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1907

Adolfo Correia Rocha nasce em 12 de agosto em São Martinho


de Anta, concelho de Sabrosa, distrito de Vila real, no seio de
uma família de camponeses. Os pais (Francisco Correia Rocha e
Maria da Conceição de Barros) têm mais dois filhos: José, que
cedo emigra para o Brasil, e Maria, que permanecerá na aldeia
natal.

1913

Inicia os estudos primários na Escola de S. Martinho de Anta

1917

Conclui, com distinção, o exame da instrução primária realizado


na escola de Sabrosa. O professor aconselha o pai a mandar o
filho estudar para o liceu. Dada a inviabilidade económica desta
proposta, o pai coloca duas hipóteses: a ida para o seminário ou
a viagem para o Brasil. A mãe, duvidosa da vocação sacerdotal
do filho, manda-o para o Porto, onde ficará a servir na casa de
uma família burguesa. Sentindo-se revoltado, e não vendo futuro
na sua condição de criado, acaba por forçar o seu próprio
despedimento.

1918

Com uma recomendação do padre de S. Martinho de Anta,


Adolfo Rocha vai estudar para o seminário de Lamego, onde
apenas permanece um ano. Tendo perdido a fé, ao fim desse
primeiro ano, recusa-se a continuar no seminário.A passagem
por Lamego, como dirá mais tarde no Diário, foi decisiva; aí
passou “um dos anos cruciais” da sua “vida de menino”. A
problemática religiosa irá ocupar na obra de Miguel Torga um
lugar digno de registo.

1920

Adolfo Rocha emigra para o Brasil para onde os pais o enviam.


Irá trabalhar durante cinco anos na fazenda de um tio paterno, a
Fazenda de Santa Cruz, no Estado de Minas Gerais. Um relato
impressivo deste período pode ler-se nas páginas de "o Segundo
Dia" de A Criação do Mundo.
"Começava a ficar homem. No meio daquela pujança tropical,
crescia também. Mas enquanto que o corpo se desenvolvia em
tamanho – todos os dias tinha a impressão de não caber na
roupa –, a alma apenas medrava em amargura. Amargura de me
sentir injustamente odiado por minha tia, de ser como um
estranho para meu tio, de viver aperreado no seio da liberdade"

1924

Matricula-se no ginásio Leopoldinense, em Leopoldina, Minas


Gerais, no dia 20 de Fevereiro. É por esta altura que começa a
escrever os seus primeiros versos, imitando o poeta brasileiro
Casimiro de Abreu.

1925

Adolfo Rocha regressa do Brasil. O tio decide recompensá-lo


pelos cinco anos de trabalho na fazenda, pagando-lhe os
estudos em Coimbra. Instala-se num colégio na Estrada da beira
(actual Rua do Brasil) e em dois anos apenas completa os
primeiros cinco do curso geral dos liceus. Sai do colégio e,
alugando um quarto, passa a frequentar o Liceu José Falcão
(instalado, na época, no antigo colégio Universitário de S.
Bento). Apresenta-se a exame e conclui num só ano os dois
últimos do curso liceal.

1928

Inicia os estudos de medicina na Universidade de Coimbra.


Passa a morar na república de estudantes “Estrela do norte”, no
nº 6 da Ladeira do Seminário. Adolfo Rocha publica o seu
primeiro livro, Ansiedade, uma colectânea de poemas cujo
título se revelará emblemático face ao que virá a ser o percurso
literário do autor. O livro jamais será reeditado. Em 1981,
quando organiza a Antologia Poética, Miguel Torga apenas
recupera um verso do seu primeiro livro: “(…) Sinto o medo do
avesso (…)”.

1929

Adolfo Rocha começa a frequentar a tertúlia literária do


café Central e inicia a sua colaboração na Presença, revista
fundada dois anos antes por Branquinho da Fonseca, João
Gaspar Simões e José Régio. O contacto com o grupo
presencista é decisivo para a formação estético-literária do
poeta. Vem-lhe deste tempo o fascínio pelo cinema (de que os
primeiros volumes do Diário dão conta) e por certos autores
que o iriam marcar profundamente (Goethe, Dostoievsky,
Proust, Gide, Jorge Amado, José Lins do Rego, Cecília Meireles,
Jorge de Lima). A sua primeira participação na revista ocorre no
n.º 19 (Fevereiro-Março), onde publica o poema “Atitudes”.
Neste ano, colabora ainda em mais dois números da Presença:
no n.º 22, com os poemas “Baloiço” e “Inércia”, e no n.º 23 com
o poema “Remendo”.

1930

Continua a colaborar na Presença: no n.º 24 (Janeiro), saem


dois poemas (“Balada da Morgue” e “Compenetração”) e no n.º
26 (Abril-Maio) é publicado um texto em prosa (“O Caminho do
Meio”). Publica Rampa, livro de poesia que sai nas edições
da Presença. A 16 de Junho, Adolfo Rocha, Edmundo
Bettencourt e Branquinho da Fonseca enviam uma “Carta a
José Régio e João Gaspar Simões, directores da Presença”, a
participar o afastamento do grupo: “trata-se duma barca que
não vai com os nossos rumos nem para o Norte de cada um…//
Por isso saímos dela: aliviada dos nossos destinos, talvez possa
chegar melhor…”

A carta, difundida sob a forma de folheto volante, provoca a


primeira cisão dentro da Presença. as razões apresentadas
para a saída prendiam-se essencialmente com aquilo que os
signatários consideravam um desvirtuamento do espírito inicial
do projecto, acusando os directores visados do cerceamento
das liberdades criadoras (“Presença aponta-nos confiante a
perspectiva dum tipo único de liberdade”) e da imposição de um
magistério literário ao grupo (“Presença concebe mestres e
discípulos com aquela interpretação convencional, em que os
mestres fazem lições para os que reputam alunos”).

Perante o desalento de Branquinho da Fonseca, na sequência


da ruptura com a Presença, Adolfo Rocha escreve ao amigo, a
27 de julho, assumindo a responsabilidade pela dissidência (n’ A
Criação do Mundo, Miguel Torga, reportando-se a este episódio,
fala da “cisão do grupo, de que eu fora o principal responsável”).
Com este amigo, funda a revista Sinal, que terá vida efémera:
apenas sairá um número, no mês de Julho, com a colaboração
exclusiva dos dois jovens escritores (Branquinho da Fonseca
assina com o pseudónimo António Madeira). Destaque-se o
texto de Adolfo Rocha, “meditação poética sobre uma carta que
chegou ao seu destino”, onde se pode perceber o ataque
veemente aos ex-companheiros da Presença.

Uma auto-avaliação global deste projecto gorado é feita por


Torga n’“O Terceiro Dia” de A Criação do Mundo: “As boas
intenções de fazer dela um farol de nova luz, não bastaram.
Sobrestimara as próprias forças. Pudera discordar dos antigos
companheiros, tivera a coragem de abandonar o movimento e
arrostar com todas as consequências, mas faltava-me voz para
dizer aonde queria ir. E falhei. O primeiro número que apareceu
foi um desastre. Era ingénuo e tumultuoso. Quase todo
preenchido por mim, além dessa gaguez expressiva, patenteava
ainda uma evidência que o não recomendava a ninguém: a
minha solidão”.

Fernando Pessoa escreve uma carta a Adolfo Rocha,


agradecendo o exemplar de Rampa que lhe havia sido enviado,
e apresentando alguns conselhos em torno do modo de
perspectivar a sensibilidade e a inteligência na arte poética.
Adolfo Rocha responde em termos contundentes, discordando
de pessoa e expondo o seu ponto de vista. Pessoa escreverá de
novo uma extensa carta desenvolvendo as suas ideias
estéticas.

1931

Publica o seu terceiro livro de poesia, Tributo. Estreia-se


também na ficção narrativa com o livro de contos Pão Ázimo.
Estas obras não serão reeditadas.

1932

Publica o livro de poesia Abismo.

1933

Adolfo Rocha conclui a licenciatura em medicina.

Coimbra, 8 de Dezembro de 1933


"Médico. Conforme a tradição, mal o bedel disse que sim, que
os lentes consentiam que eu receitasse clisteres à humanidade,
conhecidos e desconhecidos rasgaram-me da cabeça aos pés.
Só deixaram a capa. E aí vim eu pelas ruas fora o mais chegado
possível à minha própria realidade: um homem nu, envolto em
três metros de negrura, varado de lado a lado por um terror
fundo que não diz donde vem nem para onde vai." (Diário
I, 1941).

Regressa a S. Martinho de Anta para aí exercer clínica.

1934

Publica a novela A Terceira Voz. É com este livro que adopta o


nome literário Miguel Torga. No prefácio, a despedida do nome
civil é assinada por Adolfo Rocha:
Com um ósculo vo-lo entrego. Chama-se Miguel Torga. Somos
irmãos e temos a mesma riqueza. Mas há dias reparámos nesta
coisa simples: para que aos vossos olhos um de nós surgisse
Cristo, necessariamente o outro tinha de fazer de Judas. E eu
sacrifiquei-me. […] Ficas tu, Miguel Torga, mas não me chames
Judas, porque só para efeitos legais (já que o auto tem de abrir
com todas as cerimónias do estilo) eu me resigno a ser aquele
que, cheio de remorsos, se enforcou numa figueira e, dela
pendente, jaz, ad aeternum morto, comido dos bichos e com a
língua de fora… Adolpho Rocha

O nome “Torga” é a designação da urze da montanha e o nome


“Miguel” é assumido como uma homenagem a Miguel de
Cervantes e Miguel de Unamuno, dois vultos maiores da cultura
ibérica.

Deixa S. Martinho de Anta e muda-se para Vila Nova, freguesia


do concelho de Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra, onde
passará a exercer as funções de médico clínico geral. Em “O
Terceiro Dia” de A Criação do Mundo, Miguel Torga descreve
admiravelmente os obstáculos com que se deparou no exercício
das novas funções:
“Um Portugal velho e rotineiro, de senhores e servos, estava ali
vivo e presente. De mão vazia, ninguém pedisse justiça,
conforto divino, instrução ou saúde. Parasitas do povo, o padre,
o médico, o professor e o juiz, em nome de Deus, do saber, da
lei ou do Esculápio, exigiam-lhe todas as formas de preitesia, a
começar pela mais concreta: o óbulo dos frutos da terra”
1935

Rende homenagem a Fernando Pessoa, numa nota do Diário,


quando da morte do poeta:

Vila Nova, 3 de Dezembro de 1935


Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal,
fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo.
Fui chorar com os pinheiros e as fragas a morte do nosso maior
poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a
eternidade sem ao menos perguntar quem era.
(Diário, I, 1941).

Serão recorrentes, ao longo da obra de Miguel Torga, as


referências admirativas a Fernando pessoa. Em 1983, escreverá
que “ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um
portugal feito de versos.” (Diário, XIV, 1987)

1936

Publica O Outro Livro de Job, livro de poesia, que se impõe no


meio literário português, e onde se afirma a imanência
humanista da poética torguiana. Miguel Torga funda, com o
crítico albano nogueira, a revista Manifesto. O n.º 1 sai em
Janeiro. na secção “Via pública”, espaço fixo de diálogo e
intervenção, é feita uma das primeiras homenagens ao poeta
da Mensagem, recentemente desaparecido (“Fernando pessoa
era porventura o maior poeta português deste século.
Engrandecido pelo seu isolamento, obscurecido pela sua obra
só parcialmente publicada, – é cedo ainda para julgá-lo”). neste
espaço irão surgir pequenos textos interventivos como
acontecerá no n.º 2, saído no mês de fevereiro, com o apoio
manifestado a Thomas Mann, quando da renúncia deste à
nacionalidade alemã por motivos
políticos. Manifesto apresenta-se como uma revista que,
contrariamente à tendência psicologista e estetizante da
Presença, se pretende atenta à intervenção do escritor na
sociedade, e propõe uma arte enraizada no real, como afirma
Torga em “O Terceiro Dia” de A Criação do Mundo:“Queríamos
uma arte rebelde, enraizada no circunstancial. A Vanguarda
[criptónimo da Presença] nunca valorizara suficientemente a
realidade. O velho mundo burguês, abalado nas estruturas,
estrebuchava nas vascas da agonia, desenhavam-se além-
fronteiras os primeiros sinais doutra aventura humana, e ela
alheada no seu subjectivismo macerador. Essa pertinaz atitude
introspectiva diminuía o alcance do esforço renovador que
empreendera, de que sentia legítimo orgulho, mas que só
esteticamente dera frutos positivos”

1937

Publica “os Dois primeiros Dias” de A Criação do Mundo,


romance autobiográfico. Em Dezembro deste ano viaja para a
Europa, regressando em janeiro do ano seguinte. Atravessa a
Espanha franquista, em plena guerra civil, e viaja por França,
Itália, Suíça e Bélgica.

Marselha, 25 de Dezembro de 1937 […] Viajar, num sentido


profundo, é morrer. É deixar de ser manjerico à janela do seu
quarto e desfazer-se em espanto, em desilusão, em saudade,
em cansaço, em movimento, pelo mundo além. Nesta hora, aqui
deitado na cama dum Hotel Continental qualquer, a ouvir os
passos de um milhão de pessoas na Canebière, que sou eu?
Uma pura ressonância morta de uma vida longínqua. Quando
amanhã me erguer, e for outra vez manjerico na minha terra,
deste dia, desta hora, desta grande cidade, do que fui nela, que
terei eu na mão? Nada, porque não foi nada aquilo que o Lázaro
trouxe da sepultura. (Diário I, 1941) Além de apresentar
anotações desta viagem no Diário, essa experiência será
relatada n’O Quarto Dia de A Criação do Mundo. Passa a
colaborar com regularidade na Revista de Portugal, dirigida por
Vitorino Nemésio, cujo número inaugural sai neste ano. até ao
número 10 (novembro de 1940), publica textos em todos os
números da revista: desde páginas do Diário e de A Criação do
Mundo, a contos de Bichos e ainda alguns poemas.
No primeiro volume do Diário, registará no mês de setembro a
ida às Termas de S. Vicente para tratamentos (“mais um dia
perdido a enxofrar o nariz”).
A passagem pelas mais variadas estâncias termais constituirá
uma rotina obrigatória nas férias do poeta. cinquenta anos
depois, anotará, no Diário XV:

Chaves, 29 de Agosto de 1987 Os habituais quinze dias


terapêuticos a ingerir linfas cálidas. Sou médico, mas acredito
mais na natureza do que na ciência. E tenho inscrições votivas
em todas as fontes de Portugal

1938
Publica “O Terceiro Dia” de A Criação do Mundo.
Obtém a especialidade em otorrinolaringologia pela Faculdade
de medicina da Universidade de Coimbra.
Devido a algumas dificuldades com a Censura, sai no mês de
julho o quinto e último número da revista Manifesto. Neste
número, tal como no anterior, publicado em julho de 1937,
apenas figurará o nome de Miguel Torga como director. Aliás, o
n.º 5 é exclusivamente preenchido com textos de Torga. Esta
revista representará a sua última intervenção num projecto
colectivo.
A partir daqui, o seu percurso literário afirmar-se-á com um
notável espírito de independência. continuará a publicar a sua
obra sempre em edições de autor, recusando-se a enviar os
livros à censura prévia.

Conhece Andrée Crabbé, sua futura mulher, em casa de Vitorino


Nemésio, em Coimbra.

1939

No mês de junho, estabelece-se como médico


otorrinolaringologista em Leiria, passando a residir no n.º 5 da
rua comandante João Belo, edifício onde se situa igualmente o
consultório. Continua a ir a Coimbra nos fins-de-semana para se
encontrar com um grupo de amigos escritores e intelectuais
(António de Sousa, Paulo Quintela, Vitorino Nemésio, Afonso
Duarte, Martins de Carvalho…).

A passagem por Leiria será marcante. Quarenta anos depois de


ter saído da cidade, escreverá no Diário:
“Esta terra foi a grande encruzilhada do meu destino. Aqui
identifiquei e escolhi os caminhos da poesia, da liberdade e do
amor, sem dar ouvidos às vozes avisadas da prudência, que
pressagiavam o pior. Aqui, portanto, arrisquei tudo por tudo,
fazendo das fraquezas forças, das dúvidas certezas, do
desespero esperança”
20 de Novembro de 1980, Diário, XII.

Publica “O Quarto Dia” de A Criação do Mundo. Esta narrativa,


ao apresentar o testemunho de uma viagem a Itália e da
travessia de Espanha, em plena guerra civil, faz uma clara
denúncia do franquismo e do fascismo de Mussolini.
No dia 30 de Novembro, os serviços secretos da PVDE, por
determinação do ministro do interior, emitem uma ordem
“confidencial” para que se proceda “à apreensão do livro ‘O
Quarto Dia da Criação do Mundo’, da autoria de Miguel Torga, e
à detenção deste” [processo 1514/39 (nT4598)].
Miguel Torga é preso pela PSP de Leiria. São apreendidos os
exemplares do livro existentes nas várias livrarias do país.
No dia 2 de Dezembro, os serviços secretos da delegação da
PVDE de Lisboa solicitam a transferência de Miguel Torga para
Lisboa. No dia 3 de Dezembro, passa pela sede da PVDE, na Rua
António Maria Cardoso, antes de ser encaminhado para a prisão
do Aljube.

Na prisão, escreve um dos seus mais célebres poemas de


resistência, “Ariane”, incluído no volume I do Diário.

1940

Miguel Torga é libertado a 2 de fevereiro, por decisão


comunicada por telefone pelo ministro do interior à Delegação
da PVDE de Lisboa.
Casa, em Coimbra, com Andrée Crabbé no dia 27 de Julho.
Foram padrinhos de casamento os amigos Paulo Quintela e
Martins de Carvalho.
Publica Bichos, um dos livros de contos mais originais da
literatura portuguesa, que se afirmará como o maior êxito
literário do autor.

1941

Publica o volume I de Diário, início de uma monumental e


singularíssima obra de feição intimista (na totalidade serão
publicados dezasseis volumes).
Dá à estampa o volume de teatro Terra Firme. Mar(em 1947
sairá uma edição autonomizada de Terra Firme; o mesmo
acontecerá posteriormente com a peça Mar, que terá edição
separada em 1958).
Publica também neste ano o livro de contos Montanha, que
será apreendido pela PVDE. Miguel Torga fará publicar uma
edição no Brasil, em 1955, com o título Contos da Montanha. O
livro irá circular clandestinamente em Portugal até 1968, ano
em que passará a ser novamente editado em Coimbra, em
edição do autor.

Passa a viver na cidade de Coimbra, no n.º 32 da Estrada da


Beira.
Abre o consultório num andar do Largo da Portagem, n.º 45.

No Segundo Congresso Transmontano, realizado no casino das


Pedras Salgadas, apresenta no dia 11 de setembro uma
conferência intitulada “Um Reino Maravilhoso”. Este texto sobre
Trás-os-montes viria a ser incluído posteriormente no
livro Portugal.

1942

Publica o volume de contos Rua.

1943

Publica o volume II do Diário e o livro de poemas Lamentação.


Dá ainda à estampa a novela O Senhor Ventura. Este livro será
reescrito em 1985, ano em que sairá a 2ª edição refundida
(“Pacientemente, limpei-o das principais impurezas, dei um jeito
aos comportamentos mais desacertados, tentei, enfim, torná-lo
legível”). O autor fará obsessivamente revisões dos seus textos;
e muitos deles serão mesmo reescritos, como veio a acontecer
com O Senhor Ventura, 42 anos depois de o ter publicado pela
primeira vez.

1944

Publica o livro de poemas Libertação. Neste ano também dá à


estampa Novos Contos da Montanha, um dos mais celebrados
livros do autor.
Dois contos deste livro (“O caçador”, “A caçada”) reenviam
explicitamente para a caça, uma das paixões de Torga.

S. Martinho, 3 de Outubro de 1949


Não consegui explicar ainda a causa deste sentimento de
segurança que se apodera de mim quando me embrenho pelas
serras à caça. É uma paz de preservação, de anonimato, de
intangibilidade. [… ] Mas à solta por estas brenhas, em perfeito
equilíbrio de alma e corpo, sinto-me na plenitude do ser normal,
casado e harmonizado com o meio.
(Diário, V, 1951)

No dia 5 de Fevereiro, apresenta uma conferência sobre a


cidade do Porto no Clube Fenianos Portuenses (texto que seria
publicado, neste mesmo ano, com o título “O Porto”, e que viria
a ser integrado posteriormente no livro Portugal).
Sophia de Mello Breyner Andresen assiste a esta conferência e
é apresentada a Miguel Torga pelo amigo comum Fernando
Valle Teixeira. O encontro de Sophia com Torga foi decisivo
para a escritora; na sequência do encontro, Sophia enviará 12
poemas ao autor de O Outro Livro de Job. Torga manifesta
grande interesse em ler mais poemas e, neste mesmo ano,
acabará por sair em Coimbra, em edição da autora, o primeiro
livro de Sophia, Poesia. A amizade recíproca entre os dois
autores perdurará ao longo dos anos; e será a situação de
Torga, preso por causa de um livro, que levará Sophia, em 1969,
a aderir como sócia fundadora à “Comissão Nacional de Socorro
aos Presos Políticos”.
Pronuncia mais uma conferência (“Eça de Queiroz – um
problema de consciência”), na cidade do Porto, no final do ano
(24 de Novembro), no âmbito das comemorações do centenário
do autor de Os Maias.

1945

PublicaVindima, o seu único romance.


A sua mulher, Andrée Crabbé Rocha, ingressa na Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, onde passará a dar aulas.

1946

Publica o livro de poesia Odes e o volume III do Diário.


Neste ano, é publicado o poema “Federico García Lorca” a
encabeçara Antologia Poética de Federico García
Lorca (Coimbra Editora). O volume apresenta um estudo
introdutório de Andrée Crabbé Rocha; a tradução dos poemas é
de Eugénio de Andrade.

No dia 25 de Abril, recebe uma carta da capitania do porto da


Figueira da Foz a dispensar os serviços médicos prestados à
casa dos pescadores de Buarcos. São evidentes as motivações
de ordem política que estão na origem deste despedimento.
O Teatro Moderno da Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa encena a peça Mar (em Abril do ano seguinte, este
grupo de teatro universitário apresentará a peça em Coimbra,
no Teatro Avenida).

1947

Publica Sinfonia, poema dramático.


Andrée Crabbé Rocha é demitida das funções de professora da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pelas suas
posições democráticas (por ter criado uma época especial de
exames para os alunos que tinham feito greveno período normal
da avaliação). Às razões políticas da sua demissão não terá sido
alheio o facto de ser casada com Miguel Torga.
A 30 de Junho, o T.E.U.C. representa a peça Terra Firme, no
Teatro Avenida, em Coimbra, numa encenação de Paulo
Quintela.

1948

Publica o livro Nihil Sibi. O título, “encontrado” numa fonte de


Caldelas, é emblemático face ao modo de perspectivar a poesia
e de dizer o lugar do poeta:
“O poeta é uma fonte:/ nada reserva para a sua sede;/canta
também a dar-se,/ E não dorme, nem pára”.
Morte da mãe. Pretende lançar uma revista mensal com o
título Rebate. Estão associados a este projecto Andrée Rocha,
Carlos Sinde (pseudónimo de Martins de Carvalho) e Eduardo
Lourenço. A Censura criará dificuldades e o projecto não se
concretizará.
É-lhe impedida a saída do país, como anota no Diário:

Coimbra, 24 de Fevereiro de 1948 Novamente me foi negado o


passaporte para sair de Portugal. Prisioneiro! E vejam o absurdo
dos zelos policiais! Eles a pensarem que me levavam sombrios
propósitos de minar a ordem, e aqui como quem se confessa o
que eu queria era ver os Velásquez do Prado, e os Memlings de
Bruges!
(Diário, IV, 1949)

1949

Publica a peça O Paraíso e o volume IV do Diário.


No início do ano, participa na campanha da candidatura do
general Norton de Matos à presidência da república. Concede
uma entrevista ao Diário de Notícias (que será publicada
apenas no final do ano) e publica folhas volantes com
mensagens enviadas aos transmontanos de Vila Real e de
Chaves (documentos coligidos no livro Fogo Preso,1976).

“Saúdo-vos de Coimbra, desta Meca do fascismo português que


queremos derrubar. Saúdovos como conterrâneo que aqui lutou
sempre com a sua pena de artista para que tivesse fim a
ignomínia de um povo inteiro oprimido por uma só vontade […]”
(Mensagem aos transmontanos de Vila Real enviada na
campanha eleitoral de 1949, e publicada em folha volante).

Solidariza-se com o amigo Fernando Valle, quando este,


eminente figura da oposição ao regime de Salazar, é destituído
dos cargos de Subdelegado de Saúde e Médico Municipal,
devido ao apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência
da República.

1950

Miguel Torga publica Cântico do Homem, um dos pontos altos


da sua poesia de intervenção. A este livro pertencem os
célebres poemas: “Dies Irae” e “Ar Livre”. É também neste ano
que sai o volume Portugal, um livro admirável de viagem
simbólica ao país e de interpretação da identidade nacional.
Realiza uma longa viagem de carro, durante mais de um mês,
por Espanha, Itália e França, na companhia da mulher e do
amigo Sebastião Rodrigues.
No Teatro da Universidade de Londres, é representada a
peça Mar, com encenação de Ruben A., que também faz, neste
mesmo ano, uma adaptação do espectáculo para a BBC.

1952

Publica Alguns Poemas Ibéricos. Segundo nota do autor, os


poemas reunidos nesta colectânea foram maioritariamente
escritos durante os anos de 1935 e de 1936. Outros poemas do
livro tinham sido publicados no n.º 5 da revista Manifesto, Julho
de 1938 (“Sagres”, “A Largada”, “A Espera”, “O Regresso”,“O
Achado”, “Tormenta” e “Mar”), no n.º 5 da Revista de Portugal,
Outubro de 1938 (“Ibéria”, “A Raça” e “Santa Teresa”) e no nº 8
da mesma revista, Julho de 1939 (“Viriato”, “O Infante”, “D.
Sebastião”).

1953

Publica o volume VI do Diário.


Visita a Grécia e a Turquia, na companhia de Fernando Valle.
Muda de residência na cidade de Coimbra, passando a morar
definitivamente na Rua Fernando Pessoa, n.º 3.

1954

Publica o livro de poesia Penas do Purgatório.


Em viagem por Espanha, no mês de junho, visita Trujillo,
Guadalupe, Olivença, Granada, Zamora. No Diário, ao dar conta
das impressões que esses lugares lhe suscitam, vai reflectindo
sobre a questão ibérica, que inspiraria continuamente o poeta.
No início de Agosto, desloca-se ao Brasil, convidado a participar
no Congresso Internacional de Escritores,em São Paulo. Tratou-
se de um importante encontro organizado no âmbito das
celebrações do IV centenário da fundação da cidade de S.
Paulo. Nele participaram Roger Bastide, João Cabral de Melo
Neto, Robert Frost, William Faulkner, entre outros. No
congresso, apresentou uma comunicação sobre o tema
proposto: “A América vista pela Europa”. Proferiu seguidamente
várias conferências em São Paulo e no Rio de Janeiro sobre os
transmontanos no Brasil, sobre o drama da emigração
portuguesa e sobre a Literatura portuguesa.

Esta foi uma ocasião para o poeta rever os lugares da sua


adolescência – a Fazenda de Santa Cruz e o Colégio
Leopoldinense:

Banco Verde, 23 de Agosto de 1954


[…] A princípio ainda cuidei que venceria essas fraquezas da
emoção. Qual o quê! À medida que o tempo foi decorrendo, a
energia crítica foi diminuindo. E hoje, justamente, creio que
chegou ao zero. Pude verificá-lo há pouco, a contemplar o
edifício do Ginásio onde o mundo da Cultura me abriu o primeiro
postigo, e a pisar, agora, o chão da fazenda que há trinta anos
ensopei de lágrimas. […]
(Diário, VII, 1956).

É atribuído a Miguel Torga o Prémio Almeida Garrett,do Ateneu


comercial do Porto. Na cerimónia de entrega do prémio, a 9 de
Dezembro, o poeta profere um discurso colocando à disposição
do Ateneu a quantia que iria receber, propondo que essa
importância fosse utilizada na publicação das melhores obras
dos poetas jovens concorrentes ao prémio:

[…] é a poesia nova, a poesia nascente, a que traz esperança,


que eu gostaria de ver glorificada nesta casa, à sombra tutelar
de Garrett, poeta eternamente jovem que foi, além de poeta
livre, homem livre e português livre que também quis e
conseguiu ser.
(Diário, VII, 1956).

1955
Publica Traço de União, um livro de ensaios de temática luso-
brasileira, onde reúne as conferências pronunciadas no Brasil,
no ano anterior, acrescentando outros textos relacionados com
os dois pólos (Portugal e Brasil); e ainda evocações de
escritores (José Lins do Rego e Ribeiro Couto).
Nascimento da filha única, Clara.

1956

Publica o volume VII do Diário.


A censura apreende o livro Sinfonia, que havia sido editado em
1947.
Morte do pai.

1958

Publica o livro de poesia Orfeu Rebelde.


Representação da peça Mar pelo Teatro Experimental do
Porto, com encenação de António Pedro. Torga assiste ao
espectáculo no dia 28 de Abril.

No dia 31 de Maio, participa no comício da campanha de


Humberto Delgado em Coimbra (Teatro Avenida).

“Coimbra, 31 de Maio de 1958


[…] Surdo à opinião dos governados, o poder nunca aqui ouviu
senão a própria voz, auto-embalo que bate nas paredes da auto-
suficiência, e se reflecte sem deformação. Mas embora possa
ser irrisório e desprovido de acção imediata, um protesto é
sempre um protesto. Uma vez feito, desliga espiritualmente o
seu autor da canga rotineira a que vai jungido, compromete-o
publicamente com a subversão, solidariza-o com os demais
revoltados, e movimenta a passividade, irmã gémea da
conivência.”
(Diário VIII, 1959)

Em Maio, no final da comemoração das Bodas de Prata do Curso


Médico de 1933, os colegas decidem homenagear Miguel Torga.
A cerimónia é marcada para o dia 7 de Dezembro. Nesta
homenagem é descerrada uma placa a assinalar a passagem de
Miguel Torga pela república “Estrela do norte”, onde residiu
quando estudante de Medicina.

No mês de Junho, faz uma viagem a Espanha, Andorra, França,


Bélgica e Holanda.
No Porto, grava poemas para um disco da etiqueta Orfeu, de
Arnaldo Trindade.

Miramar, 12 de Setembro de 1958


Gravar poesia nossa… Entrar numa câmara de silêncio, ler
versos, e ouvir depois a própria voz desligada do corpo, sozinha,
estranhamente exaltada ou enternecida, ora grave, ora aguda,
áspera e suave no mesmo instante, mas sempre aflita, a clamar
na solidão da noite como uma alma penada…
(Diário, VIII, 1959)

1959

Publica o volume VIII do Diário.


Representação da peça Mar pelo CITAC (Círculo de Iniciação
Teatral da Academia de Coimbra), com encenação de Paulo
Quintela (15 de Março).
No final do ano, Jean-Baptiste Aquarone, professor da
Universidade de Montpellier, com o apoio de um grupo de
intelectuais franceses, belgas e italianos, apresenta à
Academia Sueca a candidatura de Miguel Torga ao Prémio
Nobel da Literatura de 1960.

1960

No início de Janeiro, os jornais portugueses davam conta de


duas candidaturas portuguesas ao Prémio Nobel da Literatura:
Miguel Torga e Aquilino Ribeiro.
A candidatura de Torga é entusiasticamente apoiada por Sophia
de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Alexandre
O’neill, David Mourão-Ferreira, entre outros escritores e
intelectuais.

No dia 20 de Fevereiro, os serviços da PIDE procedem à


apreensão do Diário VIII, nas livrarias de várias cidades do
país.
Um grupo de escritores e intelectuais apresenta um abaixo-
assinado de protesto contra a apreensão deste livro.
Subscrevem o protesto, entre outros, Fernando Piteira Santos,
Pedro da Silveira, Manuel da Fonseca, Urbano Tavares
Rodrigues, Jaime Cortesão, Raul Rego, Armindo Rodrigues e
Manuel Mendes.
A 25 de Fevereiro é levantada a ordem de apreensão do Diário
VIII; contudo, a censura proíbe que na imprensa sejam feitas
referências ao livro.
Neste ano, faz mais duas das suas “viagens meteóricas a
Espanha”, como regista no Diário. Em Abril desloca-se a
Salamanca e a Madrid; em Junho vai a Mérida, a Trujillo e, de
novo, a Madrid.

1962

Publica o livro de poesia Câmara Ardente

1964

Publica o volume IX do Diário.

1965

Publica Poemas Ibéricos. Este livro resulta de uma revisão e de


uma ampliação do livro Alguns Poemas Ibéricos, que havia
saído em 1952.

1966

Representação da peça Mar pelo Teatro Experimental de


Cascais, com encenação de Carlos Avilez e cenários de Almada
Negreiros (estreia em 6 de Maio). Torga assiste ao espectáculo
no dia 28 de Maio.

1967

No dia 12 de Setembro, participa numa celebração do


centenário da abolição da pena de morte em Portugal, realizada
na Universidade de Coimbra. Miguel Torga lê na ocasião uma
conferência, posteriormente editada numa brochura da
imprensa da Universidade, que o autor integrará no volume X
do Diário.

“Convidado a participar neste colóquio comemorativo da


abolição da pena de morte em Portugal, é na dupla condição de
poeta e de médico que estou aqui. O poeta representará, como
puder, o ardor indignado e fraterno de quantos, de Villon a
Victor Hugo, de Gil Vicente a Guerra Junqueiro, protestaram
contra o iníquo pesadelo, e contribuíram para a sua extinção ou
repulsa na consciência universal; o médico simbolizará, com
igual modéstia, a interminável falange daqueles que foram
sempre, e são ainda, em todas as sociedades, os inimigos
jurados e activos de qualquer forma de aniquilamento humano”.
No dia 15 de Dezembro, subscreve um documento de protesto,
assinado por vários políticos e intelectuais portugueses, entre
os quais Mário Soares, Francisco Sousa Tavares e Francisco
Salgado Senha, enviado por carta ao Presidente da Assembleia
Nacional. Pede-se aí a aprovação da Lei de Imprensa, a abolição
da censura prévia e a possibilidade de interpor recurso para
uma instância judiciária nas situações de apreensão de livros.

1968

Publica o volume X do Diário.


Integra a “Comissão de Auxílio ao Dr. Mário Soares”, após a sua
deportação para São Tomé, ao lado de personalidades como
Salgado Zenha, António Macedo, José Cardoso Pires, Vasco da
Gama Fernandes, Mário Augusto da Silva e Fernando Valle.

1969

Recusa o Prémio Nacional de Literatura, um galardão oficial do


regime.
No dia 19 de Abril, recebe o prémio “Diário de Notícias” pelo
seu livro mais recente (o volume X do Diário), distinção que
contempla igualmente o conjunto da sua obra literária.
Participa no II Congresso Republicano, que decorre em Aveiro,
de 15 a 17 de maio.

Aveiro, 16 de Maio de 1969


Congresso republicano. Mal entrei na sala e me sentei,
aproximou-se um jornalista a pedir uma palavra para o jornal. E
desiludi-o:
Desculpe, mas estou aqui como povo, e o povo, em Portugal,
não diz nada.
(Diário XI, 1973)

Subscreve o manifesto “Dos Escritores ao país”. Os signatários,


que propõem o “restabelecimento completo das liberdades em
Portugal”, criticam duramente a situação política do país. Este
documento não chegou a circular, tendo a sua divulgação sido
proibida pela Censura.

1970

No final de Agosto, viaja de carro até à Alemanha e a Itália.


A sua mulher, Andrée Crabbé Rocha, é readmitida na Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa.
1973

Publica o volume XI do Diário.


Em Maio, faz uma viagem a Angola e a Moçambique,
acompanhado pelo padre Valentim Marques, gerente da Gráfica
de Coimbra.
Sobre as motivações desta viagem, escreve n’ “O Sexto Dia”
de A Criação do Mundo:
“Na convicção dessa mudança inevitável, de consequências
imprevisíveis, resolvi aproveitar o interregno para fazer uma
viagem às terras onde nos batíamos na defesa absurda de um
império que não tínhamos sabido construir na hora própria e
teimávamos em conservar na hora imprópria. Mais uma vez a
minha ancestralidade calcorreadora vinha à tona. Pisara já o
Norte de África, mas de fugida, num longo passeio pelo
Mediterrâneo grego. Seria agora a altura de sentir pulsar o seu
quente coração austral, a contemplar os cenários das nossas
grandezas passadas e das nossas misérias presentes”.

A polícia política vigia todos os passos do escritor durante esta


viagem, como o compravam diversos relatórios e notas
informativas da Direcção Geral de Segurança constantes do
processo de Miguel Torga nos arquivos da PIDE/DGS.

1974

Participa nos festejos do 1º de maio na cidade de Coimbra.


Regista no Diário a “explosão gregária de alegria indutiva a
desfilar diante das forças de repressão remetidas aos quartéis”.
Contudo, interroga-se cauteloso sobre o rumo dos ventos da
mudança: “Que oculta e avisada abnegação estaria pronta para
guiar no caminho da história a cegueira daquela confiança?”

Publica O Quinto Dia da Criação do Mundo. O livro, que saiu


uma semana após o 25 de abril, aborda apenas um período de
dois anos da vida do escritor, com destaque para o episódio da
prisão de Torga em 1939.

No dia 1 de Junho, participa no primeiro comício do partido


socialista realizado em Coimbra. Profere o discurso de abertura
onde celebra a hora “de júbilo e comunhão à mesa eucarística
da liberdade”, terminando com palavras de esperança. No dia 30
do mesmo mês, participa noutro comício socialista em Sabrosa.

1975
Participa, como independente, em mais dois comícios do
partido socialista (em Arganil, no dia 2 de Março; em Lisboa, no
dia 20 de Abril).
Intervém civicamente na imprensa ao publicar uma “carta
Vagante” (saída a 6 de Março, no jornal vespertino A Capital),
em que responde a um artigo de Natália Correia, publicado no
mesmo jornal, no dia 28 de Fevereiro, com o título “O silêncio
dos melhores é cúmplice do alarido dos piores”.
Continua a anotar no seu Diário os acontecimentos marcantes
do regime democrático recentemente instaurado:

Coimbra, 25 de Abril de 1975


Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de
exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era
comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a
dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para
as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma
riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua
determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo
consciente da transcendência do acto que ia praticar e ciente
da ambiguidade circunstancial que o permitia. O que faz o
aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder!

No dia 27 de Setembro, profere na rádio uma alocução


condenando as execuções de cinco cidadãos bascos
perpetradas pelo regime de Franco.
Sinde Filipe realiza uma adaptação cinematográfica do conto “O
Leproso” (Novos Contos da Montanha).

1976

Participa em comícios socialistas realizados em Vila real (3 de


Abril), em Sabrosa (10 de Abril), e em Arganil (23 de Abril).

Publica Fogo Preso,livro que reúne conferências sobre


escritores (Eça de Queirós e Teixeira de Pascoaes), mas
especialmente textos de intervenção cívica, como entrevistas e
alocuções, decorrentes da participação nas campanhas
eleitorais de 1945, 1949, 1951, e em diversos momentos do
período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974.

“[…] tão premente e subversivo foi, em dado momento, acusar o


poder armado, tecto de todas as arbitrariedades, como alertar
agora a consciência nacional contra os equívocos de uma
libertação sem francas vocações de liberdade.
[…]
Ao fazer-se homem público, o poeta empresta a voz a quem a
não tem, e arrisca-se a ficar sem voz e sem eco.[…] acossado
pelos problemas do quotidiano pátrio, vinculado pela dignidade
e solicitado por mil apelos, também eu roubei às minhas horas
autónomas de criador algumas horas de contestação directa.”
(do “Prefácio”)

No mês de Maio assiste a uma representação de Mar feita por


pescadores da Nazaré.

Sítio da Nazaré, 8 de Maio de 1976 – O “Mar” representado por


marítimos autênticos.
Pescadores de verdade na pele de pescadores de ficção.
(Diário, XII, 1977).

Em Dezembro, no dia de Natal, planta árvores no terreiro da


Escola de S. Martinho de Anta:

S. Martinho de Anta, 25 de Dezembro de 1976


A velha escola do senhor Botelho finalmente reconstruída e
actualizada. Mais sol, mais higiene, menos gramática e menos
palmatoadas. Mas faltavam no terreiro à volta as mimosas da
minha meninice. E passei a tarde de ferro e pá na mão a plantá-
las. Não estarei cá para as ver crescidas como as de outrora.
Deixá-lo. O meu propósito não era reflorir o passado, mas florir
o futuro.
(Diário, XII, 1977)

1977

Publica o volume XII do Diário. No mês de Junho, recebe


em Bruxelas o Prémio Internacional de Poesia, da XII Bienal
de Knokke-Heist, que lhe fora atribuído em Setembro do ano
anterior.

Bruxelas, 6 de Junho de 1977


[…] Solidário mas autónomo, o poeta é um rebelde que sabe que
a poesia apenas subverte porque transfigura, e que será esse
sempre o seu vanguardismo. A cantar ao sabor da moda, um
poeta vestido de bardo não é menos trágico do que um poeta
ataviado de fâmulo. […]
(Diário, XII, 1977)
No seguimento da ida a Bruxelas, faz uma visita a Londres.
Colabora no filme de João Roque Eu, Miguel Torga, um
documentário que passará na televisão em 1987, em quatro
episódios.
Em Dezembro, participa num Encontro de Poetas, no Solar de
Mateus, juntamente com Sophia de Mello Breyner Andresen,
Eugénio de Andrade, Alexandre O’neill, Pedro Tamen, Fernando
Guimarães, Vasco Graça Moura e Alberto Pimenta.
No âmbito deste encontro, Miguel Torga proporciona aos
participantes uma visita guiada a lugares míticos da sua
geografia pessoal e literária (Panóias e S. Leonardo da
Galafura); na ocasião, os poetas presentes homenageiam o
autor de Orfeu Rebelde.

1978

É apresentada novamente a candidatura de Miguel Torga ao


Prémio Nobel da Literatura, com o apoio de figuras destacadas
da cultura portuguesa, assim como de alguns intelectuais e
criadores estrangeiros, entre os quais o vencedor do Prémio
Nobel da Literatura do ano anterior, Vicente Aleixandre.
Em 6 de Abril, faz um discurso na Escola de S. Martinho de Anta
sobre as condições da saúde no país.

S. Martinho de Anta, 6 de Abril de 1978


Discurso na escola. Todo eu tremia como varas verdes. Era a
criança, que sempre fiquei, a fazer novamente exame. O júri até
ministros incluía. E o tema a desenvolver dizia respeito ao
abandono sanitário a que o país real está devotado. Lá discorri.
Que a ciência assim e assado, que as leis da vida são
solidárias, que o povo necessita de assistência concreta e não
de demagogia curativa. […]
(Diário, XIII, 1983)

No mês de Setembro, participa no seminário “Repensar


Portugal”, realizado no Solar de Mateus.

Solar de Mateus, 8 de Julho de 1978


Repensar Portugal. Desde pequeno que o tento de todas as
maneiras e em todos os lugares.
[…]
(Diário XIII, 1983)
Recebe a Medalha de Honra da Associação Internacional de
Reitores.
No dia 26 de Dezembro, no âmbito das comemorações dos
cinquenta anos da vida literária de Miguel Torga, realizou-se
uma sessão de homenagem ao autor, no Auditório Dois da
Fundação Calouste Gulbenkian. A iniciativa da Secretaria de
Estado da Cultura contou a participação de escritores e
ensaístas que leram textos sobre a obra de Torga (Sophia de
Mello Breyner Andresen, Alexandre O’neill, Eduardo Lourenço,
Fernão Magalhães Gonçalves, Jacinto do Prado Coelho, João
Maia, Vasco Graça Moura e David Mourão-Ferreira, que
desempenhava as funções de Secretário de Estado da Cultura).
No final, o poeta leu um discurso de agradecimento que surge
reproduzido, juntamente com as outras comunicações, numa
brochura da Secretaria de Estado da Cultura. Este texto de
Torga seria posteriormente incluído no volume XIII do Diário:

Sei que não escrevi desses livros paradigmáticos – e nunca


essa convicção foi tão cruciante como neste momento, muito
embora a vossa grata presença aqui me queira dar essa ilusão.
Valha-me a certeza de que o tentei até ao limite das forças, não
seduzido pelo aceno de qualquer aplauso, mas na ânsia
passional, quase somática, de que eles foram uma emergência
expressiva, modesta mas autêntica, do plasma matricial da
pátria.

Sinde Filipe adapta ao cinema mais um conto de Miguel Torga:


“O Milagre” (Novos Contos da Montanha).

1979

A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra presta uma


homenagem a Miguel Torga, associando-se às comemorações
dos cinquenta anos de actividade literária do escritor. No
âmbito da homenagem, realizada no dia 2 de Julho, presidida
pelo Reitor da Universidade, foi inaugurada uma exposição
bibliográfica sobre o autor.
No dia 19 de Agosto, profere um discurso sobre o homem
duriense, no Salão Nobre da Casa do Douro, na Régua, no
encerramento da Feira do Douro (texto inserido no volume XIII
do Diário).

1980
É atribuído a Miguel Torga o Prémio Morgado de Mateus,ex-
aequo com Carlos Drummond de Andrade.

Solar de Mateus, 08 de Junho de 1980


[…] Temperamentalmente avesso a galardões de qualquer
natureza, acabei no entanto por aceitar alguns deles. É que não
há uniformidade de critério possível perante a surpreendente e
paradoxal diversidade da vida. Que poderia eu fazer? Recusá-
los por sistema, pura e simplesmente? Assim procedi quando
tudo dependia da minha exclusiva vontade. Noutras ocasiões,
porém, não era tão fácil a opção. Ao fim e ao cabo, nem a
liberdade é livre. […]
(Diário, XIII, 1983).

Adaptação televisiva do conto “Natal” (Novos Contos da


Montanha).

1981

Publica “O Sexto Dia” de A Criação do Mundo. Trata-se do


último volume do romance autobiográfico (em 1991, Miguel
Torga publicará uma edição conjunta dos volumes do romance,
saídos ao longo de cinco décadas, desde o inaugural volume de
“Os Dois Primeiros Dias”, em 1937).
Neste ano publica também uma Antologia Poética organizada
por si próprio.
Recebe o Prémio Montaigne, da Fundação PVS de Hamburgo.

Lisboa, 10 de Março de 1981


[…] É minha velha convicção de que a cultura universal tem de
ser o somatório de todas as culturas nacionais. E que basta que
falte uma parcela na adição para que a conta esteja errada. Foi,
de resto, Montaigne que assim no-lo ensinou, redigindo a sua
obra monumental no idioma materno, ele que o aprendera só
depois de conhecer o latim cosmopolita.
(Diário, XIII, 1983)

1982

É publicada em França uma selecção de textos do Diário, com


o título En Franchise intérieure. Pages de journal (1933-1977),
na tradução de Claire Cayron. Trata-se do início de uma
extraordinária recepção crítica da obra de Miguel Torga em
França.
1983

Publica o volume XIII do Diário.


Comemoração das bodas de ouro do curso médico, no dia 18 de
Junho, no Hotel do Buçaco. Miguel Torga, como foi sendo
habitual, ao longo dos anos, nestes encontros de
confraternização, discursa sobre o evento (“o tempo já nos fez
compreender a exemplaridade de certos comportamentos, e
que basta às vezes a sombra dum cedro e uma nesga de infinito
para encher uma alma”).
O texto será reproduzido no volume XIV do Diário.
Encontra-se com Samora Machel, em Coimbra, quando de uma
visita oficial do Presidente da República de Moçambique a
Portugal. Miguel Torga convida-o a visitar a região do Douro.

Coimbra, 9 de Outubro de 1983


Encontro e larga conversa a sós com o primeiro Chefe de
Estado de uma nossa antiga possessão africana. Retirados, de
entrada num salão oficial, e depois a voar de helicóptero num
céu de Outono português, éramos como que a imagem exígua e
algo transcendente de duas nações em diálogo, uma já velha,
feita, projectada, e outra mais jovem a fazer-se, mais realidade
política do que espaço pátrio. […]
(Diário XIII, 1983)

1984

Faz uma viagem ao México, na companhia do Padre Valentim


Marques. Registando no Diário a passagem pelos lugares
(Acapulco, Oaxaca, Chinchen Itza, Uxmal, Mérida, Teotihuacan,
Cidade do México), reflecte sobre a realidade histórica, social,
política e religiosa.

Cidade do México, 17 de Março de 1984


[…] Há aqui três dimensões que violentam o meu natural
lusitano. A índia, que é uma opressão religiosa, a espanhola,
que é uma opressão histórica, e a americana, que é uma
opressão económica. E para o entendimento de todas tenho de
forçar a compreensão. Não adiro à crueldade da primeira, não
justifico o sectarismo da segunda, e maldigo o vampirismo da
terceira. […]
(Diário XIV, 1987)

1986
Grava poemas em estúdio para um disco comemorativo que irá
sair no ano seguinte, por ocasião do octogésimo aniversário, na
editora Valentim de Carvalho. O LP receberá o nome Oitenta
Poemas.

Lisboa, 19 de Novembro de 1986


Gravação de um disco. Quatro horas fechado numa câmara de
silêncio a declamar textos na penosa sensação de estar a fazer
um registo a título póstumo como quem dita o testamento.
(Diário XIV, 1987).

1987

Publica o volume XIV do Diário.


Miguel Torga desloca-se a Macau para proferir uma conferência
sobre Camões, no âmbito das celebrações do dia 10 de Junho.
Visita Hong Kong, Cantão e Goa.

1988

No dia 29 de Outubro, na reunião dos 55 anos do curso, dirige-se


aos colegas numa breve e lúcida alocução de despedida.
Adaptação televisiva de “O vinho” (Contos da Montanha) com
realização de C.J. Michaëlis de Vasconcelos e interpretação de
Raul Solnado.

1989

Recebe o Prémio Camões. Trata-se do primeiro autor a receber


o mais importante galardão literário da língua portuguesa. O
prémio é entregue em Ponta Delgada, no âmbito das
comemorações do 10 de Junho, numa cerimónia presidida pelo
Presidente da República, Mário Soares.

Ponta Delgada, 10 de Junho de 1989


Uma vida longa dá para tudo. Para se nascer obscuramente em
Trás-os-Montes, mourejar adolescente em Terras de Santa Cruz,
percorrer, solidário, na idade adulta, os actuais paí-ses
lusófonos em luta pela independência, visitar, alanceado, na
velhice, o que resta do Oriente português, e receber agora,
nestes patrícios e paradisíacos Açores, um prémio sob a égide
de Camões. Nos intervalos, ser cidadão a tempo inteiro, com
profissão tributada e deveres cívicos assumidos, e poeta
rebelde, cioso da sua liberdade de criador, numa época
atribulada, de guerras, tiranias políticas, campos de
concentração, terrorismo, bombas atómicas e outros flagelos
[…]
(Diário XV, 1990)

No dia 2 de Junho, é-lhe atribuída a condecoração de Oficial na


Ordem das Artes e Letras, da República Francesa.

1990

Publica o volume XV do Diário.


É homenageado no Goethe Institut de Coimbra (23 de
Novembro).

Já um dia afirmei em letra redonda que escrever é o supremo


risco que um homem pode correr, pois se constitui réu num
tribunal perpétuo, de que são juízes os leitores das sucessivas
gerações. Ainda hoje estão sentados no banco judicativo os
grandes e pequenos Homeros de todas as civilizações. Deus
queira que eu não seja um dos candidatos à condenação final.

Recebe também uma homenagem na Academia de Coimbra (14


de Dezembro),no âmbito no VII centenário da fundação da
Universidade.

O grupo de teatro “O Bando” encena uma versão dramática


de Bichos (direcção de João brites). O espectáculo foi
inicialmente apresentado no Convento do Beato, em Lisboa,
tendo tido posteriormente representações em várias cidades do
país e do estrangeiro.

1992

Recebe durante o ano diversas homenagens:


Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores,
na sua primeira edição.

Lisboa, 19 de Março de 1992


[…] Expus-me sempre nas montras timidamente, como um
culpado contrito, quase a pedir desculpa aos ocasionais
leitores do meu atrevimento. Embora ufano da vocação, nada
mais pretendi do que cumpri-la, e ser humilde e livremente um
fala-só que falasse por muitos.
[…] E sequei o tinteiro na mira de dar expressão local e
universal a essa constante diversificada. […]
(Diário XVI, 1993)
Prémio Figura do Ano, da Associação dos Correspondentes da
Imprensa Estrangeira (recebido no Estoril, a 8 de Julho).

Prémio Écureil de Literatura Estrangeira, do Salon du Livre de


Bordéus. Este galardão é recebido numa cerimónia realizada na
Câmara Municipal de Coimbra:

Coimbra, 14 de Setembro de 1992


[…] Tive palavras para escrever muitos livros, mas não me
ocorre nenhuma que valha a pena em momentos cruciais como
este. Tolda-se-me a voz, e só no silêncio fechado do coração
consigo pagar a quem devo. É que a vida não cabe num
discurso, por mais sincero e pensado. Misteriosa e imprevisível,
confunde a lógica de qualquer engenho.
(Diário XVI, 1993)

Apesar das homenagens, este ano é marcado por um


acontecimento doloroso:
O encerramento do consultório médico de Adolfo Rocha, no mês
de Junho. Dessa mágoa nos dá conta Miguel Torga numa das
anotações do Diário. Oferece o material cirúrgico ao Hospital
da Misericórdia de Arganil, onde operou durante anos; e o
mobiliário à Junta de Freguesia de S. Martinho.
Nos Estados Unidos realiza-se, no mês de Outubro, um colóquio
internacional sobre Miguel Torga, na Universidade de
Massachusetts, Amherst.

1993

Publica o volume XVI do Diário, comovente testemunho e


impressionante reflexão do poeta face à doença e à
aproximação da morte.

1994

De 3 a 5 de Março, realizou-se no Porto um Colóquio


Internacional sobre Miguel Torga, uma iniciativa da
Universidade Fernando Pessoa, com a participação de
professores, investigadores, tradutores e escritores.
É transmitido na RTP2 o documentário “Torga” da autoria de
Jorge Campos.
Recebe o Prémio da Crítica 1993 do Centro Português da
Associação Internacional dos Críticos Literários.
No dia 7 de Setembro, é agraciado pelo governo do Brasil, em
cerimónia que decorre na Embaixada do Brasil em Lisboa.
Envia uma mensagem para ser lida na 1ª reunião do Parlamento
Internacional de Escritores, realizada em Lisboa, no final do
mês de Setembro.
Homenagem no Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos
Advogados. Cunha Rodrigues, Procurador-Geral da República,
profere uma conferência sobre as representações da justiça em
Miguel Torga.

1995

Miguel Torga morre a 17 de Janeiro, às 12h e 33m, no Instituto


de Oncologia, em Coimbra. No dia seguinte, é sepultado em
campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.

Nota final
Para a elaboração da presente cronologia da vida e obra de
Miguel Torga apoiei-me na leitura dos dezasseis volumes
do Diário e do romance autobiográfico A Criação do Mundo.
Consultei igualmente para o efeito a documentação do espólio
de Miguel Torga depositada na Casa Municipal da Cultura de
Coimbra. Destaco ainda a consulta do livro de Clara
Rocha, Miguel Torga: Fotobiografia, Lisboa, D. Quixote, 2000,
peça fundamental para o estudo de aspectos biográficos sobre
Miguel Torga.
Outras fontes bibliográficas: Andrade, Carlos Santarém, Os dias
de Coimbra na obra de Miguel Torga, Coimbra, Câmara
Municipal de Coimbra / Comissão de Coordenação da Região
Centro, 2003; Melo, José de, Miguel Torga, Lisboa, Arcádia,
1960; Melo, José de, Miguel Torga: fotobiobibliografia, Aveiro,
Estante Editora, 1995; Moreiro, José Maria, Eu, Miguel Torga,
Lisboa, Difel, 2001. Nunes, Renato, Miguel Torga e a Pide,
Coimbra, Minerva, 2007.
Carlos Mendes de Sousa

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