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Epicurismo e estoicismo Ricardo reis

Detentor de uma dignidade sóbria, de uma perfeita clareza de ideias e de uma concepção de vida
simples, o mais clássico dos heterónimos pessoanos prefere o silêncio nostálgico para enfrentar a Sorte a
que os deuses o votaram.

Esta é a atitude que adopta para evitar a dor, para procurar a calma, autodisciplinar-se, nem que para
isso tenha de abdicar dos prazeres da vida, tal como preconizava o estoicismo. Reis revela um
comportamento reflectido e ponderado, resultante da adopção do epicurismo, que defendia que o
sofrimento só pode ser evitado quando não há entrega às grandes paixões ou aos instintos profundos. O
prazer, para ser estável e duradoiro, não pode resultar de sentimentos fortes, deve ser ponderado, isto é,
doseado pela razão. Por isso, e para se evitarem as preocupações, deve viver-se o momento presente
(Carpe diem) e acreditar no poder da razão, remetendo a emoção para a indiferença, "sem amores, nem
ódios, nem paixões que levantam a voz", deixando fluir o tempo, simbolizado nas águas do rio, ou
amando as rosas, que com ele se identificam pela fragilidade e transitoriedade a que estão sujeitas
("Nascem nascido já o Sol, e acabam / Antes que Apolo deixe / O seu curso visível").

Ricardo Reis procura a ataraxia, que patenteia em vários poemas, por exemplo em "Prefiro rosas, meu
amor, à pátria", onde emite o desejo de que a vida não o canse ("Logo que a vida não me canse..."), ou
no curto texto que se segue:

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