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SESSÃO DE CONGREGAÇÃO,

DE 25 DE JULHO DE 1948,
EM HOMENAGEM AOS FUNDADORES DA FACULDADE
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Oração proferida pelo Diretor da Faculdade


Prof. Guerra Blessmann

Jl![ eio Jéc ulo -


No perpassar contínuo g1a indomável com que souberam galharda-
dos anos, esta etapa, ainda insignificante na mente vencer.
vida de uma escola superior, pois no m~ndo É com ufania que vos faremos acompa-
às centenas se contam as muito mais antigas, nhar a trajetória dos trabalhos que empreende-
merece de nós, neste momento, a mais fervo- ram, fazendo-vos conhecer alguns dos dados
rosa das consagraç(>es porque, no meio em históricos que indelevelmente gravados assi-
<jUe vivemos em uma nação ainda jovem, nalam o prólogo do ensino médico no Riu
' ' .
indispensável se torna louvar, com o maxim_o Grande do Sul, antes ele findar o primeiro
entusiasmo, o gesto in esq uecí vd c extraorcii- decênio ela República.
nário, dos que, a 25 de julho de 1898, funda-
ram esta casa de ensino. Resumo histórico no BraJil - Antes do
O meio em que nasceu, c as intenções que século XIX, a medicina no Brasil era exercida
a ditaram, elevam muito alto, o ide_alismo sa- por alguns "cirurgiões-barbeiros" que aqui che-
dio c bem orientado de seus egrégws funda- garam com os donatários elas capitanias e mui-
to ansiavam por voltar ao Reino, pelos ir-
dores.
mãos enfermeiros e por muito poucos físicos
Para traduzir os sentimentos que nesta e cirurgiões que vieram, os primeiros, com
ocasião estrujem na alma de todos nós, só me D. Duarte da Costa e Mem de Sá.
restou ceder.
A profissão não permitia grandes lucros
Vacilação ou renúncia da missão OL~tor­ e os licenciados mal chegavam a obter o ne-
gada não acudiram a quem, nu pôsto, tmha cessário para sua manutenção, enquanto os
o dever da obediência. outros emigrados adquiriam fortuna e tam-
bém a honraria de cargos públicos, que eram
Entretanto, hoje, na grandiosidade do ato,
vedados àqueles por serem considerados cris-
hesito ainda, no temor de não chegar a tradu-
tãos novos, meio-cristãos, pertencentes à in-
zir suficientemente os propósitos elos que pu-
fecta nação.
deram exigir. Temo que os seus pensamentos
não tenham transfundido completamente em Proliferaram ass1m os barbeiros e curan-
mim o ardoroso sentir de cada um, para po- deiros.
der com as suas melhores palavras, repro_du- O progresso da medicina impulsionado
zir fielmente a sinceridade de seus propÓsitos por grande número ele descobertas verificadas
e tecer um hino grandiloqiiente, elevando_ a ao meio do século XVIII, refletiu-se no Bra-
alcandorados c merecidos p{Iramos, a açao sil e desta época em diante conta-se a chega-
dos q uc souberam com inexccd í vcl ded_icação ela de profissionais mais habilitados, especial-
c extremada f(·, edificar a obra que hoJe glo- mente alguns portuguêses e poucos brasilei-
rificamos. Os irnpulws do desejo têm de lu- ros formados pela Escola de Edimburgo, na-
tar com o imp~rio das condiçc-,es. q uelc tempo o mais famoso centro ci~ntíficc
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Ecegranccgaaoclaqucvl\ 1· : •eillos··•. voi- ela Europa, cujo desenvolvimento estava em
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ta dos para r> passa< o, c· 110 pc1 q Lllfl ,. <>s
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franco contraste com o elas escolas da penín-
no desvendar atitudes, onde vamos encon- sula.
trar os nossos precursores, sadia t' honesta- Em fins elo século XVIII e comêço de
mente lutando pela execuç:io plena da ,mag- s~culo XIX se a qualidade havia melhorado,
lll'1"1ca c granc 1·1osa o 1lLl, que ,,.,<jlleh
.' ' e1)oca a quantidade de profissionais ainda era es-
talvez apvnas lhe~ era dado v1slurnhrar. cassa. Se ainda pequeno era o amanho da
terra, muito menor era o cultivo do espírito.
Depois de cinqiicnta anos, ap~esentamo­
no~ a v 1',s, orgulhosos de vos~as vltonas, onde Mui to poucos eram os sinais ele cultura
rcconhecl'nlos a atividade sem par c a cner- em terra brasileira. O vice-rei D. Luiz dt
Vasconcellos funda a Casa ela História Na- turas, contusões; era-lhes vedado administrar
turai, por assim dizer o primeiro estabeleci- medicamentos, tratar moléstias internas, fun-
mento de ensino no Brasil, e consegue o éditc ção únicamente reservada aos médicos.
real, autorizando a ida a Coimbra de quatrc Chega o ano de 1822, funda-se a nacio-
estudantes brasileiros, sendo que dois dêle~ nalidade brasileira c com D. Pedro l surge
deviam estudar matemática, um medicina t também, em 18i3, a Assembléia Constituinte
um ctrurgta. c esta, talvez como reação ao absolutismo de
Ao comêço do século XIX inicia-se nc então, rc~olvia que todo o cidadão estava apto
Brasil o desenvolvimento do ensino, espccia~ para abrir escolas de instrução, independente-
mente do ensino médico. Escapando As hos- mente de exame, licença ou autorização. Pro-
tcs napoleônicas de Junot, D. João V I trans- curou-se corrigir o desleixo, pela intemperança
porta-se cautelosamente ao Brasil. Aporta :1 de excessos que só vieram denunciar o irrefle-
cidade do Salvador c em 18 de fevereiro de tido do ato. José Vcríssimo julga que esta
1808, antes de completar um mês de sua che- liberdade que daí por diante foi grande pelo
gada, graças a decidida influência de um lente Brasil afora, firmou suas raízes, em nosso in-
jubilado de Coimbra que o acompanhava, significante zêlo c empenho pelo ensino.
cria-se na Baía de Todos os Santos a primeira Em I) de setembro de UQó, D. Pedro I
escola cirúrgica. Até 1815 êste curso foi le- promulga um decreto, revogando tôdas as
cionado por dois professôres c era de q uatru disposições vig'éntes e estabelecendo que as
anos a sua duração. Escolas da Baía e Rio de Janciro, por seus
Transporta-se D. João VI para o Rio de diretores, expcssarn diretamente as "cartas"
Janeiro c nessa cidade, também antes de um que autorizam os "cirurgiões apl()vados" a
mês de seu desembarque, funda a Escola Ana- exercerem a cirurgia c aos "cirurgiões forma-
tômica, Cirúrgica c Médica do Rio de Janei- elos" exercerem a cirurgia c medicina. Era
ro, sendo nomeado, a 2 de abril de 1808, o assim concedida a max1ma prerrogativa que
primeiro lente de Anatomia, Joaquim da Ro- até então havia sido negada às Escolas bra-
cha Mazarem. sileiras.
Nos anos sucessivos nomeou outros len- Um rio-grandense eminente c ilustre, Ma-
tes e criou novas cadeiras em ambas as. esco- noel ele Araujo Pôrto Alegre, Barão de Santo
las. Em 1.0 de abril de 1813 por proposta do Ângelo, traduziu em preciosa obra de arte e
Dr. Manoel Luiz Álvares de Carvalho, diretor de história, hoje conservada no salão nobre
dos estudos médicos cirúrgicos da Côrte e da Faculdade N acionai de Medicina, e man-
do Estado do Brasil, desde 1812, modifica o dada executar, como sinal de regozijo, pela
curso da Escola da Baía, moldando-o pelo en- turma de doutorandos de 1830, o momento
tão estabelecido para a Escola de Cirurgia do ela entrega dêstc decreto pelo Imperador,
Rio de J<meiro; ambas passaram a se chamar acompanhado pelo conselheiro José Fernandes
Academias de Cirurgia. As aulas da Baía c Pinheiro, Visconde de São Leopoldo, ao diretor
elo Rio de Janeiro, até então dadas no Hos- Vicente Navarro de Andrade, acompanhado
pital Militar, são transferidas para o da San- de tôda a Congregação.
ta Casa de l\Iiscricórdia, a seriação (. elevada ;\ execução dêste decreto estava a exigir
para cinco anos c um professor é encarregado uma reforma c enquanto tio Parlamento, Lino
de cada ano. Se'> podem conceder os títulos Coutinho c na imprensa Soares de :vlcirellcs
de "cirurgião aprovado" c "cirurgião formado", se degladiavam, o Dr. José :Vlartins da Cruz
êste último obtido após repetição dos quarto Jobim, formula sua reorganização dos estudos
c qtiinto anos. Estas escolas não podiam dar mt'·dicos criando doze cadeiras.
o título de médico que continuava privilégio O ( ;ovi:·rno ou v e as Sociedades de iVI c-
de Coimbra, por falta de melhores professi\res dicina, as Academias passam a se denominar
c pouca extensão dos cursos, conforme se Faculdades c são criadas quatorze dtedras
dizia. com quatorz~: profcssflrcs e seis substitutos, o
Os diplomados para hahiliLtl::-tO ao exer- curso mt':dico vai a seis anos c o de farm:'tcia
cício da profissão deviam ainda ter a apro- a tr[:s.
vação e licença do Cirurgiãn-\lor do Reino. P.tr:t matrícula passam a ser exigidos os
Os formados no Brasil sú podiam exercer a seguintes prcparatúrios: Latim, Francês, In-
função de médicos, onde êstes não existiam; /.;lês, Filosofia, Aritmética e Ceometria, nn
fora disto tinham o papel de enfermeiros, apli- cttrso médico, menos Latim c Ftlosnfia para os
cavam bichas, ventosas, tratavam feridas, fra- f a nnaci\u t icos.
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O título ele doutor era dado mediante Com o advento da República, onde mui-
defesa de tese. Em 28 de abril de 1854 nova tos de seus eminentes propagandistas eram
reforma pelo Ministro elo Império, Luiz Pe- extremados partidários desta doutrina não foi
dreira do Couto Ferraz, Barão do Bom Re- cstranhável que ressurgissem com ~ais im-
tiro, traz vantajosa modificação, determinando petuosidade . as. lutas pela implantação, nas
a instalação de laboratórios, gabinetes, ma- novas constttwções, dos princípios que tão
ternidade, anfiteatro e dando a administração calorosamente defendiam.
da escola, ao Diretor e a Congregação ele No decurso do VI ano da República ope-
Lentes. rou-se a criação da Escola Livre de Farmácia
Em 19 de abril de 1879, volta o Govêrno de Pôrto Alegre c a do curso de Partos e dois
pelo decreto n. 7247, a reformar o ensino. O anos mais tarde a da Faculdade de M~dicina.
gabinete, então do Partido Liberal, presidclio
por Sinimbu, tinha na pasta do Império, a A transformação política que se dera no
cujo cargo estavam os negócios da instrução, País a despeito das lutas internas a que não
o prof. Carlos Leôncio de Carvalho. No seu escapou o Rio Grande do Sul, os novos pro-
artigo 1. 0 é declarado livre o ensino primário gramas constitucionais do Estado e da Re-
c secundário na Côrte, c o superior em todo pública, estabelecidos por uma predominante
o Império, salvo a inspeção necessária para elite cultural que, sem dúvida, fôra formada
garantir as condições da moralidade c higiene. no Império, graças ao forte prestígio dado por
Além disto é permitida a associação de parti- D. Pedro II às letras c às ciências, e talvez,
culares para a fundacão de cursos onde se en- em relação ao nosso Estado, também uma ati-
sinassem as matéria~ de qualquer curso ofi- tude reacional contra a interpretação dada a
Cial de ensino superior, comprometendo-se o alguns dos dispositivos constitucionais que de-
c;ovêrno a não intervir na organização. As finiam liberdade profissional e liberdade de
instituiçôcs déstc gênero, acrcs~entava o de- ensino, tiveram o mérito indiscutível de con-
creto, com funcionamento regular durante se- gregar o espírito sadio e construtor de homens
te anos consecutivos, tendo dado o grau aca- do Rio Grande para a fundação de suas es-
dêmico a pelo menos quarenta alunos, pode- colas superiores.
rão obter do Covêrno o título de Faculdades Alfredo Leal em seu relatório sôbre a es-
Livres com todos os privilégio~; e garantias de cola ele Farmácia lido em 25 de julho de 1898,
que gozam as faculdades ou escolas oficiais. dizia ter julgado necessário dar matrículas
i\ concessão ficaria dependendo de autoriza- gratuitas porque facilitava aos estudantes po-
ção do Poder Legislativo. Vflrios regulamen- bres o ensino de uma profissão modesta mas
tos, avisos c instruçiics daí por diante deter- honrada, opondo assim um obstáculo à liber-
minaram diversas nwdificaç<ies sem maior im- dade profissional.
port~ncia c em 2S de outubro de IRR4, foram
A liberdade de ensino já havia sido es-.
reorganizadas as Faculdades de Medicina do tabclecida pela reforma de Leôncio ele Carva-
rrn pé rio, por nova lei claborad a segundo pla- lho, dez anos antes da República, mas lá es-
no da autoria do Visconde de Sabóia, eminen- tava estipulado que uma fiscalização se im-
te professor do Rio de Janeiro. que já fôra co- punha para manter as condições de morali-
laborador da reforma I .eúncio de Carvalho. dade c higiene.
Assim em 77 anos do l mpério realiza-
ram-se cinco principais reformas de ensino Assim, sob os auspícios de leis qut: re-
no Brasil, não levando a conta, decretos, por- vigoravam, na parte do ensino, disposiçôes her-
farias c avisos que também freqüentemente dadas do Império, a Sociedade "União Far-
vinham alterar disposiç<->es expressa,. macêutica" fundada em Pôrto Alegre cinco
Quando surgiu a República estava em anos após a proclamação da República, para
vigor a reforma Sabóia. Nos últimos anos <ratar ele todos os 1nterêsscs profissionais, co-
do Império, desde a aprcscntaç:io da reforma mcrcJats c científicos da classe farmacêutica
de IR7<J, muito se falara em liberdade de en- inscrevia ainda entre os seus fins a fundaçã;
sino, e os inexcedíveis pareceres de Ruy Bar- de um curso livre de Farmácia, com progra-
hosa, apresentados it Comissão da Instrução ma de ensmo moderno c de acôrdo com as
Pública da C:'tmara em IRR2, assinalam exu- necessidades atuais da profissão, ou fazer pro-
berantemente quanto pretendiam influir na paganda na imprensa e JUnto aos poderes pú-
organização do cnsmo do Brasil os adeptos blicos para o estabelecimento de um cnrso su-
da doutrina positivista. perior de Farmácia nesta Capital, ouvindo
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para êste fim uma comissão ele profissionais, de abril, são aprovados os Estatutos da nova
quanto às matérias dêsse curso. Além disto, Escola Livre de Farmácia e Química lnd us-
pleiteava a Sociedade, ingresso de profissio- trial, subscritos por Alfredo Leal, diretor, e
nais farmacêuticos na Inspewria de Higiene Francisco de Carvalho Freitas, secretário.
do Estado, em organização, com o direito de Os cursos ele F arrnácia c Química Indus-
voto sôbre assunto de sua profissão. trial são realizados em três séries a saber:
Faziam parte da Sociedade os farmacêu- Curso de Farmácia - l.a série: Física Ex-
ticos Alfredo Leal, Arlindo Caminha, F ran- perimental e Química Mineral c princípios de
cisco de Carvalho Freitas, João Daudt F.'\ Mineralogia; z.a série - Botânica c Zoologia,
Olímpio Guimarães, Manoel da Silva Pereira, Química Biológica e Microscopia e Química
Christiano Fischer, João Landell Moura, Ed- Orgânica; 3.<L série: Matéria Médica e Te-
mundo Landell ele Moura, e Francisco Rocha. rapêutica, Química Analítica c Toxicológica
Em 16 de setembro de 1894, foi instalada c Farmácia Teórica c Prática. O curso de
em Pôrto Alegre a Sociedade "União Farma- Química Industrial também em 3 séries tem
cêutica" cuja primeira diretoria ficou cons- as seguintes di·sciplinas: 1.a série: Física Ex-
tituída· por A. Valença Appel (presidente), perimental e Química Mineral e princípios
João Batista Ervedoza (vice-presidente), Ar- de Mineralogia; z.a
série: Botânica e Zoologia,
lindo Caminha e Alfredo Leal (secretário), Química Orgânica e Mineralogia; 3.a série:
João Daudt FY (tesoureiro) e Alfredo Cal- Química Analítica, Química Agrícola e Quí-
bano (diretor da revista). mica Industrial.
Êste grupo de farmacêuticos, ciente e cons- Estipulam os Estatutos o preenchimento
ciente da falta de profissionais habilitados pa- elas cátedras vagas por concurso de provas a
ra o exercício da profissão, empenhava-se pela saber: urna prova escrita, uma prova prática
fundação de uma nova escola de farmácia, a c urna prelc<,·;:io oral de improviso e urna prova
primeira que no Brasil devia ser instalada, oral, seguida de argüição. Os lugares ele subs-
quando apenas existiam os cursos anexos nas titutos e preparadores, também serão providos
Faculdades de Medicina da Baía c do Rio de por concurso. No regime escolar é estabele-
Janeiro. cida a freqüência obrigatória nos exercícios
prúticos perdendo o ano o aluno que der lO
Mais ou menos na mesma época- outro
faltas não abonadas ou 40 justificadas. O
grupo, êste de médicos, - verificando cotidia-
aproveitamento dos alunos é verificado em
namente os prejuízos decorrentes da falta de
cada disciplina por exames constantes de pro-
profissionais habilitados rara o exercício da
va escrita, oral c pr(!tica.
enfermagem obstétrica, corno testemunhas
oculares que eram dos prejuízos inúmeros, a Progride a Escola de Fann(lcia c em 15
que também não escapavam mesmo os de mui- de fevereiro de IR97, especialmente convidada
tas vidas destruídas, como resultado único do rara urna sessão de Congregação, a Sociedade
atraso em que se encontravam, as comadres "União Farmacêutica", representada pelo sr.
ou aparadeiras, com o auxílio do Hospital da Arlindo Caminha que se congratula com a
Santa Casa de \Iiscricflrdia, logo posta a dis- Congregação pela realidade da Escola recém-
posição por seu ilustre provedor Ccl. Antonio fundada, d<:clara-a emancipada em nome da
Soares de Barcelos, resolve fundar um Curso Sociedade, c convida o diretor a receber elo
de Partos; Protásio Alves, Dioclécio Pereira, tesoureiro da União o saldo ela Escola. Nes-
Sebastião Leão e Carlos Nabuco tornam c le- te mesmo dia o diretor, ao declarar instalados
vam avante a iniciativa. os trabalhos da Escola, faz c ,·logio da Socie-
A Sociedade "União Farmacêutica" não dade "L1nião Farmacêutica'', narra as provi-
descura de sua idéia e a procura de casa para dDncias preliminares, inclusive o pedido feito
insta lar a Escola recebe a com uni cação, em para a Europa de aparelhos que já se encon-
17 de fevereiro de IR95, do Sr. Dr. Inspetor tram nos respectivos laboratórios, e faz urn
da Instrução Pública de que pode dispor de apêlo de honra a seus colegas presentes c au-
algumas salas do edifício da Escola Normal sentes para que aquêles que não puderem ou
(hoje Repartição Central de Polícia), para não quiserem desempenhar as suas funçi">cs
nelas instalar a Escola de Farm(IC"ia. como lentes façam pronta declaração.
Em 1R96, após ouvido o presidente do Apesar da carta de alforria que concedera
Estado, Dr. Júlio de Castilhos, no dia 2R à Escola, a Sociedade não se desinteressa dela
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e em março de 1897, solicita a nomeação de Farmácia em marcha com "fogos de Bengala"


uma comissão de professôres para auxiliá-la comparecem às residências dos professôres Al-
na realização de uma quermesse que está pro- fr~do .Leal e ~rotásio Alves a fim de junto ao
movendo em benefício da Biblioteca da Es- pnmei.ro mamfestarem seu elevado aprêço pe-
cola. lo mUito que se tem esforçado pelo levanta-
Em maio de 1898 faz doação de cento e mento e progresso da Escola e junto ao se-
quarenta volumes para a biblioteca. Em 20 gundo para manifestarem sua grande simpa-
de julho de 1898 o Dr. Protásio Alves, diretor tia pelo muito que se tem empenhado para
do Curso de Partos, propôc para em ação con- levar avante a idéia da instituição aqui da
junta fundarem a Faculdade de Medicina de Faculdade de Medicina.
Pôrto Alegre. Na residência elo primeiro falou o acadê-
Em seu relatório em 25 de julho de 1898 mico Cecílio Monza e na do segundo o aca-
Alfredo Leal declara que partindo dêle a lem- dêmico Luiz Henrique ele Souza Lobo, os dois
brança da união que hoje selaremos propõe as estudantes do primeiro ano da Escola de Far-
bases da mesma. Após longa discussão da macia. Em ambas residências convidados a
proposta: "sem que em seu procedimento se entrar, os alunos confraternizaram com aquê-
possa ver o menor indício de desconfiança, de les professôres e demais colegas que os acom-
desânimo, de receio de que naufrague a idéia panharam.
para cuja corporificação nos unimos ... com a Na mesma noite a Sociedade "União Far-
convicção profunda que ela em breve será macêutica" foi cumprimentar Alfredo Leal pe-
triunfante", declara que fica convocada uma los inúmeros e ingentes esforços até então dis-
reunião da Congregação da Escola de Farmácia pendiclos.
com os membros do Curso de Partos, para, em
sessão de segunda-feira, 25 de julho, às 7 ho- Em 22 de agôsto de 1898 o Dr. Júlio Pra-
ras da noite, tratar da fundação da Faculda- t::s de Castilho, então chefe do Partido Re-
de de Medicina, sendo que a atual diretoria publicano, re~pondendo à comunicação que
da Escola de Farmácia resignará ao ser eleita lhe fôra feita da fundação da Faculdade de Me-
a diretori:t da Faculdade. · dicina e Farmácia, considera esta fundação
não sómente mais uma vitória do ensino livre,
Desta forma chegamos ;'H(Ucla segunda- mas também uma irrefragável ratificação de
feira memorável, 2S de julho de 1898, quando um dos eminer.tes e substanciosos princípios
;\s 19 horas reunidos os Lentes da Escola de em que se esteou o código constitucional rio-
Farm[tcia c do Curso de Partos, ficou fundada
!!randense em longa carta onde alude a se-
a Faculdade de Medicina c Fannkia de Pôrto j;aração que julga indispensável entre o poder
Alegre, marco inicial do desenvolvimento ela temporal c o espiritual, depois de esclarecer
cultura rn6dica nestl' extremo do Brasil e a e defender exaustivamente o ponto de vista da
primeira Faculdade livre de Medicina do País.
filosofia positivista em relação ao ensino su-
A reunião rcalizn11-sc na secretaria da perior e termina assegurand,n. "que . não era
Escola de Farrn[tcia, no antigo edifício da Es- mister invocardes o meu debd apoio moral
cola Normal, sendo eleita a primeira diretoria pois que bem sabeis que nunca me esquivo ao
que ficou composta de Prot[tsio Alves, dire- serviço do Rio Grande do Sul c da República
tor, e Alfredo Leal, vice-diretor. pelos exíguos meios ao meu alcance. Dimi-
Prot[tsio convida imediatamente Carvalho mito ou nulo é o valimento de minha coope-
Freitas para continuar como secretário e no- ração individual. Todavia, a Escola de Me-
meia Sebastião Leão para corno secretário-ge- dicina e Farmácia pode sempre dispor do meu
ral atender mais particularmente a propagan- humilde concurso".
da da nascente instituição. Segundo a ata,
Ao revermos hoje os dados históricos des-
compareccr;nn a esta reunião: Alfredo Leal, Ar-
ta casa, não podemos deixar de homenagear
lindo Caminha Carvalho Freitas, Silva Pe-
0 vulto ilustre do emérito rio-grandense que
reira, Christian/> Fischer, !Jr. Dioclécio Pereira,
assim se expressa v a. Se como político ao
Dr. Dias Campos, Dr. Diogo Ferraz, Fran-
calor das paixôcs, seu valimento pode ser nega-
cisco Rocha, João Daudt F.'', Dr . .~rotásio
Alves, Dr. Sebastião Leão, Dr. Serap1ao Ma- do por alguns, se como adepto de uma doutri-
na, suas opiniões podem ser discutidas por
riante e Dr. Carlos Nahuco.
Em regozijo pela deliberação tomada, em muitos, elevemos 'nós altamente reverenciar
26 de julho de IH<JR, os alunos da Escola de sua memória pela inesquecível atuação que
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teve nos primórdios da organização desta Fa- ção d~ um curso de Odontologia, oferecendo
culdade. seus préstimos.
Quando de seu falecimento, em 1903, No- Resolvida a fun(Ltção, não s/> Ricdcl mas
gueira Flôres propõe à Congregação um voto também os cirurgiões dentistas Frutuoso Fon-
de pesar como homenagem àq ucle emérito es- toura Trindade c José Paranhos, com grande
tadista. Nesta ocasião Carvalho Freitas, ma- dedicação contribuíram para dcsenvolvimellto
nifestando sua solidariedade declara, que o dêstc curso.
faz, como um dos fundadores da Escola de
Os Estatutos vêm a ser aprovados em ata
Farmácia porque foi testemunha ocular dos
~ubscrita pelos Profcssôrcs: Prot[tsio Alves,
importalltes serviços prestados pelo extinto
diretor, Francisco de Carvalho Freitas, secre-
em prol da primeira Escola Livre do Rio
tário, Eduardo Sarmento Leite da Fonseca,
Grande do Sul, quiç[t, elo Brasil inteiro. Além
Diogo Martins Ferraz, /\rthur Franco de Sou-
dos esforços e abnegaçào empregados pelos
za, João Dias Campos, José Virgínio Martins,
fundadores, Alfredo Leal, Christiano Fischer
Tristão Tôrrcs, Scrapião :\!Iariante, Manoel
e outros, é incontestável que se não fôsse a
Gonçalves Carneiro, Olímpio Olinto de Oli-
profícua cooperação moral e material de Júlio
veira, Francisco Freire de Figueiredo, Ricardo
de Castilhos, já cedendo parte do edifício da
Pcrci r a i\1[ acha do, todos do Curso de Medicina,
Escola Normal, livre de ônus, para o funcio-
Arlindo Caminha, Manoel da Silva Pereira
namento da Escola, j[t pondo a disposição o
c Alfredo Leal, do curso de Farmá,·ia.
seu laboratóno de Química e o gabinete de
Física, etc., já mandando entregar a verba Os nomes ilustre~; que acabo de ler estão
de vinte contos de réis com o fim da Escola a despertar naqueles que há viu·ios anos aqui
criar um laboratório de análises, i1 disposição mourcjam a lcmbran<.;a viva c inapagável da
do Estado, quando poderia tê-la negado, as atividade construtiva de cada um, do esfôrço
concliçôes atuais não existiriam. Declara ain- que dcspcndcram para conquistar palmo a
da que, acentuando os inestimáveis serviços palmo o terreno ainda agreste pelo incompre-
prestados por Júlio de Castilhos, ni"to o faz por ensão, má vontade c descn·n<.;a de muitos.
lisonja, pois foi seu advers[u·io político, mas Todos souberam manter em suas c[ttcdras o
não pode deixar de pôr em evidência a in- elevado sentido de dignidade que o ensino su-
fluência benéfica que êle sempre dispensou ao perior requer, nunca deixaram de compreen-
progresso intelectual do Rio (;rande elo Sul. der a elevada função do magist!·rio.
Protásio Alves ao escrever o relat<'>rio, apre- Em Li de man;o de ]S()9, foram inaugu-
sentado em 1905, refere-se a Júlio de Castilhos, rados oficialmente os cursos da Faculdade.
nos seguintes têrrnos: ".f úlio de Castilhos que Fstallt'kcia o htat11to de IS()(): "]f[t na
foi incontcstitvelmcntc a alma do Rio c;randc, ].'acuidade cinco c11rsos: o de Mcdicin~l, em
desde a proclamação da República, que h;t- 7 séries; o de Fann[tcia, em 3; o de Odontolo-
fejou a todos os seus melhoramentos matc- gia, em 2: o de Partos, <'lll 2: c o de Uuímica
ri~is, foi o anjo tutelar que sf>hrc a Faculda- Industrial, em 3 st'-r·ics".
de pairou. f:lc acompanhava a sua evoluç:io 1:: interessante assinalar quc, ao fazr·rcm
pari-pas.ru, interessava-se até p('la freqüi:·ncia r' currículo dos cursos, os fiindadorcs, no de
diária das aulas, que conhecia minuciosamen- .\lcdicina, j[t in:,r·n·\-iam <.·omo c[ttcdras, Uuí-
te, e quando qualquer dificuldade surgia, o nlica Biol<'>gica, Patologia (;,Tal, Clínica Psi-
seu auxílio não se fazia esperar. Eu não po- quiittric:t, quando sú mllil'f>' anos ;tpús, .as
deria deixar de aqui arquivar o tributo de dtJas primeiras vieram a ser incluídas nas fa-
veneracão it sua mcm/m a t:lO rnt-rccidarnen te culdadvs fcdcr:tis c a última pfH!v ser lecionada
conqui~tada''. corno cadeira autfmorna indqwndcntc de Clí-
O resto elo ano de lk9S passa-se em inten- nica Nutrol<'>gica. Do llll'Sillo modo o curso
so trabalho de or,ganização, s:to discutidos os de \l,·dicina era feito l'nl set<· anos, Sl'JHlo a
Estatutos c siín elaborados os programas para (dtima stri~: destin:t(h l'Xclusiv;uncnte ao cn-
os cursos que vão ser iniciados no período le- ,ino de clínicas.
tivo de !S99. O corpo docente na constintído pelos pro-
Logo que foi conhecida a notícia da fun- f,:ssfm·s c:ttcdr[ttil'O<.;, li profcssfm:s suhslitlt-
dacão da Faculdade de :V[cdicina, o cirurgião H>s <.' li pn·p;tradon·<;. !\ ( "ongrvga~<io coJn-
de,;tista Henrique Ricdcl em carta, lida t·m pw,ta dos catvdr[tticos <.' sttbstitlllos cn1 exer-
reunião de Congregação de 30 de setembro cÍcio tom:1va tf>das as medidas ;1 ht'lll do
de 1S9S, sugere a idéia, logo aceita, da cria- ensino 1: ela adm in ist ra<.;~o cl a ht~·llldadc.
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Os cargos ele catedráticos c substitutos eram los Penafiel, Luiz José Guedes, Mário de Cas-
vitalícios. Os concursos eram feitos para subs- tro Pinheiro Bitencourt, Amaro Lisboa de
titutos e constavam ele teses e dissertação, Souza, Está cio J. Pacheco e Ursolina L. Tôr-
prova escrita, preleção c prova prática. Os res, c Lauro Rafael de Azambuja, Thomaz
cargos ele preparadores e auxiliares de ensino Cirne Co !lares, Júlio C. N. de Souza, Fábio
eram preenchidos por concursos que consta- N. Barros, Catarino Azambuja e Umbelino
vam ele prova escrita, prova oral com argüi- C. de Barros.
ção e prova prática. Como eram idênticas as disciplinas do
Os alunos aprovados em tôdas as disci- primeiro ano do curso médico c do curso de
plinas do curso Médico eram obrigados à de- farmácia, alunos dêste último requereram ma-
fesa de tese, a fim de poderem colar grau. trícula no 2. 0 de medicina. Eram os srs.
Para matrícula no curso Médico eram exigi- Eduardo ]. Moura F.O, Eugênio J. F. Batista,
dos os seguintes preparatórios: Português, José Luiz Ferreira, Antonio Correia de Mello e
Francês, Inglês ou Alemão, Latim, História, João Lanclell de Moura.
~e?grafia, Aritmética e Álgebra, Geometria c Lecionaram as disciplinas da 1.a sene
l ngonomctria, Física, Química c História médica: Diogo Ferraz, substituído em seu
Natural. impedimento por João Dias Campos (Física),
No curso de Farmácia ou no de Químic;1 José Virgínio Martins (Química Mineral e
Industrial, eram dispensados Latim, Inglês princípios de Mineralogia), e Manoel ela Sil-
va Pereira (Botânica e Zoologia).
ou Alemão c J listória.
A segunda série foi lecionada por Chris-
No curso de Odontologia ou no de Par- tiano Fischer (Química Orgânica), Manoel
tos: Português, Francês ou Inglês, Alemão ou Conçal ves Carneiro (Bacteriologia), Eduardo
ltaliano, Aritmética até propurçi">cs inclusive, Sarmento Leite da Fonseca (Anatomia Des-
Geometria plana, c elementos de Física e Quí- critiva), e Ricardo Pereira Machado (His-
mica. Contou a Faculdade desde seu inicie
tologi a).
com o auxílio imprescindível da Santa Casa Ao fim do ano letivo, dos treze alunos da
de Misericórdia de Pôrto Alegre, que pôs Slla~ primeira série, estavam habilitados à matrícu-
enfermarias à disposição do ensino. I\cst( la na 2.'1 série, sete alunos. Em 19 de setem-
momento também devemos prestar nossa ho- bro de lf\<)9 requereu a Faculdade ao Exmo.
menagem aos dirigentes de então daquela ins- Sr. :VT inistro do Interior, o seu reconhecimen-
tituição de caridade que hem souberam com- to, tendo sido nomeado em data de Ih de
preender o elevado valor da grandiosa ini- outubro o primeiro fiscal, o Dr. Balduino Atha-
Ciativa. násio do Nascimcnt'>, que logo realizou sua
Estabeleceram í':lcs um inwt:'tvr:l c exce- primeira visita. . .
lente padrão das nossas mútuas r<"laÇ(->es. Enviado ao Sr. Mm1stro, o relatório do
Desde atpiCla {·poca ati: hoje, só temos a fiscal, em data de 9 de dezembro do mesmo
louvar os seus sucessores e colaboradores, peb ano, S. Excia. comunica por ofício n. 1512
hem compreendida coopt•r:l~·ão l'lll prol dm que n~o pode reconhecer a Faculdade por di-
nossos comuns inter(:sses. vergirem os seus programas dos das Farul-
Sem qualqucr contrato, a não ser a com- cladcs cong&neres da República.
preensão de dcvl:res c necessidades de cada Ciente a Congregação dêste despacho, foi
um, as administraç(->Cs da Santa Casa c da unanimemente resolvido não ser feita alteração
Faculdade têm marchado irmanadas nest( no programa. Segundo a discussão havida,
meio-século de existénci;J. verifica-se que era opinião da maioria ser a
Da mesma forma desde o comf:ço contou diferença do programa, de menos importân-
a Faculdade com a eolahora~·ão dos rccmsos cia, havendo maior embaraço em relação às
do Hospital São Pedro, que com o mesmo divergências entre os Estatutos da Faculda-
espírito, vem, através do tempo, dando a esta de c a lei do ensino. Procurava-se manter os
Casa a sua inteira cooperação, pelo que neste Estatutos. Assim esta sessão é concluída com
dia a tfHlas as suas administraç(ws rendemos a proposta de que deviam ser mantidos Es-
!J nosso preito de homenagem. tatutos c programa, devendo a Congregação
Durante o ano de IWYJ cstêvc em fun- dirigir-se ao Poder Legislativo por meio de
cionamento o primeiro ano d~· med!cina com circunstanciado memorial que deveria ser apre-
S!:tc alunos matriculados c sc1s ouv1ntcs, que sentado ao Congresso pelos representantes do
foram: Pedro i\lcxandrino Borba, :\ntêmio Car- Rio (rrande do Sul.
50

Alfredo Leal, fundador e ex-diretor da 1900, a Faculdade adquiriu os prédios da an-


Escola de Farmácia e fundador e vice-diretor tiga travessa 2 de Fevereiro, n.O 32 e o da
da Faculdade de Medicina, em nobre gesto, General Vitorino, n.O 55. Para fazer as re-
que bem demonstra a grande elevação com formas necessárias à sua adaptação, o bene-
que eram encarados os problemas elo ensino, mérito secretário da Faculdade, prof. Carvalho
declara que êle e seus companheiros estão Freitas, muito se esforçou em obter recursos.
prontos a renunciar seus cargos uma vez que O edifício hoje extinto à av. 10 de No-
para a obtenção do reconhecimento a~ dispo- vembro, onde está atualmente instalada a
sições legais o exijam. Escola de Odontologia, só foi ultimado em
Não trepidaram aquêles idealistas no sa- outubro de 1904, em substituição ao primeiro
crifício de seus títulos desde que o ideal su- prédio adquirido, na então travessa 2 de fe-
premo, acalentado com desmesurada fé, viesse vereiro.
a ser obtido. Em 1. 0 de setembro de 1900 é a Facul-
Em sessão de 20 de fevereiro de 1900 a dade de Medicina c Farmácia de Pôrto Ale-
pedido do diretor Protásio Alves, a Congre- gre, equiparada às congêneres federais. Assim
gação, também atendendo a uma petição dos colhiam seus fundadores os primeiros louros
alunos, resolve reexaminar o assunto e aceita quando por êstc ato demonstraram suas inten-
a exigência do Govêrno Federal, apenas por ções, plenamente estcaclas na honestidade de
três votos contra (Oiinto, Leal e Dias Cam- ~uas atitudes.
pos). Daí por diante a Faculdade, apesar de
Procede-se, então, a uma reforma dos Es- ter sofrido duros reveses, onde sua existência
tatutos; Protásio Alves em seu relatório de poderia ter pcriclitado, graças a um pugilo de
1905, referindo-se a êste assunto tão oportuno, denodados batalhadores, cujo esfôrço c ab-
recorda quanto entre reformas e mais refor- negação devem ser analisados detidamente
mas temos vivido até hoje, ainda a espera c em outro momento, a histórica evolução da
ele uma bem compreendida e salvadora au- Faculdade, soube realçar ainda mais a obra
tonomia didática, e diz textualmente: "Acom- de seus eméritos fundadores.
panhando desde 1870 a história do ensino Desde que empreenderam a construção
superior em nosso País, tenh(J observado da obra que com carinhosa e desvelada aten-
que as suas reformas têm sidq, em regra, fei- do mereceu todos os seus cuidados, souberam
tas por ~Iinistros ao empossarem-se dos car- trabalhar c lutar, obviando obstáculos, co-
gos, inspirados por novéis diretores do: Facul- lhendo os desenganos como incentivo para
dades; de sorte que, sem prática, com o sen- maiores csfon;os.
timento de apenas não ser bom o que temos, Foi a custa de desmedida perseverança,
vai-se ao estrangeiro buscar o qur~ lá cxistt: sem esmorecimentos, sempre com os olhos fi-
no regulamento das escolas, para, sem con- tos no ideal que tinham, desprendidos, sem
sideração do meio, aqui se aplicar. Foram qualquer preocupação de recompensas mate-
por exemplo se criando clínicas especiais na riais, com prejuízo de seus prc'Jprios intcrêsses
Europa para aproveitar no ensino competên- particulares, que souberam c puderam vencer
cias extrordinárias; entre nÍJs, sem as com- a batalha em que se tinham empenhado.
petências extraordinárias, são criadas as es-
pecialidades, sobrecarregando-se o orçamento Maiores são ainda os galardôcs que de-
e tempo com prejuízo do ensino". vem revestir suas personalidades, quando nos
A reforma com intuito da obtenção do ocorre que coube a êlcs desbravar a estrada
reconhecimento foi aprovada. A Congrega- ainda agreste da {poca e do meto em que
ção para não suprimir cadeiras que julgava viveram.
indispensáveis manteve-as, tanto quanto per- Honra excelsa ao mérito e dedicação dos
mitia a redução para seis anos, e assinalou que rundadorcs das Escolas de Medicina, Fanná-
elas só seriam de freqüência. cia c Odontologia!
Continuou a Faculdade a progredir c lo- Em nome da Faculdade de Medicina de
go ao início do ano de 1900, aumentando o Pôrto Alegre, dirijo-me a véJs, senhores pro-
número de alunos, sobrevinda a necessidade de fcssôres fundadores, para apresentar-vos as
fazer funcionar novas séries, c não podendo o :~randes homenagens de nossa admiração: ;,
salas da Escola Normal, em abril e junho de memória dos que daqui partiram, o nosso pro-
Govêrno do Estado ceder maior número de fundo respt:ito c grande vcneraçiío. Consu-
AX.\fS flA f<',\l't'LI>Alll•~ ll I'•, ·''fi'DL('IX
'• · · '\ DE POHTO AL!cC{\Ic 51

mastes gloriosamente os vossos propósitos. À A Faculdade de Pôrto Alegre, há cin-


Faculdade, entre os erros e acertos que poss~m qüenta anos foi a terceira escola médica a
ser apontados em sua existência, hoJe afir- ser fundada no BrasiL
mados por enorme saldo dos últimos sôbre O fogo sagrado acendido naquela noite
os primeiros, soube continuar sua marcha as- por tão belos espíritos, foi, através dos tem~
cendente porque sempre orientou seus passos pos, zelosamente guardado pelos que nesta
no rigor nos métodos, na perfeição das bases casa vieram trabalhar, e em um revezamento
e na moralidade de sua vida interna, obe- contínuo vem sendo transferido a todos os
que hoje muito se orgulham com os grandes
dientes que todos fomos, aos ditames de vossa
feitos de seus antecessores.
orientação iniciaL
A obra que aí está vai continuar; no pas-
Aos que por ela passaram, atingindo ul- sado só estímulo devemos encontrar para de-
teriormente sua cátedra, aos que foram vossos senvolver o grandioso plano arquitetado. Pro-
substitutos, hoje professôres eméritos, hono- fessôres e alunos precisam, com o reconhecido
rários e aposentados e já não nos acompa- esoírito que os anima, respeitar a tradição,
nham nos Jazeres diários em que nos empe- de.misecular, desta Escola; aquêles continuan-
nhámos, nosso abraço pela saudade que aqui do a honrar sua alta função, êstes demons-
deixaram, o agradecimento pelo que fizeram trando sempre o entusiasmo e o culto do es-
em prol da obra que criastes, procurando tudo.
mantê-la com a elevada dignidade que honra É por isso que não podereis permitir, meus
os vossos nomes e a esta Casa. prezados colegas ~ meus jovens discípulos, ao
A vossa obra manteve-se e progrediu saírdes dêste recmto, que a meras palavras
porque eram sadios os princípios que as nor- se resuma a nossa comemoração.
tearam, porque era segura a fé dos que esta- Elevemos pelo estudo e pela pesquisa es-
beleceram seus alicerces, porque os seus pro- ta Faculdade ao ascendente que devemos as-
pósitos eram honestos e bem dirigidos. pirar, lutemos para que à vitória desta pri-
Assim chegamos até aqui, e num por~­ meira etapa, já coberta de louros, outros
derado equilíbrio do mcio-têrmo, sem pessi- muitos se acrescentem na trajetória sem fim
mismos que só podem significar cegueira des- que tem de percorrer.
medida, sem otimismos ofuscantes, mas com Com entusiasmo nos vossos trabalhos e
os olhos abertos à verdade, muito devemos nas vossas meditações, nos dias felizes e nos
reconhecer pelos serviços pr~stados nestes cin- momentos de desenganos, recordai sempre as
qüenta anos decorridos. dedicações sem limites dos nossos antepassa-
Mais de dois mil profissionais saído~ r~cs­ dos relcmbrai os denodados esforços dos que
ta Escola, passaram a exercer suas prof1ssoes, gui;ram os primeiros passos de n?ssa insti-
quer nas grandes cidades, quer nas pe~p1enas tuição atentai para o santo entus1asmo que
aldeias, quer nos mais afastados nncoes de os in~pirou, conduzindo-os por vêzes a re-
nossa Pátria. núncia. c ao sacrifício e então unidos e coesos
honraremos todos os feitos magníficos de nos-
Foi o gr;mdc cometimento concretizado sos fundadores, levando avante resolutamente
na at:~ de 2S de julho de IX9X, que trouxe
0 ideal que os norteou, fazendo desta Facul-
para o Brasil o início do descnvolvim~nt~> dos
dade uma perene fonte de florescimento in-
cursos superiores de medicina ~tll nosso un~n­
telectual, de trabalho consciencioso c honesto
so tcrritíH·io e deu ao Rio Crandc do Sul ,a
em prol do desenvolvimento do ensino e .da
honra de ter fundado a primeira escola rn~-
. 11vre,
. ·' tJvcra
· cii'~ncia médica do nosso ~-staclo, para mawr
r11c;t como 1a a r1c t c,1• L.·'
"S"'tbci<'CI-
-
grandeza de:sta Casa e honra da Pátria.
cl•> a primeira c~cola de farmácia,
5?

Discurso do acadêmico Antônio Carapeto Fernandes


J\"este dia festivo em que se comemora o Havia sido fundado em 1897 pelos espí-
cinqüentenário de fundação da nossa Faculda- ritos idealistaH de Protásio Alves, Deoclécio
de, ao assomar a esta tribuna, para dela alçar Pereira e Sehasitão Leão, o CurHo de PartoH,
a voz, numa palavra de homenagem aos seus funcionando na Santa Casa de Misericórdia.
fundadore~, e num preito de louvor aos que A Escola de Farmúcia que fôra fundada
os seguiram até nossos dias, sinto-me tomar no ano anterior, contando a promissora fre-
de um sentimento de indecisão. --- \"aturai se- qii!-ncia de :55 alunos, continuava normalmen-
ria, Senhorc~, que um outro colega mais ca- te os seus cursos; e em lli98 era comprovada
pacitado falas~e hoje ner;te augusto recinto em a sua proficuidade com os brilhantes resulta-
nome dos alunos desta Faculdade. dos dos exames finais.
J\o entanto, incumbido desta missão pela E êsse ano de 1898, Senhores, iria mar-
gentileza do:-; colegas de Diretório do Centro car época na vida do Hio Grande.
Acadêmico que tenho a honra de pre:-;idir, De fato a 25 de j ui h o, tendo ern v iH ta o
eis-me aqui, embora sem a intenr;ão de pro- aproveitamento dos aluno:, da novel Escola de
duzir págin,t literúria à altura do:; í'eitos que Furmúcia, a cxi,;li'~nciu do Curso de Partos,
hoje se menwrurn. na c•:;pcranr~a de traduzir r:ow;idr:rundo que o Hospital da Santa Casa
em palanas :-;implcs o pulsar, o sentir c o de Misericórdia era rítirno campo de ohserva-
amar dos acadêmicos que aqui c;;tudam nos (;Úo, e levando em conta que em 11osw meio
dias que vão correndo. hmia médicos de indiscutível competência e
CirHjÜenta anos são pa:<sados! que por ce1 to seriam bons profcssôres, um
:\leio-;;éeulo de existência conta hoje nos· grupo de entusiastas se reunia e nesse mesmo
;,a Escola, todo êle dedicado à causa do saber, dia era as>'iuada a Ata de Fundação da Facul-
à sublime causa do ensino da Medicina - - em dade Livre de Medicina e Farrnúcia de Pôrto
~;ua funcão ele arte corno em seus dc;;Ígnios Alegre.
de ciênc.ia , à I ir.;ão di,!.mifir:ante de eomo Eram !-les: Alfredo Leal, Arlindo Cami-
mitigar as dores e diminuir os sofrimentos da nha, Francisco Freitas, Manoel da Silva Pe-
humanidade combalida! reira. Cristiano Fischer, Deocl{:cio Pereira,
Cinqüenta anos ~ão pac<~ado:<, Senhor-es~ João Dias d,; Campos, Diogo Ferraz, Protúsio
E no cumprimento da mi~são a que nos propo- Alvl'~;, SPhn,·tião Leão. Serapião Marianle,
mo;.;: numa homenagem cultuar a nwmorta C:urlm; \ahu<"o, Francisr·o Assis e João Daudt
dos fundadores da n•>ssa querida Faculdade, Filho.
voltemos as r~o,.;sas vistas para rlim; que jú vão r:sst~;; e todos os que se oft'rceerarn a le-
longe; fu)!indo à \ida do rnrmrento pn•sentt~, cionar no ano de IB99 - primeiro de funcio-
nela entremo,, pela poi'ta de um passado rprc IWllleJilo da nossa Fac:uldariP, foram os seus
de nr)s ;.;c di,-taneiou eirH[iit~nta anos! f'uruladorl'"·
O Hio Crande mal ha\ia emergido dt~ llonra ao m{·rito neste dia festivo, Se-
mais uma re\olur;ão. Uma hta fratricida. san- nhon~s t
grenta e cruel, enchera de san)!IH~ ~~ rle lúgri- f-:;;tava concluído o prinwiro passo na
mas a,; coxilhas verdejantes do pampa alta· con:-;er;w,;ã•> do tão nobre objetivo visado: do-
neiro! \os !are~, cheio,; de tri:<teza e de sau- tar o Hio Cntnde da sua Faculdade de Medi-
dades, aimb era hem \L\a, com certeza. a lcrn- cina!
hranr;a do fumo c do crqw qw~ Pnlutara as Jú agor.t o sul iria omhn~ar com o norte;
famílias! não podia l'ir:ar atrús e JH não o fic:ava nessa
arrant:ada ·~m busca da ci!-ncia; Bio, Baíu, e
Cinco anos ~c!mente ha\iam cler~orrido des-
de o fim d.t revolut;ão; e foi m•s;;c~ clima de avora o Bio Crande!
insep:uran(;a, toldado ainda pelas IIU\TIIs ne- 11 on r as uo ml:ri Lr> dt~ LÚ•> destt~mi dos i 11 i-
g-ras de um passado muito prúximo. que ).!n· f'Í:Illores!
minou e foi se atTai).!ando a ;;ementt~ q1w se ;\ tarefa úrdua a que tinham se proposto,
havict de tornar a Úr\ore )!igantP. a idr;ia qtw ia st•nrlo executada; o idt•al c:ornr·r;al"a a c:er
uma pli:·iad~ de intemeratos nutria no Íntimo n·alidadt·.
dos seu,.; conu.;Õt•,; ~~ ar:all'nla\a com o fo).!O tk Os pri 111ei ros passos t:ram dados, 1: eom
um entu~ia~rno r:riador. í~ll's a.~ po"ir;í'H·s se iam consolidando; a idúia,
\SAIS JJ,\ F.\CL'LDAIJE JJI·: ~fElJICI.\A DE l'ÜrtTO ALJ:cau::
Ü3

que a princrpw méro sonho, já agora calando vão sendo nos contadas belas histórias de
fundo no espírito de outros abnegados que se idealismo, lindas páginas de amor ao traba-
juntavam aos primeiros, tomava vulto, 1a en- lho. Incessante e exaustivo trabalho, em mo-
grandecendo; mentos os mais difíeeis da vida da nossa Es-
Assim que u 15 de março de lHiJY, a Fa- cola, e sem outra qualquer remuneração que
culdade Livre de Medicina e Farmácia de não fôsse aquêle que lhe dava o próprio pra-
Pôrto Alegre, tendo a frente as figuras emi- zer de vê-la erguida.
nentes de Protúsio Alvc>', Alfredo Leal e Car- Sarmento Leite deixou-nos lições que
valho Freitas, respectivamente como Diretor, jamais esqueceremos; histórias que jamais
Vice-Diretor c Secretúrio, abria pela primeira nos hão de sair da mente, êsses feitos desinte-
vez as suas portas a um punhado de sequio- ressados e cheios de brio, hão de guiar os nos-
sos em busca da ciência e da arte de Hipó- sos passos nos caminhos incertos da futura car-
crate'<. rcll'a.
Da me'ima Ciência e da mesma arte que E a mocidade desta casa, reunida sob a
tornaram imortais Pastcur, Oswaldo Cruz, Car- égide tutelar de Sarmento Leite, hoje como
los Chagas, um Bernardo Houssay, que nos ontem e como amanhã hú de ser, também, van-
honra com sua presença c tantos outros; e guardeira em memoráveis campanhas, nobres
que iria crn no~so prúprio meio consaf'rar à c dignificantes, neste dia de cinqücntcnário da
admi rar;ão e ú vencnH.;ão do Bras i L para or- nossa Escola, consagrado aos que tudo por ela
gulho e gúurlio do Hio Crandc, nomes como fizeram, vibre de sadio cntusia~mo, como vi-
os de Protú~io Aln~s, Harr.•iro Barcellos, An- bram conosco os prezados professôrcs que aqui
nes Dias e um Sarmento Leite, para não ci- labutam c como havia de vibrar nos arroubos
tar outro~ tanto~, Sr;;. do seu entusiasmo, se estivesse entre nós, aquê-
As <!tdas, dizia o ~audoso ProL "v1ú- lc que hoje é o patrono do nosso Centro Aca-
rio Totta que fP.z parte da primeira turma dêmieo: SarmPnto Leite. Aquêle que junto
formada pela noosa Faculdade, ~- começa- com as lições de Medicina, dava aos estudan-
ram como começam nas criaturas os primei- tes tiío soberbas aulas do mais puro idealismo,
ros passm', tímirks c hesitante~, cai aqui le- do mais cão coleguismo, do verdadeiro espí-
vanta acolú. V em pouco iniciou-se a corrida rito Universitário.
porfiada e ofegante entre mestres e ai unos .a E nós, estudantes desta Faculdade, que
disputarem em trabalho extremo o maior qUI- tanto devemos à Sarmento Leite, curvamo-nos
nhão no aci'·rto do t~n~i na r c tiO garbo do hoje numa reverfncia à sua mem6ria.
a'•Tnder. "0..; homens pas~am c as instituições ficam",
E a.''srn,, corno em tDda a marcha evo- disse êle um dia, c P.stc pensamento foi a norma
lutiva. camir,hando para um progrc~~o, a de sua vida. Contemplemos a helcza desta fra-
tiW•sa Far~ui.:adr• foi panlalit~anlf'!lle tornatl- ""· n<'•" diríamo~ hoje, olhando para a insti-
do-st~ maior: t~ hoje r•l:r sr~ ergue, ~untuúria tui(;ão qtw permaneceu depois do homem que
corno um vr~rdarkiro tr'tllplo. imponente c pa~sou: Sim, as instituições ficam, ficam para
majesto.'<a, I'II!IIJHindo a sa:!rada missão que contar ils gerarJíe,; posteriores, da ;<ranrleza,
lhe r'~ confiada. da dcvar;iio c do de.sprendimento daquele~ que
E no f'II)!I'<IIHir•r·illll'tll<> da nos~•a !·:,,cola, pa~·,aram.

rt•flll!!r~ nt'ssa fasr· d(' "!i" 1 ida. que foi a r:Olt· F a rwssa Faculdadr~, ar:ui c,.;tú hoje im-
">lid:wiío na nr:rrdra r·1olllli1a. a fi)!ttra Íril- p(n·ida. l"'rpclu<IIJrlo na sua ''lliltutJsidade mag-
par d;·~ l>atalhador ittl'arts:·, •. ,.J. dt~ lrtiador in- ,!!llífir·a a nwmr"nia do:; que a fundaram e da-
fatigúvel. dí•.-;tr· 'I"'' foi um r·stt•Íu de pro- quele> qrre 1 indo-; dt·pois, ú ela tr'·m dedicado
grr·.sso tiO pu.,sado c 'JIW ,·. 11111 c.xr·rnplo t: ."'" o,; seu-; rncllwres t·sfun;us no ;wntido de seu
síndJOio pan: ti,·,, no Jll"""''t": l<duarrlo Sar- Cll)!r;urdecimcnlo att'· os !lo~sos dias.
IIH'tlto l ,t'ik da Fotl:'f'!'a ~ A ,~,.;te~ a nossa homenagem.
\,·" lrHios t·,.;tllrlatllt',.;. quando tran~pu­ A ún o!T foi r· rescendo '·' cLe!wu até nos
st•mo' pr~la primeira 1cz o~ lllllhrai.o a11~tcro~ tal como ela ,-~ lwje.
d('~la 'jlll'rida hwrtldark lo;~u divi:"atllo~; ai! .\Ja;; scnhorc.-i, a tan·fa a!nda não está con-
'
ao ctrnr> rIaq11e Ia IIJ<tl'lllflll
· ·",t r·'
· r··trl·tt"l'l
' ' •' o ht 1·' · cluída. Dia 1 irú com cerit·l.a, lllllf! futuro que
lo lr•nr·utnrl'> dr~ Sar!lll'lllo IPit<·. p raza <H I" ( :r'·11s 11ão r•,-tej a rlislalllf'. ~·m que
I. '· ,,,.,,rê·.;as ollwnrlo para a 110''-'a Faculdade ha1emos de
(}-; prinwiro~ <tas. ,. 1teto.'
· I
r"
1·(·-la mais impo11entP ainda. Hmemo2 de vê-
e de Prwantamenlo", 1iío pa~•sando. c então,
54

Ja altiva e orgulhosa de um magnífico Hospi- Sempre que nas nossas realizações de estudan-
tal de Clínicas, soberba e satisfeita com o mo- tes, sempre que nos nossos empreendimentos
delar lnstituto de Tisiologia. universitítrios, podemos contar com o apoio ou
Essas como outras aspirações, justa,; as- a colaboraçiío de nossos professôres, é com o
pirações de estudantes e professôres; reivin- maior júbilo e prazer que os recebemos entre
dicações lídimas como outras tantas que vi- nos.
rão beneficiar o ensino e a Ciência do nosso A nossa saudação, pois, para vós Senhor
meio, havemos de vê-las um dia tornadas rea- Diretor e Senhores Profcssôres, mestres de ho-
lidades. je, neste dia de festa.
Salta-nos neste instante à mente aque- Hoje comemoramos o primeiro cinqüen-
la passagem bíblica dos Israelitas a reconstruí- tenário da Faculdade de Medicina de Pôrto
rem o Templo de Jerusalém. -- Cada operú- Alegre.
rio, diz a Escritura, com uma das mãos fazia F' decorrido meio-século, desde que aquê-
a obra, e com a outra empunhava o glúdio, le pugilo de idealistas, verdadeiros paladinos
pois lá havia samaritanos que embora confes- de uma brilhante causa, apunham a sua assi-
sando a crença em Deus, procuravam por lo- natura à ata de fundação de nossa Escola. E'
dos os modos obstar que se levantassem as pa- decorrido meio-século, todo êle vivido de pú-
redes do Templo. E nôs um dia havemos de ginas brilhantes.
nos lembrar e será sem saudade::, que no er- E é pleno de um passado de lutas e de
guirnento dé tais Templos destinados à Ciên- >!lonas que t'-ste cenáculo da Ciência se enche
cia e à caridade Cristã, também houve Sama- de gala ao memorar esta data histórica: 25 de
ritanos entre os que construíram a Obra. julho.
Senhor Diretor. senhores professôres. Disse urna vez o nos~o grande Hui Bar-
F:' para vós que, neste instante, os estu- bosa: "Homens existem que plantam pés de
dantes dirigem a sua palavra. E' também urna couve para o prato de amanhã, e nisto se re-
palavra simples e desprovida de brilhantismo, sume sua vida; outros, contranamente, se-
mas cheia de sinceridade. Os nossos reconhe- meiam carvalhos para o abrigo futuro".
cimentos por tudo quanto f azeis pela nossa E' sobretudo para os plantadores de car-
Faculdade que também é vossa, e pelo nosso valhos como êste, para êsses que no passado
aprimoramento intelectual. semearam esta árvore frondosa a cuja sombra
Desde os dias incertos de sua fundação, acolhedora c amiga nÓ;;; vimos procurar o pão
os mestres desta Escola têm-na feito sempre do saber, que nôs rendemo;;; hoje a nossa ho-
maior. Sob a profícua e eficiente direção do menagem, num preito de louvor da geração
profe~sor Guerra Hlessmann, segue ela hoje na moça que por aqui passa no momento presente
o;enda que o futuro lhe delineou. r que não esquece, c, que não poderia esque-
F:' sobretudo espelhado nos vossos exem- eer, os que tudo fizeram no passado pela nossa
plos, que nós forjamos a nos~a mentalidade. querida Faculdadf:.

}oi
55

Discurso pronunciado pelo Dr. José de Nazareth Teixeira Dias,


em nome do Exmo. Sr. Ministro
"O 'VI i nistro Clemente Mariani, ocasio- homem público Dr. Raul Pilla e o sábio pro-
nalmente impedido de comparecer a c~ ta so- fessor Bernardo Houssay, as responsabilidades
lenidade pelos motivos de saúde indicados na dos mestres e dos cientistas são cada vez mais
carta que enviou ao professor Guerra Bles· pesadas.
smann c sabedor dos laços de estima que me Espera o Ministro Clemente Mariani po·
ligam a cst:.t Faculdade, conferiu-me o privi- der coordenar de uma vez todos os esforços
légio de representú-lo nas solenidades come· para que a grande aspiração da Faculdade se
rnorativas do cinqiientenúrio desta casa de en- torne urna realidade: - o Hospital de Clíni-
sino. cas, marco inicial do Centro Médico que, es-
Associa-se S. Excia. ús expressões de sau- tou certo, há de erguer-se nos terrenos que
dade pelos mestres e funcionúrios que deram para êsse fim já foram reservados.
o melhor de seu esfôrço ú Faculdade e jú fo- Mas, Tnt';US senhores, se a instalação e a
ram levados do nosso convívio. Envia S. construção do Hospital de Clíniq1s, e as obras
Excia. calorosos cumprimentos ao Diretor, ao c1ue seguirem, vão satisfazer velha aspiração
Corpo Docente, e aos funcionários da Facul· da Faculdade, tudo isso representa novos en-
dade por motivo do jubiloso evento; e con- cargos e re:,ponsabi !idades para a administra-
gratula-~e com o Corpo Discente, representado ção, os professôres e os funcionários.
pelo Centro Acadêmico Sarmento Leite, que Espera o Ministério da Educação c Saúde
congrega os que acorrem a esta casa de ciên· que essas novas e difíceis tarefas sejam en-
f'ia com :) propé)sito de se armarem para a frentadas com aquêle mesmo espírito que le-
grande batalha que é a luta pela saúde e assis- vou os pioneiros de 1898 a conceber esta gran-
tência social do povo brasileiro. diosa obra e os seus continuadores a consoli-
Sabe o :VIinistério da Educação e Saúde dá-la.
que a Faculdade de Medicina de Pôrto Alegre E assim a Faculdade de Medicina de Pôr-
não repousará súbre os louros conquistados, to Alegre continuará sua missão altamente pa-
pois o saber c a ciência são aspectos eminen- triótica, de trabalhar pelo ensino, pela ciên-
temente dinâmicos da vida humana, e, como cia, enfim. pelo progresso da civilização bra-
ontem nos <:dvertiam o eminente professor e sileira."

----)o(-

Oração do pro f. Raimundo Gonçalves Vianna


Dt~ cp1antas rni~~Õe:-; c· t•ncargos se me têm Olinto de Oliveira foi para mim, desde
dt~parado na vida pública. no jú longo trans· hem cedo, um autêntico valor humano, um
curso de minha atividade clínica ~~ nos altos exemplar em que, fascinada, se inspirou a rnr-
postos do magislt',rio SIIJH'rior. nenhum me po- nha juventude, no turbilhão de uma vida, na
deria st•r I<Ío grato t' tÚ<J honroso. cotno êstc qual penetrei pelos seus desertos.
dt· rq>J't'st·nlar. Jll'sla hora t' rl('sta ca~;a. o in- Educado no unrien regime, no espírito ro-
sigrw proft•s,;or Olinto de Olivt·ira. mântico de um lar austero de trabalho e de
Sc11 discíprdo I1:Í ljllil'l' q11atro dt,cadas c, nobres atividades nos domínios da formação
ltojt' dqlOis sei! ami!!-o dt·\·otado. seu admirn- rnoral. trouxe êle para o ninho adorado das
dor t•ntJL"ia-ta. ~t'll filho r•.spiril11al c ,.;cu quast~ sna.'i mais íntimas afeições românticas, o sa-
confidr•nil'. nas hora.' boa, r' lli<Í."- ln~rn me grado ideal da família, a cujos ternos e sua-
c·on\'f'tJCi. na \ igr~ncia c<HJstantc dt, Jllll<l afei· ves estímulos, sem demora se haveria de tor-
r;ão lt'al. rpw st' [('rll nutrido dt• reciproca,.; de- nar, o festejado clínico, o sumo professor, o
dicac;õt~."'· da< pl'rt';>.rin;t.s virtudf's moracs c dos pediatra eminente. o cidadão modelar, uma
altos predicado.s dt: t•spírilo e dr~ t·orac;iio. tflle legítima expressão da inteligência e da cultura
f'izt•rarn. do t'"rt'·.,io prufr~s.sor rio-.u:randcnse, hra..;i !eira.
o l!Jodi"·lo vi1·n"t· ~·on-tank qne. dP longe e a De que outra maneira me poderia eu ex-
c IL·IO tf'nho prm·JJrado imitar. para a glc'>ria primir. para pôr-lhe de manifesto a vida e a
da minha r·r,nsc·ií·ncia de rn•'·dif'o, de profcs.sor obra construtiva, paciente e tenaz, senão di-
t: f'irladiio. zendo que êlc foi, aos meus olhos c à minha
56
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admiração p<:mnada, e ainda agora o (~, a figu- pelo tufão revolucionário da técnica, abando-
ra autêntica de um filósofo. de um ~úhio e de nam a lição da História, que nos faz contem-
um artista. poràneos de tôdas as épocas, e zombam assim
lim grande homem, na irnagino~a expres· do passado, renunciando a tôdas as tradições,
são de Carlyle, é como uma cenlelha que, ris- mesmo as da cultura, fascinadas pelas mara-
cando o espaço, baixa fulgurante ~ôhre a mas~a vilhas dos engenhos e da motorização dos la·
amorfa dos outros homens. I nertc e impene- boratúrios. E a tal ponto, que eu não saberia
tráveL fria e insensíveL ~úbito e!'sa rna~sa que avaliar a qnanto montam hoje os que conhe·
parecia indiferente a todos os Pstímulo~, in- cem a história da civilização, das artes e da~
flama-se e deflagra-se ao contato incandescen- ciências, as puras fontes do pensamento uni-
te, corno se inflama e detona, tocada do com- versal, onde Spengler, filósofo dos modernos,
bustível, a matéria comburentc. foi buscar Herúclito, para tema de sua tese de
\o livco em que de~dobra a doutrina do doutorarnenlo, lamentando com Pasteur, e
culto dos heróis, sintetiza o filósofo inglês. tÔ· Claude Bernarcl, os mestres da ciência experi·
das as crenças e aspirações da humanidade ltl· mentaL a sorte dessas almas mesquinhas, que
gênua e inconsciente. não compreendem que as Pútrias não vivem
Na generalização de profundo pensador através das Idades, senão pelo gênio e valor
a que me eO'tou referindo, cuja doutrina me de algumas razões de seus eleitos,
encanta menos pelo seu valor doutrinário do Senhores.
que pelas elegantes origina! idades da sua f o r- Quando lú na formosa .Atenas, qne fui a
ma, não coube, todavia, a figura dêsse outro luz mediterrftnea a iluminar o berço das civi·
herói, mais ignorado por meno.'; evidente, que lizações modernas e onde rc~ide, perene, a me-
é o professor! mória da antigüidade clássica, a progênie dos
Entanto, onde III<ll>i dc,.;prcndido heroÍ>i· helenos evocava, rws estúdios olímpicos, o~
mo? deuses rnitoliigicos da Grécia, era para a Ins·
Herói o professor porque, tôda inteira a pirada celebração de um culto dos seus he-
sua vida, se empenhou em de~vendar êsse se- róis, glorificondo-lhes a grandeza de seus fei-
grêdo famoso, que, para Coethe, é o ''segrêdo tos ilustres e a bravura indômita de seus Ím·
aberto"; aberto a todos e, não obstante, sr'J por pelos guerreiros.
um adivinhHdo, e herói ainda o mestre por- Então, e nesse dia, o ritual da cerimoma,
que, dono de tal segrêdo, que é a prúpria ciên- reverente e sagrada, com a assistência das mul-
cia, não o guardou àvaramente, corno o súbio tidões absortas em muda contemplação, tinha.
egoísta, na imprestabilidade do seu gabinete como oficiante~, os brados elo povo, que ao
sombrio, antes com largas miio,.; o revelou, su- toque da mai~ sentida admiração, iam acordar,
periormente indi;;creto, a legiões de discípulos. nos seus prt'>prios sudários de mármore, as ge·
F:i, porque, no culto do magi,;t(:rio, deve rar;ões herr'>icas que ouviriam no silt'·ncio das
residir a religião do" que aprendem. eras perdidas.
Por isso também, aqui se encontram, ncs- 1-:ra a primeira luminosa lição, legada, pc·
~a evocação do paf'sado, o di,.;cÍpulo e o mestre. lo mundo antigo, ao outro que iria despontar,
O discípulo, profundamente ;.;audoso, re- soh as santas inspiraçõr~s do cristianismo.
verente c grato, a exaltar os grandt>s profes- l-'orarn-s1' assim educando, os povos e as
sôres, em cujo magistr;rio hnmanístir:o c srr· na!;Ôt'", no culto rPligioso do passado, não oh~­
perior, formou o seu espírito c organizou a tantt• !~stes quasr~ vintr: s(·culos de civiliza~;ão
~ua cultura científica. e dt· r·ultrrra. dos quais haurimo" a tradi~;iío,
O tne>'tre. Olintn ele Olin:ira. a voz do que nos manda rcven,nciar, nas geraçÕ•~s se-
passado. a brindar-nos com <h prirnorc,.; de sua pultadas na histr',ria, todo.s os ;;pus erros e de-
mensagem a esta Faculdade, uma tor·<111te lir;iiu :-'asl re~. a;.; sua~ luta:--; e o:--; ~cu:-- an~eio~. os st~tls
dt: cultura. de amor e dt• fral!:rnirlaclc humana. trir111fos t' a.; ~uas glt'n·ia;.;!
Presentt: em espírito e corar;iio a r•sta ce· I ti.'/' irados rwssa rernotís~ima tradição. cs·
rimônia. em qur~ comemora uma data hi:-t<'>· tiv•·mus hoj•, t·m \i--i ta dt· profunda n:veri'·n·
rica na \ida nwntal do Hio Crandt·. t'll cn·io cia. na ('o/irra "agrada. ondt· dormem. na paz
que aos lnaduroo< c ao,.. \t•!lto~. l'la H'I'Ú m11ito divirra da morlt'. os fundadon·s d!·slc j:"t famoso
mai.s ,;en~Í\t'l •)tle ao •·onu;iifJ. t· ú intt-li;!t•rwia in."litlllo dr• crrltura srqwrior.
do.s mo~:os. irrt'X)lt'J'ientt-.; ainda. 1·: do it:flr1xo dl'~sa !llP~ma saudade. o
.J<' qut· a• ger<u;iíe" rnfJdPntas. iludidas por grande profr•ssor Olinl" \0" t·nvia e~la ho·
uma ci\·ilizar)o dt~ ernpn"~qirno c arrdliltadas nwnagcm.
AX.\Ifl DA I•'Arêl'J,DADE DE :'I!ED!CIXA DE PôHTO ALEGHE: 57

Mensagem do pro f. honorário Olinto de Oliveira

Srs. seus recursoé; profissionais e dos seus cabe-


Fa7. poucos dias aconteceu um caso aná- dais da arte e da ciência, tão difíceis quanto
logo ao que me tra7., em espírito, à vossa sedutoras.
companhia sempre tão prezada. Dominado por um pendor inato para en·
O Jn,.tituto Hio-Crandense de Belas Ar- siuar, que desde muito cedo encaminhou-me
tes completava o !J.().'! aniversário de sua fun- para o magistério, e atraído pela grandeza
dação, e ia comemorar solenemente a data. e a generosidade da profissão de médico, foi
E sua digna Diretoria, atenta u circunstância para mim uma oportunidade feliz o ingresso
de estar ainda vivo o principal fundador da no corpo docente da jovem Faculdade, verde
instituição, convidou-o amàvelmente a ir co- ainda, embora, e vacilante, mas talvez por
participar das festas da comemoração. Mo- isso mesmo, capaz de fascinar o espírito aven-
tivos óbvios impediram o convocado de cor- turoso de um neófito que se entusiasmava com
responder à gentileza, que procurou entre- as glórias do professorado, e as honras que
tanto retribui r~ com uma despretensiosa men- iriam repercutir sôbre a condição menos bri-
sagem na qual, recapitulando em breves tra- lhante do simples prático.
ços um esbôço histórico da evolução da cul-
\'ão se veja no calor destas expressões de
tura espiritual no Hio Grande do Sul, exal-
entusiasmo juvenil pela cátedra o intuito de
tou o papel das belas artes como o têrmo fi-
conferir aos que a conquistam uma superiorí·
nal, o coroamento, daquele impulso que, par-
dade intrínseca e decisiva sôbre os que se res·
tindo das cogitações exclusivamente utilitá-
tringem ao exercício exclusivo da medicina
rim;, clcva·se gradualmente às de ordem su-
prática. Tal superioridade só poderia consis-
perior, c através do aperfeiçoamento dos
tir na obrigação e na oportunidade de mais
meios de expressão, conduzem o espírito à
aprofundado~J estudos, o que está ao alcance
abstração filosófica e ao culto da beleza.
de todo estudioso. Não se trata de privilégio
Mal se haviam aquietado os ecos daquele ou prerrogativa especial. E não raro meros
acontecimento, e sou surpreendido por outro práticos se avantajam em conhecimentos a cer-
convite, que não poderia deixar de ser pro- tos mestres euja fama reside mais na própria
fundamente grato ao meu espírito e a? meu convicção ou nas suas atitudes empinadas.
coração. ~uma carta cheia de expref;~oes ?e Ainda mais, por maior que seja para o
sincero afeto e de saudade, o meu anttgo dJs-
médico a exigência do saber, o domínio seguro
cípulo, hoje médieo dos mais ilustres, e. ~ri­
da técnica d1:1 sua arte, êle não será um verda-
lhante ornamento da Faculdade de MedJctna
deiro médico se lhe faltarem certas qualida-
de Pilrto Alegre e seu digno Diretor, o pt:o-
des de outnt alçada, as que suscitam na prag-
f'essor Cuerra Blcs~mann com ida-me a assJs·
tir às comemorações do ;)0.'1 universúrio da mática da lei moral.
J•IUH Iuçao~ cIa I'· acu
· li< a< Ie. <1· Cfli"•· m<'• flrendcu · ,
Já a Hipócrates não escaparam êsses re-
tão vivas c~ )!l"Ulas rec~ordações! O meu .~~~­ qui~itos, e ~eu caráter impreterível, em meio a
pelo de acudir ao aliciante chamado, rltssJ- uma civilização tão diversa da nos~a, o que
pou-o imedi<ctanwntc: a dura realidade. As lht~s impõe o cunho da univcr~alidade, ou me-
~
con<l.11'01~'' cIO IIIOIIH'IItO ma . f lllL• 1wrmithrn
· '
der-
~
lhor, de esseneialidade e conferem à nossa pro-
ramar· «'ltl ai)!IIIIHIS pagtn.t" , · . . ,Is . · t·econlaçoes
· · ••
fissão certo~ foros de nobreza de que não se
·
pa I pttanles qut: s«~ ptec .. ·11 ,·1t·t\''llll
' ' lttliiLJituana-
~
revestem tatltas outras, mesmo entre as maiS
JIW!Il!'.
.
I"I'SSIISCI[alltO 11111 I os 1 . 1wnodos
· · de di)!nas e elc\·adas.
mais ardoro><a atividach·, zc~lo. r~ntusiasmo . e O tema é vasto e empolgante, c a sua dis-
rIevotamenlo cIa tlllllld · 1 . \H · l·t' Jlrofis'<ional!
··
l·.u r:w•,.ão seria inesgotúvel. Permita-se-me mm;·
quererta· r1·Il.t:l·\'OS o tflldll . t11 cri«'·· r·ornoveu.•
nes-
• . trar, eorn um ou dois exemplos, que o culto
tas di•IÜrwi:h rlt~ lu)!al' e t«'lllfHJ. a nnt 11 1\,0- exclu~ivo da técnica não é tôda a Medicina.
- rIessa 'fll<tc I ra c~m q IH'·• '.10,· t'IH'aruos
1·ar·ao · ';' ar·
~
• I . . . • ·anl "" as obrl'raçoes .\une a pude rememorar sem a mais pro-
I
c 11os r o pratwo . .Jllll.d\ 1 -.c. · r
. f11ncla <'moção. uma rápida cena em que foi
cIo prufp,-,.:or. cI up 1.Ir'UIIf1o· lllf'' ., 11111
.. '.. . e outro.
ator principal o célebre Profes,or Potain, ~e­
as 1:\:" J'O IISH I)J. 1IJ. ·I a<It'S. rI·d r·r· 1nscwrww
'
c1ue os
. · .. 'lllO itH'I'""atl[e do,_ lho clínico francês. .. dos mai:; famosos do meu
r:ompdta ao apnmor,Jmc ··· ·
tempo. Alto. ma:rro, feio. de olhos vesgos, a dos, porque os que os praticam evitam a pu-
modéstia c a doçura em pessoa. Chegava êlc blicidade, homens de consciência, na maioria
ao hospital para dar a sua aula. Os alunos ro- modcHos pr,'tiicos que se contentam com a pró-
deavam jú o leito ern que gemia ansioso um pria sati>'façüo moral pelo dever cumprido.
pobre \Tlho. a,.;;;unto da lição do dia. Ao acer· L' com êssc te:;ouro que a Medicina re-
cm·-se do doente, num olhar compreendeu a dime, não o,; erros, que :;ão da condição hu-
situação que J" esperava. Despediu os alunos, mana, mas a inconsciência, a desumanidade, a
pôs o avent::d, e sentando-se à beira da cama, de: onestidarlt:, os abusos, que tantas vêzes la-
pass<;u o braço em tôrno do doente ofegante, mcntúvelrnerrtc se acobertam sob as vestes rcs-
procurando consolá-lo, enquanto lhe. ia desco· pcilúvei;; do médico.
brindo o peito. onde um enorme aneurisma F' fclizrnentc com o nobre exemplo e as
aórtico parecia prestes a arrebentar. Mandou :-úbias I içõe~ do seu corpo docente, que a Fa-
que lhe trouxessem ataduras que começou a r·uldade de VTcdir.:Írra de Pôrto Alegre tem for-
aplicar par:ientemente em tôrno do iÚrax elo mado no seu meio-século de existência perto
\·elho, enqu:wto o animava sorrindo e conver- de dois mil profissionais que vêm derramando
sando. :Vfa:.; ele súbito, num violento ace,cso de pelo tHJ:-:-o Hio Crande, e até transbordando
tosse. golfando sangue aos borbotões, o doen- al(,rn do~; .'CUS limites, o:- :-ão.'i princípio,; dt~
te sucumbiu agarrando-se ao médir·o c i rwn- rnna profi.,c;ão que exige dos seus membro~
dando-o de sangue. O processo de conter aneu- urna conduta irrepreensívcl e o culto p~rma­
ri~mas r:om e.taduras foi ingênuo, qua!"e ridí- ncnte de alguns rios mais elevado,; ideais da
culo. e nada tem de técnica científica. :via.< nos~a espécie.
cada vez que rernernoro esta cena, cai-me a al- São numerosos p os representantes do
ma de joelho~ diante da figura dê,,tc grand:: levantado teor em que se vem desenvolvendo
médico; e s;~ me afigura r1ue urna aur{,ola de '~'' atividade:: da ntJ''"a escola. Drmtre o grande
luz pairava ern tôrno dêle como a;; que os pin- 11Úmero de notúveis mestres que a t(·m enobre-
tores delineam por sM)["e as suas figuras de cido, entre o:; quais conto muitos bons amigos,
santos. '"' citarei um :norto. Annes Dias, cujo nome
Outro caso. Contava-se outrora. em nos- jú é de fama mundial. E como gostaria ele
sos pagos, de um modesto médico de campa· mencionar o~ de tantos que recolhidos à mo-
nha, de nome \'loraes, que certa noite, num db:tia do exercício profissionaL souberam exal-
rancho de sapé, conseguiu restituir à vida uma tar e abençoar, não sr!rnente os próprios no·
niança asfixiada pelo r:rupe, abrindo-lhe a nws. mas o nobre ofício que pn;stigiaram.
traquéia r:om um bisturi c uma tesourinha co- Dí'·stcs tarnht":rn s<·J citarei urn morto. Alice Mad-
mum. único.; instrumento,; de que di,;punha no fcr, a primeira mulher que aí se formou, na
momento. ['m técnico rigoroso ma buscar a primeira turma dos doutorandos que confir-
l ou 2 léf!uas os seus instrumentos, que che- maram a rnatttrirlarl(~ da nova escola. /lluna
;::anarn pron!n·lrnente tardt>. O pror'l'sso elo t 'tttrlim;a. lt•r,do escrito uma lt~se original que
prútir:o da roça seria censurÚ\cl. c tai\TZ rlt• rcptrcrtf irt al(·m do úmbito do Estado. vivt'll
conseqüência- pouco satisfat<'1rias. \las a cri- pouco, mantendo no curto prazo da sua lllll·
ança foi rf'stítuírla viva aos braços de urna po- desta ativirlarlt· profissiorral as qualirladl's fj!W
bre mãe de.;<"sperarla. F acredito <[11<' n<li[It!'la l:111to :1 firrltanJ dislinp:iiirlo rlurant(· o curso
noite pairotr p<!r sl)bre um certo rarwho da< étr"arl!·rnico.
c<whilhas a<ptela aur{·ola lurnirwsa '[ltt' r:t,nsa- I·:nr·t·rr.Jnrlo r:om esta lronwnap:t'lll ao.' llli'S·
p:ra O." Iam·•·' lwn',ir:o' ainda qm• ol,•t·uros. f'lll lr<"' t• ao;; rli,r-ípulo." ria '"'~sa rpwrida 1-'acttl-
que a corL-cii·rwi.:t do rnt',dieo st~ ~olm·pôt~ it ."lta rladl'. a;; tninlra-; ·-atrdar;0t·' ao r·inqiir·nl!•r•:'rrio
cwtwia. d"mitrando-a. para pudPr r:trtnprir o da .>'lia !"ttnrl;:r;ão. !"ar;o o~ mais ardt~ntt·s 1 utos
st·u dcn·r. '(llt". t·nr últirna t"""'"rH"ta. ealw 1:111 para q11r· ;;t· dcslaqtw cada 1 t·z rnais o '''" J,rj-
três pala1ra.": .<al\ar \idas. miti!!ar -ofrirrtt'll· llranli' p<IJH"I na t·onstt·larJiu do~ t•,talJ['It•t·irncn·
lu.-'. r·on.-ular dc~espcrado•. lo:' (JIIf' t":f.~o t•difintndo t' l'llf.'l'<lrtrlo·r·t·ndo a
C:a"o" r·otno t'""'l'"' rcproduzcm·•t· I"JI" tr',da arlnrirÚ\t'l t: tãr, prornrssora t·ultura 1 io-p:ran-
parte. diúriamL'llle at;s rnillran~~- para lwrtra .[t.ll'l'.
da ela--c. fir ctndo pur(·m qtta"t~ scrnprT tp:nora- /lss. Olirt!o r/!' Olitl'ira

1 oi
Palavras pronunciadas pelo Vereador Dr. Tasso Vieira de
Faria, em nome da Câmara Municipal de Pórlo Alegre
Deseja ü Podr~r Legislativo Municipal tra- cina de Pôrto Alegre cresceu e se agigantou no
zer sua palavra gratulatúria na feliz efemé- conceito e no valor de seus homens.
ride que assinala o 50.Q aniversário de funda- Professôres ilustres nesta Casa deixaram
r;ão desta valorosa e honrada Faculdade. o traço indelével de sua passagem luminosa.
J\ão poderia a Câmara dos Vereadores, Alunos de ontem, profissionais de hoje, mes-
corno órgão de projeção pública c social, dei- tres de amanhã, todos êles amam esta Casa
xar passar tão significativa ocorrência, sem porque nela reconhecem haver recebido os co~
associar-se, de maneira oficial, aos festejos ge- nhecimentos básicos da sublime arte de curar.
rais, que não ~<Í vivem na alegria coletiva, mas, . . Como filhos queridos, eternamente agra-
fundamentalmente, 110 espírito e nos corações decidos pelo bem recebido, todos que por aqui
de cada um de nós. passaram ou que ainda têm a ventura suprema
Assim fundamente convosco integralizado, de viver, olham para sua Faculdade, com amor
o Poder Legislativo Municipal, numa transpo- extremado e dedicação profunda.
sição espiritual, rcrnerrwrativa dos tempos já Os Mestres que ora militam nas diversas
andados e vividos por esta nobre Faculdade, cátedras, honrados e fiéis continuadores de
através dr~ :;eus profissionais ilustres, inesque- seus mui nobres antepassados, continuam na
cíveis, acompanha o desfile daqueles que com mesma senda por êstes traçada, no sentido su-
seu saher, sua cultura, sua experiência e sua perior do maior progresso e da mais franca
atividade, ajudaram a r:onstruir êste cenáculo valorização.
hipocr(ttico, mantendo-o. permeio t<Jda sorte Dedicados ao ensino, integralizados em
de dificuldades e avatarcs, numa posição de 5ua obra de permanente construtividade, pos-
proeminência e destaque iniludíveis, perante sam êles, como tão hem ainda na sessão magna
a realidade cultural e científica do País. de ontem expressou no5so eminente prof.
Da,; fileiras benditas de;,ta Casa de Ciên- HOUSSAY, plasmar os caracteres de nossa ju-
cia, durante cinqüenta anos, têm egressado, ventude, dentro de um critério elevado e justo.
ininterruptamente, legiões de apr'1stolos do Bem O Poder Legislativo Municipal em boa
e da Caridade, para maior orgulho de seus hora vem reconhecendo a alta expressão do
conr:idarlãos f' maior lwrwfício da humanidade. rnérlieo, como fator evidente da coletividade.
A legifto luzidia de profissionais que esta situando-o naquele justo c merecido lugar qu~
Faculdade soube formar, durante f.ste meio- êle deve ter, dentro da organização social.
sf.culo de :-ilia fec1mda existi'·nc:ia, distribuída Que e~ ta Faculdade cresça e prospere;
em todos quadrant!'s dt: nosso amado Estado, que forme profi~sionais idôneos e capazes; que
p!'!a projr•<;ií•, nacional e e;;trangeira de seu continue aju~tando o caráter de nossa juven-
salwr. Prn m11ito IPrtl dignificado os Mestres tude; que faça, como até aqui o tem efetivado,
inolvidúvPis rpw a plasrno11. grandes, bons e competentes Mestres; que sua
l<stril•<tda nos pilan•.s imortais da ciência Direção suprema cada vez melhor seu:; atos
I' da arl<· rn!·dica qrw llli'()CHATES fundou e administrativos! São os sinceros e profundos
a postPrirlad<· r•xal<;ou. a Faculdad1: de Medi- votos da Câmara Municipal de PDrto Alegre.

--) () ( - - - -
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Discurso pronunciado pelo sr. Arquimedes Fortini,


provedor da Santa Casa de Misericórdia
Em breves período~. trago nesla saudação, rnane,,;arn redivivas as centelhas espirituais dês-
a palavra gratulatória da I rmanclade da Santa tes médicos, certo, neste instante supremo, de
Casa de Mió•ericórdia de Pôrto Alegre, pela tamanha comunhão, êles estarão com suas
au~piciosa comemoração, que perpetua, no ins- energias anímicas, voltados integralmente para
tante feliz, que estamos vivt~ndo, o cinqüente- esta reunião, recebendo como vt'ls outros, os
nário desta Faculdade. :.;entires rnai,; profundos c sinceros, que lhes
Dizendo em nome da Santa Casa, para a estou tributando. Possam, aquêles beneméri-
Faculdade de .\'Iedicina, digo-o do Templo da tos da humanidade, continuar merecendo, na
Caridade ao Templo da Ciência. Pternidade, il serena e expressiva coroa de lou-
Caridade e Ciência --· irmanar;ão sHper- ros, certamente, tão bem resgatada pelo sofri-
lativa, que dignifir.:am e valorizam a r.:onduta mento e os sacrifícios vividos entre nús.
humana. infundindo-lhe o verdadeiro sentido Em segundo lugar, à tóda ilustre e culta
de ~ua açáo em abono das coletividades. classe rnc;dica, oriunda dr:ste Templo de Ciên-
Presto r.qui minha mais profunda home- cia, que continua, em nossos dias, o esfôrço
nagem aos c!'píritos cintilantes, aos profissio- secular de tiío nobres antepassados, desejo
nais abnegados e altruísta~, que êste Templo como em tantas outras ocasiões o tenha feito
da Ciência houve por bem formaL c que por - mais uma vez, testemunhar, públicamcnte,
longas, exaustivas e intermináveis horas, con- meus mais elevados seniirnentos de gratidão c
tribuíram com suas energias, saberes e des- de fé.
prendimento erislão, atendendo, curando ou f:ste Templo de Ciência, através de tôdas
recuperando, àqueles pobres enfêrmos, deser- as épocas, sempre cooperou na obra caritativa
dados ela fortuna, que há 122 anos, num total e benemérita da Santa Casa, de maneira es·
ele quase 200 mil, passaram pelo Templo da pontânea c superior. 1\ unca as portas da San·
Caridade. ta Casa fecharam-se aos alunos, profissionais
Volto meu pensamento, cheio de reconhe- c mestres dê~te Templo, os quais, por outro
cimento e gratidão, em primeiro lugar, para os lado, sempre apoiaram e auxiliaram as inicia-
mortos saudosos, em tão elevado número, que, tivas e os trabalhos da Santa Casa. _l\1eus se·
com suas mãos benfazejas e seu ~aber profis- nhore;;. Possa êste magnífico exemplo de per-
sionaL tanta~ e quantas vidas soub1~ram pre- feita compn~t~n;;ão e total corre;;pondt•ncia, con-
servar, num meritório e justíssimo preito. tinua r cada vez mais intenso e permanente.
O desfile daqueles médicos saudosos. pe- Que a Faculdade de Medicina de Pi'Hto
rante a ima,ginação retrospectiva dí'>ste momen- Alel-(re, na JH'ssoa de Sf'll iln~tre Diretor, no
to solene. cresce em vai ia, aumenta em senti- e-~pdho honr;1do t' culto de seu Corpo Docente
re~ profundos. quando, vendo e sentindo-os e no idealismo de seus alunos, continue na sen·
assim a torlo~ êles. na profundeza de rninh'alma. da ;-;t:rnpitcrna e construtiva do progresso q11t:
não posso também tê-los nesta augusta reu- llliJICa cessa. da cultura qtw eleva as criaturas,
nião. em plf.no 11so de suas utilí,;,;irna,; vidas. dt• J'c·~ <JUC ai int!'ll!a as l'IWI'p:Ías. da COtJSCit~IICia
ao lado dP v{h outros. profissional qtu~ dignifica th r·idadãos, da ark
:\las. se ~~ itH:onteste a irnortalidadP da al- t' da ('it·ncia nH'·dil'a criad-1 para o maior lwn1
ma. ,;e em algum lu;zar do Alí-m 1-:krno. per- da humanidade!

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