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Festa no céu, o retorno – Dalmir B.

Seraphim

Fiquei muito chateado depois daquela Festa no Céu. Afinal, fiz papel de bobo. Sei que foi
minha curiosidade e ousadia que me levavam a cair no ridículo. Acontece que essa coisa de
ridículo eu não concordo. Por que ridículo? Se havia uma festa no céu. Por que eu não poderia
participar? Se a bicharada toda foi convidada, eu também deveria ser convidado. E, àqueles
que não voassem, deveria ser disponibilizado transporte adequado. Nada mais democrático.
Eu não fui bobo, como sabia que não haveria transporte, tratei de arrumar uma forma de ir.
Isto é, peguei uma carona com o compadre Urubu. Que, creio, de boa vontade, não me levaria.
Tanto é quem até hoje vive cantando:

“Vai haver festa no céu

Mestre Sapo não vai não,

Pois só vai bicho que voa,

Mestre Sapo voa não.”

Esta cantoria foi me irritando. Imagina, logo eu que tenho um coral no Brejo. Todas as noites
eu e meus pupilos entoamos afinadíssimos uma canção. É verdade que é sempre a mesma
música, o caso é que sempre tenho novos alunos, por isso tenho que recomeçar a lição. Mas
não se pode reclamar e dizer que eles não sejam afinados. Bem, para encurtar a conversa,
entrei na viola do compadre Urubu e segui viagem, isso na primeira vez. Agora seria diferente.

Primeiro, fui aprender um instrumento. Além disso, fiz aulas de canto. Virei um Pavaroti do
Brejo. Fiquei na dúvida se convidava mais algum amigo para a aventura de tocar e cantar no
céu. Porém, vi que maioria de meus amigos estavam contentes com suas vidinhas tranquilas.
Bastava umas boas lagartas na goela, uma lua clara e iluminar a lagoa, que tudo estava bom,
muito bom. Mas para mim isso não bastava. Queria algo a mais. Mais emoção, mais risco e
aventura, por isso me empenhei em aulas de canto e de música.

Um ano já se passara, estava, novamente, na época da Festa no céu.

Mandei arrumar meu fraque, fiz minha mala, cuidei de minha voz e de meu instrumento. E
aguardava o dia da viagem.

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