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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

CENTRO DE ENSINO A DISTÂNCIA

Marcos Históricos da Literatura Guinense

Nome de Estudante:
Emma Umali de Sousa.
Código de Estudante: 708204814

Curso: Licenciatura em Ensino de Português


Disciplina: LALP.
Ano de Frequência: 3º Ano
Tutor: Dr. Fernando Rafael Chongo.

Chimoio, Julho de 2022


Índice
1. Introdução ..................................................................................................................... 3
1.1. Objectivos .................................................................................................................. 3
1.1.1. Objectivo Geral....................................................................................................... 3
1.1.2. Objectivos específicos ............................................................................................ 3
1.2. Metodologia ............................................................................................................... 3
2. Breve Mapeamento da Literatura Guinense ................................................................. 4
2.1. Marcos históricos....................................................................................................... 5
Conclusão ......................................................................................................................... 9
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 10
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1. Introdução
A década de 70 foi extremamente importante para a exaltação da cultura nacional, pois
imprimiu maior dinamismo às diversidades de manifestações identitárias da sociedade
guineense e, sobretudo, também pôde ser vista e entendida como o limiar da luta pela
afirmação cultural até então reprimida pelo sistema dominante imposto pela colonização.

O principal aspecto desse momento foi o de interacção revolução/cultura,


sociedade/autonomia, e desse ensaio procurou erguer-se o emblemático e mítico encontro de
valores étnico-culturais, sob o signo de unidade nacional que, posteriormente, quedou-se nas
vicissitudes desonestas da luta pelo poder violentamente instaurada no País.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
 Apresentar os marcos históricos da literatura guinense.

1.1.2. Objectivos específicos


 Descrever a literatura guinense;
 Indicar os precursores da literatura guinense.

1.2. Metodologia
Segundo Gil (2008, p.26) “metodologia é a linha de raciocínio adoptada no processo de
pesquisa, um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos para que seus objectivos
sejam atingidos. Assim, para a materialização deste trabalho foi imprescindível o usou da
pesquisa bibliográfica que consistiu na leitura da literatura que tratam desta temática e o uso
da internet.
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2. Breve Mapeamento da Literatura Guinense


Muitos dos pesquisadores que escreveram sobre a Guiné-Bissau, tem considerado de
tardio a literatura guineense, pois, só depois da independência que começou-se a ver algumas
publicações, muitas dessas primeiras obras publicadas após as independências foram escritas
no período da colonial.

Para Margarido (1990, p.37), a literatura tardia guineense foi devido a política dos
fascistas portugueses que consideravam a Guiné uma colónia de exploração e não de
povoamento. Por isso, implementaram tardiamente a política do ensino na Guiné-Bissau; só
em 1958 que construíram o primeiro estabelecimento de ensino secundário, enquanto, em
Cabo Verde foi em 1860.

Até 1961 99,7% da população em excluídas no sistema do ensino. A imprensa também


chegou muito tardiamente à colónia, em 1879, enquanto nas outras colónias ela foi instalada
entre 1842 e 1857. A primeira editora pública, a Editora Nimbo, só apareceu depois da
independência em 1987.

Dentre as antigas colónias portuguesas, a Guiné-Bissau é o país onde a literatura mais


demorou a se desenvolver. Esse atraso aconteceu devido o fato de ser uma colónia de
exploração e não de povoamento, estando submetida ao governo-geral da colónia de Cabo
Verde por um bom tempo.

De acordo com Sila (2010, p.305), na Guiné, assiste-se a um desenvolvimento da


imprensa (Boletim Oficial da Guiné Portuguesa, 1880, Ecos da Guiné, 1920, A Voz da Guiné,
1925, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 1946–1973). A literatura no entanto, restringe-
se à feição colonial.

Mais tarde, predomina a poesia militante (Vasco Cabral), recolhida também na


antologia (Mantenhas par Quem Luta! A Nova Poesia da Guiné Bissau, 1977). Para além
desta antologia, aparecem, até ao final do século XX, outras compilações poéticas (Poilão,
Caderno de Poesias, 1973 ou Antologia Poética da Guiné Bissau, 1990).

Na contemporaneidade, destacam-se novos autores como Odete Semedo ou Abdulai Sila.


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2.1. Marcos históricos


Não levando em conta nem os romances e poemas da assim chamada literatura colonial
nem tampouco as recolhas e transliterações da rica oratura regional4, pode-se afirmar que
somente depois da independência tiveram lugar as primeiras publicações literárias assinadas
por autores guineenses.

De acordo com Couto (2008), um pequeno volume de versos, datado de 1963, de autoria
de Carlos Semedo, marca os inícios da literatura guineense. Na década de 1970, regista-se
apenas a publicação de modestas colectâneas de poemas, entre elas Mantenhas para quem
luta! (1977) e Momentos primeiros de construção – Antologia dos jovens poetas
(1978).

Conduto de Pina publicou em Lisboa, numa edição do Autor, uma simples plaqueta que
passou quase desapercebida, tendo sido de fato a primeira publicação individual depois da
independência no campo da poesia: Garandessa di no tchon (“Grandeza da nossa terra”,
1978). Na década de 1980, apareceram dois livros individuais de poemas: A luta é a
minha primavera, de Vasco Cabral (1981), e Não posso adiar a palavra, de Hélder
Proença (1982).

Depois de uma larga pausa, é lançada a Antologia poética da Guiné-Bissau (1990),


a mais completa de todas as obras conjuntas do país. São catorze autores, quase todos tendo
figurado nas colecções precedentes de 1977 e 1978. O extenso prefácio de Manuel Ferreira,
com o título Em louvor da esperança, é um comentário minucioso a respeito dos autores
e poemas daquele volume. Dois anos mais tarde, aparece O eco do pranto – A
criança na moderna poesia guineense (1992), uma colectânea com trinta e três poemas,
só com a temática da criança, escritos por nove autores.

A memória histórico-literária guineense também registra uma efémera contribuição de


Fausto Duarte, uma personagem cuja manifestação identitária fora considerada por Amado
(1990) como ambígua. Isso ocorre porque nas suas obras não transparecia um sentimento de
pertença à identidade guineense. Ainda caracteriza Fausto Duarte como uma figura de
personalidade cultural híbrida, sem condições para lançar as raízes de uma identidade literária
nacional. Já Bull (1985) entendia que o posicionamento das obras de Fausto Duarte trata-se de
uma estratégia para evitar a repressão da PIDE. Entretanto, considera-o como um dos
primeiros literatos que lançou a base identitária da literatura nacional.
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Conforme foi acima mencionado, a aparição tardia do movimento literário guineense não
implica a ausência de produções literárias. Sobre esse assunto, Couto (2008) defende o fato de
que só em 1952 foi publicado o primeiro conto escrito por um autor guineense, James Pinto
Bull, com o título “Amor e trabalho”, leva a que equivocadamente7 se pense que a Guiné-
Bissau era um espaço vazio. Realmente, o processo de formação da elite intelectual na Guiné-
Bissau foi diferente e mais lento do que, por exemplo, em Angola, Cabo Verde, Moçambique
e São Tomé e Príncipe devido à dinâmica desigual do processo colonial, que não só impediu
aos guineenses o acesso ao recurso político e à sistematização do conhecimento, como
também dificultou o diálogo entre as duas culturas, a oral e a escrita, produzidas
respectivamente por colonizado e colonizador.

Na então Guiné-Portuguesa, assim como nos demais países africanos lusófonos, a


tentativa de manifestar o sentimento de pertença identitária africana era tida como uma atitude
subversiva e criminosa8. O inusitado é saber que o embrião do movimento literário guineense
fecundou no exterior e, precisamente, em Portugal tendo como progenitores Amilcar Cabral,
Vasco Cabral e António Baticã Ferreira durante os anos de estudo.

Para Margarido (1980), é a partir da interacção entre os estudantes das ex-colónias


(Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e São Tomé e Príncipe), na célebre Casa dos
Estudantes do Império, na então metrópole, é que se começou a constituir base do movimento
literário – e também político - guineense.

No que respeita a tal assunto, Pires Laranjeira (2000) salienta que esses estudantes
lusófonos foram beber na fonte do movimento político-literário francófono denominado
“Negritude1”, e desse contacto derivou a Negritude Lusófona.

Com efeito, é a partir desse contacto que começou a brotar textos que denunciavam a
situação sociopolítica e, ao mesmo tempo, fazia-se disseminar nas colónias a tese filosófica de
africanização dos espíritos defendida por Amilcar Cabral. O poema abaixo citado é da autoria
do poeta Vasco Cabral, e foi escrito em 1957, no auge da mobilização revolucionária sob os
auspícios do PAIGC. Publicado no livro “A luta é a minha primavera”, este poema representa
a rotura com o ideal colonial e faz um convite à construção de uma consciência nacional
soberana de afirmação identitária:

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Vale dizer que o movimento da Negritude foi fundado em Paris, em meados dos anos 1920,
por jovens estudantes da África-francófona e do continente americano, onde perfilavam
literatos como Léopold Sedar Senghor,Aimé Césaire, Léon Dams e outros.
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Com um punhado
Com um punhado de esperança
na mão
eu espalharei o calor
que há-de aquecer-te
irmão!
Eu serei como o semeador
que lança a semente à terra
e a vê frutificar mais tarde.
A pouco e pouco morrerão a dor
e a dúvida.
E tu, como eu, irmão!, hás-de sentir a esperança!

É importante dizer que se é verdade que o Cônego Marcelino Marques de Barros foi
pioneiro da literatura guineense, não é menos importante afirmar que os trabalhos de Vasco
Cabral, Amílcar Cabral e António Baticã Ferreira influenciaram a base metodológica e
identitária do estilo literário nacional.

Esses três literatos foram procurar na poesia de intervenção a base para manifestar o
repúdio à realidade marcada por um regime que, por um condicionamento histórico, pouco se
importava em preservar a cultura e a identidade do colonizado, (Amaddo, 2005). Da maioria
dos textos brotaram mensagens poéticas de conteúdo revolucionário e patriótico, da qual,
posteriormente, seguiram os “Meninos da Hora do Pindjiguiti”, que cantaram a epopéia da
independência nas celebres coletâneas “Mantenhas para Quem Luta (1977)” e “Momentos
Primeiros da Construção (1979)”. E essa corrente igualmente influenciou a importante
contribuição musical do Cobiana Djaz e do Super Mama-Djombo, sob as lideranças de José
Carlos Schawrz e Adriano Ferreira (Atchutchy), respectivamente.

Conforme apontamos atrás, a semente da trajetória literária nacional, que foi lançada pelo
Cônego Marcelino Marques de Barros, germinou e produziu um tronco que engendrou uma
afirmação identitária, cujos expoentes foram Vasco Cabral, Amílcar Cabral e António Baticã
Ferreira.

Na sequência destes surgiram os ”Meninos da hora do Pindjiguiti” como ramo que logo
de imediato deu origem a flores que produziram os frutos hoje representados pela nova
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geração de literatos que despontam na senda do movimento literário nacional, procurando


assumir, sem rotura com o passado, os testemunhos de ethos da cultura e da literatura
nacional, versada numa perspectiva não só revolucionária, mas que procura retractar,
igualmente, a beleza natural e cultural do património guineense, (Amado, 1990).
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Conclusão
Conclui-se que a existência do Estado Guineense data de um período recente, e antes do
seu surgimento, era inconcebível pensar na existência de um movimento literário nacional
genuíno. Contudo, existiam algumas manifestações circunstanciais isoladas de cidadãos
portugueses e caboverdianos a serviço colonial.

Na abordagem sobre a literatura colonial da Guiné-Portuguesa, então contexto se


caracterizava pelas obras que expressavam sentimentos de resistência às saudades e,
sobretudo, a mesma servia de abrigo à ausência de um ambiente propício ao fluxo cultural. No
entanto, estas produções pouco ou nada representavam do carácter guineense, quer dizer,
nelas não transparecem o sentimento sociocultural guineense.
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Referências Bibliográficas
Amado, L. (1990). A literatura colonial guineense.

Couto, H. (2008). A poesia crioula Bissau-Guineense. Brasília, Brasil: Papia.

Gil, A. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Brasil: Atlas.

Margarido, A. (1980). Estudos sobre literaturas das nações africanas de lingua portuguesa.
Lisboa, Portugal: A regra do jogo.

Semedo, O. (2005). Contributo para o debate sobre o registo de textos da tradição oral. In:
Ecos: estudos portugueses e africanos – memória, sujeito e ensino de línguas. Cáceres-MT.

Sila, A. (2010). Mistida. In Cabral, Eunice. Roteiro da literatura contemporânea em língua


portuguesa. Universidade de Évora.

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