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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010

MATERIAL DIDÁTICO

INTRODUÇÃO À AUDITORIA NOS


SERVIÇOS DE SAÚDE

Impressão
e
Editoração

0800 283 8380


www.ucamprominas.com.br
2

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
UNIDADE 1 – AUDITORIA: GENERALIDADES ................................................... 8
1.1 EVOLUÇÃO ...................................................................................................... 8
1.2 CONCEITOS, FINS E OBJETIVOS ....................................................................... 10
1.3 ORGANISMOS REGULADORES E NORMAS DE AUDITORIA ..................................... 13
1.4 CLASSES/TIPOS DE AUDITORIA ....................................................................... 16
UNIDADE 2 – A QUALIDADE NA SAÚDE.......................................................... 20
2.1 FERRAMENTAS DE GESTÃO DA QUALIDADE NA SAÚDE ........................................ 24
UNIDADE 3 – AUDITORIA EM SAÚDE .............................................................. 34
3.1 INSTITUIÇÃO HOSPITALAR ............................................................................... 34
3.2 EVOLUÇÃO DA AUDITORIA EM SAÚDE ............................................................... 37
3.3 A AUDITORIA EM SAÚDE .................................................................................. 40
3.4 TIPOS DE AUDITORIA EM SAÚDE ...................................................................... 42
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 47
BÁSICAS ............................................................................................................. 47
COMPLEMENTARES .......................................................................................... 47
3

INTRODUÇÃO

As transformações pelas quais o mundo vem passando ao longo das últimas


décadas, mais pontualmente na economia, no comportamento das pessoas e
decorrente do fenômeno da globalização, indubitavelmente intensificou a
necessidade de fornecer produtos e serviços com qualidade.

Figura 1: Qualidade em produtos e serviços.


Fonte: http://www.osconsult.com.br

O conceito de qualidade deixou de ser um atributo de objetos e produtos,


para envolver serviços e atividades, e na área da saúde não foi diferente, pelo
contrário, busca-se a excelência e qualidade no atendimentos aos seus usuários.
Pois bem, dar umas pequenas voltas ao passado é das melhores e mais
educativas maneiras de entendermos o surgimento e evolução de conceitos como a
auditoria – nosso foco do momento, que nos leva à qualidade.
Ao longo da história, a auditoria passou de um olhar restrito, estático,
fiscalizador e punitivo para uma abordagem ampla, dinâmica, sistemática e também
pedagógica. Isso permitiu a identificação e adoção de estratégias para controle das
ações e serviços oferecidos e demandados para a máquina pública (CALEMAN;
MOREIRA; SANCHES, 1998; MELO; VAISTMAN, 2008).
De maneira bem técnica, Auditoria se define como um sistema de revisão e
controle, para informar a administração sobre a eficiência e eficácia dos programas
em desenvolvimento. Sua função não é somente indicar as falhas e os problemas,
mas também, apontar sugestões e soluções, assumindo, portanto, um caráter
eminentemente educacional.
4

Já numa perspectiva moderna e ‘humanística’ (sic) podemos dizer que a


auditoria é uma ferramenta que busca a qualidade. No tocante à área de saúde,
Nepomuceno e Kurcgant (2008, p. 666) definem a auditoria como garantia de
qualidade, referindo-se à elaboração de estratégias tanto para a avaliação da
qualidade quanto para a implementação de normas e padrões de conduta clínica.
Pois bem, neste módulo veremos, num primeiro momento, justamente a
evolução, conceitos e objetivos, organismos reguladores, normas e classes de
auditoria. Igualmente a evolução, definição e tipos de auditoria em saúde.

Figura 2: Qualidade.
Fonte: http://www.osconsult.com.br

Lembremos sempre que a auditoria é uma ferramenta em busca da


qualidade na área de saúde e esta é uma necessidade técnica e social, e a adoção
de um sistema de gestão da qualidade é uma decisão estratégica das organizações.
Devemos também nos atentar, pois já faz algum tempo que a palavra de
ordem, seja para o setor público de saúde como para as operadoras de planos de
saúde, é “regulação”!
Se buscarmos em um dicionário o sinônimo para a palavra “regulação” do
verbo regular, encontraremos ‘agir conforme as regras, as normas, algo disposto
simetricamente, equilibrado, razoável’.
Nesse contexto, encontramos na auditoria uma das ferramentas mais
eficientes para aprimorar um sistema de gestão, ressaltando que a auditoria deve
ser realizada por um profissional capacitado e que, como dizem Noronha e Salles
(2004), utilize de imparcialidade, prudência e diplomacia.
5

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, o segmento de Saúde Pública


brasileiro, representado pela rede nacional de atendimento ao Sistema Único de
Saúde (SUS), é considerado como o maior sistema público de saúde do mundo. Em
termos de cobertura populacional e de risco, envolve a atenção a mais de 190
milhões de pessoas.
As atenções na regulação e Auditoria em Saúde Pública estão a cargo do
Sistema Nacional de Auditoria (SNA), da Secretaria de Assistência à Saúde, do
Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DENASUS), em todos os estados da
federação e no Distrito Federal (DF).
O número de profissionais que atua no setor saúde, sob regime de auditoria
do SNA e do DENASUS é enorme. As próprias operadoras de saúde para controle
das suas ações e atenções em saúde, cumprindo um extenso escopo legal e técnico
com complexidade crescente, necessitam de um enorme contingente de
profissionais para atuar ativamente e regular as atenções oferecidas através de seus
milhares de serviços credenciados, contratados ou referenciados.
Ao longo da última década, o campo de trabalho em Auditoria de Sistemas
de Saúde vem ampliando-se, e hoje é requerida também por grande parte dos
prestadores de serviços de médio e grande porte (credenciados, contratados ou
referenciados), melhorando sua performance global (econômico-financeira e técnica)
frente a um mercado altamente competitivo e exigente.
Ambos os sistemas – público e privado – demandam a atuação de
profissionais preparados e dedicados à atividade de verificação, mediante a
confrontação entre uma situação encontrada de estruturas, processos, resultados e
a aplicação de recursos de forma planejada, independente e documentada, baseada
em evidências objetivas e imparciais, para determinar se as ações e serviços
encontram-se adequados quanto a sua eficiência, eficácia e efetividade.
Outra constatação é que o campo de atuação em Auditoria de Sistemas de
Saúde Público e Privado, hoje considerada atividade multidisciplinar, exige:
 habilidades, conhecimentos e atributos ao auditor moderno, que envolvem o
acompanhamento dos principais preceitos ditados pela legislação;
 atuação com base na doutrina ética, das bases e normas elementares dos
processos administrativos intrainstitucionais;
 entendimento quanto a abrangências dos contratos e acordos firmados,
tabelas de procedimentos, análise do perfil dos serviços contratados,
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potencial de atendimento de cada serviço ou recurso disponível e a projeção


e impacto destes frente a população inscrita;
 domínio e atualização dos protocolos, consensos científicos, do substrato e
perfil epidemiológico da população assistida, interpretação e análise contínua
de indicadores relativos à mensuração da qualidade e produtividade dos
serviços.
Somando-se às constatações acima, ainda temos:
 acompanhamento da utilização de recursos e benefícios avaliando o impacto
das ações executadas nos distintos níveis de saúde, fazendo cumprir direitos
e deveres;
 garantia da proteção dos usuários e prestadores no local onde acontece a
ação conferindo às instituições envolvidas a necessidade de uma segunda
opinião;
 enfatizar a educação continuada com vistas à melhoria da qualidade do
atendimento, racionalizado e humanizado, proporcionando o mais apropriado
uso dos recursos disponíveis;
 atuar como mediador entre as partes envolvidas, ordenando, controlando e
racionalizando os serviços sem comprometer a qualidade dos serviços
prestados e dos materiais e medicamentos usados.
Pois bem, as justificativas acima por si só mostram a importância dos
serviços de Auditoria.
Não há dúvida que as empresas que possuem em seu quadro uma equipe
de auditores competentes e experientes ou que contratem este serviço de empresas
especializadas contam com um excelente apoio para produzir um retrato fiel da
realidade, que servirá de base para proceder a ações corretivas, estratégicas e
preventivas em prol da saúde da organização.
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se
fazem necessárias:
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados.
7

2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo


1
original , pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância.
3) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento
crítico.
4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos
científicos.
Por fim:
5) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última
está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl +
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local.

1
Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou
similares.
8

UNIDADE 1 – AUDITORIA: GENERALIDADES

A evolução do sistema capitalista, com a expansão do mercado e,


consequentemente, o aumento da concorrência, fez com que as empresas antes
fechadas, pertencentes a grupos familiares, ampliassem suas instalações fabris e
administrativas, investindo no desenvolvimento tecnológico e aprimorando os
controles e procedimentos internos em geral, visando reduzir custos, tornando mais
competitivos os seus produtos no mercado.
E assim, tem-se o surgimento da auditoria, definida, segundo Sá (1998, p.
25), como

tecnologia contábil aplicada ao sistemático exame dos registros,


demonstrações e de quaisquer informes ou elementos de consideração
contábil, visando a apresentar opiniões, conclusões, críticas e orientações
sobre situações ou fenômenos patrimoniais de riqueza aziendal, pública ou
privada, quer ocorridos, quer por ocorrer ou prospectados e diagnosticados.

Para Riolino e Kliukas (2003), a palavra auditoria tem sua origem no latim
audire que significa ouvir. No início da história da auditoria, toda pessoa que tinha
aptidão para verificar a legitimidade dos fatos econômico-financeiros, prestando
contas a um superior, poderia ser considerado como auditor.
Outras influências que possibilitaram o desenvolvimento da auditoria foram:
 instalações de filiais e subsidiárias de firmas estrangeiras;
 financiamento de empresas brasileiras através de entidades internacionais;
 crescimento das empresas brasileiras e necessidade de descentralização e
diversificação de suas atividades econômicas;
 evolução do mercado de capitais;
 criação das normas de auditoria promulgadas pelo Banco Central do Brasil,
em 1972;
 criação da Comissão de Valores Mobiliários e da lei das Sociedades
Anônimas, em 1976.

1.1 Evolução
A prática da auditoria provém do final do século XVIII, na Inglaterra, como
consequência das transformações econômicas ocorridas naquele período que
conhecemos como “Revolução Industrial”.
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Sua origem é proveniente das demonstrações financeiras que eram


informações elaboradas por escrito, destinadas a apresentar a terceiros, alheios à
empresa, sócios ou interessados, a situação patrimonial e sua evolução.
A auditoria, sobretudo, almejava informar aos usuários que critérios foram
adotados em sua elaboração e apresentar parecer de terceiros sem relação direta
com a empresa, atestando com fidedignidade que tais demonstrações refletiam a
situação do patrimônio e sua evolução durante o período a que se referiam.
Com base nisso, pode-se dizer que a auditoria sempre teve como função
prover demonstrações financeiras, como o exame das mesmas, por um profissional
independente, com a finalidade de emitir um parecer técnico sobre sua real situação.
Fato é que ao buscarmos uma definição de auditoria nas mais diversas
fontes, necessariamente somos remetidos à área contábil, inclusive fazendo coro
com o que se encontra descrito pelo Oxford English Dictionary, que a define como:
um exame oficial de contas, validado através de testemunhos e comprovantes.
Ainda, se buscarmos no Reino Unido, considerado pela maioria dos
escritores como o berço da auditoria, verificam-se os seguintes registros do que
seriam auditoria e auditor na Enciclopédia Britânica, que numa tradução livre quer
dizer:

Auditoria é o exame das contas feitas pelos funcionários financeiros de um


estado, companhias e departamentos públicos ou pessoas físicas, e a
certificação de sua exatidão. Nas ilhas Britânicas, as contas públicas eram
examinadas desde há muito tempo, embora, até o reinado da Rainha
Elizabeth, de maneira não muito sistemática. Anteriormente a 1559, esse
serviço era executado, às vezes, por auditores especialmente designados, e
outras por auditores da receita pública, ou pelo auditor do tesouro, cargo
criado por volta de 1314. Mas, em 1559, um esforço foi feito para
sistematizar a auditoria das contas públicas, pela indicação de dois
auditores para examinar os pagamentos a servidores públicos.

Estudos de Pereira e Takahashi (1991) mostram que os registros datam do


ano 2600 a.C., mas foi com a Revolução Industrial, que a prática da auditoria
recebeu novas diretrizes, buscando suprir as necessidades das grandes empresas.
Na área da saúde, a auditoria aparece pela primeira vez no trabalho realizado pelo
médico George Gray Ward, nos Estados Unidos, em 1918, que constituía na
verificação da qualidade da assistência prestada ao paciente através dos registros
em seu prontuário.
10

A influência britânica na economia e na prática contábil do Estados Unidos,


em função da origem do povo que fundou o país e do seu próprio crescimento
durante o século XX, especialmente após a II Guerra Mundial, explica as
metodologias, as práticas adotadas e as responsabilidades vigentes para os
auditores e as firmas de auditoria em todo o planeta (PEREZ JUNIOR et al., 2011).
A quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, também contribuiu
para o desenvolvimento das práticas de auditoria, pois os investidores passaram a
exigir maior segurança e credibilidade das demonstrações contábeis para voltarem a
investir em ações de companhias abertas.
No Brasil, a partir da década de 1960, diversas firmas de auditoria
instalaram-se com associações internacionais de auditoria externa. Isso ocorreu em
função da necessidade legal, principalmente nos EUA, de os investimentos no
exterior serem auditados. Essas empresas, praticamente, iniciaram a auditoria no
Brasil e trouxeram um conjunto de técnicas de auditoria, que posteriormente foram
aperfeiçoadas. Somente em 1965, por meio da Lei nº 4728, que disciplina o mercado
de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento, pela primeira vez foi
mencionada na legislação brasileira a expressão “auditores independentes” (PEREZ
JUNIOR et al., 2011).
Realmente nosso objetivo maior é falar em auditoria em saúde, mas é
preciso entendermos o caminho percorrido até lá, por isso estamos dando espaço
para a auditoria de maneira geral, certo?

Guarde...
A evolução da auditoria no Brasil está relacionada primariamente com a
instalação das empresas de origem estrangeiras de auditoria independentes, por
conta de seus investimentos, a fim de que se fossem feitas auditorias em seus
processos financeiros (ATTIE, 2006).

1.2 Conceitos, fins e objetivos


Auditoria consiste no exame sistemático e independente dos fatos obtidos
através da observação, medição, ensaio ou outras técnicas apropriadas, de uma
atividade, elemento ou sistema, para verificar a adequação aos requisitos
preconizados pelas leis e normas vigentes e determinar se as ações (no caso da
saúde e seus resultados), estão de acordo com as disposições planejadas. Através
11

da análise e verificação operativa, avalia-se a qualidade dos processos, sistemas e


serviços e a necessidade de melhoria ou de ação preventiva/corretiva/saneadora.
Tem como objetivo maior propiciar à alta administração informações necessárias ao
exercício de um controle efetivo sobre a organização ou sistema, contribuir para o
planejamento e replanejamento das ações de saúde e para o aperfeiçoamento do
Sistema (BRASIL, 1998).
Vejamos a observação feita por D’Ippolito (1967):

A expressão revisão, conforme leva a entender o termo auditoria, dentro do


que é estritamente aceitável na prática, foi adotada em um sentido mais
amplo, sugerindo um significado também mais ampliado em relação ao seu
significado etimológico, o qual resultaria num pensamento de que, auditoria
seria apenas um exame e análise retrospectiva dos atos e fatos contábeis e
administrativos. Porém, na verdade, não é apenas isso, abrangendo
também, previsões sobre as futuras mutações patrimoniais, as expectativas
sobre a ocorrência destas no tempo e no espaço futuros e os seus
possíveis efeitos no patrimônio do auditado. A revisão, por excelência, é a
atividade que se apresenta das mais difíceis para os profissionais, bem
como para os gestores da empresa auditada. Ela requer, sobre quem deva
ser feita, em relação ao tempo e ao espaço e em relação aos atos e fatos
auditados, para atestar sua eficiência, certa profundidade na preparação
teórica nos campos de administração, da economia em geral e, ainda, um
conhecimento mais aprofundado do campo jurídico e do direito no contexto
das relações de negócios e de mercados, envolvendo, também, em muitos
casos, extremo conhecimento tecnológico e de negócios em geral.

Auditoria é como um exame científico e sistemático dos livros, contas,


comprovantes e outros registros financeiros de uma companhia, com o propósito de
determinar a integridade do sistema de controle interno contábil, bem como o
resultado das operações e assessorar a companhia no aprimoramento dos controles
internos, contábeis e administrativos (MOTTA, 1992).
Para Franco e Marra (2000), auditoria é a técnica que consiste no exame de
documentos e registros, inspeções, obtenção de informações e confirmações
externas e internas, obedecendo a normas e procedimentos apropriados,
objetivando verificar se as demonstrações contábeis representam adequadamente a
situação nelas demonstrada de acordo com os Princípios Fundamentais de
Contabilidade e normas de contabilidade, de maneira uniforme.
Para Crepaldi (2002, p. 23), pode-se definir auditoria “como o levantamento,
estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações, rotinas e
das demonstrações financeiras de uma entidade”.
Outros conceitos relativos de importância:
12

 controle – consiste no monitoramento de processos (normas e eventos), com


o objetivo de verificar a conformidade dos padrões estabelecidos e de
detectar situações de alarme que requeiram uma ação avaliativa detalhada e
profunda;
 avaliação – trata da análise de estrutura, processos e resultados das ações,
serviços e sistemas de saúde, com o objetivo de verificar sua adequação aos
critérios e parâmetros de eficácia, eficiência e efetividade estabelecidos para
o Sistema de Saúde;
 fiscalização – consiste em submeter à atenta vigilância, a execução de atos e
disposições contidas em legislação, através do exercício do ofício de fiscal;
 inspeção – realizada sobre um produto final, sob uma fase determinada de
um processo ou projeto, visa detectar falhas ou desvios (BRASIL, 1998).

Guarde...
Auditoria é um conjunto de técnicas de observações e exames, aplicado de
forma sistemática, que no contexto do auditado, visa opinar sobre sua situação,
sobre sua riqueza, quando este for o caso, ou sobre funções ou áreas específicas
componentes do patrimônio do auditado.
A grande utilidade da Auditoria é atestada por fins os mais variados, tais
como:
 certificação e comprovação da exatidão dos fatos contábeis e administrativos
(patrimoniais), através do seu registro;
 identificação dos fatos e comprovação de sua propriedade no patrimônio da
sociedade auditada;
 identificação e comprovação do tempo decorrido e/ou de existência, bem
como do valor de efetivos fatores de mensuração dos fatos, tendo em vista o
aspecto dinâmico do patrimônio;
 sugestões e orientações para administração do patrimônio das entidades
auditadas;
 identificação de eventuais falhas no controle, com intuito de saná-las, a fim de
proteger o patrimônio contra fraudes;
 pesquisas com o objetivo de gestão ao longo do tempo; em bases
comparativas de valores e efeitos destes;
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 avaliação da eficácia e eficiência decorrentes dos atos e fatos administrativos


e/ou contábeis e sobre estes;
 identificação de riscos decorrentes do negócio que venham a afetar ou afetem
o patrimônio;
 identificação da capacidade de equilíbrio financeiro e econômico da entidade
auditada;
 reorganização de uma empresa;
 determinação de limites de seguros, análise de custos, fusão, cisão e
incorporação de empresas.

1.3 Organismos reguladores e normas de auditoria


A atividade de auditoria no Brasil caracteriza-se pela regulamentação
governamental. Em decorrência da abrangência das atividades subordinadas a
estes organismos e pelo poder de fiscalização que lhes é conferido, é possível
classificar como principais reguladores, os seguintes:
 Conselho Federal de Contabilidade – CFC;
 Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON;
 Comissão de Valores Mobiliários – CVM;
 Banco Central do Brasil – BACEN.
Em caráter restrito, também regulam a atividade, as seguintes instituições:
 Instituto dos Auditores Internos do Brasil – AUDIBRA;
 Secretaria da Previdência Complementar – SPC;
 Superintendência de Seguros privados – SUSEP;
 Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais;
 Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB (PINHO, 2007).
A mesma autora nos lembra que ao contrário do Brasil, a auditoria em
diversos países é autorregulamentada, ou seja, por intermédio de entidades criadas
pelos próprios profissionais, são estabelecidas as regras da atividade. Mas também
existem entidades governamentais que fiscalizam o trabalho dos profissionais.
Como exemplo, temos:
 International Federation of Accoutants – IFAC;
 American Institute of Certified Public Accoutants – AICPA;
 Canadian Institute of Certified Accoutants – CICA;
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 Japanese Institute of Certified Public Accoutants – Jicpa.


Todas as profissões possuem padrões técnicos para a condução dos
trabalhos. Na auditoria, esses padrões são expressos pelas Normas Brasileiras de
Auditoria, que relacionam todas as ações a serem praticadas pelos auditores
(ATTIE, 2010).
As normas de auditoria têm finalidade de estabelecer os padrões técnicos e
de comportamento, visando alcançar uma situação coletiva e individualmente
desejável. Na auditoria, essas normas objetivam qualificação na condução dos
trabalhos e garantia de atuação suficiente e tecnicamente consistente do auditor e
do parecer diante dos usuários da mesma (ATTIE, 2010).
Normas são regras práticas que visam a orientar o profissional na
consecução dos objetivos traçados para determinado trabalho.
No Brasil, em decorrência da forte regulamentação governamental, as
normas vigentes foram emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC),
resultando de um processo evolutivo que tem proporcionado, gradativamente, a
aproximação com as normas internacionais do International Federation of
Accountants (IFAC).
As normas de auditoria vigente no país, desde 2010, são encontradas na
NBC TA (Normas Brasileiras de Contabilidade e Técnicas de Auditoria). No site:
http://www.portalcfc.org.br/wordpress/wp-
content/uploads/2012/12/NBC_TA_05112012.pdf é possível encontrar NBC TA de
Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica.
Abaixo temos elencadas algumas das normas brasileiras e internacionais
que representam o principal conjunto de regras:
 Resolução CFC nº 678/90 – Revisão Especial das Informações Trimestrais
(ITR) das Companhias Abertas;
 Resolução CFC nº 750/93 – Princípios Fundamentais da Contabilidade;
 Resolução nº 1054/05 – Carta de Responsabilidade da Administração;
 Resolução nº 986/03 – Da Auditoria Interna;
 Resolução CFC nº 781/95 – Normas Profissionais do Auditor Interno;
 Resolução CFC nº 820/97 – Normas Independentes das Demonstrações
Contábeis, com alterações e dá outras providências;
 Resolução CFC nº 821/97 – Normas profissionais de Auditor Independente;
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 Resolução CFC nº 1024/05 – Papéis de Trabalho e Documentação da


Auditoria;
 Resolução CFC nº 830/98 – Parecer dos Auditores Independentes sobre as
Demonstrações Contábeis;
 Resolução CFC nº 836/99 – Fraude e Erro;
 Resolução CFC nº 1040/05 – Transações e Eventos Subsequentes;
 Resolução CFC nº 851/99 – Regulamentação do item 1.9 da NBC P 1 –
Normas Profissionais de Auditor Independente;
 Resolução CFC nº 1091/07 – Revisão Externa de Qualidade pelos pares;
 Resolução CFC nº 1036/05 – Supervisão e Controle de Qualidade;
 Resolução CFC nº 961/03 – Regulamentação dos itens 1.2 – Independência e
1.6 – Sigilo;
 Resolução CFC nº 1035/05 – Planejamento de Auditoria;
 Resolução CFC nº 976/03 – Honorários de Auditoria;
 Resolução CFC nº 981/03 – Relevância na Auditoria;
 Resolução CFC nº 1074/06 – Normas de Educação Continuada para
Auditores;
 Resolução CFC nº 1012/05 – Amostragem;
 Resolução CFC nº 1077/06 – Exame de Qualificação Técnica para Registro
no Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI);
 Resolução CFC nº 1019/05 – Dispõe sobre o Cadastro Nacional de Auditores
Independentes (CNAI);
 Resolução CFC nº 1022/05 – Contingências;
 Resolução CFC nº 1023/05 – Utilização de Trabalhos de Especialistas;
 Resolução CFC nº 1034/05 – Independência;
 Resolução CFC nº 1037/05 – Continuidade Normal das Atividades;
 Resolução CFC nº 1038/05 – Estimativas Contábeis;
 Resolução CFC nº 1039/05 – Transações com Partes Relacionadas;
 Resolução CFC nº 1156/09 – Estrutura das Normas Brasileiras de
Contabilidade;
 Instrução CVM nº 308/99 – Atividade de Auditoria Independente no Âmbito do
Mercado de Valores Mobiliários.
Normas internacionais:
 NIA 100 – define Auditoria das Demonstrações Contábeis;
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 NIA 200 – estabelece os Princípios Básicos da Auditoria. Define


responsabilidade de auditor/administração da entidade;
 NIA 300 – prevê o plano global de auditoria e o planejamento de cada
trabalho, de forma que seja realizado eficazmente. Trata ainda da
necessidade de conhecer o negócio e observar a relevância dos eventos;
 NIA 400 – trata do ambiente de controle, riscos inerentes, riscos de controle e
riscos de detecção;
 NIA 500 – define o que são as evidências de auditoria e os atributos básicos
das mesmas, quais sejam: suficiente e apropriada. Considera como
procedimentos básicos para obtenção de evidências a inspeção, a
observação, a indagação e confirmação, o cálculo e os procedimentos
analíticos;
 NIA 600 – dá orientação quanto ao uso do trabalho de outro auditor. Trata da
possibilidade de cooperação entre auditores, das considerações sobre o
parecer nesta situação e da divisão de responsabilidades;
 NIA 700 – aborda os elementos básicos do Parecer e orienta acerca de
informações de dados comparativos;
 NIA 800 – trata de trabalhos relacionados às Demonstrações Contábeis;
 NIA 900 – estabelece procedimentos para serviços correlatos, como a
revisão, compilação e procedimentos pré-acordados;
 NIA 1000 – procedimentos de confirmação interbancárias (PINHO, 2007).

1.4 Classes/Tipos de auditoria


Perez Junior et al. (2011) explicam que o terno auditoria é genérico,
podendo ser entendido, exclusivamente, como fiscalização de alguma atividade em
que serão apontados erros ou acertos em relação a uma base normativa, legam ou
a um processo operacional.
Sob o enfoque empresarial, a auditoria tem três grandes campos: auditoria
independente ou externa, auditoria interna e auditoria fiscal (federal, estadual e
municipal).
A prática de auditoria independente decorre dos métodos e procedimentos
consagrados pela categoria profissional, bem como pelo acatamento às normas
emanadas dos diversos órgãos contábeis e reguladores, baseando-se, também, e
principalmente, em legislações nacionais.
17

A prática e as atividades da auditoria interna provém, em grande parte, dos


mesmos métodos e procedimentos adotados pelos auditores externos, porém os
seus objetivos são distintos. Enquanto a auditoria externa tem como objetivo as
demonstrações contábeis, a auditoria interna foca a eficiência, eficácia e
economicidade das operações de uma entidade. Ou seja: o seu objetivo principal é a
avaliação do ambiente de controle interno de uma entidade, quer em caráter
específico ou parcial, quer em caráter amplo.
O exercício da auditoria interna não é exclusivamente contábil; apresenta
característica multidisciplinar.
A auditoria fiscal é exercida, em geral, por servidores públicos admitidos por
meio de concursos públicos: auditores fiscais. Nas suas respectivas esferas,
objetivam verificar a regularidade no recolhimento dos tributos (impostos, taxas e
contribuições), por meio da análise das transações realizadas e documentação-
suporte.
Como completam Perez Junior et al. (2011), o termo auditoria, nesse caso,
substitui a verdadeira finalidade que é a fiscalização tributária.
Auditor do Tesouro Nacional ou auditor da Fazenda Estadual são
nomenclaturas diversas para o mesmo objetivo já exposto: a fiscalização por meio
de programas específicos ou atendimentos a denúncias formuladas quanto ao
correto cálculo dos tributos, seus recolhimentos e os cumprimentos às obrigações
acessórias.
Numa outra classificação, Sá (1998) assinala que as classes de auditoria
variam de acordo com o tratamento que se dá ao objeto da mesma, decorrendo,
portanto, das diferentes necessidades, podendo mudar de processos, que não se
deve admitir como autonomia, mas, sim, como derivação de um mesmo método.
Numa classificação geral, teríamos:
Quanto a:
Processo indagativo 1.Geral ou de balanços.
2.Analítica ou detalhada.
Forma de intervenção 1.Interna.
2.Externa ou independente.
Tempo 1.Contínua.
2.Periódica.
Natureza 1.Normal.
2.Especial.
Limite 1.Total.
2.Parcial.
Fonte: Sá (1998, p. 44).
18

Há que falarmos ainda sobre ‘fraudes e erros’. O objetivo final da auditoria


não é descobrir fraudes, entretanto, o auditor deve considerar a possibilidade de
ocorrência de fraudes, o que deve ocorrer na fase do planejamento dos trabalhos,
pois é aí que o profissional vai especificar a natureza, oportunidade e extensão dos
procedimentos de auditoria.

Fraude = ato intencional de omissão ou manipulação de transações,


adulterações de documentos, registros e demonstrações contábeis.
Erro = ato não intencional resultante de omissão, desatenção ou má
interpretação de fatos na elaboração de registros e demonstrações contábeis.

Ressaltamos que independente da área, o aperfeiçoamento da obtenção de


evidências se faz necessário em face da dinâmica dos processos das entidades e da
tecnologia, tanto que a auditoria se ocupa também de buscar e desenvolver
processos que acompanhem tais mudanças, preocupando-se não somente em obter
conformidades em vista dos padrões, mas de dar atenção ao usuário, ou seja,
preocupa-se com o processo de comunicação com o usuário, afinal de contas, a
auditoria não é feita para si, é feita para dar segurança quanto à qualidade das
informações e dos serviços.
19

Abaixo temos um esquema com a visão macro das fases e das atividades do
trabalho de Auditoria.
Auditor

Avalia o controle Executa a


interno revisão analítica

Executa os
procedimentos
de auditoria

Define o volume
de testes
substantivos

Colhe evidências

Avalia evidências

Emite relatório Obtém carta de


sobre avaliação responsabilidade
de controles da administração
internos

Emite parecer

Fonte: Perez Junior et al. (2011, p. 71).


20

UNIDADE 2 – A QUALIDADE NA SAÚDE

Maximizar cuidados e benefícios e minimizar os riscos são dimensões


especiais/essenciais da gestão da qualidade nos serviços de saúde, e embora
tenhamos um módulo para tratar do planejamento e gestão da qualidade, torna-se
mister algumas pinceladas sobre a questão da qualidade neste início de curso.

Figura 3: Segurança/Efetividade.
Fonte: http://www.osconsult.com.br

Pode parecer clichê, mas é verdade que a qualidade é um assunto que


recebe cada vez mais atenção em todo o mundo, principalmente em decorrência da
crescente competição mundial e a globalização que têm feito aumentar, de forma
acentuada, as expectativas dos clientes em relação à qualidade.
Paim e Ciconelli (2007) também afiançam serem a globalização e o atual
cenário político-financeiro do país os grandes impulsionadores para o setor de saúde
procurar novas alternativas para a gestão, com foco na necessidade das
21

organizações de saúde (tanto públicas como privadas) e adaptarem-se a um


mercado que se vem tornando cada vez mais competitivo. A necessidade de garantir
resultados positivos, mantendo clientes satisfeitos num mercado em permanente
evolução, no qual as tecnologias similares estão cada vez mais acessíveis, requer
mais que bons produtos e serviços, requer qualidade na forma de atuar.
Nessa direção, as instituições de saúde devem ter como meta o atendimento
das necessidades e expectativas de seus usuários. Para tanto, é de extrema
importância que as atividades desenvolvidas por essas instituições estejam
fundamentadas em sólidos pressupostos filosóficos e metodológicos, capazes de
garantir um elevado padrão de qualidade.
As definições acerca do conceito de qualidade são muitas, entretanto, no
setor saúde, dizem respeito à consolidação de um elevado padrão de assistência
(PERTENCE; MELLEIRO, 2010).
Cabe ressaltar que a qualidade da assistência apoia-se concretamente na
avaliação de três dimensões: estrutura, processo e resultado (DONABEDIAN, 1992
apud PAIM E CICONELLI, 2007; PERTENCE; MELLEIRO, 2010 ).
A qualidade é o fator com o qual todos os envolvidos nos atos de saúde
estarão preocupados e, intimamente, vinculados, tendo em vista os
aperfeiçoamentos constantes das práticas, cujo horizonte é a satisfação daqueles
que dependem desses serviços (NOGUEIRA, 1994).
Pode, ainda, ser tomada como a relação entre os benefícios alcançados
frente à diminuição dos riscos, tendo como referencial o usuário. Tais benefícios
responderiam aos parâmetros de determinada situação e encontrariam suas
possibilidades e limites diante dos recursos disponíveis e dos valores sociais
existentes (MALIK, SCHIESARI, 1998).
Da mesma maneira, responder com eficácia às necessidades e expectativas
dos usuários é justamente a garantia da qualidade do serviço; para isso, é
necessário que o conjunto de propriedades desse serviço oferecido por uma
organização seja adequado para o cumprimento dessa missão (MEZOMO, 2001).
Com efeito, fica patente que a qualidade deve ser compreendida como um
parâmetro da avaliação, sem o qual o serviço oferecido pelas instituições de saúde
estaria fortemente comprometido. Nesse contexto, a tarefa da avaliação do
funcionamento dos serviços de saúde é a de investigar, estabelecer e aperfeiçoar os
conceitos de qualidade, assim como a de fomentar o desenvolvimento de padrões
22

mais elevados de atendimento. Reconhecidamente, a avaliação de programas e


serviços de saúde vem sendo cada vez mais apreciada dentro da sua função de
mapeamento e delimitação do funcionamento das instituições. Na medida em que
busca fornecer dados precisos acerca da amplitude e extensão dos programas e
ações de saúde, contribui diretamente na escolha e (re)formulação de
procedimentos técnico-administrativos (PERTENCE; MELEIRO, 2010).
Enfim, para serem mais eficientes e obterem um bom desempenho
econômico, os estabelecimentos de saúde precisam, cada vez mais, adotar
sistemas de gestão da qualidade e produtividade. Tais sistemas devem proporcionar
a melhoria contínua da qualidade e o aumento da satisfação dos seus clientes
(pacientes), funcionários e, em última análise, da sociedade.
Segundo a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (1996) – FPNQ
–, o sistema de gestão da qualidade mais aceito e adotado em todo o mundo é o
referendado pelas normas da série ISO 9000:2015, denominadas atualmente no
Brasil como NBR ISO 9000:2015.
Apesar das críticas ou restrições de alguns segmentos à sua utilização, cada
vez mais organizações em todo o mundo, inclusive estabelecimentos de saúde,
estão implantando sistemas da qualidade com base nessas normas.
Verdade seja dita, a implantação de sistemas de gestão da qualidade, seja
no setor privado ou no setor público, em pequenas, médias ou grandes
organizações, é uma necessidade praticamente impositiva para a sobrevivência
delas. Recursos humanos e materiais estão cada vez mais escassos devendo ser
empregados com parcimônia e utilizados de forma sistematizada para alcançar os
resultados desejados (JURAN, 1992).
O caminho para se implantar a gestão de qualidade, segundo Juran (1992),
passa pela definição da estrutura funcional, implantação do planejamento
estratégico, realização de investimentos diversos, enfatizando a produtividade e
democratizando as informações, formando e capacitando recursos humanos
(técnicos e gerentes), adotando uma administração por objetivos e disseminando a
cultura da informática.
São quatro as etapas para a implantação da Gestão de Qualidade:
a) Mobilização gerencial para a qualidade: com a constituição do
Conselho e do Núcleo da Qualidade, a formação dos Grupos de Solução de
Problemas (GSP), e a identificação e contratação de consultoria externa.
23

b) Capacitação de recursos humanos (educação e treinamento):


promovendo palestras internas e externas sobre gestão de qualidade, objetivando
sensibilizar a direção, gerências, supervisores e técnicos de nível superior. Visitas a
outras empresas com implantação em andamento e efetivada, buscando referências
institucionais (benchmarketing); participação de funcionários em eventos externos
para capacitação por meio de cursos, treinamentos, seminários, congressos e outros
eventos de educação e treinamento em gestão de qualidade; ciclo de palestras
internas, objetivando sensibilizar todos os funcionários, por meio da apresentação
dos princípios e conceitos da gestão da qualidade; apresentando os motivos que
levaram a instituição a adotar o modelo gerencial; apresentando a estrutura de
funcionamento do programa.
c) Planejamento da implantação: podendo ser paralelas às etapas de
educação e treinamento, promoção e divulgação; crescimento do ser humano;
gerenciamento da rotina; gerenciamento pelas diretrizes e garantia da qualidade.
d) Aplicação da gestão da qualidade: implantação do gerenciamento da
rotina e do gerenciamento pelas diretrizes. Após cumpridas as três etapas
anteriores, nesta acontecerá a consolidação do Programa 5S, programa de origem
japonesa que visa criar ambiente favorável para a execução das tarefas diárias da
organização, saber:
 Seiri: senso de seleção;
 Seiton: senso de ordenação;
 Seisoh: senso de limpeza;
 Seiketsu: senso de saúde;
 Shitsuke: senso de autodisciplina (ISHIKAWA, 1993).
Dentre os vários elementos importantes para a implementação de uma
gestão de qualidade, vamos citar os mais importantes considerados por Juran
(1992):
 a busca da sobrevivência organizacional que leva a um compromisso claro e
inequívoco, reestruturando-se e reabilitando-se financeiramente;
 investir na capacitação de recursos humanos na área de gestão de qualidade;
 implantar o gerenciamento da rotina e o Programa 5S;
 identificar e monitorar os indicadores de qualidade e produtividade;
 promover mudanças culturais na organização;
24

 dar continuidade administrativa, ou seja, manter a equipe de implantação na


manutenção da gestão, a qual já possui uma visão ampla e geral do
estabelecimento;
 procurar melhorar os processos, serviços e produtos com o objetivo de
satisfazer às necessidades dos clientes, quer sejam do SUS, de convênios ou
particulares;
 promover a equipe a um time de “multiplicadores” sempre;
 aumentar a participação de convênios, aumentando a arrecadação;
 padronizar procedimentos críticos;
 realizar pesquisas para avaliar a satisfação dos clientes e o desempenho da
instituição;
 monitorar os indicadores de qualidade e produtividade.
Enfim, podemos constatar que a gestão da qualidade nada mais é do que
um instrumento para aumentar a receita anual de convênios privados e aumentar a
produtividade do SUS. Sua avaliação, por parte do paciente ou cliente poderá ser
avaliada mediante dois fatores básicos, a saber:
a) Da competência do profissional designado para medir e avaliar a
efetividade do serviço executado, o qual deve dispor sobre os dados relativos aos
pacientes de modo que representem alguma informação, que por sua vez demonstre
significado para os responsáveis pela avaliação.
b) Do domínio e controle que os profissionais da assistência têm sobre a
informação relativa aos pacientes, sobre a qualidade de atendimento, e de como
devem utilizar a informação para mudar e direcionar a sua prática e avaliar o
desempenho da equipe.

2.1 Ferramentas de gestão da qualidade na saúde


As ferramentas de qualidade são técnicas utilizadas com a finalidade de
definir, mensurar, analisar e propor soluções para os problemas que interferem no
bom desempenho dos processos de trabalho (MALIK; SCHIESARI, 1998).
As ferramentas de qualidade básicas são as que auxiliam na análise de
problemas, e estão representadas pelo fluxograma, lista de verificação, histograma,
diagrama de Pareto, diagrama de causa e efeito, carta de controle e gráfico de
dispersão (TRIVELLATO, 2010).
25

Além dessas ferramentas no Sistema Único de Saúde (SUS), dispomos de


diversas ferramentas que auxiliam o gerenciamento e a gestão da qualidade nos
serviços de saúde, podendo ser citadas: acreditação hospitalar; ouvidoria; auditoria;
indicadores; 5s; certificação; QualificaSUS; PMAQ; Programa Humaniza SUS;
requalifica UBS.
Vejamos um pouco de algumas dessas ferramentas, já reforçando que não
temos a intenção de esgotar o assunto neste módulo.

a) Acreditação
A acreditação é um método de consenso, racionalização e ordenação das
organizações prestadoras de serviços hospitalares e, principalmente, de educação
permanente dos seus profissionais (Manual Brasileiro de Acreditação).
Acreditação é um procedimento de avaliação dos recursos institucionais,
periódico e reservado para o reconhecimento da existência de padrões previamente
definidos na estrutura, no processo e no resultado, com vistas a estimular o
desenvolvimento de uma cultura da qualidade assistencial. Constitui-se,
essencialmente, em um programa de educação continuada e não uma forma de
fiscalização (TRONCHIN et al., 2005).
A acreditação dentro do contexto dos serviços de saúde pode ser utilizada
como uma ferramenta que, futuramente, representará o diferencial, um meio seletor
dentre as principais instituições que trabalham com a saúde em si e uma espécie de
marca de qualidade que será continuamente avaliada através da satisfação do
próprio paciente, pois, existem grandes vantagens ao se utilizar a acreditação,
sendo que, a mesma, em nível de tecnologia aplicativa, gera a significativa melhoria
tanto do gerenciamento da unidade quanto da qualidade da assistência ao paciente
que estará sendo realizada com mais segurança e eficiência (ANVISA, 2004).

b) Certificação
A certificação é a ação realizada por uma entidade reconhecida como
independente da parte interessada, que manifesta a conformidade de uma empresa,
produto, processo, serviço ou pessoa com os requisitos definidos em normas ou
especificações técnicas (GALDINO et al., 2016).
26

Figura 4: ISO.
Fonte: http://www.i9laser.com/?attachment_id=2478

As normas ISO são o principal exemplo a ser citado quando se fala em


Certificação. A família das normas ISO 9000 corresponde a um conjunto de
referências de boas práticas de gestão em matéria de qualidade, definidos pelo
Organismo internacional de normalização ISO (International Organization for
Standardization). Seu objetivo é promover o desenvolvimento de normas, testes e
certificação, com intuito de encorajar o comércio de bens e serviços. Essa
organização é formada por representantes de mais de 91 países, cada um
representado por um organismo de normas, testes e certificação (LUONGO et al.,
2011).
Os princípios que norteiam a ISO 9000 foram desenvolvidos em 1987 para
padronizar as normas de gestão de qualidade nas organizações. O Certificado ISO
9000 é um diploma que atesta que a instituição cumpre as normas de gestão de
qualidade estabelecidas.
A aplicação das normas ISO garante a uniformização dos métodos utilizados
pelas organizações e envolve cinco certificações: ISO 9001 (produtos); ISO 9002
(serviços); ISO 9003 (sistemas); ISO 9004 (usuários); e ISO 1400 (preservação
ecológica) (TRONCHIN et al., 2005).
A certificação apresenta-se como importante ferramenta para fortalecer a
gestão do SUS, promover a adequação, a expansão e a potencialização dos
serviços de saúde.
Possibilita, ainda, a isenção das contribuições sociais, em conformidade com
a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e a celebração de convênios das entidades
beneficentes com o poder público, entre outros benefícios (BRASIL, 2009).
27

c) Indicadores
Os indicadores de qualidade analisam e determinam a medida do
desempenho de cada setor nas instituições de saúde, avaliando as metas
alcançadas para a excelência em qualidade, baseando-se na conformidade dos
padrões estabelecidos para monitorar os processos e resultados (GALDINO et al.,
2016).

d) Auditoria
A auditoria é a ferramenta que permite controlar a qualidade de um produto
ou serviço prestado por meio da atividade de seleção de pontos críticos do
processo, sendo possível à gerência avaliar, confirmar ou verificar as atividades
relacionadas com a qualidade, constituindo um processo positivo e construtivo
(LUONGO et al., 2011).
A Auditoria tem um papel de destaque no processo de consolidação do SUS,
uma vez que contribui, de forma significativa, para alcançar as metas estabelecidas
nos princípios básicos e éticos do atual sistema público de saúde. A auditoria pública
procura analisar o funcionamento do SUS para evitar possíveis fraudes ou realizar
correções nas distorções existentes, além de verificar a qualidade da assistência e o
acesso dos usuários às ações e serviços de saúde. Funciona também como um
mecanismo de controle interno do Ministério da Saúde (MS); propiciando, dessa
forma, um aumento da credibilidade e uma melhoria na qualidade da atenção à
saúde, fortalecendo a cidadania (CALEMAN, 1998).

e) Ouvidorias
As ouvidorias são canais democráticos de comunicação, destinados a
receber manifestações dos cidadãos, incluindo reclamações e denúncias,
sugestões, elogios e solicitação de informações. Por meio da mediação e da busca
de equilíbrio entre os entes envolvidos (cidadão, órgãos e serviços do SUS), é papel
da Ouvidoria efetuar o encaminhamento, a orientação, o acompanhamento da
demanda e o retorno ao usuário, com o objetivo de propiciar uma resolução
adequada aos problemas apresentados, de acordo com os princípios e diretrizes do
SUS. As ouvidorias fortalecem o SUS e a defesa do direito à saúde da população
por meio do incentivo à participação popular e da inclusão do cidadão no controle
social. As ouvidorias são ferramentas estratégicas de promoção da cidadania em
28

saúde e produção de informações que subsidiam as tomadas de decisão (BRASIL,


2009).

f) Programa HumanizaSUS

Figura 5: HumanizaSUS.
Fonte: http://www.redehumanizasus.net/

Criado pelo Ministério da Saúde, no ano de 2003, a Política Nacional de


Humanização (PNH) teve suas bases geradas desde o ano 2000, quando ainda
existia o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH),
sendo substituído pelo programa que atualmente vigora (PNH).
Este programa surge com o intuito de propor uma nova relação entre o
Sistema Único de Saúde e o profissional que o utilizará, estimulando a implantação
de práticas voltadas para a questão da humanização, estipulando também, uma
troca entre os gestores que atuam em quaisquer unidades fornecedoras de saúde e
bem-estar. O objetivo principal do programa nos leva a uma parceria que resulta em
um SUS mais acolhedor, ágil e com locais de prestação de serviços mais
confortáveis (BRASIL, 2003).

g) Qualisus
Tendo sua criação no mesmo ano do programa que gerou o HumanizaSUS,
a Política de Qualificação da Atenção à Saúde do Sistema Único de Saúde
(Qualisus), foi criada em 2003, em conformidade com o Plano Nacional de Saúde.
29

O Qualisus objetiva elevar o nível de qualidade da assistência prestada à


população pelo SUS, objetivo esse exercido através das necessidades da população
em relação à atenção à saúde e que possa garantir um acesso integral, respeitando
umas das principais diretrizes do SUS, possibilitando usufruir de todos os níveis de
complexidade, e principalmente, uma atenção eficaz, eficiente e humana em todas
as suas ações, em consonância com seus direitos à cidadania (FILHO; CARVALHO,
2010).
O programa Qualisus atua em conformidade a um conjunto de conceitos
complementares baseados em pilares fundamentais do SUS. Simplificando, este
programa age lado a lado às principais diretrizes estipuladas pelo nosso sistema de
saúde, a exemplo, podemos citar a equidade e a integralidade de ações e serviços
prestados, ambas inteiramente relacionadas à humanização do cuidado (GALDINO
et al., 2016).
A implantação do Qualisus, porém, pode ser alvo de peculiares mudanças,
pois age segundo os contextos característicos de determinadas redes hospitalares,
ou seja, uma realidade apresentada por uma rede hospitalar qualquer, pode ser
parcial ou totalmente diferente de outras redes hospitalares existentes, tendo, o
Qualisus, a ter que se adequar de acordo com suas exigências, sem desviar do foco
principal (FILHO; CARVALHO, 2010).

h) PMAQ
O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção
Básica (PMAQ-AB) tem como objetivo incentivar os gestores e as equipes a
melhorar a qualidade dos serviços de saúde oferecidos aos cidadãos do território.
Para isso, propõe um conjunto de estratégias de qualificação, acompanhamento e
avaliação do trabalho das equipes de saúde.
30

Figura 6: Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica


(PMAQ-AB).
Fonte: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pmaq.php

O programa eleva o repasse de recursos do incentivo federal para os


municípios participantes que atingirem melhora no padrão de qualidade no
atendimento. O programa foi lançado em 2011 e, em 2015, iniciou seu 3º ciclo com a
participação de todas as equipes de saúde da Atenção Básica (Saúde da Família e
Parametrizada), incluindo as equipes de Saúde Bucal, Núcleos de Apoio à Saúde da
Família e Centros de Especialidades Odontológicas que se encontrem em
conformidade com a PNAB (BRASIL, 2015).
Abaixo as Portarias de interesse do programa:
Portaria nº 1.645, de 2 de outubro de 2015 – dispõe sobre o Programa
Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB).
Portaria nº 836, de 26 de junho de 2015 – autoriza o repasse do incentivo
financeiro do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção
Básica (PMAQ-AB), denominado como Componente de Qualidade do Piso de
Atenção Básica Variável, referente à certificação final das equipes participantes do
2º ciclo do PMAQ.
Portaria nº 2.666, de 4 de dezembro de 2014 – autoriza o repasse do
incentivo financeiro do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica (PMAQ-AB), denominado como Componente de Qualidade do Piso
de Atenção Básica Variável.
31

Portaria nº 635, de 17 de abril de 2013 – homologa a adesão dos Municípios


ao segundo ciclo do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica (PMAQ).
Portaria nº 283, de 28 de fevereiro de 2013 – autoriza o repasse do incentivo
financeiro do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção
Básica (PMAQ-AB), denominado como Componente de Qualidade do Piso de
Atenção Básica Variável.
Portaria nº 261, de 21 de fevereiro de 2013 – institui, no âmbito da Política
Nacional de Saúde Bucal, o Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade dos
Centros de Especialidades Odontológicas (PMAQ-CEO) e o Incentivo Financeiro
(PMAQ-CEO), denominado Componente de Qualidade da Atenção Especializada
em Saúde Bucal.
Portaria nº 1.089, de 28 de maio de 2012 – define o valor mensal integral do
incentivo financeiro do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica (PMAQ-AB), denominado como Componente de Qualidade do Piso
de Atenção Básica Variável (PAB Variável).
Portaria nº 644, de 10 de abril de 2012 – homologa a adesão dos Municípios
e das respectivas Equipes de Atenção Básica ao Programa Nacional de Melhoria do
Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB).
Portaria nº 225, de 10 de fevereiro de 2012 – homologa a adesão dos
Municípios e das respectivas equipes de Atenção Básica ao Programa Nacional de
Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB).
Portaria nº 2.812, de 29 de novembro de 2011 – homologa a adesão dos
Municípios e das respectivas equipes de Atenção Básica ao Programa Nacional de
Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB).
Portaria nº 576, de 19 de setembro de 2011 – estabelece novas regras para
a carga horária semanal (CHS) dos profissionais médicos, enfermeiros e cirurgião-
dentista, conforme descrito no Anexo I.
Portaria nº 1.654, de 19 de julho de 2011 – institui, no âmbito do Sistema
Único de Saúde, o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da
Atenção Básica (PMAQ-AB) e o Incentivo Financeiro do PMAQ-AB, denominado
Componente de Qualidade do Piso de Atenção Básica Variável - PAB Variável.
32

i) Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde


O Requalifica UBS é uma das estratégias do Ministério da Saúde para a
estruturação e o fortalecimento da Atenção Básica. Por meio do programa, o MS
propõe uma estrutura física das unidades básicas de saúde – acolhedoras e dentro
dos melhores padrões de qualidade – que facilite a mudança das práticas das
equipes de Saúde.
Também instituído em 2011, o programa tem como objetivo criar incentivo
financeiro para a reforma, ampliação e construção de UBS, provendo condições
adequadas para o trabalho em saúde, promovendo melhoria do acesso e da
qualidade da atenção básica. Envolve também ações que visam à informatização
dos serviços e a qualificação da atenção à saúde desenvolvida pelos profissionais
da equipe.

Figura 7: Requalifica UBS.


Fonte: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pmaq.php

Tanto a adesão ao programa quanto o registro do andamento das obras são


realizados pelo SISMOB (Sistema de Monitoramento de Obras), ferramenta que
possibilita ao gestor maior controle sobre o andamento das obras e, com os registros
em dia, garante a continuidade dos repasses realizados pelo Ministério da Saúde
(BRASIL, 2012).
Sobre o Programa, vale a pena conferir as três Portarias abaixo:
33

a) PORTARIA Nº 341, DE 4 DE MARÇO DE 2013 – redefine o Componente


Reforma do Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0341_04_03_2013.html.
b) PORTARIA Nº 340, DE 4 DE MARÇO DE 2013 – redefine o Componente
Construção do Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0340_04_03_2013.html.
c) PORTARIA Nº 339, DE 4 DE MARÇO DE 2013 – redefine o Componente
Ampliação do Programa de Requalificação de Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0339_04_03_2013.html.
34

UNIDADE 3 – AUDITORIA EM SAÚDE

Quando falamos em serviços de saúde, estes envolvem uma gama de


instituições e unidades que, em se tratando de saúde pública, podem ser compostas
por níveis de atenção (primária: ambulatórios, postos de saúde e centros de atenção
primárias à saúde; secundária: Centros de Saúde; terciária: USF, UBS, CS e
Hospital).

Figura 8: Auditoria em Saúde.


Fonte: http://www.apmsjc.com.br/artigos/conduta_medica.htm

Vamos iniciar a unidade falando das instituições hospitalares que possuem


uma infraestrutura complexa que exige uma administração a qual entenda de
finanças, pessoas, tecnologia e processos necessários ao seu funcionamento para
entrarmos no clima da auditoria em serviços de saúde.

3.1 Instituição hospitalar


De acordo com a Portaria MS nº 30 de 1977, um hospital é parte integrante
de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à
população assistência médica integral, curativa e preventiva, sob quaisquer regimes
de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se também em centro de
educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como
de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os
estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente.
35

Os prestadores de serviço de saúde, no caso uma organização hospitalar,


diferem das produtoras de bens, mantendo quatro características básicas:
1) Intangibilidade – caracteriza-se pela ausência de aspectos físicos, que não
permitem um exame prévio antes da aquisição do serviço, ou seja, seu
produto não pode ser armazenado, não tem aparência estética, gosto ou
cheiro.
2) Inseparabilidade – caracteriza-se pelo consumo, que não pode ser separado
dos seus meios de produção. Isso quer dizer que o produtor de serviços de
saúde e o usuário interagem de uma forma que o serviço é consumido pelo
paciente ao mesmo tempo em que está sendo produzido.
3) Variabilidade – corresponde ao não estabelecimento de padrões rígidos de
desempenho, pois o serviço de saúde, ao mesmo tempo em que é produzido
é consumido, ou seja, a variação depende de uma série de circunstâncias
que se apresentam no momento da prestação de serviço.
4) Perecibilidade – é o conceito de um serviço de saúde que não pode ser
estocado, pois é preciso administrar a demanda em função da oferta. Se há
disponibilidade de atendimento médico, odontológico, laboratorial ou
hospitalar, faz-se necessário estimular o consumo do serviço, dentro dos
princípios éticos (COBRA, 2001 apud BORBA; LISBOA, 2006).

São características de uma instituição hospitalar:


 nesse tipo de instituição, o gestor tem menos autoridade e poder que em
outras organizações, porque o hospital não pode ser organizado com base
em uma linha única de autoridade. A coexistência de linhas de autoridade
legal, profissional e mista gera um sem número de problemas administrativos.
Ele tem quatro centros de poder: a diretoria superior, os médicos, a
administração e os demais profissionais;
 a organização formal dos hospitais, de modo geral, mostra que a direção
superior tem toda a autoridade e a responsabilidade pela instituição. A
diretoria delega ao administrador a gerência do dia a dia da instituição, o qual
delega às chefias dos serviços sua autoridade de comando. O corpo clínico
do hospital pode estar subordinado ao diretor e/ou administrador e o médico
tem grande autonomia no seu trabalho e também autoridade profissional
sobre outros na organização. Tal processo varia entre os tipos de hospitais;
36

 o hospital tem pouco controle sobre seus públicos, principalmente os médicos


e os pacientes. O trabalho hospitalar é diversificado e com pouca
padronização. São pessoas cuidando de pessoas, participando ativamente do
processo produtivo;
 os serviços de atenção e tratamento são personalizados a cada paciente. Nas
situações de emergência, a instituição tem pouca tolerância aos erros. O valor
econômico do produto organizacional é secundário ao valor social
humanitário;
 o hospital é uma organização especializada, departamentalizada e
profissionalizada, que não pode funcionar efetivamente sem uma
coordenação interna, motivação, autodisciplina e ajustes informais e
voluntários de seus membros. A coordenação de esforços e atividades é
importante pela interdependência do trabalho que deve ser realizado;
 a gestão de hospitais constitui-se numa especialidade complexa e peculiar da
administração, por envolver uma união de recursos humanos e
procedimentos muito diversificados, tais como engenharia, alimentação,
hotelaria, lavanderia e suprimentos e, ainda, a convivência com os complexos
cuidados na área de saúde, interagindo com eles, a fim de dar aos pacientes
condições para sua recuperação (TEIXEIRA, 1983; GONÇALVES, 2006).

Como se observa, o gestor, principal executivo de uma instituição hospitalar,


lidera uma equipe multiprofissional e tem dentre suas funções planejar, orientar,
dirigir e controlar os esforços dos diversos grupos em busca de um objetivo comum,
geralmente com um mínimo de recursos, entretanto, o sucesso raramente será
resultado de talentos ou esforços individuais, ao contrário, é o produto dos esforços
e intelectos de um grupo de indivíduos organizados para agirem de comum acordo.
Assim, a organização hospitalar fornece o mecanismo para distribuir
responsabilidade e canalizar os esforços de forma que não somente todas as tarefas
necessárias sejam executadas, como também todo o trabalho seja coordenado e
controlado para atingir os objetivos do hospital da maneira mais eficiente e eficaz
(BRITO; FERREIRA, 2006).
Eis que teremos na auditoria uma grande colaboração ao trabalho de gestão
hospitalar, uma vez que ela consiste em verificar os procedimentos e validar os
controles internos utilizados pela organização, permitindo ao auditor, emitir opinião e
37

aconselhamento à direção, garantindo precisão e segurança na tomada de decisão


do gestor.
Uma vez que a área de saúde é caracterizada por processos contínuos que
envolvem tomada de decisão e que a prática baseada em evidências para a
execução de um trabalho apoiado em contextos sólidos, fundamentados,
pesquisados e experimentados é o que garante um resultado sistemático e
organizado, a auditoria é uma forma de assegurar a qualidade em todo o processo
de atendimento médico-hospitalar (MOTTA, 2010).
Independente da categoria profissional, sejam enfermeiros, administradores,
médicos, dentistas e outros, fato é que eles estão presentes nessas organizações de
saúde e sua atuação vem se desenvolvendo, aperfeiçoando e ganhando destaque
devido à grande preocupação dos estabelecimentos em manter-se no mercado. As
operadoras e hospitais têm como objetivo principal garantir o atendimento com
qualidade aos clientes, pagando e recebendo o justo pelos seus serviços. Essa
prática acarreta o comprometimento e a mobilização de toda a equipe para que o
processo beneficie todas as partes envolvidas.

3.2 Evolução da auditoria em saúde


Foi em 1918 que a auditoria surge no estudo realizado pelo médico George
Gray Ward, nos Estados Unidos, no qual foi verificada a qualidade da assistência
médica prestada ao paciente por meio dos registros em prontuário (PEREIRA;
TAKAHASHI, 1991; KURCGANT, 2000).
No ano de 1952, foi criada no Brasil, a Lei Alípio Correia Neto, na qual, era
dever dos hospitais filantrópicos a documentação das histórias clínicas completas de
todos os pacientes e, em 18 de julho de 1966, a Associação Brasileira de Arquivo
Médico e Estatístico (MEZZOMO, 2001).
Em 1955, um dos primeiros trabalhos de auditoria em enfermagem é
desenvolvido no Hospital Progress nos Estados Unidos, onde já se observava que a
qualidade das ações de enfermagem vem influenciada por diversos fatores, como:
formação do profissional; número de profissionais e auxiliares; mercado de trabalho
e legislação específica vigente; política; estrutura e organização das instituições
(KURCGANT, 2000).
Em agosto de 1960, a política de saúde do Brasil estava a cargo das caixas
de assistência e benefícios de saúde que atendiam seus associados e dependentes
38

agrupadas de acordo com a categoria profissional a que pertencia o trabalhador.


Com a unificação dos institutos para atender a demanda no campo da saúde, dois
fatos novos surgiram: o primeiro, ligado à necessidade da compra de serviços de
terceiros, e o segundo, afeto à importância do atendimento à clientela, de maneira
individualizada, por classe social e pelo direito de escolha do atendimento
(LOUVERDOS, 2000).
A terceirização dos serviços de saúde levou o Governo, como órgão
comprador, a adotar medidas analisadoras, controladoras e corregedoras,
prevenindo o desperdiço, a cobrança indevida e a manutenção da qualidade dos
serviços oferecidos. Para garantir o programa proposto e a integridade do sistema
em funcionamento, tornou-se necessária a criação de um quadro de pessoal
habilitado em auditoria médica, surgindo, assim, o corpo funcional de auditores da
previdência social (FALK, 2001).
Segundo Louverdos (2000), a evolução da medicina e as imposições sociais
levaram a profundas alterações no sistema de saúde do país para atender à
crescente demanda do mercado, o que significava crescimento dos planos de
medicina de grupo, e, com estas, a maior necessidade de adequação dos serviços
para acompanhar a revolução Médica Social.
Na década de 1970, houve o aparecimento da necessidade de um sistema
de controle e avaliação da assistência médica, tanto por parte do antigo INPS,
quanto por parte do Sistema Supletivo. Esta necessidade deve-se ao fato de que
começaram a surgir fraudes criminosas e outros desvios graves, com a evasão de
recursos financeiros, tanto no sistema público quanto no suplementar
(LOUVERDOS, 2000).
Segundo Albuquerque et al. (2008 apud PEREIRA, 2010), em 1976, o
Ministério da Previdência sistematizou a avaliação dos serviços médicos prestados,
através da auditagem médica e administrativa das contas a serem pagas. O sistema
Supletivo também trilhou o mesmo caminho, e, na década de 1980, tivemos a
consolidação da Auditoria Médica como uma atividade necessária a todas as
modalidades referência.
No Brasil, apenas no ano de 1983, reconhece-se o cargo de médico auditor,
e a auditoria passa a ser realizada nos próprios hospitais, porém se inicia com
experiências isoladas com a auditoria médica, com vista ao fornecimento de
39

informação para decisões administrativas e para o corpo clínico, realizada no


hospital de Ipanema, no Rio de Janeiro (D’INNOCENZO et al. 2006).
No ano de 1990, a Lei Orgânica da Saúde nº 8080, de setembro de 1990,
estabelece a necessidade de criação do Sistema Nacional de Auditoria (SNA) como
um instrumento fiscalizador e atribuindo a este uma coordenação da avaliação
técnica e financeira do SUS em todo território nacional (CAMELO et al. 2009).
O Sistema Nacional de Auditoria foi instituído pela Lei nº 8.689, de 27 de
julho de 1993, que extinguiu o Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social (INAMPS) e atribuiu competência ao Ministério da Saúde para
essa função. Esta Lei, em seu art. 6º, consolida o SNA pelo seguinte texto: fica
instituído no âmbito do Ministério da Saúde, o Sistema Nacional de Auditoria de que
tratam o Inciso XIX do art. 16 e o § 4º do art. 33 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro
de 1990 (SCARPARO; FERRAZ, 2008).
Sendo assim, no ano de 1999, o Ministério da Saúde, através da portaria nº
169, do gabinete do ministro, de 19 de agosto de 1999, estabelece uma nova
organização de atividades do SNA, são elas: as de controle e avaliação ficam com a
Secretaria de Assistência à Saúde (SAS) e as atividades de auditoria com o
Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DENASUS), representada em todos
os estados da federação e no distrito federal (SCARPARO; FERRAZ, 2008).
Hoje, os planos e seguro de saúde são os responsáveis por uma grande
parcela da assistência à saúde do País, sendo importante para a manutenção do
equilíbrio do sistema uma equipe multiprofissional de auditoria e análise dos serviços
realizados, tanto em ambulatório como em regime de internação hospitalar, seja em
caráter eletivo e em caráter de urgência/emergência.
Nos dias de hoje, compete à Auditoria a difícil tarefa de manter equiparada a
relação custo/benefício na assistência médica, ou em outras palavras, tentar
oferecer uma assistência médica de boa qualidade dentro de um custo compatível
com os recursos financeiros disponíveis. Não é somente indicar as falhas e os
problemas, mas também, apontar sugestões e soluções, assumindo, portanto, um
caráter eminentemente educacional (CHIAVENATO, 2003).
Ainda, de acordo com Chiavenato (2003), para que ocorra o processo de
execução da auditoria, é necessário que haja envolvimento da equipe e,
principalmente, maturidade para identificar, aceitar e implantar estratégias que
garantam um resultado positivo para a instituição.
40

Os profissionais da área de saúde, agrupados em equipe, tem, portanto, um


papel fundamental no sistema e na política de saúde do País (PEREIRA, 2010).

3.3 A auditoria em saúde


Apesar de estarmos sendo redundantes, vale sempre frisarmos que a
auditoria é uma estratégia para melhorar o cuidado ao paciente, através de
levantamento prévio e identificação da deficiência na organização e assistência
prestada (SOUZA, 2001 apud PEREIRA, 2010).
Segundo Falk (2001), o conjunto de ações utilizadas na avaliação e
fiscalização dos prestadores de serviços de saúde e na conferência de contas
relativas aos procedimentos executados, vai do atendimento ao gasto, do custo à
qualidade a ser alcançada.
É um sistema de revisão e controle para informar a administração sobre a
eficiência e eficácia dos programas em desenvolvimento. Sua função não é somente
indicar as falhas e os problemas, mas também, apontar sugestões e soluções,
assumindo, portanto, um caráter eminentemente educacional (SCARPARO, 2005).
No entendimento de Souza (2001 apud PEREIRA, 2010), a auditoria em
saúde funciona como um conjunto de medidas através das quais, perito interno ou
externo revisa as atividades operacionais de determinados setores de uma
instituição, com a finalidade de mensurar a qualidade dos serviços prestados.

Figura 8: Auditoria.
Fonte: http://www.sindhosp.com.br
41

Nesse sentido, a qualidade do registro das ações assistenciais reflete a


qualidade da assistência e a produtividade do trabalho. E com base nesses
registros, pode-se permanentemente construir melhores práticas assistenciais, além
de implementar ações que visem melhorias nos resultados operacionais (FONSECA
et al. 2005).
Falk (2001) faz um apontamento importante que consiste na conferência da
conta ou procedimento pelo auditor, analisando o documento no sentido de
corrigirem falhas ou perdas, objetivando a elevação dos padrões técnicos e
administrativos, bem como a melhoria das condições hospitalares, e um melhor
atendimento à população.
É uma atividade profissional da área de saúde que analisa, controla e
autoriza os procedimentos para fins de diagnose e condutas terapêuticas, propostas
e/ou realizadas, respeitando-se a autonomia profissional e preceitos éticos, que
ditam as ações e relações humanas e sociais.
Em saúde, a auditoria tem ampliado seu campo de atuação para a análise
da assistência prestada, tendo em vista a qualidade e seus envolvidos, que são
paciente, hospital e operadora de saúde, conferindo os procedimentos executados
com os valores cobrados, para garantir um pagamento justo. Essa análise envolve
aspectos quantitativos e qualitativos da assistência, ou seja, avaliação da eficácia e
eficiência do processo de atenção à saúde (SCARPARO, 2005).
Para o mesmo autor acima, a existência, necessidades e objetivos da
auditoria em saúde são plenamente reconhecidos pela Legislação e pelos Códigos
de Ética da área de saúde, além de reconjugado pelas Normas Administrativas das
Instituições de Saúde. Portanto, a equipe de auditoria deve estar atenta aos seus
limites, claramente definidos nos respectivos Códigos de Ética, e embasados em
Normas Técnicas próprias e Pareceres de Sociedades Científicas.
Fato é que a auditoria pressupõe avaliação e revisão detalhada de registros
clínicos selecionados por profissionais qualificados para verificação da qualidade da
assistência. O conceito mais ampliado de auditoria refere-se à análise das atividades
realizadas pela equipe de enfermagem, através do prontuário em geral,
principalmente das anotações, tendo em vista a qualidade da assistência prestada.
Inclui ainda, a condição de diminuir custos, conciliando a qualidade do cuidado
prestado com a sustentabilidade financeira da instituição de saúde (SOUZA;
FONSECA, 2005).
42

Figura 9: Avaliação.
Fonte: http://www.aguiars.com.br

Realmente não é uma missão simples administrar uma instituição hospitalar


dentro da sua complexidade, envolvendo pessoas, processos, insumos e
equipamentos e tecnologia em tempos dos quais o uso racional de todos estes
componentes é digno de um regente de orquestra.
Além de planejar, dirigir e controlar, é necessário verificar constantemente
para que as surpresas não sejam desagradáveis, o que passa bem perto das
auditorias de custo e finanças, mas estas terão espaço em outro módulo, por ora,
esperamos que tenha entendido que o quão sério é esmerar-se na gestão dos
recursos variados necessários ao bom funcionamento de uma instituição hospitalar.

3.4 Tipos de auditoria em saúde


O Manual de Normas de Auditoria do Ministério da Saúde (BRASIL, 1998)
classifica auditoria em:
1. Regular ou ordinária – realizada em caráter de rotina e periódica,
sistemática e previamente programada, com vistas à análise e verificação de todas
as fases específicas de uma atividade, ação ou serviço.
2. Especial ou extraordinária – realizada para atender a apuração das
denúncias, indícios de irregularidades, por determinação do Ministro de Estado da
Saúde, outras autoridades ou para verificação de atividade específica. Visa a
avaliação e o exame de fatos em área e períodos determinados. Aqui se incluem os
43

exames realizados por peritos especializados em determinadas áreas de atuação


profissional, designados por autoridade competente, com emissão de laudo pericial.
Quanto à execução podem ser:
1. Analítica – conjunto de procedimentos especializados, que consiste na
análise de relatórios, processos e documentos, com a finalidade de avaliar se os
serviços e os sistemas de saúde atendem às normas e padrões previamente
definidos, delineando o perfil da assistência à saúde e seus controles.
2. Operativa – conjunto de procedimentos especializados que consiste na
verificação do atendimento aos requisitos legais/normativos, que regulamentam os
sistemas e atividades relativas à área da saúde, através do exame direto dos fatos
(obtidos através da observação, medição, ensaio ou outras técnicas apropriadas),
documentos e situações, para determinar a adequação, a conformidade e a eficácia
dos processos em alcançar os objetivos.
Caleman, Moreira e Sanchez (1998) colocam a auditoria operacional e a
auditoria analítica como os principais tipos:
 a auditoria operacional é baseada na observação direta dos fatos, procede à
verificação “in loco”, quanto à propriedade das informações obtidas para
análise dos documentos e situações, objetiva a avaliação do atendimento às
normas e diretrizes, através de verificação técnico-científica e contábil da
documentação médica, estrutura física e tecnológica, bem como, se
necessário, ao exame do paciente;
 a auditoria analítica é baseada na análise dos documentos, relatórios e
processos, e objetiva a identificação de situações consideradas incomuns e
passíveis de avaliação, bem como conferência quantitativa e qualitativa da
conta hospitalar e adequação de valores.

Para Motta (2010), a auditoria analítica pode ser subdivida em:


 pré-auditoria ou auditoria prospectiva – trata-se da avaliação dos
procedimentos médicos antes de sua realização. Exemplo: emissão de um
parecer, pelo médico auditor da operadora de plano de saúde, sobre um
determinado tratamento ou procedimento, e cabe a ele por meio de
conhecimento dos contratos e legislação, mais perícia, recomendar ou não os
procedimentos;
44

 auditoria concorrente ou proativa ou supervisão – é a análise pericial ligada


ao evento no qual o cliente está envolvido durante o atendimento;
 auditoria de contas hospitalares ou retrospectiva ou revisão de contas –
consiste na análise pericial dos procedimentos médicos realizados, com ou
sem a análise do prontuário médico, após a alta do paciente. No caso da
auditoria de enfermagem, ela está presente no hospital como auditoria interna
do faturamento através da análise de contas, e auditoria interna de educação
permanente, no qual esta última pode ir além do faturamento, chegando à
qualidade dos serviços prestados, orientando e participando do treinamento,
objetivando melhores desempenhos quanto ao tempo de atendimento,
redução de infecção hospitalar, índice de satisfação do cliente.
Quanto à forma da intervenção, pode ser:
 auditoria interna – é realizada por profissionais da própria instituição;
 auditoria externa – é realizada por profissionais que não pertencem a
instituição, e que são contratados para este fim;
 auditoria mista – são profissionais da própria empresa e profissionais
contratados que não fazem parte da empresa.
Quanto ao tempo de processamento:
 contínua – é realizada em períodos predeterminados, iniciando-se sempre do
ponto de término da anterior;
 periódica – realizada em períodos determinados, porém não tem o caráter da
continuidade.
Quanto ao caráter:
1 - Auditoria preventiva – realizada a fim de que os procedimentos sejam
auditados antes que aconteçam. Geralmente está ligado ao setor de liberações de
procedimentos ou guias do plano de saúde, e é exercida pelos médicos e outros.
2 - Auditoria operacional – é o momento no qual são auditados os
procedimentos durante e após terem acontecido. O auditor atua junto aos
profissionais da assistência, a fim de monitorizar o estado clínico do paciente
internado, verificando a procedência e gerenciando o internamento, auxiliando na
liberação de procedimentos ou materiais e medicamentos de alto custo, e também
verificando a qualidade da assistência prestada. É nesta hora que o auditor pode
indicar, com a anuência do médico ou outro profissional assistente, outra opção de
45

assistência ao usuário, como o Home Care2 ou o Gerenciamento de Casos


Crônicos.
3 - Auditoria analítica - Junqueira (2001) engloba nesta classificação as
atividades de análise dos dados levantados pela Auditoria Preventiva e Operacional,
e da sua comparação com os indicadores gerenciais e com indicadores de outras
organizações.
Neste processo, os auditores devem possuir conhecimento relacionado aos
indicadores de saúde e administrativos, e no que tange a utilização de tabelas,
gráficos, bancos de dados e contratos. Dessa forma, são capazes de reunir
informações relacionadas ao plano de saúde, bem como quanto aos problemas
detectados em cada prestador de serviços de saúde. Consequentemente, tais
análises contribuem substancialmente para a gestão dos recursos da organização
(KOBUS, 2002).

Vale guardar...
- Auditoria Operacional – trabalha por comparação do nível de assistência
prestada versus padrões de assistência aceitáveis.
Tem como indicadores:
• avaliação de desempenho;
• prontuário do paciente;
• questionário respondido pelo paciente, ou outros instrumentos que cumpram
este objetivo.
- Auditoria Retrospectiva – trabalha por comparação dos dados registrados
na papeleta do paciente versus padrões preestabelecidos.
Seus indicadores são:
• prontuário dos pacientes, opções de trabalho a partir da determinação do
número de prontuários a serem trabalhados:
1ª opção = até 50 altas/mês, trabalha-se todos os prontuários/acima de 50
altas/mês, trabalha-se 10% dos prontuários;
2ª opção = trabalha-se com todos os prontuários à partir de sorteio.
São instrumentos administrativos de registro (relatórios) e de controle
(normas e rotinas):

2
Home care – modalidade de Serviço de Assistência à Saúde (internamento domiciliar).
46

1 - Método de retrospecção, no qual se verifica fatos passados, situando a


observação em determinado contexto previamente ocorrido.
2 - Método analítico ou prospectivo, no qual é possível a avaliação da
assistência junto ao paciente, o trabalho não se dá só pela verificação, mas também
pela interpretação e interação com os fatos.
3 - Método concomitante ou concorrente, utiliza-se da retrospecção para o
desenvolvimento do processo.
47

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