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á 7 de Setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI.
GT 19: Juventudes, territorialidades e identidades.
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Bacharel (2009) e licenciado (2012) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Piauí –
UFPI. Desde 2007 é integrante do Núcleo de Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente –
NUPEC/UFPI. Atualmente é colaborador em investigação sobre Bandas Juvenis em Teresina.
Tsss, tsssss2... Uma lata de tinta spray reproduz uma criação imagética no
muro de um cemitério, no alto de um prédio, numa ponte, em algum não-lugar de
Teresina. É noite. Ninguém conhece o autor daquela criação. Poucos conhecem a
prática. Que sujeito é esse? O que caracteriza essa prática? Como se processou o
charpi 3em Teresina? Quem o trouxe? Quem o vivenciou? E, por fim, que leituras
sociológicas são possíveis sobre essa manifestação juvenil contemporânea?
Foto 1: Charpi do Cannabis do grupo Grafiteiros rebeldes - GR. Muro de Pedra na Av.
Dom Severino, Bairro: Morada do Sol, Zona Leste de Teresina PI.
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Está pesquisa foi realizada na disciplina de Estágio Curricular, entre os meses de Março e
Agosto de 2009. Durante o percurso de campo as
Avenidas que cruzam os bairros Marquês, Aeroporto e adjacências – localidades que o grupo
práticas humanas, mesmo as bem sucedidas, e atribuindo a perfeição apenas a
morte.
tinha forte atuação – foram cartografadas na intenção de obter registro fotográfico das frases,
mas nenhuma foi encontrada. Contudo, fomos informados pelo antigo participante do
movimento de pichadores de Teresina, hoje ex-pichador , Magão, do grupo Rebeldes
Anarquistas – RA, que no final da Av. Campo Sales, no muro do Departamento Nacional de
Obras Contra as Secas – DENOCS ainda tinha uma frase. Mas, ao chegar lá, percebemos que
a mesma estava totalmente encoberta por uma grossa camada de lodo que tomava a maior
parte do muro, inviabilizando a identificação.
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Comentário concedido ao autor pelo ex pichador , Magão, RA, quando coletava informações
sobre os praticantes do charpi na cidade durante a disciplina de Estágio Curricular, em 28 de
Maio de 2009.
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Entrevista concedida ao autor pelo Bola 8 durante a disciplina de Estágio Curricular, em 08 de
Agosto de 2009.
Mas o que caracteriza o tipo de pichação aqui examinado? O fato de não
fazer uso de um alfabeto próprio para a prática descaracteriza como pichador
um grupo que utiliza os muros e paredes da cidade para a reprodução de uma
marca individual?
Para determinar o lugar das frases pichadas pelo Rama, bem como da
intrigante mensagem a cima é imprescindível entender a característica
estrutural básica da pichação de muros nos moldes aqui investigados, em
outras palavras – a necessária utilização da cidade como suporte para a
divulgação quantitativa de uma marca pessoal (SOUSA, 2007; GITHAY, 1999).
Após constar que essas características estruturais eram comuns tanto a
mensagem “celacanto provoca maremoto”, quanto as atuais pichações
cariocas, Sousa conclui que “através da massificação, o autor de ‘celacanto
provoca maremoto’ parece ter sido o primeiro autentico pichador de muros
carioca, inaugurando um estilo peculiar, o das chamadas ‘pichações poeticas’”
(SOUSA, 2007, p. 16). No mesmo sentido, as frases de questionamento social
assinadas pelo Rama, acompanhadas de um FM entrelaçado, demonstram
similaridade estrutural com o tipo de pichação aqui analisado: a reprodução
quantitativa com tinta spray de um marca individual pelas noites da cidade. O
que me leva a concluir, a partir dos dados que disponho sobre a prática
teresinense, que a FM é o grupo pioneiro de pichadores de Teresina. Com a
diferença que essas frases eram escritas em letras inteligíveis, em uma época
na qual o movimento de pichadores de muro não estava consolidado na capital
piauiense.
A chegada do alfabeto de letras estilizadas e as fases do charpi em
Teresina
Sabe-se
se que um dos principais representantes desse momento chama-
chama
se Svera, novo membro da FM,, foi responsável pela difusão do grupo na
cidade.. Este sujeito dominava perfeitamente a técnica da pichação. Seu charpi
ganhava forma a partir de traços precisos que delineavam uma seta reta e
estilizavam de forma impecável as letras que compõem seu charpi.
charpi De forma
transversal, o Svera seguiu com suas atividades ao longo das duas últimas
fases do movimento (fotos 3 e 4),
4), conseguindo por entre os anos realizar o
objetivo da pichação: “ganhar a cidade”. Em outras palavras, obter fama e
reconhecimento através da reprodução quantitativa de uma de uma marca pela
paisagem urbana (OLIVEIRA, 2008; SOUSA, 2007; GITHAY, 1999;
VALENZUELA, 1999), somando ainda o status próprio a um pichador da antiga
(OLIVEIRA, 2008). Teresina para este sujeito era um corpo a ser
exaustivamente tatuado quando estampava, noite após noite,
noite, sua criação
imagética pelos suportes das principais avenidas da cidade. Entre eles, os
muros de pedra demarcados pelo Svera prestam-lhe
prestam lhe eternos reconhecimentos
e prestígio. Em sentido igual, mesmo as marquises e prédios7 em que suas
marca já esteve impressa
mpressa manterão sob as novas camadas de tinta a
lembrança que o desafio de suas altitudes foi superado por suas façanhas.
Como tatuagens sobre um corpo, seus
s charpis tatuaram uma nova pele sob o
cenário urbano (DESCAMPS apud DIOGINES, 2008).
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De acordo com informações colhidas na experiência de Estágio Curricular, em Teresina, os
sprays do Svera teveram como alvo prédios como o da Companhia de Habitação
Habitação do Piauí
(COHAB) e do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (SETUT).
(SETUT)
Demonstra-se, assim, que os atores sociais dão novos sentidos aos
suportes da urbe8. As pichações redefinem o público e o privado, transformado-
os em lousas repletas dos símbolos contaminados dos significados dessa
cultura urbana juvenil. Desse modo, os muros e paredes são os outdoors que
divulgam e redimensionam o apelido do pichador tirando-o do anonimato.
Indelével á memória da terceira fase do movimento de pichadores de
muro de Teresina foram as inovações criadas nesse período pelos dois
maiores representantes desse momento, Bola 8 e Kasa9 – ambos membros da
RS
O primeiro sujeito a cima, assim como o Svera, participou ativamente do
movimento desde a chegada das “letragens” á cidade e seguiu com a prática
até seu declínio. Contudo, no início, seu pseudônimo e charpi correspondiam
exatamente ao do Fobia – cofundador da RS, juntamente com o próprio Bola 8.
Atitude questionável quando pensada em um movimento regido pela alteridade,
Bola 8 comenta a questão:
8
A variedade de suportes que o espaço urbano proporciona á prática da pichação demonstra a
versatilidade do objeto desta investigação. Além dos já apontados, são viadutos, passarelas,
placas de sinalização, portões, portas de enrolar, e assim por diante, que podem ser alvos
potencias dos sprays se atenderem a exigência dos pichadores de estarem localizados em
espaços de grande circulação (OLIVEIRA, 2008; PENNACHIN, 2003, SOUSA, 2007).
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Quando concedeu entrevista ao autor durante a disciplina de Estágio Curricular, em 07 de
Junho de 2009, este sujeito pediu a abreviação do seu apelido quando fosse necessário usa-lo.
que ai sabia que era eu né? Ai quando não dava tempo de
coloca o pessoal pensava que era ele. Eu falei: não! Pô,
agora eu vô botar o meu nome agora. Ai mudei para Pink. Ai
daí Pink não deu muita coisa não. Achei muito estranho para
mim. Muito diferente de mim. Não, vô botar outra coisa. Ai
comecei a colocar o Fobia de novo. Só que nesse Fobia que
eu voltei a colocar, eu tava botano diferenciado. Que eu tava
colocano com letrão grande. Que no tempo o pessoal não
colocava, né? [...] Ai comecei a colocar Fobia, que era umas
letras retangular assim [fala desenhando no ar o estilo das
letras] que eu colocava. O Fobia fazia o [charpi] e eu fazia o
letrão grande. Ai foi que foi mais diferenciado.
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Não encontramos nenhum um charpi deste jovem por entre as Avenidas das Zonas Leste,
Sul e Norte da cidade, cidade – zonas cartografadas durante esta investigação.
paisagem da cidade – não estava apenas no fato de que esses primeiros eram
feitos a partir de letras engenhosas11, porém compostos de setas
inexpressivas. Mas sobretudo, por que agora eram feitos em vários estilos, com
o objetivo de adapta-los aos espaços da cidade. Tendência lançada pelo Bola 8
no movimento juvenil do charpi em Teresina (fotos 6, 7, 8 e 9) :
Foto 6: Charpi do Bola 8. Não foi possível determinar o local exato devido a
intolerância que os moradores da casa apresentaram quando tirávamos a
foto,Teresina – PI.
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Paráfrase da expressão “inscrições engenhosas” formulada pelo sociólogo mexicano José
Manuel valenzuela Arce quando investigou as pichações cariocas (1999, p. 10), em pesquisa
avaliativa de continuidades e descontinuidades entre práticas juvenis delinquentes identificadas
em Tijuana e na Cidade do México e outras no Rio de Janeiro.
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Este estilo de seta era empregada no roda pé do muro. Isso quando a parte superior de um
muro bem localizado não era possível de ser pichada.
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O muro da Polícia Rodoviária Federal, localizado na Avenida João XXIII, foi preenchido por
esse outro estilo de seta do Bola 8. Causando impacto entre os praticantes que não tinham um
charpi que pudesse ocupar grandes espaços.
Foto 7: Charpi do Bola 8, Av. Campo Sales, Bairro: Centro/Sul, Teresina – PÌ.
Foto 8: Charpi do Bola 8. Av. Dom Severino, Bairro: Jockey, Teresina – PI.
Bola 8 formou dupla com Kasa nas aventuras com spray pelos itinerários
urbanos. Rebeldes Suicidas que se rebelaram contra o uso do alfabeto
estilizado de pichadores na composição dos seus charpis. Assim como Bola 8,
Kasa também fazia uso de uma longa seta para ocupar grandes espaços (foto
10), bem como a empregava para “superá” charpis que não ocupavam todo o
muro no qual eram feitos. Juntos tornavam-se KasaBola15. Em traços sub-
reptícios trouxeram ino vações que marcaram o movimento de pichadores de
Teresina, impedindo que sejam esquecidos. Mitificados entre a juventude de
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Embora não tenha sido possível encontrar um charpi do Bola 8 empregando está técnica por
entre os muros das Avenidas das Zonas Leste, Sul e Norte da cidade, é possível compreende-
la observando a foto de número 7, na p. 10. Pois da parte superior de um muro aquela seta
descia do charpi do Bola 8 encobrindo, sem riscar, os charpis que não aproveitavam os demais
espaços do local. Na verdade, este sujeito empregava a técnica de “superá” com todos os seus
charpis.
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De acordo com Bola 8: KasaBola foi uma mistura de kasa[...] com Bola 8. [...] [quando] não
dava pra coloca muito, [...] charpi, quando a gente saia com uma lata só [de spray], ele botava
o charpi dele dum lado, ele fazia uma seta e eu colocava o meu charpi em cima da seta dele.
Então ficava um charpi, tipo junto com o dele, né? Ficava um charpi só e [os dois charpi] junto.
Teresina, “[...] desfruta[m] de uma fama ganha a pulso, audácia e spray
(VALENZUELA, 1999, p. 132).
Foto 10: Charpi do Kasa com seta longa. Av. Jockey Club, Bairro: Jockey, Teresina – PI.
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Em São Paulo a prática de subir nos ombros de um companheiro é chamada de “pé nas
costas” (OLIVEIRA, 2008, p. 231).
Referencias