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JOEL

Original em inglês:

JOEL -

The Book of Joel

Commentary by A.R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

Introdução Joel 2

Joel 1 Joel 3
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

Joel (que significa "alguém para quem Jeová é Deus," ou seja,


adorador de Jeová) parece ter pertencido à tribo de Judá, pois não faz
referência alguma a Israel, enquanto que fala de Jerusalém, do templo,
dos sacerdotes e das cerimônias, como se os conhecesse intimamente
(veja-se Jl_1:14; 2:1, 15, 32; 3:1, 2, 6, 16, 17, 20, 21). Suas predições
foram dadas provavelmente nos primeiros dias de Jeoás, 870-865 a.C.
Porque nenhuma referência faz-se nelas aos Babilônios e Assírios nem
tampouco à invasão assíria, e os únicos inimigos mencionados são os
filisteus, os fenícios, os edomitas e os egípcios (Jl_3:4, 19). Se ele
tivesse vivido depois de Jeoás, com toda segurança teria mencionado aos
sírios entre os inimigos que enumera, visto que os sírios tomaram
Jerusalém e levaram para Damasco imenso despojo (2Cr_24:23-24). Não
se menciona idolatria alguma; e os serviços do templo, o sacerdócio e as
outras instituições da teocracia são representados como florescentes.
Tudo isto corresponde ao estado de coisas sob o sumo sacerdócio de
Joiada, por meio de quem Jeoás tinha sido posto no trono, e quem viveu-
nos primeiros anos do Jeoás (2Rs_11:17-18; 2Rs_12:2-16; 2Cr_24:4-
14). Era filho de Petuel.
O primeiro capítulo descreve a desolação causada por uma incursão
de gafanhotos — um dos instrumentos do juízo divino mencionados por
Moisés (Dt_28:38-39) e por Salomão (1Rs_8:37). O segundo capítulo
(vv. 1-11), a aparição deles, sob a figura de um exército hostil, o que
sugere que os gafanhotos eram símbolos e presságios de um açoite mais
terrível, isto é, inimigos estrangeiros que consumiriam tudo o que
achassem em sua passagem. (A ausência de menção de prejuízo pessoal
aos habitantes, não é objeção válida para a interpretação figurativa,
porque a figura é consequente em tudo, ao atribuir ao gafanhoto
unicamente o prejuízo feito na vegetação, fazendo mal assim
indiretamente ao homem e ao animal.) 1Rs_2:12-17: exortação ao
arrependimento, cujo resultado será que Deus livrará ao Seu povo; as
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 3
chuvas temporã e serôdia voltarão para fertilizar suas desoladas terras, e
será a garantia de um derramamento espiritual de graça, que começará
com Judá e dali se estenderá a "toda carne." Jl_2:18–3:21. Os juízos de
Deus sobre os inimigos de Judá, enquanto que Judá será restabelecido
para sempre.
O estilo de Joel é preeminentemente puro. Caracteriza-se por sua
suavidade e fluidez nos ritmos, a redondeza das orações, e a regularidade
nos paralelismos. Com a força de Miqueias, seu estilo se combina com a
ternura de Jeremias, a vivacidade de Naum, e a sublimidade de Isaías.
Como uma amostra de seu estilo, tome o capítulo dois, onde o terrível
aspecto dos gafanhotos, sua rapidez, seu irresistível progresso, seu
estrépito ensurdecedor, e seu poder instintivo de ordenar suas forças para
a carreira de devastação, estão pintados com gráfica realidade.
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Joel 1

Vv. 1-20. O Aspecto de Desolação do País Por causa da Praga de


Gafanhotos; Admoesta-se ao Povo para que Ofereça Solenes Rogos no
Templo: Porque Esta Calamidade É Presságio Infalível de Outra Ainda
Pior.
1. Joel — que significa Jeová é Deus.
filho de Petuel — para distinguir o profeta de outros do mesmo
nome. As pessoas eminentes se distinguiam acrescentando a seu nome o
de seu pai.
2, 3. Uma introdução viva, que chama a atenção.
velhos — Os anciãos são os melhores juízes em assuntos
concernentes ao passado. Dt_32:7; Jó_32:7.
Aconteceu isto, etc. — quer dizer: Aconteceu antes uma
calamidade tão penosa como esta? Nunca se viu tal praga de gafanhotos
desde aquelas do Egito. Êx_10:14 não está discorde com este versículo,
que se refere a Judá, em que Joel diz que nunca antes tinha havido
semelhante devastação.
3. Narrai isto a vossos filhos — a fim de que sejam admoestados
pela severidade do castigo, para que temam a Deus (Sl_78:6-8; Êx_13:8;
Js_4:7).
4. Este versículo expõe o tema, sobre o qual depois se estende.
Entende-se que são quatro espécies ou períodos de gafanhotos, em vez
de quatro insetos diferentes (veja-se Lv_11:22). São lit: (1) o gafanhoto
roedor, (2) o de enxame, (3) o chupador, (4) o consumidor, culminando
na classe mais destrutiva. Esta tem com frequência três polegadas de
comprimento, e as duas antenas, uma polegada de comprimento cada
uma. Os dois posteriores com suas seis patas adaptadas para saltar, são
maiores que os demais. A primeira “classe,” a larva é o gafanhoto recém
saído do ovo, e sem asas, na primavera. O segundo é quando no fim da
primavera até em sua primeira pele, produz cria sem patas nem asas. O
terceiro, quando depois da terceira mudança da pele, lançam asas
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pequenas, que as ajudam a saltar mas não a voar. Não podendo afastar-se
enquanto não se desenvolvam as asas, devoram tudo em sua passagem:
erva, arbustos, e casca das árvores. “O pulgão” aqui, traduz-se como
“gafanhotos eriçados” em Jr_51:27. A quarta classe são as de asas
desenvolvidas (veja-se Nota, Na_3:16). Em Jl_2:25 são enumeradas em
ordem inversa, onde se promete a restauração da devastação por elas
causada. Os hebreus fazem com que se refiram: a primeira espécie à
Assíria e Babilônia; a segunda, à Medo-Pérsia; a terceira, à Grécia-
Macedônia e Antíoco Epifânio; a quarta, aos romanos. Embora a
primeira referência seja a gafanhotos literais, o Espírito Santo
indubitavelmente tinha em vista os impérios sucessivos que atacaram a
Judeia, cada um pior que seu antecessor, sendo Roma o clímax.
5. Despertai (RC) — de vosso habitual estado de bêbado estupor,
para vos dar conta da privação de vossa bebida favorita. Até os bêbados
(a raiz hebraica significa qualquer bebida forte) serão forçados a “uivar,”
mesmo quando usualmente riem em meio das maiores calamidades, tão
evidente e universalmente afetará a calamidade a todos.
veio … mosto — Como o castelhano, o hebraico significa o suco
de uva não fermentado e portanto, não intoxicante, o suco doce extraído
pela pressão das uvas ou de outra fruta, como as amadurecidas (Ct_8:2).
O vinho produz-se da uva somente, e é intoxicante (veja-se nota v. 10).
6. veio um povo — aplica-se aos gafanhotos, em vez de a um povo
(Pv_30:25-26), para indicar não somente seus números, mas também sua
“feroz hostilidade;” e também para preparar a mente do ouvinte para a
transição aos gafanhotos figurativos do capítulo dois; ou seja: a “nação”
ou inimigo gentio que vinha contra a Judeia (Pv_2:2).
contra a minha terra — isto é, a de Jeová; a qual nunca teria sido
devastada, se não Eu não quisesse infligir o castigo (Pv_2:18; Is_14:25;
Jr_16:18; Ez_36:5; Ez_38:16).
poderoso — como levando irresistivelmente pela frente com seu
corpo compacto, todos os frutos da indústria dos homens.
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e inumerável — Assim Jz_6:5; Jz_7:12: “como gafanhotos por
multidão” (Jr_46:23; Na_3:15).
dentes de leão — quer dizer, os gafanhotos são tão destrutivos
como um leão; não há vegetação que possa resistir sua mordida. (Veja-se
Ap_9:8). Plínio diz: “Roem até as portas das casas.”
7. tirou a casca (RC) — Bochart, com a LXX e Siríaca, traduz, de
uma raiz arábica: “quebrou,” quer dizer, os brotos superiores dos quais
principalmente se alimentam os gafanhotos. Calvino secunda nossa
versão.
minha vide … minha figueira — pois estão em “minha terra,” ou
seja, de Jeová (v. 6). Quanto à fecundidade das videiras da antiga
Palestina; veja-se Nm_13:23-24.
os seus sarmentos se fizeram brancos — tanto por estar
despojados da casca (Gn_30:37) como por haver-se secado do tronco,
ramos e tronco comidos desde baixo, pelos gafanhotos.
8. Lamenta — Ó “minha terra.” (v. 6; Is_24:4).
a virgem ... pelo marido — Uma virgem desposada era
considerada como mulher já casada (Dt_22:23; Mt_1:19). O hebraico
“marido é senhor ou dono; no Oriente o marido é tido por senhor da
esposa.
da sua mocidade — quando os afetos são mais fortes, e quando a
dor na aflição é por conseguinte o mais agudo. O que sugere o
pensamento é o que devia ser a dor de Sião por sua separação de Jeová, o
marido desposado dela em seus primeiros dias (Jr_2:2; Ez_16:8; Os_2:7;
Pv_2:17; Jr_3:4).
9. A tristeza maior para a mente de um judeu religioso, e o que
deveria impressionar a toda a nação no sentido do desagrado de Deus, é
a cessação do habitual culto do templo.
oferta de manjares — no hebraico, “mincha,” não de carne, mas
sim a oferta sem sangue feita de farinha, azeite e incenso. Como esta e a
oferta de bebida, ou libação derramada acompanhavam a todo sacrifício
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de carne, este se inclui, embora não seja especificado, no que “pereceu”,
por causa de não haver já alimento para homem nem animal.
os sacerdotes … enlutados — não por sua própria perda do que
percebiam dos sacrifícios (Nm_18:8-15), mas sim porque já não podem
apresentar as ofertas ordenadas a Jeová, a quem ministravam.
10. O campo … a terra — diferindo em que “campo” significa a
campina livre e sem cercar; “terra” o rico solo vermelho do campo (de
uma raiz: “ser vermelho”), adaptada para o cultivo. De modo que, um
homem “do campo,” no hebraico, é caçador; um da terra, ou do solo, é
lavrador ou agricultor (Gn_25:27). Campo e terra aqui estão
personificados.
o mosto (RC) — de uma raiz hebraica que dá a entender que toma
possessão do cérebro, de modo que a pessoa não é dona de si. Deste
modo o termo arábico vem de uma raiz que indica guardar cativo. É
vinho já fermentado, e portanto embriagante, e é diferente do “mosto” do
v. 5, também chamado vinho novo, outro termo hebraico diferente. Este e
“o azeite” denotam a videira e a oliveira, dos quais se obtêm o vinho e o
azeite (v. 12).
se secou — no sentido literal, não de “envergonhou-se,” da lição
marginal, como o prova seu paralelismo com “perdeu-se”, ou seja
“adoeceu.”
11. Envergonhai-vos — quer dizer: Vós sereis envergonhados pela
decepção da fracassada colheita de “trigo” e de “cevada.”
uivai, vinhateiros — Deve seguir em dois pontos: visto que são os
lavradores os que se envergonharão pelo trigo; e os vinhateiros deverão
uivar porque “se secou a videira” (v. 12).
12. a romeira — árvore direta de tronco, que cresce até sete
metros; sua fruta é do tamanho de uma laranja, com polpa de uma cor
vermelho-sangue.
a palmeira — As tâmaras da Palestina eram famosas. A palma é o
símbolo da Judeia nas moedas cunhadas sob o imperador Vespasiano.
Com frequência cresce até trinta metros de altura.
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a macieira — no hebraico é um termo genérico, que inclui a
laranjeira, o limoeiro e a pereira.
já não há alegria — tal alegria como aquele que sente-se na
colheita e na colheita de uvas (Sl_4:7; Is_9:3).
13. Cingi-vos — quer dizer, de saco (de cilício); como em
Is_32:11, a elipse é suprida (veja-se Jr_4:8).
lamentai, sacerdotes — visto que é vosso dever dar o exemplo a
outros; e por ser maior a culpa e maior o escândalo de vossos pecados
contra a causa de Deus.
vinde — LXX: “entrai” na casa de Deus (Veja-se v. 14).
passai a noite vestidos de panos de saco — como Acabe
(1Rs_21:27).
ministros de meu Deus — (1Co_9:13). Joel afirma a autoridade
que tem para seu ensino; é em nome de Deus e por Sua comissão que eu
lhes falo.
14. Promulgai um santo jejum — solene.
convocai uma assembléia — a assembleia solene; lit., um dia de
restrição ou afastamento de trabalho, a fim de que todos se entreguem à
súplica (Jl_2:15-16; 1Sm_7:5-6; 2Cr_20:3-13).
anciãos — o oposto de “meninos” (Jl_2:16) requer que se entenda a
idade de anciãos aqui, mesmo quando se inclua também os “anciãos” de
ofício. Tendo sido guias do povo na culpa, deveriam ser também seus
guias no arrependimento.
15. o Dia do SENHOR — (Jl_2:1, Jl_2:11); quer dizer, o dia de
Sua ira (Is_13:9; Ob_1:15; Sf_1:7, Sf_1:15). Será uma antecipação do
dia do Senhor que vem, como Juiz de todos os homens, de onde o dia
recebe seu próprio nome. Aqui começa a transição da praga de
gafanhotos até calamidades piores (Jl_2:1-11) da parte de exércitos
invasores que estão por sobrevir a Judeia, dos quais os gafanhotos eram
prelúdio.
16. Veja-se o v. 9 e a última parte do v. 12.
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a alegria — que prevalecia nas festas anuais, como também nas
ordinárias ofertas de sacrifício, das quais os ofertantes comiam diante do
Senhor com alegria e ação de graças (Dt_12:6-7, Dt_12:12; Dt_16:11,
Dt_16:14-15).
17. A semente apodreceu (RC) — “está seca,” “desvanece-se,” de
uma raiz arábica. (Maurer). A seca faz com que o grão semeado perca
sua vitalidade.
os celeiros — geralmente subterrâneos, e divididos em
compartimentos para as diferentes classes de grãos.
18. o gado ... manadas de bois ... inquietas — denotando os gestos
inquietos dos animais mudos em sua incapacidade de achar alimento. Há
um contraste tácito entre o sentido da criação animal e a insensibilidade
do povo.
também os rebanhos de ovelhas — até as ovelhas, pelo comum
contentes com pastos menos ricos, tampouco acham pastos.
estão perecendo — lit. sofrem castigo. O inocente animal
compartilha o castigo do homem culpado (Êx_12:29; Jn_3:7; Jn_4:11).
19. A ti … clamo — Joel aqui interpõe: Como este povo é
insensível à vergonha e ao temor, deixá-lo-ei para me dirigir diretamente
a Ti (veja-se Is_15:5; Jr_23:9).
a chama — isso é, o calor abrasador.
as árvores do campo — os lugares de pastos; de uma raiz hebraica
por “ser prazenteiro.” Tais lugares se escolheriam para “moradias,”
segundo uma lição marginal inglesa; mas melhor é a tradução de
“pastos”.
20. os animais do campo bramam a ti (RC) — isto é, olharão
rumo ao céu, levantadas as cabeças, como se fosse de Deus sua única
esperança (Jó_38:41; Sl_104:21; Sl_145:15; Sl_147:9; veja-se Sl_42:1).
Tacitamente censuram a insensibilidade dos judeus em não invocar a
Deus nem ainda agora.
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Joel 2

Vv. 1-32. O Juízo Próximo, Um Motivo de Arrependimento. Uma


Promessa de Bênçãos Para os Últimos Dias.
Um juízo mais aterrorizador que aquele dos gafanhotos se prediz,
sob a figura tomada de uma calamidade que nesse então, embargava a
afligida nação. Ele, portanto, exorta ao arrependimento, assegurando aos
judeus a misericórdia de Deus, sempre que eles se arrependessem. A
promessa do Espírito Santo nos posteriores dias do Messias, e a salvação
de todos os crentes nEle.
1. Tocai a trombeta — para dar o alarme de uma guerra que vem
(Nm_10:1-10; Os_5:8; Am_3:6); o ofício dos sacerdotes. Jl_1:15 é uma
antecipação da profecia que neste capítulo é mais plena.
2. trevas ... nuvens ... negridão — acumulação de sinônimos, para
intensificar o quadro de calamidade (Is_8:22). Quadro próprio aqui,
como os enxames de gafanhotos que interceptavam a luz do sol,
sugeririam as trevas como figura própria da visitação iminente.
Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo
grande — substitua-se uma vírgula pelos dois pontos depois de alva:
Como a luz matutina se espalha sobre as montanhas, assim um povo
numeroso (Maurer) e forte se espalhará. A rapidez com que se levanta a
alva, que primeiro doura os cimos, é menos provável que outros criam
que é o ponto de comparação da repentina irrupção do inimigo. Maurer a
faz referir ao loiro resplendor produzido pelo reflexo da luz do sol, nas
asas da imensa multidão de gafanhotos que se aproximam. Isto é
provável; entendido, entretanto, que os gafanhotos não são mais que a
figura de inimigos humanos. A imensa hoste de invasores assírios sob
Senaqueribe (veja-se Is_37:36) destruída por Deus (vv. 18, 20, 21), pode
ser que sejam os objetos primitivos da profecia; mas finalmente o que se
quer denotar é a última confederação anticristã que será destruída por
especial intervenção divina (Nota, Jl_3:2).
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qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá
— Veja-se 1:2; e Êx_10:14.
3. À frente dele ... atrás — isso é, a todos os lados. (1Cr_19:10).
chama que abrasa — destruição … desolação (Is_10:17).
como … Éden … deserto — à inversa (Is_51:3; Ez_36:35).
4. aparência ... como a de cavalos — (Ap_9:7.) São gafanhotos
figurativos, não literais. A quinta trombeta, ou o primeiro “ai,” da
passagem paralela (Apocalipse 9), não pode ser literal; porque em
Ap_9:11, diz-se que “têm sobre si, por rei o anjo do abismo — no
hebraico, Abadom (Destruidor), mas no grego, Apoliom”— e (Ap_9:7)
“sobre suas cabeças tinham como coroas semelhantes ao ouro, e seus
rostos como rostos de homens.” Veja-se o v. 11: “porque grande é o dia
do Senhor, e muito terrível;” o que sugere que se refere em último termo
à segunda vinda do Messias em juízo. A cabeça da gafanhoto é tão
parecido com a do cavalo, que os italianos a chamam cavallete. Veja-se
Jó_39:21, Jó_39:23: “o cavalo … como … gafanhoto.”
correm — o gafanhoto salta, não semelhante ao galope do cavalo,
que levanta e baixa juntas as duas patas dianteiras.
5. Estrondeando como carros — refere-se ao som robusto das
asas, ou se não, ao movimento de suas patas posteriores.
pelos cimos dos montes — Maurer conecta isto com “eles” (os
gafanhotos), os quais primeiro ocupam os lugares mais altos, de onde
descem logo aos sítios baixos. Pode ser que se refira (como na Versão
Almeida) a “carros,” que fazem o ruído maior ao cruzar sobre as alturas
quebradas.
6. tremem — aterrorizados. O provérbio árabe diz: “Mais terrível
que os gafanhotos.”
todos os rostos empalidecem — (Is_13:8; Jr_30:6; Na_2:10).
Maurer traduz: “retirarão seu brilho,” isto é, empalidecerão (veja-se o v.
10 e Jl_3:15).
7-9. Descrevem a regular ordem militar de seu avanço. “Um
gafanhoto não se desvia nem a largura de uma unha de seu próprio lugar
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na marcha.” (Jerônimo). Veja-se Pv_30:27: “Os gafanhotos não têm rei,
contudo marcham todos enfileirados.”
8. Não empurram uns aos outros — como está acostumado a
acontecer numa multidão de gente.
arremetem contra lanças — lançando-se por entre os projéteis.
não serão feridos (RC) — porque estão protegidos pelas
armaduras. (Grocio). Maurer traduz: “Seus filas (dos gafanhotos) não
são quebrantadas, quando correm entre os projéteis” (veja-se
Dn_11:22).
9. Irão pela cidade — de uma parte para outra, buscando
vorazmente o que possam devorar.
pelos muros — que cercava cada casa dos edifícios orientais.
pelas janelas entram — embora estejam trancadas.
como ladrão — (Jo_10:1; veja-se Jr_9:21.)
10. Diante deles, treme a terra — quer dizer, os habitantes da
terra tremerão por temor delas.
os céus — ou seja, os poderes dos céus (Mt_24:29); seus poderes
de iluminação são transtornados pelos gafanhotos, que interceptam a luz
do sol, com seus densos enxames volantes. Estas, entretanto, não são
senão figuras de revoluções de estados, causadas por inimigos como os
que estavam por invadir a Judeia.
11. O SENHOR … seu exército — Assim entre os maometanos:
“Senhor dos gafanhotos” é um título de Deus.
levanta a voz — sua palavra de comando aos gafanhotos, e aos
antitípicos inimigos humanos da Judeia, o “seu exército”.
poderoso quem executa as suas ordens — antes: “É forte aquele
que põe com efeito” (Jeová) (Ap_18:8).
12. Com tais juízos pendentes sobre os judeus. O próprio Jeová
insiste com eles ao arrependimento.
Ainda assim, agora — até agora, o que ninguém teria podido
esperar nem crer possível. Deus ainda os convida à esperança da
salvação.
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com jejuns, com choro e com pranto — por ser o pecado deles em
extremo nefando, requer profunda humilhação. Os sinais exteriores do
arrependimento devem expressar a intensidade da dor pelo pecado.
13. Que haja dor interna de coração, e não as meras manifestações
exteriores do mesmo, como rasgar “as suas vestes” (Js_7:6).
do mal — a calamidade com que tinha ameaçado aos impenitentes.
14. deixará após si uma bênção … oferta de manjares e libação
— isso é, dará abundantes colheitas, das primícias das quais possamos
lhe dar as ofertas de carne e libações, agora impossíveis por causa da
seca (Js_1:9, Js_1:13, Js_1:16).
deixará após si — como Deus ao visitar Seu povo, agora deixou
após de si uma maldição, assim ao voltar para visitá-los, deixará após si
uma bênção.
15. Tocai a trombeta — para conhecer o povo (Nm_10:3 veja-se
1:14). A nação era culpada, e portanto devia haver uma humilhação
nacional. Veja-se os procedimentos de Ezequias antes da invasão de
Senaqueribe (2 Crônicas 30).
16. santificai a congregação — quer dizer, pelos ritos expiatórios e
a purificação com água (Calvino) (Êx_19:10, Êx_19:22). Maurer traduz:
“ordenar solene assembleia,” o que seria uma repetição inútil
(tautologia) do v. 15.
anciãos ... filhinhos — nenhuma idade devia ser excetuada
(2Cr_20:13).
noivo … noiva — aquela ordinariamente livre de deveres públicos
(Dt_24:5; veja-se 1Co_7:5, 1Co_7:29).
aposento — leito dos desposados, de uma raiz hebraica, por cobrir,
como referência ao dossel sobre o mesmo.
17. entre o pórtico e o altar — Entrada era o pórtico de Salomão
na frente a leste. O altar das ofertas queimadas no átrio dos sacerdotes,
diante do pórtico (2Cr_8:12; Ez_8:16; Mt_23:35). Os suplicantes assim
deviam estar de pé, com suas costas para o altar, sobre o qual nada
tinham para oferecer, seus rostos rumo ao lugar da presença da Shekiná.
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as nações façam escárnio dele — isto prova que se trata de
inimigos humanos, não de gafanhotos.
Por que hão de dizer ... Onde ... Deus? — quer dizer: “Por causa
de sua própria honra, não permita que o pagão menospreze ao Deus de
Israel, como que não pudesse salvar a seu povo” (Sl_79:10; Sl_115:2).
17. se mostrou zeloso da sua terra — Quando vir penitente a seu
povo: como o marido ciumento de alguma desonra feita à esposa amada,
como se fosse feito a ele mesmo. O hebraico vem de uma raiz árabe por
morrer de calor de indignação.
19. o cereal, e o vinho, e o óleo — antes, como o hebraico, “o pão,
e o mosto, e o azeite,” ou seja, o que os gafanhotos destruíram.
(Henderson). Maurer não tão bem explica: “o trigo … necessário para
teu sustento.” “Responderá Jeová,” ou seja, às orações de Seu povo, de
seus sacerdotes e profetas. Veja-se o caso de Senaqueribe, 2Rs_19:20-
21.
20. exército que vem do Norte — O hebraico expressa que o norte
com relação a Israel, não é somente a região de onde vem o invasor, mas
sim é o país natal dele, “o nortista;” quer dizer, o assírio, ou o babilônio
(veja-se Jr_1:14-15; Sf_2:13). A terra nativa da gafanhoto não é o norte,
mas sim o sul, os desertos da Arábia, do Egito e de Líbia. A Assíria e a
Babilônia são tipo e precursor de todos os inimigos de Israel, Roma, e o
Anticristo final, de quem Deus no fim livrará o Seu povo, assim como o
fez de Senaqueribe (2Rs_19:35).
a sua vanguarda … e a sua retaguarda — mais aplicáveis à
vanguarda e retaguarda de um exército humano que a gafanhotos. Os
invasores do norte devem ser dispersados em qualquer direção menos
aquela de onde tinham vindo: para “uma terra seca e deserta” (Arábia
Desértica); “para o mar oriental” (o mar Morto); “para o mar ocidental”
(o Mediterrâneo); “face” e “fim” significam este e oeste, o que assinala
as direções em relação a eles: davam cara ao este, e portanto o oriente
estava “em frente” deles; o oeste estava atrás deles; o sul à sua direita e
o norte à sua esquerda.
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 15
podridão — metáfora dos gafanhotos, que levadas por uma
tormenta ao mar ou ao deserto, perecem e emitem de seus corpos
putrefatos tal mau odor, que com frequência produz pestilências.
porque agiu poderosamente — isto é, porque o invasor se
engrandeceu arrogantemente em seus atos. Veja-se quanto a
Senaqueribe, 2Rs_19:11-13, 2Rs_19:22, 28. Isto é completamente
inaplicável aos gafanhotos, os quais somente buscam alimento ao invadir
uma terra, não a própria glória.
21-23. Em ordem ascendente; a terra, destruída pelo inimigo; os
animais do campo; e os filhos de Sião: a estes, os habitantes é dirigida a
palavra; àqueles dois, por personificação.
o SENHOR faz grandes coisas — em contraste com as “grandes
coisas” feitas pelo arrogante inimigo (v. 20) para o prejuízo de Judá,
estão as “grandes coisas” que Jeová fará em benefício de Judá (veja-se
Sl_126:2-3).
22. (Zc_8:12.) Como antes (Zc_1:18, Zc_1:20) ele representou os
animais gemendo e bramando por falta de pastos, assim agora os
assegura pela promessa de “prados verdejantes”.
23. regozijai-vos no SENHOR — não meramente nos pastos
verdejantes, como os animais irracionais, que não podem elevar seus
pensamentos acima disso (Is_61:10; Hc_3:18).
a chuva temporã ... a chuva ... temporã ... serôdia (TB) — a
outonal, ou “anterior,” desde meados de outubro até mediados de
dezembro, menciona-se primeiro, porquanto Joel profetiza no verão,
quando se verificou a invasão dos gafanhotos, e portanto olha para o
tempo da semeadura anterior de outono, quando se requeria
indispensavelmente a chuva outonal. Logo, “a chuva,” genericamente;
lit., os aguaceiros, torós fortes. E então, duas classes da posterior, a
“chuva temporã” e a “serôdia” (em março e abril). A repetição da
“primeira chuva (ou anterior)” dá a entender que a dará, não apenas para
a exigência daquela estação particular quando Joel falou, mas também
para o futuro, no curso normal da natureza, a do outono e a da
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 16
primavera: nomeia-se aquela primeira em ordem natural, por ser
necessária para a semeadura no outono, como esta se requer na
primavera para a maturação da próxima colheita.
em justa medida — quer dizer, “em medida conveniente;” lit.,
“segundo o justo,” tanta quanta a terra necessita, nem de sobra, nem
muito pouco, pois qualquer dos dois extremos danificaria a colheita
(Veja-se Dt_11:14; Pv_16:15; Jr_5:24; Nota, Os_6:3). A frase “em justa
medida” é paralelo a “no primeiro mês” [RC], da última (isto é, no mês
quando começa a fazer falta; cada chuva vem em sua devida estação).
Até aqui a justa ou reta ordem da natureza, foi interrompido por seu
pecado; agora Deus vai restabelecê-la.
24. O efeito das chuvas sazonais será a abundância de todo tipo de
alimentos.
25. gafanhoto peregrino … gafanhoto devastador … gafanhoto
devorador ... gafanhoto cortador (NVI) — na ordem inversa de Jl_1:4,
onde (veja-se nota) Deus não só restaurará o que se perdeu pelo
plenamente desenvolvido gafanhoto consumidor, mas também o que se
perdeu pelas não tão destrutivas lagostas chupadoras, trepadeiras, e
roedoras.
26. jamais será envergonhado — já não sofrerá mais a
“recriminação dos gentios” (v. 17) (Maurer); ou , antes, “não levará mais
a vergonha das esperanças frustradas,” como ocorreu aos lavradores
previamente (1:11). Deste modo espiritualmente, esperando em Deus, o
Seu povo não terá que sofrer a vergonha de ver frustrada a esperança que
pôs nEle (Rm_9:33).
27. Sabereis que estou no meio de Israel — como na dispensação
do Antigo Testamento, Deus esteve presente pela Shekinah, assim no
Novo Testamento primeiro, por um breve tempo, pelo Verbo feito carne,
que habitou entre nós (Jo_1:14), e até o fim desta dispensação pelo
Espírito Santo na igreja (Mt_28:20), e provavelmente de uma maneira
mais sensível, com Israel uma vez restaurado (Ez_37:26-28).
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 17
jamais será envergonhado — não é uma repetição sem significado
do v. 26; a dupla asserção desta verdade dá força à sua infalível certeza.
Como a “vergonha” do v. 26 refere-se a bênçãos temporais, assim refere-
se às bênçãos espirituais, que correrão como um rio da presença de Deus
para com Seu povo (Jr_3:16-17; Ap_21:3).
28. E, depois disso (NVI) — “nos últimos dias” (Is_2:2) sob o
Messias depois da invasão e a libertação de Israel do exército do norte.
Tendo declarado até aqui as bênçãos temporais, agora lhes levanta a
mente rumo à expectação de bênçãos espirituais extraordinárias, as quais
constituem a verdadeira restauração do povo de Deus (Is_44:3).
Cumprida na realidade (At_2:17) em Pentecostes; entre os judeus e a
subsequente eleição de um povo dentre os gentios; no futuro mais
completamente na restauração de Israel (Is_54:13; Jr_31:9, Jr_31:34;
Ez_39:29; Zc_12:10), e na consequente conversão do mundo inteiro
(Is_2:2; Is_11:9; Is_66:18-23; Mq_5:7; Rm_11:12, Rm_11:15). Como os
judeus foram os semeadores da eleita igreja juntada dentre judeus e
gentios, sendo os primeiros pregadores do Evangelho, judeus de
Jerusalém, igualmente judeus serão os colhedores da vindoura igreja
mundial, que se estabelecerá com a aparição do Messias. Que a promessa
não está restringida ao primeiro Pentecostes se deduz das próprias
palavras de Pedro: “Pois (não somente) para vós outros é a promessa,
para vossos filhos e (mas também) para todos os que ainda estão longe,
isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.”
derramarei — sob a nova aliança; não meramente deixarei cair
gotas, como sob o Antigo Testamento (Jo_7:39).
o meu Espírito — o Espírito “que procede do Pai e do Filho,” e ao
mesmo tempo, Um com o Pai e com o Filho (veja-se Is_11:2).
filhos … filhas … velhos … jovens — não meramente sobre uns
quantos privilegiados (Nm_11:29) como os profetas do Antigo
Testamento, mas sim sobre homens de toda idade e de todas as posições.
Veja-se At_21:9, e 1Co_11:5, quanto a filhas, ou seja, mulheres que
profetizavam.
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 18
sonhos … visões (RC) — (At_9:10; At_16:9). Os “sonhos” se
atribuem aos “velhos”, como mais de lembrança com seus anos; “visões”
aos “jovens,” adaptadas assim às mentes mais vívidas. Os três modos
pelos quais Deus revelava Sua vontade sob o Antigo Testamento
(Nm_12:6), “profecia, sonhos e visões,” resultam aqui simbólicos de Sua
plena manifestação a Seu povo, não somente em dons milagrosos a
alguns, mas também pelo Seu Espírito iminente em todos, segundo o
Novo Testamento (Jo_14:21, Jo_14:23; Jo_15:15). Em At_16:9 e
At_18:9, o termo que se usa é visão; embora fosse de noite, não foi um
sonho. Não se menciona outro sonho no Novo Testamento, mas sim
aqueles dados a José no começo do Novo Testamento, antes que o
evangelho pleno tivesse vindo; e à esposa de Pilatos, mulher gentia
(Mt_1:20; Mt_2:13; Mt_27:19). O termo “profetas”, aplicava-se no
Novo Testamento a todos os que falavam sob a inspiração do Espírito, os
quais não meramente prognosticavam eventos futuros. Todos os
verdadeiros cristãos são “sacerdotes” e “ministros” de nosso Deus
(Is_61:6), e têm o Espírito (Ez_36:26-27). Além disto, provavelmente,
deve ser dado um dom especial de profecia e de operação de milagres
com a segunda vinda do Messias, ou, antes da mesma.
29. até sobre os servos — Os próprios escravos, por ser já os
servos do Senhor, são os Seus libertos (1Co_7:22; Gl_3:28; Cl_3:11;
Fm_1:16). Portanto em At_2:18 é citado: “Meus servos” (gr.,
“escravos”) e “Minhas servas” (gr., “escravas”), visto que somente por
chegar a ser servos do Senhor, podem ser livres espiritualmente, e
participar do mesmo espírito com os demais membros da igreja.
30, 31. Como a manifestação do Messias é de plena alegria para os
crentes, assim também tem um aspecto de ira para os incrédulos, o qual
se representa aqui. Assim que porquanto os judeus não O receberam em
Sua vinda de graça, Ele veio em juízo sobre Jerusalém. Prodígios físicos,
massacre, e conflagrações, precederam sua destruição (Josefo, Guerras
Judaicas). A estas coisas pode ser que aluda a linguagem aqui; mas as
figuras principalmente simbolizam revoluções políticas e mudanças dos
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 19
governantes do mundo, prognosticados por desastres prévios (Am_8:9;
Mt_24:29; Luc_21:25-27), e convulsões tais como as que precederam a
derrocada política dos judeus. Algo semelhante provavelmente ocorrerá
em grau mais espantoso antes da destruição final do mundo ímpio (“o
grande e terrível dia do Senhor”, Ml_4:5), do qual a destruição de
Jerusalém é o tipo e a garantia.
32. todo aquele que invocar o nome do SENHOR — Aplicado a
Jesus em Rm_10:13 (veja-se At_9:14; 1Co_1:2). Portanto, Jesus é Jeová;
e a frase significa: “invocar o Messias em seus atributos divinos.”
será salvo — como o foram os cristãos justamente antes da
destruição de Jerusalém, por retirar-se a Pela, advertidos pelo salvador
(Mt_24:16); um tipo da salvação espiritual de todos os crentes, e da
última salvação do eleito “remanescente” de Israel, do assalto final do
Anticristo. “Em Sião e em Jerusalém” apareceu primeiro o Salvador, e
ali aparecerá outra vez como o Libertador (Zc_14:1-5).
como o SENHOR prometeu — Joel aqui se refere, não aos outros
profetas, mas sim a suas próprias palavras anteriores.
chamar — metáfora do convite a uma festa, a qual é um ato de
pura bondade (Luc_14:16). Do mesmo modo, o remanescente chamado e
salvo está de acordo com a eleição de graça, e não por méritos, poder
nem esforços do homem (Rm_11:5).
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 20
Joel 3

Vv. 1-32. A Vingança de Deus Sobre os Inimigos de Israel no Vale


de Josafá. Sua Bênção Sobre a Igreja.
1. removerei o cativeiro (RC) — isto é, revogá-lo, ou anulá-lo. Os
judeus limitam isto ao retorno de Babilônia. Os cristãos fazem-no referir-
se à vinda de Cristo. Mas o profeta compreende toda a redenção,
começando da volta de Babilônia, e continuando então da primeira vinda
de Cristo, e seguindo até o último dia (Sua segunda vinda), quando Deus
restaurará Sua igreja à felicidade perfeita. (Calvino).
2. Paralelo a Zc_14:2-4, onde o “Monte das Olivas” corresponde ao
“vale de Josafá” aqui. Este se chama “o vale de bênção” (Beraca)
(2Cr_20:26). Está situado entre Jerusalém e o Monte das Olivas, e corre
por ele o arroio Cedrom. Como Josafá venceu os inimigos confederados
de Judá, ou seja, Amom, Moabe, etc., (Sl_83:6-8) neste vale, assim Deus
devia derrubar os tírios, sidônios, filisteus, Edom, e Egito, em similar
desmoronamento total (vv. 4, 19). Não faz muito que isto se cumpriu;
mas o evento final é futuro, quando Deus intervirá de maneira especial
para destruir os últimos inimigos de Jerusalém, dos quais são tipos Tiro,
Sidom, Egito e Filístia. Como “Josafá” significa “o juízo de Jeová,” “o
vale de Josafá” pode ser usado como termo geral pelo cenário dos juízos
finais de Deus sobre os inimigos de Israel, com uma alusão ao juízo que
foi infligido por Josafá. A menção definida do Monte das Olivas em
Zc_14:3, e o fato de que este foi o cenário da ascensão, fazem com que
seja o provável cenário da segunda vinda de Cristo: Veja-se “Esse Jesus
que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir”
(At_1:11).
todas as nações — ou seja, as que maltrataram a Judá.
entrarei em juízo contra elas — (Is_66:16; Ez_38:22.)
da minha herança, Israel — (Dt_32:9; Jr_10:16). Indica que a
fonte da redenção de Judá é o amor e a graça de Deus, nos quais
escolheu a Israel como sua herança peculiar; e ao mesmo tempo lhes
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 21
assegura que, quando estivessem abatidos pelas provas, defenderia a
causa deles, como sua própria causa, assim como ele teria sido
prejudicado na pessoa deles.
3. Lançaram sortes sobre o meu povo — assim repartiram entre si
por sortes a Meu povo como cativos deles (Ob_1:11; Na_3:10).
deram meninos por meretrizes — em vez de pagar à meretriz por
sua prostituição em dinheiro, davam-lhe como escravo a um rapaz judeu
cativo.
venderam meninas por vinho — tão sem valor estimavam a uma
menina judia que a vendiam por um gole de vinho.
4. Que tendes vós comigo ...? — Vós não tendes relação comigo
(isto é, com Meu povo: assim se identifica Deus com Israel); Eu (quer
dizer, Meu povo) não lhes dei causa alguma de disputa, por que pois Me
perturbais (isto é, a meu povo)? Veja-se a mesma frase, Js_22:24;
Jz_11:12; 2Sm_16:10; Mt_8:29.
Tiro … Sidom … Filístia — (Am_1:6, Am_1:9.)
que quereis contra mim? — por ofensas imaginadas (Ez_25:15-
17); Eu lhes recompensarei em sua própria moeda, e isso rápida e
amplamente.
5. minha prata … meu ouro — isto é, o ouro e a prata de Meu
povo. Os filisteus e os árabes levaram todos os tesouros da casa do rei
Jeorão (2Cr_21:16-17). Veja-se também 1Rs_15:18; 2Rs_12:18;
2Rs_14:14, sobre o saque dos tesouros do templo e do palácio do rei de
Judá, por Síria. Era costume entre os pagãos pendurar nos templos de
seus ídolos, parte do despojo de guerra como presente a seus deuses.
6. gregos — lit., javanitas, quer dizer, os jônios, uma colônia grega
sobre a costa da Ásia Menor, os quais eram os primeiros gregos
conhecidos pelos judeus. Os próprios gregos, entretanto, em sua
descendência original provêm de Javã (Gn_10:2, Gn_10:4).
Provavelmente o germe da civilização grega veio em parte por meio dos
judeus escravos levados à Grécia desde a Fenícia pelos traficantes.
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 22
Ez_27:13 menciona a Javã como aqueles que comercializavam com as
pessoas.
dos seus limites — longe de Judeia; de modo que os cativos judeus
perdessem toda esperança de retorno.
7. eu os suscitarei — isto é, os levantarei. Nem o mar nem a
distância me impedirá de trazê-los de volta. Alexandre, e seus sucessores
restauraram à liberdade muitos judeus cativos na Grécia (Josefo 13:5;
Guerras Judaicas 3:9, 2).
8. os venderão aos de Seba — os persas Artaxerxes Mnemon e
Dario Ochus, e principalmente Alexandre Magno, reduziram o poder dos
fenícios e filisteus. Trinta mil tírios, depois da captura de Tiro pelo
último conquistador, e multidões dos filisteus na tomada de Gaza, foram
vendidos como escravos. Aqui se diz que os judeus fazem o que o Deus
de Judá faz em vindicação de sua ofensa, ou seja: vendem aos fenícios,
que os venderam a um povo “longínquo,” como o estava a Grécia, para
onde os judeus foram vendidos. Refere-se aos sabeus, que ocupavam o
mais longínquo extremo da Arábia Feliz (Veja-se Jr_6:20; Mt_12:42).
9. As nações hostis a Israel são convocadas por Jeová a “subir”
(porquanto Jerusalém estava sobre uma colina) contra Jerusalém, não
para destruí-la, senão para ser destruídas pelo Senhor (Ez_38:7-23;
Zc_12:2-9; Zc_14:2-3).
Proclamai isso entre as nações — lit., santificai guerra: porque os
pagãos sempre começavam as guerras com cerimônias religiosas. A
mesma frase usada nos preparativos de Babilônia contra Jerusalém
(Jr_6:4), usa-se agora a respeito dos últimos inimigos de Jerusalém.
Como Deus quis então que Babilônia avançasse contra ela para sua
própria destruição, assim também agora deseja que todos os inimigos
dela, dos quais Babilônia era o tipo, avancem contra ela para sua própria
destruição.
10. Forjai espadas das vossas enxadas — Como se deseja que os
inimigos forjem “as relhas de arado em espadas e suas foices em
lanças,” de modo que pereçam o iníquo ataque contra Judá e Jerusalém,
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 23
assim em forma inversa, estes e as nações por eles convertidas a Deus,
depois da derrota da confederação anticristã, “converterão as suas
espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices” (Is_2:4;
Os_2:18; Mq_4:3).
diga o fraco: Eu sou forte — tão universal será a fúria dos
inimigos de Israel para invadi-lo, que até os fracos dentre eles se crerão
fortes o bastante para participar com as forças invasoras. A idade e a
doença usualmente eram desculpas válidas para a isenção do serviço
militar, mas tão louca será a fúria do mundo contra o povo de Deus, que
até os doentes não desejarão ser excetuados de prestar serviço (veja-se
Sl_2:1-3).
11. Apressai-vos — (Maurer).
ali — no vale de Josafá.
os teus valentes — os guerreiros, que se imaginam muito
“valentes,” mas que naquele mesmo lugar devem ser derrotados por
Jeová. (Maurer). Veja-se “os valentes,” v. 9. Antes, Joel fala dos
verdadeiros “valentes” de Deus em contraste com os que a si mesmos se
intitulam “valentes” (v. 9; Sl_103:20; Is_13:3; veja-se Dn_10:13).
Auberlen observa: Um profeta suplementa o outro, porque todos eles
profetizavam só “em parte.” O que era obscuro a um era revelado ao
outro; o que é brevemente descrito por um, é-o em forma mais ampla
pelo outro. Daniel chama anticristo a um rei, e se espraia sobre suas
conquistas mundiais; João contempla mais a tirania espiritual daquele,
pelo qual acrescenta uma segunda besta, que usa a aparência da
espiritualidade. O anticristo em si é descrito por Daniel. Isaías (cap. 29),
Joel (cap.) e Zacarias (caps. 12, 13 e 14), descrevem o exército de seus
seguidores que sobem contra Jerusalém, mas não o anticristo em si.
12. Veja-se o v. 2.
julgar todas as nações em redor — quer dizer, todas as nações de
todas partes da terra que maltrataram a Israel, não meramente, como
supõe Henderson, as nações ao redor de Jerusalém (veja-se Sl_110:6;
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 24
Is_2:4; Mq_4:3, Mq_4:11-12, Mq_4:13; Sf_3:15-19; Zc_12:9; Zc_14:3-
11; Ml_4:1-3).
13. Orientação aos ministros de vingança para executar a ira de
Deus, porquanto a iniquidade do inimigo chegou à sua plena maturidade.
Deus não tira o iníquo imediatamente, mas sim espera até que seu
pecado chega a seu cúmulo (assim quanto à iniquidade dos amorreus,
Gn_15:16), para manifestar Sua própria longanimidade e a justiça da
condenação daqueles que tanto abusaram de Sua paciência (Mt_13:27-
30, Mt_13:38, 40; Ap_14:15-19). Sobre a figura da ceifa e a colheita,
veja-se Jr_51:33; e do lagar, Is_63:3; Lm_1:15.
14. O profeta vendo em visão a formação de nações que se
congregam, exclama: “Multidões, multidões,” que é um hebraísmo por
“muitos povos,” ou multidões.
vale da Decisão — quer dizer, o vale no qual eles vão encontrar sua
predeterminada condenação. É o mesmo que o “vale de Josafá,” ou seja,
“o vale de juízo” (Nota, v. 2). Veja-se o v. 12: “ali me assentarei para
julgar,” o qual confirma a Versão Inglesa, em oposição à lição marginal
de “debulhar.” A repetição de “vale da decisão” realça o efeito, e
pronuncia a terrível certeza da destruição deles.
15. (Notas 2:10, 31.)
16. (Veja-se Ez_38:18-22). As vitórias dos judeus sobre seu cruel
inimigo Antíoco, sob os macabeus, podem ser uma referência desta
profecia; mas a referência fundamental é ao último anticristo do qual
Antíoco era o tipo. Sendo Jerusalém o assento central da teocracia
(Sl_132:13), é dali que Jeová perturbará o inimigo.
brama — “rugirá,” como um leão (Jr_25:30; Am_1:2; Am_3:8).
Veja-se quanto ao trovejar da voz de Jeová. Sl_18:13; Hc_3:10-11.
o SENHOR será o refúgio do seu povo — (Sl_46:1).
17. Sabereis — experimentalmente, pelas provas de favores que
lhes concederei. Assim “conhecerás” (Is_60:16).
que habito em Sião — de modo peculiar como vosso Deus.
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 25
santa … estranhos não passarão mais por ela — para atacar, nem
para profanar a cidade Santa (Is_35:8; Is_52:1; Zc_14:21). Virão a
Jerusalém estrangeiros, ou seja, gentios, mas com o fim de nela adorar a
Jeová (Zc_14:16).
18. os montes destilarão mosto — figura da abundância de vidas,
as quais cultivavam em terraplenagens entre as rochas nos lados das
montanhas da Palestina (Am_9:13).
os outeiros manarão leite — isto é, abundarão em emanadas e
rebanhos que produzirão leite em abundância, graças à riqueza de seus
pastos.
águas — o grande desiderato para a fertilidade no este abrasador
(Is_30:25).
rios de Judá … regará o vale de Sitim — as bênçãos, temporais e
espirituais, que sairão da casa de Jeová em Jerusalém, se estenderão até a
Sitim, sobre a fronteira entre Moabe e Israel, para além do Jordão
(Nm_25:1; Nm_33:49; Js_2:1; Mq_6:5). Sitim significa acácias, árvore
que cresce somente em regiões áridas; o que significa que até o árido
deserto será fertilizado pela bênção procedente de Jerusalém. Assim
Ez_47:1-12 descreve as águas que saem do umbral da casa que correm
para o Mar Morto e o purificam. Deste modo em Zc_14:8, as águas
fluem de um lado para o Mediterrâneo e do outro para o Mar Morto,
perto do qual estava o vale de Sitim (Veja-se Sl_46:4; Ap_22:1).
19. Edom — este foi subjugado por Davi, mas se rebelou no
reinado de Jeorão (2Cr_21:8-10); e em toda oportunidade subsequente
tratou de prejudicar e ofender a Judá. O Egito sob Sisaque, despojou a
Jerusalém sob Roboão, dos tesouros do templo e da casa do rei; e
subsequentemente ao cativeiro, o Egito sob os Ptolomeus infligiu vários
prejuízos a Judeia. Antíoco despojou o Egito (Dn_11:40-43). Edom foi
feito “desolado” sob os Macabeus (Josefo, Antiguidades, 12.11, 12). A
condição ruim destes dois países durante anos, comprova a verdade da
predição (veja-se Is_19:1, etc. Jr_49:17; Ob_1:10). O mesmo ocorrerá a
todos os inimigos de Israel, tipificados por estes dois (Is_63:1, etc.).
Joel (Jamieson-Fausset-Brown) 26
20. Judá, porém, será habitada para sempre — (Am_9:15), isto
é, será estabelecido como estado florescente.
21. Eu expiarei o sangue dos que não foram expiados — Tirarei
de Judá sua enorme culpa representada pelo sangue derramado, como o
cúmulo de seu pecado (Is_1:15), o qual por longo tempo esteve sem
expurgar, e portanto visitada com juízos (Is_4:4). O Messias salva da
culpa, para salvar também do castigo (Mt_1:21).

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