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2002

Independência e Credibilidade
Independência Credibilidade
Carta ao Leitor

N
asci numa família numerosa e humilde. Éramos 15. Her- bilismo, imóveis e os assuntos da vida no interior do Estado -, sendo
damos dos nossos pais, Walter Antônio Couto Bomfim, o CINFORM o único jornal a ter um caderno exclusivamente para
já ausente, e dona Hosana Moura Bomfim, viva e forte, a os Municípios. Enfim, oferecemos um leque daquilo que os leitores
dedicação ao trabalho, à ordem e à construção de ideais de justiça e esperam de um bom jornal.
de dignidade. Apesar da origem simples, temos procurado fazer, Aliás, foi pelas páginas do CINFORM Municípios que nasceu e
cada um ao seu modo, o melhor por Sergipe. circulou o que os leitores têm agora em mãos nesta Revista dos
Ainda moço descobri na comunicação uma área interessante. Foi Municípios: a história política, econômica e cultural das 75 cidades
uma espécie de amor à primeira vista. Fui contato publicitário nos que compõem este pequeno e bravo Estado. A série teve início no
tempos pioneiros da TV Sergipe, fundei uma agência de publicidade dia 26 de junho de 2000 e se encerrou em 25 de dezembro de 2001,
com o apoio incondicional do amigo Francisco Pimentel Franco, ininterruptamente. No começo, feita pelo jornalista Cristian Góes,
então diretor comercial do Canal 4; tive revista com enfoque rural e com sua saída da empresa a História dos Municípios teve continui-
há quase 20 anos, com a graça de Deus, da sociedade sergipana, de dade com a dedicação das jornalistas Edivânia Freire (a quem coube
minha esposa Edna Lima Bonfim e de companheiros de trabalho que fazer a recopilação para a edição em Revista), Carla Passos e Valnísia
somaram e somam comigo, empreendo o semanário CINFORM. Mangueira, sempre com o suporte dos repórteres-fotográficos Dió-
Ou melhor, empreendemos - eu, estas forças a que me refiro acima, genes Di, Manoel Ferreira, Edson Araújo e Sílvio Rocha.
e mais recentemente, com a mão nova, qualificada e promissora do Desde o princípio havia o compromisso de juntar tudo da História
meu primogênito, Adriano Bonfim. dos Municípios numa publicação única, luxuosa, caprichada, para
Empreendemos o CINFORM com os olhos voltados para as ne- garantir-lhe um grau de perenidade, bem à altura do significado do
cessidades e os interesses sergipanos - e o fazemos quase com a trabalho que durou 75 semanas.
mesma dedicação e dificuldade com que nosso querido Walter An- A História dos Municípios começou e encerrou com a expressiva
tônio Couto Bomfim, um modesto funcionário público, nos criou e aprovação dos sergipanos. Professores, alunos, pesquisadores, políti-
nos preparou para a vida. cos e a comunidade em geral sempre buscaram o jornal para rever
Desde o primeiro momento, quando seus fundadores plantaram a dados dos municípios que a série trazia. Dados às vezes de conheci-
semente do que é hoje ‘o semanário dos sergipanos’, vi no CIN- mento restrito de alguns historiadores, mas em muitas vezes jamais
FORM - e agora vejo muito mais - um canal de comunicação através apontados num texto, numa matéria jornalística.
do qual eu tentaria, e tenho conseguido, fazer valer o sonho da De modo que o CINFORM, neste mês de junho de 2002, quando
afirmação do melhor traço de sergipanidade. Daí este veículo, que chega à histórica cifra de mil edições, publica esta Revista com muita
atende hoje a uma demanda muito grande no setor publicitário, com alegria, como demonstração do compromisso deste jornal para com
o maior índice proporcional de classificados do Brasil. Um veículo a vida sergipana - são 35 mil exemplares, editada com o melhor que
que procuro fazer destemido, livre, ‘independente e de credibilidade’ há na indústria gráfica brasileira. Não se trata de um produto com a
no trato da notícia. Não é por acaso que 90% da cobertura jornalís- finalidade de ‘faturar’, com fins lucrativos.
tica do CINFORM prendem-se a fatos da vida sergipana. Somos um Trata-se de uma iniciativa de carinho para com os conterrâneos.
tambor que insiste em ressoar os sons e tons desta terra. De carinho e de retribuição ao modo como nestes 20 anos, a serem
Todos sabem que esta não tem sido uma missão fácil. Já vivemos comemorados no dia 2 de dezembro, sergipanos da capital e dos
no passado, e ainda vivemos no presente, momentos de incompreen- demais 74 municípios nos acolheram como um veículo de comuni-
são, de intolerância da parte dos que às vezes não compreendem o cação decisivo. Carinho e atenção que queremos ver partilhados com
verdadeiro papel de um veículo de comunicação - que é o de infor- os parceiros deste empreendimento, que puseram as assinaturas de
mar zelando pelo bem comum, geralmente abusado e vilipendiado. suas empresas nesta Revista.
Mas, como referi-me antes, temos Deus do nosso lado e a boa Gostaria de dizer, finalmente, que nossos projetos apontam para
vontade da maioria do povo sergipano. E assim vamos tocando a horizontes cada vez de mais compromissos. Queremos, com a graça
vida, marchando em frente. Temos hoje uma tiragem média de 20 de Deus, nos dedicar exaustivamente para que possamos atender a
mil exemplares e sete cadernos nos quais atendemos às demandas toda a expectativa que os sergipanos têm do CINFORM. Daremos
mais básicas dos sergipanos - nas áreas de cultura, entretenimento, o melhor de nós para que este sonho seja sonhado e realizado conjun-
esporte, economia, política, polícia, segurança, urbanismo, automo- tamente.

Muito obrigado, e boa leitura.

Uma revista repleta


de história, de carinho
e de retribuição
JOSÉ ANTÔNIO MOURA BONFIM
Superintendente do CINFORM
Apresentação ....................................................................................... 6
Amparo do São Francisco ..................................................................... 12
Aquidabã ......................................................................................... 16
Aracaju ............................................................................................ 20
Arauá .............................................................................................. 24
Areia Branca .................................................................................... 27
Barra dos Coqueiros ........................................................................... 30
Boquim ............................................................................................ 34
Brejo Grande .................................................................................... 37
Campo do Brito.................................................................................. 40
Canhoba ........................................................................................... 44
Canindé do São Francisco .................................................................... 47
Capela ............................................................................................. 50
Carira .............................................................................................. 54
Carmópolis ........................................................................................ 57
Cedro de São João ............................................................................... 60
Cristinápolis ...................................................................................... 64
Cumbe .............................................................................................. 68
Divina Pastora .................................................................................. 71
Estância ........................................................................................... 74
Feira Nova ....................................................................................... 78
Frei Paulo ......................................................................................... 81
Gararu ............................................................................................ 84
General Maynard .............................................................................. 88
Graccho Cardoso................................................................................. 91
Ilha das Flores................................................................................... 94
Indiaroba .......................................................................................... 98
Itabaiana ....................................................................................... 102
Itabaianinha ................................................................................... 104
Itabi............................................................................................... 108
Itaporanga d’Ajuda ......................................................................... 112
Japaratuba ...................................................................................... 115
Japoatã ........................................................................................... 118
Lagarto .......................................................................................... 122
Laranjeiras ..................................................................................... 126
Macambira ..................................................................................... 130
Malhada dos Bois ............................................................................ 134
Malhador ....................................................................................... 138
Maruim ......................................................................................... 141
Moita Bonita .................................................................................. 144
Monte Alegre .................................................................................. 148
Muribeca ........................................................................................ 151
Neópolis .......................................................................................... 154
Nossa Senhora Aparecida .................................................................. 158
Nossa Senhora da Glória ................................................................... 161
Nossa Senhora das Dores ................................................................... 164
SUMÁRIO
Nossa Senhora de Lourdes.................................................................. 168
Nossa Senhora do Socorro ................................................................... 172
Pacatuba ......................................................................................... 175
Pedra Mole ..................................................................................... 178
Pedrinhas ....................................................................................... 182
Pinhão ........................................................................................... 185
Pirambu ......................................................................................... 188
Poço Redondo ................................................................................... 192
Poço Verde ....................................................................................... 196
Porto da Folha ................................................................................. 199
Propriá ........................................................................................... 202
Riachão do Dantas ........................................................................... 206
Riachuelo ........................................................................................ 209
Ribeirópolis ..................................................................................... 212
Rosário do Catete.............................................................................. 216
Salgado .......................................................................................... 220
Santa Luzia do Itanhi ...................................................................... 223
Santana do São Francisco .................................................................. 226
Santa Rosa de Lima ......................................................................... 230
Santo Amaro das Brotas ................................................................... 233
São Cristóvão ................................................................................... 236
São Domingos .................................................................................. 240
São Francisco ................................................................................... 244
São Miguel do Aleixo ....................................................................... 248
Simão Dias ..................................................................................... 251
Siriri .............................................................................................. 254
Telha ............................................................................................. 258
Tobias Barreto ................................................................................. 262
Tomar do Geru ................................................................................ 266
Umbaúba ....................................................................................... 270

CAPA: Equipe MKT/CINFORM


sobre foto de Diógenes Di

Igreja Matriz de Santo Amaro das Brotas


Reunião
das coisas de
Sergipe
VERA LÚCIA ALVES FRANÇA

A
o longo de sua trajetória
histórica, o Estado de Sergipe
tem sido alvo de estudos por
parte de pesquisadores que se
debruçaram sobre documentos na
busca de explicação para eventos que
contribuíram para a formação do seu
território e da sua gente.
Dentre estes estudiosos não se pode
esquecer de Felisbello Freire, que es-
creveu História de Sergipe, e Felte Be-
zerra, que se preocupou em estudar a
formação da população sergipana,
através do seu livro Etnias Sergipanas.
A professora Maria Thétis Nunes,
grande historiadora, através de suas
publicações vem resgatando as fases
colonial e provincial, enquanto Ibarê
Dantas se dedica a retratar as questões
políticas.
A história pol¡tica recente também ‚
tratada pelo professor Ariosvaldo
Figueiredo. Incorporando-se aos ante-
riores, Josué Modesto dos Passos
Subrinho vem contribuindo para a
história econômica estadual.
Não podemos esquecer o papel do
Departamento de História da Universi-
dade Federal de Sergipe, que através
de seus professores tem tratado de
temas sergipanos com profundidade e
exatidão. Dentre esses professores

CINFORM 6
destacam-se Maria da Glória Almeida,
Maria Nele Santos, Lenalda Andrade
Santos, Diana Leal Diniz e Terezinha
Alves Oliva, que publicaram diversos
estudos, inclusive textos didáticos.
Mas, de fato, quem primeiro se preo-
cupou em sistematizar informações
sobre os municípios sergipanos foi
Clodomir Silva, que escreveu o álbum
de Sergipe, em 1920, obra comemora-
tiva ao primeiro centenário da Indepen-
dência do Estado.
Esta obra riquíssima é, até hoje, refe-
rência importante para o conhecimento
de Sergipe até o início do século XX,
contendo informações sobre as condi-
ções ambientais, sociais, econômicas e
culturais para cada um dos 34
municípios existentes na época.
Posteriormente, coube a João Oliva
Alves dar continuidade àquele trabalho,
com a elaboração de monografias
sobre os municípios dentro da Enciclo-
pédia dos Municípios Brasileiros, edita-
da em 1955 pelo IBGE e, recentemente,
reeditada em CD-ROM.
Ainda na década de 70, José Alexan-
dre Felizola Diniz coordenou os estu-
dos Organização Espacial do Estado
de Sergipe e Atlas de Sergipe, muito
utilizados por técnicos e planejadores.
Seguindo as pegadas do pai, a pro-
fessora Terezinha Alves Oliva coorde-
nou, em 1998, no Departamento de
História da Universidade Federal de
Sergipe, a pesquisa Levantamento de
Fontes Históricas sobre os Municípios
Sergipanos, formando um banco de
dados dentro das atividades do Depar-
tamento de Patrimônio Histórico.
Em 1996, no Núcleo de Pós-Gradua-
ção em Geografia da Universidade
Federal de Sergipe, os professores
José Alexandre Felizola Diniz e Vera
Lúcia Alves França coordenaram o
projeto Atlas Sócio-econômico de
Sergipe, primeiro Atlas digital do Brasil.
Este software contém 275 cartogramas
tratando de temas sócio-econômicos,
como população, economia, educa-
ção, saúde, infra-estrutura, situação
eleitoral, organização urbana regional e,
por último, traz informações para os 74
municípios.
Deste trabalho ainda resultou um

CINFORM 7
banco de dados com cerca de 800 CINFORM: a popularização do conhe-
variáveis para cada um dos municípios cimento, numa época em que as pes-
sergipanos, com informações a partir soas estão sendo bombardeadas por
dos anos 70 até 1996. informações de áreas distantes, sobre-
Além disso, é importante lembrar as tudo através da mídia televisiva, en-
inúmeras teses de doutorado, disserta- quanto as locais são postas em segun-
ções de mestrado e monografias que do plano. Percebe-se que mais de 90%
versam sobre temas e municípios de todo o noticiário do semanário é de
sergipanos. O professor Sylvio Bandei- origem genuinamente sergipana.
ra de Mello e Silva, da UFBA, costuma As informações contidas nesta revis-
brincar ao dizer que Sergipe é o Estado ta são resultantes de um trabalho publi-
do Brasil mais estudado por quilômetro cado, semanalmente, desde junho de
quadrado, tendo em vista o vasto nú- 2000 pelo CIMFORM, através do seu
mero de estudos realizados sobre os Caderno de Municípios, e produzido
mais diferentes temas e lugares. por quatro jornalistas encarregados da
De fato, há um grande volume de elaboração das matérias.
estudos científicos, gerando conheci- A Cristian Góes coube a tarefa de
mento que, infelizmente, nem sempre produzir reportagens sobre 28
está ao alcance de todos, em função municípios, e Edivânia Freire, na ausên-
das dificuldades encontradas pelos cia dele do CINFORM, se responsabili-
pesquisadores para publicação e divul- zou por mais 26. Carla Passos elabo-
gação. Há algum tempo já é sentida a rou 14 e, finalmente, Valnísia Mangueira
ausência de um programa editorial se encarregou de sete. Além do esfor-
voltado para apoiar pesquisadores, ço pessoal deles, outras pessoas tam-
ação que poderia ser encampada pelas bém contribuíram para a consecução
Secretarias de Cultura e de Planejamen- dos objetivos, inclusive moradores
to, Ciência e Tecnologia. antigos e estudiosos, resultando num
Agora, o Jornal CINFORM entrega à trabalho consistente e bem apresenta-
comunidade esta revista, que resgata, do que neste momento é entregue à
de forma sucinta e objetiva, um pouco comunidade.
da vida de nossos municípios, desta- O que os sergipanos têm em mãos
cando singularidades e personagens agrupado nesta Revista ‚ o resultado
que tornam cada um deles lugar espe- de um jornalismo sério, voltado para a
cial para os que lá nasceram viveram valorização das questões locais e para
ou vivem. Os textos estão acompanha- o resgate de personalidades que se
dos de fotografias que enriquecem e destacaram em diversos setores da
complementam as informações aqui vida daqueles lugares.
presentes. Um trabalho dessa natureza, de in-
Portanto, é uma contribuição para o tensa busca, exige determinação por
conhecimento da comunidade que, parte daqueles que se envolvem no
muitas vezes, tem dificuldades de en- empreendimento. De fato, foi o que se
contrar as informações que estão dis- constatou ao longo dos quase dois
persas em acervos, arquivos, bibliote- anos em que a série foi produzida e
cas e museus, nem sempre ao alcance publicada. Profissionais competentes e
daqueles que vivem em áreas mais dedicados, aliados a um veículo respei-
distantes. tado, se empenharam para oferecer à
O CINFORM, ao longo dos seus 20 sociedade um conjunto de informações
anos e sobretudo a partir da existência que resgata um pouco de nossa terra e
do Caderno Municípios, vem contribu- de nossa gente. Portanto, esta revista ‚
indo para a divulgação de notícias lo- alvo de regozijo para todos
cais, destacando-se questões econô- sergipanos.
micas, sociais e políticas, informando à
população o que ocorre nos VERA LÚCIA ALVES FRANÇA ‚ doutora em Geografia e
municípios. professora adjunto do Departamento de Geografia da Univer-
Aliás, esse é o grande mérito do sidade Federal de Sergipe.

CINFORM 8
Amparo
recebeu nome num casamento

Terra de Maria Feliciana,


a mulher mais alta
do país, também
foi invadida por
bando de Lampião

inda no Império, nas terras que pri-

A mitivamente circundavam a povo


ação de Urubu de Baixo, hoje Pro-
priá, existiam inúmeras propriedades agrí-
colas, sendo a de Campinhos uma das mais
importantes. O proprietário era o capitão Igreja Nossa Senhora do Amparo: mesmo local da capelinha
Antônio Rodrigues da Costa Dória, um dos
membros eleitos para compor a primeira emigrou para vizinhanças de sua proprie- Cruz Freire sentiu-se mal e foi levado pe-
Comarca de Propriá. dade. Grande parte dos seus descendentes los populares até sua residência, onde logo
Por volta de 1855, tendo se desentendi- habitou por várias gerações as terras de depois morreu.
do com sua mãe, depois da morte do seu Amparo do São Francisco, dedicando-se aos Após sua morte, seus filhos, com apro-
pai, Francisco José da Cruz - que era dono mesmos afazeres dos antepassados. vação dos moradores, resolveram sepultá-
do Engenho Feiticeira, nas proximidades de Foi justamente no dia do casamento de lo na mesma igreja que ele mandara cons-
Jaboatão de Sergipe, hoje Japoatã -, João João da Cruz Freire que, sendo perguntado truir.
da Cruz Freire recebeu da mãe o quinhão, pelo nome da sua propriedade, respondeu
em dinheiro, que lhe cabia por herança, com que até aquele instante não tinha pensado Emancipação
o qual adquiriu parte da fazenda Campi- no nome, mas daquele momento em dian-
nhos. Ele construiu a primeira casa de mo- te ela se chamaria Amparo, acrescentando Em 1937, Amparo passou a fazer parte
rada, justamente no ponto onde melhor se que, como havia previsto, fizera daquelas do município de Canhoba, criado pelo de-
avistava a torre da igreja de São Brás, loca- terras o seu “amparo”. Nesse mesmo dia, creto-lei estadual nº 17, de 23 de dezem-
lidade fronteiriça do Estado de Alagoas de João da Cruz Freire foi agraciado com a bro, situação em que permaneceu durante
onde se via o Rio São Francisco. patente de Capitão da Guarda Nacional. quase dez anos. Mas em 6 de julho de 1947,
Com o passar do tempo, foram che- Posteriormente, construiu uma igreja voltou à jurisdição de Propriá em virtude
gando algumas famílias, que decidiram cons- sob a invocação de Nossa Senhora do Am- do estabelecido no artigo 9º do Ato das
truir suas casas às margens do Riacho Ja- paro e fez a doação da área de terras neces- Disposições Constitucionais de Sergipe.
guaribe, entre a Lagoa Salgada e o local sárias à constituição do encapelado (vide Em 1953, o povoado havia atingido as
onde hoje funciona a Fazenda Jaguaribe. box). Nasceu, assim, a povoação de Am- condições mínimas exigidas para ser eman-
paro, encravada nas terras pertencentes ao cipado, pelo que se empenhou vivamente o
Surge o nome da cidade município de Propriá. senhor Epaminondas Freire, neto de João
Várias famílias continuaram chegan- da Cruz Freire, político militante na povo-
Depois de oito anos dedicados à lavra do a Amparo no final do século 19. Nesse ação. O deputado estadual Martins Dias
da terra e ao criatório de gado, João da período, as pessoas mais proeminentes da Guimarães incluiu Amparo na emenda co-
Cruz Freire casou-se com dona Francisca comunidade costumavam assistir às mis- letiva, transformando o povoado em cida-
Senhorinha, descendente de uma família sas de uma tribuna, situada sobre o coro de através da Lei nº 252-A, de 25 de no-
portuguesa que, por motivos políticos, da igreja. Numa dessas ocasiões, João da vembro de 1953, com a denominação de

CINFORM 12
Antônio Freire de Souza: bisneto do
fundador

Região - Leste (Baixo São Francisco)


Distância de Aracaju - 116 km
População - 2.181
Atividades econômicas - piscicultura, pecuária
e agricultura (milho, feijão e mandioca)

levantaram um cruzeiro de madeira.


Na inauguração da igreja, João da Cruz
Freire resolveu batizar a imagem com o
nome de Nossa Senhora do Amparo, por
ter ela sido encontrada dentro de sua fazen-
da denominada Amparo. A referida igreja
permanece até hoje como matriz de Nossa
Igreja de São José e fachada da casa do primeiro prefeito Senhora do Amparo.

Amparo de São Francisco, desmembrado nicipal e é termo judiciário.


de Propriá. Bando de Lampião promove
Mas as coisas não transcorreram tão A capelinha e a primeira imagem rapto e seqüestro
facilmente. Eleito por Propriá, Martins Dias em Amparo
Guimarães, que tinha em Amparo seu co- Um dos primeiros moradores de Am-
légio eleitoral, viu-se num dilema. À medi- paro, ao andar pela mata virgem existente Dez componentes do bando de Lam-
da em que o povoado crescia, Epaminon- na região, deparou-se com uma capelinha pião invadiram Amparo no ano de 1937.
das Freire, que encabeçava a luta em prol coberta de ramagens de melão. O homem, Segundo os moradores mais idosos que lem-
da emancipação política do povoado, pres- curioso, passou a retirar a ramagem, quan- bram da história, os bandidos - oito ho-
sionava o deputado para que ele tomasse do viu dentro da capelinha a imagem de mens e duas mulheres - chegaram à cidade
uma posição a favor da emancipação. uma santa. Surpreendido, o jovem partiu de surpresa, durante a madrugada. O povo
Inicialmente o deputado se manifesta- correndo e foi dar a notícia às pessoas que entrou em pânico, muita gente fugiu da
va contra a separação, porque contrariava residiam no arraial, as quais partiram com cidade e se meteu nos arrozais que ficavam
os interesses de Propriá. No decorrer do ele em busca da capelinha. na beira do rio.
tempo, porém, Martins Guimarães resol- Quando lá chegaram, constataram toda Conforme relatam, entre os componen-
veu compartilhar com Epaminondas Freire a verdade. Entre as pessoas que foram ver a tes do grupo que tomou a cidade estavam
a luta pela emancipação. O município é capela de perto estava João da Cruz Freire Volta Seca, Boca Preta, Canário e Pancada.
instalado solenemente pelo Juiz de Direito que, após a descoberta, anunciou a doação “Os cangaceiros chegaram aqui empurran-
da Comarca de Propriá em 6 de fevereiro de uma área de terra de sua propriedade, do as pessoas e exigindo dinheiro de quem
de 1955, ato em que tomam posse cinco para que todos pudessem construir livre- tinha e de quem não tinha”, relembra Es-
membros da Câmara de Vereadores e o pre- mente suas casas. meralda Oliveira.
feito Leonel Vieira da Silva, eleito em 3 de Além disso, em decorrência do en- Depois de informar-se sobre as pessoas
outubro de 1954. tusiasmo da descoberta, João da Cruz importantes da cidade, os cangaceiros fo-
Pela Lei nº 554, de 6 de fevereiro de Freire, de imediato, mandou construir ram à propriedade de Franklin Freire, filho
1954, que fixa a nova Divisão Administra- uma igreja no mesmo local da capeli- de João da Cruz Freire. “Eles o pressiona-
tiva e Judiciária do Estado para o quinquê- nha, cuja construção de pedra e cal re- ram para que ele desse dinheiro, e ele disse
nio 1954-1958, Amparo do São Francisco siste até hoje. Em frente ao prédio, a que não tinha. Então mandaram um porta-
se compõe de um único distrito, sede mu- pouco mais de dez metros, os cidadãos dor para Jundiay, a fazenda do senhor Ercí-

CINFORM 13
Piscicultura: nova fonte de renda do município

lio Brito, que é hoje de João Alves Filho, Homenagem a Amparo


para pegar dinheiro. Como os bandidos já do São Francisco
estavam de saída, disseram que o velho iria
com eles para Aquidabã. Eles afirmaram Amparo do São Francisco ainda não Vista que João da Cruz teve ao chegar em
que dariam o prazo até às 18 horas daquele tem hino, mas o bisneto de João da Cruz Amparo
dia. Caso o dinheiro não chegasse, ele mor- Freire, Antônio Freire de Souza, que vive
reria”, relembra Antônio Freire de Souza, no município até hoje e preserva detalhes Que nos dá força, esperança e amor
que na época tinha 7 anos. da história da cidade na memória, escreveu Embora seja em seu porte pequenina
O sobrinho de Franklin, Adão Freire, ven- Mas é nossa luta defendê-la com fervor
essa letra e espera que seja adotada como o Em tuas matas encontrou-se a capelinha
do a agonia do tio, disse que iria no seu hino oficial do município: Que deu origem a sua povoação
lugar. Em seguida, o portador foi para a Dentro da mesma, encontrou-se uma santinha
fazenda Jundiay. Além do dinheiro, os can- O teu início se deu na monarquia A quem devemos muito amor e devoção
gaceiros também queriam levar embora Quando implantou-se a pedra fundamental Foi em Amparo que se achou essa santinha
Em nossa terra, foi a imagem primeira
uma mulher casada. “Era Sinhá Teixeira, Numa fazenda, aquela onde viria
Nós a adoramos como mãe, como rainha
que era muito bonita. Mas o pessoal conse- Em tão pouco tempo, transforma-se em um
arraial Que será para sempre, da cidade a padroeira
guiu iludir os bandidos com conversa, en- És tu Amparo, estrela matutina O nosso Amparo foi emancipado,
quanto ela fugia pelos fundos da casa. Um Que nos dá força, esperança e amor Por Epaminondas e Martinho, que o fez
morador, que estava esperando no quintal, Embora seja, no teu corpo pequenina, Passaram a cidade, como fosse um povoado,
Mas a nossa luta é defendê-la com fervor Em 25 de novembro de 1953
ajudou a atravessar o rio. Só assim eles não E a sua história, para quem nos entende
Em terras férteis, que plantando tudo dá
a raptaram”, conta Antônio Freire. Demandava o arroz e o algodão A qual devemos conservá-la com amor
Os bandidos resolveram ir embora. Mas A batata e o inhame se plantou, Fazendo jus ao senhor João da Cruz Freire
antes de o dinheiro chegar e o prazo acabar, Também dá cana, dá o milho e o feijão Esse pioneiro, o seu grande fundador. C

a polícia, sabendo que os cangaceiros esta- O município é abençoado por Deus


vam naquela área, encontrou-se com eles, O esplendor, que transborda essa beleza
Que nos conforta, amparando os filhos teus Filhos Ilustres
já no povoado Barra Salgada, município de E nos aquece com toda essa natureza
Aquidabã. O São Francisco, esse rio caudaloso
Leonel Vieira da Silva - Primeiro prefeito do
município
Houve tiroteio e um soldado foi morto. Com sua nascente num Estado do Sudeste
Adão Freire, que estava com os cangacei- Que vem correndo, tão bonito e tão formoso Arnaldo Cardoso de Oliveira - Economista
Trazendo riqueza para os Estados do Nordeste
ros, teve que se esconder. “Ele entrou num Temos comércio, pecuária e agricultura Gildo dos Santos - Advogado no Rio de Janeiro
paiol de algodão, pois a polícia pensava que Temos prainha, esporte e o lazer
ele também era bandido. O tiro zunia e ele Temos escola, que é o que nos assegura Maria Feliciana dos Santos - Artista circense
gritava ‘eu não sou bandido, eu não sou Para o futuro, que devemos aprender
bandido’. Se saísse morria. Uma hora man- Terra adorada, pequenina e hospitaleira
Cheia de esplendor, de um povo varonil Texto: VALNÍSIA MANGUEIRA
daram ele sair, foi então que um cabo o Que por orgulho, dessa terra altaneira Fotos: EDSON ARAÚJO
reconheceu, por isso ele não morreu”, ex- E tem como Sergipe, um pedaço do Brasil Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa de
plica Antônio Freire. És tu Amparo, estrela matutina Antônio Freire de Souza.
MKT©
São Lucas Médico-HospitaLAR
Um Marco na Saúde dos Sergipanos

O desafio deste milênio está na transformação das instituições tradicionais como um hospital, que, mantendo os seus propósitos básicos,
consiga se integrar na rede de cidadania da sua cidade, estado e país, através do compromisso sério de responsabilidade social. A história da Clínica
São Lucas, semente inicial, nos mostra este caminhar sério e dedicado, nascido em 1969 sob a liderança do Dr. José Augusto Soares Barreto e
edificado na solidez da amizade e ajuda do Dr. Dietrich W. Todt que construíram esta obra, juntos com uma equipe de colegas idealistas, dispostos a
dar o melhor de si mesmos para a sua viabilização. A estrutura inicial surgiu como um prédio térreo, pequeno, projetado para clínica ambulatorial,
composto de sala de reunião científica, três consultórios, área para Laboratório, Radiologia e Eletrocardiografia.
A equipe unida logo se firmou na comunidade. Após dois anos de atividades, foi organizado o "Serviço de Urgências Médicas" para atender
na sede e em domicílio, abrangendo um grupo maior de colegas, em parceria. Esta inovação no atendimento foi muito bem recebida por todos.
Em 30 de setembro de 1978 foi inaugurado o Hospital, aos poucos foi se transformando numa das melhores casas de Saúde do Nordeste.
Para acompanhar a evolução da Medicina, o Hospital necessitou ser ampliado no final da década de 80. Tal empreendimento só foi possível
com a incorporação de salas de consultórios por colegas médicos que já trabalhavam na clínica, fazendo parte da família São Lucas. Desde então, a
"Clínica e Hospital São Lucas" tem acompanhado o desenvolvimento técnico-científico e se constitui numa unidade moderna e bem aparelhada.
A cardiologia tem sido destaque e referência no São Lucas; um grupo de cardiologistas (inclusive hemodinamistas e cirurgiões) tem
contribuído decisivamente para salvar vidas, pela disponibilidade que oferecem de atender chamados de urgência, sem perda de tempo. As técnicas
de angioplastias (desobstrução não cirúrgica das artérias) têm sido usadas correntemente, dentro de padrão comparável aos centros mais avançados.
Para o São Lucas, mais importante que o desenvolvimento técnico-científico, sem termo de comparação, é o patrimônio denominado RH (
Recursos Humanos). Graças a Deus, contamos com Corpo Clínico igual aos melhores do país; contamos também com uma equipe de Enfermagem
que a cada dia mais se aperfeiçoa. O São Lucas está numa intensa campanha de qualidade , investindo em treinamento contínuo de todo o seu
pessoal, pois, além dos Médicos e Enfermeiros, toda equipe que trabalha é indispensável e merece nosso profundo respeito. Nosso Centro de
Estudos, com Auditório e Sala de Treinamento, é muito ativo. A equipe Médica tem reuniões regulares de estudos de casos, jornadas, simpósios, etc.
Na Medicina Preventiva, também numa das funções do Hospital se insere uma abordagem decisiva ao apoio psicológico dos pacientes, numa
visão mais holística, procurando impregnar em cada um de nós o mais sadio humanismo.
Na palavra LAR do Hospital, está o verdadeiro sentido para o qual ,cada dia mais, a Clínica e Hospital São Lucas pretende avançar: uma
comunidade inclusiva para todos os seres humanos que dela precisarem, guiada pelo inevitável espírito de amor e paz.
Hoje, para por em prática essa filosofia, dispomos de 130 leitos, Centro-Cirúrgico geral com 6 salas, Centro-Cirúrgico ambulatorial com 2
salas, 12 leitos de terapia intensiva (UTI/UCO), Serviço de Urgências e Laboratório 24 horas, Hemodiálise, Serviços de Apoio Diagnóstico (Raios-X,
Eletrocardiografia, Ecocardiografia, Ultrassonografia, Tomografia, Hemodinâmica, Quimioterapia, Cuidados domiciliar (Home-Care entre outros,
onde 630 funcionários e cerca de 1000 outros profissionais indiretos estão envolvidos na realização de um sonho que começou há 35 anos como uma
forte amizade entre os médicos José Augusto Barreto e Dietrich Todt, dois convictos da responsabilidade que é cuidar bem da saúde dos sergipanos,
exemplos hoje seguidos por seus filhos.

Clínica e Hospital São Lucas


Av. Coronel Stanley Silveira, nº 33, Bairro S. José
Fone: 79 212-8888 Fax: 79 212-8880
www.saolucas-se.com.br
Aquidabã
e a nacionalista
história
Na luta pela liberdade
resguardando
a soberania,
vencemos o Paraguai,
com briosa galhardia!

E
stes trechos do hino do município de
Aquidabã, letra de Lauro Rocha de
Lima e música de José Pereira da
Rocha, revelam um pouco de mais um ca-
pítulo na História de Sergipe através de seus
municípios. O povo, ruas e prédios de Aqui-
dabã, a 116 quilômetros de Aracaju, têm
muito a contribuir. Acredita-se que lá, no
centro do sertão do São Francisco, deu-se a
primeira homenagem aos militares que
morreram e aos que sobreviveram à Guer-
ra do Paraguai (1870).
Uma das batalhas mais importantes
para a vitória brasileira naquele ‘Genocí- Matriz de Senhora Sant’Ana
dio das Américas’ teria acontecido justa-
mente no Riacho Aquidabã, a leste da ci- que em frente ao cemitério existia uma José Cupertino Nogueira da Silva.
dade de Assunção. Por isso, a então povo- frondosa árvore, onde o tronco servia para A freguesia é uma das poucas que tive-
ação de Cemitério, primeiro nome do lu- que senhores amarrassem escravos e mula- ram Lei Estadual regulamentando o dia e o
gar, passa a ser chamada de Aquidabã. Mas tos desordeiros para os castigar. local para a feira. Isso foi em 16 de abril de
a história desse município começa muito 1877. Com a feira, o desenvolvimento che-
antes de 1870. Escola e freguesia gou com força, provocando querelas com
Quando Cristóvão de Barros, depois de Propriá. Todos os moradores dos povoados
1590, invade Sergipe, doa em sesmaria as Acredita-se que por volta de 1850, o Sítio do Meio (hoje Muribeca), Tamanduá
terras do norte para o seu filho Antônio povoado Cemitério ganhava corpo, tanto é (Graccho Cardoso), Malhada dos Bois e
Cardoso de Barros. Na região onde hoje se que em 12 de março de 1857 é criada a Canhoba alcançavam facilmente a Fregue-
encontra a sede do município, parentes de primeira escola pública de ensino primário sia de Sant’Ana. O nome Cemitério já não
conquistadores implantaram uma fazenda na localidade para atender cerca de 30 cri- revelava o grau de progresso da localidade
de gado. Além de algumas casas, também anças em idade escolar. A escola trouxe pro- e aproveitando-se a vitória das tropas brasi-
foi levantado um cemitério, bem próximo gresso com o rádio e 15 anos depois, em 11 leiras na Guerra do Paraguai no Riacho
à estrada real que cortava o sertão, indo até de abril de 1872, a povoação deixava de ser Aquidabã, entre o Paraguai e o Mato Gros-
o Rio São Francisco. O local ficou conheci- eclesiasticamente dependente de Santo so, o local recebe esse nome. Aquidabã é
do pelos passantes como Cemitério. Logo Antônio do Propriá e passava a ser chama- guarani e quer dizer “terras entre rios, ilhas,
foi erguida uma Santa Cruz e uma capeli- da de Freguesia de Sant’Ana do Cemitério terras férteis e aguadas”. Outro município
nha em homenagem a Nossa Senhora de Aquidabã. O primeiro vigário foi padre que teria sido “homenageado” por conta da
Sant’Ana. Alguns historiadores revelam Benvindo Tita de Jesus, seguido pelo padre Guerra do Paraguai é Riachuelo.

CINFORM 16
Região - Norte de Sergipe
Distância de Aracaju - 116 km
População - Cerca de 18 mil
Filarmônica Euterpe Sant’Ana em 1959 Atividades econômicas - Agricultura

so de Medicina, mas desistiu por causa da


música. Participava de todos os shows de
calouros que sabia. Em muitos, ganhou prê-
mios. Em 1964 lançou seu primeiro LP e
fez grande sucesso com a música “Cantan-
do para não chorar”. Casou-se com Arisde-
te e teve dois filhos. Em Sergipe, José Au-
gusto Sergipano arrastava multidões e as-
sim ficou conhecido: o cantor das multi-
dões, um dos últimos românticos.
Em 1981, cancelou um show em Se-
Primeira turma do Ginásio Francisco Figuei- José Augusto: história marcante em Sergipe nhor do Bomfim/BA para visitar sua mãe
redo em 1963 que estava internada no Hospital São José,
Morais, Maia, Amaral; e depois os Guima- em Aracaju. Cobrado pelo empresário para
Vila e Intervenção rães, Figueiredo, Onias, Teodoro e Oliveira fazer o show em Bomfim, por volta das 17
deixaram marcas importantes na história horas do dia 5 de dezembro de 1981, José
Através da Lei 1.215, de 4 de abril de de Aquidabã. Mas só em 8 de outubro de Augusto deixa Aracaju com destino à cida-
1882, Aquidabã consegue sua independên- 1935, no Governo de Eronides de Carva- de baiana. Na estrada, próximo a Feira de
cia de Propriá e torna-se vila. Mas curiosa- lho, Aquidabã deixa de ser vila e passa a Santana, o seu carro, um Opala, foi envol-
mente a vila não é instalada oficialmente. cidade. Seu primeiro prefeito eleito foi vido num acidente e o cantor teve morte
A Câmara de representantes composta não Acelino José da Costa. imediata.
reconhece a Proclamação da República e,
através de um ato, em novembro de 1898, José Augusto Sergipano As passagens de Lampião
o Governo do Estado decreta a intervenção é um dos filhos ilustres por Aquidabã
e nomeia como interventor Francisco Fi-
gueiredo. Já em março de 1890, os verea- Um dos nomes mais marcantes na his- *LAURO ROCHA DE LIMA
dores são depostos e é formado um Conse- tória da música sergipana é José Augusto
lho de Intendência composto por Antônio Sergipano. Ele nasceu na Avenida Santa Te- Virgulino Ferreira, o Lampião, visitou
Inácio de Morais, Raimundo Ezequiel Hen- rezinha, na Baixinha, em Aquidabã, no dia Aquidabã por duas vezes. A primeira fora
rique e Amaro Vieira dos Santos Maia. 3 de outubro de 1936. Era o filho mais novo. feita amistosamente, apenas para o reco-
O município ganhou mais prosperida- Tinha seis irmãos. Fez os seus primeiros es- nhecimento do lugar. A segunda, entretan-
de. A feira ganhou projeção estadual. Para tudos em Aquidabã e depois veio morar to, caracterizou-se pelos atos de atrocida-
lá corriam grandes fazendeiros e seus reba- em Aracaju. Na capital estudou e concluiu des, implantando o terror e saques. Isso
nhos. Suas terras férteis eram campos para o 2º grau. Em 1953, estudava e trabalhava aconteceu em 1936. Dormiu, como se nar-
frutas, feijão, milho, fumo, algodão e man- na primeira linha de ônibus coletivo de rava nas rodas populares, no povoado Cruz
dioca. O comércio de secos e molhados era Aracaju. Em 1956, foi para São Paulo ten- Grande, hospedando-se na casa de um im-
um dos mais ricos da região. As famílias tar ser cantor. Lá, ainda fez um ano do cur- provisado coiteiro. Pela manhã seguinte, a

CINFORM 17
Avenida Getúlio Vargas na década de 30 e no detalhe a posse do prefeito Vilobaldo Cardoso
em 1963

notícia da presença do Rei do Cangaço cor- Outras foram estupradas, inclusive mulhe- *Lauro R. de Lima é professor, escritor, jornalista e
reu e seu bando de 50 bandidos chegou à res idosas. Lampião, então, passou a amea- advogado, membro do MAC da Academia Sergipana de
sede municipal. çar um dos filhos recém-nascidos de João Letras. C
Lampião e seus capangas, então, passa- de Clarinha e Franquinha, que não deixa-
ram a indagar pelos homens ricos da cida- ram o lugar porque a mulher havia dado à Filhos Ilustres
de. Primeiro perguntou onde morava Lóia, luz na madrugada do dia anterior. O casal
que era o delegado. Este já havia fugido. passou por momentos angustiantes. Antô- Aderbal de Figueiredo - Médico. Escreveu,
Depois perguntou por Aldom Figueiredo nio e José do Papel, que apanhavam as além da tese para receber o grau de doutora-
do, outros trabalhos literários;
que, como tantos outros, já havia deixado a moedas atiradas para as crianças, tiveram
pacata cidade. Reporta-se que, quando da as orelhas cortadas, um ato de atrocidade Coronel Milton Pereira de Azevedo -
sua chegada, pela Baixinha, o lugar já esta- que ficou no registro da visita de Lampião. Como capitão governou Sergipe no ano de
1941 e parte de 1942, na qualidade de Inter-
va quase deserto, pois a população, com a Pois José do Papel, durante toda sua exis- ventor Federal;
notícia da chegada de Lampião, fugiu para tência - pessoa muito conhecida e concei-
o interior, escondendo-se nas matas e gru- tuada - era o homem marcado pelo corte Acelino Pedro Guimarães - Advogado, es-
critor e historiador, um dos intelectuais mais
tas. O cortejo de Lampião prosseguiu em de uma das suas orelhas. festejados do município;
direção ao centro da cidade onde estavam Lampião e seu bando, afinal, depois de
as lojas e casas comerciais, residências dos tirar a paz da cidade, retirou-se para o inte- Lauro Rocha de Lima - Professor, escritor,
mais afortunados e armazéns de compra de rior, tomando a estrada que segue para os jornalista, advogado e membro do MAC da
Academia Sergipana de Letras;
algodão. Lampião, para conquistar a meni- Andrinos. A rapaziada, cheia de idealismo,
nada, jogava moedas, que eram disputadas então, armou-se e seguiu à procura do ban- Ademar Messias de Aragão - general do
pelos poucos que, não entendendo bem o do, que já se encontrava longe. Mas o ardor Exército
que significava a visita, ficaram na cidade, do orgulho ferido fez com que os rapazes Carlos Whrite - professor;
não acompanhando seus pais. Entre a me- apressassem o passo, conseguindo aproxi-
ninada estavam os irmãos Antônio e José mar-se do bando de Lampião, onde trava- Irmã Joana Vermeleu - professora;
do Papel. ram uma pequena luta. Gustavo Guima- Rui da Silva - padre;
No centro comercial, em frente ao Ar- rães, usando de um rifle, atirou e matou
mazém de Maximino Calango, avô de José um dos cangaceiros retardatários e ali, na- Inephânfio Cardoso - comerciante;
de Matos, o grupo matou a punhaladas um quele gesto, estava a vingança de Aquidabã Sebastião Figueiredo - deputado estadual;
doido, cujo nome nunca foi revelado. Abri- para com o famigerado bando de Lampião.
ram o corpo do inditoso maluco, retiraram Por muito tempo repetiu-se a inditosa Estácio Vieira da Cruz - prefeito
as vísceras e as banhas, e com estas, limpa- visita de Lampião na vida da pacata cidade.
Josefina Maia - funcionária pública.
ram o sangue dos punhais. As atrocidades Firmino Figueiredo, Mamede Alves do Car-
continuaram pelas ruas da então pequenina mo e Rosalvo Figueiredo contaram e Pires
cidade, cometidas contra poucos. Conta-se Wine, Acelino Guimarães e José Anderson Texto: JOSÉ CRISTIAN GÓIS
Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
que Zé Baiano marcou algumas donzelas a do Nascimento escreveram este episódio. Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, História de Aquidabã,
de Acelino Pedro Guimarães e colaboração de lauro Rocha de Lima.
ferro quente com as letras J.B. nas nádegas.

CINFORM 18
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Aracaju nasceu de um
arraial de pescadores
Cidade surgiu na colina
do Santo Antônio,
e foi planejada para ser
a capital de Sergipe

A
história da capital de Sergipe,
Aracaju - antigo povoado Santo
Antônio de Aracaju -, é uma das
mais inusitadas. Sua fundação ocorreu in-
versamente ao convencional. Ou seja, não
surgiu de forma espontânea como as de-
mais cidades, foi planejada especialmente
para ser a sede do Governo do Estado. Pas-
sou à frente de municípios já estruturados,
principalmente São Cristóvão, do qual ga-
nhou a posição de capital. Acredita-se que
uma capelinha, a Igreja de Santo Antônio,
erguida no alto da colina, tenha sido o iní-
cio da formação do arraial que se transfor-
maria depois na capital do Estado.
A cidade de Aracaju, hoje com cerca de
460 mil habitantes, surgiu de uma colônia
LINEU

de pescador que pertencia juridicamente a


São Cristóvão. Seu nome é de origem tupi, Rua da Frente, que margeia o Rio Sergipe: única exceção ao quadrado inicial em forma de tabuleiro
e, segundo estudiosos da língua indígena,
significa cajueiro dos papagaios. O presidente contratou o engenheiro Se- avenidas Ivo do Prado com Barão de Ma-
Por ter o privilégio de estar localizado no bastião José Basílio Pirro (homenageado ruim, e a Rua Dom Bosco (antiga São Pau-
litoral e ser banhado pelos rios Sergipe e com nome de rua em Aracaju) para plane- lo).
Vaza-Barris, o pequeno povoado foi esco- jar a cidade, que foi edificada sob um proje- A cidade cresceu inflexível dentro do ta-
lhido pelo presidente da província, Inácio to que traçou todas as ruas em linha reta, buleiro de xadrez. Aterrou vales e elevou-
Joaquim Barbosa, para ser a sede do Go- formando quarteirões simétricos que lem- se nos montes de areia. Foram feitas desa-
verno. Deixou para trás, além de São Cris- bravam um tabuleiro de xadrez. Com a pres- propriações onerosas e desnecessárias, para
tóvão, grandes cidades como Laranjeiras, sa exigida pelo Governo, não houve tempo que o projeto mantivesse a reta. A única
Maruim e Itaporanga d’Ájuda. para que fosse feito um levantamento com- exceção foi uma alteração imposta pelo
Inácio Barbosa assumiu o governo em pleto das condições da localidade, criando próprio presidente, permitindo que a Rua
1853 com o desejo de fazer prosperar ainda erros irremediáveis que causam inundações da Frente ganhasse uma curva, criando a
mais a província. Ele sabia que o desenvol- até hoje. bela avenida que margeia o rio Sergipe.
vimento do Estado dependia de um porto O projeto da cidade se resumia em um
para facilitar o escoamento da produção. simples plano de alinhamentos de ruas den- Histórico da cidade
Apesar de várias cidades no Estado estarem tro de um quadrado com 1.188 metros.
desenvolvidas econômica e socialmente, Estendia-se da embocadura do Rio Aracaju As terras de Aracaju originaram-se das
faltava essa facilidade. (que não existe mais), até as esquinas das sesmarias, doadas a Pero Gonçalves por volta

CINFORM 20
Capital do Estado
Região: Litoral leste
População: 460 mil
Igreja Santo Antônio: capelinha onde origi- Atividades econômicas: Comércio, indústria
nou Aracaju e turismo

praia do Aracaju. Imediatamente foi apre-


sentado o projeto elevando o povoado San-
to Antônio à categoria de cidade, e transfe-
rindo para ele a capital da província. Essa
atitude pegou os deputados de surpresa, dei-
xando perplexos até os da situação.
A idéia de transformar em capital um
povoado cheio de areais e de brejos não
agradava os deputados. Mesmo assim o pro-
jeto foi aprovado e sancionado no dia 17 de
março de 1855, constituindo um dos atos
de maior repercussão na vida sergipana,
considerado na época até uma subversão
política, econômica e social.
Vista aérea do centro da cidade, com a beleza
do Rio Sergipe ao fundo Sucessivos acontecimentos desfavoráveis,
como a morte de Inácio Barbosa, em outu-
vida colonial possibilitou o crescimento da bro de 1855, e a epidemia de cólera que
economia. O açúcar, produto básico da pro- durou até o início de 1856, prejudicaram o
víncia, era transportado por navios que tra- andamento da cidade, mas no fim acaba-
ziam em troca mercadorias e as notícias do ram-na fortalecendo. Passado o período
de 1602. Compreendiam 160 quilômetros reino. difícil, os descrentes não puderam mais
de costa, que iam da barra do Rio Real à duvidar de um projeto que, ainda malfor-
barra do Rio São Francisco, onde em toda Projeto de Inácio Barbosa mado, sobrevivera a tantas crises.
as margens do estuário não existia uma vila A partir daí a cidade voltou a crescer.
sequer. Apenas eram encontrados arraiais A partir de 1854, Inácio Barbosa come- Mas o sonho de Inácio de ver a capital de-
de pescadores. çou a colocar em prática seu plano de mu- senvolver-se rapidamente permaneceu blo-
Há notícias de que às margens do Rio dar a capital de Sergipe. Transferiu órgãos queado por mais de 30 anos, durante todo
Sergipe, em 1669, existia uma aldeia cha- públicos para a praia do Aracaju (praia do o período monárquico. O crescimento só
mada Santo Antônio do Aracaju, cujo ca- Bairro Industrial), perto da foz do Rio Ser- foi retomado com a chegada do período
pitão era o indígena João Mulato. Quase gipe, já visando o surgimento do porto. republicano, a partir de 1889.
um século depois, essa comunidade encon- “Sergipe é uma província pequena e pobre,
trava-se incluída entre as mais importantes não se pode dar ao luxo de gozar de uma Bairros de Aracaju
freguesias de Nossa Senhora do perpétuo capital e um porto marítimo, separadamen-
Socorro do Tomar do Cotinguiba. te”, justificava ele. Em 1920, a cidade já contava com 170
Os fatos mais relevantes da vida política Em 2 de março de 1855, a Assembléia logradouros e grande número de importan-
de Aracaju estão registrados a partir de 1855. Legislativa da Província já abria seus traba- tes edifícios, como o Palácio do Governo,
O desaparecimento das lutas e agitações da lhos numa das poucas e modestas casas da o da Assembléia Legislativa e o da Prefei-

CINFORM 21
car com mais abundância. Em 1854, 25 mil
caixas de açúcar saíram pela Cotinguiba,
enquanto 10 mil eram exportadas por to-
das as outras barras sergipanas.
Antes mesmo de propor a transferência
da capital, a partir de novembro do ano
anterior, Inácio Barbosa dava os primeiros
passos para concretizar a medida, mudan-
do para as praias do Aracaju a Alfândega e
a Mesa de Rendas Provinciais, criando uma
agência de Correios e uma subdelegacia de
polícia, e reformando a atalaia da Cotin-
guiba.
Depois de uma reunião preliminar no
Ponte do imperador, onde o vapor APA, que trouxe o imperador D. Pedro II, foi atracado: em 1904 engenho Unha do Gato, de propriedade do
e em 2000 Barão de Maruim, o presidente convocou a
tura. Em 1926, os bondes elétricos substi- imperiais haviam vencido os partidários da Assembléia para uma reunião em Aracaju,
tuíram os de burro - implantados em 1908 Revolta Praieira, em Pernambuco, o últi- numa das poucas casas que ali existiam, a
- que já não funcionavam há mais de um mo movimento interno, enquanto a Lei qual se concretizaria no dia 2 de março. As
ano. Eusébio de Queirós libertara, com a extin- discussões, sem qualquer brilho, mesmo da
Dos nomes de bairros colocados à época, ção do tráfico negreiro, os capitais empre- parte dos deputados governistas, arrasta-
apenas o Santo Antônio não é estranho ao gados na compra e venda de escravos, reo- ram-se por dias, sob o protesto da Câmara
aracajuano. Massaranduba (B. Industrial), rientando-os para outros investimentos que de São Cristóvão, que fazia ver que a lei
Olaria (Centro) são nomes que ficaram no “dinamizaram a economia e finanças naci- não permitia a reunião da Assembléia fora
passado. A mudança de nomes, só para agra- onais”, possibilitando um período de eufo- da capital da província. O certo é que, ape-
dar políticos - inclusive ocorrendo nos dias ria econômica. nas com dois votos discordantes - os de
atuais - acaba atropelando a tradição. Por outro lado, enquanto se consolidava Martinho Garcez e do Vigário Barroso -, o
A Estrada Nova, que ligava o povoado o poder pessoal do imperador, que se liber- projeto foi aprovado, e a 17 de março de
Santo Antônio ao Centro, foi transforma- tara da facção áulica e passara a interferir 1855 o presidente Inácio Barbosa - homem
da na avenida João Ribeiro. O riacho Ola- diretamente nos negócios públicos, o Brasil do seu tempo, que compreendeu a impor-
ria, que cortava essa avenida, provavelmente entrava numa fase de tranqüilidade pública tância da medida - sancionava a resolução
foi transformado no canal da Avenida Air- - era a Conciliação - que levara o Marquês nº 413, cujo significado deve ser evidencia-
ton Teles. Já o rio Aracaju, que desemboca- de Paraná ao poder. do porque, como coloca o historiador Fer-
va nas vizinhanças da fábrica de tecidos Sergipe, como as demais províncias do nando Porto, representou “uma verdadeira
Sergipe Industrial e deu o nome à cidade, Império, vivia essa fase e é dentro dela que, subversão política, econômica e social; des-
desapareceu do mapa. em parte, se deve compreender a mudança locou para o norte o centro de gravidade da
da capital. política local; alterou o intercâmbio de
Aracaju, a história No exercício do Governo desde novem- mercadorias”.
da mudança da capital bro de 1853, compreendia o presidente Iná- E a pequena Aracaju, surgida na parte
cio Barbosa a importância do açúcar como mais baixa do núcleo urbano, às margens
* LUIZ FERNANDO RIBEIRO SOUTELO principal produto de exportação de Sergi- do rio Sergipe, entre a Alfândega, ao norte,
pe, sofrendo a concorrência internacional e e um ponto entre a rua Boquim e a avenida
Há exatamente 146 anos, completados as conseqüências de um quadro interno ad- Barão de Maruim, logo após o quartel do
neste 17 de março (2001), uma resolução verso (a concorrência do café no sul, a ex- Corpo Policial, cresceu e se espraiou pelas
da Assembléia Provincial elevava o “povo- tinção do tráfico negreiro que obrigava o terras circunvizinhas, derrubando dunas,
ado de Santo Antônio do Aracaju à catego- deslocamento interno de escravos). Procu- aterrando pântanos, aproximando-se dos
ria de cidade” e transferia para ele a capital rava corrigir esses problemas através da re- municípios de Nossa Senhora do Socorro e
da Província, até então situada em São Cris- dução de impostos e do encaminhamento de São Cristóvão.
tóvão, desde os primórdios do século XVII. de providências para aperfeiçoar os proces- Em resumo, poderíamos dizer, como o
A mudança da capital, no entanto, não sos de produção (industrial), da pesagem fez Fernando Porto - autor de um dos
resultou apenas na iniciativa do presidente do açúcar nos trapiches da Província e não clássicos sobre a capital sergipana nos seus
Inácio Barbosa, mas foi também decorrên- nos da Bahia, da Constituição de uma com- dez primeiros anos de vida - , que “Araca-
cia de uma reunião de fatores internos, ori- panhia de reboques a vapor “que deveria ju foi uma das mais felizes vitórias da
ginários da própria Província, e externos, agir na Barra da Cotinguiba, com a finali- Geografia”. C
que resultaram de causas políticas e econô- dade de atrair os navios estrangeiros às nos-
micas no plano nacional, como acentua José sas plagas”. *Historiador e membro do Conselho Estadual de Cultura
Calazans. E por que a Barra do Cotinguiba (nome
Na década de 50 do século XIX, o Brasil pelo qual, até 1925, se conhecia o rio que
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
vivia uma fase de paz interna e de modifi- banha Aracaju)? Nada mais nada menos Fotos: DIÓGENES DI E EDSON ARAÚJO
cações econômicas. Em 1849, as tropas porque era por ela que se exportava o açú- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros

CINFORM 22
Arauá foi grande produtor de cana e café

Foi Arraial da Parida,


Nossa Senhora da
Conceição da Parida
e Nossa Senhora da
Conceição do Arauá

O
município de Arauá, distante 99
quilômetros de Aracaju, comemo-
ra sua emancipação em 9 de abril,
data em que, no ano de 1870, a então fre-
guesia de Nossa Senhora da Conceição do
Arauá foi desmembrada do município de
Estância. Nessa época, ele não passava de
um pequeno povoamento, localizado num
tabuleiro, entre as bacias dos rios Limoeiro
e Arauá, circundado por dezenas de enge- Igreja matriz: exemplar de arte sacra
nhos.
O terreno, onde surgiu o embrião da fre- região permaneceu como fazenda de gado, José de Góis, José Félix do Nascimento e
guesia, só foi poupado pelos latifundiários de cultivo de cana e de engenhos de açúcar. seu irmão, Tibúrcio Manoel do Nascimen-
por ser impróprio ao cultivo da cana-de- Foram os primeiros senhores de engenho, to - iniciaram-se as obras de construção da
açúcar. Com o tempo os moradores estabe- verificando que a sede do município (então capela, a um quilômetro da povoação, pois
leceram-se no local em sítios e numas pou- cidade de Estância) ficava muito longe de o local era mais propício para a construção
cas casas. suas propriedades, que acharam por bem de uma praça.
Mas anterior a essa povoação, existe um constituir ali mesmo, próximo ao riacho da Segundo o professor José Anderson Nas-
registro que dão conta das primeiras pene- Parida, um centro de vida social dotado de cimento, no livro ‘Sergipe e seus Monu-
trações nos terrenos em que hoje se encon- delegacia, igreja, escola e cemitério. mentos’, a Igreja de Arauá é um exemplar
tra o município. Segundo o documento, o valioso da arte sacra em Sergipe Delrei, in-
desbravamento daquela região deve ter-se Troca de Nomes clusive pelo fato de ter sido projetada e
dado nos tempos da colonização da zona executada por Manoel Ribeiro, com parti-
do Rio Piauí. Em 21 de dezembro de 1854 foi cria- cipação dos irmãos Antônio e Tomás Gara-
Historiadores encontraram uma carta de da uma subdelegacia no povoamento. pas, todos exímios entalhadores que vivi-
sesmaria, datada de 5 de maio de 1596, Fundado o distrito policial do Arraial da am em Estância.
expedida em favor de Sebastião Brito e Fran- Parida, como passou a ser chamado o A escola foi criada em 1856, pela resolu-
cisco Soares, que obtiveram a doação de povoamento, os habitantes aproveitaram ção de 22 de março. Em torno da igreja foi-
terras ao sul do Rio Piauí, “com a dada de no ano seguinte um acontecimento sin- se formando a edificação de novas casas e,
Jerônimo da Costa que está fronteiro de gular - a proclamação, pela Igreja Cató- já em 1864, fundou-se a povoação em fre-
Bogio, da banda do sul”. Ficando a serra do lica, do dogma da Imaculada Conceição guesia, pela Resolução nº 678, de 8 de ju-
Bogio próxima à cidade de Arauá, acredi- -, para mudar o nome da povoação para nho. Pela Lei nº 815, de 30 de abril de 1868,
ta-se terem sido talvez estes os primeiros Arraial de Nossa Senhora da Conceição a Freguesia de Nossa Senhora da Concei-
desbravadores do local. da Parida. ção da Parida passa a denominar-se Nossa
No entanto, nos três séculos seguintes, a Em 1855 - sob o comando de Joaquim Senhora da Conceição do Arauá. Sendo subs-

CINFORM 24
Ruínas da antiga fábrica de manteiga Sergipe Antiguidades esquecidas na sede da Fa-
na Fazenda Vermelho zenda Vermelho

Região - centro-sul (Agreste)


Distância de Aracaju - 99 km
População - 9.746
Atividades econômicas - Citricultura, agricul-
tura (mandioca, abacaxi e fumo), pecuária e indústria de
laticínios.

Casarão histórico em 1953... e hoje

tituído o ‘Parida’ pelo nome Arauá, afluen- rias das condições socioeconômicas de de Sergipe a ter uma linha de ônibus (mari-
te do Rio Piauí, que ficava próximo. Em uma cidade, não se pode atribuir exclu- netes) para Aracaju, graças ao pioneirismo
1870, a freguesia é elevada à categoria de sivamente à pequena, mas sempre aco- de um cidadão empreendedor, o Oscar
vila e em 1890 criou-se a comarca de Arauá. lhedora Arauá. Vejamos outro exemplo: Macedo. Também na área de eventos festi-
Existem algumas versões para o signifi- Estância, foi alardeada nos anos 60 e 70 vos, se promoviam em Arauá carnavais à
cado do nome do município, que passou a como sendo o berço cultural de Sergipe feição do que se faz ainda hoje em Olinda
se chamar somente Arauá. Uma delas afir- e detentora de um Pólo Industrial dito, (PE), com cabeçorras, bonecos gigantes,
ma que o nome Arauá é originário de um na época, sustentável. Não que hoje dei- blocos de fantasia e animação de uma ban-
molusco que vivia às margens do rio. Ou- xe de ter seus lampejos de cultura e de da de músicos, sob a organização solidária
tra versão diz que existia uma tribo indíge- desempenho ainda na industrialização. de gente simples como Sulo Alfaiate, D.
na, os Aruás, que também viviam às mar- Contudo, infelizmente, a linguagem do Elisa, D. Regina, Mané Rosa, o violonista e
gens do rio, dando origem ao nome. ‘já teve’ predomina. locutor Jaime Ramos, Adelson Marceneiro
Só em 1938 é que a sede municipal de Voltando ao velho ‘Arraial da Parida’, e outros, sem esquecer o apoio dos então
Arauá foi elevada à categoria de cidade, é salutar lembrar que no fim e início dos jovens Joaldo Carvalho e João Vieira.
pela Lei de 15 de dezembro. Alguns anos séculos XIX e XX, Arauá era um im- Para guardar essas memórias, é propósi-
depois, em 1953, o povoado Pedrinhas se portante centro de desenvolvimento, to da atual administração criar o Museu da
emancipou do município e passou a consti- calcado nos ciclos do café e do açúcar, Memória de Arauá, acoplado a uma biblio-
tuir uma comunidade separada. produtos que chegou a exportar para teca pública. A minha opinião é de que
outras cidades e regiões. Arauá é um município com carências e di-
Memórias de Arauá Ao lado desse momento de crescimento ficuldades comuns a todos os demais onde
e sólida atividade produtiva, vultos, perso- predominam o enfoque rural. Acho que se
* JOSÉ CARLOS DO NASCIMENTO nalidades e figuras comuns da sociedade os cidadãos derem-se as mãos e propugna-
foram responsáveis pelo alicerçamento e rem, juntos, trabalhar na geração de bem-
A cidade de Arauá, que está inserida bem-estar da civilização arauense, dentre estar para toda a comunidade, a cidade es-
na região Centro-Sul do Estado de Ser- os quais, citamos, pedindo desculpas pela tará no rumo certo e antenado com o que-
gipe, é mais uma das comunidades inte- omissão de algum nome: João Costa Car- sito cidadania.
rioranas do ‘já teve!’. Já teve é geral- valho, Antônio Francisco Nascimento, João Por fim acho sempre oportuno evocar o
mente a resposta dos cidadãos quando Nunes da Silva, Antoniel Costa Nascimen- pensamento, devidamente adaptado, de
instados a dar opiniões sobre alguns as- to, José Nascimento de Santana, professo- John F. Kennedy: “Não pergunte o que
pectos de sua terra, mormente quanto ra Diva, que letrou várias gerações, Tomaz Arauá pode fazer por vós e sim o que po-
às coisas marcantes, vivenciadas pelo Vilanova e ‘seu’ Zeca do Vermelho. deis fazer por Arauá”.
município em seu passado. A questão Falando sobre os anos 50, contemporâ-
da não preservação da memória, da cul- neo desse articulista, apraz-me testemunhar * Diretor da Secretaria de Educação e Cultura de
tura, do desenvolvimento e das melho- ter sido Arauá uma das primeiras cidades Arauá

CINFORM 25
Prédio da primeira prefeitura (ao fundo)

Salve, salve...

Já 100 anos nos diz tua história


De trabalho de paz e de fé,
Que prossigas na trilha da glória
Sempre firme, garbosa e de pé C

Vista parcial do centro da cidade


Filhos Ilustres
Estado civil: mulher do padre cinta deveria ser negra ou mulata, prova-
velmente modesta, filha de escravos ou Francisco Camerino - patriota que partici-
Mulher do padre não é apenas quem de recém-libertos. Ela morreu em 1861, pou da Guerra do Paraguai
chega por último numa corrida, mas o es- com cerca de 50 anos. Guilherme José Nabuco de Araújo - bri-
tado civil de Jacinta Clotilde do Amor Di- gadeiro, fidalgo da casa imperial, governador
vino, uma ex-escrava que virou senhora Hino do Município de Arauá da província de Sergipe
de engenho. Ela viveu em Arauá (na épo- Letra de Urbano de Lima Neto Urbano de Oliveira Lima Neto - agrôno-
ca pertencente a Estância), e seu nome mo, intelectual, pesquisador e membro da
constava como ‘esposa’ no inventário do Glória a Deus que nos deu esta terra Academia Sergipana de Letras
cônego Antônio Luiz de Azevedo, senhor Tão formosa, serena e gentil José Olino de Lima Neto - farmacêutico,
de engenho falecido em 1848. Ao ficar Arauá doce gleba que encerra escritor, membro da Academia Sergipana de
Letras e um dos grandes latinistas brasileiros
viúva, Jacinta herdou uma fortuna avalia- tradições deste amado Brasil
da em 43 contos de réis que dividiu com João Bosco de Andrade Lima - desem-
cinco filhos. O mais novo deles, Francisco Campos verdes imensos corridos bargador com destaque no meio jurídico na-
cional, professor da UFS, jornalista, sendo, aos
Camerino de Azevedo, passou à história Pelas águas do antigo Arauá 17 anos, redator do jornal Razão, ao lado de
como herói da Guerra do Paraguai e virou Cantam lendas dos tempos já idos Jorge Amado
nome de rua e praça no Rio de Janeiro, Que, mais belos, alhures não há Antônio Francisco Nascimento - prefeito
São Paulo e Aracaju. que instalou o primeiro serviço de luz elétrica
Segundo o pesquisador Francisco Anto- Salve, salve ó terra querida na cidade, em 1949
nio Dórea (UFRJ), que fez a descoberta Lindo berço que a virgem nos dá Otoniel Costa Nascimento - proprietário
sobre Jacinta e, coincidentemente, é tata- Ah, possamos passar toda a vida da Fazenda Vermelho, onde foi construída a
raneto do cônego Azevedo, no século XIX Em teu seio feliz Arauá primeira fábrica de laticínios e o primeiro
alambique do município
eram comuns os padres casados. E bem ca- Ah, possamos passar toda a vida
sados. Todos mantinham casamentos pro- Em teu seio feliz Arauá Joaldo Costa Carvalho - dono da laticíni-
longados, estáveis e com vasta prole. E esse os Buril, quando prefeito abriu ruas e construiu
conjuntos habitacionais
estado civil não significava menos devoção O primeiro dos teus habitantes
por parte dos fiéis. Ninguém se importava Foi a mãe de Jesus, foi Maria Epaminondas de Andrade Lima - desem-
bargador que atua no Tribunal de Justiça
de assistir à missa ou receber conselhos de Dos heróis de teus feitos dos
um padre casado. O pesquisador afirma que brilhantes J. Inácio - artista plástico conhecido interna-
os padres casados, em geral, eram pessoas Esta feita a maior galeria cionalmente
de grande projeção social e os seus filhos Clodoaldo Alencar - ex-reitor da Universi-
eram prestigiados. Salve, salve... dade Federal de Sergipe
No inventário do cônego constam os
bens herdados por Jacinta - um engenho, Camerino nasceu na Palmeira Texto: VALNÍSIA MANGUEIRA
casas e muito gado. Embora não haja ne- E morreu pela pátria cantando Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Cadastro de Ser-
nhum retrato da família, pelas caracterís- E os Correias, de fonte altaneira gipe (1949 e 1953), Jornal “O Globo” 25/11/95, ‘Arauá - re-
ticas físicas de alguns descendentes, Ja- Penetraram na História lutando encontro com o passado’, de Adelvan Macedo Santos.

CINFORM 26
Areia Branca
e o São João de Paz e Amor

O forró, já consagrado
no município,
deverá aliar-se
às belezas naturais
para atrair turistas

reia Branca, distante 36 quilô-

A metros da capital, está entre os


municípios mais novos do Estado.
Seu nome nasceu literalmente da cor do
solo existente na povoação, indicando a
provável existência de praia em tempos re-
motos naquela área. A pacata e desconhe- Praça da Igreja Matriz São João Batista:
cida cidade, situada ao pé da Serra de Ita-
baiana, passou a ser conhecida com a cria- Depois dele, o município foi administrado
ção do forródromo, onde passou a ser reali- por José Francisco de Almeida, que deu con- Festejos juninos e
zado um dos mais animados festejos juni- tinuidade ao serviço de calçamento inicia- o turismo ecológico
nos do Brasil, consolidado como o ‘São João do pelo primeiro prefeito.
de Paz e Amor’. O São João de Areia Branca destaca-se
Parte das terras que compõem o municí- Criação do Forródromo como a festa junina mais tranqüila do Esta-
pio de Areia Branca foram doadas pelo la- do. Lá, é proibido soltar fogos de artifícios,
tifundiário José Ferreira Neto. Ele vendeu O forródromo do município foi constru- daí o nome ‘Forró de Paz e Amor’. A or-
uma área e distribuiu outra, onde ficava ído em 1982, na administração do prefeito dem é dançar forró até o amanhecer duran-
uma lagoa seca, com pessoas carentes. Foi José do Prado Franco Sobrinho, Zé Franco te todo o mês de junho. No último dia do
nesse lugar que o povoado começou a cres- - prefeito de Nossa Senhora do Socorro no forró acontece o tradicional café da manhã,
cer, e hoje encontra-se um conjunto habita- período de 2001 a 2004. A partir daí o já considerado o remate dos festejos juni-
cional. Juviniano Freire de Oliveira e Vir- município passou a ser conhecido nacional- nos do município.
gílio Rodrigues do Nascimento entram mente, recebendo a visita de milhares de A moradora Maria Virgínia Rodrigues
para a história como os principais fundado- pessoas de vários lugares do País que vêm Nascimento (dona Santa), 64 anos, foi te-
res do município. para forrofiar. soureira da administração do primeiro pre-
A povoação teve início no quadrado em O prefeito Ascendino de Souza Filho, feito e passou quase 30 anos desempenhan-
frente à capela que se transformou depois eleito em 1987, deu continuidade ao traba- do a mesma função. Ela destaca que Areia
na Igreja Matriz São João Batista, nome do lho iniciado pelo prefeito Zé Franco, satis- Branca evoluiu muito, mas diz que sente
padroeiro dos areiabranquenses. Muito tem- fazendo à expectativa do povo. Mas no se- saudades da festa do São João realizada an-
po levou para formar-se o povoado, que gundo mandato, de 1996 a 2000, fez uma tes do forródromo.
passou a ter registro na história como mu- administração marcada por muitas recla- “O povo valorizava mais o São João. A
nicípio no dia 11 de novembro de 1963, mações e perdeu a reeleição para José Ni- gente tinha prazer de participar da festa.
quando foi emancipado de Riachuelo. valdo de Carvalho (Zé da Serraria). Este Tinha novena, fogueira, quadrilha, arraial,
Mas só em 7 de setembro de 1965 houve havia tentado a prefeitura durante os 18 comida típica. A festa, que antes era come-
a primeira eleição, sendo escolhido prefeito anos em que o município esteve nas mãos morada em toda a cidade, hoje se resumiu
José Edgar de Andrade, morto em 2001. do mesmo grupo político. ao forródromo, com bandas eletrônicas que

CINFORM 27
Região - Oeste (agreste)
Distância de Aracaju - 36 km
População - 14.733
Atividades econômicas - Extrativismo (ma-
deira, minerais primários, agricultura , pecuária,
comércio, indústria (serrarias, casa de farinha de
mandioca e doces caseiros).

Poço das Moças: um convite ao banho nas águas cristalinas em meio à Mata Atlântica

quadrilha, rodeio, até uma dança chamada


‘saia de mamãe sacode’. “Essa é a diversão
que a gente tem. Eu acho que esse clube
não pode acabar. Tenho fé em Deus que
esse prefeito vai dar continuidade ao gru-
po”, torce ela.

A minha, a sua, a
nossa Areia Branca

* VÂNIA ANGÉLICA RODRIGUES

O município de Areia Branca vem se de-


senvolvendo ao longo dos seus 38 anos e, a
cada ano, tendo destaque no setor do turis-
mo, contribuindo assim na tradição e eco-
nomia do Estado. Seu nome foi originado
Forródromo é preparado anualmente para receber os milhares de turistas para o São João pela existência de uma grossa camada de
areia branca no solo.
Com terra fértil, Areia Branca tem como
não tocam o verdadeiro forró”, diz ela. Grupo folclórico dos idosos principais produtos a cana-de-açúcar e a
Dona Santa lembra que Areia Branca tem mandioca. Antigos moradores contam que
um dos pontos de turismo ecológico mais A ex-primeira-dama Adelaide Oliveira na época da colheita eram realizados gran-
bonitos do Estado, que é o Poço das Moças. Almeida, mulher do segundo prefeito do des festejos, em agradecimento ao santo
Localizado na Estação Ecológica da Serra município, já falecido há 14 anos, reforça padroeiro São João Batista, regados com
de Itabaiana, o local é de deixar qualquer que Areia Branca é mesmo de paz e amor. muita comida típica e conversa de coma-
visitante boquiaberto com tanta beleza. No auge dos seus 71 anos, ela costuma bor- dres ao redor das fogueiras, ao som do for-
Entre a densa Mata Atlântica podem ser dar na praça da igreja, mas diz que o que lhe ró pé-de-serra.
encontradas várias espécies de orquídea, dar prazer mesmo é a dança. As comemorações se estendem desde a
angélica e cabeça de frade. É imperdível o Ela participa do Grupo de Idosos Paz e sede do município até os povoados Chico
banho nas águas cristalinas dos poços escul- Amor, que tem levado o nome de Areia Gomes, Boqueirão I e II, Rio das Pedras,
pidos nas rochas pela natureza. O balneário Branca a grandes eventos em Aracaju. Ade- Candinha, Junco, Serra Comprida, Cajuei-
natural é formado por riachos que nascem laide já foi rainha do milho e também dos ro, Caroba, Pedrinhas, Cafuz, Manilha, Co-
no topo da serra e vão se misturar às águas idosos. “Nós já dançamos na orla de Ata- lônia e Guidinha. Os moradores sentam-se
do Rio Jacarecica e depois ao Rio Sergipe. laia e no Pré-Caju. Eu fui criada presa de- às portas de suas casas, acendem fogueiras e
Segundo moradores, a tranqüilidade da mais. Nem tive minha festa de 15 anos. comem milho assado e cozido, pamonha,
cidade só é quebrada quando há fugas na Agora é que eu estou vivendo...”, diz. os famosos bolos de milho, o tradicional
Penitenciária de Areia Branca. No mais, Adelaide destaca que o grupo, que tem pé-de-moleque, canjica, amendoim e diver-
Areia Branca é realmente sinônimo de variada manifestação folclórica, está um sos pratos típicos que engrandecem nosso
paz e amor. pouco parado no momento. Têm reisado, cardápio junino.

CINFORM 28
Ex-primeria dama costuma bordar para passar o tempo

Time de futebol composto pelo primeiro prefeito


da cidade (C), e o segundo (com a bola)

Essas casas não existem mais: deram lugar à Desfile das escolas da rede municipal, ocorrido
rodovia BR-235, que passa por dentro do município na cidade no ano de 1968 Filhos Ilustres
Juviniano Freire de Oliveira Filho - den-
Na década de 90 o São João de Areia Areia Branca tem tradição, e com cer- tista
Branca deixou de ser uma comemoração teza essa história terá continuidade, pro- Menilson Menezes - médico, ex-diretor da
local para se transformar no maior São João metendo ter destaque no calendário do Maternidade Ildete Falcão Baptista
de Sergipe e, por que não dizer, do Brasil. turismo nacional, sendo divulgado em
Célia Andrade - advogada, ex-delegada do
Toda essa expansão é acompanhada pela co- eventos da capital, como a Feira de Ser- Trabalho em Sergipe
munidade, que participa também da con- gipe, realizada anualmente na Orla da
fecção de adereços que decoram a cidade Praia de Atalaia, e no Pré-Caju, prévia Ascendino Souza - advogado, ex-prefeito do
município
nos dias de festa. carnavalesca de Sergipe.
A tranqüilidade é a maior característi- O município vive uma nova fase no Clodoaldo Andrade Júnior - advogado, ex-
ca da nossa festa e a alegria, animação e seu desenvolvimento, pois está renascen- prefeito
segurança têm lugar garantido no forró- do com a nova administração que rece-
Josa, o Vaqueiro do Sertão - sanfoneiro mais
dromo, espaço com capacidade para 100 berá de braços abertos os visitantes. Es- famoso de Sergipe
mil pessoas dançar tranqüilamente ao peramos que eles tragam nas bagagens
som de forrozeiros locais e nacionais, muita alegria e paz, pois fogos em Areia
onde o xote, o xaxado e o baião tocam o Branca são proibidos, lá o que explode Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
meu coração e os corações de milhares de mesmo é o coração! C
Fonte: pesquisa feita por Márcia Maria Correia, Luciene
pessoas, de todas as gerações que chegam Conceição Rodrigues Cerqueira e Rosenilva Francisca dos
Santos.
à nossa cidade. * Professora da Rede Municipal de Ensino
Barra já foi a Ilha
dos Coqueiros
O município de Santa
Luzia, que já foi um
porto seguro de
navegadores franceses,
só foi emancipado
em 1952

B
em antes de os portugueses chega
rem às terras que hoje formam o
Estado de Sergipe, os navegadores
franceses já tinham fortes contatos comer-
ciais com os índios que aqui habitavam.
Acredita-se que foram eles que trouxeram
para cá o coqueiro. Os primeiros registros Coqueirais são riquezas históricas
da existência de povoamento do território
da antiga Ilha dos Coqueiros datam de 1590, atitude equivocada. Em 30 de dezembro entanto, essa nova categoria era apenas te-
quando da conquista definitiva do territó- daquele ano ele determina ao inspetor da órica.
rio da Capitania de Sergipe d’El Rei. Tesouraria Provincial que faça a imediata
O historiador que mais fez referências a transferência da Mesa de Rendas da Ilha Vira Cidade
Ilha dos Coqueiros foi o cartógrafo holan- dos Coqueiros para a margem oposta do
dês Barleus. Ele chegou a colocar a cidade Rio Sergipe, isto é, na povoação de Santo Por muitos anos, os moradores da Barra
de São Cristóvão na costa ocidental da Ilha Antônio do Aracaju. dos Coqueiros não tiveram nenhum desejo
dos Coqueiros. Mas boa parte dos historia- Mas a localização da Mesa de Rendas na mais sincero de transformar o povoado em
dores revolta-se com essa posição do ho- ilha se justificava tendo em vista as embar- cidade. A proximidade com a capital era o
landês, que acabou sendo referendado por cações de grande porte que penetravam pela fator principal dessa manutenção. Mas a
Felisbello Freire. A discussão se estendeu barra do Rio Sergipe para atender as de- situação começou a mudar quando o coco-
por muitos anos. mandas dos importantes portos de Maru- da-baía passou a ser muito valorizado no
Nos seus escritos, Barleus ainda faz refe- im, Laranjeiras e Santo Amaro. Os navios mercado nacional e internacional e na Bar-
rências à povoação na antiga Ilha dos Co- chegavam na barra, esperavam a preamar ra dos Coqueiros foram instaladas duas fá-
queiros, incluindo entre as capelas existen- (maré alta) e depois seguiam aos portos, bricas de beneficiamento do coco.
tes em 1632 na capitania, a de São Cristó- que por sua vez faziam inúmeras transa- Em 1953 ocorre uma grande revisão do
vão, que ficava naquela ilha. A povoação se ções com muitos países europeus. território de Sergipe. Muitas freguesias e
desenvolveu envolta pelas embarcações que Depois que Aracaju aparece como capi- povoados já vinham brigando para se tor-
chegavam e partiam da ilha. O fluxo de tal, em 17 de março de 1855, a Ilha dos narem cidades independentes. A Assembléia
importações e exportações era tanto que lá Coqueiros é absorvida pela nova cidade. O dos Deputados aprovou e o Governo san-
foi instalada uma Mesa de Rendas, espécie início de progresso conquistado pelos mo- cionou a criação de mais 19 municípios,
de posto fiscal da Secretaria da Fazenda. radores da ilha ficou estagnado e tudo se- dentre eles a Barra dos Coqueiros. Mais pre-
guia para Aracaju, a capital. Mas 20 anos cisamente no dia 25 de novembro de 1953,
Ação Equivocada depois, em 10 de maio de 1875, a povoa- a Barra é elevada à condição de cidade.
ção da ilha ganhou o status de freguesia Mas a ilha que virou município demorou
Em 1854, o então presidente da provín- com o nome de Freguesia de Nossa Senho- ainda para se tornar efetivamente indepen-
cia, Ignácio Joaquim Barbosa, toma uma ra dos Mares da Barra dos Coqueiros. No dente. Isso só aconteceu no final de 1954

CINFORM 30
Região - Leste de Sergipe
Distância de Aracaju - 1 km
População - Cerca de 18 mil
Atividades econômicas - Agricultura,
peixe e turismo

Prédio antigo da prefeitura em 55

quando 598 eleitores dos 1.105 inscritos vo-


taram no primeiro prefeito da Barra dos Co-
queiros e nos cinco primeiros vereadores. No
dia 31 de janeiro de 1955 toma posse como
prefeito, Moisés Gomes Pereira.

O general e o jornalista Igreja matriz de Santa Luzia

A Barra dos Coqueiros, por certo, tem


dezenas de filhos ilustres que se destacaram
em Sergipe e no Brasil. Mas dois merecem
registro: o general Antônio Sebastião Basí-
lio Pirro e o jornalista Gratulino Vieira de
Mello Coelho.
O general Antônio Sebastião Basílio Pirro
era filho de Francisco Pirro, que desenhou
Aracaju como um tabuleiro de xadrez. An-
tônio Pirro nasceu em 29 de janeiro de 1852,
e em 1887 acompanhou o Barão de Capane-
ma na comissão brasileira de limites com a
República da Argentina. Ele realizou, como
auxiliar técnico, as explorações dos rios Cho-
pim e Iguassu, e depois no Rio Jangada.
Na revolta da esquadra, em 6 de setem-
bro de 1893, ele defendeu vários pontos do
litoral da capital da República. Os revolto-
sos iriam desembarcar lá. O general Antô- O grosso do transporte ainda é marítimo

CINFORM 31
Vista parcial da cidade antiga

Vista da cidade hoje Igreja matriz hoje

nio Pirro ainda participou de lutas em Marcas históricas na educação ta Luzia. As mestras irmãs Creuza Gomes
Canudos, em 1887, e depois da revolução e Maria Zelma davam continuidade à edu-
Ponce, no Mato Grosso, em 1906. Ele *JOSÉ RAMOS DOS SANTOS cação na Barra dos Coqueiros. No início
possuía várias condecorações. dos anos 70, outra grande educadora, Ma-
O general, quando ainda era alferes, foi Em 1952, antes mesmo da emancipa- ria Lígia Moura, fundou mais um educan-
o inventor de um aparelho para tiro ao alvo, ção política do município (25 de novembro dário, o São Luiz. A entidade de ensino
que foi adotado oficialmente pelo Exérci- de 1953), a jovem professora do primário, também se tornou exemplar. Vale lembrar
to, e passou a se chamar ‘Mesa de Pontaria Maria do Céu Sales, fundou o Educandário ainda o professor poliglota José Franklin.
de Pirro’. Ele morreu em 3 de abril de 1929, Nossa Senhora de Fátima. A instituição Por todos esses educandários, principalmen-
no Rio de Janeiro. particular lecionava do primeiro ao quarto te os públicos, passou boa parte da população da
Já Gratulino Vieira de Mello Coelho ano do primário, atual ensino fundamen- Barra dos Coqueiros. Muitos dos seus ex-alunos
nasceu em 11 de junho de 1844, na Ilha dos tal. Por décadas, a mestre pioneira educou ocuparam os cargos de prefeitos, vereadores.
Coqueiros. Era filho de João Vieira de Me- várias gerações de barra-coqueirenses. Muitos se tornaram médicos, advogados, pro-
llo Coelho e Norberta Maia de Morais. Foi A maneira peculiar de ensinar logo logo fessores e outros profissionais liberais. C

jornalista e poeta. Ele aparecia constante- tornaria a professora Maria do Céu, como é
mente nas colunas dos jornais de Aracaju. conhecida, uma referência na área educaci- *Cidadão e morador da Barra dos Coqueiros
Foi o redator-chefe, no Rio de Janeiro, do onal do município. Assim, boa parte da
jornal mensal “O Myosote”. Esta publica- comunidade estudantil da Barra dos Co-
ção recebia a colaboração de Bruno Labra, queiros tinha a obrigação de passar pelos Texto: CRISTIAN GÓES
Castro Alves e outros intelectuais da épo- bancos de seu educandário. Fotos e reproduções: DIÓGENES DI E EDSON ARAÚJO
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e colaboração de
ca. Ele morreu no Rio de Janeiro em 17 de Na década de 60, outras duas profes- José Ramos dos Santos
novembro de 1918. soras fundaram outro educandário, o San-

CINFORM 32
Para as prefeituras que valorizam e incentivam
o pequeno empreendedor
Inscrições até 10/07
Boquim terra do príncipe
dos poetas
O município que já se
chamou Lagoa
Vermelha orgulha-se
de ter como
filho mais ilustre
Hermes Fontes

amentavelmente os primeiros re

L gistros da história do município de


Boquim, que fica a 82 quilômetros
de Aracaju, datam somente do início do
século XIX. Antes disso, porém, são pou-
cas e não confiáveis as informações sobre o Fonte da Mata: inspiração para Hermes Fontes
surgimento do que viria a ser Boquim.
Historiadores contam que o município ro de 1857, a freguesia era elevada à cate- seria um dos maiores defensores e trabalha-
apareceu a partir do Povoado Lagoa Ver- goria de vila independente, libertando-se ria muito para que a sede da vila fosse trans-
melha, que ficava dentro dos limites da de Lagarto. ferida para um lugar mais alto, bem longe
Freguesia de Nossa Senhora da Piedade A pose de vila, já um grande município das enchentes.
do Lagarto. Esse povoamento estaria situ- no Centro-Sul sergipano, não combinava Não deu outra. A padroeira ouviu as pre-
ado à margem do Rio Piauí, cerca de dez com a situação enfrentada pelos seus mora- ces do padre Cravo e as águas logo baixa-
quilômetros de onde fica atualmente a ci- dores. Bastava chover para dar volume ao ram. O vigário, com o apoio do coronel
dade de Boquim. O lago era formado por rio Piauí, que por sua vez despejava na la- José Batista, do major Venâncio da Fonse-
águas avermelhadas por causa da qualida- goa e as águas barrentas provocavam gran- ca Dórea e dos comerciantes Manoel An-
de do solo, que tinha a cor vermelha. Daí des enchentes na vila. As doenças varriam tônio de Fraga e Antônio Araújo, conse-
o seu nome. o município e os prejuízos econômicos, prin- guiram mudar a sede da vila. Toda máqui-
Era um simples arraial. Basicamente for- cipalmente nas lavouras, eram incalculáveis. na administrativa e seus funcionários fo-
mado por sítios que por sua vez atraíam Conta-se que no inverno de 1869, foi re- ram transferidos para um grande terreno
“colonos” agregados. Antes de conquistar gistrada uma das maiores cheias do Piauí e de um sítio chamado Boquinha da Mata,
o posto de freguesia, a Lagoa Vermelha teve da Lagoa Vermelha. Foi tanta água que a que recebeu esse nome por ficar na boca de
instalada uma subdelegacia e um Distrito vila praticamente ficou isolada, transfor- uma mata densa e verdejante.
de Paz. Em março de 1835 foi criada uma mando-se numa verdadeira ilha. Os mora- Segundo alguns historiadores, boa parte
escola para as primeiras letras destinadas dores que sobreviveram ficaram dias sem das terras do sítio pertencia ao coronel José
apenas às crianças de sexo masculino. poder sair para o campo. Batista, que no local já havia construído
uma capela e uma casa. Naquela região,
Freguesia e Enchentes Padre Cravo e a Mudança Antônio Araújo e outras pessoas também
possuíam casas. A mudança da Lagoa Ver-
Pouco mais de um mês depois, precisa- Diante daquela situação calamitosa, o melha para a Boquinha da Mata foi logo
mente em 24 de abril de 1835, a Lagoa vigário da vila, padre Manoel Nogueira aprovada pelas autoridades da província.
Vermelha acabou se transformando em fre- Cravo, teria feito uma prece pública à pa- Em 21 de março de 1870 a Vila Lagoa
guesia com o nome de Nossa Senhora San- droeira da Lagoa Vermelha, Nossa Senhora Vermelha era oficialmente extinta e a nova
tana da Lagoa Vermelha. Mas a evolução Santana, para que ela fizesse baixar logo o vila passaria então a se chamar Boquim,
econômica era tanta, que em 20 de feverei- nível das águas. Caso isso acontecesse, ele que para alguns historiadores seria a sim-

CINFORM 34
Antiga Intendência de Boquim

Região - Centro-Sul de Sergipe


Distância de Aracaju - 82 km
População - Cerca de 24 mil
Atividade econômica - Agricultura (laranja)

chegou a ter um parque industrial com 63


grandes fábricas, desde descaroçadoras de
algodão até uma potente sapataria. O co-
mércio de Boquim foi um dos mais impor-
tantes. Suas mais de 50 grandes lojas fazi-
am transações comerciais com São Paulo,
Rio de Janeiro (que era a capital federal),
Salvador e Aracaju.
Reisado ‘Santo Antônio’ de dona Argemira A iluminação pública, fornecida por uma
usina local, era fornecida para mais de 280
plificação do nome Boquinha da Mata. Ou- O município consegue em 1913 ser casas. Além de duas grandes pensões, a ci-
tros intelectuais não concordam e garantem contemplado pelo plano de ligação ferro- dade chegou a ter o maior cinema da re-
que Boquim, nome sugestionado pelo pa- viária dos Estados de Sergipe e Bahia. Em gião, que passava filmes de 35 mm e tinha
dre Cravo, seria bíblico e significava “terra Boquim as linhas férreas cortaram a cida- capacidade para 300 lugares. A educação
de chorões”. de e uma estação foi construída. Além de no município também era de primeira qua-
passageiros, a ferrovia levava e trazia ri- lidade. O destaque é o Grupo Escolar Seve-
Marcas do Progresso quezas. O resultado foi um gigantesco riano Cardoso, berço da formação intelec-
desenvolvimento do comércio e um gran- tual de Boquim. Em 1938 a Vila Boquim
Instalada a nova vila, Antônio Araújo de estímulo à produção agrícola. passou a ser cidade.
doou parte de suas terras para a construção
da nova igreja da poderosa Nossa Senhora A Força do Trem Hermes Fontes:
Santana. As terras de Boquim pareciam o príncipe dos poetas
muito mais férteis do que as da Lagoa Ver- Alguns historiadores dizem que com
melha. O novo local da vila era cortado por a chegada do trem, aquela máquina trou- Hermes Fontes, um dos maiores inte-
excelentes fontes minerais de água cristali- xe também mudanças nos hábitos soci- lectuais sergipanos e brasileiros, nasceu em
na e doce. Tudo estava preparado para o pro- ais em Boquim. Os moradores espera- 28 de agosto de 1888 na então Vila Bo-
gresso de Boquim que viria muito rápido. vam os passageiros com suas melhores quim. Escreveu vários livros, sendo citado
Em 1881, o município já era cabeça de co- roupas. Os hábitos eram os mais requin- como um dos melhores poetas brasileiros
marca judiciária, o que na prática não se efe- tados e o reflexo também se via na ar- de sua época. Hermes Fontes morreu no
tivou por causa da crise do Império. quitetura com influência européia. A si- dia 25 de dezembro de 1930, no Rio de
Depois da Proclamação da República, em tuação econômica de Boquim era tão Janeiro. A principal praça de Boquim rece-
9 de janeiro de 1890, a Câmara Municipal de confortável, que em 1918 a arrecadação be o seu nome.
Boquim também é dissolvida e é formado do município alcançou a maior de toda a Com uma inteligência precoce que sur-
um Conselho de Intendência composto pelo região sul de Sergipe. preendia a todos, recebeu proteção do en-
presidente, Benjamim Fernandes da Fonse- Boquim sempre teve a agricultura tão governador de Sergipe, Martinho Gar-
ca; pelo capitão Félix Franklin de Menezes e como sua principal base econômica, che- cez, que o levou em 1898 para residir no
pelo major Manoel Evaristo de Carvalho, os gando a ser um dos maiores produtores Rio de Janeiro. Em pouco tempo já cola-
dois últimos como membros. de fumo e de frutas do país. O município borava em órgãos da imprensa e em 1904

CINFORM 35
Estação: força dos trilhos

1956, Boquim deu início à tradicional Fes-


ta da Laranja. C

Filhos Ilustres
Celso Pinto de Oliva - Odontologista, fotó-
grafo, contista, poeta e pesquisador, fundador
e presidente da Sociedade Sergipana de Fo-
Maria Genilda (segunda da dir. para esq.): tografia. Expôs seus trabalhos em diversos pa-
primeira rainha da laranja em 1956
íses. Conquistou vários troféus, diplomas e me-
dalhas.
fundou um jornal com a ajuda de dois com- Entre os diversos contos publicados em jor-
panheiros. Ainda estudante de Direito, lan- nais e revistas de Aracaju e no Correio da
çou “Apoteoses”, livro bastante elogiado Manhã do Rio de Janeiro está o conto “Sam-
pela crítica. ba, negro”, premiado em concurso literário,
Redator do “Diário de Notícias”, tra- promovido pela Academia Sergipana de Le-
balhou em prol da candidatura de Rui tras.
Barbosa à presidência da República. Co- Ele foi bem-sucedido na área de pintura. Suas
telas, hoje, encontram-se em diversas pina-
laborou também no “Imparcial”, foi fun-
cotecas de Aracaju, Maceió, Salvador, Rio de
cionário dos Correios e oficial de Gabi- Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo.
nete do ministro da Viação. Participou Celso Oliva morreu em Brasília, em fevereiro
também da equipe de redação de “Care- de 1963.
ta” e “Fon-Fon”, e colaborou nos perió-
dicos “Tribuna”, “Imprensa”, “Atlânti- Benjamin Fernandes Fontes - Foi tesou-
da” e outros. Dedicou-se, durante sua reiro da Prefeitura de Boquim e um dos cria-
Hermes Fontes: príncipe dos poetas dores da Festa da Laranja. Foi proprietário de
vida, a escrever também textos políti-
um grande Armazém de Secos e Molhados
cos e humorísticos, assinando algumas em Aracaju e presidente do Sindicato dos Em-
colunas com diferentes pseudônimos. pregados no Comércio. Em sua gestão foi
Constam de sua bibliografia: “Apoteo- Tudo começou em 1920, quando chega- construída a sede do sindicato, na Avenida
ses” (versos), 1908; “Gêneses” (versos), ram mudas de laranjeiras “baía”. Naquela Carlos Firpo.
1913; “À Margem de um Inquérito”, época predominava na região o plantio do Ele liderou programas culturais, recreativos
(notas autobiográficas), 1913; “Ciclo de algodão e a criação de gado. A tímida cul- e religiosos na sua terra natal. Amigo pessoal
Perfeição”, 1914; “Mundo em Chamas”, tura da laranja começou a ser feita consor- de Leandro Maciel, foi líder da UDN em Bo-
quim. Sua vocação política foi reconhecida,
1914; “Juízos Efêmeros” (prosa), 1916; ciada com o coqueiro. Germiniano Fer-
sendo eleito deputado estadual em 1958. No
“Miragem do Deserto” (versos), 1917; nandes da Fonseca foi um dos pioneiros da Governo de Dionísio Machado foi secretário
“Epopéia da Vida”, 1917; “Microcosmo” citricultura no município. Foi ele quem plan- da Fazenda. Em 1967, assumiu o cargo de
(elogio dos insetos e das flores), 1919; tou as primeiras mudas vindas de Alagoi- presidente da Energipe.
“A Lâmpada Velada”, 1922; “Despertar!” nhas (BA). Apesar das desconfianças, Ger- Quando José Rollemberg Leite assumiu o Go-
(conto brasileiro), 1922; “Fonte da miniano persistiu. Em 1966, a laranja dava verno, em 1975, Benjamim foi convidado
Mata”, 1930. a Boquim a liderança da cultura no Nor- para assumir a direção da Recebedoria do
deste. Estado. Exerceu essa função até sua morte.

Boquim da laranja Por causa da laranja, outros 13 municípi-


os sergipanos passaram a produzir os fru- Texto: JOSÉ CRISTIAN GÓIS
Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
Boquim ficou conhecida como um dos tos. O resultado é que o Estado passou a ser Fonte: Revista de Boquim, Enciclopédia dos Municípios Brasilei-
maiores produtores de laranja do Brasil. um dos maiores produtores brasileiros. Em ros e Museu e Biblioteca Municipal de Boquim
Brejo Grande
a ilha que se tornou
Brejo Grande
Esse município
sergipano, presenteado
pela foz do Rio São
Francisco, já foi
de Pernambuco

É
bastante curiosa a história do mu-
nicípio de Brejo Grande, a 137 qui-
lômetros de Aracaju. Localizado na
ponta extrema norte e direita de Sergipe,
ele já foi uma paradisíaca ilha. Isso mesmo,
o município já foi um dia terra rodeada de
água por todos os lados.
Outro fato interessante é que Brejo
Grande não pertencia a Sergipe, ou me-
lhor, à Capitania da Bahia e, sim, à pode- Farol do Cabeço: destruído pelas águas do mar
rosa Província de Pernambuco. Alagoas
também não existia. Mas a história ainda município de Neópolis, enviou uma repre- Surto Republicano
revela um outro capricho para Brejo Gran- sentação ao Governo da Bahia solicitando
de: o seu nome. Primeiro foi Ilha de Pa- que a Ilha de Paraúna fosse anexada ao ter- No Governo de Manoel de Deus Ma-
raúna, depois Brejo Grande, em seguida ritório de Vila Nova, Capitania da Bahia. chado, por volta de 1826, Brejo Grande foi
São Francisco, passou para Parapitinga e O pleito só foi atendido em 9 de julho de um dos três locais em Sergipe que se tentou
retornou a Brejo Grande. 1812, passando assim para Sergipe. Mas, implantar a República, exterminando com
A Ilha de Paraúna já era conhecida desde eclesiasticamente, Brejo Grande só passou a Monarquia. Além de Brejo, o surto repu-
1640. Em 1501, o Rio São Francisco era a pertencer ao bispado da Bahia em 1859. blicano chegou com força em Estância e
descoberto e suas águas banhavam e alaga- O português José Alves Tojal, um ho- Japaratuba. Em Brejo Grande a idéia de
vam aquela grande ilha de terras férteis. mem influente em Vila Nova, conseguiu República teria chegado com os imigrantes
Por lá viviam os índios tupinambás, mas mudar o rumo da história. Tojal fez lite- pernambucanos, que chegaram fugindo da
depois da conquista de Sergipe por Cristó- ralmente desaparecer a Ilha de Paraúna, repressão do Governo na revolução per-
vão de Barros, elas passaram através de ses- aterrando parte do canal. Assim, as terras nambucana de 1817.
marias para Antônio Cardoso de Barros, efetivamente estavam agora ligadas à Ca- Mas o movimento em Brejo Grande, se-
seu filho, em 9 de abril de 1590. Já em pitania da Bahia. gundo os relatos do historiador Laudelino
dezembro de 1653, João Barros Cardoso, Depois da ação de José Tojal, as terras, Freire, foi facilmente sufocado pelo Gover-
bisneto de Cristóvão de Barros, vende as mais férteis do que nunca, atraíram gente no de Manoel Machado. O presidente teve
terras aos padres Carmelitas da Bahia. de Vila Nova e em especial alagoanos, per- uma grande colaboração do Barão Bento
nambucanos e cearenses, que fugiam das de Melo Pereira. Este, inclusive, teria mon-
Dependência de Vila Nova grandes secas e encontraram na foz do Rio tado fortes de resistência nas margens do
São Francisco um porto seguro. Historia- Rio São Francisco. Os republicanos, lidera-
Desde 1755, Vila Nova e Penedo trava- dores contam que, por volta de 1824, na- dos pelos irmãos Antônio José e José Albu-
vam uma disputa no sentido de ter as terras queles terrenos embrejados o Barão Bento querque Cavalcante, foram presos e depor-
da Ilha de Paraúna. A Câmara de Repre- de Melo Pereira fundou oficialmente a po- tados de Brejo Grande.
sentantes da importante Vila Nova, hoje o voação de Brejo Grande. Talvez por sua participação na vontade

CINFORM 37
Região - Norte de Sergipe
Distância de Aracaju - 137 km
População - Cerca de 7 mil
Atividades econômicas - Agricultura,
piscicultura e extração de petróleo

Igreja de Nossa Senhora da Conceição

de implantar uma República no Brasil, Brejo turístico, mas são pernambucanos e ala- as bênçãos da padroeira Nossa Senhora da
Grande, apesar de condições para se tornar goanos que fazem a exploração de um Conceição (cuja festa é 8 de dezembro),
vila, permaneceu como povoado dependente dos locais mais belos de Sergipe. São em 2 de outubro 1926, Brejo Grande, atra-
de Vila Nova por muitos e muitos anos. dezenas de ilhas, com um denso e rico vés da Lei Estadual 929, passava à condição
Em 1851 entraram em Brejo Grande, pelo manguezal. de município com o nome de São Francis-
Rio São Francisco, cerca de 400 escravos, A invasão holandesa também parece co. Acredita-se que isso se deu por conta da
mesmo depois da proibição do tráfico. Eles ter marcado aquele município ribeirinho. gigantesca influência do Velho Chico. No
só foram encontrados por terem contraído Até hoje existe um povoado de nome dia 26 de outubro daquele mesmo ano era
bexiga (varíola). Em Brejo Grande já existia Terra Vermelha, onde boa parte de seus instalado o novo município.
desde 1849 uma irmandade que admitia moradores tem características européias: Quando os brejo-grandenses estavam se
“qualquer pessoa de um e outro sexo, livre brancos, olhos azuis e loiros. acostumando com o nome de São Francis-
ou serva, de qualquer cor que seja...”. Em co, em 31 de dezembro de 1943, por conta
1889, foi registrado em Brejo Grande um Independência e Nomes de uma lei (revogada), que proibia nomes
levante de escravos. repetidos nos municípios brasileiros - uma
A propaganda positiva das terras de alu- outra cidade em Minas Gerais tinha o mes-
Economia Ribeirinha vião cresciam, atraíam muita gente e o mo nome -, o município passou a ser deno-
povoado já despontava como cidade. Sob minado de Parapitinga. No entanto, esse
Apesar de ser banhado pelo então Rio das
Borboletas (São Francisco), Brejo Grande teve
uma forte economia baseada na cana-de-açú-
car, chegando a ter mais de 20 engenhos. Um
dos mais importantes foi o Cajuhype, o pri-
meiro a funcionar a vapor, em 1873. Perten-
cia ao advogado Manoel de Lemos Souza
Machado, um penedense que marcou decisi-
vamente a história de Brejo Grande e do Bai-
xo São Francisco. Por conta da cana, o muni-
cípio também teve uma grande população de
escravos e um movimentado porto.
Depois da cana, o município encontrou
outra vocação: o arroz. As terras inundáveis
eram propícias para essa cultura. Mais tarde,
ganham força em Brejo Grande o algodão, a
pesca, o petróleo e o coco. Na década de 50,
o município também tinha uma grande pro-
dução de sal marinho.
Brejo sempre teve um grande potencial Engenho Cajuhype: primeiro a vapor

CINFORM 38
Prédio da antiga prefeitura

O manto, agora, de águas pardacentas,


para esconder os crimes que pratica,
estende sobre tudo.
E corre e foge assim como quem foge
para escapar à punição dos crimes.
Investe, ainda, contra o mar incauto
Antiga ilha que virou cidade em cujo dorso, no último atentado,
entra como um punhal.
novo nome não recebeu a adesão da popu- poesia as grandes tragédias que o Rio São Depois...
lação, e dez anos mais tarde o Governo do Francisco sempre provoca no município de Andam fantasmas sobre as margens mortas.
Estado fez voltar oficialmente o nome de Brejo Grande. E o grande rio, colossal, enorme,
Brejo Grande, através da Lei 554 de 6 de findo o trabalho de extermínio, volta re-
fevereiro 1954. O primeiro prefeito foi De longe vem, de muito longe, o rio torna ao leito e impunemente dorme. C
Adelino José da Silva em 1926. O São Francisco para o mar distante.
E rola e redemoinha
Enchentes Grandes e cresce e cresce e alonga-se nas margens, Filhos ilustres
e tudo invade e envolve e tudo afoga e
Manoel Machado de Lemos, que adotou mata. O município de Brejo Grande produziu gran-
Brejo Grande como pátria e mãe de seus É o cemitério líquido de tudo. des filhos. Famílias inteiras, como os Lemos
Machado, os Ferreira, os Tojal dedicavam-se
filhos, atuou na literatura. A seguir, um dos Campos, habitações, ilhas viventes, à Medicina e ao Direito. De Brejo Grande saiu
seus poemas, publicado pela Secretaria da o rio doido, o ministro de Saúde e secretário de Saúde do
Cultura de Maceió, na série de estudos ala- correndo arrasta e leva na corrida. Estado de São Paulo, Mário Machado de Le-
mos. O seu irmão Eraldo, médico e advogado,
goanos. Em “Enchentes Grandes” o poeta Árvores tremem desaparecendo, foi deputado estadual e federal. Outra grande
revela toda sua inspiração, traduzindo em no último gesto de quem diz adeus. figura em Brejo Grande foi Manoel de Lemos
Souza Machado, que foi nomeado deputado
provincial pelo Marechal Deodoro Fonseca,
em 1873.
Outros filhos ilustre foram: o cônego José Fer-
reira Machado, o padre Zeca, o primeiro a ser
vigário de Brejo Grande. Benito da Silva, mé-
dico que fundou a Fundação Sesp no municí-
pio, passando cerca de 30 anos se dedicando
àquela população. Outro médico marcante na
história de Brejo Grande foi Enéas Manoel
Ferreira. Ele escreveu a importante tese “O tra-
tamento cirúrgico da tuberculose”.
Outras figuras que deixaram os nomes regis-
trados na história de Brejo Grande foram o
médico Odilon Ferreira Machado (pai de Ma-
noel Cabral Machado), médica Eunice Macha-
do Lemos, agrônomo Francisco Machado
Farias, Manoel Dias, desembargador Antônio
Machado, advogada Maria José Pinheiro, Flá-
vio Tojal, José Machado Tojal, Melício Fernan-
des de Souza Machado, Adolfo Isaías, Leonti-
no Gomes, juíza Rosivânia Machado, advoga-
do Luiz Machado Lemos, contador e agrope-
cuarista José Machado Martins, Luiz Machado
Mendonça, José Carlos Machado Ferreira, Ma-
teus Ferreira Machado e muitos outros.

Texto: JOSÉ CRISTIAN GÓES


Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
e EDSON ARAÚJO
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e colaboração
de Manfredo Góes Martins e Benito da Silva e família.
Família Machado na década de 30

CINFORM 39
Campo do Brito
política marcada por brigas

Sua história começou


com muita fé e união,
passou por um
caminho tortuoso,
e hoje é a ‘Cidade Paz’

C
ampo do Brito, distante 64 quilô
metros da capital e localizada no alto
com uma visão privilegiada, é um
município que teve um passado marcado
por muitas brigas políticas. Sua história, que
começou com muita fé e união até a eman- Igreja matriz de Campo do Brito: construída no lugar da antiga capela
cipação política, entrou por um caminho
tortuoso com uma administração reconhe- fundada a paróquia de Nossa Senhora da A oportunidade de emancipação sur-
cida como ditatorial. Depois de muitos atro- Boa Hora, ficando independente da de San- giu em 1910, quando o general José Si-
pelos houve uma reviravolta e a comunida- to Antônio das Almas, de Itabaiana. queira de Menezes, candidato ao Gover-
de voltou a desfrutar de tranqüilidade. no do Estado, foi a Campo do Brito pedir
Há duas versões para o surgimento da Surge o Líder votos aos britenses. O padre prometeu o
cidade: a primeira é que teria nascido num apoio em troca da emancipação, caso ele
lugar hoje conhecido por Campo do Brito Passaram vários párocos por lá, sem dei- fosse eleito.
Velho, onde existem ruínas que poderiam xar nenhuma marca. Até que em 28 de A partir daí começaram os protestos em
ser de uma capela. A outra, é que teve iní- agosto de 1888 foi nomeado como vigário Itabaiana. O padre foi eleito deputado es-
cio em uma capela que deu lugar à Igreja o padre Francisco Freire de Menezes. Ele tadual e apresentou, imediatamente, o pro-
Matriz, onde as ruas foram aparecendo em promoveu uma verdadeira revolução no jeto de lei para emancipação da freguesia.
torno dela. povoado. Culto e inteligente, o padre não Assim, Campo do Brito passou à categoria
Mas o certo é que, em 1601, as terras perdeu tempo. Construiu a matriz e várias de município, passando a ser sede dos po-
de Campo do Brito foram doadas em ses- capelas nos povoados pertencentes à sua voados Macambira, Ribeira, Pedra Mole e
marias de 30 léguas ao capitão Antônio paróquia, e organizou seus súditos para uma Pinhão.
Rodrigues, que depois da invasão holan- nova era. Após a emancipação, assumiu como in-
desa cedeu ao Irmão Amaro, da Compa- Percebendo a liderança do padre, a po- tendente provisório o coronel João Pinto,
nhia de Jesus. pulação começou a apelar para que ele mas nas primeiras eleições o padre foi o
Antes da emancipação, ocorrida em 29 ingressasse na política e defendesse a primeiro prefeito eleito da cidade. Sem re-
de outubro de 1912, Campo do Brito per- emancipação do município. A princípio, cursos próprios, ele marcou sua adminis-
tencia a Itabaiana. Apesar de ser o povoado o padre resistiu à idéia, mas a insistência tração colocando iluminação na cidade com
de maior destaque do município, não rece- foi tanta que ele acabou cedendo. Cons- lampiões a querosene.
bia a devida importância. Sentindo-se aban- ciente da dificuldade que teria para en-
donados, os britenses começaram a desejar frentar as classes dominantes de Itabaia- Caminho Obscuro
a independência, mas faltava um líder para na, ele trouxe familiares do antigo en-
enfrentar a resistência dos itabaianenses. genho Maxixe, em Riachão do Dantas, Segundo o escritor Adalberto Fonseca,
Em 30 de janeiro de 1845, o povoado de propriedade dos seus pais, para refor- durante quase 12 anos o município enfren-
passou à categoria de freguesia, quando foi çar a luta. tou um período obscuro. “Campo do Brito

CINFORM 40
Região: Oeste (agreste)
Distância de Aracaju: 64 km
População: 15.045
Atividades econômicas: Agricultura (farinha de
mandioca), pecuária, fábrica de móveis, olaria e curtume

hoje não sei quem mandou me prender. Por


causa disso, fiquei na cidade e entrei de vez
na política”, lembra.
Seu Osvaldo foi interventor com 22 anos,
prefeito por duas vezes, deputado e vice-
prefeito. Ele defende que foi o prefeito que
mais fez obras importantes no município.
caiu nas mãos de Arnóbio Baptista de Souza 15 de agosto; e São Roque, dia 16 do “Fui eu que fiz a maternidade, o ginásio, o
e o obscurantismo envolveu o município. Não mesmo mês. cemitério e implantei a Comarca, que an-
há notícias de qualquer obra durante a passa- tes era em Itabaiana”, diz ele.
gem dele. Pelo contrário. Ele só promoveu
destruição e humilhação ao povo britense”,
escreveu ele. Até os santos foram
Adalberto conta que, com o apoio de Pe- expulsos da cidade
reira Lobo, o prefeito Arnóbio foi um autên-
tico ditador. Promoveu espancamentos, mor- Manoel Cariolando de Souza, 59 anos,
tes, agressões, invasões a propriedades e pren- diz que conhece toda a história do municí-
deu homens honrados sem nenhuma explica- pio por ouvir contar. Um fato interessante
ção. Na administração dele, até o esquife do lembrado por ele foi a expulsão do padre
Senhor Morto foi parar no xadrez. Apesar Freire, um dos vários atos insanos do pre-
dos protestos da comunidade, Arnóbio ainda feito Arnóbio. A população ficou revolta-
foi homenageado emprestando seu nome a da e quis saber como ficariam os santos sem
uma rua da cidade. o padre. Imediatamente ele deu uma solu-
Depois dele, assumiu a prefeitura Eme- ção: ‘expulsou’ também os santos. Colo-
Osvaldo: prefeito que mais empregou
liano Ribeiro, que realizou grandes obras britenses no serviço público estadual e federal cou todos eles num carro de boi e os man-
na cidade. Mas foi o prefeito Graciliano dou para a paróquia de Macambira, onde o
Apolônio da Fonseca, que colocou ener- “Não sei quem mandou me prender” padre estava.
gia elétrica, com a ajuda do concessioná- Cariolando afirma que em Campo do
rio José Mesquita, de Itabaiana. Foi ele, O ex-deputado e ex-prefeito Osvaldo Brito a política era mesmo ferrenha. “Era
também, que em 1961 abasteceu a cidade Lemos de Almeida, 80 anos - mostrando um radicalismo brabo. Quem perdesse a
com água potável, através de um poço ar- uma jovialidade incrível -, também foi eleição tinha que desaparecer da cidade. O
tesiano. vítima do radicalismo político da região. que ganhava botava o outro pra correr. Se
Hoje o povo de Campo do Brito vive “Eu estava de malas arrumadas para ir ficasse apanhava”, reforça ele.
tranqüilo sob a proteção de dois santos pa- embora para o Rio de janeiro. O tenente Outra história curiosa lembrada por Ca-
droeiros: Nossa Senhora da Boa Hora, dia mandou me chamar e me prendeu. Até riolando é que quando Francisco Vieira da

CINFORM 41
Lavanderia, implantada no governo de
Graciliano, facilitou a vida das lavadeiras.

Padre Freire: responsável pela emancipação e primeiro prefeito do município

Paixão (pai do deputado federal Ivan Pai- ciência dos que querem ser bem recebidos
xão, deputado seis vezes e prefeito em 1950) noutros lugares, levam esse povo do agres-
perdeu a eleição, teve que sair fugido da te a receber bem seus visitantes.
cidade. “Ele se vestiu com uma roupa de O Brasil adotou o ‘jus soli’ (Direito que
mulher, colocou uma peruca e saiu de ma- considera como nacional os nascidos em
drugada para não ser fuzilado”, disse. seu território), diferente da Itália, por
Cariolando diz que depois que Arnóbio exemplo, que adota o ‘jus sanguinis’ (Di-
perdeu o poder na cidade, fugiu para Bo- reito que considera como nacional todos Cariolando: “Quem perdesse a eleição tinha
quim, mas não escapou de levar uma surra filhos de seus nacionais, independente de que desaparecer da cidade”
de cipó caboclo que o deixou todo defeitu- onde nasçam). Campo do Brito faz um
oso. “A paz só voltou a Campo do Brito misto de ‘jus soli’ e ‘jus sanguinis’, lem- cientizem que suas ações transcendem sua
quando Roque José de Souza se elegeu. Com brando o beattle John Lennon, em sua existência na terra. É indubitável que as
ele voltou a democracia ao município”, música ‘Imagine’. pessoas não se incomodem com o que pen-
completa ele. Cidade da paz e da tranqüilidade. No ‘Bri- sarão deles após sua morte.
to’ são raros os crimes. Seus autores são Uma reflexão sobre os verdadeiros valo-
Campo do Brito - Cidade ‘Paz’ rechaçados veementemente pela população, res do homem e mensuração à conseqüên-
suas penas vão muito além das cominadas cia dos seus atos certamente os levarão a
* JOSÉ DJALMA FREIRE no código penal, pois lhes são impostas, atitudes imprescindíveis ao bem-estar da
também, a execração pública. Isto não se comunidade. O respeito às leis justas e à
Nas antigas administrações municipais resume ao âmbito penal. Na área civil e transparência no trato do dinheiro público
eram escassos os recursos públicos. Para se comercial também é raro se ver registro de já seria de bom alvitre para um início de-
fazer uma obra pública era comum a reali- inadimplência. cente e honroso. C

zação de leilões de gado. Havia, assim, uma O povo britense, que é conservador por
certa distribuição da riqueza, através de natureza, lamenta viver uma escravidão elei- * Bisneto do ex-prefeito Emeliano Ribeiro e formando
contribuições voluntárias (não tão volun- toral. O empobrecimento causado por este em Direito pela UFS
tárias assim, porque havia dividendos polí- neoliberalismo selvagem tem conduzido
tico-eleitorais). esse povo humilde ao curral da consciência Filhos Ilustres
Os britenses se orgulham muito mais das política.
obras particulares que das públicas. As ruas Falar que todos morrem é óbvio. Mas Ivan Paixão - deputado federal
antes traçadas como um tabuleiro de xa- por que será que alguns vivem mais na me-
drez, de uns tempos para cá foram se for- mória de muitos? - Pela sua história em Marcionílio da Rocha - superintendente da
Codevasf
mando segundo a conveniência do dono do vida. A História serve para que se julgue os
loteamento ou seguindo os becos. Inobs- acontecimentos passados, embasando um Raul Ermenegildo da Fonseca - capitão
tante a omissão do poder público, Campo futuro melhor. Uns se orgulham dos ascen- de Fragata da Marinha no Rio de Janeiro
do Brito tem um acervo imobiliário inve- dentes, enquanto outros os enterram nova- Josefa Tânia Menezes - juíza
jável, decorrente exclusivamente da boa mente ao se falar deles.
vontade dos populares. A oportunidade ímpar do CINFORM
Campo do Brito é uma cidade acolhedo- Municípios é uma esperança de tocar a
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
ra. O seu emancipador, padre Freire de Me- consciência dos atuais políticos. Oxalá, que Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
nezes, veio de fora para dar a ‘maioridade ao ver a história dos antepassados sendo Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e os livros ‘Cam-
política’ à cidade, depois dele muitos vie- contada por um órgão de comunicação de po do Brito Cinqüentenário’ e ‘História de Campo do Brito’,
de Adalberto Fonseca.
ram. O bom exemplo do primeiro e a cons- alta credibilidade, os atuais políticos se cons-
Canhoba terra de Eronides de Carvalho

O município já foi
chamado Curral
do Barro e
teve uma forte
economia algodoeira

or doação da coroa, /Manoel

“P Rocha é o seu fundador, /Eman-


cipada por Eronides, /O nosso
governador”. Este é um trecho do hino da
emancipação do município de Canhoba, que
fica a 124 quilômetros de Aracaju. E Ca-
nhoba tem história para contar? Tem e
muita.
As terras canhobenses, que se situam à
margem direita do Rio São Francisco, fazi-
am parte da Capitania de Todos os Santos,
que iam do Velho Chico até Itapoã, próxi-
mo a São Salvador.
Com a morte de Cristóvão de Barros,
parte dessas terras passam a pertencer a seu
filho, Antônio Cardoso de Barros. Os pri-
meiros exploradores chegaram no final do
século XVIII à Lagoa do Jaguaripe, hoje
Lagoa de Canhoba, usando o Rio São Fran-
cisco como estrada natural. Igreja Matriz de Bom Jesus dos Pobres
Segundo pesquisadores, Canhoba quer
dizer em língua portuguesa “folhas escon- chegada dos portugueses, os índios fugi- Eles fundaram a povoação “Curral de
didas”, uma planta medicinal usada larga- ram, mas no município ficaram suas mar- Barro”, por causa dos valados que os pos-
mente pelos indígenas. Uma espécie de plan- cas: os nomes de locais como Caiçara e seiros construíram para represar as águas
ta que produz milagre. Caraíbas. Sendo o maior registro o da exis- das lagoas, plantando nas terras alagadas o
A palavra “Canhoba” é a junção de duas tência da Baixa do Canhoba, que deu ori- arroz. Curral era um nome comum, pois
outras. Segundo o tupinólogo, Theodoro gem ao nome do lugar. no alto sertão existia o Curral do Buraco,
Sampaio, em seu Dicionário da Língua Manoel José da Rocha Torres, não resta (hoje Porto da Folha) e o Curral de Pedras
Tupi, “Can” quer dizer cânhamo, e “oba” é dúvida, foi o primeiro posseiro do hoje (hoje Gararu).
o senhor da terra. município. As suas terras foram adquiridas Construída a primeira igreja sob a invo-
através de uma Carta Régia, desde o São cação de Nossa Senhora da Conceição, sur-
Cataioba e Curral Francisco até o interior, na altura do Bom giram opiniões no sentido de ser mudado o
Nome. Ele é um descendente de portugue- nome do povoado. Alguns sugeriram a de-
Os primeiros habitantes de Canhoba fo- ses. Seu filho, Antônio da Rocha Torres, nominação Jaguaripe, nome do rio tempo-
ram os índios da tribo Cataioba. Com a também foi possuidor de terras. rário que passa nas proximidades. Mas essa

CINFORM 44
Eronides chegando a Aracaju para ser in-
terventor

Região - Norte de Sergipe


Distância de Aracaju - 124 km
População - Cerca de 4 mil
Atividade econômica - Agricultura

Família de Marcelino Torres, neto do fun- Capela de Nossa Senhora da Con-


dador ceição

idéia não prevaleceu. como são as de Canhoba, próprias para o nior, inaugurou uma praça que leva seu
cultivo do algodão e do arroz. nome. Lá consta uma placa com esta inscri-
Igrejas e Fé As famílias da Rocha Torres, Rezende ção: “Aos benfeitores desta terra, pela ins-
e Carvalho já se encontravam estabeleci- talação dos serviços de energia elétrica de
A igreja-matriz de Canhoba foi inaugura- das na povoação, tanto assim que em Paulo Afonso, a gratidão dos canhobenses.
da como capela, em 18 de fevereiro de 1939. 1894 o povoado já era dotado de casas Janeiro de 1968.”
Aliás, reinaugurada, pois a sua construção fora comerciais, escola primária, descaroçado- O telefone chegou a Canhoba em 1938,
iniciada em 1889, por Manoel Paez, que ten- res de algodão, banda de música, feira com um único aparelho pertencente aos
do viajado para a Amazônia, como tantos muito importante, porto e a Capela de Correios e Telégrafos.
outros do lugar, lá foram picados pelo mos- Nossa Senhora da Conceição, cuja cons-
quito Aedes aegypti e morreram. Porém, Ma- trução se deve à liderança de dona Maria A matriz
noel Paez, depois de fazer uma promessa, qual Manoela da Conceição Rezende.
seja, se não morresse voltaria à sua terra e, Mais tarde chegaram as famílias Paez O bispo Dom José Thomaz Gomes da
pedindo esmolas, (somente com esmolas), Hora, Gomes de Menezes, e por ocasião Silva, o primeiro de Aracaju, atendendo
construiria uma igreja sob a invocação do da emancipação política, os Andrade e solicitação do interventor federal, aos 23
Senhor dos Pobres. depois os Guimarães. de novembro de 1939 criou a Paróquia de
Manoel Paez, milagrosamente não mor- Canhoba do início do século era o mais Canhoba sob a invocação do Senhor Bom
reu. Isto fez com que voltasse a Canhoba, importante povoado da beira do São Fran- Jesus dos Pobres, nomeando o padre Antô-
onde saiu pedindo esmolas e, com o produto cisco. A sua riqueza rivalizava com a de nio Fernando da Graça Leite como primei-
delas, iniciou a construção da Igreja. Gararu e Porto da Folha, e era a base da ro vigário. A instalação canônica da paró-
Entre as festas religiosas de Canhoba, a do economia de Propriá, a então sede do quia ocorreu aos 20 de fevereiro de 1940,
Santo Cruzeiro tem lugar especial. A partir município. com grande solenidade. O vigário fora no-
de 7 de junho de 1910, quando a Santa Cruz meado também diretor das Escolas Reuni-
foi edificada pelos freis Rocha e Anatanael ao Luz de Paulo Afonso das, hoje renomeada de Escola “Dr. Eroni-
concluir uma santa missão no lugar de todos des de Carvalho”.
os anos, a partir do seguinte passou a come- A cidade de Canhoba, no passado, era
morar o Santo Cruzeiro, um testemunho de iluminada por lampiões a querosene. No Eronides, o pai e a emancipação
fé e religiosidade. final da década de 40 passou a ser ilumi-
nada por luz a motor. Primeiro, com um O governador Eronides de Carvalho é
Crescimento de Canhoba pequeno motor a diesel (era prefeito Wil- um dos filhos mais ilustres de Canhoba. Ele
son Carvalho), depois um mais potente era filho de Antônio Ferreira de Carvalho,
O povoamento de Canhoba crescia lenta- na administração de João Rezende. o Antônio Caixeiro. A história do pai do
mente. A migração ocorreu com mais frequ- A partir de 1968 o governador Louri- governador merece destaque. Ele nasceu em
ência quando os alagoanos passaram para o val Baptista, contando com os esforços São Braz, Alagoas, e morreu em Aracaju.
lado de Sergipe, em busca de terras férteis, do deputado filho de Canhoba, Torres Jú- Comerciante de primeira estirpe, voca-

CINFORM 45
Maria Cândida Silveira: miss Canhoba em
1957
Capela de Monte Serrah: força da fé

José Andrade: chegou a procurador geral


de Justiça

do Sr. Adroaldo Campos, diretor do De-


partamento de Assistência Municipal, re-
Antônio Torres Neto: foi prefeito em 1959 Juvenal da Rocha Torres: foi vereador e
presentando S. Excia (sic) o Interventor
prefeito Federal em exercício, do Sr. Raimundo
Carvalho, representante do Sr. Secretário
cionado para o comércio, iniciou sua car- Emancipação e Eronides da Justiça, do Coronel Antônio Ferreira de
reira como caixeiro viajante. Daí o porquê Carvalho, Prefeito Municipal, e de outras
do apelido. Ele se estabeleceu em Canhoba, Em 1935, o médico do Exército Eroni- autoridades e o povo, instalou-se, solene-
fazendo fortuna não só como comerciante, des de Carvalho elegeu-se governador do mente, no domingo p. passado, o Municí-
mas também como incentivador da produ- Estado de Sergipe. Desde logo, tornou-se pio de Canhoba, criado pelo decreto-lei n.
ção do algodão, proprietário de muitas fa- entusiasta da emancipação de Canhoba, que 17, de 23 de dezembro de 1.937.
zendas, industrial, pecuarista, plantador e pertencia a Propriá. A solenidade, que teve início às 12 horas,
colhedor de arroz, milho, feijão e mandio- A idéia pela emancipação iniciou-se an- foi presidida pelo Dr. José Dantas Fontes,
ca. O coronel Antônio Ferreira de Carva- tes de Eronides de Carvalho tornar-se in- Juiz de Direito da 2ª Comarca, com sede
lho se casou com Balbina Mendonça de terventor de Sergipe. Existia uma oposi- em Propriá e a qual pertence o novel Muni-
Carvalho e com ela teve nove filhos. ção em Propriá e na Assembléia Legislati- cípio. Falaram no ato da instalação os Srs.
Em 23 de janeiro de 1938 seu filho, Ero- va. Luiz Garcia era a principal figura pela Raimundo Carvalho, Odilon Palmeira e,
nides de Carvalho, que tomou posse como não emancipação. em nome do prefeito e, encerrando, o Sr.
governador de Sergipe em 1935, com o Se não tivesse ocorrido a implantação Adroaldo Campos.
Golpe de 1937 foi nomeado interventor do Estado Novo, o projeto de emancipa- Terminados que foram os discursos, o
federal por Getúlio Vargas. O coronel An- ção política de Canhoba seria reprovado. povo local - prorrompeu em vivas aos Ex-
tônio Caixeiro tomou posse como primei- Ele nem chegou a ser votado, pois Getú- mos. Srs. Presidente da República e Inter-
ro prefeito de Canhoba, exercendo o man- lio Vargas, no Rio de Janeiro, deu o golpe ventor Federal. Às 14 horas, na residência
dato até 1941. de Estado e os legisladores sergipanos do Coronel Antônio Ferreira de Carvalho,
Nesse primeiro mandato, ele inaugurou foram cassados. Prefeito do Município, foi servido um al-
o mercado, a prefeitura, as Escolas Reuni- Eronides de Carvalho, já confirmado moço no qual tomaram parte todos os com-
das “Hermes Fontes”, a matriz paroquial como interventor federal, aos 23 de dezem- ponentes da comitiva, cujo regresso se deu
de “Senhor Bom Jesus dos Pobres”, a Exa- bro de 1937, dissolveu a Assembléia Legis- às 17 horas”.
toria Estadual, os açudes municipais, a agên- lativa e criou o município de Canhoba. C
cia dos Correios e Telégrafos.
Com a redemocratização do País, o co- Instalação do Município Texto: CRISTIAN GÓES
ronel Antônio Ferreira de Carvalho foi eleito Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
prefeito de Canhoba. Iria governar o muni- A seguir, o que publicou o Diário Oficial Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e anotações do
professor e escritor Lauro Rocha de Lima
cípio de 1947 a 1951. Mas morreu em 1948. de 25 de janeiro de 1938: “Com a presença

CINFORM 46
Canindé antes e depois de Xingó
Cidade foi
completamente
demolida para
dar lugar à
hidrelétrica. A atual
foi planejada

A
pequena Canindé, a 213 quilô
metros de Aracaju, passou a ser o
município mais visado do Estado
- tanto comercialmente quanto politicamen-
te - após a construção da hidrelétrica de Xin-
gó, no Rio São Francisco, que gera 25% da
energia do Nordeste. A receita mensal do
município, decorrente do ICMS da usina,
era uma das mais baixas e de repente ultra-
passou os R$ 2,5 milhões, só perdendo para
a capital do Estado.
A partir da década de 90, a pacata cidade Hidrelétrica de Xingó: gera 25% da energia do Nordeste
nascida de uma aldeia de pescadores passou
a ter uma vida política conturbada, movida apesar de projetada, com áreas administra- res acabaram perdendo o interesse pelas ter-
por assassinatos e corrupção. Por volta de tiva, comercial e residencial, não foi estru- ras, apesar da grandeza do Rio São Francis-
1936, às margens do Velho Chico existiam turada o suficiente para receber a quantida- co.
dois pequenos arruados situados entre mor- de de gente que procurou o local com o No final do século XIX, naqueles arredo-
ros, que ficaram conhecidos como Canindé sonho de melhorar de vida. res existiam apenas quatro fazendas: Cuia-
de Cima e Canindé de Baixo. Essa povoação bá, Brejo, Caiçara e Oroco. Foi quando Fran-
deixou de existir a partir da implantação da História antiga cisco Cardoso de Britto Chaves, conhecido
usina. A justificativa para a transferência da como coronel Chico Porfírio, resolveu in-
sede do município foi que, além da cidade Canindé fazia parte da sesmaria de 30 lé- vestir nas terras. Comprou uma grande pro-
não ter espaço para se expandir, situava-se guas de terras, concedidas aos Burgos - fa- priedade ao capitão Luiz da Silva Tavares -
na chamada área de risco da hidrelétrica. mília da Bahia chefiada pelo desembarga- onde posteriormente foi implantada a sede
Por causa disso, foi feito um trabalho de dor Cristóvão Burgos e Contreiras - que lhes antiga de Canindé -, construiu sua residên-
conscientização junto aos canindeenses para foi doada em 1629 pelo governador de Per- cia e fundou também o Curtume Canindé,
convencê-los da necessidade da transferên- nambuco, D. João de Souza. Essas mesmas em parceria com o coronel João Fernandes
cia. Os governos municipal, estadual e fe- terras pertenceram depois ao Morgado de de Brito.
deral uniram-se para que o projeto que cus- Porto da Folha, instituído por Antônio Go- Mais tarde o curtume virou uma indús-
tou US$ 3,5 bilhões se concretizasse. Com a mes Ferrão Castelo Branco. tria mecanizada que atraiu inúmeros traba-
mudança da cidade, alguns moradores rece- Conforme registro na Enciclopédia dos lhadores, aumentando a quantidade de mo-
beram indenização, mas a maioria fez per- Municípios Brasileiros, nos tempos do Bra- radias do lugarejo.
muta por uma casa na cidade planejada. sil Colonial o território de Canindé foi de- Na Canindé de Cima havia algumas ta-
A nova Canindé foi construída pela Chesf vassado pela cobiça das bandeiras. Mas, por peras pertencentes aos pescadores João e José
- Companhia Hidro Elétrica do São Fran- causa da seca que sempre castigou toda a Alves, Ota, José de Terto, Libório, Antônio
cisco - e entregue aos moradores. A cidade, região sertaneja, os primeiros desbravado- Fininho, Neco de Carlota e a outras famíli-

CINFORM 47
Região: Norte (Sertão do São Francisco)
Distância de Aracaju: 213 Km
População: 17.749
Atividades econômicas: Agricultura
irrigada nos projetos Califórnia e Jacaré-Curituba

Igreja Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade.

as. Na de Baixo, onde foi implantado o cur- feita Hortência Carvalho (agora Silva), mas nandes). Acuado, ele desapareceu após o juiz
tume, surgiram várias casas, transformando foram libertados. Netônio Bezerra Machado ter decretado sua
a povoação numa das mais importantes da Eles são acusados de terem articulado a prisão preventiva no dia 12 de março, um
beira do Velho Chico. chacina que vitimou, em 20 de janeiro de ano depois do assassinato.
1995, o presidente da Câmara de Vereado- Rosa Maria voltou à prefeitura do muni-
Sua emancipação res, Ademar Rodrigues de Assis, 53 anos, e cípio de Canindé, que foi devassado pela
mais três pessoas. Hortência era vice-pre- Justiça, para investigar o destino exato da
Em 1936, a povoação já contava com 120 feita na época e assumiu a prefeitura no lu- receita que entra mensalmente no municí-
casas e uma capela. Por isso ganhou a condi- gar dele. pio, que é rico e tem um povo pobre.
ção de 2º Distrito de Paz de Porto da Folha. Outros atentados e mortes ocorridas em
Dois anos depois, através da lei nº 69, de 28 Canindé mudaram a história política do O povo sofrido de Canindé
de março, passava à condição de vila. Por município. Em 1993, no dia 5 de maio, o Velho de Baixo
volta de 1940, o curtume foi desativado, prefeito Delmiro de Miranda Britto mor-
causando enorme prejuízo à vila, mas não reu num acidente de carro, próximo, a Nos- *ALCINO ALVES COSTA
impediu sua caminhada para a emancipação, sa Senhora das Dores. O acidente gerou sus-
que aconteceu no dia 25 de novembro de peitas por causa das marcas roxas no pesco- Os meios de comunicação têm sido pró-
1953, através da lei nº 525-A. ço dele, e também está sendo investigado. digos em relação àvida de Canindé do São
A lei 377, de 31 de dezembro de 1943, Francisco, município que ganhou projeção
havia mudado o nome do lugarejo para Duas intervenções após o direito constitucional de ver sua re-
Curituba - atual nome de um povoado do ceita elevada para picos verdadeiramente
município - para evitar a pluralidade de O município já sofreu duas intervenções astronômicos. A nova cidade foi projetada
nomes no país. Isso contrariou a popula- estaduais. A primeira foi em 1995, na ges- e construída sob a égide da grandeza, e pes-
ção, mas em 1958 a lei nº 890, de 11 de tão de Hortência, quando em 11 de julho soas de todo o Brasil acorreram à procura de
janeiro, devolveu ao município seu nome Narciso Machado assumiu o destino de Ca- lucros e vantagens.
de origem indígena, que significa arara e nindé. Após a intervenção, Hortência re- A Nova Canindé era o grande eldorado
papagaio, que passou a se chamar Canindé tornou ao cargo e ficou até o final de 96. de Sergipe. E os pioneiros da velha Canin-
do São Francisco. A segunda ocorreu no dia 2 de maio de dé? O que foi feito deles? Quais as provi-
2001, na gestão de Rosa Maria Fernandes dências e cuidados que as autoridades do
Política conturbada em Canindé Feitosa, vice-prefeita que assumiu a prefei- Estado e do País tomaram em relação às
tura em 28 de março, no lugar do sogro famílias do pequeno núcleo ribeirinho?
Na época da inauguração da cidade, ocor- prefeito Genivaldo Galindo, que renunciou Com ares de “bom moço” os responsá-
rida em 1987, o prefeito era Jorge Luiz Car- ao mandato em 27 de março do mesmo veis pela hidrelétrica, guiados pela insensi-
valho Santos, eleito através do prestígio ano. bilidade característica daqueles que não pos-
político do pai, Ananias Fernandes, após sua Em fevereiro de 2000, Galindo foi acusa- suem o mais elementar sentimento de hu-
morte num acidente automobilístico. Em do pelo tratorista José Ferreira de Melo, o manidade, cuidaram de convencer aquela
julho de 2001, Jorge foi preso pela Polícia Zé de Adolfo, de ter mandado matar o radi- gente a se mudar para a nova e grandiosa
Federal, junto com sua ex-mulher, a ex-pre- alista Zezinho Cazuza (José Wellington Fer- cidade com argumentos tentadores.

CINFORM 48
Nova Canindé: cidade planejada e inaugurada em 1987

Chegou o dia da mudança. Muitos sofre- de se assassinar a história do povo da Velha


ram aquela triste despedida. Foi com dor no Canindé. E, ainda mais, não se respeitou nem
coração que aquela gente abandonou sua casa os mortos da cidade destruída. Numa atitu-
e se retirou de sua cidadezinha amada, com de absurda e verdadeiramente incompreen-
destino à nova cidade. sível, os restos mortais do povo que deu
Cada um daqueles beiradeiros sonhava vida a Canindé e a Sergipe foram arranca-
com melhores dias, uma condição melhor, dos de suas tumbas, onde repousavam para Passeio de catamarã no Velho Chico: turismo
uma mesa farta, e junto a esses sonhos, a a eternidade, e foram levados para o novo em alta
certeza da continuidade da paz e harmonia cemitério da nova e vaidosa menina serta-
que gozavam no pequenino lugar de seus neja. Coronel Francisco Porfírio Britto
troncos e raízes. A Nova Canindé roubou a identidade - Um dos fundadores
O tempo passou. Lá se vão 14 anos da cabocla. Destroçou o sentimento de cada
Cícero Lima - Químico industrial do
inauguração da nova cidade. O município um dos descendentes da beira do “Velho Curtume Canindé
enriqueceu, o povo empobreceu ainda mais. Chico”. Em lugar da caça e da pescaria, a
A maioria dos que vieram da Velha Canindé sobrevivência chega através do bendito di- Antônio Porfírio de Britto -
Jornalista e contador
perdeu sua identidade e hoje é considerada nheirinho das aposentadorias, além da ver-
resto de um povo que perdeu suas casas, sua gonha de se ver obrigado a ir para uma fila Maria Miranda Britto (D. Sinhá) -
tranqüilidade e o aconchego das ruazinhas mendigar uma cesta vergonhosa do Gover- Destacada comerciante
poeirentas do lugar em que nasceu e viveu no Federal. Manoel Alves Feitosa (Manezinho
os melhores anos de sua vida. Não se pode negar. É uma verdade. O Feitosa) - Destacado comerciante
O que se vê nos dias de hoje é um injusto sertanejo foi castigado. Um castigo tão
Hercílio Porfírio de Britto - Dono
e inexplicável contraste; o município, que medonho que até o gigante e invencível Rio da Fazenda Cuiabá
nos tempos de penúria e indigência era um São Francisco caiu e foi dominado pela sa-
pai amoroso que se preocupava com seus nha maldita do homem que em nome do Ananias Fernandes dos Santos -
filhos, nos dias atuais tornou-se um pai per- progresso levou-o para uma quase que irre- Primeiro prefeito
verso e injusto para com seus descendentes versível morte. Dá pena de ver a situação Hilda Fernandes dos Santos Silva
que vivem mergulhados numa pobreza ab- chocante e aflitiva do famoso rio. - Vereadora
soluta, enquanto ele (o município) é deten- A Nova Canindé é notícia, é manchete
Epifânio Feitosa da Silva - Chefe
tor de grandes posses. de jornal, énoticiário de televisão, é uma político
Pobre povo da Velha Canindé. Perderam jovem mocinha que precisa ser exemplada
tudo. Atônitos e abismados, os moradores para perder sua vaidade, seu orgulho e sua Valdemar Feitosa - Funcionário público
do Fisco
da cidade condenada assistiram ao final tris- insensibilidade. E o povo da Velha Canindé?
te da história do Canindé Velho de Baixo. Este continua sofrido. Até quando? Só Deus Francisco Galdino Carvalho
Naquele inesquecível e doloroso instante sabe. C Santos - Advogado
começava também a perda da identidade
Breno George Fernandes Salgado
dos filhos do último porto do Baixo São *Escritor e ex-prefeito de Poço Redondo
- Arquiteto
Francisco.
Tudo foi dizimado. A cidade foi varrida Filhos Ilustres Márcio (Canindé) Caetano Alves -
do mapa de Sergipe. A troco de quê? Abso- Jogador do Santos, de SP

lutamente nada. De vez que com o passar Juvêncio de Britto - Bispo da Diocese
dos anos foram construídas casas e até a es- de Caitité (BA) e Garanhuns (PE), onde morreu
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
trutura de um hotel, numa prova mais do Manoel Porfírio Britto - Engenheiro
Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
Fonte: Pesquisa de Alcino Alves Costa
que evidente de que não havia necessidade geógrafo
Capela a rainha dos tabuleiros

Um dos berços da
cultura de Sergipe,
o município já foi dos
mais importantes
do Estado

A
história de Capela, a 67 quilô-
metros de Aracaju, é, sem dúvi-
da alguma, uma das mais belas. Matriz de Nossa Senhora da Purificação
Aquele município já foi um pólo de desen-
volvimento e de cultura do Estado, mas nos Freguesia e vila mação da República, mas a ordem era fe-
últimos anos amarga estagnação. Capela chá-la. Em 23 de dezembro todos os verea-
nasceu por volta de 1735 quando Luiz de Padre e população fixa levaram a povoa- dores são afastados e é criado o Conselho de
Andrade Pacheco e sua mulher, Perpétua ção a virar a freguesia de Nossa Senhora da Intendência. José Nunes Sobral Leite era o
de Matos França, doaram parte de suas Purificação da Capela em 9 de fevereiro de intendente, e Thomaz Rodrigues da Cruz,
terras localizadas no Tabuleiro da Cruz e 1813, sendo desmembrada da matriz de Pé José Luiz Coelho e Campos, José Moreira
mais 100 mil réis para que uma capela do Banco. O crescimento populacional e de Magalhães e Júlio Flávio Accioly, os
fosse construída. econômico era tanto naquelas terras que em membros.
Os proprietários tinham duas motiva- 19 de fevereiro de 1835 ela foi transforma-
ções: o sacrifício da missa - era mesmo um da em vila, sendo desmembrada da de San- Forte desenvolvimento
sacrifício porque eles eram obrigados a se to Amaro. O seu primeiro padre, oficial-
deslocar por dez léguas para a matriz de Pé mente, foi o filho da terra Gratuliano José Na década de 50, Capela chega a ter uma
do Banco (hoje Siriri). O outro é que o da Silva Porto. produção agrícola que ultrapassava os 80
filho do casal era padre e os pais queriam O que mais chamava atenção naquela milhões de cruzeiros, sendo que a cana-de-
lhe entregar uma bela igreja. Da casa de nova vila era o seu poder econômico. O açúcar era o carro-chefe. No que se refere à
Pacheco foram levados para a capelinha município tinha mais de uma centena de indústria, merecem destaque quatro usinas:
erguida a imagem de Nossa Senhora da engenhos. A cultura da cana, o fabrico do Santa Clara, Vassouras, Proveito e Pedras,
Purificação e uma arca com todos os para- açúcar e o plantio do algodão e da mandioca superando a cifra de 46 bilhões de cruzeiros.
mentos para a missa. formavam a riqueza. Um dado curioso é Ainda existiam uma destilaria de álcool e
Em volta da capela e do cruzeiro erguidos que antes mesmo de se transformar em ci- seis alambiques, compondo 94 unidades in-
surgiram as primeiras casas em terrenos do- dade, ainda em 1861, foi criada a Comarca dustriais. O nível de desenvolvimento era
ados por Luiz Pacheco. No hino de Capela de Justiça. Em 1863 toma posse o primeiro tanto que a três quilômetros da sede do
se informa que o município surgiu da mes- juiz, Manoel Maria do Amaral, e o primeiro município existia um campo de pouso só
ma forma que o Brasil nasceu: “da cruz sim- promotor de Justiça José Luiz de Coelho e para atender aviões teco-teco.
bólica de Cristo”. Acredita-se que as missas Campos. Em 1864 a população escrava na No recenseamento de 1950 a população
e frequentes festas religiosas atraíram colo- vila chegava a 2.664. de Capela chegava a 20 mil habitantes. Os
nos que ali levantavam suas casas em defini- Em 1870 é construído o mercado e em edifícios mais importantes da cidade na dé-
tivo. Historiadores acreditam que por volta 28 de agosto de 1888 o município se torna cada de 50 eram a prefeitura, o Cine-Teatro
de 1808, nos arredores da capelinha de Nos- cidade e passa a ser chamada apenas de Ca- Capela, o mercado, o Hospital São Pedro,
sa Senhora da Purificação viviam cerca de 4 pela. Em 21 de novembro de 1898 a Câma- os Correios e Telégrafos, o Banco do Brasil,
mil pessoas. ra de Vereadores manifesta apoio à Procla- o Grupo Escolar Coelho e Campos e o Gi-

CINFORM 50
Capela: arquitetura ainda é preservada

Região - Norte de Sergipe


Distância de Aracaju - 67 km
População - Cerca de 30 mil
Atividade econômica - Agricultura
e comércio

dito Lampião. O juiz correu, conseguiu pu-


lar o muro e se escondeu num convento.
O filme era Anjos das Ruas, de Janet
Gaynor. Lampião mandou que a luz fosse
apagada e que o filme continuasse. Disse ao
jornalista Zózimo Lima que nenhuma notí-
násio Imaculada Conceição. Além do telé- cia dele era para ser dada. Lampião não gos-
grafo e da linha de trem, existiam no muni- tou do filme e saiu. Ele teria pedido ao pre-
cípio quatro aparelhos telefônicos ligados feito 20 mil contos de réis, mas Antão só
ao Centro Telefônico de Aracaju. tinha 5 e ele aceitou.
Vale lembrar ainda que o município sem- Em seguida, Lampião e o bando foram a
pre teve a Sociedade Beneficente União dos Festa do Mastro: tradição em meio a lama uma pensão e lá almoçaram. A turma foi
Artistas e a Caixa de Beneficência da Ir- para a Estação de Trem à espera de soldados
mandade de Nossa Senhora do Amparo. As que vinham da Bahia. Mas nada de solda-
duas cuidavam das pessoas mais necessita- lho e Campos dos. Depois de receber o dinheiro, de fazer
das de Capela. O município também tinha 1921 - Criação da Sociedade Cultural algumas compras e pagar e de ganhar um
duas grandes bibliotecas particulares, mas Casa do Livro livro sobre a vida de Jesus, Lampião reuniu
que eram abertas ao público: a Doutor Adol- 1929 - Fundação do Colégio Imaculada o bando e foi embora.
fo Vieira Matos, mantida pelo Rio Branco Conceição Em outubro de 1931, Lampião e o bando
Atlético Clube; e a Casa do Livro, que tinha 1935 - Inauguração da “Águia” como voltam a Capela. Fazem alguns reféns nas
6 mil livros. Outra instituição que merece marco do município fazendas e mandam o irmão do vigário in-
destaque foi o Coral Genaro Plech. Tinha 1939 - Criação da Festa do Mastro formar que entrariam de novo na cidade. O
145 associados e uma grande discoteca. 1968 - Capela foi sede do Governo do recado foi dado, mas desta vez um grande
Estado durante 3 dias grupo de moradores (inclusive mulheres) se
Outras datas marcantes organizou, armou-se e ficou escondido nas
Lampião em Capela torres da igreja. Lampião achou demorado
1824 - A capelinha que deu origem ao o recado, entrou na cidade e foi recebido
município foi destruída Lampião esteve em Capela por duas ve- com chumbo.
1882 - Hospital de Caridade São Pedro zes. Na primeira, em 24 de outubro de 1929, Fazendo referência aos tiros que vinham
de Alcântara mandou chamar o prefeito Antão Correia das torres da igreja de Nossa Senhora da
1901 - Construção da igreja de Senhor de Andrade para que entrasse na cidade com Purificação, Lampião teria dito: “Vamos
dos Aflitos ele. Virgulino passou no telégrafo e depois embora que nesta cidade até os santos ati-
1914 - Fundação da primeira usina de foi ao Cine-Teatro Capela. Filme mudo e ram”. Virgulino ficou nos arredores da cida-
açúcar orquestra tocando. Depois que Lampião de e teria praticado uma série de crimes. O
1918 - Fundação do Rio Branco Esporte entrou, as luzes se acenderam e o povo co- Jornal da Tarde, de São Paulo, em 30 de
Clube meçou a querer sair. “Daqui ninguém sai e julho de 1973, conta as histórias de Lam-
1918 - Fundação do Grupo Escolar Coe- quem correr vê o gosto da bala atrás”, teria pião em Capela.

CINFORM 51
Filhos Ilustres

Adroaldo Campos (Dudu da Capela) - Foi


um dos maiores advogados de Capela;

Antão Correia de Andrade - Fundou o


jornal “A Voz da Capela” e a Casa do Livro;

Augusto Ribeiro - Proprietário de uma fábri-


ca de sabão. Foi dono do primeiro posto de ga-
solina;

Cônego José da Mota Cabral - Foi vigário


de Capela durante 50 anos;

Dioclécio Gomes de Andrade - Grande co-


merciante de tecidos;

Edélzio Vieira de Melo - Médico, professor,


líder político, prefeito, deputado estadual e vice-
governador;

Francisco Alves de Carvalho Júnior


Atual prédio da Lira Nossa Senhora da Purificação (mestre Francisquinho) - Fundador da Filarmô-
nica “Lira Nossa Senhora da Purificação”;
Algumas lendas e a festa do tam ser uma “perna” do Rio São Francisco.
mastro Festa do Mastro - Ela surgiu em 1939, Francisco Vieira de Andrade - Juiz de Direi-
to durante 25 anos e dono da primeira usina de
por iniciativa de João Nelson de Melo. No açúcar do município, a Proveito;
Em Capela existe uma série de lendas, dia 29 de junho, junto com seus irmãos e
muitas festas folclóricas e a principal Festa amigos, fez uma festa simples na Rua da Honorino Leal - Juiz de Paz. Foi Agente da
Borracha e delegado de polícia;
do Mastro: Lenda da Bica - Os índios das Palmeira. Os anos passavam e a festa cres-
tribos Tupã e Tupinambá eram inimigos. O cia. No noite de 31 de maio, o grupo folcló- Major da Guarda Nacional - Vereador e in-
cacique dos Tupã tinha uma linda filha, Bica, rico da Sarandaia sai pelas ruas para acordar tendente. Foi deputado estadual por seis legis-
laturas;
que se apaixonou pelo filho do cacique Tu- São João e pede prêmios para serem pendu-
pinambá, o Beca. Um amor proibido, im- rados num mastro que será arrancado na José Cabral Neto - Promotor de Justiça e fun-
possível. Um dia, os dois jovens índios fo- festa de São Pedro. No dia 28 de junho um dador da Fábrica de Sabão Caçote;
ram flagrados pelo pai de Bica. Beca e Bica homem vestido de baiana também sai pelas José Luiz Coelho e Campos - Primeiro pro-
foram mortos e no lugar onde isso aconte- ruas pedindo prêmios para colocar no mas- motor público de Capela. Foi deputado federal
ceu nasceram minadores de água límpida. tro. No dia 29, pela manhã, a multidão sai e senador. Quando ocupava o cargo de minis-
tro do Supremo Tribunal Federal conseguiu le-
Acredita-se que a água sejam as lágrimas para a mata atrás de uma grande árvore. A var para Capela a estrada de ferro. Doou o pré-
dos índios assassinados. madeira é cortada e levada num cortejo para dio de sua residência para ser transformado
Lenda da Igreja do Amparo - Acredi- a cidade. A lama é ingrediente básico da numa escola, que recebeu seu nome;
ta-se que do Cruzeiro até os fundos da Igre- festa. À noite tem a queima do mastro, que
Manoel Raimundo de Melo - Ordenou-se
ja Nossa Senhora do Amparo, à meia-noite, tomba, e os prêmios são coletados. Nesse sacerdote e foi vigário de Itabaiana;
se alguém colocar o ouvido no chão ouve momento tem o Grito da Vitória e a guerra
barulho forte de água corrente. Uns acredi- de busca-pés. C Comendador Manoel de Souza Campos
- Comerciante e banqueiro. Foi agraciado pelo
Imperador Pedro II, com o oficialato da Ordem
da Rosa e com a Comenda da Ordem de Cristo,
por ter libertado todos os seus escravos.

E mais: Irmã Maria Clemência da Costa Lima,


Juarez de Oliveira Leal, Moacyr Carvalho, Ma-
noel Cardoso Souza, Manoel Gomes Moura,
Maria da Glória da Mota Cabral, Maria de Jesus
Almeida, Maria Rosa de Jesus Mota, Mestre
Olívio, Monsenhor Eraldo Barbosa, Odilon Fer-
reira Machado, Otaviano da Mota Cabral, Otá-
vio Teles de Almeida, Raul Dantas Vieira, Ario-
valdo Barreto, Carlos Figueiredo Cabral, Flora
Souza, Floriano Rocha, Antônio Arimatéia Rosa,
entre outros.

Texto: CRISTIAN GÓES


Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Capela e sua história
e Retrato de Épocas, de Maria Zuleide Moura; Pesquisa de alunos
das redes pública estadual e municipal e privada de Capela;
jornal O Capelense e Colaboração da professora Maria Zuleide
Igreja Nossa Senhora do Amparo Moura.

CINFORM 52
Imagine um lugar onde a arte, em suas mais
diferentes manifestações, dá vida a um povo
alegre, trabalhador e hospitaleiro.
Aracaju é um lugar mágico, um grande
coração onde raças e religiões convivem
em harmonia contagiante.
E o Forró Caju é o expoente maior desse
encontro de raças, culturas, ritmos e cores.
Durante noites e noites, num só espaço, a
alegria, a música e a dança se unem e
transformam o cenário da cidade.
O espetáculo não se restringe ao palco, a
energia do forró invade a platéia e faz da
grande mistura um show inesquecível.
Todos os tons nos alegram, todos os sons nos
animam, todos os povos nos unem.
Assim é Aracaju. Uma cidade para todos.
Carira cidade recebeu o nome de
uma índia
O município já foi um
grande produtor de
algodão e também
recebeu a visita do
Rei do Cangaço

O
município de Carira, a 112 qui-
lômetros de Aracaju, recebeu esse
nome em homenagem à índia Mãe
Carira, uma cacique que deu início à povo-
ação. Os primeiros a chegarem àquelas ter-
ras a partir da ocupação das margens do
Vaza-Barris, mais precisamente se fixavam
ao longo do seu afluente esquerdo, o Rio
do Peixe. As terras eram de grandes propri-
etários de terras lagartenses, principalmen-
te de gente da Fazenda Caritá, pertencente
a João Dantas dos Reis, que vinha da famí-
lia de Cícero Dantas Martins, o Barão de
Jeremoabo, que trouxe a indústria açuca-
reira para o Nordeste.
O cidadão responsável pela formação de
uma pequena aldeia que mais tarde se tor-
naria Carira é João Martins de Souza, um
vaqueiro-guia da Fazenda Caritá, que foi Igreja Matriz: nasceu a partir da cova da índia
tomar conta do gado nas terras das matas
de Itabaiana. Mas João Martins encontrou resolveram fazer um acampamento dentro amento Mãe Carira.
uma tribo de índios Cariris chefiada por das roças.
Mãe Carira. Dois quilômetros depois da Assim que os índios chegaram, foram Feira e progresso
tribo, o vaqueiro edificou a primeira casa, surpreendidos e os mais velhos, entre eles
por volta de 1865. Em seguida, foram cons- Mãe Carira, foram alcançados pelos cães. A partir de 1865 muitos homens vão se
truídas as casas de seus filhos, Joaquim e Muito ferida, ela ainda conseguiu correr, esconder nas matas de Itabaiana com medo
Gonçalo, onde é hoje a Praça Martinho de mas caiu nas proximidades de um pé de de serem recrutados para a Guerra do Para-
Souza. Jequiri, ao lado da casa do vaqueiro João guai. Em 1870, à sombra do frondoso Je-
Existe um misto de lenda e realidade na Martins. Ele socorreu a velha índia e cuidou quiri e ao lado da casa de João Martins,
história de Mãe Carira. Conta-se que mo- dos seus ferimentos. inicia-se, aos domingos, uma feirinha, que
radores da Barra Larga, em Jeremoabo, der- Poucos dias depois, Mãe Carira morreu, acabou atraindo muita gente da região. Cin-
rubavam grandes áreas para a plantação de e teria sido enterrada pelo vaqueiro no mes- co anos depois, o povoado já tinha um bom
milho. Com isso, os índios eram enxotados mo lugar onde caiu ferida. Em sua cova, número de moradores. Recebendo a influ-
para longe. A reação dos nativos foi furtar uma grande cruz de madeira foi fixada e os ência dos que chegavam, o vaqueiro levan-
o milho. Os donos das roças faziam tocaias, poucos moradores da aldeia de João Mar- tou uma capelinha ao redor da cova da ín-
mas não tinham sucesso. Os ‘proprietários’ tins começaram a chamar o lugar de povo- dia. Nascia a capela consagrada ao Sagrado

CINFORM 54
Região - Norte de Sergipe
Distância de Aracaju - 112 km
População - Cerca de 17 mil
Atividade econômica - Agricultura

Carira: desenvolvimento com o algodão

Barragem de Carira: marco no município

Coração de Jesus. Morais, Alcino Soares e Pedro Rodrigues Com o vapor de algodão e a influência do
A povoação começou a depender da Vila de Lima. governo do general Siqueira, Zezé do Padre
de São Paulo, depois Frei Paulo. Em 1911, conseguiu, em 1912, o primeiro destaca-
quando Carira já tinha um bom grau de Ouro branco mento policial para Carira. Os soldados ti-
crescimento, a Prefeitura de São Paulo foi nham o comando do cabo Domingos Cor-
um grande abrigo para os feirantes. Em Carira teve uma fase áurea de desenvol- reia. Quando Zezé do Padre morre, seu gen-
1913, durante o governo do general Siquei- vimento, a fase do algodão, mais conheci- ro, Jason Tavares, assume o seu lugar. Jason
ra Campos, foi criada a primeira escola pú- do como ‘ouro branco’, além do couro. era mestre da Lira Musical Nossa Senhora
blica de Carira. A primeira professora foi Naquelas terras destacaram-se no cultivo da Conceição, da então Vila de São Paulo.
dona Rosa Amélia, que foi levada a Carira do algodão: Firmino Eleutério, Zezé do Em 1919, Carira tinha feira regular aos
pelo importante comerciante e latifundiá- Padre e Pedro de Lima. Outros que mere- domingos; escola com professora diploma-
rio Zezé do Padre. cem destaque são Henrique Lameu, que se da; capela que recebeu a visita em 1914 de
A povoação também sofria grande influ- tornou o maior comerciante de sua época; Dom José Thomaz Gomes da Silva, pri-
ência dos intendentes de São Paulo, entre Francisco Simões de Almeida, capitão Chi- meiro bispo de Sergipe; destacamento poli-
eles Américo da Cerqueira Passos, Tibério quinho; Francelino Gordo; Zezé Martins e cial; e quatro grandes fábricas beneficiado-
Bezerra, alferes Manuel Hipólito Rabelo Manuel Rabelo. ras de algodão.

CINFORM 55
Prédio antigo da Prefeitura de Carira

contro de Lampião. Atrás dele, uma multi-


dão de curiosos. Lampião quis saber o que o
delegado estava fazendo e ele respondeu que
só foi lhe ver. O cangaceiro pediu ao delega-
do que encontrasse lenha para que fosse fei-
to um fogo para ele assar carne, e chamou o
delegado para comer com ele.
Carira já teve uma das maiores feiras do sertão Depois de comer, o Rei do Cangaço foi
andar pela cidade e teria comentado: “Ô
Depois que a Vila de São Paulo ganha Frei Paulo. Em 1954 foi realizada a primei- povo de coragem! Lugar que eu chego todo
independência, Carira começa a perceber o ra eleição e em fevereiro de 1955 Olímpio mundo bate as portas e esse povo vem me
declínio do algodão. As fábricas de Antônio Rabêlo de Morais tomou posse como pre- espiar”. Lampião também cumprimentou
Borges, Alexandre Barreto e Messias Gas- feito. Um outro nome que não pode ser dois soldados que resolveram permanecer
par foram fechadas. Na década de 20, o esquecido é o de João Peixoto. Comercian- na cidade. Ele disse que só esperava que os
maior acontecimento em Carira foi a insta- te jovem, fundador da UDN em Carira e macacos da Bahia não chegassem por ali.
lação de lampiões na Praça do Comércio. ficou conhecido por seus dentes de ouro. Se isso acontecesse, ninguém ficava em pé.
Uma obra de mestre Deusdedith. Nas proximidades do cartório, Lampião
Lampião recebeu consentimento mandou chamar um tocador e ordenou que
Distrito e independência da Polícia para entrar em Carira tocasse a sanfona. Em seguida, ele foi para
a bodega de Messias Simões e comprou
Em fins de 1927, a família dos Rabelo, Em março de 1929 Lampião e seu ban- várias peças de tecidos para fazer roupas
João Amâncio Peixoto, Isauro Soares e do chegam em Carira. Nas proximidades para seus cabras. Logo depois mandou cha-
Messias Gaspar conseguiram a instalação de da Fazenda Cansanção, João de Pequena e mar a costureira, Zefinha Doca, e ela fez
uma Agência Postal. O primeiro agente foi Sinhô de Primo foram abordados por Vir- as roupas.
Manuel Rabelo de Morais. Por iniciativa de gulino e seus cabras. Lampião quis saber Ainda durante a noite de muita música,
João Amâncio, um grupo de homens de qual era a distância dali para Carira, se ti- bebida e comida, Lampião mandou um
Carira foi de cavalo até Aracaju para pedir nha estrada, linha de ferro e polícia. O ban- mensageiro seu arrecadar dinheiro nas fá-
ao presidente do Estado, Manuel Correia do chegou bem próximo à cidade e ficou bricas de algodão. Pouco tinha. De repente,
Dantas, para que transformasse Carira num escondido. o delegado viu a cidade cercada de soldados.
Distrito de Paz. O objetivo dos carirenses Um rapaz ia passando e foi obrigado a Era a força que vinha da Bahia. O delegado
foi atingido em 27 de setembro de 1929. informar aos cangaceiros o nome do dele- foi orientado a deixar a cidade que ia pegar
Teve até solenidade, presidida pelo juiz de gado. Era Felismino Dionísio, que coman- fogo. Mas a noite passou, o dia chegou e os
Direito Fiel Fontes. Durante a década de 30 dava um grupo de sete soldados. Através do soldados baianos não entraram. Antes do
e 40 foram registrados vários casos de vio- rapaz, Lampião mandou o bilhete para o amanhecer, porém, Lampião saiu de Carira
lência em Carira. delegado. Estava comunicando sua entrada com destino a Serra Negra. Nenhum dispa-
Em 1939, a Rodovia Central do Estado na cidade, pedia consentimento e trazia pro- ro foi dado.
alcança Carira, o que enche seus moradores posta de paz, desde que não hostilizassem Em novembro daquele mesmo ano, o Rei
de esperanças para o retorno ao desenvolvi- seus cabras. do Cangaço retorna a Carira. Era domingo.
mento. Em 1948, o povoado chegou a ter Através do mesmo mensageiro, o dele- Chegaram em plena feira. desta vez não
uma Escola Rural que foi construída com gado ordenou que Lampião podia entrar, em comunicaram ao delegado. O povo ficou
verbas destinadas diretamente pelo presiden- paz. Alguns soldados ficaram sabendo que mais apavorado do que na primeira vez. O
te Dutra. Carira teve como filho ilustre o Rei do Cangaço estava em Carira e sumi- bando demorou meio dia, não fez mal a
Olímpio Rabêlo Morais, que foi deputado ram pela caatinga junto com metade da ninguém e depois seguiu para Capela. C
estadual e presidente da Assembléia Legis- população. Dona Juvi, quando se preparava
lativa. para fugir, foi abordada por Lampião. Ele a Texto: CRISTIAN GÓES
Em 25 de novembro de 1953, a lei esta- cumprimentou e ordenou que seus cabras Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
dual 525 elevou Carira à condição de cida- não mexessem com ninguém. Fonte: O livro ‘Carira’, de João Hélio de Almeida e Enciclo-
pédia dos Municípios Brasileiros.
de, sendo desmembrado do município de O delegado deixou o quartel e foi ao en-
Carmópolis
terra do petróleo foi Rancho

Comunidade do poeta
José Sampaio ganhou
corpo de cidade
depois da chegada
dos padres Carmelitas

A
s referências mais antigas sobre o
território que forma hoje as terras
de Carmópolis, a 47 quilômetros de
Aracaju, são de 1575, quando as colunas do
conquistador Cristóvão de Barros começa-
ram a invadir Sergipe. Depois de extermi- Igreja do Massacará: onde está Leandro Maciel
nar várias nações indígenas, ele doa ao fi-
lho, Antônio Cardoso de Barros, boa parte meiro historiador a registrar a ‘Missão de
das terras do norte de Sergipe, entre os rios Nossa Senhora do Carmo’, próxima ao po-
Japaratuba e São Francisco. voado de Pirambu. Em 1894, Carmo já
No fim do período colonial e início do im- apresentava certo índice de progresso, ao
pério nascia uma povoação denominada contrário da Vila de Rosário - à qual per-
‘Rancho’. A aldeia surgiu como um ponto tencia -, mas não chegou a ser nem fregue-
de parada de feirantes que ali se aglomera- sia. De povoado, em 26 de outubro de 1894
vam e passavam em comboio para a antiga torna-se Vila do Carmo.
Mata do Bom Sucesso. Nela existia um Mas a categoria de vila não representou
quilombo formado por escravos que fugi- independência. A dependência econômica
am dos engenhos do Cotinguiba e ataca- e política a Rosário era grande. Os proprie-
vam os viajantes. tários do Engenho de Porções, Francisco e
Depois da chegada dos padres Carmeli- José Teles Maciel, lutaram contra essa situ-
tas, o povoado Rancho passou a se chamar ação. Rosário consumia suas rendas arreca-
Carmo. Num ponto mais alto daquelas ter- dadas com a cobrança dos tributos, que já
ras foi instalada a Missão de Japaratuba e eram bem pesadas, e não beneficiavam o
erguida a Igreja de Santana do Massacará. território do Carmo. Por conta dessa luta
Mas logo depois os religiosos transferiram foi fundado em 19 de fevereiro de 1919 o
a missão para o Monte do Carmo de Japa- jornal “A Voz do Povo”.
ratuba, algumas léguas mais adiante. Não Só em 7 de novembro de 1921 é que foi
se sabe ao certo, mais acredita-se que a trans- criado o ‘Distrito da Paz do Carmo’ e auto-
ferência se deu por conta de uma epidemia rizado pelo Governo de Pereira Lôbo a deli- Nossa Senhora do Carmo: abençoando
de varíola. Em 1808 a população indígena mitar o seu território separando de Rosário Carmópolis
nas terras que formam Carmópolis chegou e uma parte menor, ao norte, de Japaratu-
a 300 pessoas. ba. Mas somente no dia 16 de outubro de Da cana ao petróleo
1922 chega a tão esperada independência.
Vila e independência Em 28 de março de 1938, o município é Por muitos anos a agricultura e a pecuá-
elevado à categoria de cidade e teve seu ria formaram a base da economia de Car-
Foi dom Marcos Antônio de Souza, vi- nome alterado para Carmópolis em 31 de mópolis. O município chegou a ter uma
gário de Siriri, que talvez tenha sido o pri- dezembro de 1943. grande produção de cana-de-açúcar, apesar

CINFORM 57
Região - leste de Sergipe
Distância de Aracaju - 47 km
População - Cerca de 7 mil
Atividades econômicas - Coco e petróleo

Manoel Magalhães (centro): marcou a


política

José Sampaio: orgulho do município (no livro) Marcas da Petrobras em todo o município

de não possuir usinas. Na pecuária, o reba- e o teste de produção foi realizado quinze Mais histórias de Carmópolis
nho de bovinos chegou a ter 4 mil cabeças. dias depois. A produção de petróleo naque-
Mas a partir da década de 50, a agricultura le poço começou no dia 4 de outubro do A ferrovia em Carmópolis foi inaugura-
e pecuária tiveram queda significativa até mesmo ano, onde eram extraídos cem bar- da em 24 de maio de 1914. Mas muito
na extinção da cana-de-açúcar. ris por dia. antes disso, o município tinha um forte
Em 15 de agosto de 1963 a Petrobras No dia 8 de dezembro de 1964, o presi- transporte marítimo. Em 9 de maio de
descobriu petróleo no campo de Carmópo- dente da República, Castelo Branco, esteve 1870, o presidente de Sergipe autoriza que
lis. Esse campo abrange os municípios de em Carmópolis inspecionando os poços. Em Manoel Zuarte da Silva Daltro realize a
Japaratuba, Rosário do Catete, Santo Ama- 1967 foi construído o oleoduto Carmópo- navegação a vapor no Rio Japaratuba. Em
ro das Brotas, General Maynard e Maruim, lis - Atalaia Velha. No dia 14 de julho de 31 de março de 1871, é aprovado o contra-
o que o torna um dos maiores do Brasil. 1968 o presidente da República, Costa e to firmado entre o governo estadual e a
A perfuração inicial do poço de Carmó- Silva, também esteve em Carmópolis para Cameron Smithi & Cia para a navegação a
polis começou no dia 1º de agosto de 1963 acompanhar os trabalhos da Petrobras. vapor nos rios Japaratuba e Pomonga.

CINFORM 58
Filhos Ilustres
João Gomes de Mello (Barão de Maru-
im) - Nasceu em 18 de setembro de 1809 no
Engenho da Santa Bárbara. Ele era proprietá-
rio das terras onde hoje se localiza o bairro
Salusto Vieira de Melo (Bairro Invasão), em
Carmópolis.

José Sampaio - Nasceu na Vila do Carmo


em 2 de maio de 1913. Começou os estudos
em Carmópolis na escola de Dona Sirene. Ain-
da pequeno, mudou-se para Riachuelo. No iní-
cio dos anos 30 trabalhou no comércio e es-
creveu seus primeiros poemas. De 1936 a
1944 colaborou com vários jornais e revistas.

Francisco Teles Maciel - Nasceu em 23 de


maio de 1887. Ao lado de seu irmão José Teles
Maciel, foram as figuras políticas de maior pro-
jeção na história de Carmópolis. Além da con-
Time de futebol: 16 de Outubro dição de agricultor e dono de engenho de açú-
car, ele também se dedicava a mecânica. Foi
um homem de visão social e de grande lide-
rança política. Tornou-se o primeiro intenden-
te, empossado em 1º de janeiro de 1923. Após
cumprir o mandato de intendente, o líder do En-
genho Porções foi eleito deputado estadual.

Manoel Joventino Magalhães - Nasceu


na cidade de Tacaratu/PE, em 3 de setem-
bro de 1920. Posteriormente fixou residên-
cia na cidade de Carmópolis onde entrou
para o comércio, vendendo tecidos em sua
residência e na feira da cidade, e depois
abrindo sua loja em prédio próprio. Prospe-
rou bastante, chegando a ser um dos princi-
pais comerciantes de Carmópolis. Foi su-
Alunos da Escola José Sampaio Políticos: Theotônio Neto (à direita) plente de vereador, assumindo o cargo de
secretário e prefeito eleito.

Ignácio Felino Barreto - Nasceu em Car-


mópolis em 20 de fevereiro de 1906. Entrou na
atividade econômica como comerciante e fez
carreira política, sucedendo seu pai, ao lado
do grande amigo e líder político Leandro May-
nard Maciel, de quem nunca se afastou. Como
líder político comandou a oposição ao dr. Oc-
távio da Usina Oiterinhos, chefe do Partido Re-
publicano, não conseguindo derrotar o adver-
sário que representava o poder econômico do
município. Com a morte dele, as lutas político-
partidárias perderam a expressividade.

Gentil Acciole Gomes - Agricultor, comer-


ciante e político. Elegeu-se vereador e tomou
posse como vice-prefeito em 1967, cujo man-
dato exercia quando morreu, em 21 de feve-
reiro de 1973, assassinado friamente por um
vizinho de terra quando se dirigia para o traba-
lho em sua propriedade.
Bacamarteiros: força do folclore Antonio Carlos da Conceição (Carlito) -
Nasceu em Carmópolis, no antigo Arraial da
A Escola Estadual de 1º e 2º Graus Poeta por volta de 1780. Começou na época das Coruba, em 16 de janeiro de 1916. Passou por
várias escolas primárias, abandonando-as
José Sampaio é a mais antiga do município festas juninas. Os negros se mobilizavam sempre para trabalhar, já que era muito pobre.
em funcionamento. Ela foi inaugurada em para a brincadeira na noite de São João. O Passou pelo Grupo Escolar General Siqueira,
em Aracaju, aos 9 anos de idade. É a memória
7 de setembro de 1975 e se chamava Grupo tradicional tiro de bacamarte é a atração. O viva de Carmópolis. É dele o hino do município.
Escolar José Bonifácio. Samba de Aboio ou Samba de Bate-Coxa
Honorino Ferreira Leite, Hermes Fon-
A Associação Desportiva 16 de Outu- também está presente em Carmópolis. tes Cruz, Manoel Cirino dos Santos,
bro foi fundada em 1946 como Sociedade A política no município foi por muito Cantidiano Rosa do Bomfim, Marcioni-
Desportiva 16 de Outubro F.C. O municí- tempo comandada pelos proprietários da lo de Melo Lopes, Anísio Teles Barreto,
José Amado Alves, Alberto Narciso da
pio ainda tem a Sociedade Esportiva São Usina Oiterinhos. Eles indicavam os in- Cruz, José Teles Maciel, entre outros.
Cristóvão, que foi fundada em 18 de agos- tendentes e prefeitos de Carmópolis. Nas
to de 1967. eleições municipais de 15 de novembro Texto: CRISTIAN GÓES
O folclore tem forte marca em Carmó- de 1976, o MDB lançou o primeiro can- Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
polis. Um bom exemplo é o Batalhão de didato da oposição. Foi o mais votado, Fonte: ‘A História de Carmópolis’, de Alexandre de San-
tana Magalhães; colaboração de Antônio Carlos da Concei-
Bacamarteiros, que foi fundado no Povoa- mas não assumiu por conta da sublegen- ção (seu Carlito); acervo de fotos de Alexandre Magalhães;
do Aguada, ainda na época da escravidão, da da Arena. C e Enciclopédia dos Municípios Brasileiros.

CINFORM 59
Cedro a madeira que virou
Cedro de São João
Município é o maior
produtor de
carne-de-sol do Estado
e se destaca
no artesanato
de ponto de cruz

A
povoação de Cedro do São João,
a 94 quilômetros da capital, ini
ciou-se com a fazenda Cedro,
montada no século XVIII por Antônio
Nunes, exatamente no local onde está lo-
calizada a Igreja Matriz. A produção pecu-
ária cresceu e o município tornou-se o mai-
or produtor de carne-de-sol do Estado. Mas
o fechamento do matadouro pela Justiça,
por falta de estrutura de funcionamento,
prejudicou a produção e fortaleceu o arte-
sanato de ponto de cruz, que envolve prati-
camente todas as famílias cedreirenses.
O nome do município originou-se do Ce- Igreja Matriz São João Batista
dro, árvore encontrada em grande quantida-
de na localidade, usada para cercar a primei- Os negros, também discriminados após o ras, Batinga, Piçarreira, Cruzes e Poço dos
ra fazenda. Já em 1834, além da casa do fim da escravidão, preferiram habitar o bair- Bois - o maior deles.
fazendeiro, havia nos arredores cerca de 20 ro Carvãozinho, onde até hoje predomina Outro fato que não agradou a população
casas de taipas construídas para os vaqueiros. essa raça. cedreirense foi a mudança do nome de Ce-
Em 1835, o proprietário conseguiu implan- dro para Darcilena. Segundo o ex-prefeito
tar a primeira escola pública na localidade. Fatos não agradaram Paulo Alves, Miguel Seixas, prefeito de
O catolicismo também foi difundido na 1941 a 1945, quis homenagear a mulher de
localidade pelo fundador, atualmente sen- Um fato ocorrido no município de Ce- Getúlio Vargas, Darcy, e a de Augusto
do mesclado por outras religiões. A pri- dro deixou a população revoltada. Em Maynard, Helena, sem ao menos conhecê-
meira missa foi celebrada pelo padre An- 1901, o presidente de Sergipe, monsenhor los pessoalmente.
tônio Machado Capela no altar que Antô- Olímpio Campos, através da lei nº 422, de O município permaneceu como Darci-
nio Nunes construiu em sua própria casa, 29 de outubro, revogou a lei 83, de 26 de lena por quase 10 anos. No dia 6 de feve-
onde colocou a imagem do seu santo pro- outubro de 1894, que elevava o povoado à reiro de 1954 passou a se chamar Cedro de
tetor, São João Batista, que se tornou o categoria de cidade. São João, em homenagem ao padroeiro
padroeiro da cidade. Só 27 anos depois, no dia 4 de outubro da cidade.
As partes altas de Cedro sempre foram de 1928, o presidente Manoel Dantas as-
povoadas pelas pessoas de maior poder aqui- sinou a lei 1.015, que emancipou definiti- Política complicada
sitivo. Elas fugiam das partes baixas, inun- vamente o município. A partir da separa-
dadas pelas águas do Rio São Francisco. ção de Propriá, Cedro passou a pertencer A trajetória política do município de Ce-
Conseqüentemente essas áreas passaram a judicialmente à Comarca de Aquidabã, dro foi um pouco complicada. O primeiro
ser habitadas pela comunidade mais pobre. tornando-se sede dos povoados Bananei- intendente, o usineiro Antônio Baptista do

60 CINFORM
Região - Norte (Agreste)
Distância de Aracaju - 94 km
População - 5.376
Atividades econômicas - pecuária, artesanato
e comércio de peixe gelado. Indústria de carne-de-sol e de
Engenho São José: construído em 1898 e desativado quando os canaviais deram lugar às pastagens móveis.

Nascimento (irmão do avô da senadora nistração da prefeita Ângela Maria Souza


Maria do Carmo Alves), foi também o prin- Fraga (96 a 98), também afastada pela
cipal articulador da emancipação. Ele ad- Justiça por improbidade administrativa.
ministrou o município apenas de 1929 a Como seu marido, Luiz Delfino de Souza volvidos também o juiz aposentado Francis-
1930. Foi deposto na Revolução de 30. - prefeito de 83 a 88 - não pôde candida- co Melo de Novaes, Kleber Gonçalves de
De 1930 a 1935, Cedro foi administrado tar-se mais uma vez, por ter suas contas Melo, Rui Oliveira dos Anjos, José Honório
pelo interventor Santos Sobrinho. O pre- rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Es- Rodrigues Neto, Ricardo Luiz Santos Costa,
feito Antônio Ferreira Melo também foi tado, ele elegeu sua mulher e passou a ser Nilton Félix e Enock Pedro da Silva.
destituído do cargo na Revolução de 64. ‘secretário/prefeito’.
Mais recentemente, o prefeito Roberto Houve muitas denúncias de irregularida- Cedro formou-se de um
Lima, eleito para administrar o município des e o promotor de Justiça Valdir de Freitas grupo de ciganos
de 93 a 96, foi cassado pela Justiça por im- Dantas começou a investigar o caso. Durante
probidade administrativa. Assumiu em seu as investigações ele foi assassinado no dia 19 Para o cedreirense Valdemar Vieira Nu-
lugar o seu vice, Felizardo Rodrigues. de março de 1998, quando fazia cooper na nes (professor Mazinho), 76 anos, Cedro
Porém o ponto que mais marcou nega- entrada de Cedro, e o ex-prefeito Luiz Delfi- formou-se de um grupo de ciganos vindo
tivamente a política de Cedro foi a admi- no foi preso, acusado pelo crime. Foram en- de Minas Gerais. “Depois de passarem pela
Bahia e entrarem em Sergipe, um pequeno
grupo se separou e foi viver em barracas
armadas em Capela, comercializando pro-
dutos do Vale do Japaratuba (açúcar e mel)
e do Vale do São Francisco (arroz, animais e
peixe)”, informa.
Segundo ele, o grupo adquiria animais
na fazenda Cemitério (hoje Aquidabã) e
durante o percurso descansava onde é hoje
a praça Jonas Trindade. “Na época da cheia
do rio, as terras ficavam quase uma ilha.
Eles ficavam na entrada e os animais pas-
tavam por ali até as águas baixarem. En-
tão o chefe do grupo, o Antônio Nunes,
que é o meu tetravô, pensou em um lugar
mais seguro para os animais, e construiu
um curral com cedro, madeira existente
na região”, lembra.
O povoado foi crescendo e os moradores
exploravam a plantação de arroz, a pesca e
a criação de animais. “Em 1894, o povoado
pensava em se organizar para a separação
política de Propriá. Os três engenhos no
Prefeitura da cidade: prédios públicos estão sendo recuperados Vale do Rio Jacaré: Imbira, de Antônio de

CINFORM 61
Santana; Poço dos Bois, de Antônio Soa-
res, e o da Lagoa Seca, de Antônio Baptista
Nascimento; colaboraram na formação da
estrutura econômica”, informa o professor.
Em 1928, Manoel Dantas que era o go-
vernador do Estado, se desentendeu com
os Britto de Propriá e facilitou a emancipa-
ção. Antônio Baptista Nascimento juntou-
se aos irmãos Manoel e João de Deus da
Rocha, Antônio de Santana e ao jovem ide-
alista José Álvares da Rocha, o Zé de Ma-
neu. Eles foram a Aracaju e conseguiram
um deputado para encaminhar o projeto de
emancipação. “Antônio Baptista Nascimen-
to é considerado pelos cedreirenses como o
Dom Pedro I da independência do Cedro,
foi ele quem coordenou tudo”, diz. Entrada arborizada de Cedro foi palco do crime do promotor Valdir de Freitas Dantas
Segundo o professor Valdemar, a indus-
trialização da carne-de-sol, que colocou o
município como maior produtor no Esta- A evolução do município de Cedro Finalmente a cidade de Cedro, em meio
do, ocorreu gradativamente. “Se o Cedro a uma série de problemas políticos e econô-
criava rebanho, então seus criadores pensa- PAULO ALVES* micos, conquista um desenvolvimento re-
ram na industrialização daquela carne e na lativamente bom nos dias atuais. C

exportação para os municípios e até esta- A cidade de Cedro cresceu e se organizou


dos vizinhos. Não conheço nenhum muni- em decorrência de sua pecuária que encon- * Professor aposenatdo e ex-prefeito da cidade
cípio que tenha produção de carne-de-sol trou solo próprio e fértil para o seu desenvol-
maior do que Cedro”, destaca ele. vimento. A lagoa Cedro era tida como ouro Filhos Ilustres
Os engenhos não funcionam mais, a cana na produção de arroz. Mas o município teve
Antônio Baptista Nascimento: responsá-
perdeu lugar para as pastagens. O de Lagoa sua evolução com o surgimento da carne- vel pela emancipação do município
Seca foi transformado em fazenda para cri- de-sol e do artesanato de bordados que abran-
Maria do Carmo Nascimento Alves:
ar gado; o de Poço dos Bois foi transforma- ge duas décadas, 40 e 50. senadora
do na casa do proprietário; e o da Imbira Essa marcha foi quebrada com a desa-
não existe mais. propriação por parte do Governo Federal José Alves Nascimento: ex-senador
do total de suas terras produtoras de arroz. Olegária Nascimento:
Folclore esquecido Na década de 60, o Cedro estava pratica- otorrinolaringologista
mente parado; a fábrica de beneficiamento
Antônio Prudente: juiz federal em Brasília
O professor Heribaldo Vieira de Melo de algodão já não mais existia; o comércio
lamenta que os cedreirenses não souberam fechou suas portas e o cinema deixou de Ailton Rocha: engenheiro agrônomo
preservar suas tradições folclóricas. “Resta- funcionar. Com isso, o Cedro mergulha em Francisco de Assis Soares da Costa:
ram apenas a Festa do Padroeiro; a via-crú- estado de decadência, todavia seu povo ja- matemático
cis dos penitentes na Semana Santa pelas mais perdeu a esperança. Com o final da
Padre Félix: latinista
santa-cruzes do município e as quadrilhas famigerada seca de 70, abrem-se novas pers-
juninas. Acabaram-se a banda de música, pectivas e o Cedro retoma seu desenvolvi- José Álvares da Rocha: poeta de cordel
que tinha 24 integrantes; a marujada, a che- mento. Sua gente empreende novos inves-
Antônio Coca: poeta de cordel
gança, o reisado e as famosas guerras de timentos, conseqüentemente acordam para
busca-pés”, diz. o seu progresso. João Costa: professor de Português
Segundo ele, está faltando incentivo para A pecuária retoma o seu lugar, o comércio Jessé Trindade: cirurgião dentista, poeta e
o cedreirense revitalizar as manifestações reabre suas portas, a carne-de-sol alcança um professor
culturais do município. “A nossa realidade mercado consumidor bem maior e o artesa-
Milton Alves: jornalista
cultural é vergonhosa. Em Cedro não há nato vai além-fronteiras, atingindo quase to-
museu, grupo de teatro, centro cultural, dos os estados do país e até o Mercosul. Francisco Melo Novaes: Juiz aposentado
nem uma biblioteca equipada. Não há in- A cidade teve seu aspecto melhorado por
Nunes: ex-jogador da Seleção Brasileira e
centivos a poetas, músicos ou a festejos re- alguns dos seus administradores, implan- atual supervisor técnico do Flamengo, apesar
ligiosos e populares”, lamenta ele. Até a tando a rede distribuidora de energia; o sis- de ele ter dito que é de Feira de Santana (BA)
e de Petrolina (PE).
Festa da Carne-de-Sol, criada em outubro tema de abastecimento de água; pavimen-
de 1990 pelo prefeito José Carlos dos San- tação de estradas; transporte e educação
tos, não acontece anualmente. “Nem o pau mais adequados para as crianças. Entende-
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Cedro, que emprestou o nome ao municí- mos que a educação deve ser priorizada Fotos: DIÓGENES DI
pio, está sendo poupado. Está praticamen- porque é nela que o jovem busca o seu sus- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa do
te em extinção”, conclui Heribaldo. tentáculo na sociedade. professor Heribaldo Vieira de Melo
Cristinápolis
terra da imperatriz
O município era refúgio
de índios, já foi
chamado de Chapada
e ganhou o nome
da imperatriz do Brasil

O
tempo passa e os mais velhos in
sistem em chamar o município de
Cristinápolis, a 115 quilômetros de
Aracaju, de Christina. E eles têm razão.
Aquele município, que já foi chamado de
Chapada, recebeu o nome de Christina, em
homenagem à imperatriz do Brasil, Dona
Tereza Christina. Mas depois passou a ser
chamado em definitivo de Cristinápolis. Matriz de São Francisco de Assis
As terras que viriam a ser um dos mais
importantes municípios da região Sul de isolado, sem a presença dominante do são como os distritos de Santa Luzia, Ita-
Sergipe foram ‘encontradas’ pelos inva- branco. Apenas índios e religiosos. A che- baianinha e Geru”.
sores europeus logo depois de 1500. A gada de ‘colonos’ se dava muito lenta-
povoação se formou e se fixou num pla- mente. Os brancos que chegavam e se Vila, cidade e homenagem
nalto, entre os rios Urubás de Cima e instalavam por lá geralmente eram con-
Urubás de Baixo. siderados ‘malfeitores’. O desenvolvimento da Chapada não pa-
Ela começou por volta de 1575 com os Só na segunda metade do século XIX o rava. Ela já era ponto de parada e passagem
índios que fugiam do avanço sanguinário Governo da Província acabou criando uma para várias vilas e povoados. Em 24 de abril
dos europeus. Foi uma espécie de mo- subdelegacia na Chapada. A idéia era “pôr de 1882, a Chapada foi elevada à categoria
cambo. Os ‘gentios’ saíam de Tomar de ordem aos atentados que pudessem ocor- de vila, já com o nome de Vila Christina,
Geru, Santa Luzia do Itanhi e Indiaroba. rer”. Em abril de 1849 foi criada a primeira numa homenagem à Imperatriz do Brasil,
Todos se refugiavam na ‘Chapada’. Os escola pública do ensino primário. O Esta- Dona Thereza Christina. Acredita-se que
índios que sobreviviam aos massacres, do chegava aos poucos. Em março de 1866, essa homenagem foi dada por um grupo de
eram escravizados. através da Resolução 771, é criado o Dis- autoridades do município que fazia parte
Atrás dos índios e antes dos explorado- trito de Paz da Chapada, mas dois anos de- da resistência monárquica no Brasil. Outra
res, vinham os padres da Companhia de pois foi revogado. corrente aposta que o nome foi dado em
Jesus. Alguns deles se deslocavam da fre- Doze anos depois, em 12 de abril de 1878, homenagem a uma amante de um presi-
guesia do Espírito Santo, hoje Indiaroba, e o distrito se transformou em Freguesia da dente. Assim o território da nova vila aca-
outros de Tomar do Geru. Eles tinham aces- Chapada de São Francisco de Assis. Estava bava ficando independente da do Espírito
so livre na Chapada, uma aldeia que crescia lá na resolução provincial: “Principiará das Santo, hoje Indiaroba.
muito, e lá construíram uma capela sob a cabeceiras do ‘Sagüim’ a sair na estrada do Mas só 56 anos depois, em 28 de março
invocação de São Francisco de Assis. Caju, que vem do Riacho Seco por este ao de 1938, quando Eronides de Carvalho era
Rio Itaymirim no engenho Passagem das interventor em Sergipe, a vila se transfor-
Governo, escola e freguesia Pedras, seguindo rio abaixo até onde desa- ma em cidade, mas mantendo o nome de
gua no Rio Real, e por este acima até o fim Christina. Somente em 1944 o município
Segundo os historiadores, o povoado do terreno da sobredita vila do Espírito San- passa a se chamar Cristinápolis (terra de
da Chapada teria passado várias décadas to, conservando no mais a sua antiga divi- Christina). A mudança foi autorizada por

CINFORM 64
Região - Sul de Sergipe
Distância de Aracaju - 115 km
População - Cerca de 15 mil
Atividade econômica - Agricultura

Imperatriz deu nome ao município

Cristinápolis precisa rever data de emancipação

1949. Era um jurista de primeira grandeza. el, que servia aos frades franciscanos do
Foi professor de Direito Público e Consti- convento da freguesia do Espírito Santo,
tucional, Direito Internacional Público, quando estava procurando umas reses que
Diplomacia e Direito Internacional Prado. haviam desgarrado do rebanho, atraves-
Foi ele quem construiu o Instituto Geo- sando o Riacho Sagüim e penetrando na
gráfico e Histórico da Bahia e a Faculdade mata, encontrou, após alguns dias de pro-
São Francisco de Assis: padroeiro de de Direito da Bahia. Bernardino teria escri- cura, um riacho onde teve de defender-se
Christina to uma grande obra, até hoje inédita, sobre e matar uma grande jibóia. Logo após ul-
o carro de boi. Ele morreu como ministro trapassar o riacho, Manoel vaqueiro alcan-
outro interventor federal, o coronel Au- do Tribunal de Contas da República. çou uma chapada, onde acabou descobrin-
gusto Maynard Gomes. No final da década do uma aldeia indígena.
de 30, o município recebia iluminação pú- Lenda e curiosidades Procurando não ser visto pelos índios,
blica através de um motor diesel. Tinha duas Manoel afastou-se do local, regressando ao
pensões e apenas um médico. O professor Carlos Leite escreveu em convento e relatando aos frades o que havia
Cristinápolis tem um grande filho ilus- seu livro ‘Procurando o Pequeno Príncipe descoberto. Os missionários franciscanos
tre. Foi o ministro Bernardino José de Sou- - Memórias da Infância’, que existe uma logo providenciaram a evangelização dos
za. Ele nasceu em 8 de fevereiro de 1885 lenda da fundação do município. Em tem- índios da Chapada. Lá, eles construíram
em Christina, e morreu em 11 de janeiro de pos remotos um vaqueiro de nome Mano- uma capelinha coberta de palha, sob a pro-

CINFORM 65
Uma das poucas casas antigas da cidade

Vila na década de 30

teção de São Francisco de Assis, onde a co- biam como havia surgido a notícia de que o
munidade indígena reunia-se para ouvir os temível bandoleiro Lampião e seus cabras
frades pregarem. estavam se dirigindo à Velha Chapada dos
A Igreja São Francisco de Assis era uma Índios, cujo povo ficou apreensivo na ex- Matriz de São Francisco: reformada em 1970
capela muito simples, tipo chalé, sem tor- pectativa da indesejável visita.
res. Em fins de 1924, sob o comando de Liderado por Oséias Batista, então pre-
cínora havia cortado o fio, aumentando,
Leonardo Leite, ela foi reformada e toda a feito, uma dúzia e meia de cidadãos movi-
ainda mais, o medo do povo. Trancado na
estrutura modificada. Foi escolhida como mentaram-se para organizar a defesa da
matriz, o pequeno grupo de defensores da
modelo a igreja de Santo Antônio de Ara- cidade. Meu irmão Juca, Antônio Maro-
cidade aguardava o famoso bandoleiro, con-
caju. Quem comandou por muitos e mui- to, João Reis e filho, João Ribeiro, Nelson
tando uns aos outros as atrocidades pratica-
tos anos a paróquia de Cristinápolis foi o Góes, Zeca de Inácio, seu Fidelcino e ou-
das pelo Rei do Cangaço do Nordeste.
padre Manoel Vieira. tros. A eles se juntou o destacamento po-
Ao entardecer daquele dia, dona Nair
licial, composto de um cabo e dois solda-
conseguiu comunicar-se com a cidade de
Emancipação e intendentes dos. Fuzis e carabinas foram requisitados.
Itabaianinha, quando ao dar notícia sobre
A igreja matriz se transformou, pela sua
a preocupação do povo da Vila Christina
Pelos documentos históricos, a criação do posição estratégica, em ponto de apoio
com a propalada visita de Lampião, ficou
município da Chapada ocorreu pela Lei Pro- para a defesa.
sabendo da impossibilidade de tal presen-
vincial de 23 de abril de 1882, quando rece- Na torre foi colocado um grande barril
ça do cangaceiro na região, em razão do
beu o nome de Vila Christina. Portanto, de água a fim de esfriar as armas que natu-
bando e seu chefe encontrarem-se na cida-
para o professor Carlos Leite, o dia da eman- ralmente iam esquentar na presumível re-
de de Capela.
cipação de Cristinápolis é 23 de abril e não frega. Foi proibida a saída de qualquer pes-
A boa nova tranqüilizou os moradores
28 de março. Esta última data se refere à soa da cidade, o que não impediu que algu-
da Chapada. Da matriz saíram aqueles que
data da elevação da sede do município à mas se refugiassem nas matas próximas do
se prontificaram a evitar a visita dos canga-
categoria de cidade. ‘Brejo’, ‘Taquari’ ou do ‘Paiaiá’. Odilon
ceiros. As casas abriram suas portas despe-
Foram intendentes de Cristinápolis: Monte Alegre, proprietário de um Ford-
jando nas ruas as mulheres, ainda com os
Adrião Cardozo de Araújo, João d’Oliveira 29, único veículo a motor da cidade, de-
terços nas mãos, os velhos e as crianças. E
Menezes, Hildebrando Araújo, Thomé de monstrou desejo de abandonar a cidade ao
aqueles que haviam fugido, refugiando-se
Freitas Ávila, David Francisco de Oliveira, ter conhecimento do tratamento que Lam-
nas matas, ao regressarem foram recebidos
Antônio de Freitas Ávila, Zeuxis de Souza pião e seu bando dispensavam aos comerci-
com desprezo pelos seus conterrâneos. C
Maciel, Oséias Batista Filho. Este último antes. Juca o fez mudar de opinião ao ale-
recebeu o nome de prefeito. gar que atiraria nos pneus do carro, caso
* Professor e escritor
tentasse sair da cidade.
Visita de Lampião em Christina No telégrafo, a agente dona Nair Reis
Texto: CRISTIAN GÓES
procurava em vão comunicar-se com Ita- Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
* CARLOS GOMES DE CARVALHO LEITE baianinha, a fim de dar ciência às autorida- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e ‘Procurando o
des daquela cidade, do que estava aconte- Pequeno Príncipe - Memórias da Infância’, de Carlos Gomes
de Carvalho Leite, advogado, promotor de Justiça, ex-prefeito
Foi nos meados dos anos 30. Também os cendo. Como Itabaianinha não atendia os de Santa Luzia, ex-secretário de Segurança e procurador geral
moradores da então Vila Christina não sa- chamados, presumiu-se que o bando do fa- de Justiça.
Cumbe do algodão ao artesanato
Povoação chegou
a ter três fábricas
descaroçadoras.
O produto era
transportado para
vários municípios
sergipanos

O
município de Cumbe, distante 90
quilômetros da capital, foi um
grande produtor de algodão e che-
gou a possuir três fábricas descaroçadoras.
Mas na década de 50 este cultivo deu lugar
ao capim e a produção agrícola foi pratica-
mente substituída pela pecuária, sobreviven-
do, apenas, a agricultura de subsistência.
Hoje, o artesanato está se sobressaindo, sen-
do mais uma opção de economia para os
cumbenses. Leonesa e Baltazar: casal lembra a alta produção de algodão de Cumbe
Apesar de possuir um clima tido como
saudável e ameno, por estar às margens do Base da economia 12 a 28 de janeiro de 2001.
Rio Japaratuba, Cumbe encontra-se entre Outra fonte de renda em Cumbe são os
os municípios que sofrem longos períodos Baltazar Feitoza lembra que eram mais papéis reciclados de jornais e revistas. Com
de estiagem. A agricultura de subsistência, de 300 burros trabalhando para transportar eles são confeccionados chapéus, bolsas, sa-
ocupação da maioria dos habitantes, chega o algodão. “Saíam os comboios para Ria- colas e cestos. A produção é vendida para
a ser prejudicada pela escassez das chuvas. chuelo, Estância, Itabaiana, Ribeirópolis e pagar as despesas e o restante, dividido en-
Durante a alta produção algodoeira, o Propriá”, diz ele. Até hoje a economia do tre os artesãos.
município teve como maior comerciante município gira em torno da pecuária e da
Manoel Percílio dos Santos, que vendia o agricultura de subsistência. Emancipação política
algodão para Antônio Franco, proprietário Aliado a isso, o artesanato é uma nova
da Usina Central, em Riachuelo. A queda opção de economia no município. Cerca de Em 1953, quando foram criados mais 19
na produção aconteceu em decorrência dos 250 mulheres - coordenadas por Lícia Vio- municípios no Estado, o povoado de Cum-
incentivos financeiros destinados pelo Go- leta e Marieze Menezes Santos - bordam be, pertencente a Nossa Senhora das Dores,
verno à pecuária. tapetes e painéis com os mais variados pon- estava entre eles. Mas o município só foi
“Antes não tinha um pé de capim. O al- tos. Desde o meio ponto, brasileirinho e instalado oficialmente no dia 31 de janeiro
godão era viçoso. Tudo que se plantava dava. ponto de arroz, até o arraiolo. O trabalho é de 1955, e teve como primeiro prefeito
Aí os homens mataram a terra e os alimen- feito nas casas das bordadeiras e também na Antônio Gomes de Moraes, que adminis-
tos que têm nela agora estão doentes”, diz, Fazenda Curralinho. Os tapetes, que nor- trou a cidade por quatro gestões.
saudosa, a costureira Maria Leonesa de Oli- malmente são vendidos numa loja em Ainda povoado, em 1920, Cumbe já pos-
veira Santos, 86 anos, esposa de Baltazar Aracaju, no bairro 13 de Julho, estiveram suía a capela São João Evangelista - padro-
Feitoza dos Santos, que foi comerciante de expostos na Feira de Sergipe, instalada na eiro da cidade -, duas escolas com ensino
algodão no município. Orla de Atalaia, também em Aracaju, de primário, 160 casas e uma pequena feira re-

CINFORM 68
Região - Oeste (agreste)
Distância de Aracaju - 90 km
Carlos Pereira: idealizador da festa da pa- População - 3.643
droeira Atividade econômica - Pecuária,
agricultura e artesanato
por Osias (chefe político contrário), que
fugiu da região, ficando impune às pena-
lidades judiciais.

Terras de Cumbe estão nas mãos


de algumas famílias poderosas

*GILDO BATISTA DOS SANTOS

Cumbe tem uma área de 146,9 quilôme-


tros quadrados. Mas grande parte das terras
está concentrada nas mãos de um grupo de
famílias detentoras do poder econômico e
conseqüentemente do poder político, o que
vem contribuindo ao longo dos anos para
que as classes dominantes imponham o seu
projeto de dominação política.
Apesar disso, a comunidade cumbense não
tem sofrido muito pela falta de espaço pro- Antônio Moraes: maior líder político do mu-
nicípio
alizada aos domingos. O povoado não che- dutivo onde possa produzir, já que o municí-
gou a ser distrito de paz, passou diretamen- pio possui campos agrícolas comunitários. sificados e servem de ponto de encontro para
te à categoria de cidade. Tendo como atividades básicas as cultu- a comunidade.
O prefeito João Oliveira Pais, de Dores, ras agrícola e pecuária, o município destaca- Mas, há muitos anos, o setor industrial
foi quem preparou o povoado para passar à se na produção de mandioca, milho e fava. era o mais desenvolvido economicamente
condição de município. Foi ele quem fez os Na pecuária, predomina o rebanho bovino, porque a produção algodoeira de Cumbe
primeiros melhoramentos, inclusive cons- ainda criado sem técnicas avançadas. era totalmente enviada para o vapor (má-
truiu o mercado municipal. Mas o seu su- A maioria de seus habitantes tem ocupa- quina descaroçadora) e de lá para a capital.
cessor, Antônio dos Reis Lima, reagiu con- ção no setor agrícola, vivendo basicamente Compete àqueles que administram a ci-
tra a emancipação, alegando que Cumbe não da cultura de subsistência, que é prejudicada dade conciliar o impasse existente entre a
possuía renda suficiente para manter-se in- constantemente pela escassez das chuvas; questão técnica e a social, encontrando o
dependente. pela aplicação de métodos e técnicas agríco- melhor caminho para a melhoria da quali-
O maior lutador pela emancipação polí- las rudimentares, como a coivara; e pela fal- dade de vida do cidadão cumbense.
tica de Cumbe foi o deputado estadual e ta de equipamentos agrícolas modernos e
fazendeiro do povoado Cajueiro, Cloves de estímulos governamentais. * Professor e diretor da Escola de 1º Grau Alcebíades Paes
Faro Rollemberg, da UDN - União Demo- É notório que o setor primário absorve
crática Nacional -, com o apoio do gover- significativa parcela dos habitantes locais, Cabras de Lampião
nador Leandro Maciel. pois famílias inteiras deslocam-se ao raiar aterrorizaram Cumbe
Mas até ser concretizada a emancipa- do sol para suas roças, retornando ao entar-
ção política, houve protestos, prisões, es- decer. Já as atividades comerciais são redu- Cumbe também recebeu a visita indese-
pancamentos e até uma morte. O mar- zidas, existindo algumas mercearias, bares, jada dos cabras de Lampião, que aterroriza-
chante Manoel Zacarias foi assassinado botecos que comercializam produtos diver- ram os moradores durante três horas. O ca-

CINFORM 69
Vista parcial da cidade do Cumbe

proteger os moradores. Quando os canga-


ceiros quiseram voltar, os policiais estavam
a postos na torre da igreja e os receberam à
bala. Por isso surgiu a história de que Lam-
pião teria dito que não voltaria mais a Cum-
be porque lá até os santos atiravam. C

Filhos Ilustres
Nivaldo Santos: O polêmico deputado, de 83
anos, que garante que vai mijar na cova do de-
putado federal Cleonâncio Fonseca, mora em
Boquim, mas é natural de Cumbe. Ele foi depu-
tado três vezes e escreveu o livro ‘A minha
história política - o velho guerreiro’, onde conta
as peripécias do mundo político.

Carlos Pereira: Dentista que se mudou para


São Paulo, mas todas as férias passeava em
Cumbe, onde atendia de graça em seu consul-
Lindolfo e Alda: detalhes da passagem do Lampião tório. Já morreu, mas continua sendo reconhe-
cido até hoje como o maior protetor que os cum-
benses já tiveram, mesmo sem ser político. Car-
sal Lindolfo Percílio dos Santos, 84 anos, e moradores para tentar esconder o que podi- los Pereira foi também o idealizador da festa
Álida (Alda) Andrade Santos, 77, conta com am”, lembram. anual do padroeiro da cidade, comemorada no
dia 27 de dezembro.
detalhes a passagem deles pela povoação. Os cangaceiros passaram de casa em casa e
“Eu me lembro como se fosse hoje. Eles levaram dinheiro, tecidos, roupas e ouro. “Eles Jorge Antônio Moraes: Ginecologista obs-
chegaram numa Quarta-Feira de Cinzas queriam até cortar a orelha de uma mulher, tetra, que atende em Aracaju. Além de médico
(1935), na hora da Via-Sacra”, diz Alda. mas ela tirou o brinco e entregou. Só não é pecuarista em Cumbe.

Segundo eles, para aterrorizar ao mesmo entraram lá em casa porque minha mãe esta- Raul Moraes: Médico clínico. Possui uma clí-
tempo os quatro cantos do Estado, Lampião va morrendo de um aborto. Minha avó pe- nica em Cumbe e outra em Nossa Senhora das
separou os cangaceiros em vários grupos. diu para eles não entrar e eles atenderam”, Dores.
“Quem entrou em Cumbe foi o grupo de lembra Alda.
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Zé Sereno, com 14 homens. Eles disseram: Além de levar tudo que podiam, eles avi- Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
‘Não corram’ e foi saindo todo mundo de- saram que depois retornariam, mas o pre- Fonte: Pesquisa da estudante Fátima Teixeira Santos
vagar. Depois começou o corre-corre dos feito de Dores mandou uma volante para e Enciclopédia dos Municípios Brasileiros
Divina Pastora
dos engenhos à
peregrinação
Município nasceu de um
curral de gado, cresceu
com os engenhos e vive
hoje praticamente
da mão-de-obra
da prefeitura

A
credita-se que o município de Divi
na Pastora, distante 39 quilômetros
de Aracaju, nasceu de um dos 400
currais de gado existentes em Sergipe na
época da invasão holandesa. A plantação
de cana-de-açúcar, que mantinha a pecuária Igreja Matriz: nasceu a partir da cova da índia
e prevalecia na povoação, tempos depois
deu lugar à cultura da cana-de-açúcar. Mas so é que os divina-pastorenses possuem dois
aos poucos os engenhos, que alavancaram a padroeiros: Nossa Senhora de Divina Pas-
economia local e asseguravam emprego tora, comemorada no 2º domingo de no-
para os moradores, foram se fechando e vembro - paróquia existe desde 1700; e São
deixando a população em situação difícil. Benedito, que teve a sua festa realizada no
Não há registro do tempo exato em que último dia 11 de fevereiro.
a povoação Ladeira, nome dado inicialmente A peregrinação destaca-se como tu-
ao município de Divina Pastora, começou rismo religioso da cidade, considerada
a se formar, mas há um fato que pode indi- um santuário de pagamento de promes-
car uma data aproximada. Quando o vigá- sas e agradecimentos de graças alcança-
rio Manoel Carneiro de Sá tomou posse da das desde a década de 70. A já tradicio-
paróquia de Siriri, em 18 de fevereiro de nal romaria, criada no dia 17 de outubro
1700, a freguesia de Ladeira já existia. de 1971 por dom Luciano Cabral Duar-
Em 31 de maio de 1833, através de uma te - então arcebispo de Aracaju -, to-
lei provincial, a povoação passou à catego- mou amplitude com o padre Raimundo
ria de distrito administrativo. Três anos de- Cruz, pároco da cidade durante cerca de
pois, no dia 12 de março, foi desmembrada 12 anos. Atualmente ela atrai milhares Fausto Cardoso: filho ilustre do município
de Maruim, passando a se chamar Vila de de pessoas que saem em caravanas de
Divina Pastora. O distrito levou muito tem- todo o Estado de Sergipe, de Alagoas, Na cidade, várias artesãs bordam o ren-
po para progredir. Só em 15 de dezembro Bahia e de vários pontos do país. Calcu- dendê, ponto cruz e a renda irlandesa. Esta
de 1938, passou à categoria de cidade, sen- la-se que aproximadamente 60 mil pes- última, originada na Europa nos tempos
do emancipada politicamente de Maruim. soas visitam a cidade nesse dia. medievais e trazida para Sergipe pelas
A Betânia do São Francisco de Assis tam- missionárias européias, tem dona Alzira
População religiosa bém é um grande reforço para o turismo como uma das responsáveis pela resistên-
religioso. Fundada pelo Irmão Walter, é um cia dessa tradição. Recentemente houve
Na cidade predomina a religião católica. local escolhido pelos grupos religiosos para uma exposição no Museu do Folclore, no
A peregrinação realizada anualmente no 3º retiros espirituais. Ela fica localizada num Rio de Janeiro, onde a renda irlandesa
domingo de outubro comprova a força do local elevado, e oferece aos visitantes uma sergipana esteve presente.
catolicismo entre a comunidade. Prova dis- paisagem belíssima. No artesanato, destaca-se também ‘seu

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Região - Oeste (semi-árido)
Distância de Aracaju - 39 km
População - 3.265 mil
Atividades econômicas - Petróleo, pecuá-
ria, cana-de-açúcar, argila, artesanato , brinque-
dos e objetos decorativos . Cerca de 70% da popu-
lação sobrevive com salário da prefeitura.

Peregrinação atrai anualmente milhares de devotos de Nossa Senhora da Divina Pastora

Neca’, entalhador de peças em madeira,


com detalhes surpreendentes. Suas peças
variam entre brinquedos infantis e objetos
decorativos.

Política conturbada

O fato mais marcante na política de Di-


vina Pastora foi o afastamento por impro-
bidade administrativa da prefeita Acácia
Maria Costa (PPS). Ela foi cassada pela Jus-
tiça no dia 28 de setembro de 1999, acusa-
da de corrupção e vários desmandos admi- Mata Boacica: fonte de água mineral que abastece o município
nistrativos. Acácia, que é filha do ex-pre-
feito José Marçal Costa, chegou a atrasar “Não votei em Orlando Dantas nem existia. Mas, como ele perdeu a políti-
seis meses de salários dos servidores do mu- porque ele tirou a usina daqui” ca, levou a Usina Vassouras para Capela.
nicípio. Em conseqüência disso o comércio Além de tirar meu emprego, ele arrasou a
da cidade faliu, causando grandes dificul- O aposentado do DER e ex-funcionário cidade - por isso eu não votei nele”, diz.
dades para o seu substituto, Antônio Car- da Usina Vassouras, José Bispo dos Santos, Seu Vavá rebate a afirmativa de que Or-
los Santos (PMDB). 75 anos, nasceu em Riachuelo, mas chegou lando Dantas levou a Usina Vassouras para
O ex-vereador Jeová de Oliveira Santos a Divina Pastora com 8 anos. Ele afirmou Capela porque perdeu a eleição, e concorda
(seu Vavá), 71 anos, que nasceu e se criou que em 1950 Orlando Dantas, dono da Usi- que ele foi o melhor empregador que já
em Divina Pastora, lembra que o político na Vassouras, transferiu tudo para a sua ter- conheceu. “Os políticos tinham raiva dele
que arrumou a cidade foi José do Prado ra natal, Capela, por vingança, por ter per- porque ele defendia os pobres. Ele foi em-
Barreto, prefeito durante três gestões. “Aqui dido uma eleição. bora daqui porque não tinha mais campo
era tudo mato. Foi ele quem tirou a cidade Orlando Dantas, jornalista combativo, para plantar cana”, explica.
da lama, e botou água e luz. Ele também deputado estadual e federal por Sergipe, edi- Além da Vassouras, que era a mais impor-
fez um parque de diversão que era cobiça- torialista memorável, escritor que buscava tante usina da povoação - acompanhada pela
do. Vinha gente até da capital trazer os fi- analisar a economia e a história da sua terra São Félix, de Fausto Cardoso -, no auge da
lhos para brincar”, diz. sergipana, concorreu ao título de Sergipa- produção açucareira chegaram a funcionar
Seu Vavá lembra uma história interes- no do Século, promovido pela TV Sergipe seis usinas ao mesmo tempo no município.
sante ocorrida na cidade quando os can- recentemente, oportunidade em que Zé Em menor escala estavam a Salobro, de um
didatos a prefeito não tinham concor- Bispo também se vingou dele. senhor chamado Miguel; Limeira, de Pasco-
rente. “Seu Jason Santos foi o último “Ele era um patrão muito bom. Pagava al da Limeira; Mato Grosso, de Gonçalo
candidato único a prefeito da cidade e todos os direitos dos funcionários, sempre Rolemberg; e Fortuna, de Flávio Prado.
conseguiu perder para os votos brancos”, em dia, e dava gratificação, casa, assistên- Zé Bispo lamenta que o município era
lembra ele. cia médica e até 13º salário, quando ainda muito rico e hoje só resta praticamente a

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Seu Vavá: ex-vereador conta histórias interessantes

prefeitura para empregar a população. Aos mentos difíceis, em virtude dos elevados munidade ou mesmo um restaurante de pe-
poucos as usinas foram se fechando, uma a custos dos materiais para a sua confec- queno porte; que o nosso município seja
uma. A partir daí, os moradores voltaram a ção, como também dificuldades para co- integrado ao de Siriri por via asfáltica, me-
plantar capim para criar gado. mercializar os produtos acabados, o que lhorando assim as condições de transportes
vem acarretando um grande desestímulo de massa. Estes são alguns dos itens que
Mata Boacica e o centenário por parte das artesãs, que já estão priori- poderão propiciar para todos nós um bem-
da fonte de água mineral zando outros tipos de bordado que dão estar social. C

retorno financeiro imediato.


* MANOEL MESSIAS SANTOS A Igreja Matriz de Divina Pastora, he- * Bibliotecário da UFS e ex-vice prefeito da cidade
rança dos frades capuchinhos, tem estilo
A cidade de Divina Pastora está situada Barroco. Seu teto foi pintado pelo artista Filhos Ilustres
no Vale do Cotinguiba, sendo banhada pelo baiano José Teófilo de Jesus, sendo esta pin-
Rio Sergipe. Originou-se dos famosos cur- tura a sua principal obra. É sem dúvida a Fausto Cardoso, bacharel em Direito.
rais de gado como muitas outras cidades maior pintura painelista de Sergipe. Lamen- Foi promotor público, poeta, filósofo e jornalis-
ta. Colaborou para jornais do Rio de Janeiro,
sergipanas. Com a introdução da cultura tamos profundamente a perda da bela pin- como ‘O Dia’ e ‘A Imprensa’. Foi assassinado
canavieira em suas terras, ela toma um gran- tura, uma vez que o telhado está compro- numa revolta acontecida na capital, em 28 de
de impulso, onde a criação de gado cede metido, podendo desabar caso não seja fei- agosto de 1906, na praça que tem o seu nome.
espaço aos engenhos de açúcar e, com es- ta uma reforma urgente. A referida igreja é
Alexandre de Oliveira, médico e de-
tes, ela atinge o seu apogeu. tombada pelo Patrimônio Histórico e Ar- putado estadual em 1896.
Os senhores de engenho investiram na tístico Nacional desde 1943.
edificação de casarões e sobrados por eles O nosso clima já serviu de sanatório a céu Antônio Leonardo da Silveira
freqüentados aos finais de semana. Neste aberto quando tínhamos grandes árvores em Dantas, padre, político de grande influência
período áureo da cultura canavieira, a mão- torno da cidade. O clima é associado ao de e orador sacro de dotes excepcionais.

de-obra não era especializada na sua totali- montanha, com água potável de boa qualida- Agenor Costa, filólogo, autor de um dici-
dade, mas havia trabalho para jovens e adul- de e muitas árvores, as pessoas eram curadas onário de sinônimos e locuções da língua por-
tos, homens e mulheres. de doenças graves, a exemplo da tuberculose. tuguesa editado em 1950.
Com o fechamento dos engenhos de açú- A Mata Boacica guarda vestígios da Mata
Marcelo Vilas Boas, médico ortope-
car e o monopólio da cultura canavieira, Atlântica com árvores de grande porte, ten- dista reconhecido como um dos melhores do
surge o desemprego em massa que perdura do como exemplo as Uruçucas, que prote- Brasil. Formou-se na Bahia e fez residência
até os dias atuais. Infelizmente o progresso gem com sua sombra a fonte mineral Boa- na Alemanha.
não nos beneficiou e atualmente os grandes cica. Inaugurada pelo intendente comen-
empregadores no Vale do Cotinguiba são dador Dantas, no dia 24 de fevereiro de Carlos Alberto Mendonça, especia-
lista renomado em cabeça e pescoço, presi-
as prefeituras municipais. 2001 ela completou um centenário. Com dente da Unimed.
O folclore da cidade praticamente tam- as constantes agressões sofridas pelo ecos-
bém desapareceu. Graças a Deus, este ano sistema da mata, e se providências urgentes
(2001) conseguimos resgatar a nossa Che- não forem empreendidas, dificilmente as Texto: EDIVÂNIA FREIRE
gança para a alegria contagiante de toda a futuras gerações comemorarão outra data Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros; pesqui-
população divina-pastorense. histórica como esta. sa de José Valmir Santos, teólogo e estudante de Jorna-
No artesanato, a renda irlandesa pro- Esperamos que os nossos jovens e adul- lismo da Unit; e colaboração de Verijânio José de Mene-
duzida na cidade é de uma beleza singu- tos encontrem no município opções de tra- zes, vice-presidente do Sindicato dos Servidores Públi-
cos do Município.
lar. Atualmente está passando por mo- balho; que tenhamos uma pousada na co-

CINFORM 73
Estância,
Estânciaberço da imprensa sergipana
Terra de intelectuais e
heróis, o município foi
um dos maiores centros
econômicos do Estado

Q
uem caminha pelo centro de Es-
tância, distante 68 quilômetros de
Aracaju, viaja a outras épocas. E
não é para menos. O município, que figura
entre os mais importantes do Estado, sur-
giu no início do século XVII, como povo-
ação de Santa Luzia, o mais antigo núcleo Catedral de N. Sra. de Guadalupe: padroeira incomum em Sergipe
de Sergipe. As terras, situadas entre os rios
Piauí e Piauitinga, pertenciam a Diogo de Ascensão Em 25 de outubro de 1832 ocorre a trans-
Quadros e Antônio Guedes. ferência da sede da vila de Santa Luzia para
Oficialmente, Estância surgiu mais tar- No começo do século XVIII, Estância a própria Estância. Pela resolução provinci-
de, em 16 de setembro de 1621, através de já era uma povoação que crescia e pros- al de 4 de maio de 1848, foi elevada à cate-
uma carta de sesmaria feita pelo capitão- perava, para onde convergia toda a ex- goria de cidade.
mor João Mendes, em nome de Sua Majes- portação da zona do Rio Piauí. No povo- Em janeiro de 1860, Estância recebe a vi-
tade, o rei Filipe IV da Espanha e III de ado tinha residência a maioria da repre- sita de D. Pedro II, na excursão do Impera-
Portugal, que concedia as terras daquela sentação oficial da Vila de Santa Luzia, dor às Províncias do Norte. A cidade lhe
região aos capitães de Mar e Guerra Pedro que estava em franca decadência e ficava causou tão boa impressão, que o ilustre visi-
Homem da Costa e Pedro Alves. apenas a duas léguas de distância. Nesse tante a denominou como Jardim de Sergipe.
Os dois Pedros eram parentes do capitão período, a criação de gado foi superada
João Dias Cardoso, que veio para o Brasil pela indústria da cana-de-açúcar, quando Novo ciclo econômico
como integrante do Exército, formado por surgiram os primeiros engenhos e fazen-
Cristóvão de Barros em 1590. Como as das de açúcar. Nesse período, os ideais republicanos,
terras estavam abandonadas, eles, que já se Foi então que se cuidou da transferência pregados na década de 1880 a 1890, encon-
encontravam instalados no local, solicita- da sede da vila para a florescente povoação tram em Estância a mesma ressonância
ram a confirmação da posse que já desfru- estanciana, em 1714, com a colaboração manifestada 60 anos antes, com o Padre
tavam. do ouvidor da Capitania de Sergipe, Dr. Moreira. Em 21 de agosto de 1887, foi fun-
A primeira atividade da povoação foi a José Correia do Amaral. A iniciativa en- dado um clube republicano sob a presidên-
pecuária, em decorrência da boa qualidade controu forte oposição da Câmara de Santa cia de José Caetano Marques.
dos pastos. Esse fato acabou determinando Luzia, começando a partir daí um período Pelo ano de 1891, o espírito empreende-
o nome da localidade. Estância significa de lutas e rivalidades entre os dois povos dor de João Joaquim de Souza, observando
fazenda de gado, uma palavra castelhana, vizinhos. a abundância de água doce nas cercanias da
idioma falado pelo fundador, o mexicano Apesar das rusgas, foram os próprios ve- cidade, com possibilidade de aproveitamen-
Pedro Homem da Costa. readores de Santa Luzia - moradores de Es- to industrial e, animado pelo progresso da
A origem de Pedro Homem também tância - que alegavam que a vila não podia terra, resolveu fundar a Fábrica de Tecidos
determinou a escolha da padroeira do suportar os encargos e solicitaram ao rei D. Santa Cruz. Alguns anos mais tarde, foram
município, Nossa Senhora de Guadalupe. João, numa carta de 29 de julho de 1713, a instaladas também a ‘Senhor do Bomfim’,
Juntamente com a esposa Mércia Cardo- transferência da sede da vila para o Sítio de no bairro Bomfim e a Piauitinga, que ca-
so, ele fundou uma capela de louvor à san- Estância. Em 27 de abril de 1757, uma pro- racterizaram o município como pólo indus-
ta, que é também padroeira do México e visão régia permitiu que se realizassem atos trial de vanguarda.
da América Latina. judiciais no município. Vicejando economicamente, Estância

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Região - Sudeste (Centro-Sul)
Distância de Aracaju - 68 km
População - 58.886
Atividades econômicas - Pólos comercial
e industrial, cultura de coco, pecuária e turismo

Avenida Capitão Salomão

sempre recebeu imigrantes de várias partes Em seguida, batida nas portas de algumas de descanso para as tropas que ali passaram
do mundo. Chegaram holandeses, franceses, casas, vozes, sussurros e lamentações. rumo a Salvador, na Bahia, onde provavel-
portugueses, espanhóis, árabes, sírios, turcos Quem lembra, diz que a claridade da Lua mente iriam tomar um vapor rumo à Eu-
e libaneses. Houve também uma pequena cheia dava para divisar a forma furtiva do ropa, local do conflito mundial. As tropas,
colônia inglesa, formada pelas famílias de cavalheiro nervoso em avisar a algumas comandadas pelo então General Maynard,
técnicos e engenheiros que vinham instalar pessoas o ocorrido. Ele teria vindo da Praia seguiam viagem para Itália.
os maquinários das fábricas de tecidos. do Crasto, a 18 quilômetros de Estância.
No final do século XIX, a cidade forma- Quando amanheceu, a cidade já se encon- Imprensa sergipana
va um retângulo compreendido entre a Rua trava em polvorosa. A população, alarma- começou por Estância
Pedro Homem da Costa, ao norte, até a da e com medo do que podia acontecer,
Praça 24 de Outubro, ao sul. Com o surgi- rumava para as praias do Saco, Crasto, Mato “Sede justo se quereis ser livre, sede uni-
mento das indústrias se iniciou a ocupação Queimado em busca de notícias ou sobre- dos se quereis ser fortes”, com este lema é
da Rua Nova, antigo caminho para a Bahia, viventes. fundado em 1832 o primeiro jornal de Ser-
atualmente Avenida Getúlio Vargas. Esta Um acampamento foi montado para abri- gipe, O Recopilador Sergipano, na Vila
rua ligava a cidade ao Bairro Santa Cruz, gar os sobreviventes nas enseadas do Rio Constitucional de Estância, idealizado por
que ganhou equipamentos para atender aos Real, entre Sergipe e Bahia, perto de Estân- Antônio Fernandes da Silveira. Esse jornal
operários, construindo sua vila operária. cia. Náufragos dos três navios (identifica- atuou prontamente na campanha republica-
Com a queda do movimento portuário dos Baependi e Aníbal Benévola), foram na, propagando as idéias de seu fundador.
a partir de 1947 - por falta de condições tratados no Hospital Amparo de Maria, de Inclusive seu posicionamento crítico a D.
satisfatórias para regular atracamento de Estância. Em São Cristóvão, no Mosquei- Pedro I, rendeu-lhe alguns anos nas mas-
navios e com a forte concorrência de Ara- ro, milhares de pessoas já estavam a postos morras de Salvador.
caju nos mercados comerciais do interior para tentar resgatar sobreviventes agarra- Quando foi fundado o Recopilador, Es-
do Estado -, Estância, sentindo seu co- dos aos destroços, pedaços de pau e caixas. tância progredia no setor econômico e po-
mércio perder posição, procurou defen- Uma cena incomum para aquelas pessoas. lítico, tornando-se também um grande re-
der sua economia através de ampliação O Brasil, que nada tinha a ver com o que ferencial da cultura sergipana, tanto que
de sua indústria. estava ocorrendo na Europa, também torna- em 1820 o município já contava com o
ra-se alvo. Alguns teimavam em afirmar que ensino das primeiras letras. A produção jor-
Estância na II Guerra Mundial os responsáveis foram os americanos (basea- nalística não se limitou ao Recopilador.
dos em Natal desde 1941), que foram vistos Durante o século XIX, a participação de
Era uma noite de 1942, quando a Rádio muitas vezes em seus aviões de reconheci- Estância na cultura impressa da província
Piloto, ligada a uma bateria de carro, sinto- mento e em seus submarinos, cruzando nos- foi bastante acentuada, chegando a ter 42
nizava a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sos mares. Os americanos, entretanto, afir- jornais. A maioria deles tinha caráter polí-
eis que o locutor anuncia: “Mais um vapor mavam que foram os submarinos nazistas. tico e noticioso, outras folhas apresenta-
torpedeado por submarino alemão na Cos- O Brasil entrou no conflito. Surgia en- vam um estilo irreverente, crítico, de in-
ta Brasileira, entre Sergipe e Bahia, faz cen- tão a Força Expedicionária Brasileira. Se- tensa militância partidária.
tenas de mortos e náufragos”. Pouco de- gundo informações de antigos moradores Estância teve outros jornais: A União
pois, em plena madrugada, ouve-se o tro- de Estância, a Praça da Igreja do Amparo, (1852); O Século (1880); A Urtiga
pel de cavalos, indo de um lado para outro. que era um local amplo, serviu como local (1852); O Rabudo (1874); A Gazetinha

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Filhos Ilustres

Monsenhor Antônio Fernandes da Sil-


veira - fundador do jornal O Recopilador, dire-
tor de Biblioteca Pública do RJ.

D. Domingos Quirino de Souza - bispo


da Diocese de Goiás

Francisco Camerino - herói da Guerra do


Paraguai

Leopoldo Antônio da Franca Amaral -


herói da Guerra do Paraguai, major do Exército
e comendador da Ordem de Cristo

Gumersindo de Araújo Bessa - jornalis-


ta, escritor e presidente do Tribunal de Apela-
ção do Estado.

Capitão José Salomão Agostinho da


Rocha - herói da Guerra de Canudos

Ponte do Bomfim sobre o Rio Piauitinga Heitor de Souza - advogado, juiz em Sergi-
pe, Paraná e Minas Gerais, e ministro do STF.

Maurício Graccho Cardoso - advogado,


professor, jornalista e governador do Estado.

João Nascimento Filho - intelectual e jor-


nalista

Gilberto Amado - professor, farmacêutico,


advogado, deputado estadual e membro da
Academia Brasileira de Letras

José de Dome - artista plástico de fama in-


ternacional

Augusto Freire - herói da 2ª Guerra Mundial

João Ferreira da Silva - considerado, pelo


Exército Americano, como um dos maiores
heróis da 2ª Guerra Mundial.

Raimunda Menezes de Mesquita - 1ª


odontóloga de Estância

Raimundo da Costa Carvalho - 1º odon-


Casario colonial: azulejos portugueses tólogo de Sergipe.

Raimundo Juliano - empresário atuante em


(1882); O Sereno (1896); A Razão pisa-pólvora, acompanhada de músicas es- várias áreas
(1898); O Descanso (1905); A Voz do peciais, cantadas pelos fogueteiros.
Félix Mendes - artista plástico
Povo (1929); A Estância (1931); O Sim Durante o mês de junho a cidade é
Sim (1962); A Verdade (1998); Folha da toda ornamentada por bandeirinhas e Vieira Neto - poeta e jornalista
Região (2000). balões, para comemorar o São João e
São Pedro com fogueiras, comidas típi- Judite Melo - escultora
Cultura e turismo cas, fogos e muitos turistas. Também Rogério - cantor
ocorrem apresentações de grupos folcló-
Estância é considerada o berço da cultura ricos.
sergipana, por concentrar um grande nú- No turismo, as praias do Abaís, Saco da Texto: VALNÍSIA MANGUEIRA
mero de atividades culturais. O São João é Boa Viagem, Dunas e Porto do Mato são Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
a mais importante festa popular que tor- atrações constantes. O acervo arquitetôni- Fonte: Memorial de Estância, através da professora Selma
nou o município conhecido nacionalmen- co da cidade, com seus palacetes azulejados Barreto; o livro ‘Vamos Conhecer Estância’, de Vera Lúcia
Alves França e Rogério Freire Graça; ‘Catálogo dos Jornais
te. Nos meses que antecedem os festejos, e construções que mesclam vários estilos, Estancianos’, de Márcia Regina de Andrade; site ‘Resgate
inicia-se a fabricação do busca-pé e outros também formam uma atração inesquecí- da História de Estância’ e Enciclopédia dos Municípios Bra-
fogos de artifício, ocorrendo a tradicional vel. C sileiros.
COLÉGIO

esgatar o ontem é possibilitar a constituição de uma cidadania crítica para o amanhã. O


entendimento da nascente sociedade sergipana, fruto, em parte, da racionalidade documental ou
do emocionalismo comprometido de depoimentos, começa a ser pontuado a partir de uma
seqüência de histórias narrativas dos municípios.
Atuando sobre realidades distintas, tais como o litoral e a áspera realidade do sertão, o homem
sergipano buscou soluções próprias, ajustadas à sua natureza e agindo longe das vontades oficiais. A ação dos
desbravadores se desenrolou quase sempre improvisadamente , como sabem agir os brasileiros, e ao sabor das
circunstâncias.
A publicação da série HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS tem se transformado em fonte de pesquisa
para estudantes de educação básica.
Somando-se ao esforço pioneiro do JORNAL CINFORM, o COLÉGIO AMADEUS,
perseguindo o objetivo maior de difundir o conhecimento, notadamente sobre saberes e fazeres sergipanos,
oferece à comunidade estudantil uma fonte de dados alusivos à formação sócio-econômica e política dos
municípios sergipanos.
Aracaju, maio de 2002.
Fernando Lins de Carvalho
Antropólogo
Feira Nova
a Feira continua
Nova apesar de sexagenária
Comerciante fundou
feirinha no povoado
para evitar que
moradores fossem
atacados pelo bando
de Lampião

A
cidade de Feira Nova, distante 104
quilômetros da capital, nasceu de
uma feira de trocas de animais cri-
ada por comerciantes na década de 30. O Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças: construída no mesmo lugar da antica Capela
objetivo era evitar que os habitantes saís-
sem para fazer suas compras em cidades fio montou num burro e saiu convidan- Economia e tradições
vizinhas e fossem atacados pelo bando de do feirantes e moradores de toda a re-
Lampião, o cangaceiro mais temido do ser- gião para participarem da feira que teve Banhado pela Bacia do Rio Sergipe e
tão. A denominação marcou tanto que foi início no dia 12 de março de 1939. “Co- alguns mananciais como os riachos Salga-
mantida após a emancipação do municí- meçou pequena, mas depois cresceu do e Doce, o município era considerado
pio, ocorrida em 1963. muito e ficou bem maior do que é hoje”, um grande produtor de algodão na região,
O povoado surgiu de uma fazenda cha- lembra ele. possuindo, inclusive, uma grande fábrica
mada Logrador (Logradouro). Parte das ter- A pequena feira iniciada no meio do de beneficiamento desse produto, desati-
ras, a maioria pertencente a Domingos Dias mato, com a oferta de poucos animais, gê- vada pelo poder público há alguns anos.
de Souza (Domingo Bolachão), foi adqui- neros alimentícios e a indispensável farinha Essa indústria foi responsável pela geração
rida por José Alves de Queiroz (Fifio), que de mandioca, aos poucos foi se transfor- de muitos empregos no município.
passou a habitar no pequeno povoado onde mando num local de passatempo. Todos Na indústria, a geração de empregos fica
já residia José Lino de Souza, um comerci- eram convidados para ver essa feira nova a cargo das fábricas de laticínios e panifica-
ante de peles de animais. Fifio teve a idéia, que surgia entre os dois municípios. ções, com produtos de boa qualidade. En-
junto com José Lino de Souza, de montar Esse fato exerceu grande relevância para quanto isso, o rendendê vai fazendo histó-
uma bodega e transformar parte daquele que, após alguns anos, Antonio dos Reis ria e mantendo uma das velhas tradições no
ambiente em um pequeno centro de troca Lima, prefeito de Nossa Senhora das Do- comércio.
e venda de gado e couro. res, na época sede do povoado, implan- Os costumes populares foram copiados
Na época, os moradores da redondeza tasse alguns órgãos públicos no conheci- das primeiras famílias a habitarem o muni-
faziam as compras nas feiras das cidades do Logrador, a exemplo do mercado e da cípio, tais como: visitar a cruz do Itapicuru
vizinhas, Nossa Senhora da Glória e Nossa delegacia. na Sexta-Feira Santa, acompanhar a via-crú-
Senhora das Dores. Eles viviam aterroriza- O rápido crescimento do pequeno po- cis percorrida pelos penitentes durante a
dos com as histórias de atrocidades pratica- voado contribuía para que a comunidade quaresma e reunir os cavaleiros da redon-
das pelo bando do cangaceiro Lampião, que reivindicasse o direito de independência, deza para um grande casamento caipira na
rondava a região e tomava as mercadorias conseguida através da Lei nº 1.211 de 18 noite de São Pedro.
dos feirantes. Por causa disso, com a cola- de outubro de 1963, que criou o municí- As principais festas e atrações turísticas
boração de comerciantes destemidos de Gló- pio de Feira Nova e elevou o povoado à resistem desde o surgimento da cidade. São
ria e Dores, a feira livre foi implantada no categoria de cidade. elas: Santos Reis, padroeira Nossa Senhora
próprio povoado. Seu território foi desmembrado dos mu- das Graças, festas juninas, corridas de argo-
nicípios de Cumbe e Nossa Senhora das las e vaquejada.
Inicio da feira Dores, cuja instalação dos poderes Execu-
tivo e Legislativo ocorreu em 28 de feverei- O Tanque Velho aterrado no lixo
Segundo o ex-recenseador Hermóge- ro de 1965. Feira Nova teve como primei-
nes Leite Queiroz, 69 anos, seu tio Fi- ro prefeito Manoel Vieira Santos (Fiinho). Para o morador Juarez dos Santos, 63

CINFORM 78

FEIRA NOVA.p65 2 25/5/2002, 20:11


Região: Sertão
Distância de Aracaju: 104 km
População: 5.062
Atividade econômica: Pecuária, agricul-
tura (milho, feijão e abóbora) e comércio. Na indústria possui
uma fábrica de manteiga queijo e requeijão.

Usina de descaroçar algodão: fechou há anos por falta do produto

anos, o fato que mais lhe deixou indignado


no município foi o aterro do Tanque Velho
(barragem), ocorrido na administração do
prefeito Dernival Joaquim dos Santos. “Ele
mandou jogar lixo no tanque que tem mais
de cem anos, e cerca de 100 metros de ex-
tensão. Foi um crime dos maiores do mun-
do. Eu até discuti com o prefeito por causa
disso”, lembra Juarez.
O Tanque Velho foi o divertimento da
garotada durante várias gerações. Quando
ainda não existia água encanada, as mulhe-
res iam lavar roupa e não voltavam para
casa antes de nadar nas suas águas. “Era
uma riqueza para os pobres. Depois da água Primeira escola municipal: nome homenageia a professora Maria Ednalva Santos
encanada, a gente dava água aos animais e
ainda lavava os carros”, lembra Juarez. cidade grande. Sempre bem servida por Marginalizada por sua pequenez, Feira
transportes rodoviários que traziam visitan- Nova segue deixando sua marca significati-
Marginalizada por ser pequena tes dos mais diversos lugares, para apreciar va na simplicidade, no artesanato, nos aboi-
a beleza das suas praças arborizadas, em meio os do vaqueiro, nas corridas de argolas, va-
* GILEIDE BARBOSA ao clima seco e de chuvas escassas. quejadas, penitentes e no famoso requeijão.
Nestas últimas décadas, porém, a cidade Acostumada com a falta de incentivos,
De uma extensão de terras herdadas pela se deparou com uma certa apatia por parte por parte das alas governamentais, a popu-
família Lino, surgiu o pequeno povoado no dos que traçam para o município as ‘proje- lação aguarda a iniciativa de homens públi-
meio do mato: um comércio emergente de ções de crescimento’. Assim, a cada ano, os cos, capazes de descartar ações imediatistas
couro e peles de animais, que logo se transfor- indicadores sociais foram perdendo um pou- e assistencialistas que sirvam de engodo para
mou em cidade. Graças à determinação dos co da sua memória, ficando apenas a sauda- os feiranovenses e se predisponham a bus-
seus fundadores, Feira Nova apareceu, dando de das velhas tradições: o zabumba de seu car parcerias que possam contribuir para
sinais de que seria um município próspero. Leôncio; a banda de pífano; o grupo de te- melhorar essa história.
Desde o início de sua criação, quando os des- atro; a quadrilha Forró do Sertão, que en- É notório, pela falta de beleza da cidade,
temidos aventureiros do cangaço rondavam a cantou Sergipe e Alagoas. E ainda, o posto que o primeiro passo em direção à meta do
região, os protagonistas dessa história foram cultural, a fábrica de algodão, o hotel, a desenvolvimento ainda não foi dado, acar-
marcados pelo desafio e a vontade de crescer. agência bancária, o Feira Esporte Clube retando na discrepância e na mesmice que
As primeiras lideranças políticas trata- (com time feminino de futebol) e outros beiram os 38 anos (2001) de uma ‘velha’ e
ram com seriedade as questões socioeconô- patrimônios que foram perdendo espaço enfadonha Feira Nova.
micas deste município. Com o advento da para o único sinal de progresso aparente na
luz elétrica e da água encanada, Feira Nova cidade: as antenas parabólicas que adornam *Jornalista e acadêmica de Publicidade e Propaganda na
crescia e se desenvolvia, tomando ares de os telhados de muitas casas. Unit

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FEIRA NOVA.p65 3 25/5/2002, 20:12


Filhos Ilustres

José Lino de Souza - dono das primei-


ras terras do povoado. Fundou a cidade em
parceria com José Alves de Queiroz (Fi-
fio), que nasceu no povoado Sucupira, em
Dores, mas mudou-se para o povoado aos 23
anos.

Manoel Vieira Santos (Fiinho) -


Primeiro prefeito. Entre as principais obras es-
tão a construção da primeira escola na zona
urbana e o Talho de Carne Verde.

José Joaquim dos Santos (Zé das


Queimadas) - Líder político, prefeito por duas
vezes. Precursor da valorização da educação e
do esporte no município. Entre as suas obras
estão a praça principal (que traz seu nome), pra-
ça da matriz, escolas rurais, eletrificação na zona
urbana, construção da prefeitura e do campo
de futebol.

Feira Esporte Clube: time de futebol feminino já atuava em 1983 Valdira Rita dos Santos - Primeira
mulher eleita vereadora. Implantou a alfabeti-
zação e foi responsável por relevantes proje-
tos no município, entre eles o Brasil Criança
Cidadã.
José Joaquim dos Santos (Zé Guar-
da, auditor fiscal aposentado) e Pedro
Barbosa de Souza (Pedro Venâncio)
- Criaram o Feira Esporte Clube, inscrito no es-
porte amador, que revelou vários atletas para
times profissionais, a exemplo de Carlos Clay,
que jogou no Olímpico e no Itabaiana.

Elenízio Dantas de Souza - prefeito


de 83 a 85, quando foi assassinado no exercício
do mandato. Entre suas obras estão a exatoria,
o terminal rodoviário e a delegacia.

Maria Ednalva Santos - professora es-


tadual, 1ª diretora da Escola Maria Montessori,
grande símbolo da educação no município e
realizadora de eventos religiosos e sociais. A
primeira escola municipal urbana leva seu
nome.

Flaviano Moura - professor em São Fran-


cisco, no Estado da Califórnia, Estados Unidos.

Juarez: Tanque Velho submerso na lixeira: Cidade nasceu de uma feira e manteve o nome Geralda Oliveira Santos - formada em
“Foi um crime dos maiores do mundo” de nova apesar de sexagenária Letras, professora da UFS.

Sildeno Dantas Santos - Contador e


Tributo a Feira Nova Tu és tão sóbria, cidadela, professor da Unit.

Quase sem turbilhão A jornalista Edivânia Freire, premi-


*JOSÉ AUGUSTO DE SOUZA Doravante terás renome, ada com o segundo lugar no Concurso de Re-
Pois estás localizada no começo do ser- portagem Pascoal Maynard 2001, promovido
pela Asi, também é de Feira Nova. Aos 11 anos,
Oh! Feira Nova querida tão quando sua mãe, a professora Maria Ednalva
Que outrora foi Logradouro; Tenho-te no entanto Santos, morreu, mudou-se para São Paulo onde
O teu trajeto de vida Como um gemido de flor; foi morar com a avó. Voltou aos 17 anos, traba-
lhou no Posto Cultural, Telergipe, Banco Econô-
Tem coisas que valem ouro. Na essência deste chão mico (local e Ag. Hiper Bompreço em Aracaju)
Por causa de uma feira Foi dispensado o meu labor. e trabalhou cinco anos no Jornal da Cidade. Está
Originou-se a cidade; Não direi teu nome, oh pátria minha, no CINFORM também há cinco anos. Passou
pela Editoria do Caderno dos Municípios -
Teu aspecto inveterado Não és florão, és pátria amada; inclusive fez a série História dos Municípi-
Ainda deixa saudade Meus olhos secos como pedra, os -, e atualmente é secretária da Redação.
O teu povo em ti confia Porém banharam em sonhos no longo
Com um semblante a fulgurar; desta jornada. Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Na esperança de que um dia Colaborou a jornalista GILEIDE BARBOSA
Perdure a cidadania e o direito de sonhar. *Professor C Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO

CINFORM 80

FEIRA NOVA.p65 4 25/5/2002, 20:13


Frei Paulo
já foi Chã de Jenipapo

O município sertanejo
que já foi São Paulo
tem uma bela história
voltada para a política
e literatura

A
história de cada município pre
enche várioslivros. É o caso de
Frei Paulo, a 74quilômetros de
Aracaju. Aquelas terras foram descobertas
por volta de 1868 por missionários capu-
chinhos, entre eles freis Davi de Umbérti-
de e Paulo Antônio Casanova. Este último,
deu o nome ao município.
Mas essa história começa muito antes.
Quando os capuchinhos chegaram encon-
traram os índios comandados por Imbira-
cema. O lugar era conhecido como as ‘ma-
tas de Itabaiana’, uma região propícia para
o cultivo do algodão e a criação de gado.
Além de índios, muitos ‘brancos’ da cres- Igreja matriz de Frei Paulo: marca da fé
cente Vila de Itabaiana iam para lá. Por causa
dos jenipapais, o lugar era conhecido como te da Província de Sergipe, Manoel de Ara- nha o nome de Frei Paulo, homenagem ao
Chã de Jenipapo. újo Góes, transforma a povoação em fre- seu fundador. Por algum tempo, os que
Em Itabaiana, os freis Paulo Casanova guesia de São Paulo. O capitão João Tava- nasciam lá eram chamados de paulistanos.
e Davi de Umbértide foram convidados res da Mota foi um dos maiores responsá- Depois da mudança de nome para Frei Pau-
por José Alves Teixeira e Brás Vieira de veis pelas edificações do povoado. Nesse lo, surgem os apelidos de ‘São Paulo mole-
Matos, proprietários de terras em Chã de período, também fixa residência na região que’ e ‘São Paulo calça curta’, mas oficial-
Jenipapo, para conhecer o lugar. Foram e um judeu francês Goottchaux Ettinger, que mente os nativos passam a se chamar frei-
ficaram. Providenciaram madeira e ergue- montou a mais importante indústria des- paulistanos.
ram a capela de São Paulo. Naquela data caroçadora de algodão.
comemorava-se o dia do apóstolo Paulo Em 1890, com a chegada da República, Caminho do desenvolvimento
de Damasco. Também colaboraram para o governador do Estado, Felisbelo Freire,
a formação do povoado, Antônio Teixei- atendendo a pedido do capitão Antônio Em 1938 assume o primeiro prefeito de
ra, Lourenço da Rocha Travassos e Tomaz Cornélio da Fonseca, transforma a fregue- Frei Paulo, Napoleão Emygdio da Costa.
de Aquino e Silva. sia em Vila de São Paulo de Itabaiana. Em Mas antes disso, o município ficou de 1893
23 de outubro de 1920, por forte influên- a 1935 sob o comando de 18 interventores.
Nossa São Paulo cia de um dos filhos mais ilustres de São O primeiro prefeito eleito foi Izauro Soa-
Paulo, o engenheiro Gentil Tavares da res. A eleição aconteceu em 1947.
O povoamento de Chã de Jenipapo pas- Mota, a vila muda para cidade. Em 2 de Frei Paulo chegou a ter três grandes jor-
sava a ser conhecido como aldeia de São março de 1938, por causa da repetição de nais: O Paulistano, O Binóculo e Ação
Paulo. Em 29 de abril de 1886, o presiden- nomes, São Paulo do sertão sergipano ga- Jovem. Os dois primeiros foram fundados

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Região - Oeste de Sergipe
Distância de Aracaju - 74 km
População - Cerca de 13 mil
Atividades econômicas - Agricultura
e pecuária

pelo jornalista Josias Ferreira Nunes. Os


jornais divulgavam as notícias da cidade e
eram também um grande instrumento lite-
rário. O município ainda teve um núcleo
jornalístico, uma espécie de associação de
defesa dos jornais.
Em 25 de abril de 1918, Josias Ferreira
Nunes fundou o Clube Literário Sílvio Ro-
mero. Ele foi cenário para grandes debates
culturais e recitais de poetas como Issac
Ettinger, Tica Borges e Ariston Cerqueira.
Outro ponto importante é a formação da
banda de música do município. Em 1876
nascia a Lira Sagrado Coração de Jesus. Em Frei Paulo Casanova: um dos fundadores
1909, aparece a Lira Nossa Senhora da Con-
ceição. As duas rivais travam grandes bata- Lampião e seu bando iriam invadir a cida-
lhas musicais. Em 1923, elas se unem e sur- de, mandou colocar um caixão vazio na
ge a União Lira Paulistana, que existe até igreja e chamou o povo para chorar pelo
hoje e tem o comando do maestro João filho querido que havia morrido. Quando
Alves de Oliveira, o João de Santa, uma Lampião soube da consternação da cidade,
lenda viva da história de Frei Paulo. não quis entrar.
O município tem ainda o Paulistano
Futebol Clube, fundado em março de 1923, Quem foi o fundador do município?
que chegou a ser campeão amador estadual
em 1978. Frei Paulo possuiu três cinemas: O nome de batismo era Estevão. Nas-
Elite, São Luiz e Continental. ceu em 1º de dezembro de 1813 em Gêno-
va, Itália. Foi ordenado sacerdote em 1837
Lampião em Frei Paulo e ganhou o nome de frei Paulo Antônio
Damele de Casanova di Rovegno. Em abril
A sede do município nunca foi invadi- de 1844, parte para o Brasil. Veio direto
da por Lampião. Os mais velhos dizem para a Província do Espírito Santo. Foi ele
que a proteção veio da espada do apóstolo quem construiu a matriz de Itapemirim.
Paulo, o padroeiro. O livro ‘História de Em 1855 ele chega às terras sergipanas.
Frei Paulo’, de Antônio Porfírio de Matos Frei Paulo ajudou a levantar as igrejas
Neto, conta que o padre português Antô- em Cristinápolis, Pacatuba e Porto da Fo-
nio Madeira, que também tem uma mar- lha, e ergueu a Santa Casa em Laranjeiras.
cante passagem no município, sabendo que Gentil Tavares: orgulho de Frei Paulo Em 1872 ele foi nomeado para ser o supe-

CINFORM 82
rior dos capuchinhos em Salvador, na Bahia.
Em 30 de janeiro de 1891, Frei Paulo mor-
reu no bairro da Piedade, em Salvador.
Além dele, merecem destaques na
história de Frei Paulo o frei Francisco Freire
de Menezes, o padre José Antônio Leal
Madeira, o padre Luiz Gonzaga, o frei José
de Monsano, o frei Boaventura M. de Ita-
baiana, o padre João Lima Feitosa, entre
outros. C

Filhos ilustres

Gentil Tavares da Mota - Fez o curso de


humanidades no Atheneu Sergipense e de En-
genharia Civil na Escola Politécnica da Bahia.
Trabalhou na Diretoria de Obras Públicas, foi
professor do Atheneu, diretor da Imprensa
Oficial do Estado, membro do Conselho de
Ensino de Sergipe. Em 1918 foi eleito deputa-
do estadual e em 1992 eleito deputado fede-
ral. Também foi diretor dos jornais O Estado de
Sergipe e Correio de Aracaju.
General Djenal Queiroz: Euclides Góes: pai do jornalista
chegou ao Governo Ancelmo Góis
Djenal Tavares Queiroz - Foi oficial do Exér-
cito e chegou ao posto de general. Ele foi elei-
to seis vezes deputado estadual. Também foi
secretário de Segurança Pública e secretário
de Habitação e Previdência Social. Como de-
putado chegou à presidência da Assem-
bléia Legislativa, e como militar comandou o
28º BC. Em março de 1982, como então vice-
governador, assume o Governo do Estado em
lugar de Augusto Franco.

José Aloísio de Campos - Formado em


Economia pela Universidade da Bahia, traba-
lhou na Secretaria de Fazenda em Sergipe, foi
professor e prefeito de Aracaju de fevereiro de
1968 a julho de 1970. Foi membro do Conse-
lho Consultivo do BNB e professor e reitor da
Universidade Federal de Sergipe. Deu o seu
nome ao Campus Universitário.

Euclides Góes - Foi coroinha, sacristão, um


homem muito religioso e ligado aos padres
Antônio Madeira e João Lima. Foi trompetista
da Lira Paulistana e dirigente do clube de fute-
bol. Líder do Partido Republicano, chegou a
ser eleito vereador. Foi ele quem levou a luz
elétrica para Frei Paulo.

José Emídio do Nascimento - Fez o curso Família do poeta Josias Ferreira Nunes
primário na Escola Jovina Moreira. Formou-
se em Direito na antiga Faculdade de Direito
de Sergipe. Foi promotor de Justiça em Simão tiça. Foi um grande colaborador da imprensa Nasceu em Frei Paulo e ainda criança foi
Dias e depois juiz em Nossa Senhora da Gló- de Frei Paulo e Aracaju. para Aracaju. Atuou no movimento estudan-
ria, Aquidabã e Simão Dias. til e trabalhou na Gazeta de Sergipe. Foi editor
João Alves de Oliveira - É conhecido como executivo da revista Veja e hoje trabalha com
Jaime de Araújo Andrade - Formou-se na João de Santa. Ele é um homem de cultura Internet.
antiga Faculdade de Direito de Sergipe. Che- que enaltece Frei Paulo, apesar de só ter feito
gou a ser juiz, e em 1966 foi eleito deputado o 2º ano primário. É responsável pela E MAIS... José Carvalho de Lima, Adolfo Bar-
estadual pelo MDB. Foi cassado com a che- formação de várias gerações de músicos. Até bosa Góis, Cecílio Cunha, Ana Alice Oliveira
gada do AI-5 e anistiado em 1979. hoje comanda a União Lira Paulistana. É es- Lima, José Enaldo Alves dos Santos, Josefa
critor, poeta e historiador. Escreveu ‘Nossa Bernadete de Santana, Issac Ettinger, Inês
Josias Ferreira Nunes - Poeta, fundou o Memória, Frei Paulo sua gente e sua história’. Nascimento da Rocha, Bernadete dos Santos,
Clube Literário Sílvio Romero e os jornais O João de Santa é uma dessas figuras que ja- Raquel Rezende Rocha, Maria Lourdes Dan-
Paulistano e O Binóculo. Advogado, econo- mais poderão ser esquecidas na história de tas, entre outros e outras.
mista e jornalista, ele também foi membro da sua terra.
Associação Sergipana de Imprensa e do Ins- Texto: CRISTIAN GÓES
tituto Histórico e Geográfico de Sergipe. José Antônio de Andrade Góes - É atual Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
Presidente do Tribunal de Justiça e ex-presi- Fonte: História de Frei Paulo, de Antônio Porfírio de Matos
Ariston Cerqueira Passos - Toda sua vida dente do Tribunal Regional Eleitoral. Neto; Nossa Memória, Frei Paulo sua gente e sua história, de João
foi dedicada a advocacia. Trabalhou muito na- Alves de Oliveira, o João de Santa, e Enciclopédia dos Municí-
quela região e chegou a ser promotor de Jus- Ancelmo Góis - Filho de Euclides Góes. pios Brasileiros.
Gararu nasceu de um
curral de pedras
Município ribeirinho
perdeu parte
de suas terras para
Itabi e Nossa Senhora
da Glória

A
cidade de Gararu, a 161 quilô-me
tros da capital, primitivamen-te
chamou-se Curral de Pedras, em de-
corrência da grande quantidade de currais
construídos com paredes feitas literalmen-
te com pedras. Como aquele terreno era Vista parcial da cidade em 2001
bastante pedregoso, os primeiros criado-
res aproveitaram as pedras para fazer cer- incentivou a construção de uma capela, com sou a escassez dos peixes e acabou com a
cados à beira do Rio São Francisco, onde a invocação do Nosso Senhor Bom Jesus produção do arroz, provocando o fecha-
prenderam seus rebanhos de bovinos, ca- dos Aflitos. mento das duas fábricas beneficiadoras do
prinos e ovinos. Essa simples capela foi transformada, pela produto que era vendido nas feiras livres.
No início do século XVII, segundo his- resolução nº 473, de 28 de março de 1857,
toriadores, as terras onde está implantado em sede da freguesia de Nossa Senhora da O Rio São Francisco
o município pertenciam a Tomé da Rocha Conceição do Porto da Folha. Mas em 10 era um encanto
Malheiros, obtidas através de sesmaria de de abril de 1875, a povoação de Curral de
dez léguas, a partir da Serra da Tabanga Pedras passava a ser sede da freguesia de A moradora Serafina Araújo de Andra-
em direção ao sertão. Outra versão diz que Nosso Senhor Bom Jesus dos Aflitos, des- de, 85 anos, diz que sente saudades do anti-
a primeira penetração se deu com os colo- membrada da de Nossa Senhora da Con- go Rio São Francisco. “O rio era um encan-
nos portugueses que foram refugiar-se na ceição da Ilha do Ouro. to, a coisa mais linda do mundo. A procis-
serra, fugidos do ataque dos holandeses, A resolução nº 1.038, de 28 de março de são do Bom Jesus era uma beleza. A várzea
iniciado em 1637. 1876, delimitou a área do município e era a riqueza da pobreza. Nas cheias o povo
Tempos depois, os refugiados deixaram mudou o nome para Gararu, que ficou cons- plantava arroz, e quando secava, plantava
as terras, que foram ocupadas por uma tituído por 34 povoados, destacando-se hoje milho e feijão”, lembra ela.
tribo indígena, cujo cacique se chamava São Mateus, Lagoa Primeira, Lagoa Funda, Outra coisa que Serafina diz sentir falta é
Gararu, nome colocado posteriormente Brandão, Tijuco, Palestina e Lagoa do Por- das antigas festas de Natal. “Aqui era bem
no município. Esses índios teriam sido co. Gararu já perdeu parte de suas terras animado. A marujada, o guerreiro, reisado,
catequizados pelos jesuítas, possivelmente para a criação de outros dois municípios: pastoril... Tinha muita coisa pra gente se
da missão de São Pedro, fundada no sécu- Nossa Senhora da Glória e Itabi. divertir. Eu mesma saía de porta-bandeira
lo XVIII. Desde a sua criação, Gararu tem tido uma na micareme, cantando Zé Pereira. Mas hoje
evolução muito lenta em relação a outros tem outras coisas”, diz ela.
Construção da capela municípios, inclusive de alguns que já foi Genelita Medeiros, 53 anos, proprietária
sede. A construção da hidrelétrica de Xin- do Hotel Beira Rio, reforça que é muito
Com a saída dos jesuítas, em decorrência gó também prejudicou o progresso da ci- triste ver o Velho Chico secando. “O rio
de uma medida tomada pelo Marquês de dade, que tinha na piscicultura sua princi- não tem mais correnteza. O local que a
Pombal, a aldeia foi povoada por sitiantes. pal atividade econômica, seguida da rizi- Deso capta água para abastecer a cidade
O espírito de religiosidade dos moradores cultura. Mas a pouca vazão das águas cau- virou um poço de água parada. Ele é ainda

CINFORM 84
Vicente Ferreira de Aragão e cravado nesse
lugar em 10 de maio. Na véspera acontecia
a grande festa social, na Praça Rio Branco,
rodeada de barracas com diversas iguarias
(pé-de-moleque, bolos, cocadas, arroz doce,
mugunzá, etc).
Antes da presença do automóvel, o povo
chegava em carros de boi, montado a cavalo,
jumento, e muita gente vinha a pé. Lembro-
me que as pessoas traziam seus calçados pen-
durados nos dedos para não estragá-los na
estrada pedregosa. Com a infinita bondade
de povo do interior, eles traziam capões, gali-
nhas, ovos e queijo para as casas dos seus pa-
rentes na cidade, para fazer um grande ban-
quete no dia santo. Região - Noroeste (sertão)
Ainda na véspera, acontecia a quermesse Distância de Aracaju - 161 Km
População - 11.364
com barcos, curry, sempre animada com gran- Atividades econômicas - piscicultura,
des forrós promovidos por bons sanfoneiros pecuária de leite e ovinocultura.
como Zé do Aleixo, além dos filhos da terra:
a destacar Juca Sanfoneiro e Aprígio. Depois
de uma noitada de muita animação, sem nin-
guém dormir, todo povo subia em procissão,
às 4 horas da manhã, e às 5 acontecia o ato Lagoa Primeira, com a participação de bar-
religioso. cos a vela e lanchas a motor. Na chegada ao
No momento da Eucaristia, todo aquele cais, acontece o encontro das imagens e a
povo transformava-se num símbolo de re- procissão prossegue pela cidade.
ligiosidade e fé. Atentamente eu ouvia a Dentre os folguedos, vale destacar as
opinião dos mais velhos: “Se chover na hora vaquejadas e pegas de boi no mato, as cava-
da missa, temos um bom inverno, caso não lhadas, que lembram a luta dos cristãos con-
chova, o ano será de dificuldades para a tra os mouros, trazidos pelos portugueses,
prejudicado pelos esgotos das casas que lavoura. E a previsão sempre era verídica. os leilões sempre acompanhados por ban-
são todos jogados diretamente no rio”, Esse dia, por mais distante que esteja, o das de pífanos e sanfoneiros, onde os pre-
lamenta ela. filho de Gararu nunca esquece a subida do goeiros animam com suas rimas, versos e
Santo Cruzeiro”. prosas. Atualmente está em destaque o gran-
Sentimento nativista A festa do Bom Jesus dos Aflitos, padroei- de ‘Bola-Folha’.
dos gararuenses ro do município, ocorre sempre na penúlti- A arte e a cultura manifestam-se parale-
ma semana de janeiro. Temos a missa pela lamente, ressaltando-se os penitentes da
* WOLNEY BRITO manhã e à tarde os fiéis percorrem toda a Sexta-Feira Santa; o artesanato de renda e
cidade, carregando a imagem acompanhados ponto de marca; e no período de Carnaval
A aridez territorial de Gararu contras- pela banda de música. Nesses últimos 15 anos o bloco da Lama de Berílio. Precisamos res-
ta com o Velho Chico, este magnífico rio vem ocorrendo a procissão do Bom Jesus dos gatar a banda de música, o Pastoril de Ge-
que atua como única salvação, capaz de Navegantes ao longo do rio, de Genipatuba à racina, o Reisado e o Samba de Coco do
dar vida aos homens e animais. A insen-
satez de pessoas inescrupulosas quer ma-
tar nosso rio, mas a vontade de cidadãos
de bem, junto aos beiradeiros (ribeiri-
nhos), não podem deixar isso acontecer.
E é nesse contraste que vemos os gararu-
enses viverem em harmonia.
Não poderia nesta oportunidade dei-
xar de enaltecer as grandes festas religio-
sas, os folguedos, a cultura, a arte, o es-
porte e a culinária desta terra. A festa do
Santo Cruzeiro é um ponto culminante
da religiosidade dessa gente.
Segundo a história, no início do sé-
culo XX foi levantada uma cruz de ma-
deira no ponto mais alto da cidade, que
foi trazida da Fazenda Aldeia, do Sr. Curral de pedra, que originou o nome antigo da Cidade

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Clarkson Ramos.
Não podemos esquecer figuras de senti-
mento religioso como dona Nega, Aracy,
‘seu’ Nego (responsável pelo sino da igre-
ja), Maria de Sabica (todos os dias subia o
Santo Cruzeiro para acender a luz santa),
D. Gerovina, Geracina, Argentina, Zé de
Valdivino, Manoel da Gata (coveiro). E as
figuras folclóricas como Mestre Alvinho,
Paulo Moura, Anjo Meleiro, Aprígio, Leon-
dinha e João Pedra.
Na política vale destacar as figuras
ilustres de Nelson Rezende, Antônio Re-
zende, Miguel Alves, José Soares de
Brito, José Cardoso, Zezé da Várzea
Igreja Matriz de Bom Jesus dos Aflitos, em 1983 Nova, Roberto Araújo, Antônio Rol-
lemberg, Ary Rezende, Janjão, Raimun-
Pontal de Banda. mandim, capadinho, tubarana. Até as pia- dinho, Fernando Brito, Manoel Umbe-
No esporte, quem não lembra do bas e os aragus já estão desaparecendo, pela lino, Antônio Gomes Pinto e o atual
Sport Clube Gararu (SCG), de torcedo- falta das enchentes, que enchiam as lagoas, prefeito Chico (João Francisco Albu-
res fanáticos como Pirola e Pedrinho de produziam arroz, milho, feijão de corda, querque de Oliveira).
Zé de Norte? O memorável time: Fer- legumes e verduras. Têm também os mistérios da Pedra do
nando, Florival, Hugo, Ferreira, João Não se esqueçam, passando por Gararu, Diogo com seus hieróglifos; a Serra da Ta-
Luiz, Vilton, Flamarion, Walter, Flau- para deliciarem-se com essas iguarias, te- banga onde viveu Amabílio em uma loca
bert, Wolney e Getúlio. Todos gararu- mos o Hotel de Genelita, o Bar do Gilton de pedra com toda a família; e a famosa
enses, disputando em toda margem ri- ‘o Diabo Louro’, e Gilson de Passarinho. Pedra da Joana, ponto de banho dos ho-
beirinha, de Pão de Açúcar (AL) até mens.
Neópolis, sendo mais de 2 anos invicto. Os últimos 50 anos A história de Gararu continua firme pelo
Não podemos esquecer do proprietário sentimento nativista dos que lá vivem.
e treinador Geraldo Vieira de Melo. Divagando no tempo, não poderia dei- Quero referendar o nome de dona Moça
O futebol sempre foi a grande paixão xar de enaltecer as pessoas que fizeram a Brito (mãe de Wolney Brito), como sím-
dessa gente, lembrando craques do passado história de Gararu nesses últimos 50 anos. bolo dos que acreditam nesta terra. C
como Anteógenes, Djalma, Ary, Arício, No Comércio: Sr. Ataguinam, Pedro Cor-
Santana, Zé de Vitor, João Nepomuceno, reia, Manoel Olhinho, Mané de Osório, * Médico veterinário, atualmente presidente da Emda-
Noel, Mané de Euzébio, Tiago, Natan, João ‘seu’ Dedé, Antônio Almeida, Arnaldo, gro
Batista, Waguinho, Miguel de Seu Zezé, Genésio Medeiros, Vicente Rosa, Nivalda,
Walter e tantos outros. Ataíde, Manoel de Zeca. Filhos Ilustres
A culinária é por demais saborosa, desta- Na Educação: Mestre Moisés, D. Olga
cando-se a peixada, pitus, feijoada, arroz de Resende, Sônia Medeiros, Lídia, Aládia, Padre José Tomaz de Aquino Menezes
- poeta, professor do Ginásio Amazonense
feijão, cuscuz com coco e piaba torrada. Maria José, Florice, Floristéia, Fátima, Adé- e jornalista
Infelizmente, com o represamento do Ve- lia, Zilná, Cabral, Damiana e Valquílio. Os
lho Chico, já não encontramos variedades intelectuais Prof. José Augusto da Rocha Antônio de Oliveira Ribeiro - chefe de
de peixes como surubim, niquim, pacamão, Polícia no Distrito Federal e secretário no Esta-
Lima, Mons. Edgard Brito, Elísio Araújo, do de São Paulo

Wolney Brito - médico veterinário e presi-


dente da Emdagro

Flamarion Luiz Tavares - médico cirurgião

Sérgio Murilo Pereira - clínico

Clarkson Ramos Moura - advogado

Luciano Araújo - advogado

As irmãs Florice e Floristéia Brito -


assistentes sociais

João Everton Melo - cirurgião dentista

Texto: EDIVÂNIA FREIRE


Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
e EDSON ARAÚJO
Desfile em 1978: ao fundo a casa do ex-prefeito José Cardoso Matos, toda construída com pedras Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros

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General Maynard
já foi Marcação

Emancipada
há apenas 38 anos,
General Maynard
cultiva tradições
centenárias

D
a época do desmembramento da
aldeia de Rosário do Catete do
município de Santo Amaro das
Brotas, em 1836, ainda restam registros da
existência de um povoado denominado
Marcação. Apesar de relativamente antigo,
o povoado só foi alçado à posição de muni-
cípio em 1963, quando a Assembléia Legis-
lativa do Estado, através do Decreto-Lei nº
1229, de 21 de novembro, acatou o pedido
de emancipação apresentado pelo deputa- Igreja Matriz: construída no início do século passado
do Fernando Leite e foi, a seguir, sanciona-
do pelo governador João Seixas Dórea. do município, José Teles Barreto, só assu- outros municípios através da estrada que
Foi assim que surgiu o município de Ge- miu em 1965. cortava o terreno que mais tarde se tornaria
neral Maynard. O nome do novo municí- um povoado.
pio foi uma homenagem prestada a Augus- Versão popular Aos poucos foram aparecendo os case-
to Maynard Gomes, interventor-adminis- bres. Nessa época Marcação não passava de
trador de Sergipe, general do Exército, go- Segundo o domínio popular, que localiza uma pequena povoação de casas à margem
vernador e senador por duas vezes. Ele, na a história da Vila de Marcação muito antes de uma estrada, mas até hoje ainda existem
realidade, nasceu no Engenho Campo Re- de sua emancipação e renomeação para moradores que descendem das primeiras
dondo, em General Maynard, na época General Maynard, o povoado originou-se famílias que resolveram fixar-se no local.
Marcação, que integrava o município de de um marco de divisão das terras de Japa- Entre a população local, ainda podem ser
Rosário do Catete. Quando houve a mu- ratuba com o Catete, nos primeiros anos encontrados descendentes das famílias Costa,
dança do nome da cidade, os moradores do século XIX. Espírito Santo, Figueiras, Bomfim, Muniz
ficaram revoltados por não terem sido con- A divisão foi feita às margens do Rio Barreto, Ismerim e Gonçalo Vieira.
sultados a respeito. Papatu, hoje denominado Japaratuba. Os No livro ‘Uma experiência da coloni-
A razão da emancipação, segundo histo- antigos moradores afirmam que por esse zação na Cotinguiba sergipana’, do histo-
riadores, foi política. “As eleições de Rosá- local passavam tropeiros, que viajavam de riador Agamenon Guimarães de Oliveira,
rio do Catete eram decididas no Povoado Santo Amaro, Laranjeiras, Maruim e até existe outra versão para o surgimento de
Marcação, que era bastante populoso”, ex- mesmo Aracaju para Propriá, e convencio- Marcação. Segundo ele, o povoado nasceu
plica a pesquisadora Maria Lúcia Marques, naram o marco como ponto de encontro, no final do século XVIII, fase de ascensão
da Universidade Tiradentes. O rateamento por isso o nome Marcação. do açúcar, quando os fazendeiros aprovei-
de votos entre as lideranças políticas foi o O local não era totalmente despovoado, tavam para utilizar o rico solo de massapê
grande motivo para criação de vários mu- já existiam vários engenhos de açúcar, mas para fazer seus plantios na região, e os tra-
nicípios nessa mesma época. Apesar de des- o aglomerado urbano só foi realmente for- balhadores e comerciantes, que dependiam
membrado em 1963, o primeiro prefeito mado com as pessoas que chegavam de da economia dos engenhos, instalavam-se

CINFORM 88
1958. Nos anos seguintes também foram
inaugurados o posto médico e Caixa D’água
(1962); o posto policial (1964); e o merca-
do municipal (1967). Nesse período de cres-
cimento surgiram os dois times de futebol
que são orgulho da cidade: São João Fute-
bol Clube (1938) e Verde Estrela Futebol
Clube (1954).
A construção da BR 101, que acabou
substituindo a BR-11 (que cortava General
Maynard), acabou contribuindo para o atra-
so do município. “A cidade ficou reduzida a
uma ilha”, reclama a professora Onília da
Silva, que pesquisa a história local.

Festas populares Região - Leste (Baixo Cotinguiba)


Distância de Aracaju - 45 km
Apesar de pequeno, General Maynard População - 2.402
Atividades econômicas - Agricultura ,
sempre teve uma forte tradição cultural. A pecuária, extração de petróleo e pesca
professora Onília da Silva conseguiu cata-
logar exemplos de grupos que até meados
do século passado (XX) ainda cultivavam
manifestações culturais como o samba-de- sua propriedade, enquanto ouve trovas can-
tropelo, samba-de-viola, samba-bate-coxa. tadas por um repentista. Outras festas im-
Outra festa popular típica, e que ainda portantes, como a do Cruzeiro - cujo dia
existe em General Maynard, herança do oficial é 6 de março -, dias santos e Natal,
período colonial, é a do roubo de São João. normalmente são comemoradas com no-
Nessa festa alguns habitantes do lugar, nos venas e bailes.
dias 23 e 24 de junho, tiram objetos e plan-
tas das casas dos moradores da cidade e ar- História em ruínas
rumam a praça principal. Os ‘ladrões’ tam-
bém pegam lenha para fazer uma fogueira, No município já existiram três grandes
que deve queimar durante toda a noite. Para sobrados localizados em fazendas, mas dois
acompanhar a festa, segue o Batalhão, foram demolidos há mais de 30 anos. O
formado por pessoas que tocam instrumen- primeiro a sumir foi o casarão de Manoel
tos e dançam. Os componentes do Bata- Gomes da Cunha (seu Yoyo), no Engenho
nas proximidades. lhão costumam parar na porta dos morado- Campo Redondo, onde nasceu Augusto
res e pedir que eles lhes sirvam bebida e Maynard. O outro foi na fazenda Alagoi-
A cidade cresce comida. No dia seguinte ao ‘roubo’, os pro- nhas, que teve como última proprietária a
prietários devem se encaminhar até a pra- viúva Pureza Nabuco, e foi demolido em
Nas primeiras décadas do século XX, ça, para identificar e resgatar os objetos de meados da década de 70. Desde então, no
Marcação já apresentava-se como uma lo-
calidade relativamente desenvolvida. Em
1917 foi criada a primeira escola pública,
mas a escola rural, por sua vez, só viria em
1948, inaugurada pelo governador José
Rollemberg Leite.
A construção da Igreja Matriz foi enca-
beçada por um padre chamado João de
Deus, e em 1921 o templo foi dedicado ao
padroeiro São João Batista. Em frente à
igreja já existia uma cruz de madeira, que
por sinal deu início à maior festa da cidade,
a Festa do Cruzeiro. Essa festa remonta,
segundo relembram os moradores mais an-
tigos, a um período anterior à construção
da Igreja. Até hoje ninguém sabe quem
construiu o cruzeiro, se jesuítas que passa-
ram pela região ou se alguns fiéis.
A energia elétrica chegou a Marcação em Praça pública da cidade

CINFORM 89
local, existe um cavalinho da Petrobras. somos e como chegamos aqui”, explica a
Dos grandes sobrados, testemunhas da aposentada.
época áurea da cana-de-açúcar da região, só A pesquisadora não recebe apoio de ne-
resta o da Fazenda Bulandeira, que perten- nhuma instituição para realizar esse tra-
ceu a Ernesto Muniz Barreto, hoje admi- balho, mas, apesar disso, não se arrepen-
nistrado por seus descendentes. Em péssi- de das horas gastas na coleta de dados.
mo estado de conservação, o sobrado está “Esse trabalho é a minha vida”, afirma
seriamente ameaçado. com convicção.
Na Fazenda Caldas, onde vivia o General Entre outras coisas, Onília descobriu o
Maynard, não resta nenhum dos quatro ca- caso do maynardense José Alves dos San-
nhões que decoravam os muros que ladea- tos, que em 1969 aplicou um dos golpes
vam a casa, imitando uma fortaleza. Tanto mais famosos do Brasil, o da venda de ter-
a sede da fazenda, como a capela onde se renos na Lua. Na época vivendo numa ci-
encontram os restos mortais do militar, es- dade mineira, Zé Alves, como é conheci-
tão completamente em ruínas. “É triste ver do, aproveitou o frisson causado pela che-
monumentos como esses completamente gada do homem à Lua para lotear o satélite,
abandonados pelas autoridades, relegados vendendo terrenos para os incautos.
ao esquecimento e à destruição”, lamenta a
professora e historiadora Elenildes Santos, Esperança para
que vive em General Maynard. General Maynard Augusto Maynard Gomes: filho ilustre

Maynardense vendeu *WILSON ISMERIM Apesar de tudo isso, há uma perspectiva


terreno na Lua de desenvolvimento com a construção da
General Maynard tem apresentado um ponte de acesso a Rosário do Catete, que
A professora aposentada Onília da Silva, desenvolvimento lento nos últimos anos. pretende diminuir a distância para Aracaju.
72, é um exemplo real de alguém que preza Isso é constatado principalmente se levar- Essa obra valorizará as terras do município
a memória do seu povo. Desde o final da mos em conta o ponto de vista dos investi- que ficarem às suas margens, e também
década de 70 a professora, que não é histo- mentos feitos e a sua localização não muito despertará o interesse de investimentos
riadora, vem realizando um resgate da his- privilegiada (prejudicada com a construção como é o caso do projeto da Pimenta Ta-
tória e tradições do antigo Povoado Marca- da BR 101, que fica a alguns quilômetros basco, desenvolvido pela Vale do Rio Doce
ção. De conversa em conversa com os mo- da cidade). e a Prefeitura Municipal.
radores mais antigos e seus descendentes, a O comércio regrediu em relação a tem- Outra esperança surge de uma parceria
professora já conseguiu fazer uma pequena pos atrás e a sobrevivência da cidade res- com Rosário do Catete que, além da cons-
brochura que descreve os principais fatos tringe-se ao pagamento dos royalties da trução da pista, pretende criar um balneá-
históricos do município, trazendo, quando Petrobras, pela perfuração de poços na re- rio na Fazenda Caldas, que possui um poço
é possível, nomes e datas. gião. A agricultura e a pecuária comerciais de águas termais. Através desse projeto pre-
O trabalho da professora Onília baseia- são desenvolvidas, na maioria dos casos, por tendemos criar uma boa quantidade de
se praticamente todo na tradição oral e grandes latifundiários que sequer residem empregos diretos e indiretos. C

nas reminiscências (o que se conserva na na cidade. Os cidadãos, por sua vez, são
memória) do povo do lugar. “Tenho um mantidos por empregos na prefeitura ou *Professor e secretário de Educação do Município
grande amor pela minha terra, por isso em Carmópolis, nas empresas prestadoras
preciso conhecê-la melhor, descobrir quem de serviço. Filhos Ilustres

Augusto Maynard Gomes - desembarga-


dor, general, senador, participou da Revolta Te-
nentista de 1924, foi interventor do Estado por
duas vezes

Maria da Conceição de Santana - educa-


dora que fundou a primeira escola particular
da cidade

Severiano Ismerim Santos - Pecuarista in-


fluente e delegado do povoado na década de 40

Ernesto Muniz Barreto - coronel do Exér-


cito, líder político e dono de um dos maiores
engenhos do município, o Bulandeira

Texto: VALNÍSIA MANGUEIRA


Fotos: EDSON ARAÚJO
Fonte: Pesquisas das professoras Onília da Silva e Maria
Lúcia Marques, projeto de conclusão de curso de Elenildes
Cruzeiro: símbolo de fé e festa Santos, que trata da emancipação de General Maynard.

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Graccho Cardoso
a terra dos tamanduás

Hoje ela disputa com


Aquidabã o pódio
de primeiro produtor
de abacaxi do Estado

A
cidade de Graccho Cardoso, dis
tante 118 quilômetros da capital,
nasceu e cresceu ao redor de uma
lagoa onde existiam bastante tamanduás.
Por possuir muitos formigueiros, a região
se tornava um paraíso para esse animal,
principal predador da formiga. Em decor-
rência disso, a povoação ficou conhecida
como Moita do Tamanduá, nome que foi
mudado em 1958, mas até hoje os mais
antigos insistem em chamá-la pelo nome
primitivo.
A nova denominação do município não Igreja Matriz da cidade que tem como padroeira Nossa Senhora da Piedade
agradou grande parte dos moradores, que
queria a permanência do nome da funda- a criar gados bovino, caprino e equino. nhora da Piedade, onde o vigário de Aqui-
ção ou Nossa Senhora da Piedade, nome da Passaram-se cerca de 20 anos para surgir dabã ia aos domingos celebrar a missa.
padroeira da cidade, homenageada anual- a primeira casa do povoado, construída por Foi em 1900 que teve início a primeira
mente com novenas realizadas no último Justino Vieira dos Santos, filho de Luiz de feira livre, mantida até hoje, já com o sur-
domingo de maio. França. Ele casou-se e manteve a família na gimento de um açougue para corte regular
Mas a vontade do povo não foi respeita- localidade, atraindo, assim, outros familia- aos domingos de bovinos e suínos. Em
da. Prevaleceu um acordo político, feito res e fazendeiros que contribuíram para o 1925, o primeiro bispo de Aracaju, d. José
entre o primeiro prefeito do município, José crescimento da pecuária no local. Soma- Tomaz Gomes da Silva, encarregou o padre
Eunápio dos Santos, e o seu cunhado Ma- ram-se a ele, os fazendeiros Ireno Pacheco, Carlos Carmelo Costa para construir uma
noel Nicanor. Eles quiseram homenagear Manoel Alcino do Nascimento, Ernesto nova capela, maior, mais confortável, para
Maurício Graccho Cardoso, governador do Joaquim dos Santos. Aristides Gomes Ara- atender melhor os fiéis. Então a antiga ca-
Estado de Sergipe no período de 1922 a gão, João (Jason) Francisco de Aragão, pela deu lugar à igreja matriz, construída
1926, por ser o primeiro mandatário do Acelino José da Costa, entre outros. em terras doadas por Antônio Maria dos
Estado a visitar aquela povoação. Santos.
A ex-Moita do Tamanduá surgiu com a História antiga Em 1943 a Vila de Tamanduá foi oficia-
chegada de dois irmãos, Luiz e Manoel Cris- lizada. Dez anos mais tarde foi instalada
tóvão de França. Por volta de 1776, após A povoação cresceu lentamente. Após energia elétrica e, a partir daí, começou a
cometerem um assassinato por vingança, essa primeira penetração na região, levou luta pela emancipação. A Lei nº 525-A, de
eles teriam se escondido por lá. Por causa cerca de um centenário para contar 20 25 de novembro de 1953, sancionada pelo
desse crime, de fugitivos eles acabaram se moradias e uma casa de oração, construída governador Arnaldo Garcez, criou o muni-
transformando em fundadores de mais um em um lugar chamado Cruz do Agostinho. cípio, que foi emancipado de Aquidabã. Mas
novo município sergipano, onde passaram Em 1899 já existia a capela de Nossa Se- só foi instalado oficialmente em 5 de feve-

CINFORM 91
Ele informa que Lampião também pas-
sou por lá. “Os cangaceiros entraram
aqui, beberam, mas não fizeram nada com
ninguém. O povo morria de medo. Quan-
do alguém falava que ele ia passar por
aqui, todo mundo ia dormir no mato”,
lembra ele.
A esposa de seu João, Maria Lindete de
Aragão, 71 anos, confessa que os morado-
res não gostaram da troca do nome da cida-
de. “Muita gente não gostou, porque ele
(Graccho Cardoso) não fez nada aqui. O
povo queria que continuasse Tamanduá ou
que botasse o nome da padroeira, Nossa
Senhora da Piedade”, diz.
Região - Sertão do São Francisco
Distância de Aracaju - 118 KM Um aposentado da prefeitura, Manoel
População - 5.516 mil Vandevaldo Santana, 80 anos, também não
Atividades econômicas - Pecuária, gostou da mudança do nome. “Eu não con-
agricultura . Na indústria, o município possui casas de farinha
, fábrica de queijo e requeijão. cordo com a mudança do nome. Se você João Joaquim - “aqui existia muito tamanduá”
sair perguntando por aí, a maioria dos mo-
radores não concorda. Ele nunca fez nada cho Cardoso. “Ele retrata toda a cultura
por aqui”, reforça Vandevaldo. do município e é um intercâmbio entre
Segundo ele, foi o oficial de registro civil outras cidades da região. São três dias de
reiro de 1955, quando foi eleito o primeiro Manoel Nicanor, cunhado do prefeito José festa cultural”.
prefeito, José Eunápio dos Santos, o Gato, Eunápio, quem o convenceu a efetuar a troca Sandra é também coordenadora do Pro-
forte líder político que administrou a cida- do nome da cidade. “Foi interesse político. grama de Alfabetização Solidária, que tra-
de por duas legislaturas. No fim, o próprio Gato acabou se arrepen- balha com jovens e adultos que não pude-
Hoje a lagoa não existe mais, muito me- dendo de ter mudado o nome”, afirma Van- ram freqüentar a sala de aula na idade regu-
nos os tamanduás. Surgiu no seu lugar o devaldo. lar. “Estamos tendo grande êxito. Reduzi-
Tanque Grande, onde hoje encontram-se a Segundo ele, o que existe de mais inte- mos consideravelmente o número de anal-
Praça Ovídio Aragão e uma quadra de es- ressante na cidade é a barragem Três Bar- fabetos no município”, comemora.
portes. A sociedade graquense foi formada ras, no povoado do mesmo nome, onde a Ela destaca também a atuação do grupo
praticamente de familiares. Inclusive o pri- população vive da pesca. “Aquilo lá é uma de jovens ‘Nós mais Nós’, que tem feito
meiro prefeito, Gato, é descendente do fun- beleza. Junta-se água dos riachos São Lou- apresentações de conhecidas peças teatrais.
dador do município Luiz de França. renço, Tamanduá e Tiros, que leva água para “Já apresentamos ‘O Alto da Compadeci-
o Rio Gararu, que vai desaguar no São Fran- da’, ‘A Morte e Paixão de Cristo’ e ‘A Morte
“Não gostei da troca do nome” cisco”, explica ele. da Mãe dos Cangaceiros’”.
Sandra lembra também que Graccho
O agricultor João Joaquim dos Santos, Grupo de teatro Cardoso já foi o primeiro produtor de aba-
78 anos, irmão do primeiro prefeito da ci- e o Festival de Cultura caxi e hoje disputa o pódio com Aquidabã.
dade, lembra do povoado que cresceu cha- A maior produção encontra-se nos povoa-
mando-se Moita do Tamanduá. “Tinha mui- A universitária Sandra Maria de Santa- dos Ponto Chique e Queimada Grande.
tas árvores. Era uma mata e existiam mui- na destaca a realização do Festival de Cul-
tos tamanduás naquela lagoa”. tura e Arte, realizado anualmente em Grac- Cidade evoluiu, apesar
de pequena

* JOSÉ ADEILSON DOS SANTOS

Emancipada desde 1955, Graccho Car-


doso é um município de história recente.
Seu desenvolvimento tem se efetuado eco-
nomicamente pelas atividades agropecuá-
rias e de comércio. O quadro de serviços
públicos, destacando a educação e saúde,
contribui ainda para a composição da renda
per capita do município.
O nome antigo da povoação, Moita de
Tamanduá, foi mudado em homenagem
ao ilustre sergipano da cidade de Estân-
Desfile de Sete de setembro: de terno preto, o primeiro prefeito do município, Gato, já falecido cia, bacharel Maurício Graccho Cardoso.

CINFORM 92
A indicação foi formulada na primeira
legislatura pelo vereador José Custódio
Dória e sancionada pelo prefeito José Eu-
nápio dos Santos.
Pretendeu-se reverenciar o nome de Grac-
cho Cardoso. O reconhecimento dos ex-
tamanduaenses ao sergipano se justifica
pelos feitos que este realizou como admi-
nistrador e homem da política. Suas ações
compreendiam uma visão de modernida-
de, que se inspirava nas grandes capitais,
como Rio de Janeiro e São Paulo.
Ainda com pouca idade e trilhando um
novo século, Graccho Cardoso comprova Casamento de matuto com cavalo-de-pau: realizado no dia de São Pedro
evolução. Entretanto é cidade pequena,
como a maior parte das cidades sergipanas, Barragem Três Barras e festivais de cultura. a Senhora da Piedade.
e não se enquadra no perfil de ‘moderna’. E A fé também é um ponto alto no muni-
como se comprova sua evolução? No de- cípio. Além da festa da padroeira, Nossa Fundada por Luiz de França,
correr de sua história este ‘torrão’ conse- Senhora da Piedade, acontece também a denominado Tamanduá
guiu manter-se como emancipado. do Cruzeiro do Senhor dos Pobres, no Po- perto da Cruz do Agostinho,
Para tanto, foi a sua gente que assumiu voado Gavião. onde o gado ia pastar!
essa terra, que tinha seus líderes sob a inspi- Na área de turismo o município possui o
ração de um futuro próspero e grandioso e açude Três Barras, o maior de todo o Esta- Na luta pela emancipação,
que ansiava o ‘moderno’ - hoje orgulha-se do, proporcionando alimento e encanto ao Sergipe ouviu o teu reclamo,
desta realidade. Representa-se por nomes que o visitam. É, portanto, por essa diversi- era o progresso futuro,
que ascenderam em várias áreas de atuação. dade que Graccho Cardoso merece enalte- que por aqui ia chegando!
Assim, hoje, nomes de graquenses apare- cimento. Não sente como aspecto negati-
cem com títulos de graduação e pós-gradu- vo a sua realidade de cidade pequena, não Dentre tantos filhos ilustres,
ação nos campos da Medicina, Educação, moderna, pois mesmo assim fez com que Eunápio foi o primeiro,
Direito, Segurança, Política, Cultura... seus filhos e sua história muito evoluíssem. a ganhar a prefeitura
Vale ressaltar o que temos vivenciado tornando-se assim, o primeiro!
como motivos para que exaltemos a ex- *Formado em História pela UFS e professor no município
Moita de Tamanduá: temos tido anualmen- de Monte Alegre Passados anos e anos,
te o ingresso de estudantes nas universida- consolidada a emancipação
des; temos pleiteado cargos eletivos em Hino do município reclama por novos dias,
nível de política estadual; temos realizado toda a tua população!
várias manifestações artístico-culturais. Graccho Cardoso, Graccho Cardoso, tor-
Entre elas, as festas folclóricas: reisado e rão lindo e formoso, o teu passado de Gló- Agora formosa e linda,
danças juninas; exposição do artesanato: ria, (refrão) muito ainda tens a plantar,
rendendê; representação teatral: com ato- Testemunha a tua vitória. nos corações dos teus filhos,
res da terra; festas carnavalescas: blocos do Surgiste ao redor de uma capela, para a paz concretizar C

Vicente e Izaquiel; casamento de matuto muito antes de ser cidade,


com cavalo-de-pau; derrubada do Judas na invocando fervorosamente, Letra de Lauro Rocha de Lima, cidadão de Graccho Car-
doso e Aquidabã, jornalista e escritor

Filhos ilustres

José Eunápio dos Santos - forte líder


político e primeiro prefeito do município

Adeval Aragão - Médico varicologista

José Antônio dos Santos - Oftalmologista

Francisco Pipiu - Poeta

João Joaquim dos Santos (João das Gra-


ças) - proprietário da empresa de ônibus

Texto: EDIVÂNIA FREIRE


Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
Fonte: pesquisa da universitária Elenilce Félix Santana
Vista parcial da cidade, com a prefeitura em primeiro plano e histórico do município encontra do na prefeitura.

CINFORM 93
Ilha das Flores
é literalmente uma ilha

Povoação fundada
pelos jesuítas recebeu
esse nome pela grande
quantidade de flores
nativas que possuía

I
lha das Flores, a 135 quilômetros da ca
pital, inicialmente chamou-se Ilha dos
Bois por ter nascido de um curral de Ilha das Flores: nome surgiu da grande quantidade de ‘boas-noites’ que existiam
gado. Depois teve o nome trocado em de-
corrência da grande quantidade de flores o coronel Agripino do Aracaré, de Vila lugar onde nasceu do município do qual
nativas que cobriam as terras que forma- Nova, hoje Neópolis. era prefeito.
ram o município, que é uma ilha cercada Esse coronel prosseguiu comprando e De posse dos documentos, Luiz Lisboa
pelo Rio São Francisco e os riachos Bongue vendendo gado até sua morte, quando a foi a Propriá e solicitou ao deputado Jessé
e Aterro. esposa assumiu os negócios. Porém não deu Trindade, amigo do governador Leandro
A história dessa cidade começou em 15 certo, ela acabou vendendo a boiada e do- Maciel, para apresentar o projeto na As-
de fevereiro de 1826, com a chegada dos ando as terras ao padroeiro do município, sembléia Legislativa. “Ele me pediu para
padres jesuítas em Cajuípe de Cima, Brejo Santo Antônio. A terra doada foi dividida falar com cinco deputados do meu partido,
Grande. Eles permaneceram por muitos entre vários posseiros, que construíram de- o PSD, para garantir a aprovação. Conse-
anos realizando missões em várias localida- zenas de barracas no local e deram o nome gui facilmente porque todos já conheciam
des, onde recebiam de presentes bois com de Arraial de Santo Antônio. a vila e sabiam que era merecedora da eman-
os quais formaram um arraial onde está cipação”, lembra ele.
implantada Ilha das Flores. Emanicipação do Município No dia 1º de julho de 1958, o deputado
Como os jesuítas necessitavam de alguém Jessé apresentou o projeto, que foi apro-
para cuidar dos animais, chamaram o cabo- A Ilha prosperou bastante. Em 7 de abril vado por maioria absoluta. A lei entrou
clo Manuel Ricardo para ser o vaqueiro e de 1947, com a iniciativa do farmacêutico em vigor no dia 1º de janeiro de 1959 e, a
também encarregado de encontrar um lo- ilhense Luiz Ferreira Lisboa, hoje com 92 partir daí, o município de Ilha das Flores
cal onde plantariam capim para alimentar anos, passou à condição de povoado. Na passou a ser sede dos povoados Aroeira,
o gado. Ele escolheu uma parte alta e con- época, ele era prefeito de Parapitinga, hoje Jenipapo e Serrão.
vidou moradores vizinhos para fazer roças Brejo Grande, e conseguiu em 15 de abril
e plantar o capim. de 1950, através da lei 823, transformar a Primeira Administração
No local escolhido, que recebeu o nome povoação em vila.
de Ilha da Boa Vista e depois Alto de Ilha Luiz Lisboa (antigo dono da Fazenda Ca- A eleição ocorreu em 31 de março de
dos Bois, foram construídos um curral e bacinha, ex-delegado, ex-vereador e ex- 1960, sendo eleitos o prefeito José Antô-
uma casa. Quase dez anos depois, em 15 de prefeito) foi também o responsável pela nio Pereira (Zeca Pereira, dono da Fazen-
março de 1835, os padres jesuítas foram emancipação da vila. Enquanto adminis- da Betume) e os vereadores Wilson Perei-
expulsos pelas tropas portuguesas e entre- trava Brejo Grande, providenciou a docu- ra, Evaldo Calixto, José Filinto Calumbi,
garam as terras ao chefe político da região, mentação necessária para desmembrar o Júlio Cravo e Ananias Cardoso. Eles assu-

CINFORM 94
Rio São Francisco: beleza e garantia de
alimentação

Região: Norte (Baixo São Francisco)


Pereira X Calixto Distância de Aracaju: 135 km
População: 8.264
Atividades econômicas: rizicultura (2º pro-
Durante os 40 anos de emancipada, Ilha dutor), coco, pesca e banana
das Flores foi administrada pelos Pereira ou
pelos Calixto. Só o ex-prefeito Evaldo Ca-
lixto permaneceu no Poder durante 24 anos.
Foi prefeito quatro vezes e indicou as ou-
tras vezes.
A professora Amazilde Gonçalves dos noite, que embelezavam as ruas do povoa-
Santos, atual secretária de Educação do do. Ao voltar para Aracaju, falou com o
município, atesta que Ilha caiu numa governador e deputados para mudar o nome
grande apatia durante um longo perío- de Ilha dos Bois para Ilha das Flores. O
do, mas acredita que agora deve reto- pedido foi atendido.
mar seu crescimento. “Nossos jovens Luiz Lisboa lembrou também da primei-
despertaram e querem mostrar que a ra procissão do Bom Jesus dos Navegan-
nossa gente tem grande potencial na tes, ocorrida em 1944 com canoa a vela. A
miram, respectivamente, os poderes Exe- cultura, nas artes, no folclore e no arte- festa foi organizada por Antônio Ferreira
cutivo e Legislativo a partir de 1º de abril. sanato”, destaca. Lisboa, Nelson Brito, Júlio Cravo e Edgar
Luiz Lisboa também candidatou-se a pre- Durante a Semana Santa, os peniten- Brito. Hoje ela é realizada anualmente no
feito mas, apesar de ter se esforçado para tes do município também atraem visi- terceiro domingo de janeiro.
emancipar seu município, perdeu a eleição tantes com seu ritual de autoflagelo. “A O farmacêutico lembra ainda das difi-
porque foi prejudicado pela enchente do Rio nossa cidade é calma, atraente, aconche- culdades que passavam para chegar de ca-
São Francisco. Nesse ano, 1960, houve a gante e muito acolhedora. Temos o Ve- noa a vela até Aracaju. O percurso até
pior cheia da história do município. Toda a lho Chico, que nos prestigiou com sua Propriá durava dois dias. “Chegando lá, a
cidade ficou inundada, com a água chegan- beleza natural, além da riqueza dos nos- gente pegava o trem e seguia viagem.
do até a igreja. sos pratos típicos extraídos das suas Depois melhorou com a canoa a motor,
Segundo Luiz, Zeca Pereira venceu as elei- águas”, defende Amazilde. que demorava apenas duas horas”, lem-
ções por ser aliado do governador Leandro A história de Ilha também foi marca- bra Luiz Lisboa.
Maciel, e por ter conseguido recursos e do- da por um assassinato político, ocorrido
nativos para os moradores. “O povo saiu em 1994, que chocou toda a população. O paraíso da minha infância
da cidade e foi para uma parte alta que tem O prefeito Josenaldo Calixto Vasconce-
daqui a uma légua (seis quilômetros). Zeca los, o Piau, foi assassinado durante seu * EURICO LEITE LISBOA
arranjou tudo: víveres, roupa, barraca... Aí mandato numa emboscada na estrada
eu perdi a eleição”, lembra ele. Luiz venceu velha do Betume, em Neópolis. Junto Nasci numa época de ouro da minha que-
a segunda eleição, em 1963. com ele morreu também João Cardoso, rida cidade Ilha das Flores. Foi numa da-
A história de Ilha sempre foi marcada o Dão, vereador do município. quelas enchentes do Velho Chico, em mar-
por enchentes periódicas, barradas com ço de 1949, quando mais uma vez a cidade
a chegada da Codevasf - Companhia do Por que Ilha das Flores? foi tomada pelas águas do rio, obrigando a
Desenvolvimento do Vale do São Fran- saída de todas as famílias para o povoado
cisco. Há dez anos foi construído o di- O historiador sergipano Sebrão Sobrinho, Carqueja, por estar acima do nível do mar.
que, que impediu as enchentes, mas fi- parente do comerciante Antonio Ferreira As enchentes se sucediam sempre no pe-
cou inutilizado após a construção da Lisboa - pai de Luiz Ferreira Lisboa - visitou ríodo de janeiro a abril, e com elas vinham
Hidrelétrica de Xingó, que diminuiu a Ilha dos Bois. Ele ficou encantado com a as riquezas naturais e os nutrientes necessá-
vazão do rio. beleza das flores nativas, conhecidas por boa- rios ao plantio do arroz. O povo se ocupava

CINFORM 95
de pessoas perambulando pelas ruas, sem
ocupação, é cada vez maior.
As máquinas, que a princípio represen-
tavam desenvolvimento, hoje substitu-
em o homem, tornando-o refém desse
novo modelo. Ilha das Flores atualmente
agoniza com o título de um dos municí-
pios mais pobres do Estado de Sergipe,
contrastando com um quadro de abun-
dância e sem fome que outrora foi orgu-
lho dos moradores.
A esperança hoje é depositada no prefei-
to Anilton Pereira (administração de 2001
a 2004), que se apresenta com propostas e
Visão parcial do centro de Ilha das Flores projetos, visando à geração de emprego e
renda nos setores do turismo e agroindus-
trial, através de parcerias institucionais e
no campo, no plantio de arroz, na caça ou plexo, à passagem de grandes manadas pe- implantação de programas participativos,
na pesca. las ruas da cidade para transferência de pas- com envolvimento das associações e Con-
Não existia tanto sofrimento nem tanta tagem, num desfile exuberante de demons- selhos Comunitários. C
pobreza. Não existiam mendigos ou pedin- tração da riqueza local.
tes pelas ruas. O povo possuía ocupação de No setor Industrial, o José Felinto Ca- * Administrador de empresas, professor da Faculda-
onde tirava seu sustento. Enquanto isso, as lumby foi o primeiro a tomar a iniciativa de São Luiz e filho de Luiz Ferreira Lisboa
crianças usufruíam do direito de ser crian- do desenvolvimento, instalando fábricas de
ça. Jogavam bola nas ruas e no areal em beneficiamento de arroz, produção de sa- Filhos ilustres
frente à igreja; tomavam banho na Barra bão e refinaria de açúcar. Logo em seguida,
do Poço, no Bongue ou na Bucha; pulavam a família Calixto instalou outra fábrica para Eurico Leite Lisboa - Administrador
no rio através das árvores ou das pontes; beneficiar arroz. Essas famílias proporcio- de empresas e consultor do Banco Mundial
no Pronese
caçavam com cães; jogavam petecas; fazi- naram grande avanço da economia local,
am arapucas; pescavam com anzol ou re- com muitas oportunidades de emprego e Unaldo Leite Lisboa - Economista e
des, e pegavam pitu no mergulho. desenvolvimento. analista de Sistema do Serpro
Quanta saudade da minha terra daquele Hoje, foram construídas hidrelétricas que Napoleão Leite Lisboa - ex-diretor do
tempo. Lembro dos primeiros passos do alteraram o curso natural do Velho Chico, INSS em Sergipe e professor da Unit
progresso. No setor comercial, a família impedindo as enchentes que, embora ame-
Antônio Lisboa Neto (Lisboa Ca-
Lisboa, através de Luiz Ferreira Lisboa, in- açadoras, carregavam no seu leito grandes beleireiro) - advogado e técnico da DRT/SE
crementou grande impulso ao desenvolvi- benefícios com a abundância de peixes e a
José Calumby Filho - médico angiolo-
mento da Ilha, com uma farmácia e uma adubação natural das terras do arroz, que gista
mercearia, além dos negócios com arroz, garantia a sobrevivência da população.
coco e gado. A minha querida Ilha sofre do desgaste Luiz Leite Calumby - ex-comandante
da Capitania dos Portos
A família de Zeca Pereira, do Povoado da descontinuidade. Não possui mais fábri-
Serrão, se destacava no setor agropecuário. cas nem oportunidades de emprego. As ruas Paulo de Deus - Engenheiro e prefeito
Em muitas ocasiões cheguei a assistir, per- são desgastadas pelo tempo e a quantidade de Paulo Afonso, BA

Anilton Pereira - médico e vice-prefeito


de Paulo Afonso

Reginaldo Brito - ex-delegado da Re-


ceita Federal da Bahia

Frederico Leite Lisboa - Economista


e ex-pró-reitor da UFS.

Frederico Lisboa Romão - engenhei-


ro químico

Cloves Brito - Médico cirurgião plástico


em Brasília

Flávio Ferreira Lisboa - ex-comissá-


rio da Varig

José Pereira Filho - ex-deputado estadual

Texto: EDIVÂNIA FREIRE


Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
Fonte: pesquisa de Luiz Ferreira Lisboa transcrita por Unal-
Procissão do Bom Jesus dos Navegantes realizada em 1964 do Leite Lisboa
NA HISTÓRIA DE SERGIPE,
ITABAIANA É O
PONTO MAIS ALTO.
Indiaroba
a terra do Divino
Município foi alvo
de uma disputa entre
Sergipe e Bahia
que durou mais
de um século

Í
ndia Bela ou, simplesmente, Indiaroba.
Boa parte da história deste município,
que fica a 100 quilômetros de Aracaju,
foi marcada pelas disputas entre Sergipe e
Bahia. A região que forma as terras de In-
diaroba, entre os rios Sagüim e Rio Real,
foi alvo de uma ferrenha disputa judicial
entre políticos sergipanos e baianos, que Indiaroba: disputa entre Bahia e Sergipe
durou mais de 100 anos.
Os moradores de Santa Luzia do Rio Real cido como Povoado Convento. Os padres Espírito Santo. Quando terminou a festa,
(hoje, do Itanhi) defendiam que aquelas abriram o caminho com a ‘catequese’ para os moradores de Abadia retornavam à vila,
terras pertenciam a eles. Mas os políticos e a chegada dos exploradores portugueses que quando um temporal caiu sobre o povoado
a população de Abadia (hoje Jandaíra) na foram para lá criar gado. Mas por ser estra- em pleno verão, impedindo a viagem dos
Bahia, afirmavam que Indiaroba pertencia tégico, a povoação se mudou e foi reforça- moradores e da Pomba do Espírito Santo.
a São Salvador. O curioso é que as disputas da às margens do Rio Real. Isso teria acontecido por três vezes. As-
começaram depois que o ouvidor de Sergi- Essa povoação recebeu o primeiro nome sim que se preparavam para voltar à Aba-
pe, em 1728, criou a Vila de Abadia. Mas de Feira da Ilha porque comerciantes de dia, caía um temporal. Diante da coinci-
ele cometeu um erro. Dizia que as provín- Abadia traziam mercadorias, através do Rio dência, a Feira da Ilha passou a ser conheci-
cias de Sergipe e Bahia eram divididas pelo Real, para vender ou trocar por coco, mi- da como a Terra do Divino Espírito Santo.
rio Sagüim e não o Real. lho e feijão com os colonos que habitavam A imagem da pomba ficou definitivamen-
Mas antes de os portugueses chegarem a região. Supondo que as terras formavam te em terras sergipanas. Os moradores co-
por lá, os navegadores franceses já tinham uma ilha, a povoação ficou chamada de meçaram a chamar a povoação de Espírito
uma ‘relação comercial’ com os índios tu- Feira da Ilha. Santo do Rio Real, que acabou sendo o pa-
pinambás, principalmente levando madei- Os colonos da Feira, influenciados por droeiro da povoação.
ra. Com a conquista de Sergipe por Cristó- religiosos de Abadia, improvisaram uma
vão de Barros, em 1590, foram dadas as capela e deram o nome de Nossa Senhora De Vila a República
primeiras sesmarias na região de Indiaroba, da Conceição, que foi eleita padroeira da
mas por conta da resistência dos índios, Feira da Ilha. Em volta da igreja, mais casas Em 20 de março de 1846 a freguesia foi
aquelas terras não foram ocupadas. começaram a surgir e a povoação crescia. transformada em vila com o nome de Vila
do Espírito Santo do Rio Real. O curioso é
Padres, Hospício e Nomes Espírito Santo que, pela lei de 9 de abril de 1870, a sede da
vila foi transferida das margens do Rio Real
Por volta de 1750, os padres jesuítas, atra- Em dezembro de 1811, por ocasião da para o povoado de Santo Antônio do Cam-
vessando o Sagüim e vindos de Santa Luzia, festa da padroeira da Feira da Ilha, o povo pinho (hoje, povoado Preguiça de Cima).
chegaram às terras de Indiaroba. Lá, levanta- católico de Abadia compareceu em massa, Supõe-se que o motivo da mudança é que o
ram um hospício e a capela de Nossa Se- atravessando o Rio Real. Eles trouxeram povoado é localizado numa parte alta e dava
nhora do Carmo. Hoje, esse local é conhe- para a povoação a imagem da Pomba do para avistar à distância quem chegasse pelo

CINFORM 98
Região - Sul de Sergipe
Distância de Aracaju - 100 km
População - Cerca de 12 mil
Atividades econômicas - Peixes e mariscos

Dom Pedro II interferiu


em Indiaroba

As lutas entre Bahia e Sergipe por Feira


da Ilha, depois Espírito Santo e hoje India-
roba, aumentaram a partir de 1787. De um
lado o capitão-mor José de Oliveira Cam-
Marcas do antigo desenvolvimento pos, representando Abadia. De outro, o
também capitão-mor Manoel Francisco da
Rio Real. Mas em 24 de abril de 1879 a lei ra de Itanhi para o povoado do Divino Es- Cruz e Lima, do lado de Santa Luzia.
foi revogada e a sede da vila volta para as pírito Santo. Em 1993 é inaugurado em Em 1821, o conde dos Arcos, governa-
margens do Real. terras sergipanas o Armazém Coração de dor da Bahia, atendendo a uma das recla-
Outro fato interessante é que o Povoado Jesus - um comércio varejista completo. mações da Vila de Abadia, ordenava, atra-
Santo Antônio do Campinho chegou a de- Naquela época o Espírito Santo já possuía vés do ofício de 2 de março, ao capitão-
saparecer por completo porque apareceu lá 5 mil habitantes. Antônio Ramos da Silva, mor das ordenanças da Vila de Santa Luzia
um líder messiânico andarilho, que se dizia o maior chefe político e pessoa ligada ao do Rio Real que se abstivesse de exercer
enviado por Deus e conhecido apenas por governador de Sergipe, Eronides de Carva- qualquer ato de jurisdição sobre os habitan-
‘Machadão’, que afirmou ter recebido de lho, conseguiu transformar o povoado em tes do território compreendido entre o Rio
Deus uma mensagem de que aquele lugar cidade em março de 1938. Ele contou com Real e Sagüim.
era amaldiçoado. Não deu outra, o povo, o apoio decisivo do deputado Dionísio Mas Sergipe não desiste. Os ‘políticos’
aterrorizado, tocou fogo nas casas e foi Machado. sergipanos, especialmente os de Santa Lu-
embora. Além da aprovação estadual, a emanci- zia, que moveram várias representações à
Mesmo depois da Proclamação da Re- pação do Espírito Santo ainda dependia de Câmara de Abadia até 1843. Vários pedi-
pública, as vilas passaram a ser cidades, uma aprovação final do Governo Federal. dos sergipanos chegaram às mãos do impe-
mas Indiaroba não conquistou essa cate- Conta-se uma história que foi nesse mo- rador. Antes disso, a Assembléia Legislati-
goria, permanecendo um povoado de Santa mento em que o ministro Prado Kelly, após va de Sergipe, em 6 de maio de 1841, mes-
Luzia do Itanhi. Por ser mais próximo, a receber e se deliciar com água de coco com mo sem condições, elevou a Capela do Es-
população do Divino Espírito Santo de- uísque e iguarias de mariscos vindos de Es- pírito Santo à condição de freguesia, um
pendia social e comercialmente de Cacho- pírito Santo, assinou favoravelmente a cri- passo ousado na disputa jurídica.
eira do Itanhi, no Estado da Bahia. Essa ação da cidade. Antônio Ramos da Silva Em 1843, um Decreto de Dom Pedro II,
situação permaneceu nas décadas de 10, foi nomeado o primeiro prefeito, adminis- de 23 de setembro, declarava: “a parte da
20 e 30. trando a cidade de março de 1938 a janeiro freguesia de Abadia, na província da Bahia,
de 1939, passando o mandato para João que passa além do Rio Real, fique perten-
Chega a Cidade Vilanova. Foi este último quem transferiu cendo à Província de Sergipe, servindo o
o nome do município para Indiaroba, nome dito Rio Real da linha divisória entre as
O comerciante Solon Quintela Leite re- de um rio, porque já existia o estado com o duas províncias, enquanto pela Assembléia
solveu transferir seu comércio de Cachoei- nome de Espírito Santo. Geral Legislativa outra cousa não fôr deter-

CINFORM 99
Povoado Convento: Indiaroba começou aqui

minada”. rior da igreja.


Foi um dispositivo provisório, mas a As-
sembléia Geral Legislativa não chegou a Hino de Indiaroba
modificá-lo. Enquanto isso, Sergipe trans-
formou a capela em freguesia do Espírito A seguir, um trecho do belo hino de
Santo. O interessante é que as reclamações Indiaroba, que tem a autoria da letra e
dos moradores de Abadia continuaram por da música de Raimunda Andrelina:
mais de dez anos, mas ninguém deu mais “Era começo do século XVIII
atenção. Indiaroba chegou a ter uma usina Catecúmenos vieram aqui se instalar Promotor Arquibaldo: filho ilustre
de açúcar cristal, 17 casas de farinha de Em incursão entre os bravos silvícolas
mandioca e várias olarias. Para a antiga “Feira da Ilha” habitar sendo, pois, a divisa o Rio Real da Praia
Sobre as águas do rio que nos banha Ganhou a posse Sergipe Del-Rei! C

Igreja e filhos ilustres Os imigrantes conseguiram aqui chegar


E entre os quais vieram ilustres jesuítas Filhos Ilustres
Antônio Ramos da Silva, proprietário Com a missão de evangelizar.
Três ilustres indiarobenses destacam-se além
da Fazenda Sete Brejos, desgostoso com Indiaroba. São eles: Juvenal Gomes
os noivados de suas filhas Judith e Laura, Refrão do Nascimento - o padre Neto; Ray-
resolveu fazer uma permuta com o políti- Abençoada seja Indiaroba mundo Ramos dos Reis, militar e con-
tabilista que chegou a ser, em 1963, chefe da
co Leandro Maciel, isso em dezembro de Recanto amado, hospitaleiro e sacrossanto Casa Civil do Governo do Estado do Rio de Ja-
1941, da fazenda por algumas casas em Iluminada seja Indiaroba neiro na administração de Roberto Silveira; e
Aracaju, transferindo-se com toda a famí- com a luz do Divino Espírito Santo
José Arquibaldo Mendonça de Araújo,
lia para a capital. Antônio Ramos da Sil- foi promotor de Justiça por muitos anos em Nos-
va, na sua administração, transformou a Disputaram os dois fortes caciques sa Senhora das Dores e morreu aos 42 anos.
capela do Espírito Santo em Igreja, dupli- capitães-mor: José de Oliveira Campos
cando o seu tamanho, atendendo o pedido e Manoel Francisco da Cruz e Lima Texto: CRISTIAN GÓES
da sua sogra, Joana Gomes Ramos. Os pela posse da Vila do Espírito Santo. Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
Fontes: “Indiaroba, a terra do Divino”, de Winiston An-
restos mortais da sua esposa, Maria Ra- Se seria de Sergipe ou da Bahia, tônio Ramos de Almeida, advogado e professor e Enciclo-
mos da Silva, foram depositados no inte- foi decidido através Decreto-Lei pédia dos Municípios Brasileiros.

CINFORM 100
MKT©
A EMSERGÁS contribui
com a modernidade de Sergipe.
A Empresa Sergipana de Gás contribuir com o
S.A. - EMSERGÁS é uma desenvolvimento econômico-
empresa de economia mista social de Sergipe.
do Governo do Estado de O Gás Natural, sendo um
Sergipe que tem mais dois combustível limpo e de uso
sócios - a GASPART eficiente e seguro, chega às
(empresa privada) e a sociedades mais evoluídas
GASPETRO (integrante da neste milênio como a
holding PETROBRÁS). A alternativa energética mais
EMSERGÁS, concessionária moderna para substituir a
dos serviços de distribuição lenha, o óleo combustível, o
de gás canalizado em todo o diesel, a gasolina e, ainda,
Estado, foi constituída com o nas grandes concentrações
objetivo de atender às urbanas, o GLP.
demandas de Gás Natural
(GN) emanadas dos diversos
segmentos de mercado
(industrial, domiciliar,
automotivo e institucional),
promovendo investimentos
em redes de gasodutos de
distribuição que possam
Itabaiana
o coração
de Sergipe
Inicialmente Arraial
de Santo Antônio,
o município ficou
conhecido por sua
tradição no comércio

O
início da colonização das terras ita
baianenses remete-se a 1590, quan
do a expedição de Cristóvão de
Barros liquidou os indígenas e iniciou o pro-
cesso de colonização de Sergipe. Datam
dessa época as primeiras notícias de terras Igreja Matriz de Santo Antônio: marco secular
doadas a sete lavradores para colonizarem
as circunvizinhanças do Rio Sergipe. mente um sítio de propriedade do pároco ogo Pacheco de Carvalho, em 1698, sob a
A primeira sesmaria é dada a Ayres da de São Cristóvão, padre Sebastião Pedroso denominação de Vila de Santo Antônio e
Rocha Peixoto, casado com uma neta de de Goes, que vendeu em 9 de julho de 1675, Almas de Itabaiana. Em 1727, aparecia
Caramuru. Suas terras atingiam áreas com- por ‘Rs 60$000’, à Irmandade das Almas como já possuindo sua Câmara represen-
preendidas entre os rios Japaratuba e Sergi- de Itabaiana, sob a condição de nele ser re- tando o município.
pe, correspondendo, dentro de um mapa edificado um templo sob a invocação de
atual, aos municípios de Itabaiana, Riachu- Santo Antônio e Almas de Itabaiana. Se- Adornos e fantasia
elo e Santo Amaro das Brotas. gundo o historiador Sebrão Sobrinho, a in-
É nesse período que ocorre o povoamen- tenção do padre Sebastião era ver a concre- Do roteiro de minas de Belchior Dias
to e colonização de Itabaiana em grande tização da criação da Freguesia de Santo Moreyra, que andou por Itabaiana logo no
escala, com a distribuição de terras, notada- Antonio e Almas de Itabaiana e, para tan- início da colonização da capitania, deduz-
mente aquelas situadas às margens do Rio to, se fazia necessário que a igreja fosse edi- se que naquela serra se encontravam jazidas
Jacarecica. ficada em terreno próprio. Como a capela de grandes riquezas minerais, sobretudo de
Os colonos contemplados com tais ses- de Santo Antonio estava edificada numa metais preciosos. Em seis ensaios ele fazia
marias, se espalhando em sítios pelas mar- fazenda de propriedade particular, jamais a menção “à prata, ao salitre e ao ouro da
gens do rio, vão fundar o Arraial de Santo freguesia poderia ser criada. Serra de Itabaiana Assu”.
Antônio, a primeira povoação de Itabaia- Com a venda da Caatinga de Ayres da Mas de concreto, nada se pôde colher,
na. Esse local hoje é conhecido por Igreja Rocha à Irmandade, foi edificada a Igreja, tendo Clodomir Silva, no ‘Álbum de Sergi-
Velha, a uma légua do atual centro da cida- passando este lugar a sede da vila, que até pe’, de 1920, se referido como ‘adornos da
de, erguendo-se uma capela, fundando a então funcionava na Igreja Velha. A povo- phantazia’. De fato, segundo o historiador,
Irmandade das Santas Almas. Esta capela é ação foi crescendo e já pelo ano de 1678, os informes a respeito da existência das
registrada no mapa de Barleus, durante a Itabaiana era distrito, possuindo paróquia minas baseavam-se na versão do povo e nas
invasão holandesa, datado provavelmente desde 30 de outubro de 1675, permanecen- informações de parentes e afeiçoados da
de 1641, data em que os holandeses pesqui- do a invocação de Santo Antonio. A paró- família do explorador.
saram ouro na Serra de Itabaiana. quia foi criada pelos governadores do Arce- A Vila de Santo Antônio e Almas de Ita-
O local onde se encontra hoje a sede do bispado, na ausência do arcebispo dom baiana foi elevada à categoria de cidade em
município, conhecido no século XVI como Gaspar Barata de Mendonça. 28 de agosto de 1888, na presidência de
Catinga de Ayres da Rocha, era primitiva- A Vila foi levantada pelo ouvidor d. Di- Francisco Paula Prestes Pimentel. Na divi-

CINFORM 102
Região - oeste (Agreste)
Distância de Aracaju - 56 km
População - 76.803
Atividades econômicas - Grande produtor de
mandioca, tomate, batata-inglesa e cebola. O comércio desta-
ca-se em decorrência do grande número de estabelecimentos
comerciais, principalmente o de ouro.

Igreja Velha: primeira casa do santo

são administrativa do Estado, vigorante no


ano de 1920, o município continuava como
sede da comarca e se compunha de um úni-
co distrito. Eram termos da comarca de Ita-
baiana os municípios de Campo do Brito e
Frei Paulo.
Os primeiros documentos que tratam da
região apresentam denominações diferen-
tes para o lugar. Os nomes mais freqüentes
são Itanhama ou Tabaiana. A forma Itabai- Coreto da praça: marca do passado
ana, parece que se definiu no século XVII.
Os holandeses, de quem não se poderia es- pároco de São Cristóvão, Sebastião Pedro-
perar uma grafia muito correta, registra- so de Goes, vendeu o sítio ‘Caatinga de
ram a forma Itapuana. Ayres da Rocha’, em 9 de julho de 1675, à
Itabaiana, nome indígena, é o resultado Irmandade das Almas para que nele ergues-
dos sufixos Ita (pedra), Taba (aldeia), e se a igreja própria para a morada de Santo
Aone (alguém). Tudo junto significa ‘na- Antônio.
quela serra tem uma aldeia onde mora al- Segundo comentários, algumas pessoas
guém’, a palavra pedra refere-se à Serra de da comunidade que queriam a mudança da
Itabaiana. sede para o arraial, retiravam às escondidas
o Santo Antônio e conduziam até a Caatin-
A lenda de Santo Antônio Fujão ga de Ayres da Rocha, de noite, deixando-
o num dos galhos da quixabeira. Para os
Santo Antônio ‘vivia’ numa casa que não colonos, era fácil descobrir o paradeiro do
era sua: a primeira capela construída no santo, já que propositalmente se deixavam
Arraial de Santo Antônio pelos colonos, na pistas.
região hoje conhecida como Igreja Velha, A ‘fuga’ verificava-se com freqüência.
fora erguida em propriedade particular. O Depois de cada uma delas, a imagem era Fachada do Mercado Municipal

CINFORM 103
são de acontecimentos criou um clima de
animosidade contra a dominação euclidia-
na em Itabaiana, cujo agravante foi a ques-
tão da água. A Prefeitura não aceitava que
uma empresa de fora realizasse as obras no
município. Antônio Mendonça resolveu
fotografar a manifestação, surgiu então um
bate-boca seguido de tiros. Ele e seu pai,
Euclides Paes Mendonça, foram assassina-
dos. Segundo os historiadores oficiais, não
se sabe ao certo a procedência dos tiros.
1964 - Golpe militar, em nível nacional,
Serra de Itabaiana: origem do nome da cidade
desintegra o sistema partidário.
levada, em procissão, para a capelinha. Não primeiro prefeito do município, Sílvio Tei- 1966 - Francisco Teles de Mendonça
se tem data exata do início da construção xeira, e vereadores. (Chico de Miguel), que era amigo, e não
da nova Igreja, sabe-se que a Igreja velha 1941 - Sílvio Teixeira pede exoneração e parente, de Euclides, foi se impondo ao elei-
funcionou até 1737, mas já sem grande fre- é substituído por Manuel Francisco Teles. torado. Nesse ano, já na Arena, foi eleito
qüência, porque a transferência do padroei- 1945 - Luiz Magalhães assume a prefei- deputado estadual.
ro significou também mudança da sede do tura e, no mesmo ano, entrega a Manuel 1968 - Manoel Teles, principal inimigo
arraial para o outro sítio. Ficou, porém, a Francisco Teles. de Euclides, foi assassinado. O pistoleiro
lenda do Santo Fujão. 1946 - O município sofre intervenção e paraibano, Antonio Letreiro, atirou à quei-
Francisco Teles é exonerado. ma roupa. Chico de Miguel foi apontado
Antiga instituição musical do Brasil 1947 - O governador de Sergipe, José como autor intelectual do crime. Mas nada
Rollemberg Leite, exonera todos os prefei- foi provado. C

A Filarmônica Nossa Senhora da Con- tos do Estado. No mesmo ano, uma nova
ceição é um desdobramento de uma agre- eleição culmina com a vitória de Jason Filhos Ilustres
miação musical instituída em meados do Correia, frente a Euclides Paes Mendonça. José Jorge Siqueira Filho - poeta
século XVIII, denominada Orquestra Sa- Jason empreendeu uma política truculenta
cra. Era um instrumental e Coral da Igreja contra os adversários políticos. Etelvina Amália de Siqueira - poetisa e jor-
nalista
Matriz da Freguesia e Vila de Santo Antô- 1950 - Euclides Paes Mendonça (UDN),
nio e Almas de Itabaiana, da Capitania de comerciante próspero, finalmente ingressa José Calazans - general do Exército e primei-
ro presidente constitucional de Sergipe, em 1892
Sergipe Del Rey. na política sob a influência de Otoniel da
O grupo foi criado pelo vigário licencia- Fonseca Dória e concorre com Manoel Te- Sebrão Sobrinho - historiador, membro da
Academia Sergipana de Letras
do Francisco da Silva Lôbo e, originaria- les (PDS) à Prefeitura. Vence, e a partir
mente, destinava-se principalmente aos atos dessa data ocorre sua ascensão política, de- Gentil Barbosa - dono da rede de supermer-
cados G.Barbosa
religiosos. A maior glória da orquestra foi tendo o poder de forma direta ou indireta.
ter como um dos seus membros, como can- 1954 - Euclides apóia Serapião Gois a Oviêdo Teixeira - grande empresário
tor e flautista, o então professor de Latim, prefeito e sai vitorioso, derrubando o ad- José Carlos Teixeira - ex-deputado federal,
Tobias Barreto de Meneses. versário, o médico Pedro Garcia Moreno. ex-vice-governador, ex-secretário da Indústria
e Comércio.
Em fevereiro de 1879, o professor e com- Nesse ano ele também é eleito como depu-
positor Samuel Pereira de Almeida mudou tado estadual. Maria Thetis Nunes - professora, historiado-
ra, escolhida como a sergipana do século XX
o nome da orquestra para ‘Philarmônica 1958 - Euclides vence, outra vez, a elei-
Euphrosina’, da qual fizeram parte o gene- ção para prefeito. Seu adversário foi José Antônio Oliveira - intelectual
ral José Calasans e um dos mais influentes Araújo Tavares. Wladimir Carvalho - juiz do Tribunal de Jus-
políticos da região, o coronel José Sebrão 1962 - Euclides candidatou-se a deputa- tiça Federal
de Carvalho. Em outubro de 1897, o maes- do federal e apresentou seu filho, Antônio Melcíades de Sousa - artista plástico, cantor
tro Francisco Alves de Carvalho Júnior tro- Oliveira Mendonça, a deputado estadual. e compositor
cou o nome da instituição para ‘Philarmô- Venceram. No entanto, essa trajetória polí- Antônia Amorosa de Menezes - cantora
nica Nossa Senhora da Conceição’. Na época tica ascendente foi abalada quando Leandro
Alberto Carvalho - advogado, crítico de ci-
já era considerado como o conjunto musi- Maciel, chefe político da UDN na esfera nema, poeta e cineasta
cal mais antigo do Brasil, fundado há mais estadual, perdeu o governo para Seixas
Pedro Garcia Moreno - médico pediatra
de dois séculos, sem descontinuidade. Dórea, dissidente da UDN. Sem suporte,
Euclides criou uma Guarda Municipal, ar- José Crispim de Souza - autodidata e escritor
Alguns fatos políticos mada e fardada, que constantemente entra- José Mesquita da Silveira - dono da casa
va em choque com as forças estaduais. de força e do 1º cinema
1821 - A Câmara de Itabaiana convo- 1963 - Conflito entre a Guarda Munici-
cou as demais câmaras sergipanas para uma pal e a Polícia. O comandante da guarda, Texto: VALNÍSIA MANGUEIRA
Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
reunião em São Cristóvão, com a finalida- tenente-coronel Solon, e o da polícia, Ma- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, ‘Do campo à
de de eleger o governo provisório. jor Teles, saíram feridos e foram hospitali- Metrópole’, de Núbia Marques, Perfil de Itabaiana (1998)
1935 - Foi eleito, pelo voto popular, o zados. Teles acabou morrendo. Essa suces- e pesquisa da professora Edezuita Araújo Noronha
Itabaianinha
surgiu à sombra de
um tamarindeiro
Cidade, apesar de rica e
promissora, estacionou
no tempo e perdeu sua
identidade com as artes

A
povoação de Itabaianinha, distante
118 quilômetros da capital, surgiu
embaixo de um pé de tamarindo,
onde os tropeiros, principalmente de Ita-
baiana, descansavam. Por isso eles acaba-
ram batizando a localidade com o mesmo
nome da cidade em que viviam, acrescen-
tando o diminutivo ‘inha’. Foi nesse local
que teve início uma pequena feira, onde
eles comercializavam seus produtos. Ape-
sar de rico e promissor, nos últimos anos o
município estacionou no tempo.
A cidade de Itabaianinha passou a ser co-
nhecida como ‘Princesa das Montanhas’,
por estar localizada numa área bastante
montanhosa, a 225 metros acima do mar.
Fica entre as serras do Babu, na divisa com
Riachão do Dantas; dos Cavalos, Ilha e
Catramba, divisa com Tobias Barreto; Pi-
lões, Antas, Ovelhas, Flor da Roda, Pedra
Branca, Brejo, Bica e o Alto do Urubu, a Igreja Nossa Senhora da Conceição: década de 80
leste da sede do município.
Há uma versão popular de que essa loca- Tobias Barreto. Logo depois, em 19 de fe- tes -, não existe mais. No entanto, no mes-
lidade foi fundada no século XVIII por tro- vereiro, transformou-se em vila, compre- mo local existe outro tamarindeiro que foi
peiros de Itabaiana, que teriam colocado o endendo a freguesia de Nossa Senhora do plantado pelo mecânico Raimundo Ferrei-
nome de Itabaianinha por acharem que as Tomar do Geru. ra Alves, 57 anos. “Eu ia plantar uma fi-
duas localidades tinham semelhanças. Já os Foi em 19 de setembro de 1891, através gueira, mas fiquei sabendo que o tamarin-
historiadores Laudelino Freire e Clodomir da lei nº 3, que Itabaianinha passou à cate- do era tradição na cidade, então um rapaz
Silva afirmaram em seus escritos que o goria de cidade, mas só em 19 de outubro me deu e eu plantei”, diz ele.
município teria sido primitivamente uma de 1915, através da lei nº 680, foi realmen- Francisco informa que tem uns oito anos
aldeia de índios. te emancipada. que essa nova árvore foi plantada. “Eu sou-
Essa povoação passou à condição de fre- be que ela tem vida longa. A outra já tinha
guesia em 6 de fevereiro de 1835 com a Tamarindo centenário mais de cem anos. Acho que deviam plan-
denominação de Nossa Senhora da Concei- tar mais tamarindos nos canteiros da cida-
ção de Itabaianinha, sendo desmembrada A árvore primitiva, onde nasceu Itabaia- de. Pelo menos as crianças pobres poderiam
da de Nossa Senhora dos Campos, hoje ninha - hoje o Largo Francisco Martins Fon- subir para tirar as frutas”, sugere ele.

CINFORM 105
Região - Sul
Distância da capital - 118 KM
População - 35.123 Cerâmicas: principal atividade econômica do município
Atividades econômicas - Indústrias de
cerâmicas e confecções, citricultura
e pecuária

Cerâmicas movimentam
a economia

Itabaianinha possui os melhores tipos de


barros para confecção de tijolos e telhas,
por isso a população tem investido bastante
na implantação desse tipo de indústria.
Nessa produção o município já soma cerca
de 15 cerâmicas e mais de 300 olarias, ocu-
pando o 1º lugar no Estado.
Pedro Tavares de Freitas, 78 anos, reco-
nhece que a cidade vem progredindo, pelo
menos quando o assunto é cerâmica, mas
diz que sente saudades dos bons tempos
de Itabaianinha. “No passado, aqui era
muito mais animado. Havia grandes fes-
tas, com apresentação de grupos folclóri-
cos, reisado, banda de pífano e bacamar-
teiros”, lembra ele. O que restou do acervo arquitetônico do início do século XX
Já o ex-vereador José Roberto Rocha
cobra mais empenho da atual administra-
ção municipal, que tem à frente o prefeito Carretéis, a 15 quilômetros da sede do Uma cidade entre montanhas
Joaldo Carvalho (1997 a 2004). “A cidade município, local onde começaram a surgir
evoluiu. É rica. Tem potencial, mas está homens e mulheres de baixa estatura. Nes- * JURACI COSTA
estagnada administrativamente por falta de se povoado é difícil encontrar uma pessoa
criatividade”, afirma ele. de estatura mediana. Apelidada de Princesa das Montanhas,
Apesar disso, o município tem uma re- Há informações de que os anões surgi- pelo poeta sergipano João Pereira Barreto,
presentatividade política muito grande no ram desde a fundação do município (mui- devido a sua localização privilegiada, nossa
Estado, com o mandato de dois deputados tos, hoje, com mais de 80 anos), quando cidade nasceu assim, acanhadinha, ao redor
atualmente na Assembléia Legislativa: Ra- parentes se casaram e acabaram gerando de um pé de tamarindo, conforme nos re-
imundo Vieira (Mundinho da Comase) e filhos com deficiência hormonal por causa vela a tradição oral dos mais antigos mora-
Ilzo Silveira. da consangüinidade (casamentos entre pa- dores deste lugarejo. De acordo com esses
rentes). No final dos anos 90, alguns anões informantes, tudo começou com a chegada
A cidade dos anões foram a São Paulo para se submeter a dos primeiros tropeiros e retirantes, que se
uma pesquisa e tratamento de crescimen- arranchavam à sombra dessa árvore fron-
Itabaianinha tem a maior quantidade de to, e chegaram a crescer cerca de 12 cen- dosa (derrubada pelo machado do progres-
anões do Estado, concentrada no Povoado tímetros. so) e ali conferenciavam futurosos, já que o

CINFORM 106
Filhos Ilustres
Monsenhor Olímpio de Souza Campos -
Foi deputado estadual e federal, senador e pre-
sidente de Sergipe. Morreu assassinado em
1906.

Guilherme de Souza Campos - Juiz de Di-


reito no Maranhão, chefe de Polícia no Espírito
Santo, deputado estadual e federal, desembar-
gador e presidente do Estado de Sergipe.

Exupero Monteiro - jornalista, professor, po-


eta e membro da Academia Sergipana de Le-
Vista da Praça Olímpio Campos em 1973
tras

Olímpio Cardoso da Silveira - médico, pro-


lugar oferecia boas condições para pouso e tras lojas de calçados, o alambique desati- fessor da Faculdade de Medicina de Belém, no
terras de primeira para criação de gado. vou as caldeiras por causa dos impostos. Pará
Logo, esses nômades aventureiros ergue- Nesses 86 anos de independência políti-
ram uma vintena de casas de sopapo em Valdilene Cardoso - médica fazendo resi-
ca, muita coisa se modificou. O Açude Pre- dência no Rio de Janeiro
diferentes pontos da nascente vila. Cons- sa, que abasteceu a cidade por longos anos,
truíram uma capela, para abrigar os capu- virou um charco coberto de junco, para Juraci Costa de Santana - contista, poeta,
chinhos nas quadras de Santa Missão, quan- onde deslizam as águas sujas da Deso; a professor formado em Letras na UFS
do esses andarilhos apareciam por aqui, fa- Capelinha de São Benedito, entregue ao Maria Lucila de Morais Santos - museólo-
lando no fogo do inferno e nas aflições do abandono, tornou-se um monte de ruínas e ga e professora de História da Arte da PUC no
purgatório. Os matutos se benziam e pro- desapareceu; a Sociedade Lítero-Recreati- Rio de Janeiro
curavam fugir do paganismo e da fornica- va dos Crysanthemos (com finalidade lite- José Brito - Foi poeta, pintor, músico, regente
ção, através da pia batismal e dos arranjos rária e recreativa) se aposentou e agora ocu- da Filarmônica e secretário de seis administra-
de casamento. pa a função de depósito de entulho; as filar- ções
Com o vilarejo crescendo cada vez mais, mônicas emudeceram para todo o sempre; Odorico Cabral - advogado e professor
muita gente veio para cá. Apareceu a figura o Posto de Puericultura, erguido nas imedi-
do juiz, do padre, do promotor. Ruas e mais ações da Igreja Batista, nunca foi inaugura- Robustiano de Carvalho - intendente e for-
ruas foram abertas e batizadas com nomes te comerciante na Bahia
do, e acabou mesmo servindo de tenda de
que não vemos mais: Rua Formosa, Praça marceneiro ao senhor João Bilau, até ser Ildebrando Dias da Costa - ex-deputado e
da feira, Rua São Pedro, Camilo Panela, Pé demolido recentemente. O Cine Pax fe- empresário
Ralado. Os mandachuvas locais rebatiza- chou as portas por falta de público, e o San-
José Abílio Primo - empresário
ram-nas com nomes de sujeitos ligados a to Antônio, também. O jornal A Voz das
seus interesses. Serras, fundado em 1924 pelo professor José Alves da Silveira - médico e agrope-
Em 19 de outubro de 1915, Itabaianinha Lindolfo Sales de Campos, teve, como tudo cuarista
foi declarada de maior pela lei nº 680. A até então mencionado, vida efêmera. José Elvídio de Macedo Neto - advogado
partir daí, o número de candidatos à admi- Ademais, precisamos de melhoria em
nistração de seus bens aumentou de manei- tudo: nas vias públicas, nas duas praças e Pedro Alves de Macedo - formado em His-
tória, escreveu um livro sobre a cidade
ra considerável. Cada qual mais zeloso e nos setores de saúde e recreação, pois esta-
diligente. mos tropeçando nos buracos das ruas, sem Luiz Zacarias de Lima - promotor de Justiça
Todos sem olhos de cobiça nem gestos de espaço nas praças atulhadas de quiosques, em Recife e em São Paulo
ganância, mas empenhados em vê-la cada sem médicos suficientes no hospital públi- Cônego José Amaral de Oliveira - profes-
dia mais próspera e acolhedora, princesa co e sem áreas de lazer, já que até os clubes sor e pároco da Igreja São José
sempre jovem, apesar da marcha do tem- dançantes trancaram as portas, com exce-
po, dos seus 86 anos bem vividos ao lado de ção do Spaço K. Gilmar Macedo - médico

homens tão preocupados em embelezá-la e Como dar para se perceber neste artigo, Francisco d’Avila Melo - intendente do mu-
engrandecê-la, homens que não avançavam nossa Itabaianinha estacionou no tempo. nicípio
em nada pertencente a ela, nem para eles, Aqui não há nada, embora seja uma cidade
José Carlos Nabuco de Oliveira - médico
nem para terceiros. rica, pioneira no comércio ceramista e prós- veterinário, professor da UFS e coronel do Exér-
Vários comerciantes acreditaram em seu pera na atividade têxtil, graças às fábricas cito
crescimento econômico, e aqui instalaram de confecções aqui instaladas há alguns anos.
Maria do Carmo Terezinha Lobão Ayres
torrefações de café moinho de fubá de mi- Também possui uma boa pecuária e uma de Souza - professora e proprietária do Colé-
lho, sapataria, alambique. Mas nada disso citricultura em expansão. gio Graccho Cardoso
vingou na terra dos barreiros e laranjais. os Com o advento das indústrias, perdemos
cafés Garoto e Neguinho não caíram no aquela pacatez característica das cidadezi-
gosto popular; o Moinho Serrano perdeu a nhas de interior. Tornamo-nos um provín-
concorrência para as massas alimentícias cia proletária. C Texto: EDIVÂNIA FREIRE
vindas de fora, a sapataria entrou nas en- Fotos: EDSON ARAÚJO
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros
cóspias com as novidades trazidas por ou- *Professor e escritor
Itabi tem pedras exóticas
e corrida de jegue
Artista plástico François
Hoald também projetou
nacionalmente o nome
do município

A
história do município de Itabi, a
138 quilômetros da capital, come
ça em 1821, quando os caçadores
José Ferreira de Góis e Antônio José dos
Santos, da Fazenda Sítios Novos, em Ca-
nhoba, saíram para caçar e encontraram uma
lagoa, mantida até hoje no centro da cida- Pedra da Paciência: origem do nome de Itabi
de. Eles a denominaram de Panelas - nome
que foi dado posteriormente à povoação - padre Francisco Gonçalves de Lima. Tem- descaroçar o produto. De 1899 a 1920 a
por terem encontrado diversas panelas de pos depois a capela foi construída e, em 8 povoação chegou a liderar a produção de
origem indígena nas proximidades. de setembro de 1897, foi colocada a ima- algodão em Sergipe.
Os dois caçadores encontraram também gem de Nossa Senhora da Conceição. Ela
diversas pedras enormes. Uma delas - par- foi levada em um carro de boi de Gararu, Luta pela emancipação
tida em duas - chamou-lhes a atenção e eles sede do povoado, e tornou-se a padroeira
a chamaram de Pedra da Paciência, que de- da povoação. Em 1922, Pedro Menezes começou a luta
rivou o nome de Itabi - palavra tupi-guara- A partir daí a localidade passou a cha- pela emancipação, por achar que a vila já
ni que significa Ita: pedra; e bi: duas. Eles mar-se Nossa Senhora da Providência, por podia manter-se sozinha. Já em 1944 al-
espalharam a novidade na feira de Propriá e sugestão do padre, que achava que o pro- cançou a categoria de vila, com o nome
o senhor de engenho Manuel Quinca Pala- gresso daquele local, situado no sertão, era Paz de Providência. Mas seu desejo de eman-
tem, do Povoado Cutia, em Capela, se in- decorrente de um milagre da Providência cipar o município só foi realizado em 25 de
teressou pela notícia e resolveu conhecer o Divina. novembro de 1953, quando já havia morri-
local. Até a década de 70, a religião cultuada do. O seu filho, Francisco Vieira de Mene-
Sete anos depois, em 1828, Quinca Pala- em Itabi era exclusivamente a católica. Só zes, foi o primeiro prefeito do município,
tem saía acompanhado de escravos e za- a partir dos anos 80 é que entraram mais hoje composto por 30 comunidades. Entre
bumbas - para espantar os animais selva- quatro, predominando ainda o catolicismo. os principais povoados estão Lagoa Redon-
gens, principalmente as onças que existiam Outra particularidade existente no municí- da, Mata Grande, Boa Hora, Melancia,
na região -, com interesse de desbravar o pio é o Terço dos Homens, nesse dia só os Bom Nome, Esperança e Pedra Branca.
local. Chegou junto com sua família e fi- homens podem entrar na Igreja. O itabiense Antônio Menezes de Souza
xou morada. Construiu seu sobrado no alto, No dia 7 de janeiro de 1891 foi realizada (seu Tutu), 81 anos, garante que a cidade é
onde denominou de Fazenda Panelas, hoje a primeira feira na povoação. Foi nesse ano tranqüila, mas em 1936 os moradores se
a Rua Boa Vista. que o homem conhecido como fundador assustaram com a entrada dos cangaceiros
do município, Pedro Vieira de Menezes, de Lampião. “Eles levaram dinheiro, ouro e
Primeira missa chegou à localidade, vindo de Jacaré dos queimaram duas casas”, lembra.
Homens (AL). Acabou fixando-se no lo- Seu Tutu disse que foi convocado para a
Já em 1884 foi celebrada a primeira mis- cal, onde constituiu família e foi o precur- guerra, em 1945, para ir lutar na Alema-
sa num cruzeiro construído por João Cor- sor da política e incentivador da cultura do nha, mas não compareceu porque naquele
reia Palatem, na Fazenda Bela Vista, pelo algodão, inclusive fundou uma fábrica de dia foram afundados três navios na costa de

CINFORM 108
Festa do jegue: corrida e concurso de fantasias

Região - Norte (Semi-árido Sertão)


Distância de Aracaju - 138 km
População - 5.160
Atividades econômicas - Pecuária;
agricultura de subsistência; comércio; serviços; olarias;
pedreiras e fábrica de queijo.

Francisco Pedral: saudosismo comunidade, onde criaram a Festa do São


Gonçalo.

Estância. “Eu fiquei no 29º BC da Bahia. Hoald: itabiense reconhecido


Até hoje tento me aposentar como ex-com- nacionalmente
batente e não consigo”, lamenta ele. Ainda
hoje seu Tutu trabalha no Sindicato dos Itabi entrou para a história das artes com
Servidores do Município e no Condem. o artista plástico François Hoald, um sergi-
Um fato que marcou a política no muni- pano que, apesar de ter morrido aos 25 anos,
cípio em 1950, e até ganhou destaque na foi reconhecido nacionalmente. A sua pin-
imprensa nacional, foi a queimada de uma tura colorida em quadros e cerâmica, retra-
urna, quando disputavam o Governo Lean- tando a natureza e tendo o caju como car-
dro Maciel e Arnaldo Garcez. “Nesse ano ro-chefe, correu o País, chegando às mãos
houve três eleições. A primeira foi anulada, de diversas personalidades.
a segunda teve uma urna queimada e na Entre as pessoas que compraram os mais
terceira Arnaldo Garcez foi eleito”, lembra de dois mil quadros dele estão o presidente
seu Tutu, mesário nessa eleição. Médici, o escritor Ariano Suassuna, o soci-
ólogo Gilberto Freire e o embaixador Pas-
Manifestações culturais coal Carlos Magno. Muitos artistas deixa-
ram registrada a admiração pelo seu talen-
A cultura popular é diversificada em Ita- to, num livro que sua irmã, Marileide de
bi. Suas manifestações mais conhecidas são Melo Barreto, guarda com muito carinho.
a Cavalhada, Reisado, Bumba-meu-boi, O artista nasceu Manoel Roald Batista
Festa de São Gonçalo, Corrida de Jegue, de Melo, em 1949, e acabou virando Fran-
Vaquejada e as festas de Natal e São José. çois Hoald, um nome francês, já que seu
O itabiense que mais vivenciou essas maior sonho era chegar a Paris. “Falar de
manifestações foi Francisco Pedral do Cou- Hoald é mergulhar no mundo da arte, tra-
to, 84 anos, que implantou o Reisado no duzida em cores exuberantes e formas, ex-
município. Ele lembra que ficou fascinado pressão viva da natureza no seu aspecto mais
quando os Guerreiros, de Capela, chega- puro e belo”, define Marileide.
ram lá. “Era muito bonito. Eu gostei muito Hoald estudou em Aracaju, foi para Re-
das cantigas e da dança”, lembra ele. cife, onde montou seu ateliê. Fez várias
Outro ponto interessante da história de exposições na Bahia, e chegou ao Rio de
Itabi é que o bairro Matia foi formado por Janeiro, onde morou e implantou sua ga-
negros, criando uma espécie de ‘apartheid’ leria ‘Petit Galerie Hoald’. “Ele era fasci-
no município. Eles fugiram da discrimina- nado pelo Fasc de São Cristóvão. Podia
Antônio Menezes: memória viva ção, se aglomerando e criando sua própria estar onde fosse, sempre vinha participar”,

CINFORM 109
Galeria dos ex-prefeitos: Francisco Vieira Menezes (3), Luiz José de Sá, Reginaldo Aragão da Mota (2), Manoel Gomes Conceição, José
Gomes de Sá, Antônio Valdione de Sá, José Gomes de Sá Filho e Rubens Feitosa Melo (atual reeleito)

lembra a irmã.
Marileide lamenta a falta de respeito
com um imenso painel que Hoald pin-
tou, em 1972, em frente ao Iate Clube
de Aracaju, com a frase ‘Seja bem-vin-
do a Aracaju’. “Ele foi derrubado no
governo do doutor Sóstenes (prefeito
Cleovansóstenes Pereira de Aguiar). Foi
uma grande tristeza para nós ver sua obra
destruída”, diz ela.
Na época o colunista João de Barros Hoald e seu painel destruído: tristeza para Lagoa das Panelas: primeiro nome do
escreveu: “O painel de Hoald foi destruí- a família e seus admiradores município
do para dar lugar a um monumento ao A Virgem Mãe Providência,
Lions, de muito mau gosto. Nem o Lions partir de 84 no 2º final de semana de se- Que é padroeira da nossa Itabi. C

merecia aquele monstrengo de cimento tembro. “O prefeito (Rubens Melo - de


armado, nem Hoald merecia ser vítima de 1997 a 2004) tomou o evento, que já esta- Filhos Ilustres
destruição através de uma obra de arte”. va consagrado. A festa era uma olimpíada:
Hoje no lugar existe uma arara gigante, com corridas de jegue, de cavalo, de pedes- François Hoald - artista plástico escultor e
ceramista
ladeada de cajus. tre, vaquejada, ciclismo, motocross e luta
Segundo Marileide, Hoald sempre no- de box”, lembra ele. Marileide de Melo Barreto - promotora de
minava e definia seus trabalhos. Na lateral O jegue de Valdione, Desafio, foi seis Justiça aposentada
do painel derrubado (foto), ele escreveu: vezes campeão do Brasil em Panelas Maria das Graças Moura (Gracinha) - pri-
“Inácio Barbosa, arara, caju, castanha e (PE); depois o jegue Leopardo, também meira professora do município formada na UFS
cana-de-açúcar; ARACAJU: coqueiro, dele, tomou a posição. Agora o cam-
Ronivon de Aragão - chefe de gabinete da
coco, caranguejo e mangue; ARACAJU: peão é o filho de Leopardo, que perten- desembargadora do TJ, Clara Leite Rezende.
petróleo, salgema e potássio; Tradição, po- ce a Eduardo Torres. “Eu criei a festa
der e riquezas da terra dos meus cajus”. Tudo para impedir que os jegues virassem char- Teófilo Batista de Melo - primeiro escrivão
foi destruído. que e eles passaram a ser adorados em do município
Hoald morreu em 1974 (vítima de um Itabi”, afirma ele. Romualdo Batista de Melo - auditor do
abcesso hepático decorrente de uma batida Sebrae
de carro). “Ele já estava perto de realizar Hino a Nossa Senhora
Gilton Feitosa - promotor de Justiça de So-
seu sonho, que era ir a Paris. Mas foi em- da Conceição corro
prestar seu colorido a outra dimensão da
vida. Dedicou mais da metade de sua exis- Autor: padre Antônio Rodrigues de Souza Valdinaldo Aragão de Melo - médico ci-
rurgião
tência à pintura, que o imortalizou”, desta-
ca Marileide. Mãe da Providência, José Raimundo de Melo - médico home-
Nossa padroeira, opata
Festa do jegue como Aqui viemos em veneração, Antônio Aragão - empresário do Rio de Ja-
atração turística Dos vossos filhos escuta as preces, neiro com uma casa chamada Alumínios Pro-
Roga por nós ó Mãe da Conceição. vidência
A festa do jegue de Itabi, idealizada por Graças e bênçãos a Deus sempre peça, Raul Almeida - implantou a Telefônica Ser-
Antônio Valdione de Sá, começou em 1979 Para Itabi, Virgem Maria, gipense, primeiro serviço de comunicação em
e também projetou nacionalmente o nome Agradecemos todos os bens, Sergipe antes da Telergipe
da cidade. Chegou a aparecer no Fantástico Que para nós são de valia.
Givaldo Carimbão - deputado federal por
e Globo Rural em 84, permanecendo por Aqui estamos, ó Mãe querida, Alagoas
algum tempo na vinheta de abertura desse Mais uma vez, com mais fervor,
programa. Guia este povo de Itabi, José Bernardino de Santana Filho - pá-
roco do Eduardo Gomes
Segundo Valdione, que foi prefeito no A Jesus Cristo, Nosso Senhor.
município, nessa época a maior festa era o Aos vossos pés, ó Virgem-Mãe, Francisco de Aragão Feitosa - técnico do
Natal. “No início eu pensei nas férias de Aqui estamos pra celebrar, Parreiras Horta
julho, porque não havia nada, mas depois Um centenário, de sua chegada,
me preocupei com o crescimento da festa e Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Pois em Itabi passastes a morar. Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
mudei para setembro”, lembra ele. Hum mil, oitocentos e noventa e sete, Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa
Valdione fez 18 anos de festa, realizada a num carro-de-boi, chegou aqui, do técnico agrícola Aldo Mota de Santana
Itaporanga
marco de
resistência
A terra do cacique
Surubi e de Feslibelo
Freire tem uma
marcante e bela história

S
angue, muito sangue. Por muito tem
po foi o que se viu nas terras que hoje
são o município de Itaporanga
D’Ajuda, a 29 quilômetros de Aracaju.
Localizada às margens do Rio Vaza-Barris,
aquela cidade gerou dois grandes líderes Itaporanga: nascida da resistência
sergipanos. O primeiro é o cacique Surubi,
que resistiu bravamente aos ataques portu- Resistência de Surubi ou Santo Inácio, é transformada em fre-
gueses e holandeses. O outro é Felisbello guesia sob a invocação de Nossa Senhora
Freire, um dos maiores políticos e intelec- A explicação confiável para a não ocupa- da Ajuda, ficando desmembrada da de
tuais que Sergipe e o Brasil já tiveram. ção das terras que hoje são Itaporanga é a Nossa Senhora das Vitórias, hoje cidade de
Antes que os padres jesuítas Gaspar Lou- resistência dos índios sob o comando de São Cristóvão. Nossa Senhora da Ajuda
renço e João Solônio chegassem naquelas Surubi. Eles não aceitavam a escravidão e o seria a padroeira numa cidade de Portugal e
terras, já habitavam o lugar os índios roubo de suas férteis terras. Até quando muito cultuada pelos militares.
tupinambás, sob o comando do cacique Sergipe foi invadido pelos holandeses, os
Surubi. Segundo Felisbello Freire, desde o índios resistiram. Depois da expulsão, os Vila e briga política
século XVI a região de Itaporanga já era portugueses voltaram à região e a identifi-
conhecida. Itaporanga é topônimo de ori- caram como estratégica (militar e econô- Nove anos depois, já 1º de maio de 1854,
gem tupi, e significa ‘Pedra Bonita’ - ita é mica) por conta do Rio Vaza-Barris. a freguesia passa a ser vila apenas com o
‘pedra’ e poranga é ‘bonita’. Por volta de Apesar da resistência dos índios, Fran- nome de Itaporanga. O interessante é que
1575 os padres chegaram lá, mas a missão cisco de Sá Souto Maior tomou posse efe- essas duas mudanças provocaram um racha
não foi bem-sucedida. tivamente das terras de Itaporanga em de- muito grande em São Cristóvão, que per-
A partir de 1590 acontece a violenta con- zembro de 1753. Os índios se retiraram e dia força, e que acabou provocando a mu-
quista do território sergipano e a primeira formaram uma grande povoação chama- dança da capital para Aracaju. Com o
carta da sesmaria de Itaporanga foi dada da Aldeia de Água Azeda. Francisco de Sá desmembramento da freguesia de
pelo governador da Bahia a Pedro de Lom- montou um grande engenho, o Itaporanga, os Liberais, comandados pelo
ba, em 11 de novembro de 1600. Curiosa- Itaporanga. Lá também existiam grandes Barão de Maruim, conseguiram afastar os
mente o ‘baiano’ não toma posse das terras plantações de mandioca. No Vaza-Barris, Conservadores das decisões políticas da pro-
e em julho de 1601 elas foram repassadas vários portos foram construídos para es- víncia.
para Nuno do Amaral. Ele também não coar a produção. No final da segunda me- É singular a presença de Itaporanga, ber-
tomou posse. Um ano depois, Itaporanga é tade do século XVIII existiam em ço do partido Conservador, na vida políti-
entregue outras duas vezes a Sebastião Sil- Itaporanga dez engenhos. ca de Sergipe. É preciso registrar a atuação
va, a Gaspar Amorim e a Francisco Borges. Desde o início da exploração foi erguida do brigadeiro Domingos Dias Coelho e
Eles também nem chegaram por lá. Outras a Igreja de Santo Inácio e, para alguns his- Melo, que seria mais tarde o Barão de
duas cartas de sesmarias foram dadas, mas toriadores, a aldeia de São Paulo. Em 30 de Itaporanga, e do chefe da polícia da cida-
ninguém conseguiu ocupar. janeiro de 1845, a povoação de São Paulo, de, Antônio Dias Coelho e Melo, o futuro

CINFORM 112
Felisbello Freire: exemplo de político

Região - Leste de Sergipe


tos de tais tarefas) assume então Domin- Distância de Aracaju - 29 km
gos Dias Coelho e Melo, um cidadão que População - Cerca de 20 mil
Atividades econômicas -
havia alugado o engenho Itaporanga. Agricultura e indústria
O patrimônio religioso de Nossa Senho-
ra da Ajuda (o encapelado) era um apêndi-
ce (parte) do engenho, e só poderia
administrá-lo o filho varão mais velho da
família. O encapelado era constituído por
terras, alfaias (objetos de culto religioso,
geralmente de ouro) a capela da santa junto
com a imagem e dinheiro.
Depois que o herdeiro de Temóteo,
Barnabé de Sá Souto Maior, assume a mai-
or idade, impetra ação judicial solicitando,
como herdeiro natural, o direito de posse
Barão de Estância. Os Conservadores ou do patrimônio. Essa disputa judicial entre
Rapinas dominaram a política de Sergipe as famílias Souto Maior e Dias Coelho e Beleza arquitetônica ainda é mantida

por 16 anos. Melo se arrastou por mais de 30 anos.


Em 10 de maio de 1938, através de Lei Na verdade, o que estava por trás dessa
387, a vila passa a ser cidade apenas com o disputa era o interesse pelas terras da ima-
nome de Itaporanga. Mas em 1944, estudi- gem para ampliar o cultivo da cana-de-açú-
osos descobriram que o nome da cidade car na região do Vale do Vaza-Barris.
estava contrariando a legislação federal que
proibia a duplicidade dos nomes das cida- História de Minha Infância
des. Naquele ano, Itaporanga passou a se
chamar Irapiranga. Todavia, Irapiranga du- Gilberto Amado, um dos maiores inte-
rou pouco. Em 1º de janeiro de 1949, uma lectuais sergipanos, escreveu ‘História da
lei estadual transformou o nome do muni- Minha Infância’ que conta um pouco de
cípio para Itaporanga d’Ajuda. Em julho sua vida em Estância e Itaporanga d’Ajuda.
de 1950, a cidade tinha cerca de 12 mil Prefeitura: prédio histórico
habitantes. Com a decadência da cana-de-
açúcar e do gado, Itaporanga d’Ajuda se
dedicou à cultura do coco.

A luta pelo encapelado

A disputa pelo patrimônio religioso de


Itaporanga teve início com a morte do últi-
mo administrador ‘legítimo’ da capela de
Nossa Senhora da Ajuda, Temóteo de Sá
Souto Maior. Como seus herdeiros não po-
diam assumir o cargo de administrador
(mulher e pessoa menor de idade, de acor-
do com a instituição jurídica estavam isen- Usina Belém de Felisbello Freire

CINFORM 113
Matriz: foto da década de 20 Igreja Matriz: história e fé

A seguir, alguns trechos do seu livro sobre


Itaporanga, publicado pela editora da UFS,
com o apoio da Fundação Oviêdo Teixeira:
“A mudança para Itaporanga, o carro de
boi de esteiras, ...Chegamos à meia-noite.
O cheiro de carne-seca e de bacalhau do
armazém, que era na frente da casa, inva-
dia-nos o nariz... Estância cheirava a açú-
car. Em Itaporanga, o negro, o moleque,
marcavam a fronte da paisagem, forma-
vam o cílio escuro da fisionomia do lugar...”
“Na sala atijolada, três bancos encosta-
dos às paredes. Bancos altos. Os meninos,
em sua maioria, ficavam com as pernas no
ar. Depois da minha entrada, puseram mais
dois bancos. Na parede do fundo, encosta-
va-se dona Olímpia, Sá Limpa para toda
Itaporanga. Era hidrópica, barriga imensa,
um baú, impando diante dela como o
bombo da Filarmônica Itaporanguense...” Estação ainda tem o nome de Irapiranga
“Em matéria de atividade musical,
Itaporanga limitava-se a canto de pássaros, janeiro de 1858 e morreu no Rio de Janeiro saraus. Foi um excelente historiador. Tra-
rumorejar de folhas, gemer de carro de boi, (Capital Federal) em 7 de maio de 1916. balhou como redator de “O Porvir”, “O
mugido, ranger de moendas, orquestra de Foi um brilhante estudante da primeira tur- Horizonte”, “O Republicano”, “Jornal do
sapos... A filarmônica de Itaporanga só se ma do Colégio Atheneu Sergipense. For- Brasil”, “Gazeta da Tarde”, “Folha da Noi-
criou depois da primeira viagem de meu mou-se em Medicina na Bahia e depois te” e de vários outros. Entre as principais
pai ao Rio, de onde trouxe instrumentos de voltou a Sergipe, indo trabalhar como clí- obras estão: “História Constitucional da Re-
metal e de sopro. Para regente, mandou nico geral em Laranjeiras. pública dos Estados Unidos do Brasil”, “His-
buscar na Estância nosso primo, o Era um defensor intransigente do tória da Cidade do Rio de Janeiro de 1500
entalhador e maestro Joãozinho Almeida... abolicionismo e defendia a Democracia. a 1900”, “História Territorial Brasileira”,
Mas a obra maior de meu pai no terreno Fantástico jornalista, organizou o Partido “História de Sergipe”, etc.
‘artístico’ foi a criação do teatro. Baltazar Republicano e foi um dos responsáveis pela Outros grandes nomes nascidos em
Góis, professor e poeta, e Manuel dos Pas- instituição da República no Brasil. Em 21 Itaporanga d’Ajuda são os professores e
sos de Oliveira Teles, juiz e poeta que tinha de novembro de 1898 foi nomeado como grandes intelectuais Baltazar de Araújo
sido discípulo de Tobias Barreto, vinham a primeiro governador de Sergipe no novo Góis e Genolino Amado, além de Antô-
Itaporanga para as representações...” regime. Ficou no cargo até 17 de agosto de nio Dias Coelho e Melo, o Barão de Es-
1890. Criou o serviço público. Depois foi tância. C
Felisbello Freire: orgulho eleito deputado à Assembléia Constituinte
de Sergipe e fez a reorganização dos Estados. Foi Texto: CRISTIAN GÓES
reeleito deputado por cinco vezes. Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
Um dos maiores, senão o maior político Sua capacidade era tanta que foi nomea- Fonte: Pesquisa de Luiz: “Itaporanga de 1850-1860 - Con-
tribuição a sua história”, de Jorge Marcos de Oliveira; “His-
e intelectual de Sergipe, Felisbello Firmo do como ministro da Fazenda e como se- tória da Minha Infância”, de Gilberto Amado; Álbum de
de Oliveira Freire, é um orgulho de cretário de Negócios Exteriores. Era músi- Sergipe; Dicionário Bio-Bibliográfico de Sergipe; e Enciclo-
pédia dos Municípios Brasileiros
Itaporanga d’Ajuda. Ele nasceu em 30 de co esforçado. Chegava a fazer concertos e

CINFORM 114
Japaratuba
terra da saúde

Município de
Garcia Rosa, Simeão
Sobral e do Barão
de Traipu foi um dos
mais desenvolvidos
de Sergipe

Q
uem trafega pela BR-101 no sen
tido norte de Sergipe,a 54 quilô
metros de Aracaju, vai avistar dois
campanários pintados de branco. São as
torres da Igreja Matriz de Nossa Senhora
da Saúde de Japaratuba, que sobre uma
verdejante colina abençoa os moradores
e os viajantes que cortam o Estado. É Matriz de Nossa Senhora da Saúde: socorro da cidade
assim que o historiador japaratubense
Eduardo Cabral, o Dudu do Cartório, de Barros, o cacique Pindayba, um exem- nio do cacique Japaratuba. O grupo era
apresenta sua terra. plo de resistência, foi trucidado na Ilha de liderado pelo frei João Batista da Santís-
A história desse município é contradi- São Pedro de Porto da Folha. sima Trindade. Num local chamado de
tória até na definição do nome. Para al- Canavieirinhas, os religiosos encontram os
guns historiadores, como Pirajá da Silva, Posses e Frei João índios da nação Boimé. Mas logo que che-
Japaratuba vem de yapara + tupa, que garam foram acometidos pela varíola que
quer dizer “sítio onde existe abundância Ainda nos primeiros anos da conquista, assolava a região. Os religiosos, índios e
de arcos”. Para outros, como Pascoal foram doadas grandes quantidades de ter- colonos sobreviventes, se mudaram para a
D’Ávila, o nome quer dizer “rio de mui- ras no regime de sesmarias. No dia 15 de parte mais alta chamada de ‘Alto do Bor-
tas voltas”. Já outra corrente, inclusive a julho de 1623 as terras que ficam “entre o gardo’ ou ‘Lavradio’, um morro que hoje
do historiador japaratubense Antônio Rio Sergipe e o Japaratuba” foram repassa- ainda fica nos fundos da igreja matriz. Essa
Wanderley, o nome quer dizer “muito ter- transferência de local recebeu o nome de
das para Bernardo Corrêa Leitão, Francisco
reno arenoso à beira mar”. Escolha a sua e Missão de Japaratuba.
vamos adiante. Duas certezas: Japaratuba de Souza e Antônio Fernandes Guindastre.
Na colina ‘segura’, frei João deu iní-
vem do tupi e é o nome do rio. Curiosamente, o capitão Pedro Barbosa Leal
cio à construção de um convento e de
Conta a história que, por volta de 1590, e Paulo de Matos receberam também a uma igreja. Ela foi erguida e sugestiva-
quando Cristóvão de Barros chega definiti- mesma sesmaria entre os rios, todos os dois mente invocada à Nossa Senhora da Saú-
vamente para se apossar de Sergipe, muitas em meses diferentes do ano de 1691. Se os de de Japaratuba, “certamente traduzin-
guerras foram travadas contra os índios. índios eram tão pacíficos por que os portu- do um brado de socorro enviado à Vir-
Sabedor de que as fortes colunas de Cristó- gueses tinham dificuldades de se estabele- gem contra a moléstia que fazia inúme-
vão tinham dizimado nações inteiras no sul cer nessas terras? ras vítimas”. Ao lado do convento e da
do Estado, o cacique Morubixaba Japara- Em 1698, alguns frades tentavam igreja, algumas casas foram levantadas e
tuba teria se rendido ao português antes de catequizar os índios, entre eles frei Antô- a Missão de Japaratuba passou a ser co-
qualquer conflito. Essa versão também é nio da Piedade. Por volta de 1704, religi- nhecida. Por causa dos rios e das terras
contestada. Mas se sabe que depois da ‘ade- osos da Irmandade dos Carmelitas Calça- férteis, alguns engenhos de cana-de-açú-
são’ de Japaratuba às tropas de Cristóvão dos chegaram àquelas terras sob o domí- car foram montados.

CINFORM 115
Região - Norte
Distância de Aracaju - 54 km
População - Cerca de 20 mil
Atividades econômicas - Agricultura

Expulsão e renascimento

Expulsos de Portugal e depois do Bra-


sil, pela lei de Marquês de Pombal, os
religiosos deixaram Japaratuba. Nada
mais de catequeses nem de brancos, nem
de índios. O cultivo das terras pratica-
mente terminou. O convento ficou aban-
donado e depois foi transformado num
cemitério. Mas os efeitos da presença Japaratuba é considerada celeiro da cultura sergipana
holandesa foram logo sanados. Com uma
posição estratégica e de posse de rios na-
Força econômica e decadência
vegáveis e fundamentais para o desen-
volvimento, Japaratuba volta a crescer,
Japaratuba foi um dos maiores produ-
ou melhor, renasce para um grande pro-
tores de açúcar de Sergipe. O reflexo se via
gresso.
na composição social. O município foi sede
Em 2 de janeiro de 1811, o povoado já
era considerado Distrito Administrativo. de um dos maiores baronatos. O seu titular
Um dos responsáveis pela Missão dos Índi- foi Gonçalo de Faro Rollemberg, o Barão
os e o Hospício dos Carmelitas de Japara- de Japaratuba, senhor e proprietário do
tuba era frei José Marcolino. No dia 27 de Engenho Topo. Seu título de barão foi ou-
junho de 1854, o presidente da Província torgado por Dom Pedro II.
de Sergipe, Inácio Joaquim Barbosa, trans- Desde o início de sua formação, Japa-
forma o distrito em Freguesia de Nossa ratuba, que nasceu cercada de engenhos,
Senhora da Saúde de Japaratuba. Em 2 de recebeu um grande fluxo de escravos. De
agosto de 1858, o bispo da Bahia confirma acordo com Felisbello Freire, o município
a existência da freguesia e empossa o seu chegou a ter mais escravos - cerca de 890 -
primeiro vigário, o padre Domingos Hen- do que pessoas livres - 667. Em Japaratuba
riques de Lima. Ele morreu em 1896 e seus se formou um dos mais importantes qui-
restos mortais estão sepultados no altar- lombos de Sergipe. Hoje, o quilombo é o
mor da matriz. Povoado Patioba.
No dia 11 de agosto de 1859, a fregue- Em 1888, ano da “libertação dos escra-
sia era elevada à categoria de vila, libertan- vos”, Japaratuba tinha mais de cem enge-
do-se do município de Capela. Só em 24 de nhos produzindo açúcar. Todos funciona-
agosto de 1934, a sede do município se vam bem, alguns a água; outros, a tração; e
transforma definitivamente em cidade e os maiores, a vapor. O município era tão
ainda passa a ser comarca de Japoatã e Car- desenvolvido, que em 1874 vários donos
mópolis. Bispo do Rosário: hoje, filho ilustre de engenhos se reuniram para instalar em

CINFORM 116
Filhos Ilustres
Antônio Garcia Rosa - Nasceu em 8 de
dezembro de 1877 no engenho ‘Riacho Pre-
to’, em Japaratuba. É poeta profundamente
inspirado e com justiça, muito respeitado na-
cionalmente. Formou-se em Farmácia pela
Faculdade de Medicina da Bahia. Foi um dos
melhores professores do Atheneu. Viveu boa
parte de sua vida no Bairro Santo Antônio, em
Aracaju e aqui morreu.

Adalberto Simeão Sobral - Nasceu no En-


genho São José, Japaratuba, em 1887. Estu-
dou no Atheneu Sergipense, em Aracaju, e
depois entrou para o Seminário Episcopal de
Maceió. Ordenou-se padre em novembro de
1911 e veio para o recém-Bispado de Araca-
ju. Por muitos anos foi diretor e professor no
seminário. Foi o primeiro redator e diretor do
jornal “A Cruzada”. Foi bispo de Pesqueira/PE
e arcebispo de São Luiz no Maranhão. Morreu
A matriz localizada no morro em Aracaju.

Manoel Gomes Ribeiro - Nasceu em 1841


no Engenho Santa’Anna, em Japaratuba. Logo
cedo mudou-se para Penedo/AL. Foi chefe do
Partido Conservador, foi vereador e deputado
estadual, chegando à presidência da provín-
cia de Alagoas. Ganhou o título de Barão de
Traipu. Foi senador, presidente do Senado e
governador de Alagoas.

Gonçalo de Faro Rollemberg - Deputado


provincial, no Império. Deputado estadual na
República. Foi presidente da Assembléia Le-
gislativa, chegou à presidência do Estado e se-
nador por nove anos.

Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel Jú-


nior - Foi deputado estadual e o primeiro in-
tendente em Japaratuba.

João Maria Loureiro Tavares - Foi de-


sembargador de relação e presidente do
Estado.

Heribaldo Dantas Vieira - Político e advo-


gado. Chefe de Polícia (secretário de Segu-
rança), chegou ao Senado.
Procissão de Nossa Senhora da Saúde
Carlos Vieira Sobral - Foi o primeiro juiz e
Japaratuba um grande engenho central. O fornecia luz para iluminação pública e para desembargador.
grupo ainda chegou a assinar um contrato apenas 158 domicílios. A cidade tinha ape- Moacir Sobral Barreto - Industrial. Foi de-
de empréstimo com a Companhia North nas um hotel, e a prefeitura só tinha regis- putado estadual e chegou a assumir o Gover-
Brasilian Sugar Factories Limited. trados três automóveis e dois caminhões. no do Estado como presidente da Câmara de
Deputados.
Depois da Proclamação da República Não existia banco, casa bancária ou agên-
e com a crise que se abatia em todos os cia de crédito. Nem as descobertas do pe- José Francisco da Silva Zuca - Ouvires,
países, a cultura da cana-de-açúcar entrou tróleo e do potássio promoveram a reden- fogueteiro, alfaiate, mecânico, pintor e inven-
ção do município. tor da lançadeira de forma circular para má-
em colapso. Os números de engenhos fo- quina de costura. Lutou na guerra do Paraguai.
Vale ressaltar que uma das maiores ri-
ram diminuindo até a sua extinção. A agri-
quezas do município é a cultura do povo. Arthur Bispo do Rosário - Esquizofrêni-
cultura familiar, o cultivo do coco, a pesca Japaratuba é conhecida nacionalmente pelo co - paranóico, passou quase 50 anos interna-
e a pecuária foram as alternativas para o do na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Ja-
seu folclore, principalmente pela Festa de neiro. Construiu uma obra plástica reconheci-
município. Reis ou Festa de São Benedito (olha a pre- da mundialmente, tendo seus trabalhos expos-
A implantação da linha de trem da Rede sença negra aí), comemorada em 6 de ja- tos na Holanda, Bélgica e inclusive represen-
Ferroviária Federal pelo município ajudou, tou o Brasil na Bienal de Veneza em 1995.
neiro. É nessa festa que se brinca de cabaci-
mas não resolveu a crise deixada pela cana. nha, um artefato feito de parafina, cheio de
Na década de 40, Japaratuba chegou a ter água, que é jogado nas pessoas com o obje- Texto: CRISTIAN GÓES
um pequeno comércio e algumas indústri- Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
tivo de molhá-las. Ainda merecem registro Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Dicionário Bio-
as de manufaturados, mas a situação já era especial o Cacumbi, a Taieira, o Reisado e a Bibliográfico de Sergipe, de Armindo Guaraná, e pesquisas
difícil. Um gerador movido a óleo diesel Chegança de Japaratuba. C do historiador Eduardo Cabral, o Dudu do Cartório
Japoatã
a cidade do tesouro perdido
Município chamou-se
Jaboatão e foi fundado
pelos jesuítas,
que escolheram o local
para suas preces

H
á dúvidas quanto à fundação de
Japoatã, que foi habitada anteri
ormente por índios. De acordo
com a Enciclopédia dos Municípios Brasi-
leiros, a versão mais provável é que tenha
sido fundada pelos franciscanos, sob a ins-
piração de frei Antônio Santana Jaboatão,
que teriam construído uma capela e um
convento em 1572.
Vista parcial do centro da cidade: visão da torre da igreja
Sabe-se que foi no ano de 1575 que se
iniciou a conquista do território de Sergipe,
a partir das margens do Rio Real, no Sul do Desterro, mosteiro e casas dos escravos dis- Evolução política
Estado. O certo é que antes de 1630 já exis- postas ao redor, além de alguns moradores
tia o convento construído pelos jesuítas so- livres. Em 30 de dezembro de 1768, os je- A primeira notícia sobre a evolução polí-
bre o Monte Jaboatão. suítas foram expulsos de suas terras, por tica de Japoatã foi de 23 de dezembro de
O professor José Bezerra dos Santos, em ordem do Marquês de Pombal, o qual con- 1910, quando o então presidente do Esta-
seu livro ‘O Tesouro de Jaboatão’, afirma fiscou os bens da companhia. do, Luiz Garcia, assinava a lei criando o
que os frades jesuítas escolheram aquele lo- Com a saída dos jesuítas, tudo ficou no município de Jaboatão, desmembrando seu
cal para suas preces, descanso das jornadas abandono. A povoação quase se extinguiu, território de Pacatuba. Os pacatubenses, não
fatigáveis e abrigo seguro onde guardas- e o velho convento e a igreja ruíram. Os aceitando o fato, contaram com o apoio de
sem, sem receio, as jóias e alfaias da igreja. habitantes das redondezas aproveitaram o influentes políticos da época que fizeram
“Para isso levantaram as grossas paredes do material para novas construções no mesmo com que a lei caducasse e o município não
famoso mosteiro, plantaram no cume do local onde os jesuítas moravam. À nova fosse instalado.
monte o Cruzeiro de Pedra, Santo Pio e, a povoação deram o nome de Jaboatão, acei- Uma nova lei, porém, assinada em 20
determinada distância, ergueram a Igreja tando a hipótese de que foi o frade francis- de outubro de 1926, transferiu a sede do
Nossa Senhora das Agonias”. cano quem primeiro catequizou os índios município de Pacatuba para a povoação
Alguns cristãos se ofereceram para esca- da região. de Jaboatão. Somente pelo decreto-lei 69,
var um subterrâneo sob o monte, com labi- O juiz aposentado Jonalter Vieira An- de 28 de março de 1938, doze anos de-
rinto e largos corredores onde foram colo- drade está escrevendo um livro sobre a his- pois, Pacatuba foi novamente elevada à
cados os mais preciosos bens da igreja, fi- tória de Japoatã. Ele acredita que a versão categoria de vila.
cando a salvo dos inimigos. mais provável do surgimento do nome da Em 31 de dezembro de 1943, Jaboatão e
cidade é que a palavra Jaboatão vem da seu distrito Pacatuba passaram a ter a de-
Fazenda modelo palavra indígena Inhapotã, que significa nominação, respectiva, de Japoatã e Paca-
madeira alta, matas grandes. “As matas do tiba, por causa do decreto-lei número 377.
Em 1757, Jaboatão era uma fazenda- local onde hoje é a cidade podem ter sido Segundo Antônio Marques, isso ocorreu
modelo com a Igreja de Nossa Senhora do muito altas e fechadas”, explica ele. porque os povoados, vilas e municípios bra-

CINFORM 118
Início da construção da segunda igreja de
Japoatã em 1938, no mesmo local da primeira

fazer doações à imagem, primeira padroei-


ra do local. Esses tesouros foram enterra-
dos no esconderijo, logo que os padres da
Companhia de Jesus souberam que os ho-
landeses haviam tomado Olinda (PE). Em
1630, a imagem de Nossa Senhora das
Região: litoral norte
Agonias seguiu para Roma, por ordem do Distância de Aracaju: 94 Km
Vaticano, ficando a de Nossa Senhora do População: 13.035
Desterro no lugar. Atividades econômicas: pecuária e
Quando em 30 de dezembro de 1768, os fruticultura.
jesuítas foram expulsos de suas terras pelo
Marquês de Pombal, apressados, eles depo-
sitaram tudo que havia de valioso no labi-
rinto e fizeram o desenho do mapa indican-
do o local exato onde o tesouro foi enterra- lo XVII pelos padres da Companhia de Je-
do, para ser descoberto após as persegui- sus, segundo lenda o Cruzeiro é o ponto de
ções, 163 anos depois. Em 5 de maio de partida do subterrâneo onde estão escondi-
1931, o lavrador Pedro de Alcântara so- dos os tesouros.
nhou com um frade velho, de barba grande A professora Selma Maria Ferreira San-
e cabelos brancos, que o chamou para cavar tos diz que os mais antigos contavam que
em um determinado local. na praça havia uma fenda que quando se
Segundo o pesquisador Antônio Marques colocava uma moeda, ela caía durante al-
da Silva, no dia seguinte pela manhã, Pedro gum tempo, depois ouvia-se o barulho. “Eu
chamou o vizinho, contou seu sonho e com- sempre soube que embaixo do Cruzeiro
binaram de ir à noite ao local, a 200 metros havia túneis em forma de labirinto”, co-
sileiros não podem ter nomes iguais, o que da vila. “Pedro e Raimundo cavaram um menta a professora.
dificulta a administração federal. Por isso buraco de dois metros e trinta de profundi-
os primeiros municípios fundados tiveram dade, retiraram um caixote, que continha Cópia de uma placa com
seus nomes confirmados e os mais novos duas placas envolvidas com uma camada mapa do tesouro
foram modificados. de gesso, que combinadas com outras duas
A situação durou até 25 de novembro de dariam a localização exata do subterrâneo. LX. Braças a contar da porta central do
1953, quando a lei número 525-A criou o Antônio diz que eles encontraram tam- convento, ao cruzeiro de pedra Santo Pio
município de Pacatuba, desmembrando-o bém duas imagens de 70 centímetros cada, X, Papa, aí encontrar-se-á o grande cabe-
do de Japoatã. Jonalter Andrade diz que de fina lavra, e uma chave grande do salão dal em ouro, prata, o altar de marfim, as
quando ainda era criança chegou a ver rixas principal. A filha de Raimundo, Jolinda, imagens de Nossa Senhora das Agonias
entre pessoas de Japoatã e Pacatuba. lavou as placas. De tanto arear, uma delas em ouro de finíssima lavra e outras orna-
Atualmente Japoatã é uma cidade paca- ficou com uma parte ilegível. A placa legí- das em ouro. Umas grandes e outras pe-
ta e agradável. Mas a população reclama da vel mostra uma parte da explicação para se quenas, o lendário sino de platina com flo-
não preservação da história da cidade. “Mui- chegar ao tesouro e os objetos que contêm rões externos de ouro e pedras preciosas,
tos prédios históricos foram destruídos e os no local. (Ver no box). jóias rutilantes da igreja, custódias em pé-
que ainda estão em boas condições são des- Originalmente, as inscrições estão ao rolas, rubis, esmeraldas. Turíbulos, nave-
caracterizados. A história deve ser mais bem contrário. Para ler, deve-se colocar em frente tas de finíssimo relevo, móveis que este
cuidada”, defende a professora Selma Ma- ao espelho. A descoberta das placas cha- século nunca viu pela beleza e arte. Doa-
ria Ferreira Santos. mou a atenção de todo o Estado, inclusive ções dos devotos a Nossa Senhora das
foi publicado em diversos jornais locais e Agonias ao serem desterrados. Todos con-
O misterioso tesouro nacionais. fiados à abadia e guardados nos salões do
de Japoatã Da época dos jesuítas só existem na cida- subterrâneo, cavados e esquadrinhados nas
de a pia batismal e o Cruzeiro de Pedra, este entranhas do outeiro de argila dura, com
Na época dos jesuítas, os devotos de localizado na praça principal da cidade, em grande profundidade, sem o perigo de de-
Nossa Senhora das Agonias costumavam frente à Igreja Matriz. Construído no sécu- sabamento. Os engenheiros da companhia

CINFORM 119
Primeiras casas da povoação

determinaram a profundidade e o compri-


mento das curvas do subterrâneo que tem
Cruzeiro: um dos objetos que restam da época
como centro o lendário de pedra. dos jesuítas

Mulher de família nobre A vida difícil em Jaboatão


assassina o marido
* ANTÔNIO MARQUES DA SILVA Praça central com vista parcial da cidade

Uma história que até hoje é um tabu na


cidade é de uma ilustre mulher que no iní- Os primeiros habitantes de Jaboatão, uma imagem de Nossa Senhora, que em
cio da década de 30 matou o marido por- hoje Japoatã, levaram uma vida muito redenção dos aflitos que se encontravam
que ele a traía. Segundo contam os mora- difícil. Em sua grande maioria, não eram por ali, foi batizada de Nossa Senhora das
dores, que preferiram omitir os nomes dos donos de sesmarias, mas sim escravos ou Agonias. C

principais personagens da história, quando prepostos. Sua alimentação era basica-


* Tenente reformado do Corpo de Fuzileiros Navais, pes-
a esposa viu o marido chegando mais uma mente carne e leite, que havia em abun- quisador da história de Japoatã
vez bêbado em casa, o que já era rotina, dância. Para a iluminação, contavam com
esperou os filhos dormirem e chamou os óleo dos jatobás.
empregados Roque e Pureza para ajudá-la A farinha era o alimento mais acessível a
no assassinato. Quando a mulher o dego- todos, mas a escassez de chuvas, que difi-
lou, Pureza aparou o sangue com um balde cultava o cultivo da mandioca, tornava-a
para não deixar pistas no chão. rara. Os moradores contavam também com
Os três amarraram uma pedra no corpo frutas silvestres e o mel de abelhas era de-
dele e o jogaram dentro da lagoa da fazen- vorado com avidez.
da, que ficava em frente à casa do casal. O O couro era um produto importante para
cachorro da família, que era muito ligado a região, com o qual se fazia camas para Praça da Igreja Matriz de Japoatã
ao dono, depois do fato começou a nadar parto, cordas, o mocó para armazenar água
todos os dias até o meio da lagoa e latia no e os alforjes nos quais guardavam comida. Filhos Ilustres
local durante um tempo. Até que um dia No couro também pilavam o fumo para
parte do corpo submergiu. ser cheirado. Leandro Diniz Faro Dantas - Foi diretor
do Colégio Atheneu de 1922 a 1931, deputa-
O tenente da polícia notou o desapareci- Era uma terra sem lei. Os mais abastados do estadual em duas legislaturas, industrial e
mento do ilustre senhor e acabou resgatan- mandavam assassinar com tanta frequên- professor de Francês.
do o corpo de dentro da lagoa. Quando ele cia que a vida de um homem valia tanto
começou a investigar, encontrou uma pinta quanto uma caça. A insegurança imperava Gimarcos Evangelista de Alcântara -
Promotor de Justiça da Comarca de Itabaiana.
de sangue na parede, que os empregados sobre todos. Em manuscritos encontrados
disseram ser do cachorro, que havia se ma- em Japoatã, em placas de metal, estava es- José Bezerra dos Santos - Juiz que es-
chucado recentemente. crito: “O crime, sob todas as maneiras, creveu o livro “O Tesouro de Jaboatão”.
Interrogando os filhos do casal, o tenente campeia altivo e sobranceiro ao abrigo da
descobriu que uma das crianças viu Pureza corrupção judiciária, cujos ouvidores, cor- Ana Elma Nascimento Silva - Poetisa
Angélica Guimarães Marinho - Médica,
lavando uma roupa suja de sangue, então ruptos, imorais e fracos são verdadeiras som- ex-prefeita do município e atualmente
os autores do crime acabaram confessando. bras que, em vez de representarem a Justi- deputada estadual.
A esposa, por ser muito influente, acabou ça, maculam-na”.
ficando pouco tempo presa, mas logo de- Lá chegando, os jesuítas, encontraram Jonalter Vieira Andrade - Juiz aposen-
tado que está escrevendo um livro sobre a
pois ficou doente e morreu. A lenda diz parte da tribo do Cacique Pacatuba e seu história de Japoatã
ainda que foi encontrada embaixo do tra- irmão, Japaratuba, que os abrigaram até que
vesseiro da assassina uma cobra, que signi- fossem construídos uma precária pousada e
Texto: CARLA PASSOS
fica uma maldição por sete gerações. Coin- um oratório, utilizando-se da madeira po- Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
cidência ou não, alguns parentes dela já derosa dos jatobás. Com tudo pronto, rea- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa
morreram de tragédia. lizaram uma missa solene e entronizaram de Antônio Marques da Silva
4Projetos Arquitetônicos e Estruturais 4Especificações e Quantitativos de Materiais
4Projetos Hidráulicos, Elétricos e Telefônicos 4Aprovação e Coordenação de Projetos
4Projetos de Cabeamento Estruturado 4Planejamento, Gerenciamento, Fiscalização
4Projetos de Lógica / Rede de Computadores e Orçamentos de Obras
4Projetos de Esgoto / Tratamento de Esgoto 4Maquetes Eletrônicas
4Projetos de Aterros Sanitários 4Consultorias em Engenharia e Arquitetura
4Projetos e Consultoria em Engenharia Ambiental 4Avaliações e Regularizações de Imóveis
4Projetos de Drenagem 4Laudos de Vistoria Técnica (Lei 2.765)
4Projetos de Prevenção e Combate a Incêndios 4Perícias de Engenharia
4Projetos de G.L.P. / GN (gás) 4Plano Diretor, Código de Obras, Código de
4Projetos de Sonorização / Acústica Urbanismo e Código Tributário
4Projetos de Climatização (ar condicionado) 4Cadastro Imobiliário (IPTU, ITBI e Taxas)
4Projetos Executivos (compatibilização) 4Cadastro Mobiliário (ISS e Taxas)

Laranjeiras
Um museu a céu aberto, com um povo de braços abertos para o mundo.
Lagarto
terra dos
intelectuais
O município é um dos
mais antigos de Sergipe
e tem uma fantástica
e épica história

D
epois de São Cristóvão e Itabai
ana, o município de Lagarto, a
78 quilômetros de Aracaju, é a
vila mais antiga de Sergipe. Se a coloniza- Lagarto: mais de 400 anos de história
ção européia chegou naquelas terras por
volta de 1595, então acredita-se que o con-
tato com os índios já vinha acontecendo
desde 1540.
Existem relatos históricos dando conta
que os religiosos encontram uma aldeia de
índios Kiriris na confluência dos rios Piauí
e Jacaré, que tinham o comando do cacique
Surubi. Por volta de 1575, os jesuítas le-
vantaram uma capelinha com o nome de
São Tomé, o Apóstolo, e depois uma escola
para os curumins.
Naquela região os religiosos ainda teri-
am levantado mais duas capelas: a de Santo
Antônio e a de São Pedro e São Paulo. En-
tre os jesuítas estavam Gaspar Lourenço e
João Solônio. Na aldeia de São Tomé já
moravam mais de dois mil índios. Mas o
sanguinário governador Luiz de Brito che-
ga de surpresa na aldeia e extermina boa
parte dos índios. Matriz de Nossa Senhora da Piedade

Santo Antônio e Lagarto Antônio a partir de maio de 1956. Outro da Piedade. Ali existia um riacho que, por
nome importante na fundação de Lagarto causa de pedras em forma de lagarto, aca-
Quando da invasão de Sergipe por Cris- é Muniz Álvares. Ele montou grandes fa- bou dando nome à nova povoação, que re-
tóvão de Barros, em 1590, as terras que zendas de gado. começou a crescer.
formam o município de Lagarto já tinham O povoado ficava a seis quilômetros da Mas existe uma outra versão para o nome
sido doadas em forma de sesmarias para atual sede do município. Mas em 1645, por de Lagarto, não tão confiável. Tudo leva a
Gaspar d’Almeida e Gaspar de Menezes. causa de uma varíola, muitos moradores crer que Antônio Gonçalves de Santana,
Cristóvão também doou as terras a um de morreram. Os que conseguiram escapar, que pertencia à casa de Dom Manuel, O
seus fiéis soldados, Antônio Gonçalves de fugiram para um local mais alto, onde está Venturoso, tenha trazido para o Brasil o
Santana. Ele ergue a povoação de Santo justamente hoje a praça de Nossa Senhora brasão da família e nele existiam três lagar-

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ríodo da invasão holandesa. As povoações
teriam ficado sem lei e eram verificados
todo o tipo de desordem e crimes. O capi-
tão Belchior Moreira, conhecido como ca-
pitão Muribeca, foi o primeiro comandan-
te do Corpo de Infantaria de Ordenanças
em Lagarto.
Em 1674, foram criados dois órgãos de
repressão em Lagarto: Entrada de Mocam-
bos e Companhia dos Homens Pardos. Es-
sas duas entidades militares tinham a fun-
ção de ‘limpar’ os sertões dos mocambos
dos negros fugidos, que eram acusados de
roubos e assassinatos nas fazendas. Mais uma
vez Belchior Moreira comanda um órgão,
o outro ficando sob a responsabilidade de Região - Oeste de Sergipe
Francisco de Barros. Distância de Aracaju - 78 km
População - Cerca de 80 mil
Todas essas incumbências transformaram Atividades econômicas - Agricultura
logo a povoação do Lagarto num grande e pecuária
centro militar, populacional e econômico.
Por volta de 1679, a força chegava a se es-
tender às povoações de Jeremoabo e Itapi-
curu, hoje na Bahia. O resultado é que em
11 de dezembro de 1679, foi oficializada a Representantes do Povo. No final do sécu-
criação da Freguesia de Nossa Senhora da lo, Lagarto já se sobressaía na capitania. Era
Piedade do Lagarto. Dois anos depois da o maior núcleo populacional, possuía mais
criação da Ouvidoria autônoma de Sergi- de seis mil habitantes, e era o maior expor-
pe, já em 1698, a Coroa Portuguesa deter- tador de gado.
mina que a freguesia se torne oficialmente Veja o que escreveu o historiador Dom
tos. No entanto, em vários documentos, Vila do Lagarto. Marcos Antônio de Souza em sua ‘Memó-
como no livro nº 1 do arquivo da paróquia, ria da Capitania de Sergipe’: ‘Aquela época
existe a indicação da povoação como Nos- Perdas significativas (1802) a sociedade lagartense dava mostras
sa Senhora da Piedade da Pedra do Lagarto. de um índice de vida em geral destacado.
Em 1718, a Vila do Lagarto sofre uma O povo da vila costumava apresentar-se
Da freguesia a vila forte perda. Dela é desmembrada a Fregue- bem vestido nos dias festivos, fazendo os-
sia de Nossa Senhora dos Campos do Rio tentação de sua grandeza’.
Em 1658 a capitania de Sergipe cria três Real, hoje Tobias Barreto. Mas os lagarten- Mas de 1830 a 1860, a poderosa Vila do
distritos militares fixos: São Cristóvão, Ita- ses davam demonstrações de resistência. Lagarto sofre outras três grandes baixas ter-
baiana e Lagarto. Isso se deu depois do pe- Em 1727, a vila já possuía a Câmara de ritoriais e econômicas. Em 1834 é criada a
Freguesia de Nossa Senhora Santana, em
Simão Dias. Um ano depois, Lagarto tam-
bém perde com a criação da Freguesia de
Nossa Senhora Santana da Lagoa Verme-
lha, hoje Boquim. Em 1855 nasce dentro
do território do Lagarto a Freguesia de
Nossa Senhora do Amparo do Riachão,
hoje Riachão do Dantas. Só para se ter uma
idéia das perdas de Lagarto. Boquim, em
1860, chegou a ter mais receitas do que a
de Lagarto. Em 20 de abril de 1880, a Vila
de Lagarto se transforma em cidade.

Ressurgimento e figuras

Só depois de 1930, Lagarto consegue se


recuperar das perdas e volta a crescer, sendo
até hoje um dos mais prósperos municípi-
os. Nas décadas de 40, 50 e 60, o município
alcança grande desenvolvimento econômi-
Praça da Piedade, em 1951 co. Na agricultura, a produção de fumo e

CINFORM 123
cionado várias disciplinas e consolidado sua
carreira de escritor, jornalista e filólogo.
Como jornalista, foi diretor da Gazeta
de Notícias e colaborou em diversos jor-
nais, entre eles o Jornal do Brasil, Jornal do
Commercio e O País.
Em 1918 fundou a Revista da Língua
Portuguesa, que ele também dirigiu, pu-
blicando trabalhos de alto valor, como a
Réplica de Rui Barbosa. Fundou e dirigiu
também a Estante Clássica. É o autor do
Feira de Lagarto na década de 50 grande e novíssimo dicionário da língua
portuguesa.
mandioca se destacava. O parque industri- Foi um dos maiores defensores da sim-
al lagartense chegou a ter 440 fábricas de plificação da ortografia no Brasil. Em 1920,
diversas espécies, como de bebidas, massas, a Liga da Defesa Nacional convidou-o a
manteiga, beneficiamento de algodão, cal- substituir Olavo Bilac. Morreu no Rio de
çados e confecção. O rebanho pecuário ul- Janeiro, em 18 de junho de 1937. C

trapassava as 20 mil cabeças.


Além de um cinema, o cine-teatro Gló- O fantástico Sílvio Romero
ria, com mais de 600 lugares, Lagarto teve
a Associação Musical Lira Popular, com 80 Sílvio Romero nasceu em Lagarto em
sócios, e o Confiança Esporte Clube. O 21 de abril de 1851. Convidado a compa-
município ainda tinha um grande jornal, recer à sessão de instalação da Academia
‘A Voz de Lagarto’. Brasileira de Letras, em 28 de janeiro de
Além de Aníbal Freire, Sílvio Romero e 1827, fundou a cadeira 17.
Laudelino Freire (veja um pouco sobre eles Em Lagarto fez os estudos primários. Em
nesta página), Lagarto também produziu 1868 foi para a Faculdade de Direito do
muitos filhos ilustres, como o desembarga- Recife. Formou, ao lado de Tobias Barreto,
dor Enoque Santiago, o juiz João Dantas Defensor de Tobias Barreto a Escola do Recife. Ele teve grande atuação
de Brito, o farmacêutico Filinto Fontes, jornalística na imprensa. Assim que se for-
padre Possidônio da Rocha, monsenhor sultor geral da República, do qual se afas- mou, exerceu a promotoria em Estância.
João Batista Daltro, o juiz Filomeno Hora, tou por ter sido nomeado ministro do Su- Atraído pela política, em 1874 elegeu-se
professor Manuel Joaquim de Oliveira premo Tribunal, no qual se conservou até deputado à Assembléia Provincial de Ser-
Campos, Abelardo Romero, Ranulpho Pra- maio de 1951, quando se aposentou. gipe.
ta, entre muitos outros. Começou a militar no jornalismo em Em fins de 1875 transferiu-se para o Rio
1898, colaborando no Tempo e no Estado de Janeiro. Foi para Parati, como juiz mu-
O ministro Aníbal Freire de Sergipe. Foi redator da Gazeta da Tarde nicipal. Em 1880 entrou como professor
no Rio e redator do Diário de Pernambuco. de Filosofia no Colégio Pedro II. Fez parte
Aníbal Freire nasceu em 7 de julho de Foi diretor do Jornal do Brasil. Aposenta- também do corpo docente da Faculdade
1884, em Lagarto. Laudelino era seu tio. do no cargo de ministro, voltou à direção Livre de Direito e da Faculdade de Ciências
Foi eleito para a cadeira três da Academia do Jornal do Brasil, em julho de 1951, do Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro.
Brasileira de Letras. qual se afastou, definitivamente, em 1961. No Governo de Campos Sales, foi depu-
Ainda estudante, em 1898, começou a Morreu no Rio de Janeiro, em 22 de outu- tado provincial e depois federal pelo Esta-
fazer jornalismo. Em 1903 diplomou-se pela bro de 1970. do de Sergipe. Na imprensa, tornou-se li-
Faculdade de Direito de Recife, tendo exer- terariamente poderoso. Admirador incon-
cido antes o cargo de promotor público de O jornalista Laudelino Freire dicional de Tobias Barreto, nunca deixou
Aracaju. Foi eleito deputado estadual em de colocá-lo acima de Castro Alves.
1907. No mesmo ano foi professor da Fa- Laudelino Freire nasceu em Lagarto, em Sílvio Romero foi um pesquisador bibli-
culdade de Direito do Recife. De 1908 a 26 de janeiro de 1873. Foi eleito em 16 de ográfico sério e minucioso. A sua contri-
1909 exerceu o cargo de secretário-geral de novembro de 1923 para a cadeira 10 da buição à historiografia literária brasileira é
Pernambuco. Academia Brasileira de Letras, substituin- uma das mais importantes de seu tempo.
Em setembro de 1909 foi eleito deputa- do Rui Barbosa. Foi aluno da Escola Militar Morreu no Rio de Janeiro/RJ, em 18 de
do federal. Em 1916, assumiu como pro- do Rio de Janeiro. Formou-se em Direito, julho de 1914.
fessor de Direito Administrativo. Eleito em 1902. Além de advogar, exerceu cargos
deputado federal, renunciou para ocupar o públicos, o magistério e o jornalismo.
Texto: CRISTIAN GÓES
cargo de ministro da Fazenda, no Governo Depois de cumprir três mandatos como Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
de Artur Bernardes. Voltou à Câmara no deputado estadual na Assembléia Legislati- Fonte: A História de Lagarto, de Adalberto Fonseca; Acervo
período de 1927 a 1930. va de Sergipe, fixou-se no Rio de Janeiro. de fotos de Adalberto Fonseca; Academia Brasileira de Le-
No final de 1938 exerceu o cargo de con- Foi professor do Colégio Militar, tendo le- tras e Enciclopédia dos Municípios Brasileiros.
Laranjeiras
a Atenas sergipana
Este município já foi
o mais importante do
Estado, tem inúmeros
filhos ilustres e quase
foi capital

O
município de Laranjeiras, a 18
quilômetros de Aracaju, é um dos
poucos onde ainda se pode ver a
força da arquitetura colonial. Ruas, casari-
os, igrejas, tudo respira a mais pura histó-
ria. Laranjeiras já foi a mais importante ci-
dade sergipana. Berço da cultura, educa- Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus
ção, política e da economia. Este municí-
pio só não se tornou a capital de Sergipe 1645 os holandeses deixam Sergipe. Laranjeiras pertencia, semanalmente iam
por conta de uma manobra política do Ba- fazer feira nas Laranjeiras. Só em 7 de
rão de Maruim, que transferiu a sede de Rumo ao progresso agosto de 1832, em decorrência da gran-
São Cristóvão para Aracaju. de influência política dos proprietários
Depois que as tropas de Cristóvão de O porto das Laranjeiras fez retornar o de terras e comerciantes, a Assembléia
Barros arrasaram com as nações indígenas, progresso ao povoado que se reerguia Geral da Província toma uma decisão
por volta de 1530, muitos ‘colonos’ acaba- com grande velocidade depois da passa- polêmica. Transforma o povoado em vila
ram se fixando às margens do Rio gem dos holandeses. Em 1701, os padres independente. E em vez de desmembrá-
Cotinguiba. Essas terras pertenciam à Fre- jesuítas construíram a primeira igreja com la da freguesia de Socorro, os deputados
guesia de Socorro. Naquela região, mais ou convento. Ela ficava à margem esquerda anexaram o território de Nossa Senhora
menos uma légua da sede, foi construído do Riacho São Pedro, um pouco afastada do Socorro ao de Vila de Laranjeiras.
um pequeno porto e, por conta das inúme- do porto. Eles procuravam sossego e de- Os socorrenses tentaram de todas as
ras e frondosas laranjeiras à beira do rio, ram nome ao lugar de ‘Retiro’. Os jesuí- formas reagir, e em 19 de fevereiro de
moradores e viajantes começaram a identi- tas fizeram uma outra igreja num dos 1835, Socorro é transformado em vila,
ficar o local como porto das laranjeiras. pontos mais altos do povoado. Em 1731, sendo suas terras desmembradas das de
A movimentação pelo Rio Cotinguiba em cima de uma colina, os padres orde- Laranjeiras, que foi reduzida à Freguesia
era intenso e, logo, o porto passou a ser naram a construção da Igreja de Nossa do Sagrado Coração de Jesus das Laran-
parada obrigatória. Em torno dele o co- Senhora da Conceição da Comandaroba, jeiras. No entanto, esse retrocesso não
mércio ganhava espaço, principalmente a uma verdadeira obra-prima da arquitetu- impediu que o progresso avançasse e é
troca de escravos, e as primeiras residênci- ra colonial. justamente nesse momento que Laranjei-
as eram construídas. Mas a partir de 1637, Por conta da cana-de-açúcar, do coco, ras começa a atingir seu mais alto grau de
o pequeno povoado das Laranjeiras tam- do gado, do comércio e, principalmente desenvolvimento. Em 6 de fevereiro da-
bém sofreu com os ataques e depois com do porto, o povoado das Laranjeiras ti- quele ano é transformado em Distrito de
o domínio holandês. Muitas casas foram nha conseguido um nível extraordinário Paz, e em 11 de agosto de 1841 Laranjei-
destruídas, mas o porto, um ponto estra- de desenvolvimento. Até os moradores ras passa a ser sede de comarca. O pri-
tégico, foi preservado. Só por volta de da sede da freguesia de Socorro, a quem meiro juiz foi Manoel Felipe Monteiro.

CINFORM 126
Igreja Nossa Senhora dos Pardos

Região : leste de Sergipe


Distância de Aracaju: 18 km
População - Cerca de 23 mil
Atividades econômicas - Agricultura e
turismo

A grandiosidade das três pode ser vista na


produção. Dos 61 milhões de cruzeiros con-
seguidos em Laranjeiras, em 1956, somen-
te as três foram responsáveis por 41 mi-
lhões de cruzeiros.
Além da cana, Laranjeiras sempre teve
Igreja Presbiteriana de Sergipe, 1884
uma boa produção de coco e mandioca.
No campo da pecuária, o município che-
gou a ter um rebanho estimado em 11 mil
cabeças de gado. Por conta disso, Laran-
jeiras tinha boas casas comerciais, algu-
mas delas movimentando anualmente
mais de 2 milhões de cruzeiros. Na sede
do município existiam postos bancários de
agências de Aracaju e uma Agência da
Caixa Econômica Federal.
Em 1854 foi inaugurada a iluminação
pública com a instalação de 32 lampiões.
Em 1880, Laranjeiras já possuía uma Esta-
ção do Telégrafo Nacional. Em 1859 teve
início a navegação a vapor entre Aracaju,
Maruim e Laranjeiras, e em 1860 Laranjei-
ras recebeu a visita do imperador Dom
Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina,
além de uma grande comitiva. Na noite de
14 de janeiro daquele ano, eles foram acla-
F eira e mercado na década de 20
mados nas ruas da cidade. O imperador vi-
sitou escolas, a Câmara de Vereadores, o
A fote economia Apesar de pequeno territorialmente, o Paço Municipal, assistiu à missa e partici-
município chegou a ser o maior produtor pou de saraus e banquetes.
Em 1836 foi criada em Laranjeiras a pri- de açúcar cristal de Sergipe. Eram centenas
meira Alfândega de Sergipe. Praticamente de engenhos e depois usinas. Os primeiros Berço da cultura
todos os produtos produzidos em Sergipe foram Dira, Ibura, Camassary e
eram exportados por lá, maior centro do Comandaroba. Nas décadas de 30, 40 e 50 O florescimento econômico atraiu para
Estado. Mas Laranjeiras tinha na indústria se destacavam três grandes usinas: a da Laranjeiras comerciantes, médicos, advoga-
açucareira a sua principal fonte de renda. Varzinha, a São José Pinheiro e a Sergipe. dos, professores e outros intelectuais. O

CINFORM 127
Filhos Ilustres

O município de Laranjeiras tem uma infinidade


de filhos ilustres e personalidades que marcaram
a história da cidade, de Sergipe e do Brasil. A
seguir, só algumas:

João Ribeiro - Nasceu em Laranjeiras


em junho de 1860. Foi um dos maiores
intelectuais brasileiros do final do século
XIX. Foi membro da Academia Brasileira
de Letras e o primeiro sergipano eleito
imortal na Academia Sergipana de Letras.
Foi poeta, filólogo, tradutor, poliglota, histo-
riador, gramático, romancista, jornalista,
crítico literário, professor, folclorista, mú-
Igreja do alto do Bonfim sico e pintor. Depois de passar pelo
Colégio Atheneu em Aracaju formou-se
em Direito no Rio de Janeiro.
município teve uma forte imprensa. Geral- Cotinguiba, Laranjeiras foi palco de ten-
mente ligados a partidos, associações cul- sões sociais e raciais. Duas grandes re- Horácio Hora - Nasceu em Laranjeiras
turais e à igreja, os jornais retratavam a vida voltas urbanas de escravos negros e mu- em setembro de 1853. Foi um gênio da
na sede e defendia suas bandeiras. Os mai- latos livres foram registradas em 1835 e pintura. Por falta de escolas de qualidade
ores exemplos são o “Monarchista Consti- 1837. Os escravos fugitivos organiza- nessa arte, foi para a Europa, sendo que
tucional”, o “Triunfo”, seguido de o vam-se em mocambos e quilombos nas seus estudos foram custeados pela
Assembléia Legislativa da Província. Foi
“Guarany”, o “Observador”, O Telégrafo” matas dos próprios engenhos. Os mais aluno da Escola de Belas Artes de Paris e
e a “Voz da Razão”. Laranjeiras foi, sem famosos líderes negros foram João lá ganhou vários prêmios. Retornou a Ser-
dúvida alguma, de 1841 a 1851 o maior Mulungu, Laureano, Dionísio e gipe e pouco tempo depois voltou à
centro cultural e artístico de Sergipe. É cha- Saturnino. Para recuperar seus escravos, França, onde morreu. Suas obras de maior
mada a Atenas sergipana. E é em 4 de maio muito senhores chegavam a colocar destaque são “Cecy e Pery”, “A Virgem”,
de 1948 que Laranjeiras passa efetivamente anúncios nos jornais. O grande ano de “Miséria e Caridade”, Folhas de Outono”,
entre outras.
à categoria de cidade. fugas de escravos foi 1867. Ficam céle-
Laranjeiras tem uma série de belos e his- bres alguns atos, como o enforcamento Martinho César da Silveira Garcez -
tóricos monumentos, como as igrejas do dos escravos Crispim e Malaquias, que Foi deputado provincial por Sergipe,
Retiro de 1701; de Nossa Senhora da Con- eram acusados de assassinar seus senho- chegou a ser presidente do Estado e depois
ceição da Comandaroba, de 1734; de Nos- res brancos; a fuga do escravo João senador. Foi jornalista, advogado,
sa Senhora da Conceição dos Pardos, de Mulungu do Engenho Flor da Roda em professor de Direito no Rio de Janeiro.

1843; a Igreja Presbiteriana de Sergipe, de 1868, sendo que muito tempo depois foi General Moreira Guimarães - Foi
1884; a Igreja do Bonfim; Igreja Matriz capturado e enforcado. Mas as ações cru- o oficial destacado pelo Governo brasileiro
Sagrado Coração de Jesus, de 1791; a cape- éis dos senhores com os escravos provo- em várias missões no estrangeiro. Foi
la de Sant’aninha, de 1875; Igreja Bom Je- cou protestos da população até a chega- membro de inúmeras instituições científi-
sus dos Navegantes, de 1905; Igreja de São da da ‘abolição’. cas e culturais, sendo também jornalista e
Benedito e Nossa Senhora do Rosário; Igreja Quanto à República, o início da propa- correspondente internacional de muitos
jornais brasileiros.
Jesus, Maria e José, de 1769; além do Mu- ganda republicada em Sergipe aconteceu
seu de Arte Sacra, Trapiche, Museu Afro, oficialmente na Vila de Laranjeiras, em Zizinha Guimarães - Nasceu em Laran-
Casa de Cultura João Ribeiro, Escola 1888, através da publicação do Manifesto jeiras, em dezembro de 1872. Foi nomea-
Zizinha Guimarães, Teatro Santo Antônio de 18 de outubro de 1888, no da professora pública em 1896. Em julho
e Teatro São Pedro, Mercado Municipal, ‘Laranjeirense’. Meses depois era fundado o de 1904, fundou a Escola Laranjeirense.
Aprendeu música e tocou no órgão da ma-
Ponte Nova, Paço Municipal, Cine-Teatro Clube Republicano Laranjeirense, que mais
triz. Dominou o português, aritmética, geo-
Íris, Gruta da Pedra Furada, Gruta Matriana, tarde se transformou em Partido Republi- grafia, história, francês, esperanto e fez
entre outros. cano. Faziam parte Felisbello Freire, teatro.
Vale ressaltar ainda que Laranjeiras é re- Balthazar Góis, Sílvio Romero, entre ou-
ferência no folclore. Seus folguedos estão tros. Eles chagaram a ter um jornal, o ‘Re- Outros - Carmelita Fontes, João Sapa-
entre os mais importantes do Brasil, como publicano’. teiro, Antônio Gomes de Andrade, cônego
Philadelfo Jonathas, Augusto do Prado
o Reisado, Guerreiros, Lambe-Sujos e Com a Proclamação da República, os re-
Franco, Umbelina Araújo, dona Lalinha,
Caboclinhos, Cacumbi, Taieira, Samba de publicanos laranjeirenses fizeram passeatas Emanuel Franco, entre muitos outros.
Parelha, São Gonçalo, Batalhão 1º de São pelas ruas da cidade. Meses depois, Felisbello
João, Chegança Almirante Tamandaré e os Freire é nomeado pelo marechal Deodoro
Penitentes. da Fonseca como o primeiro governador Texto: CRISTIAN GÓES
de Sergipe na República. O primeiro Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
Fonte: ‘Laranjeiras: sua história, sua cultura e sua
Escravidão e República intendente de Laranjeiras foi Marcolino gente’, de Zilná dos Santos, professores da rede municipal
Ezequiel de Jesus, que governou o municí- e Enciclopédia dos Municípios Brasileiros.
Estando no coração do Vale do pio de 1893 a 1895. C
O passado se refaz e o futuro se projeta.
Sergipe, nós estamos presente.

IBECA-SE
MU R

28-03-1938
Macambira
Ergueu-se ao pé da
Serra do Cruzeiro
Cidade tem uma das
mais belas cachoeiras
do Estado, mas falta
infra-estrutura para
receber os turistas

B
em ao pé da Serra do Cruzeiro
ergueu-se a cidade de Macambira, a
74 quilômetros da capital, onde exis-
te uma das mais belas cachoeiras do Estado.
No ponto onde iniciou-se sua povoação
existia uma estrada repleta de macambira,
um tipo de bromeliácea que originou o
nome do município. Os campos propícios
à criação de gado foram responsáveis pelo Igreja São Francisco de Assis: praça onde surgiu a cidade
desenvolvimento inicial da comunidade.
A primeira penetração naquelas terras, cambira aparece como povoado, já possu- mentar a feirinha existente.
que se tem notícia, data do século XVII, indo uma escola. Em 1950, a povoação já era bastante con-
quando houve o desbravamento da região Nesse local existia uma estrada que pas- siderável. Sendo incluída em 1953 na lei nº
do Centro-Oeste entre os rios Sergipe e sava de leste a oeste com vários pés de ma- 525-A, de 23 de novembro, que criava no-
Vaza-Barris. A área, toda ela conhecida cambira, bromeliácea muito comum nas vos municípios. Foi através dessa lei que
como Itabaiana, tornou-se um dos mais zonas áridas do Nordeste (sendo a mais Macambira foi emancipada e desmembra-
prósperos centros criadores de gado da ca- comum delas o abacaxi). Nas margens des- da de Campo do Brito, que, por sua vez, foi
pitania, beneficiada pelos excelentes cam- sa estrada, por causa do grande movimento desmembrado de Itabaiana. O município
pos e rios de água doce. de cavaleiros e pedestres, surgiu o enorme teve como primeiro prefeito, eleito em
Entre 1637 e 1645 os invasores holande- Atoleiro, local onde hoje encontra-se o pré- 1954, Cecílio Eugênio Alves. Ele deu iní-
ses aproveitavam a fartura para abastecer- dio da Prefeitura. cio às mudanças na aparência da cidade,
se de carne. Mas o excesso de uso fez com antes totalmente cercada por macambiras.
que a pecuária do local acabasse sendo de- Município castigado Seus principais povoados são Barro Pre-
vastada. Mais tarde, a produção foi recupe- to, Tauá, Lagoa Seca, Pé-de-Serra de Beli-
rada e aumentou a procura pelas terras de A derrubada de matas prejudicou as con- nho, Manuino e Jacoquinha, onde são rea-
vaqueiros de outras regiões. A constante dições climáticas de Macambira. O muni- lizadas diversas festas. Os macambirenses
passagem deles por aquele local colaborou cípio também foi castigado pela presença são bastante religiosos e cultuam com
para o surgimento de várias povoações. Foi do bando de Lampião. Ainda povoado, foi muita fé o santo padroeiro São Francisco
o caso de Macambira. visitado várias vezes pelos bandoleiros que de Assis, comemorado anualmente no dia
Segundo consta na Enciclopédia dos aterrorizaram o sertão de Sergipe, Bahia, 4 de outubro.
Municípios Brasileiros, até 1890 Macam- Alagoas e Pernambuco. Na década de 60, o desenvolvimento de
bira era apenas um sítio com extensas ca- Eles perseguiam a população, destruindo Macambira voltou a sofrer nova recaída
atingas, e possuía menos de uma dezena tudo por onde passavam. Só depois da morte com a crescente emigração da população
de casas. Foi aí que surgiu uma feirinha de Lampião, finalmente Macambira come- para outras cidades, principalmente Santos,
criada por um homem conhecido por Ioiô çou a desenvolver-se, melhorando sua pro- em São Paulo. Nesta mesma época tam-
Rodrigues. Somente em 1896 é que Ma- dução e seu comércio, conseguindo incre- bém entrava em declínio a Fábrica Santa

CINFORM 130
Região - Oeste (agreste)
Distância de Aracaju - 74 km
População - 5.803
Atividades econômicas - Agricultura, pecuária

Cachoeira de São Francisco: uma das mais


belas do Estado

Serra do Cruzeiro (Serra do Pico), onde em


abril de 2000 o prefeito reeleito, José Cari-
valdo de Souza - sob a coordenação do pa-
dre Raul Borges -, construiu um cruzeiro e
uma capela ao ar livre para o povo cultuar
ainda mais a religião católica.

Cidade tranqüila e hospitaleira

O casal de macambirenses Valentim de


Maria, conhecida como vapor de descaro- Oliveira, 71 anos, e Antonieta Fiel de Oli- Cruzeiro e capela no alto do monte: dá pra
ver toda a cidade
çar algodão. veira, 68, passou 34 anos no Rio de Janeiro,
Porém, na década de 70 houve um novo mas retornou para a terra natal há 25 anos.
impulso no município em decorrência do “Nós sentimos saudades porque aqui é mesmo consideramos esse trabalho do
crescimento urbano. O prefeito da época, muito tranqüilo e praticamente todo mun- CINFORM de suma importância para va-
João Francisco de Oliveira, o Zé de Severo, do é parente”, explica Valentim. lorizar nossa própria cultura, divulgando-a
contribuiu muito com esse crescimento, O casal deixou dois filhos cariocas no Rio para todo o Estado.
abrindo novas ruas e avenidas. de Janeiro (um médico e outro que traba- As manifestações folclóricas de Macam-
lha numa indústria química), onde volta bira são bastante variadas. A festa de São
Pontos turísticos do município todo ano para visitá-los. “Nós voltamos, João é bem animada. São realizados casa-
mas todo ano vamos visitar nossos filhos. mentos de caipira, quadrilhas, bailes, quei-
Macambira tem uma grande área flores- Também temos imóvel lá, mas preferimos ma de fogueiras e fogos. Sem esquecer as
tal que compreende a Fazenda Jacoca, onde viver aqui”, completa Antonieta. saborosas comidas típicas.
está localizada a Cachoeira do São Francis- O grupo de Zabumba é muito conhe-
co, uma das mais bonitas de Sergipe. Ape- A mais bela vista panorâmica cido no nosso município. Tem uma fun-
sar de uma visão encantadora, ela está lon- ção religiosa quando acompanha as pro-
ge de se tornar um importante ponto turís- VENETIA BEZERRA ALMEIDA cissões e novenas. Temos um desses gru-
tico pela dificuldade de acesso e a falta de pos no Povoado Lagoa Seca, formado de
infra-estrutura. Macambira ergue-se altaneira por entre instrumentos pobres e toscos, de fabri-
O Poço da Arara é outra beleza que a as serras da região oeste, onde nossos olhos cação rústica; os pífanos feitos de ta-
natureza presenteou ao município. Fica na vêem a mais bela vista panorâmica do Es- quara com furos feitos com fogo, e o
Fazenda Capitão, logo após a cachoeira, e é tado de Sergipe. O pôr-do-sol deste lugar bumbo e a caixa de madeira cobertos
um lugar bastante freqüentado por pessoas nos traz paz e alegria, prenunciando a cada com pele de carneiros.
de fora da cidade que vão banhar-se nas dia um alvorecer ainda mais bonito. Cidade pequena, de gente pacata, com
águas transparentes do Rio Vaza-Barris. Sabemos que a cultura representa as tra- ar puro e saudável. É difícil olhar ao re-
Outro ponto que é bastante visitado é a dições e os costumes de um povo. Por isso dor desta cidade e não sentir nestas paisa-

CINFORM 131
Desfile de 7 de Setembro: marca dos velhos
tempo

colocava as cadeiras para os netos (olha as


cadeiras de novo!). E não era reisado de
aeroporto, não, desses pagos pela Emsetur.
Era a cultura sem intermediário, em estado
bruto, para o bem ou para o mal. Termina-
da a apresentação, as ‘figuras’ faziam cari-
dade aos rapazes mais apertados. Ou ainda
os animados leilões, quebra-potes e vaque-
Prédio da prefeitura: antigo Atoleiro de Macambira jadas, onde eu ia puxado pelo braço de Ze-
finha, empregada namoradeira, que num
gens a presença viva de Deus. É impossí- tro som, o serviço de alto-falantes da Pre- Sábado de Aleluia rasgou a aleluia numa
vel não nos orgulharmos de ser filhos feitura Municipal de Macambira, na voz de sangrenta briga com a também empregada
desta terra. Ernani, que nos acordava no 7 de Setembro Lita, tudo por causa de um soldado de nome
com sua ‘alvorada festiva’. ‘Chumbinho’.
Eu nem ouvira falar de um baiano cha- Mas falar de Macambira sem passar
A primeira ninguém esquece mado Caetano Veloso, mas minha falha pela sua belíssima cachoeira, disparada-
memória, hoje, acusa que havia uma fa- mente o ponto turístico mais belo e pre-
LUCIANO CORREIA miliaridade muito grande daquelas gui- servado de Sergipe? Deve ter sido lá que
tarras rasgadas de ‘Sem lenço e sem do- comecei minha longa relação de amor
Nasci em Macambira no comecinho dos cumento’. E o gravador mágico, mila- com a água, com os banhos até de tanque
anos 60. Duplo privilégio, sem dúvidas, pela groso, do estudante de Direito Elias Pi- (no Tanque Grande, Tanque Novo, no
doçura do lugar e pelo dourado dos anos. nho? Foi ali, quem sabe, brincando de Açude e no Julião) e que me custaram
Lá vivi a chamada ‘primeira infância’, pois falar ao léu, maravilhado com a reprodu- milhares de surras. Parte de tudo isso con-
com 10 anos nos mudamos para Itabaiana. ção da fala, que eu me encantei com ‘esse tinua lá, na Macambira de hoje, desfruta-
Mas aqueles anos, os primeiros de minha negócio de falar no rádio’. da por seus novos filhos e moradores. Mas
vida, são tesouros caros à minha descontí- Éramos sós, nas distâncias difíceis de se- a minha, esta aí, pulsa em meu coração,
nua memória. rem batidas, pela razão de que estrada não que se aperta de saudade, as lembranças
Lembrar Macambira daquela época é (ten- havia, digo estrada asfaltada, como hoje. do filho de seu João Tabelião. C

tar) refazer a trilha de minha história e res- A ponto de, várias vezes, João Correia
taurar os símbolos daqueles anos privilegi- (João Tabelião), este herói que até hoje Filhos ilustres
ados. E este é o primeiro aspecto: em pleno me comove, voltar de Campo do Brito a
Elias Pinho de Menezes - promotor de
agreste sergipano, nos hoje longínquos anos pé, após resolver assuntos do cartório. Mas Justiça
60, já vivíamos uma espécie de ‘globaliza- nem a maldade da geografia nos isolava
ção’. E nem havia telefone, TV ou jornal. do mundo. ‘Jim das Selvas’, ‘O agente Luciano Correia - Jornalista e ex-secretário
de Comunicação do prefeito de Aracaju, João
Havia os Correios, do tempo em que o rodoviário’, Sansão & Dalila, Mazzaropi e Augusto Gama
Correio era o Correio, dona Cordélia à fren- Giuliano Gemma, essa turma sempre mar-
Homero José Batista Filho - advogado no
te, antenada, informada de tudo, porta em cava presença nas sessões de cinema que, Rio de Janeiro
porta, casa em casa, trazendo notícias de lá. ao longo dos anos, percorreu curiosas ins-
Havia os sons, estes trinados musicais que talações, incluindo aí o talho de carne. Isso Ivani Rodrigues da Silva - médica anes-
tesista
me perseguem desde pequeno, como a pon- mesmo: os marchantes retirando as sobras,
tuar os momentos de minha vida. Havia limpando as bancas e a gente chegando João Miguel dos Santos - primeiro fiscal
uma guitarra arrojadíssima de um certo com as cadeiras (claro: e vocês acham que de Tributos do Município
George Harrison tocando ‘Aleluia’ - me talho de carne tem cadeira para assistir a
parece já iniciado na carreira solo pós Bea- um filme?).
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
tles. Modernagem trazida ‘pelos meninos Era essa a Macambira de minhas caríssi- Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
que estudavam em Aracaju’, amplificada mas lembranças. Do reisado na praça da Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa de Vene-
pelo potente som do Bar de Carlito. O ou- feira, onde minha avó Minervina logo cedo tia Bezerra Almeida
MKT©
SINAL
DE EFICIÊNCIA
E SEGURANÇA.

EM TODOS OS SENTIDOS.

DETRAN-SE
Departamento Estadual de Trânsito
SSP
A vida em primeiro lugar
SECRETARIA DA
SEGURANÇA PÚBLICA

www.detran.se.gov.br
Malhada dos Bois
a cidade
dos boiadeiros
Povoação cresceu em
volta de uma nascente
de água doce e já
pertenceu a Propriá,
Aquidabã e Muribeca
Atualmente ainda é encontrado carro de boi na Cidade dos Boiadeiros

M
alhada dos Bois, a 82 quilô
metros da capital, surgiu como
ponto de parada da boiada do
major João Aguiar Boto de Melo, trazida
de Minas Gerais para Alagoas. Foi bati-
zado com o nome atual pelos boiadeiros,
que paravam numa nascente de água
doce, onde o gado bebia, se alimentava e
depois descansava. Por muito tempo o
município ficou conhecido como a Cida-
de dos Boiadeiros.
Os primeiros moradores do local, já cha-
mado Malhada dos Bois, foram os fugiti-
vos de Alagoas Manoel Quirino e Manoel
Tenório, na primeira metade do século XIX.
De acordo com pesquisas da professora
Maria Eunice da Hora, que está escrevendo
um livro sobre a história da cidade, a povo-
ação começou a crescer quando os colonos
procuraram as terras para plantar algodão e
diversos cereais.
O major João de Aguiar Boto de Melo,
português considerado um dos maiores cri- Igreja construída no lugar da antiga, inaugurada em junho de 2001
adores de gado leiteiro de Minas Gerais,
instalou dois engenhos no local, hoje co- Pertencia a Propriá ros para seu genro Pedro Abreu Lima.
nhecido como Fazenda Brejinho. O seu A procura de muitos colonos e o plan-
filho João Aguiar Boto de Melo Filho, que De acordo com a Enciclopédia dos Mu- tio de algodão, base da economia local,
era médico e dentista, ficou encarregado nicípios Brasileiros, o território de Malhada fizeram com que Malhada dos Bois al-
de administrar a fazenda. Como ele não dos Bois estava incluído nas terras que, ini- cançasse eras de glória, chegando a orga-
tinha tempo, deixou o trabalho para seu cialmente, Cristóvão de Barros doou atra- nizar uma das maiores feiras da região. O
filho Augusto Aguiar Boto de Melo, que vés de sesmaria ao seu filho Antônio Car- comércio se desenvolveu rapidamente,
deu início ao comércio de secos e molha- doso de Barros, às quais se estendiam das destacando-se as grandes lojas de tecidos,
dos e lojas de tecidos. Em sua residência, margens do Rio São Francisco às do Rio os bares e quitandas.
ele instalou a primeira escola do povoado Cotinguiba. Essas terras, que constituíam o Emiliano Dias Guimarães, que possuía
e levou para lá a professora Dona Antô- município de Propriá, foram passadas pos- dois grandes engenhos em Aquidabã, resol-
nia, de Propriá. teriormente pela viúva de Antônio de Bar- veu investir em Malhada dos Bois. Cons-

CINFORM 134
Região: Meio Norte (Baixo São Francisco)
Distância de Aracaju: 82 Km
População: 3.208
Atividades econômicas: Pecuária
e agricultura de subsistência

Fonte de Malhada dos Bois, onde surgiu a povoação

truiu uma casa grande com um porão, onde


ele prendia escravos fugitivos e castigava
muitos até a morte.
Quando ele era intendente e delegado,
castigava as pessoas que cometiam infra-
ções no porão junto com os escravos.
“Esta situação só mudou quando ele per-
deu o poder para o coronel Bento de Agui-
ar, filho de João Aguiar. Ao assumir o po-
der como intendente e delegado da cidade,
Bento reuniu a população e mandou quei-
mar o tronco que havia dentro da casa de
Emiliano, e acenderam uma grande foguei-
ra. Este ato foi comemorado com muita
festa na cidade”, informa Eunice.
Bento Aguiar foi agraciado como padri- Pedra das Almas: desenhos e escritos antigos
nho dos escravos por ter transformado os
engenhos de sua família em fazendas de
gado, oferecendo trabalho livre mesmo fatores de natureza político-econômica, a em trajes típicos.
antes da abolição da escravatura. lei nº 525-A elevou 19 vilas com sedes dis- A professora e diretora do Colégio Esta-
tritais desenvolvidas à categoria de municí- dual Emiliano Guimarães, Maria Eunice da
Emancipação do município pio. Entre elas estava Malhada dos Bois. Hora, diz que com a chegada das famílias
No entanto, a instalação do município em Malhada dos Bois, a localidade deixou
Em 1897, o povoado já tinha caracterís- só se deu em 1955, quando também foi de ser habitada apenas por homens, e as
tica urbana e possuía uma capela construí- instalada a primeira legislatura, tendo como festas folclóricas ganharam mais colorido.
da por Emiliano Guimarães, que também primeiro prefeito Romeu Aguiar Figueire- Aí vieram os reisados, guerreiros, quermes-
montou na povoação uma pequena usina do. Atualmente, Malhada dos Bois, além ses e quadrilhas.
de beneficiamento de algodão, chamada ‘O da sede, tem quatro povoados: Cruz da Segundo ela, as cavalgadas conservam-se
Vapor’, que há muito tempo não existe mais. Donzela, Baixão Fluvial, Lagoa do Congo até hoje nas festas típicas da cidade: em 13
Pela resolução provincial nº 930, de 11 e Tábua. de junho, dia do padroeiro Santo Antônio;
de abril de 1872, com a criação da Fregue- e no dia 24 de novembro, quando se come-
sia de Aquidabã, seu território foi desmem- Grupos folclóricos malhadenses mora a emancipação política da cidade.
brado do de Santo Antônio do Propriá, A dança e as músicas de aboio ou ser-
passando a compor o da nova freguesia. Malhada dos Bois era uma pequena e tanejas, do início da povoação, também
A lei estadual nº 942, de 8 de outubro de pacata povoação habitada por boiadei- são lembradas por pessoas da comuni-
1926, criou o município de Muribeca, e ros. Nas festas eles se reuniam em uma dade e estudantes do colégio, que orga-
Malhada dos Bois passou a fazer parte dele. dança folclórica masculina com passos nizam o grupo de dança “Os Boiadeiros
Assim permaneceu até que em 1953, por largos, soltos e fortes pisadas, vestidos Malhadenses”.

CINFORM 135
Nascente da mata da fonte

Apesar de existir até hoje, a área da fonte,


onde iniciou-se o município, foi bastante de-
vastada pela ação do homem, que destruiu a
mata que havia ao redor dela. Uma pedreira
no meio da mata formava uma cachoeira
por onde a água descia através de riachos e
encontrava-se com o Rio Jacaré, que atra-
vessa o povoado Poço dos Bois indo até Ce-
dro de São João. Por muito tempo, essa água
serviu à população da cidade, que agora é
abastecida pelo Rio São Francisco.
Na área da fonte existe uma pedreira, oca- Desenho de uma costela encontrado na Pedra das Almas
da e com inscrições e gravuras antigas, onde
tem registrada a passagem de várias épocas e do a professora Jeane Caldas elaborou um pelo nariz. Dizem que seu Gervásio foi o único
gerações. Segundo a agente social Maria projeto de recuperação, fez passeios com cri- que encontrou uma parte do tesouro, mas su-
Aparecida da Silva, hoje alguns dos dese- anças da escola no local da mata devastada e miu da cidade”, diz Antônio Gomes.
nhos já foram apagados, a única gravura que propagou com os colegas de trabalho a idéia Ele afirma que naquela época existia mui-
dá para decifrar é a de umas costelas. de recuperação, logo aceita. ta assombração. “Hoje não existe mais por-
Com o apoio da Universidade Federal de que o planeta Terra está limpo. Eu sei disso
Terra dos Boiadeiros Sergipe, Deso e Ibama, os estudantes plan- porque sou da Doutrina do Racionalismo
taram 300 mudas, próximo à fonte, e a área Cristão”, explica. C

*MARIA EUNICE DA HORA foi cercada pelo prefeito da época, Antônio


Vieira Filho. Porém homens inconscientes Filhos Ilustres
Assim apelidada por muito tempo, a Cida- cortaram os arames e invadiram a área com
de dos Boiadeiros construiu uma história de seus jegues, cavalos e bois, que comeram as João de Aguiar Boto de Melo Filho -
vida e sobrevivência. Pode-se observar que é mudas ali plantadas. Agropecuarista, senhor de engenho e co-
uma cidade que nasceu oferecendo aos seres Mais uma vez, os estudantes do Emiliano lonizador.
vivos a maior riqueza da humanidade, a água. Guimarães, as escolas municipais e os povo- Tenente coronel Augusto de Aguiar
Líquido esse que não só serviu para saciar a ados circunvizinhos, juntos, levaram o pro- Boto de Melo - Agropecuarista e
sede dos animais, como também saciou e sa- blema aos vereadores e ao prefeito. Diante comerciante.
cia a sede de todos que por ali passam. disso, foi aprovado por unanimidade o Pro-
Emiliano Dias Guimarães - Senhor de
A fonte abasteceu por muitos anos toda a jeto de Recuperação da Mata da Fonte. engenho, prefeito, intendente, delegado, agro-
cidade que cresceu e se desenvolveu ao redor Detive-me em falar do meio ambiente pecuarista e comerciante.
do grande manancial de águas claras e doces, porque este foi o responsável direto pelo pro-
Coronel Bento de Aguiar - Agropecua-
que brota do subsolo da conhecida Mata da gresso de nossa cidade, desde a origem, até rista, prefeito intendente, delegado e aboli-
Fonte, que por falta de consciência foi de- os nossos dias. cionista.
vastada pelos moradores para dar lugar a ro-
Romeu de Aguiar Figueiredo - Pecuaris-
ças. Ela foi baixando de nível e hoje reclama * PROFESSORA E DIRETORA DO COLÉGIO ESTADUAL EMILI-
ta e primeiro prefeito empossado.
a falta de suas companheiras e protetoras ár- ANO GUIMARÃES.
vores da mata derrubada. Antônio Clementino Filho - Prefeito em
Malhada dos Bois, que surgiu ao redor da Tesouro mal-assombrado 1963, construiu a fonte no lugar da nascente
para abastecer a cidade.
bela nascente, não pode fechar os olhos. É
preciso ter consciência para o grave proble- Os moradores mais antigos da cidade con- Marizete Nascimento Aguiar Dionízio -
ma da água que afeta nosso planeta. Essa tam que próximo à lagoa existem vários te- Professora, primeira mulher prefeita da cidade
em 1970.
ação de conscientização já foi iniciada no souros enterrados. Segundo Antônio Gomes
Colégio Estadual Emiliano Guimarães, quan- Sobrinho, de 89 anos, conhecido como An- Giselho Barros dos Santos - Cantor de
tônio Pequeno, foi um homem muito rico seresta que já gravou um CD.
quem enterrou esses tesouros. Quando ele
José Francisco dos Santos (conhecido
morreu, passou a aparecer nos sonhos das como Fricote) - Corredor que ganhou vários
pessoas, indicando o local exato de parte dos prêmios.
objetos valiosos, porque só com a retirada
Walter Barbosa Sobrinho - Odontólogo.
desse tesouro ele poderia ir em paz.
O problema é que, para ser encontrado, o Tereza de Fátima Barbosa da Silva -
lugar deveria ser escavado à meia-noite, o que Oftalmologista.
ninguém tinha coragem de fazer porque havia
espíritos por toda parte. “Quando alguém co- Texto: CARLA PASSOS
meçava a cavar atrás do tesouro, aparecia um Fotos: EDSON ARAÚJO
Antônio Pequeno: “Espíritos por todos os lados” padre sem cabeça ou uma mula colocando fogo Fonte: Pesquisa da professora Maria Eunice da Hora
EM QUALQUER TEMPO, NOSSO
COMPROMISSO É COM A SUA SAÚDE.

CLÍNICA E MATERNIDADE
SÃO FRANCISCO

Cristinápolis - SE - (0**79) 542-1251


E-mail: lapadua@infonet.com.br
Malhadora bela terra do inhame
Apesar da proximidade
e influência de
Itabaiana, o município
passou muito tempo
dependente de
Riachuelo

B
em no centro do Estado de Sergipe,
num planalto, está edificada a sede
do município de Malhador, a 49 qui-
lômetros de Aracaju. Muito pouco se tem
de registrado sobre sua história. Sabe-se que
aquelas terras, excelentes para a agricultu-
ra, provavelmente foram descobertas pelos
conquistadores europeus que chegaram até
Itabaiana.
O local onde se encontra Malhador é
alto e seguro. Tornou-se um ponto certo Igreja de São José: festa em março
para os criadores levarem seus rebanhos.
Daí a explicação do seu nome: “lugar des matas eram derrubadas para que os vador. Dava terras para o povo fazer roças
alto e plano onde o gado se deita para bois avançassem. e terrenos para que construíssem suas casas.
ruminar e descansar”. Curiosamente, o Não cobrava nada de ninguém. Zezé tinha
município não nasceu a partir da cons- Política e crescimento influência estadual, sendo que seu primo,
trução de uma capela, mas as primeiras Manuel Dantas, era presidente do Estado.
casas surgiram para que os vaqueiros de O historiador Ariosvaldo Figueiredo O resultado é que por volta de 1920, Ma-
Itabaiana pudessem descansar. conta, em seu livro sobre a história de Ma- lhador já era o povoado mais importante
Os primeiros registros da existência de lhador, que quando da chegada da Repú- de Riachuelo.
Malhador são do final de 1600. Mas apesar blica, a disputa política em Riachuelo era Em virtude do seu desenvolvimento, al-
da influência e da proximidade com Itabai- forte entre os pebas e os cabaús. Coman- guns moradores chegaram a propor a mu-
ana, quando Riachuelo se tornou vila, em dava os pebas o dono do engenho Tinguí, dança do nome. Achavam que Malhador
1874, Malhador passou a ser dependente Pedro Menezes. Seu adversário era José não combinava com progresso. A sugestão
dela. Essa dependência trouxe alguns fru- Sotero de Sá Barreto, o cabaú do engenho era que o nome fosse São José, padroeiro
tos, como por exemplo a cana-de-açúcar, Cantoalegre. A briga entre os dois reper- do município, mas a idéia não prosperou.
que tinha em Riachuelo uma gigantesca cutiu em Malhador, onde boa parte das
produção. Malhador chegou a ter os enge- terras pertencia a Pedro Menezes, e outra Fase do algodão
nhos do Caboclo, que iria pertencer a Au- a José Sotero.
gusto da Santa Rosa; o do Motaca, de José Conta-se que certa vez Pedro Menezes, Hoje, o município que é conhecido como
Joaquim de Santana Cardoso e o de Con- tido como hostil, mandou 12 capangas aca- o maior produtor de inhame de Sergipe, já
guandá, de José Tavares. bar com uma feirinha que nascia no Povo- foi um grande produtor de algodão. Po-
Mas os engenhos de Malhador não du- ado Malhador. O povo reagiu. Aproveitan- rém, coexistiam algodão e os possantes
raram muito. É a questão de vocação. Eles do-se da situação, José Sotero, conhecido alambiques. Segundo Ariosvaldo Figueire-
acabaram se transformando em alambi- como Zezé do Cantoalegre, servia à popu- do, o algodão foi o maior veículo do pro-
ques e fazendas de criação de gado. Gran- lação pobre de Malhador, apesar de conser- gresso malhadorense, atingindo pequenas

CINFORM 138
Região - Centro de Sergipe
Distância de Aracaju - 49 km
População - Cerca de 11 mil
Atividade econômica - Agricultura

Francisco: memória viva

Prefeito Francisquinho e Leandro Maciel Inauguração do Ginásio São José

propriedades no interior. O desenvolvimen- e comerciante de tecidos. Foi da mulher redo. Veja a seguir, alguns trechos do seu
to do algodão cresceu quando o Engenho dele a primeira escola de Malhador. livro sobre a história de Malhador:
Central, em Riachuelo, anexou uma fábri- “Não havia luz, rodagem, cinema, som,
ca de tecidos. Além disso, o algodão de Ganhou independência banheiro, fossa, água encanada. A maioria
Malhador abastecia as indústrias de Maru- da população vivia na pior, naquela pobre-
im e Aracaju. Na divisão territorial de Sergipe, em za. Principalmente as prostitutas. Pois é,
Francisco José de Oliveira, o ‘Senhorzi- 1936, Malhador ainda aparecia como um existiam prostitutas em Malhador. Poucas,
nho’, e Alcides Borges Santos, o ‘seu Alci- distrito do termo de Riachuelo, que por sua doentes, sofridas. Moravam em um pedaço
des do Vapor’, eram donos de alambiques, vez pertencia à Comarca de Laranjeiras. Só de rua, o Lazareto, como se a peste ou a
fazendas de algodão e descaroçadoras. Por 17 anos depois, em 25 de novembro de lepra vivessem por lá.
conta dessa riqueza, Malhador começava a 1953, Malhador e mais 18 novos municípi- Chefes de família, maridos de Malhador,
sonhar com a independência, a autonomia os ganham a sua independência a partir de não frequentavam o Lazareto. Preferiam
desejada. Mas Riachuelo nem por brinca- um decreto do governador Arnaldo Rol- casos discretos, aventuras mais gostosas.
deira admitia ver Malhador livre. De Ma- lemberg Garcez. No entanto, Malhador só Uns tinham mais de uma casa e família,
lhador, Riachuelo tirava tributos e votos. se transformou realmente num município outros achavam melhor uma amigação sem
Algumas das figuras mais importantes em 31 de janeiro de 1955, quando tomou compromisso...
na formação de Malhador foram Gonçalo posse seu primeiro prefeito, João Ribeiro À noite, tudo no escuro, nada de luz
da Cruz, Sérgio Costa, Antônio Eleutério, Cardoso, e foi constituída sua primeira Câ- elétrica, candeeiros modestos, numero-
Cândido Barreto, Manoel Vieira dos Anjos mara de Vereadores. sos, pareciam vaga-lumes. O luar, em
e José Joaquim de Oliveira Reis. Gonçalo compensação, uma beleza, como se fos-
da Cruz, por exemplo, foi o responsável Mais histórias de Malhador se dia, a lua derramando luz por todos
por ensinar as primeiras letras. Sérgio Cos- os cantos. As distrações da terra, logica-
ta foi outra figura importante. Foi sargento Um dos filhos mais ilustres de Malhador mente, poucas, rápidas, pequenas. Não
da Polícia Militar, depois pedreiro, ferreiro é o escritor e historiador Ariosvaldo Figuei- existiam clubes. Não havia orquestra,

CINFORM 139
Feira de Malhador: terra do inhame

Praça principal da sede do município

muito menos, cinema. Uns se distraíam tei o temido Lampião. Depois vim para
nadando, nus, na Lagoa, no caminho de Malhador, e quando cheguei aqui encontrei
Itabaiana... só 22 casas e uma capelinha de São José”,
Vez ou outra faziam ‘sala-de-dança’, um lembra ele.
dos raros momentos em que moças e rapa- Foi seu Francisquinho quem ajudou a
zes se encontravam... Reisados apareciam, construir a atual Igreja de São José e parti-
de vez em quando. O povo gostava, noite cipou efetivamente na independência de
de festa. O mais falado, o Reisado de Ma- Malhador. “Foi uma luta. Tive que encon-
noel Carreiro”. trar mil pessoas que pelo menos soubes-
sem assinar o nome”, lembra ele. Francis-
A Igreja co Passos colocou uma das primeiras pa-
darias e depois passou 40 anos como far-
A igreja de Malhador custou muito suor macêutico. “Tive muita aproximação com
e trabalho. Anos e anos de coletas, lei- os ex-governadores Leandro Maciel, Gil- Ariosvaldo: filho ilustre de Malhador
lões, ajudas para construí-la. Foi constru- ton Garcia, Seixas Dórea e Lourival Bap-
ída aos poucos, aos pedaços. A idéia, es- tista. Quando fui prefeito, fazia as melho- Malhador, coisa linda, poesia, jardim
timulada pelo padre de Riachuelo, Ma- res festas de São José e de 7 de Setembro”, Luta e canta, é trabalho e muito ardor
noel José de Oliveira, português de Qua- diz ele. Malhador a sorrir, a viver, a dizer sim
tro Costados, conservador, mas dinâmi- Até na rima é mais afeto e mais amor.
co, preocupado com o seu rebanho. Mas Hino de Malhador
foi padre João Marinho de Souza, tam- Entre o agreste e o litoral há coração
bém português, que iniciou, em 1933, a Em 1973, o escritor e filho de Malha- O da terra e o da gente que resiste
construção. Construídas as bases, só em dor, Ariosvaldo Figueiredo, escreveu o Pra criar um Estado forte, o meu irmão
1936 é feito o altar. É de se destacar o hino do município. Ele foi escrito a pedi- Todos juntos crescendo Sergipe.
trabalho de Lúcio Pedreiro, e de Zé de do da comissão presidida pelo padre An-
Beata, os dois grandes mestres da obra. tônio Rezende. Nesta terra todo mundo pensa assim
Pensa e vive, gosta muito de lutar
As histórias de seu Francisquinho Sergipe forte, chão amigo, luta viva Sua luta tem começo, não tem fim
Fez cidades e a paz pra gente querer Para o povo nunca é hora de parar. C

Francisco Passos de Oliveira, 92 anos, Malhador entre elas vive altiva


mais conhecido como ‘seu Francisquinho’, Canta a vida, o trabalho e o saber
Texto: CRISTIAN GÓES
foi o quinto prefeito de Malhador. É uma Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
memória viva naquele município. Ele lem- Sua gente junto à terra faz riqueza Fonte: ‘História de Malhador’, de Ariosvaldo Figueiredo;
bra detalhes da formação de Malhador. Lá, Planta e colhe, ajuda a todo o Estado Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e colaboração de Fran-
cisco Passos de Oliveira e da professora Elenalda dos Santos
ele está há 73 anos. “Fiquei conhecido em Malhador é presente, futuro, certeza (morta um ano depois da publicação da história no jornal em
Itabaiana como Chico Fogo porque enfren- de história maior do que o passado. um acidente de carro).
Maruim do apogeu
à decadência
Município foi um
importante centro
comercial, industrial
e cultural do Estado
no final do século XIX

S
ergipe nasceu em Maruim. A frase
pode parecer, mas não é nada exa-
gerada. Basta que se conheça a fan-
tástica história daquele município, que fica
na região do Cotinguiba, a 30 quilômetros
de Aracaju. Recentemente a bióloga e his-
toriadora Maria Lúcia Marques Cruz e Sil-
va, filha de Maruim, expôs achados históri-
cos do município. São milhares de peças e
documentos que revelam o apogeu e a de-
cadência do Empório de Sergipe.
Empório, sim. Boa parte dos grupos
empresariais de sucesso em Sergipe nasceu
em Maruim. A força econômica e política
desse município era tanta que foram insta-
lados lá oito consulados. A cana-de-açúcar
e o algodão atraíam os europeus, que em
Maruim montaram colônias. Igreja Matriz Nosso Senhor dos Passos, cuja construção foi iniciada no de 1848 e concluída
em 1862

O começo
para negociar com o ouro da terra, que era Forte economia
O nome da cidade vem do inseto maru- o açúcar nas terras de Manoel Rodrigues.
im (os antigos chamavam Maroim), que Depois de desavenças entre José Pinto e As excelentes terras e o açúcar que nascia
em Tupi significa mosca pequena ou mos- Manoel, Maruim passa a ser dependente de delas eram as maiores riquezas de Maruim
quito. O primeiro povoamento nasceu no Santo Amaro e depois de Rosário do Cate- na metade do século XIX. A cidade pos-
encontro dos rios Sergipe e Ganhamoroba. te. As brigas terminaram na chamada Re- suía 15 grandes engenhos. Os portugueses
Aos arredores do Porto das Redes (antiga volução de Santo Amaro. As confusões só dominavam a cultura, mas logo chegaram
Alfândega de Sergipe), surge Mombaça. acabaram em 1835, quando o governador alemães, italianos, ingleses e suíços.
Mas os ataques dos mosquitos obrigaram da Província, Manoel Ribeiro da Silva Lis- Mas foi um sergipano quem mais se des-
os poucos habitantes a se mudar dali. boa, transformou Maruim em uma vila e tacou na economia e política em Maruim.
O português Manoel Rodrigues de Fi- no ano seguinte ela virou cidade. O coronel Gonçalo Rollemberg do Prado
gueiredo permite que as pessoas fugidas do Para a história oficial, o fundador de tinha as maiores usinas e produções de açú-
Mombaça construam suas casas dentro de Maruim foi José Pinto de Carvalho. Foi ele car. Ele governou a cidade por muitos anos.
suas terras, no Engenho Maruim de Baixo. quem governou a recém-criada Vila de O ciclo do algodão em Sergipe foi curto,
Outro português, José Pinto de Carvalho, Maruim, e quem empossou o primeiro pre- mas a família do alemão Otto Schramm
construiu um grande armazém (trapiche) feito, Luís Barbosa Madureira. montou em 1869 o maior descaroçador da

CINFORM 141
Região - Central
Distância de Aracaju - 30km
População - Cerca de 16 mil
Atividades econômicas Agricultura
(cana-de-açúcar), pecuária, pesca e Indústria
de Malharia Constâncio Vieira

Curso primário do Grupo Escolar Padre Dantas: força na educação

Província em Maruim. A fábrica era mo- vida econômica, política, social e cultural A influência estrangeira em Maruim deu
vida a vapor e descaroçava, por dia, 600 daquele município. origem ao nome de um dos bairros mais
arrobas de algodão. A mão-de-obra era A força dos alemães era tanta que um con- importantes da cidade, o ‘Lachez’. Foi uma
praticamente toda escrava. sulado foi instalado em Maruim. Além dele, homenagem ao francês Henrique José La-
No final do século XIX, a força econô- em 1850 a cidade ainda tinha os consulados chez, que em 1822 era um importante co-
mica de Maruim era tanta que empresas e da Inglaterra, Suécia, Noruega e dos antigos merciante em Maruim.
indústrias instaladas no município tinham reinos de Nápolis e Áustria. Em 1860, o vice- A decadência das empresas estrangeiras
filiais em outros Estados e em muitos pa- cônsul da Suécia, Eduardo Wynne, em nome começou com o fim da escravatura. A par-
íses da Europa. Países como Alemanha, do ‘corpo diplomático de Maruim’ saudou tir de 1900, a maioria das firmas abriram
Inglaterra e França mantinham comércio Dom Pedro II no Paço Imperial. falência, e os estrangeiros foram embora.
regular com firmas localizadas em Maru-
im, como a Casa Inglesa, Schramm e Cia,
A.Fonseca, A Casa Cruz, Maynart e Ir-
mãos e Soares & Prado.

Importância dos Schramm

A firma alemã Schramm e Cia tinha


filiais em capitais como Recife, Salvador,
Rio de Janeiro e na cidade de Hamburgo
(RJ). A empresa era de Ernst Schamm,
que depois da morte de sua mulher, Adol-
phine, passou para o sobrinho Otto
Schramm. Este último chegou a ser no-
meado cônsul.
Segundo relatos históricos, Otto era
um homem de mentalidade progressista
e contribuiu para impulsionar a econo-
mia em Maruim, criando um setor de
crédito, sendo então a primeira casa ban-
cária de Sergipe.
Por causa dos Schramm, cerca de 30
alemães vieram para Maruim, onde fun-
daram uma colônia. Além de comercian-
tes, existiam entre eles médicos, como
Richard, Axemflede, Uachter, e trabalha-
dores rurais. Todos eles influenciaram na Colônia alemã que se instalou em Maruim

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Rua General Siqueira de Menezes, feita com pedras calcárias, inaugurada por D. Pedro II, no João Gomes de Mello, o “Barão
século XIX de Maruim”

Quem foi Barão de Maruim?

Seu nome era João Gomes de Mello.


Nasceu em 18 de setembro de 1809 no en-
genho Santa Bárbara. Era um grande pro-
prietário de terras que, em uma de suas fa-
zendas, construiu a Igreja do Senhor dos
Passos, hoje a matriz de Maruim. Foi chefe
do Partido Conservador, comandante su-
perior da Guarda Nacional, vice-presiden-
te da Província, várias vezes deputado pro-
vincial e três vezes deputado geral e sena-
dor do Império.
João Gomes se tornou o Barão de Maru-
im em 11 de outubro de 1848. Ele foi o
maior responsável pela mudança da capital
de São Cristóvão para Aracaju. Segundo
historiadores, o barão era amigo pessoal do
presidente Inácio Barbosa e os dois prepa-
Gabinete de Leitura, fundado em 19 de Coronel Gonçalo Rollemberg: industrial raram o terreno para a mudança da capital.
agosto de 1877 e chefe político O barão ainda foi condecorado em Roma
pelo papa como Comendador da Ordem
Comerciantes locais destacaram foi a Fábrica de Bebidas Han- de Cristo, Cavaleiro das Ordens do Cruzei-
nequim. José Francisco de Hannequim fun- ro, da Rosa e de São Gregório Magno. Ele
Os comerciantes locais tocaram o desen- dou sua destilaria de álcool e cachaça, e de- foi para o Rio de Janeiro, casou-se com uma
volvimento de Maruim, entres eles José pois a transformou em fábrica de bebidas, irmã do Visconde do Uruguai e lá morreu,
Quintiliano da Fonseca, que tinha a em 1904. Os produtos Hannequim faziam em 23 de abril de 1890.
A.Fonseca & Cia. Ele negociava com teci- sucesso em vários Estados. Um jornal carioca definiu o barão quan-
dos e molhados, depois passou para ferra- Com o franco desenvolvimento do co- do de sua morte: “Embora lhe faltassem as
gens importadas e nacionais. Ele também mércio de Maruim, foi montado um curso brilhantes qualidades da inteligência, pro-
foi um dos incentivadores da formação do para melhorar o nível dos comerciários. cedeu sempre, tanto na vida pública quan-
Gabinete de Leitura. Surgia aí a Fundação Cruz, no início do sé- to na particular, de modo a deixar de si
Ainda de Maruim existiam Deodato da culo XX. Era a primeira Escola de Comér- memória honrada e benquista”. C

Silva Maia, com a casa Silva Maia & Cia; cio de Sergipe.
Rosa de Queiroz, com Sabino Ribeiro & Contabilidade era uma disciplina obriga- Texto: CRISTIAN GÓES
Cia, que mais tarde se chama Ribeiro & tória. Envolta da força comercial e indus- Fotos: EDSON ARAÚJO e cedidas pelo Inventário Cultural
de Maruim
Cia; e a Casa Cruz, que também foi cha- trial, Maruim era um dos pólos de educa- Fonte: Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, edição comemorativa
mada de Cruz Irmãos & Cia. ção e cultura de Sergipe. A cidade teve 21 aos 140 anos de Emancipação Política da Cidade, 1994
Uma das indústrias locais que mais se jornais, a maioria literários, de 1862 a 1936. e Inventário Cultural de Maruim.
Moita Bonita
a cidade das serras
Município foi
emancipado por
causa das disputas
políticas entre os
irmãos Euclides e
Pedro Paes Mendonça

atual sede do município de Moita

A Bonita, na região central do Esta


do de Sergipe, originou-se de um
local denominado Alto do Coqueiro, que
não passava de uma pequena aglomera-
ção de sítios, localizada num terreno ele-
vado, onde existiam muitos coqueiros.
O seu nome, por sua vez, teve influência Vista parcial da cidade
de outro povoado vizinho, denominado
Moita de Cima, que teve seu nome alte- A Padroeira punga, que pleiteava o direito de ser a sede
rado para Moita Bonita. do município, por ser maior e mais antiga.
Mas os relatos mais antigos sobre o No primitivo Alto do Coqueiro, onde Capunga perdeu a possibilidade de ser a sede
início do povoamento naquele local da- viviam os primeiros moradores, foi cons- do município por influência de Euclides Paes
tam da administração de Manuel de truída uma capelinha, da qual os fiéis resol- Mendonça.
Miranda Barbosa, que se estendeu de veram consagrar Santa Terezinha como pa-
abril de 1600 a abril de 1602, quando a droeira. Aos poucos o local foi se desenvol- Disputa entre Irmãos
colonização de Sergipe se endereçou para vendo, aumentando o número de casas.
o centro. Foram encontradas nesse perí- Mas, como pertencia a Itabaiana, tinha sua Antigos moradores do Capunga contam
odo as primeiras notícias de terras doa- vida influenciada pelas brigas políticas. que a povoação foi fundada em 1843 pelo
das a alguns lavradores, para colonizar No início da década de 60, Itabaiana ti- português Antônio Brito, que depois de
as circunvizinhanças de Itabaiana. nha como chefe político Euclides Paes muitas brigas com os índios, possivelmen-
O crescimento desde então foi lento. Mendonça, originário do povoado vizinho te xocós, dominou as terras da região. O
Para se ter uma idéia, em 1950 a locali- Serra do Machado, pertencente, atualmen- nome ‘Capunga’ é explicado através da jun-
dade possuía como moradores apenas te, ao município de Ribeirópolis. Seu ir- ção de duas palavras: capanga e mapurun-
quatro famílias. Mesmo assim foi eleva- mão e adversário político, Pedro Paes Men- ga, árvores comuns na localidade. Era em-
da à categoria de vila pela Lei Estadual donça, tinha muita influência na região que baixo delas que os índios faziam tocaias a
nº 823, de 25/07/1957, como sede do 2º era conhecidamente seu ‘curral eleitoral’. Antônio Brito e seus comandados.
Distrito de Paz do Município de Itabai- Como o então deputado estadual Pedro Nas primeiras eleições municipais, que
ana, ao qual pertencia. Paes Mendonça não conseguia bater seu ir- aconteceram em 6 de outubro de 1963,
Nessa época a comunicação com ou- mão em outras regiões de Itabaiana, deci- Pedro Paes Mendonça saiu vencedor, ba-
tras regiões se dava por estradas precári- diu lutar pela independência política de sua tendo seu adversário Josias Costa, que fu-
as, que ficavam quase intransitáveis nos região. Após muito jogo de influência, a turamente iria ser uma figura muito im-
períodos chuvosos. O transporte era fei- Lei Estadual nº 1.165, de 12/03/63, cria o portante na região.
to à pé, carro de bois ou através de ani- município de Moita Bonita, com sede no Pedro Paes Mendonça exerceu o cargo
mais, pois não existiam veículos e estra- antigo Alto do Coqueiro, que enfrentou a de prefeito de 24 de novembro de 1963 até
das apropriadas. concorrência da localidade denominada Ca- 27 de maio de 1964 quando, usando seu

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Região - Central (Agreste)
Distância de Aracaju - 64 km
População - 10.764
Atividades econômicas - Culturas de mandi-
oca, milho, feijão, manga, melancia, jaca, coco, amendoim,
inhame; avicultura, indústrias de cerâmica, móveis, madei-
ra, além da indústria de roupas e confecções.

Município na época em que ainda era Alto do


Coqueiro

çadas ou nos bancos das praças para con- Moita Bonita, cidade amiga
versar com amigos e vizinhos. És genial e juvenil
És orgulho de nossa vida
Hino de Moita Bonita És um pedacinho do Brasil.

(Alonso F. Andrade) Moita Bonita: beleza natural


e tradição no coração de Sergipe
Liberdade, liberdade,
Liberdade e independência * ALONSO FRANCISCO DE ANDRADE
Liberdade, Moita Bonita
Trabalho e Competência. O município de Moita Bonita está situ-
ado na microrregião do Agreste de Itabai-
Moita Bonita tu és linda ana - zona central do Estado de Sergipe. É
Mais bela que tu não existe. um município jovem, com apenas 39 anos
És formosa, és querida de vida política independente. Ex-povoa-
Cidade de meu Sergipe. do de Itabaiana, se constitui num municí-
pio promissor, com os recursos naturais,
Pedro Paes Mendonça: luta pela emanci- Moita Bonita, a cidade hospitaleira existentes em seu território, uma área de
pação
Cidade legal e amiga. 86 Km².
De Sergipe és a primeira. Sua sede é a cidade que deu nome ao
direito de opção, retorna ao Legislativo es- És o amor de minha vida. município, a bela Moita Bonita, com suas
tadual. Assumiu em seu lugar o presidente ruas e praças bem traçadas. Possui uma lin-
da Câmara de Vereadores, José Costa, ir- Antigamente, Alto do Coqueiro da praça com uma belíssima igreja, tendo
mão e adversário político de Josias Costa. Hoje Moita Bonita atual como padroeira Santa Terezinha. Aos do-
Já na segunda eleição municipal, ocorri- O seu povo é calmo e ordeiro mingos são realizadas feiras livres na sede
da em 12 de março de 1967, Josias apon- Cidade próspera e genial. do municipal e no Povoado Capunga (esta
tou José Barbosa de Oliveira para candida- última quase extinta), onde são vendidos
to a prefeito e venceu seus adversários, tor- Nos céus de meu Sergipe produtos agrícolas e de todas as espécies.
nando-se o maior líder político da região e Fulgura Moita Bonita Na paisagem natural do município des-
chegando a ser prefeito em dois mandatos, Cidade jovem e elite tacam-se inúmeras maravilhas que a natu-
de 1971 a 1973 e de 1977 a 1983. Cidade de lutas e conquistas. reza nos ofertou. Dentre elas a Lagoa Seca,
Atualmente, Moita Bonita é uma cidade situada no povoado do mesmo nome, sen-
pacata, agradável, que conseguiu conciliar Os seus campos são verdejantes do a principal do município, freqüentada
o moderno com a vida tranqüila das peque- Em seu solo tudo dar por banhistas nos tempos quentes. O Rio
nas cidades do interior, onde as famílias ain- Suas paisagens são relumbrantes Jacarecica é o principal rio de Moita Boni-
da costumam sentar-se em cadeiras nas cal- Parecem ser um altar. ta, separando-o de Itabaiana.

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Serra do Capunga: beleza ameaçada

Lagoa Seca: atração turística

Serra do Capunga, situada no povoado do, na divisa com Ribeirópolis, também é


do mesmo nome. É uma serra repleta de um ponto belíssimo. Sede da Prefeitura Municipal
vegetação nativa nas suas encostas. Na par- Além de bela, Moita também possui ri-
te mais elevada desta serra há um cruzeiro quezas naturais. Foi constatado que na re- tavelmente, não existem mais. Entre elas
de madeira, onde os fiéis fazem peregrina- gião próxima à Serra do Capunga - região os grupos de zabumba; gaita e pífano do
ções religiosas. denominada Mundurão - existe petróleo, Pai Mandu e o de Lourentino em Piabas; a
A Serra do Carcará também é maravi- mas ainda não explorado. Com um futuro dança de São Gonçalo; o samba de roda; a
lhosa, inclusive no seu sopé havia as ruínas promissor, um povo pacato e ordeiro, o mu- dança do martelo; o samba de coco ou
de um velho engenho de açúcar. A Serra do nicípio de Moita Bonita vem se destacando mazurca; presépios (com teatro de bone-
Gonçalão possui uma exuberante vegeta- e está de portas abertas para seus visitantes. cos); os grupos de alimentadores de almas
ção nativa, com árvores de várias espécies. à moda antiga; reisado das meninas; can-
Ainda há uma fauna rica. * Professor de 1º e 2º Graus, licenciado em Geografia tiga da bandeira em tapagem de casas e
As serras do Capunga, Gonçalão e Car- pela Universidade Federal de Sergipe. quadrilhas juninas. C
cará possuem belezas naturais que mere-
cem atenção, a sua vegetação é abundante, Manifestações folclóricas Filhos Ilustres
a mata nativa ainda predomina nas suas
encostas. A flora e a fauna destas áreas es- As manifestações folclóricas ainda José Raimundo de Souza - pároco do mu-
tão sendo ameaçadas por pessoas que não existentes em Moita Bonita são a festa nicípio
valorizam a natureza. da padroeira; a festa dos padroeiros dos
Pedro Cunha - padre em São Paulo
Se esta vegetação for destruída, perdere- povoados; os festejos juninos; brinca-
mos um tesouro que a mãe natureza nos deiras escolares; músicas escolares; no- Veríssimo de Oliveira - advogado
ofertou com muita dedicação e que infeliz- venas; lendas; crendices populares; re-
mente o homem ainda não está consciente zas (benzedeiras e benzedeiros); queima Wagner da Costa Cunha - médico especi-
alista em Clínica Geral
do valor que ela representa para todos os de Judas; reisado; etc. Além disso, as
seres vivos. lendas do Saci, Mãe d’Água, Lobiso- Bosco Costa - presidente da Assembléia Le-
O Ibama, órgão responsável pela preser- mem, entre outras são bastante comum gislativa
vação dos recursos naturais, deveria com- entre os moradores. Wellington Costa - engenheiro e professor
prar estas áreas aos seus proprietários (al- Infelizmente, existem algumas mani- universitário
guns deles já falecidos) e torná-las uma re- festações folclóricas que estão desapare-
Terezinha Santana - educadora
serva ecológica, preservando a flora e a fau- cendo da localidade. São elas: o reisado;
na destas serras. penitentes (alimentadores de almas); Cícera de Souza - professora
Outras áreas também possuem belezas acompanhamentos; adivinhações nas
que merecem destaque ou atenção: na Ser- noites juninas, usando fogueiras; luzer- Texto: VALNÍSIA MANGUEIRA
ra de Moita, no alto, existe uma igrejinha, nas; brincadeiras infantis; festa de San- Fotos: EDSON ARAÚJO E SIDNEY LEITE
Fonte: ‘Histórico do Município de Moita Bonita’, do profes-
dedicada a São Paulo, que recebe constan- tos Reis. sor Alonso Francisco de Andrade; Enciclopédia dos Municípios
tes visitas de religiosos. A Serra do Macha- Outras manifestações culturais, lamen- Brasileiros e site da Prefeitura de Moita Bonita.

CINFORM 146
Monte Alegre
originou-se de encontros
de viajantes
Município teve seu
nome inspirado numa
fazenda e pertenceu a
Porto da Folha e Glória

A
s terras que hoje pertencem a
Monte Alegre, a 156 quilômetros
de Aracaju, já foram de Porto da
Folha, cidade colonizada por Tomás Ber-
nardes. Diz a tradição que o primeiro nú-
cleo populacional que deu origem ao povo-
ado foi fundado no final do século XIX,
em uma fazenda localizada às margens da
estrada que liga Nossa Senhora da Glória a
Porto da Folha.
Igreja de Monte Alegre, construída no lugar da primeira
Conforme pesquisas da professora apo-
sentada Valdete Alves Oliveira - que está
escrevendo um livro sobre a história da ci- índios Caboclinho e Maria Ciliata. O casal Marcado o dia, coube ao jovem João
dade - o local onde iniciou-se a povoação montou um casebre de taipa, mas um dia a Alves Lima trazer o padre de Porto da Fo-
era muito movimentado porque ali se en- índia bebeu demais, desmaiou e acabou lha para celebrar uma missa e fazer uma
contravam os viajantes de Nossa Senhora morrendo por insolação. festinha. No domingo, 1º de janeiro de
da Glória, Poço Redondo e Porto da Folha. Segundo a professora Valdete Alves, a 1920, Monte Alegre teve sua primeira feira
O nome do município foi inspirado numa fazenda de Januário ficava em um ponto e até hoje ela acontece aos domingos, sendo
fazenda de Antônio Machado Cabelê, que de muito movimento, e o pai dela, João uma das maiores da região.
se chamava Monte Alegre. Ele se reuniu Alves de Lima, que morava em Porto da Após alguns meses, foram construídas as
com outros fazendeiros e decidiram cha- Folha, começou a ir nesse local para comer- primeiras casas residenciais e comerciais. Os
mar a nova povoação de Monte Alegre, cializar queijo e tecido. “Meu pai sempre primeiros comerciantes a se instalar foram
porque no local existia um pequeno monte deixava parte de suas mercadorias com Ale- João Alves de Lima, Manoel Ferreira dos
considerado bonito e alegre. A partir daí xandrina da Costa Farias, filha de seu hos- Santos, Gustavo Melo, Antônio Joaquim
sua fazenda passou a se chamar Monte Ale- pedeiro Januário, para que ela vendesse às da Silva e José Inácio de Farias. Este último
gre Velho. pessoas de outras propriedades vizinhas”, primogênito de Januário e que muito con-
Um desses fazendeiros era um baiano de lembra ela. tribuiu para o povoamento da cidade. Doou
Jeremoabo, o Januário Costa Farias, que terrenos de sua fazenda para a construção
foi o primeiro habitante do município. Ele Primeira feira de casas populares.
passou a viver na região depois de ter fugi- Valdete informa que outro filho de Janu-
do de sua cidade, obrigado pelo pai, por ser O ambulante João Alves Lima fez um ário, Leandro, ficou com uma fazenda que
um dos discípulos de Antônio Conselheiro convite a Januário para fazer um dia de fei- passou a se chamar Olinda, onde havia um
e estar jurado de morte. ra, junto com os fazendeiros José Inácio de casarão de andar já muito deteriorado onde
Sem ter para onde ir, Januário procurou Farias, Francisco Alves da Silva, João Joa- na parede estava escrito Olinda, dezem-
o frei Doroteu, que o encaminhou para quim de Santana, Manoel Ferreira de Paula bro de 1641. Dentro da casa havia vários
colonizar o sertão, junto com o casal de e outros. objetos e um cadáver vestido com roupas

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Região: Noroeste (sertão)
Distância de Aracaju: 156 Km
População: 11.578 habitantes
Atividades econômicas: Agricultura
(milho) e pecuária
José Inácio de Farias: um dos fundadores
da cidade

de Porto da Folha até 1932, quando então


passou a pertencer a Nossa Senhora da Gló- O lobisomem de Monte Alegre
ria. Em 1940, era um pequeno povoado,
com menos de 80 casas. Em 25 de novem- Nas décadas de 60 e 70 a população de
bro de 1953, com o objetivo de incremen- Monte Alegre tinha medo de encontrar o
tar o progresso de algumas regiões, a Lei lobisomem, que, segundo a lenda, era o
estadual nº 525-A criou mais 19 municípi- morador João Valentim, que andava por
os, entre os quais estava incluído Monte toda aquela região. Contam que ele virava
Alegre de Sergipe. A partir daí o povoado bicho em noites de lua cheia porque era o
foi elevado à categoria de cidade. mais novo de sete irmãos e o mais velho
Monte Alegre, antes mesmo de ser insta- deveria ter sido seu padrinho, mas não foi.
Vista da entrada da cidade
lado, já aparecia como cidade, município, O professor aposentado Elói Alves San-
distrito único e termo judiciário da Comar- tana lembra que desde sua infância, ele ti-
ca de Nossa Senhora das Dores, aprovado nha medo de encontrar esse lobisomem.
vermelhas e sapatos. Não se sabe ao certo, pela Lei estadual nº 554, de 6 de fevereiro “Em 1977, dei aula no Povoado Ladeiras.
mas acredita-se que esse casarão tenha sido de 1954, para vigorar até 1958. Através Eu estava voltando a pé, mais de 10 horas
construído por holandeses. Na cidade exis- dessa lei, o município teve seu território da noite e a lua estava cheia. Quando eu
te uma lenda que no local ainda se encontra delimitado e desmembrado do de Nossa estava próximo ao riacho, um animal que
uma botija com um tesouro. Senhora da Glória. parecia um cachorro e um lobo apareceu na
O município foi solenemente instalado minha frente”, diz o professor.
Períodos de estiagem no dia 31 de janeiro de 1955, quando foi Segundo Elói, o cachorro, que ele imagi-
empossado o primeiro prefeito Antônio nava ser João Valentim, andava como se o
De acordo com a Enciclopédia dos Mu- José dos Santos, e constituída, também, sua estivesse guiando. Quando ele imaginava
nicípios Brasileiros, Monte Alegre de Ser- primeira Câmara Municipal, composta por que não era, o animal sentava e olhava para
gipe, localizado no noroeste do Estado, cinco vereadores. ele. Então Elói perguntou em voz alta se
sempre sofreu com longos períodos de esti- A Lei estadual nº 823, de 24 de julho de era João Valentim e ele continuou andando
agem, por isso teve um progresso muito 1957, veio, porém, alterar a situação judi- e o guiou até a baraúna do feitiço, uma
lento. Além da seca, os habitantes da cida- ciária do município, que passou a perten- árvore mal-assombrada que havia na cida-
de tiveram como grandes inimigos os can- cer à nova Comarca de Nossa Senhora da de, e depois simplesmente desparecem.
gaceiros, liderados por Virgulino Ferreira, Glória. “No dia seguinte, eu encontrei João Va-
o Lampião. Monte Alegre hoje, além da sede mu- lentim em pessoa e ele me perguntou de
O pouco que o município ainda produzia nicipal, tem dois povoados (Lagoa do Ro- onde eu vinha na noite anterior e se eu lem-
era tomado pelos bandidos, que quando não çado e Maravilha) e cinco comunidades brava do animal que estava me guiando.
eram atendidos, devastavam fazendas ma- (Lagoa da Estrada, Lagoa das Areias, Ju- Então eu tive certeza que era ele. Valentim
tando o gado e muitas vezes assassinando azeiro, Uruçu e Santo Antônio). As prin- me disse que estava me protegendo contra
também os proprietários (Veja box abaixo cipais festas da cidade são a do padroeiro Zé Duarte, uma pessoa ruim”, disse Elói
com história sobre o Rei do Cangaço). Sagrado Coração de Jesus, em junho, e a Santana. João Valentim morreu há 11 anos,
Monte Alegre pertenceu ao município de São João. com 70 anos.

CINFORM 149
Casarão dos holandeses, na Olinda

corriam apavoradas, deixando suas tarefas


para depois.
O tanque era útil para banhos e nata-
ção, cuja prática há muito tempo foi dei-
xada, porque com o crescimento do nú-
mero de habitantes, vinham águas sujas
Vista parcial da praça principal dos fundos dos quintais. A contamina-
ção piorou com a construção de uma
Lampião vendeu Aracaju, e quando foi liberado, não podia pocilga nas proximidades. Hoje o tan-
rede a delegado voltar para Monte Alegre por causa da que serve unicamente para a criação de
ameaça dos cangaceiros de que iriam ar- peixes que é a sua defesa, mesmo que
A professora Valdete Alves Oliveira lem- rancar seus olhos azuis. ninguém os coma. C
bra que Virgulino Ferreira vendia redes em João Lima ficou em Nossa Senhora da
Pão de Açúcar-AL e que seu pai, João Al- Glória por algum tempo. “O comércio da * Professora aposentada, concluindo um livro sobre a his-
ves Lima, estudava lá e comprava rede a nossa família ficou abandonado e minha tória de Monte Alegre.

ele. Algum tempo depois, Virgulino Fer- mãe e a gente passou muita privação. Meu
reira já era o conhecido cangaceiro Lam- pai, que era bem de vida, morreu pobre”, Filhos Ilustres
pião, estava em Monte Alegre e foi direto à lamenta Valdete Alves. José Inácio de Farias: um dos funda-
bodega de João Alves, que era a mais sorti- dores da cidade. Contribuiu muito com o po-
voamento, doando terrenos para casas popu-
da da cidade. “Quando ele chegou, viu meu Tanque Velho: antigo lazer lares. Agora ele dá nome a uma escola muni-
pai deitado em uma rede vendida por ele e da população cipal
começaram a conversar sobre o passado. Antônio José de Santana: primeiro
Lampião contou que tinha virado canga- * VALDETE ALVES OLIVEIRA prefeito
ceiro porque mataram toda sua família.
Pastor Heleno Silva: deputado estadual
Meu pai encheu as bolsas dos bandidos de Meio nativo, meio artificial, quando an- e ex-secretário de Estado da Agricultura
alimento e Lampião disse que ninguém po- teriormente com suas águas límpidas e trans-
dia tocar em meu pai”, lembra ela. parentes, parecia um grande espelho eterno Padre Francisco de Assis Góis:
pároco de Canhoba
João Alves Lima passou a ser o delegado em noites de luar. Foi a alegria para os que
de Monte Alegre e tinha de apoiar a volan- lá desfrutavam lazer. E tristeza para os que Nilton Santana: delegado de Polícia em
Aracaju
te. Um dia, em 1938, ele percebeu que es- lá sucumbiram eternamente (uma referên-
tavam sumindo algumas munições e um cia às pessoas que morreram afogadas no José Nunes Santana: pedagogo e ve-
amigo seu lhe disse que um soldado estava tanque). reador da cidade
entregando aos cangaceiros. Ele e outros da Os raios de sol que os bordejavam, Cícera Araújo de Barros Lima: pro-
volante seguiram o soldado e descobriram transmitindo-lhes as cores do arco-íris, fessora e secretária Municipal de Educação
que ele entregava a intermediários que le- jovens ou velhos que desfrutavam lazer
Janecelha Ferreira Santos: freira
vavam para os cangaceiros. jamais o esqueceram. As águas eram re-
Um dia a volante e o Exército seguiram tiradas para a lavagem das roupas no es- Maria Cleide Santana: secretária Mu-
nicipal de Administração e filha do primeiro
essas pessoas e descobriram que a munição coamento do paredão. Hoje suas águas prefeito
foi parar em Propriá, na fazenda de Antô- encontram-se em demasiada sujeira e so-
nio Caixeiro. De lá embarcou para Pira- lidão. As águas não brilham como an- Tailson - Nasceu em Monte Alegre, mas foi
para Nossa Senhora da Glória ainda bebê. Foi
nhas-AL e depois aportou em Angico, onde tes, são turvas como os olhos com cata- revelado no Dorense, jogou no Vitória da Ba-
o bando de Lampião estava escondido. “Por ratas humanas. hia, 15 de Piracicaba, fora do Brasil e atual-
isso que Lampião e seu bando foram mor- Ao meio dia, era o ponto pitoresco para mente está no Botafogo do Rio.
tos”, informa a professora. o encontro de bois Zebu que vinham beber
Ela diz que pouco antes de Lampião ser água, aí se travavam em lutas de cabeça,
encontrado, seu pai prendeu o soldado que um contra o outro. Qual será o vencedor? Texto: CARLA PASSOS
estava roubando a munição, mas depois O de Lourival ou o de Toinho? O de Cabelê Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
ele mesmo foi preso sem nem saber por ou o de Antônio de Chico? Faziam-se até Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa da
professora aposentada Valdete Alves Oliveira
quê. Passou 45 dias na penitenciária de apostas. As lavadeiras de roupas, muitas
Muribecadesenvolveu-se, mas
regrediu no tempo

Município teve quatro


cinemas, engenho,
olarias e alambiques
que davam emprego
aos moradores

N
ascido com o nome Sítio do Meio,
o município de Muribeca, a 72 qui
lômetros de Aracaju, desenvolveu-
se economicamente, mas depois literalmen-
te parou no tempo. A população chegou a Cidade surgiu na antiga capela, hoje Igreja Matriz Senhor das Misericórdias
dispor de engenho, alambiques e olarias para
trabalhar, e até de quatro cinemas para o pero povoado, mas sua evolução político- Saudades e esperanças
lazer. A cidade, antes bastante promissora, administrativa só teve início em 7 de no- de melhoria
com a rede ferroviária passando ao lado, vembro de 1921, quando foi criado o dis-
hoje encontra-se praticamente sucateada, trito de paz ainda com a mesma denomina- A professora aposentada Maria Deuzi-
mas, segundo os otimistas, com uma espe- ção. Nesse período, a povoação não per- nha dos Santos Souza, hoje vereadora, diz
rança de recomeço. tencia mais a Propriá e sim a Aquidabã, que a população está com esperanças na
As terras de Muribeca (nome indígena que foi desmembrado em 1882 do municí- nova administração (Joana Barroso), que
que significa mosca inoportuna) fazi- pio propriaense. já mostra resultados positivos. “Ela é uma
am parte da área que Cristóvão de Bar- O termo judiciário de Muribeca foi cri- mulher de visão, está batalhando e, apesar
ros, conquistador de Sergipe, deu em ado em 1926, através da lei nº 942, de 8 de das dificuldades, já está pagando o salário
1590 a seu filho, Antônio Cardoso de outubro, que deveria ter como sede o Po- mínimo aos funcionários, nunca pago an-
Barros, através de sesmaria. Elas foram voado Sítio do Meio. Nesse mesmo tem- tes em nenhuma administração”, afirma
compradas por João Batista de Almeida po ele foi também elevado à categoria de Deuzinha.
Figueiredo, onde ele construiu o primei- vila e passou a pertencer juridicamente a A moradora Dionélia Andrade Araújo
ro prédio do lugar - uma pequena capela. Capela. (dona Dió), 79 anos, é natural de Nossa
Tempos depois ela deu lugar à Igreja Só em 1938 a Vila de Muribeca foi ele- Senhora da Glória, mas vive em Muribeca
Matriz da cidade, sendo escolhido como vada à categoria de cidade, através do de- desde os 8 anos. Ela disse que a administra-
padroeiro Nosso Senhor da Misericórdia, creto-lei nº 69, de 28 de março. O muni- ção do prefeito Cacau Franco (1997-2000)
louvado todo dia 1º de janeiro. cípio ficou constituído pelos povoados foi a pior que o município já teve. “Muri-
Mas foram os filhos de João Batista de Visgueiro, Saco das Varas, Pedras, Cama- beca é um lugar calmo, bom de se viver,
Almeida, Manoel Almeida Figueiredo e rá, Arrodiador, Pau Alto, Inês, Cajueiro e mas o ex-prefeito arrasou a cidade”, afirma
Francisco Xavier de Figueiredo, que tive- Cabeça da Onça. Teve como primeiro pre- dona Dió.
ram participação mais destacada na povoa- feito o pároco da cidade, Carlos Camélio O marceneiro José Bomfim dos Santos,
ção de Sítio do Meio, localidade pertencen- Costa, que foi homenageado anos depois 79 anos, também demonstra sua insatisfa-
te na época a Propriá. com seu nome sendo colocado no fórum ção. “As políticas que têm aparecido por
Em 1897, Sítio do Meio já era um prós- da cidade. aqui é só ingratidão. Com essa que entrou

CINFORM 151
Região - centro (Vale do Cotinguiba)
Distância de Aracaju - 72 Km
População - 7.100
Atividades econômicas - pecuária; agricultu-
ra; artesanato (bordado de ponto de cruz, rendendê, cro-
chê); confecção de vassoura de palha, esteirão, cesta e ralo de
milho .

Casas da Rua Leobino Figueiredo

maça passava na Estação de Muribeca e Grupos folclóricos como Guerreiro, Ba-


transportava passageiros. “Aqui era muito camarteiro, Marujada, Reisado, com sua
bom. Tinha como se viver. A gente levava espontaneidade e a própria essência das
banana pra vender em Aracaju, pagava pou- manifestações populares, foram colocados
co, e voltava de tarde com dinheiro no bol- no esquecimento, levando consigo a Ban-
so. Hoje é só dificuldades”, lamenta da de Música, criada pelo primeiro pároco
Bomfim. de Sítio do Meio, o monsenhor Carlos Ca-
O agricultor aposentado José Dias Fei- mélio Costa.
tosa é quem toma conta do minadouro que Foi demolido também o cruzeiro, patri-
abastecia o tanque do Maria Fumaça. Ain- mônio do nosso município, inaugurado em
da hoje a povoação próxima à beira da li- 12 de fevereiro de 1905 pelos missionários
nha, onde ele mora, é abastecida com água capuchinhos: freis Gabriel e Caetano.
desse minadouro. Quem não se lembra do minadouro
conhecido como Estriveira, construído
Uma nova história para Muribeca em 14 de abril de 1913, que serviu para
abastecer toda nossa cidade; dos carna-
* MARIA DEUZINHA DOS SANTOS SOUZA vais com desfile de blocos e destaque do
trevo, resgatado na gestão do ex-prefei-
O município de Muribeca é conhecido to Adilson.
como uma cidade de paz e conserva seus A atual prefeita, Joana Barroso, a pri-
hábitos, costumes, valores materiais e espi- meira mulher prefeita eleita pelo voto dire-
Ponte por onde passa a linha ferrea rituais, manifestados através da religião, to no município, apesar das dificuldades fi-
educação, família, artes, diversões, alimen- nanceiras, mas excedendo as expectativas,
agora (Joana Barroso), parece que a coisa tação e moradia. está oferecendo aos habitantes condignas
está melhorando. Ela tem boa vontade de Falar de Muribeca é falar de Aloízio condições de vida, pilastras básicas para um
recuperar a cidade, tem médico e medica- Prado Carvalho (Lulu) que, em sua veia município que desperta para o seu cresci-
mentos, mesmo assim a coisa está muito poética, teve no amor à família a sua mento, para sua evolução, deixando o pas-
difícil”, lamenta ele. fonte de inspiração, denominando-se ‘o sado para trás e olhando com desenvoltura
Seu Bomfim lembra que antigamente a poeta calado’. Recordo também dos ci- para a frente.
vida em Muribeca era bem melhor porque nemas: Plaza, Iracema, Santo Antônio O município de Muribeca tem diante
tinha onde se trabalhar. “A situação vem e São José, que concentravam grande de si um futuro promissor, projetando seu
piorando há uns 20 anos. Antes tinha em- quantidade de informações em seus fil- desenvolvimento na construção de uma
prego para o povo. Funcionava engenho de mes, que foram extintos. Até o hino que nova história administrativa, com parti-
açúcar, olarias, três alambiques, carpintari- tínhamos, gravado pelo programa de cipação e paz.
as, hoje não tem mais nada”, reclama. Atividades Culturais do Mobral, foi es-
Por volta dos anos 50, o trem Maria Fu- quecido. * Professora aposentada e vereadora

CINFORM 152
Novo prédio do Fórum de Muribeca

Visão da Rua Jackson de Figueiredo, onde está localizado o Mercado Municipal

Olhar de esperança Apesar de nos localizarmos em um


num futuro melhor território muito sofrido, onde é escassa
a fonte de trabalho e conseqüentemente
* ESTÁCIO ANTEÓGENES (TETÉ) MORAES de renda para a população, o novo milê-
MATOS nio trouxe também uma nova esperança
para a nossa gente: sobretudo o desejo
Existe uma história de contos populares de que as conquistas sociais, tão normais
na cidade de que já há muitos anos a popu- em tantas localidades brasileiras, chegas-
lação carrega nos ombros um fardo muito sem aqui para o nosso povo, onde exis-
pesado: conta-se que um antigo pároco que tisse sobretudo dignidade e coragem para
por aqui passou, em um momento de raiva sonhar em dias melhores. Não era pedir
de alguns paroquianos por uma situação que muito.
se criou, perdeu a paciência e “rogou uma Nós muribequenses acreditamos: em
praga” como desabafo contra a cidade. Deus primeiramente (porque somos um Trilhos resistem mas o progresso se foi
Éramos em tempos remotos, quando a povo tradicionalmente religioso e nascemos,
cidade quase era uma só rua, quando ainda crescemos e vivemos sob as bênçãos do ram ajudar no mutirão da cidadania, a
não existia a pavimentada Rodovia BR-101 Senhor das Misericórdias), depois temos fé construir um futuro de verdadeiro desen-
e portanto todos os veículos que transita- também em nós mesmos, pois temos garra volvimento, com justiça, paz e dignida-
vam de norte a sul do Estado passavam e vontade de construir uma sociedade me- de para todos. C
obrigatoriamente dentro do perímetro ur- lhor, onde todos se respeitem e sejam res-
bano. peitados, onde exista a dignidade e que to- * Diretor de Esportes e Turismo
Quando esta cidade era ainda chamada dos sejam felizes sem medo de maldições e
‘Sítio do Meio’, o famoso pároco senten- fantasmas do passado...
Filhos Ilustres
ciou que aquela pequena povoação jamais Acreditamos também em todos aqueles
passaria de Sítio do Meio. que, mesmo não tendo as raízes na nossa
João Ramos de Almeida, o Garrinchi-
Verdade ou não, tradição ou não, supers- terra, vêm se juntar a nós e trazer a boa nha - jogador de futebol atacante do Santa Cruz
tição ou não, mas tal dito sem dúvidas afe- vontade, a honestidade, a honra, a justiça, a (PE), Confiança (SE), Dorense (SE), Fortaleza
tou por muito tempo a auto-estima do transparência para que o nosso sonho se (CE), Maruinense (SE) e Feira Sport Clube (SE).
muribequense, que realmente pensava que torne realidade. Djalma Pereira dos Santos - engenheiro
de Sítio do Meio não passaria nunca. Sítio do Meio faz parte da nossa histó- eletrônico, professor em Salvador (BA), fez cur-
Começamos o novo ano e o novo milê- ria e nos orgulhamos dela e passaremos so de aperfeiçoamento no Japão.
nio (2001) e com ele uma nova energia e aos nossos filhos com alegria e honra aque- Luciano Ramos - engenheiro químico, fun-
um novo ânimo de construir um futuro les tempos que mesmo sendo uma cida- cionário da Fafen
melhor para as nossas jovens gerações. dezinha, aspirava tanto desenvolvimen-
A parte que temos o melhor festejo de to. Mas também para os nossos filhos te-
São Pedro do Estado de Sergipe (e cá entre mos que sonhar alto e lutar para que o
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
nós, este ano será o melhor, dos até agora futuro seja aquilo que será. Muribeca, Fotos: DIÓGENES DI
festejados...), mas não só de festa vive a uma cidade desenvolvida, onde todos te- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, pesquisa de Neu-
nham espaço, vez e voz, desde que quei- rimar Conserva - funcionária da Secretaria de Educação.
população.

CINFORM 153
Neópolis
a capital sergipana
do frevo
Município, às margens
do Velho Chico, tem
destaque também
através do Platô e dos
perímetros irrigados

N
eópolis, distante 121 quilômetros
de Aracaju, é considerada a capi
tal sergipana do frevo, mantendo
a tradição do bloco Zé Pereira durante os
carnavais. O frevo, comum em Recife e
Olinda, em Pernambuco, invade as ruas de
Neópolis, com a multidão cantando e dan-
çando ao som de marchinhas do grande
Mestre Capiba. Situada às margens do Rio
São Francisco, a cidade tem uma vista ma- Neópolis: a capital sergipana do frevo também é banhada pelo Velho Chico
ravilhosa e destaca-se por possuir duas igre-
jas católicas na mesma praça, uma de frente os eram frágeis, cobertos de palha, em vez signação de Vila Nova, sendo seu primei-
pra outra. de serem construídos de alvenaria e ma- ro prefeito Antônio Ataíde. O decreto-lei
O município de Neópolis foi fundado deira para resistir à ação do tempo. Por nº 272, da Interventoria Federal no Esta-
com o nome de Santo Antônio de Vila causa disso, a vila volta ao patrimônio da do, de 30 de abril de 1940, dá à cidade a
Nova, elevado à categoria de freguesia em Coroa, passando a se chamar Vila Real designação de Neópolis.
18 de outubro de 1679. As terras foram do São Francisco.
doadas a Antônio de Britto Castro, pelo rei Participações Históricas
de Portugal, com o compromisso de serem Vila Nova Del Rei
construídas no local 30 casas, cadeia, pe- O povo neopolitano sempre se fez presen-
lourinho e casa de câmara. Em 1733, a povoação foi elevada ofici- te às grandes decisões. Em 1710, revoltado
Em 1683, o filho do donatário, Sebasti- almente à categoria de vila com a deno- contra os dízimos cobrados pela Capitania
ão de Britto de Castro, requereu a nomea- minação de Vila Nova Del Rei. Em 1817, da Bahia, invade a cidade de São Cristóvão e
ção em substituição a seu falecido pai. Em ela perde quatro quintos do seu território se apodera do armamento da força pública,
decorrência disso, a Coroa procurou infor- para a criação da freguesia de Santo Antô- destitui os representantes do poder, chegan-
mação para saber se as cláusulas da doação nio do Urubu de Baixo, hoje Propriá. Em do o capitão-mor Salvador da Silva Bragan-
tinham sido cumpridas. Ele informou, em 6 de março de 1835, recebe pela Lei pro- ça a esconder-se, temendo ser morto.
1689, que todas as exigências da doação vincial a categoria de comarca com a de- Liderado por Bento de Mello Pereira (Ba-
haviam sido cumpridas, inclusive que a vila signação de Vila Nova do Rio São Fran- rão do Cotinguiba), participa ativamente
já contava 200 moradores. cisco, compreendendo seu termo, Propriá contra as revoluções pernambucanas, pa-
Para comprovar se a informação era e Porto da Folha. trulhando aquela região da Província, ora
verdadeira, em 29 de novembro de 1689 a Em 1857 a comarca foi transferida para invadindo a Câmara da florescente Vila do
Carta Régia manda o ouvidor de Sergipe Propriá. Medida que foi reparada tempos Penedo, em 1817, ora expulsando de Brejo
fazer uma vistoria, quando foi constatado depois. Em 23 de novembro de 1910, a Grande, em 1824, os irmãos Antônio José
que o donatário não havia cumprido o vila é elevada à categoria de cidade, atra- de Albuquerque Cavalcante e José de Al-
acordo, como fora combinado. Os prédi- vés da Lei estadual 583, com a mesma de- buquerque Cavalcante.

CINFORM 154
Região - Baixo São Francisco
Distância da capital - 121 km
População - 18.500
Atividades econômicas - Agricultura irrigada

Barão do Cotinguiba: líder dos neopolitanos

tora Dona Lila, uma das maiores educa- do Rio São Francisco, os empresários estão
doras da região), igreja, praça, campo de mais tranqüilos. Se a transposição fosse efe-
futebol com arquibancada, mercado e tivada, todo o perímetro irrigado estaria
clube de lazer. comprometido, causando um grande pre-
juízo ao Estado.
Platô de Neópolis e O secretário de Agricultura do Municí-
Perímetro Betume pio, Josemilton Silva Almeida, destaca
também a importância do Perímetro Irri-
O Platô de Neópolis, projeto de fruti- gado do Betume na geração de empregos
cultura irrigada do Baixo São Francisco, para a região, com a fábrica de beneficia-
mudou o perfil social da região. Localizado mento do arroz, implantada pela Code-
a 92 quilômetros de Aracaju, com 38 lotes, vasf na década de 70.
já está gerando mais de três mil empregos.
Implantação das indústrias O Projeto está com 30% da sua capacidade Igreja foi quartel-general
produtiva, em torno de 50 mil toneladas.
A industrialização do município teve Mas a meta é chegar a produzir em 2006 * SIVAL GOMES
início em 1892, com a instalação da fábri- mais de 250 mil toneladas.
ca de óleo de caroço de algodão, de Alber- Todo o complexo de fruticultura é admi- Neópolis tem uma das igrejas mais anti-
to Vaz, vindo depois uma usina de benefi- nistrado pela Ascondir - Associação dos gas de Sergipe, a de Nossa Senhora do Ro-
ciamento de arroz. Em 1906 instala-se na Concessionários do Distrito de Irrigação do sário. Não se sabe ao certo quando foi cons-
sede municipal a fábrica têxtil de Antunes Platô de Neópolis -, criada para especifica- truída, mas pelos seus aspectos arquitetôni-
& Cia e, em 1907, na propriedade de Pas- mente para esse fim. Ela gerencia a água, o cos e por ter sido quartel-general no século
sagem, a fábrica de Tecidos de Peixoto fomento de tecnologia e incentivo ao me- XVII, chega-se à conclusão de que é umas
Gonçalves & Cia. lhoramento da produção, e orienta tecnica- das mais antigas do Estado.
A Vila Operária da Passagem foi funda- mente sobre a manutenção dos canais, das São poucos os documentos existentes
da pelo comendador português Manoel estradas de acesso e de toda infra-estrutura deste tão importante templo. Mas as in-
Gonçalves, proprietário e idealizador da local da sede. formações encontradas nos dão a certeza
Fábrica de Tecidos ‘Peixoto Gonçalves’, O Platô já está produzindo coco, aba- de que a Igreja do Rosário foi a nossa
empregando mais de 200 trabalhadores na caxi, mamão, banana, maracujá, melan- primeira Matriz Paroquial, e não a de
década de 1960. cia, limão e tangerina. As mangueiras plan- Santo Antônio.
Até hoje, a fábrica é uma das maiores tadas ainda não estão produzindo. As fru- Em 1638, o Conde de Bagnuolo, quan-
fontes de emprego na região, com 460 tas são comercializadas nos supermerca- do comandava suas forças com soldados
empregados, como também um dos mai- dos locais e exportadas desde Pernambu- e civis vila-novenses, fez dela quartel-ge-
ores contribuintes de ICMS. A Vila Ope- co até a Bahia. neral para enfrentar as tropas de Maurí-
rária tem uma infra-estrutura melhor do O Projeto trouxe grandes benefícios para cio de Nassau.
que muitos municípios do Estado, possu- todo o Baixo São Francisco e o Estado. Com Em 1813, o inverno foi muito rigoroso,
indo escola (teve como professora e dire- o arquivamento do projeto de transposição quase o ano todo. A nossa Matriz de Santo

CINFORM 155
Neópolis tem o privilégio de ser banhada pelo Rio São Francisco José Leandro, Agesilao e Francisco Accioli: notáveis do município

Antônio, por encontrar-se já em péssimas seus pecados e confessar o motivo que lhe
condições, devido ao seu telhado apresen- levava à morte. Após o ato do enforcamento, José Bandurra - Chefe da Chegança
tar-se em ruínas e possuir infiltrações nas era sepultado na referida igreja.
Luiz Melo de França - Médico Sanitarista
suas paredes, veio a desabar naquele ano, o
que levou a nossa Igreja do Rosário a voltar Do luxo ao abandono Ângela Maria da Silva - Médica, doutora em
a ser Matriz, conforme historia o vigário da Infectologia
época, Padre Antônio do C. Bruno. Em uma época em que a fé pelos santos Agesilao Baptista Martins Soares - Agro-
Com a visita do Imperador do Brasil, D. levava as pessoas a fazer muitas loucuras, a pecuarista, ex-prefeito, delegado e juiz de Paz
Pedro ll, em 1859 foi formada uma comissão imagem de Nossa Senhora do Rosário fez
João Baptista Gomes Neto - Engenheiro
de dedicados devotos de nosso padroeiro e, fortuna, chegando a possuir várias casas, agrônomo
após a celebração da missa em homenagem além de jóias de ouro e de prata, tendo sido
ao ilustre visitante, foi entregue uma bem ca- vendidas já no século que passou pelos Milton Barbosa de Lemos Silva - Historia-
dor, escritor e professor da UFS
prichada solicitação no sentido de que fosse membros da Confraria do Rosário.
recuperada a nossa Igreja de Santo Antônio. Um fato curioso é que as jóias eram guar- Luiz José Pereira de Melo - Advogado, pro-
No ano seguinte, chegou um emissário dadas em caixão de ferro que existia no asso- curador do Estado
da Imperatriz para verificar a situação da alho do corredor do lado esquerdo da igreja, José Costa Cavalcanti (Patativa) - Advoga-
igreja e levantar os valores que deveriam trancado com três fechaduras. Para manter a do, promotor público e ex-superintendente da
ser gastos na recuperação. Ele não mediu segurança, cada chave era guardada com um Polícia Civil
esforços e mandou reconstruir a nossa Ma- membro da Confraria: o presidente, o secre- Jurandir Cavalcanti - Jornalista, odontólo-
triz de Santo Antônio, mas a obra só foi tário e o tesoureiro. go, ex-presidente da ASI
concluída em 1959, um século depois, ano O mais incrível disso tudo é que, com
que a Igreja do Rosário perdeu mais uma tanta segurança, hoje a santa não possui nem Bento de Mello Pereira - Foi presidente da
Província
vez o título de Matriz Paroquial. jóias e nem casa. Tombada pelo patrimônio
Conforme podemos constatar, a Igreja do histórico do nosso Estado, vive em total aban- Gal. Manuel Presciliano de Oliveira Va-
Rosário foi construída ao lado da forca (local dono, com seu telhado corroído pela ação ladão - Secretário do marechal Floriano Peixo-
to e um dos 21 deputados que elaboraram a
onde hoje se encontra o Fórum), pois quando dos cupins e do tempo, colocando os poucos Constituição da República
um negro era condenado à forca, antes teria fiéis que ainda têm coragem de freqüentar o
que ir à Igreja da protetora dos negros, que era nosso histórico templo em verdadeiro peri- Francisco Accioli Martins Soares - Fun-
dou farmácias e colégios em diversas cidades
Nossa Senhora do Rosário, pedir perdão de go de vida, estando, dessa forma, à espera de Minas Gerais, São Paulo e Goiás
das providências do diretor do Instituto do
Patrimônio Histórico de Sergipe e da Secre- Frei João das Mercês Ramos - Monge be-
neditino
taria da Cultura para evitar uma tragédia. C
Josias Baptista Martins Soares - Promotor
* Professor de Justiça no Espírito Santo, onde exerceu as
funções de procurador geral do Estado e de-
sembargador.
Filhos Ilustres
Narciso - jogador do Santos Futebol Clube e
Monsenhor José Moreno de Sant’ana - Seleção Brasileira;
Pároco por 31 anos da Paróquia de Santo Antô-
nio Dinho - jogou no São Paulo, Grêmio, Santos;

Nivaldo Elias Barboza - Advogado, jornalis- Misso - jogou no Botafogo do Rio e Palmeiras.
ta, ex-diretor da Penitenciária de Areia Branca
e do Detran e ex-delegado Regional do Traba-
lho Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Fotos e reproduções: SÍLVIO ROCHA
Luiz Fernando Guimarães Barreto - Médi- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Manfredo Goes Mar-
Platô de Neópolis: produção atinge 50 mil co tins, Toninho Tomaty e Josemilton Silva Almeida.
toneladas
Aparecida
foi fundada por
retirantes cearenses

Sede do município
era Cruz das Graças,
mas foi transferida
para Maniçoba,
nome antigo da cidade

A
história da cidade de Nossa Senho
ra Aparecida, a 93 quilômetros de Igreja Nossa Senhora Aparecida: terceira construída no mesmo lugar das primeiras
Aracaju, é bastante interligada com
a de Ribeirópolis, antiga Saco do Ribeiro. do de uma grande seca. Francisco Felipe de 1933 foi criado o município de Ribei-
De acordo com o escritor José Gilson dos dos Santos, que atendia por ‘Chico Ceará’; rópolis, através do decreto-lei 188. Cruz
Santos, autor do livro ‘Saco do Ribeiro - Pe- os filhos Antônio Felipe Santos e Andreli- do Cavalcante passou a fazer parte de Ri-
daços de sua História’, no final do século no Felipe dos Santos; José Felipe dos San- beirópolis.
XIX, além dessa povoação já conhecida, tos e outros se estabeleceram no local por
mais ao norte havia outra, onde viria a sur- causa das terras férteis. Todos passaram a Briga Política
gir Aparecida. Nesse local, alguns já esta- ser chamados de ‘Cearás’.
vam estabelecidos, entre eles Cavalcante, Segundo José Gilson dos Santos, nos Em 1947, Josué Passos é lançado can-
grande incentivador da cultura do algodão primeiros anos, Cruz do Cavalcante teve didato a prefeito de Ribeirópolis, pela
e principal responsável pelo desenvolvimen- mais progresso do que Saco do Ribeiro, União Democrática Nacional (UDN),
to do povoado. principalmente pelo grande desenvolvi- concorrendo com Baltazar Francisco dos
Cavalcante era um alagoano de sólida mento do cultivo de algodão. O povoa- Santos, da família dos Cearás, quando co-
condição econômica, que na primeira me- do chegou até a exportar o produto para meçou uma grande briga política. “A
tade do século XIX assassinou um fazen- os Estados Unidos e também realizava campanha eleitoral desse ano se desdo-
deiro em sua terra natal, e acabou sendo uma feira todos os domingos. Apesar de brou em clima de agitação que culminou
localizado em Sergipe e morto por vingan- Cruz do Cavalcante pertencer a Itabaia- no dia 7 de Setembro, quando Josué e
ça. O povoado onde aconteceu o assassina- na, seus habitantes tinham maior ligação sua comitiva foram fazer um comício no
to passou a se chamar Cruz do Cavalcante, com o Povoado São Paulo, atualmente Povoado Cruz do Cavalcante”, informa
por causa do cruzeiro que colocaram em Frei Paulo, que também fazia parte do José Gilson.
homenagem a ele. Anos depois o nome foi município. O delegado Manoel Perciliano dos San-
mudado para Santa Cruz e, por último, Cruz “O declínio de Cruz começou com a tos resolveu revistar os participantes da co-
das Graças, quando passou a município, ascensão de Saco do Ribeiro, em 1914, quan- mitiva, que não aceitaram. Por causa disso,
desmembrado de Ribeirópolis, na primeira do aconteceu a primeira feira. As casas co- começou um tiroteio que resultou na mor-
metade da década de 60. merciais de Cruz passaram a funcionar ape- te de José Severiano de Jesus, conhecido
Os primeiros registros do município de nas aos domingos, no dia de feira, porque como ‘José Tibúrcio’. Ninguém descobriu
Nossa Senhora Aparecida datam de 1877, nos outros dias não havia movimento”, lem- quem atirou nele. Nessa eleição, Josué Pas-
quando uma família de retirantes do Ceará bra José Gilson. sos obteve sucesso, mas em 1950 foi Balta-
(do povoado Cuncas, município de Mila- Em decorrência do desenvolvimento do zar quem venceu.
gres) chegou a Cruz do Cavalcante, fugin- Saco do Ribeiro, no dia 18 de dezembro Em 1954, o fazendeiro João Nunes

CINFORM 158
Igreja de Cruz das Graças que era a capela de
Santa Cruz

Região - Oeste (Sertão)


População: 8.273 habitantes
Distância de Aracaju: 93 km
Atividades econômicas: plantio de milho e
pecuária

legais para que fossem eleitos o primeiro


prefeito, Manoel Perciliano dos Santos, e
os vereadores, que tomaram posse em 1965.
Antônio dos Santos relembra tempos de
glória com um dos únicos objetos que sobraram da Esse desmembramento não foi bom para
época Ribeirópolis, que perdeu a parte principal
da agricultura, mas foi excelente para a re-
gião.
de Carvalho (PSD) concorreu com Jo- Entre os que tiveram que deixar a casa A Lei nº 165, de 24 de dezembro de
sué Passos (UDN) à prefeitura de Ri- às pressas estava Antônio Santos (conhe- 1975, dispôs sobre a transferência da sede
beirópolis, e ganhou com um voto de cido como Tota de Percílio), filho do pri- do município de Cruz das Graças para o
diferença. No entanto, a UDN entrou meiro prefeito de Cruz das Graças, Ma- povoado de Maniçoba, que recebeu a de-
com um recurso de recontagem de vo- noel Perciliano dos Santos. Ele foi morar nominação de Nossa Senhora Aparecida.
tos e a situação se inverteu, sendo eleito com sua família em Serra Negra, na A transferência da sede do município ocor-
Josué. Os pessedistas passaram a afir- Bahia. “Toda a família foi para lá e por reu durante a administração do segundo pre-
mar que Josué não assumiria o cargo. carta nós ficamos sabendo que destruí- feito do município, Manoel Torquato de
Pouco depois de ser empossado, ele foi ram tudo que a gente tinha, incendiaram Jesus, que governou por três mandatos.
assassinado em sua casa e a família Cea- minha casa, mataram meu gado. Passa-
rá foi acusada do homicídio. mos oito anos lá. Mas agora eu voltei Maniçoba passa a ser
Os Cearás não aceitaram a acusação, com minha família para cá porque é a sede do município
afirmando que Josué tinha muitos inimi- minha terra”, diz.
gos. “Os situacionistas agitaram-se em O terreno onde hoje é a sede de Nossa
busca de prováveis criminosos e ajuizaram Criação do município Senhora Aparecida pertenceu a Primo Tor-
que só poderiam ser os chefes do partido quato de Jesus, que o comprou em 1922 a
contrário. A caça aos políticos de oposi- Baltazar foi reeleito como deputado es- um homem de prenome Damião. O seu
ção foi imediata, e a polícia colaborou. tadual. No começo da sua legislatura, em filho, José Torquato de Jesus, morava na
Realmente eram os Ceará. Dos quais um 1963, apresentou um projeto para a criação capital de São Paulo. Um dia, em 1956,
era deputado estadual: Baltazar Santos. do município de Cruz das Graças, desmem- sonhou com Nossa Senhora Aparecida pa-
Após isso eles escaparam. brando-o da área territorial de Ribeirópo- rada na estrada que dividia a fazenda de seu
Na casa de Baltazar e nas suas fazendas lis. Através do decreto-lei número 1.223, irmão Manoel Torquato de Jesus com a de
ninguém foi encontrado, então atearam de 26 de novembro de 1963, foi criado o Manoel Perciliano dos Santos.
fogo nelas. Nada restou de aproveitável. município com sede no antigo povoado Por causa disso, Torquato chamou seu
Até o gado foi retirado. Uma casa comer- Cruz do Cavalcante, compreendendo tam- irmão, Elisiário Bispo de Jesus, que vivia
cial foi inteiramente saqueada. Dos irmãos bém os povoados de Maniçoba, Bonsuces- em Mirante do Paranapanema, também em
Ceará, três foram presos e, apesar de ab- so e Fazendinha Alta. São Paulo, para morar em Maniçoba e cons-
solvidos por unanimidade, custou a serem Logo após, o Tribunal Regional Eleito- truir uma capela, colocando a imagem da
libertados. ral encarregou-se de promover os trâmites santa. “Só depois que eu percebi que foi

CINFORM 159
Primeiros moradores de Maniçoba (na década de 20): Aprígio, Beneziu, Carimero de Piu e amigo,
Zé do Piu, Dr Manoel, Zezé Nunes, Conceição, Denizio do salgadinho e Júlio Cajarona
José Felipe dos Santos, em sua juventude
uma previsão, já que Manoel Perciliano e “Fiquei muito feliz, principalmente por cau-
Manoel Torquato foram, respectivamente, sa do nome do município que agora passa- Já médico, entrou para a escola de saúde
primeiro e segundo prefeitos da cidade, que ria a se chamar Nossa Senhora Aparecida e do Exército Brasileiro e foi morar no Rio
depois passou a se chamar Nossa Senhora teria como povoados Cruz das Graças, Al- de Janeiro. Lá fez diversos amigos ilustres
Aparecida”, disse Torquato. godão, Bom Sucesso, Lajes e metade da como Adoniran Barbosa e Vinícius de Mo-
Elisiário não estava satisfeito com a sua Fazendinha, que também pertence a Cari- raes. Foi médico do presidente Castelo Bran-
plantação de algodão em Mirante, porque ra”, diz ele. co, chefe do serviço médico do Palácio do
chovia muito. “Era tanto trabalho e a chu- Enquanto a população de Maniçoba gos- Planalto, secretário de Saúde de Goiás, di-
va estragava. Então eu decidi ir embora tou da mudança da sede, os moradores de retor do Instituto Médico Legal e da Polícia
para Maniçoba com meu irmão e constru- Cruz das Graças não se conformaram. Eles Técnica do Distrito Federal, diretor do ser-
ímos uma igrejinha de 5 por 10 metros”, dizem que isso aconteceu por questão polí- viço de saúde da Guarda Presidencial e do
lembra ele. José Torquato diz que, para a tica por causa da inimizade da família Pas- Regimento de Cavalaria e Guarda.
construção, cada mulher solteira dava 50 sos com os Cearás. Na noite que Maniçoba Ele fez ainda os cursos de Direito e Jor-
cruzeiros, as casadas davam um prêmio passou a ser sede do município aconteceu nalismo. Foi pioneiro em Brasília, já que
para o leilão e os homens pagavam a ban- um tiroteio. Dessa vez sem nenhum ferido. chegou junto com o presidente Juscelino
deira (compravam a mercadoria). “Assim Novamente, a família Ceará foi acusada de Kubitschek. Atualmente ele é diretor pro-
nós conseguimos construir a primeira ca- ser responsável por não se conformar com prietário da primeira clínica médica do Dis-
pela do povoado, fazendo os tijolos no a mudança, mas até hoje não se conseguiu trito Federal.
quintal de casa e no final de 1957 o padre provar. Que essa história sirva de exemplo para
Aleixo, de Ribeirópolis, celebrou a primeira os mais jovens de minha terra. C
missa de Maniçoba”. Um exemplo para os
Segundo Elisiário, o povoado foi cres- jovens de Aparecida * Estudante de Psicologia
cendo e em 1975 já possuía 130 casas, nú-
mero maior que Cruz das Graças, que tinha * JAILSON J. MENEZES Filhos Ilustres
108 casas. “Então nós construímos uma
capela maior no mesmo lugar da primei- José Felipe dos Santos, conhecido como Manoel Perciliano dos Santos - primeiro
Zé de Capitulinha, foi um menino prodígio prefeito
ra”. Chico Passos, deputado estadual, que-
ria a transferência dentro de poucos dias, que nasceu na fazenda Monde, hoje Apare- Manoel Torquato de Jesus (tenente) - se-
então pediram que eu, como tesoureiro da cida. Menino moleque como outro qual- gundo prefeito
prefeitura, fizesse o levantamento das duas quer, teve uma infância pobre. Com a mor-
João Andrade - padre do Povoado Curra-
cidades. “Eu pensei: ‘se a sede for transferi- te do pai, mudou-se com a mãe e os irmãos linho.
da para Maniçoba, é melhor mudar de nome para Ilhéus-BA. Aos 18 anos, foi funcioná-
para Nossa Senhora Aparecida, igual ao rio da Casa Pereira Fernandes Ltda e viajava Hermenegildo - padre em La Plata, Argen-
tina
nome da capela’”, lembra ele. todo o sul da Bahia vendendo ferragens.
Os deputados aprovaram e no dia se- Em 1940, já era ano da guerra, o jovem Zé José Dutra de Menezes Filho - advogado
guinte os vereadores do município também. Felipe fora convocado e partiu para Salva-
dor. Porém ele não embarcou por não ha- José Felipe dos Santos - Médico, advoga-
A Lei nº 165, de 24 de dezembro de 1975, do e jornalista
dispôs sobre a transferência da sede do ver datilógrafo.
município de Cruz das Graças para o povo- Então ele foi para Recife, estudou inici-
ado de Maniçoba, que recebeu a denomi- almente no Colégio Padre Felis, onde con- Texto: CARLA PASSOS
nação de Nossa Senhora Aparecida. cluiu o curso científico, em seguida fez ves- Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
tibular para a escola de ciências médicas do Fonte: Livro Saco do Ribeiro - Pedaços de sua História, de José
Segundo Elisiário Bispo, no dia 24 ele Gilson dos Santos, e colaboração de Jailson Meneses.
estava em Aracaju e leu a notícia no jornal. Recife.
Glória capital do
sertão sergipano
Cidade nasceu com
o nome de Boca
da Mata, batizada
pelos viajantes que
descansavam no local

A
‘Boca da Mata’, como era conheci-
da a cidade de Nossa Senhora da
Glória, a 126 quilômetros da capi-
tal, originou-se de uma parada para descan-
so de viajantes. Como existia uma densa
mata naquele local, os boiadeiros, que pas-
savam tangendo o gado, preferiam esperar Glória: cidade se desenvolveu mais do que sua antiga sede
o dia chegar para continuar a viagem. En-
tão, por volta de 1600 a 1625, os ranchos Prolongadas secas res. Em 24 de julho de 1957 foi criada a
deles acabaram formando a povoação. Comarca de Nossa Senhora da Glória.
A primeira denominação, dada justa- Além das prolongadas estiagens ocorri-
mente pelos viajantes, só foi mudada pelo das na região, Glória teve o progresso pre- Cultura e Economia
pároco Francisco Gonçalves Lima, quan- judicado também pela invasão dos canga-
do fez campanha com a comunidade para ceiros comandados por Lampião. Muitos Por estar situada no sertão, ainda hoje
comprar a imagem de Nossa Senhora da proprietários abandonaram as terras para se é comum encontrar, principalmente na
Glória. O município, que ficou conhecido livrar dos saques dos bandidos, que tam- feira realizada aos sábados, homens ca-
como a ‘Capital do Sertão’, tem a maior bém praticavam crimes hediondos, chegan- racterizados de vaqueiros. Entre os prin-
feira da região e acabou atingindo um de- do a chacinar famílias inteiras. cipais eventos do município estão a festa
senvolvimento muito maior que a sua an- Os cangaceiros recebiam ajuda de habi- da padroeira Nossa Senhora da Glória,
tiga sede, Gararu. tantes coiteiros que os ajudavam apenas comemorada com missa e procissão no
A evolução política de Boca da Mata com o interesse de comprar as terras aban- dia 15 de agosto, e o evento ‘O Homem
iniciou-se em 1922, quando a povoação donadas por preços irrisórios. O desenvol- mais feio do sertão’, promovido por Air-
passou a ser sede do 2º Distrito de Paz de vimento de Glória só teve andamento com ton Santana, que já entrou para o calen-
Gararu, já com a denominação de Nossa a construção da rodovia ligando o municí- dário do município.
Senhora da Glória. Seis anos depois, no pio a Nossa Senhora das Dores. O gloriense é um povo muito religioso,
dia 26 de setembro, passou à condição de Com isso houve a facilidade de penetra- predominando no município o catolicismo.
vila e foi desmembrada de Gararu. Nessa ção da volante na região e a conseqüente A Igreja Matriz, que passou a ser paróquia
época o município passou a pertencer à debandada dos cangaceiros. A partir daí o em 1959 e teve como primeiro pároco José
Comarca de Capela. município voltou a crescer, tendo a econo- Amaral de Oliveira, foi construída em um
No dia 1º de janeiro de 1929, a vila teve mia baseada na criação de gado e nas cultu- terreno doado por um senhor conhecido
como primeiro intendente João Francisco ras agrícolas. apenas por Xixiu.
de Souza, que construiu a prefeitura. Ele Finalmente, no dia 29 de março de 1938, O interesse pela música surgiu em 1918,
foi eleito para o período de 1930 a 1934, a vila foi elevada à categoria de cidade. Com quando foi criada a banda, com 17 compo-
mas teve o mandato interrompido pelo a criação de novas comarcas, em 1945, Gló- nentes, que tocava nos desfiles de 7 de Se-
movimento revolucionário de 1930. ria passou a pertencer judicialmente a Do- tembro. E mais recentemente está despon-

CINFORM 161
Região - Oeste (sertão)
Distância de Aracaju - 126 km
População - 26.822 habitantes
Atividades econômicas - Pecuária .
Fabrica móveis, queijo, requeijão e manteiga. Fornece madeiras Manoel Messias e Cecília Umbaldina: oficial de Justiça que recebeu a carta (detalhe) do Padre
de aroeira, baraúna, angico e peroba para a construção civil. Cícero

jovem que ia casar-se, mas a noiva o aban- de pisar em solo gloriense. Falar a respeito
donou às vésperas do casamento. de sua localização privilegiada e, portan-
tando com muito sucesso o conjunto musi- ”Pra época, isso foi uma desfeita enor- to, de seu promissor potencial econômico
cal ‘Os Carinhas do Samba’. me. Por isso ele desapareceu. Dizem que na microrregião do alto Sertão do São Fran-
ele foi para o Rio de Janeiro e nunca mais cisco já se transformou em lugar-comum.
Dificuldades e preservação voltou. Essa foi a primeira casa moderna Faz-se necessário falar de sua gente hospi-
da cultura para época. Enquanto eu viver, vou pre- taleira e pacata e de seu enorme potencial
servá-la da mesma forma. A gente deve cultural, ainda em estado latente, prestes a
O agricultor e funcionário da prefeitura valorizar nossa cultura e manter a tradi- despertar.
Manoel Elias de Santana (Donício), 61 anos, ção”, destaca José Augusto. A ‘Boca da Mata’, que outrora acolhia os
diz que Glória ficava realmente na boca da Para José Morais do Nascimento, 68 viajantes que vinham em direção ao Cotin-
mata - cheia de árvores Pé de Papagaio e anos, uma das maiores dificuldades para os guiba, adormeceu povoado, no início do
Quixabeira. “Uma senhora vinha vender sertanejos é a modernização, porque as século passado, para acordar município. E,
panela de barro no lugar onde tempos de- máquinas têm substituído a mão-de-obra e em curto espaço de tempo, cresceu e conti-
pois ela construiu a primeira casa do povo- desempregado muita gente. “No passado nuou fazendo jus à finalidade que lhe deu
ado, hoje o cartório da cidade’, lembra ele. era mais fácil o pobre sobreviver. O povo origem: sua hospitalidade. É um lugar pa-
Manoel diz que a mãe dele também ia tinha acesso às terras devolutas, colhia mel cato, de uma gente boa, cordata e recepti-
vender sabão onde depois formou-se a fei- silvestre, criava animais que se matava mais va, onde, em pleno século XXI, a maioria
ra, mudada de lugar por não caber mais para o consumo”, lembra ele. das notícias de óbitos tem causas naturais:
no quadrado. Hoje é a maior feira da re- Tem um fato muito interessante que acon- não fomos contaminados ainda pela assus-
gião e atrai feirantes e comerciantes até teceu em 1929 com o primeiro oficial de tadora violência dos grandes centros. Pode-
de Alagoas e Bahia para negociar com Justiça no município, Manoel Messias dos se, com tranqüilidade, armar uma rede na
animais. Santos. Ele escreveu uma carta ao Padre varanda num final de tarde e dormir sosse-
O maior problema enfrentado em Gló- Cícero no Juazeiro do Norte (CE) e obteve gadamente ou sair para passear nas praças,
ria, como em todos os municípios do ser- resposta. Disse que fez uma promessa, re- no calçadão, sem os cuidados que se fazem
tão, é a seca, que praticamente torra a plan- cebeu a graça e estava pagando enviando necessários em outros lugares. Respira-se
tação. “A seca é uma tristeza. Onde não um animal. O padre agradeceu e respon- em Glória o ar calmo típico de um lugarejo
tem água encanada é um sofrimento. A deu dizendo que ele deveria ter vendido e do interior.
palma murcha e a gente tem que comprar doado aos pobres de Glória. Temos, contudo, um berço de latentes
ração”, lamenta ele. manifestações culturais que exalam sabe-
Em Glória a cultura começa a ser valo- Glória, um colosso por despertar res, falares, cantares e fazeres que em ne-
rizada com a implantação do memorial nhum outro lugar, como tais, há tão belos e
do sertão. O médico veterinário José Au- *JORGE HENRIQUE VIEIRA SANTOS naturais. A começar pela feira livre que é,
gusto de Andrade Lima, 60 anos, tam- no mínimo, um espetáculo cultural a céu
bém tem cooperado para isso. Ele man- Dizer que Glória é um dos municípios aberto e faz convergir para cá pessoas de
tém a frente da sua casa, construída em sergipanos que mais cresceram nos últi- toda a região, espectadores, o mais das ve-
1918 na praça Filemon Bezerra Lemos, mos 20 anos já é redundância, tanto para zes, despercebidos do incrível fenômeno que
com o mesmo estilo antigo. A casa foi os filhos da terra quanto para aqueles que se desdobra à sua frente.
adquirida por seu pai, Jerino Lima, de um algum dia experimentaram da felicidade Alguns filhos notáveis como o músico e

CINFORM 162
Jorge Henrique: “Glória tem potencial cul-
tural”

Filhos Ilustres

Sergival - cantor e compositor, desenvolve


Artesanato de Véio: valorização da cultura gloriense trabalhos na área da literatura, teatro e foto-
grafia. É membro do Mac da Academia Sergi-
pana de Letras e da Asafoto. Em 2000 esteve
em Cuba representando o Estado em encon-
tro internacional de cultura popular. Conquis-
tou o prêmio ‘O Capital’ como o músico do
ano, e também recebeu a Comenda do Mérito
Cultural Ignácio Barbosa.

Artesão Véio - Um dos mais importantes ar-


tistas populares do Estado de Sergipe. Seu tra-
balho em madeira corre o mundo e boa parte
está exposto em museu ao ar livre num terre-
no que pertence à sua família em Nossa Se-
nhora da Glória.

José Augusto de Andrade Lima - Médico


veterinário, funcionário do Ministério da Agri-
cultura.

José Carlos Souza - ex-conselheiro do Tri-


bunal de Contas do Estado e ex-deputado es-
tadual.

Eraldo Aragão - presidente do Prone-


se (Projeto São José)
Casa no mesmo estilo da época que foi construída, em 1918 Boguito - jogador profissional. Jogou no Ita-
baiana, Sergipe e Vitória da Bahia.
escritor Sergival e o artesão Véio, reconhe- ças. Alguns universitários da turma de Le- Tailson - Nasceu em Monte Alegre, foi para
cidos e admirados nacionalmente, elevam tras do PQD da UFS, que funciona aqui Glória ainda bebê. Foi revelado no Dorense,
e orgulham nosso município. Esse último em Glória, decidiu fundar uma associação jogou no Vitória da Bahia, 15 de Piracicaba,
fora do Brasil e atualmente está no Botafogo
não representa apenas um artista, mas é um cultural cujo estatuto deve ser aprovado nos do Rio.
verdadeiro museu vivo no qual está guar- próximos dias. Glória já conta com o me-
dada toda a nossa história. Outros não me- morial do sertão, alguns grupos musicais Pedro Alves Feitoza - Foi o primeiro tabe-
lião do município e delegado de polícia.
nos ilustres, embora desconhecidos, ainda surgem timidamente, diversos poetas co-
não perceberam a profunda importância da meçam a tornar públicos seus trabalhos, Milton Menezes - coronel do Corpo de Bom-
publicidade de seu trabalho ou não foram alguns artistas plásticos perderam a timidez beiros
agraciados ainda pela oportunidade. de expor seus quadros, e pessoas discutem a Padre Lion Gregório - Apesar de ser natu-
Todavia, aparentemente, a cultura em necessidade de um centro de cultura e arte. ral da Bélgica, foi para Glória na década de 70
Glória parece dormir. Muito disso se dá por Temos, portanto, como diria Aluísio de e fez um grande trabalho assistencialista no
município. Construiu asilo, escola, creche,
não haver ainda aqui o que se pode chamar Azevedo, “a fervilhar, a crescer, um mun- mantendo fardamento, material escolar e ali-
de ‘vida cultural’, algo que faça despertar a do, uma coisa viva”, que parece “brotar es- mentação.
consciência do gloriense comum para o pontânea”, que pede espaço para brilhar.
mundo que se encortina sob seus olhos. Urge fazer-se despertar. C
Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Começaram a surgir, entretanto, pessoas e Fotos e reproduções EDSON ARAÚJO
grupos interessados em mudar a aparente * Professor e poeta, atualmente cursando Letras/Portu- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa de
apatia cultural que paira sobre nossas cabe- Leunira Batista Santos Souza e Leonice Santos Lima.
guês pela UFS
Dores tem o único processo contra Lampião
contra Lampião
Cidade é conhecida
como o oásis da
entrada do sertão
pelo grande númer
o de nascentes
que possui

A
cidade de Nossa Senhora das
Dores, distante 70 quilômetros
dacapital, é considerada o Portal do
Sertão Sergipano, zona divisória entre o
sertão e o litoral. Banhado pelo Rio Sergi-
pe, o município possui dezenas de nascen-
tes e um clima ameno e convidativo. É co-
nhecido, em decorrência disso, como um
oásis na entrada da região mais seca do Es-
tado. O Rei do Cangaço, Virgulino Ferrei- Igreja de Dores: um dos poucos prédios que mantêm as mesmas características
ra, o Lampião, também faz parte da histó-
ria de Dores, onde foi aberto o único pro- para abastecer o mercado local e de ou- outros documentos oficiais, ao mesmo tem-
cesso judicial contra ele. tros municípios. po, que falam em Enforcados. O que dá a
Por muitos anos Dores foi o maior pólo entender que o nome, apesar de mudado,
de referência da região, tanto na produção De Enforcados a Dores persistiu por algum tempo.
agrícola, quanto na diversidade do comér- Em 28 de abril de 1858, a povoação foi
cio. A feira, uma das melhores da redonde- A história de Dores começa em 4 de ou- elevada à categoria de freguesia e distrito
za e realizada às segundas, atraía pessoas e tubro de 1606, quando Pero Novais de Sam- administrativo, permanecendo assim duran-
feirantes de diversos municípios do Estado, paio obteve uma carta de sesmaria, de duas te 61 anos. Finalmente, no dia 23 de outu-
o que acontece até hoje. léguas de terras devolutas, doadas pelo ca- bro de 1920, passou à categoria de cidade,
A cultura do algodão cresceu muito no pitão-mor Nicolau Felipe de Vasconcelos. desmembrada dos municípios de Capela e
início do século XIX e a agricultura ga- O objetivo inicial era a criação de gado, Divina Pastora.
nhou destaque, passando a ser uma das prin- mas foi a produção de algodão que alavan-
cipais fontes de renda da população. Hoje a cou a economia dorense. Passagem de Lampião
agricultura temporária de milho, feijão e O município nasceu com o nome Enfor-
mandioca - com casas de farinha que su- cados, um lugar utilizado para aprisiona- Lampião e seu bando, cerca de nove ho-
prem o mercado local - garante a subsistên- mento e sacrifício de índios. Segundo cons- mens, passaram por Dores na tarde do dia
cia dos moradores. Permanentemente o tatação do escritor Laudelino Freire, o nome 25 de novembro de 1929. O Rei do Canga-
município produz também banana, laran- foi mudado para Nossa Senhora das Dores ço, como era conhecido em todo o sertão,
ja, coco e manga. por um missionário que foi pregar uma exigiu uma certa quantia em dinheiro ao
Com o fim da Segunda Guerra Mundi- Santa Missão na comunidade. Até hoje não intendente da época (espécie de prefeito),
al (1945), a cultura do algodão entrou se sabe o nome desse pregador nem a data Manoel Leônidas do Bomfim, e depois se-
em decadência e a agropecuária voltou a da mudança. Acredita-se que tenha ocorri- guiu para Capela.
crescer. Hoje o município destaca-se por do no início do século XIX, baseado numa Um ano depois, na noite de 15 de outu-
abrigar o 6º rebanho bovino do Estado, carta do juiz de Paz, assinada como povoa- bro de 1930, ele voltou com seu bando de
abatendo por semana cerca de 200 reses ção de Nossa Senhora das Dores. Mas há Capela, onde foram expulsos pela popula-

CINFORM 164
Região - Oeste
Distância de Aracaju - 70 km
População - 22 mil
Atividades econômicas - agricultura e comércio

Américo -, que não trouxeram benefícios


nem social nem econômico para a cidade.
Joel Nascimento foi prefeito três vezes e
indicou o quarto; José Américo adminis-
trou a cidade por duas vezes e indicou um
terceiro.
Valtênio também acusa os administrado-
res de acabar com a história do lugar. “Até o
Seu Juquinha: apesar de analfabeto, foi o
prefeito que mais construiu escolas. Acima,
marco do ponto básico onde iniciou-se o
Penitentes: tradição religiosa-cultural centenária município, a partir dos Enforcados, foi di-
no município (canto superior direito) lapidado”, lamenta ele.

ção, mas não entrou em Dores. Ele fora po e rosto. Toda Sexta-Feira da Paixão eles Sem vez e sem voz
informado de que o intendente contratara percorrem cruzeiros e santa-cruzes do su-
algumas pessoas para fazer uma trincheira búrbio da cidade, durante um período de * JOSÉ LIMA SANTANA
nas principais vias de acesso ao município, sete anos seguidos, entoando preces e cân-
impedindo a entrada deles. Revoltado, Lam- ticos em intenção das almas sofredoras. Embora uma parte das terras localizadas
pião seqüestrou o filho de um deles, identi- no atual município de Nossa Senhora das
ficado como Elpídio, e assassinou o rapaz Regressão social e econômica Dores tenha sido doada em sesmaria a Pero
no dia seguinte. Por esse crime, Lampião Novais de Sampaio, em 1606, para fins de
teve o único processo judicial aberto contra O professor de História da UFS Valtênio criação de gado, a sua primeira atividade
ele em todo o Estado, que nunca foi con- Paes de Oliveira acredita que houve uma econômica, devidamente registrada pela
cluído porque, na época - por sorte do ofi- regressão em Dores no plano social e eco- história, refere-se ao cultivo do algodão,
cial de Justiça, conforme está registrado no nômico, porém houve uma melhoria no segundo se depreende da Memória sobre a
inquérito - Lampião não foi localizado. comércio. Ele lamenta que nos últimos 25 Capitania de Sergipe, de d. Marcos Antô-
anos (2001) não tenha sido construída uma nio de Souza, datada de 1808.
Tradição dos penitentes obra marcante no município. Pelo contrá- Na verdade, a criação de gado bovino e
rio. A cidade possuía quatro bancos, mas o cultivo do algodão intercalaram-se como
O município mantém a tradição religio- ficou com apenas dois, e ainda perdeu ór- fator maior da atividade econômica do-
sa-cultural já centenária dos penitentes. O gãos públicos para Nossa Senhora da Gló- rense. Nas décadas de 20, 30 e 40, por
movimento adquiriu um cunho religioso a ria. Além disso, perdeu espaço político para exemplo, ocorreu a supremacia do algo-
partir de promessas feitas por pessoas que Capela. dão, ou, no mínimo, uma disputa acirrada
viam na penitência a maneira mais correta Para Valtênio, a decadência é resultante entre o algodão e o gado, em alguns anos
de agradecer as graças recebidas. da seqüência de administradores do mes- daquelas décadas. De lá para cá, o gado
Apenas homens são recebidos no grupo mo grupo político à frente do município. bovino voltou a ocupar a primazia, con-
dos penitentes. Eles ficam envoltos em tú- Foram sete mandatos nas mãos de duas quistada, provavelmente, nos fins do sé-
nica e capuz brancos, cobrindo todo o cor- únicas pessoas - Joel Nascimento e José culo XVIII. Hoje, a criação de gado bovi-

CINFORM 165
Vista parcial de como era a Rua Getúlio
Vargas

Filhos Ilustres
Casas de farinha: produção supre mercado local e feiras da região
José Lima Santana - advogado e escritor em-
possado recentemente na Academia Sergipa-
na de Letras e professor da Universidade Fede-
ral de Sergipe e Tiradentes. Tem três livros pu-
blicados - destacando-se ‘Tapera dos Enforca-
dos’ e ‘Apontamentos para a História do Municí-
pio de Nossa Senhora das Dores’.

Adauto Machado - artista plástico conhecido


nacional e internacionalmente. Começou a tra-
balhar como desenhista publicitário aos 16 anos
em Aracaju, morou na Bahia, no Rio de Janeiro
e chegou até a França e o Canadá. Realizou
inúmeras exposições individuais e coletivas em
vários locais dentro e fora do Brasil.

Hortência Barreto - artista plástica que


mora e trabalha em Aracaju. Fez exposições
individuais na França, em Brasília e Rio de
Janeiro. Ainda participou de coletivas nos
Estados Unidos.

Antônio Cardoso de Oliveira (seu Juqui-


nha) - prefeito homenageado em 1969, no Iate
Clube de Aracaju, como o melhor administra-
dor daquele ano em todo o Estado. Durante seu
Pedreiras: nascentes de água potável praticamente abandonadas mandato foi construído um dos mais modernos
matadouros do Estado e o Colégio Francisco
Porto, até hoje um dos maiores da região.
no de corte é, de longe, a maior fonte pro- cisco Porto e Álvaro Brito. O primeiro já
dutiva do povo dorense. era deputado desde o fim da década anteri- Floro da Silveira Andrade - médico que
Mas, ainda no fim do século XIX, conso- or e tornar-se-ia uma das mais respeitadas trabalhou em Aracaju e em Manaus (AM), e
exerceu o Jornalismo colaborando em vários
ante J. Silva Lisboa declinou na sua Corogra- lideranças políticas de Sergipe, até a década jornais de Sergipe.
fia de Sergipe, o comércio de Nossa Senho- de l950, quando abandonou a vida pública.
ra das Dores “era ativo”. Com uma situa- Nas últimas cinco décadas, as lideranças Coronel Francisco Souza Porto - foi depu-
tado, presidente da Assembléia Legislativa em
ção geográfica que se pode considerar pri- políticas de Nossa Senhora das Dores não 1927 e prefeito de Aracaju de 1933 a 1934. Tem
vilegiada, a vila, e depois cidade, passou a têm sabido erguer a voz do povo dorense. nome de avenida em Aracaju.
ser um importante centro comercial regio- Como conseqüência, o Município não tem
Cônego Miguel Monteiro - apesar de não
nal. Nos últimos anos, aliás, lidera diversas ‘vez’, quando se trata de assuntos político- ter nascido em Dores, foi vigário do município
cidades da região, que fazem parte da Câ- administrativos, no âmbito estadual. As por 33 anos, de 1935 a 1967; foi prefeito nome-
mara de Diretores Lojistas, ali sediada. nefastas ‘picuinhas’ da politicagem intesti- ado de 1938 a 1940 e deputado. Tem nome de
Algo, contudo, deve preocupar o povo na causam enormes e irreparáveis malefíci- avenida em Feira Nova. Em 1965 recebeu o
título de cidadão dorense.
dorense: Nossa Senhora das Dores, nos úl- os ao povo, sem que isso, todavia, tenha
timos tempos, tem sido uma cidade ‘sem servido para despertar os seus últimos diri-
vez e sem voz’, no plano político estadual. gentes - ou pseudo líderes políticos - da Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
No passado, Dores teve sempre um ou dois letargia em que mergulharam. C
Fonte: pesquisa de Luciano Marques, estudante de Jornalis-
representantes na Assembléia Legislativa. mo da UFS; Anuário Estatístico do IBGE e Enciclopédia dos Mu-
Na década de 1920 tinha os deputados Fran- *Professor da UFS e Unit, e membro da ASL. nicípios Brasileiros.
Lourdesfoi fundada por casal pernambucano
Povoação cresceu ao
redor da Lagoa das
Antas, e recebeu esse
nome por causa da
grande quantidade
desse animal na região

A
fundação do município de Nossa
Senhora de Lourdes, a 152 quilô
metros da capital, começou em
1810, com a chegada do casal pernambu-
cano Joaquim José e Ana Josefa da Rocha.
Eles fugiram da seca que assolava o sertão
pernambucano, passaram por Piranhas, em
Alagoas; Gararu, em Sergipe, e chegaram
a Escurial, povoado lourdense banhado pelo
Rio São Francisco.
Logo depois eles largaram a embarcação
e penetraram na mata fechada até chegar a
uma grande lagoa onde existia uma consi-
derável quantidade de antas (mamífero que
chega a dois metros de altura) e resolveram
fazer morada. Em 1950, o lugar denomi-
nado anteriormente de Lagoa das Antas Atual Igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes, inaugurada em 1990
passou a se chamar Arraial de Antas. Por
volta dos anos 70 e 80, a povoação teve um 103-A, de 13 de maio. Seu primeiro prefei- Imagem do santo trocada
acentuado crescimento, com a chegada de to foi Paulo Barbosa de Matos, que morreu
novas famílias. de enfarte em 1982, durante o quarto man- Em 1958, Tarcísio Gonzaga de Ma-
Entre elas estavam os Santos, de Cedro dato. Nesse dia acontecia uma cavalhada, tos queria pagar uma promessa, e soli-
do São João; Junqueira, de Siriri; Feitosa, principal atividade folclórica da cidade, que citou do Rio de Janeiro uma imagem
de Porto da Folha; e Eufrázio, de Lagoa acabou sendo interrompida por causa da de Santo Antônio, especialmente para
Funda. A esta época, a povoação perten- morte do prefeito. Depois disso, nunca mais isso. Mas, na hora de embalarem, em
cia ao município de Gararu e permaneceu foi realizada cavalhada no município. vez de mandarem Santo Antônio, man-
assim até 1938, quando passou a perten- Muitas pessoas influenciaram na eman- daram a imagem de Nossa Senhora de
cer ao município de Canhoba. Nesse mes- cipação política de Lourdes, entre elas: Lourdes, ficando invalidado o paga-
mo ano o cônego Lauro de Souza Fraga João José de Araújo (João Gato), José mento da promessa. Na época, o padre
mudou o nome de Antas para Nossa Se- Caetano da Silva, Manoel Alves dos San- Fernando Graça Leite combinou com
nhora de Lourdes. tos (Manoel Lulu), Paulo Barbosa de Ma- Tarcísio para não devolver a imagem.
tos, Arnaldo Barros de Araújo e Tarcísio Eles fecharam a embalagem e deixaram
Emancipação política Gonzaga Matos, incentivadas pelo mon- para colocar na capela quando se tor-
senhor José Curvelo Soares. Ele teve gran- nasse matriz.
Em 1953 o povoado passou a ser oficial- de participação no desenvolvimento polí- Em 30 de abril de 1960, foi criada a Di-
mente uma vila. Dez anos depois foi eleva- tico-social, através da conscientização dos ocese de Propriá. O monsenhor José Cur-
do à categoria de cidade, através da lei nº líderes políticos. velo Soares deixou a paróquia, mas antes

CINFORM 168
Região: leste (sertão)
Distância: 152 km
População: 6.025
Atividades econômicas: agricultura
(milho, feijão) e pecuária (laticínios)
Irmãs Maria Berenice, Novaldina e Ângela
(da família Gonzaga), Maria Assunção (mãe)
e Manoel Gonzaga (irmão)

a capela antiga, e confiou-a ao padre belga


José Theiseu. trutor é muito criativo. “Eu não considero
A 10 de janeiro de 1999, a antiga cape- que seja um castelo, mas alguns detalhes
la deixou de ser matriz, sendo transferida chamam a atenção. Eu comprei a casa por-
por Dom José Palmeira Lessa para a nova que aqui é um lugar calmo, tranqüilo...”,
igreja construída em 7 de outubro de explica o professor.
1990, tendo como pároco o padre Inaldo Por fora a casa lembra mesmo um caste-
César de Menezes. A partir daí, por de- lo. Por dentro, os 12 cômodos pequenos
creto assinado por Dom Mário Rino Si- dão praticidade. Depois que adquiriu o
viere, a ex-matriz passou a ser Santuário imóvel, Sinval já acrescentou uma garagem
Eucarístico, seguindo indicação do padre e uma área coberta, o que acabou descarac-
Elias Izaías. terizando a estrutura inicial. “Eu pretendo
A festa da padroeira Nossa Senhora de depois fazer outro cômodo em cima da ga-
Lourdes, antes realizada no dia 2 de dezem- ragem e manter o mesmo estilo da casa”,
bro, mudou para 11 de fevereiro, dia em adianta ele.
que a santa é homenageada universalmente
pela Igreja Católica.

Um castelo adaptado Cidade pequena,


de ir para Itabaiana, permaneceu por oito à modernidade porém acolhedora
meses na paróquia de Gararu. Durante esse
tempo, decidiu abrir a embalagem da ima- No Sítio Ichuí, na estrada do Escurial, * BENILDES FERREIRA DA SILVA SANTOS
gem e, ao vê-la, teria dito: “Ela está cla- encontra-se implantado um castelo. Ele foi
mando por uma nova igreja”. Mas só em construído por Durval Alves da Silva e ad- Típica cidade do interior, onde se pode
1990, dia 7 de outubro, é que o bispo Dom quirido por Sinval Mendonça da Silva, que andar tranqüilamente pelas ruas, bater
Palmeira Lessa inaugurou a nova Igreja vem adaptando o prédio aos tempos mo- papo com os amigos na praça, ou simples-
Matriz, onde foi colocada a imagem de dernos. mente curtir a brisa da noite sentado na
Nossa Senhora de Lourdes. O construtor é um dentista paulista, de calçada. Nossa Senhora de Lourdes é ain-
49 anos, que está em Nossa Senhora de da muito pequena porém muito acolhe-
Pedra fundamental Lourdes há 13, e diz que tem noção de ar- dora. Seu povo simples e hospitaleiro vive
quitetura. “Quando comecei a construir, como todo povo da região, sem muitos
Em 1917, no dia 2 de dezembro, no lu- segui aquele estilo arredondado e gostei. recursos, mas com seriedade, fé e esperan-
gar denominado Antas, procedeu-se a bên- Fui morar lá, mas houve um problema, que ça num mundo melhor.
ção da primeira pedra de uma capela, sob a minha mulher desgostou e eu acabei ven- O que outrora era uma mata habitada
invocação de Nossa Senhora de Lourdes. dendo. Mas estou fazendo outro no mesmo por índios e uma variedade de animais sel-
No dia 10 de abril de 1977, o bispo Dom estilo”, diz Durval. vagens, hoje são amplas ruas pavimentadas
José Brandão de Castro criou a paróquia de Sinval é um professor do município que e praças arborizadas. Como beleza natural,
Nossa Senhora de Lourdes, cuja matriz era mora no povoado, e reconhece que o cons- temos o Poção de Pedras, uma cachoeira

CINFORM 169
Visão parcial da praça da antiga Igreja Matriz

Cachoeira Poção de Pedras: um lugar


maravilhoso

Antiga capela de Nossa Senhora de Lour- Casa da família de Manoel Lulu (um dos
des, hoje Santuário Eucarístico fundadores da cidade), construída em 1945

(temporária) encravada no meio do sertão, três estaduais e um particular, que ofe-


localizada no Povoado Vermelho, próximo recem o ensino pré-escolar, fundamen-
à fazenda Olhos d’Água, de João Vieira de tal e médio. Porém a cultura precisa res- Primeira escola, em 1920, funcionava na casa
Souza. Ela é muito visitada, principalmen- gatar costumes, manifestações folclóri- de Manoel Gonzaga; destruída em 1996,
atualmente o centro catequético paroquial
te no período de chuvas, por pessoas que cas como a cavalhada e comemorações
apreciam um banho de cachoeira e uma bela cívicas.
paisagem. No aspecto religioso, temos a Igreja Filhos Ilustres
Aproveitando o espaço, queremos fazer Matriz de Nossa Senhora de Lourdes; a Genival Melo dos Santos - artista plástico
um apelo aos visitantes pela preservação Capela de São Bento, no Povoado Escurial; (expôs no Shopping Riomar)
dessa maravilha da natureza. Por favor, não a capela de São José, no Povoado Barro Luiz Alves dos Santos - advogado em
deixem lixo no local, assim poderemos des- Vermelho; a capela de Nossa Senhora de Cristinápolis
frutar sempre dessa fonte de lazer, de ener- Fátima, no Povoado Lagoas; com destaque
Edinaldo de Oliveira Silva - pároco de
gia e de paz. O município de Nossa Se- para o Santuário Eucarístico de Nossa Se- Pirambu
nhora de Lourdes é banhado pelo Rio São nhora de Lourdes.
Francisco, onde temos a praia do Macha- Temos também outros segmentos religi- Joalbo Matos de Andrade - médico

dinho, no Povoado Escurial, um ponto de osos, mas o que predomina é o catolicismo, Augusto Alves da Silva - dentista
encontro de banhistas e atletas de finais de que durante todo o ano cumpre o calendá-
Rute Vieira Moura - contadora
semana. rio litúrgico com celebrações próprias da
No aspecto econômico, podemos contar Igreja Católica e dando maior ênfase para a Adélia Vieira Moura - pedagoga
não só com a permanência básica e predo- Festa da Padroeira (de 2 a 11/2). Hélio Castro - professor
minante da agricultura e da pecuária, como Os meses de maio e outubro são dedica- Everaldo Vieira da Luz - professor, chefe
também com o comércio, enfatizando o dos à Maria, que eu acredito não ser por da Sucam, gerente da PCDEN e fundador do
crescimento da feira livre que é realizada acaso a nossa padroeira, com o título de CNEC

aos sábados. Nossa Senhora de Lourdes, aquela que com


A educação, que começou com a Es- certeza intercede por nosso município e por Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
cola Sílvio Romero e a professora Rosi- nosso povo. C
Fonte: Ensaio Histórico-Geográfico de Nossa Senhora
nha Pinto, conta atualmente com dez de Lourdes, Augusto Alves dos Santos e colaboração do
estabelecimentos de ensino municipais, * Assistente administrativa do Município padre Elias Izaías
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS
SERVIÇOS SISTEMAS PARA ADMINISTRAÇÃO
COMPLEMENTARES/AUXILIARES PÚBLICA

>Linpeza Urbana >Tributário;


>Coleta de Lixo Hospitalar e >IPTU, ISS e Taxas;
incineração; >Dívida Ativa;
>Serviços de Conservação, >Arrecadação;
Limpeza e Desinfecção em Áreas >Patrimônio;
Administrativas; >Saúde, Educação, Recursos
>Serviços de Conservação, Humanos;
QUESTÃO DE QUALIDADE Limpeza e Desinfecção em Áreas >Protocolo e Estoque;
Hospitalares. >Geoprocessamento.

w w w . p r o j e l . c o m . b r

PROJEL - Planejamento, Organização e Pesquisas Ltda


Av. Hermes Fontes, 2120 - Grageru - 49050-000 - ARACAJU - SE
Tel. (79) 218-6000 - Fax (79) 218-6041
Socorro já foi Tomar
da Cotinguiba
O município tem uma
das igrejas mais antigas
e já foi o mais populoso
e de maior produção
de sal de Sergipe

Q
uando os portugueses aqui che
garam para explorar Sergipe,
já por volta de 1575, encontra-
ram na região que hoje forma a sede do
município de Nossa Senhora do Socorro,
índios da tribo Tupinambá. A força do caci-
que Serigy era sentida pelo devastador eu-
ropeu, que com a violência das armas e da
fé conseguiu se estabelecer. Por ordem do
arcebispo da Bahia, Dom Sebastião Mon-
teiro da Vide, em 25 de setembro de 1718,
uma pequena aldeia, que tinha a capelinha
dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo So-
corro, é transformada em freguesia com o
nome de Nossa Senhora do Perpétuo So-
corro do Tomar da Cotinguiba.
Segundo historiadores, as notícias mais
antigas daquela freguesia são de 1757. O
vigário da capela, padre José de Souza, es-
creve ao arcebispo da Bahia relatando a área Igreja Matriz de Nossa Senhora do Socorro
territorial da povoação e sobre a presença
de aldeias indígenas. Naquele ano, segundo engenhos e na produção de açúcar. Os ma- Conselho da Província. Mas de nada adian-
o vigário, a povoação já tinha cerca de 4.200 nuscritos desse padre foram encontrados no tou. A Câmara de Laranjeiras, por sua vez,
pessoas. Encantado, o padre e historiador Museu de Londres. também reagia às pretensões dos socorren-
Marco Antônio de Souza também escre- ses. Entre as alegações, diziam os laranjei-
veu sobre o progresso constante da Fregue- Laranjeiras e Aracaju renses que Socorro estava apenas a uma lé-
sia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do gua da nova vila, que toda semana os socor-
Tomar da Cotinguiba, no ano de 1802. Os Mas os socorrenses que lutavam para renses iam às feiras em Laranjeiras e entre
manuscritos do padre estão no Museu Bri- transformar a freguesia numa vila indepen- as ponderações afirmavam que na fregue-
tânico. Ele também fazia referência a Santo dente de Santo Amaro sofreram um gran- sia não existiam “20 cidadãos que satisfi-
Amaro das Brotas, que já era vila, mas res- de golpe. Em 1832 é criada a Vila de Laran- zessem os requisitos da lei, para servirem
saltava que Socorro era muito populoso. jeiras e a Freguesia de Nossa Senhora do nos cargos de governança”.
Marco Antônio escreveu que a fregue- Perpétuo Socorro do Tomar da Cotinguiba Mas os moradores da paróquia de Nos-
sia chegou a ter 7 mil pessoas e que, além acabou sendo anexada àquela nova vila. sa Senhora do Perpétuo Socorro do Tomar
de fazer grande importação de produtos Vários moradores de Socorro fizeram pro- da Cotinguiba não desistiram. Em 19 de
manufaturados da Bahia, trabalhavam nos testo, atos e até representações junto ao fevereiro de 1835 a freguesia é transforma-

CINFORM 172
da em vila independente, mas a festança
dos socorrenses pela liberdade e crescente
progresso demorou um pouco. Um novo
golpe reduziu a vila a um modesto povoa-
do sem qualquer expressão. Isso aconteceu
a partir de 17 de março de 1855, quando a
Lei 413 criou o município e a cidade de
Aracaju, para onde se transferia a capital da
Província e incorporava às suas terras todo
o território de Socorro. Isso mesmo. O
município de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro do Tomar da Cotinguiba deixou
de existir oficialmente.

Mudança de nome

Resistentes como sempre, os morado- Região - Leste de Sergipe


res de Socorro reiniciaram sua luta para Distância de Aracaju - 15 km
devolver o status àquelas terras. Nove anos Imagem original de Nossa Senhora do So- População - Cerca de 100 mil
Atividade econômica - Indústria
depois, em 7 de julho de 1864, é criado o corro

do Vasconcelos colocou luz elétrica em pos-


tes de madeira, com calçamento nas ruas...
A linha de trem chegou em 1920”, Memó-
ria de Velho, de Ecléa Bosi.
Vale ainda registrar na história de So-
corro a existência da Cidade de Menores
Getúlio Vargas, onde funcionava um pe-
queno hospital com 34 leitos, para trata-
mento exclusivo de menores abandona-
dos e ‘delinqüentes’; a Colônia Lourenço
Magalhães (Serviço Nacional de Lepra)
um hospital para os antigos leprosos;
Horto Florestal de Ibura, que realizava
farta distribuição de mudas de grandes e
variadas espécies de árvores. Em janeiro
de 1955 o prefeito do município era Faus-
to Góes Leite.

Antiga Escola Reunidas Dr. Costa Pinto A bela igreja matriz

distrito. Dessa vez com o nome de Nossa Mas esse novo nome do município não A Igreja Matriz de Nossa Senhora do
Senhora do Socorro da Cotinguiba, ainda chegou às ruas. Era apenas usado em docu- Perpétuo Socorro é uma das mais antigas
pertencente a Aracaju, mas isso levou os mentos oficiais. Para o povo, o nome era de Sergipe. Ela não tem nenhuma docu-
socorrenses a recuperarem seu antigo pres- Socorro. O Cotinguiba ainda sobreviveu por mentação sobre sua construção, mas na so-
tígio. Era um passo importante em busca quase dez anos. Em 6 de fevereiro de 1954, leira da sacristia, à direita, há uma inscrição
do retorno ao município. Quatro anos mais o Governo faz retornar o seu primeiro com a data de 1714. A igreja foi tombada
tarde os habitantes daquelas terras con- nome, retirando porém “Tomar da Cotin- como monumento histórico nacional pela
quistaram de uma vez por todas o título guiba”, porque o nome ficava muito gran- Secretaria do Patrimônio Histórico e Ar-
esperado. de. Assim, o município passou a ser defini- tístico Nacional, em 20 de março de 1943.
Em 14 de março de 1868 o distrito é tivamente chamado de Nossa Senhora do A imagem de Nossa Senhora do Perpétuo
transformado em município independen- Socorro. “Existia um cruzeiro que ficava Socorro é uma escultura em madeira poli-
te. O curioso é que a Lei Provincial 792 na Rua São Benedito; foi mudado para a cromada, do século XVIII. O interessante
diz que ele passa a se chamar apenas So- frente da matriz, depois desapareceu... No é que essa imagem original ficou pequena
corro. Mas a legislação federal atingiu So- meio da praça tinha uma pedra enorme, no altar e por isso os jesuítas providencia-
corro e o Governo do Estado teve que depois desapareceu... Tinha a chegança aqui ram uma imagem maior. Hoje as duas es-
mudar seu nome em 1943, que passa a ser e também na Taiçoca... A transformação tão na igreja. Uma curiosidade que ainda
apenas Cotinguiba. da cidade começou quando seu Manuel Pra- hoje leva muita gente para a igreja é a exis-

CINFORM 173
Vista parcial da cidade na década de 50

tência de um túnel que os jesuítas fizeram agosto. A festa da padroeira é realizada


dentro da igreja para fugir das perseguições em 2 de fevereiro. Algumas residências ainda guardam traço da
dos holandeses. O túnel começava na igreja história
de Socorro e levava os jesuítas até Laranjei-
ras. Há poucos meses a porta do túnel foi Do sal ao distrito industrial como o conjunto das Domésticas, Jardim,
fechada. João Alves Filho, Fernando Collor, Marcos
Do forro original resta o do altar-mor, O município de Socorro, em termos de Freire, Taiçoca e Albano Franco. O inchaço
cuja pintura tem a temática dos quatro con- mineral, é um dos mais ricos de Sergipe. populacional trouxe mais problemas do que
tinentes (na realidade são cinco continen- Existe muito próximo à sede uma usina de benefícios em Socorro. C
tes): apresenta a imagem de Nossa Senhora salgema. Mas é o sal marinho que tem uma
do Socorro, ao centro, ladeada pelas figuras fantástica história. O município já chegou Filhos ilustres
de uma mulher branca simbolizando a Eu- a ter mais de 380 salinas, sendo o maior
ropa; um homem negro, representando o produtor do Estado. Não é à toa que o nome Marechal Antônio Enéas Gustavo Gal-
continente africano; um oriental represen- do rio que separa Aracaju de Socorro é co- vão - É o Barão do Rio Apa. Nasceu em 19 de
outubro de 1832. Militar que lutou na Guerra
tando a Ásia e um índio representando a nhecido como Rio do Sal. O rio e as linhas do Paraguai.
América. Outro detalhe interessante é que de trem eram muito usados pelos produto-
à esquerda de quem entra pela nave central res de sal. Hoje, apenas quatro salinas ainda Manoel dos Passos de Oliveira Teles -
Bacharel, nasceu a 29 de agosto de 1859.
da igreja, há uma área com três túmulos. resistem. Versado nas línguas grega, latina, inglesa e
Um da família Daltro Nabuco, que é de A partir da década de 80, o município francesa. Escreveu, entre outras, as seguintes
1877; um do poeta e jurista José Freire da começou a passar por transformações urba- obras: “Chystofaneida”, “Ensaios sobre a Mú-
Costa Pinto. E o outro e mais recente é do sica Popular em Sergipe”, “A Geografia Cretá-
nísticas. A sede da cidade não sofreu gran- cea e Terciária do Brasil”, “De Itapoã a São
frei Inocêncio Schleirmacher, um dos vigá- des alterações, entretanto seus povoados Francisco”.
rios mais importantes na história de Socor- foram alvos de empreendimentos imobili-
ro. Há também no piso da nave a lápide do José Augusto Barreto - Médico, nascido a
ários que provocaram uma considerável 16 de junho de 1928. Tem importantes traba-
túmulo do cônego Eliziário Vieira Muniz mutação em áreas antes ocupadas por man- lhos publicados que são considerados de
Telles, Conselheiro da Ordem de Cristo e gues e pouco povoadas. grande valor científico, como “Infantilismo
vigário da freguesia de Socorro em 1904. Essas mutações foram conseqüências da Esplênico” e “Uma Família de Esplenomegá-
licos”. stres
Os moradores mais velhos dizem que administração pública estadual ao criar, em
os jesuítas encontraram a imagem de Nos- 1979, o projeto Grande Aracaju. Quando
sa Senhora do Perpétuo Socorro numa ilha o Distrito Industrial de Aracaju ficou esgo- Texto: CRISTIAN GÓES
existente lá e depois levaram a imagem tado, o Governo do Estado implantou o Fotos e reproduções: DIOGENES DI
e EDSON ARAÚJO
para a capela. Uma outra igreja muito an- Distrito Industrial de Socorro. Algumas Fonte: Nossa Senhora do Socorro: Trajetória, por Verônica Nunes,
tiga no município é a de Nossa Senhora indústrias foram para lá e também vários Ana Rodrigues Santos e Wilembergue Rodrigues Oliveira;
do Amparo, que tem sua festa em 15 de conjuntos habitacionais foram construídos, e Enciclopédia dos Municípios Brasileiros
Pacatuba de São Félix de Cantalício
O município tem uma
história cheia de
surpresas políticas,
religiosas e de
comportamento

A
bela história da fundação do muni
cípio de Pacatuba, a 116 quilôme-
tros de Aracaju, mereceria um es-
tudo à parte. Como dizem os historiadores a Igreja Matriz São Félix de Cantalício
respeito das terras que compõem esse muni-
cípio, ele está “assentado em um vasto pla-
nalto, de onde se goza um delicioso panora-
ma”. Antes mesmo da chegada definitiva
em terras sergipanas dos portugueses, em
1590, acredita-se que os índios tupinambás
já tinham por aquelas bandas de Pacatuba
uma relação comercial com franceses.
No início de 1600 já se tinha notícia de um
forte aldeamento na confluência do Rio Po-
xim do Norte com o Betume, e quem co-
mandava aquele povoamento era o cacique
Pacatuba. Quando Cristóvão de Barros inva-
diu Sergipe, cumprindo ordens do Governo
da Bahia e de Felipe II da Espanha, que reina-
va em Portugal, deu-se uma matança genera-
lizada. Todos os maiores recursos militares
teriam sido usados. Cristóvão venceu os po-
derosos caciques Baepeba, Serigy e Siriry.
Para a maioria dos historiadores, antes que
as colunas de Cristóvão de Barros chegas-
sem à região do São Francisco, os caciques
Japaratuba e seu irmão Pacatuba acabaram Capela construída pelos Jesuítas
se entregando aos portugueses e pedindo paz.
Mas outros estudiosos discordam e acredi- mento. Mas em 1732, por ordem do Mar- 1808 já existiam por lá cerca de 700 índios.
tam que Cristóvão encontrou resistência sim, quês de Pombal, os jesuítas foram expulsos O resultado é que em 6 de fevereiro de
e venceu por conta da força militar. e a missão religiosa, com todas suas terras 1835, uma lei provincial criou a Freguesia
em Pacatuba, foi entregue aos padres Ca- de São Félix da Pacatuba. O atual municí-
Depois da conquista puchinhos. Em 1810 eles terminaram a pio de Japoatã estava incluído aí. Menos de
construção da capela do povoado, e a dedi- 30 anos depois, a 13 de maio de 1864, a
As terras da aldeia de Pacatuba foram caram a São Félix de Cantalício. freguesia passava à vila. Mas a independên-
anexadas à sesmaria de Pedro de Abreu Por causa das férteis terras para a cana- cia de Pacatuba só aconteceu na prática em
Lima. Por volta de 1640, padres Jesuítas de-açúcar, o povoamento crescia rápido. 2 de maio de 1874, isto é, dez anos depois,
começam a levantar uma capela no aldea- Existem documentos que afirmam que em quando se libertou do município de Vila

CINFORM 175
Família de Ana Gerônimo do Engenho Irmãos Barros Pimentel
Cadoz

Nova, que hoje é Neópolis.


Mas uma surpresa estava preparada para
a história de Pacatuba. O desenvolvimento
econômico e social era sentido nas ruas da
cidade. No entanto, em 23 de novembro
Região - Norte de Sergipe
de 1910, os pacatubenses foram surpreen- Distância de Aracaju - 116 km
didos com a criação do município de Jabo- População - Cerca de 12 mil
Atividades econômicas - Agricultura, coco,
atão, hoje Japoatã, localizado na antiga peixe e petróleo
missão jesuítica de Riacho do Meio. A rea-
ção em Pacatuba foi forte. População e au-
toridades não encontravam motivos para a
perda daquele território. Várias representa-
ções foram feitas ao comando de Sergipe.
A pressão foi tanta que o novo município Código de Posturas de Pacatuba
de Jaboatão não chegou a ser instalado.
Em vários municípios, os intendentes por
volta de 1900 criaram códigos de posturas,
Um golpe e o desfecho uma espécie de constituição municipal para
José Machado Martins em 1936 organizar a vida nas vilas. Em Pacatuba um
Mas a história ainda ia reservar para os dos códigos foi elaborado por um cidadão
pacatubenses uma grande surpresa. Dezes- Detalhes sobre o golpe de 1926 de grande importância na história do mu-
seis anos depois da tão ardorosa luta para nicípio, Sancho Moura. A seguir, alguns tre-
não perder as terras de Jaboatão, a Lei Esta- Em novembro de 1926, autoridades do chos do longo Código de Posturas do Mu-
dual 960, de 20 de outubro de 1926, acaba- então povoado de Japoatã, lideradas por nicípio de Pacatuba, datado de 11 de mar-
va dando um golpe certeiro. Através dela, Ananias Melo, informou ao presidente do ço de 1912.
a sede do município de Pacatuba foi trans- Estado, Maurício Graccho Cardoso, que um “Os proprietários ou inquilinos das casas
ferida para Jaboatão, ficando a progressista jornal, o “Município” de propriedade do in- são obrigados a varrerem o terreno frontei-
cidade de Pacatuba reduzida à condição de tendente de Pacatuba, Sancho Moura, pu- ro às suas habitações nos sábados à tarde,
povoado de Jaboatão. blicou um artigo contra Graccho Cardoso. deixando o lixo para o zelador das ruas apa-
A reação das autoridades da vila também O presidente, mesmo sem ver o artigo, nhar. Pena: 10$ de multa ou 2 dias de pri-
foi forte, mas desta vez não adiantou mui- baixou um decreto transferindo a sede do são.”
to. Pacatuba passou quase 12 anos como município para Japoatã. Graccho ainda “Os lampiões distribuídos conveniente-
povoado. A luta dos pacatubenses era cons- mandou uma escolta policial para prender mente, deverão estar todos acesos em qual-
tante. Mas só em 28 de março de 1939, o chefe de Pacatuba e trazê-lo para Araca- quer estação, logo ao recolher do Sol e apa-
volta Pacatuba à sua antiga condição de ju. Sancho, ex-deputado estadual e coronel gados ao clarear da manhã conservando a
município, mas o Distrito de Paz continua da Guarda Nacional, saiu da prisão e foi luz o maior grau de intensidade. Nas noites
em Jaboatão. Essa situação permaneceu até para o Rio de Janeiro, onde morreu em 1959. de luar, o serviço de iluminação deverá es-
1943, quando seu nome foi modificado de Liderados por Antônio de Sá Travassos, tar feito um quarto de hora antes do reco-
Pacatuba para Pacatiba, por conta da dupli- mais de uma dezena de autoridades de Pa- lher da Lua”.
cidade dos nomes de vilas brasileiras. catuba conseguiu em 8 de outubro de 1929, “Ficam expressamente proibidos vozeri-
Só em 25 de novembro de 1953, Paca- devolver ao povoado a categoria de cidade. as nas ruas, em horas de repouso, bem as-
tiba era transformada em cidade, sendo Mas, por conta da Revolução de 30, a insta- sim orgias, cantarolas e batuques, ainda que
desmembrada de Japoatã e o nome volta lação do município acabou sendo frustra- em casas fechadas, quando perturbarem o
a ser Pacatuba. O município livre e inde- da. Porém, um filho de Pacatuba que mo- sossego público. Excetuam-se os diverti-
pendente só foi instalado em 31 de janei- rava em Santos/SP, Francisco de Barros mentos e as reuniões permitidas pela polí-
ro de 1955, quando foi empossado o seu Melo, o Barrinhos, amigo pessoal do go- cia. Os infratores serão penalizados com
primeiro prefeito, Manuel Ricardo dos vernador Arnaldo Garcêz, conseguiu enfim prisão de três dias e o dono da casa com
Santos e, também, constituída sua Câ- deixar o município independente no dia 25 multa de 10$000”.
mara de Vereadores. de novembro de 1953. “São proibidas as sentinelas a indivíduos

CINFORM 176
Amado Guilherme da Silva Martins: político

falecidos de moléstia contagiosa e, em


caso de outras moléstias, as rezas canta- Antiga sede da Prefeitura de Pacatuba Filhos Ilustres
das em altas vozes. Os infratores serão
dispersados e presos por dois dias”. mente as crianças abandonadas. Sua dedi- Sancho Moura - Intendente e deputado es-
tadual.
“É proibido dar tiros dentro das vilas, cação pelos mais pobres e seu fervor foram
salvo em dias festivos”. decisivos para a sua santidade. C
José Leandro Martins Soares - Poeta, jor-
nalista e advogado. Trabalhou como jornalista
“São proibidos jogos em qualquer casa, em Sergipe, Pernambuco e Espírito Santo.
bem como nas ruas, praças, etc... com
exceção do bilhar, gamão, dominó e ou- Francisco de Barros Melo - Mesmo mo-
rando em Santos/SP, colaborou decisivamen-
tros semelhantes”. te para a emancipação de Pacatuba.
“É proibida a divulgação ou publica-
Aldemar Melo Santos - Frei Capuchinho,
ção de pasquins contra terceiros. Pena de ordenado em Loreto, Itália, fundou em Feira
20$ de multa”. de Santana/BA a Congregação Mariana Nos-
“É proibido mendigarem pelas ruas do sa Senhora de Fátima.
município pessoas reconhecidamente aptas Manuel Vieira Prado - Exator estadual, de-
para o trabalho. Pena de 24 horas de prisão”. legado de polícia e prefeito de Pacatuba. Foi
fundador da UDN no município.

Por que São Félix de Cantalício? João Machado Rollemberg Mendonça -


Engenheiro, foi secretário da Fazenda, cons-
truiu o Hotel Palace e outros prédios importan-
Existe uma lenda que Félix tinha nascido tes. Foi deputado federal por duas vezes e foi
nas proximidades da aldeia de Pacatuba. cassado pelo AI-5.
Tendo se tornado frei, começou a fazer sua
Cáscia Maria de Freire Barros - Advoga-
carreira religiosa como prisioneiro dos ín- da e professora.
dios. Sua insistência era tanta pela cateque-
Gicélia de Araújo Torres - Juíza de Direito
se, que os índios “convertidos” resolveram e que teve uma vida marcante em Sergipe.
levantar uma capela em sua homenagem.
Mas a história da Igreja Católica conta João da Cruz dos Santos - Importante
comerciante da região.
que São Félix nasceu em 1515, na Itália, no
seio de uma família muito católica de agri- José Machado Martins - Descendente do
cultores. O curioso é que o apelido de seu Barão da Cotinguiba, foi grande líder político e
proprietário de terras.
pai era Santo e de sua mãe era Santa. Desde
cedo o menino Félix despertou para a vida Aurelino Travassos Santos - Militar. Parti-
cipou da guerra pela FEB na Itália.
religiosa. Entrou para um convento Capu-
chinho. Depois de estudar muito e passar Alfredo Leite Martins - Chefe político.
por vários seminários, acaba se ordenando.
Durante cerca de 40 anos o povo de Roma Texto: CRISTIAN GÓES
viu passar todos os dias pelas ruas da cidade Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
Fonte: “História de Pacatuba” e “Missão de Pacatuba - do
o pequeno frei Félix, recolhendo em saco- passado ao futuro”, de Ariosvaldo Vieira de Mello. Colabo-
las restos de pão e verduras, para depois ração decisiva de Manfredo Góes Martins e Enciclopédia
distribuir com os mais pobres, principal- São Félix de Cantalício
dos Municípios Brasileiros
Pedra Mole
cidade
cidade escondida
escondida entre morros
entre morros
Povoação pertenceu a
Itabaiana, Campo do
Brito e Pinhão, e teve
influência de família
francesa

A
partir de 1700, a colonização e
povoamento da Capitania de Ser
gipe expande-se pela zona sertane-
ja. Segundo a Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros, a primeira incursão na área ter-
ritorial de Pedra Mole foi feita por Manoel
Alves da Silva, que obteve por alvará, de
25 de outubro de 1713, a sesmaria de uma
légua de comprimento por três de largura, Igreja matriz de Pedra Mole, que tem como padroeira Nossa Senhora do Patrocínio
começando no Rio Salgado, que deságua
no Rio Vaza-Barris.
Em 1890, a família francesa Ettingers animal e de um pé de uma pessoa, e disse- tronco da imensa família, de que é galho o
fundou na região uma fábrica de beneficia- ram que as pedras eram moles. Outros acre- seu bisneto José Lavres da Fonseca, que
mento de algodão. O exemplo e o entusi- ditam que viajantes marcavam como pon- mais tarde veio a ser o primeiro prefeito da
asmo dos dois pioneiros, Gootchaux Ettin- to de encontro o lugar das pedras moles. cidade”.
ger e seu sobrinho Gabriel Lazar Ettinger, Sabe-se, com certeza, que onde hoje é a Tito Lívio diz que até a metade do século
foram atraindo pessoas da circunvizinhan- cidade havia pedras relativamente fofas, mas XX, Pedra Mole era cercada de roças, sítios
ça que desejavam prosperar. que hoje não existem mais. e malhadas, e tinha três descaroçadores de
O desenvolvimento foi relativo, por causa algodão. “Também era enorme a produção
da falta de transportes regulares e rápidos Famoso fazendeiro de milho, feijão, frutas e farinha de mandi-
que permitissem o escoamento da produ- oca. O leite era abundante, de vaca e de
ção para os mercados do litoral. Até hoje Segundo o livro ‘Os Produbutantes’, de cabra. Sobravam galinhas, capões e ovos na
Pedra Mole sofre por falta de uma rodovia Tito Lívio Santana, em meados do século feira. Desgraçadamente, tudo mudou, e o
asfaltada, já que é a única cidade que tem XIX, o fazendeiro de maior fama no local local ficou estagnado, assim como aconte-
acesso somente por estrada de barro, mes- era João Fonseca, considerado por muitos ceu em outras cidades”.
mo assim em péssimas condições. como o fundador de Pedra Mole. “Aconte- A população decresceu com a redução
Pedra Mole, como suas cidades vizinhas, ce que muitas dezenas de anos antes de seu dos criatórios de animais de pequeno porte
deixou de se desenvolver também pela fal- aparecimento, Pedra Mole tinha consolida- e a agricultura de subsistência. Numerosas
ta de chuvas e com os processos rudimen- do sua situação de pousada obrigatória dos propriedades rurais foram absorvidas pelas
tares da agricultura que reduzem e encare- índios e colonizadores que, antes e depois fazendas de gado bovino. Os lavradores sem
cem a produção. das lutas em Laranjeiras, Itaporanga e São terra emigraram para Aracaju e para o sul
Os pedra molenses têm várias versões Cristóvão, subiam o Vaza-Barris, passando do país. Até hoje, os produtores enfrentam
sobre o surgimento do nome da cidade. pelas matas de Itabaiana, no rumo de Bom o problema de falta de terras para plantar,
Uma delas é que alguns moradores encon- Conselho (Cícero Dantas) e Jeremoabo. O já que o município é praticamente todo
traram pedras com a marca da pata de um que é certo é que João Fonseca se tornou tomado por latifúndios.

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Região: oeste (sertão)
Distância de Aracaju: 95 Km
População: 2.626 habitantes
Atividades econômicas: agricultura
(milho, feijão, mandioca, fava), além da criação
de bovinos

Foto da década de 70,


quando a prefeitura estava colocando
paralelepípedos que eles me encontrassem novamente”,
lembra Francisco.
Apesar de estar às margens do Rio Vaza-
Barris, a cidade é abastecida pelo Rio São Pedra Mole, onde ‘Jesus andou’
Francisco. O Vaza-Barris também não é
utilizado para a irrigação, e a população * JOSÉ ARAÚJO
quer que seja construída uma barragem, para
aproveitar as cheias de verão. Escrever sobre minha cidade natal torna-
se fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil
Forçado a ajudar cangaceiros porque a narrativa sai com muita naturali-
dade, e difícil em virtude do temor de dei-
Francisco Gregório dos Santos, 91 anos, xar escapar algo essencial.
lembra que chegou a ver vários cangaceiros “Ói o papa figo...”. Essa certamente foi
Instalação do município - como Corisco, Dadá, Maria Bonita e Zé uma das frases mais ouvidas na minha in-
Sereno - na região de Pedra Mole. Apesar fância, a qual vinha sempre seguida da trans-
Pedra Mole surgiu ligada a Itabaiana, mas de ser baiano de Coronel João Sá, desde crição do “senhor do mal”. O tal do “papa
passou a pertencer a Campo do Brito em 1935 ele foi morar em Pedra Mole, justa- figo” era alguém, quase sempre do sexo
1912. Mais tarde, pela Lei 525-A, de 23 de mente fugindo do bando de Lampião. E foi masculino, idoso, barba por fazer e que an-
novembro de 1953, os municípios de Pi- nesse ano que ele viu pela primeira vez os dava com um saco nas costas.
nhão e Macambira foram desmembrados cangaceiros. “Eu estava no sítio dos meus Dentro deste espírito puritano, subia e
de Campo do Brito, e Pedra Mole passou a pais, junto com meus irmãos, fazendo cor- descia a serra e corria as duas únicas ruas da
ser povoado de Pinhão. Finalmente, em 21 da para vender, aí os cangaceiros chegaram cidade. Morando num casarão antigo, onde
de novembro de 1963, a Lei nº 1231 eleva vestidos com roupas muito bonitas de cou- tinham dois cômodos subterrâneos (porões)
o distrito de Pedra Mole à categoria de ro e chapéus. Eles traziam meu tio e per- que segundo as narrativas dos mais velhos
município, com a mesma denominação. guntaram se a gente tinha comida para eles. serviram de esconderijo para seus antigos
O município foi instalado no dia 21 de A gente deu todo o alimento que tinha em proprietários (a família de Lucas Sant’Anna)
fevereiro de 1965, com a posse do primeiro casa e toda a nossa pesca. Mas o pior acon- e demais moradores da povoação se escon-
prefeito José Lavres da Fonseca. Atualmen- teceu quando a volante chegou, e prendeu der “dos cabras de lampião” e um quintal
te possui quatro povoados: Manuíno, Ta- a mim e meus oito irmãos sob a acusação que representava “um mundo” de tão gran-
pado, Serra e Gravatá. de que tínhamos acobertado os cangacei- de que era, passava os dias tentando apren-
As principais datas comemorativas de ros. Mas não tínhamos escolha”, lembra der os “abôios” dos vaqueiros.
Pedra Mole são: 21 de novembro, dia da Francisco. A vontade de me transformar num de-
instalação do município; o último domin- Ele diz que logo depois se mudou para o les era tão forte que elegi o grande núme-
go de novembro, quando acontece a festa Povoado Pedra Mole, onde algumas vezes ro de galinhas que meus pais criavam,
da padroeira Nossa Senhora do Patrocínio; viu os cangaceiros. “Quando estava em como “minha boiada” e um cabo de vas-
e toda segunda semana de setembro, quan- Pedra Mole, Lampião bebia em um bar per- soura “como meu cavalo”. Fora essas ações,
do acontece a Festa do Vaqueiro. to de minha casa e eu tinha muito medo na maioria das vezes acompanhado de um

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com os municípios de Simão Dias e Paripi-
ranga - este na Bahia), muito farta em bele-
zas naturais. Seu solo estava sempre úmido,
tão farto eram as reservas de água em seu
subterrâneo. Embora na maioria das vezes
salobra, os veios de água brotavam em qua-
se todos os recantos.
No riacho que passava ao lado do cemi-
tério, as árvores frondosas que sombrea-
vam suas águas atraíam marrecos, paturis,
patos selvagens e outras aves de arribação.
Quando isso acontecia, era motivo de festa
para a garotada e também para os caçado-
res (na época não existia a chamada consci-
ência ecológica dos dias atuais).
No verão, a cidade ficava tomada de ji-
pes (era raro ver veículo naquela região -
salvo o carro da prefeitura e a marinete,
que só ia até Pinhão), cachorros de caça e
espingardas... Os caçadores, em sua maio-
Pedra Mole tem como tradição a Festa do Vaqueiro, que acontece no mês de setembro ria de Aracaju, saíam de lá realizados.
Com o passar dos anos, a cidade cres-
ceu, ganhou ares de “modernidade”. Mes-
mo assim continua tão pura e singela
como naqueles tempos. Ah, quanta sau-
dade, não só do torrão, mas de sua gente
(a qual não vejo há tempos), de suas his-
tórias, de sua paz e do meu pai Ananias,
aquele que, ao lado de minha mãe, De-
tinha, escolheu um recanto chamado
Manuíno, ainda hoje pertencente a Pedra
Mole, para colocar seus seis filhos neste
mundo. Parece pueril, né?! É isso mes-
mo. O sentimento é pueril. C

*Jornalista natural de Pedra Mole

Filhos Ilustres
José Lavres da Fonseca -
primeiro prefeito da cidade

Virgínio Sant’Anna - advogado, jorna-


lista e professor

Às segundas, dia de feira, a cidade fica movimentada Tito Lívio de Santana - engenheiro
civil pela Universidade Federal da Bahia, ex-
diretor do Departamento de Estradas de Ro-
colega de infância, Regis, adorava ouvir andado sobre elas, levando peso em suas dagem da Bahia, professor da UFBA, profes-
histórias dos mais velhos sobre tudo. Po- costas e sendo puxado por alguém. sor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
rém, uma das que mais me impressiona- Daí o nome pelo qual a região que per- e autor do livro “Os Produbutantes”
vam era quando falavam das marcas “que tenceu a Frei Paulo, posteriormente a João Moreira Filho - advogado, juiz
Jesus, Nossa Senhora, São José e seu jiri- Campo do Brito e por último a Pinhão, aposentado e ex-presidente do Tribunal de Jus-
tiça do Estado de Sergipe.
co” deixaram nas pedras da região. Elas se foi batizada: Pedra Mole. E foi transfor-
encaixavam com a visão. As pedras, da- mada em cidade com o mesmo nome. José Araújo: jornalista, ex-diretor de Jor-
quelas pretas, tinham marcas que verda- Pena que essas pedras com marcas de pa- nalismo do Correio de Sergipe e do Jornal da
Cidade
deiramente pareciam patas de jumento e tas de “jirico” e pés de pessoas tenham
pés de pessoas. É como se um dia elas ti- sido destruídas.
vessem sido derretidas (talvez se transfor- Mas retomando a narrativa, a cidade do
Texto: CARLA PASSOS
mado em larvas vulcânicas) e antes de se vapor de algodão guarda muitas outras his- Fotos: EDSON ARAÚJO
petrificarem novamente, um único animal tórias. Uma região, também conhecida Fontes: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e o livro
de patas pequenas e bem torneadas tivesse “como as matas” (formava este polígono “Os Produbutantes de Tito Lívio de Santana, escrito em 1979”

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PIRAMBU
MAIS PERTO DE VOCÊ.
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A Faculdade São Luís é uma instituição comprometida com o

futuro de Sergipe. Dispondo dos cursos de Pedagogia e

Administração, sua missão é, acima de tudo, formar profissionais 1


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A Faculdade São Luís acredita no potencial de seus alunos, como

responsáveis por um amanhã mais humano e mais justo. Para isso,

procura descobrir e lapidar talentos, respeitando a individualidade

de cada um e incentivando seus alunos a buscarem soluções para

resolver problemas numa sociedade globalizada e competitiva,

usando conhecimento, técnica e criatividade.

Comprometimento e seriedade são marcas da Faculdade São Luís,

que, a cada ano, conquista novos alunos que buscam fazer seu

futuro com a marca da diferença e do sucesso.


Pedrinhas
desenvolveu-se após
a linha de trem

O município, que na
verdade tem pedras
grandes, surgiu com
a construção do
Engenho Pedrinhas

O
nome da cidade de Pedrinhas, a 89
quilômetros de Aracaju, surgiu em
decorrência do Engenho Pedrinhas,
construído na segunda metade do século
XIX em terras dos municípios de Arauá e
Itabaianinha. O proprietário do engenho, Pedras misteriosas de Pedrinhas
Francisco Manoel de Goes, conhecido por
Chico Perpétua, construiu também em que abriu melhores possibilidades de pro- dente da Câmara de Vereadores, Francisco
1876 uma casa para a reunião de uma feira gresso. Costa e Silva.
livre. Nas proximidades da casa havia um O dia 25 de novembro, data da eman-
grande cajueiro, e foi embaixo dele que os Emancipação do município cipação política de Pedrinhas, é comemo-
feirantes começaram a se reunir todos os rado anualmente com muita festa. Além
domingos. O deputado Elias Leite apresentou à dessa, as principais festividades são a do
A feira começou a progredir, atraindo Assembléia Legislativa um projeto que, padroeiro São José, que acontece em mar-
novos moradores que construíam suas ca- convertido na Lei nº 641, de 9 de outu- ço; os festejos juninos e o desfile cívico em
sas, contribuindo para a formação do arrai- bro de 1913, determinou novos limites setembro.
al que recebeu o nome de Pedrinhas. Hoje a para o município de Arauá, e toda área Além da sede do município, Pedrinhas
feira da cidade é realizada às segundas, em da povoação Pedrinhas passou a perten- tem 17 povoados: Mutumbo de Cima,
outro local. O aposentado Luiz Dias Sobri- cer a Itabaianinha. Mutumbo de Baixo, João Pinto, Bendó,
nho, 83 anos, lembra da época em que a Os trilhos da Leste Brasileiro foram Buenos Aires, Bela Vista, Caminhão, Bar-
feira ainda acontecia aos domingos. “A fei- os maiores responsáveis pelo desenvol- bosa, Areia, Mato Grosso, Baixão, Pau do
ra era pequena, só matavam dois bois e ti- vimento do povoado. Mas com o afas- Guiri, Tabuleiro, Mascarenhas, Siri, Nação
nha poucas frutas e verduras, mas era mui- tamento dos operários da construção da e Domingos.
to animada”. ferrovia para um local distante, o co-
Em 1893, Pedrinhas tinha cerca de 20 mércio de Pedrinhas passou a ter menos
residências. Como havia um grande núme- movimento. Pedras misteriosas de Pedrinhas
ro de crianças, em 29 de novembro foi cri- A pecuária e a citricultura nascentes
ada a primeira cadeira de ensino, que pas- levaram Pedrinhas a atingir em 1953 a au- A professora Zilda Farias Lopes, 59
sou a funcionar no ano letivo seguinte. De tonomia municipal. anos, lembra que na sua infância o lugar
acordo com a Enciclopédia dos Municípios A criação do município aconteceu atra- mais misterioso da cidade eram as grandes
Brasileiros, em 1911 foram colocados os vés da Lei nº 525-A, de 25 de novembro de pedras da Fazenda Baixão. “Diziam que
trilhos da Ferrovia Federal Leste Brasileiro. 1953, mas a instalação só aconteceu em 6 embaixo das pedras havia uma botija com
Como a povoação já estava bem desenvol- de fevereiro de 1955. O primeiro prefeito tesouro. As pessoas iam com o objetivo
vida, foi feita também uma estação, fato foi Otoniel Silveira Nascimento, e o presi- de cavar, mas não tinham coragem. Certa

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Genebaldo Freire Dias: ilustre de Pedrinhas, Região: Centro-Sul do Estado
Ph.D em Ecologia Distância da capital: 89 km
População: 7.928
Atividades econômicas: produção de laranja,
mandioca, amendoim, mamão, limão, milho, feijão e pecuá-
dentro do casarão havia uma mesa, que era ria
a diversão dela e das suas amigas. “Era uma
mesa enorme, para 32 pessoas, com gave-
tas que cabiam uma menina. Uma amiga
da gente entrava, nós fechávamos a gaveta
e ela começava a cantar fingindo que era
um rádio”, lembra Zilda. O casarão foi de-
molido e no local ainda existem as palmei-
ras imperiais que ficavam em frente à casa.

Briga entre prefeitos


de Pedrinhas

Os ex-prefeitos de Pedrinhas Domin-


gos Alves de Andrade (PFL) e Neudo Car-
vez, eu e algumas amigas fomos ao local e doso (PSDB) são de grupos políticos ri-
havia um monte de carvão. Então eu lem- vais. Segundo o vereador Rogério Almeida
brei que minha avó dizia que botija encan- Santos, quem os apoiavam eram apelida-
tada vira carvão e para voltar a ser tesou- dos respectivamente de Morcegos e Par-
ro, tínhamos que furar o dedo e deixar dais. Neudo foi prefeito de 1993 a 1997; e
pingar sangue em cima”, diz ela. Domingos, de 1997 a 2001. Rogério lem-
Segundo Zilda, nenhuma delas queria bra que, em maio de 1996, uma briga entre
se cortar, até que sua irmã Zaíra resolveu o sobrinho de Domingos, Rildo Andrade,
pegar um broche e furar o dedo. “Mas na e Neudo, chamou a atenção da imprensa
hora, aconteceu uma ventania e a gente nem de todo o Estado. “Eles começaram a dis-
quis saber do tesouro. Saímos correndo. cutir, e Rildo acabou sacando uma arma
Minha mãe disse que era porque a gente com o objetivo de atirar em Neudo, que
não poderia se apoderar do que não era nos- correu e se escondeu dentro de casa. Rildo Praça e Igreja São José: ponto de encontro
so”, lembra ela. disparou vários tiros na janela da casa, mas dos moradores
A professora diz que por várias vezes por sorte ninguém foi atingido”.
tentaram derrubar as pedras para que nin- Em outubro do mesmo ano, Neudo apoiava Domingos, apesar de ser pai de
guém fosse mais ‘besbilhotar’ o local. “Já Cardoso foi afastado da prefeitura por irre- Kleber, mas não o assumia como filho.
tentaram de tudo para quebrar os ganchi- gularidades administrativas. “O Tribunal de Domingos ganhou a eleição e no início de
nhos que seguram a pedra de cima, mas Contas só liberou Neudo para voltar à pre- 1998 brigou com o deputado, que por sua
ninguém consegue”, afirma Zilda. feitura dois dias antes de Domingos assu- vez assumiu o filho Kleber, passando a
A fazenda Baixão tinha outra atração mir, em janeiro de 1997”. De acordo com apoiá-lo também politicamente”.
para a garotada: um casarão abandonado Rogério, na eleição para prefeito de 1996, Rogério diz que nas eleições de 2000,
que pertencia ao coronel Francisco Teotô- concorreram à prefeitura Neudo, Domin- Cleonâncio realizou uma festa em Pedri-
nio que, segundo dizem os moradores da gos e Kleber Fonseca. nhas para reconhecer publicamente Kleber
cidade, tinha até um porão com um tronco “Por incrível que pareça, o deputado como seu filho. Ele ganhou e hoje é o pre-
para ele maltratar os escravos. Zilda diz que federal Cleonâncio Fonseca (PPB) sempre feito da cidade.

CINFORM 183
Feira de Pedrinhas: antes aos domingos, hoje às segundas Entrada principal da cidade de Pedrinhas

Riquezas do pequeno mundo José. Saboreávamos castanhas e amendoins


torrados, arroz com galinha, arroz doce e
* ELIANA NETO E KÁTIA AQUINO cocadinhas, e brincávamos no parque.
Maravilha é poder ouvir o canto dos
Há um sentimento indefinido que in- pássaros, o barulho dos pingos da chuva nos
vade a nossa alma ao retratarmos nossa telhados das casas. E no final do dia, após a
cidade natal. E nós que vimos a primeira labuta, nos reconfortamos em casa e agra-
luz do sol neste querido torrão, de repente decemos: ‘Obrigado meu Deus por esta
vivemos uma situação jamais experimen- terra fértil, que por Ti foi abençoada’.
tada, ao falar da pequenina cidade onde Trilhos da Ferrovia Leste Brasileiro abriram
moramos. * Professoras municipais possibilidades de progresso
Definimos Pedrinhas como um tesou-
ro para os que passaram: algo que só se Filhos Ilustres
dá valor quando se perde. Porque viven- Canção à minha terra
Genebaldo Freire Dias - ambientalista e
do em um lugar onde muito se quer e autor de vários livros
pouco se tem, a gente deseja partir em * ELIANA NETO
busca de melhoria. Américo Murilo Vieira Lima - advogado
Luciano Cruz - advogado
Mas nada lá fora se compara às riquezas Num pequeno espaço do mundo,
que este pequeno mundo oferece, como a surgiu a vida e com ela o futuro Elenaldo Alves Goes - advogado
liberdade para passear de mãos dadas com de um povo que ri e que chora, Paroquisa Batista do Nascimento - pro-
as crianças sem os perigos das grandes cida- por esta Terra aqui dentro ou lá fora. fessora
des, até mesmo para um papinho descon- Ana Assis Araújo - ex-diretora do Cenec
traído nas praças, ou simplesmente na cal- Pra esta Terra eu quero cantar
çada de casa; contemplar a beleza que a mil motivos eu tenho para amá-la Carmem Ávila - teóloga e freira

natureza de graça nos dá, como os verdes mesmo longe não dá para esquecer Luiz Alberto Moura - promotor de Justiça
campos e os belos laranjais. que em Pedrinhas meu Deus, fui nascer.
Padre Fernando Ávila Soares - pároco de
Nada se compara ao privilégio de se Boquim, escritor de vários livros
poder respirar o ar puro da brisa leve em Numa noite de céu estrelado,
Padre Givaldo Modesto dos Santos - pá-
uma cidade onde todos se conhecem e se na minha Terra se sonha acordado roco de Pedrinhas
preocupam uns com os outros. Um povo ver a paz cada vez mais plantada
simples e acolhedor que faz os visitantes se pra a alegria poder ser cantada. José Enoque Nascimento - Padre

sentirem em casa, seja os que vieram para Itamar Bezerra Santana - Pastor
desfrutar das festividades ou apenas para A saudade nos faz pensar
Nemias Carvalho - Pastor
conhecer a nossa terra. em seus encantos, beleza sem par,
E por falar em festa, que saudade da- no calor que sua gente oferece,
Texto: CARLA PASSOS
quele tempo quando éramos crianças, quan- nos seus campos e brisa que há. C
Fotos e reproduções: MARIA ODÍLIA
do podíamos desfrutar das barraquinhas nas Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e arquivo da
noites de Natal e festas do padroeiro São * Professora municipal Secretaria de Educação de Pedrinhas
Pinhão Iniciativa de empreendedores franceses
Emancipado há
quase 50 anos, o
município foi um
importante centro de
produção algodoeira

região que fica entre os rios Vaza-

A Barris e Sergipe, onde atualmente


encontra-se o município de Pinhão,
distante 76 quilômetros de Aracaju, come-
çou a ser desbravada a partir de 1700, perí-
odo em que acontecia a colonização e o po-
voamento da zona sertaneja da Capitania de
Sergipe Del Rey.
Pesquisas históricas dão conta de que a pri-
meira incursão na área territorial foi encabeçada
por Manoel Alves da Silva, que obteve, por
alvará de 25 de outubro de 1713, a sesmaria de
“uma légua de comprimento por três de lar- Igreja Matriz São José
gura”, começando no Rio Salgado, que desá-
gua no Vaza-Barris, até a Serra do Caité. Paulo (Frei Paulo). Com o passar do tempo, padroeiro passou a ser São José. Campo do
Durante essa época, o Governo Geral foram expandindo a área de interesse, e em Brito, a quem pertencia Pinhão, dotou o
tinha muito interesse pela conquista e po- Pinhão fizeram nascer a cultura do algodão, povoado de uma escola elementar. O co-
voamento de Sergipe, principalmente por- incentivando o crescimento através de fi- mércio, aos poucos foi se ampliando; a pe-
que o território era a solução para facilitar nanciamentos. Tudo isso ocorreu em 1889. cuária também, mas a agricultura já era a
as comunicações entre Salvador e Olinda, No ano seguinte, em 1890, os Ettinger principal fonte de vida.
e sua ocupação era uma das formas de afas- fundaram, no local onde está implantado o O lugar que nasceu pelas mãos dos Ettinger,
tar os franceses, traficantes de Pau-Brasil, município de Pinhão, uma beneficiadora de como outros da zona sertaneja, teve um de-
que utilizavam os rios Real, Vaza-Barris e algodão. Várias pessoas, ao tomar conheci- senvolvimento lento em decorrência da falta
Sergipe, e representavam séria ameaça ao mento do empreendimento, mudaram-se de transportes regulares e rápidos, que per-
domínio português. para a povoação e assim iniciou-se a cidade mitissem o escoamento da produção para os
A povoação, porém, só começou real- de Pinhão. O nome do então povoado de mercados do litoral. Empecilho que só foi
mente a surgir muito mais tarde, no século Campo do Brito originou-se de uma planta removido na década de 50, com a construção
XIX, em terras dos coronéis Fonseca e José nativa do Nordeste, Pinhão, abundante ain- do ramal rodoviário entre a cidade e a BR-
Correia Dantas, que foram demarcadas pelo da hoje na região. 235, que finalmente ligou o povoado com os
engenheiro militar José Calazans, atenden- demais municípios do Estado.
do a interesses de um francês chamado Crescimento difícil Outros empecilhos acabaram atrapalhan-
Gootchaux Ettinger e do seu sobrinho, do o desenvolvimento de Pinhão: a falta de
Gabriel Lazar Ettinger. Nas primeiras décadas do século XX, as chuvas - além de processos rudimentares
Os franceses, que eram ourives, desem- casas, inicialmente dispersas, foram se unin- usados na agricultura - findou reduzindo e
barcaram em Aracati no Ceará, e foram des- do por outras, formando ruas. O arraial tor- encarecendo a produção. Apesar de deva-
cendo a costa nordestina até chegar a São nou-se uma povoação com uma capela, cujo gar, as condições exigidas pela Lei Orgânica

CINFORM 185
Região - Oeste (sertão)
Distância de Aracaju - 76 km
População - 5.195
Rio Vaza-Barris: roteiro dos primeiros habitantes
Atividades econômicas - agricultura (milho,
feijão e abóbora), pecuária e indústria de laticínios.
ria de cidade e sede do município, e
desmembrado de Campo do Brito. Pela Lei Lampião provocou
nº 554, de 6 de fevereiro de 1954, fixou a tiroteio em Pinhão
dos Municípios foram alcançadas e Pinhão nova divisão administrativa e judiciária do
conseguiu ser elevado à categoria de cidade. Estado. O município de Pinhão é compos- O bando de Virgulino Ferreira, o Lam-
to de um distrito de paz e é termo judiciá- pião, esteve duas vezes em Pinhão. A pri-
Emancipação rio da comarca de Campo do Brito. meira vez, na manhã de 22 de abril de 1929.
A instalação solene ocorreu em 30 de A segunda, em 1938. Em 29, dez cangacei-
Às vésperas da nova divisão adminis- janeiro de 1955, quando tomaram posse ros invadiram a cidade. Além de Lampião,
trativa do Estado, para o qüinqüênio de os primeiros cinco vereadores e o primei- estavam presentes Corisco, Virgínio (cunha-
1954 a 1958, José Emígdio da Costa Fi- ro prefeito, José Emígdio da Costa Filho, do de Lampião), Alvoredo, Zé Fortaleza,
lho, José Melquíades de Oliveira, junta- eleito em 3 de outubro de 1954. Cerca de Volta Seca, Ângelo Roque, Ezequiel Ferreira
mente com Leandro Maciel, puxaram a dez anos depois da emancipação, em 1966, (irmão de Lampião), Luiz Pedro e Luiz
emancipação do município. O nome de Pinhão perdeu a maior e mais importante Mariano.
Pinhão entrou na emenda coletiva, apre- aglomeração urbana, depois da sede mu- “Eu nunca vou esquecer aquele dia”,
sentada à Assembléia Legislativa Estadu- nicipal, o povoado Pedra Mole. rememora o aposentado João Batista da
al, para criação de municípios. Aprovada, A última grande transformação ocor- Costa, 88 anos, irmão de José Emígdio da
se converteu na Lei nº 525-A, de 25 de reu em 1986, quando a prefeitura com- Costa Filho, conhecido como Joãozinho de
novembro de 1953. prou uma área de 30 tarefas, próximo ao Donana. Segundo o aposentado, o Rei do
Nessa data, Pinhão foi elevado à catego- centro, onde hoje existem várias ruas. Cangaço esteve em Pinhão para conseguir
munição e dinheiro.
“Ele não ameaçou, nem buliu com nin-
guém. As únicas coisas que fez foi andar
pelas bodegas, procurar munição na cidade
e nos mandar pegar alguns cavalos. Depois
pediu que algumas pessoas fizessem uma
cota entre os moradores, para ajudá-lo”,
relembra João Batista.
Segundo ele, enquanto buscava os cava-
los para o cangaceiro, Joãozinho de Donana
avistou outro grupo que se aproximava da
cidade, e pensou que era do grupo de Lam-
pião. “Vinham vestidos de cangaceiro, com
chapéu de couro quebrado de lado, mas na
realidade era a volante, comandada pelo te-
nente Menezes, da Bahia”, explica.
Quando os dois grupos se encontraram,
não deu outra. “Foi um tiroteio medonho.
Sorte que ninguém da cidade morreu. E
depois desse conhecimento, eles ficaram
Joãozinho de Donana: testemunha viva Maria Regina de Oliveira: primeira pro-
do município fessora de Pinhão
sempre visitando essas zonas”, comenta

CINFORM 186
O comércio local ainda é pequeno, pois
os consumidores preferem dirigir-se ao gran-
de comércio do município vizinho, Itabaiana.
Mas, mesmo assim, existe uma feira muito
bem freqüentada, que ocorre todos os sába-
dos e consegue suprir a demanda local; de
cidades circunvizinhas e até de parte do ser-
tão baiano.
Cultura também é um item importante
para a comunidade pinhãoense, e o poder
público tem valorizado grupos folclóricos,
com destaque para o São Gonçalo.
Mais recentemente, através do interesse
das estudantes do curso de História da Uni-
versidade Federal de Sergipe, Iracide Mar-
ques e Vânia Silva estão fazendo um levan-
tamento histórico da cidade para, em segui-
Festa do vaqueiro: tradição no município da, fundar o Museu do Município, que terá
como principal objetivo resgatar a memó-
João Batista. exibidas na festa, aos olhos da grande assis- ria cultural do município, para que as gera-
Em 14 de outubro de 1938, parte do tência que ocupa a cidade na data. ções futuras saibam quais são suas raízes.
bando esteve na cidade, inclusive Zé Sere- Os habitantes locais também se diver- Pinhão também tem uma das mais belas
no e Corisco. Como a volante estava no tem por ocasião de outras festividades, festas religiosas do Estado, a do padroeiro
encalço deles, os cangaceiros acabaram fu- como os folguedos de São Gonçalo, São José, 19 de março, que consegue atrair
gindo. Foi durante essa passagem que o Zabumbeiros, Capoeira, Vaquejadas, cor- inúmeros visitantes, devido aos eventos re-
bandoleiro Zé Sereno matou o soldado José ridas de argola e festejos juninos, quando ligiosos, shows pirotécnicos e outras atra-
Paes da Costa. os bacamarteiros estrondam suas armas nas ções, que fazem com que aqueles que vêm a
“Quando chegou a volante, que veio bri- fazendas dispersas. nossa cidade para essa ocasião, voltem nos
gar aqui à noite, o Zé Sereno pediu ao solda- Já a principal festa religiosa do município anos seguintes.
do, que era amigo deles, para tirá-los da ci- é a de São José, realizada todo dia 19 de Por todas essas qualidades, Pinhão tende
dade, porque eles não conheciam a região. março, quando os fiéis católicos da cidade a progredir cada vez mais, pois o município
Zé Paes saiu com os cangaceiros e, mais participam de uma programação para ho- investe fortemente no social, na evolução
adiante, depois de já tê-los guiado, sem mais menagear o padroeiro. educacional e cultural, com a consciência
nem menos, Zé Sereno atirou nele pelas do valor que cada cidadão representa. C
costas, na traição. Não tinha motivo, foi só O Pinhão que a gente vive
maldade”, relembra o aposentado. * Secretária da Educação, Esporte e Lazer

* LINDAURA DA COSTA CONCEIÇÃO


Missa do Vaqueiro e outras Filhos ilustres
manifestações culturais Pinhão tem apresentado um desenvolvi-
José Emígdio da Costa Sobrinho - juiz de
mento considerável nos últimos tempos. Direito
A mais importante festa popular que os Essa constatação é possível quando se faz
pinhãoenses comemoram é a Missa do Va- uma análise comparativa com a situação que José Alves Neto - juiz de Direito
queiro, que acontece anualmente na primeira existia décadas atrás na própria localidade. Simone Fraga - juíza de Direito
quinzena do mês de novembro. Na véspera Emancipada há apenas 49 anos, Pinhão
da festa, vaqueiros do município e das cida- está localizado na zona sertaneja do Estado, Enilde Amaral Santos - juíza de Direito
des vizinhas reúnem-se para rezar o terço. com fácil acesso através da BR-235. O
Frei José Rezende - capuchinho
Em seguida, os participantes divertem-se em município é um dos maiores produtores de
salões de dança. milho de Sergipe e vive basicamente da agri- Padre José Bispo - atual pároco de Frei Pau-
No dia seguinte, os vaqueiros vão à mis- cultura e pecuária. Inclusive grande parte da lo, Pinhão e Pedra Mole
sa, nos seus trajes típicos (de gibão e cha- população vive da agricultura. A cidade tam- Padre José Agnaldo dos Santos - pároco
péu de couro) e, à tarde, tomam parte numa bém é exportadora de mão-de-obra para a de Santa Cruz da Vitória e Firmino Alves, na
espécie de rodeio, em que exibem as quali- indústria da construção civil, existente nos Bahia
dades de mestres de equitação nas corridas grandes centros. Nélson Pinto de Mendonça - duas vezes
de mourão. A cidade enche seus habitantes de orgu- prefeito de Simão Dias
Na ocasião é destacada a capacidade de o lho, por sua beleza e organização. Mesmo
Maria Regina de Oliveira - primeira profes-
vaqueiro do sertão não perder o caminho sendo um lugar seco, Pinhão faz questão de sora de Pinhão
aberto pelo boi no serrado da caatinga, quan- manter vivos seus cartões-postais, as praças.
do ele utiliza sua agilidade em se livrar dos Inclusive, uma delas tem uma arborização Texto: VALNÍSIA MANGUEIRA
Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
galhos rasteiros para impulsionar o boi em invejável, comparada às de outras localida- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Guttemberg
carreira solta. Estas e outras acrobacias são des mais desenvolvidas. Ettinger e João Batista da Costa.

CINFORM 187
Pirambu de colônia de pescadores
a cidade turística
Município é um dos
maiores centros
pesqueiros de camarão
do Nordeste e tem
belas praias

N
ada mais sugestivo para uma
cidade nascida de uma colônia
de pescadores do que ser batiza-
da com o nome de um peixe. E é exata-
mente o que acontece com Pirambu, cida-
de a 76 quilômetros de Aracaju, que foi
denominada em homenagem a esse peixe
bastante comum na região. O município,
antes chamado de Ilha, é um dos maiores
centros pesqueiros do Nordeste e também
possui belas praias.
Há informações de que a povoação co-
meçou a ser habitada em 1911, inicialmen-
te por índios e depois por pescadores que
exerciam a atividade nos rios Pomonga e As belas praias de Pirambu atraem centenas de turistas
Japaratuba, e no Oceano Atlântico, que
banha a cidade. peixe que denominou a cidade. antiga sede dessa vila, que passou à condi-
As primeiras casas rústicas, todas de pa- Foi em 1911 que José Amaral Lemos ção de povoado assim que Japaratuba eman-
lha, foram construídas no início do século comprou as terras pertencentes anteriormen- cipou-se de Capela.
passado, quando os habitantes, seminôma- te a Manoel Gonçalves, onde instalou uma
des, passaram a se fixar no local, produzin- casa de comércio. No dia 30 de novembro Luta pela emancipanção
do também a agricultura de subsistência. ele fundou a colônia de pescadores, existen-
Nessa época eles sobreviviam com o co- te até hoje, entidade que representa os pes- Com a chegada do advogado Euzápio
mércio feito através da troca de produtos cadores. Já o Condepi, que representa os Linhares na localidade, por volta de 1950, e
que, além da pesca e da agricultura, incluía donos de barcos, só foi criado em 1986. o incentivo de habitantes mais influentes,
também a caça. Em 1912, com a ajuda do senador Gon- iniciou-se a luta pela emancipação. Uma
Segundo os antigos moradores, o frei çalo Faro Rollemberg, foi construída a igre- peça fundamental nessa luta foi o ex-depu-
Fabiano veio do convento Santo Antô- ja. Logo depois, ele trouxe da França a ima- tado Nivaldo Santos, responsável pelo pro-
nio, na Bahia, para explorar o território gem de Nossa Senhora de Lourdes, que se jeto de lei, aprovado em 26 de novembro
entre as barras dos rios Japaratuba e São tornou a padroeira da comunidade pesquei- de 1963.
Francisco. Ele encontrou na povoação ra. Foi a partir daí que a colônia passou à O município ficou constituído pelos po-
apenas cinco casas. Havia também as pa- condição de vila. voados Aguilhadas, Lagoa Redonda, Anhin-
lhoças dos pescadores Pedro Alexandre, Após a morte de José Amaral Lemos, gas, Marimbondo, Alagamar, Baixa Gran-
Pedro Bevido, João Francisco do Nasci- seu filho Walter Amaral vendeu as terras a de e Santa Isabel. Porém, menos de seis
mento, Manuel Demeriano e Pedro Ma- Lourival Bomfim. Já em 1934, Pirambu meses depois, o golpe militar de 64 cassava
conha - este último que teria pescado o era o principal pólo turístico de Japaratuba, os mandatos do deputado Nivaldo e do

CINFORM 188
Região - Leste (litoral)
Distância de Aracaju - 75 km (25 km pela
Barra)
População - 7.143
Atividades econômicas - Produção de coco ;
mangaba; pesca de camarão; turismo; extração de petróleo.

habitantes através de aterramentos e corte


de madeira para lenha ou construção de
casas. O Ibama tem feito um trabalho rígi-
do de fiscalização por lá, tão severo que
tem revoltado os pescadores.
Há uma exigência radical naquela região
por causa da preservação da tartaruga mari-
nha. Os pescadores só podem pescar a uma
distância de três milhas da costa. “Isso é um
absurdo. Veio uma fiscal de Maceió aqui e
disse que só aqui em Sergipe tem esse limi-
te exagerado. Lá, é apenas uma milha”, re-
clama o pescador Antônio Rocha da Silva,
61 anos.
Antônio disse que a situação para os pes-
cadores está muito difícil. “A pesca já foi
muito melhor. Essa proibição está acaban-
do com o povo de Pirambu”, lamenta ele.
“Do jeito que o Ibama está fazendo, não
tem condições. A gente gasta com gelo,
óleo e rancho, e ainda se arrisca a perder os
pescados...”, reforça José Salviano Macha-
do Neto, proprietário de barco.
Museu das Tartarugas: preserva- Camarão é o carro-chefe da economia do Outro pescador, o Francisco Félix, 61
ção no Projeto Tamar município anos, também lamenta a situação. “Eu nun-
ca vi lugar para perseguir pescadores como
governador Seixas Dória, conseqüentemen- Centro pesqueiro em Sergipe. A Capitania dos Portos aqui é
te houve o cancelamento da lei que eman- muito exigente. A Marinha prende e mul-
cipava Pirambu. Pirambu é um dos maiores centros pes- ta, mas não ajuda a ninguém. Não vê que é
Passada a fase tenebrosa da ditadura mi- queiros do Estado, junto com Aracaju e o a pesca que movimenta todo o municí-
litar, o vereador João Dória Nascimento, povoado Crasto, em Santa Luzia do Itanhi. pio...”, diz.
de Japaratuba, que viria a ser o primeiro O camarão retirado no município é vendi-
prefeito de Pirambu, procurou o deputado do nas feiras livres espalhadas por todo o O turismo e os recursos naturais
Fernando Prado Leite, então presidente da Estado e exportado para Recife, Salvador,
Assembléia Legislativa, e finalmente no dia Maceió, Fortaleza e Natal. Apesar de a população de Pirambu so-
8 de agosto de 1965 o projeto foi transfor- O município também vem sofrendo com breviver da pesca, o turismo é também
mado novamente em lei. a destruição dos mangues, praticada pelos ponto alto no município, onde são realiza-

CINFORM 189
Rio Japaratuba, que separa o município de
Pirambu da Barra dos Coqueiros. Ao leste,
pelo Oceano Atlântico, e ao oeste, pelo
manguezal e por algumas fazendas, setores
que se tornaram mais vulneráveis, através
da interferência do poder público, que tem
tentado viabilizar a indenização de parte
destas terras.
Em termos de emprego, Pirambu tem
apenas três setores que absorvem um uni-
verso que se tornará limitado de mão-de-
obra: a Prefeitura Municipal, a pesca e a
agricultura.
Antigas casas de veraneio no centro de A primeira não pode mais absorver mão-
Pirambu
Ernando Leite: deputado que conseguiu de-obra, uma vez que há os empecilhos le-
emancipar Pirambu, local onde vive hoje gais, aliados ao quadro funcional comple-
das festas conhecidas em todo o Estado. to. A pesca está cada vez mais saturada,
Suas praias e a Reserva Biológica de Santa lidou, tornando-se um grande atrativo tu- não sendo mais um setor que possa acom-
Isabel, onde está implantado o Projeto Ta- rístico em todo o Estado. panhar o crescimento populacional. Há uma
mar (preservação da tartaruga marinha), Um fato importante que marcou a ad- série de problemas, que poderão a qualquer
atrai centenas de turistas. ministração da prefeita Sílvia Maria Cruz, momento inviabilizar a continuidade nos
As areias formam dunas que são um 1993/96, foi a implantação de eletrifica- termos atuais deste setor.
atrativo à parte. Na Lagoa Redonda, um ção. Em parceria com o Projeto Nordeste, A agricultura, já há muito tempo não
ponto paradisíaco da região, os turistas o município foi o primeiro a eletrificar representa o grande setor absorvente de
aproveitam as ondulações para praticar o 100% dos seus povoados. mão-de-obra, não representa ganhos que
‘ski-bunda’ - uma variação do sandboard - movimentem a economia local. Resta, por-
, que é simplesmente descer o areal escor- Os desafios que surgem tanto, o turismo como agente motor da
regando sentado. com o novo tempo economia e como perspectiva de desenvol-
A vegetação de Pirambu é bastante vari- vimento para a nossa comunidade, cujo
ada. Na praia predominam os coqueiros, *CLAUDOMIR TAVARES DA SILVA potencial das belezas paradisíacas é referên-
com campos de dunas, matas de restinga e cia estadual e até regional. São desafios que,
manguezal. Este último, mais conhecido No início dos anos 80, a população do a cada dia, necessitam da unidade de todos
como mangue, encontra-se no litoral, em município de Pirambu não chegava a dois aqueles que querem revitalizar a economia
solos lamacentos, onde se desenvolvem os mil habitantes. Com o advento da pesca de Pirambu, de oferecer condições de vida
caranguejos e os camarões. industrial, surgida a partir da ampliação da à nossa população, que hoje representa mais
Pirambu Pesca, com a criação da Perpesca e de 7 mil pessoas. C
Administrações e obras da Calne, mais tarde vieram para cá cente-
importantes nas de migrantes, dos mais variados Esta- *Professor das redes municipal e estadual de ensino, di-
dos do Nordeste. retor da Escola Mário Trindade Cruz e estudante de História
O primeiro prefeito do município, João Foram e são pessoas que contribuíram na UFS.

Dória, empossado em 28 de agosto de decisivamente para o crescimento de Pi-


1965, também foi presidente da Colônia rambu, nos aspectos populacional, econô- Filhos Ilustres
de Pescadores. Entre suas obras estão esco- mico e social. Hoje somos uma sociedade
João Dória - subtenente da Marinha,
las e eletrificação rural, construção de es- multirracial, multiétnica, com as mais va- 1º prefeito da cidade
tradas, Sesp (hoje FNS) e calçamento das riadas culturas e tradições, reunidas no nos-
principais ruas da cidade. so principal ramo da economia, representa- Marcos Lopes Cruz - odontólogo e
do pela pesca. ex-prefeito do município.
A Pirambu Pesca e o Terminal Pesqueiro
foram obras importantes na consolidação Depois de 20 anos, o município enfrenta Edivaldo dos Santos - juiz de Direito
da pesca no município, construídas no go- uma série de desafios, como a questão da
moradia, do desemprego e de outros ele- Fernando Lopes Cruz - engenheiro
verno de Daniel Luís dos Santos, 1977/83. agrônomo
A pesca foi incrementada na administração mentos sociais. Em termos de crescimento
do prefeito Marcos Cruz, com a constru- da cidade, Pirambu está literalmente cerca- Izabel Amaral - advogada
ção do Terminal Turístico de Pirambu, exis- do, “ilhado”, o que reflete na demanda de
Carlos Amaral - economistapio
tente até hoje. moradia para parcela significativa da popu-
O Loteamento Lourival Bomfim, onde lação, não obstante as recentes políticas
residem cerca de 3 mil pessoas, foi constru- municipais voltadas para a construção de Texto: EDIVÂNIA FREIRE
moradias populares. Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
ído pelo prefeito César Rocha, 1989/92. Sua e EDSON ARAÚJO
administração foi marcada pelo crescimen- No extremo norte, Pirambu está impe- Fonte: Pesquisa do professor Claudomir Tavares da Silva,
to habitacional do município. Foi no seu dido de crescer por conta do limite da Re- feita com a colaboração dos alunos da Escola José
governo também que o Carnaval se conso- serva Biológica de Santa Isabel. Ao sul, pelo Amaral Lemos.
Poço Redondo
abandonada por causa de Lampião
Povoação que
pertencia a Porto da
Folha foi elevada à
categoria de cidade
em 1956

O
município de Poço Redondo, a 185
quilômetros de Aracaju, já perten
ceu a Porto da Folha. As primeiras
penetrações na localidade datam de fins do
século XVII, quando se intensificava a co-
lonização na região instituída pelo fidalgo
dom Antonio Gomes Ferrão Castelo Bran-
co. Além de Poço Redondo, Gararu e Ca-
nindé também faziam parte desse mesmo
território. Igreja matriz Nossa Senhora da Conceição
De acordo com Alcino Alves Costa, que
está escrevendo o livro ‘Poço Redondo, a Cardoso de Sousa, se agradou e começou a Redondo”, informa Alcino.
saga de um povo’, alguns aventureiros e construir moradia no lugar que passou a se No final do século XVIII, Poço de Cima
caçadores da região começaram a se esta- chamar Poço de Cima. começa a decair e os Sousa resolvem cons-
belecer às margens do Riacho Jacaré. Eles “Logo, no lugar que nasceu forte, já exis- truir residências no Povoado Poço Redon-
construíam pequenas moradias e foram sur- tiam casa grande, igreja, senzala, escravos, do, no entanto, quando alguém da famí-
gindo os currais e fazendas, já que as terras vivendas dos colonos e currais. Tudo era lia morria, era levado para ser enterrado
não tinham donos. uma inesperada e grandiosa novidade que na frente da capelinha existente na povo-
“Nasceram as pequenas propriedades deixava os nativos atônitos e admirados. ação anterior.
como o Recurso, China do Poço, Monte Tudo ali era diferente dos costumes da ser- De acordo com a Enciclopédia dos
Santo, Riacho Largo, entre outras. Dois tanejada caipira que não conhecia outro Municípios Brasileiros, a cidade de Poço
caboclos se destacaram na edificação de fa- mundo que não fosse o mato, as veredas, a Redondo nasceu a partir de 1902, quan-
zendas naquele bruto sertão: Manoel do vaqueirice e a caça. E os chamados ‘Sousa’ do Manoel Pereira, estabelecido com fá-
Brejinho e Julião Nascimento, pai de Zé de se tornaram senhores respeitados em toda a brica de descaroçar algodão no arraial de
Julião, que foi para o bando de Lampião”, região”. Poço de Cima, resolveu transferir seu es-
diz um trecho do livro ainda inacabado. Até então os moradores da beira do tabelecimento para Poço Redondo. “Essa
Anos depois, as terras de Poço Redondo Jacaré tinham casas separadas umas das mudança influiu fortemente no espírito
também começavam a ser descobertas pe- outras, mas resolveram seguir o exemplo de diversos habitantes de Poço de Cima
los grandes fazendeiros, que se interessa- do Poço de Cima e se agruparam em um que, afinal, seguiram o exemplo de Ma-
ram em criar gado no local. único lugar. “A idéia foi de Luís da Cupi- noel Pereira, mudando também suas ca-
Alcino diz ainda que no final do século ra, uma espécie de líder daquela gente. O sas para Poço Redondo, nome que lhe
XIX, uma família vinda da região de Rosá- local escolhido era um descampado situ- veio do fato de situar-se em local semi-
rio do Catete chegou ao Sertão do São Fran- ado a um quilômetro da grande fazenda. circulado pelo Riacho Jacaré”.
cisco com o objetivo de curar familiares Em pouco tempo, vinte casas já estavam Mas, segundo as pesquisas de Alcino Al-
que tinham enfermidades e precisavam de prontas e o lugar passou a se chamar ves Costa, a história não aconteceu bem
clima seco. O chefe da expedição, Manoel Nossa Senhora da Conceição do Poço assim. “Manoel Pereira jamais residiu em

CINFORM 192
Artur Moreira de Sá: primeiro prefeito

Região: noroeste (sertão)


Distância de Aracaju: 184 Km
População: 26.009 habitantes
Atividades econômicas: Pecuária e agri-
cultura

Feira de Poço Redondo às segundas:


grande movimento na cidade

Poço de Cima e nem tampouco possuía uma


fábrica de descaroçar algodão na proprie-
dade dos ‘Sousa’. Sua fabriqueta foi instala-
da inicialmente nos fundos de sua casa, cons-
truída em Poço Redondo”, discorda ele.
Com o decorrer dos anos, o crescimento
de seus primeiros habitantes, ajudado pela
emigração dos que vieram tentar a vida
cultivando suas terras, torna Poço Redon-
do um povoado promissor, com feira livre
concorrida e comércio próspero. Entretan-
to, tais fatores sempre foram dificultados
pelas prolongadas estiagens que castigam a Missa de aniversário de 60 anos da morte de Lampião na grota de Angico, em 1998
região.
do, o município tem lugares que valem a Povoado abandonado duas vezes
Nova cidade pena ser conhecidos, mas há dificuldade
de acesso, como a grota de Angico, onde A história de Poço Redondo mudou to-
Pela Lei estadual nº 525-A, de 23 de no- Lampião morreu; o Morro da Letra, nas talmente na época do cangaço. Antes um
vembro de 1953, Poço Redondo é elevado proximidades do Povoado Santa Rosa do lugar tranqüilo, transformou-se praticamen-
à categoria de cidade. A instalação do mu- Ermírio, cujas inscrições pré-históricas, em te em um campo de batalha. A história conta
nicípio deu-se em 6 de fevereiro de 1956, coloração avermelhada, ainda hoje não que 34 filhos de Poço Redondo acompa-
tendo como primeiro prefeito Artur Mo- foram decifradas; e a Serra da Guia, com nharam o bando de Lampião e foi na gruta
reira de Sá, eleito com os cinco vereadores 750 metros de altura, na divisa com o Es- de Angico, que hoje pertence ao municí-
em 3 de outubro de 1954. tado da Bahia, sendo o ponto mais eleva- pio, que em 1938 Lampião e Maria Bonita,
Apesar da seca que assola Poço Redon- do de Sergipe. junto com outros nove cangaceiros, foram

CINFORM 193
Igrejinha de Poço de Cima: moradores trocaram antiga povoação pelo Povoado Poço Redondo

mortos por uma volante alagoana. para suas casas.


De acordo com Alcino Alves, dois acon- Apesar da presença dos militares, os mo-
tecimentos do cangaço marcaram profun- radores de Poço Redondo continuaram
damente a vida dos habitantes de Poço Re- morrendo.
dondo. “Nenhum lugar, na vastidão dos Em 1937, revoltados porque os soldados
campos sertanejos, viveu agonia tão gran- mataram o cangaceiro Pau Ferro, os bandi-
de e provações tão gigantescas como o pe- dos assassinam os soldados Tonho Vicente
quenino núcleo das brenhas do Riacho Ja- e Sisi. Segundo conta o livro de Alcino Al-
caré”. Por duas vezes, toda a população do ves, os cangaceiros mandaram um recado
povoado abandonou suas casas com medo garantindo que iriam invadir a vila de Poço
da violência dos cangaceiros e da volante. Redondo. “O pavor tomou conta de todos.
Sertanejos encontram-se em frente à igreja para
Esses acontecimentos ficaram conhecidos A tropa que guarnece no lugarzinho se aco- bater papo
como ‘As Carreiras’. “Aquela vidinha sem varda. Sem que ninguém esperasse, os mili-
novidades e aborrecimentos tinha se acaba- tares que trabalhavam no povoado tinham
do. Todas as desgraças e horrores começa- que se apresentar imediatamente no quar- Filhos Ilustres
ram a aparecer, atingindo cruelmente as tel de Propriá. Apavorados pela falta de
Luís da Cupira e Teothonio Alves Chi-
famílias e habitantes daquele abandonado segurança, os moradores se reuniram e de- na: líderes da comunidade de Poço Redondo
pedaço de Sergipe”. cidiram deixar novamente o povoado, vol-
O primeiro assassinato em Poço Redon- tando para Curralinho. Talvez um caso úni- José Francisco do Nascimento - o Zé de
Julião
do aconteceu em 1932. Santo da Mandas- co na história do cangaço e na vida da gente
saia foi morto cruelmente por Corisco. A sertaneja”. Artur Moreira de Sá: primeiro prefeito e co-
população não entendia por que tiraram a Em 1938 choveu muito na região. nhecido na cidade por ter enfrentado os canga-
ceiros
vida de um homem tão pacífico. Assusta- “Aquela vidinha às margens do Velho Chi-
dos, todos os moradores do povoado dei- co estava por demais enfadonha e maçan- Jorge Alves Sobrinho - advogado e primei-
ro homem formado de Poço Redondo
xaram suas casas e foram morar em Curra- te. Eles precisavam plantar, porém as ro-
linho, um povoado à beira do Rio São Fran- ças ficavam nos arredores de Poço Redon- Artime Alves Costa - médico, vive em São
cisco. Em Poço Redondo não ficou um só do. Alguns decidiram se arriscar. Em ju- Paulo
morador. nho desse mesmo ano, perto do Currali- José Élio Feitosa - advogado
Os militares decidiram que a povoação nho, no riacho do Angico, o incrível Lam-
abandonada seria um ponto estratégico para pião caiu, vencido pelas balas da volante Alcino Alves Costa - escritor e prefeito da
cidade três vezes
o combate ao cangaço, porque de lá pode- do tenente João Bezerra da Silva. O can-
riam chegar com mais facilidade a pontos gaço morreu. O povo sofrido e desterrado
escondidos da região. Dez soldados, coman- de Poço Redondo não tinha mais o que Texto: CARLA PASSOS
Fotos e reproduções: DIÓGENES DI E EDSON
dados pelo sargento Alfredo, se estabelece- temer. As famílias podiam retornar e re- ARAÚJO
ram no local e, sabendo disso, a população construir o arruinado povoado que tanto Fonte: ‘Poço Redondo, a saga de um povo’, de Alcino Alves
que havia se mudado para Curralinho volta amavam”. C Costa e Enciclopédia dos Municípios Sergipanos
Poço Verde
maior produtor de feijão de Sergipe

Município fica na
fronteira de Sergipe
com a Bahia e
pertenceu a
Tobias Barreto

A
s primeiras penetrações no territó
rio de Poço Verde, distante 145 qui
lômetros da capital, aconteceram
em 1609, quando Antonio Guedes adqui-
riu uma sesmaria, cujo limite provavelmen-
te abrangia as terras que hoje formam o
município. Por quase dois séculos e meio a Igreja Matriz São Sebastião
população da região residia em pequenas
propriedades privadas, pois não existia ne- do Sergipe para se fixarem na Bahia, por- Barreto e com sede na vila de mesmo nome,
nhum núcleo de habitações aglomeradas. que lá a taxa de ICMS - Imposto sobre Cir- que passava, automaticamente, à categoria
Antes do surgimento da povoação, Poço culação de Mercadoria e Serviços - é me- de cidade, por força da lei federal que con-
Verde era o nome de uma fazenda perten- nor, e eles não precisam pagar antecipado. sidera pertencente a esta categoria toda lo-
cente a Sebastião da Fonseca Dórea. Segun- calidade sede do município.
do moradores mais antigos da cidade, esse Distrito de Poço Verde Pela Lei estadual número 544, de 6 de
nome veio de um poço formado pelas águas fevereiro de 1954, que fixou a divisão
do Rio Real, localizado dentro da fazenda, A região teria tudo para um desenvolvi- administrativa e judiciária do Estado,
que permanecia sempre verde. mento rápido se dependesse das suas terras Poço Verde tem um único distrito, o de
Segundo a Enciclopédia dos Municípios férteis, mas as constantes secas atrapalha- Poço Verde, sendo termo da comarca de
Brasileiros, a povoação de Poço Verde co- ram. Em 1923 foi criado o distrito de Poço Simão Dias.
meçou a se formar primitivamente às mar- Verde, passando a sua sede à categoria de
gens do Rio Real em 1863, só que do lado vila, segundo o Decreto-Lei Federal nº 311, Sem Fronteira
da Bahia. Logo depois, foi transferida para de 2 de março de 1938. Aliás, esse decreto
o lado de Sergipe. Não se sabe ao certo o elevou à categoria de vila toda sede de dis- O Rio Real divide o município de Poço
ano em que se deu a transferência do povo- trito que não fosse município. Verde de Fátima, na Bahia. O curioso é que
ado de uma margem para a outra do rio, e Poço Verde aparece como distrito do no local da fronteira o rio está seco, juntan-
nem o motivo. município de Campos (Tobias Barreto) nas do a cidade sergipana ao Povoado Bomfim,
Alguns moradores acham que a causa da divisões territoriais datadas de 31 de de- em Fátima. Se não fosse a marca do rio que
mudança teria sido alguns desentendimen- zembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937. já passou pelo local, ficaria difícil identifi-
tos entre os fundadores do arraial. “É possí- No quadro anexo ao Decreto-Lei Estadual car onde termina um município e onde co-
vel, todavia, que o motivo tenha sido a pre- nº 69, de 28 de março de 1938, bem como meça o outro.
ferência da jurisdição de Sergipe, em vez da nos quadros fixados pelo Decreto-Lei Esta- A capela da Santa Cruz foi a primeira do
do Estado da Bahia, isto acontecendo ou dual nº 533, de 15 de dezembro de 1938. município, mas, como era muito pequena
por questão de ordem fiscal, ou de ordem A Lei nº 525-A, de 25 de novembro de para a população, foi construída a Igreja de
política”, informa a Enciclopédia. Hoje ocor- 1953, criou, entre outros, o município de São Sebastião, em estilo gótico, e o santo
re o contrário. Comerciantes estão deixan- Poço Verde, desmembrando-o do de Tobias passou a ser o padroeiro da cidade.

CINFORM 196
Uma das praças de Poço Verde, onde a popu-
lação costuma se encontrar

Região: oeste (sertão)


Distância de Aracaju: 145 Km
População: 19.953
Atividades econômicas: agricultura (feijão,
milho e mandioca) e pecuária

Município também produz artesanato

Prefeitos de Poço Verde 1973. “Ele até hoje é lembrado na cidade


como o bom pagador, pois pagava todos
O curioso na administração de Poço os compromissos da prefeitura antes do
Verde é que dois homens foram prefeitos vencimento”, diz.
por mais de uma vez. Emídio Neto admi- O oitavo embate eleitoral do municí-
nistrou a cidade por três mandatos; e o atual pio foi entre Emídio Neto e José Everaldo
prefeito, José Everaldo de Oliveira, tam- de Oliveira. Este último venceu a eleição e
bém está administrando a cidade pela ter- administrou a prefeitura de 1983 a 1988.
ceira vez. Esta última por dois mandatos Já em 1989, Carlos Alberto Lima assumiu
consecutivos. a prefeitura e administrou o município até
O comerciante Samuel de Abreu Neto 1992. No ano seguinte, Milton Santana
fez uma pesquisa sobre o destaque da atua- assumiu a prefeitura até 1996.
ção de cada prefeito de Poço Verde. Segun- Em 1996 se candidataram a prefeito
do ele, a administração de João de Oliveira Carlos Alberto Lima e José Everaldo de
(1955 a 1959) foi marcada pelo incentivo à Oliveira. Este último saiu mais uma vez
educação. “Ele era diretor e professor do vencedor. Na última eleição, em 2000,
Em primeiro plano, o feijão, maior tradição da Grupo Escolar Sebastião Fonseca. Escola na Everaldo foi reeleito, mas deixou a prefei-
cidade. Atrás, a Capela Santa Cruz, onde nas-
ceu Poço Verde
qual me orgulho por ter estudado em toda a tura para se candidatar a um cargo majori-
minha juventude e de tê-lo como meu mes- tário. No seu lugar assumiu o vice, Jonas
tre na época”, lembra. Dias Neto.
As festas religiosas tradicionais do muni- Emídio Neto administrou Poço Verde
cípio são a de São Sebastião e a da Santa de 1959 a 1963; de 1967 a 1971 e de 1973 Produção de feijão de
Cruz, que acontecem, respectivamente, nos a 1977. “Ele foi prefeito pela primeira vez Poço Verde
dias 20 de janeiro e 3 de maio. Elas reúnem bastante jovem e foi o idealizador do proje-
na sede do município uma grande quanti- to urbanístico, incentivando a construção O município de Poço Verde é conhecido
dade de pessoas vindas das cidades circun- de avenidas espaçosas, já na sua administra- pela sua grande produção de feijão. Em
vizinhas e, principalmente, dos povoados. ção ficou conhecido como o prefeito da paz”, época de colheitas é comum na cidade vá-
No dia de São Sebastião, a população se informa Samuel de Abreu. rios pequenos agricultores espalharem seu
reúne na igreja e participa da missa festiva. João Emídio foi prefeito de Poço Verde produto para secar. As plantações de feijão
À tarde é realizada a procissão, com a ima- de 1963 a 1967, e se destacou por ter se são em minifúndios e terras muito férteis,
gem do santo sendo transportada pelas ruas empenhado em resolver as pendências jurí- mas os agricultores têm a seca como o
da cidade. À noite há feira livre, parque de dicas do município. José Bonifácio, conhe- maior problema enfrentado.
diversão e shows com bandas de música. cido como Ioiozinho, foi prefeito de 1971 a Em 1997, o prefeito José Everaldo de

CINFORM 197
Casa das Irmãs de Santa Maria. Elas che-
garam em Poço Verde no dia 13 de junho
de 1976

Divisa de Sergipe com Bahia: o Rio Real,


que passa pelo local, está seco, no detalhe, Prédio
inaugurado em 1958, onde funcionava a antiga
prefeitura

Oliveira criou o Fundo Municipal de Aval,


para beneficiar os pequenos agricultores com
empréstimos em época da plantação. Este
Cultivo de feijão garante o sustento dos moradores do município
município foi o primeiro a criar este benefí-
cio, oferecendo garantias aos agricultores
familiares que possuem terras e não dispõem Em 2001 a produção de feijão foi menor plantando a fartura de milho e feijão.
das escrituras públicas para conseguir um em relação aos anos anteriores por causa da Poço Verde, louçã, sedutora cidade,
empréstimo bancário. seca que atacou todo o sertão. “Desde 1983 imortal seja o teu pavilhão C

Nesse ano, em decorrência do Fundo de não tínhamos passado por uma seca tão
Aval, a safra foi a maior de todos os tem- grande como essa no período da floração. * Professora e secretária de Educação
pos. O Programa Comunidade Solidária, Por isso a produção deste ano decaiu bas-
do Governo Federal, comprou toda a pro- tante para uma média de 100 kg por hecta- Filhos Ilustres
dução para doar as sementes a outros muni- re. A esperança é que no próximo ano não
cípios. Segundo o prefeito José Everaldo, tenha seca”, diz. Sebastião da Fonseca - um dos fundadores
de Poço Verde
em 1997 contrataram com o Banco mais
de 600 pessoas, quando no ano anterior fo- Hino do Município de João de Oliveira - primeiro prefeito
ram apenas 29. Poço Verde
José Everaldo de Oliveira - prefeito três ve-
Segundo Luiz Alberto Souza, técnico zes, ex-deputado federal e ex-secretário de Esta-
agrícola da Emdagro - Empresa de Desen- * MARIA ADEMILDES DE OLIVEIRA MATOS do da Administração e da Ação Comunitária
volvimento Agropecuário - em Poço Ver-
Emídio Neto - prefeito da cidade durante vá-
de, são mais de 2 mil minifúndios no muni- Poço Verde, terra abençoada, rios anos
cípio, e todos eles produzem feijão, além por todos amada, de olor juvenil;
de milho e outros produtos em menor quan- Onde a honra e a virtude é a luz Virgílio Rabelo do Rosário - representou
Poço Verde na Câmara de Vereadores em
tidade. Ao todo, 15 mil hectares são utili- que ampara e conduz o teu povo gentil. Campos (Tobias Barreto)
zados para a plantação do produto no mu- Poço Verde que destes sergipanos,
nicípio, e a produção por hectare varia de ilustres conterrâneos a nos orgulhar... Pedro Zacarias de Oliveira - Médico, sen-
do a primeira pessoa de Poço Verde formada
800 a 1 mil kg anualmente. Poço Verde das festas formosas,
O tipo de feijão mais cultivado em Poço de gente garbosa, feliz, a cantar... Josefa Rocha Dórea - dona da farmácia de
Verde é o carioquinha, seguido do pérola manipulação, a parteira da região. Era conhe-
cida como mãe Zefinha
(grão maior). “A característica do feijão em Poço Verde, teu povo sorrindo,
Poço Verde é que é produzido por pequenos com fé progredindo, por ti a lutar;
produtores e é exportado para diversos Es- Ao trabalho enaltece e à paz, Texto: CARLA PASSOS
Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
tados, como Paraíba, São Paulo, Pernam- da justiça se faz guardião singular... Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e arquivo da
buco, Goiás e Maranhão”, informa Souza. Poço Verde, primeiro no campo, Secretaria de Educação de Poço Verde
Porto da Folha
tem pega de boi na caatinga

Município, famoso por


suas autênticas
vaquejadas, teve
origem na Fazenda
Curral do Buraco

região onde hoje é o município de

A Porto da Folha, a 190 quilômetros


da capital, começou a ser conhecida
no início do século XVII quando Tomé de
Rocha Malheiros obteve uma sesmaria de
dez léguas, partindo da Serra da Tabanga,
ponto inicial do povoamento, até Jaciobá.
Posteriormente, Gaspar da Cruz Porto Car-
reiro, Pedro de Figueiredo e Domingos da
Cruz Porto Carreiro vieram substituir Ro-
cha Malheiros na tentativa de colonização
da zona, obtendo a sesmaria concedida por
carta datada de 30 de agosto de 1625. Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
De acordo com a Enciclopédia dos
Municípios Brasileiros, em 1682, Ge- 19 de fevereiro de 1841 passou a se cha- Ouro, cuja ligação era feita por um cami-
rônimo da Costa Taborda fundou um mar Nossa Senhora da Conceição de Por- nho íngreme. Mesmo depois da construção
sítio no velho Povoado Ilha do Ouro, e to da Folha”, informa a Enciclopédia. Até da estrada, a situação não mudou muito
se estabeleceu com lavouras e criação hoje quem nasce em Porto da Folha é co- porque ela era muito precária. O principal
de gado. Mas não prosperou por causa nhecido por buraqueiro. Os moradores meio de transporte deixou de ser fluvial e
dos constantes saques que teriam sido mais antigos acreditam que o nome Bura- passou a ser o rodoviário, mas o sonho da
promovidos por negros fugidos de mo- co surgiu porque a cidade é cercada de população é ter uma estrada em boas con-
cambos. morros, dando a impressão de que fica em dições, para que o acesso à Ilha do Ouro
Em novembro de 1807, o fidalgo Antô- uma baixada. seja facilitado e o turismo possa ser desen-
nio Gomes Ferrão de Castelo Branco regis- Em 23 de março de 1870, a resolução volvido (veja box).
trou seus títulos imobiliários na Câmara de número 841 transfere a sede da freguesia Porto da Folha foi elevado à categoria
Propriá, declarando ser de 30 léguas a ex- de Nossa Senhora de Porto da Folha para de município em 11 de fevereiro de 1896,
tensão de suas terras, latifúndio que consti- o povoado vizinho Boa Vista, mudando através da Lei nº 194. Pela Lei Estadual
tuiu o morgado de Porto da Folha. seu nome para Vila de Nossa Senhora da nº 554, de 6 de fevereiro de 1954, Porto
Conceição da Ilha do Ouro. E não parou da Folha perde 64% de sua área para a
Fazenda Curral do Buraco por aí a série de mudanças. Em 28 de abril criação dos municípios de Curituba (Ca-
de 1870, a sede da vila voltou a ser Porto nindé do São Francisco) e Poço Redondo.
Porém, quem colonizou as terras de Por- da Folha. Hoje o município tem nove povoados:
to da Folha foi Tomás de Bermudes, fun- Essas modificações prejudicaram o mu- Lagoa da Volta, Lagoa do Rancho, Lagoa
dando um curral e fazendo amizade com nicípio, principalmente porque a vila sede Redonda, Linda França, Niterói, Mocam-
os índios. “A fazenda Curral do Buraco da cidade era distante oito quilômetros do bo, Umbuzeiro do Matuto, Ilha de São
originou a povoação do Buraco, que em porto mais próximo, situado na Ilha do Pedro e Ilha do Ouro.

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Região: norte (Sertão)
Distância da capital: 190 Km
População: 26.635
Atividades econômicas: agricultura (milho e
feijão)

Tonho de Chico: um dos criadores da pega de boi

A tradição da pega de campo para os vaqueiros pegar. Os que con- negra como o trabalho coletivo, o samba
boi na caatinga seguiam eram aplaudidos na cidade, desfi- de coco, dançado no dia da padroeira Santa
lavam com o boi todo enfeitado e ganha- Cruz e no dia da Consciência Negra, o uso
A festa do vaqueiro de Porto da Folha foi vam troféus”, lembra Tonho. de ervas medicinais, etc.
criada em 1969. De acordo com um dos Hoje em dia as proporções da festa são
criadores do evento, o aposentado Antônio muito maiores, pessoas de várias cidades de Índios Xocós
Alves de Farias, conhecido como Tonho de Sergipe e de fora do Estado vão à vaqueja-
Chico, 68 anos, a pega de boi no meio da da, e são soltos na caatinga mais de cem Já a Ilha de São Pedro preserva parcial-
caatinga era o esporte do vaqueiro nas ho- bois. Tonho aponta mais uma diferença: mente as características do povo indígena.
ras de folga. “Os vaqueiros de hoje desfilam na cidade Quando os portugueses chegaram à foz do
Tonho de Chico, que trabalhava como com a cara limpinha, na minha época era Opará, em 4 de outubro de 1501, existiam
vaqueiro, já participou de muitas competi- um prazer para a gente cavalgar pelas ruas diversas tribos indígenas ocupando o vale
ções com os colegas na mata, até que em com o rosto cortado pelo mato, mostrando do Rio São Francisco. Entre elas se encon-
1969 o frei Angelino deu a idéia de que eles nossa bravura”. travam os Xocós.
fizessem uma festa todos os anos. Eles cri- De acordo com a Enciclopédia dos Mu-
aram a Sociedade Recreativa Parque Nilo Comunidades negra e indígena nicípios, no final do século XVIII, funda-
dos Santos, com uma diretoria de cinco ram nas terras do chefe indígena Pindaíba a
pessoas, e Tonho de Chico foi eleito secre- Uma curiosidade em Porto da Folha é Missão de São Pedro de Porto da Folha,
tário. O primeiro presidente foi Antônio que o município tem uma comunidade de sediada na Ilha de São Pedro, onde viviam
Pereira Feitosa, que logo depois foi eleito negros remanescente de Quilombo e uma 300 índios, que para sobreviver caçavam,
prefeito da cidade. Tonho também foi pre- de índios Xocós. pescavam e tinham uma pequena lavoura
sidente da associação em dois mandatos. O povoado Mocambo, às margens do de mandioca. A comunidade foi entregue a
Na primeira festa só compareceram Rio São Francisco, foi reconhecido oficial- sacerdotes capuchinhos e jesuítas. Atual-
poucos vaqueiros, os das redondezas. “A mente como remanescente de Quilombo mente, as 54 famílias que habitam a Ilha de
gente só soltou três bois no campo, ainda pela Fundação Cultural Palmares, em 1997. São Pedro são índios Xocós.
era uma festa pequena, mas ficamos mui- A titulação de posse dos 2.100 hectares acon- A imposição do catolicismo e dos costu-
to satisfeitos”, lembra Tonho de Chico. teceu em 2000, mas o processo de desapro- mes europeus destruíram grande parte da
Em 1970, por causa da grande seca, os priação dessas terras não está finalizado. cultura indígena. É tanto que os Xocós do
vaqueiros não realizaram a festa, mas a Dois anos depois, as cem famílias do local local são católicos e o padroeiro do povoa-
partir de 1971 ela passou a acontecer to- sofrem muito por problemas fundiários e do é São Pedro, mas toda vez que tem mis-
dos os anos, sempre em setembro, “por- também com invasores que querem criar sa, eles dançam Toré, um ritual sagrado re-
que não é inverno e o campo ainda está gado junto com as plantações da comuni- alizado em um terreiro afastado da aldeia
verde”, explica Tonho. dade. com dança, indumentária típica e bebida
“A gente começou a chamar os prefeitos Atualmente, a população miscigenou-se de jurema. A comunidade recebe também
e vaqueiros das cidades vizinhas e a festa muito, principalmente com índios, mas ain- muitas influências externas, especialmente
cresceu. A cada ano mais gado era solto no da tenta preservar as expressões da cultura através de televisores e telefones públicos.

CINFORM 200
perdeu a paciência e tascou a baqueta na
minha cabeça. Nem deu tempo de sen-
tir dor, desmaiei antes!
Naqueles tempos quem ganhava um
velocípede de presente, podia se gabar de
estar vivendo a verdadeira e bela infân-
cia. Pois bem, eu ganhei o meu velocípe-
de de meus bons pais. Só que tinha que
entrar na fila com mais quatro irmãos. Se
tinha encrenca...
A festa da padroeira durava o mês in-
teiro. À noite, para alegria e farra da
meninada, funcionava o carrossel de
duas ondas (mãe da roda-gigante), mo-
Vista parcial da cidade de Porto da Folha
vidos por uns três ajudantes troncudos,
e a iluminação era à base do lampião de
gás. Peralta que só, armava para andar
do tempo da fartura de peixes e arroz. “An- no carrossel sem pagar. Também ali eu
tes aqui tinha muito arroz e peixe. As mu- mostrava as qualidades no surdo feito
Monumento indígena em frente à Igreja São lheres trabalhavam toda a madrugada para de câmara de ar. Outro conterrâneo ia
Pedro demonstra o sincretismo religioso tratar o peixe. Hoje até caça não tem mais, de pandeiro e o cego Expedito tocava
porque não tem mato”, lamenta ele. sanfona. Bons tempos... C

Ilha do Ouro tem grande Antônio lembra também que a ida de


* Aposentado da Petrobras
potencial turístico barco para Propriá não era demorada por
causa da correnteza, mas a volta dependia
O belo e antigo povoado Ilha do Ouro é do vento. “Se ele estivesse favorável, che- Filhos Ilustres
um verdadeiro oásis em pleno sertão. Loca- gávamos logo, caso contrário, a viagem
lizado às margens do Rio São Francisco, demorava até cinco dias. E foi isso que acon- Seixas Dórea - ex-governador de Ser-
gipe
tem um bom restaurante e bares que ser- teceu no dia do meu casamento. Todo mun-
vem peixes como surubim e dourado, além do foi à igreja, mas eu só cheguei três dias Coronel Hermeto Feitosa - combatente
de pitu e camarão. depois”, lembra Antônio. na Revolução de 1932, comandou a Polícia
O visitante que vai a Ilha do Ouro pode Militar de Sergipe, foi deputado estadual por
tomar banho de rio; conhecer a caibeira, Infância em Porto da Folha duas legislaturas e presidiu a Assembléia Le-
gislativa
uma árvore de mais de 300 anos na beira do
Velho Chico, preservada pelos moradores * AGNELO DANTAS Aroaldo Santana - dono do cartório, ex-pre-
do povoado; e apreciar a vista do Povoado feito da cidade e ex-deputado estadual
Barra do Ipanema e o Morro da Ilha dos Minha infância na querida e inesquecí-
Prazeres, do lado alagoano. vel Porto da Folha é memorável. Eu tenho Antônio Dantas - advogado, professor e ex-
O Povoado, que antes era chamado de diretor de vários colégios da rede estadual
muito orgulho de ter nascido buraqueiro.
Bela Vista nem é uma ilha e nem tem ouro. Não esqueço dos banhos no Riacho Canu- Edson Ulices - advogado e ex-presidente
Segundo os moradores mais antigos, o dos, Tanque Velho, nas Pedras, Lagoa Com- da OAB-SE
nome surgiu por causa do cultivo de arroz, prida e Ilha do Ouro. Boas lembranças das
já que no período da colheita brotavam subidas ao alto do Cruzeiro para procurar João José dos Anjos - ex-comandante da
pendões amarelos, que parecem ouro. cavalo-de-flexa, comer miolo de macam- Polícia Militar

As principais festas que acontecem na bira e passar a mão no dinheiro que os Francisco Cardoso - o ‘buraqueiro’ mais
Ilha do Ouro são a de Bom Jesus, todos os devotos deixavam nas frestas de madeira. velho da atualidade, hoje com 103 anos. Foi
anos, na segunda semana de janeiro, e o Só não tive coragem de tocar o sino do agricultor, marceneiro, prefeito e juiz de paz
Carnaval. cemitério, às 9 da noite, por uma recom-
pensa de meia dúzia de castanhas - brinca- Antônio Carlos du Aracaju - cantor e com-
positor
A Vida no Rio deira tem hora!
Década de 50, Rio São Francisco Padres Lima, João Lima e Gervásio Fei-
Os moradores da Ilha do Ouro reclamam cheio, chegando até o pé da ladeira, ár- tosa
da diminuição de peixes no São Francisco. vores cobertas de flores em pleno dia 8,
O aposentado Manoel Alexandre Filho, 81 festa da padroeira Nossa Senhora da Freis Angelino, Honorato e Petrônio
Cardoso
anos, que trabalhou como canoeiro e fabri- Conceição. Era festa mesmo! Até eu
cante de canoas, diz que antes havia uma dava uma de ‘membro’ da banda de
grandeza de peixes. “O pessoal fazia uma música na procissão. O cara do bumbo Texto: CARLA PASSOS
boa safra naquela época”, lembra ele. tocando de um lado, e eu completando Fotos: DIÓGENES DI E EDSON ARAÚJO
Antônio Gomes Feitosa, de 91 anos, tam- o som do outro. Traquinagem de meni- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e arquivo da
Secretaria de Educação de Porto da Folha.
bém trabalhou como canoeiro e sente falta no danado! Numa ocasião, o músico

CINFORM 201
Propriá
a princesinha do
Baixo São Francisco
Conhecida inicialmente
como Urubu de Baixo,
cidade já foi a mais
importante do norte
de Sergipe

“P ropriá progressista, que ati-


vo se expande/ Em todos dos
ramos do humano trabalho:/
Que centro se fez de uma zona mui gran-
de,/ No balcão, no arado, na pena e no
malho;/ Propriá comerciante, banqueiro,
fabril,/ Que fecha contratos de gêneros mil,/
Nas feiras, nas lojas e até nos cafés!/ E onde,
indicando dos ventos o rumo,/ Das aves da Propriá: mais de 400 anos de história
indústria às asas do fumo/ No tôpo se agi-
tam de dez chaminés...”
Este é um trecho do hino de Propriá. A Pedro Gomes de Abreu, filho mais ve- De vila a cidade
autoria é do imortal João Fernandes de Brit- lho, foi morar numa região mais baixa do
to, o doutor Britinho, jurista, historiador, morro. Ela se transformou numa povoação Em 5 de setembro de 1801, o governa-
poeta. Basta ler o hino completo que terá a e ficou sendo conhecida como Urubu de dor ordenou, em nome do príncipe regen-
história dos 200 anos de Propriá em mãos. Baixo. Por conta do rio, das várzeas férteis te, a transformação de Urubu de Baixo em
Mas a ousadia permite ir mais além. e da proximidade com a vila de São Fran- vila. Uma grande festa foi realizada num
É ponto pacífico que antes da missão de cisco, hoje Penedo/AL, Urubu de Baixo se domingo, dia 7 de fevereiro de 1802. Na-
‘catequese’ dos jesuítas chegar às terras onde desenvolveu assustadoramente. quele dia foi construído um pelourinho de
hoje são Propriá, os índios, chefiados por A situação econômica era tão confortável pau redondo em frente a Igreja de Santo
Pacatuba, tinham relação comercial com que o arcebispo primaz do Brasil, dom Se- Antônio como sinal de autonomia.
franceses. bastião Monteiro da Vide, determinou que Transformada em vila, os moradores de
O hoje município de Propriá e parte da a povoação se transformasse em freguesia, Urubu de Baixo passam a chamá-la de Pro-
região do Baixo São Francisco era conheci- libertando-se de Vila Nova do São Fran- priá. Não existe uma definição histórica
da com o nome de ‘Urubu’. Era um morro cisco, que é hoje Neópolis. Nascia em 18 para essa mudança, mas a maioria acredita
que foi dado por Cristóvão de Barros a seu de outubro de 1718 a Freguesia de Santo que Propriá surgiu de uma pesca de Piau na
filho, Antônio Cardoso de Barros. Antônio do Urubu de Baixo. lagoa de João Baía. Era tanto peixe que se
Graças ao Rio São Francisco, a freguesia pescava usando pau. Criou-se então a ex-
Urubu de baixo e freguesia se tornou um grande pólo de desenvolvi- pressão ‘pesca do paupiau’. Outros dizem
mento do norte. Em 1º de agosto de 1800, que o nome vem também da lagoa, mas a
A data da doação é de 9 de abril de 1590. Antônio Pereira de Magalhães e Paços, ouvi- expressão seria ‘puropiau’. Depois Propriá.
O filho de Cristóvão morreu. Dona Guio- dor geral e corregedor da Comarca de Ser- O que deve ter reforçado a mudança é que
mar de Melo, a viúva, repassou as terras a gipe D’el Rei, apresentou um pedido ao o nome Urubu não combinava com o pro-
seu genro, Pedro Abreu de Lima. Este, de- capitão-general e governador da Bahia, dom gresso da ‘Meca’ do norte.
pois da morte da mulher, cedeu terras aos Fernando José Portugal, para que transfor- Em 1828, a Princesinha do Baixo São Fran-
jesuítas, aos carmelitas e aos filhos. masse a freguesia em vila. cisco sofre um grande golpe. Surge a Fre-

CINFORM 202
Região - norte de Sergipe
Distância de Aracaju - 98 km
População - Cerca de 85 mil
Atividades econômicas - Arroz e peixe

Matriz de Santo Antônio: várias reformas

Indústria e progresso

A partir de 1914, a indústria ganha força


em Propriá. Naquele ano foram inaugura-
das uma série de usinas de beneficiamento
de arroz, como também fábrica têxtil, de
óleo e indústria de calçados. A indústria e o
comércio passaram a atrair mão-de-obra de
todo Sergipe e de Alagoas.
Inauguração da ponte em 1972: crescimento? Dois grandes eventos marcaram a pro-
gressista Propriá em 1920. Primeiro a inau-
guração do último trecho da ferrovia que
guesia de São Pedro de Porto da Folha, e a ligava Sergipe a Salvador. O segundo é a
Vila de Propriá fica apenas com 14 léguas - chegada da energia elétrica. Isto é, a ener-
antes tinha 40. Quando se emancipou, Porto gia foi fundamental para as atividades do
da Folha levou Canindé, Poço Redondo, município.
Monte Alegre, Glória, Gararu, Itabi e parte O fabuloso progresso de Propriá exigiu
de Canhoba. Mas isso não impediu o avanço casas bancárias. Em 1931 foi inaugurada a
de Propriá. Em 21 de fevereiro de 1866, a João Fernandes de Britto: orgulho de Propriá primeira instituição financeira do municí-
vila recebe a categoria de cidade. pio, uma filial do Banco Mercantil Sergi-
pense S.A. O primeiro gerente, Moacir
centro industrial e comercial tão forte que Rabelo Leite.
Dom Pedro em Propria só perdia para Aracaju. Por conta disso, to- Durante a interventoria do major
dos os outros setores da sociedade cresciam. Augusto Maynard, também em 1931, foi
Em finais de 1859, o imperador Dom O padre Antônio Cabral, vigário da cidade, inaugurada a rodovia que ligava a cidade de
Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina che- recebendo três freiras de Portugal, resolveu Propriá a Aracaju.
gam a Propriá através do Rio São Fran- construir um colégio para meninas. Boa
cisco. Foi ele quem idealizou a ponte, mas a parte dos recursos para a construção da es- Apogeu e decadência
queria em outra localização, passando por cola foi doada por João Fernandes de Britto.
dentro da cidade. Parece que ele estava cer- Nasce o Colégio Nossa Senhora das Gra- Propriá chegou mesmo ao apogeu entre
to. Veja o que anotou dom Pedro em sua ças, que começou a receber meninas das as décadas de 40 a 60. Chegou a responder
agenda: “Propriá é uma vila de 3 mil habi- famílias tradicionais de Sergipe. por 57% das vendas totais da região. O
tantes, com algumas casas boas e de sobra- O mesmo padre Cabral, em 1908, tam- município passou a ser conhecido nacional-
do, e uma fábrica ... de descascar arroz, com bém foi o responsável pela construção do mente através das músicas de Luiz Gonza-
máquina de vapor...”. Hospital de Caridade São Vicente de Pau- ga, amigo pessoal do prefeito Pedro Cha-
Arroz, peixe, algodão, cana-de-açúcar e la. Essa casa de saúde também atraiu gente ves. A cidade chegou a ter até uma agência
uma enorme feira regional. Propriá era um de todo o Estado. da Varig. Isso mesmo, era constante o fluxo

CINFORM 203
Uma das maiores enchentes da cidade ocorrida
em 1949

to de Propriá e deputado. Ergueu o obe- Marca da história fabril em Propriá


lisco em comemoração aos 150 anos da
emancipação política da cidade. Foi o pri- apoio pessoal, as eleições municipais e in-
meiro a dedicar uma praça no Brasil com fluía nas eleições para importantes cargos
o nome de Luiz Gonzaga, seu amigo. políticos estaduais, tendo sido, ele mesmo,
Pedro Chaves foi um dos maiores res- eleito deputado e chefe do Poder Executi-
ponsáveis pelo desenvolvimento de Pro- vo de Propriá.
priá. A seguir um texto de Carlos Britto, Este o meu depoimento acerca de um
outro filho de Propriá. homem que marcou época. Era um líder do
Obelisco de 1802: marco da cidade
“Pedro Chaves foi o maior líder político- tipo ‘populista’ - falariam sociólogos e ana-
municipal com quem pessoalmente convi- listas políticos de hoje -, mas com uma gran-
vi, nos anos 50 e 60 do século XX. Moráva- de diferença ética: não oprimia ninguém,
de hidroaviões que faziam o transporte de mos no município de Propriá, que era o não exigia vassalagem de quem quer que
passageiros. Na década de 60, Propriá tem centro regional de pelo menos dez unidades fosse, tornava a atender a quem dele se ser-
um campo de pouso. Vale lembrar ainda o municipais dos Estados fronteiriços de Ser- vira sem a paga sequer da gratidão.
12 Tênis Clube e a Sociedade Recreativa gipe e Alagoas, a congregar uma popula- Guardo de Pedro Chaves a imagem de
Cavaleiros da Noite. ção em torno de 80 mil almas. um jequitibá a se erguer na paisagem enso-
As grandes enchentes do rio que inun- A que deve essa liderança comunitária larada da minha Propriá”. C
davam a cidade e as festas de Bom Jesus sem par? Creio que, primeiramente, ao ca-
dos Navegantes também marcaram a his- risma de que Pedro Chaves era portador. *Carlos Ayres de Britto é jurista, poeta e membro da
tória de Propriá. A fantástica longa pas- Homem de posses rurais e urbanas, alto, Academia Sergipana de Letras. Assumiu na academia a cadei-
sagem do mineiro dom José Brandão de olhos claros, cabelos brancos, tez avermel- ra deixada por João Fernandes de Britto, o doutor Britinho.
Castro pela recém-criada Diocese de Pro- hada, sorridente, festeiro, bem-vestido para
priá, em outubro de 1960, também me- os padrões da época (ora a trajar um terno, Filhos Ilustres
rece toda atenção histórica. A curiosida- ora a se apresentar de paletó-esporte), cha-
de é que um filho de Propriá, o padre mava a atenção por onde passava. Era, por- Propriá teve mais de uma centena de
figuras ilustres e de projeção nacio-
Antônio Cabral, mais tarde foi ser bispo tanto, um homem comunicativo e de bela nal. Algumas:
em Belo Horizonte/MG. Dom José Bran- estampa, numa sociedade de pessoas que,
dão, primeiro bispo, foi um incansável no atacado, se caracterizava pela introver- José Rodrigues da Costa Dória - Dou-
tor em Medicina, professor, deputado federal
lutador pela cidadania e em especial para são, baixa estatura, traços fisionômicos por Sergipe de 1908 a 1911, membro da Aca-
que os mais pobres do Baixo São Fran- pouco favorecidos no plano estético e aca- demia Nacional de Medicina, foi presidente
cisco tivessem direito à terra. Dom Bran- nhado padrão de vida. de Sergipe.

dão e sua diocese enfrentaram os podero- Outra razão da liderança ímpar de Pedro Dom Antônio dos Santos Cabral - foi
sos de Propriá e de Sergipe. Chaves era a sua prestimosidade. Ele gosta- bispo de Natal/RN e de Belo Horizonte/MG.
As sucessivas perdas territoriais e do co- va de servir à sua gente e se notabilizava por Luiz José da Costa Filho - jurista, jorna-
mando administrativo, o surgimento de empréstimos financeiros sem juros, avais e lista, poeta e foi deputado estadual.
novos centros locais e regionais, a perda da fianças bancárias, doação pura e simples de
Monsenhor Marcolino Pacheco do
importância do transporte marítimo, a aten- dinheiro a pessoas reconhecidamente pobres. Amaral - jornalista, poeta e autor do ‘Com-
ção voltada apenas para o rodoviário, trági- Um terceiro motivo de prestígio social pêndio de Teologia Moral’.
cas administrações públicas, entre outros do homem a quem me reporto eram as suas
Seixas Dória - outro filho ilustre de Propriá
fatores, colaboraram para a decadência e amizades com influentes políticos e reli- que chegou ao Governo do Estado na déca-
estagnação do município. giosos da região, além de uma notória rela- da de 60.
ção de apreço mútuo com Luiz Gonzaga, o
Jequitibá de Propriá ‘Rei do Baião’. Todos visitavam Pedro Cha-
ves em sua famosa Fazenda ‘Cabo Verde’, Texto: CRISTIAN GÓES
*CARLOS AYRES DE BRITTO que se fazia palco de incomparáveis ‘arras- Fotos e reproduções: MANUEL FERREIRA
ta-pés’ para as famílias bem-postadas da Fonte: ‘Propriá e sua região’, de Carlos Roberto Britto
Aragão; Álbum Fotográfico e Comercial de Propriá, de Oc-
Pedro Chaves, nascido em junho de 1900, sociedade local. távio Menezes; e Enciclopédia dos Municípios Brasileiros.
teria completado 100 anos. Ele foi prefei- Enfim, Pedro Chaves decidia, com seu Colaboração Família Chaves
Riachãocidade rica em intelectuais
Nome originou-se
de um riacho que
passa próximo
à cidade, acrescido
do sobrenome do
comendador Dantas

iachão do Dantas, distante 99 qui-

R lômetros de Aracaju, foi tema de


reportagem na Revista IstoÉ e no
Fantástico, por ter em sua comunidade um
bode carola, o Bito. Ele acompanha todo
tipo de manifestação religiosa no municí-
pio. Assim que ouve o sino tocar, imedia-
tamente se dirige à Igreja. Mas o bode não
é exaltado na cidade por falta de persona-
lidades importantes. Além de ser a terra Igreja Nossa Senhora do Amparo: Praça da Matriz não tem mais essa paisagem
de Lourival Fontes, o pai do DIP - Depar-
tamento de Imprensa e Propaganda - e nio da Paróquia Nossa Senhora do Ampa- proprietários da Vila de Lagarto se uniram
um dos tutores do Governo de Vargas, ro, a santa padroeira da cidade, comemora- na casa do capitão-mor Joaquim Martins
Riachão tem ainda como filhos ilustres da no último domingo de novembro. Fontes e passaram uma escritura doando a
Francisco Dantas, Ibarê Dantas, Arivaldo O comendador Dantas teve uma grande Nossa Senhora do Amparo os terrenos que
Fontes, João, Luiz Eduardo e Terezinha, influência na criação do município, porém, lhes pertenciam por herança, e que com-
todos Oliva, e tantos outros. foi João Martins Fontes, parente dele, um preendem a área onde hoje se localiza a
O nome da cidade originou-se de um dos principais fundadores da povoação en- cidade de Riachão.
grande riacho, o Limeira, que passa próxi- tão pertencente à Freguesia de Nossa Senho- Em 1855, através de lei provincial de 27
mo à cidade, conforme o livro ‘A Cidade ra da Piedade do Lagarto. As primeiras casas de abril, foi criada a Freguesia de Nossa
do Riachão do Dantas’, do desembargador que formaram a cidade foram construídas Senhora do Amparo do Riachão. Nove anos
João Dantas Martins dos Reis. A princípio, nas suas terras, às margens do Limeira. depois, em 13 de maio de 1864, Riachão
no começo do século XIX, a povoação cha- foi elevado à categoria de vila, ao mesmo
mava-se apenas Riachão. Em 1943 ganhou Desenvolvimento lento tempo em que era criado o município, sen-
o complemento ‘do Dantas’, por efeito da do desmembrado do de Lagarto.
legislação federal que regula o uso dos no- O processo de desenvolvimento da povo- Mas em 1865, com a queda do Partido
mes das cidades brasileiras. ação ocorreu lentamente. A comunidade Conservador, ao qual pertencia o comenda-
Antes disso os habitantes já chamavam a continuou isolada dos centros comerciais e dor Dantas, houve uma reviravolta e a vila
localidade de ‘Riachão Dantas’, em home- civilizados por mais de cem anos. Até o iní- foi suprimida e reanexada ao município de
nagem a João Dantas Martins dos Reis, o cio do século XIX, as terras povoadas inici- origem. Porém, em 1870, a resolução nº 888,
comendador Dantas, um dos maiores ben- almente em 1599 por Domingos Fernandes de 9 de maio, restabeleceu o município.
feitores daquelas terras. Além de chefe po- Nobre, Gonçalves Santana, Gaspar de Me- A partir de 1920 o município começa a
lítico de grande prestígio no tempo do Im- nezes e outros, através de carta de sesmaria, alcançar um certo desenvolvimento econô-
pério, chegando a ser vice-presidente da permaneceram como propriedades de cria- mico, com a atividade de 12 engenhos de
Província de Sergipe, ele foi proprietário ção de gado ou de engenhos de açúcar. açúcar; 13 alambiques e quatro fábricas
do maior engenho da região, o Fortaleza. O impulso para o progresso foi dado descaroçadoras de algodão (todos desativa-
Foi também um dos doadores do patrimô- em 28 de abril de 1853, quando vários dos hoje). A construção de uma estrada li-

CINFORM 206
Região: Centro-Sul
Distância da capital: 99 km
População: 19.180
Atividades econômicas: Pecuária; agricultura;
agroindústria; artesanato.

Vista da antiga Praça da Matriz, na parte oposta à igreja

Lourival Fontes o filho mais ilustre de Ria- como funcionário público, já casado e pai,
chão. Ele chegou a ser embaixador do Bra- fui transferido no início de 1956 para Ara-
sil no México e no Canadá, além de chefe caju, onde permaneço até hoje. Embora
da Casa Civil no governo do presidente meu espírito, na luta que todo espírito tra-
Getúlio Vargas, em 1952. va para transcender os limites de sua situ-
Lourival Fontes foi funcionário da Pre- ação, já se encontre plenamente adaptado
feitura do antigo Distrito Federal, Rio, quan- ao ambiente atual em que vivo, e até por
do, após a Revolução de 1930, trabalhou vezes pareça ter esquecido algumas lem-
com o prefeito Pedro Ernesto. Nessa épo- branças deste passado, na verdade sempre
ca, iniciou a amizade com Vargas, que o emerge de dentro de mim antigas visões
“levou aos mais altos postos, sempre de- que, no meu ser, formaram a minha indi-
sempenhados com eficiência.” vidualidade como pessoa humana, neste
Lourival trabalhou também como dire- convívio temporal com os meus semelhan-
tor-geral do DIP. Foi eleito senador por tes. Destas visões, uma parte profunda e
Sergipe e presidiu o Cade - Conselho Ad- marcante me vem das lembranças da mi-
Lourival Fontes, de volta à casa onde nas- ministrativo de Defesa Econômica - no nha infância e da minha adolescência, na-
ceu governo João Goulart. Morreu em 6 de quela minha terra natal.
gando o município a Boquim - por iniciati- maio de 1967 e foi sepultado na sua cidade Primeiramente, marcou-me a sua topo-
va de Filomeno de Vasconcelos Hora, jun- natal, conforme seu desejo. grafia, em que os arruados tendo começado
tamente com vários cidadãos riachãoenses próximo ao riacho da Limeira e às baixadas
-, contribuiu para o desenvolvimento. Riachão do Dantas da dos Poções, foram-se alteando ladeira acima
Em 1932 a arrancada para o progresso minha juventude até onde, originalmente foi plantada a Igreja
foi quebrada com a seca que comprometeu de Nossa Senhora do Amparo, a padroeira
o desenvolvimento de toda a região nor- * JOÃO OLIVA ALVES do lugar (mais tarde, com a morte do vigá-
destina. Mas isso não impediu que em 1938, rio, Padre Fonseca, os frades, vindos de São
em decorrência de disposição federal que O sociólogo e filósofo Roberto Manga- Cristóvão para administrar a paróquia, trans-
incluía toda sede de município na categoria beira Unger, num artigo publicado no iní- feriram a Matriz para mais alto ainda, no
de cidade, Riachão também entrasse nessa cio deste mês, na coluna que escreve na topo da colina, e demoliram a velha igreja da
lista a partir de 15 de dezembro. A lei esta- Folha de S. Paulo, começa dizendo que, cada praça, destruindo uma relíquia histórica ines-
dual nº 150, de 31 de dezembro de 1943, um de nós nasce enquadrado... numa clas- timável). Eu amava essa topografia que me
confirmou o nome de Riachão do Dantas. se, numa raça, numa nação, numa cultura e dava a idéia de que a localidade trouxera uma
numa época. E eu acrescento: numa cida- vocação de subida e de progresso... Além
Quem é o filho mais ilustre de. “Nunca mais - diz ele - conseguimos disto, ela contribuía para destacar a vista da
de Riachão? nos desvencilhar completamente desse en- cidade, contemplada por quem viesse por
quadramento”... rodovia, de Tobias Barreto ou Boquim. Ge-
De acordo com o livro ‘Figuras e Fatos Quanto a mim, nasci em Riachão e lá nolino Amado, que a visitou de automóvel
de Sergipe’, do escritor Arivaldo Fontes, é vivi os anos da minha juventude, até que, em 1953, acompanhando Lourival Fontes,

CINFORM 207
federal por Minas Gerais

Arivaldo Silveira Fontes - tenente coronel


do Exército, professor e escritor

Genésia Fontes (d. Bebé) - Fundadora do Ora-


tório de Bebé

Antônio Agnus Boaventura - contador e


professor universitário

Padre Pedro - eleito ‘O Homem do Século de


Sergipe’

Francisco José Costa Dantas - Professor


na UFS e escritor. É autor dos livros ‘Coivara da
Memória’, ‘Os Desvalidos’ e ‘Cartilha do Silên-
cio’.

José Ibarê Costa Dantas - Escritor, cientista


político e professor da UFS

João Oliva Alves - Advogado, jornalista e


membro da Academia Sergipana de Letras (um
dos quatro pesquisadores que elaboraram a En-
Riachão: 6º cidade mais alta do Estado, fica a 200 metros de altura ciclopédia dos Municípios Brasileiros)

Terezinha Alves Oliva - professora do De-


observou que sua terra era “bem fotogêni- Filhos Ilustres partamento de Filosofia e História da UFS
ca”. Por outro lado, do alto da igreja, a vista
Luiz Eduardo Oliva - advogado
se espraia maravilhosa pelas cercanias do Alto Erasmo de Lima - Marechal do Exército Bra-
do Cheiro, da Boa Vida, do Caminho Novo sileiro
Byron Emanoel de Oliveira Ramos - mé-
e do Barro Preto, formando uma tela paisa- Abdias de Oliveira - desembargador por Per- dico e professor universitário
gística digna do mais talentoso pintor. nambuco, onde presidiu o Judiciário
Manuel Costa Neto - juiz da Comarca de São
E os eventos do passado, que enchem de Cristóvão
João Dantas Martins dos Reis - desem-
tantas recordações a minha memória! Um bargador (neto do fundador da cidade)
deles eram os festejos de São Pedro, na Rua Celso Dantas - Ex-diretor do INSS e presiden-
Osman Hora Fontes - Advogado, professor te atual do Ipes
dos Anuns, promovidos por dona Maria Vi-
da Faculdade de Direito de SE e procurador re-
torina. Eram precedidos por nove noites de gional da República Mirena Dantas Fontes de Góes - juíza de
novenas ao santo porteiro do céu, e no dia 29 Direito
começavam logo à tarde, com leilão e pau de Paulo Freire Araújo - Professor e deputado
Stefânio de Faria Alves - Advogado, conse-
sebo, animados com zabumba, foguetório e lheiro da OAB e assessor jurídico da UFS
comidas típicas. Outro santo dos mais feste-
Cláudio Dantas - Ex-diretor do Banco do Bra-
jados era Santo Antônio, com novenas reali- sil
zadas na casa de d. Erundina Nunes e do Sr.
Antônio Tolentino. Das festas sociais, as mais Joel Costa - Engenheiro e ex-diretor do DER/
apreciadas eram as quermesses ou “tardes SE

chics”, promovidas em benefício das obras da Joelson Hora - Atual diretor-presidente do


igreja, pela Diretoria da Pia União das Filhas DER/SE
de Maria. Uma das diretoras, d. Eulina Si-
Horácio Dantas de Góes - ex-prefeito e de-
mões, marcou época promovendo, também, putado por sete legislaturas
espetáculos teatrais e dramáticos, representa-
dos por jovens de ambos os sexos. Desde aque- Creuza Fontes de Góes - esposa de Horácio
Góes, conhecida como a ‘Mãe dos Pobres’, por
le tempo Riachão mantinha, embora com in- Bito, o bode carola: enfeitado para seu forró
ser bastante generosa com eles
terrupções (como ainda hoje acontece), sua
Banda de Música que animava as festas da Roberto Fontes de Góes - prefeito duas ve-
zes, ex-secretário de Estado da Agricultura e atu-
cidade e despertava entre a sua juventude o al da Ação Social
gosto pelo aprendizado da divina arte. Havia
famílias que contavam quatro ou cinco músi- Lauro Hora - médico e ex-senador
cos, cada um tocando instrumento diferente,
Bosco França - ex-deputado estadual
e era comum na cidade a realização de serestas
nas belas noites de lua. Tudo isto contribuía Nelson Araújo - ex-deputado estadual
para formar no riachãoense um homem soci-
ável, pacífico e solidário que se destacava por Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
essas qualidades onde quer que chegasse. C Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, bibliotecá-
Ex-prefeito e ex-deputado Horácio Góes ao ria Fátima Góes e professor José Renilton Nascimento
*Jornalista e advogado lado do presidente Médici Santos

CINFORM 208
Riachuelo
e a sua poderosa
história
Por conta da cana e da
política, o município que
era chamado de ‘Pintos’
já foi um dos mais im-
portantes do Nordeste

A
ntes uma cidade rica, progressista e
uma das mais importantes do Nor
deste. Hoje, um município decaden-
te, pobre e esquecido. Assim é Riachuelo, a
29 quilômetros de Aracaju. Quem já che-
gou a passar por ele, nem de longe imagina
que de lá saíram governadores como José
Rollemberg Leite e Paulo Barreto de
Menezes, senadores, deputados federais e
estaduais, juízes e médicos que marcaram
as histórias de Sergipe e do Brasil, como
Adolfo Rabelo Leite, Antônio Franco e
Augusto César Leite.
Historiadores afirmam que as primeiras Igreja Nossa Senhora da Conceição
informações sobre o município dão conta
que aquelas terras, em finais de 1590, eram prietários do engenho dos Pinto já tinham Vila e poder
ocupadas pela família dos Pinto. O centro construído uma capela e, como era dezem-
das atenções era o engenho do português bro, a ela foi dado o nome de Nossa Senho- Em 31 de março de 1874, com apenas
Mesquita Pinto. E é assim que a localidade ra da Conceição. E por que Riachuelo? Exis- dois anos de vida, a freguesia é transforma-
começa a ser conhecida. Por causa das ter- tem duas versões. Uma é que as terras que da em Vila de Riachuelo e desmembrada
ras extremamente férteis, e dos rios Sergipe, formavam o povoado estavam entre os três do município de Laranjeiras. A nova vila
Cotinguiba e Jacarecica, os Pinto se trans- rios que formavam um elo, daí Riachuelo. vivia a grande fase da indústria açucareira.
formaram em grandes produtores de açú- A outra versão, e que é mais aceita, é que Seu poder econômico chegou a ser superior
car, algodão e gado. o nome foi uma homenagem a uma das a Maruim e até mesmo a Laranjeiras, tendo
batalhas mais decisivas na Guerra do no engenho e depois Usina Central de
Freguesia e vila Paraguai, a batalha naval do Riachuelo, Riachuelo uma das mais importantes do
vencida pelo Almirante Barroso. A guerra Brasil. Ela pertencia ao influente e progres-
O resultado do progresso econômico, um terminou em 1870, e em 1872 o povoado é sista Antônio Franco, um dos homens mais
dos maiores de Sergipe, é que em 6 de maio transformado em freguesia com o nome de importantes que Sergipe já teve.
de 1872, o Povoado Pintos, que atraía cen- Nossa Senhora da Conceição, acrescentado No dia 25 de janeiro de 1890, a vila de
tenas de pessoas para a cultura da cana, é de Riachuelo. Hoje, na sede do município, Riachuelo, com a implantação da Repúbli-
transformado em Freguesia de Nossa Se- existe uma importante praça denominada ca, passa a ser cidade. O período áureo de
nhora da Conceição do Riachuelo. Os pro- Almirante Barroso. grande desenvolvimento de Riachuelo du-

CINFORM 209
Região - Centro de Sergipe
Distância de Aracaju - 29 km
População - Cerca de 8 mil
Atividades econômicas - Agricultura,
indústria e petróleo

Casa onde morou Antônio Franco

rou até as primeiras décadas deste século. do São Francisco. E por conta da energia, a
Depois de Aracaju, com um porto mais cidade teve um excelente cine-teatro mu-
franco e com todas as linhas de ferro che- nicipal.
gando até lá, Maruim, Laranjeiras e Riachuelo sempre foi bem assistido no
Riachuelo passam a entrar em declínio. Um campo da saúde. Sempre teve o Hospital
reflexo é o número da população. No censo de Caridade de Riachuelo, mantido por
de 1950, Riachuelo tinha 8 mil moradores uma associação beneficente que também
e 50 anos depois a população era a mesma. era responsável pela Maternidade Dr. Síl-
vio César Leite. Dois médicos moravam
Indústria e comércio na cidade. Outra entidade marcante no
município era o “Abrigo de Menores An-
O município já teve as maiores produ- tônio Franco” que cuidava de menores
ções de açúcar cristal, tecido e aguardente abandonados, dando-lhes a instrução pri-
de Sergipe, e a Usina Central era a mais mária elementar, religiosa e prática de agri-
poderosa da região. Chegou a ter três loco- cultura. O município tem uma escola, o
motivas para o transporte da cana. Além Grupo Escolar Francisco Leite, que mar-
da ferrovia, Riachuelo era muito bem ser- cou a educação no município.
vida por estradas e principalmente através
de rios. O município também tinha gran- Futebol e festas
des produções de farinha de mandioca. Em
1956, segundo dados oficiais, as usinas e Riachuelo já teve um passado de glórias Cinema Riachuelo: marcou a história do
pequenas fábricas empregavam mais de mil no futebol. A principal agremiação município

trabalhadores. Era comum ver técnicos eu- desportiva foi o Riachuelo Futebol Clube,
ropeus, principalmente ingleses, montando que, por várias vezes, conquistou os mais ência dos rios que cortam o município, e a
os engenhos. honrosos campeonatos do interior de São Benedito. Riachuelo teve uma gran-
Por conta da força da cana, o comércio sergipano. O ano mais significante foi 1941, de população negra que trabalhou nos en-
em Riachuelo já foi um dos mais impor- quando o Riachuelo Futebol Clube foi ‘cam- genhos de cana, e São Benedito era cultuado
tantes do Estado. Gente de muitos municí- peão invicto e absoluto do Estado de pelos negros.
pios ia pra lá comprar tecidos. Os armazéns Sergipe’, título jamais conquistado até en-
de secos e molhados do lugar eram os mais tão por outra equipe sergipana. Outro time O que foi a Guerra do Paraguai
vistosos e sortidos da região do Cotinguiba. importante é o Central Futebol Clube, for-
Apesar de muito rica, o aspecto mado pelos trabalhadores da Usina. A Guerra do Paraguai, ainda um dos fa-
arquitetônico da sede da cidade não era dos No dia 8 de dezembro, Riachuelo come- tos mais discutidos da história brasileira,
melhores. As ruas eram construídas com mora a festa de Nossa Senhora da Concei- começou em 1864. Em dezembro, o
calçamento irregular. Riachuelo foi uma das ção, padroeira do município. Outras festas Paraguai invadiu Mato Grosso em represá-
três primeiras cidades a ter iluminação religiosas importantes são a de Bom Jesus lia à intervenção brasileira na guerra civil
fornecida pela Companhia Hidro Elétrica dos Navegantes, por conta da forte influ- uruguaia. Brasil, Argentina e Uruguai for-

CINFORM 210
Praça Almirante Barroso: marcas do passado

‘O Chanceler de Ferro’.

Augusto César Leite - Nasceu em julho de


1886 no Engenho Espírito Santo. Médico pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Clinicou nas cidades de Capela e Maruim. Foi
diretor da Escola de Aprendizes Artífices de
Aracaju. Professor de ‘Higiene Geral e Desen-
volvimento da História Natural Aplicada à Agri-
cultura, à Zootécnica e a outros ramos da In-
dústria Nacional’, do Atheneu Sergipense. Foi
presidente da Sociedade de Medicina de
Sergipe e diretor do Hospital Santa Isabel. É
considerado uma das maiores glórias da me-
dicina no Brasil. Em 1914, fez, pela primeira
vez em Sergipe, a operação de laparotomia.
Foi diretor da Fundação Hospital de Cirurgia.

José Rollemberg Leite - Engenheiro e pro-


Riachuelo ainda guarda marcas de um passado áureo fessor. Foi governador por duas vezes, de 1947
a 51 e de 1975 a 79. Foi ainda senador, secre-
tário de Estado e diretor do Senai. No seu Go-
verno a educação teve grande desenvolvimen-
to. Construiu muitas escolas e levou o segun-
do grau para o interior, além de trazer para
Sergipe a Escola de Direito e Filosofia.

Paulo Barreto de Menezes - Foi um dos


governadores que mais investiram em estru-
tura para Sergipe. Abriu estradas, construiu e
reformou prédios públicos, levou desenvolvi-
mento para o interior. Foi diretor do DER, foi
superintendente de Obras Públicas e diretor
da Escola Técnica Federal de Sergipe.
Festa na Intendência em Riachuelo Transporte da cana do engenho Central
Francisco Leite Neto - Deputado federal,
homem de grande influência em Sergipe. Foi
maram a Tríplice Aliança, para derrubar o líder do PSD em Sergipe.
Filhos Ilustres
presidente Solano López, obter a livre na- Gonçalo Rollemberg Leite - Político e pos-
vegação na Bacia do Prata e - uma cláusula Adolfo Rabelo Leite - Nasceu no Engenho suidor de uma das mais apreciadas culturas
secreta - anexar parte da área em disputa Recurso em fevereiro de 1880. Foi delegado jurídicas de Sergipe.
com o Paraguai. O conflito teria sido insti- de higiene em Alagoinhas/BA e depois, em
gado pela Inglaterra. O Duque de Caxias, Itabuna, também na Bahia. Foi médico, farma- Júlio César Leite - Industrial e senador da
cêutico, adjunto do promotor público e República.
ainda marquês, comandou as tropas brasi- intendente. Também foi jornalista na Bahia e
leiras. Além da Laguna, outros episódios de em Sergipe.
destaque na Guerra do Paraguai foram a
Manuel Curvelo de Mendonça - Era ba- Texto: CRISTIAN GÓES
Batalha Naval de Riachuelo (com o Almi- Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO E MANOEL
charel em Ciências Jurídicas e Sociais. Foi pro-
rante Barroso); Batalha de Tuiuti (a maior FERREIRA
fessor e jornalista no Rio de Janeiro. Esteve na
da América Latina); e a Dezembrada. A Europa como membro da Diretoria de Instru- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros; Revista
guerra terminou em 1870, com a derrota ção Pública do Distrito Federal. Escreveu as nº 32 do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe;
paraguaia. C obras ‘Horário Hora’, ‘Sergipe Republicano’, e depoimento de Maneca Bezerra, 99 anos.
Ribeirópolis
terra de comerciantes bem-sucedidos
Município, que antes se
chamava Saco do
Ribeiro, destaca-se
também com a Festa
das Caretas

O
nome antigo de Ribeirópolis,
quando ainda era povoado de Ita
baiana, era Saco do Ribeiro, em
homenagem a um certo Ribeiro que viveu
no povoado nos anos 30. Existem várias
versões na cidade sobre quem era Ribeiro.
Sabe-se apenas que ele era um forasteiro
que carregava sempre um saco nas costas e
depois foi embora deixando o saco embai-
xo de uma mangueira. Igreja Matriz de Ribeirópolis Sagrado Coração de Jesus
Alguns dizem que se tratava de um ciga-
no natural de Alagoas. Outros afirmam que deixou muitas obras bem acabadas, inclusi- Antônio Nilo.
Ribeiro poderia ser um comerciante que ve a Igreja Matriz, e também ministrou aulas Segundo José Gilson, o erário não tinha
trazia suas mercadorias de outras localida- de construção para a comunidade. recursos suficientes e o intendente teve de
des. Mas há ainda quem acredite que ele era No início da década de 20, Saco do Ri- se valer de um empréstimo particular atra-
um criminoso e que carregava uma arma beiro já começava a ter estrutura de povoa- vés do próprio pai, Rosendo Monteiro. “Na
dentro do seu saco. do, mas somente em 29 de outubro de 1927 ocasião circulavam rumores de que se os
De acordo com a Enciclopédia dos Mu- a lei estadual nº 997 criou o Distrito de Paz novos municípios não edificassem logo al-
nicípios Brasileiros, a primeira referência de Saco do Ribeiro, pertencente a Itabaia- guns prédios públicos, a autonomia seria
histórica da região de Ribeirópolis data de na. Seis anos depois, o interventor federal tornada sem efeito”, informa ele.
1637. Época em que os povoados começa- em Sergipe, major Augusto Maynard Go-
ram a ser formados provavelmente por ho- mes, chegou à conclusão de que o povoado Política conturbada
landeses. O Povoado Saco do Ribeiro de- apresentava condições que permitiam sua
senvolveu-se quando a população começou elevação à categoria de município. Vários intendentes administraram Ribei-
a se reunir semanalmente para realizar a A autonomia de Saco do Ribeiro, que rópolis até acontecer a primeira eleição do
feira às segundas. Em 1915, ela foi transfe- passou a se chamar Ribeirópolis, veio com município, em 1947. Josué Passos foi lan-
rida para a Praça da Bandeira, onde conti- o decreto estadual nº 188, de 18 de dezem- çado candidato da União Democrática
nua sendo realizada até hoje. bro de 1933. O município foi instalado so- Nacional (UDN) a prefeito de Ribeirópo-
Conforme o livro ‘Saco do Ribeiro, Pe- lenemente no dia 1º de janeiro de 1934, lis, concorrendo com Baltazar Francisco dos
daços de Sua História’, do advogado José tendo como primeiro prefeito Felino Santos, da família dos Cearás. A partir daí
Gilson dos Santos, dentre os comerciantes Bomfim, nomeado pelo interventor. iniciou-se uma grande briga política.
da época o de maior destaque era Antônio A primeira obra de Felino Bomfim foi Em 1954, o fazendeiro João Nunes de
Nilo. Ele trouxe da cidade de Maruim, em o Talho Municipal, construído em 1934, Carvalho concorreu pelo PSD com Josué
1918, um pedreiro chamado Pedro Magno para comercialização de carne verde. Ele Passos (UDN) à prefeitura de Ribeirópolis
para construir um barracão com o objetivo substituiu o antigo barracão existente no e ganhou com um voto de diferença. No
de concentrar os feirantes. Pedro Magno centro da praça da feira, construído por entanto, a UDN entrou com recurso de

CINFORM 212
Prédio da prefeitura: inaugurado na década
de 30

Comércio variado

A etapa inicial do desenvolvimento do Região: oeste (agreste)


Distância da capital: 75 Km
comércio de Ribeirópolis se deu graças ao População: 15.425
povo de Itabaiana, através dos comercian- Atividades econômicas: Comércio,
agricultura (feijão e milho)
tes de vários ramos de negócio, que na dé- e pecuária (bovinos)
cada de 20 abriram filiais somente em dia
de feira. Os primeiros comerciantes itabai-
anenses que se instalaram no Saco do Ribei-
ro foram os irmãos Antônio e Theotônio
Mesquita, no ramo dos tecidos, tendo como Pedro permaneceu com o comércio na ci-
balconista Oviêdo Teixeira, que em 1929 dade até 1951, mas também se transferiu
já se estabelecia com comércio próprio. para Aracaju.
A influência do itabaianense foi diminu- Em 1965 foi para Recife, onde criou o
indo gradativamente até o final dos anos Grupo Bompreço, que hoje tem vários su-
60, quando foram fechadas as últimas fili- permercados em todo o Nordeste. O gru-
ais. Hoje a presença do comerciante de Ita- po colabora muito com sua terra natal, já
baiana se resume praticamente ao vende- que implantou na Serra do Machado a
dor ambulante todas as segundas-feiras. Casa do Idoso, além de realizar vários tra-
Ribeirópolis é uma cidade que tem muitos balhos sociais.
comerciantes. O curioso é que muitas pes-
soas do lugar têm belas casas, sendo sim- As caretas de Ribeirópolis
recontagem de votos, a situação se inver- plesmente feirantes.
teu e Josué foi eleito. Os pessedistas passa- Todos os anos, no domingo que antecede
ram a afirmar que Josué não assumiria o Fundador do Bompreço o Carnaval, Ribeirópolis fica repleta de pes-
cargo. Pouco depois de ser empossado, ele é ribeiropolitano soas da região aguardando ansiosas o “corre
foi assassinado em sua casa e a família Cea- que lá vem elas”. De chicote em punho e
rá foi acusada pelo homicídio. O espírito empreendedor e dinâmico de sujos de roxo-terra, inúmeros homens saem
Os Cearás não aceitaram a acusação, afir- vários comerciantes bem-sucedidos de Ri- pelas ruas da cidade ao toque da zabumba,
mando que Josué tinha muitos inimigos. beirópolis pode ser representado pelos ir- vestidos com roupas de mulher e usando
“Os situacionistas agitaram-se em busca de mãos Pedro e Mamede Paes Mendonça. máscaras horripilantes, confeccionadas por
prováveis criminosos e ajuizaram que só Pedro Paes Mendonça começou com uma eles próprios. É a tradicional Festa das Ca-
poderiam ser os chefes do partido contrá- modesta bodega no Povoado Serra do Ma- retas, que acontece todos os anos desde a
rio. A caça aos políticos de oposição foi chado, em 1935. Já a partir de 1940 im- década de 50.
imediata, e a polícia colaborou. Na casa do plantou uma filial em Ribeirópolis, somen- A festa surgiu quando o comerciante e
então deputado estadual Baltazar Santos e te funcionando em dia de feira. Em 1946 fazendeiro José Robustiano de Menezes
nas suas fazendas ninguém foi encontrado, ele se estabeleceu em definitivo na sede do resolveu brincar o Carnaval com seus em-
então atearam fogo nelas. Nada restou de município, em sociedade com Justiniano pregados. A brincadeira, no entanto, não
aproveitável. Até o gado foi retirado. Uma Silva, com um armazém de secos e molha- poderia ser realizada em data oficial porque
casa comercial foi inteiramente saqueada”, dos, e logo após com seu irmão Mamede a cidade de Itabaiana já tinha uma grande
diz José Gilson. Paes Mendonça. festa. O Carnaval de Robustiano acontecia
Foram presos os irmãos Cearás: Fenelon De acordo com o aposentado José An- em sua fazenda, um domingo antes da festa
Francisco dos Santos, Adolfo Francisco dos telmo de Góes, 64 anos, os dois irmãos se de Itabaiana. Mas quando ele foi morar na
Santos, José Francisco dos Santos Filho e desentenderam e desfizeram a sociedade. cidade, a festa passou a ser realizada pelas
Antônio Campos de Oliveira, e vários fu- Mamede foi para Aracaju, depois para Sal- ruas de Ribeirópolis, e a cada ano atraía
giram para Serra Negra, na Bahia. Eles fo- vador, onde criou as famosas redes de su- mais pessoas. O único pré-requisito para
ram libertados quatro anos depois. permercados Paes Mendonça e Unimar. E participar da festa era possuir uma máscara.

CINFORM 213
tores possuem tanta habilidade. Recri-
amos, a partir de nossa imaginação, o
real e fingimos acreditar em sua vera-
cidade. Em terra de gente palpiteira
como a nossa, fica difícil dizer com que
anda a veracidade.
A história do saco não pára por aí.
Dentro dele havia mais coisas do que
pode julgar a vã filosofia do leitor. A
lenda nos diz que o nosso herói cigano
era um bandido corrido. Ao sair às pres-
sas da região, esquecera o saco. Contam
ainda que dentro dele havia máscaras,
que mais pareciam caretas, usadas pelo
Ribeiro para ocultar sua verdadeira iden-
tidade e, até mesmo, para intimidar a
Uma das praças de Ribeirópolis: ponto de encontro da população população.
Do Ribeiro romântico e andarilho che-
De acordo com uma pesquisa realiza- tros em livros e documentos diversos. gamos ao Ribeiro bandido e do saco, nos-
da pela pedagoga Viviane Góes, o de- Saco do Ribeiro assim foi chamado por- sa mãe de criação, a suposta origem do
senvolvimento do festejo na comunida- que nosso herói Ribeiro, como todo bom grupo Caretas de Ribeirópolis. C
de explica-se, em parte, pelo fato de cigano, resolveu partir, deixando como
Robusto, como era conhecido, ter um herança para seus futuros descendentes * Secretário municipal de Educação e Cultura
alto poder aquisitivo e ter interesses po- um saco embaixo de uma árvore. Somos
líticos, buscando a simpatia do povo atra- filhos órfãos de um cigano. Quem nos Filhos Ilustres
vés de festas e brincadeiras. “Era uma criou certamente foi o saco, ou melhor,
espécie de líder regional que muito con- aquilo que havia dentro dele. Mas antes Pedro Paes Mendonça - fundador da rede
tribuiu para o desenvolvimento dos fes- mesmo de falarmos sobre as coisas do de supermercados Bompreço
tejos no município. Com o passar dos saco, quero fazer uma reflexão sobre esta
Mamede Paes Mendonça - irmão de Pe-
anos, teve o apoio da prefeitura e de nossa orfandade. dro e fundador das redes de supermercados
políticos”, informa. Lendária ou não a nossa pré-história, Paes Mendonça e Unimar.
Segundo Viviane, apesar de a festa simbolicamente carregamos o sentimen-
permanecer forte, o grupo de caretas Euclides Paes Mendonça - Foi deputado esta-
to de abandono. O cigano nos deixou dual e federal.
sofreu muitas transformações. Cerca de porque é de sua natureza passar, vagar,
20 homens saíam às ruas da cidade sol- não deixar raízes. Os ciganos sempre fo- José Sebastião dos Santos - professor e
tando fogos, tocando zabumba, ento- ram cidadãos do mundo, no melhor sen- proprietário do Colégio e Faculdade Pio X.
ando cantos populares com o intuito tido do termo. Mas apesar de serem eter- Josué Modesto dos Passos - atual vice-
de despertar e convidar a população nos transeuntes, qualquer que seja o seu reitor da UFS
para a brincadeira a ser realizada dali a destino, o saco sempre lhe acompanha.
poucas horas. O do Ribeiro, no entanto, ficou. Menos João Costa - professor de Português na UFS

As caretas, apesar do pavor que as cri- andarilho do que seu dono, o saco criou José Gilson dos Santos: advogado e ex-
anças sentiam, respeitavam todos aqueles fundações, edificou casas e educou seus promotor de Justiça
que desejavam participar da brincadeira. descendentes.
Josué Passos - ex-prefeito de Ribeirópolis e
“Hoje muita coisa mudou: as crianças são Como estava dizendo, possivelmente ex-deputado. Assassinado dentro de casa.
os primeiros adeptos desse festejo e as ca- quem os criou foram as coisas do saco.
retas já não mais respeitam aqueles que Quais coisas havia dentro dele, impossível Francisco Passos: irmão de Josué, ex-pre-
querem ficar de fora da brincadeira, sujan- mencionar sequer. Comenta-se que o saco feito de Ribeirópolis e deputado várias vezes.
do todos os que encontram nas ruas, a era uma imitação da Caixa de Pandora e o Antônio Passos: Foi prefeito de Ribeirópo-
menos que lhes dêem alguns trocados”, nosso destino corre muito próximo ao da lis e é atualmente deputado estadual
compara Viviane. lenda grega. Muitos dizem ainda que esse
Baltazar Francisco dos Santos: foi pre-
nosso jeito de palpiteiro, imaginativo, fan- feito e deputado estadual
O saco do cigano Ribeiro tasioso, pode estar intimamente relacio-
nado com o saco. José Rivaldo Santos: deputado estadual e
*JOSÉ HERIBERTO DE SOUZA De tanto a gente imaginar o que ha- juiz de Direito aposentado
via dentro dele, acabamos por cultuar
Por muito tempo, fomos chamados de o hábito de dizer, com riqueza de deta- Texto: CARLA PASSOS
cidadãos do Saco do Ribeiro. O nome não lhes, o que não vimos. De fato, nós so- Fotos: DIÓGENES DI
é um dos mais charmosos e parece mesmo Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros
mos mesmo mestres em contar históri- e ‘Saco do Ribeiro, Pedaços de Sua História’, do advogado
coisas de lenda, mas é verídico, com regis- as fantásticas que somente bons escri- José Gilson dos Santos.
Aprendendo as lições
do passado para viver,
hoje, uma nova e
melhor realidade.
PREFEITURA DE
Rosário terra de governadores

Naquele pequeno
município se encontram
as mais importantes
histórias políticas
que marcaram Sergipe

ão fossem os vendedores de mi

N lho, o viajante que corta a BR-


101, de Aracaju a Propriá, não se
perceberia a entrada de Rosário do Catete.
Quem passa por ali jamais imagina que
aquele município já foi um dos mais im-
portantes palcos da história de Sergipe.
Foi em terras rosarenses que nasceu
João Gomes de Melo, o Barão de Maru-
im. Em Rosário foi assinada a ata de
mudança da capital de São Cristóvão para
Aracaju. Saíram de lá, Maynard Gomes,
Leandro Maciel e Luiz Garcia, todos go-
vernadores de Sergipe, além de inúmeros
políticos, juristas, professores e músicos.
Rosário é pura história.
E essa história começa em 1575, quando
da primeira tentativa de conquista de Ser- Igreja do Rosário: modificada pela insensibilidade
gipe por Luiz de Brito, governador da Bahia.
É a referência mais antiga. Bem próximo Em 9 de abril de 1590, ele passou para seu a Aldeia de Nossa Senhora do Rosário.
ao local em que a atual cidade se encontra, filho, Antônio Cardoso de Barros, o terri-
existia uma aldeia de índios. Eles viviam às tório que ficava entre os rios Cotinguiba e Briga e Por Que Catete?
margens de um rio e sob o comando do São Francisco. Rosário estava dentro des-
índio Siriry. sa faixa. Depois de sua morte, as terras Por conta da cana, grandes senhores de
foram repassadas. Boa para a plantação de terras de Maruim também tinham negóci-
Resistência e Nome cana-de-açúcar, essa cultura se instalou ali os em Rosário. A povoação rosarense cres-
com força. cia tanto que, por volta de 1828, a Câmara
Historiadores dizem que o exército de Não existe uma data, mas se sabe que de Santo Amaro resolveu transferir para
Luiz de Brito não conseguiu vencer os índi- um grupo de negros que trabalhava nos Rosário a sede do município de Maruim.
os. Mas em 1587, os invasores europeus, engenhos encontrou uma imagem de Nos- Os habitantes de Santo Amaro e Maruim
comandados por Cristóvão de Barros, re- sa Senhora do Rosário numa das matas da declararam guerra entre si.
tornaram e arrasaram com a resistência. região. Ela teria sido deixada pelos jesuítas. O Governo da província acabou inter-
Siriry não se rendeu ao fogo dos soldados O proprietário do Engenho Jordão, Jorge vindo e ratificando a decisão da Câmara de
nem à cruz dos jesuítas, e acabou sendo de Almeida Campos, acabou doando terre- Santo Amaro. De uma canetada só, a po-
morto em luta. no para que uma capela fosse construída e voação de Rosário do Catete passava à fre-
Aos vencedores, Cristóvão deu terras. colocada a imagem da santa. Nasce, então, guesia, vila e sede de município. Mas isso

CINFORM 216
Região - Centro de Sergipe
Sobrados seculares de Rosário: pura história Distância de Aracaju - 37 km
População - Cerca de 8 mil
Atividades econômicas - Milho e feijão.
durou pouco. As reações de Maruim foram Rosário tem a maior reserva de potássio da América do Sul
fortes. Em 3 de fevereiro de 1831, Rosário
volta a pertencer a Santo Amaro, mas não
como povoamento, e sim, como Freguesia
de Nossa Senhora do Rosário. Cinco anos
depois, ela se tornava Vila de Nossa Senho- ário que leva seu nome, além de ser um dos
ra do Rosário do Catete. fundadores da Universidade Federal de Ser-
Nada, absolutamente nada de oficial exis- gipe. É membro da Academia Sergipana de
te para explicar o nome Catete, mas exis- Letras, foi promotor público, deputado es-
tem indícios fortes. Catete é uma espécie tadual e federal. Seu lema de Governo era
de milho comum na região. Catete vem de curioso: “Mais pão e mais vestuário para a
caititu (Tupi-Guarani) que quer dizer “por- Augusto Maynard Gomes: família do servidor público”. Seu filho, Gil-
co do mato”, animal encontrado naquelas orgulho de Rosário
ton Garcia, seguiu seus passos políticos.
terras. Catete significa reduto de escravos Edézio Vieira de Melo é outro filho de
(em Rosário eles eram milhares). E catete Aracaju de abastecimento de água. Em 1960 Rosário do Catete, que chegou a deputado
era nome de um dos engenhos do Barão de foi indicado para ser vice-presidente da estadual e vice-governador. Ainda existe
Maruim. Em 12 de julho de 1932, Rosário República na chapa de Jânio Quadros, mas Manoel Cabral Machado, que foi deputa-
do Catete era elevada à categoria de cidade. renunciou em favor de Milton Campos. do, escritor e vice-governador. Rosário foi
Encerrou sua vida pública quando perdeu tão importante que em apenas uma legisla-
Terra de Políticos as eleições para Gilvan Rocha. tura chegou a ter um senador, dois deputa-
Outro filho ilustre de Rosário é o gover- dos federais, três deputados estaduais e um
Além do Barão de Maruim, o município nador Luiz Garcia. Foi ele quem criou o governador.
de Rosário do Catete foi um verdadeiro Banese, Hotel Palace e o Terminal Rodovi- Uma das sumidades nascidas naquele
celeiro político. Leandro Ribeiro de Siquei-
ra Maciel foi deputado no Império e sena-
dor na República. Mais tarde, seu filho,
Leandro Maynard Maciel, seria governador
do Estado. Outra figura marcante foi Au-
gusto Maynard Gomes, amigo pessoal de
Getúlio Vargas. Foi interventor, general do
Exército, governador e senador por duas
vezes. É considerado o maior orgulho da
cidade.
O líder máximo da UDN - União De-
mocrática Nacional - foi Leandro Maynard
Maciel. O ‘Leandrismo’ marcou a política
de Sergipe. Ele ingressou na vida pública
no Governo Manoel Dantas. Foi por diver-
sas vezes deputado federal, senador e go-
vernador por duas vezes. Foi ele quem li-
gou com asfalto Aracaju a Atalaia e des-
montou o morro do Bonfim, além de dotar Histórica estação de trem de Rosário

CINFORM 217
rio do Catete também é terra das bandas de
música. A primeira de que se tem notícia é
de 1906. Era chamada de Coração de Ma-
ria e apelidada de “Injeitada”. Seus mestres
foram o padre Antônio Garcia, Otacílio
Paiva e Antônio Bonfim, entre outros.
Em 1923 surge a banda Santa Cecília,
mais conhecida como “Barriguda”. O seu
fundador foi João Batista de Morais Ribei-
ro. A curiosidade é que entre seus mestres
estava Polycarpo Diniz de Rezende, que foi
sete vezes prefeito de Rosário do Catete.
Em 1950 é fundada a banda União Rosa-
rense, que tinha como regente Siciliano
Avelino da Cruz. Mas Rosário marca a his-
tória das bandas de música em 1960, quan-
do o regente Antônio Plínio do Espírito
Barão de Maruim: filho ilustre de Rosário Santo resolve criar a Associação Maria Rosa
Leandro Maciel: último caudilho do Catete Vieira de Melo, a primeira banda feminina
de Sergipe. Uma ousadia.
município é Maximino de Araújo Maciel. nada convencional. Alguns diziam que O professor de teoria e solfejo da banda
Era advogado, médico e filólogo. Escreveu Mary era uma amante que o governador feminina era Luiz Ferreira Gomes, hoje uma
entre outras obras “Gramática Analytica”, mantinha no Rio de Janeiro e em sua ho- história viva de Rosário do Catete. Seu Luiz
“Philologia Portuguêsa” e “Lição de Botâ- menagem daria o nome à cidade. Graças à é um rosarense nato. Um homem de me-
nica Geral”. Outra personalidade é Alvino resistência de intelectuais como João Mo- mória privilegiada e que merece os maiores
Ferreira Lima, que foi professor da Facul- raes, José Paes, Sebrão Sobrinho e Poly- elogios e reconhecimentos do povo de Ro-
dade de Direito de São Paulo. Ainda saí- carpo Diniz, a mudança do nome não foi sário e de Sergipe.
ram de lá desembargadores como Maynard, efetivada. Um outro filho daquele município que
Humberto Diniz Sobral e José Sotero Vi- deve merecer as maiores homenagens é
eira de Melo, e uma infinidade de juízes. Mudança da capital João Batista de Morais Ribeiro. Este já fa-
de São Cristóvão para Aracaju lecido. Foi um exímio mestre de alfaiate.
Cruz do Evaristo e mudança aconteceu em Rosário Vestiu as famílias mais tradicionais de Ser-
do nome para “Marynardina” gipe. Foi servidor público federal, vereador
No final de 1854, o Barão de Maruim e prefeito. Músico de primeira grandeza sem
Existem alguns episódios marcantes na era vice-presidente do Estado. Um homem ter jamais estudado música. Um gênio. A
história desse município. Quando Rosário de grandes influências nacionais. Por conta poesia era a sua maior paixão. Publicou o
do Catete ficou independente de Santo do porto (escoamento dos produtos), o ba- livro “Canções de um solitário”. C

Amaro, em 1836, as relações das duas co- rão queria que a capital saísse de São Cris-
munidades ficaram estremecidas. Um dia, tóvão e foi transferida para Aracaju. Filhos Ilustres
um soldado negro conhecido por Evaristo Numa manhã, o Barão de Maruim, um
saiu de Santo Amaro com um cesto de pei- dos homens mais ricos do Estado, convo- José Raimundo de Souza - pároco do mu-
nicípio
xes para vender em Rosário. Em terras ro- cou todos os deputados para comparecer
sarenses, o soldado foi assassinado. Em sua em seu Engenho Unha do Gato, em Ro- Pedro Cunha - padre em São Paulo
homenagem, foi erguida uma capela com sário do Catete. Usando dinheiro, seu
Veríssimo de Oliveira - advogado
uma cruz. Em volta da capela surgiu uma poder de convencimento foi total. No
povoação que depois engrossou o municí- Unha do Gato, o barão instalou a As- Wagner da Costa Cunha - médico especi-
pio de Rosário do Catete. A Cruz do Eva- sembléia Provincial e os deputados vota- alista em Clínica Geral
risto então se tornou um marco da inde- ram pela transferência da capital de São Bosco Costa - presidente da Assembléia Le-
pendência de Rosário do Catete. Cristóvão para Aracaju. gislativa
Outro fato curioso nesse município é a Por ordem de um mensageiro, o barão
tentativa de mudança de nome. Na gestão pediu que o presidente do Estado, Ignácio Wellington Costa - engenheiro e professor
universitário
do prefeito Otacílio Vieira de Melo, em Joaquim Barbosa, fosse ao Engenho Unha
1945, apareceu a idéia de mudar o nome da do Gato sem comunicar a ninguém, e lá Terezinha Santana - educadora
cidade de Rosário do Catete para Marynar- assinou a transferência da capital. Essa ata
Cícera de Souza - professora
dina. Alguns diziam que o prefeito queria de mudança existe até hoje em mãos de
homenagear o filho mais ilustre, Augusto historiadores.
Maynard Gomes, que foi general do Exér- Texto: CRISTIAN GÓES
Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
cito, interventor, duas vezes senador e até A terra das bandas de música Fonte: Arquivo Público de Rosário do Catete, Enciclopédia dos
governador de Sergipe. Municípios Brasileiros e colaboração de Luiz Ferreira Gomes,
Mas os opositores revelam uma história Além da política e da área jurídica, Rosá- Adailton Andrade e Lúcia Marques.
MKT©
O PASSADO Altares,

igrejas,

imagens e um

EM TEMPO PRESENTE. fantástico

acervo

arquitetônico

dão

testemunho

da história

de Sergipe

e do Brasil

colonial.

Nada mudou,

há mais de

quatro

secúlos,

apenas o

progresso

marca a

diferença, isto

é, o passado

preservado

num convite

irresistível à

descoberta de

viver São

Cristóvão,

cidade

monumento,

sempre em

tempo atual.
Salgado única estação hidromineral no Estado

Cidade começou com


a estação ferroviária
e já em 1911 cobrava
pedágio de acesso
ao povoado

A
comunidade do município de
Salgado, distante 67 quilômetros de
Aracaju, nasceu com o nome Pau
Ferro. Depois passou a se chamar Salgadi-
nho, em decorrência do excesso de cloreto
de sódio existente na sua fonte termal. Pos-
teriormente foi encontrada uma água mais
saborosa que hoje abastece, além do muni- Esta praça já foi um ponto exclusivo para veranistas, com casarões e pensionatos de 1918
cípio, também Boquim, Lagarto, Simão
Dias e até Paripiranga, na Bahia. A cidade Para facilitar o transporte dos estancia- outubro daquele ano, através da Lei nº 986,
ficou conhecida por suas águas medicinais nos até a nova povoação, foi providenciada o governador do Estado, Manuel Correa
e pelo balneário que desde 1978 atrai mi- uma empresa para construir e explorar a Dantas, criou o município de Salgado, que
lhares de veranistas. rodovia, mediante cobrança de pedágios. foi instalado em 20 de novembro. Mas só
Localizado na região Centro-Sul do Es- Portanto, foi com a construção da rodovia em 27 de março de 1938 a vila passou à
tado, acredita-se que sua povoação foi ini- e da estação ferroviária que a povoação co- categoria de cidade.
ciada na segunda metade do século XIX, meçou a crescer e o progresso acelerou-se, Em princípio o município pertenceu
mas sem nenhum fato ou registro signifi- ficando conhecida em todo o Estado tam- judicialmente à Comarca de Lagarto, pas-
cativo. Em 1902, ainda completamente bém pelas suas águas termais. sando para a de Estância e depois para a de
desconhecida, Salgado foi citada pelo escri- Por causa do grande número de viajan- Itaporanga d’Ajuda. Seu primeiro intenden-
tor Laudelino Freire, no seu ‘Quadro Coro- tes que passavam pela estação ferroviária, te foi José Antônio do Nascimento, duran-
gráfico de Sergipe’, apenas como uma fa- com destino aos municípios da região sul, te o período de 1927 a 1929.
zenda às margens do Rio Piauitinga, per- onde não existia linha férrea, ao redor da A religião católica predomina entre os
tencente ao município de Boquim, onde estação foram sendo implantadas hospeda- salgadenses. O padroeiro da cidade é o Se-
existia uma fonte medicinal. rias para abrigá-los. nhor do Bomfim, comemorado no dia 29
Do outro lado da povoação aglomera- de janeiro com missa, novenário e procis-
Cobrança de pedágios vam-se veranistas para desfrutar dos bene- são que percorre as principais ruas da cida-
fícios das águas medicinais, principal fonte de. O atual pároco da cidade, Padre Lucia-
A localização só passou a merecer re- de riqueza natural do município. no Burocco, tem sido peça fundamental
gistro a partir da construção da linha férrea, para o desenvolvimento do município.
em 1911, sendo buscada pelos habitantes Emancipou-se de Boquim Apesar de ser italiano, Burocco está no
de Estância, por ser o melhor ponto para município há 17 anos e já deixou sua marca
embarcação nos trens. O destino era os Em 1927, a povoação começou a se nos quatro cantos da cidade. Mantém um
municípios baianos, onde eles preferiam destacar e os políticos começaram a ver a orfanato, serraria, escola de informática e
fazer suas compras. Raramente eles vinham necessidade de transformá-la em cidade, construiu até um cemitério porque o exis-
a Aracaju. desmembrando-a de Boquim. No dia 4 de tente encontrava-se superlotado. “Ele é um

CINFORM 220
Região - Centro-Sul
Distância de Aracaju - 67
População - 18.876
Atividades econômicas - agricultura (man-
dioca, maracujá e laranja), pecuária (bovinos) e indús-
tria (olaria e móveis)

Igreja Matriz Senhor do Bomfim

aguarda verba do Prodetur para fazer uma os, a água de Salgado foi classificada, atra-
reforma geral no complexo”, informa o vés de estudo feito pelo Instituto de Higie-
secretário geral do Município, Germano ne de São Paulo, como “bicarbonatada, hi-
Marques. drossulfídrica, sódica, cálcica e magnesia-
No município são encontradas também na, de ação extraordinária no tratamento
riquezas vegetais como maçaranduba, sa- de doenças do estômago, intestinos e fíga-
pucaia, pau d’arco, sucupira e quiri, que são do, diátese úrica, afecções cutâneas, ecze-
madeiras de lei. Também há em grande mas, pruridos, acnes, etc”.
quantidade árvores como suga, araçá, cam- Terezinha lamenta que depois que o
boatá, birro, entre outras, que fornecem prefeito Ananias tomou conta do balneá-
lenha. Existem ainda as raízes medicinais rio, a cidade ficou arrasada. “A última ad-
padre bem atuante, um grande obreiro”, como jatobá, pau-ferro, salva, japecanga e ministração marcou muito. Triste de Sal-
elogia Germano Marques. purga do campo. gado se não fosse o padre (Luciano Buroc-
co). Nunca vi uma coisa tão triste. Tenho
Salgado tem grande potencial A água medicinal de Salgado fé em Deus de ver minha terra de novo boa
turístico, mas foi abandonado de se viver. Espero que agora tudo melho-
A funcionária pública aposentada Tere- re”, torce ela.
Conhecido por suas águas medicinais, zinha Honorato Santos, 60 anos, lembra as
o Complexo do Balneário de Salgado passa histórias de quando trabalhava no Balneá- Saudade dos bons tempos
por sérias dificuldades. Fundado em dezem- rio. “Nos meses de janeiro e fevereiro a
bro de 1978, na administração do Governo cidade ficava cheia de turistas. A moda do * EDSON HENRIQUE
José Rolemberg Leite, o local, que tem um veranista era usar bengala. Eu sinto muita
fantástico potencial turístico, com piscina saudade daquela época. O povo vinha para Nas últimas décadas a cidade vem so-
e hotel, ficou completamente esquecido na se curar, e se curava mesmo. A cura era frendo o dissabor da crise vivida pela citri-
administração do prefeito Ananias Nasci- lenta, mas segura”, afirma ela. cultura e dos desmantelos vividos pelo se-
mento (de 1997 a 2000). Segundo Terezinha, o povo se curava tor turístico. A única estância hidromineral
As instalações do bosque estão preca- de doenças de pele, no entanto havia con- do Estado tem hoje no seu cotidiano um
ríssimas e o hotel, antes bastante freqüen- tra-indicações. “Quem sofria de coração, belo hotel, que já foi marco de referência,
tado - já foi o melhor da região -, chegou a epilepsia e tuberculose não podia entrar na fechado; uma festa que acontecia anual-
ser fechado, só a piscina continua sendo água que morria”, afirma ela. Ela lembra mente como forma de divulgar a agricul-
usada. Entregue à prefeitura através de co- também que há cerca de 40 anos havia o tura já não existe há mais de seis anos; o
modato, não houve nenhuma manutenção. toque de recolher na nascente. “Eram 20 município vive na saudade da época prós-
“Nem o dinheiro arrecadado na bilhe- minutos de banho e 20 de descanso. As pera, onde por aqui encontravam-se vários
teria do clube era empregado. A Emsetur - mulheres não tomavam banho junto com hóspedes ilustres, como o ex-governador
Empresa Sergipana de Turismo - retomou os homens. Primeiro tomavam os homens João Alves, frequentador do ainda hoje re-
a administração do balneário e o prefeito e depois as mulheres”, diz ela. sistente Hotel Chácara João XXIII, admi-
Raimundo Araújo (assumiu em 2001) Segundo a Enciclopédia dos Municípi- nistrado pela Arquidiocese de Estância.

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A Chácara João XXIII continua recebendo veranistas

As águas de Salgado já foram muito Que ensina a nós todos te amar.


conhecidas pela suas propriedades medici- Sois a terra de grande valor
nais, mas hoje percebe-se que muita coisa Das crianças e dos jovens também
por aqui já se foi. É notoriamente uma pena. Todos nós te amamos, Salgado
Apesar dos lamentos dos cidadãos des- Por mostrar os valores que tem.
ta comunidade, mesmo assim Salgado con- Tua gente tão forte e sadia
ta sempre com a visita de várias personali- Tua água tão doce e tão bela
dades que cultivam seu carisma pelo muni- Tuas margens de rios correntes
cípio a exemplo do ex-deputado pela Bahia Com os pássaros cantando por ela.
Galdino Leite, ex-secretário da Saúde por A presença dos teus povoados Povoação cresceu com a construção da Esta-
Sergipe, o médico Manoel Messias, ainda De um povo tão nobre e leal. ção Ferroviária
mantém residência em nosso município o A igreja com Nossa Senhora
ex-deputado Francisco Paixão, pai do atual Que desvia o rebanho do mal. Filhos Ilustres
deputado federal Ivan Paixão, o professor A Estação, as Quebradas, o São Bento
universitário e ex-legista do IML, o dr. Fran- São os ramos que Salgado cria,
Durval Militão de Araújo - foi deputado
cisco, o senhor Orlando da Fabise, familia- Aos redores do Saco Encantado estadual
res de Humbert Teles, da Huteba, dentre Das Matatas e d’Água Fria.
outras dezenas de personalidades das diver- Vemos o Tombo, a Turma, o Cabral Paulo Carvalho - médico e irmão do exator
Josias Carvalho
sas áreas profissionais. Que saúdam com todo carinho
Os finais de semana à beira da pisci- Cipó Branco, Moendas, Abóboras Jairson Barbosa da Silva - poeta
na pública se constituem até hoje em Seguem todos o mesmo caminho
ponto de encontro de milhares de sergi- Recordamos o bom Cambotá Raimundo Araújo - ex-deputado estadual
e prefeito do município
panos que buscam Salgado para o lazer e Macedina e também Riachão
descontração. Carlos Torres que grande está Otacília Alves Costa - dona da primeira pen-
Reunido com Lagoão são que acomodava os veranistas

* Chefe do Departamento de Cultura


Quando vejo o Carro Quebrado Maria Terezinha Araújo - professora atu-
Olho o céu vejo cor de anil ante no município, sendo uma das primeiras
Hino de Salgado A Bandeira do nosso Salgado
Tem as cores do nosso Brasil C Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
Salve, Salve, Salgado querido * Letra de Gabriel de Carvalho música de Giovanni Ton- e HERIBALDO MARTINS
Minha terra, meu berço, meu lar, della
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Colaboração
Onde reina o Senhor do Bomfim de Germano Marques.
Santa Luzia
início da
colonização sergipana
Lutas entre portugueses
e tupinambás marcaram
o início da povoação
mais antiga de Sergipe
Del Rey

M
uito antes da invasão européia
no Brasil, uma comunidade indí
gena se destacava no Sul de Ser-
gipe. Era a nação dos tupinambás. Organi-
zados, viviam especialmente da pesca dos
belos rios Piaguy, que depois veio a se cha-
mar Piauí, e Itanhi, depois Rio Real.
É nesse ambiente, por volta de 1530, que
nasce uma das primeiras povoações de Ser-
gipe, São Luiz, hoje o município de Santa
Luzia do Itanhi. Quem falou que a primei-
ra povoação sergipana foi São Cristóvão?
Quarta cidade mais antiga do Brasil?
A história da colonização Sergipe come-
ça por lá, quando o governador-geral do
Norte do Brasil, Luiz de Brito, autoriza o
também português Garcia d’Ávila a ‘to-
mar posse’ daquelas terras de Santa Luzia,
que ficam na região sul de Sergipe e a 76 Igreja Nossa Senhora da Esperança
quilômetros de Aracaju.
Garcia d’Ávila era um rico e poderoso Para o historiador, a relação de ‘amizade’ trabalhar como escravos nas fazendas. Ou-
senhor de terras do sertão baiano e tinha o entre franceses e tupinambás era tanta que tros acreditam que Garcia não teve sucesso
espírito de explorador. Montou um verda- os exploradores montaram uma feitoria e comercial com a conquista do Rio Real.
deiro exército e partiu para a conquista de deram o nome de ‘São Luiz’.
novas terras pelos lados do Rio Real. Quando as tropas de Garcia d’Ávila che- Chega Gaspar Lourenço
Mas para o historiador Clodomir Silva, garam naquelas terras, conseguiram derro-
autor do Álbum de Sergipe, Garcia d’Ávila tar os índios, expulsaram os franceses e se Padre Gaspar Lourenço e seu irmão de
também recebera a missão de barrar os avan- estabeleceram no mesmo povoado, dando hábito, João Solônio, teriam chegado em
ços de colonizadores franceses, que já ti- o nome de Santa Luzia. Não existe uma 1575 ao povoado abandonado por Garcia
nham grande influência na região. data definida para essa ocupação. d’Ávila e reconquistado pelos índios. Os
A povoação de Santa Luzia foi logo aban- religiosos trouxeram alguns colonos e um
Comércio de Pau-Brasil donada pelo rico fazendeiro. Segundo al- grupo de soldados comandados pelo capi-
guns historiadores, os índios, fortes e aguer- tão Luiz de Brito. Segundo Felisbelo Freire,
Os franceses dominavam aquele territó- ridos, não davam trégua aos invasores. Um os militares foram mandados a contragos-
rio, por onde faziam o contrabando de Pau- dos motivos da reação dos tupinambás era to do padre Gaspar Lourenço, que queria
Brasil, muitas vezes com a ajuda dos índios. o aprisionamento de outros indígenas para conquistar os índios exclusivamente usan-

CINFORM 223
Região - Sul de Sergipe
Distância de Aracaju - 76 km
População - 15 mil
Atividades econômicas - Agricultu-
ra e pesca

Usina Castello recuperada e o jornal Pyrilampo

Barão do Timbó e a baronesa: pintura de Na Usina São Félix: luta pela preservação
Horácio Hora

do o Evangelho. aos tupinambás. Naturalmente, Luiz de chamou inicialmente Vila Real de Piaguy
Os jesuítas levantaram a Igreja de Nossa Brito saiu vencedor, apreendeu milhares (Piaguy era o nome primitivo do rio que
Senhora da Esperança e fundaram a aldeia de índios e os levou para a Bahia, onde veio a se chamar Piauí e que banha as terras
de São Tomé. Lá celebraram a primeira muitos morreram. de Santa Luzia).
missa. Na frente, levantaram casas para Mas a ação de d. João de Lencastro pro-
moradia e escola para catequese. A aldeia Ressurgimento como vila vocou reações de moradores do município
estava subordinada à freguesia de Santo de São Cristóvão. E a reação foi oficial. No
Amaro de Ipitanga, na Bahia. Anos depois, Os jesuítas e meia dúzia de colonos resis- dia 28 de maio de 1699, a Câmara, religio-
chega àquelas terras o governador-geral do tiram num povoado arrasado pela guerra. sos do Carmo e até o vigário da capital de
Norte do Brasil, Luiz de Brito. Em 1698, a Aldeia de Santa Luzia criada Sergipe, padre José de Araújo, enviaram
Os índios, mesmo ‘convertidos’ pelos pelos portugueses, foi elevada à categoria protestos contra a criação da Vila de Santa
jesuítas, desconfiaram da chegada do go- de vila por ordem do governador da Bahia, Luzia. A nova povoação esvaziava novas
vernador e teriam fugido. Luiz de Brito, D. João de Lencastro. O nome oficial dado vilas que estavam sendo criadas, como Ita-
muito inábil, entendeu que a fuga repre- foi Vila Real de Santa Luzia. O historiador baiana, Lagarto e Vila Nova, mas princi-
sentava um rompimento das relações de Rocha Pita, escritor de História da Améri- palmente a de São Cristóvão.
‘paz’. Por isso o governador declarou guerra ca Portuguesa, disse que o povoamento se Um ofício ao rei foi enviado em 1704

CINFORM 224
Usina de São Félix: a primeira de Sergipe

pela Câmara de Santa Luzia. Queriam mais municípios sergipanos. As seis usinas eram e do Castello. Nesta última, era edita-
terras, ultrapassando a outra banda do Rio conhecidas internacionalmente por suas al- do o jornal Pyrilampo, fundado em 1º
Real, englobando assim os distritos de Aba- tas produções. A mais antiga de Sergipe é a de fevereiro de 1919. Era um órgão li-
dia e Itapicuru da Praia. Mas a Câmara da de São Félix. terário e noticioso. Uma curiosidade é
Bahia foi contrária às intenções dos chefes que no recenseamento geral de 1950, o
políticos de Santa Luzia. Não satisfeita, a E hoje ? município tinha 9.510 habitantes, sen-
Câmara de Santa Luzia pede novamente ao do que 282 tinham diploma de curso
rei a transferência da sede municipal para o Com o declínio da produção açucareira, primário, 20 com curso médio e apenas
sítio de Estância. Nada feito. com a crescente força política e industrial dois com curso superior. Na de São Fé-
de Estância, Santa Luzia ingressou na deca- lix, viveu o Barão do Timbó, João Vi-
Mudança para Estância dência e atraso. Hoje, o município pratica- eira Leite, que chegou a ser presidente
mente não tem um pé de cana sequer, e do Estado de Sergipe em 1900. Hoje, o
Depois de vários pedidos e negativas, a seus habitantes vivem da agricultura de sub- proprietário da usina, Paulo Futuro,
Câmara de Santa Luzia, em 1831, conse- sistência e do Fundo de Participação do ainda tenta preservar a história fantás-
guiu a transferência da sede da vila para a Município que a prefeitura recebe. Santa tica de sua família. C

progressista povoação de Estância. Mas his- Luzia, antes uma das maiores riquezas do
toriadores lembram da forte reação dos lu- Norte do País, é hoje um dos 50 municípi- Filhos Ilustres
zienses. Antes disso, porém, os moradores os mais pobres do Brasil. Sua população
de Santa Luzia ainda lutaram contra a re- estimada é de 15 mil habitantes. Pedro de Calazans - Nascido a 29 de janeiro
de 1837. Escritor, crítico e poeta consagrado. É
cém-criada Freguesia de Abadia pelas ter- considerado uma das glórias da literatura naci-
ras que hoje são o município de Indiaroba. Mudança de nome e onal. Entre outros trabalhos, destacam-se ‘Con-
As lutas demoraram um século, só termi- outras curiosidades tos da Infância’ e ‘Páginas Soltas’.
nando em 1843, quando um Decreto Im- José Dantas de Souza Leite - Nascido a 11
perial reconheceu as terras como perten- Poucas pessoas sabem, mas Santa Luzia de maio de 1859. Médico formado pela Facul-
centes a Sergipe. ainda teve o seu nome mudado. Através do dade de Paris. Vencedor de vários concursos
Mas com a transferência da sede de Santa Decreto Estadual nº 377, de 31 de dezem- em Serviços Clínicos da Europa. Escreveu vári-
os estudos sobre Medicina.
Luzia para Estância, a vila foi reduzida a bro de 1943, o município deixou de ser
um simples povoado. Os luzienses, boa parte Santa Luzia para se chamar Inajaroba. Mas Joaquim Esteves da Silveira - Médico e
índios ‘catequizados’, ainda conseguiram em 25 de novembro de 1948, outro decre- poeta.
restauração de sua categoria. Em fevereiro to estadual devolve o nome de Santa Luzia João Batista da Costa Carvalho - Jurista e
de 1835, Santa Luzia consegue se libertar e acrescenta Itanhi, nome que os indígenas desembargador.
de Estância e torna-se município indepen- chamavam o Rio Real.
dente. No final do século XIX, o novo A agricultura sempre foi a grande ati-
Texto: CRISTIAN GÓES
município é composto basicamente por vidade econômica do município. O seu Fotos: MANOEL FERREIRA
grandes latifundiários que cultivavam a maior produto era a cana-de-açúcar. Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros; Instituto Histórico
cana-de-açúcar. Santa Luzia chegou a ter a Santa Luzia chegou a ter seis grandes e Geográfico de Sergipe; João de Oliva Alves e Nicéias Gual-
maior arrecadação e população entre os usinas, sendo as maiores a de São Félix berto Batista e o pesquisador Luiz Fernando Ribeiro Soutello.

CINFORM 225
Santana é o mais novo município de Sergipe
Conhecida como
Carrapicho, nome de
sua fundação, cidade é
a maior produtora de
cerâmicas decorativas
do Estado

A
fundação de Carrapicho, nome an
tigo da cidade de Santana do São
Francisco, distante 125 quilômetros
da capital, começou no início do século
XIX, depois que os portugueses expulsa-
ram os holandeses que habitavam a região.
O primeiro nome da povoação foi coloca-
do em decorrência da abundância de uma
planta rasteira chamada carrapicho, que tem
espinhozinhos que aderem à roupa dos hu-
manos e ao pêlo dos animais.
Os portugueses Pedro Gomes da Silva
(pai) e Belarmino Gomes da Silva (filho)
foram os fundadores do município. Eles
montaram uma fazenda às margens do Rio
São Francisco, onde plantaram arroz e cana
- para produzir açúcar de torrão. Foi nessa
fazenda que também foi implantada a pri- Igreja Nossa Senhora Santana: bem diferente da capela construída por Manoel Messias
meira cerâmica chamada Carrapicho.
A mudança do nome da povoação foi corpo continua sepultado no interior dela. partido, e a Revolução de 1964 impediu a
sugerida pelo frei Damião, em conjunto Por volta de 1995, com a chegada ao mu- realização da eleição para escolher prefeito
com o então pároco de Neópolis (cidade à nicípio do padre Vicenzo di Florio, vindo e vereadores. Apesar disso, a lei que eman-
qual pertencia o povoado), monsenhor José da Itália; e da Irmandade Nossa Senhora da cipava Santana permaneceu na Assembléia,
Moreno de Santana. O objetivo foi home- Visitação, a igreja transformou-se em Ma- sem ser revogada.
nagear ao mesmo tempo a padroeira Nossa triz, sob a evocação de Senhora Santana. A Com a promulgação da Constituição
Senhora Santana e o Rio São Francisco. A capela da época de Carrapicho foi comple- Estadual, em 1988, o movimento pela
sugestão foi acatada pelos moradores, que tamente transformada. A igreja ganhou emancipação foi intensificado, tendo à
têm um forte sentimento de religiosidade. uma bela arquitetura, que a inclui entre as frente o presidente da Associação Comu-
Falando em religiosidade, a capela do po- mais belas da região. nitária de Carrapicho, Gilson Guimarães
voado foi construída pelo católico fervoro- Barroso - prefeito atual - e demais com-
so Messias Gomes Passos, filho de Joana Emancipação Política ponentes, lideranças políticas da região.
Ferreira da Silva Dias, uma das herdeiras da Eles procuraram deputados para reivin-
Fazenda Carrapicho. Devoto de Senhora O município de Santana do São Francis- dicar que a Lei de 1964, que elevava o
Santana, ele trabalhou como pedreiro e co foi criado em 6 de abril de 1964, junta- antigo Povoado Carrapicho à categoria
também fez o serviço de ajudante, carre- mente com vários outros municípios sergi- de cidade, fosse mantida.
gando pedras nas costas. Após sua morte, a panos. Porém os líderes políticos da época A reivindicação foi acatada pelos de-
capela passou por várias reformas, mas seu perderam alguns prazos para filiações de putados e, finalmente em 1988, o muni-

CINFORM 226
Argila de Santana é privilegiada: tem mais
liga e suporta mais calor
Região: (norte) Baixo São Francisco
Distância: 126 km
População: 6.133
Atividades econômicas: indústria
de cerâmica (utilitárias e decorativas), Platô de Neópolis
(gera empregos) e a pecuária

Wilson Carvalho (Capilé): “Tento inovar


para fugir da concorrência”

Primeira cerâmica construída na Fazenda


Carrapicho: iniciou da povoação

A partir de 1995, quando foi realizado


um curso de cerâmica no município - em
convênio com a prefeitura do município
e a Secretaria de Ação Social do Estado -
, as peças ganharam um toque de origi-
nalidade. O curso visou o aprimoramen-
Foto antiga da época do Povoado
to e a criatividade dos artesãos, para cri-
Carrapicho ação de novos modelos. De lá para cá, o
acervo de cerâmica ganhou cara nova,
cípio de Santana do São Francisco foi principais artesãos Beto Pezão, Cachoba, onde os artesãos puderam ousar e diver-
emancipado através de lei de autoria do Cristina Francisca Pires, Zé de Flora, Edil- sificar suas peças.
deputado Cleto Maia, e promulgada pelo son Fortes e Pedro das Pedras (Ar), que cri-
então governador do Estado Sebastião am obras de artes que encantam os visitan- Implantação da Técnica
Celso de Carvalho. tes da cidade. Tem ainda o Isaac Melo, que
faz exclusivamente castelos. José Carvalho Passos (Zuzu), 79 anos, é
O famoso artesanato O artesanato absorve cerca de 70% da tetraneto do fundador da cidade, Pedro
de Carrapicho mão-de-obra do município. É difícil encon- Gomes da Silva. Ele começou a trabalhar
trar um fundo de quintal onde os morado- como artesão aos 8 anos, já vão comple-
Apesar de o município ter mudado de res não fabriquem peças de barros. Os que tando mais de 71 anos trabalhando com o
nome antes da emancipação, a cidade con- não têm valor artístico para criar verdadei- barro. Ele lembra que foi o português João
tinuou sendo chamada de Carrapicho até ras obras-primas, como os artesãos citados Igreja, por volta de 1850, quem implan-
1992 - e ainda hoje - principalmente quan- acima, fazem jarros, moringas, animaizi- tou a técnica da confecção de cerâmica no
do o assunto é cerâmica. Santana do São nhos. Mas todos botam a mão no barro. município.
Francisco destaca-se por seu variado artesa- Quem não faz peças, cava o chão para tirar Segundo ele, João ensinou as técnicas a
nato em argila, sua principal fonte de ren- a argila, um barro cinzento encontrado nas Messias Gomes Passos, dono da primeira
da. Suas belas peças são exportadas para várzeas do rio, considerado o melhor do cerâmica, que depois passou seus conheci-
todo o Brasil e até para fora. Tem como Estado para confecção de cerâmicas. mentos para os demais moradores. Eles

CINFORM 227
espaço de comercialização e divulgação que
viabilizem o desenvolvimento pleno desse
segmento.
Santana do São Francisco precisa urgen-
temente de políticas de desenvolvimento
para a atividade artesanal e amparo ao arte-
são, estimulando a permanência da tradi-
ção no Estado e em particular nesta cidade,
que tem no artesanato, além da principal
fonte de renda, a maior concentração de
emprego no município.
É necessário que seja concluído urgente-
mente o Centro de Comercialização Arte-
Claudionor Catarino (Nonô), 71 anos: faz Isaac Melo: o fazedor de castelos sanal, o qual será utilizado pelos artesãos
50 moringas por dia para expor e comercializar suas peças, que
começaram a fazer porrões e telhas, depois Sergipana do Barro’, mudou de nome e, são verdadeiras obras-primas.
evoluiu para moringas e jarras. em função disso, descaracterizou-se e ge- Ser filho de Santana do São Francisco tem
O ceramista Manoel Santos (Ieié), 57 rou um certo impacto por parte dos que sido uma honra para mim que aqui resido,
anos, reclama que as peças feitas em Santa- conheciam a cidade pelo seu antigo nome. e neste meio de comunicação pude falar
na do São Francisco vão para outros Esta- Quando se falava em Carrapicho, associ- além dos problemas, minha total gratidão
dos sem o nome do município. Chegando ava-se à cerâmica, pela tradição e pela di- por ser filho desta terra tão querida. C

lá, é colocado o nome do Estado que com- versidade do potencial artístico do seu povo,
prou, como se tivesse produzido as cerâmi- que tinha muito a ver com o artesanato. * Artesão
cas. “Eu acho isso muito errado. O profissi- Em virtude dessa mudança, o nome
onal é a gente que faz, e o atravessador é de Santana do São Francisco ainda não Filhos Ilustres
quem leva o nome”, lamenta ele. se adaptou à atividade artesanal que de-
As peças são exportadas para vários Es- senvolve. Haja vista que ainda hoje se Beto Pezão - artesão conhecido nacionalmen-
te e até fora do Brasil
tados do Brasil e até para o Japão e Coréia. escreve nas peças o nome Carrapicho,
Segundo Ieié, quando o autor coloca o pró- por ser o nome tradicional. É necessário Marta Mártiris - radialista em Penedo (AL),
prio nome na obra e o de Santana, fica que haja divulgação da nova cidade re- natural do Povoado Saúde
difícil a venda. “Nas minhas peças eu boto lacionada com a atividade da cerâmica Leopoldo - advogado natural do Povoado Saú-
meu nome e o de Carrapicho. Não con- aqui produzida. de
cordo em colocar Santana. Eu acho que o Os artesãos desta cidade, para continu-
nome da cidade deveria continuar o mes- ar produzindo e divulgando o nome do Odair Francisco Carvalho - padre
mo por causa da tradição antiga da cerâ- Estado e do Município, gerando empre- Maria da Glória Gomes - educadora
mica”, defende ele. go e renda, passam por dificuldades que
A capital sergipana do barro, como é co- dizem respeito à aquisição da matéria- Gilson Guimarães Barroso - primeiro e atual
prefeito
nhecida Santana do São Francisco, já foi prima (barro) e à madeira para a produ-
muito mais procurada. Os próprios cera- ção e comercialização. Joana Barroso - prefeita de Muribeca
mistas contribuíram para a queda da de- Na questão do barro, quem detém as
Messias Passos - construtor da primeira
manda. Eles levaram sua arte para outros maiores jazidas são precisamente duas fa- igreja
Estados, onde ensinaram e criaram a pró- mílias políticas. Sendo que por uma de-
pria concorrência. las, a maioria dos artesãos é totalmente Eronildes Gomes do Sacramento - vice-
prefeito e prefeito sucessor de Neópolis
Santana oferece, também, outras opções impedida de comprar a matéria-prima,
aos turistas. A seis quilômetros do centro por pertencer a grupo político ligado à João da Silva Barroso - cinco vezes verea-
da cidade, no Povoado Nossa Senhora da atual administração. dor e vice-prefeito de Neópolis
Saúde, é possível dar um mergulho refres- Com relação à madeira, a situação é Manoel Aguiar - grande comerciante na ci-
cante no Velho Chico ou simplesmente ad- gravíssima, pois a cidade de Santana do dade
mirar a bela paisagem oferecida por sua São Francisco não dispõe de área de re-
prainha, localizada no Povoado Nossa Se- serva florestal para a extração da mes- Padre Edenilton - natural do Povoado Saúde
nhora da Saúde. ma, tornando inviável e dificultando a Irmã Graziana - natural do Povoado Brejo
produção e a sobrevivência do artesão,
Carrapicho, a capital que tem no barro sua única fonte de Afonso de Oliveira Fortes - grande comer-
ciante
sergipana do barro renda.
No tocante à comercialização e à fase Ana de Carvalho Passos - comerciante
* JOSÉ IVAN SANTOS - CACHOBA final de todo esse processo, nosso municí- e religiosa
pio está passando pela pior fase da história
Santana do São Francisco, antiga Carra- do artesanato, em virtude da situação eco- Texto: EDIVÂNIA FREIRE
picho, cidade situada às margens do Rio nômica e política do país, que afeta direta- Fotos e reproduções: DIÓGENES DI
São Francisco e conhecida como a ‘Capital mente o transporte, programa de turismo, Colaboração de Gilson Barroso e Rozana Lima

CINFORM 228
Santa Rosa
um dos menores municípios do Estado

Foi povoado de Divina


Pastora e já se chamou
Presa, por causa das
enchentes, e Camboatá

O
município de Santa Rosa de
Lima, a 49 quilômetros de Aracaju,
fica na região central de Sergipe.
É um dos menores do Estado, tendo apenas
82 km² de área e uma população que não
chega a 3,5 mil habitantes. Desde quando
começou a ser ocupado, o município não
mudou muito. A principal via de acesso
ainda é de piçarra e a base da economia é
agricultura de subsistência.
Acredita-se que o primeiro registro de
chegada nas terras que hoje formam o mu-
nicípio de Santa Rosa de Lima é de 1602,
com a doação de sesmarias nas proximida-
des dos rios Sergipe e Cotinguiba. A po- Igreja de Santa Rosa de Lima: padroeira é Santa Rosa
voação de Santa Rosa nasceu a partir da
Vila de Divina Pastora. Primeiro o gado e Na verdade era uma sala de aula apenas nome de Santa Rosa para Camboatá.
depois a cana-de-açúcar fizeram com que para atender o sexo masculino. O professor
alguns colonos fossem se estabelecer na- ganhava na época, através da Resolução 338, Camboatá e o retorno
quelas terras. 350 mil réis anuais.
Por muito tempo a única notícia que se Mesmo sem ter condições para tal, o Existem duas teses para o nome dado a
tinha daquela povoação era sobre as gran- Povoado Santa Rosa se transforma em Camboatá. A primeira é que o nome vem
des enchentes do Rio Sergipe. A aldeia fi- vila independente de Divina Pastora do tupi e significa ‘kabua-tá’, nome dado à
cava isolada por vários dias até que as águas através da Lei Estadual nº 83, de 26 de carrapeta, árvore de frutos verrugosos, co-
baixassem. Por conta disso, o povoado fi- outubro de 1894. Mas, curiosamente, três nhecida também como açafroa, cedrão, ja-
cou conhecido como Presa. Além das en- anos depois a Vila Santa Rosa volta a ser taúba, que possui pequenas flores brancas e
chentes, mais nada acontecia naquelas ter- povoado dependente de Divina Pastora. que fornece ótima madeira para marcena-
ras. Em 1920, no ‘Álbum de Sergipe’ ria. Na região do atual município acredita-
elaborado pelo historiador Clodomir se que se tinha muitas carrapetas e por isso
Escola e vila Silva, Santa Rosa ainda é apontado como deu o nome ao lugar. Foi, inclusive, com a
povoado de Divina Pastora. madeira retirada das árvores que foram le-
A informação que se tem da povoação Mas através da Lei Estadual nº 69, de vantadas as primeiras habitações.
só vem aparecer em 1854. Em 10 de maio 28 de março de 1938, o Povoado Santa Rosa A outra versão, a que oficialmente é
daquele ano, o Povoado Santa Rosa - o nome voltou a se transformar em vila. Em 1943, mais aceita, é que Camboatá, que é tam-
era este porque missionários jesuítas conse- por conta de uma lei federal que proibia o bém nome de um rio no município, seria
guiram erguer uma capelinha em homena- mesmo nome para mais de uma cidade, o uma variação da palavra ‘tambuatá’, que
gem à santa - ganhou sua primeira escola. Governo do Estado foi obrigado a mudar o em tupi é ‘tamua-tᒠe representa uma es-

CINFORM 230
Rua Marechal Floriano Peixoto: principal rua da
cidade
Região - centro de Sergipe
para diferenciá-la de outra cidade com o Distância de Aracaju - 49 km
População - Cerca de 3,5 mil
mesmo nome. Lima é porque a imagem de Atividades econômicas - Agricultura
Santa Rosa teria sido trazida pelos jesuítas
da cidade de Lima, no Peru.

Santa Rosa na década de 50


sempre foi muito modesto, cerca de dez
A população de Santa Rosa de Lima, casas.
em 1950, é praticamente a mesma de hoje Na década de 50 também foi instalada
- cerca de 3 mil almas -, sendo que a maio- uma agência dos Correios e Telégrafos e
ria continua morando na zona rural, mais quatro aparelhos conectados a uma central
especificamente nos povoados Canabrava, telefônica que era ligada a Aracaju. O mu-
Areias, Lagão do Carão e Pau-Ferro. As nicípio só tinha nove ruas, todas sem pavi-
maiores culturas que movimentavam o mentação; apenas 380 casas, duas praças
município era a cana-de-açúcar, mandioca, arborizadas e dois postos de saúde, sem
milho, feijão e mandioca. médico regular. Escola só de primeiro grau
As únicas indústrias eram casas de fa- e o abastecimento de água era precário por-
rinha, cerca de dez. No campo da cana, a que não existia rede de esgoto, nem coleta
Usina Lourdes era a que se destacava mais. de lixo.
O rebanho bovino se destacou com mais Vale ressaltar ainda que desde 1893 se
de 1.800 reses. O município ainda possui comemora, sempre no dia 30 de agosto, a
uma grande reserva de potássio e até hoje festa de São Benedito. No dia 6 de feve-
pécie de peixe bastante comum naquela não foi totalmente explorado. O comércio reiro é realizada a festa da padroeira Santa
época, encontrado nos rios Sergipe e Co-
tinguiba. Os nativos chamavam o peixe de
tamuatá, tamatá, peixe-do-mato e peixe-
de-enxurrada.
Parece que Camboatá deu sorte ao
município, que alcançou um bom grau de
desenvolvimento naquela região. Alguns
historiadores e alguns moradores mais ve-
lhos da cidade afirmam que a feira do mu-
nicípio de Santa Rosa superava em negócios
a feira de Divina Pastora.
Em 10 de dezembro de 1953, dez anos
depois de se chamar Camboatá, a Lei Esta-
dual nº 525 criou 19 municípios, entre eles
o Camboatá. Em janeiro de 1954, depois
de vários pedidos de moradores daquele
município, a Assembléia Legislativa apro-
vou e o Governo do Estado sancionou uma
lei mudando o nome de Camboatá para San-
ta Rosa, e desta vez acrescentando ‘de Lima’ Vista parcial da cidade antiga

CINFORM 231
Igreja na década de 40 Prédio da prefeitura: construído em 55

Rosa de Lima, que deu nome à cidade. O eleitores. Na administração de Dermeval,


reisado é a festa mais popular, e o ponto muitas contas públicas eram pagas com di-
social mais importante do município é o nheiro do bolso do prefeito e vereadores.
Centro Social Paulo VI. Ele construiu um grande prédio para
funcionar a prefeitura, onde também se
De Dermeval, Edime aos Barreto fixou a agência de Estatísticas. Foi
Dermeval quem pavimentou a Praça
Ainda em 1954 é realizada a eleição Marechal Floriano e construiu um açude
municipal. O prefeito eleito foi Dermeval no povoado Canabrava.
Prado Góis. Cinco vereadores também fo- Santa Rosa de Lima também teve uma
ram eleitos: Edime Costa Santos, Leosírio das primeiras mulheres a assumir um cargo
Nascimento, Manoel Alves Torres, João público. Edime Costa Santos Ferreira foi
Nunes de Mendonça e José Freitas de Me- eleita pela UDN como vereadora na pri-
nezes. Participaram da eleição somente 314 meira eleição em Santa Rosa. Na primeira Dermeval: primeiro prefeito eleito

legislatura foi logo a presidente da Câmara


de Vereadores. Em 1960, Edime foi candi-
data a prefeita pelo MDB e foi eleita com
365 votos. Ela foi indicada para o cargo
pelo então deputado Jackson Barreto Lima,
um dos filhos ilustres do município, que
chegou a ser prefeito de Aracaju e candi-
dato ao Governo e ao Senado. Outro filho
ilustre do município é o atual secretário de
Justiça de Sergipe, Jugurta Barreto Lima,
irmão de Jackson.
Edime é mãe de um outro filho ilustre
do município, o advogado Geldo Alves
Costa. Enfermeira, parteira, ela participou
ativamente da política no município. Sócia
do Centro Social Paulo VI, era professora
de tapeçaria e de arte culinária. C

Texto: CRISTIAN GÓES


Fotos e reproduções: Manoel Ferreira
Fontes: Caderno ‘Nossos Políticos’, de 1980, e Enciclopé-
dia dos Municípios Brasileiros.
Feira de Santa Rosa

CINFORM 232
Santo Amaro
tem mais de 300 anos

O município, que já foi


revolucionário, surgiu
como vila logo depois
de São Cristóvão

S
e existisse um lugar onde a história de
Sergipe pudesse ser toda contada, com
certeza seria o município de Santo
Amaro das Brotas, distante de Aracaju 37
quilômetros. Naquele local, pouco conhe-
cido dos sergipanos, respira-se pura histó-
ria, não obstante os sucessivos administra-
dores públicos tentarem destruí-la. Só para
se ter uma idéia, Santo Amaro completou
303 anos desde que surgiu como vila, sendo
assim, sem dúvida alguma, um dos primei-
ros povoados de Sergipe D’el Rei. Natural-
mente não se quer nesta página contar mais
de 300 anos de história de Santo Amaro.
Muito antes de Cristóvão de Barros, em
1534 o rei dom João III determinou que
Francisco Pereira Coutinho podia “tomar
conta” das terras que se estendiam da baía
de Todos os Santos até o Rio São Francisco.
Mas a resistência indígena foi maior e Cou- Matriz de Santo Amaro: erguida em 1728
tinho não prosperou. Seu filho Manoel ten-
tou dar continuidade ao “tomar posse”, mas foi o português Amaro Aires da Rocha, que lhos, às grandes e verdejantes ‘grotas’ exis-
também foi vencido pelos ‘gentios’ (nati- se instalou naquela colina ao lado esquerdo tentes naquela região. Ao redor da capela
vos). Tentando avançar sobre o território, do Rio Sergipe. Depois de sua morte, o seu surge a povoação.
um ponto belo e estratégico chamou a aten- descendente Antônio Martins de Azevedo Em 1697, o governador-geral do Brasil
ção dos exploradores: uma colina ao lado tomou conta da fazenda que recebia o nome ordenou ao ouvidor-geral de Sergipe, Dio-
esquerdo do Rio Sergipe, bem em frente da de Aires da Rocha. go Pacheco da Carvalho, a criar vilas nas
confluência deste com o Rio Cotinguiba. povoações de Itabaiana e Lagarto, e outra
Ali nasceu Santo Amaro. Povoação e vila no Porto da Cotinguiba. Naquele mesmo
Em virtude do fracasso dos Coutinho, ano, a Câmara de São Cristóvão instala a
Cristóvão de Barros parte com uma grande Martins de Azevedo já tinha no Porto da sede da Vila de Santo Amaro, em homena-
força para se apossar das terras de Sergipe. Cotinguiba, depois Porto das Redes, um gem ao fundador Amaro Aires da Rocha,
E consegue. Aqui, implanta a Vila de São engenho de açúcar. Na Fazenda Aires da no Porto da Cotinguiba. Mas Martins de
Cristóvão, e aos seus parentes e soldados Rocha, Martins de Azevedo levantou uma Azevedo não queria a vila no porto. Além
mais fiéis repassa parte das terras invadidas. capela em nome de Nossa Senhora das Bro- de prejudicar seu engenho, a localidade so-
Um dos ‘camaradas’ a receber o presente tas, numa referência, segundo os mais ve- fria com as inundações.

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Região - Leste de Sergipe
Distância de Aracaju - 37 km
População - Cerca de 10 mil
Atividades econômicas - Agricultura
Bôtto: grande rejeição em Santo Amaro Travassos: grande santamarense

Em 1858 ele editou em Santo Amaro o Lá, os santamarenses tomaram os cartórios


jornal ‘Conciliador’. Travassos tinha grande e os prédios públicos. Os serventuários da
Então Martins de Azevedo ofereceu à influência na província. Antônio Travassos Justiça foram obrigados a retornar à antiga
Câmara 200 braças de terra da Fazenda Aires nasceu em julho de 1804, foi advogado e sede. Este episódio ficou conhecido como
da Rocha para implantar a sede da vila. As político. Publicou também vários trabalhos “Estouro Sangrento”. Diante desse ato do
autoridades da província não aceitaram e se sobre a história de Sergipe. povo de Santo Amaro, o governador Ma-
arrastou uma disputa judicial que foi deci- noel Lisboa reuniu às pressas os membros
dida em favor de Martins de Azevedo. Povo insurreto da Assembléia Legislativa e restituiu Santo
Anotações históricas dão conta de que em Amaro como vila independente.
1701 Santo Amaro já possuía mais de 2,3 Naquele pequeno município foi dado o
mil pessoas. primeiro grito de “independência do Brasil” Mudança de nome
em 1822. Assim que os santamarenses to-
Freguesia e Desenvolvimento maram conhecimento da decisão do prínci- Só em 15 de dezembro de 1938, Santo
pe, foram mobilizados 2 mil homens de San- Amaro das Brotas acabou sendo transfor-
A matriz da cidade, com a invocação to Amaro para resistir à possível luta contra mada em cidade. Mas por causa de um De-
agora de Santo Amaro das Brotas, foi er- os portugueses. Com este fato o povo de creto Federal, o nome da cidade mudou para
guida em 1728. A freguesia foi criada por Santo Amaro ficou conhecido como “insur- Juruama. Os santamarenses não aceitaram
dom Frei Antônio Correia Freire, em mar- reto”, rebelde, resistente. Isso porque em tal denominação e o coronel Jacintho Dias
ço de 1761. Mas em 1721, o coronel Pedro 1817, na chamada Revolução de Pernambu- Ribeiro, depois de inúmeros protestos, con-
Barbosa Leal e sua mulher, Mariana de Es- co, partiram de Sergipe para lá uma milícia seguiu devolver o antigo nome àquele mu-
pinosa, doaram aos frades carmelitas uma de Santo Amaro e mais 600 homens. nicípio. Sua mulher, Diva Ribeiro, foi uma
parte de terras para a construção de um Em outubro de 1828, a sede da Vila de grande assistente social do município.
convento. Hoje, essa obra não existe mais. Santo Amaro é transferida para onde é hoje Um dos prefeitos que marcaram a histó-
Contam ainda historiadores que em 1761 o Maruim. A Câmara e o povo santamarense ria de Santo Amaro foi Nelson Ferreira
capitão Sebastião Gaspar de Almeida Bôt- reagiu e resistiu. O grande comandante da Lima, que abriu ruas, construiu prédios,
to arrematou os ofícios de tabelião e escri- resistência era Travassos, que travou uma inaugurou bairros. Santo Amaro das Bro-
vão de órfãos, Câmara e almotaçaria da vila. luta contra Bento de Melo Pereira, coman- tas, com seus defeitos e qualidades, é fruto
Santo Amaro progrediu tanto que che- dante das armas e pessoa ligada diretamen- de patrióticas lutas dos santamarenses. Com
gou a ter a maior produção de açúcar da te a Bôtto. Mas Travassos foi vencedor. No sangue, eles gravaram a cidade na história.
província. Enquanto do Porto da Cotingui- entanto, a vingança viria logo. Em feverei-
ba eram exportadas 20 mil caixas de açúcar ro de 1835, a província chegou a extinguir Revolução de Santo Amaro
por ano, nas barras dos rios Real, São Fran- a Vila de Santo Amaro, deixando-a depen-
cisco e Vaza-Barris alcançavam juntas 10 mil. dente de Maruim. Era 1836. Tinha Santo Amaro, naque-
É de Santo Amaro que nascem Maruim, Travassos entra em cena de novo e pede la época, dois chefes políticos poderosos
Rosário do Catete e outras cidades vizinhas. ao presidente da província, Manoel da Silva e aguerridos: Sebastião Bôtto, o ‘rapi-
Um dos grandes responsáveis pelo de- Lisboa, para reverter essa posição. Mas não na’ e Antônio Travassos, o ‘camondon-
senvolvimento de Santo Amaro é Antônio foi atendido. Uma grande força foi forma- go’, oposicionista, rábula, muito inteli-
José da Silva Travassos, um dos maiores da em Santo Amaro e o exército comanda- gente e respeitado.
políticos e jornalistas que Sergipe já teve. do por Travassos invadiu Maruim em 1835. Ia proceder-se eleição para um deputado

CINFORM 234
Igreja de Nossa Senhora do Amparo Ce.l Jacintho Ribeiro: honrou o município Carlos Guimarães é memória viva

provincial. Eram candidatos Almeida Bôtto fugiu quando soube da chegada dos ‘rapi- Amaro das Brotas, nascido a 2 de agosto de
e o médico Manoel Joaquim Fernandes de nas’. 1914, num período violentamente contur-
Barros, ligado a Travassos. Este último teve a Dois homens que estavam doentes, le- bado pela explosão da 1ª Guerra Mundial.
maioria e Bôtto foi fragorosamente derrota- ais a Travassos, ficaram e foram arrasta- Ele era filho do ex-intendente municipal
do. Ele não se conformou com a derrota e dos e executados em praça pública. As Ascendino Araújo e dona Etelvina Améri-
conseguiu, com malandragem, falsificar a ata casas, igrejas e prédios foram saqueados. ca Guimarães, já falecidos.
da eleição, despejando na Mesa 3.621 votos, Seis dias depois, Bôtto se retirou da cida- Na vida pública, protagonizou papéis im-
onde só existiriam 50 votantes. de deixando 50 capangas na vila sob o co- portantes, compreendidos desde secretário-te-
Votaram todos os defuntos e os ausentes mando de João Bolacha. Este, embriaga- soureiro no mandato do então interventor
daquele município. Começou daí a insurrei- do, foi até a matriz e, de posse de uma Alon de Matos Teles, em 1936, a agente de
ção para liquidar Santo Amaro das Brotas e espingarda, atirou quebrando a mão direi- estatísticas, alternando-se nas ocupações cita-
desmoralizar o popularismo de Travassos. ta do santo. Dias depois, alguns santama- das e passando pelos Governos de Júlio José
Outra guerra era deflagrada, agora con- renses se vingaram matando João Bola- de Azevedo, Agenor Martins Fontes, até fins
tra Maruim e Rosário do Catete. Os parti- cha. No final de 1837, o Governo Imperi- de 1974 na gestão de Nelson Ferreira Lima.
dários de Travassos prometiam resistir. Eles al finalmente anulou a eleição, mas as de- Na atividade jornalística teve seus artigos
tentaram fazer com que o governador anu- savenças continuaram por muitos anos. publicados nas páginas dos mais conceitua-
lasse a eleição, o que não aconteceu. Bôtto dos órgãos de comunicação deste Estado e
montou um pequeno exército para enfren- Memória viva de outros periódicos do país. Influenciado
tar os ‘camondongos’. pelo pai, Carlos Araújo Guimarães, se dedi-
As tropas dos ‘rapinas’, cerca de 600 ho- * CLÓVIS BOMFIM caria efetivamente a pesquisar e a escrever
mens, invadiram Santo Amaro, mas encon- relatos sobre a história de sua terra-berço,
tram uma cidade quase deserta. A maioria O historiador e poeta Carlos Araújo Gui- tarefa que abraçou com grande fôlego e tem
dos habitantes tinha aderido a Travassos e marães é natural da lendária Vila de Santo assinalado uma vasta folha de serviços pres-
tados a esta comunidade, desde 1932.
Cronista de admirável estilo, escreveu
verdadeiras obras de cunho literário que
espera até os dias atuais por uma publica-
ção condigna. Sua experiência, coroada
pela lucidez dos 87 anos de vida, é motivo
de orgulho para sua modesta legião de ad-
miradores. C

* Cidadão santamarense e artifinalista do CINFORM

Texto: CRISTIAN GÓES


Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
Fonte: Dados históricos sobre Santo Amaro das Brotas, de João Sales
de Campos; Enciclopédia dos Municípios Brasileiros; e colaboração
de Clóvis Bomfim, Carlos Araújo Guimarães e Maria Lúcia
Marques
Prefeitura Municipal
São Cristóvão
a primeira capital de Sergipe

Fundada por
Cristóvão de Barros,
a quarta cidade mais
antiga do Brasil foi pal-
co de várias batalhas

S
ão Cristóvão, cidade a 25 quilôme-
tros da capital, foi fundada por Cris-
tóvão de Barros, que chegou na re-
gião em 1589 com o objetivo de conquis-
tar o território sergipano. Em 1º de janeiro
de 1590, o conquistador venceu uma bata-
lha contra piratas franceses, construiu um
forte e fundou uma povoação com o nome
de São Cristóvão, que depois seria a pri-
meira capital do Estado de Sergipe.
De acordo com a Enciclopédia dos Mu-
nicípios Brasileiros, a cidade sofreu sucessi-
vas mudanças até firmar-se no local atual, à
margem do Rio Paramopama, afluente do
Vaza-Barris. “A primeira transferência deu-
se entre 1595 e 1596, por motivo de segu-
rança contra possíveis ataques dos france-
ses, que buscavam reconquistar o território Estação de trem inaugurada em 1913
do qual foram banidos. E, como conheci-
am o Cotinguiba, poderiam penetrar e sur- ro a adquirir terras no interior de São Cris- encontrassem muito o que aproveitar. Em
preender a povoação num ataque fulminan- tóvão, seguido por Francisco Rodrigues, 17 de novembro do mesmo ano as tropas
te”, diz a Enciclopédia. Gaspar de Souza, entre outros. de Maurício de Nassau entraram na cida-
O novo local escolhido foi uma elevação de, destruindo-a ainda mais.
que ficava próxima à barra do Rio Poxim. Invasão Holandesa Lutas violentas se sucederam entre as tro-
A maioria dos historiadores acredita que a pas portuguesas e holandeses, até que os
segunda mudança de São Cristóvão acon- Em 1607, os holandeses invadiram Ser- invasores começaram a ser vencidos em
teceu antes de 1607. Não se sabe, também, gipe e o principal alvo foi São Cristóvão. 1645, sendo definitivamente expulsos do
a causa da nova transferência, que desta vez Em 30 de março chega à cidade o Exército território sergipano em 1647, ocasião em
foi para bem distante, às margens do Para- luso-brasileiro do Conde Bagnuolo. Em que a Capitania se reintegrou ao domínio
mopama. Depois que estabeleceu as bases São Cristóvão, ele assenta seu quartel-ge- de Portugal. “Convém ressaltar que duran-
da capitania, Cristóvão de Barros regressou neral, até que, se sentindo em desvanta- te o novo domínio, a Capitania foi marca-
para a Bahia em 1591, deixando a povoa- gem, abandonou a povoação e foi para a da por lutas partidárias, desmandos e indis-
ção aos cuidados de Tomé da Rocha. Bahia. Antes de partir, ele executou a táti- ciplinas. Não havia espírito patriótico, mas
As margens do Vaza-Barris e do Para- ca da ‘terra arrasada’, devastou e ateou desavenças entre capitães-mores e a Câma-
mopama passaram a ser intensamente co- fogo no território que estava abandonan- ra, como foi o caso de Pestana de Brito, que
lonizadas. Simão de Andrade foi o primei- do, a fim de que as forças inimigas não chefiou uma revolução sufocada pela

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Região: sudoeste
Distância da capital: 25 km
População: 64.566
Atividades Econômicas: Agricultura
(banana, laranja, mamão e feijão), pecuária (bovinos e
piscicultura)

Cristo Redentor: erguido em 1924, sobre as


bases da antiga Capela de São Gonçalo

vão aclamou d. Pedro I como príncipe re- Nacional desde 1939, São Cristóvão desen-
gente do Brasil. volveu-se segundo o modelo urbano por-
“A aclamação e a instalação da Junta Pro- tuguês, em dois planos: cidade alta com
visória foi o primeiro passo para restabele- sede do poder civil e religioso; e cidade bai-
Convento São Francisco: patrimônio his-
cer a emancipação e a independência de xa com o porto, fábricas e população de
tórico preservado Sergipe, tornando o Decreto de 8 de julho baixa renda.
uma realidade”, informa o livro Aspectos A maioria dos monumentos de São Cris-
Históricos. tóvão está concentrada na Praça São Fran-
Bahia”, informa o livro Aspectos Históri- cisco, centro histórico da cidade. Entre as
cos, Artísticos, Culturais e Sociais da Cida- Mudança da Capital construções destaca-se a Santa Casa da Mi-
de de São Cristóvão, de Ieda Maria Leal sericórdia, belo conjunto barroco construí-
Vilela e Maria José Tenório da Silva. Em 1855, São Cristóvão deixa de ser a do no século XVII; a Igreja e o Convento
capital de Sergipe, que foi transferida para São Francisco, datam de 1693; o Museu
Capitania Independente Aracaju, cidade criada especificamente para Histórico, instalado no antigo Palácio Pro-
esse fim. “Cheia de cicatrizes de suas lutas vincial, e o dos ex-votos, na Igreja e Con-
Como recompensa dos serviços que os nos 250 anos de história, a Câmara de São vento do Carmo.
sergipanos prestaram à vitória do partido Cristóvão lança um protesto em sessão de Entre as construções que, também, me-
ruralista contra a causa republicana, alme- 28 de fevereiro de 1855, não sendo, porém, recem uma visita, estão as igrejas Nossa
jada pela revolução de Pernambuco, em atendida”, diz a Enciclopédia. Senhora da Vitória (matriz) e Nossa Se-
1817 a comarca de Sergipe foi elevada à A partir de 1910, São Cristóvão ressur- nhora do Rosário dos Homens Pretos; o
categoria de Capitania Independente, atra- ge, com suas terras fertilíssimas, a vantajo- Mosteiro de São Bento e o Convento da
vés do decreto de 8 de julho de 1820, o qual sa posição geográfica da cidade às margens Ordem Terceira do Carmo. São importan-
rompia todos os laços com a Bahia, sendo de um rio navegável e os excelentes ma- tes, também, os sobrados onde funcionava
nomeado como primeiro governador de nanciais de água que circundam. Em de- a antiga cadeia pública; o da Rua das Flo-
Sergipe o brigadeiro Carlos César Burla- zembro de 1911, instala-se na cidade uma res; o da Castro Alves e de Balcão Corrido,
marque. Esse governo não teve duração, grande fábrica de tecidos. Em 1913, che- com forte influência mourisca, provavel-
porque a Bahia enviou tropas a São Cristó- gam por lá os trilhos da Viação Férrea Fe- mente do século XIX.
vão para depor o governador e o levaram deral Leste Brasileiro, ligando São Cristó-
preso para Salvador. vão a Aracaju e Salvador. Daí em diante, De cidade operária
Mesmo antes de o decreto ter entrado desenvolve-se o surto industrial no municí- a pólo turístico
em vigor, São Cristóvão sempre se mani- pio. Novas fábricas se instalam no interior
festava a favor da independência do Brasil. e na sede, e a povoação cresce. * JOSÉ THIAGO DA SILVA FILHO
E quando o general Labatut entrou em Ser-
gipe em outubro de 1822, instalou um go- Patrimônio Histórico Nacional Em 1911, o sancristovense José Siqueira
verno provisório, independente da Bahia. de Meneses (1852-1931) assumiu o Gover-
Em sessão solene, a Câmara de São Cristó- Tombada pelo Patrimônio Histórico no do Estado. Sua gestão mostrou-se pro-

CINFORM 237
clore e Agente de Turismo pelo Progra-
ma de Capacitação Solidária demonstra
o fato. Portanto, falta o empenho dos
órgãos federais, estaduais e municipais,
responsáveis pelo zelo e restauração do
seu patrimônio cultural. Resumindo: falta
compromisso e boa vontade. Enquanto
isto, a velha capital aguarda. C

* Presidente da Acasc, formado em História pela UFS


e pesquisador da história de São Cristóvão/SE (colabo-
rou José Lúcio Batista Silva).
Igreja Matriz: construída pelos padres jesuítas Artista plástica Vesta Viana e Jorge Amado,
no início do século XVII em 1970, quando se conheceram
Filhos Ilustres
Eugênio Guimarães Rabelo: jornalista e mé-
gressista e arrojada, favorecendo o renasci- lismo como solução dos problemas nacio- dico, participou da guerra do Paraguai
mento econômico de São Cristóvão, atra- nais. Fábrica era sinônimo de progresso.
Ismael Pereira Leite: escritor, ator e diretor
vés da inauguração da linha férrea Salva- Durante quase trinta anos as fábricas, teatral
dor-Propriá (1911), cortando a cidade no inclusive a beneficiadora de algodão Sergi-
sentido sul/norte; além da fundação da fá- minas, responderam pela renda da popula- Ivo do Prado Montes Pires França: Gene-
ral do Exército Militar e escritor. Um dos funda-
brica têxtil Sam Christovam Industria S.A. ção de São Cristóvão. Nesse período a cul- dores do Instituto Histórico e Geográfico de Ser-
(1912). Esses acontecimentos se comple- tura local viveu os anos de ouro: Cine Fa- gipe
tam, pois a grande função da Chemis de bril, Cine Tryanon, Candango’s Bar, clu- Joaquim José de Oliveira: historiador
Fer (estradas de ferro) era escoar mercado- bes, etc. Da mesma forma floresciam os
rias para os portos soteropolitanos (Bahia). esportes, times como o Industrial, Operá- José da Costa e Silva: poeta
A fase industrial da cidade começa, por- rio, Palmeiras e Juvenil revelaram craques. Apulcro Mota: jornalista e político
tanto, em 1912. Depois desse ano, muitas A Fábrica São Gonçalo faliu em 1969,
Antônio Carmelo: historiador e vigário
famílias chegavam diariamente à ex-capi- em seguida a Vila Operária foi abando-
tal. Aracaju, apesar de possuir indústrias, nada pelos seus moradores. Muitos dei- Frei José de Santa Cecília: Músico que
estava com o mercado de trabalho satura- xaram a cidade para nunca mais. Já a fá- adaptou o Hino de Sergipe. Religioso francisca-
no, maior orador da província
do, a insalubridade e as péssimas condições brica Sam Christovam sofreu crise irre-
de vida grassavam. Tal situação foi retrata- versível nos anos 70. Entre 1981/82, os José Siqueira de Meneses: militar e políti-
co, participou da Guerra de Canudos
da pelo romancista Amando Fontes (1899- moradores de sua Vila Operária recebe-
1967) em Os Corumbas (1933). Por conta ram a posse das casas como forma de in- Joaquim Pereira Lobo: político e militar
das oportunidades de emprego e moradia, denização. O maquinário da ‘fábrica ve-
Deoclécio Vieira: prefeito operário de São
uma corrente migratória converge para São lha’ foi vendido a empresários de Pernam- Cristóvão
Cristóvão. Ainda que houvesse um exérci- buco e Bahia.
João Nepomuceno Borges (João Bebe
to de reserva, este recorria à maré do Para- A cidade operária extinguiu-se há duas Água): fiscal da Câmara de Vereadores, co-
mopama para saciar a fome. décadas, com ela veio a falência da Fábrica merciante. Organizou protesto contra a mudan-
Em São Cristóvão a maré representava Sam Christovam Têxtil. Até hoje a popu- ça da capital
‘mãe generosa’ dos desvalidos, enquanto a lação espera uma nova realidade que via- Filinto Elysio do Nascimento: jornalista,
fábrica exercia o papel de ‘pai soturno’ dos bilize emprego e renda. Em artigo de abolicionista e promotor
trabalhadores. Nos braços desses díspares 1979, o escritor sancristovense José do José Anunciação Pereira Leite (José Bo-
genitores, muitos foram acolhidos. A fá- Sacramento descreveu as mazelas da nova checha): músico e maestro
brica oferecia emprego, creche, escola, ‘cidade dormitório’.
José Joaquim Pereira Lobo: marechal e
moradia, assistência médica e odontológi- Até hoje, pouco ou nada se fez para reer- político
ca. A cidade operária projetou fatos e gran- guê-la. Desde os anos 70, todos os prefei-
des vultos da história política sergipana, tos tomaram como mote de campanha a Manoel Armindo Cordeiro Guaraná: his-
toriador
sem desconsiderar as centenas de traba- exploração do turismo. A quarta cidade mais
lhadores anônimos. Dentre os mais conhe- antiga do Brasil tem potencialidades histó- Antônio Mota Rabelo: jornalista e polemista
cidos, pode-se citar nomes como Lourival ricas e paisagísticas indiscutíveis. Todavia, Francisco Avelino da Cruz: musicista
Baptista, Valter Franco, Manoel Ferreira, o turismo ainda não ‘decolou’.
Maria Paiva Monteiro (d. Marinete): pro-
Deoclécio Vieira, José Souza e Francisco Temos certeza que nesta nova fase São fessora aposentada. Contribuiu muito com a
Gualberto. Cristóvão será um Pólo Turístico. A po- educação de crianças da cidade.
Os incentivos federais decorrentes da II pulação já demonstrou estar ciente disto.
Guerra Mundial (1939-1945) provocaram Recentes iniciativas da sociedade civil, Texto: CARLA PASSOS
a fundação de outra fábrica têxtil: a Com- tais como a reativação da Associação de Fotos e reproduções: SÍLVIO ROCHA
Fonte: Aspectos Históricos, Artísticos, Culturais e Sociais da Cidade
panhia Industrial São Gonçalo S.A., inau- Cultura Artística de São Cristóvão, a cri- de São Cristóvão, de Ieda Maria Leal Vilela e Maria José Tenó-
gurada em 1945. Não se pode esquecer que ação da Casa do Folclore ‘Zeca de Nor- rio da Silva; Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e Site da
a política getulista disseminou o industria- berto’, a implantação de Cursos de Fol- Emsetur.
São Domingos
população que mais produz farinha
Nasceu como ‘Arraial
da Pindoba’, depois foi
batizado de Feira Nova
até receber o nome da
padroeiro da cidade

A
cidade de São Domingos, a 76 qui-
lômetros de Aracaju, nasceu às mar
gens do Rio Vaza-Barris com a feira
da Pindoba, em 1924. O interesse foi de
um morador que decidiu investir na cria-
ção de uma vila porque a sede do municí-
pio, na época Campo do Brito, ficava dis-
tante mais de dez quilômetros. O municí-
pio hoje é um dos maiores produtores de
farinha de mandioca do Estado, exportan-
do para Aracaju, Lagarto, Itabaiana e até Igreja de São Domingos: festa do padroeiro começou a ser realizada no mês de agosto na
para o Estado de São Paulo. década de 60
A primeira comunidade de São Domin-
gos viveu na Fazenda Uberaba, divisa do animais de uns comiam a plantação de ou- Sapucaia, entre as comunidades de Tapera e
município com Lagarto, onde foi criada por tros. A solução encontrada para acabar com Mulungu, que serviria às duas.
volta do século XVI a Congregação de São os conflitos foi fazer uma cerca que ia des- José Curvelo conseguiu como parceiro
Domingos, quando religiosos foram para de as terras de Chico Félix, no Rio Vaza- José Brasil (o José Brazílio), residente na
lá com o objetivo de catequizar os nativos. Barris, até a tapera da Serra, em Campo do estrada de Lagarto, hoje povoado Lagoa.
Por causa das cheias - as chuvas eram Brito. De um lado criava-se animais, e do Além de achar a idéia muito boa, ele se
constantes e as matas densas -, houve uma outro, cultivava-se a terra. prontificou a ajudar a construir a nova vila.
grande proliferação de doenças. O povo A partir daí, começaram a fazer campanha
morria de febre, disenteria e amarelão, e História da Criação junto ao povo.
toda a comunidade foi obrigada a voltar As duas primeiras casas da vila foram
para São Cristóvão, então capital do Esta- Em 1924, José Curvelo da Conceição, construídas por eles próprios na estrada de
do. residente no Povoado Tapera (antes perten- Simão Dias, no cruzamento das matas com
As casas ficaram abandonadas e, com o cente a Campo do Brito) teve a iniciativa Lagarto. Como ninguém teve interesse de
tempo, viraram ruínas que foram levadas de criar uma vila em sua comunidade. O construir mais casas até 1925, José Ribeiro
para o fundo do Rio Vaza-Barris através objetivo era não ser preciso andar cerca de Andrade chamou o jovem Juvêncio Men-
das corredeiras. O local, denominado Ta- 12 quilômetros até a sede do município para donça de Brito, e os dois se juntaram a
buleiro de São Domingos, continuou aban- adquirir qualquer tipo de mantimento. Por Curvelo e Basílio para dar início à feira, que
donado. Com o início da criação de ani- causa dessa idéia, ele até foi chamado de foi batizada de ‘Pindoba’.
mais soltos, em sua maioria bovinos, surgi- louco, no entanto conseguiu o apoio de al-
ram as pastagens nativas e a região passou a gumas pessoas. Emancipação Política
ser novamente habitada. Confiante na sua idéia, ele se dirigiu até
Mas a partir do momento em que sur- o intendente de Campo do Brito, Arnóbio Em 21 de outubro de 1963, o municí-
giu o interesse pela agricultura, os agricul- Batista de Souza, que incentivou a criação pio foi instalado com o nome de São Do-
tores iniciaram constantes brigas porque os da vila. O lugar escolhido foi o minador do mingos, em homenagem à antiga congre-

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Região: Oeste (agreste)
Distância da capital: 76 Km
População: 9.270
Atividades econômicas: Agricultura (mandio-
ca), produção de farinha e pecuária. Muitos são-dominguen-
ses trabalham na construção civil em Aracaju e a maioria
trabalha na prefeitura.

Primeira casa de farinha do município: réplica


na Praça da Matriz

Mercado tomou o lugar do antigo barracão da


Feira da Pindoba

Produção de farinha de mandioca ocupa


maioria dos são-dominguenses

Máquina empacotadeira de farinha: 30 pacotes


por minuto

gação, e a população adotou como padro- los povoados, destacando-se as de Tapera, ção de mandioca, mas não é suficiente para
eiro São Domingos de Gusmão. A lei de Mulungu, Mangabeira e Lagoa. A ativida- a grande quantidade de farinha produzida
criação do município foi apresentada pelo de é uma tradição antiga no município, sendo por lá. Por isso eles importam a matéria-
deputado Baltazar Francisco dos Santos, de realizada pela maioria dos são-dominguen- prima da Bahia e até de Minas Gerais, para
Ribeirópolis, a pedido do ex-deputado Fran- ses, e que mantém praticamente toda a eco- fazer a farinha que até exportada para São
cisco Vieira da Paixão (suplente na época); nomia. Paulo. “Os profissionais daqui são bons. Eles
Valdomiro Pereira dos Santos; Manoel Al- A farinha produzida no município é trabalham fazendo farinha a vida toda. Tudo
ves da Silva (Cari); e Laurindo Anacleto vendida para Itabaiana e Lagarto, onde é que a pessoa faz sempre, acaba fazendo bem
dos Santos. empacotada como se fosse feita lá. Mas em feito”, acredita Genivaldo.
O município teve como primeiro pre- outubro de 2001, a Associação de Produ- O farinheiro Cícero Nascimento, 58
feito Valdomiro Pereira dos Santos. Após tores de Farinha colocou em funcionamen- anos, do Povoado Lagoa, faz farinha desde
seis meses de emancipação, ocorreu o Gol- to uma máquina de empacotamento e cos- criança com seu pai. “Dá pra viver com
pe Militar de 1964, que ameaçou a inde- tura, para empacotar a farinha produzida minha família. Agora melhorou por causa
pendência dos municípios criados após a no município. da eletricidade, apesar que o apagão está
eleição do presidente deposto. Mas no ano Genivaldo Passos de Andrade trabalha complicando. Quando era manual (rodo) a
seguinte foi permitido que os novos muni- com essa máquina, que tem capacidade para gente se arrebentava. Ali era tempo de ca-
cípios fizessem eleição, quando Valdomiro empacotar 30 pacotes de dois quilos por tiveiro”, lembra ele.
foi eleito democraticamente. minuto. “Aqui tem a melhor farinha do Já José Carlos de Andrade, 45 anos,
Estado. O povo consumia a farinha daqui fabricava farinha, mas há dois anos passou
Produtor da melhor pensando que era de Itabaiana ou Lagarto. a ser apenas pequeno agricultor (mandio-
farinha do Estado Agora, com a máquina, nós vamos empa- ca) e pecuarista (criador de gado). “Eu co-
cotar a farinha com o nome de São Do- mecei a fazer farinha, mas é muita despesa
São Domingos possui mais de 300 ca- mingos”, comemora ele. e pouco lucro. Quando a gente faz as con-
sas de farinha de mandioca espalhadas pe- O município tem uma grande produ- tas, mal dá para pagar as despesas. A gente

CINFORM 241
Serra da Miaba: mais de 50% do território é improdutivo porque possui muitas pedras e serras

investe e não tem recompensa. Eu planto a Como o jovem tinha um temperamen-


mandioca e vendo para quem produz fari- to forte, passou a agredir os visitantes inde- Ponte sobre o Vaza-Barris: usada por gru-
nha”, diz ele. sejados e também a ser agredido. Com isso, po de São Paulo para praticar bungee jumping
Cada saco cheio de farinha custa apenas os comerciantes foram se manifestando a
de R$ 20 a 25,00. Mas tudo da mandioca é favor dele. Os mensageiros do barão senti-
aproveitado: a raspa e as manivas servem ram que o clima estava ficando pesado, nal de Contas da União
de alimentação para o gado. Por causa dis- porque os nativos eram maioria, e recua-
so, a maioria dos farinheiros tem uma pe- ram prometendo que retornariam. Bartolomeu Alves da Silva: bacharel em
quena criação de gado no fundo da casa de Com as ameaças dos empregados do Direito, formado pela Universidade Católica do
Paraná. Escreveu dois livros, com destaque para
farinha. “A farinha não tem preço porque é barão, os comerciantes acharam que o ar-
Almas Gêmeas.
o pobre quem fabrica. Quando o preço raial não sobreviveria. Então José Curvelo
melhora, todo mundo se anima e produz foi até o intendente de Campo do Brito, Elza Ferreira Santos: formada em Letras,
mais farinha. Aí ela sobra na feira”, lamen- Arnóbio Batista de Souza, e fez o relato do dá aulas no Colégio Master, São Luís, Amadeus
ta Cícero. acontecido. O intendente foi procurar o go- e na Escola Técnica Federal de Lagarto.
vernador do Estado, Maurício Graccho Car-
Cidade começou com a feira doso, que se comprometeu em oficializar a Ismael Bispo dos Santos: funcionário anti-
go do Banco do Brasil em Aracaju
da pindoba vila, caso ela tivesse 50 casas cobertas de
telha. A partir dessa promessa, José Curve- Givaldo José da Costa: prestou grande ser-
* HUMBERTO SANTOS FONSECA lo organizou um mutirão para construir o viço ao povo são-dominguense, depois foi mo-
restante das casas, chegando a ultrapassar o rar em São Paulo
São Domingos surgiu às margens do Rio número estipulado.
Vaza-Barris, às sombras da serra da Miaba, Tempos depois o intendente recebeu Estelina Bispo da Lapa: educadora e pri-
meira diretora da Escola de 1º Grau Emeliano
com a beleza natural da pedra da arara, do um telegrama do governador comuni-
José Ribeiro
minador do Brejo, com suas árvores cente- cando sua ida a Campo do Brito, e que
nárias, seu povo trabalhador e digno, sua plan- iria até lá para conferir a situação. De lá Ângela da Conceição Paixão: educadora
tação de mandioca, sendo um dos maiores o trajeto foi feito até o arraial em lom- antiga na cidade
produtores de farinha do Estado. bo de animal, porque só existiam estra-
O município teve no seu início a cons- das de tropeiros. O governador contou Dona Anísia: única parteira da comunidade,
quando não se tinha acesso a maternidades
trução de um pequeno arraial próximo ao as casas até 50 e garantiu que a partir
minador do Sapucaia, na encruzilhada que daquela data ninguém acabaria mais com Josefa Iranildes Santos Fonseca: fiscal de
ligava Campo do Brito a Simão Dias e La- aquela feira nova. Por causa disso, o Tributos do Estado, em Simão Dias
garto. As construções eram de casas de pa- nome do arraial passou a ser conhecido
lha ou taipa. Depois foi construído o barra- inicialmente como Feira Nova. Josefa Argentina Terra: prestou grande ser-
cão da feira, que ficava entre pés de cajuei- Como nossa farinha é conhecida em todo viço à comunidade carente do município
ros e coberto de pindobas. Por isso passou a o Estado, espero que nossas belezas natu-
Maria das Graças Santos: única vereadora
ser chamada de Feira da Pindoba. rais também sejam conhecidas e encantem eleita que cumpriu todo o mandato
Mas houve um pequeno conflito entre visitantes e, principalmente, os são-domin-
os empregados do Barão de Simão Dias e guenses. C Lacerda Chagas: comerciante bem-sucedi-
os comerciantes do arraial. Em um domin- do em Lagarto
go a feira foi invadida por homens monta- * Fiscal de Tributos. Escreveu
dos a cavalo que, por ordem do Barão, que- Lourival Bispo de Jesus: comerciante de
grande influência no município
riam atear fogo em todos os barracos. Filhos Ilustres
Nesta confusão, o jovem Antônio de
Francilina disse que a escritura de seus pais José Carleone Bispo de Jesus: for- Texto: EDIVÂNIA FREIRE
dizia que suas terras iam até as águas do Rio mado em Letras e em Direito pela Univer- Fotos e reproduções: SÍLVIO ROCHA
Vaza-Barris. sidade de Brasília, onde trabalha no Tribu- Colaboração de Humberto Santos Fonseca

CINFORM 242
EM CADA PEDAÇO Depois, conta o pioneiro, foi decretar a extinção da “Era das
Marinetes” em Sergipe, substituindo-as, já nos primeiros 6
meses de vida da pequena Bomfim, por modernos ônibus. As

DESTA TERRA marinetes, veículos típicos dos anos 50, tinham como
características principais o motor dianteiro - que provocava
um barulho ensurdecedor — e o bagageiro no teto.

TEM UM TRECHO Para chegar a municípios praticamente isolados, novas


estradas foram abertas, com as próprias mãos. José Lauro
relembra os casos de Japoatã e Pacatuba, no Baixo São

DESTA HISTÓRIA Francisco, onde era possível chegar apenas montado em


burro. Recorda-se do ano de 1964, quando um temporal fez
desabar a ponte de Itaporanga, único acesso para a Bahia. “A
Bomfim colocou seus ônibus numa balsa e não permitiu o
DESBRAVADORA isolamento de Sergipe”, diz o motorista João Dias, há mais de
Em 1960, nasceu a Bomfim. trinta anos trabalhando na empresa. Com isso, defende o
A empresa abriu estradas pioneiro, “facilitamos o intercâmbio comercial, surgindo
com as próprias mãos, como frentes de desenvolvimento, deixando em cada pedaço desta
costuma dizer seu fundador, terra um trecho de nossa história”. De três marinetes e 10
funcionários em 1960, em 1972 a empresa reunia 112
José Lauro, possibilitou a veículos, cobrindo todo o Sergipe, ainda chegando a capitais e
comunicação entre municípios importantes cidades dos Estados da Bahia, Sergipe eAlagoas.
isolados e o intercâmbio comercial

Para muita gente, a história do transporte rodoviário de Filho segue exemplo do pai
passageiros em Sergipe se divide em dois períodos: uma
antes e outra depois de 24 de fevereiro de 1960, quando “Para vencer tantas limitações, a Bomfim precisou
nasceu a Bomfim. Com o pioneiro José Lauro Menezes apostar na vanguarda, incrementando inovações ousadas”,
Silva nasceu uma nova forma de fazer transporte, resultante opina Raimundo Silva, atuante no sistema de transporte desde
do conceito: “nós não transportamos passageiros, 1965. Ele chama inovações ousadas iniciativas como fundar
transportamos clientes”. Uma precoce necessidade de um serviço leito em 1967, já que com comissário de bordo,
incrementar qualidade a um sistema que vislumbrava o num tempo em que pontos de apoio e betume, era coisa muito
desaparecimento. Basta dizer que a Bomfim resultou de três rara nas estradas. “Aliás, sequer havia as rodoviárias”,
marinetes, o restante do negócio do comerciante Marinho ressalta Silva.
Tavares, que começou com 27 veículos.
Três décadas depois, ano de 1997, o pioneiro endossa o
José Lauro ingressou no ramo disposto a não ceder às Projeto Bomfim 2000, obra de seu filho, Lauro Antônio
adversidades do trecho, como dizia o empresário Oviêdo Teixeira Menezes, o “Laurinho”, que para enfrentar os
Teixeira, seu sogro, primeiro a sugerir a compra das desafios de um mundo globalizado lança os “Aviões da
marinetes. O cenário era completamente favorável ao taxi Bomfim”, base do serviço Top Class, que traz para o cliente do
lotação e ao caminhão pau-de-arara, capazes de resistir às transporte rodoviário privilégios antes restritos a uma minoria
estradas nuas e esburacadas; a chuva, a lama e ao atoleiro. As que podia viajar de avião. Surgem as salas vips, o programa de
marinetes, veículos frágeis, padeciam, por exemplo, aos 96 fidelidade, chek ‘in de bagagem e os moderníssimos ônibus
Km deAracaju para Propriá, cumprido em 6 horas.
panorâmicos plataforma 0-400. No ano 2001, para consolidar
O primeiro passo foi recuperar a credibilidade, a Bomfim do século XXI, a empresa traz para Sergipe os
garantindo o cumprimento dos itinerários. Foram colocados ônibus Double-Deck, dois pisos, inaugurando o serviço Top
tratores nas estradas para romper qualquer dos obstáculos. Class Gold, o que há de mais moderno no mercado.
São Francisco
tem o maior
cajueiro de Sergipe
Município já se chamou
Jacaré e pertenceu a
Propriá e a Cedro de
São João

O
município de São Francisco
surgiu com o nome de Jacaré, por
causa de um pequeno riacho com
esse nome, que passava nas proximidades,
e no qual, segundo os mais antigos, havia
um jacaré. Foi às margens desse riacho, que
hoje se chama Galante, que em 1860
Antônio Caldas, considerado o fundador da Vista aérea de São Francisco, cidade foi fundada em 1860
cidade, construiu um engenho e algumas
casas.
Em 1870 o povoado tinha uma escola, Emancipação mente o município tem quatro povoados:
um cemitério, um açude e uma capela, tudo Pau da Canoa, Nascença, Piçarreira e Lajes.
construído por Antônio Caldas. A partir Segundo Neildes, no final da década de Em novembro de 1963, Antônio Nas-
daí, o pequeno povoado passou a se chamar 60, em São Francisco havia 522 residên- cimento foi eleito primeiro prefeito. De-
São Francisco, tendo como padroeiro São cias, sendo que a maioria era de taipa. A pois foram eleitos José Nascimento (1966);
Francisco de Assis. Os moradores viviam cidade era abastecida pela água do Riacho José Normando da Mota Guimarães
da pesca no riacho, plantio de algodão e do Galante. “Como não havia água encanada, (1971); Luiz Nascimento (1973); Erivaldo
corte de cana, toda ela enviada para o en- nós buscávamos água em potes de barro e Barbosa Ramos (1977); Luiz Nascimento
genho de Antônio Caldas. em latas. Era um sacrifício muito grande (pela segunda vez em 1982); Maria Lúcia
De acordo com as pesquisas da profes- por causa das ladeiras. Quem tinha condi- Santos Nascimento (1988); Ailton Nasci-
sora aposentada Neildes Marques Nasci- ções, pagava para uma pessoa buscar com mento (1992); Erivaldo Barbosa Ramos
mento, a população era muito pobre, com burro”, lembra Neildes. (pela segunda vez em 1996); e Ailton Nas-
casas de taipa e muito frágeis. “Chovia Hoje, o município ainda é abastecido cimento (em 2000 pela segunda vez).
muito e a chuva chegava a derrubar as casas pelo riacho, só que a água é encanada. O
dos moradores. Havia também uma senza- riacho é também utilizado por mulheres que Maior cajueiro de Sergipe
la onde viviam os escravos de Antônio Cal- lavam roupa na lavanderia pública, instala-
das”, informa ela. da às suas margens. Assim como em Natal-RN, que tem o
Em 1945 a cidade passou a ser ilumi- Até 1927, São Francisco pertencia a maior cajueiro do mundo, o município de
nada por lampiões a gás, que eram acesos Propriá. Em 1928 passou a pertencer ao São Francisco, no povoado Piçarreira, a seis
às 18 horas e apagados às 22 horas, por município de Cedro de São João, que foi quilômetros da sede do município, também
Hortêncio e Izaul. Em 1951 houve uma desmembrado de Propriá. No ano de 1954, tem um gigantesco. O cajueiro mede 2.438
festa de inauguração da luz elétrica a através da Lei nº 554, de 14 de fevereiro, o metros quadrados, 194 metros de circunfe-
motor, implantada pelo prefeito de Cedro povoado passou à categoria de vila. A Lei rência e 76 metros de diâmetro, sendo con-
de São João, Euclides Ferreira. Só a partir 115 A, de 17 de junho de 1963, elevou São siderado o maior de Sergipe.
de 1956, a luz passou a vir da hidroelétrica Francisco à categoria de município, sendo No povoado, ele é um ponto de en-
de Paulo Afonso. desmembrado de Cedro de São João. Atual- contro, já que seu formato parece um circo,

CINFORM 244
Região: Leste (Baixo São Francisco)
Distância da Capital: 85 Km
População: 2.528
Principais atividades econômicas: pecuária
(bovinos), agricultura (mandioca, milho e feijão), piscicultura
(tilápia, bambá, tambaqui, tambacu e carpa)

Igreja Matriz de São Francisco: festa do


padroeiro acontece no primeiro domingo de outubro
de um povo humilde e hospitaleiro
recebeu esse lindo nome
folclóricos como guerreiro, reisado, em homenagem ao padroeiro
bumbeiro com flauta, entre outros.
“Hoje já não existem mais, talvez por Os antigos contavam
causa da divulgação de outras culturas”, de um engenho existente
lamenta Neildes. Atualmente as e que moravam ali por perto
principais manifestações culturais são a trabalhando para aquela gente
comemoração de Santos Reis, realizada
em 6 de janeiro com a tradicional festa O senhor Antônio Caldas
fornecendo muita sombra. “A gente sem- da cabacinha; a missa do vaqueiro, dia 4 Homem de fé e princípio
pre costuma se encontrar aqui para con- de junho; a festa da emancipação em 1860 fundou
versar”, diz a estudante Maria do Socorro política, dia 17 de junho; e a festa de o nosso município
Santos, moradora do local. Embaixo desse São Francisco de Assis, padroeiro da
cajueiro já foram realizadas muitas missas. cidade, que acontece todos os anos no O ilustre Antônio Caldas
O cajueiro Pirangi, em Natal, tem primeiro domingo de outubro, com senhor de bom coração
8.400 metros quadrados e já entrou para o missa festiva, procissão e shows. construiu a primeira escola
Guiness Book, o livro dos recordes. Seu dando início à educação
tamanho corresponde a um conjunto de Nossa cidade São Francisco
70 cajueiros de porte normal. O No ano de 1928
crescimento exagerado deve-se a uma Vamos contar a história para liberdade dessa população
anomalia genética. Provavelmente o do nosso município o município liberta-se de Propriá
cajueiro de São Francisco tenha a mesma o passado Jacaré para pertencer a Cedro de São João
anomalia, mas até agora não foi o presente São Francisco
pesquisado, segundo informações. Nossa cidade ficou iluminada
O de Natal tem aproximadamente 100 Por causa de um riacho com a luz de lampião
anos e é um ponto turístico situado a 25 denominado Galante em 1945
quilômetros da capital, gerando emprego no passado recebeu saímos da escuridão
para as pessoas que moram próximo. O de esse nome interessante
São Francisco até agora não foi explorado Dando progresso a nossa cidade
turisticamente. No ano de 1847 com a luz da cachoeira
foi construída a Igreja Matriz o prefeito Antônio Melo
Manifestações culturais tendo como padroeiro iluminou a cidade inteira
do município São Francisco de Assis
Com a nossa independência
São Francisco já teve vários grupos São Francisco é uma cidade libertando-se mais uma vez

CINFORM 245
Praça da Igreja Matriz de São Francisco
de Assis

Cajueiro gigante: 2.438 metros quadrados


Lagoa de São Francisco, já foi lugar de lazer
da população, hoje está poluída

Neildes: “São Francisco já teve vários grupos


folclóricos”

Filhos Ilustres

Antônio Caldas: fundador da cidade

Antônio Nascimento: primeiro prefeito

Marcos Rocha: vereador mais bem votado


da história de São Francisco, eleito pela tercei-
ra vez

Neildes Marques Nascimento: professo-


ra, atualmente aposentada, foi muito importan-
te para a educação do município. Sempre se
preocupou em resgatar a história do município
Farinha de mandioca, uma das principais atividades econômicas
João Augusto Guimarães: médico
pediatra. Costuma atender a comunidade local
passamos a ser cidade após seu desmembramento gratuitamente
em 17 de junho de 1963 esperamos que a cada gestão
aumente seu desenvolvimento Jânio Nascimento: dentista
Eleito pela primeira vez
Armon Nascimento: economista
para o nosso desenvolvimento * Elaborado pelas professoras Angenalda Cavalcante
durante três anos foi prefeito Xavier, Eliana Maria Barbosa Araújo, Evânia Maria Barbo- Texto: CARLA PASSOS
o senhor Antônio Nascimento sa Santana, Lindinalva Amaro Santos Firmino, Maria José Fotos e reproduções: HERIBALDO MARTINS
Trindade Guimarães, Maria Rosa Neta, Marilene Vieira de Fonte: pesquisa da professora aposentada Neildes Marques
Nascimento
Nossa cidade cresceu Araújo, Vicélia Rocha Nascimento. C

CINFORM 246
Aleixo a cidade da lenda da sereia
Povoação surgiu com
a implantação
de uma bodega de
secos e molhados
no local onde aconteceu
a primeira feira

A
povoação de São Miguel do Aleixo,
a 95 quilômetros da capital, come
çou a se formar nos anos 20, a partir
da implantação de um comércio de secos e
molhados praticamente no meio da mata.
Mas o crescimento só começou a acontecer
por volta de 1938, com a chegada de Domí-
cio José das Graças, homem reconhecido
como o principal fundador da localidade,
juntamente com Manoel Barreto Santos.
O nome do município, que tem como Pedra da Sereia: ponto turístico do município
ponto turístico a pedra da sereia, foi criado
especialmente para homenagear o pai de do seu filho José Jairson da Graça) lutava rebate o lavrador e pescador Rivaldo Alves
Domício, Miguel das Graças, e o padre para emancipar sua comunidade. A eman- de Gois.
Aleixo. O fundador da povoação resolveu cipação do município aconteceu no dia 26 No entanto, a mãe de Rivaldo diz que
investir no crescimento, e começou a com- de novembro de 1963, através da lei nº uma prima dela afirmava que já tinha visto
prar terras e a convidar mais pessoas para 1.232, quando a povoação já contava com essa sereia. “Meu pai também dizia que um
morar no lugar. Em um ano Domício for- 206 moradias e cerca de 600 habitantes. homem tinha visto. Se é uma lenda, eu não
mou o povoado que passou a se chamar sei. O que eu sei é que naquele lugar tem
Lagoa do Aleixo. A sereia e a Pedra do Oratório um poço que ninguém nunca viu o fundo,
Quando Domício chegou ao pequeno nem em (19) 33, quando secou tudo por
lugarejo, já havia dois moradores: Manoel O município de Aleixo é banhado pelo aí”, lembra dona Marina.
Barreto Santos e Eliziário Francisco dos Rio Salgado, que deságua no Rio Sergipe. Ela conta que durante a seca vinha gado
Santos. Este último, dono da primeira bo- No limite com o município de Feira Nova, de toda a região para beber nesse poço que,
dega onde foi armado um barracão de lona distante cerca de 4,5 quilômetros da sede, acredita, tem alguma coisa de sobrenatu-
e realizada a primeira feira. Tempos depois, possui um ponto turístico conhecido como ral. “De tarde diminuía a água, mas pela
nesse mesmo local, foi construído o merca- a Pedra da Sereia ou Pedra do Oratório. manhã estava cheio de novo. Nunca nin-
do da feira. A força de Domício era tão Nesse local fica um acúmulo de água, onde guém topou no fundo dele. Quando seca o
grande na redondeza, que ele conseguiu os moradores tomam banho e até pulam poço maior, fica um menor, tipo uma pia
eleger seu filho, José Airton das Graças, das altas rochas encravadas na beira do rio. de dois metros”, diz dona Marina.
vereador de Nossa Senhora das Dores, an- Segundo Marina Francisca dos Santos, Rivaldo não acredita que exista realmente
tiga sede da povoação. 78 anos (filha do primeiro morador e da a sereia, mas confessa que tem medo de entrar
Ao mesmo tempo em que representa- primeira parteira do município), existe uma no poço. “Eu sou pescador. Conheço tudo
va seu povoado na Câmara de Vereadores história antiga sobre uma sereia que saía do por ali. Entro no poço grande, mas nesse
de Dores, José Airton (prefeito de Aleixo rio e ficava sentada nesse oratório no meio lugar eu nunca tive coragem de ir. Eu respeito,
por quatro legislaturas e atual vice-prefeito do rio. “Mas essa história é uma lenda”, tenho receio de entrar”, diz ele.

CINFORM 248
Região: Norte (semi-árido)
Distância de Aracaju: 95 km
População: 3.441
Atividades econômicas: Agricultura (milho,
feijão, mandioca) pecuária (Rebanho de corte e vacas leiteiras)

Juscileide (à esq.), atual secretária de Saúde:


pote na cabeça nos anos 80

Aleixenses conquistam ramo


de funerária em Aracaju

Por incrível que pareça, existem seis


empreendimentos no ramo funerário bem-
sucedidos em Aracaju pertencentes a em-
presários aleixenses. Tudo começou há mais
de 20 anos, quando Washington Oliveira
Campos fundou a Funerária Sergipana, em
sociedade com o irmão Wbelington Oli- Praça Oliveira Campos: reformada recentemente
veira Campos (Bebeto), e tendo como
funcionário o primo Genisson Vasconcelos. nerárias de Sergipe, já havia saído da Sergi- o grupo. O Osaf começou fazendo apenas
Tempos depois Wbelington resolveu pana e aberto a Nacional. “Todos os ramos velório, mas agora transformou-se também
sair da empresa e mudar de ramo. Abriu são bons, contanto que você seja um bom num plano de assistência a familiares. Os
uma lanchonete, depois uma sorveteria, administrador e tenha bastante conhecimen- assegurados pagam uma taxa por mês e têm
mas logo depois chegou à conclusão de que to dele. Hoje o serviço de funerária deu direito ao variado serviço prestado por eles.
o ramo bom para ele era mesmo o de fune- uma guinada. Não é só venda de caixão, é Segundo Genisson, o ramo de funerária
rária. Abriu a Santo Antônio, junto com uma prestação de serviços. Dá pra investir vem dando certo porque está evoluindo.
outro primo, o George Alberto Campos, e ter retorno”, diz ele. Eles estão buscando novos conhecimentos
que acabou se separando dele depois e con- Foi pensando nisso que os quatro em- em seminários, palestras e, inclusive, já par-
seguiu se destacar abrindo duas funerárias: presários aleixenses, antes concorrentes, re- ticiparam da Fune-Expo, que acontece
a Mundial e a Millenium. solveram se unir e fundar, em 1999, o Vela- anualmente em São Paulo. “O Osaf quer
Antes disso, o primo Genisson Vascon- tório Osaf - Organização Social de Assis- mudar o conceito de funerária no Estado,
celos, atual presidente do Sindicato das Fu- tência à Família - para fortalecer ainda mais oferecendo um serviço organizado, de qua-

CINFORM 249
Praça da Igreja Matriz de São Miguel

Vista aérea de São Miguel do Aleixo

Fonte do Aleixo: abasteceu a cidade até


1985, antes da água encanada
lidade e respeito, também para pessoas da
classe de menor poder aquisitivo”, destaca
Genisson. Filhos Ilustres
Eliziário Francisco dos Santos - primeiro
Aleixo da minha infância morador do município

Domício José das Graças - principal funda-


*RIVALDO ALVES DE GOIS
dor do Povoado Aleixo

Aleixo da minha infância José Airton das Graças - vereador de Do-


res, prefeito por quatro legislaturas e atual vice-
Era um pequeno lugarejo prefeito
Rodeado de muitas matas Rivaldo e Marina lembram a história da sereia
Com lindos arvoredos Jairton José das Graças - administrador, di-
Onde cantavam os pássaros Tinha bonitas quadrilhas retor de arrecadação da Secretaria da Fazenda

Ao romper da aurora de manhã cedo Que Aflaudísio (Oliveira Campos) anima- José Jairson da Graça - advogado, ex-dele-
va gado em Aracaju, defensor público e atual pre-
Nesta época tudo era difícil Com lindas moças vestidas de chita feito
Não tinha facilidade Os cavalheiros dançavam Gileide Barbosa de Souza - jornalista, filha
Até para se ouvir a missa Todo mundo ficava com saudades de Pedro (Venâncio) Barbosa de Souza, des-
Era grande a dificuldade Quando a festa terminava portista que teve grande influência na política e
no desenvolvimento econômico da povoação
O padre vinha montado em burro de Aleixo
Atender a esta comunidade Ainda me lembro, na década de 60
Daqueles dramas teatrais José Genivaldo Garcia - formado em Filoso-
Que a senhora Clarice (Campos) fia e Teologia, padre da Paróquia São Francisco
Agora falo em outro homem de Assis, no Santos Dumont e diretor acadêmi-
Que não posso esquecer Com competência comandava co do Seminário Maior
De Ozino, o professor O povo todo aplaudia
Que ensinou muita gente ler As moças que interpretavam Genival Alves Fonseca - comerciante bem-
sucedido em Aracaju do ramo de móveis
Que ainda tem o respeito
Daqueles que ainda sabem lhe agradecer Os jovens são a esperança Wellington Oliveira Campos - advogado,
De que vai continuar funcionário federal, ex-coordenador regional da
Secretaria Especial de Ação Comunitária da Pre-
Hoje vejo Aleixo O progresso da cidade sidência da República
Muito diferente do passado Para saber administrar
Tem água encanada Tem que conhecer bem Texto: EDIVÂNIA FREIRE
Jorrando por todo o lado A história do lugar C Fotos e reproduções: EDSON ARAÚJO
Que vem do Rio São Francisco Fonte: Literatura de cordel, de Rivaldo Alves de Gois.
Colaboração de Josival e Juscileide Garcia
Divisa de outro Estado * Lavrador

CINFORM 260
Simão Dias
têm uma das mais belas e ricas histórias
Dos tapuias aos
Carvalho Deda,
o município possui
uma fantástica
e marcante história
em Sergipe

U
ma pena o espaço ser tão peque
no para contar uma das mais
belas e ricas histórias sergipanas.
Simão Dias ou Anápolis - para muitos a
dúvida ainda persiste -, foi um celeiro
político-econômico de grandes e influ-
entes famílias que marcaram toda a his-
tória de Sergipe.
Os primeiros habitantes de Simão Dias,
o terceiro município em altitude no Esta-
do, foram remanescentes dos índios tapui-
as. A grande nação indígena, que vivia no
litoral, foi praticamente dizimada quando
o violento Luiz de Brito, governador da Matriz de Nossa Senhora Santana: marco da cidade
Bahia, recebeu a missão de conquistar Ser-
gipe. Os sobreviventes, embrenharam-se controu porto seguro no Caiçá, reforçan- Açúcar e Igreja
nos sertões. do aquela povoação.
Um grupo deles foi se abrigar num lugar Existe uma discussão sobre quem deu O povoamento de Simão Dias pertencia
de densas matas verdes, onde “corriam leite o nome ao município. O deputado, jor- à Vila do Lagarto. Um grande usineiro la-
e mel”. Os tapuias construíram uma forta- nalista e historiador José de Carvalho gartense, Manoel de Carvalho Carregosa,
leza. Uma cerca de pau-a-pique, chamada Déda revela a coincidência de três ou comprou terras nas proximidades do Cai-
de caiçara, foi erguida às margens de um quatro homens com o mesmo nome. çá, montou um engenho e passou a criar
rio que mais tarde ganhou o nome de Cai- Em agosto de 1599, o capitão-mor gado. O engenho se desenvolveu tanto, que
çá. Só no início de 1600, iria nascer naquela Diogo de Qoadros passa as terras para em volta formou-se uma feira. Como a mu-
região a aldeia de Simão Dias. um Simão Dias. Em janeiro de 1602, lher de Carregosa, Ana Francisca de Mene-
Manoel M.B. dá a sesmaria a outro Si- zes, era muita religiosa, eles decidiram er-
Invasão Holandesa mão Dias. Em fevereiro de 1607, An- guer uma capela nas proximidades. Surgia
tônio de Carvalho repassa as mesmas então a futura Igreja Matriz de Nossa Se-
Quando Caiçá começava a se desen- terras a três donatários, entre eles, Si- nhora Santana.
volver como povoamento, Sergipe sofreu mão Dias Fontes. Ana e Carregosa doaram um pedaço de
a invasão holandesa. Os soldados avan- O que se sabe é que um Simão Dias fi- terra para a construção da capela, e mais 30
çam. Isso levou o fazendeiro Braz Rabe- xou residência por lá e abriu uma venda. vacas, “cujo rendimento deveria ser aplica-
lo, que tinha um grande rebanho em Ita- Era um ponto certo de parada para quem se do na compra de cera, vinho e hóstia e nas
baiana, a mandar seu vaqueiro Simão aventurava pelos sertões que uniam Sergi- demais despesas com a administração do
Dias Francês fugir com o gado. Ele en- pe e Bahia. sacrifício da missa”. Em 1826, os habitan-

CINFORM 251
Região - oeste de Sergipe
Distância de Aracaju - 100 km
População - Cerca de 35 mil
Atividades econômicas - Agricultura e
pecuária

tes da povoação, filial da matriz de Nossa


Senhora da Piedade do Lagarto, pediam a Grupo Escolar Fausto Cardoso: base da formação
elevação da capela à freguesia. Uma guerra
eclesiástica começava a ser travada. O mo- de, que ganhou uma medalha de ouro na Disse ele: “S. Ana, a padroeira da paró-
vimento pró-freguesia era comandado por Exposição Nacional do Rio de Janeiro. quia. Ana, a fundadora. Ana Freire, mulher
Domingos José de Carvalho, neto de Ana. do comendador Sebastião da Fonseca”. Ao
Só em fevereiro de 1834, depois de in- Forte imprensa de Simão Dias final do sermão, o padre pede que os políti-
tensas discussões, a capela torna-se Fregue- cos mudem o nome da cidade de Simão
sia de Nossa Senhora Santana. O primeiro A imprensa em Simão Dias foi uma das Dias para Anápolis (Cidade de Ana). Foi
vigário foi padre José Francisco de Mene- mais importantes de Sergipe. A seguir, ape- um rebu desgraçado. Logo duas correntes
zes, parente do casal doador. nas alguns jornais que circularam no muni- apareceram. Os “simãodienses”, defenso-
cípio: A Idéia - do escrivão e redator Ma- res do nome de Simão Dias e os “mudan-
Vila e República nuel Júlio da Silva; O Simãodiense - do cistas”, que queriam o nome de Anápolis.
jornalista Quinto Monte Santo; Cometas - A disputa ganhou os jornais da cidade e
Por lei de 15 de março de 1850, a Fre- do jornalista Leopoldino de Santana; A Luta de todo Sergipe. Muito influente, o padre
guesia de Santana se transformou na Vila - do jornalista Emílio Rocha; O Progresso João de Matos saiu-se vitorioso. Em 25 de
da Senhora Santa Ana de Simão Dias. To- - do jornalista Humberto Freire de Carva- outubro de 1912, o presidente do Estado,
dos os historiadores, para provar o nível de lho; O Oráculo - de Arivaldo Prata; O José Siqueira de Menezes, sanciona a lei
progresso da vila, revelam que foi em Si- Sergipe - do farmacêutico João de Deus mudando o nome de Simão Dias para Aná-
mão Dias o primeiro local de comemora- Teixeira; A Semana - do jornalista José polis. Os “simãodienses” não se davam por
ção da Proclamação da República. O fim Carvalho Déda; O Quinze, A Voz da Mo- vencidos e buscaram apoio do então depu-
do regime monárquico ocorreu em 15 de cidade, entre outros. tado federal e historiador Felisbello Freire,
novembro de 1889, e a notícia chegou a e conseguiram. Mas só em 7 dezembro de
Simão Dias em 21 do mesmo mês. A vila Simão Dias passa 32 anos 1944, Anápolis deixa de existir, e o nome
logo se transforma em cidade em 12 de como Anápolis da cidade volta a ser Simão Dias.
junho de 1890. Seu primeiro intendente,
escolhido por eleição, foi o coronel e advo- Dentre as muitas histórias de Simão O primeiro automóvel
gado Rafael Arcanjo Montalvão. Dias, uma das mais fantásticas é a da mu-
Simão Dias teve uma forte economia, dança do nome da cidade. Em 6 de janeiro Veja, na íntegra, o texto de 1966 do his-
baseada na cana-de-açúcar, na farinha, no de 1911, ocorria a solene reinauguração da toriador Carvalho Déda sobre a chegada
café, na pecuária e na indústria de couro. igreja de Santana. As obras foram feitas do primeiro automóvel em Simão Dias.
Na década de 50, por exemplo, chegou a pelo comendador Sebastião da Fonseca An- “Até o ano de 1920, o que havia em
ter dez indústrias de calçados. O comércio drade, depois Barão de Santa Rosa. O ser- Simão Dias, de mais luxo e conforto em
era tão intenso, que eram corriqueiras as mão, feito pelo padre João de Matos Freire transporte era a liteira, uma espécie de ca-
transações com São Paulo, Rio de Janeiro, de Carvalho, descendente do casal doador marinha de madeira leve, com portas late-
Recife e Salvador. O município de Simão da capela, foi um relato da importante his- rais e pequenos postigos de ventilação, sus-
Dias tinha tanto café, e com tanta qualida- tória de Ana Francisca de Menezes. tentada por dois varais compridos, onde

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Simão Dias: história viva nas ruas

eram atrelados dois burros, um adiante e recreativa pelo Sul do País. Filhos Ilustres
outro atrás. Durante alguns meses a cidade não co-
Três grandes famílias foram os pilares da histó-
Por essa época apareceu o primeiro auto- mentava outra coisa. ria de Simão Dias: os Prata, os Déda e os Car-
móvel na cidade, que foi, no Estado, a ter- Surgiu o anedotário. valho. Foram e são intelectuais, industriais, ju-
ceira a possuir este gênero de transporte. A Conta-se que o ferreiro Roque Felici- ristas e, principalmente, políticos de grande pro-
jeção nacional. Alguns nomes: deputado e ju-
primazia coube a Aracaju; em segundo lu- ano de Macedo, lunático, constantemen- rista Antônio Manoel de Carvalho Neto,
gar, Estância. te preocupado com almas do outro mun- desembargador Gervásio de Carvalho Pra-
A primazia, em Simão Dias, coube ao do, lobisomem, mulas-sem-cabeça e ou- ta, monsenhor João Batista de Carvalho
coronel Felisberto Prata, rico e progressista tras aparições sobrenaturais, havia dei- Daltro, padre João de Matos Freire de Car-
valho, o deputado José de Carvalho Déda,
comerciante da praça. xado sua produção de alho, a secar, es- antropólogo e diplomata Paulo de Carvalho
Um dia, a cidade alvoroçou-se, repenti- palhada em frente de sua casa, na rua do Neto, jornalista e escritor Paulo Dantas, com-
namente, com um estranho ruído de má- Lagarto. positor e maestro Zótico Guimarães e o ex-
deputado federal e atual prefeito de Aracaju
quina e um fonfonar contínuo. Era um au- Ao ouvir o estranho barulho do Ford, Marcelo Déda. Boa parte deles estudou no
tomóvel “Ford”, preto, novo, de capota correu para acudir a seus alhos. E qual não Grupo Escolar Fausto Cardoso.
conversível, correndo, aos trancos e bar- foi a sua surpresa ao deparar-se com a má- Três filhos de Simão Dias chegaram ao Gover-
no de Sergipe: Sebastião Celso de Carva-
rancos, pelo calçamento irregular das ruas. quina preta, correndo por cima de paus e lho, Delmiro da Silveira Góes e Antônio
Uma surpresa! Poucos conheciam aquela pedras, sem lenha nem água! O Ford fez Carlos Valadares.
espécie de veículo. A população inteira saiu uma curva rápida, salvando os alhos do
de suas casas para ver a grande novidade. Mestre Roque, deixando este estupefato,
Texto: CRISTIAN GÓES
Ao lado de um chofer empertigado e en- sem compreender a “visagem”. Olhou por Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
fatuado, o coronel Felisberto Prata, eufóri- cima dos óculos sujos, persignou-se e gri- Fonte: Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano e Simão
Dias: Fragmentos de sua História, de Carvalho Déda; Matas de
co, cumprimentava os curiosos com o seu tou: - Tá bêba, porca dos óio de vrido! Tu Simão Dias, de padre João de Matos Freire de Carvalho; En-
chapéu duro, de palhinha. Era a sua entrada qué cumê meus áios?!” C ciclopédia dos Municípios Brasileiros e colaboração de Denisson
Déda.
triunfal na cidade, depois de uma excursão
Siriricomeçou com uma aldeia de índios
Município se chamou
Pé do Banco, já teve
14 engenhos e hoje
se destaca pela
extração de petróleo

O
s primeiros habitantes do municí
pio de Siriri, a 55 quilômetros da
capital, foram indígenas que se
mudaram da aldeia de Japaratuba. Eles se
estabeleceram em um lugar chamado Re-
manso, onde hoje fica a Praça Jackson de
Figueiredo. Os indígenas elegeram Siriri,
irmão do cacique Sérgio, como chefe. Siriri
também era o nome do rio que passava nas
proximidades da taba. Igreja Matriz Jesus, Maria e José
De acordo com a Enciclopédia dos Mu-
nicípios Brasileiros, a tribo, levada por seu Freguesia desde 1700, Pé do Banco só foi metade do século XX existiam 14 engenhos de
espírito nômade, logo depois mudou-se. confirmada nesta categoria pela Lei pro- cana-de-açúcar em Siriri. “Todos eles foram
Quando os índios foram embora, algumas vincial nº 24, de 6 de março de 1839. extintos. Como essa era a principal atividade
pessoas construíram as primeiras casas. A No povoado havia a paróquia Jesus Maria econômica, o município, que antes era rico,
povoação recém-criada, que depois origi- e José, construída pelo arcebispo d. João ficou pobre e decadente. Só em 1964, quando
nou a cidade de Siriri, chamava-se Pé do Franco de Oliveira. Seu primeiro vigário foi o petróleo foi descoberto no subsolo de Siriri,
Banco. Os moradores mais antigos da ci- o padre Manoel Carneiro de Saá, que tomou que a situação melhorou, mas mesmo assim
dade afirmam que esse nome surgiu por- posse em 18 de fevereiro de 1700. “A paró- não voltou a ser como antes”. Hoje a principal
que as mulheres do povoado costumavam quia media dez metros de comprimento e renda do município continua vindo do petróleo.
lavar roupas no riacho próximo, sentadas quatro de largura, habitavam dois mil bran-
em bancos, e uma delas esqueceu o cachim- cos, dois mil pretos e três mil e quinhentos Manifestações culturais de Siriri
bo no pé do banco. de diversas misturas, sendo um total de 7.500
Em 1637, na época da invasão dos holan- habitantes, que trabalhavam na lavoura da A principal festa do município é a come-
deses, Sergipe já contava com 400 currais, cana”, informa a Enciclopédia. moração do dia de Santos Reis (6 de janeiro).
distribuídos por todo o território. Entre eles Em 26 de março de 1874, o município A professora aposentada Deusdete Santos
estava o de Camarão, localizado na Vila Pé do de Siriri foi criado, com sede no antigo po- diz que hoje em dia a festa perdeu sua carac-
Banco, entre os rios Siriri e Ganhamoroba. voado Jesus Maria e José do Pé do Banco, terística. “Antigamente era muito melhor,
Em 1811, foi criada a vila de Japaratuba, sendo desmembrado do território de Divi- havia um parque, barraquinhas (onde ven-
desmembrada de Pé do Branco, cujos limi- na Pastora. Hoje, a cidade possui nove po- diam doces e bebidas) e as cabacinhas - tradi-
tes deveriam ser pelo Rio Siriri até Piran- voados: Sabinopolense, Itaperoá, Fazen- ção de origem portuguesa que consistia em
has, engenho do Padre João Gomes de dinha, Mata do Cipó, Castanhal, Vila Nova, colocar água de cheiro dentro de uma caba-
Melo, e daí seguir pela estrada da Serra Lagoa Grande, Siririzinho e Piranhas. cinha de cera, feita com muito carinho, para
Negra até chegar à estrada real de Maruim, De acordo com pesquisas de Ricardina Oli- jogá-la em seu paquera”.
ficando os engenhos da Jurema e Serra veira Souza, conhecida como D. Bebé, que Ela lembra que o melhor da festa era às 11
Negra para a freguesia de Pé do Banco. está escrevendo um livro sobre a cidade, na horas da noite. “Todo mundo se reunia na

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Bicicleta de madeira: João Pedro já saiu em
jornal de São Paulo

Região: Central (agreste)


Distância da capital: 55 km
População: 6.803
Atividades econômicas: Extração de petróleo e
pecuária

Procissão dos padroeiros: acontece


anualmente em janeiro

praça e comia arroz com galinha de capoei-


ra, para manter a animação e continuar brin-
cando a noite inteira. Hoje em dia a festa é
só o trio elétrico e as cabacinhas são grossei-
ras, joga-se em qualquer pessoa, e o pior,
tem gente que até coloca água suja dentro”,
compara a professora.
No dia 12 de janeiro, o município come-
mora o dia dos padroeiros Jesus, Maria e
José, com procissão e missa. As festas juni-
nas também são tradição em Siriri. Todos os
anos, no primeiro dia de junho, os morado-
res se reuniam e dançavam junto com o gru-
po de dança folclórica Cacumbi.
“As pessoas saíam de casa em casa cha- Igreja São Gonçalo: primeira matriz
mando os outros para ir todo mundo para a
rua. Todo mundo dançava e bebia até o aman- des, que é de Siriri, é uma referência no Esta- há mais de 40 anos, foi um sucesso. Quan-
hecer, iniciando as comemorações juninas”. do quando se fala em Reisado. do eu saía na rua, todo mundo olhava. Uma
Quando chegava a véspera de São João, ha- vez, até um homem de São Paulo tirou uma
via eleição da rainha do milho, quadrilha e Bicicleta de madeira é atração foto e colocou no jornal de lá. Como ela se
blocos pelas ruas que por muitos anos foi estragou depois de tanto tempo, eu resolvi
Deusdete que organizou. Uma curiosidade de Siriri é a bicicleta fazer outra há uns dois anos”, diz ele.
Além do Cacumbi, o município de Siriri construída toda de madeira pelo carpinteiro João Pedro não costuma andar no dia-a-
já teve outros grupos folclóricos como Che- João Pedro da Silva, de 69 anos. É a segun- dia com sua bicicleta, por não ser tão con-
gança e Reisado. Inclusive o mestre Eucli- da bicicleta que ele fez. “A primeira, feita fortável, afinal tudo é de madeira: pneus,

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Rio Siriri: abastece a cidade e também é o
lazer da comunidade

raios, banco, com exceção da corrente. Mas


em uma pista lisa dá para andar tranqüila-
mente. Quando ele resolve sair pela cidade
vira atração. “A criançada sai correndo atrás
e todo mundo pára para olhar”, diz o car-
pinteiro.

Dona da pensão de Siriri

Atualmente a pessoa mais idosa da cidade


é Maria do Carmo Melo de 98 anos, conhe-
cida em Siriri como Carminha. Ainda lúci-
da, ela passa o dia inteiro fazendo bonecas de
pano, roupas para bonecas de louça, almofa-
das, crochês, etc. Carminha adora quando Prédio da prefeitura: tem uma grande importância histórica, foi construído no século XIX
alguém vai visitá-la em sua casa, para falar
sobre suas lembranças sobre Siriri. depois encontraram petróleo aqui na cida- digo Civil no Senado.
Durante 50 anos, dona Carminha foi dona de. Um dia o petróleo começou a roncar
da pensão na cidade. “Era muito bom naquela embaixo do chão e o padre Raimundo avi- Domingos Félix de Santana - tabelião.
época. Todos os visitantes ficavam aqui. Sem- sou que a cidade poderia estar em perigo. Cícero Leite Cruz - padre
pre vinham políticos importantes e em dia de Fiquei com medo e fui para Aracaju, mas
festa era a maior animação”, lembra. dois dias depois o barulho parou e eu voltei Abdias Bezerra - destacou-se em todo o Es-
tado na carreira do magistério.
Ela lembra que na época de sua juventu- para casa”, diz Carminha. C
de, Siriri tinha muitos engenhos de cana- Albano de Melo Prado - médico que es-
de-açúcar como Roda, Fortuna, Mata Ver- Filhos Ilustres creveu “a profilaxia da sífilis”
de, Jaguaribe, entre outros. “Meu marido
(Ezequias Melo) era gerente de um engen- Juiz Coelho e Campos - iniciou sua vida Texto: CARLA PASSOS
ho chamado Mato Grosso, mas os engen- pública como promotor na Comarca de Ca- Fotos e reproduções: SILVIO ROCHA
hos começaram a fechar e muitas pessoas pela-SE, foi ministro do Supremo Tribunal Fe- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e colabora-
deral e fez parte da comissão especial do Có-
ficaram sem emprego. A sorte é que logo ção de Ricardinha Oliveira Souza.

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minha
terra é
Sergipe
Telha grande produtor de arroz e peixe

Projeto Propriá, criado


especialmente para a
rizicultura, começa a
engrenar na piscicultura

O
pequeno município de Telha, a 107
quilômetros de Aracaju, localiza-
do às margens do Rio São Francis-
co, tem aproveitado muito bem a ‘grande-
za’ - hoje nem tão grande assim - de suas
águas. O centenário cultivo de arroz na re-
gião ganhou a parceria da piscicultura, que
em muitos lotes do Projeto Irrigado Pro-
priá é produzida em consórcio com a rizi-
cultura. Produtores telhenses já estão abas-
tecendo de peixe, produzido em viveiros, o
mercado de várias cidades de Sergipe e de
Alagoas.
O município de Telha foi fundado em
terras pertencentes a Propriá, doadas por
Cristóvão de Barros, por volta de 1590, ao
seu filho Antônio Cardoso de Barros. Duas
famílias de holandeses se estabeleceram no
local com uma fábrica de telhas de barro Visão do centro da cidade: Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
cozido, dando origem ao nome do Povoa-
do Telha de Cima. candidato único eleito pela Arena, foi Clau- sai empacotado para venda com o nome
No início da década de 60, os moradores dionor José dos Santos. ‘Arroz Tia Graça’.
começaram a acreditar que a povoação já O telhense Manoel da Silva (Manoel
possuía condições suficientes de se emanci- Projeto Propriá de Menezes), de 58 anos, possui seis vi-
par de Propriá. Para viabilizar a emancipa- veiros de Tambaqui - um deles é o ber-
ção, uma comissão, liderada por José Ma- O Projeto Irrigado Propriá (que en- çário - que comportam cinco mil peixes
noel Freire Filho - reconhecido o fundador globa os municípios de Propriá, Telha e cada um. “A agricultura é uma faca de
do município - procurou o deputado Wol- Cedro de São João), apesar do nome, dois gumes. Uma hora a gente está de
ney Leal de Melo. Ele apresentou um proje- tem a maioria dos produtores de Telha. bolso cheio de dinheiro; outra hora cheio
to de lei, que foi sancionado pelo então Iniciou em 1975 apenas com a rizicultu- de contas pra pagar. A piscicultura tem
governador João de Seixas Dória, em 20 ra, mas agora muitos dos 247 produto- um rendimento mais compensador, mas
de janeiro de 1964. res estão trabalhando em consórcio com sempre há riscos, porque a gente alimen-
A partir dessa data foi criado oficialmen- a piscicultura. ta uma coisa que está debaixo da água,
te o município de Telha, através da lei nº A Usina São João, instalada no municí- que a gente não vê”, explica Manoel de
1.248, que dava a ele a responsabilidade de pio por José João do Nascimento Lima, Menezes.
manter três povoados: São Thiago, São recebe cerca de 90% da produção do arroz Ele lembra com saudades do tempo das
Pedro e Bela Vista. O primeiro prefeito, do município e beneficia o produto, que já enchentes do Rio São Francisco, quando

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Região: Leste (Agreste)
População: 2.636
Distância de Aracaju: 107 km
Atividades econômicas: rizicultura
(arroz); piscicultura em viveiro, pecuária, bordado
e turismo

Antiga igreja onde a filha do Demo foi batizada Frei Damião e Frei Fernandes: visita a Telha Praia da Adutora: onde acontece um dos mais
nos anos 70 animados carnavais de Sergipe

todos, sem distinção, podiam plantar arroz gos dos Santos Neto teve o mandato cassa- Tem areia, Mata Atlântica e até dunas. Aos
e sobreviver da pesca. “Agora só produz do por improbidade administrativa, a pedi- domingos, a Praia da Adutora, como é cha-
quem tem a terra irrigada. Mas as coisas de do do promotor Rogério Ferreira Silva, e mada, fica completamente lotada. Turistas
Deus nunca se acabam”, acredita ele. concedido pelo juiz Evilázio Correia de das cidades circunvizinhas e até da capital
Seu Manoel conseguiu fazer os viveiros Araújo Filho. Domingos foi acusado de vão aproveitar as águas azuladas do rio para
de peixe com um dinheiro (R$ 40 mil) que superfaturar obras; fazer empréstimo ban- dar um mergulho refrescante e comer as
em 1997 ganhou na Roda da Fortuna, do cário irregular; atrasar salários dos funcio- delícias servidas nos mais de 20 bares da
Programa Silvio Santos. Além de investir nários em seis meses e reter o duodécimo orlinha.
na criação de peixes, comprou também um da Câmara de Vereadores. O vice-prefeito O secretário municipal Paulo Henrique
carro e uma casa. Ele foi representado no Luciano Gois Gomes assumiu a prefeitura Dias tem procurado incrementar o turis-
programa pelo seu filho Nivaldo Silva, 29, e foi reeleito em 2000. mo para atrair mais pessoas, principalmen-
dono da primeira banda musical de Telha, a Em novembro de 2001, o líder político te no Carnaval, que é a maior comemora-
Nova Geração, que há um ano e meio vem José Luciano Guimarães Filho (o Buda) ção realizada no município depois da festa
animando as festas de padroeiros dos povo- morreu carbonizado junto com Luiz Carlos da padroeira da cidade.
ados da região. Rocha. Os dois vinham de Canhoba, o car-
ro caiu na ponte e incendiou-se. Buda foi A voz misteriosa de Telha
Momentos Marcantes candidato a prefeito na última eleição e
perdeu por apenas dez votos. Era ele quem No final da década de 90, a cidade de
O município de Telha passou por muitos comprava cerca de 90% da produção de Telha ficou conhecida em todo o Estado
momentos difíceis e tristes que marcaram peixes do município para revender em ou- por causa de uma voz misteriosa que era
a comunidade. Nos anos 80, ocorreu a tras cidades. ouvida dentro da Igreja Matriz. Durante os
morte do prefeito Francisco Gomes da cânticos, uma voz masculina se sobressaía
Mota, no exercício do mandato. Ele foi as- Convite a um mergulho no meio das vozes femininas. Ficou confir-
sassinado durante um tiroteio que matou mado que mesmo sem a presença de qual-
três pessoas. O vice-prefeito Adenízio Ba- A natureza foi bastante generosa com o quer homem na igreja, a voz era notada por
sílio de Oliveira assumiu a prefeitura. município de Telha, onde o Velho Chico toda a comunidade presente.
Em agosto de 1999, o prefeito Domin- formou uma verdadeira praia de água doce. A professora aposentada Maria Dias da

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zida de volta por uma mulher bonita que
lhe segurava a mão”, diz.
A maldição só foi quebrada quando Rosa
Maria já estava idosa. “Ela ficou curada
depois que um senhor - parece que de Brejo
Grande - ensinou uma reza que ele não po-
deria nunca ensinar a ninguém, do contrá-
rio morreria. Mas ele resolveu salvar a mu-
lher em troca da sua vida. Morreu logo em
seguida”, afirma ela.
A Igreja centenária, onde a filha do
Inauguração da prefeitura de Telha em 1988: Nivaldo Silva recebe do apresentador Silvio Demo foi batizada, foi destruída há cer-
Fernando Collor, então governador de Alagoas, Santos o prêmio do pai, Manoel de Menezes ca de 30 anos. “Era um patrimônio que
lançou candidatura a presidente
foi abandonado e começou a cair. Aí o
Mota, 55 anos, garante que ouviu a voz. “A cidade, cheia de carros que vinham de Pro- povo começou a levar os tijolos pra casa,
comunidade toda é testemunha. Como priá e das cidades vizinhas”, diz Maria Dias. num ato de vandalismo. A parede da fren-
aconteceu depois que meu pai morreu, di- te ainda luta contra o tempo e o vento”,
ziam até que era a voz dele, mas ele nunca A história real do Cão de Rosa diz Maria Dias. C

cantou na igreja, apenas lia o Evangelho”,


afirma ela. Uma história que aconteceu em Telha, Filhos Ilustres
Por quatro anos consecutivos a voz foi no início do século XIX, parece uma lenda,
José Manoel Freire Filho: fundador do mu-
ouvida. “Só aparecia no trezenário de Santo mas a professora aposentada Maria Dias nicípio
Antônio, que acontece de 1º a 13 de junho. garante que foi real, inclusive tendo como
Era um negócio muito bonito, muito inte- vítima uma prima da sua avó, que se cha- Juarez Alves Costa: conselheiro do Tribunal
de Contas
ressante”, lembra Maria Dias. mava Rosa Maria.
A comunidade começou a perceber a voz Segundo Maria Dias, uma moça da André Dias dos Santos: sargento do Exérci-
misteriosa um dia em que Germano Freire sociedade ficou grávida nas suas cami- to
- um homem que costumava cantar na igreja nhadas pela várzea e, como nessa época Fábio dos Santos: jogador do Coritiba do Pa-
e tinha a voz semelhante à ouvida - não era inaceitável a condição de uma mãe raná
estava presente. Para confirmar o mistério, solteira, ela tentou negar. “O que tiver
Adail Barbosa: médico ortopedista
todos os homens foram retirados da igreja. aqui dentro eu dou ao Cão (Diabo)”,
Ficaram só as mulheres, mesmo assim a voz teria dito a moça. Anísio Freire: padre
masculina continuava a ser ouvida. Segundo Maria Dias, ela se viu tão per-
Por causa disso, a igreja de Telha come- seguida pela ‘alta sociedade’ da época que, José Antônio Dias: diretor do Ciretran de Pro-
priá e ex-prefeito
çou a ficar lotada. Muita gente que nunca sem querer, acabou oferecendo a filha ao
tinha freqüentado uma missa passou a ir à Demônio. “Ela se arrependeu depois, mas Luciano Nascimento (de Menininha): ex-de-
igreja. O mistério acabou sendo descober- já era tarde. Ficou tão preocupada que ‘to- putado estadual
to no terceiro ano. Na cidade havia uma mou’ Nossa Senhora da Conceição, padro- Rosana Aparecida da Silva Mota: Bióloga
senhora, Maria de Lourdes dos Santos, que eira do Povoado Bela Vista, para madrinha especialista em saúde pública
se sentia mal quando ia rezar. “Ela dizia que da filha, junto com uma madrinha de apre-
Norma Andréa Dias Freire: Bióloga
estava tendo visões de uma pessoa, como sentar”.
se fosse um padre ou uma freira. Um dia Maria Dias lembra essa história contada Lilian Freire: graduada em Letras
chamei ela para ir em Propriá ver na galeria pelos seus avós. “Desde pequena ela desa-
Elisângela Mota Silva: graduada em Letras/
de fotos os padres que já passaram pela re- parecia. Um dia encontraram ela pendu- Francês
gião. Assim que ela bateu os olhos na foto rada de ponta-cabeça num pé de marizei-
do padre Zé Soares, o reconheceu”, diz dona ra, sem nada segurando ela. O interessan- Maria Sandra Bezerra Souza: especialista
Maria. em Planejamento Educacional
te é que o vestido dela ficava seguro, como
No último ano em que a voz foi ouvida se ela estivesse em pé no chão. Ninguém Maria José Dias Aragão: especialista em
na igreja, dona Lourdes desmaiou. “Sempre conseguiu tirar ela de lá. Só a madrinha, Planejamento Educacional
que acontecia isso, ela ficava completamen- depois de fazer um pedido a Nossa Senho-
João Paulo Freire: seminarista e universitá-
te sem sentidos. Nesse dia, quando iam levá- ra”, diz ela. rio em Alagoinhas/BA
la pra casa, ela balançou o dedo que não, e
falou com a voz grossa: ‘Eu vim dizer que O Bem Contra o Mal Mãe Santa: parteira que pegou a maioria dos
telhenses na época em que não havia materni-
não vai ter mais a voz’. Todo mundo correu dade disponível
da igreja”, lembra dona Maria. Segundo Maria Dias, havia uma ‘queda-
A partir desse dia, a mulher nunca mais de-braço’ entre a força do mal e do bem,
teve desmaio, mas os arrepios por causa da esta representada por Nossa Senhora. “A Texto: EDIVÂNIA FREIRE
voz que vinha do além acabou deixando menina sofreu muito. Quando aprendeu a Fotos e reproduções: SÍLVIO ROCHA
saudades na comunidade. “Foi uma pena, falar, ela contou que foi levada para um Fonte: Pesquisa da universitária Cecília Dias Mota e do ex-
presidente da Câmara de Vereador Givaldo Dias
porque nessa época a igreja ficava lotada e a lugar bem longe, que tinha fogo, e foi tra-
UMA TRAJETÓRIA
DE RESPEITO
AO POVO,
ÀS SUAS RAÍZES
E À SUA CULTURA.
PREFEITURA DE
Tobias Barreto
surgiu a partir de uma capela
No mesmo local
da igrejinha, do final
do século XVI,
está a Igreja Matriz
Imperatriz dos Campos

T
obias Barreto surgiu no final do sé-
culo XVI, em um sítio de aproxi-
madamente 40 tarefas, onde apare-
ceu uma imagem de Nossa Senhora, local
que é hoje a sede do município. Em sua
homenagem, os camponeses construíram
uma capelinha e fizeram residências em
volta dela formando uma aldeia batizada
de Paraíso, informa o livro ‘Tobias Barreto,
a Terra e a Gente’, do escritor tobiense
Aderbal Correia Barbosa.
“Logo depois para surpresa dos moradores
da recém-criada povoação, a imagem desa-
pareceu. Dias depois ela foi encontrada den-
tro de um matagal nas proximidades da
povoação. Os habitantes do povoado a con-
duziram de volta à capela, mas pouco tem-
po depois ela desapareceu outra vez, sendo Igreja Matriz Nossa Senhora Imperatriz dos Campos
encontrada novamente no mesmo mata-
gal”, diz o livro. ro habitante de Tobias. Ele possuía currais administrativa de Lagarto.
Por causa desse fato, os moradores der- perto das confluências dos rios Japeri e Real. Em 20 de outubro de 1718 o arcebispo
rubaram a mata nesse local e construíram “Não resta dúvida sobre ter sido ele o notá- da Bahia, d. Sebastião Monteiro, criou a
outra capelinha, onde hoje fica a Igreja vel colonizador do sertão do Rio Real, onde Freguesia de Nossa Senhora Imperatriz dos
Matriz Nossa Senhora Imperatriz dos Cam- chegou em 1599, após haver tomado parte Campos do Rio Real de Cima, no termo de
pos. O novo povoado recebeu o nome Ca- na conquista de Sergipe, como um dos ca- Lagarto. Em 1757, a freguesia tinha 125
pela de Nossa Senhora dos Campos do Rio pitães de Cristóvão de Barros” informa a sítios de “pastores e agricultores” e popula-
Traripe (hoje Real), por estar situado às Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. ção de 1.350 habitantes. Sua extensão era
margens desse rio e localizado em uma vas- As terras de Campos, durante muitos de 20 léguas. No fim do século XVIII,
ta planície. O nome do povoado foi se sim- anos, pertenceram ao morgado de Belchi- Campos era o maior centro de exportação
plificando, passando a se chamar Campos or. Iam dos limites de Lagarto até o Rio de couro e sola da Capitania de Sergipe.
do Rio Real e depois apenas Campos. Itapicuru, na Capitania da Bahia. Houve Em 1808 a freguesia tinha uma popula-
Belchior Dias Moreira, conhecido como divergências entre o arcebispo da Bahia e ção de 2.618 habitantes, sendo mil bran-
Belchior Dias Caramuru, por ser parente Garcia d’Ávila Pereira, administrador do cos, 500 pretos e os demais mestiços. A
de Diogo Álvares Caramuru, foi o primei- morgado, subordinado à esfera política e criação de gado era a principal atividade

CINFORM 262
Região: sudoeste (semi-árido)
Distância de Aracaju: 127 Km
População: 43.139
Atividades econômicas: agricultura (milho, man-
dioca e feijão), pecuária (bovinos) e comércio (confecções)

Estátua de Tobias Barreto na principal avenida da cidade, a 7 de Junho

econômica. Conforme informação da En- Comércio de Confecções A genialidade de Tobias Barreto


ciclopédia dos Municípios, o movimento
do comércio de gado na feira já era de 2 mil Na década de 70, Tobias Barreto co- Tobias Barreto de Menezes nasceu em
cabeças. Por outro lado a agricultura era meçou a se destacar no comércio de con- Campos, em 1839. Aprendeu as primei-
tão inexpressiva, que os habitantes iam com- fecções em geral, inclusive bordados, cha- ras letras com o professor Manuel Joa-
prar farinha no município de Estância. Atu- mados richelieu. As mulheres saíam dos quim de Oliveira Campos e estudou la-
almente, o movimento do comércio de povoados para vender os bordados na ci- tim com o padre Domingos Quirino e
gado ainda é grande. São vendidos na feira, dade e os baianos começaram a freqüen- aos 15 anos ensinou a matéria em Ita-
todas as segundas, de 800 a mil cabeças. tar Tobias para comprá-los. Foi aí que baiana. Em 1861 seguiu para a Bahia
Por isso a feira de Tobias é considerada uma surgiu a Feira da Coruja (meia-noite). em com a intenção de freqüentar um semi-
das maiores do Estado. 1986, o centro comercial de Tobias foi nário, mas foi expulso por boemia e in-
Por decreto provincial de 17 de janeiro inaugurado, para onde a feira foi transfe- disciplina.
de 1835, o Povoado de Campos foi elevado rida. Hoje, o comércio de confecções da Para ocupar o tempo entrega-se com afin-
à categoria de vila. Em 1909, pela lei 550, cidade decaiu muito, principalmente por co à leitura dos evolucionistas estrangeiros,
de 23 de outubro, Campos é elevada à cate- causa do valor dos impostos que os co- sobretudo o alemão Ernest Haeckel, que se
goria de município. Em 7 de dezembro de merciantes têm de pagar. Alguns fecha- tornaria um dos mais famosos cientistas da
1943, o município e o distrito de Campos ram suas portas e outros encontraram época com seus livros ‘Os Enigmas do Uni-
passaram a denominar-se Tobias Barreto, como forma de se libertar da política tri- verso’ e ‘As Maravilhas da Vida’.
pelo Decreto-Lei Estadual nº 377, de auto- butária do Estado, mudando para o Po- No campo das produções poéticas, Tobi-
ria intelectual do professor Sebrão Sobri- voado Lagoa Redonda, no vizinho muni- as passou a competir com o poeta baiano
nho. De acordo com o livro ‘Tobias Barre- cípio de Itapicuru, na Bahia. Depois que Antônio de Castro Alves. Os dois faziam
to, a Terra e a Gente’, 17 anos depois, al- a ponte que separa os Estados de Sergipe parte da chamada corrente condoreira da
guns ‘campistas’ ainda tentaram colocar de e Bahia foi construída, mais de 70 em- última etapa do Romantismo.
volta o antigo nome, mas sem resultados. presas já se instalaram naquele povoado Na oratória, Tobias se revelava um mes-
Pelo quadro de divisão territorial, em baiano. tre, qualquer que fosse o tema escolhido
1950, Poço Verde, Samambaia (ex-Igreja Apesar da produção de bordados de To- para debate. O estudo da Filosofia empol-
Nova) e Tobias Barreto são os distritos do bias ter decaído, o município ainda man- gava o sergipano que nos jornais universi-
município. Mas pela lei estadual 525-A, de tém a tradição secular desse tipo de arte. tários publicou ‘Tomás de Aquino’, ‘Teolo-
25 de novembro de 1953, Tobias perdeu o Presença de destaque em vários eventos gia e Teodicéia não são ciências’, ‘Jules Si-
distrito de Poço Verde, que foi elevado à culturais, o artesanato de Tobias Barreto é mon’, etc.
categoria de município. famoso em todo o Estado. Ainda antes de concluir o curso de

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Antônio Muniz de Souza e Oliveira: De-
dicou-se ao estudo de plantas e raízes para o
preparo de remédios.

Pedro Barreto de Menezes: Foi o primeiro


escrivão da vila e chefe político liberal. É o pai
de Tobias Barreto de Menezes.

Manoel Joaquim de Oliveira Campos: Pro-


fessor primário, latinista, poeta, jornalista e de-
putado provincial. Autor de “Musa Sergipana” e
do Hino de Sergipe.

Rafael Arcanjo Montalvão: advogado pro-


visionado, jornalista, deputado, chefe político em
Simão Dias e escreveu “Questão de Limites
coma Bahia”.

José Antônio de Lemos: funcionário públi-


co, advogado provisionado, poeta, chefe políti-
co e deputado por várias legislaturas.

Elias do Rosário Montalvão: cirurgião den-


tista, historiador, autor de ‘Meu Sergipe’ e de
várias outras obras publicadas.

Francisco Barreto Rosário: Foi intendente,


conselheiro, funcionário público, deputado es-
Tobias Barreto se destaca pelo comércio de Memorial Tobias Barreto: onde é possível tadual.
confecções, especialmente bordados encontrar tudo sobre o poeta
Epifânio da Fonseca Dórea: poeta, jorna-
Direito, casou-se com a filha de um co- lista, pesquisador, historiador, crítico literário, deu
ronel do interior, proprietário de enge- nome à biblioteca da qual foi diretor, secretário
de Estado, deputado estadual.
nhos no município de Escada, em Reci-
fe. Eleito para a Assembléia Provinci- Azarias Barreto dos Santos: Foi professor
de música, funcionário público e poeta. Autor
al, não conseguiu progredir na política dos livros: ‘Do Arrebol ao Luar’ e ‘Gorgeios -
local. Campos e Líricas Condoreiras’.
Dedicou vários anos a aprofundar-se no
Abelardo Barreto do Rosário: bacharel
estudo do alemão, para poder ler no origi- em Direito, escritor, jurista, poeta.
nal alguns dos ensaístas germânicos, à fren-
Raimundo Geraldo dos Santos: Foi vere-
te deles Ernest Haeckel e Ludwig Büchner. ador, juiz municipal, delegado de polícia, pre-
Foi em alemão que Tobias redigiu o ‘Deuts- feito e chefe de partido.
cher Kampfer’ (O lutador alemão). Mais Raimundo Rosa Santos: Foi pretor, juiz de
tarde sairiam de sua pena os ‘Estudos Ale- direito e desembargador.
mães’.
João Valeriano dos Santos: nasceu em
A residência em Escada durou cerca de 1916, foi vereador, prefeito, deputado estadual
dez anos. Ao voltar ao Recife, aos escassos em duas legislaturas.
proventos que recebia, juntaram-se os pro- Aderbal Correia Barbosa: engenheiro agrô-
blemas de saúde que acabaram por impedi- nomo, poeta, escritor, jornalista. Autor do dis-
curso ‘Cantos da Minha Terra Tobias Barreto’ e
lo de sair de casa. ‘A Terra e a Gente’.
Tentou uma viagem à Europa para resta-
belecer-se fisicamente, mas não tinha re- José Francisco Menezes, ou Muniz Santa
Fé: Hoje com 85 anos, o poeta é autor de vários
cursos financeiros para isso. Em 1889 esta- livros como ‘Da Aurora ao Crepúsculo’ e ‘Vibra-
va desesperado. Uma semana antes de mor- ções de Fé’. Ele e Aderbal são considerados as
maiores personalidades vivas de Tobias.
rer enviou uma carta a Sílvio Romero soli-
citando que lhe enviasse o dinheiro. Sete José Rosa de Oliveira Neto: jornalista, edi-
tor da Gazeta de Sergipe, já trabalhou no Jornal
dias mais tarde falecia, hospedado na casa da Cidade. É autor de ‘Atualidade do Pensamen-
de um amigo. Tobias Barreto: o mais ilustre filho do muni- to Pioneiro de Tobias Barreto’.
cípio
Tobias Barreto é o patrono da Cadeira
nº 38 da Academia Brasileira de Letras.
Suas obras principais são: Ensaios e Estu- Filhos Ilustres Texto: CARLA PASSOS
Fotos: EDSON ARAÚJO
dos de Filosofia e Crítica, 1875; Dias e Fonte: ‘Tobias Barreto, a Terra e a Gente’, de Aderbal
Frei Ângelo dos Reis: Entrou na Compa-
Noites, 1881; Estudos Alemães, 1880; nhia de Jesus em 1681, ordenando-se em 1693.
Correia Barbosa, Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e Pes-
quisas de José Francisco Menezes.
Polêmicas, 1901. C Faleceu em 1723.

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25 anos
Lutando ao lado do educador
por um ensino público de qualidade
Nestes 25 anos de luta, temos enfrentado, no autoritarismo dos governantes, Rua Sílvio Teófilo Guimarães, 70
o sucateamento da escola pública e o desrespeito ao profissional de ensino.
Conjunto Paulo Barreto - Pereira Lobo
Em todo o Estado, toda vez que se faz necessário, a voz do SINTESE ecoa
em defesa da educação e dos educadores.
49052-410 - Aracaju-SE Tel/Fax (79)214-0910
SINTESE, 25 anos de Resistência e Luta www.sintese-ne.com.br sintese@infonet.com.br
Tomar do Geru
onde índios foram poderosos

Cidade chamou-se
Nova Távora e tem uma
das mais antigas e belas
igrejas de Sergipe

J
á na divisa com a Bahia, o municí-
pio de Tomar do Geru, a 131 quilôme-
tros de Aracaju, tem uma história fan- Tomar do Geru: mais de 300 anos de história
tástica em termos de organização. Em Geru,
onde existe uma das mais belas e antigas Força política da fé exemplo, estabeleceu a eleição pelo voto
igrejas católicas de Sergipe, foi feita uma direto dos moradores. Nova Távora era a
tentativa de colocar índios catequizados na A força da catequese feita pelos jesuítas primeira vila de Sergipe a viver essa experi-
administração municipal. Não fosse a in- era tanta que dos 400 índios, apenas 20 ência. (Veja nesta página trechos da Carta
vasão holandesa e a expulsão dos jesuítas, eram considerados pagãos. Lá foi construí- Régia de 1758).
essa experiência poderia ter prosperado. da a primeira escola de Sergipe. A aldeia
Essa história começa por volta de 1666, chegou a ter os nomes de Geru e Missão de Expulsão e regresso
quando os padres jesuítas chegaram às ter- Nossa Senhora do Socorro. Mas a domina-
ras que hoje são Tomar do Geru. Os religi- ção dos jesuítas não impediu que os índios Com a invasão dos holandeses a Sergipe,
osos encontraram no território um grupo reagissem às tentativas de invasão dos por- em 1759, os jesuítas foram expulsos pelo
de índios Kiriris, da rama vinda do sertão tugueses. bando do vice-rei dom Marcos de Noronha
de Jacobina e do Rio São Francisco. Os Alguns religiosos teriam lutado ao lado e a experiência de administração popular
jesuítas vinham da província de Minho, dos índios porque os portugueses queriam em Nova Távora fracassou. Nessa época
mais especialmente de uma cidade portu- escravizar os nativos. vivia lá o padre baiano Domingos de Ma-
guesa chamada Tomar, sede dos religiosos As lutas ganharam tanta repercussão que tos. Foi ele quem fez a procissão solene a 8
templários. o rei teve que intervir. E num documento de setembro de 1731 em homenagem a
Em 1692, a aldeia aparece num catálo- histórico, a Carta Régia de 22 de novembro Nossa Senhora do Socorro, data da festa da
go como Juru ou Geruaçu, que em tupi de 1758 declarava livres todos os índios do padroeira do município.
significa boca ou entrada, e que mais tarde território sergipano, ao mesmo tempo em Com a expulsão dos jesuítas, índios fo-
viria a chamar-se Geru. Seus primeiros re- que transformava a aldeia de Juru em Vila ram mortos e os que sobreviveram, escra-
ligiosos foram os padres Luiz Maniami, de Nova Távora. E mais. Índios catequiza- vizados. Novas batalhas aconteceram. Em
João de Barros, João Baptista, João Ma- dos assumiram cargos no serviço público 1765, um bando comandado por Izidório
teus de Falleto e o irmão Manuel de Sam- na vila. Gomes invade Nova Távora, que já estava
paio. Este último era um estudante da lín- A idéia da história oficial era que os índi- sendo chamada de Tomar do Geru. Tomar
gua dos Kiriris. Em 1695, o governo reco- os ‘almados’ pudessem ser confundidos com fazia referência à cidade dos jesuítas; e Geru,
nhece como aldeia aquela povoação no- a população branca, numa tentativa de ex- de Jeru do tupi. Izidório ainda encontrou
meando um diretor. tinguir os antagonismos. O documento, por na vila um juiz índio e um branco, e índios

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Desfile cívico em Geru: festa de emancipação

Região - Sul de Sergipe


Distância de Aracaju - 131 km
População - Cerca de 15 mil
Atividades econômicas - Agricultura
(laranja) e pedra. Tem forte tradição do carro de boi

Escola em Geru: umas das primeiras de Ser-


gipe

servindo na Câmara.
Em 19 de fevereiro de 1835, a Vila de
Tomar do Geru, que pertencia à Freguesia
de Campos do Rio Real, hoje Tobias Barre-
to, foi extinta. A sede do município foi
transferida para a Vila de Itabaianinha, dei-
xando Geru reduzida a um Distrito de Paz,
apenas com o nome de Geru. Curiosamen-
te só 118 anos depois, já em 25 de novem-
bro de 1953, Geru é transformada em cida-
de - lei sancionada pelo então governador
Arnaldo Garcez -, e recebe o nome históri- Igreja N. Srª do Socorro: erguida em 1688
co de Tomar do Geru.
Em 3 de outubro de 1954, foi realizada a
primeira eleição do município, que tinha João Valames Oliveira, Ulisses Guimarães sita na Freguesia dos Campos, termo da Vila
apenas 668 eleitores, sendo eleito Pedro Silva da Fonseca, Pedro Silva C. Filho e Gildeon de Lagarto, Comarca da cidade de Sergipe
Costa, o primeiro prefeito, e cinco verea- Ferreira da Silva. D’El Rei, tem capacidade de vizinhos e cô-
dores. O final do seu mandato de quatro modos preciso para o dito efeito, sou servi-
anos foi tumultuado. Tropas do 28º BC ti- Índios no poder do ordenar que passando logo a dita Aldeia
veram que tomar o município para reesta- a Vila, estabelecereis nela (dirige-se ao Go-
belecer a ordem. Pedro Costa foi eleito pela A seguir alguns trechos da Carta Régia vernador-Geral da Bahia) com o nome de
segunda vez em 1962, assumiu em janeiro de 22 de novembro de 1758, onde o rei de Nova Távora - elegendo a votos do povo
de 1963, e em junho de 1964 foi deposto Portugal estabelece uma “administração um dos seus moradores para juiz dela, que
por causa do Golpe Militar. Além dele, fo- popular em Geru: será tutor dos órfãos, três vereadores ou
ram prefeitos de Tomar do Geru: Baldoíno “Por me ser presente que a Aldeia de dois no caso de não haver número e um
Vitório de Souza, José Viana Medeiros, Geru, intitulada Nossa Senhora do Socorro procurador do Conselho todos mais hábeis

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Carro de Boi: forte tradição na cidade

Historiadores da arte afirmam que a igre-


ja de Geru é a mais bela de todas as igrejas
missionárias do século XVII fora da cidade
da Bahia. O ouro e as figuras barrocas são
marcantes.
Existe uma lenda de que quando Tomar
do Geru ainda era aldeia e a cidade já estava
Interior da igreja: rica em detalhes de ouro
sendo levada, apareceu a imagem de Nossa
Senhora do Socorro dentro de um gravatá
no meio da mata, onde hoje é a igreja.
A imagem foi encontrada pelos índi-
os Kiriris e entregue aos padres jesuí-
tas, que a levaram para onde estava sen-
do construída a cidade, as casas, a cape-
la e o cemitério. Mas à noite, a imagem
teimava em voltar para a mata onde
foi encontrada. Na manhã seguinte, a
imagem de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro era transportada. Foram várias
vezes levando e ela voltando, até que
os padres decidiram construir uma igre-
ja e lá colocaram a imagem de onde
nunca mais saiu.
Outra lenda conhecida no município
é a do Boqueirão. Numa capela onde
existia muito ouro. Após a expulsão dos
religiosos que zelavam pela capela, as
pessoas retiraram todo o ouro e o trans-
portaram em carro de boi para a cidade
Histórica estação de trem de Geru: abandono de Itabaianinha, para doar a Nossa Se-
nhora da Conceição. No meio da via-
do dito e ainda na suposição de não achar- dão para servir este ofício ou português ca- gem, o carro de boi quebrou o eixo, le-
des nela quem saiba ler e escrever, sempre sado com índia com as qualidades necessá- vando os transportadores a desistirem da
com eles serão eleitos os mesmos índios e rias, qualquer destes sujeitos preferirá na viagem e a enterrarem o ouro.
para três anos futuros fareis eleição de se- serventia do referido ofício àquele em quem O município tem uma forte tradição re-
melhantes oficiais guardando em tudo a não concorrem estas circunstâncias”. ligiosa. No período da Quaresma, acontece
formalidade e igualmente elegeries a votos a Lamentação das Almas, uma penitência
do povo um homem que haja de ser escri- Igreja tem mais de 300 anos realizada somente por homens. Na Sexta-
vão da comarca que ora também servirá de e é um monumento nacional Feira da Paixão é realizada a procissão dos
tabelião das notas e escrivão do judicial e penitentes, onde os homens fazem auto-
dos órfãos o qual, no caso de não haver na Uma das mais belas e antigas igrejas de flagelação. Em agosto ou setembro aconte-
Aldeia, nacional dentre os índios com a Sergipe é a de Nossa Senhora do Perpétuo ce a Festa do Carro de Boi. C
necessária inteligência e notícia de proces- Socorro, padroeira de Tomar do Geru. Ela
sar, poderá ser nomeado um português com é tombada pelo Patrimônio Histórico e Texto: CRISTIAN GÓES
Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
as referidas qualidades e a ele se lhe encarre- Artístico Nacional. A igreja foi erguida em Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, e Conhecendo Tomar
gará a obrigação de ensinar a ler e escrever 1688, pelo padre Luiz Mamiani della Rove- do Geru, de Albany Mendonça, Maria Lúcia, Marlene dos San-
aos meninos da Vila bem entendido que a re. Na porta existe a inscrição MD- tos e Telma Alves. Colaboração da secretaria de Educação do
Município.
todo o tempo que houver índio com apti- CLXXXVIII.

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O Sistema FIES/SESI/SENAI e IEL

Sergipe
Na década de 80 há um grande desenvolvimento da
na História Industrial economia sergipana motivada pelo efetivo aproveitamento dos
recursos minerais do Estado, graças a amplos investimentos
de estatais, notadamente do sistema Petrobras. Dar-se a instalação
de duas importantes subsidiárias daquela estatal: a Nitrofértil,
para a fabricação de amônia e uréia, e a Petromisa, para
exploração e beneficiamento do Potássio, explorado da mina de
Taquarí-Vassouras. É nesta década que o Estado de Sergipe
Era tarde do dia 30 de abril de 1948. Ainda sob as Em janeiro do ano seguinte foi instalado o Departamento apresenta as maiores taxas de crescimento do seu produto
amargas lembranças da II Grande Guerra, o salão nobre da sede Regional do SESI em Sergipe. A entidade tem por objetivos o interno, que o eleva à condição de detentor da maior renda per
da Delegacia Regional do Trabalho, um sobrado ainda hoje estudo, o planejamento e a execução de medidas que contribuam capita do Nordeste brasileiro.
localizado à Rua João Pessoa, na ocasião dirigida por Alcindo diretamente para o bem-estar social dos trabalhadores das
Fernando de Bógea Saint Clair, recebia empresários industriais indústrias e atividades assemelhadas, concorrendo para a Os anos 90 iniciam-se com inovações nem sempre
do Estado. Estavam ali Constâncio Vieira, Anizio Ezequiel de melhoria do seu padrão de vida. A Educação, o Esporte, o Lazer, a benéficas a Sergipe. Dentro de mudanças globais, redefine-se o
Barros, Gervásio Pereira de Almeida, Edgard Santos, Carlos Saúde e a Assistência Social operárias passam a experimentar papel do setor público, com a retirada do Estado da Economia.
Rodrigues da Cruz e Tasso Garcez Sobral. A reunião fora uma nova e importante fase com a multiplicação de ações Isto representa um choque para os sergipanos, posto que o
convocada para a fundação da Federação das Indústrias do direcionadas ao empregado da indústria e seus dependentes. grande capital estatal marcou como força motriz do
Estado de Sergipe - FIES, com a participação dos sindicatos de desenvolvimento acelerado observado nas últimas décadas.
Fiação e Tecelagem, Panificação e Confeitaria, Açúcar, Calçados, Chega a década de 50 e Sergipe, com a política de isenção, Mesmo assim o estado não parou. Sergipe conseguiu reverter o
Alfaiataria e Confecções de Roupas de Homem. amplia seu parque industrial, desenvolvendo vários segmentos que eram derrotas, transformando-as em grande vitória. Dois
como tecidos, açúcar, beneficiamento de arroz, coco, óleos exemplos podem ser citados: com a extinção da Petrofértil, a sua
No mês seguinte, com a presença de autoridades, entre vegetais, sabão doméstico, laticínios, artes gráficas, álcool, subsidiária sergipana, a Nitrofértil, é incorporada à Petrobras; e
elas o Governador José Rollemberg Leite, era realizada a papelão, entre outros. com a extinção da Petromisa, conseguiu-se a continuidade do
Assembléia Geral de instalação e posse da primeira diretoria da Projeto Potássio, através da Companhia Vale do Rio Doce. A
FIES, tendo como presidente o Dr. Carlos Rodrigues da Cruz e Alcançada a década de 60, a expectativa com a exploração vinda da Vale do Rio Doce para Sergipe merece destaque
respectivamente como Secretário e Tesoureiro, os industriais do petróleo gerou um resfriamento das atividades agrícola e especial, pois ainda na década de 90, consolidam-se alguns
Tasso Garcez Sobral e Gervásio Pereira de Almeida. O pecuária e como conseqüência, o setor industrial, que dependia investimentos primordiais para o desenvolvimento de Sergipe,
acontecimento teve lugar no salão nobre da Associação Comercial do algodão, da cana-de-açúcar e do coco, passou a receber entre os quais, com maior destaque, para o Terminal Portuário
de Aracaju, funcionando a federação àquela época na avenida insumos menores e menos atenção das autoridades. Ignácio Barbosa, na Barra dos Coqueiros, o primeiro organizado
Rio branco 330, 1º andar. É também neste período que Sergipe alcança o maior dentro da nova legislação do setor, e entregue para operação
número de empresas no ramo da industrialização do coco. Na justamente à Vale do Rio Doce, que apresenta larga experiência
A nova entidade surge tendo por objetivos amparar e em logística e operações de transporte.
defender os interesses gerais do segmento industrial perante os década de 60 o Estado já é o terceiro em participação no contexto
poderes públicos, colaborando com o mesmo no estudo e solução nacional, perdendo apenas para o Rio de Janeiro e São Paulo, e o O final da década de 90, bem como o início dos anos 2000,
de todos os assuntos capazes de fomentar a coesão e o primeiro em qualidade de produção física. marcam o que deve ser analisado como uma nova fase da
fortalecimento e a expansão econômica. Objetivava ainda Em 1963, com a descoberta do campo petrolífero de economia sergipana, com uma diversificação muito grande do
promover a solução conciliatória dos dissídios ou litígios Carmópolis, começa a ser implantada toda infra-estrutura para setor industrial. Instalam-se novos tipos de indústria,
concernentes às atividades por ela representadas, a adoção de produção efetiva do petróleo, sendo instalada oficialmente a notadamente no setor de transformação, com destaque para a
regras e normas que possibilitassem aperfeiçoar os sistemas de Petrobras em Sergipe. Com relação aos demais minerais que indústria de alimentos e bebidas, de equipamentos agrícolas e de
fabricação e os processos tecnológicos, dentre outras importantes deveriam ser explorados, permaneceram ligados a interesses irrigação, entre outras.
diretrizes que assinalam significativo avanço no processo puramente particulares, dificultando assim o incremento
industrial. A Federação das Indústrias do Estado de Sergipe tanto
definitivo desta atividade, o que só vem a acontecer no final da como entidade de representação sindical quanto como gestora do
Naquele mesmo ano, o Sindicato da Indústria da década, com a criação pelo governo de órgãos de assessoramento SESI, SENAI e IEL continua no tempo e no espaço,
Construção Civil era filiado à Federação das Indústrias, era e planejamento industrial como o Ceag, Inep, Condese e com a desempenhando o papel agregador do empresariado sergipano,
aprovado o pedido de filiação da entidade à CNI e eleitos os seus participação efetiva da Federação das Indústrias. procurando com equilíbrio manter um elo de ligação destes, para
primeiros representantes junto àquela Entidade, nas pessoas dos No início da década de 70 é implantado o DIA - Distrito com o setor público; bem como trabalhando com denodo nos
industriais Durval Rodrigues da Cruz, Carlos Silva Gomes e José Industrial de Aracaju, e definidos alguns incentivos fiscais, que serviços de assistência e benefícios educacionais, de saúde e lazer
Irineu do Nascimento. impulsionam o surgimento de novos empreendimentos ao trabalhador, na formação de mão-de-obra especializada para
industriais. o setor, na transferência de tecnologia e interação universidade-
Em setembro de 1948 foi criado o Departamento Regional indústria.
do SENAI. A partir daí iniciou-se o esforço pela preparação e Em 1971 é oficialmente instalado o Núcleo Regional do
qualificação da mão-de-obra industrial. A entidade deu início, Instituto Euvaldo Lodi, também vinculado à Federação das
primeiro a partir do Centro Coelho e Campos, instalado na Rua Indústrias do Estado. O IEL surge com o objetivo de realizar
Propriá, e depois de outros muitos núcleos, a cursos de investigações, estudos e pesquisas de atividades universitárias
capacitação profissional, assinalando uma nova fase para o entrosadas com atividades industriais promovendo seminários,
segmento industrial que passou a contar com pessoal qualificado cursos especializados, estágios de treinamento. Procura, por fim,
no desempenho das atividades fabris e na operacionalização do contribuir, sob qualquer forma e dentro do espírito da livre
maquinário instalado nas indústrias sergipanas, com iniciativa, para a formação da mentalidade de cooperação
significativa melhoria da qualidade de vida da população. universidade-empresa.

IDALITO OLIVEIRA
Presidente da FIES
Umbaúba uma sombra que
virou cidade
A terra de Nossa
Senhora da Guia era
ponto de parada de
viajantes que cortavam
Sergipe pela região sul

D
epois de chegarem a São Luiz (de
pois Santa Luzia do Itanhi), India-
roba (Espírito Santo) e Chapada
(Cristinápolis), os europeus - primeiros fran-
ceses e depois portugueses - conseguiram
chegar a uma grande região de matas den-
sas no sul de Sergipe, atravessando as bacias
dos rios Real e Piauí. Essas terras vieram a
ser mais tarde a cidade de Umbaúba que,
como a grande maioria dos municípios ser-
gipanos, não faz a menor questão de pre-
servar sua história.
Acredita-se que por volta de 1600, um
dos maiores pesquisadores de minas e des-
bravadores dos chamados ‘sertões’ da nova Igreja Nossa Senhora da Guia
terra, o português Belchior Dias Moreyra,
conseguiu da Coroa uma grande sesmaria Guia e Umbaúba nham pela estrada real, saindo de Santa Luzia
no Rio Guararema, bem próximo onde foi a Itabaianinha. Mas alguns viajantes esten-
erguida a sede do município de Umbaúba. Dentro da grande Fazenda Sabiá exis- diam o descanso e muitos dormiam por ali.
Não se tem notícias nem registros dando tia um riacho de águas claras e mansas. Naturalmente, algum cidadão de bom sen-
conta do início do povoamento das terras O coronel Manoel Fernandes, um devo- so econômico resolveu montar um comér-
de Belchior Moreyra, mas há fortes indíci- to de Nossa Senhora da Guia, nomeou cio nas terras do coronel Manoel Fernan-
os de que existiram lutas sangrentas entre aquela fileta d’água com o nome de Ri- des. Embaixo do pé de umbaúba apareciam
os exploradores e os tupinambás, e uma al- acho da Guia. Hoje, o riacho ainda exis- vendedores para suprir de bebida ou gêne-
deia teria começado a se formar por volta te e depois recebeu o nome de Dois Ri- ros alimentícios os que faziam sua parada
de 1860. achos. Bem nas proximidades do Ria- no ‘Descanso da Umbaúba’, como era cha-
No entanto, sabe-se com certeza que o cho da Guia, surgiu um belo e frondoso mado o lugar.
povoado surgiu a partir da criação de gado pé de umbaúba. Ele era tão grande que Acreditam alguns historiadores, que
na Fazenda Sabiá, que pertencia ao coronel produzia uma agradável e larga sombra. o comércio para atender os viajantes cres-
português Manoel Fernandes da Rocha Como a entrada de Sergipe passava por ceu tanto que uma venderola foi monta-
Braque, ou Braga, como alguns preferem lá, muitos dos viajantes que cortavam o da e algumas casas erguidas por ali. Ver-
chamar. A gigantesca propriedade ficava sul de Sergipe, para chegar a Estância e dadeiras feiras eram realizadas na região
encravada no termo judiciário da Vila do São Cristóvão, paravam embaixo do pé do Descanso da Umbaúba. Num curto
Espírito Santo. A fazenda foi o início da de umbaúba. espaço de tempo, a feira acabou virando
fundação de Umbaúba e o coronel Manoel Esse descanso para os caminheiros e suas um arraial que passou a ser chamado de
Fernandes, que hoje é nome de avenida na mulas era quase obrigatório, e ficou conhe- Riacho da Guia, por conta do estreito
cidade, o seu fundador. cido em toda a região sul para os que vi- curso de água que banhava aquelas ter-

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Imagem de Nossa Senhora da Guia Manoel Gil e o filho: importantes na
fundação Região - Sul de Sergipe
Distância de Aracaju - 98 km
População - Cerca de 17 mil
Atividades econômicas - Agricultura

Zeca Ribeiro: vereador que queria mudar o


nome

uma casa de mercado no Povoado Umbaú-


ba. Essa decisão foi aprovada pela Resolu-
ção Provincial de 13 de setembro de 1883.
Mas esse fato acabou provocando a revolta
dos comerciantes da Vila de Cristina, que
naturalmente se julgaram invadidos em sua
Capela Santo Antônio: antigo cemitério da cidade
jurisdição.
O apelo e os argumentos das autorida-
ras, sendo de vital importância para co- braças quadradas de terra ao redor da cape- des de Cristina foram atacados pelo então
merciantes e viajantes. la, para que o povoado se desenvolvesse. presidente provisório do Estado, o senhor
Não deu outra. Logo foram levantadas ca- Felisbello de Oliveira Freire, que, através
Capela e briga com Cristina sas; o comércio foi reforçado e, para decep- do Decreto de 20 de junho de 1890, aca-
ção do coronel Manoel Fernandes, o nome bou dando ganho de causa aos reclamantes
O coronel Manoel Fernandes, proprie- do lugarejo ficou sendo mesmo Umbaúba. da Vila de Cristina. Felisbello fez mais. De-
tário da Fazenda Sabiá, verdadeiro funda- Depois da criação da Vila de Cristina, o terminou que o mercado de Umbaúba fos-
dor e o maior incentivador do Povoado do Povoado Umbaúba, numa manobra políti- se explorado pelos comerciantes da vila a
Riacho da Guia, nome que não pegou por- ca envolvendo Itabaianinha e Cristina, pas- que pertencia.
que o lugar já havia caído na boca do povo sou a pertencer juridicamente a Vila de Cris-
como Descanso da Umbaúba, resolveu en- tina, “libertando-se” da Vila do Espírito Distrito, vila e cidade
tão levantar uma capela no arraial. Em pou- Santo. Em 1880, a Câmara Municipal de
cos anos, ela já estava erguida e ganhou o Itabaianinha concedeu um privilégio ao Antes mesmo de Felisbello Freire in-
nome de Capela de Nossa Senhora da Guia. coronel Manoel Fernandes da Rocha Bra- terferir na questão do mercado, em 10 de
Oficialmente o coronel acabou doando 60 que: ele poderia construir, usar e gozar de dezembro de 1889 foi criada no povoado

CINFORM 271
Foto da cidade na década de 30

de Umbaúba a primeira cadeira para ensino as melhorias implantadas na sua sede, vêm
primário. Com a morte do coronel Manoel torná-lo tão importante quanto sua sede,
Fernandes, o seu filho, o polêmico major Cristinápolis. Não tinha outra saída. Atra-
Cândido José de Araújo Viana, acabou do- vés da Lei Estadual 525-A, de 6 de feverei-
ando oficialmente a capela de Nossa Se- ro de 1954, no governo de Leandro Maciel,
nhora da Guia, fundada por seu pai, “à ser- que também acabou criando novos muni-
ventia comum e livre dos moradores da cípios, Umbaúba passava então a ser verda-
localidade”. Cândido Viana tinha grande deiramente um município independente.
influência política no Estado, fez uma grande
e estrutural reforma na capela para torná-la Anfilóvio, Zeca e o nome
igreja e foi um dos principais responsáveis
pela independência do povoado. Em 3 outubro de 1954 é realizada a
A atuação de Cândido Viana só veio ter primeira eleição em Umbaúba. Os mora-
resultado em 16 de outubro de 1926, quan- dores iriam escolher o primeiro prefeito e
do foi criado o Distrito de Umbaúba. Nes- os cinco primeiros vereadores. Dos 786 elei- Anfilófio Viana: primeiro prefeito
sa época, a pouca história do lugar faz refe- tores inscritos, votaram apenas 509. O ca-
rência ao capitão Alcides Bezerra Montei- rioca e bisneto dos fundadores de Umbaú- ro, Lourdes, etc?”, lembra Zeca Ribeiro.
ro, filho daquelas terras, e que foi o maior ba, Anfilófio Fernandes Viana, é eleito o Seu projeto não foi aprovado. Quando
incentivador da construção de casas e aber- primeiro prefeito. Entre os cinco primeiros Umbaúba se tornou cidade independente e
tura de ruas. O capitão preparou, planejou vereadores eleitos estava o mestre de car- ele o primeiro vereador, um novo projeto
e executou uma série de ações que levaram pintaria José Dionísio Ribeiro, o Zeca Ri- foi apresentado em janeiro de 1955, na re-
Umbaúba a ser declarado município. Isso beiro, que nasceu em 1914, e foi vereador cém-empossada Câmara de Umbaúba.
só veio a acontecer quando das divisões ter- na Vila de Cristina. “Quando Umbaúba fi- “Mais uma vez queria que o município se
ritoriais de Sergipe, datadas de 31 de de- cou independente, voltei, acabei me ele- chamasse Nossa Senhora da Guia, mas tam-
zembro de 1936 a 31 de dezembro de 1937. gendo vereador por mais três vezes”, reve- bém não tive sucesso”, lamenta Zeca Ri-
Em 2 de março de 1938, Umbaúba se torna lou em 2000 o próprio Zeca Ribeiro. beiro. Todo ano, em 2 de fevereiro, o mu-
vila independente de Cristinápolis, e no dia Foi o então vereador da Vila de Cristi- nicípio de Umbaúba pára para a festa de
20 daquele mesmo mês é elevada à catego- na, por volta de 1947, que apresentou um Nossa Senhora da Guia. C
ria de cidade. projeto tentando mudar o nome do povoa-
Mas curiosamente nos anos seguintes o do. “Era uma homenagem ao fundador do
Texto: CRISTIAN GÓES
município de Umbaúba ainda continuava lugar. Sempre defendi que o nome do po- Fotos e reproduções: MANOEL FERREIRA
aparecendo como um distrito de Cristiná- voado e depois cidade devia ser Nossa Se- Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Colaboração de
polis. Entretanto, o desenvolvimento agro- nhora da Guia. Não existem tantos nomes Gil e Anderson Fontes, professora Adiléia, José Dionísio
Ribeiro e Zeca Ribeiro.
pecuário, seu forte e crescente comércio e de santas em cidades como Glória, Socor-
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E m 1832 era publicado na cidade de Estância
o “Recopilador Sergipano”, o primeiro jornal de Sergipe,
dando início à história da imprensa e às grandes
transformações sociais ocorridas desde então em nosso Estado.
Neste momento, sentimo-nos bastante
orgulhosos em sermos parte significativa da evolução desta
história.

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