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Há mais um homem no ambiente

Nesta manhã, gostaria de falar com os irmãos sobre um texto narrativo de uma história muito
conhecida e ensinada até mesmo para nossos pequenos em cultos infantis. Gostaria de falar sobre uma
grande história que se encontra no livro de Daniel, sobre Hananias, Misael e Azarias, ou Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego se preferir chamá-los pelos seus nomes Babilônicos, esses jovens que foram
tirados de sua terra natal, levados forçadamente para um lugar com cultura totalmente diferente e forçados
a viver entre eles. Esse, para mim, é um dos temas principais que encontramos no livro de Daniel, de
como permanecer fiel mesmo fora de seu ambiente, de como manter os princípios e ensinos mesmo se
tudo e todos a sua volta não favorecem essas atitudes.
Apenas para contextualizar os irmãos, sabemos que a história de Daniel se passa na época do exilio
babilônico, após o rei Nabucodonosor levar a Jeoquim e sua corte para a Babilônia, onde ali ficaram de
605 a.C. a 537 a.C. (68 anos ou 70 anos na contagem judaica). Tanto Daniel como seus amigos são parte
dessa corte que foram levados para aprender os costumes do povo dominador. Essa era a forma
Babilônica de imperialismo, de suprimir a cultura dos povos vassalos, de forma que a supremacia
babilônica fosse culturalmente imposta, impedindo rebeliões. Vemos no primeiro capítulo do livro que os
quatro amigos já se destacavam dos demais, demostrando que havia neles algo diferente, de que a cultura
e costumes do mundo babilônico não eram superiores ao Deus de Israel, que não havia sido derrotado
como o Nabucodonosor pensava. Com esse contexto em mente, gostaria de ler Daniel 3:10-30
O texto é longo, mas a história é simples. O rei fez uma grande estátua de ouro (provavelmente dele
próprio, mas também é possível de seja de um dos seus deuses) e decretou que todos os líderes
deveriam se curvar e adorá-la ao som de música. Ocorre que alguns caldeus denunciaram que os hebreus
não estavam obedecendo o rei, e este então manda chamá-los para verificar o que aconteceu. O texto que
lemos começa nessa parte. Gostaria de refletir sobre 3 aspectos que esse texto me apresenta.

1) Apesar de fazer tudo certo, ainda passaremos por aflições.


Hananias, Misael e Azarias não eram pessoas más ou insubordinadas, não pretendiam, em
nenhuma hipótese, iniciar uma rebelião popular. Eram jovens que, diante das circunstâncias apresentadas,
viviam suas vidas “seculares”. No capítulo 2 vemos que Daniel, abençoado por Deus, foi capaz de
encantar o rei com a revelação de seu sonho e dar-lhe a sua interpretação, e isso trouxe a Daniel e a seus
amigos favores reais (Dn 2:48-49). Os três amigos de nossa história tinham um grande cargo dentro da
sociedade em que viviam, de administradores de províncias. Mais uma vez isso nos mostra que eles não
eram pessoas isoladas do mundo, separadas do convívio com pessoas pagãs, muito pelo contrário,
estavam inseridas no seu dia a dia, faziam parte de seu trabalho. Eram pessoas comuns como eu e você,
mas tinham algo diferente, eles conheciam a Deus, eles sabiam que acima de tudo aquilo, acima de cada
rei, decreto, ações populares, tradições culturais, havia um Deus santo, que se revelava ao povo e exigia
uma forma de vida santa.
Isso me lembra da igreja moderna, Jesus nunca nos disse para vivermos separados das pessoas,
para fazermos de nossos templos como cidades fortificadas, protegidas do mundo externo, muito pelo
contrário, ele nos enviou ao mundo (Jo 17:18), ele pediu para que estejamos no meio do povo pagão, para
sermos luz e sal (Mt 5:13-16). Nosso lugar não é enclausurados em mosteiros protegidos, mas sendo
representantes de Deus onde estivermos.
Claro que isso não será tranquilo, e apesar de seguirmos tudo certo, mesmo assim dificuldades nos
virão. O próprio Senhor Jesus Cristo é nosso maior exemplo, apesar de nunca pecar, apesar de sempre
ensinar a mensagem de Deus, mesmo assim algumas pessoas o odiavam e o mataram, mas nada disso
sai dos planos de Deus. Da mesma forma podemos ver na vida de nossos personagens dessa manhã,
que apesar de agradarem a Deus, causaram a ira e furor do rei, o que lhe trouxe uma grande tribulação,
mas como vimos, eles não estavam sozinhos.
Somos de Deus, mas estamos no mundo. Somos separados para Deus por meio de Jesus, mas
ainda permanecemos aqui para brilharmos a luz Dele para os outros. Não podemos nos esquecer que
nosso lugar não é aqui, somos apenas peregrinos, forasteiros, pessoas vivendo fora de sua terra natal. (I
Pe 2:11-12)

2) Conhecer a Deus e confiar Nele é nosso maior trunfo


Apesar desse texto ser narrativo, e seu aspecto puramente não é doutrinário como as cartas de
Paulo ou didático como as parábolas de Jesus, mesmo assim eu considero a resposta que os três jovens
Hebreus deram ao rei Nabucodonosor, como uma grande revelação e ensino de consciência de Deus.
Se observamos a história do antigo testamento vemos que o povo demorou muito para conhecer
verdadeiramente os atributos de Yahweh e como Ele é diferente dos deuses que eram adorados em torno
deles. Só para entender que Deus é o único deus, o povo levou quase toda a sua história, inclusive o exilio
é exatamente para que eles apreendessem essa grande verdade. Mas nessas frases de reposta, vemos o
tamanho da compreensão que esses jovens tinham de quem era Deus e de como a sua pessoa inspira
confiança, segurança e força.
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam ao rei que Deus era soberano, que Ele é poderoso
para livrá-los das mãos de qualquer pessoa, que Ele era digno de ser servido e que, apesar de tudo isso,
for da vontade Dele que passamos por tribulações maiores, Ele não deixa de ser quem Ele é e nós não
deixamos de adorá-lo, e de lhe prestar culto da forma como Ele deseja, com toda submissão e adoração.
Muitas vezes, nos momentos de tribulação, de angústia, de dores, parece que nos esquecemos de
quem Deus é, de todo o seu poder, de toda a sua soberania, de toda sua majestade sobre toda e qualquer
circunstância. Usei muitos “todos” em uma única frase, mas ainda não representam a completude de
Deus. Quanto mais conhecemos a Deus, mais descansamos das lutas, mais o adoramos e mais temor ao
Senhor nos enche (Sl 46:1 e Mt 22:29). Somos seus servos e Ele cuida de nós.
Ele se revela a nós, se faz conhecido, e mesmo assim em nossa pequenez e insignificância
achamos que nossos problemas são grandes demais, são difíceis demais, são complexos demais. O que
os três jovens sabiam é que Deus era maior que Nabucodonosor, era maior que o reino babilônico, era
maior que Israel, e era maior que o universo todo e isso impossibilitava qualquer atitude deles contra esse
Deus.

3) Mesmo se as coisas não saiam como esperamos, Deus está conosco.


Daniel nos relata que a resposta irritou tanto ao rei, que ele mudou seu rosto para com aqueles
jovens. A fornalha foi aquecida ao máximo e os jovens deveriam ser mortos o mais rápido possível, tanto
que o texto nos diz que eles não foram preparados adequadamente, vestido com as roupas certas, mas
foram amarrados como estavam. Você já se colocou no lugar desses jovens? Amarrados esperando que a
fornalha chegasse à temperatura que o rei havia determinado. O que será que eles conversaram? Qual
sentimento passava por seus corações? O texto bíblico não nos fala sobre esse momento, mas uma coisa
eu posso afirmar, os três estavam juntos e isso é um grande indicativo da força que há na comunhão.
Quando vivemos juntos, em comunidade, somos fortalecidos uns pelo outros, as chamas podem nos
assustar, mas a presença do meu irmão me ajuda a enfrentar a dificuldade. Palavras de ânimo podem ser
pronunciadas, palavras de confiança em Deus, de fé, podem ser mutuamente trocadas. As coisas podem
não sair como esperávamos, mas estar juntos nos traz perseverança.
O relato bíblico prossegue com o ato final, os três amigos são lançados no fogo, e para provar que
estava muito quente, as pessoas que os lançaram morreram pelo calor. Mas algo aconteceu, Deus, até
esse momento quieto, se manifestou. É interessante que o relato bíblico parece dizer que o primeiro que
viu que algo diferente tinha acontecido foi o próprio rei. Ele descreve com suas palavras, de acordo com a
sua visão pagã, de que havia mais alguém de aparência divina, dentro do fogo, alguém que os livrou das
amarras, que os levantou, que os protegeu do fogo em volta e ainda lhe permitiu que andassem em meio a
tamanha tribulação. Havia mais alguém com eles. Não vou entrar no âmbito teológico, de que se aqui era
um anjo, Jesus, ou o próprio Deus, mas quero ressaltar que a manifestação do poder de Deus por meio
dessa pessoa que estava com eles foi tamanha, que a história teve uma reviravolta. Nabucodonosor
mandou os três saírem da fornalha e então eles puderam comprovar que nada havia sido queimado, nem
os cabelos ou as roupas, nem cheiro que fumaça havia neles. Deus dá vida, e vida abundante. Que mal
havia se eles saíssem com as roupas queimadas, mas vivos? Que mal havia se eles saíssem cheirando
fumaça? Mas Deus os livra de maneira que seu poder é abundante.
Esse Deus é o mesmo Deus que está aqui essa manhã, que enviou seu filho para a cruz sofrer as
consequências dos nossos pecados e nos salvar de arder nas chamas do inferno. Que enviou seu Espírito
Santo para viver conosco. Deixe Jesus entrar com você, conheça-o e confie Nele, e sabia que Ele não te
desampara. Jesus é nosso Emanuel, é Deus em nosso meio. Ele nos envia ao mundo, para vivermos em
meio as trevas, brilhando a luz Dele, mas não antes de nos capacitar com o poder o Espírito Santo (At 1:8)
Onde 2 ou 3 estiverem reunidos, Jesus está (Mt 18:20). Há mais um homem aqui, há mais um
homem no ambiente, em meio a toda tribulação ao redor. Eis que estou convosco todos os dias até a
consumação dos séculos. (Mt 28:20b)

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