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no Executivo: Legística,
Governança e Avaliação
Módulo
2 Técnicas de elaboração
de atos normativos e
políticas públicas
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Diretor de Educação Continuada
Paulo Marques
Coordenador-Geral de Educação a Distância
Carlos Eduardo dos Santos
Conteudista/s
Eduardo Gomes Barnabé (Conteudista, 2021).
Ivo Pereira da Silva (Conteudista, 2021).
Teresinha de Jesus Araújo Magalhães Nogueira (Conteudista, 2021).
Equipe responsável:
Lavínia Cavalcanti M. Teixeira dos Santos, (Coordenadora, 2021).
Ana Carolina Petrocchi Rodrigues, (Coordenadora Web, 2021).
Maria Karoline Domingues, (Revisão de texto, 2021).
Letícia de Oliveira Martins Duarte, (Implementação Moodle, 2021).
Gabriel Bello Henrique Silva, (Implementação Moodle, 2021).
Michelli Batista Lopes, (Implementação Moodle, 2021).
Jônatas Gomes, (Implementação Rise, 2021).
Ana Paula Medeiros Araújo (Produção Gráfica, 2021)
Caroline M. Coutinho (Diagramação, 2021)
Curso produzido em Brasília 2021.
Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT /
Laboratório Latitude e Enap.
Enap, 2021
Enap Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Referências...................................................................................... 12
Nos países com corpos técnicos de assessoramento é possível verificar que os processos de
elaboração legislativa (leis ou regulamentos) recebem diversos insumos informacionais típicos
da economia do conhecimento.
É nesse sentido que a função legislativa é compreendida como aquela com maior discricionariedade,
já que que cabe ao Parlamento definir a legalidade do seu próprio país e, portanto, o seu leque
de opções para justificar limitações à liberdade e, ao mesmo tempo, assegurar a concretização de
garantias constitucionais. Portanto, como cria a legislação, a atividade de legislação parlamentar
encontra seus limites na Constituição.
Ademais, os reclames sociais por uma maior transparência no trato do dinheiro público, que
incluiu toda a concepção de mecanismos legais para garantia de maior responsabilidade fiscal,
inseriu preocupações acerca do custo para implementação da lei e para a efetivação de direitos
fundamentais - tema que ainda está em desenvolvimento no Brasil.
Assim, como vimos, tanto nos países de direito escrito, (Europa continental, de onde o Brasil
recebeu sua grande influência) quanto de direito consuetudinário (países de língua inglesa), foi
expressa em uma grande quantidade de estudos, políticas de boa legislação, desenvolvimento
de metodologias e de sistemas de tecnologia da informação (legimática) a preocupação com:
• A qualidade da legislação.
• O aumento do seu nível de sua eficácia.
• O incremento da sua eficiência em realizar direitos e solucionar problemas.
Surgiu de organismos internacionais - como OCDE, OMC e FAO - e de executivos, grande parte
das iniciativas para planejar a ação legislativa e o desenvolvimento de rotinas para gestão dos
projetos de lei e de regulações (legislação de competência do Executivo, bem como da legislação
infralegal que retira sua validade de lei).
Há um percurso entre a lei, nos documentos, e sua existência, no cotidiano dos seus afetados. E é
exatamente sobre esse percurso que a elaboração e o planejamento legislativo-regulatório atuam.
A elaboração de políticas públicas e das suas ações correspondentes, portanto, deve ser
harmonizada com os atos normativos necessários a concretizar e materializar comandos abstratos.
Em virtude desse imperativo conciliatório entre a ação governamental e uma legislação-regulação
eficiente que emerge o caráter instrumental da atividade de elaboração legislativa: ela deve
propiciar condições decisionais para solucionar problemas e não os intensificar.
1. À tipologia dos atos normativos, em razão da distinção entre atos de origem legislativa
(leis complementares, leis ordinárias, decretos legislativos, medidas provisórias, etc.)
e os demais infralegais (infelizmente a tipologia vigente dos executivos nacionais não
é homogênea, o que causa diversos tipos de conflitos dentro e fora da administração
pública).
2. Ao regime de competências.
3. E, sobretudo, à definição do grau nas alterações de condutas.
Nesse último quesito, no que tange à legislação, os tipos de normas também identificam o grau
de limitação da liberdade, por exemplo, se as condutas são obrigatórias, proibidas/vedadas ou
permitidas - quando expressam faculdades.
O Decreto Federal nº 10.139 de 2019, para fins de consolidação e revisão dos atos normativos
inferiores a decreto, admite a existência de:
I. Portarias;
II. Resoluções;
III. Instruções normativas;
IV. Ofícios e avisos;
V. Orientações normativas;
VI. Diretrizes;
VII. Recomendações;
VIII. Despachos de aprovação; e
IX. Qualquer outro ato inferior a decreto com conteúdo normativo. (Grifo nosso)
A grande questão trazida pelo decreto sobre esse dado de realidade – da quantidade de tipos
normativos oriundos da atividade infralegal do governo federal – é a revelação da ausência de
uma definição que seja homogênea para todos os órgãos, que tem seus próprios tipos de atos
normativos. Esse modelo de total falta de homogeneidade é replicado nas esferas estaduais e
municipais.
O mesmo decreto determina que, a partir da sua vigência, os atos normativos infralegais, inferiores
a decretos serão os seguintes: portarias - atos normativos editados por uma ou mais autoridades
Todavia, a disposição admite que possa haver o uso excepcional de outras denominações de atos
normativos por força de exigência legal, edição de portarias, resoluções ou instruções normativas
conjuntas.
Essa questão diz respeito, ainda, à vigência de toda sorte de atos normativos, muitos com
designações e de diferentes origens, mas tratando dos mesmos assuntos, ou seja, de assuntos
conexos que compartilham o mesmo campo de ação governamental das suas respectivas políticas
públicas. Por isso que identificar qual é o direito que está valendo para determinadas áreas
costuma ser tarefa para especialistas, apesar de a Constituição criar o dever de que todos devam
conhecer a lei.
No Canadá, por exemplo, há uma tipologia definida de atos infralegais para toda a administração
pública, além de um dever de republicação do direito vigente ao final de cada ano – uma estratégia
de saneamento do sistema.
No Brasil, se considerarmos a existência de uma legislação multinível que inclui as esferas regionais
e locais, podemos ter ideia da grandiosidade do desafio na harmonização na elaboração de atos
normativos e políticas públicas.
A percepção do senso comum da força do Direito em países de Civil Law acha-se ligada à crença
de que a lei tudo resolve. Isso não se confirma, todavia, sem que a lei seja planejada para bem
operar seus efeitos e os mesmos sejam aptos a reduzirem os impactos dos problemas, objetos
do seu respectivo foco.
Assim sendo, uma política de boa legislação deve estar ancorada no saneamento
do sistema normativo, pela via da consolidação, “tirando de circulação” atos
anacrônicos, ambíguos, repetitivos e/ou sem condições de serem aplicados.
O governo federal brasileiro, por meio do Decreto Federal 10.139/2019, dispôs sobre a revisão
e a consolidação dos atos normativos editados por órgãos e entidades da administração pública
federal direta, autárquica e fundacional. Essa ação de harmonização fará sentido desde que venha
acompanhada por ações de revisão capazes de incrementar, em todos os níveis, a qualidade da
legislação e regulação no que diz respeito a:
• Clareza.
• Avaliação de impacto prévia e a posteriori.
• Planejamento da implementação.
• Garantia de funcionamento de estruturas de aplicação.
O ciclo das políticas públicas exige que o problema público seja definido e justificado, que objetivos
sejam identificados e ações de implementação, planejadas. Portanto, o desenho do fluxo de
informações da elaboração legislativo-regulatório da Legística Material é harmonizado com o
mencionado ciclo.
Quando uma legislação preexiste a uma política pública, uma adaptação necessita ser planejada
para que a harmonização possa contemplar as dimensões de eficácia social. A realizabilidade da
legislação é evidenciada pela sua adesão por parte da maioria dos seus afetados que contribuem
para maior eficiência dos objetivos do ato normativo e da sua eficácia técnica (as autoridades,
estruturas e atos normativos são aptos a responderem pela garantia das condições de sua
aplicação).
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