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Literatura Japonesa
PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A):
Débora Hott
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
Literatura
1
Sumário
1.Epígrafe.................................................................................................................................... 1
2.Introdução................................................................................................................................ 3
3.Desenvolvimento..................................................................................................................... 5
3.1 Os processos históricos japoneses até o surgimento dos mangás......................................... 5
3.2 Mangá e seu papel como tradutor de múltiplas realidades................................................... 6
4. Pesquisa Bíblica.................................................................................................................... 24
5.Conclusão...............................................................................................................................25
6.Bibliografia............................................................................................................................ 26
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2.Introdução
1
Id, 2017
2
Id, 2023
3
interesse do jovem leitor e agrega na visão de mundo mais tolerante quanto às culturas
estrangeiras—sem contar ainda a divulgação da cultura ocidental de forma prática e
lúdica–ampliando contingentemente o repertório cultural do consumidor dessas composições,
que pode valer-se desse conhecimento para benefício acadêmico, como corroboração de
argumentos em redações, por exemplo.
Nessa ótica, este estudo objetifica argumentar e apoiar veementemente a ideia de uma
validação do gênero mangá como uma literatura rica e válida como possibilidade de repertório
cultural relevante e digno de reconhecimento.
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3. Desenvolvimento
3.2.1. Breve contextualização sobre a literatura japonesa clássica (séculos VIII - XII )
As obras encontradas no período entre os séculos VIII e XII são pertencentes ao
período Nara. Estas obras foram fortemente influenciadas pelo contato cultural com a China.
Por isso, muitas delas foram escritas em chines clássico. Nestas obras, era bastante presente a
junção da mitologia com eventos históricos do país.
No início, os nobres eram os únicos que escreviam e liam. As pessoas comuns não
sabiam ler, e não possuíam dinheiro suficiente para comprar literatura. Por isso,a maioria dos
japoneses não produziam nada da literatura que consumiam.
3.2.2. Breve contextualização sobre a literatura japonesa medieval e feudal (séculos XII -
XIX )
A partir deste período, algumas classes de guerreiros instruídos começaram a ler e
criar obras literárias, representando a passagem das guerras no país.Essa maior popularização
da literatura possibilitou o florescimento da dramaturgia, sendo ele muito utilizado nos teatros
de fantoches.Mas também surgiram muitas críticas em relação ao entretenimento “infantil”
difundidas pelas pessoas mais rigorosas e maduras.
Algumas obras relevantes deste período incluem “Relatos da minha cabana” e
“Ensaios na ociosidade”, ambos escritos por monges.
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Durante a Segunda Guerra Mundial, a expressão literária japonesa foi praticamente
inexistente. Por outro lado, a derrota na guerra influenciou bastante a literatura dessa época.
As traduções do japonês para outras línguas têm crescido bastante, em volume e em
quantidade. Isso fez com que grande parte da literatura do Japão fosse disponibilizada para
leitores de vários países que facilita o reconhecimento mundial das diversas obras existentes
atualmente.
3
gênero de impressão em xilogravura que se popularizou no período Edo (1615 - 1868) no Japão; que
produzia imagens da vida urbana cotidiana japonesa e tinha preços acessíveis (MUBARAC, 2020)
6
Não seria exagero dizer que os mangás ocupam um papel muito importante para
grande parte da população japonesa, uma vez que as tiragens se dão pelo fato de
serem consumidas por um vasto público que, entre uma matéria e outra na escola,
entre uma pausa na fábrica, entre uma viagem de metrô ou trem para o trabalho, ou
no escritório, se refugia ou se reconforta por meio das aventura do personagens para
vencerem as dificuldades do dia a dia, que por vez, assemelham-se às dificuldade
enfrentadas pelo leitores.
Portanto, infere-se essa literatura desenhada como um elemento do cotidiano do
cidadão nipônico, como um artifício não só de divertimento, mas também uma mimese da
realidade, seja essa a do leitor ou não. Isto é, causa um sentimento de retratação no leitor que
passa por algo semelhante àquilo que as personagens enfrentam, ainda que seja uma ficção.
Corroborando com esta ideia, o famoso dramaturgo brasileiro Fernando Pessoa escreveu ‘’A
literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida’’4.
Sob essa ótica, é possível relacionar um conceito desenvolvido para caracterizar a
arte, sobretudo teatral, da Grécia Antiga com as vivências provocadas por tais quadrinhos,
sendo essa ideia a catarse. Tal termo é repleto de significados, seja no meio da Medicina,
Psicanálise, Psicologia e Religião, entretanto, trabalhá-la-á segundo o conceito aristotélico,
nas palavras de Brito (2018, p. 22):
A catarse, a purgação dos sentimentos que o leitor ou expectador tem quando entra
em contato com o artístico, de acordo com Aristóteles (2003) é despertada quando
os atores entram em cena na tragédia. A arte em Ética a Nicômaco (2007), é tratada
como algo racional, pois envolve estudo de acordo com o que se quer fazer/criar. A
partir de Aristóteles, os termos mímesis, catarse e verossimilhança são elucidados
nas artes, como algo que desperta no expectador/ouvinte momentos de êxtase, que o
lubridiam, e o leva a conhecer a si mesmo. Aristóteles (2003) ressalva que é dever
do poeta proporcionar ao ouvinte, prazer de sentir compaixão ou temor por meio da
imitação, sendo que essas emoções devem vim à tona durante a narração dos fatos.
(ARISTÓTELES, 2003, 2007 apud BRITO, 2018, p.22)
Em conformidade com o afirmado por Pessoa, a literatura—bem como o gênero
Mangá— pode ser visto como uma forma de identificação das atribulações pessoais do
espectador com as ansiedades transmitidas pela atuação de uma personagem, e depois, a
libertação dessas emoções pela catarse, possibilitada pela mimese e verossimilhança inerentes
à obra em questão (LOSA, 1983). Exemplo disso, é o romance adolescente Horimiya, que
mistura o cotidiano com comicidade para conversar com o leitor.
4
PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2003. p.341
7
Imagem 1-Dia-a-dia de um vestibulando
Estereotipar um povo por conta de seus traços raciais é presente na vida de muitos
descendentes do leste-asiático. A junção de grupos étnicos diferentes e tratar como
se fosse da mesma classe incomoda. Nenhum sucessor de europeu gostaria de ser
chamado de espanhol sendo que sua origem é portuguesa. Ou que zombassem da
comida que sua “Nonna” faz uma comida estranha e que a cultura dela é nojenta.
Contudo, o que origina essa padronização radical da imagem leste-asiática, em
especial, nipônica? Para responder tal questionamento, faz-se necessário revisitar a concepção
pós-moderna da estereotipização. Segundo Leyens, Yzerbyt e Schadron (1994), os
estereótipos são crenças disseminadas que caracterizam em especial os atributos pessoais de
outrem, baseando-se, sobretudo, na personalidade individual ou comportamento de um grupo
8
social específico. Mais tarde, Myers (2000) sobrepõe afirmando que o estereótipo engloba
também as informações sobre os atributos, e mais especificamente, a extensão que esses são
compartilhados (apud BASTOS, 2015, p.16). Tendo em consideração que o estereótipo
provém da falta de informação, ou ainda, informações equivocadas e insuficientes, é
necessário mitigar a padronização prejudicial que não só Yudi, mas uma porção de
descendentes leste-asiáticos vivenciam. Em conformidade a isso, disse Martin Luther King
‘’Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez conscienciosa.”,
desse modo, sendo esse preconceito estereotipado uma mazela para a sociedade brasileira, o
filósofo alemão Kant (2001) contribuiu dando uma possível reflexão ‘’O homem não é nada
além daquilo que a educação faz dele’’(apud TEODORO, 2010, p.4). Portanto, a educação
configura uma das alternativas para a disseminação de noções verossímeis sobre a etnia
asiática, e em especial, a japonesa, em consonância com o pedagogo Paulo Freire (1921-1997)
‘’a educação não é uma mera transmissão de conhecimentos, mas sim uma prática social que
deve ser orientada para a conscientização e emancipação das pessoas.’’(apud GOTTARDI,
2023). Se a estereotipização nipônica—em sua extensão, dos descendentes nipônicos no
território do Brasil– é um desdobramento da ignorância da comunidade brasileira sobre o
modo de vida originada da ilha do Japão, a educação é a deliberação capaz de mudar a
mentalidade de uma geração que considera esses indivíduos indubitavelmente ‘’gênios’’,
‘’trabalhadores compulsivos’’, ‘’emocionalmente frios’’’ e ‘’fanáticos’’(ITO, 2020). Nesse
contexto, o mangá tem um grande potencial como aliado do ensino, na opinião de Mussarelli
(2013), os quadrinhos japonês tem uma aptidão de material de referência, não obstante alguns
não ter claras referências a cultura nipônica ou optarem em criar um próprio mundo, esse
gênero reverbera várias facetas de um único povo.
Ainda que possa ser irreal, o Japão caracterizado nas páginas dos mangás publicados
no Brasil representa signos os quais refletem e refratam as ideologias constituintes
do que entendemos como "cultura japonesa". Diversas vozes ecoam nos quadrinhos
japonesas, algumas puramente idealizadas, outras inteiramente imersas no cotidiano
cultural do oriente.
Todavia, certas obras são capazes até mesmo de referenciar culturas não-nipônicas, tal como,
As Memórias de Vanitas (MOCHIZUKI, 2023) —o qual será discorrido mais adiante—onde
parafraseia e ambienta diversos aspectos da França vitoriana enquanto desenvolve um próprio
mundo mitológico adjacente. No âmbito das obras em que se demonstra a realidade japonesa,
tem-se o mangá Kaguya-sama: Love Is War, de um sub gênero dos quadrinhos japoneses
nomeado slice of life5,que acompanha a vida de vários colegiais japoneses—e apesar de ser
5
Fatia de vida(Slice of life), ou "nichijou" em japonês, refere-se a eventos que ocorrem diariamente,
como se preparar para o dia, tarefas domésticas leves, desfrutar de um hobby ou preparar refeições. Esses
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uma comédia romântica–é apropriado em ensinar ao autor sobre a vida do estudantes de uma
escola de ensino médio de elite, além de ter claras citações a mitologia japonesa como no caso
da ‘’Lenda da princesa Kaguya’’, em que, curiosamente, os nomes das personagens do elenco
principal se baseia. Porquanto, ao mesmo passo que a literatura japonesa em quadrinhos serve
como uma catarse para o leitor, independente da ciência dele, aprende-se repertórios culturais
no que se refere a costumes nipônicos, e ocasionalmente, até fora do japão. Para os
consumidores mais ávidos, o mangá tem a possibilidade de ser um aguçador do interesse ao
estudo da cultura japonesa, como explica E.Brenner (2007) em seu livro:
eventos diferem dependendo do cenário, mas acima de tudo são considerados ações comuns e cotidianas que
nem sempre seguem um enredo central.(ANIME-PLANET, 2023, tradução nossa)
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destrinchá-la-á certas composições japonesas que detém relevância não só como objeto de
lazer, mas como forma de repertório cultural de algum modo.
Noé, um jovem vampiro que passou a maior parte de sua vida no interior da França,
é enviado por seu professor a Paris com a missão de encontrar e avaliar um temido
item chamado de Livro de Vanitas. Segundo as lendas, trata-se de um objeto
amaldiçoado criado pelo Vampiro da Lua Azul com o propósito de vingar-se dos
demais vampiros pela rejeição que sofreu. O livro teria o poder de interferir com
seus Verdadeiros Nomes, causando descontrole e sede de sangue. Um incidente na
aeronave em que está vindo à capital faz com que Noé fatidicamente cruze caminhos
um rapaz humano que se apresenta como "um médico especializado em vampiros",
autointitulado Vanitas e herdeiro do Livro. Intrigado pelo potencial do artefato e pela
própria figura de Vanitas, Noé decide acompanhá-lo e se vê envolvido numa trama
mais complexa do que pressupunha.(WIKIPEDIA, 2023a)
Sendo ambientado em uma França com elementos fictícios e uma linha do tempo
levemente modificada, a história se passa na Era Vitoriana, mais especificamente em 1889, e
por causa disso, traz ao leitor vários locais baseados em localidades reais. A exemplo, a
Galerie Valentine ‘’baseia-se diretamente na Galerie Vivienne, uma das passagens cobertas
de Paris e considerada um dos monumentos históricos da cidade. Em particular, a entrada
mais comumente retratada em The Case Study of Vanitas é a da Rue des
Petits-Champs.’’(JUN MOCHIZUKI WIKI, 2023a, tradução nossa). Isso se deve ao fato que
a autora visitou Paris e isso inspirou-a para pesquisar mais e basear seu trabalho na cultura
ascendente do país. Entretanto, há pequenas divergências oriunda da criatividade e
conhecimento de Mochizuki sobre a história da França, a prova disso é a ciência de um
6
Mangaká (em japonês: 漫画家 lit. cartunista ou quadrinhista) é a palavra usada para um quadrinhista
ou artista de banda desenhada no Japão.(WIKIPEDIA, 2023b).
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projeto de Jules Bourdais proposto em 1885 para competir com a atual Torre Eiffel no
Exposition Universelle de 1889, porém, por ser uma estrutura aparentemente instável e cara, a
ideia de Gustave Eiffel foi contemplada e o projeto de Jules nunca foi feito. Tendo feito tal
pesquisa, a mangaká misturou o design original da construção com a Torre de Babel e assim
incorporou a ‘’Torre do Sol’’ ao universo de Vanitas no Carte (JUN MOCHIZUKI WIKI,
2023b, tradução nossa). O próprio Vanitas–a qual referência do nome será logo exposta—
refere-se a construção como ‘’sem graça’’ e reclama de não terem usado a sugestão de
Gustave Eiffel, bem como compara o edifício em construção com a Torre de Babel,
(MOCHIZUKI, 2023, capítulo 21, p.17)mostrando o domínio da escritora acerca da história
vitoriana gaulesa, bem como a curiosidade que ela tenta provocar no ledor acerca dessa linha
do tempo alternativa, a qual dissemina certos saberes factuais.
Imagem 2-Galeria Valentine no mangá
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A personagem principal que se nomeia como ‘’Vanitas’’ e é um paralelo a um gênero
artístico que floresceu nos Países Baixos no início do século XVII, caracteriza-se por
naturezas-mortas que expõem objetos que simbolizam inevitabilidade da morte,
transitoriedade e vaidade das realizações e prazeres terrenos. ‘’A palavra vanitas vem do latim
e significa vaidade. A vaidade é referenciada no Antigo Testamento da Bíblia em Eclesiastes
12:8 , ‘Vaidade das Vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade’’(WIKIPEDIA, 2023d). Os
objetos pintados geralmente são símbolos de artes e ciências (livros, mapas e instrumentos
musicais); objetos relacionados à riqueza e poder (bolsas, jóias, objetos de ouro) e, sobretudo,
símbolos de morte ou transitoriedade (crânios, relógios, velas acesas e flores). Dentre esses, a
ampulheta chama a atenção pela incorporação desse apetrecho no design de personagem de
Vanitas, como um brinco na orelha esquerda, sendo uma herança do indivíduo o qual seu
pseudônimo teve origem, mais tarde, torna-se um lembrete constante para o leitor que a
personagem ‘’não tem muito tempo’’, já que a história trata-se de memórias póstumas sobre
Vanitas contadas por Noé. A identidade visual dos quadrinhos e capas dos volumes tem direta
inspiração a esse segmento artístico, como observado nas engrenagens—um traço inerente à
estética Steampunk em que há um tecnologia impulsionada por uma fonte de energia
mágica–e copiosas caveiras que enfeitam várias partes das ilustrações.(ENCYCLOPAEDIA
BRITANNICA, 2019; WIKIPEDIA, op cit.; SILENTIO, 2022)
Imagem 4- Capa do primeiro volume
(repare nas caveiras e jóias áureas) Imagem 5: Vanitas—Pieter Claeszoon
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O usuário Silentio (2022, tradução nossa) fez uma correlação entre o significado no
latim de ‘’vaidade’’ e o fato do abandono do verdadeiro nome—que para os vampiros dessa
obra são como a própria vida— causa uma interpretação diferente sobre o propósito de Jun
Mochizuki em tal escolha de nome:
Depois, há o próprio Vanitas: logo no primeiro capítulo aprendemos que este não é o
Vanitas da lenda nem este é o seu nome 'original'. Em vez disso, ele “herdou” o
nome, como um título; e isto é particularmente interessante devido ao significado
latino do nome. É 'vazio, inutilidade'; 'vanitas vanitatum' é uma fórmula clássica que
afirma que tudo no mundo material não tem valor e você deve se preocupar apenas
com questões espirituais (aliás, esta frase é na verdade uma tradução do hebraico
'hevel hevelim', é encontrada no 'Qohelet ', e deveria ser sobre como tudo é, em
última análise, vazio, mas você deve reconhecer Deus como seu criador de qualquer
maneira). Ter 'Vanitas' como nome de nascimento aponta para pais horríveis (e
provavelmente não é o caso, como veremos mais adiante no mangá); mas jogar fora
seu nome de nascimento, o nome que seus pais escolheram para você representar seu
lugar na vida deles, a maneira como você se acostumou a pensar sobre si mesmo, e
substituí-lo não por algo que você acha que melhor representa você, mas que
basicamente significa que você não vale nada é… algo que deveria ter nos dado uma
pista sobre a verdadeira personalidade de Vanitas muito antes, na verdade.
Se o anacronismo7 é corriqueiro à temáticas históricas anteriores à um certo período
literário—ou seja, um contexto que o escritor não está realmente inserido—, Mochizuki
dispõe de um domínio e excelência na cultura gálica e europeia, como nos nomes das figuras
da narrativa, seja uma construção(como fora apontado anteriormente) ou personagens. Dito
isso, citar-se-á a deuteragonista Jeanne, o qual a designação se dá pela figura histórica de
‘’Jeanne d'Arc’’ou ‘’Joana d'Arc’’, uma santa francesa canonizada pela Igreja Católica, foi
uma exímia guerreira na Guerra dos Cem Anos(1337-1453) até ser condenada à fogueira por
ser considerada uma ‘’bruxa’’ pelo clero da Idade Média (VNCTHINGS, 2016; WIKIPEDIA,
2023f ).
Nessa óptica, outro paralelo é a arma que Jeanne usa: Manopla Carmesim’’Carpe
diem’’, a qual é ‘’parte da frase latina carpe diem quam minimum credula postero
(literalmente: 'aproveita o dia e confia o mínimo possível no amanhã'), extraída de uma das
Odes, de Horácio’’(id., 2023g). O conselho dado pelo poeta é ‘’não se preocupar se viverão
muito ou pouco mas beber e aproveitar o presente, pois o futuro é incerto’’(id., 2023g). Tal
fala condiz com o conceito da personagem inspirada em Joana d’Arc, como citado em um dos
capítulos da obra: ‘’a maioria dos Bourreaus [lit. Carrasco em francês] se torna inútil quase
que imediatamente’’(MOCHIZUKI, 2023, capítulo 39, p.24). O Bourreau é ‘’uma pessoa que
executa uma sentença de morte ordenada pelo Estado ou outra autoridade legal, que era
conhecida na terminologia feudal como alta justiça.’’(VNCTHINGS, 2016, tradução nossa).
7
Anacronismo (do grego ἀνά "contra" e χρόνος "tempo") é qualquer parecer, leitura ou julgamento
sobre um acontecimento ou elemento histórico de maneira a situá-lo numa temporalidade distinta da sua época
original.(WIKIPEDIA, 2023e)
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Há uma ironia intrínseca no equipamento de alguém condenado à uma vida de serviço
compulsório significar literalmente "aproveita o dia" ou "desfruta o presente’’(WIKIPEDIA,
2023g) quando tanto o executor quanto o executado estão muito pouco desfrutando de um
presente pleno, o Borreau impede a vidas dos outros para cumprir ordens do Estado, como a
própria Jeanne constatou ‘’Esqueci que era uma boneca, esqueci que deveria ser uma
ferramenta…sem vontade própria’’(MOCHIZUKI, 2023, capítulo 39, p.29). Ao ritmo da
passagem dos acontecimentos, vê-se a mulher amadurecer e se apaixonar, configurando uma
mudança que reflete até mesmo em um corte de cabelo–ainda que inaceitável na Era Vitoriana
uma moça ter cabelo curtos— a autora certamente quis trazer uma personagem extremamente
forte que aprende a sentir emoções novamente, depois de ser forçada a sujar as mãos por ser
um carrasco.
Imagem 5- Jeanne como uma ‘’lenda viva’’ nos primeiros capítulos
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Perdurando nas alusões contidas nos nomes das personagens, a nobreza vampírica no
universo de Memórias de Vanitas reúne a ‘’Casa de Sade’’, que é diretamente inspirada pelo
figura real do Marquês de Sade—a qual é implicitamente pai da outra deuteragonista
feminina—e foi caracterizado pelo sexualidade e erotismo, sendo que o termo ‘sadismo’’
originou-se de tal. A deuteragonista em questão é Dominique de Sade e em que uma das
tramas que segue a personagem envolve a influência da reputação ardilosa e serem ‘’rudes,
frívolos e hedonistas’’(JUN MOCHIZUKI WIKI, 2023e, tradução nossa). Em um capítulo
adjacente a trama principal, Dominique reflete o significado do verbo ‘’customizar’’ como
não só algo físico, mas’’ um ato de encobrir a verdadeira natureza para que seja visto como
outra coisa ‘’(MOCHIZUKI, 2023, capítulo 60.5, p.5). Uma simples frase sintetiza a
aspiração da figura fictícia em desvincular-se das ‘’amarras’’ da família e ter a própria
identidade.
Imagem 7- A arte de ‘’customizar’’ a verdadeira natureza
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É interessante destacar que nesse universo, assim como o gaulês arcaico, as pessoas
referem-se a mulheres solteiras como Mademoiselle (equivalente à ‘’senhorita’’ na língua
portuguesa) e homens são, por cortesia social, intitulados junto a Monsieur (basicamente,
‘’senhor’’), dando ao leitor um panorama dos fato sociais que atuavam no fim do século XIV
no território da França. Análogo à isso, todos os capítulos tem títulos em francês e em japonês
em seguida(traduzido ao Inglês e Português no lançamento nacional).Há a reprodução de
frases de indivíduos não-fictícios como, por exemplo, a frase reproduzida de Príncipe de
Ligne sobre o Congresso de Viena (1814-1815) pela irmã de Dominique acerca do Senado
dos Vampiros, a qual traduzida significa ‘’O Congresso não anda, ele dança!’’, ao que se
refere à balbúrdia que a Reunião do Senado tornou-se com a desobediência de Jeanne em
executar uma amiga antiga , tal fala também é útil para ditar a personalidade devassa e astuta
dos outros membro dos De Sade em contraste com Dominique em algumas
situações.(MOCHIZUKI, 2023, capítulo 43, p.19)
Imagem 8- Intertextualidade explícita no capítulo ‘’Encens Restant: Aroma Persistente de um Sonho’’
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As questões sociais do período são sutilmente expostas no arco da ‘’Betê de
Gévaudan’’ (utilizar-se-á a tradução literal de ‘’Besta’’ ao invés de ‘’Betê’’, o qual configura
uma provável adaptação fonética). Nessa secção da narrativa de Vanitas no Carte, Noé e
Vanitas seguem para a província de Gévaudan (hoje Lozère e Haute-Loire) pelo retorno do
lobisomem ‘’Besta de Gévaudan’’, um nome análogo a um nome histórico gaulês de um
animal explicado a seguir:
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O desejo de saber o porquê e o como chama-se CURIOSIDADE,
não é só pela razão que o homem se distingue dos outros animais, mas
também por esta singular paixão. Nos outros animais, o apetite pelo
Em resumo, uma leitura do mangá Vanitas no Carte pode vir a aguçar a curiosidade
por esse período histórico, além de que o própria obra em si traz um panorama e como se
vivia na época, um leitor, então, pode valer-se dessas alusões e saberes para o repertório
cultural próprio, e se estimulado desde a infância, tem um potencial de ampliar o
conhecimento de mundo do receptor.
Por último, não obstante enuviado pelos elementos históricos e mágicos da trama, essa
narrativa tem uma capacidade catártica de certas situações que o ledor pode se assemelhar
com um personagem. Ao final do arco da Besta de Gévaudan, têm-se o protagonista Vanitas
lembrando das palavras do ‘’Vanitas da Lua Azul’’ —de quem ele herdou o nome
atual—apesar de um flashback pode servir como um conselho ou alívio ao leitor se essa
situação lhe dizer respeito.
Indo para uma ambientação mais próxima à realidade juvenil, Kaguya-sama wa Kokurasetai:
Tensai-tachi no Renai Zunousen (lit."Kaguya quer ser confessada: A guerra dos gênios de
amor e cérebros") adaptado ao Brasil apenas como ‘’Kaguya-sama: Love Is War’’ retrata o
cotidiano do conselho estudantil9 de uma escola particular de Ensino Médio no Japão,
entretanto, o ‘’Love is War’’(amor é guerra, em inglês) mostra uma particularidade no
andamento e a premissa da obra do mangaká masculino Aka Akasaka, acompanha-se a
sinopse do enredo desse mangá:
9
Conhecido também por grêmio estudantil, trata-se de um grupo de pessoas responsáveis por cuidar das
atividades e ações de cada aluno, com os clubes e atividades fora do tópico, sendo uma espécie de organização
escolar de alunos.
20
Na divisão do ensino médio da Academia Shuchiin, a presidente do conselho
estudantil, Miyuki Shirogane, vice-presidente, Kaguya Shinomiya, parecem ser uma
combinação perfeita. Kaguya é filha de uma família rica de um conglomerado , e
Miyuki é o melhor aluno da escola e bem conhecido em toda a província. Embora
gostem um do outro, são orgulhosos demais para confessar seu amor, pois acreditam
que quem o fizer primeiro “perderá” no relacionamento. A história segue seus
diversos esquemas para fazer o outro confessar ou pelo menos mostrar sinais de
afeto.
No meio da série, eles conseguem se confessar. A partir daí, o foco muda para como
eles avançam em seu relacionamento e como lidam com os obstáculos restantes. A
presença e a complexidade de vários outros personagens também aumentam
notavelmente com o tempo.(WIKIPEDIA, 2023k, tradução nossa)
Um conceito de ‘’amor é guerra’’ é inevitavelmente estranho, o romantismo grita uma
idealização do amor terno, paciente e expresso em belas palavras, no concepção do escritor,
entretanto, o amor pode ser assim às vezes, mas na maior parte das vezes é incompreensível e
uma verdadeira luta, seja para aceitar, dar ou confessar essa emoção. Desse modo,
Kaguya-sama é uma narrativa que causa catártica–não só com a ideia do amor— e uso da
paródia.
O capítulo 110 nomeado ‘’Yu Ishigami Quer Conversar’’ faz uma mistura entre a
metalinguagem e uma paródia sobre a própria situação do mangá. O contexto faz um dos
protagonistas, Yu Ishigami–um entusiasta fã de mangás– descobre com Shirogane que a obra
na revista que eles leem toda quinta na sala do conselho estudantil será adaptada em
anime(animação de origem japonesa), a partir daí, uma agitação— do tipo clássico original à
a essa obras, ou seja, com monólogos e batalhas mentais entre as personagens– se instala e as
duas outras integrantes do conselho estudantil provocam uma situação cômica ao evocar que,
porque os dois meninos estavam empolgados para o anime, eles eram otakus10, ou seja,
preguiçosos estranhos e fanáticos. Então, Miyuki nega com todas as forças esse rótulo,
enquanto Yu se arrepende de dizer que gosta de anime. A questão é que além desse capítulo se
motivar da adaptação de Kaguya-sama para seriado animado, brinca-se com o estereótipo de
otaku que ‘’condena’’ a reputação de alguém que consome animes e mangás. Há uma crítica
sutil sobre como um rótulo como ‘’fanático por animes e mangás’’ é incorretamente atribuído
a pessoas que já viram um anime ou leram um capítulo de mangá, a qual agrava o preconceito
com essas narrativas em forma de quadrinhos.
10
Otaku (おたく, オタク, ou ヲタク?) é um termo japonês usado para se referir principalmente a pessoas
com interesse especial em animes e mangás.[...] Otaku pode ter significado pejorativo; seu significado
pejorativo, que decorre de uma visão estereotipada dos otaku como "excluídos da sociedade"(WIKIPEDIA,
2023l)
21
Imagem 10- Os ‘’tipos de Otaku’’
22
deles(AKASAKA, 2022, capítulo 148, p. 15). Em conseguinte, o menino tem seus
pensamentos expressados nos quadrinhos desenhados, em que infere que só um génio natural
como Shinomiya poderia dizer com certeza algo assim, ele se revela sendo um ‘’fraco e
covarde’’, fora da mente dele, ele avisa ao pai que vai comer o jantar como ‘’lanche da
meia-noite’’, um detalhe calculado para mostrar que o problema da privação de sono
recorrente à Shirogane é um escapismo, uma forma de solucionar seu senso de inferioridade,
porque ele nunca se acha realmente capaz ou ‘’abençoado com talentos’’. Miyuki, portanto,
sacrifica sua integridade física e mental para poder se ‘’igualar’’ aos gênios como Kaguya. A
‘’batalha do amor’’ era motivada para provar que Shirogane seria capaz de ser digno de estar
no mesmo nível de Kaguya, um sentimento motivado pela própria estima baixa de Miyuki e
não um amor perfeito e irracional.
Imagem 11- Mensagem sutil interrompe o monólogo Imagem 12- Painel que remete a sua motivação
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4. Pesquisa Bíblica
‘’Ou será que Deus é somente Deus dos judeus? Será que não é também Deus dos não
judeus? Claro que é! Deus é um só e aceitará os judeus na base da sua fé e também aceitará
os não judeus por meio da fé que eles têm.’’ Romanos 3:29-30 NTLH
Propósito: Ensino, Criatividade
24
5. Conclusão
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6. Bibliografia
MURAKAMI, Haruki. Norwegian Wood. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 2011. 240
p. Tradução do japonês: Jefferson José Teixeira. Disponível em:
https://doceru.com/doc/108v1e. Acesso em: 26 set. 2023.
PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2003. 351
p. Esta obra encontra-se em domínio público.. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/vo000008.pdf. Acesso em: 27 set. 2023.
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