamento no prazo de 15 dias
a contar da data da substituição. A titularidade do alvará de autorização de utilização de
edifícios ou frações autónomas é transmitida automaticamente com a propriedade a que respeita.
O alvará ou o título da comunicação prévia é cassado pelo presidente da câmara municipal
quando a licença caduque, seja revogada, anulada ou declarada nula ou a comunicação prévia
caduque, não cumpra as normas legais ou regulamentares aplicáveis, não tenha sido antecedida
dos pareceres, autorizações ou aprovações legalmente exigidos ou não se conforme com os
mesmos.
A execução das obras e trabalhos sujeitos a licença só pode iniciar-se depois de emitido o
alvará, com exceção das situações referidas no artigo seguinte e salvo os casos de deferimento
tácito. As obras e os trabalhos sujeitos ao regime da declaração de comunicação prévia
devidamente instruída podem iniciar-se.
A) -Sancionamento jurídico
anulação ou declaração de nulidade resulte de uma conduta ilícita dos titulares dos seus órgãos
ou dos seus funcionários e agentes. Para estes efeitos são solidariamente responsáveis o titular
do órgão administrativo singular que haja praticado os atos ao abrigo dos quais foram
executadas ou desenvolvidas as operações urbanísticas referidas sem que tivesse sido
promovida a consulta de entidades externas ou em desrespeito do parecer, autorização ou
aprovação emitidos, quando vinculativos; os membros dos órgãos colegiais que tenham votado
a favor desses atos; os trabalhadores que tenham prestado informação favorável à prática do ato
de controlo prévio ilegal, em caso de dolo ou culpa grave (direito de regresso, na medida em
que a Administração tenha pago); os membros da câmara municipal quando não promovam as
medidas necessárias à reposição da legalidade (n.º 8 do artigo 35.º), também em caso de dolo ou
culpa grave, devendo entender-se como tal o desprezo sem análise séria de posições que lhes
foram representadas contra a prática dos atos quer por outros membros dos órgãos, funcionários,
juristas ou particulares).
201 Consideram-se promotor a pessoa jurídica, pública ou privada, seja ou não proprietária dos terrenos relativamente aos quais se
refere a operação urbanística, que é responsável pela sua execução ou desenvolvimento; b) O proprietário do imóvel no qual foram
executadas ou desenvolvidas operações urbanísticas, quando tenha tido conhecimento das obras, trabalhos, edificações, usos e
utilizações ilícitos, presumindo-se tal conhecimento, salvo prova em contrário, quando o proprietário tenha permitido, por qualquer
ato, ao responsável direto da violação o acesso à utilização do imóvel.
Considera-se empreiteiro a pessoa jurídica, pública ou privada, que exerce a atividade de execução das obras de edificação e
urbanização e se encontre devidamente habilitada pelo InCI, I. P. As pessoas coletivas são responsáveis pelas infrações cometidas
pelos seus órgãos, funcionários e agentes.
O presidente da câmara municipal, para além dos casos especialmente previstos no RJUE,
pode ainda ordenar a realização de vistorias aos imóveis em que estejam a ser executadas
operações urbanísticas se o exercício dos poderes de fiscalização dependerem da prova de factos
que, pela sua natureza ou especial complexidade, impliquem uma apreciação valorativa de
caráter pericial. As suas conclusões são obrigatoriamente seguidas na decisão a tomar. Elas são
efetivadas por três técnicos a nomear pela câmara municipal, dois dos quais com habilitação
legal para ser autor de projeto, correspondentes à obra objeto de vistoria, segundo o regime da
qualificação profissional dos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos,
202Através de contratos com observância das regras constantes de decreto regulamentar, de onde constam o âmbito das obrigações a
assumir pelas empresas, o respetivo regime da responsabilidade e as garantias a prestar
203 Isto, sem prejuízo da responsabilidade civil, criminal ou disciplinar. Quanto à culpa que é, “por força da lei, um elemento
constitutivo da contraordenação, diferenciado da tipicidade e da ilicitude”, ela “analisa-se na possibilidade de um juízo de censura
ou de reprovação da conduta do agente, por, em face das circunstâncias, poder e dever agir de outro modo”. Em processo de
contraordenação fiscal (alínea a, n.º 1, artigo 379.º e n.º 2, artigo 374.º, do Código de Processo Penal [aplicáveis face à L ei-Quadro
das Contraordenações: artigo 41.º, Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro), uma sentença é nula se cometer omissão de pronúncia
quanto à questão da “ilicitude, culpa e gravidade da conduta da arguida serem nulas ou, pelo menos, de baixa intensidade” (Acórdão
do STA, proferido em 26.4.2007, no proc. n.º1168/06 (relator Jorge Lino).
204 Acórdão da Relação de Lisboa de 30.5.2011, Proc. 301/09.2TFLSB.L1-5, Relator Neto de Moura.
205 Acórdão da Relação de Coimbra de 27.10.2010, Proc. 94/10.0TACNT.C1, Relator Orlando Gonçalves. Aqui se decidiu que o
facto de alguém obter licença municipal para a edificação em prédio rústico de um telheiro com 24 m2, numa área edificada que
totaliza cerca de 55 m2, “destinado exclusivamente a arrumos e anexos”, comete contraordenação (alíneas a) e d), o artigo 98º do
RJUE), no caso de, depois, vir a utilizar essa construção para o “alojamento de um animal de raça equídea”.
206 Nos termos do disposto no art.º 122.º, n.º 1, todos do CPP. Vide Acórdão do STA, proferido em 30-11-2004, no proc. n.º 0707/04
com o art.º 254.º, n.º6, do CPC (“aplicável em processo de contraordenações face ao disposto no art.º. 41.º do regime jurídic o das
contraordenações, na medida em que constitui preceito regulador do processo penal, ex vi do art. 4.º do CPP, uma vez que nem o
regime jurídico das contraordenações, nem o CPP dispõem de norma que regule o regime da presunção estabelecida no nº2 do art.
113.º do CPP”): Acórdão da Relação de Évora de 10.5.2011, Proc. 2419/10.0TASTB.E1, Relator António João Latas.
O prazo para recorrer da decisão administrativa que aplica coima por uma infração
contraordenacional é de 20 dias a contar da sua notificação, suspendendo-se aos sábados,
domingos e feriados”221. O prazo do regime geral das contraordenações para interposição do
recurso da decisão de coima não é um prazo judicial, pelo que não se lhe aplica o art.º 144.º, n.º
216 CONDESSO, F. –Direito do Urbanismo. Lisboa, Quid Juris, 1999. Pp.275 e ss.
217 Pelo que não está sujeita a licença administrativa a composição de um barracão de madeira, numa área aproximada de 60 m2,
constituído por diversas construções adquiridas como se se tratassem de abrigos de jardim, que foram colocados de forma
justaposta, alguns dos quais com ligação interna, os quais se encontram apoiados sobre um estrado de madeira e este, por sua vez,
sobre vigas colocadas sobre o solo: Acórdão da Relação de Évora de 24.5.2011, Proc. 1070/09.1TBLLE.E1, Relator Edgar Valente.
218 Acórdão do STA proferido em 17.11.2010, no proc. n.º556/10 (relator Pimenta do Vale)
219 Acórdão de uniformização de jurisprudência nº2/94, de 10 de Março de 1994 (D.R., Iª Série de 7 de Maio de 1994). Vide
3, do Código do Processo Civil, mas sim o art.º 279.º deste Código”. E, sendo vários os arguidos
que sejam condenados numa coima, a pagar solidariamente por eles, o prazo de recurso a que se
alude no art.º 59.º, n.º 3), só começa a correr depois de efetuada a notificação do último (n.º 4,
do art.º 47.º, RGCO)222.
Em matéria de direito sancionatório, “vale o princípio constitucional da aplicação do
regime globalmente mais favorável ao infrator”, pois, “embora apenas previsto expressamente
para as infrações criminais” (art.º 29.º, n.º 4, da C.R.P.), deve ser aplicado “analogicamente aos
outros direitos sancionatórios” e, por isso, “para além de nunca poder ser aplicável uma lei
sobre prescrição mais gravosa para o arguido do que a vigente no momento da prática da
infração, será mesmo aplicável retroativamente o regime que, globalmente, mais favoreça o
infrator”223.
A atenuação especial da coima exige a verificação cumulativa de dois pressupostos, a
saber: o reconhecimento da sua responsabilidade por parte do infrator e a regularização da
situação infracional até à decisão do processo224. A falta de formulação de conclusões na
motivação de recurso, por via do qual se intenta impugnar a decisão da autoridade
administrativa que aplicou uma coima, só implica a rejeição do recurso se o recorrente,
previamente convidado a efetuar tal formulação, o não fizer 225.
Em processo de contraordenação, constitui nulidade insuprível, a falta de indicação, na
decisão de aplicação de coima, dos elementos que contribuíram para a sua fixação, pelo que não
satisfaz aquele requisito a remissão para uma informação que consta do processo de
contraordenação226. No entanto, uma declaração de nulidade insuprível consequente a esse
facto, ou seja, em geral à falta de descrição sumária dos factos base do ato, não leva à
absolvição da instância, existindo jurisprudência que entende que tal implica apenas “a remessa
do processo à Administração, para possível sanação daquela irregularidade e renovação do ato
sancionatório que ao caso caiba” 227.
No caso de ratificação judicial de embargo de obra nova, a ocorrência do requisito legal
“obra nova não concluída” tem de estar verificado “na ocasião da notificação verbal” (nº 2 do
artigo 412º, do CPC), e “não na data em que o respetivo requerimento judicial de ratificação
entrou em juízo ou noutra data posterior”.
Com efeito, a “lei, no caso de embargo de obra nova (ou respetiva ratificação judicial),
contenta-se com a verificação de um dano jurídico, bastando, pois, que o facto tenha a feição de
ilícito porque contrário à ordem jurídica concretizada num direito de propriedade (numa posse
ou fruição legal) para que haja de considerar-se prejudicial para os efeitos de tal embargo de
obra nova”. Foi expressamente afastado pela lei o princípio da proporcionalidade, previsto para
o procedimento cautelar comum, no que respeita ao decretamento (ou ratificação) de embargo
de obra nova, conforme decorre do texto do art.º 392.º, n.º 1, do CPC”228.
O embargo extrajudicial, consistente no simples aviso verbal dirigido ao responsável da
obra para a não continuar, como intimação meramente verbal e produzida particularmente pelo
interessado na presença de duas testemunhas, não carece, para ser válida e eficaz, de ser
reduzida a qualquer documento escrito, que a descreva”.
222 Acórdão do STA, proferido em 22.2.1996, no proc. n.º10551 (relator Benjamim Rodrigues), Acórdão do STA, proferido em
20.1.1993, no proc. n.º14557 (relator Rodrigues Pardal)
223 Acórdão do STA, proferido em 30.11.2004, no proc. n.º1017/04 (relator Jorge Lopes de Sousa)
224 Acórdão do STA proferido em 2.7.2008, no proc. n.º331/08 (relator Miranda de Pacheco)
225 Acórdão n.º 265/01, do Plenário do TC, proferido em 19.6.2001, no proc. n.º 213/2001 (relator Bravo Serra) Acórdão n.º 265/01,
do Plenário do TC, proferido em 19.6.2001, no proc. n.º 213/2001 (relator Bravo Serra) . O ATC declara com força obrigatória geral
a inconstitucionalidade de uma interpretação diferente que pretendesse partir (em violação do n.º10, do art.º 32.º, em conjugação
com o n. 2, do art.º 18.º,ambos da CRP), da norma que resulta das disposições conjugadas constantes do n.º3 do art.º 59.º e d o n.º 1
do art.º 63.º do DL 433/82, de 27.10.
226 Acórdão do STA, proferido em 22.2.2006, no proc. n.º834/05 (relator Pimenta do Vale.
227 Acórdão do STA, proferido em 17.1.2007, no proc. n.º1124/06 (relator Jorge Lino.
228 Acórdão da Relação de Coimbra de 2.11.2010, Proc. 77/10.0TBAGN.C1, Relator Moreira do Carmo.
Trata-se de uma opção ao dispor do embargante que tenha especial urgência em obter
aquela sustação (artigo 412º, nº 2, do Código de Processo Civil). A junção, pelo embargante, de
uma informação elaborada por polícia municipal onde este escreve ter-lhe sido dito pelo
advogado daquele que o embargo ficara sem efeito e que as partes haviam chegado a acordo,
não justifica o indeferimento liminar do requerimento inicial do pedido de ratificação judicial do
embargo (artigo 412º, nº 3, do Código de Processo Civil) 229.
O campo de aplicação dos art.os 59.º (altura de qualquer edificação) e 60.º (distância
mínima entre fachadas de edificações) do RGEU230 restringe-se às fachadas principais das
edificações, regendo para as laterais o art.º 73º (janelas dos compartimentos das habitações) 231.
Para além dos interesses públicos que pretendem salvaguardar, existem normas do PDM que
têm também em vista a proteção dos interesses particulares. A violação dos direitos à
salubridade e à insolação, decorrente da edificação de um pavilhão com altura máxima superior
ao previsto no PDM, confere aos ofendidos o direito de fazerem diretamente o embargo de obra
nova por via extrajudicial232.
O presidente da câmara municipal é competente, sem prejuízo das competências de outras
entidades, para embargar obras de urbanização, de edificação, de demolição e quaisquer
trabalhos de remodelação de terrenos 233, quando estejam a ser executados sem a necessária
licença ou comunicação prévia ou desconformes quer com projeto ou condições do
licenciamento ou comunicação prévia (exceto em caso de Alterações legalmente admitidas –
comunicadas previamente em tempo ou isentas de controlo - durante a execução da obra nos
termos do artigo 83.º) quer com normas legais e regulamentares aplicáveis 234.
229 Acórdão da Relação de Lisboa, de 14.1.2011, Proc. 2235/10.9TJLSB.L1-7, Relator Luís Lameiras.
230 Artigo 59.º: A altura de qualquer edificação será fixada de forma que em todos os planos verticais perpendiculares à fachada
nenhum dos seus elementos, com excepção de chaminés e acessórios decorativos, ultrapasse o limite definido pela linha recta a 45º,
traçada em cada um desses planos a partir do alinhamento da edificação fronteira, definido pela intersecção do seu plano com o
terreno exterior. § 1º Nas edificações construídas sobre terrenos em declive consentir-se-á, na parte descendente a partir do referido
plano médio, uma tolerância de altura até ao máximo de 1,50m. §2º Nos edifícios de gaveto formado por dois arruamentos de lar gura
ou de níveis diferentes, desde que se não imponham soluções especiais, a fachada sobre o arruamento mais estreito ou mais baixo
poderá elevar-se até à altura permitida para o outro arruamento, na extensão máxima de 15 metros. § 3º Nas edificações que ocupem
todo o intervalo entre dois arruamentos de larguras ou níveis diferentes, salvo nos casos que exijam soluções especiais, as alturas das
fachadas obedecerão ao disposto neste artigo. § 4º Em caso de simples interrupção de continuidade numa fila de construções po derá
o intervalo entre as duas edificações confinantes ser igual à média das alturas dessas edificações, sem prejuízo, no entanto, do
disposto no artigo 60º. Acórdão da Relação de Lisboa, de 10.5.2011, Proc. 987/10.5TBALQ.L1 -1, Relator Manuel Marques: O
campo de aplicação dos art.os 59.º e 60.º do RGEU restringe-se às fachadas principais das edificações, regendo para as laterais o art.
73º. 2.Para além dos interesses públicos que pretendem salvaguardar, existem normas do PDM que têm também em vista a protecçã o
dos interesses particulares. 3. A violação dos direitos à salubridade e à insolação, decorrente da edificação de um pavilhão com altura
máxima superior ao previsto no PDM, confere aos ofendidos o direito de fazerem directamente o embargo de obra nova por via
extrajudicial.Acórdão da Relação de Lisboa de 10.5.2011; Proc. 987/10.5TBALQ.L1-1, Relator Manuel Marques: 1.O campo de
aplicação dos arts. 59.º e 60.º do REGEU restringe-se às fachadas principais das edificações, regendo para as laterais o art. 73.º.2.
Para além dos interesses públicos que pretendem salvaguardar, existem normas do PDM que têm também em vista a protecção dos
interesses particulares.3.A violação dos direitos à salubridade e à insolação, decorrente da edificação de um pavilhão com altura
máxima superior ao previsto no PDM, confere aos ofendidos o direito de fazerem directamente o embargo de obra nova por via
extrajudicial. Artigo 60.º:”Independentemente do estabelecido no artigo anterior, a distância mínima entre fachadas de edificações
nas quais existam vãos de compartimentos de habitação não poderá ser inferior a 10 metros. § único. Tratando-se de arruamentos já
ladeados, no todo ou na maior parte, por edificações, as câmaras municipais poderão, sem prejuízo do que esteja previsto em plano
de urbanização aprovado, estabelecer alinhamentos com menor intervalo, não inferior, contudo, ao definido pelas construções
existentes”.
231 Artigo 73.º:”As janelas dos compartimentos das habitações deverão ser sempre dispostas de forma que o seu afastamento de
qualquer muro ou fachada fronteiros, medido perpendicularmente ao plano da janela e atendendo ao disposto no artigo 75.º, não seja
inferior a metade da altura desse muro ou fachada acima do nível do pavimento do compartimento, com o mínimo de 3 metros. Além
disso não deverá haver a um e outro lado do eixo vertical da janela qualquer obstáculo à iluminação a distância inferior a 2 metros,
devendo garantir-se, em toda esta largura, o afastamento mínimo de 3 metros acima fixado”.
232 Acórdão da Relação de Lisboa de 10.5.2011, Proc. 987/10.5TBALQ.L1-1, Relator Manuel Marques.
233 O auto da ordem de embargo, imediato lavrado e notificado às pessoas identificadas (e depois reproduzido no prazo de cinco dias
úteis no sistema informático), deve conter, além do mais, as razões de facto e de direito que o justificam, o estado da obra e a
indicação da ordem de suspensão e proibição de prosseguir a obra, prazo e cominações legais para incumprimento. Se a ordem de
embargo incidir só em parte da obra, o auto de embargo parcial, tem de identificar a parte que se encontra embargada.
234 A notificação é feita ao responsável pela direção técnica da obra, bem como ao titular do alvará de licença ou apresentante da
comunicação prévia e, quando possível, ao proprietário do imóvel no qual estejam a ser executadas as obras ou seu representante,
sendo suficiente para obrigar à suspensão dos trabalhos qualquer dessas notificações ou a de quem se encontre a executar a obra no
local.
235 É interdito o fornecimento de energia elétrica, gás e água às obras embargadas, devendo para o efeito ser notificado o ato que o
reais sobre o imóvel por carta registada com aviso de receção. A posse administrativa é realizada pelos funcionários municipais
responsáveis pela fiscalização de obras, mediante a elaboração de um auto onde, para além de se identificar o ato referido no
número anterior, é especificado o estado em que se encontra o terreno, a obra e as demais construções existentes no local, bem como
os equipamentos que ali se encontrarem. Tratando-se da execução coerciva de uma ordem de embargo, os funcionários municipais
responsáveis pela fiscalização de obras procedem à selagem do estaleiro da obra e dos respetivos equipamentos. Em casos
devidamente justificados, o presidente da câmara pode autorizar a transferência ou a retirada dos equipamentos do local de
realização da obra, por sua iniciativa ou a requerimento do dono da obra ou do seu empreiteiro. O dono da obra ou o seu empreiteiro
devem ser notificados sempre que os equipamentos sejam depositados noutro local.
238 Quando aquelas quantias não forem pagas voluntariamente no prazo de 20 dias a contar da notificação para o efeito, são cobradas
judicialmente em processo de execução fiscal, servindo de título executivo certidão, passada pelos serviços competentes,
comprovativa das despesas efetuadas, podendo ainda a câmara aceitar, para extinção da dívida, dação em cumprimento ou em
função do cumprimento nos termos da lei.
239 Artigo 348.º, Código Penal.
240 Alíneas e) e f) do n.º 1 do artigo 98.º.
241 Artigo 256.º do Código Penal.
242 Artigo 112.º
243 Artigo 110.º - Direito à informação Artigo 111.º - Silêncio da Administração Artigo 112.º - Intimação judicial para a prática de
ato legalmente devido Artigo 113.º - Deferimento tácito Artigo 114.º - Impugnação administrativa Artigo 115.º - Ação
administrativa especial
244 N.4 a 6 do artigo 95.º (Objeto e limites da decisão) do Código de Processo nos Tribunais Administrativos.
245 Ou nos termos gerais do artigo 169.º ou nos termos concomitantes da decisão e sem mais, previsto no RJUE.
246 Artigo 169.º (Sanção pecuniária compulsória).
considere necessárias antes de proferir a sentença. O recurso desta decisão tem efeito
meramente devolutivo.
Decorrido o prazo fixado pelo tribunal sem que se mostre praticado o ato devido, o
interessado pode prevalecer-se do deferimento tácito247.
Tratando-se de aprovação do projeto de arquitetura, o interessado pode juntar os projetos
das especialidades e outros estudos ou, caso já o tenha feito no requerimento inicial, inicia-se a
contagem do prazo de 45 dias (alínea c) do n.º 1 do artigo 23.º)
Os pareceres expressos que sejam emitidos por órgãos da administração central no âmbito
dos procedimentos regulados no RJUE podem ser objeto de impugnação administrativa
autónoma.
A impugnação de todos os atos praticados ou dos pareceres emitidos ao abrigo deste RJUE
deve ser decidida no prazo de 30 dias, findo o qual se consideram deferida.
proporcional, atendendo aos interesses públicos e privados em presença, pode recorrer-se aos
regimes de expropriação ou de venda forçada 260.
desde o Orçamento do Estado para 2009, Estatuto dos Benefícios Fiscais 262 e, ainda, a exclusão
da reabilitação urbana dos limites do endividamento municipal.
O atual regime jurídico da reabilitação urbana procura responder à necessidade de
encontrar soluções para os seus cinco grandes desafios.
São eles a articulação do dever de reabilitação por parte dos proprietários e a
responsabilidade pública de qualificar e modernizar o espaço, os equipamentos e as
infraestruturas dessas áreas, a garantia da complementaridade e coordenação entre os atores
implicados (concentrando recursos em operações integradas de reabilitação nas “áreas de
reabilitação urbana», a delimitar pelos municípios e onde se intensificam os apoios fiscais e
financeiros), a diversificação dos modelos de gestão das intervenções (abrindo-se, para isso, a
possibilidade de intervenção dos proprietários e de outros agentes particulares), a criação de
mecanismos de agilização de procedimentos de controlo prévio destas operações) e a ampliação
de instrumentos para equilibrar os direitos dos proprietários e a necessidade de remover os
obstáculos à reabilitação, ligados à estrutura de propriedade.
O atual quadro legislativo tem apresentado um carácter disperso e assistemático, tratando,
essencialmente, da disciplina das áreas de intervenção das sociedades de reabilitação urbana
(SRU263) e da figura das áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística (ACRRU264).
Por isso, o objetivo central deste regime é abandonar o regime anterior que se reportava
essencialmente a um modelo de gestão das intervenções de reabilitação assente na criação,
funcionamento, atribuições e poderes das “sociedades de reabilitação urbana”, e instituir um
novo regime enquadrador no plano normativo da reabilitação urbana ao “nível programático,
procedimental e de execução”. E, complementarmente, associar à delimitação das áreas de
intervenção (as “áreas de reabilitação urbana») a definição municipal dos objetivos da
reabilitação da área delimitada e dos meios adequados para o efeito.
Em geral, este regime recebe um conceito amplo de reabilitação urbana. E atribui relevo
simultaneamente à vertente imobiliária ou patrimonial da reabilitação e também à integração e
coordenação da intervenção. Procede-se à definição dos objetivos essenciais a alcançar através
da reabilitação urbana, e à determinação dos princípios a aplicar em ordem a se conseguirem
soluções coerentes entre os “aspetos funcionais, económicos, sociais, culturais e ambientais das
áreas em presença.
262 Aprovados, respetivamente, pela Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro, e pelo Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de Julho.
263 Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de Maio. Tendo, como conteúdo, uma “unidade de intervenção com documento estratégico
aprovado e, como território, um “unidade de intervenção”.
264 Capítulo XI da Lei dos Solos, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 794/76, de 5 de Novembro.
265 Decreto-Lei n.º307/2009, de 23 de Outubro, aprovado no uso da autorização concedida pela Lei n.º 95 -A/2009, de 2 de
Procurou-se, desde logo, regular de forma mais clara os procedimentos a que deve
obedecer a definição de áreas a submeter a reabilitação urbana, bem como a programação e o
planeamento das intervenções a realizar nessas mesmas áreas.
A delimitação de área de reabilitação urbana, pelos municípios, pode ser feita através de
instrumento próprio, precedida de parecer do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana ou
por via da aprovação de um plano de pormenor de reabilitação urbana, correspondendo à
respetiva área de intervenção.
266Já previstos no regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial, desde o Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, e hoje
constantes do Decreto-Lei n.º80/2015, de 14 de maio.
Neste âmbito, há deveres quer das administrações públicas, quer dos particulares. Ao
Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais incumbe assegurar a promoção das medidas
necessárias à reabilitação de áreas urbanas que necessitem disso 267.
Os proprietários de edifícios ou de frações têm a obrigação de proceder à reabilitação,
realizando todas as obras necessárias à manutenção ou reposição da sua segurança, salubridade
e arranjo estético, além do mais que se imponha para cumprir o RJRU, pelo que, quer estes
quer os titulares de outros direitos, ónus e encargos sobre edifício ou frações não podem, dolosa
ou negligentemente, provocar ou agravar uma situação de falta de segurança ou de salubridade,
provocar a sua deterioração ou prejudicar o seu arranjo estético268.
Por outro, também tem um papel a desempenhar no que concerne à defesa do património
cultural e ambiente:
- a proteção e promoção da valorização do património cultural, com a defesa de valores
patrimoniais, materiais e simbólicos como fatores de identidade, diferenciação e
competitividade urbana
- a promoção da sustentabilidade ambiental, cultural, social e económica dos espaços
urbanos, designadamente com a requalificação de espaços verdes, espaços urbanos e
equipamentos de utilização coletiva;
integrada em vários imóveis que permita uma utilização racional dos recursos disponíveis e a
criação de economias de escala.
O ato de delimitação de unidades de intervenção inclui um programa de execução.
Este deve, nomeadamente explicar sumariamente os fundamentos subjacentes à
ponderação dos diversos interesses públicos e privados relevantes.
E tem de identificar os edifícios a reabilitar, o seu estado de conservação e a extensão das
intervenções a efetivar. Deve identificar os proprietários e titulares de outros direitos, ónus e
encargos, ou então, se for o caso, mencionar que eles são desconhecidos. Tem de definir e
calendarizar as várias ações de reabilitação urbana a adotar no âmbito da unidade de
intervenção, distinguindo, nomeadamente, as que têm por objeto os edifícios, as infraestruturas
urbanas, os equipamentos, os espaços urbanos e verdes de utilização coletiva e as atividades
económicas.
Oura exigência prende-se com a enunciação do financiamento da operação no âmbito da
unidade de execução e a especificação do regime de execução dessa operação a utilizar na
unidade de intervenção.
270 Artigo 36.º. Estas podem ser sociedades de reabilitação urbana regidas pelo Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de maio. No caso da
entidade gestora delegatária ser apenas uma empresa do setor empresarial local, o cabe ao município delegar nesta entidade os seus
poderes, que devem acompanhar a estratégia de reabilitação urbana ou do programa estratégico de reabilitação urbana,
presumindo-se delegados os poderes referentes ao desenvolvimento dos procedimentos de licenciamento e de comunicação prévia
de operações urbanísticas compreendidas nas ações de reabilitação de edifícios ou frações localizados em área de reabilitação
urbana e no licenciamento e admissão de comunicação prévia de operações urbanísticas e autorização de utilização, adoção de
medidas de tutela da legalidade urbanística, cobrança de taxas e receção das cedências ou compensações devidas, a menos que haja
indicação em contrário constante da estratégia de reabilitação urbana ou do programa estratégico de reabilitação urbana. Esta s
entidades do setor empresarial local delegatárias ficam investidas nas funções de entidade gestora e nos poderes qu e lhes sejam
delegados, desde o início da vigência da área de reabilitação urbana e cabe-lhes diretamente emitir diretrizes ou instruções
relativamente às operações de reabilitação urbana assim como definir as modalidades de verificação do cumprimento das ordens ou
instruções que emita. No caso de serem empresas municipais, o regime jurídico aplicável é a Lei n.º 53-F/2006, de 29.12, com as
alterações das Leis n.os 67-A/2007, de 31.12, 64-A/2008, de 31.12, e 55/2011, de 15.11.
No caso de a câmara municipal pretender que seja uma empresa municipal a assumir a
qualidade de entidade gestora, deve designá-la no ato de aprovação da operação de reabilitação
urbana.
Estas empresas municipais podem assumir as funções de entidade gestora em mais do que
uma operação de reabilitação urbana sistemática e cumular a gestão de uma ou mais operações
de reabilitação urbana simples.
Se as obras de execução das operações necessárias incidirem sobre bens do domínio
municipal, público ou privado, o município passa a ser representado pela entidade gestora no
exercício dos direitos referentes a esses bens.
Estas sociedades têm de ser extintas logo que concluídas todas as operações de
reabilitação urbana a seu cargo, se ocorrer a caducidade da delimitação da área ou de todas as
áreas de reabilitação urbana em que a sociedade de reabilitação urbana opera ou estão a seu
cargo.
subscrito por técnico legalmente habilitado atestando que estão verificados os requisitos legais para a constituição da propriedade
horizontal, acompanhado de comprovativo da sua apresentação ao município ou à entidade referida na alínea b) do n.º 1 do artigo
10.º, quando for aplicável, vale como documento comprovativo de que as frações autónomas satisfazem os requisitos legais, para os
efeitos do disposto no artigo 59.º do Código do Notariado.2-O termo de responsabilidade referido no número anterior deve: a)
Identificar o titular da autorização de utilização; b) Identificar o edifício e as frações autónomas, bem como as respetivas áreas; c)
Indicar o fim a que se destinam as frações autónomas; d) Declarar que estão cumpridos os requisitos legais para a constituição da
propriedade horizontal.3-O modelo do termo de responsabilidade referido nos números anteriores é aprovado por portaria dos
membros do Governo responsáveis pelas áreas das autarquias locais, da economia e do ordenamento do território. 4 -Quando a
entidade gestora for uma de entre as mencionadas na alínea b) do n.º 1 do artigo 10.º, o termo de responsabilidade e o comprovativo
da sua apresentação são disponibilizados ao município por meios eletrónicos.
pelo Código dos Contratos Públicos, com entidades públicas ou privadas, para procederem à
elaboração, coordenação e execução de projetos de reabilitação numa ou em várias unidades de
intervenção ou de execução.
O contrato pode prever a transferência para a entidade contratada dos direitos de
comercialização dos imóveis reabilitados e de obtenção dos proventos e, nomeadamente, a
aquisição do direito de propriedade ou a constituição do direito de superfície sobre os bens a
reabilitar por esta, ou a atribuição de um mandato para a venda destes bens por conta da
entidade gestora.
Estes contratos devem regular a transferência para a entidade contratada da obrigação de
aquisição dos prédios existentes na área em questão se essa aquisição se puder efetivar por via
amigável, devendo o contrário ser comprovado por meios previstos no regime geral das
expropriações no que concerne à preparação dos processos expropriativos que se revelem
necessários para aquisição da propriedade pela entidade gestora. E deles devem constar a
repartição dos encargos decorrentes das indemnizações devidas pelas expropriações.
Os contratos enunciarão ainda:
- a obrigação de preparar os projetos de operações urbanísticas, a submeter a controlo
prévio, de os submeter a controlo prévio, de promover as operações urbanísticas compreendidas
nas ações de reabilitação e de requerer as devidas autorizações de utilização;
- os prazos em que as diferentes obrigações devem ser cumpridas;
- as contrapartidas a pagar pelas partes contratantes (em espécie ou em dinheiro);
- o cumprimento do dever de procurar chegar a acordo com os proprietários interessados
na reabilitação do respetivo edifício ou fração sobre os termos da reabilitação dos mesmos e a
cessão da posição contratual da entidade gestora a favor da entidade contratada, no caso de
aquela ter já chegado a acordo com os proprietários, impendente sobre a entidade contratada;
- o dever de a entidade gestora ou da entidade contratada proceder ao realojamento
temporário ou definitivo dos habitantes dos edifícios ou frações a reabilitar, atento o disposto
sobre os direitos dos ocupantes de edifícios ou frações 279; e
- as garantias de boa execução do contrato a prestar pela entidade contratada.
No que diz respeito aos instrumentos de execução destas operações, importa analisar os
poderes relativos ao seu controlo280.
A entidade gestora da operação pode exercer, para efeitos da sua execução, os poderes de
licenciamento e admissão de comunicação prévia de operações urbanísticas e autorização de
utilização, inspeções e vistorias, adotar medidas de tutela da legalidade urbanística, cobrança de
taxas e receção das cedências ou compensações devidas.
Se não for o município a assumir as funções de entidade gestora da área de reabilitação, a
entidade gestora apenas exerce os poderes delegados pelo município. Mas, se for necessário,
pode requerer diretamente ao órgão municipal o exercício dos demais.
No caso da delegação de poderes, o órgão executivo da entidade gestora pode subdelegar
no seu presidente as competências que, de acordo com o disposto no regime jurídico da
urbanização e da edificação, são diretamente cometidas ao presidente da câmara municipal ou
neste delegáveis pela câmara municipal.
Estes poderes devem respeitar as pertinentes normas sobre a matéria, designadamente a
obrigação de consulta a entidades externas, proteção do existente, responsabilidade e qualidade
da construção.
urbana têm de observar o RJUE (artigo 10.º: termo de responsabilidade) e os regimes jurídicos
sobre a qualificação exigível aos técnicos 281.
Quanto ao controlo prévio destas operações urbanísticas, em tudo que não esteja regulado
no RJRU, regem os procedimentos de licenciamento e de comunicação prévia disciplinadas no
RJUE.
281 Os responsáveis pela coordenação, elaboração e subscrição de projeto, pelo desempenho das funções de direção de fiscalização
de obra, incluindo os deveres e responsabilidades a que estão sujeitos, e ainda o exercício da atividades ligadas à construção e a
outras profissões envolvidas nas operações urbanísticas de reabilitação urbana.
282 Alínea a) do artigo 7.º; artigos 8.º e 10.º do Decreto-Lei n.º 305/2009, de 23 de outubro.
283 N.º 4, artigo 35.º.
284 Artigo 49.º, Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro.
Isto, exceto se estiver em causa património cultural imóvel cuja demolição total ou
parcial tenha sido objeto de pronúncia favorável por parte da referida administração em sede de
elaboração do correspondente plano de pormenor de reabilitação urbana (n.º 6, artigo 28.º)
Quanto à aplicação da proteção do existente, atrás em geral enunciada, a admissão da
comunicação prévia de obras segundo o procedimento simplificado de controlo prévio para
reconstrução ou alteração de edifícios não podem ser recusadas com fundamento em normas
legais ou regulamentares supervenientes à construção originária, desde que tais operações
respeitem o regime normal de densificação o principio do existente (nº1, artigo51.º), o que o
termo de responsabilidade fundamentado exigido ao técnico autor do projeto legalmente
habilitado deve comprovar.
285 Regualados pelos artigos 62.º a 64.º; n.os 1 e 2, artigo 63.º do RJUE.
A entidade gestora tem preferência nas transmissões a título oneroso, entre particulares,
de terrenos, edifícios ou frações situados em área de reabilitação urbana, nos termos do RJIGT
para o exercício pelo município sobre terrenos ou edifícios situados nas áreas do plano com
execução programada e podendo ser exercido com a declaração de não-aceitação do preço
convencionado.
Tratando-se de património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação ou de
imóveis localizados nas zonas de proteção, este direito de preferência da entidade gestora cede
perante os direitos de preferência dos comproprietários, Estado, Regiões Autónomas e
municípios (pela ordem indicada), mesmo estes sem prejuízo dos direitos de preferência
concedidos à Administração Pública pela legislação avulsa (LBPC).
Mas o direito de preferência da entidade gestora, quando exista, apenas pode ser exercido
caso ela entenda que o imóvel deve ser objeto de intervenção no âmbito da operação de
reabilitação urbana, pelo que na declaração de preferência deve descriminar, nomeadamente, a
intervenção de que o imóvel carece e o prazo dentro do qual pretende executá-la.
No caso de declaração de não-aceitação do preço, assiste às partes do contrato (primeiro
ao vendedor e depois ao comprador), o direito de reversão do bem quando não seja promovida a
intervenção constante da declaração de preferência, aplicando-se adaptadamente o Código das
Expropriações e o direito de preferência na primeira alienação do bem.
Depois da conclusão das obras realizadas pela entidade gestora, o proprietário tem o
prazo de quatro meses para proceder ao ressarcimento integral das despesas feitas por ela com o
edifício ou fração. Ou, então, para o dar de arrendamento pelo prazo mínimo de cinco.
Neste caso, deve afetar os montantes das rendas ao seu ressarcimento. Se assim não fizer,
a entidade gestora pode arrendar o prédio diretamente, mediante concurso público, por esse
prazo de cinco anos, que é renovável, sendo necessário289. Este arrendamento não impede o
exercício da preferência nas posteriores alienações ou locações de edifício ou da fração que foi
objeto da ação de reabilitação.
É aplicável à relação entre os titulares dos contratos de arrendamento e a entidade gestora
o regime de compensação290.
nesse sentido (n.º 1 do artigo 55.º), ou não responderem à notificação alegando que não podem
ou não querem realizar as obras e trabalhos ordenados.
291 A venda em hasta pública segue o procedimento previsto nos artigos 88.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de
agosto, alterado pelas Leis n.os 55-A/2010, de 31 de dezembro, e 64-B/2011, de 30 de dezembro, com as devidas adaptações.
292 N.º 5 do artigo 11.º do Código das Expropriações.
293 Segundo as regras do Código das Expropriações para a notificação da declaração de utilidade pública, com as devidas
adaptações.
294 Nos termos do Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto, alterado pelas Leis n.os 55-A/2010, de 31 de dezembro, e 64-B/2011,
de 30 de dezembro, para a venda de imóveis do Estado e dos institutos públicos em hasta pública, com as devidas adaptações.
295 O direito de reversão cessa se tiver decorrido 20 anos sobre esta data, haja renúncia do expropriado ou a declaração de utilidade
pública seja renovada, com fundamento em prejuízo grave para o interesse público, dentro do prazo de um ano a contar de
verificação da inºercia da entidade gestora. A reversão deve ser requerida no prazo de três anos a contar da ocorrência do facto que a
originou, sob pena de caducidade, de modo que, decorrido esse prazo, o expropriado, até ao final do prazo de 20 anos, tem o direito
de preferência na primeira alienação dos bens. O acordo entre a entidade expropriante e o expropriado ou demais interessados sobre
outro destino a dar ao bem expropriado ou sobre o montante do acréscimo da indemnização interpreta -se como renúncia aos direitos
de reversão e de preferência. Se a entidade expropriante pretender alienar parcelas sobrantes, deve comunicar o projecto de
alienação ao expropriado e demais interessados conhecidos cujos direitos não hajam cessado definitivamente, por carta ou ofício
registado com aviso de recepção, com a antecedência mínima de 60 dias, findos os quais, não sendo exercido o direito de reversão
ou, se for o caso, o direito de preferência, se entende que renunciam ao mesmo. No caso de nova declaração de utilidade pública ou
de renovação da declaração anterior, o expropriado é notificado para optar pela fixação de nova indemnização ou pela atualização da
anterior.
Na hipºotese da realização de uma obra contínua (com configuração geométrica linear que, pela sua natureza, for susceptível de
execução faseada ao longo do tempo, correspondendo a um projecto articulado, global e coerente) determinar a expropriação de
bens distintos, o seu início em qualquer local do traçado faz cessar o direito de reversão sobre todos os bens expropriados, mas esta
solução ºe inaplicºavel se os trabalhos forem suspensos ou estiverem interrompidos por prazo superior a dois anos, contando-se o
prazo de 3 anos a partir do final daquele.
296 Decreto-Lei n.º 159/2006, de 8 de agosto em aplicação do artigo 112.º do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (Decreto-
Lei n.º 287/2003, de 12 de Novembro, alterado pela Lei n.º 6/2006, de 27 de Fevereiro, que aprovou o Novo Regime do
Arrendamento Urbano).
297 N.os 4 e 5, artigo 44.º do RJUE(n.os 4 e 5, artigo 44.º do RJUE.
compensações devidas pela aplicação desses mecanismos, cuja constituição e gestão pode ser
passível de delegação na entidade gestora, se não for o município.
As pessoas que habitem em edifícios ou suas frações que sejam objeto de obras coercivas,
desde que estejam de boa-fé, têm direito a realojamento temporário, a expensas do proprietário,
exceto se dispuser no mesmo concelho ou em concelho limítrofe de outra habitação que
satisfaça adequadamente as necessidades de habitação do seu agregado.
Se os prédios forem objeto de reestruturação da propriedade, expropriação ou venda
forçada, têm direito a realojamento equivalente e de se constituir como interessados no
procedimento de determinação de montante indemnizatório se prescindir desse realojamento.
Estas pessoas têm preferência nas posteriores alienações ou locações de edifício ou fração
objeto da ação de reabilitação, tal não prejudicando os direitos dos arrendatários previstos em
legislação aplicável.
O Estado pode, nos termos previstos na legislação sobre a matéria, conceder apoios
financeiros e outros incentivos aos proprietários e a terceiros que promovam ações de
reabilitação de edifícios e, no caso de operações de reabilitação urbana sistemática, de
dinamização e modernização das atividades económicas.
O Estado pode também conceder apoios financeiros às entidades gestoras, nos termos
previstos em legislação especial.
Em qualquer caso, os apoios prestados devem assegurar o cumprimento das normas
aplicáveis a respeito de proteção da concorrência e de auxílios do Estado.
298Este regime e apoios prestados devem assegurar o cumprimento das normas aplicáveis a respeito de proteção da concorrência e
de auxílios do Estado.
As operações de reabilitação urbana são coordenadas e geridas por uma entidade gestora.
Podem existir vários tipos destas entidades, devendo a escolha ser adotada na estratégia ou
programa estratégico de reabilitação urbana.
Pode ser o próprio município ou uma empresa do setor empresarial local. Neste caso, se
ela tiver por objeto social exclusivo a gestão de operações de reabilitação urbana, designa-se por
“sociedade de reabilitação urbana”.
Quanto aos modelos de execução das operações de reabilitação urbana, temos os modelos
de execução de iniciativa dos particulares (que pode desenvolver-se através da modalidade de
execução pelos particulares com o apoio da entidade gestora ou através da modalidade de
administração conjunta) e os de iniciativa das entidades gestoras (que pode desenvolver-se
através da execução direta pela entidade gestora, por administração conjunta ou por parcerias
com entidades privadas. Estas só podendo ser adotadas no âmbito de operações de reabilitação
urbana sistemática, no âmbito de unidade de intervenção ou de execução e efetivando-se ou
através de concessão da reabilitação ou de contrato de reabilitação urbana.
301 Publicado na 2.ª série do Diário da República e divulgado na página eletrónica do município.
O plano de pormenor de reabilitação urbana incide sobre uma área do território municipal
que, em virtude da insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas,
dos equipamentos de utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva,
designadamente no que se refere às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou
salubridade, justifique uma intervenção integrada.
Caso a área de intervenção do plano de pormenor de reabilitação urbana contenha ou
coincida, ainda que parcialmente, com área previamente delimitada como área de reabilitação
urbana em instrumento próprio, esta considera-se redelimitada de acordo com a área de
intervenção do plano.
No caso previsto no número anterior, quando a área de intervenção do plano de pormenor
não abranger integralmente a área previamente delimitada como área de reabilitação urbana em
instrumento próprio, deve proceder-se à redelimitação ou revogação da área não abrangida pela
área de intervenção do plano em simultâneo com o ato de aprovação deste instrumento de
gestão territorial.
Além do conteúdo material próprio em geral dos planos de pormenor (RJIGT), o plano de
pormenor de reabilitação urbana tem de adotar um conteúdo material específico adaptado à
finalidade de promoção da reabilitação urbana na sua área de intervenção.
Impõe-se que consigne, além do mais:
- a delimitação das unidades de execução (para efeito da programação da execução do
plano);
- a identificação e articulação (numa perspetiva integrada e sequenciada) dos principais
projetos e ações a desenvolver em cada unidade de execução;
- os princípios e as regras de uso do solo e dos edifícios (em ordem à valorização e
proteção dos bens patrimoniais, culturais, naturais e paisagísticos existentes na sua área de
intervenção;
- a adequação à estratégia de revitalização económica, social e cultural da área de
intervenção, em articulação com as outras políticas urbanas do município); e
- a identificação e a classificação sistemática dos edifícios, das infraestruturas urbanas,
dos equipamentos e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva de cada unidade de
execução (enunciando as necessidades e finalidades de reabilitação e modernização ou prevendo
a sua demolição, quando seja o caso).
Sem prejuízo do conteúdo ter de efetivar a delimitação das unidades de execução, essa
delimitação assim como a redelimitação das unidades de execução, mesmo que constantes do
plano de pormenor, podem, por iniciativa da entidade gestora ou dos proprietários, ser feitas na
fase de execução do plano.
Os planos de pormenor de reabilitação urbana cuja área de intervenção contenha ou
coincida com património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação e zonas de
proteção, prosseguem os objetivos e fins dos planos de pormenor de salvaguarda de património
cultural, tendo também para aquelas áreas o conteúdo deste plano, consagrando as regras e os
princípios de salvaguarda e valorização do património classificado ou em vias de classificação e
suas zonas de proteção de acordo com a lei de bases do património cultural304 e sua legislação
de desenvolvimento.
Este regime, que se aplica aos procedimentos de controlo prévio das operações urbanísticas de
reabilitação de edifícios ou de frações pendentes à data da sua entrada em vigor (9.4.2014),
vigora pelo período de sete anos contados desta data (até 9.4.2021), sem prejuízo de continuar
ainda aplicável aos processos pendentes à data da cessação da sua vigência.
Quando se trate de operação urbanística de reabilitação isenta de controlo prévio, aplica-se
também às obras pendentes à data da cessação da sua vigência. E as operações aqui previstas
não são afetadas pela cessação da sua vigência do, enquanto os edifícios ou frações mantiverem
um uso habitacional predominante.
São muitas as normas do Regulamento Geral das Edificações Urbanas 311, cuja aplicação
fica dispensada ate 2021, para efeitos de reabilitação.
Com efeito, isso ocorre com as normas sobre “comunicações verticais” (artigo 45.º),
largura dos lanços e degraus das escadas e patamares (46.º), aberturas de iluminação e de
ventilação das escadas e o espaço no seu eixo (47.º), iluminação e ventilação dos
compartimentos, mas sem prejuízo da existência de, pelo menos, um vão em cada
compartimento de habitação (artigo 71.º), ascensores nas habitações coletivas (50.º), número e
natureza das escadas e dos meios de comunicação vertical (51.º), escadas, rampas e meios
mecânicos de transporte vertical em edifícios não destinados a habitação (52.º),
No campo da edificação em conjunto, há dispensas quanto à altura dos vários elementos da
edificação (59.º), distância entre fachadas (60.º), recuo das fachadas das construções (61.º),
distância entre fachadas posteriores e sobre logradouros (62.º, 63.º e 64.º).
No domínio das disposições interiores das edificações e espaços livres, dispensam-se
exigências sobre a altura entre pisos (65.º), número e área dos compartimentos (66.º e 69.º),
áreas brutas dos fogos (67.º), largura dos corredores (70.º), ventilação transversal do conjunto
de cada habitação (artigos 72.º), disposição das janelas dos compartimentos (73.º), distâncias no
311 Regulamento Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38 382, de 7 de agosto de 1951.
caso construções salientes das paredes 75.º, revestimento de faixas nos logradouros e outros
espaços livres, inclinações nos pavimentos dos pátios e faixas (76.º), caves para habitação e
arrecadação (77.º, 78.º), utilização de sótãos, águas-furtadas e mansardas e seus acessos assim
como das caves (79.º e 80.º).
Há também dispensas sobre instalações sanitárias, retretes e urinóis (68.º, 84.º, 85.º, 86.º,
87.º e 88.º) e compartimento de evacuação de lixos (97.º).
No domínio dos requisitos de eficiência energética e qualidade térmica 315, devem ser
cumpridos os requisitos mínimos de eficiência energética e de qualidade térmica, mas estão
excecionadas as situações em que se verifique a sua inviabilidade de ordem técnica, funcional e
ou económica316.
Não é obrigatória a instalação de redes de gás, nem a apresentação do seu projeto, se não
estiver prevista a sua utilização e desde que esteja prevista outra fonte energética.
fornecer uma definição na alínea h) do art.º 4.º e às normas excecionais e ditas temporais de
aplicação do princípio a edificações em habitação ou aptas para tal (Decreto-Lei n.º 53/2014, de
8.4, RJETRH322), começo por tecer considerações sobre o enquadramento do princípio da
proteção do existente face ao atual regime geral de edificação, previsto, quer em geral no art.º
60.º (e extensível mesmo a situações pendentes ou concluídas com títulos caducados face ao
88.º do RJUE), quer no art.º51.º do RJRU e, no caso de habitações, especialmente na disciplina
global do regime extraordinário e temporário da reabilitação urbana.
Este veio, nuns casos, para facilitar operações que não atinjam essa manutenção, e noutros
casos, para facilitar a reabilitação e permitir aos municípios uma flexibilidade decisória e
mesmo um dinamismo proativo maior neste âmbito, reforçando, além disso, o princípio da
demolição como última ratio, que a jurisprudência já vinha assinalando face aos diplomas de
carácter geral.
Claro que importa aqui ter presente a existência de situações variadas:
- muito generalizadamente, situações históricas sem atos autorizatórios, tendo em conta as
datas dos diplomas que os impuseram: 1951 para, grosso modo, em geral, perímetros urbanos e
eventual zona contígua envolvente; e 1991, para as áreas rurais, a menos que tenha havido após
1951 tenha havido regulamento municipal de extensão da aplicação do RGEU;
- o da incompletude edificatória face à caducidade destes atos permissivos, quando já
necessários; e
- a ilegalidade derivada das conclusões construtivas após tal caducidade ou mesmo
ilegalidades originárias que impendam sobre o construído, distinguindo por vezes as situações
referentes a edifícios de habitação das de outros edifícios, face aos princípios constitucionais da
proporcionalidade ou interdição de excesso, justiça, ponderações dos justos interesses relevantes
públicos e privados e entrando numa leitura mínima do direito fundamental à habitação.
legais ou regulamentares supervenientes à construção originária, desde que tais operações: a)-Não originem ou agravem a
desconformidade com as normas em vigor; ou b)-Tenham como resultado a melhoria das condições de segurança e de salubridade
da edificação; e c)-Observem as opções de construção adequadas à segurança estrutural e sísmica do edifício.2 -As obras de
ampliação inseridas no âmbito de uma operação de reabilitação urbana podem ser dispensadas do cumprimento de normas legais ou
regulamentares supervenientes à construção originária, sempre que da realização daquelas obras resulte uma melhoria das condi ções
de desempenho e segurança funcional, estrutural e construtiva da edificação, sendo observadas as opções de construção adequadas à
segurança estrutural e sísmica do edifício, e o sacrifício decorrente do cumprimento das normas legais e regulamentares vigentes
seja desproporcionado em face da desconformidade criada ou agravada pela realização daquelas.3-O disposto no número anterior é
aplicável ao licenciamento ou à admissão de comunicação prévia de obras de construção que visem a substituição de edifícios
previamente existentes.4-Os requerimentos de licenciamento ou as comunicações prévias devem conter sempre declaração dos
autores dos projetos que identifique as normas técnicas ou regulamentares em vigor que não foram aplicadas e, nos casos previ stos
no n.º 2 e no número anterior, a fundamentação da sua não observância.
322 Regime jurídico extraordinário temporal de reabilitação de habitações estabelece um regime excecional e temporário (prolonga-
se até 2021) a aplicar à reabilitação de edifícios ou de frações, cuja construção tenha sido concluída há pelo menos 30 anos ou
localizados em áreas de reabilitação urbana, sempre que estejam afetos ou se destinem a ser afetos total ou predominantemente ao
uso habitacional: Artigo 1.º ‐ Objeto, Artigo 2.º ‐ Âmbito de aplicação, Artigo 3.º ‐ Dispensa de aplicação do Regulamento Geral
das Edificações Urbanas, Artigo 4.º ‐ Dispensa de aplicação do regime legal de acessibilidades, Artigo 5.º ‐ Dispensa de aplicação
de requisitos acústicos, Artigo 6.º ‐ Requisitos de eficiência energética e qualidade térmica, Artigo 7.º ‐ Instalações de gás em
edifícios, Artigo 8.º ‐ Infraestruturas de telecomunicações em edifícios, Artigo 9.º ‐ Salvaguarda estrutural, Artigo 10.º ‐ Prevalência
de regime, Artigo 11.º ‐ Período de vigência, Artigo 12.º ‐ Entrada em vigor. Entretanto, o artigo 6.º deste diploma, passou a ter a
seguinte redação: «Artigo 6.º:”-As operações urbanísticas identificadas no n.º 2 do artigo 2.º devem cumprir os requisitos mínimos
de eficiência energética e de qualidade térmica, salvo nas situações de inviabilidade de ordem técnica, funcional e ou económica,
admitidas nos termos do Decreto -Lei n.º 118/2013, de 20 de agosto. 2-A inviabilidade de ordem técnica, funcional e ou económica
dos requisitos mínimos de eficiência energética e de qualidade térmica nas operações urbanísticas referidas no número anterior deve
ser fundamentada, de acordo com os termos do Decreto -Lei n.º 118/2013, de 20 de agosto. 3-As exigências legais de instalação de
sistemas solares térmicos para aquecimento de água sanitária, assim como o recurso a formas alternativas e renováveis de energia
são obrigatórias, salvo nas situações de inviabilidade de ordem técnica, funcional e ou económica, admitidas nos termos do Decreto
-Lei n.º 118/2013, de 20 de agosto. 4-A inviabilidade de ordem técnica, funcional e ou económica da instalação de sistemas solares
térmicos para aquecimento de água sanitária, assim como o recurso a formas alternativas e renováveis de energia, referidas no
número anterior, deve ser fundamentada, de acordo com os termos do Decreto -Lei n.º118/2013, de 20 de agosto.”
Abordarei, pois, um tema que aparece com frequência como algo por vezes dramático e
sempre de atualidade e interesse muito concreto e em que a atual legislação da reabilitação
urbana vem acrescentar alguma luz, que também irradia para todo o direito do urbanismo, que
não apenas em áreas delimitadas de RU. Pelo menos, quando está em causa o direito
constitucional à habitação.
Qual o entendimento a dar ao princípio da proteção do existente (e mesmo de objetivos
edificatórios novos face ao previamente existente)?
Terá de ser, face à sua ratio legis e à da legislação atual de reabilitação urbana e excecional
de habitações, um entendimento amplo.
E qual dar ao princípio da demolição de uma edificação contra-legem ou contra-planum
como última ratio?
Importa reportarmo-nos ao direito de proteção de edificações que existem. E, como disse,
mesmo proteção do que se quer que exista em vez daquelas construções que já existem em
situações em que a função de reabilitação está presente.
Ou seja, independentemente de, supervenientemente, ocorrerem normas de interdição ou
condicionamentos legais ou do planeamento posterior, incluindo o atual.
Naquilo que podemos chamar uma vigência de certa “legalidade excecional” e não de
exceção à legalidade, porquanto é apenas uma exceção à legalidade normal, assumida pelo
legislador nuns casos como especialidade de vigência intemporal e noutros como alteração
parcial abrogatória temporária.
Antes de vermos o que dizem os artigos 102.º, 102.º-A e 106.º do RJUE, importa analisar o
art.º 88.º nas últimas versões deste RJUE, dada a última síntese reinterpretativa “regressiva”,
sem prejuízo de soluções de reabilitação urbana em conjuntos urbanos com adição necessária de
obras públicas de melhoramento.
Só depois analisaremos os atuais normativos e apontarei uma proposta de alteração
legislativa na matéria em geral sobre a regularização necessária destas situações, em atos
declarativos, clarificadores, ou constitutivos, regeneradores, reguladores de construções, mesmo
ilegais, se antigas, mantidas ao longo do tempo.
No caso de habitações não demolidas até hoje, com normação geral regularizadora. Uma
solução em termos semelhantes aos dos efeitos putativos dos atos urbanísticos nulos, pelo
decurso do tempo, sem prejuízo de, a todo o tempo, as autoridades do município poderem impor
obrigações relacionadas com a segurança de edifícios.
Ou, sem mais, se existir a junção de termos de responsabilidade por técnico legalmente
habilitado de que não há problemas com a segurança ou os que havia foram corrigidos com a
sua orientação e supervisão
O que diz o artigo 51.º do RJRU?
E o que dizem as normas temporárias (para já declarados 7 anos) do regime jurídico
excecional de reabilitação de habitações?
Quanto ao RJRU, passando em resumo o tema, tal como aparece conformado na atual
legislação do RJRU, vemos que o artigo 51.º, sobre a “proteção do existente”, distingue entre
operações de reconstrução e alteração, por um lado, e operações de ampliação ou substituição,
por outro. Favorecendo as primeiras, mas sem impedir as segundas.
Com efeito, interdita em geral que os municípios impeçam “obras de reconstrução ou
alteração de edifício”, em áreas de RU, com fundamento em normas legais ou regulamentares
publicadas posteriormente à construção originária e aplicáveis à data da intervenção.
Com a condição de essas operações não originarem ou agravarem a sua desconformidade
com as normas em vigor, serem relevantes para a melhoria das condições de salubridade da
edificação ou das condições de desempenho e segurança funcional, estrutural e construtiva da
edificação e não atentarem contra adequadas opções de construção sobre segurança estrutural e
sísmica do edifício.
E as próprias operações de ampliação ou de construções novas, mesmo demolindo, em
substituição dos edifícios anteriormente existentes, desde que inseridas no âmbito de uma
operação de reabilitação urbana, podem também não cumprir normas legais e regulamentares
posteriores à sua construção, se essa ampliação ou construção ex novo implicar em relação à
edificação existente uma melhoria das condições de desempenho e segurança funcional,
estrutural e construtiva da edificação, desde que se respeitem opções de construção à
segurança estrutural e sísmica do edifício e a desconformidade criada ou agravada não traduza
um ato desproporcionado face às exigências do direito do ambiente vigente.
Em causa, obras de reconstrução alteração ou ampliação de um conjunto urbano ou de um
edifício, permitindo portanto construções e utilização impedidas pelas regara geral.
Em áreas delimitadas pelo município (art.º7.º) ou projeto provado pela AM (art.º14.º) ou
definida em PPRU, como de RU, ou seja, em áreas ou edifícios em que seja necessária a
manutenção e mesmo arranjos estéticos (art.º 6.º), porque os espaços urbanos em causa padecem
de insuficiências, degradação ou obsolescência quer dos edifícios quer das infraestruturas
urbanas, equipamentos ou espaços urbanos e verdes de utilização coletiva que justifiquem uma
intervenção integrada; podendo mesmo outras situações justificáveis tais como áreas e centros
históricos, património cultural, imóvel classificado ou em vias de classificação e respetivas
zonas de proteção, áreas urbanas degradadas ou zonas urbanas consolidadas (art.º12.º).
Hoje, vigora, até 9 de abril de 2021, e por um período de sete anos 323, um regime
excecional e temporário a aplicar à reabilitação de edifícios ou de frações, afetos ou que se
destinem a ser afetos, total ou predominantemente, ao uso habitacional, desde que, ou
construídos há pelo menos 30 anos, ou localizados em áreas de reabilitação urbana. Que é
aplicável, portanto, a um setor sensível e especialmente protegido para a reabilitação urbana.
Em causa, obras de conservação, alteração, reconstrução, alterações de utilização e, ainda,
de “construção ou de ampliação”, se as circunstâncias preexistentes impossibilitarem o
cumprimento da legislação técnica aplicável, desde que não ultrapassem os alinhamentos e a
cércea superior das edificações confinantes e não agravem as condições de salubridade ou
segurança de outras edificações.
Tal incumprimentos das atuais regras do RGEU abrange nomeadamente o respeito pelas
áreas mínimas de habitações, altura do pé-direito mínimo e ascensores. E as intervenções em
edifícios existentes possam manter o existente, quanto às condições de segurança e de
salubridade da edificação e quanto às de segurança estrutural e sísmica do edifício
(salvaguarda estrutural), mas não têm que as aumentar, bastando que não as diminuam324.
Dispensam-se também as regras sobre conforto térmico e acústico e sobre instalações de
gás e de infraestruturas de telecomunicações.
Portanto, a demolição é aqui mais do que a última ratio, uma última das últimas ratios para
edifícios degradados, de todo não reabilitáveis, numa normação a pensar também a reocupação
dos centros históricos dos nos nossos aglomerados urbanos, onde mais frequentemente estas
questões se colocam.
Esperemos que uma futura legislação venha regular a resistência sísmica mínima e a
favorecer o financiamento de obras de reforço estrutural dos edifícios.
Quanto ao RJUE, a regra geral aplicável no direito do urbanismo é a de que tempus regit
actum.
Quer as edificações erigidas segundo as omissões normativas (inexistência na alturas de
controlos prévios, antes da liberdade de construir sem necessidade de título administrativo):
A garantia constitucional do direito à habitação não é por acaso que foi colocado no
articulado e no centro da Constituição Urbanística.
Ele pode não permitir garantir por um Estado sem meios financeiros disponíveis, a
distribuição pública de habitações, habitações sociais para todos os que necessitem, mas pelo
menos tem que garantir que, entre uma habitação desconforme com certas exigências legais, em
menos boas condições, e tirar às pessoas a sua habitação, o Estado não pode eliminá-la, demoli-
la.
E, portanto, o poder de demolir cede pelo menos em relação a casas de habitação efetiva. E
se é assim, também a tao destrutiva inércia de nem demolir nem regularizar, de machado
angustiante pendente ao longo de décadas, é algo absurdo e inaceitável.
O n.º2 do art.º 60.º do RJUE e o n.º1 do art.º 51 do RJRU desviam-se em parte e bem da
estrita regra da aplicação das leis no tempo.
Nas áreas de RJRU, nas áreas respetivas, vai-se ainda mais longe, ao acrescentar-se
mesmo, no caso de obras que melhorem as condições de segurança e de salubridade, tal leva a
desconsiderar a possibilidade de elas agravarem essa desconformidade, o que implica –por
inexistência de razoes de distinção- uma reinterpretação deste regime, por interpretação
extensiva e contextualizadora no ordenamento jurídico (igualdade de razão), mesmo que em
termos mais moderados, no caso de edificações previstas no RJUE, ou seja, mesmo fora de
áreas de RU.
Se o regime geral da Reabilitação Urbana tinha vindo já flexibilizar e simplificar os
procedimentos de criação de áreas de reabilitação urbana, criando um procedimento
simplificado de controlo prévio de operações urbanísticas e regulando a reabilitação urbana de
edifícios ou frações, ainda que localizados fora de áreas de reabilitação urbana, cuja
construção tenha sido concluída há pelo menos 30 anos e em que se justifique uma intervenção
de reabilitação destinada a conferir-lhes adequadas caraterísticas de desempenho e de
segurança, a revisão do regime jurídico da reabilitação urbana pela Lei n.º 32/2012, de 14 de
agosto, aprovando medidas destinadas a agilizar e a dinamizar a reabilitação urbana325) e o
Decreto-Lei n.º53/2014, de 8 de Abril, sobre medidas excecionais para habitações, reforçou
ainda mais o conceito de “proteção do existente»326.
De acordo com o regime específico de proteção do existente, é permitida a não observância
de normas legais ou regulamentares supervenientes à construção originária, desde que a
operação de reabilitação urbana não origine ou agrave a desconformidade com essas normas ou
permita mesmo a melhoria generalizada do estado do edifício. Em todo o caso, a não
observância de tais regras de construção deve ser identificada e fundamentada pelo técnico autor
do projeto de reabilitação, mediante termo de responsabilidade, reforçando-se, em
contrapartida, a responsabilidade do mesmo técnico, designadamente pelas suas declarações.
A revisão operada pela referida Lei n.º 32/2012, de 14 de agosto veio trazer a promoção da
mobilidade das pessoas, na requalificação e revitalização das cidades e na dinamização das
atividades económicas associadas ao setor da construção e afirmar a reabilitação urbana como
fator de desenvolvimento das cidades e da economia: máxima promoção, adotando medidas
complementares às previstas no Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro, com a redação
dada pela Lei n.º 32/2012, de 14 de agosto.
Nesse âmbito, temos um diploma que estabelece as “Exigências Técnicas Mínimas para a
Reabilitação de Edifícios Antigos”.
325 Diploma que introduziu um grande número de alterações ao RJUE. Artigo 77.º-G (Responsabilidade criminal): 1-O desrespeito
dos atos administrativos que determinem qualquer das medidas de tutela da legalidade urbanística previstas no presente decreto -lei
é punível nos termos do artigo 348.º do Código Penal. 2-As falsas declarações ou informações prestadas nos termos de
responsabilidade ou no livro de obra pelos autores e coordenadores de projetos, diretores de obra e de fiscalização de obra e outros
técnicos, referidos nas alíneas d) a g) do n.º 1 do artigo 77.º-C, são puníveis nos termos do artigo 256.º do Código Penal. 3-O
disposto no número anterior não prejudica a aplicação do artigo 277.º do Código Penal.
326 Já previsto no Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro (RJRU).
Assim, começo por comentar o anterior artigo 60.º do RJUE e a sua evolução desde a
publicação do DL 555/99, de 16.12. Este artigo corresponde, hoje, à versão original de 1999,
com meras adaptações, em 2007 e 2014, à figura da comunicação prévia, designadamente com o
acrescento, em 2014, referindo apenas que o disposto no número 2 se aplica em sede de
fiscalização sucessiva de obras sujeitas a comunicação prévia”. Assim, para efeito de se atender
327 Regulamento Geral das Edificações Urbanas aprovado pelo Decreto-Lei n.º 38.382, de 7 de agosto de 1951.
Portanto, ele reporta-se à situação das edificações existentes, sem mácula de ilegalidade,
tenham ou não título conforme à data de construção, dizendo naturalmente que as edificações
construídas ao abrigo do direito anterior e as utilizações respetivas não são afetadas por normas
legais e regulamentares supervenientes.
E mais importante que tudo: que posteriores obras de reconstrução ou de alteração das
edificações não podem ser recusadas com fundamento em normas legais ou regulamentares
supervenientes à construção originária, desde que tais obras não originem ou agravem
desconformidade com as normas em vigor ou tenham como resultado a melhoria das condições
de segurança e de salubridade da edificação. Isto sem prejuízo de, por lei, poder condicionar-se
a execução dessas obras de reconstrução ou alteração à realização dos trabalhos acessórios
necessários para a melhoria das condições de segurança e salubridade da edificação.
Mas vejamos o atual regime normal de regularização no RJUE, artigo 102.º e seguintes.
Em geral, face à realização dessas operações urbanísticas ilegais (n.º 1 do artigo 102.º), se for
possível assegurar a sua conformidade com as disposições legais e regulamentares em vigor, a
câmara municipal deve mandar proceder à legalização num dado prazo (Artigo 102.º-A).
O artigo 106.º permite que o presidente da câmara municipal também ordene, quando for
caso disso, a demolição total ou parcial da obra, mas ela deve ser evitada, se for suscetível de
ser legalizada (licenciada ou objeto de comunicação prévia) ou se for possível assegurar a sua
conformidade com as disposições legais e regulamentares que lhe são aplicáveis mediante a
realização de trabalhos de correção ou de alteração.
No entanto, o direito do urbanismo, independentemente das situações de ilegalidade, em
que a mesma deve ser reposta, atribui à câmara municipal o poder discricionário para impor a
execução de obras de conservação necessárias à correção de más condições de segurança ou
salubridade ou à melhoria do arranjo estético da obra, sem prejuízo de poder sempre
determinar a demolição, total ou parcial, das construções que ameacem ruína ou ofereçam
perigo para a saúde pública e segurança das pessoas.
E, independentemente de redações normativas de cada momento, face a uma lógica de
razoabilidade condizente com o princípio da demolição como ultima ratio, a câmara municipal
não pode deixar de ter um poder discricionário de dispensar o cumprimento de normas técnicas
relativas à construção se a exigência do seu cumprimento já for impossível ou não for
razoavelmente de exigir, pelo menos desde que se verifique que tinham sido cumpridas as
condições técnicas vigentes à data da realização da operação urbanística em questão.
Aliás, a câmara municipal, desde que as obras em causa não impliquem a realização de
cálculos de estabilidade, deve poder mesmo suprir a inércia dos interessados, procedendo
oficiosamente à legalização.
Fora destas situações, temos hoje (como já referimos, aliás também assente na
jurisprudência), ainda em defesa do princípio da demolição como último recurso, normas sobre
a RU. Para breves incursões neste tema, convocarei o art.º 51 do RJRU e, também, a normação
temporalmente limitada, sobre as medidas excecionais, entretanto também publicadas para as
edificações habitacionais.
ambiental para áreas naturais, albufeiras de águas públicas, estuários, orla marítima, águas,
restrições e servidões administrativas e normas ambientais integrantes de planos locais de
aplicabilidade será a resposta acerca de obras já acabadas, efetivadas sem controlo prévio na
altura legalmente exigido, e já antes ou atualmente em desconformidade com normação
atualmente em vigor.
Pois, se se pretende preservar as quase acabadas (em estado avançado de construção), por
igual ou mesmo maioria de razão, ele deve ter-se como aplicável, no mínimo, se outro mais
favorável ainda não existir, o regime aplicável às já acabadas, em situação ilegal, quer tenham
partido de situações com título designadamente de admissão de comunicação prévia já caducado
(n.os 1 e 2), quer não tenha havido qualquer título de controlo prévio legal (n.º3).
Podemos, pois, com propriedade, face à normação atual, falar em preservação do existente
não só face ao artigo 60.º referente a construções feitas antes da existência de legislação de
controlo prévio (RGEU de 1951, para áreas urbanas, e legislação de 1991, para áreas rurais, se
não existiam anteriormente regulamentos municipais exigindo licenciamento), em que não há
qualquer anomalia da construção original, efetivada à base da legislação então vigente, como
para além do disposto nele, com controlo administrativo ou sem ele, com garantia de não
afetação dessa construção existente, nem (em princípio) de obras futuras nela a efetivar
(preservação relativa a partir do existente, de possibilidades edificatórias, segundo a legislação
original), apesar de desconformidade com normação superveniente, designadamente
planificadora.
E quer a construção esteja ainda totalmente erigida (em caso de pretendidas alterações ou
mesmo reconstrução), quer já em ruínas (ou melhor, em situações de existência de anterior
construção não ilegal: para as situações em que se pretenda a reconstrução); e também (aqui, já
apenas um princípio do primado da preservação do construído), embora com disciplinas
reguladoras distintas daquela e mesmo entre si, àquelas em que, face a construções ilegais ou
que entretanto se tornaram ilegais, o legislador cria soluções próprias de regularização, seja o
artigo 106.º, “secundum legem geral”, sejam as distintas normas do artigo 88.º do RJUE (contra
legem geral, e cujo n.º 2 remete para o artigo 60.º), assim como os artigos 84.º e 85.º, ambos em
casos inacabados de urbanização e o 84.º ainda também em situações de edificação (obras
inacabadas, passíveis de serem terminadas pela Câmara Municipal ou por terceiros).
Com efeito, o artigo 106.º, em si e juntamente com os artigos 84.º, 85.º, 88.1, o regime das
AUGI, o artigo 59.º, 60.º e 61.º da LBPSOTU, o artigo 65.º da Constituição, tal com a mais
recente jurisprudência do STA e dos TCAN-S, consagram claramente o princípio da demolição
como última ratio.
Ou seja, só se, de todo em todo, não houver solução: ou porque o proprietário não está
disposto a regularizar a situação, com pedido de licenciamento especial ou alterações propostas
pela Câmara Municipal, ou porque, mesmo que esteja ou passe a estar o construído não tenha
por onde se pegue, por razoes insupríveis de segurança da habitação ou de incapacidade de lhe
introduzir modificações que resolvam problemas de insalubridade.
Ou seja, estando o proprietário ou passando a estar interessado na sua “salvação” no
termos do ordenamento jurídico, no plano material, a Câmara Municipal demonstre que não é
possível aproveitar a obra ilegal, acabada ou inacabada, ou mesmo com título construtivo válido
mas caducado (inacabada mas em estado avançado de conclusão, ou, por maioria de razão, se já
acabada, mesmo que fosse recente, mas muito mais se pelo tempo decorrido se tiver
sedimentado no património do respetivo proprietário.
E desde logo com elementos de oficialidade, registos para efeitos fiscais ou prediais, numa
situação de isotonia exigindo tratamento igual à de uma situação de construção sem licença, por
esta ser nula e portanto de nenhum efeito, mas ter decorrido tempo largo (10 anos, na tese de
Marcelo Caetano, em seu Manual de Direito Administrativo, tudo hoje com cobertura expressa
ou por analogia, dado não se verem argumentos que possam justificar tratamento distinto, com
base mesmo em lei escrita: o artigo 162.º do CPA (efeitos putativos de ato nulo; o ato é ilegal
mas a Administração deve fazer de conta que é legal e tratar como se o fosse, em nome de
princípios basilares do direito, como o da segurança jurídica e o da boa fé, da proporcionalidade,
etc.).
E, casos há em que este princípio do aproveitamento do existente total ou do existente
parcial, quando seja o facto, pode mesmo ser, se não diretamente baseado, pelo menos apoiado,
em razões relacionadas com a existência anterior a legislação impositiva de controlo prévio
(zonas urbanas e envolventes, 1951; zonas rurais, inexistindo regulamento municipal de
extensão do RGEU, 1991); neste caso, factos passíveis de constatação por inspeção local e
análise física ao solo e subsolo de terrenos com vestígios de ruínas referentes a casario de
família ou de apoio agrícola, até documentos de acesso oficial, e mesmo um amplo
conhecimento de cidadãos da zona, ainda vivos.
Portanto, de facto, temos hoje vigente este princípio da demolição apenas quando nada em
termos regularizadores o proprietário queira fazer ou, mesmo que o queira, nada seja possível
fazer para dar ao edificado condições de legalização.
O artigo 106.º do RJUE pressupõe um licenciamento de regularização edificatória normal,
em situações que caibam na normação vigente no momento em que se pretende regularizar a
ilegalidade, mas não pode deixar de se invocar extensivamente o artigo 88, n.º 3, para o
licenciamento especial aí previsto (situações quase acabadas, em que seria desperdício demolir,
e por maioria de razão, situações de construção já acabadas, em que o desperdício seria maior).
Concluindo este ponto, face ao ordenamento jurídico português, são absolutamente
residuais os casos em que, por incapacidade total de dotar o imóvel de condições de salubridade
e segurança, a sua salvação (mesmo que com imposição eventual de condições para o efeito), se
revele, em apreciação casuística, completamente e na totalidade impossível.
Mesmo que um proprietário não tenha apresentado em dado momento, pretendido pelo
município, um pedido de licenciamento com projeto de regularização-legalização, pode sempre
fazê-lo e o pedido de licenciamento deve ser deferido, mesmo que possa haver norma de PDM
aplicável (então face ao artigo 88.º, seja obra acabada, seja obra inacabada, em ordem a evitar
uma demolição, cabendo ao município atentar nos dispositivos sobre instrução do procedimento
do Código do Procedimento Administrativo, e ter presente que também é tarefa sua tentar por
sua iniciativa enquadrar situações construtivas anómalas, sob pena de um eventual assumir de
responsabilidades e de obrigação de indemnizar por uma demolição que poderia ser evitada, por
lhe caber em primeira linha aplicar devidamente o direito aos factos, que portanto também lhe
cabe diligenciar apurar (Decreto-Lei n.ºn.º67/2007, de 31 de Dezembro, em concretização do
artigo 22.º da Constituição).
Será algo inadmissível e responsabilizante o facto de se decidir mandar demolir e executar
tal ordem sem diligenciar a efetivação do preceituado no artigo 106, n.º1 e 2, ou sem ter
presente o artigo 60.º, caso seja aplicável, ou desprezando a possibilidade de licenciamento
especial do artigo 88.º, a justificar adequadamente, quer nas situações de poder vinculado, quer
nas de “poder discricionário”,.
Face às normas citadas, pode referir-se que o art.º 65.º da Constituição tem também de ser
chamado à colação em matéria de regularização de edificações ocupadas ou aptas para
habitação, pois nele o urbanismo está intimamente, teleologicamente, imbricado no direito
fundamental à habitação, com a natureza dos “direitos económicos, sociais e culturais”, que
integra e consagra.
Pelo que, independentemente da sua possibilidade concreta de maior ou menor
concretização pelo legislador, pelo menos há que considerar as situações urbanísticas referentes
a edificações (e, nesta linha protetiva de loteamentos e edificações ilegais, com a regularização a
todo o custo, temos as leis das AUGI) ou edifícios isolados aptos a habitação, e por maioria de
razão se já habitados, especialmente se não for uma habitação secundária ou, em geral, os
proprietários não tiverem outra habitação para viverem e, em princípio, se a regularização não
ofender regras ambientais ordenamentais diretamente aplicáveis aos cidadãos em função da
localização (PIMOT e PMOT), em que só casuisticamente poderá haver alguma justificação
excecionatória face à, cumulativamente, dimensão e estilo da construção e meios económicos do
proprietário.
Explicitando algo mais sobre o regime do artigo 88.º do RJUE, ele refere-se expressamente
a obras muito adiantadas embora ainda não acabadas, ou seja quase acabadas, inacabadas
portanto mas que estão tão adiantadas que é como se já estivessem acabadas.
Tendo presente a boa interpretação, aliás acolhida no direito comparado, é obra em “estado
avançado” de construção mas ainda inacabada, v.g., aquela a que falte colocar na totalidade ou
em parte o telhado, rebocar paredes em tijolo, não pintada exteriormente, com incompletudes
várias visíveis a um simples olhar.
Embora, face à ratio legis, seja tanto mais aplicável esta norma do artigo 88.º quanto mais
acabada estiver a obra, porque obviamente maior seria o desaproveitamento da construção
quanto mais se tivesse de destruir, para voltar depois a construir.
Refere-se, pois, as situações em que os seus proprietários, face a à aplicação de novas
normas (por exemplo, normas de um PDM, etc.), posteriores à caducidade do título construtivo,
não conseguiriam vir a ter uma licença normal segundo o artigo 106.º, para serem terminadas
como estava previsto anteriormente, face à necessidade normal de novo procedimento de
licenciamento segundo as novas regras.
Estando sem possibilidade disso, a construção já quase acabada (ou acabada, por maioria
de razão) teria de seguir a nova legislação, e portanto teria de ser demolida e reconstruída em
termos diferentes com nova licença como se nada tivesse acontecido antes.
Se chegou a haver antes um título licenciador ou admissão de comunicação prévia,
aplicam-se o n.º1 e 2 e as regras do artigo 60.º, que deve ser lido como um poder vinculado: o
município é obrigado a legalizar o resto da construção com uma licença especial não obrigando
a aplicar as novas normas, embora também não possa aproveitar-se para agravar o desrespeito
delas (fazer como estava no título caducado).
Se, como é entendimento da doutrina, em qualquer outra situação, ou seja, se não houve
nunca tal título (isto é, se estamos face a uma construção isolada de génese ilegal; se fossem
várias, uma área delas, aplicar-se-ia também normação semelhante, a AUGI, que aliás pode
servir de orientação analógica quanto ao construído passível de ser salvo), que na totalidade ou
em parte, não está conforme às novas regras, temos o seu n.º3: “Podem ser concedidas as
licenças (…) quando a câmara municipal reconheça o interesse na conclusão da obra e não se
mostre aconselhável a demolição da mesma, por razões ambientais, urbanísticas, técnicas ou
económicas”.
Ou seja, a Câmara Municipal mesmo em construções ilegais que vão contra normas atuais
e portanto não suscetíveis de legalizar nos termos do artigo 106.º (mesmo que fossem
concluídas ontem e não acabadas ou estivessem inacabadas) pode permitir acabar ou manter o já
construído, desde que declare e fundamente que se reconhece “o interesse em não a demolir”,
não existindo razões urbanísticas, económicas, etc. para as demolir.
Ora, se este poder discricionário existe qual o interesse da Câmara em as demolir – em
certas aldeias não seria demolir metade do edificado?
Ou então ofender o princípio constitucional de tratamento igual de todos os cidadãos,
mandando demolir umas e não outras?
Razões urbanísticas podem existir para se defender tal interesse.
de génese ilegal aglomerados (regime de AUGI) ou casos isolados (regime do artigo 88.º do
RJUE e jurisprudência mais recente).
Os artigos 60.º, 106.º e 88.º do RJUE vão no sentido de uma direito urbanístico que afasta
como princípio a solução de demolição para qualquer obra de edificação, quer por razoes
ligadas ao direito à habitação, quer de natureza económica.
A demolição é hoje entendida como a “ultima ratio”, ou seja, a solução pior e por isso só
aceitável se nenhuma outra for possível dentro de vários quadros de resolução normativa que vai
colocando à análise dos particulares e do município. Não estamos já face a um poder
discricionário do município. E sim a um poder supletivo e sujeito ao contraditório e prova da
impossibilidade de soluções regularizadoras.
Como refere o sumário do acórdão do TCAS Proc.01582/06, Secção do Contencioso
Administrativo, 2º Juízo, de 5-3-2009, sendo Relatora a Desembargadora Teresa de Sousa:
“I-Do preceituado nos art.s 106.º, n.º 2 e 115.º, nº 1 do Decreto-Lei n.º555/99, de 16/12,
conclui-se que vigoram em matéria de demolição de construções ilegais a regra de que a
demolição só deve ser ordenada se não for possível a legalização, com ou sem a realização de
trabalhos de correção ou de alteração.
II-Tal regra é um afloramento do princípio constitucional da proporcionalidade (art.º 18.º,
n.º2 da CRP) que impõe que não sejam infligidos sacrifícios aos cidadãos quando não existam
razões de interesse público que os possam justificar;
III - Assim, se as obras, apesar de ilegalmente efetuadas, podem vir a satisfazer os requisitos
legais e regulamentares de urbanização, não devem, sem mais, ser demolidas;
IV - E, tal apreciação da possibilidade de satisfação dos requisitos de licenciamento deve
anteceder a ordem de demolição, prevista no n.º 1 do artigo 106.º do Decreto-Lei. N.º 555/99.
328N.º2: “A concessão da licença especial e a apresentação da comunicação prévia referida no número anterior segue o
procedimento previsto nos artigos 27.º ou 35.º, consoante o caso, aplicando-se o disposto no artigo 60.º”.
O atual direito do urbanismo não pode deixar de se reger pelo princípio constitucional da
proporcionalidade.
Em causa, exigira obrigação de exigir, para a realização do interesse público urbanístico, o
menor sacrifício possível ao particular.
Tal impede mandar efetivar demolições de obras ilegais, construídas sem controlo prévio
devido ou com título caducado, se elas cumprem ou, com alterações, como é normal, podem vir
a são suscetíveis de vir a satisfazer os requisitos legais e regulamentares de urbanização, de
estética, ou, pelo menos, de segurança e de salubridade.
Em qualquer situação irregular, a Administração tem sempre de diligenciar a
regularização. E, de qualquer modo, nunca pode ordenar demolições sem precedência de
contraditório e da formulação de um juízo relativo à possibilidade dessas obras poderem ser
legalizadas. Só é admissível em caso de juízo negativo ou de recusa do particular a operar obras
de alteração tidas como absolutamente necessárias.
Em caso de obra construída ilegalmente, a demolição não é a única nem a primeira opção.
É a última, em caso de nada poder ser feito para regularizar física e juridicamente o
construído. A medida normal capaz de satisfazer interesse público não passa por aí, prevendo
prevalecentemente necessidade do aproveitamento da construção, a reconhecer-se que ela pode
vir a ser suscetível de satisfazer os requisitos mais elementares que possam evitar tal solução 329.
3.10. Ambiente e regime jurídico da reconversão das áreas urbanas de génese ilegal
Em muitos locais é visível que a construção se fez sem regras, sem planeamento público
ou de iniciativa particular e aprovação pública, sem respeito por regras e condicionantes da
realização de construções (como é o caso de muitas operações urbanísticas, sobretudo nas áreas
metropolitanas, não precedidas de loteamentos urbanos legalmente exigidos), o que se traduz na
incompatibilidade dos locais, sobretudo se destinados à habitação, com a necessária qualidade
de vida.
Este é um conceito, intrinsecamente ligado ao direito constitucional português, e que
reflete apenas a procura de um espaço que permita às pessoas, mais que estar e sobreviver, viver
em condições edificatórias e ambientais sadias.
Importa referir que o artigo 78.º do RJRU, as áreas críticas de recuperação e reconversão
urbanística (que derivam do regime do Decreto-Lei n.º 794/76, de 5 de novembro, alterado
pelos Decretos-Leis n.os 313/80, de 19 de agosto, e 400/84, de 31 de dezembro), veio permitir
convertê-las numa ou mais áreas de reabilitação urbana, nos termos do regime específico das
AUGI.
A conversão das áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística em áreas de
reabilitação urbana opera-se por deliberação da assembleia municipal, sob proposta da câmara
municipal, que deve englobar a aprovação da estratégia de reabilitação urbana ou do programa
estratégico de reabilitação urbana, nos termos deste regime específico.
A conversão pode ser feita através da aprovação de plano de pormenor de reabilitação
urbana que inclua na sua área de intervenção a área crítica de recuperação e reconversão
urbanística em causa.
329 “Deste modo, a execução da decisão que anulou o ato de licenciamento de uma construção por ele ter aprovado uma obra que
desrespeitava as obrigações impostas no alvará de loteamento passará pela notificação do interessado para que apresente projeto que
respeite os requisitos nele estabelecidos e só depois, em caso de impossibilidade de legalização da construção ilegal, se passará à sua
demolição”: ASTA,1.ªSubsecção do CA, Proc.0210/09, 30-09-2009, Relator Costa Reis.
A estas situações de áreas urbanas de génese ilegal (AUGI), há que juntar o volume
impressionante de construções habitacionais ilegais (não configuráveis no seu regime)
existentes no país em geral em lotes “urbanos” no mundo rural, nos anos seguintes ao período
inicial da vigência da mera imposição de licenciamentos para a construção fora das áreas
urbanas e envolventes (nestas tal obrigação a nível nacional nasce com o Regulamento Geral de
Edificação e Urbanização (RGEU), de 7.8.1951), em que se justificaria, em muitas situações de
habitações agregadas, a promoção de planos de pormenor (PP) simplificados para áreas rurais,
dotados de grande flexibilidade de arranjos coerentes e criadores de vida coletiva eficaz.
330 Lei n.º 91/95, de 2 de setembro, revisto pela quinta vez pela Lei n.º 70/2015, de 16 de Julho, resultante do projeto d elei 829/XII,
D.R., I série, n.º137/XII/4, de 16.7. 2015 (alterações em 1999, 2003, 2008, 2013 e 2015). Trata do processo de reconversão da s
áreas urbanas de génese ilegal, definindo os termos aplicáveis à regularização dessas áreas durante o período temporal nela
estabelecido).
331 Acórdão nº 3703/07.5TBALM-A.L1.S1, do Supremo Tribunal de Justiça, de 19 de Abril de 2012.
Ou seja, construções, mesmo que com escrituras dos terrenos, já não em avos mas em
metros2, erigidas a seguir aos anos de 1991 (ou mesmo aos anos em que eventualmente certos
municípios tenham estendido, a partir da década de sessenta, o RGEU a áreas rurais), a
regularizar através ou de licenciamento putativo mas dentro das normas em vigor no momento,
previsto no artigo 106.º do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, de “1999” (RJUE), ou
de licenciamentos especiais do artigo 88.º também do RJUE, e tendo presente a lógica da
primazia da perspetiva anti-demolição ínsita ao próprio regime das AUGI.
Como refere a Lei n.º 91/95, de 2 de Setembro, sobre a reconversão das AUGI, estas são
“prédios ou conjuntos de prédios parcelados” sem o devido loteamento municipal. O legislador
aponta para uma anterioridade ao Decreto-Lei n.º46.673, de 29/11/1965, existências urbanísticas
ilegais.
Em causa, terrenos, na totalidade ou predominantemente, ocupados por construções não
licenciadas e “prédios ou conjuntos de prédios contíguos”, em área que, nos planos municipais
de ordenamento do território (PMOT) estejam classificadas como espaço urbano ou
urbanizável, mas que legalmente pressupunham a existência de um loteamento devidamente
licenciado pelo município, o qual não existe, resultando apenas de “operações físicas de
parcelamento destinadas à construção” (até à data da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º
400/84, de 31 de Dezembro)332.
Este regime excecional de regularização visa a reconversão urbanística das áreas
clandestinas em causa, definindo os princípios gerais desse processo, regulando o regime da
administração dos prédios aí integrados, atribuindo as competências e o funcionamento da
assembleia de proprietários ou comproprietários e da comissão de administração daqueles
prédios, os mecanismos conducentes a reconversão por iniciativa dos particulares (através de
pedido de loteamento endereçado as camaras municipais), ou por iniciativa municipal (mediante
elaboração de planos de pormenor de reconversão), as modalidades e os critérios de divisão dos
prédios integrados, além de outras matérias de interesse geral, tais como a questão dos
loteadores ilegais, licenciamento condicionado, embargo, eventual demolição de construções e
encargos.
áreas a que se refere o n.º 7 do artigo 1.º. Para estas áreas deviam estar elaborados (até final de 2007) os estudos da sua reafectação
ao uso previsto nos planos territoriais. Neste mesmo prazo e em simultâneo com o estudo de reafetação, as câmaras municipais
deviam ter procedido ao levantamento exaustivo dos agregados familiares que tenham habitação própria permanente nas edificações
a desocupar e a demolir e que têm de ser realojados, devendo no recenseamento, designadamente, prever -se a identificação e
localização da edificação a demolir, certificar-se a afetação da mesma a habitação própria e permanente do agregado, a identificação
e composição deste último e respetivos rendimentos. Aprovado o levantamento pelo Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana ,
IHRU, I. P., os realojamentos poderão ser efetuados com recurso aos instrumentos legais em vigor aplicáveis ao caso,
designadamente e em alternativa, através da atribuição pelo município de prioridade nos concursos municipais de habitações a
custos controlados para venda ou por via da aplicação do regime constante do Decreto-Lei n.º 226/87, de 6 de junho, e legislação
complementar, para arrendamento em regime de renda apoiada.A não comprovação da afetação da edificação a demolir a habitação
própria e permanente do agregado familiar ou a verificação da existência de outra residência arrendada ou de sua propriedade na
mesma comarca ou limítrofe é fator excludente do direito a realojamento.línea b), n.º 1, artigo 32.º; artigo 47.º.
338 Este diploma veio concede às autoridades administrativas responsáveis os meios legais para poderem a exercer uma intervenção
eficiente nas operações de loteamente urbano, tendo presente a tendência verificada para um intenso desenvolvimento urbanísti co,
que se vinha já verificando, e crescente actividade especulativa, visando o aproveitamento indiscriminado de terrenos para a
construção urbana. O que vinha desde então a permitir constatar operações muito vultosas com a criação de aglomerados
habitacionais sem sujeição a qualquer disciplina, prejudicando o racional desenvolvimento urbano do território ou contrariando
planos oficiais para o aproveitamento dessas regiões, com efetivação de operações de loteamento sem prévias infra -estruturas
urbanísticas. Como então já s eprevia, mas não se conseguiu evitar, tal atividade construtiva acabaria por criar para as câmaras
municipais problemas graves de natureza financeira, pois teriam mais tarde de realizar obras de urbanização para dotar estes núcleos
habitacionais com os indispensáveis acessos, redes de abastecimento de água e de drenagem de esgotos, espaços livres e sua
conservação; encargos que não tendo compensação, em geral não poderim vir a ser suportados normalmente pelo erário municipal.
339 Delimitação a efetivar com recurso a qualquer meio gráfico, cadastral ou registral que identifique com clareza a área delimitada,
a qual corresponde à área que, no entendimento da câmara municipal, deve ser objeto de um único processo de reconversão
urbanística, podendo integrar um ou mais prédios contíguos.
Existe quer para os proprietários e comproprietários dos lotes como para os donos das
construções erigidas na área da AUGI (devidamente participadas na matriz, e para os
promitentes-compradores de parcelas, desde que tenha havido tradição, os quais respondem
solidariamente pelo pagamento das comparticipações devidas), o dever de reconversão
urbanística do solo e da legalização das construções integradas numa AUGI, o qual integra o
dever de conformar os prédios que integram a AUGI com o alvará de loteamento ou com o
plano de pormenor de reconversão, de acordo com o estipulado e os prazos fixados pela câmara
municipal e a obrigação de comparticipar nas despesas globais da reconversão.
E existe o direito de regresso sobre os vendedores destes prédios das importâncias em
dívida no momento da sua aquisição, exceto se tiverem renunciado expressa a tal. As câmaras
municipais podem deliberar, após prévia audição dos interessados, suspender a ligação às redes
de infraestruturas já em funcionamento que sirvam as construções dos proprietários e
comproprietários que violem o seu dever de reconversão.
Para efeitos de reconversão das AUGI, estas devem dispor de uma comissão de
administração validamente constituída até 31 de dezembro de 2016 e de título de reconversão
até 30 de junho de 2021.
As câmaras municipais puderam até 31 de dezembro de 2015, proceder à delimitar das
AUGI, fixando, como modalidade de reconversão, a iniciativa municipal sem o apoio da
administração conjunta.
O prazo fixado para a constituição da comissão não se aplica à comissão de administração
devidamente eleita (n.º 4 do artigo 8.º).
referidos no artigo 73.º do RGEU343, reduzidos a metade, com o mínimo de 1,5 m ao limite de
qualquer lote contíguo.
A legalização deve observar o previsto nos regulamentos municipais (n.º 7, artigo 102.º-A,
RJUE), relativos à concretização dos procedimentos e dos aspetos que envolvam a formulação
de valorizações próprias do exercício da função administrativa, nomeadamente, as exigências
técnicas que se tornaram impossíveis ou que não é razoável exigir.
Para efeitos da dispensa do cumprimento de normas técnicas relativas à construção cujo
cumprimento se tenha tornado impossível ou que não seja razoável exigir (desde que se
verifique terem sido cumpridas as condições técnicas vigentes à data da realização da operação
urbanística em questão), presume-se que a construção foi realizada na data da respetiva
inscrição na matriz, sem prejuízo de o requerente poder ilidir esta presunção.
343 Artigo 73.º RGEU: “As janelas dos compartimentos das habitações deverão ser sempre dispostas de forma que o seu afastamento
de qualquer muro ou fachada fronteiros, medido perpendicularmente ao plano da janela e atendendo ao disposto no artigo 75.º, não
seja inferior a metade da altura desse muro ou fachada acima do nível do pavimento do compartimento, com o mínimo de 3 metros.
Além disso não deverá haver a um e outro lado do eixo vertical da janela qualquer obstáculo à iluminação a distância inferior a 2
metros, devendo garantir-se, em toda esta largura, o afastamento mínimo de 3 metros acima fixado.”
344Casos há na área da Grande Lisboa, em que os municípios retiraram áreas que constavam dos plano municipais como AUGI, por
razoes financeiras de agir e as passaram a considerar (com base em supostos e indemonstradas razoes de segurança dessas zonas de
“declive”), em geral de existência transitória, pondo em causa mesmo habitações erigidas com todas as condições substantivament e
legais e de custos volumosos, que assim se mantêm por os problemas financeiros que criariam com construções públicas de
substituição não fossem maiores, o que significa puramente isentar as câmaras de certas obrigações e prazos previstas no regime das
AUGI, uma vez que as habitações aí continuam por décadas (de plano em plano, como se pode constatar com a revisão do atual
PDM de Loures), afinal sem as entidades públicas se preocuparem com as invocadas razoes de segurança, que não seja a falta de
regularização e o pânico permanente das populações sobre o futuro do seu património (e como se povoações em zonas realmente
montanhosas com muito mais declive não existissem em grande parte do território nacional como áreas de encostas). A única
consequência é obstar à vida económica da zona, com impossibilidade de legalização do setor de restauração, pois as licenças de
exploração em edifícios antigos ou construídos de modo irregular só podem ser emitidas se for obtidas autorização de utilização, que
por sistema não é passada em tais áreas, como se fossem sujeitas ao regime AUGI.
345 Vide a exposição de motivos projeto de lei de 2015 (Lei n.º70/2015).
pormenor de reconversão é requerida pela administração conjunta até à sua extinção, com o
consentimento dos proprietários dos lotes para os quais se requer alteração.
Sempre que a sua localização atual seja inadequada, pode o plano de pormenor prever a
possibilidade de transferência de edificabilidade e a inerente recuperação do solo da localização
preexistente, nos termos do artigo 21.º da Lei de Bases Gerais da Política Pública de Solos, de
Ordenamento do Território e de Urbanismo).
No que se reporta a áreas abrangidas por reserva ou servidão, podem ser desafetadas até ao
estrito limite do necessário à viabilização da operação de reconversão, desde que não seja posto
em causa o conteúdo essencial ou o fim da reserva ou da servidão (situação que implica a
alteração do PMOT em vigor), nem envolva perigo para a segurança ou para a saúde das
pessoas e bens.
cargo dos proprietários ou comproprietário (artigo 3.º), cabe à câmara municipal, todos os atos
relativos à emissão do título de reconversão e execução integral das infraestruturas.
Todos os interessados com direito a fazer parte da assembleia de proprietários ou
comproprietários, que não apenas estes (artigo 9.º) podem aderir individualmente ao processo de
reconversão realizado sem o apoio da administração conjunta.
No que se refere à garantia da execução das infraestruturas, se a sua a execução, total ou
parcial, couber aa câmara municipal, a operação de loteamento ou o plano de pormenor só
podem ser aprovados depois de demonstrada a viabilidade financeira da execução das obras e o
modo e tempo da realização da receita para isso351.
Nos instrumentos de execução dos planos (IGT), as relações entre os particulares
processam-se no âmbito da administração conjunta da AUGI e as relações entre aqueles e o
município por intermédio da comissão de administração.
351 A câmara municipal, se entender necessário à reconversão da AUGI, pode aplicar as medidas previstas no Decreto-Lei n.º
804/76, de 6 de novembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 90/77, de 9 de março.
352 Alíneas a) a e) do n.º 1 do artigo 18.º; alíneas a) e b) do n.º 2 do artigo 10.º.
No que diz respeito à apreciação liminar aplica-se o CPA e quanto a consultas aplica-se o
RJUE (artigos 13.º a 13.º-B).
A câmara municipal pode, em sede de apreciação liminar, por uma só vez e no prazo de 15
dias a contar da receção do pedido de licença da operação de loteamento ou da apresentação da
comunicação prévia das obras de urbanização, solicitar os elementos instrutórios em falta que
sejam indispensáveis ao conhecimento do pedido e cuja falta não possa ser oficiosamente
suprida do regime jurídico da urbanização e edificação.
Mas os pareceres negativos das entidades consultadas têm sempre de enunciar a solução
que permita o deferimento da pretensão, não carecendo as retificações e alterações efetuadas em
conformidade com eles de sujeição a nova consulta, devendo as retificações e alterações
efetuadas integrar-se no processo em curso.
A câmara municipal pode, no prazo de 30 dias a contar da receção do pedido, pode
proceder à realização de vistoria, a realizada por uma comissão especial (que deve designar e a
que assistirá o presidente da comissão de administração da AUGI), visando verificar a
conformidade da planta com a realidade existente na AUGI 353.
A câmara municipal pode promover a realização das obras de urbanização por conta dos
proprietários a acionar a caução.
353 Dela se lavrando auto de onde conste circunstanciadamente as situações de desconformidade constatadas e o estado de execução
das infraestruturas.
354 Artigo 102.º-A, RJUE.
355 Portaria n.º 243/84, de 17 de abril.
A celebração de quaisquer atos ou negócios jurídicos entre vivos de que resulte ou possa
vir a resultar a constituição de compropriedade ou a ampliação do número de compartes de
prédios rústicos carece de parecer favorável da câmara municipal do local da situação dos
prédios, sob pena de nulidade dos mesmos, para o que a câmara municipal também tem
legitimidade para promover a declaração judicial.
Este parecer só pode ser desfavorável com fundamento em que o ato ou negócio visa ou
dele resulta parcelamento físico em violação ao regime legal dos loteamentos urbanos,
nomeadamente pela exiguidade da quota ideal a transmitir para qualquer rendibilidade
económica não urbana.
O parecer é emitido no prazo de 45 dias, entendendo-se a sua omissão como parecer
favorável.
Os titulares dos prédios que tenham sido objeto de loteamento ilegal e que já disponham de
alvará de loteamento emitido nos termos do regime jurídico da urbanização e edificação, ou de
legislação anterior, podem beneficiar do regime especial de divisão de coisa comum previsto
nesta lei356.
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356 A lei das AUGI aplica-se aos processos em apreciação à data da sua entrada em vigor, a requerimento dos interessados,
aproveitando-se os elementos úteis já existentes. No caso de processos de reconversão em curso à data da entrada em vigor da lei, a
assembleia da administração conjunta pode mandatar a entidade que vem promovendo a reconversão do prédio para exercer as
funções da comissão de administração.
357 N.º 4 do artigo 62.º da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio.
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