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RECONSTRUINDO O CARÁTER

HISTÓRIA: Uma pescaria inesquecível!

“Ele tinha onze anos e, cada oportunidade que surgia, ia pesca, numa ilha que ficava no
meio de um lago. A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas pai e filho
saíram no fim da tarde para pescar apenas peixes cuja captura estava autorizada. O
menino amarrou uma isca e começou a praticar arremessos, provocando ondulações
coloridas na água. Logo, elas se tornaram prateadas pelo efeito da lua nascendo sobre
o lago. Quando a cana vergou, ele soube que havia algo enorme do outro lado da linha.
O pai olhava com admiração, enquanto o rapaz habilmente, e com muito cuidado,
erguia o peixe exausto da água. Era o maior que já tinha visto, porém a sua pesca só
era permitida dentro da temporada.
O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras para trás e para frente. O
pai, então, acendeu um fósforo e olhou para o relógio. Eram dez da noite, faltavam
apenas duas horas para a abertura da temporada.
Em seguida, olhou para o peixe e depois para o menino, dizendo:
- Tem que devolvê-lo, filho!
- Mas, pai, reclamou o menino.
- Vai aparecer outro, insistiu o pai.
- Não tão grande como este, choramingou a criança.
O menino olhou à volta do lago. Não havia outros pescadores ou embarcações à vista.
Voltou novamente o olhar para o pai. Mesmo sem ninguém por perto, sabia, pela
firmeza na sua voz, que a decisão era inegociável. Devagar, tirou o anzol da boca do
enorme peixe e o devolveu à água escura. O peixe movimentou rapidamente o corpo e
desapareceu. E, naquele momento, o menino teve certeza de que jamais veria um peixe
tão grande quanto aquele. Isso aconteceu há trinta e quatro anos. Hoje, o rapaz é uma
pessoa bem-sucedida na vida, e ele leva seus filhos para pescar no mesmo cais. Sua
intuição estava correta. Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como
o daquela noite. Porém, sempre vê o mesmo peixe repetidamente todas as vezes que
depara com uma questão ética. Porque, como o pai lhe ensinou, a ética é
simplesmente uma questão de certo e errado.

Agir corretamente, quando se está sendo observado, é uma coisa. A ética, porém, está
em agir corretamente quando ninguém está nos observando. Essa conduta reta só é
possível quando, desde criança, aprendeu-se a devolver o PEIXE À ÁGUA (Integridade de
Caráter).
I- O QUE É CARÁTER?
"O caráter é um triunfo de nossa determinação sobre a nossa inclinação." (Edward
Earle)

Não tenho dúvidas de que o principal discípulo de Paulo chamava-se Timóteo. Quando o
apóstolo escreveu aos filipenses, referindo-se a ele, nos diz: "porque a ninguém tenho de igual
sentimento..." (Fp 2:20). Repare na expressão ”a ninguém...", e verá que Paulo nutria uma
admiração espantosa por este jovem ministro. Paulo ainda referindo-se a Timóteo diz: "E
conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai"
(Fp 2:22). Ele se referiu à caminhada de Timóteo ao seu lado, dizendo que o seu caráter foi
provado (e aprovado), pois durante todo este tempo nunca deu motivos de escândalo ao
Evangelho, nem mesmo portou-se de modo contrário à sua posição de ministro. Timóteo
serviu a Paulo como "filho ao pai”, e os anos de convivência provaram o seu caráter. Mas
caráter não é algo que está presente na vida de todos. Paulo citará muitos outros discípulos,
onde no momento das perseguições ou provações, abandonaram o barco e tomaram outro
rumo. Noutra ocasião, Paulo compartilhou que diversas pessoas o abandonaram, e que na sua
primeira defesa em Roma: "ninguém foi a meu favor". Falou também de pessoas que foram
enredadas pelo dinheiro e pela ganância, afundando-se em muitas dores. Outros cederam às
heresias diversas que rondavam o cristianismo primitivo. Resumindo: uns foram testados e
aprovados no seu caráter, outros foram igualmente testados, porém, reprovados.

Então, como podemos definir o que é caráter?

1. É o nosso músculo moral

As circunstâncias, sejam elas boas ou ruins, têm o poder de testar o nosso caráter. Resta saber
se teremos "muque" necessário para suportá-las. É neste momento em que as nossas
inclinações ocultas ou latentes afloram, e nós teremos de tomar a decisão de segui-las ou não.

Lembrando a parábola de Jesus... é na hora em que os ventos sopram, as tempestades rugem e


os rios transbordam que veremos a firmeza de nossas bases. Uns acabam caindo como aquela
casa edificada sobre a areia, mas outros permanecem firmes, porque tinham uma boa base.
Isto tem a ver com o nosso músculo moral. Nossa capacidade para suportar certas provações.

Abraham Lincoln disse: "Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder". Se nos
lembrarmos da história de Saul, veremos este teste de fogo em sua vida. É interessante notar
que quando ele foi chamado, manifestava um forte sentimento de humildade (ou
inferioridade?), pois ele disse a Samuel: "porventura não sou benjamita, da menor das tribos de
israelitas. E a minha família a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim por que, pois,
me falas tais palavras?” (1 Sm 9:21). Quando finalmente Samuel foi para ungi-lo, no meio da
assembleia de Israel, Saul escondeu-se no meio da bagagem, entre carroças e pertences do
povo. No entanto, a humildade deste homem e o seu compromisso com Deus, quando foram
testados pelo exercício do seu poder, com o tempo, vieram a corromper-se. Ele fez o que era
mal. O músculo moral de Saul não estava suficientemente fortalecido para suportar o teste do
poder. E o seu final foi trágico.

Geazi também, quando se viu diante da possibilidade de um ganho financeiro, não suportou
tamanha pressão, e acabou indo atrás de Naamã, pedindo-lhe a oferta que o seu líder
rejeitara, quando viu que não era a ocasião para tal. O seu músculo moral financeiro também
não estava fortalecido e ele cedeu. José, ao contrário de Geazi tinha o seu músculo moral mais
fortalecido. Quando se viu debaixo de tamanha tentação, dado ao assédio sexual feito
diariamente pela esposa de potifar, não cedeu. A casa de José não caiu. Ele manteve-se firme e
puro, apesar de estar em plena juventude.

Paulo tinha também o seu músculo moral fortalecido. Ele escreveu aos filipenses dizendo que
havia aprendido a "adaptar-se a toda e qualquer circunstância" Ele diz: "Tanto sei estar
humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho
experiência, tanto da fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez; tudo
posso naquele que me fortalece” (Fp 4:12-13). O músculo moral de Paulo estava bem
fortalecido, pois nas mais diferentes situações ele sabia manter-se íntegro e fiel. Lembre-se
que quando o apóstolo disse que sabia "estar humilhado", neste exato instante, ele estava
atrás das grades, pois a carta aos filipenses era uma das cartas da prisão. O que Paulo está
falando não é romântico, simbólico ou espiritual, é real, ele estava preso numa masmorra,
como um criminoso qualquer.

Uma situação oposta pode ocorrer. Conseguimos até ser virtuosos na humilhação, mas se
entrarmos na fartura, na honra ou num exponencial crescimento, isto pode exercer uma
influência negativa sobre nós, e acabamos por nos afastar de Deus e dos seus princípios. Assim,
o que deveria ser bom, bênção, acaba por nos derrubar. O caráter então tem a ver com esta
firmeza moral numa área.

2. São os traços invisíveis que guiam nossa vida

Em certa ocasião o dono de uma empresa disse aos seus funcionários: "Façam o que for
certo, mesmo quando isso nos custar mais do que queremos pagar e mais do que pensamos
ser justo”. Este era um traço interno que guiava a vida deste homem e que ele gostaria que
estivesse na mente daqueles que cuidavam dos seus negócios. Provavelmente aprendeu isto
com seu pai (ou com as pancadas da vida!) e estava passando tal legado adiante.

O caráter tem a ver com estes traços internos, com estes ideais, ou seja, os paradigmas que
guiam os nossos comportamentos. A Bíblia nos diz que o Senhor "não vê como o homem: o
homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração" (1 Sm 16:7). O texto faz referência ao
episódio onde Davi foi escolhido como rei de Israel. Enquanto Samuel ficou olhando o
exterior, a aparência, a reputação, Deus olhava o caráter daquele que seria o futuro rei do
seu povo. Davi era um homem que temia a Deus, e os seus ideais de vida estavam de acordo
com os ideais divinos. E assim ele foi chamado de "homem segundo o coração de Deus”.

Antes de ser preso em Jerusalém, e advertido pelo Espírito acerca disso, Paulo despediu-se dos
presbíteros da igreja de Éfeso. Pressentindo que nunca mais veria a face desses irmãos, no seu
ato de despedida pôde dizer a eles: “Agora, eu os entrego a Deus e à palavra de sua graça, que
pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados. Não cobicei a prata
nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram
minhas necessidades e as de meus companheiros. Em tudo o que fiz, mostrei-Ihes que mediante
trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que
disse: 'Há maior felicidade em dar do que em receber'?" (At 20:32-35). O apóstolo tinha um
ideal em mente. Não queria explorar a fé de ninguém, e mais do que isto: trabalhou com suas
mãos e sustentou as necessidades de vários dos seus companheiros. Paulo tinha a sua
consciência limpa. O fato é que ele poderia até ter recebido daquela igreja, pois dedicava sua
vida ao serviço dela, mas abdicou disso. Já imaginou se tivesse explorado aquela congregação?
Se fosse o exemplo de um líder preguiçoso ou aproveitador? Mais do que "palavras", Paulo
pregou com sua vida. Eles não tinham do que acusá-lo. Um exemplo como este conquistará o
respeito de qualquer pessoa. Paulo possuía ideais saudáveis que guiavam sua vida e ministério.
Na sua partida, todos choraram, pois o caráter deste homem os marcou profundamente.

O estudioso Paolo Mantegazza diz: "O caráter é a fisionomia moral do homem". Muitas vezes a
nossa fisionomia moral é feia e de baixa qualidade. Aprendemos muitas coisas erradas e elas
estão cristalizadas dentro de nós. São estruturas mentais que precisam ser reprogramadas.
Estudos feitos diz que a criança até os 6 ou 7 anos de idade, tem a sua moralidade marcada
profundamente pelos pais. Até esta idade, o ponto de vista da criança confunde-se com o dos
seus genitores.

Piaget afirma que a "primeira moral da criança é a da obediência e o primeiro critério do bem é
durante muito tempo, para os pequenos, a vontade dos pais". Assim ele diz que a "moral da
primeira infância fica dependente de uma vontade exterior, que é a dos seres respeitados ou
dos pais'?" Os filhos crescem observando os pais. Suas antenas estão o tempo todo ligadas,
captando todos os detalhes. Eles são excelentes gravadores. Mas de uma coisa precisamos
saber: o que eles aprendem é o evangelho da vida? Salomão escreveu no livro de Provérbios:
"Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda, quando for velho não se desviará
dele”. Isto serve tanto para o lado bom, como ruim.

Hoje sabemos que o maior ensinamento que os pais podem dar aos filhos é aquele por meio
dos seus atos e comportamentos. As palavras são importantes, mas o que não falamos, mas
fazemos, "grita mais alto': Nós somos o que fazemos, não o que falamos. As palavras vêm
sempre em segundo plano, corroborando com a prática. A maior aula de perdão que
podemos dar aos nossos filhos não é por meio de um devocional verbal, mas quando eles
nos veem, por exemplo, pedindo perdão à mãe deles, ou talvez até a eles próprios.

Quantas vezes temos dentro de nós ideias fixas, pensamentos terríveis, comportamentos
cristalizados, e lutamos para vencê-los. John Powell afirma que todo ser humano tem dentro
de si algo semelhante a um gravador portátil, que toca sempre de maneira suave, mas
insistente. "A fita desse gravador reproduz a mensagem da mãe ou do pai (ou de outros). A
mãe pode ainda estar dizendo: 'Não precisa fazer nada, meu bem. Deixa que a mamãe lave os
pratos e arruma as camas. Você pode ir brincar: Se a 'filhinha' reage aceitando o papel de
eterna criança, você pode vê-Ia (na vida adulta) brincando, esperando ainda que os outros
façam tudo por ela, incapaz de assumir qualquer responsabilidade. Ou o grito do pai pode
estar no gravador, 'Você não presta pra nada, seu desajeitado: Se a criança nesse caso reagiu
docilmente, você pode vê-Ia quando adulta, mal humorada, desencorajada e dizendo para si
mesma: “Eu não presto para nada!".

Muitas dessas experiências aprendidas na infância tornaram-se fortalezas e podem estar


guiando nossas decisões. Só há um meio de mudar isto. Paulo escreveu aos romanos dizendo:
"rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis
com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12:1-2). É impossível uma
transformação de vida, sem uma mudança da mente. Os nossos paradigmas precisam mudar,
para que o nosso presente e amanhã não sejam comprometidos. Às vezes a caminhada é longa
e árdua, mas necessária. Muitas fortalezas precisarão ser implodidas, para que uma estrutura
mental saudável nasça. Mas a sua mudança repercutirá na transformação de outros e de
gerações que ainda virão. Assim sendo, o caráter são os traços invisíveis que guiam as nossas
decisões.

3. É o que somos quando estamos sozinhos

Aqui podemos fazer a distinção entre reputação e caráter. Todos nós temos um "eu social':
algo que expressamos para os outros, mas que por vezes não corresponde ao que somos por
dentro. Acabamos por viver um personagem, uma peça de teatro, mas não o que somos por
dentro. Esforçamo-nos para agradar aos outros, quem sabe para compensar um vazio afetivo
dentro de nós.
Assim, podemos dizer que reputação é o que os outros pensam de nós, já o caráter é o que
somos de fato. A reputação remete ao conceito de aparência, já o caráter fala da nossa
essência. Reputação é o que somos por fora, caráter é o que somos por dentro. Já dizia o
ditado: "Quem vê cara, não vê coração” – Mais importante do que termos uma boa
reputação, é possuirmos um caráter saudável. Pois caráter é o que somos quando ninguém
está nos olhando (apenas Deus!).

Precisamos ser íntegros. Integridade vem da palavra inteiro, isto quer dizer: alguém que tem
apenas uma face, uma atitude, e não alguém dividido, que vive uma vida dupla. Assim como
José, que mesmo sozinho mostrava a firmeza do seu CARÁTER quando foi assediado pela
esposa de Potifar.

Ananias e Safira, no entanto, quando trouxeram sua oferta estavam mais preocupados com a
sua REPUTAÇÃO. Acertadamente, eles discutiram em casa como iriam levar o valor do campo
vendido durante o culto na igreja. Um deve ter sugerido ao outro: "Bom, vamos fazer de conta
que entregamos tudo, que somos boa gente, santa e espiritual, mas vamos reter parte do
valor". Eles optaram pela fachada, mas não pelo caráter. Sua oferta era uma fraude! (At 5:3-
4).

Também não precisamos ter a atitude dos fariseus que gostavam de orar nas praças, de fazer
com que todos vissem suas ofertas, de demonstrar que estavam jejuando. Não sabemos
exatamente se eles também faziam isto em secreto, a sós com o Pai, pois o alvo principal deles
era ''serem vistos pelos homens". Jesus nos ensinou de modo diferente: "Quando você for orar,
feche a porta do quarto e fale com o seu pai celeste em secreto. Quando for jejuar, lave o rosto
para que ninguém perceba o seu ato de sacrifício. Quando você der uma oferta, não fique a
trombetear o seu ato de generosidade. Guarde-se de exercer a sua justiça diante dos homens
etc". Para todos estes atos Jesus sempre dizia: "E o teu pai que vê em secreto, te
recompensará" (Mt 6:5-6). Ficamos a nos perguntar: O que fazemos sozinhos outros podem
saber? Cultivamos alguma prática errada, em particular e ainda mostramos aos outros uma
outra face? Quem olha para nós às vezes nem pode imaginar que guardamos coisas tão ruins
no oculto.

Quando optamos em mascarar nossos problemas, crises ou pecados colocando um verniz


espiritual, ou citando versículos bíblicos ou uma série de clichês góspeis, podemos trilhar o
caminho perigoso da hipocrisia, o que nos distanciará mais e mais de Deus e das amizades
mais profundas. Lembre-se: caráter é o que você é quando está sozinho.
4. É determinado por nossas escolhas

Desde o episódio da queda do homem, aprendemos que a nossa vida é feita de escolhas.
Deus havia criado um lindo jardim e colocou no meio dele a árvore do conhecimento do bem
e do “mal”. Satanás também já estava rondando a vida dos primeiros filhos de Deus, mas
Deus havia dado algo de sagrado ao ser humano: o livre arbítrio, a capacidade de escolher o
caminho a seguir. Deus queria dar ao homem o privilégio de servi-Lo e agradá-Lo de boa
vontade. Ele não criou robôs, mas seres livres. Assim, o livre arbítrio poderia ser usado em seu
benefício.

Como nós sabemos, o casal do paraíso foi influenciado pela serpente, e movido por sua cobiça
e orgulho, acabou fazendo uma decisão catastrófica: desobedeceu a Deus. Alguém disse que
Adão apontou o dedo para Eva, Eva para a serpente, e a serpente só não continuou apontando
o dedo, simplesmente porque não tinha dedo para apontar. Trágico! Todos eles foram
responsabilizados por seus atos: homem, mulher e serpente. Porque o caráter é determinado
por nossas escolhas.

Não somos seres passivos, vítimas das circunstâncias. O nosso livre arbítrio permanece intacto.
Temos uma natureza pecaminosa, mas somos responsáveis por nossos atos. Satanás pode até
manipular nossos pensamentos, emoções e desejos, mas não pode tocar em nosso livre
arbítrio. Entre nós e a tentação existe a escolha. A questão é: o que vamos decidir? Qual
caminho iremos tomar? Dependendo de nossa decisão, as implicações podem ser das mais
diversas.

Quando alguém tem uma fragilidade na alma, uma fraqueza no seu caráter, poderá ser levado
a algumas reflexões: vou ocultar isto? Irei pedir ajuda? Continuarei fazendo isto às escondidas?
Qual vai ser a minha decisão?

Todos os grandes homens da Bíblia tiveram suas fraquezas e tropeços. No entanto, tinham
posturas distintas diante dos seus erros. Quando Natã confrontou Davi, o rei de Israel, acerca
do seu erro, ele poderia até ter mandado matar o profeta e resolvido o seu problema. Afinal de
contas ele era a autoridade máxima! No entanto, Davi disse: “pequei contra o Senhor". Ele não
procurou evasivas, nem inventou uma historinha. Também não disse: profeta, você deve estar
enganado ...". Simplesmente reconheceu e acolheu a disciplina de Deus.
II- COMO O CARÁTER SE DEFORMA?

Se você não é um bom exemplo, é um trágico aviso (Robb Thompson).

A educação que tivemos dos nossos pais teria alguma influência em nosso comportamento?
Alguma experiência de abuso na infância pode estar determinando algumas de nossas
atitudes? Há algo mais que pode tornar-nos deficiente no caráter?

1. Influência negativa de nossos pais

O que nossos pais nos ensinaram? Quantas vezes lutamos com áreas dentro de nós e temos
dificuldades em nos desviar delas, simplesmente porque fomos ensinados desde a infância.
Salomão afirmou: "Quem anda com os sábios será sábio"! Bem como, quem está debaixo da
influência de tolos, no mínimo, carregará graves sequelas disto. O nosso caráter foi formado
pelas autoridades que tivemos. Até cerca de 6 ou 7 anos a moral dos pais é a moral dos filhos.
É como se os filhos enxergassem o mundo com o olhar dos pais. As crianças como uma
esponja, vão absorvendo os atributos morais dos pais e o modo como lidam com seu cônjuge,
com o dinheiro, com seus negócios, com suas dívidas, com a palavra empenhada, com Deus,
com os amigos, e tantas outras coisas. Mais tarde expressarão isto nos seus relacionamentos e
na vida de modo geral. Os pais ensinarão muito mais pelo exemplo do que propriamente
ditando regras. Os filhos observarão mais o comportamento do que as palavras. Por isso é
muito importante esta coerência entre o que se diz e o que se faz. O que fazemos falará mais
alto, e é isto que mais influenciará na formação do caráter dos filhos.

"As imagens e sentimentos que temos a respeito de nós mesmos procedem, em grande
parte, das imagens e sentimentos que vemos refletidos em nossos familiares. Esses reflexos
nos dizem não somente quem somos, mas também o que vamos nos tornar. E à medida que
esses reflexos vão, pouco a pouco, penetrando em nós, vamos tomando a configuração da
pessoa que vemos naquele espelho familiar" (David Seamands).

O que não resolvemos em nossa vida, passamos para geração seguinte! Certos problemas em
nossa geração, quando não tratados e sem fundo genético, podem levar até três gerações
para serem "resolvidos". Tanto no episódio em que comprou o direito de primogenitura como
naquele em que ele tomou a bênção do pai (em lugar do irmão), Jacó demonstrou concordar
com o ditado de que os fins justificam os meios. Ele faria o que fosse necessário para alcançar
seus objetivos. Aprendemos também a força da influência familiar. Num lar onde há mentira,
onde os pais enganam e dissimulam, o que os filhos pensariam? Em seu caráter ficaria o
registro de que mentir é normal e natural.

PARA REFLETIR: De que forma as minhas atitudes e comportamentos perante o Senhor estão
servindo de modelo para os filhos e, consequentemente, para as gerações após eles?

2. Sentimentos perniciosos

Uma outra coisa que pode deformar o caráter são os sentimentos perniciosos que
acalentamos em nosso coração. Você conhece a história de Caim e sabe como a sua ira o
conduziu a tornar-se um homicida. Deus disse a Caim: "por que andas irado?" O resultado é
que finalmente vencido por tal emoção negativa, ele fez um convite ao irmão Abel: "Vamos ao
campo?" (desejo de vingança/morte).

Veja que a origem de um homicídio pode estar num sentimento de ira não resolvido, mas
acumulado. Ira acumulada gera ressentimento. Ressentimento acumulado gera mágoa.
Mágoa acumulada gera amargura. Amargura gera ódio, e do ódio vem a vingança. É possível
que Caim tenha passado por estes estágios, desde uma simples ira, até que finalmente
cometeu tamanha atrocidade contra o irmão, e tal sentimento comprometeu o seu destino.
(LER Hb 12:14-17).

É muito importante que aquele que foi ferido ou machucado nas suas emoções, possa tratá-
Ias. Nós podemos dizer que há um ciclo do abuso. Toda pessoa ferida numa área, se não
resolver isto, desenvolverá um mecanismo inconsciente, onde passará a ferir outros na
mesma área. Repare nos abusadores sexuais. Normalmente já foram abusados. Pessoas que
foram vítimas de violência, normalmente se tornarão violentas com as outras. Alguém
oprimido por um líder ou pai autoritário poderá se tornar ainda mais autoritário com os
outros. A tendência é que estes atos sejam perpetuados através das pessoas feridas. Só o
arrependimento e o perdão têm o poder para interromper este ciclo vicioso.

"Raramente brigamos com as coisas reais. Escolhemos homens ou mulheres substitutos


para combater. Nossos sentimentos de ranços ou de ciúme podem escapar apenas através
do que chamamos de 'emoções deslocadas: Essas emoções despercebidas são, quase
sempre, atiradas sobre o tema errado e sobre a pessoa errada’!" (John Powell).

3. Pequenos pecados

Quando Deus perguntou onde Adão estava, temos uma sequência de justificativas,
racionalizações, desculpas e acusações. Ele disse: "E porque estava nu, tive medo e me
escondi" (sequência de mentiras). Este não foi de fato o motivo de estar escondido. Sua fuga
se dava porque ele havia desobedecido a Deus, juntamente com sua esposa. Veja que uma
pequena brecha ocasionou o surgimento de grandes erros. Como disse o salmista, "um
abismo chama outro abismo".

Veja o que disse Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: Todo o que comete pecado é
escravo do pecador" (Jo 8:34). Sujeitar-se ao pecado é colocá-lo como seu senhor. Ele é um
senhor cruel que exige plena submissão dos seus súditos. Quem faz de um pecado o seu
senhor acaba tendo que se sujeitar às suas ordens. Todo cristão escravo de um pecado odeia
sua escravidão. Embora se veja inicialmente seduzido por sua cobiça, onde lhe são prometidos
momentos de prazer, o que vem a seguir é revolta e tristeza.

O cristão adoecido no caráter não parece estar tão condoído com seu pecado quanto o
cristão cativo. Quem está no cativeiro, mesmo envergonhado, sempre pensa em pedir
ajuda, já o deficiente de caráter não cogita muito esta possibilidade. É bem possível que
continue fomentando o seu erro às ocultas, fazendo o possível para não ser descoberto.

É importante que estejamos atentos a isto: as grandes fraquezas de caráter começam a partir
de pequenas coisas. Às vezes, nós evangélicos, temos uma preocupação enorme com aqueles
pecados que mais nos assustam: adultério, roubo, divisão de igrejas etc. Tudo isto nos choca
bastante. Quando alguém cai em um desses pecados, puxa vida, quanta dor! Mas não
paramos para pensar que todos estes pecados GRANDES um dia começaram PEQUENOS. O
pecado de adultério é um ato imoral, gerado de pequenas coisas: Estas nasceram no coração,
na cobiça, juntaram-se a um olhar, depois um telefonema, após isto um encontro, aí vem um
beijo e o resto você já sabe. Se conseguirmos deter o pecado em sua origem, ficaremos livres
dos pecados grandes, ou seja, daqueles já consumados.

4. A cooperação do Diabo

A serpente foi uma grande colaboradora da decadência moral de nossos primeiros pais. Este
processo de adoecimento do caráter conta com a colaboração de demônios terríveis. Com
certeza o Diabo vai continuar cegando mais e mais pessoas, fazendo-as acreditar que nunca
serão descoberta, que não precisam buscar ajuda, nem mesmo confessar, ou coisa assim.
Desta forma, o indivíduo machucado no caráter tende a se afundar ainda mais, até que seja
descoberto (exposto).

Tanto no caso de Adão e Eva, como nos casos de Ananias, Safira e Judas, temos a clara
influência satânica no processo da distorção do caráter. Da mesma forma muitos estão com o
seu caráter debaixo do cativeiro satânico. Paulo escreveu a Timóteo falando acerca de alguns
crentes endurecidos: "mas também retorno à sensatez, livrando-se ele dos laços do diabo,
tendo sido feitos cativos por ele, para cumprirem a sua vontade"! (2 Tm 2:26)..

O que não podemos fazer é achar que a deficiência de caráter tem apenas procedência
satânica. Se assim fosse bastaria apenas amarrar o Diabo e tudo estaria resolvido. A pessoa
então não voltaria a "aprontar”. Em se tratando do caráter, o Diabo participa do processo da
distorção, mas não é o seu originador. As feridas no caráter têm origem através da influência
dos pais, aprendizado passado, traumas significativos, pequenas brechas, decisões
catastróficas e outras situações similares... Quebrar as cadeias espirituais é de suma
importância, mas não podemos ignorar os fatores causadores do adoecimento da alma.

5. Decisões erradas

Rick Warren comenta: "líderes se levantam ou caem segundo as decisões que tornam!". Se
nós analisarmos os homens adoecidos no caráter, veremos que eles tomaram decisões
erradas e catastróficas. Já vimos que as provações pelas quais passamos fazem aflorar nossas
fraquezas. As circunstâncias diversas tendem a tocar em áreas frágeis de nossa vida. E a
questão central será sempre: o que vamos decidir? Qual caminho vamos tomar?

Houve, no episódio de Eva uma grande pressão no seu interior, provocada pela serpente
(diabo) e a sua casa foi sacudida pela tempestade.

O ponto a ser destacado é que o mais importante não é a nossa fraqueza, porque todos nós
temos uma. A questão fundamental é o que vamos escolher. O livre arbítrio é a principal área
de nossa vida que prestaremos contas a Deus. Nós não podemos controlar todos os nossos
pensamentos, nem mesmo todos os nossos sentimentos. Nossos desejos também podem
aflorar, e muitas vezes não são bons. Pode se estabelecer uma verdadeira luta interior. No
entanto, nós sempre teremos o poder da decisão. Cabe a nós escolher que destino daremos
aos nossos pensamentos, sentimentos ou desejos. O caráter então pode ser corrompido
quando usamos iniquamente o nosso poder de escolha.

6. Maus relacionamentos

"Quem ouve a repreensão construtiva terá lugar permanente entre os sábios?" (Pv 15:31). Se
você quer formar juízo acerca de um homem, observe quais são os seus amigos! Portanto, não
escolha para amigo um homem de mau caráter.

Os jovens, mais do que qualquer outra pessoa, são especialmente vulneráveis à pressão dos
colegas. Eles estão nesse frágil estado psicológico em que procuram estabelecer a sua própria
identidade, e são, portanto, mais inseguros emocional e socialmente. Se sua história passada
estiver repleta de fracassos, rejeição e insegurança, estarão ainda mais susceptíveis às
influências dos amigos, pois anseiam por aceitação e sentem o desejo imperioso de
“pertencer" (desejo de inclusão).

Quando os pais deixam buracos afetivos na personalidade dos filhos, eles ansiarão ainda
mais por este reconhecimento. E aqui se abre um precedente ainda maior para os maus
relacionamentos que poderão colaborar ainda mais para o adoecimento do caráter. Quando
um homossexual, por exemplo, busca um outro parceiro do mesmo sexo, no fundo, ele está
buscando alguém que faltou para preencher aquele vazio. Um homem pode estar em busca
do seu pai. Uma mulher pode estar em busca de sua mãe. O apetite desenfreado na área
sexual pode ter como origem uma carência afetiva que após a puberdade tomou uma
dimensão erótica. No fundo, o que se busca é saciar a fome de afeto. Assim o caráter vai
mais e mais se deteriorando por meio dos relacionamentos adoecidos.

Há uma regra que diz: "semelhante atrai semelhante”. As pessoas quando têm pontos em
comum acabam criando uma maior identificação. Tendo isto em vista, quando pensamos na
questão do caráter, começamos também a interrogar: por que Ananias escolheu logo Safira
para se casar? Pense um pouco nisso. Talvez porque ambos fossem ladrões e deficientes na
área financeira. Eles tinham este ponto em comum. Paulo afirmou: "Não vos enganeis: as más
conversações corrompem os bons costumes" (1 Co 15:33).

O grave problema de Davi é que ele não teve bons amigos neste momento. E por não ter esses
amigos, Natã passou a ser o ferro que afiava o seu caráter, o profeta amigo que escolheu o
caminho da verdade a fim de lhe confrontar o caráter. "Aquele que anda com sábios será cada
vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal" (Pv 13:20).

7. Desonra aos pais

Se observarmos a história de muitas pessoas feridas e fracassadas na vida, muitas vezes vamos
encontrar na raiz do problema a questão da desonra aos pais. É incrível como a desonra
aparece praticamente na origem de todos os problemas. Em Provérbios, há cerca de 30
referências falando da importância da honra aos pais, e das consequências na vida de um filho
quando isto não ocorre. Paulo também acrescenta: "E vós, Pais, não provoqueis vossos filhos à
ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor" (Ef 6:4). O grave problema é que
muitos filhos foram feridos e provocados à ira por seus pais, e com base nisso, acabaram por
desonrá-los.
É preciso que se faça uma diferenciação entre honra e obediência. A obediência é sempre
condicional. A obediência é no Senhor, ou seja, tem como base o mandamento divino. Se o
pai ou a mãe pedem que o filho faça algo contrário à palavra de Deus, este filho deve dizer
educadamente que não o fará, pois "antes importa obedecer a Deus do que aos homens":":
Porém, por causa disso, o filho não está autorizado a desonrar seus pais. A honra é um
principio incondicional. Honrar alguém é respeitar, reconhecer sua posição, autoridade e
importância. Quem honra não desmerece, não afronta, nem mesmo enfrenta. Assim é dever
dos filhos honrar seus pais independente de qualquer coisa. O princípio da honra é inviolável.

Como era de se esperar o filho pródigo veio a passar fome e necessidade. Não era apenas uma
"fome material", mas, sobretudo, emocional. Tanto que o texto nos lembra que quando todas
as portas se fecharam, ele enfim caiu em si e se lembrou do seu pai e volta para se reconciliar
com ele.

O texto que nos diz para honrarmos nossos pais "para que te vá bem e sejas de longa vida
sobre a terra", fala-nos diretamente do nosso destino. Se muitas vezes estamos mal e vivendo
uma vida de doenças, percalços e fracassos pode ser que na origem de tudo isto, exista uma
desonra que precisa ser reparada.

CONSIDERAÇÕES:

A pergunta que se faz é: quais são os ideais invisíveis que guiam a sua vida? Todos nós temos
um código de ética que guardamos dentro de nós. É o nosso manual interno de conduta, e
será por meio dele que guiaremos a nossa vida e tomaremos as nossas decisões. Quando
estamos para tomar uma decisão ou debaixo de alguma pressão das circunstâncias, este
código moral vai emergir e nos indicar o caminho. A direção pode ser boa ou ruim. Vai
depender do que aprendemos e de quem implantou em nós tais ideais.

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