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O texto ENTRE VESPAS foi escrito no ano de 2017 com o intuito de fazer uma

crítica social, contra a corrupção brasileira, sem tomar nenhum posicionamento


político, nem vincular com acontecimentos reais. Algumas referências foram
citados através de uma licença poética, sem denegrir ou se posicionar. O texto
critica de forma clara, o racismo, a homofobia, e principalmente à figura
religiosa no congresso. Além de trabalhar os tipos dos candidatos que são
vistos como figuras, e a mulher fútil do politico. O texto trata alguns
estereótipos de maneira exagerada propositalmente, para que o público tenha
a sensação de estar vendo tudo com uma lente de aumento.

Nenhum personagem é honesto, o texto trata o pior do ser humano, em seu


lado mais sujo. E onde cada um pode chegar, com seus erros, mesmo com
suas intenções sejam boas. A dramaturgia foi pensada através do ditado: Basta
uma maça podre, para estragar toda a cestada. E leva ao público a uma
reflexão, sobre a conscientização do voto, pois os eleitores são influenciados
pelas noticias falsas da internet.

Em 2017 o texto ganhou o maratona anual de dramaturgia pela instituição


SENAC / SP, selecionado pela grande docência.
Cena 1

(Gabinete de Augusto)

Augusto: Eu sou apenas um escritor!

Micael: Mas você já tá dentro da merda, quem quis se candidatar foi você,
agora aguenta as consequências.

Augusto: Você sabe muito bem que quem insistiu na minha candidatura foi
você Micael. Eu estava muito bem fazendo meus trabalhos sociais. Eu acabei
de chegar, não vou me meter em sujeira.

Micael: Os caras grandes não se importam com isso, é seu primeiro ano de
madato, você precisa fazer o que eles mandam. Tem deputado que está aqui
há mais de 30 anos cara, se liga! Você pode ganhar muito dinheiro, e ai
quando começar a ganhar, ai você ajuda quem quiser, gasta com sua mulher,
sei la. O importante é você entender que não pode simplesmente se negar a
proposta dos caras, eles são do seu partido.

Augusto: Micael, meus eleitores, são meus leitores, se eu fizer isso além de
me tornar um ser humano podre, e ir contra todos os meus princípios, também
vou me queimar na carreira de escritor. Eu já disse Micael, não vou me meter
em sujeira. Sai do meu gabinete agora! Quero ficar sozinho.

Micael: Você já se meteu quando colocou seus pés aqui em Brasília. Durante a
sua campanha. De onde você acha que veio o dinheiro para seu material
gráfico? Grande parte dessa grana, veio de notas frias. De onde você acha que
veio o dinheiro para o partido lhe comprar seu carro? Acha que foi um dinheiro
limpo? Se toca Guto! Esse gabinete é minúsculo, e você foi o deputado mais
votado do Brasil. Você merece mais. O pastor pode lhe conseguir um jatinho
particular. Pensa em como a Sheila ficaria feliz.

Augusto: Porra Micael, você é um traíra. Trabalhou comigo durante toda a


campanha, e agora está querendo fazer-me sucumbir a essas vespas? Eu sou
um homem honesto!
Micael: Depois não diga que não te avisei Guto! Somos amigos desde criança,
acha que eu mentiria pra ti? Eu trabalhei na sua campanha, e ainda nem recebi
um tostão. Aqui funciona assim cara, precisa tirar de um buraco pra tapar o
outro.

Augusto: Saia daqui agora Micael.

Risadas eufóricas fora de Cena

Entra Sheila

Sheila: Amor, preciso de um vestido para sua festa de posse, essa festa já foi
adiada demais, eu estava pensando também em comprar um colar de
diamantes, passei na loja de jóias e...

Augusto: Você já tem um armário cheio de vestidos Sheila. E eu não quero


que apareça esbanjando diamantes. Somos pessoas simples, quero uma festa
simples, somente pra nossa família.

Sheila: Eu sou esposa de um deputado estadual. Quer que eu use um vestido


repetido? Quer que as blogueiras fiquem gongando dos meus looks Guto?

Augusto: Looks?

Sheila: Sim, Guto! Sou uma mulher fina, de classe. Não fica bem ficar usando
qualquer trapo, além disso melhor ainda, você me deu uma excelente ideia
meu amor. Vou contratar um estilista para desenhar meu vestido.

(Augusto mantém a cabeça baixa preenchendo um cheque enquanto Sheila


fala.)

Sheila: Tão fácil assim?

Augusto: Tenho problemas maiores Sheila.

Sheila: Não tenho interesse nisso, resolva seus assuntos, até mais tarde.

Sheila sai.

Augusto: Sheila!
Sheila volta.

Minha vida toda, vi a polícia sem escrúpulos abusando das meninas lá do


Andaraí. Vi os próprios bandidos protegendo o Complexo do Maré. Eu conheço
de perto a corrupção da elite. Vi minha mãe passando fome, pois ninguém se
importava com aquela gente. Ela lavava e passava pra poder me mandar pra
escola. Estudei, fui o primeiro do meu bairro a cursar um ensino superior. Eu
prometi pra toda aquela gente, que iria mudar a realidade daquelas crianças,
fui o primeiro a dar esperança a eles, com meus trabalhos sociais na
comunidade. E agora que estou aqui, não sei se vou conseguir ajuda-los.

Sheila: Faça o que você tem que fazer.

Augusto: Não posso Sheila! Já to vendido. Está decidido, pra eu fazer o que
quero, tenho que entrar no jogo deles.

Sheila: Você não entendeu Guto, eu disse: Faça o que você tem que fazer.

Augusto: Vá lá fora, e chame o Micael.

Sheila: Eu não sou sua secretária, falando nisso você precisa de uma.

Augusto: Vá Sheila!

Cena 2

(Casa de Augusto – Recepção de Posse)

Os políticos estão bebendo e comendo petiscos.

Pastor Frederico: Que bom que ele aceitou, geralmente os novatos resistem
mais.

Micael: Ele vai fazer o que o senhor pediu.

Pastor Frederico: Ora ora, gostei muito dessa residência. Só depois de 12


anos de política consegui uma casa desse tamanho.

Micael: Ele vendeu muitas cópias senhor.


João tortinho se aproxima com mal jeito em andar, e dificuldades com
português.

João Tortinho: Oh pastor, o senhor sabe que pode contar comigo, temos que
falar sobre a ultima verba, tenho pressa em receber.

Pastor Frederico: Irá receber Tortinho, quem se coliga comigo, nunca sai
perdendo.

João Tortinho: O pastor sabe que poderá contar comigo pra tudo, pelo bem
da família tradicional brasileira!

Augusto: Pastor, gostaria de falar-lhe a sós.

Pastor Frederico: Guto do Rio? O defensor dos pobres e oprimidos, o


representante das minorias, pretos e viados, quer conversar com minha
humilde pessoa? Em nome de Jesus eu aceito, beberei do seu vinho e depois
conversarei com vossa graça.

Sai João Tortinho e Micael.

Augusto: O senhor sabe que não pode se portar dessa forma racista e
homofobica senhor.

Pastor Frederico: Ah, deixe de problematização meu amigo. (Abraça Guto)


Primeiro que não estou mentindo, eles são viados. Os seus amigos favelados e
bandidos são brancos? Não são brancos. Vivemos em uma democracia, e essa
é somente minha opinião.

Augusto: Não precisa fazer discursos para mim senhor Frederico, sei bem que
o senhor tem costume de mascarar seu preconceito por opinião, mesmo assim
estou disposto a colaborar com o senhor, mas antes preciso de uma garantia.

Pastor Frederico: De antemão posso te oferecer um carro melhor, um do ano.


E seu gabinete podemos deixar pro Tortinho, você fica com um maior. Mas
essa oferta ficará irrecusável quando tem uma mesada de trezentos continhos,
se quiser pode ter um cargo na igreja, vai ser muito bom pra sua imagem.
Preciso de gente como você, gente que as pessoas confiam. Sabe aquele
Joãozinho ali? É um zé ninguém. Só esta aqui porque levou votos do partido
que veio pra você.

Augusto: Muito bem, aceito seja lá qual for o cargo. No congresso só


trabalhamos 6 horas por dia e ainda podemos nos locomover.

Pastor Frederico: Claro meu querido amigo. Nós mesmo fazemos as leis.

Augusto: Agora me diga, o que exatamente devo fazer?

Pastor Frederico: A presidente mandou verba para um programa de médicos


estrangeiros, que soma alguns milhões. Dá uma média de tralalá milhão e
duzentos mil para cada estado. O juiz fará uma procuração dizendo que a
verba liberada foi somente poucos milhões. Desses poucos milhões cada
governador vai repassar para o ministério da saúde uns míseros milheiros.
Cada governador ficará com sua parte, mas nós ficaremos com uma boa
porcentagem.

Augusto: E porque precisa de mim?

Pastor Frederico: Tenho muito processo nas costas, juiz não confia em mim.
Preciso que leve a procuração no valor menor, e assine com seu nome limpo.

Augusto: Porque não manda aquele seu amigo que apoiou sua campanha?

Pastor Frederico: Ele está muito ocupado. O país esta em manifestação, o


povo está dividido. Ele pretende soltar os podres dos amigos.

Augusto: Tomar o poder?

Pastor Frederico: Não sei, são caras grandes, o que mandar a gente fazer a
gente faz. Aqui, em um nível hierárquico, eu sou o cara grande.

Augusto: Sim, mas as manifestações estão querendo restituir o cargo da


presidente. Ela é culpada?

Pastor Frederico: Ninguém sabe, no fim todos são culpados. Mas se são
culpados ou inocentes, não importa. O que importa é que nós temos que nos
defender e ganhar o nosso.
Augusto: Meu assessor entrará em contato para resolver os detalhes da
procuração, com sua licença, tenho convidados a receber.

Sai Frederico

Augusto: Sheila, Sheila... pare de beber e venha aqui.

Sheila: Que ignorância Guto! Precisa me puxar pra longe dos convidados?

Augusto: Chega de historia mulher! Preciso de ajuda. Qual o nome daquela


sua amiga juíza?

Sheila: Amiga juíza? De onde eu iria conhecer uma juíza Guto?

Augusto: Aquela de cabelo curtinho.

Sheila: A sapatão?

Augusto: Olha o respeito Sheila.

Sheila: Ela se chama Maria, lá no salão onde a gente se conheceu, chamam


ela de Maria sapatão. (RI) Eu não sei porque ela vai no salão, ela nem tem
cabelo...

Augusto: Sheila isso é muito sério, preciso que diga a ela para me visitar no
meu gabinete, segunda feira de manhã.

Sheila: Guto larga de ser idiota homem, acha que uma juíza vai se locomover
só pra te ver?

Augusto: Diga pra ela que eu tenho um plano pra acabar de vez com o Pastor
Frederico.

Cena 3

(Gabinete de Augusto)

Maria: O que está me dizendo, tem provas?

Augusto: Ainda não, mas a procuração nesse valor estará em minhas mãos
essa tarde.
Maria: Muito bem, mas isso não prova nada. Preciso do documento original
assinado pela presidente.

Augusto: Eu não tenho.

Maria: Então você não tem nada

Micael: Tenho um plano, podemos conseguir o documento com João Tortinho.

Augusto: Deixa de ser burro, o cara tá do lado do Pastor.

Micael: Eu sei, mas ele é o ser humano mais manipulável e burro desse
congresso. Podemos dizer que o pastor pediu pra ele pegar em seu gabinete
durante sua pausa, e entregar pra gente.

Augusto: Ah é esperto? E se João Tortinho consultar o pastor?

Micael: Conheço o Joãozinho, é só dizer que pastor não quer ser incomodado.

Maria: Não perderei mais meu tempo, consigam o documento, que abro uma
ação de prisão imediata para Frederico.

Sai Maria

Augusto: O que espera? Chame João

Micael: Tortinhoooooo, Tortinhooooo.... corre aqui. É aqui!

João Tortinho: Eu estava no corredor vendo o tempo passar...

Micael: Onde está o pastor?

João Tortinho: Onde ele está o dia inteiro? No twitter, claro.

Micael: Tô dizendo, em qual lugar encontra seu corpo físico.

João Tortinho: Ah sim, ele tá no jato pra São Paulo, ele tá indo sabotar a
parada gay.

Micael: Como se sabota a parada gay?


João Tortinho: Ele tem um plano que envolve patrocinadores de sei lá o que.
Um boicote pelas redes sociais, lançamos uma fake news que distorce os
fatos. Tem alguma coisa a ver com a lei rouanet, eu não entendi direito.

Micael: Não importa! Ele com certeza te falou do esquema da verba dos
médicos. Precisamos que pegue o papel no gabinete dele.

Augusto: Sim precisamos.

Augusto: Temos que resolver isso e ele não está, ele ficará bravo se chegar e
ver que não resolvemos. Vá lá e procure pela procuração assinada pela
presidente.

João Tortinho: A porta dele só abre com cartão de acesso

Augusto: Nossa Micael, como você consegue ser tão burro.

João Tortinho: Eu tenho cartão de acesso.

Augusto: Então vá de uma vez!

João Tortinho: O que ganho com isso?

Micael: Você vai ganhar uma parte da verba desviada seu burro.

João Tortinho: Isso o pastor já disse. O que eu ganho de fazer esse favor a
vocês?

Micael: O que você quer tortinho?

João Tortinho: Sair com a mulher do Augusto

Augusto: O que? Está insano? Perdeu a noção?

João Tortinho: Não quero transar com sua mulher, quero apenas sair pra
jantar com ela, e quero que ela seja gentil, elogie minha gravata, e podemos
comer nhoque de batatas com suco de limão.

Augusto: Sem chance. Esquece, sai da minha sala.

João Tortinho: Se tortinho não tem Sheila, tortinho conta pro pastor que vocês
queriam o documento original pra denunciar ele pra juíza com cara de homem.
Augusto: Saia já da minha frente monstrinho. E você não pode se referir as
pessoas gays dessa forma pejorativa. Já basta ter que aturar esses
comentários da Sheila. E falando em Sheila, você nunca vai chegar perto dela,
saia daqui agora.

Cena 4

(Quarto de Sheila e Augusto)

Sheila: Não vou sair com Tortinho

Augusto: É só um jantar amorzinho, Tortinho é doente, tem problemas. E


outra, vocês estarão em público.

Voz de Micael fora de cena.’’ – Vou entrar, vou entrar, preciso contar pra ele’’

Sheila: Eu já disse que não vou...

Entra Micael:

Micael: Guto, a Juiza entrou com o pedido de prisão ao pastor.

Augusto: Ah que noticia boa! Tá ouvindo isso Sheila, essa foi a primeira coisa
boa que fiz como deputado.

Sheila: Porque esse cara tá aqui? Como ele entrou? Olha como estou vestida.

Augusto: Relaxa mulher, ele é de casa... e nós temos que comemorar!!!

Sheila: De casa? Porque ele é de casa pode me ver quase nua?

Micael: Na verdade não temos, o advogado dele já entrou com arbeas corpus
e ele nem chegará a ser preso.

Augusto: Sim mas, ele ficará afastado da função?

Micael: Claro que não, já viu político afastado enquanto está respondendo
processo? Tem caras grandes com acusações muito maiores que continuam....
‘‘trabalhando.’’

Augusto: Droga, droga!


Sheila: Vocês podem ralar peito do meu quarto? Vão pro escritório! Ei, estou
aqui...

Micael: Olha, eu aceitei teu plano porque se o cara fosse preso você seria
herói e a gente estaria feito aqui dentro! Mas deu merda, vou sair fora, eu
trouxe a Maria, te vire com ela.

Sheila: Mas o que?

Entra Maria

Maria: Guto, eu me precipitei.

Sheila coloca as mãos na cabeça em ação de desistência.

Maria: Você conseguiu aquele documento de maneira ilegal, e nada no


documento recente liga ao fato do nome dele, só ao seu nome. Está assinado
com seu nome. Nós deveríamos ter aguardado e buscado mais provas. Eu
sinto muito.

Sheila: Tá legal, todo mundo pra fora do meu quarto!

Maria olha para Sheila

Augusto: Porra Sheila, dá um tempo! Maria, porque não me avisou?

Augusto: Maria.... Maria....

Maria: Sim, Sim... é... e sinto muito Guto, por você e.... pela Sheila. Mas você
será acusado de fraude e mais alguns delitos. Poderá ser preso.

Augusto: Parece que agora preciso de um advogado.

Sheila: Chega de palhaçada.

Sheila levanta e começa a tocar todos do quarto um por um!

Sheila: Saiam todos daqui agora.

Maria volta.
Maria: Ei, você quer...

Sheila: Tchau querida!

Cena 5

(Gabinete de Augusto)

Augusto: Gostou do jantar?

Tortinho: Amei o jantar, sua mulher é uma dama. Foi o melhor dia da minha
vida, ela cheira a rosa amarela. As flores mais lindas de toda a floresta de
flores.

Augusto: Muito bem, eu posso te conseguir mais. Gosta de dançar? Sheila


adora, você gostaria?

Tortinho: Está me oferecendo uma dança com sua mulher?

Augusto: Do que você ri tanto?

Tortinho: De nada, apenas me diga o que quer.

Augusto: É simples amigo, diga ao pastor que a juíza te pediu o documento e


você entregou a ela, diga que ela te enganou e disse que era algo inofensivo.
Ele não te culpará.

Tortinho: Tô confuso senhor, o senhor não dizia ser honesto? Vai colocar a
culpa na excelentissima Juiza senhora Maria Clementina dos Santos?

Augusto: Não estou sendo desonesto amigo, ela que foi injusta comigo, ela
deveria ter avisado que não tínhamos provas o suficiente.

Tortinho: Eu digo pro seu pastor que a culpa foi da excelentissima Juiza
senhora Maria Clementina dos Santos. E não se preocupe, eu não vou querer
a dança com a sua senhora não.

Augusto: O senhor está muito sorridente hoje senhor Tortinho.

Tortinho: Eu lhe peço desculpas pela minha alegria incomodar o senhor. Com
licença.
Sai João e cruza com Micael entrando.

Micael: Do que esse esquisito tanto ri?

Augusto: Sei lá, está o dia todo assim.

Micael: Bom, não importa. O documento original está em mãos de outro juiz, a
juíza Maria também está sendo acusada pela defesa, por forjar provas falsas,
mas eu tenho uma noticia boa. O documento falso assinado no seu nome já
tinha sido encaminhado para o sistema de saúde, antes da denuncia, então o
dinheiro estará em sua conta em 2 horas.

Augusto: Está maluco Micael? Esse dinheiro é um atestado de culpa.

Micael: Pensa que sou idiota? Vai tudo pra conta de um laranja.

Augusto: Isso está pior do que eu imaginava. É alguma conta falsa?

Micael: Vai pra conta do Tortinho.

Augusto: O que? Tá maluco, vai culpar o cara.

Micael: Ninguém vai suspeitar do doidinho, calma.

Augusto: O Tortinho de bobo não tem nada, o que você ofereceu em troca?

Micael: Uma noite de sexo com a Sheila

Augusto: Micael, eu só não te meto a mão porque você é meu amigo! Sabe o
tamanho do problema que você me arrumou? A Sheila vai acabar comigo, você
não conhece aquela mulher, ela vai me xingar tanto, vou dizer que é tudo culpa
sua.

Micael: Ela já topou

Augusto: O que está me dizendo?

Micael: Cara, se liga é muita grana que tem aqui, Sheila topou de primeira.

Augusto: Porra cara, minha mulher... agora vou ser corno?


Micael: Relaxa, você pegou a menina já rodada no meio da boca. Tirou ela do
tráfico, sempre soube quem ela era. Agora virou patricinha, mas a vadiagem
não sai dela. É só uma noite cara. Aquele cara não deve saber fazer nada, e a
Sheila é um furacão na cama.

Augusto: Não quero nem saber disso! Diz pra Sheila que nem fiquei sabendo.
Mas e depois que o dinheiro estiver na conta dele, eu não quero saber desse
dinheiro, eu não quero que me peguem.

Micael: Se não quer o dinheiro não vai ter, divide eu, Sheila e Maria.

Augusto: Até Maria?

Micael: Claro, pensa que ela entraria pra não ganhar nada.

Augusto: Poxa cara, você me conhece, sou honesto. Só queria fazer o bem.

Micael: Porra nenhuma que você entrou na política sem imaginar que um dia
entraria numa dessas. Aqui é assim, ou você come, ou é comido. Os fracos
não tem vez, é um lugar cheio de vespas. Você precisa armar sua defesa.
Deixa de ser frouxo homem, precisa reagir.

Augusto: Quando será a reunião no congresso?

Micael: Amanhã, e vai ser televisionado pela tv senado. Toda a merda vai ser
jogada no ventilador. Faça o que eu to mandando e apenas diga sempre que
são acusações falsas.

Cena 6

(No congresso) Augusto, Micael e outros deputados ficam sentados


aguardando veredito, interagindo com a plateia, como se a plateia fosse o
juiz.

Augusto: Tô apavorado! Olha lá o pastor, sentado como se fosse um inocente.


Olha o governador, ele deveria estar aqui?

Frederico interagindo com a plateia.


Micael: Não sei, deve estar aqui porque ontem teve manifestação. E o partido
dele, quer que você vote a favor.

Augusto: Mas eu sou contra, isso é golpe.

Micael: Não interessa o que você acha ou deixa de achar. Ninguém aqui está
preocupado com isso, estamos preocupados em seguir o lado que está mais
forte.

Augusto: E qual lado está mais forte?

Micael: Como vou saber, cada hora a merda de um lado aparece, vamos
seguir o fluxo.

Augusto: Fale baixo, tá rolando as acusações. Parece que deram o veredito, o


que significa?

Micael: Não teremos que depor, mas o pastor ficou livre por falta de provas.

Frederico comemora interagindo com a plateia e segue até o palco.

Augusto: Vamos sair logo daqui.

Micael: Não queremos falar com esse homem não é? Vamos sair de fininho.

Augusto: Não corra seu idiota, as pessoas vão notar.

Pastor Frederico: Mas onde vão com tanta pressa?

Augusto: Olá Pastor.

Pastor Frederico: Qual o problema de vocês? Acha que sairão livres? Acha
que aquela conversa do Tortinho me convenceu? Arrumem essa merda, ou eu
mando dar um jeito nos dois.

Micael: Vai matar a gente? Não é um pastor?

Pastor Frederico: Em nome do senhor eu digo que uma maçã podre estraga
todo o resto. Davi foi pra guerra e trouxe os prepúcios, estou em uma guerra,
estou preparado pra tudo.
Augusto: Não me ameace Frederico, conheço muita gente! Posso acabar com
sua carreira em um estalar de dedos.

Frederico sai dando gargalhadas e comemorando.

Augusto: Micael temos que sair daqui cara, me tira desse lugar agora.

Micael: Medroso covarde, vende a própria esposa, culpa uma juíza agora quer
minha ajuda.

Augusto: Esse cara é assustador, só quero sair daqui.

Micael: Eu estou por acaso te impedindo de passar?

Augusto sai.

Cena 7

(Quarto de Sheila)

Augusto: Sheila, Sheila... Sai desse quarto Sheila

Sheila: O que foi homem pare, que essa gritaria

Augusto: Caiu o avião do Pastor Frederico, ele tá morto! Maria disse que o
primeiro suspeito sou eu, anda logo, temos que sair do país

Sheila: Tá, que seja. Vai arrumando que eu já volto.

Augusto: Porra Sheila, o que eu vou fazer, tenho que sumir, ninguém vai
acreditar em mim.

Sheila: Pare de escândalo homem, eu já volto!

(GRITO DE FORA) GUUUTOOOO!!!

Augusto: Que é Tortinho?

João Tortinho: Tá tudo pronto? O uber está esperando. Onde está Sheila?

Augusto: Cadê o meu carro porque chamou um uber?

João Tortinho: Estão atrás da sua placa. Onde está Sheila?


Augusto: Desceu, vai chamar ela.

SAI JOÃO

Augusto: Cadê você Micael...

ARRUMANDO AS MALAS*

Augusto: Nunca deveria ter entrado na política, os caras vão me pegar,


preciso sair do país, pra onde eu vou? Chile, sim mamãe tem um tio no Chile.

ENTRA MARIA

Maria: Augusto...

Augusto: Maria onde está o Micael?

Maria: Foi preso. A câmera de segurança pegou ele fazendo um depósito, e a


atendente confirmou que ele mandou pra conta do João, a polícia procura pelo
João, e você está sendo chamado pra depor.

Augusto: Merda, merda! Vamos logo, Sheila tá me esperando pra gente fugir.

Maria: Augusto, eu vi ela saindo de uber com o Tortinho. Eles estavam bem...
íntimos.

Augusto: Desgraçada, não importa vou fugir sozinho.

Cena 8

No carro:

João Tortinho: Um brinde a que?

Sheila: A nosso plano!

João Tortinho: E qual era o plano mesmo?

Sheila: Ficar com o dinheiro e fugirmos juntos.

João Tortinho: Ah era, agora podemos viver nosso amor.


Sheila: E o meu plano era colocar todos na cadeia e ficar com o dinheiro, mas
agora tem você.

João Tortinho: Sim, você tem eu todinho pra você, e nós temos todo esse
dinheiro aqui.

Sheila: Na verdade, eu só quero o dinheiro mesmo.

TIROS*

Sheila sai do carro, pega a bolsa com dinheiro, sai de cena.

Entra uma repórter com um operador de câmera.

Repórter: Hoje foi assassinado o deputado João Tortinho, (APARECE


TORTINHO SEGURANDO UMA MOLDURA)

junto com o motorista de Uber.

Tortinho estava sendo acusado de lavagem de dinheiro junto com o deputado


Guto do Rio, (APARECE GUTO SEGURANDO UMA MOLDURA)

que se encontra foragido, suspeito da morte do pastor Frederico. (APARECE


FREDERICO SEGURANDO UMA MOLDURA) A juíza Maria Clementina,
acusada de fraude, está restituída do cargo temporariamente. (APARECE A
JUIZA COM UMA CAIXA DE PERTENCES)

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Operador de câmera: CORTA

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