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Princípios Físicos do
Eletromagnetismo e Aplicações nas
Engenharias Elétrica e Eletrônica
Lucas Airam Castro De Souza

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Princı́pios Fı́sicos do Eletromagnetismo e Aplicações nas
Engenharias Elétrica e Eletrônica
Gabriel Santos Madruga Oliveira, Lucas Airam Castro de Souza,
Lukas Carvalho Leitão e Matheus Bastos de Oliveira

Resumo. Os efeitos naturais da eletricidade e do magnetismo foram observa-


dos pelos seres humanos desde os tempos mais primórdios. Com o desenvol-
vimento da ciência, fı́sicos e matemáticos ao longo de séculos estudaram o
comportamento desses eventos e tentaram descrever relações que explicassem a
ocorrência de tais eventos de forma distinta. Entretanto, James Clerk Maxwell,
fı́sico e matemático britânico, propôs que os dois eventos são intimamente re-
lacionados e criou a teoria unificada do eletromagnetismo. Este trabalho apre-
senta um guia histórico do desenvolvimento da teoria eletromagnética, expli-
cando o significado fı́sico das leis de Maxwell e das equações que descrevem
essas leis. Além disso, o trabalho apresenta casos práticos de aplicações do ele-
tromagnetismo nas engenharias elétrica e eletrônica, em telecomunicações, sis-
temas de controle e sistemas de posicionamento, demonstrando a importância e
contribuição de Maxwell para a formação da sociedade contemporânea.

1. Introdução
O ser humano conhece os efeitos da eletricidade estática desde a Grécia an-
tiga [Nussenzveig 2015]. Além disso, o magnetismo é conhecido há pelo menos 2500
anos [Young and Freedman 2009]. Entretanto, a formulação matemática e explicação
fı́sica desses dois eventos e por fim a sua unificação no eletromagnetismo só foi possı́vel
após milhares de anos de pesquisa cientı́fica.
Fı́sicos de diversas nacionalidades e épocas distintas dedicaram sua vida a explicar
os fenômenos elétricos e magnéticos observados na natureza e em laboratórios. Durante
anos, os dois fenômenos foram considerados distintos e tratados dessa forma. Porém,
James Clerk Maxwell propôs a unificação das teorias elétrica e magnética: o eletromag-
netismo. Apesar da falta de comprovação experimental, Maxwell pavimentou o caminho
para a comunidade fı́sica entender e comprovar a existência de ondas eletromagnéticas.
Este trabalho apresenta uma discussão sobre a história do eletromagnetismo, apre-
sentando os princı́pios fı́sicos expostos por Maxwell e outros fı́sicos na formulação da
teoria eletromagnética e exibindo aplicações práticas na engenharia elétrica e eletrônica.
O restante do trabalho está organizado da seguinte forma: a Seção 2 apresenta uma
breve descrição cronológica dos eventos ocorridos até a formulação do eletromagnetismo.
A Seção 3 aborda a forma final das quatro equações de Maxwell e os seus princı́pios
fı́sicos, além de tratar das propriedades de força e conservação da onda eletromagnética.
A Seção 4 discute aplicações práticas do eletromagnetismo. Por fim, a Seção 5 conclui o
trabalho.
2. Cronologia do Desenvolvimento da Teoria Eletromagnética

O desenvolvimento da teoria eletromagnética veio a partir da junção de duas fren-


tes teóricas (elétrica e magnética) já desenvolvidas e estruturadas anteriormente. Passare-
mos brevemente por essas teorias e posteriormente abordaremos de forma mais profunda
o desenvolvimento do eletromagnetismo.
Não há registros dos primeiros experimentos ligados a eletrificação, porém na
Grécia em 600 a.C já existia uma noção básica da eletrostática através do atrito em pedras
de âmbar [Nussenzveig 2015]. Enquanto que as primeiras observações relacionadas ao
magnetismo com registro histórico foram encontradas na Magnésia, hoje chamada de
Manissa, em pedras magnetitas que conseguiam atrair ferro [Young and Freedman 2009].
Após isso, a teoria elétrica e a teoria magnética se desenvolveram de forma pa-
ralela através de uma série de experimentos e registros que ocorreram ao longo dos
séculos. Somente em 1820 Hans Christian Oersted encontrou uma conexão entre os dois
fenômenos. Oersted observou que uma corrente elétrica passando por um condutor era
capaz de causar a deflexão na agulha da bússola e, mais tarde, também pode observar que
um ı́mã é capaz de gerar uma força sobre um fio conduzindo corrente. Assim, a ciência
do eletromagnetismo dava seus primeiros passos.
A partir desses experimentos, Michael Faraday realizou uma série de estu-
dos que posteriormente foram utilizados por James Clerk Maxwell para criar o em-
basamento matemático ao eletromagnetismo. Maxwell foi o fı́sico e matemático res-
ponsável pela demonstração que a eletricidade e o magnetismo estão intimamente conec-
tados [Rautio 2014]. As quatro equações derivadas dos trabalhos produzidos por Maxwell
descrevem diversos fenômenos fı́sicos e são essenciais para sistemas modernos de enge-
nharia.
Maxwell descreveu sua teoria em quatro artigos principais: On Faraday’s Li-
nes of Force [Maxwell 1856], On physical lines of force [Maxwell 1861], Dynami-
cal Theory of the Electromagnetic Field [Maxwell 1864] e A Treatise on Electricity e
Magnetism [Maxwell 1873]. Os artigos têm como base a mecânica clássica para ex-
plicar os fenômenos elétricos e magnéticos. Maxwell demonstrou que as equações
que descrevem o escoamento de fluı́dos incompressı́veis poderiam ser utilizadas para
para resolução de problemas com campos magnéticos e elétricos estáticos [Rautio 2014,
Dias and Morais 2014].
Assim, os argumentos utilizados para desenvolver o eletromagnetismo tiveram
como princı́pio a mecânica dos fluidos. Para isso, Maxwell definiu o éter como o fluı́do
para explicar a propagação de ondas eletromagnéticas [Dias and Morais 2014]. O éter
foi proposto por MacCullagh [Mac Cullagh 1846] para explicar a propagação da luz,
sendo um meio elástico e vibrante, que propagaria ondas mecânicas. A Figura 1 exibe
o modelo mecânico proposto por Maxwell para explicar a corrente de deslocamento no
éter [Nussenzveig 2015].
O princı́pio fı́sico básico do éter é a propriedade de elasticidade rotacional. Assim,
a teoria de Maxwell explicava como corpos elétricos ou magnéticos interagem com o
espaço em sua vizinhança. Entretanto, a teoria tinha problemas para explicar a natureza
da corrente elétrica e da condutividade elétrica com base no éter [Dias and Morais 2014].
Figura 1. Modelo mecânico de Maxwell [Dias and Morais 2014]

Em 1862 ele adicionou a corrente de deslocamento à corrente de condução na Lei


de Ampère, que ocorre em todos os dielétricos com campos elétricos variáveis, comple-
tando o trabalho de Ampère. Em 1865 mostrou que as ondas eletromagnéticas possuem
a velocidade da luz, a qual ele recalculou com precisão, concordando com o resultado de
Wilhelm Weber [Assis 2000].
Maxwell apresentou seus resultados diante da Sociedade Royal de Londres (Royal
Society of London) em 1864. Entretanto, os fı́sicos de sua época explicavam os fenômenos
observados através de modelos mecânicos, e desacreditaram na existência de corrente de
deslocamento sem a necessidade de matéria. Os “Maxwellians”, um grupo de fı́sicos
interessados em explicar os fenômenos magnéticos e elétricos, foram os responsáveis
por coletar evidências experimentais para fundamentar a teoria de Maxwell e superar a
resistência da comunidade fı́sica ao eletromagnetismo.
Uma nova contribuição adicional surgiu em 1884, quando o fı́sico inglês John
Henry Poynting, um dos alunos de Maxwell, mostrou que o fluxo de energia de uma onda
eletromagnética podia ser expresso numa simples forma, usando-se os campos elétrico e
magnético [Hayt Jr and Buck 2013]. O teorema de Poynting [Poynting 1884] expressa a
lei da conservação da energia para o campo eletromagnético, sob a forma de uma equação
diferencial parcial.
Em 1885, Oliver Heaviside revisitou as equações 20 equações apresenta-
das por Maxwell, e utilizando os avanços matemáticos, reduziu-as para apenas 4
equações [Rautio 2014]. O fechamento do ciclo e completude da teoria eletromagnética
veio em 1888, quando o fı́sico alemão Heinrich Rudolf Hertz confirmou experimental-
mente a teoria de Maxwell e divulgou em seu artigo [Hertz 1888].
3. Equações de Maxwell e os Fundamentos Fı́sicos do Eletromagnetismo
Como discutido anteriormente, os estudos de Maxwell produziram 20 leis sobre
a teoria eletromagnética, que foram reduzidas através de manipulação matemática por
Heaviside para apenas quatro equações. Nessa seção são discutidos os princı́pios fı́sicos
das formas finais das equações de Maxwell e detalhes de seu desenvolvimento.

3.1. Lei de Gauss


Michael Faraday, fı́sico e quı́mico britânico, fez um experimento no qual havia
um objeto carregado com uma carga Q, envolvido por um material isolante, e esse ma-
terial isolante envolvido com outra esfera fechada. Com isso, ele pode provar que essa
esfera fechada externa tem, em módulo, o mesmo valor de carga da carga Q. Assim, ele
concluiu que havia algum tipo de “deslocamento” da esfera interna para a externa, a qual
era independente do meio, e este “deslocamento” foi chamado de fluxo elétrico. Então,
se o fluxo elétrico é denotado por ψ e a carga total na esfera interna por Q, então, pelo
experimento de Faraday é possı́vel estabelecer a Equação 1.

ψ=Q (1)

O fluxo elétrico ψ é medido em coulombs [C]. A generalização do experimento de Fara-


day, levou à conhecida Lei de Gauss que enuncia: “O fluxo elétrico que passa por qualquer
superfı́cie fechada é igual à carga total que está contida dentro dessa superfı́cie”. Apesar
de Faraday ter realizado o experimento e a enunciação da lei, foi o matemático Carl Frie-
drich Gauss que formalizou matematicamente o enunciado, e por isso leva o nome de Lei
de Gauss [Hayt Jr and Buck 2013].
Agora, imaginando uma superfı́cie fechada com uma carga dentro, essa carga irá
irradiar densidade de fluxo elétrico para todas as direções. Então, a integral de superfı́cie
dessa densidade de fluxo D~ terá que ser igual a carga Q, o que leva a Equação 2.

I
ψ= ~ . d~S = Q
D (2)
S

onde Q é a carga envolvida pela superfı́cie. Assim, essa lei comprova a existência de
um monopolo elétrico. A carga elétrica, por sua vez, é obtida integrando-se a densidade
volumétrica de carga ρ [C/m3 ] por todo o volume delimitado pela dita superfı́cie fechada,
como exibido na Equação 3.
Z
Q= ρV dV (3)
V

Por fim, finalizando a forma matemática para o enunciado da lei, obtém-se a Equação 4
na forma integral e a Equação 5 na forma diferencial.
I Z
~ .d~S =
D ρV dV (4)
S V

~ D
∇. ~ = ρv (5)
A forma diferencial reduz o volume tendendo para zero. E, dessa maneira, encontra-se o
fluxo que deixa uma pequena superfı́cie fechada por unidade de volume.
A Lei de Gauss pode ser aplicada para campo magnético. Na qual se obtém as
Equações 7 e 6.

~ B
∇. ~ =0 (6)

I
~ d~S = 0
B. (7)
S

Na Equação 6 pode-se ver que o divergente do campo magnético é igual a zero,


o que significa que o fluxo magnético é conservativo. Pode-se concluir então que as
linhas de fluxo magnético são fechadas. Pela forma integral, Equação 7, é possı́vel ob-
servar que o fluxo que entra em um volume é idêntico ao que sai. Assim, é estabelecido
que inexistem monopolos magnéticos, o que realmente nunca foi encontrado na natu-
reza [Dias and Morais 2014, Rautio 2014]. Portanto, os pólos magnéticos sempre são
observados em pares [Young and Freedman 2009].

3.2. Lei de Ampère-Maxwell


A Lei de Ampère enuncia que a integral de linha do campo magnético ao longo
de qualquer superfı́cie fechada é igual ao valor da corrente que atravessa essa superfı́cie,
com tradução matemática através da Equação 8.
I Z
~ .dL
H ~ =I= ~J .d~S (8)
L S

Onde ~J é o campo densidade superficial de corrente em [A/m2 ]. A relação na forma


diferencial é expressa pela Equação 9.

~ ×H
∇ ~ = ~J (9)

Porém, essa relação só é valida para campos estáticos. Ao aplicarmos o divergente
desse vetor ~J acima, matematicamente, deve dar zero. Porém, observa-se na Equação 10
que o resultado não é o esperado, mostrando que a equação está incompleta. Além disso,
nessa relação está subentendido algo fundamental: a corrente é igual a variação temporal
de carga.

~ ~J = − ∂ ρ~V
∇. (10)
∂t
~
Então, para completar matematicamente a Equação 8, foi adicionado um vetor Jd
~
para que seu divergente seja igual ao oposto do divergente de J, e, dessa forma, chegar a
Equação 11.

~ ×H
∇ ~
~ = ~J + Jd (11)
Então como o vetor Jd~ é igual em módulo ao vetor ~J, porém, com sentido oposto e
também pela Equação 5, outro resultado possı́vel é exibido na Equação 12. Ao substituir
a Equação 12 na Equação 11, chega-se a Equação 13.

~
∂D
J~d = (12)
∂t

~
∇ ~ = ~J + ∂ D
~ ×H (13)
∂t
I Z ~
∂D
~ .dL
H ~ =I+ . d~S (14)
L S ∂t

Dessa forma, Maxwell provou que para campos variantes a Equação 8 de Ampère
estava incompleta. Assim, com a reformulação proposta por Maxwell tem-se a lei de
Ampère-Maxwell, na forma diferencial na Equação 13 ou na forma integral na Equação 8.
Nessa equação final, é possı́vel observar que a variação temporal de fluxo elétrico é uma
fonte de campo magnético.

3.3. Lei de Faraday


Faraday queria provar se um campo magnético poderia produzir uma corrente já
que uma corrente produzia um campo magnético. Inicialmente, Faraday sabia que campos
magnéticos constantes não são capazes de produzir corrente. No entanto,a hipótese levan-
tada foi a que existisse um mecanismo intermediário que conectasse o fluxo magnético,
dado pela Equação 15, e a corrente elétrica. Esse mecanismo ficou conhecido como força
eletromotriz, dada pela Equação 16, que pode ser entendida como uma tensão induzida ao
longo de um caminho fechado que foi gerada pela variação de fluxo magnético. Esse é o
princı́pio básico da geração de energia elétrica em hidroelétricas, onde um ı́mã realiza um
movimento de rotação através da força hidráulica, criando um campo magnético variável
que por sua vez gera uma força eletromotriz.
Z
φ= ~ . d~S
B (15)
S


f em = − (16)
dt
Além disso, a tensão induzida ao longo de um caminho fechado pode ser descrita
pela integral de linha de um campo elétrico ao longo desse caminho fechado, expresso
pela Equação 17.
I
φ= ~ .dL
E ~ (17)
L

Juntando as Equações 15, 17 e 16, conseguimos encontrar a Lei de Faraday em


sua forma integral, dada pela Equação 18.
I Z ~
∂B
~ .dL
E ~ =− . d~S (18)
L S ∂t

Para encontrar a forma diferencial da Lei de Faraday, basta aplicar o teorema de


Stokes na sua forma integral. O resultado desta operação gera a Equação 19.

~
∇ ~ = − ∂B
~ ×E (19)
∂t
Na experiência de Faraday, ele chega na Equação 18 que prova que a variação de
um campo magnético produz uma força eletromotriz que por sua vez, pode produzir uma
corrente elétrica.
Na eletrostática, a integral de linha em um caminho fechado do campo elétrico é
igual a zero, ou seja, o rotacional do campo elétrico é igual a zero pois as linhas da campo
elétrico são abertas. Porém, na eletrodinâmica, esse rotacional vai ser igual a variação do
fluxo magnético em módulo como mostrado na Equação 19. Isso está relacionado a Lei
de Lenz, pois com a variação do campo magnético numa direção e sentido, excita uma
corrente que produz um campo magnético no sentido oposto.

3.4. Relações Entre os Campos, Força Eletromagnética e Lei de Conservação


Além das relações estabelecidas nas subseções anteriores, pode-se relacionar os
campos densidade de fluxo elétrico e o campo elétrico, campo de densidade de fluxo
magnético e campo magnético e o vetor densidade de corrente e o campo elétrico em
meios isotrópicos, lineares e homogêneos através de três constantes: permissividade
elétrica ǫ, permeabilidade magnética µ e a condutividade elétrica σ respectivamente, que
só dependem do meio de propagação tratado. Essas relações lineares são exibidas nas
Equações 20, 21 e 22.

~ = ǫE
D ~ (20)

~ = µH
B ~ (21)

~J = σ E
~ (22)

As expressões tratadas até aqui traduzem o comportamento dos campos estuda-


dos, mas não informam a força exercida pelos mesmos sobre uma partı́cula. Para isso
é necessário utilizar a relação proposta pelo fı́sico neerlandês Hendrik Antoon Lorentz,
conhecida como a Força de Lorentz [Lorentz 1892]. A Equação 23 demonstra a força
produzida pelos campos magnético e elétrico sobre uma partı́cula de carga Q. É simples
observar que a força de Lorentz é uma superposição da força elétrica sobre a carga Q,
enunciada por Coulomb, com a força magnética sobre uma partı́cula com velocidade ~v.

~F = Q(E
~ + ~v × B)
~ (23)
Figura 2. Propagação de uma onda eletromagnética planar de comprimento de
onda λ com direção de propagação no eixo z, componente de campo magnético
no eixo x e componente do campo elétrico y [Vieira 2003].

Entretanto, falta enunciar a lei de conservação para o eletromagnetismo, que


foi realizada por Poynting [Poynting 1884]. O teorema de Poynting expressa a lei da
conservação da energia para o campo eletromagnético através da Equação 24. Esta
equação é obtida através da manipulação algébrica das Equações 13 e 19, utilizando as
relações lineares entre os campos obtidas nas Equações 20 e 21. O primeiro termo da
equação está relacionado com a potência irradiada pela onda eletromagnética, o segundo
termo está relacionado com o trabalho realizado pela força eletromagnética sobre cargas
livres e, por fim, a última parcela está associada à variação da energia armazenada no
campo eletromagnético.
I Z Z
~S . dA
~ + ~ . ~J dV + ∂ ǫE 2 µH 2
E ( + )dV = 0 (24)
A V ∂t V 2 2

Na Equação 24 o vetor ~S substitui o produto vetorial entre o campo elétrico E


~ e o campo
~ ~
magnético H. O vetor S é conhecido como Vetor de Poynting, medido em [W/m2 ] e dado
pela Equação 25.

~S = E
~ ×B
~ (25)

Em suma, o desenvolvimento das equações de Maxwell como generalizações das


relações do circuito, envolve tanto um raciocı́nio indutivo como fı́sico. As equações de
Maxwell são coerentes com resultados experimentais que comprovam a sua validade. As
Equações 13 e 19 indicam que a variação temporal dos campos magnéticos e elétricos va-
riando geram um ao outro. Este fenômeno é chamado de acoplamento eletromagnético.
No caso da equação 13, o termo que gera o campo magnético é chamado de densidade de
deslocamento de corrente. Este termo é o centro da teoria das radiações das ondas eletro-
magnéticas. A conclusão disto é que o campo eletromagnético variando no tempo propaga
a energia através do espaço vazio com a velocidade da luz e ainda que a luz é de natureza
eletromagnética. As ondas de rádio eram desconhecidas na época e isto foi quinze anos
antes de Hertz demonstrar que as ondas eletromagnéticas eram possı́veis, como foi pre-
dito por Maxwell [Oberziner et al. 2008]. A Equação 6, informa que o divergente é igual
a zero, logo é possı́vel perceber que o fluxo magnético tende a produzir linhas fechadas e
é conservativo. Além disso, a Equação 5, indica que o fluxo elétrico não é conservativo e
tende a produzir linhas abertas. Por fim, as expressões integrais das leis de Gauss para o
Figura 3. Espectro de frequências e comprimentos de onda com suas respecti-
vas aplicações [de Oliveira Leite and Prado 2012].

magnetismo e para a eletricidade nos informam a inexistência do monopolo magnético e


a existência da monopolo elétrico. A força eletromagnética exercida sobre uma partı́cula
com carga Q é estabelecida através da Equação 23. Por fim, a Equação 24 estabelece a
relação de conservação para as ondas eletromagnéticas.

4. Aplicações Práticas do Eletromagnetismo na Engenharia


Maxwell analisou o que ocorreria se uma carga elétrica fosse colocada em um
movimento oscilatório e descobriu que tal carga gera um padrão de ondas elétricas e
magnéticas que viajam rapidamente pelo espaço. Ao calcular a velocidade de propagação
destas ondas ele verificou que era igual à velocidade da luz. Portanto, Maxwell demons-
trou que a luz é uma forma de onda eletromagnética. Em seguida, entendeu esta relação
entre a luz e o eletromagnetismo em 1861, unificando, portanto, duas áreas da fı́sica até
então distintas: o eletromagnetismo e a óptica.
As principais caracterı́sticas das ondas eletromagnéticas são: os planos de
oscilação dos campos elétrico e magnético são perpendiculares; a oscilação é ortogonal à
direção de propagação; e não precisam de um meio para se propagar. Essas caracterı́sticas
são exibidas na Figura 2, que ilustra a propagação de uma onda planar com sentido de
propagação no eixo z.
As ondas eletromagnéticas podem ter comprimentos de onda dos mais diversos
tamanhos. Como se pode observar na figura 3, a cada faixa desse espectro eletromagnético
dá-se um nome diferente, de acordo com suas propriedades. Por exemplo, chama-se de
”luz visı́vel”a onda eletromagnética com comprimento de onda entre 380 e 740 nm.
A partir do descobrimento das ondas eletromagnéticas, diversas aplicações
úteis foram dadas a elas pelas Engenharias Elétrica e Eletrônica. Os dispositivos
eletrônicos que usamos no cotidiano são baseados nas leis do eletromagnetismo, tanto
para comunicação quanto para o processamento e armazenamento das informações como
fotos, documentos e arquivos em geral. Outras aplicações mais próximas a onda eletro-
magnética são: telecomunicações, sistemas de controle e sistemas de posicionamento,
que são discutidas nas subseções a seguir.
4.1. Telecomunicações

O envio de informações é principal aplicação da onda eletromagnética no campo


da engenharia. A partir de um sinal eletromagnético, é possı́vel codificar mensagens a
serem transmitidas e permitir que duas extremidades se comuniquem. Utilizando cabos
condutores de eletricidade é possı́vel realizar a comunicação a distância. Além disso,
como a onda eletromagnética se propaga em diversos meios fı́sicos, a comunicação entre
as extremidades pode ser realizada de forma sem fio. Entretanto, para o envio de grande
volume de dados, como em centro de dados e servidores de grande porte na Internet,
a comunicação por cabos de cobre e redes sem fio é ineficiente, pois apresenta muitas
perdas devido aos ruı́dos do ambiente. Assim, um meio de comunicação a distância em
altas taxas e com baixas perdas é utilizando fibras óticas [Roberts et al. 2017]. Esses
problemas de transmitir informações entre duas bordas distantes é conhecido como linhas
de transmissão [Hayt Jr and Buck 2013]. Problemas de linhas de transmissão não são
restritos a telecomunicações, sendo frequentemente encontrados em problemas e projetos
de engenharia elétrica relacionados ao transporte de energia à longas distâncias.

4.2. Sistemas de Controle

O eletromagnetismo é a base de diversos sistemas de controle utilizados em di-


versas áreas [Nise 2020]. Um sistema de controle tem o objetivo de regular uma ou mais
variáveis de saı́da a partir de um ou mais sinais de entrada. Em geral, os sinais de entrada e
saı́da são ondas eletromagnéticas, criadas a partir de um transdutor, responsável por con-
verter uma variável fı́sica em uma onda eletromagnética. Um exemplo de aplicação de
controle utilizando o eletromagnetismo é feita por Tricarico et al. [Tricarico et al. 2019].
Os autores propõe um sistema de controle para melhorar a eficiência na distribuição de
energia elétrica entre microrredes.

4.3. Sistemas de Posicionamento

O radar que utiliza o efeito doppler consiste em uma antena que emite uma onda
eletromagnética e capta a reflexão da mesma para determinar a localização de obje-
tos [Haimovich et al. 2008]. Além disso, o radar consegue através do processamento do
sinal refletido determinar a velocidade do objeto localizado. Esse sistema de localização
foi essencial para a marinha britânica na segunda guerra mundial, tanto para se defen-
der de ataques quanto para derrubar aviões dos invasores alemães [Kingsley 2016]. A
Figura 4 exibe um sistema de radar, que consiste em uma antena que emite uma onda
eletromagnética pelo caminho A e mede o tempo de retorno da onda após refletir nas
partı́culas do furacão através do caminho B. Com isso é possı́vel estimar a velocidade de
aproximação do fenômeno natural.
O sistema de posicionamento global (Global Positioning System - GPS) uti-
liza princı́pios eletromagnéticos para rastrear a posição de um determinado objeto. A
informação da localização permite que pessoas consigam guiar veı́culos em diversas
condições e locais desconhecidos de forma determinı́stica e com erro mı́nimo, o que du-
rante séculos foi realizado através da observação espacial. Além disso, uma aplicação
prática atual do GPS é a geração de estatı́sticas de posicionamento de jogadores de fute-
bol [Wisbey et al. 2010].
Figura 4. Exemplo de uso de um radar para detecção de furacões e estimar a
velocidade de aproximação [Trefil and Hazen 2006].

5. Conclusão
As leis que explicam o eletromagnetismo propostas por Maxwell revoluciona-
ram a ciência e a sociedade. Utilizando os princı́pios proposto por Maxwell é possı́vel
transmitir mensagens remotamente através de linhas de transmissão e criar dispositivos
eletroeletrônicos para processar dados e informações. Além disso, os sistemas de controle
e rastreamento têm como base o processamento de sinais eletromagnéticos. Maxwell é
inegavelmente um dos fı́sicos responsáveis pela construção da sociedade moderna, além
dos diversos fı́sicos que contribuı́ram para a base e comprovação de suas previsões.

Referências
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de Oliveira Leite, D. and Prado, R. J. (2012). Espectroscopia no infravermelho: uma
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