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Elaboração Legislativa

no Executivo: Legística,
Governança e Avaliação
Módulo

3 Avaliação de Impacto
Legislativo-Regulatório
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Diretor de Educação Continuada
Paulo Marques
Coordenador-Geral de Educação a Distância
Carlos Eduardo dos Santos
Conteudista/s
Eduardo Gomes Barnabé (Conteudista, 2021).
Ivo Pereira da Silva (Conteudista, 2021).
Teresinha de Jesus Araújo Magalhães Nogueira (Conteudista, 2021).
Equipe responsável:
Lavínia Cavalcanti M. Teixeira dos Santos, (Coordenadora, 2021).
Ana Carolina Petrocchi Rodrigues, (Coordenadora Web, 2021).
Maria Karoline Domingues, (Revisão de texto, 2021).
Letícia de Oliveira Martins Duarte, (Implementação Moodle, 2021).
Gabriel Bello Henrique Silva, (Implementação Moodle, 2021).
Michelli Batista Lopes, (Implementação Moodle, 2021).
Jônatas Gomes, (Implementação Rise, 2021).
Ana Paula Medeiros Araújo (Produção Gráfica, 2021)
Caroline M. Coutinho (Diagramação, 2021)
Curso produzido em Brasília 2021.
Desenvolvimento do curso realizado no âmbito do acordo de Cooperação Técnica FUB / CDT /
Laboratório Latitude e Enap.

Enap, 2021
Enap Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Educação Continuada
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF

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Sumário
Unidade 1 - Estratégias de avaliação de impacto Legislativo-
Regulatório........................................................................................ 7
1.1 Fundamentos da Avaliação na Legística (o que é, quando, tipos, formas)........7
1.2 Instrumentos e ferramentas............................................................................10
1.3 Reconstrução da cadeia de fontes do direito..................................................14
1.4 Diálogo entre as fontes de direito (jurisprudencial judicial e administrativa).14
1.5 Reconstrução do cenário parlamentar............................................................15

Unidade 2 - Lições e regras de ouro para uma boa gestão legislativo-


regulatória...................................................................................... 17
2.1 Guias, estudos e políticas de melhoria regulatória ao redor do mundo.........17
2.2 Regras de ouro para governança em elaboração legislativo-regulatória.........20
Referências............................................................................................................21

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3
Módulo

Avaliação de Impacto
Legislativo-Regulatório

Unidade 1 - Estratégias de avaliação de impacto


Legislativo-Regulatório
Ao final desta unidade você será capaz de reconhecer ações para incremento do nível de
implementação e executoriedade.

O primeiro país a consagrar a avaliação legislativa no seu texto constitucional foi a Suíça. A
preocupação com o custo de realizabilidade dos direitos alterou a gestão pública federal,
influenciou a administração cantonal em direção a um programa de governança orientado pela
Legística e amparado por manuais/guias destinado aos seus gestores cientes das vantagens
documentais advindas da padronização e da sua específica modulística.

1.1 Fundamentos da Avaliação na Legística (o que é, quando,


tipos, formas)
A avaliação legislativa é um gênero do qual a avaliação de impacto é uma espécie que geralmente
associada à produção normativa do Executivo e/ou àquela que ocorre em parlamentos sob o
regime da Common Law dirigida à melhoria do ambiente regulatório e da confiança em instituições
e processos.

Todavia, para exemplificar, parlamentos como o francês, o canadense, o norueguês, norte


americano, britânico, suíço, alemão, dentre outros, sobretudo da União Europeia criaram seus
mecanismos em maior ou menor grau, de avaliação de leis e de legislação infralegal.

Revisitemos a modelagem da elaboração legislativo-regulatória tendo em vista a definição e


reconstrução de um dado problema que reclame uma ação legislativa ou regulatória:

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Fonte: Morand, Charles- Albert. Légistique formelle et matérielle. Formal and Material Legistic.
Aix-en-Provence. Presses Universitaires d’Aix Marseille, 1999

A Legística inclui a avaliação legislativo-regulatória na sua metodologia há cerca de 50 anos e


reúne técnicas e procedimentos para uma análise compreensiva. Contudo, a par de sua dimensão
empírica, ela desenvolveu estudos sobre a problematização da legislação como fonte do direito,
seja no processo legislativo, seja na atividade de produção normativa realizada pelos governos,
com o escopo não só de incrementar a inteligibilidade, a racionalidade e a adequabilidade prática,
mas também de evitar uma produção normativa incapaz de promover a melhoria da situação
fática que pretendeu legislar.

Nesta perspectiva, empiricamente, a Legística evolui para atender às demandas de maior


legitimidade, efetividade, eficiência e transparência em todas as modalidades de elaboração
legislativo-regulatória.

Mais recentemente, observa-se no cenário brasileiro uma embrionária, porém crescente adesão
a algumas das principais metodologias da Legística na produção legislativa brasileira, como, na
Lei 13.874/19, a expressa menção à necessidade de estudo de impacto regulatório para certas
regulações na seara econômica.

Vimos também em 2019 a edição da Lei 13.848, que dispôs sobre o processo decisório das agências
reguladoras e que traz importantes elementos para uma avaliação que responda e justifique a
decisão em normatizar. As agências reguladoras regulam seus próprios processos decisórios, mas
devem atentar para as normas gerais presentes no Decreto 10.411/2020 específico para avaliação
de impacto – AIR – dirigido aos órgãos e às entidades da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional, quando da proposição de atos normativos de interesse geral de agentes
econômicos ou de usuários dos serviços prestados, no âmbito de suas competências.

O Decreto de AIR traz algumas definições legais de grande valia a fim de definir o conteúdo e
expressar uma interpretação autêntica (grifos nossos):

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I. análise de impacto regulatório - AIR - procedimento, a partir da definição de
problema regulatório, de avaliação prévia à edição dos atos normativos de que trata
este Decreto, que conterá informações e dados sobre os seus prováveis efeitos, para
verificar a razoabilidade do impacto e subsidiar a tomada de decisão;
II. ato normativo de baixo impacto - aquele que:
a) não provoque aumento expressivo de custos para os agentes econômicos ou para
os usuários dos serviços prestados;
b) não provoque aumento expressivo de despesa orçamentária ou financeira; e
c) não repercuta de forma substancial nas políticas públicas de saúde, de segurança,
ambientais, econômicas ou sociais;
III - avaliação de resultado regulatório - ARR - verificação dos efeitos decorrentes da
edição de ato normativo, considerados o alcance dos objetivos originalmente
pretendidos e os demais impactos observados sobre o mercado e a sociedade, em
decorrência de sua implementação;
IV - custos regulatórios - estimativa dos custos, diretos e indiretos, identificados com o
emprego da metodologia específica escolhida para o caso concreto, que possam vir
a ser incorridos pelos agentes econômicos, pelos usuários dos serviços prestados e,
se for o caso, por outros órgãos ou entidades públicos, para estar em conformidade
com as novas exigências e obrigações a serem estabelecidas pelo órgão ou pela
entidade competente, além dos custos que devam ser incorridos pelo órgão ou pela
entidade competente para monitorar e fiscalizar o cumprimento dessas novas
exigências e obrigações por parte dos agentes econômicos e dos usuários dos serviços
prestados;
V - relatório de AIR - ato de encerramento da AIR, que conterá os elementos que
subsidiaram a escolha da alternativa mais adequada ao enfrentamento do problema
regulatório identificado e, se for o caso, a minuta do ato normativo a ser editado; e
VI - atualização do estoque regulatório - exame periódico dos atos normativos de
responsabilidade do órgão ou da entidade competente, com vistas a averiguar a
pertinência de sua manutenção ou a necessidade de sua alteração ou revogação.

Art. 3º A edição, a alteração ou a revogação de atos normativos de interesse


geral de agentes econômicos ou de usuários dos serviços prestados, por órgãos e
entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional será
precedida de AIR.

Há uma clara escolha pela harmonização de políticas públicas com a elaboração legislativa.

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Saliente-se, todavia, que a produção normativa exige uma abordagem
compreensiva e sistêmica que enseja diversas camadas de análise além dos
custos. Cada problema/tema exigirá uma massa de insumos informacionais,
sobretudo de cunho geográfico e estatístico. Entretanto, uma definição clara
do que seria “aumento expressivo” da despesa, não “repercussão substancial”
em políticas públicas, seria desejável até para reduzir os impactos da atividade
de densificação normativa.

Quando um novo ato normativo ingressa no ordenamento jurídico, deve conformar-se aos ditames
constitucionais, aos direitos e garantias constitucionais, às outras leis e às suas exigências.

O desenvolvimento sustentável, ainda, exige que a livre iniciativa leve em conta outros impactos
legalmente garantidos, de ordem ambiental, à saúde humana, à preservação de patrimônios
imateriais, à autonomia científico-tecnológica nacional, dentre outros.

A ponderação de todos esses interesses juridicamente protegidos é um dos desafios a um modelo


brasileiro de avaliação de impacto, ou mesmo de avaliação legislativa, já que constitucionalmente
cabe ao Parlamento nacional:

• Legislar sobre planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento.


• Apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo.
• Suspender a eficácia dos atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.

1.2 Instrumentos e ferramentas


No campo da avaliação legislativa, sobretudo a avaliação ex ante ou prévia, não se trabalha com
certezas, mas sim com probabilidades. Não se pode dar provas absolutas acerca dos efeitos que
uma norma irá produzir na realidade. Mas a reconstrução do cenário presente fornece importantes
chaves de interpretação para a modelização causal, impactos, mapeamento dos afetados e
densidade do impacto normativo.

Neste particular, a tecnologia da informação tem um importante papel a cumprir, pois possibilita
trazer à elaboração legislativo-regulatória várias perspectivas da realidade a ser regulada, além
de possibilitar formas de interação com a sociedade civil.

Um dos grandes desafios da implantação de um programa de avaliação legislativa se refere à


mudança na cultura de elaboração legislativo-regulatória, na sua gestão, na sua governança. Desse
modo, programas de capacitação acompanharam toda a implantação de políticas públicas para
boa legislação e/ou melhoria do ambiente regulatório em países da OCDE.

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Para orientar os gestores ao longo do seu cotidiano burocrático, guias e manuais foram elaborados
com orientações práticas alinhadas aos respectivos desenhos institucionais: os guias e manuais
necessitam conciliar o organograma e suas funções, com o fluxo de etapas e seus correspondentes
instrumentos - inclusive modelos de formulários próprios da avaliação.

O revogado Decreto 4176/2002 continha um instrumento de avaliação de impacto nos seus anexos.
Concebida de forma analítica, o seu modelo de checklist, teve o escopo de detalhar a dimensão
dos impactos. Por outro lado, o Manual de Redação Parlamentar da ALMG também introduziu na
sessão de preparação da lei a figura do estudo preliminar com questionário de referência para a
preparação da lei - um checklist.

Considerando a disciplina legal brasileira com a Lei de Acesso à informação e o Código de Defesa
do Usuário do Serviço Público, além das Boas Práticas de Plain Language, a modelagem do
ato normativo necessita considerar elementos para sua inteligibilidade e incremento da sua
comunicação. Neste sentido, o esquema da Legística Formal oferece uma abordagem metódica
para a publicidade do séc. XXI:

Fonte: Morand, Charles- Albert. Légistique formelle et matérielle. Formal and Material Legistic.
Aix-en-Provence. Presses Universitaires d’Aix Marseille, 1999.

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Emissor – Parlamentar ou Gestor com competência normativa que se vale da
linguagem oficial para se comunicar.
Contexto – Ambiência onde ocorre a “incidência” do ato normativo que inclui quem
o invoca, quem é responsável pela sua executoriedade e o conjunto de condições
para a compreensão.
Mensagem Recebida – Estado que expressa como a informação contida no ato
normativo chega até os afetados pelo ato normativo.
Decodificação – O Receptor/afetado “traduz” a informação contida no ato
normativo para a sua linguagem. O Estado pode fazer esse papel, ao potencializar
a publicidade, inclusive com outros gêneros textuais e/ou mídias.
Código do Receptor – Linguagem natural usada pelo afetado.
Código Comum – Linguagem natural compartilhada tanto pelo Emissor, quanto
pelo Receptor. A linguagem simples (Plain Language) pode ampliar esse código
incrementando o processo comunicativo dos atos normativos.
Código do Emissor – Linguagem da lei, redação oficial, técnica legislativa
(Padronização de linguagem em estruturas lógico-formais).

Vejamos agora uma boa prática do Portal de Políticas Públicas da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais, na qual está evidenciado como o circuito de informações da ação governamental comunica
as interações dentro do sistema dos atos normativos da cadeia de fontes do Direito do Saneamento
Básico: visualização da rede de impacto legislativo do Saneamento Básico.

Fonte: https://politicaspublicas.almg.gov.br/temas/index.html?tagNivel1=9&tagAtual=9

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Fonte: https://politicaspublicas.almg.gov.br/temas/index.html?tagNivel1=9&tagAtual=9

Para que o instrumento de avaliação faça sentido, ele deve ser elaborado considerando o contexto
e o tema/assunto. Todavia, um Instrumento com diretrizes para dimensões da avaliação de impacto
eve orientar a checklist para reconstrução do cenário, planejamento da ação legislativa e da rede
garantidora de implementação:

1. Análise da situação existente (suporte da decisão de legislar).


2. Determinação dos objetivos a serem atingidos pela ação legislativa.
3. Definição do Problema que a ação legislativa pretende solucionar.
4. Busca dos possíveis meios e instrumentos que podem ser usados para solucionar o
problema.
5. Análise das possíveis alternativas e a escolha da solução.
6. Drafting da legislação.
7. Publicação e entrada em vigor.
8. Implementação da Legislação.
9. Avaliação e Retrospectiva dos Efeitos.
10. Adaptação da Legislação /Regulação.

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1.3 Reconstrução da cadeia de fontes do direito
As modelagens de reconstrução da cadeia de fontes direito são ferramentas de cunho visual que
permitem concentrar em pequeno espaço, uma gama dinâmica de informações sobre o impacto
de cunho legislativo-regulatório.

Trata-se da expressão da situação de vigência e/ou correlações de um dado sistema ou subsistema


de atos normativos com outros, e suas respectivas estruturas burocráticas. Esses modelos
permitem verificar o nível de conexão entre os atos normativos e suas políticas públicas. No
exemplo abaixo, as relações entre estruturas de elaboração legislativa e subsistemas normativos
são demonstrados:

Clique na imagem abaixo para ampliar.

Fonte: Portal de Políticas Públicas ALMG - https://politicaspublicas.almg.gov.br/index.html

Verificar a cadeia de validade de um dado tema/ assunto é também um essencial instrumento


para a avaliação tanto da situação presente quanto dos elementos a serem considerados em
situações futuras.

1.4 Diálogo entre as fontes de direito (jurisprudencial judicial e


administrativa)
A jurisprudência é um importante indicador da efetividade e eficiência dos atos normativos na
medida em que problemas públicos persistentes, situações de anacronismos, tensões no plano
da efetividade, falhas redacionais que levam a ambiguidade, falta de clareza e de homogeneidade
nos textos, lacunas, dificuldades de aplicação culminam por revelar o impacto de um dado ato
normativo em vigor ou da ausência de legislação em dado setor.

Pesquisas cruzadas de decisões judiciais, por temas, regiões, tipos de ações, partes, recursos
permitem rastrear e categorizar um conjunto de relevantes informações sobre o tipo de deficiência
ou qualidade que um dado sistema ou subsistema normativo apresenta.

O LexML é um exemplo de ferramenta desenvolvida para essa correlação entre diversas fontes do
direito, e em diversos níveis da federação, a saber: legislação, legislação infralegal, jurisprudência.

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O LexML é um portal especializado em informação jurídica e legislativa, que
reúne leis, decreto, acórdãos, súmulas, projetos de lei, entre outros documentos
das esferas federal, estadual e municipal dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário de todo o país. Pretende-se integrar e dar acesso às informações
disponibilizadas nos diversos portais de órgãos do governo na internet.

1.5 Reconstrução do cenário parlamentar


As diretrizes para efetivar os objetivos e, com isso, a qualidade da legislação servirão de guia para
a dinâmica da ação legislativa. Elas são desenvolvidas a partir dos princípios da alternatividade,
da temporalidade, da coerência e da densidade normativa necessária.

No artigo Estudos em Legística você pode ler sobre esses princípios e suas
relações no contexto da legisprudência (páginas 85 a 90).

O exercício dessas diretrizes - apresentadas como deveres - reforça o nível de responsividade por
parte da autoridade legislativo-regulatória, seja ela um parlamentar ou um gestor. Veja abaixo
quais são esses deveres:

Dever de identificar fatos relevantes


O processo de legislar deve ser iniciado por uma avaliação dos fatos, pela
reconstrução do cenário atual e pela discussão de como esses fatos serão trazidos
ao cenário (com participação dos afetados).
Dever de problematizar
A identificação de uma certa situação ou fato como problemático é importante para
que se defina o escopo da limitação a ser discutida, bem como as perspectivas que
intensifiquem ou inviabilizem a situação problematizada.
Dever de ponderar das alternativas
A justificativa deve ser razoável e deve-se dar preferência às alternativas com menor
densificação normativa, ou seja, que esgote o tema num número menor de atos
normativos.
Dever de prospecção
É o dever de levar em consideração futuras circunstâncias, o dever ser, o porvir ou
de realizar uma avaliação ex ante. Este exercício de olhar para o futuro deve ter

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uma conexão com a realidade na medida em que possa incrementar a eficiência
do ato normativo que é sua eficácia face outros atos normativos do sistema.
Dever de retrospecção
É o dever de avaliar os efeitos concretos que a limitação exterior teve ou de realizar
uma avaliação ex post a fim de readequar o texto do ato normativo ao seu contexto.
Dever de correção
Após ter cumprido todos os deveres anteriores, ao legislador é imposto (como
consequência racional) o dever de corrigir as falhas identificadas e melhorar o ato
normativo e consequentemente, o sistema.

O desenho do contexto parlamentar de um dado processo legislativo exige que o gestor em


governança legislativa possa reconstruir a dinâmica parlamentar, por meio da observação da
movimentação dos grupos de interesse, do lobby, frentes parlamentares, blocos parlamentares.

Os processos de incidência sejam por advocacy ou pela atuação dos parlamentares, interessados,
afetados podem ser rastreados por meio dos trabalhos parlamentares, documentados pelas
atas de audiências, oitivas, emendamentos, requerimentos e depoimentos, notadamente das
comissões permanentes, comissões parlamentares de inquérito.

Essa pesquisa de cunho empírico, aos moldes de uma pesquisa-ação, pode se valer também dos
métodos da Etnografia e Cartografias jurídicas. A construção metodológica do campo empírico
é composto pelos elementos do universo, amostragem, inferência e grau de generalização dos
resultados.

Uma nova fronteira se abre também com o uso de dados de georreferenciamento e da


geoinformação como importante camada de análise nos processos decisórios.

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3
Módulo

Avaliação de Impacto
Legislativo-Regulatório

Unidade 2 - Lições e regras de ouro para uma boa gestão


legislativo-regulatória
Ao final desta unidade você será capaz de listar dicas e regras que viabilizam uma boa gestão
legislativo-regulatória.

2.1 Guias, estudos e políticas de melhoria regulatória ao redor


do mundo
Após um longo passeio pelas tradições jurídicas de Civil Law e Common Law e por diferentes
desenhos institucionais, ações e estratégias para uma elaboração legislativo-regulatória habilitada
a lidar com a complexidade das demandas contemporâneas, algumas lições merecem relevo.

O “Banco de Dados Globais” sobre avaliação de impacto regulatório, elaborado pelo Banco
Mundial, assinala como os países vêm lidando com a implementação de ações em prol da melhoria
regulatória. Acesse abaixo alguns desses guias, estudos e regulamentações de políticas públicas
de distintos países:

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1 - Austrália:
https://www.pmc.gov.au/resource-centre/regulation/best-practice-regulation-
guideministerial-councils-and-national-standard-setting-bodies
https://www.eria.org/RPR_FY2015_No.4_Chapter_2.pdf
2 - Áustria:
http://www.oecd.org/gov/regulatory-policy/45973550.pdf
3 - Bélgica:
http://projet-interdisciplinaire2.pbworks.com/w/file/fetch/60504434/Final%20
Paper%20ENVI%20Jan2011.pdf
4 - Camboja:
https://www.slideshare.net/OECD-GOV/oecd-southeast-asia-regional-
forumregulatory-reform-breakout-session-11khm-presentation
5 - Canadá:
https://www.tbs-sct.gc.ca/rtrap-parfa/analys/analys-eng.pdf
https://www.tbs-sct.gc.ca/hgw-cgf/priorities-priorites/rtrap-parfa/guides/erc-cer/
erc-cer-eng.pdf
6 - Dinamarca:
https://documents.worldbank.org/en/publication/documents-reports/
documentdetail/170061468234328021/review-of-denmarks-program-for-
betterbusiness-regulation
http://www.oecd.org/gov/regulatory-policy/44912522.pdf
7 - Hong Kong
https://www.gov.hk/en/theme/bf/pdf/pamphlet.pdf
8 - Índia:
http://www.cuts-ccier.org/pdf/BHC-RIA-Project_Brief.pdf
https://www.oecd-ilibrary.org/governance/regulatory-policy-in-india_b335b35d-en
9 - Japão:
https://www.eria.org/RPR_FY2015_No.4_Chapter_3.pdf
10 - Líbano:
https://pdf.usaid.gov/pdf_docs/PA00HZWC.pdf
11 - México: Guias, Política, Estudo
https://ideas.repec.org/a/bpj/lawdev/v8y2015i1p99-121n2.html
https://www.oecd-ilibrary.org/governance/regulatory-policy-in-mexico/
regulatoryimpact-assessment-and-consultation-in-mexico_9789264203389-7-en

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12 - Nova Zelândia:
https://www.eria.org/RPR_FY2015_No.4_Chapter_5.pdf
13 - Peru:
https://www.dropbox.com/s/gjuvpgp6duqa7lx/decreto-legislativo-simpl-n-1310.
pdf?dl=0
https://www.oecd-ilibrary.org/governance/regulatory-policy-inperu_
9789264260054-en
14 - Portugal:
http://static.publico.pt/docs/politica/Apresentacaodosimplex.pdf
http://www.oecd.org/gov/regulatory-policy/44830375.pdf
15 - Quênia:
https://klrc.go.ke/images/images/downloads/klrc-a-guide-to-the-legislative-
processin-kenya.pdf
https://www.dropbox.com/s/mrjim8clitn0si6/National%20Handbook%20Policy%20
Making.pdf?dl=0
http://kenyalaw.org/kl/fileadmin/pdfdownloads/Acts/
StatutoryInstrumentsActNo23of2013.PDF
16 - Reino Unido:
https://assets.publishing.service.gov.uk/government/uploads/system/uploads/
attachment_data/file/583871/bis-13-1038-Better-regulation-framework-manual.pdf
https://regulatorypolicycommittee.weebly.com/guidance-for-departments.html
https://regulatorypolicycommittee.weebly.com/guidance-for-regulators.html
17 - Suécia:
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2951764
http://www.oecd.org/gov/regulatory-policy/45418334.pdf
18 - Tailândia:
https://www.eria.org/RPR_FY2015_No.4_Chapter_7.pdf
19 - Uganda:
https://www.dropbox.com/s/hfdv63g4fx6i68j/The%20Cabinet%20Handbook%20
%28Revised%20October%202012%29.pdf?dl=0
https://www.dropbox.com/s/oh4pa0jui3gej0n/2013%20Revised%20Guide%20
to%20policy%20Development%20%26%20Mgt.pdf?dl=0

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https://www.dropbox.com/s/sv8z7gfrs8zgm4c/A%20Guide%20on%20%20
Effective%20Advocacy%20in%20Uganda%20%202015.pdf?dl=0
20 - Zâmbia:
http://www.pmrczambia.com/wp-content/uploads/2015/06/Business-Regulatory-
Act-Policy-Analysis.pdf

2.2 Regras de ouro para governança em elaboração legislativo-


regulatória
Para finalizarmos, vamos sintetizar 12 “regras de ouro” para deflagrar ou incrementar a gestão
ou governança em elaboração legislativo-regulatória:

1. Guias e Estudos tem sua função potencializada se forem uma ação dentro de uma
política de boa legislação e regulação que envolva a capacitação de gestores e
técnicos atuantes na elaboração legislativo-regulatória.
2. Atos normativos sobre a produção de outros atos normativos devem dispor sobre
tipos de atos normativos de um mesmo poder, de modo que não haja inovação na
tipologia normativa.
3. Os atos normativos devem ser escritos de forma clara e os seus temas devem estar
em evidência, por meio de títulos e subtítulos, para facilitar o seu acesso.
4. Atos normativos que provoquem mudanças comportamentais de maior impacto
social devem ter sua “informação” veiculada via outras mídias e com outras
linguagens.
5. Umas das ações da política para boa legislação é a garantia de que haverá ações para
o saneamento do sistema normativo: revisão, consolidação, mesmo a codificação de
uma matéria específica e complexa e republicação do direito vigente por temas. A
republicação de uma matriz de consolidação garante a validade do ato normativo ou
do conjunto de atos, autorizando modificações no seu texto, respeitadas as
competências legais.
6. Um texto normativo deve esgotar o máximo de seu tema para que não necessite de
mais atos normativos que garantam a sua implementação e eficácia. Com isso há a
diminuição da necessidade de maior densificação normativa.
7. Toda atividade de legislação/regulação, em alguma medida interfere na liberdade.
Quanto maior a mudança, menores são as justificativas para atos normativos do tipo
“faculdade”. A clara definição do tônus da alteração pretendida, dos meios a serem
utilizados (simplificação da linguagem/estratégias de publicização) orientam a
escolha do tipo normativo.
8. Avaliação legislativa a posteriori é melhor executada se puder se valer dos indicadores
declinados na avaliação prévia de um dado ato normativo.
9. Países com estruturas administrativas para elaboração legislativa, seja nos Legislativos

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ou nos Executivos, investem na formação continuada dos seus servidores.
10. A carreira de gestores em legislação e regulação impulsiona o desenvolvimento de
ações governamentais específicas possam melhor promover a harmonização entre
legislação e políticas públicas.
11. Guias e Manuais são ferramentas indispensáveis ao cotidiano da governança
legislativo-regulatório e devem ser elaborados conforme o contexto burocrático.
12. Os métodos e instrumentos de avaliação podem variar de acordo com o tema a ser
legislado/regulado. Eles se adaptam à demanda, não o contrário.

Referências
AVALIAÇÃO de políticas públicas: guia prático de análise ex ante. Brasília: Ipea,
2018. v. 1. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/
livros/livros/180319_avaliacao_de_politicas_publicas.pdf>. Acesso em: 20 maio
2018.

BERTELSMANN STIFTUNG. Evidence-based Instruments Report. RIA Application,


Quality of RIA Process, Sustainability Check. Sustainable Governance Indicators,
2018. Disponível em <https://www.sgi-network.org/docs/2018/thematic/SGI2018_
Evidence-based_Instruments.pdf>. Acesso em 20 set. 2019.

CAUPERS, João. Relatório sobre o programa, conteúdo e métodos de uma disciplina


de Metódica da Legislação. Legislação. Cadernos de Ciência da Legislação, Lisboa,
n. 35, p. 05-59, out./dez. 2003.

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