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ACONTECIMENTOS DE CANUDOS
Doe EeomlEWADA
POR
RIO DE JANEIRO
Typ. do "Jornal do Commercio" dé Rodrigue 1 & c.
1890
BI811DfIt ..
E6te vol me a-c;· - ad
60b número_3tO. .3 ._. ..
do no dfJ_..
PRENOÇÃO
"'I
'.' •
M. BEKICIO
OS VISIONARIOS E CANGACEIROS
.;".
PRIMEIRA PARTE
•
",'::': .
Santas Missões
***
O' ac l11tecimentos que se desenvolvem até
c3gora em derredor da vida de um rude sertanejo,
preparando-o para. uma celebraçã.o vindoura, entram
JJa cathegoria dos factos COIlJIl1UUS da vüla humana,
reprodu7.idos em todos os tempos entre todos os
"p 0VOS •
O odio uosl\Iaciés e .A.raujos, as vinuitas resul·
-tantes deste sentimento mau entre as dua. famílias,
não é um caso poradico de que os grande.' poetas
possam actnal1nellte extrnhir novella e dramas de
singulares, uem UIll sentimento exotico
110 Brazil.
E' uma herança cougenita da humanidade, a
imitação co-uatural dos sen timeutos herdados dos
indios e dos emboabas.
OS VISIONARIOS E CANGACEIROS 65
o delegado de hl,
Foi prender um Guabiraba,
Por via desta pri ão
Quasi o Teixeira se acaba.
E 109
***
E c ncluiüo o açude; estão fcita' as partilhas
e a apartação do gado: Benta cacla v z mais apai-
xouada pclo vicio o c iII) passi\'el 1'1'1 Canelinho
,L ele ciullle e Tzabel inteiramente de
Raymundinho, a quem prom€'tteo se guir aI o fim' do
mundo ua vida.
O dia da pal'tida é alllanhã, ao madrugar, e a ve-
lha faz nrla iní cahir num i olamento tristonho como
os d :ertos .
• auda.des para o quc ficam e que j{L e tavam ha-
oitnado- áqueIle, reboliço yozel'ia lc ceutl'na de
pes oa !...
COllloBenta vai cutir-se desgraçada
O padrinho, a qucm cIla'e ,timavu; acompanhava
tambem o vendera o gado ao vclho Tho·
140 o REI DO
•
Canudos
•
SEGUNDA PARTE
MILITARES E POLITICOS
Primeira e segunda expedições
Dissemos atraz :
- Foi então resolvida pelo Sr. governador a pri-
meira expedição, na qual foram enviadas cento e
tantas praças da força ele linha, sob o commando do
Sr. tenente Pires Ferreira, e que fracassou em Uáuá,
acompanhando a mesma expedição um de tacamento
de policia 'ob o commando do alferes Coelho que ahi
deixou a vi<Ja.
Mas como in terv eio a força federa1nessa horro-
rosa contenda'
A questão era puramente estadual, nenhum dos
motivos que autorisam a intervenção do governo
central se tinha offerecido até aquelle momento para
au torisar :semelhante intervenção.
188 o REI DOS JAGUNÇOS
exaltados! »
Os que, porém, raciocinavam com calma não
viam na rebeldia dos jagunços mais do que um pheno-
meno social vulgar á todos as épocas, em todos os
povos, e nunca um movimento politico: phenomeno
de reeomposição, pelo qual nm povo ao cabo de seculo
não e parece mais com o que foi.
De 1830 a 1842 a balaiada e cabanaela foriLo tam·
bem uma rccomposição: as camada inferiores, a
crusta ela naçã01 velha c envelhecida, cahio, éomo se·
creções pelo correr elos tempos, numa reacção ele ele-
mentos ethnico .
Á. commoção de Canudos, eliminação, pelas vias
devoluctivas, que ele orelinario apparece sob a fórma
religiosa nas raças atrasadas, e econ01llica nas adi·
antadas, foi um symptoma de ta mole tia social
que grassa no centro do Brazil, porque a testada já
está conqui tada por outras gentes e outras ideias.
A espalhafatosa e demagogica narração do major
Febronio, obre o encontro que teve com os jagunços,
narração por meio de telegramma, antes de relatar,
a quem de direito, os episodios c feixo da sanguino-
lenta envestida, cabe aqui.
MILITARES E POLITICaS 201
III E' mister que se diga que o SUl'. major Febronio de Brit uão
foi um enviado politico B Cll-nudos, mBS sim um chefe expedicionario
militar, que até tÍ hOra de recue.r falava bem do governo behi30uo,
como se vã do'! telegrammr. que é pois,que tin}lBm o govcrno
·e a poliLica caIU o; seus dese5peros 1 !
lI1ILITA.RE· E POLITICaS 203
- 01'.. . , !
Ar:63 hayer for01ado a ala direitr. em seu respectivo lug"t', o Co-
ron I ill'\lldou to-"M n officio.c's e di55e'-uos :
- )Ieus como todos sabem, t.stou visivelmente enfe,·01o.
lia. muitos dias que tluasi uão me alimento; mas 0<\uurl05 eato; muito
P}lto e yamo) tJUlal o.
•.\. este com-it3, com <1- ol'dem, COCl'}spoucle 1\01 qu'\si toclos
·os oflici..el com Yivr.'l li Republice c 800 Exercito e este)
i\ - Cunha M atto.!.
MILITARES E POLITICOS 325
E nem Re dig>\ que s6 hoje me lembro diaBQ affi ·mar, pois iii-o
·n dias do des3stre se hover infelizmente realizado.
. Com ·eífeito, a '10 de Fevereiro, quanio a b:igad3 ainda estava em
Monte Santo, e3crevi ao General Cunh!\ Matt03, re3idente ne,ta Capi-
tal, na qual expunha francamente o modo por que eatavam sendo
lc.vadas as op}rações, e então tive occasilio de dizer: a derrob é ine-
vltavel, e bnta convicçã) disso tenho, que peço-te pa:'a tomares eslal
e aquellas providencias (negocios domesticos. I
228 o REl DOS JAGUNÇOS
---------
entre e bravos e ou ado, que I)3.garam bem
caro a sua t meridade, sendo JUortos uns e feridos
entre-estes o Tenente Figueira, do 70 de in-
fanteria, que foi sempre, dlU'ante a expedição, o
commandaute da guarda avançada. Cada um ope-
rava por á ,"ontade, isoladamente. }l euhuma
concelltraçtLO de esforços sobre os pontos mais fortes;
pouca efficacia dos tiros pelo cansaço dos soldados
arquejantes c pelo Illodo desordenall0 porque ati·
ravam, üistrahinrlo-se muitos delle' no interior das
aasas com os alimentos e objectos que encontrJ.\'am.
Não ha \"ia força de reserva e de;;cançada parJ. auxi·
liar os bravos assaltaute, que elam bem poucos,
a sustentar as posições tomadas por clles.
A's cio horas da tar(le c!legão o contigentc do
Corpo l'olicial do Estall0 e a ca\'allaria, que havia
fica(10 á retaguarda por nece 'sidades do serviço.
O Coronel l\íol'eira foi illlmediamente e só (não
o acompanhava nenhum dos offieiae' do seu e tado-
maior) le\'al' estas duas forças ao combate pela ex-
trema direita, onde as collocou. Ao voltar para o
lugar onde estal'a a artilharia e donde havia 'abido
•
Os Jagunços em Canudos
II) Foi pi·es'!. nas Cl'.ting"s um'l douda que se dizia che.Dlnr
Izabel Princell'l Redemptom. F2.lloU· se que Cam peno quiz
degollar ao que se oppoz o coronel Telles, havendo entre l! doIS
.auimad discussão,
MILITARES E POLITICaS 251
•
Attenção 1
•
A quarta expedição
COLUiUNA.
COLUMNA
Avulsos da guerra
?
Como ruge este inferno tumultuosamente em de·
sordem ! Soldados sequio os, esguridos,
escassez dagua, fartu-ra de porcat'ia, burros que e
devoram o pello, clarins que tocam a que ninguem
attende, cavalleiros que passam levantando pó, res-
mUllgamento rouco de quem succumbe á foml.',
rações cançada, gemidos pungentes, um brado ao
longe, bois que mugem e morrem, mulheres de coco-
ras como mumias, falta de medicamento para os
feridos nas malas ela. ambulancia medica, um tiro
desgarrado, uma ordem que não se cumpre, cavallos
escarvando o chão, todos varados de fome, feridos
esmolando o que comer, burros lambendo a cro. ta da
terra, ar de estopor na physionomias lugu bre , amo
bulancias cheias de con erva, vinho, agua do Setz e
326 o REI DOS JAGUNÇOS
Combates Phantasticos
•
Desesperos
e
nunca foi attingido, porém o mal a lugubre fachina
que elIe fez no acampamento pinta-a o infeliz repor-
teI' em seu - Avulsos de gtte1"1'a.
Thiago matava friamente, sem adio, porque elle
não era um crente, um fanatisado de Antonio
Mflciel. Fazia o mal para fazer mal. Se elIe tivesse
achado probabilidade de, na situação em que esta·
vam as praças, matar mais jagunços do que podia
assassinar soldados, se colIocaria
ao lado do governo contra os seus companheiros.
Era mau, fôra sempre mau, traiçoeiro, astuto e
descrente.
Matava para satisfazer o instincto, emquanto
Manoel Quadrado cuidava dos feridos, empregando
meizinhas que as sarasse, tambem por instincto de
humanidade c dó que não tinha Thiago.
Uma tarde que labutava com os seus doentes, a
Pimpona procurou-o.
Mostrou·lhe uma carta do VIDa-Nova que ,1
estava esperando em Curral Novo.
- Já devias ter ido. Porque não fostes já' .
ElIa explicou então a situação em que estava.
João Abbade a perseguia com intenções ruins e
trazia-a debaixo das vistas, de sorte que se eIla ten-
tasse sahir para ir encontrar com Villa Nova, quem
sabe o que succederia
Demais o Conselheiro se soubesse onde seu desleal
ex-administrador estava, mandaria bu cal·o, á força.
Não se podia, portanto, pedir nada a elle, o qual se
346 o REI DOS JAGUNÇOS
•
As investidas
nosso ben . Pois bem, vou ter com 131les e lhes ruga:
acabe com esta gnerra, por,q)le nós vencidos;
ahi dentro não tem mais gente para brigar com Vms.,
por isso eu venho pedir para mandar os seus solda<los
abriTem o cerco para nós para nossos mat.tos
e Vms. irem paras suas casas,porque nós estamos abi
dentro como bode no curral. Ha trez dias 'lue se
dorme; está tudo mettidq em buracos e os meninos s6
vivem gritando, porque estão todos com fome e sede.
Morreu qua'i tudo e eu .boje v(:lndo que morria"
rcsol\i apresentar-me, afim de falar com·v. mcês. e
elltão fiz um buraco por baixo de uma parede e
amarrei e t pedaço de panDa uranco n' nma varinba,
p'ra me deixarem passar. Si is.-o durar mai dia
,;,mces. matam todos que estão lá., por isso eu peço
. 11 'ra <1ei."Xar cada um ir p'ras snas ca 'as e vlI1cês.
vão tambem p'ras suas.
- Tem muita gente, aiu<la, inquiria o cbefe.
Temos ainda de gente. Mas na ver-
da<le'que é tn<lo qnasi mulberes e crianças.
-E bomens
-Ainda hai um bocadinho delles.
Não sabe.
-Anda por alli para cima d . meio cento.
- hega a um cento
-Póde chegar e póde não chegar.
Algun officiaes riram- e desta respost& capeio
do diplomata sertanejo.
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I,
MILITARES E POLITICOS 401
PlUlIIEIRA PAliTE
SEGUNDA PAR'l'E