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juventudeviçomocidade. Te esperar toda noite com a buceta depilada e camisola
transparente.
Noiva Esgotada, Noiva Margarina e General tecem suas promessas. Polifonia: vozes
simultâneas.
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Noiva Esgotada – Eu, nanãiemanjáiansãoxumoraieuieu, eu
santaefigênianossasenhoradaconceição, prometo te passar as roupas que você despirá para
qualquer vagabunda. E costurá-la quando a sirigaita rasgar. Cuidar dos nossos filhosvírus,
bactérias da carne, que consomem minha gordura, meus lipídios, meus ciclos naturais.
Noiva Margarina – Eu, submissacasta, rapariga do sonho de valsa e das propagandas de
sabonete luscofusco, hidratante, creme e loção para pele e cirurgias de lipoaspiração e
implantes de silicone, te aceito, como meu fiel esposo e prometo te respeitar, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe.
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Noiva Esgotada levanta-se e sobe as escadas novamente. Passagem. Noiva Margarina retira
seu véu do ventre simulando o nascimento de um bebê. O véu retorcido é o bebê. Ela o
segura. Rosto de gozo satisfeito. Ela se levanta e desce as escadas, agora de frente pro
público. Sorriso de propagada de “miss universo”. Desce as escadas de frente para o público.
Polifonia de vozes.
A noiva vai para o fundo, adentrando o segundo ambiente: Espaço-Laboratório. Ela conduz o
público. Faz os seus saltos ressoarem no vazio.
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estão dois corpos cobertos. São as bactérias instáveis. Corpos em decomposição.
Organismos deteriorados. Em alguns momentos, soam vozes, cantos, vindos dos corpos.
Hospedeira – (Desce) Agora eu sou a sua hospedeira. É o orgulho que sustenta essa mulher.
Me salva da queda. A hospedeira afunda no seu esgoto, farejando as bactérias e
excrementos da indústriahumana, que ainda sobrevivem no lugarreservatório guardado,
procura sua memóriamansoléu (Olha o lugar, procura por vida). O tempo de agora é o do
presente, e os organismos que estão aqui expostos, estão mortos. Meu corpo é o traço de
vida, a cartilagemcartografia do lugar (Atravessa no corredor atrás do público. Realiza ações
de ligar máquinas, organizar tubos de ensaio, arrumar objetos no espaço). Espaço de
sistema de tratamento de esgoto por processos anaeróbios. Meu esôfagocano alimenta os
tubos de energiaraiva, com circulação de chorochorume. No alto, a caixa d’água, reservatório
de porra. Porosorifíciosedifícios, vidrosvenenos. Quem fez o homem? Quem? (Leva a
geladeira até o centro) Devo falar da criançabactériaresistente. Para se realizar o
experimento nascimento, é necessário tempo de maturação do espécime. O tempo dentro da
barrigatubodeensaio. Os enjôos, vômito, ciclos menstruais, azia, excrementos... Parto, abro
meu útero rasgado, casulo lambuzado dos filhos que gerei. Bactérias fágicas,
emocionamente instáveis. (Vai até a criança) Ainda não. Devo falar de mim? Eu quem?
Quem agora? (Lava as mãos) Tá frio, aqui. Eu, escremento de mulher, escarro de homem.
De quem se fala quando se fala de mim? Como vive nas ruínas de teu corpo,
mulhermemóriamorta. Mas ela vaivelha reviver seu passado, acompanhando seus ossosteias
nas paredespeles. Eu e minha viagem marítima, rastro de sangue. Os pedaços do irmão
sendo atirados ao mar... A imagem do pai, recolhendo o corpo do filho esquartejado, meu
irmão. E o mar... (Revive o passado) Sai do mar, meus filhos!!! (Mergulha no tanque, sai da
água) A hospedeira infiltra no esgoto do macho e torna a alma mais potável. (Lembra com
saudade) Meu corpo infância acorda (Sobe no tubo de ensaio. Contempla a beleza ao redor).
Eu, cheiro de terraestrumemolhada, vaginaúmida, orvalhoágua que jorra dos lençóis
alvejados da claridadedamanhã. (Gozo. Olha para o alto. Mergulha a mão na terra do tubo
de ensaio, para o público). Ela madeira de lei, quase extinta, quase... Árvore abatida,
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naturezamorta, ausente de úteroviço, perfuradaviolada pela mão do homem. Devo falar de
mim? Eu quem? (Desce do tubo de ensaio).
Hospedeira – Até que no momento exato, mamãe... perfeito, uma fêmea, cinco dedos em
cada mão, coxas bem torneadas, pele lisa, perfeito... criatura das minhas entranhas. Quem
pariu o homem? Quem pariu quem? (Enfia o plásticoplacenta debaixo do seu vestido,
configurando uma barriga). Já vem recheada. Recomeça o ciclo. (Leva a menina para
debaixo da torneira. Abre-a. Molha a sua cabeça. Mergulha. Batiza a criatura. A menina
treme de frio. Ela grita de dor). Eu te batizo
joanaclaradinastialilithjoanad’arcclaradosanjospandora como a fêmea escolhida para
procriação e reprodução involuntária. As bactérias são os organismos vivos que mais tem
variações emocionais. Não podemos esperar nada delas. A mesa póstuma, talheres, copos...
Minha oferta, o melhor de mim, o banquete está servido. (Prenuncia a vingança) O amor me
armava as mãos.
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Carrega a menina para a geladeira. Passagem. Menina agora é a Noiva Aborto e Hospedeira,
o Filhocão. Noiva Aborto enfia o Filhocão em suas entranhas. Filhocão enfia-se debaixo do
seu vestidopanobranco. Vai nascer. Noiva Aborto grita. Quer expelir a coisa de si.
Noiva Aborto – (Suave, frágil) Meu homem nem esperou esfriar o vestido, meu leito de
prazer, e já largou sua semente aqui dentro. Uma coisa viva dentro do meu útero. (Horror do
parto) Ele já se mexia revoltado nas minhas entranhas. (Violenta) Eu não sou obrigada a te
amar. (Noiva Aborto pare o Filhocão. Gritos. Urros. O menino se agarra à mãe e não quer
soltá-la. Essa se desespera. Ele cai no chão). Eu não aguento seu peso, leva esse cão daqui!
Filho da puta é aquele que não quer nascer... Eu lavo as minhas mãos, assim como entrego
esse enjeitado ao mundo do cão.
Noiva Aborto – Devo falar de mim? Uma noiva aborto, que foi roubada do seu leito de
prazer? Eu nasci mulher, eu não nasci pra segurar criança no colo, eu não nasci pra verter
leite dos meus seios e entregá-lo para qualquer um. (Ela está perdida, dá voltas em torno da
geladeira – Espaço da Rua) Que lugarbeco é este? Que rua é essa? Não sabia se ia pra
direita ou para esquerda. Tava perdida. Queria voltar para casa, pedir perdão para os pais.
(O cão sarnento a ataca) Sai vira-lata! Bicho nojento. Sai cão sarnento, sai daqui. Volta pra
sarjeta que é o seu lugar. (Acha a casa de seus pais. Quer voltar para casa. Abre a geladeira.
Noiva Aborto entra dentro da geladeira. Ela se fecha) Ela abre a porta da casa dos pais e
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entra. E pede que a deixem em paz por um momento. (Grita dentro da geladeira) Me deixa
em paz! Me deixa em paz!
Filhocão quer voltar para o útero da mãe. Avança para geladeira. Fúria.
Enquanto isso, a Noiva Aborto de dentro da geladeira descreve uma receita de bolo.
Passagem para outra figura.
Noiva Aborto – Três xícaras de farinha de trigo, quatro ovos, duas xícaras de açúcar, duas de
leite, duas colheres de sopa de manteiga, uma colher de café de fermento e quatro colheres
de sopa de chocolate em pó. Bata bem os ingredientes até formar uma massa lisa e despeje
numa forma untada de margarina e farinha de trigo. Leve ao forno, por aproximadamente
quarenta minutos.
Filhocão – Eu não sou obrigado a ser o que eu sou: um cão. Ele escolho descer desse ônibus
lotado. Pára esse carroputa que me pariu. Esse trânsitofiladebanco congestionado. Não
acreditar em falsos deuses. Porque eu sou frágil e de carne e osso. Sou sua imagem e
semelhança. Eu não sou Filhocão. (Filhocão se lança geladeira-útero. Ela não se abre.
Desiste). É inútil, esta coisa fria, seca, gelada não me aquece mais. (Ator abre a geladeira de
uma vez. Barulho estrondoso). Ela toma meu lugar.
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Hospedeira – Pouca bunda, pouca carne, pouca estria, pouca celulite... perfume barato.
Putinha da Zona – Filho homem é mais difícil de criar. Eu troquei as suas fraldas. Eu curei o
seu umbigo. Acorda homem, seja forte. Vem nascer para a vida.
Hospedeira – E você por que não se levanta? Vem comandar seu exército? Acorda homem!
Vem conquistar seu território. (O corpo não se mexe) Depósito de porra, bagaço de laranja.
Eu já escrevi teus discursos, verborragia de lixo. O Planalto te espera. Se quer ser general,
levanta soldado!
Hospedeira – Seu hálito, um fedor de cama alheia. Dentro da minha própria casa!? Levanta,
filha. O corpo viçoso, sem rugas.
Putinha da Zona – Elas geralmente são tão solidárias.
Hospedeira – Solitárias.
Putinha da Zona – Hilárias.
Hospedeira – Otárias. Filha ?!...
Putinha da Zona – Ela sabe o que deve fazer.
Hospedeira – Todo homem já nasce casado.
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Dentro da geladeira. Ele é frágil. Estado de corpo perdido, saco vazio.
Hospedeira/Ator – A Hospedeira vê a Putinha da Zona levar o General para o tanque. Ela irá
iniciá-lo. Batizá-lo. Dentro da sua própria casa.
Memória da traição. Putinha da Zona leva o General para o tanque. Ele nasce. Passagem.
Hospedeira, ao fundo, próxima às mesas de metal, narra as ações dos dois. Putinha seduz
General.
Putinha da Zona – Vem, filhinho, tá na hora de nascer... Vem, segura a mão da mamãe. Vem
que eu te ensino tudo que você precisa saber. Entra nesse quartinho escuro e você não se
arrependerá. Isso, toma seu lugar no ringue. Olha no olho do adversário. Protege o rosto.
Levanta a guarda. Quero ver seu cruzado de direita. Isso, cruza a direita, cruza a esquerda!
Umdoistrêsquatrocincoseisseteoito... Nocaute!!!
Hospedeira – (Degusta a imagem com sedução) Ela estende a mão para ele. Ela era roliça,
lânguida, cruzava as pernas, gazela, calcinha no rego, sutiã furado, com o bico do seio à
mostra. Um jeitinho de sonsa e dissimulada... propaganda de margarina. Mas sabia como
fazer a manutenção de suas armas. Cuidava bem dele com jeito: perfumava, lavava,
desinfetava, dava apoio e reconhecimento. Vai reprodutor! Vem pra mim de A a Z, de zero a
dez. (Descobre a traição) Mas não era ela. Não era eu. Era outra. Uma Putinha da Zona. Ela,
mais rodada que fechadura. Foi dentro da minha própria casa. Agora vejo o filme na minha
frente: estão ofegantes, entram num banheiro fodidofedido, e torcem para que alguém
vejam e me denunciem esta cena lamentável. (Dimensão Pública. Protesto. Difamação.
Direciona-se para a plateia) Porque toda traição deve ser um ato público. Revelada para todo
mundo. A traição pra ser legitimada, deve deixar o traído humilhado. Exposto. Porque eu sou
a protagonista deste filme. Eu olho a cena, olho muito, até gastar minhas pupilas, minhas
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entranhas de ódio. Eu sinto com todos os meus suoresporos, minhas ancas de mulher
grossa. Mas sem mim, eles não traem ninguém. (Eles chegam num gozo doloroso). É a
mulher que come o homem!
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Hospedeira – Pé direito, pé esquerdo. Homem não chora. Conquista o mundo, soldado.
Quantas medalhas você quer?
Putinha – Vai, potrão! Vai ganhar o mundo!
As mulheres levam o homem até às grades de uma plataforma. Ele sobe com dificuldade.
Ergue-se, ganha território. Passagem para o Espaço-Casa.
General – (Começa a subir) Homem não chora. Lá no alto o topo do mundo, o lugar mais
alto do podium, palanque, púlpito, planalto. (Da parte mais alta da escada). De cima ele
pode ver em quantas cabeças deseja pisar, contemplar o território da sua conquista, traçar
estratégias e planos. O barulho da água. Pranto das mulheres que deixei para trás, fortalezas
que destruí. Na minha testa, pesa o letreiro “Eu sou um covarde”. (Entra na plataforma. Em
voz de comando). Alça o primeiro lugar. O palanque. Lá em cima, ele é forte! Vejo as
cabeças dos fracos daqui de cima. Vejo o inimigo que entra no quartel! Sabe que lá suas
palavras são lei. Tropas, avante.
Tempo da família: hábitos, vícios e obsessões. A falta do pai. A culpa da mãe. A plataforma é
a laje da casa. General faz passagem para Filhopai e Hospedeira para Filhocão. Filhocão e
Filhopai brincam de exército. Dimensão pública. Filhocão sobe na laje.
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Filhopai – Não! Tenho do meu lado a autoridade soberana. O perigo é claro. Chegamos
enfim no tempo das calamidades e contaminações. Soldado! Meia volta volver! Preparado
para carregar as armas?
Filhocão – Sim, capitão.
Filhocão – Vamos brincar de papai e mamãe? (Passagem para um espaço imaginário dos
meninos: bordel, quarto de motel)
Filhopai – Quando ficavam sozinhos em casa, os dois subiam no telhado pra brincar de
trepar que nem papai e mamãe...
Filhocão – O menino trepa na laje.
Filhopai – Ele espera ansioso no quarto.
Filhocão – O menino espera uma prostituta.
Filhopai – Os dois se preparavam minuciosamente para o momento do encontro.
Filhocão – Ele colocava as roupas da mãe, a puta.
Filhopai – Ele calçava, as botas do pai, o cliente.
Filhocão – Ela bate na porta.
Mãe Aborto penetra na cena pela porta do fundo. Esquiva. Esquisita. Perdida. No plano
baixo, Mãe Aborto arruma a casa. Ela instaura a cozinha. Estado de Comissária de Bordo.
Organizar a casa e assar a própria carne para oferecer à família. Esperar o marido, que
nunca chega. Pressente a brincadeira dos meninos, mas finge não saber. Procura em uma
prateleira um tubo de película transparente e começa a se embalar para se assar. Obsessão
de que tudo seja saborosíssimo.
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Filhocão – Ela abre a porta e entra no quarto.
Mãe Aborto – O tempo é o da família: a falta do pai. A culpa da mãe. Os meninos perdidos.
Filhopai – A boca rosada, pele branquinha, meiga e sensual.
Filhocão – Cintura fina, coxa firme, pouca bunda, pouca estria. Ela se faz de inocente.
Mãe Aborto – A casa estava toda desarrumada. Ela acordou de manhã e já tinha convidados
para o almoço. Ela espera o marido que nunca chega.
Filhopai – Safada... Ele se aproxima dela, toca sua mão direita e a conduz pelo corpo dele.
Mãe Aborto – O marido bebeu a noite inteira. Eles dançaram por horas a fio até ela ficar
exausta.
Filhocão – Não faz assim, que eu sinto cócegas.
Mãe Aborto – Quando ele bebia assim, ficava na cama até o meio dia.
Filhopai – Vem, que eu vou te levar pra cama. Pode ficar deitada, que eu faço tudo. Posso
tirar sua camisa?
Mãe Aborto – Ela podia fazer tudo sozinha.
Filhocão – Tira. Apaga a luz... eu tenho vergonha.
Filhopai – Sem vergonha! Os seios, a barriga. Danadinha, ela...
Mãe Aborto – Tudo no lugar. Isso não está no lugar (Coloca a geladeira no centro do salão)
Filhocão – Prepara-se para ser devorada. O meu perfumetempero aguça o faro do macho.
Mãe Aborto – A comida. É preciso preparar a comida. (Desejo por si mesma. Começa a se
preparar como uma comida).
Filhopai – Atiradinha... Apressadinha, ela. A carne tenra, suculenta. Um banquete servido na
cama. Posso tirar sua calça? (Tira a calça). O que é isso? Que pedaço de carne é esse no
meio das suas pernas?
Filhopai percebe que o que ele achava ser uma garota, é um travesti.
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Filhopai – Agora é o garoto, que cobra sua grana. Você vai pagar! Vou cobrar minha dívida é
no dente, veado, filho da puta.
Filhocão – O que isso, o que? Não gostou do recheio, queridinho? Os ovos e a linguiça?
Filhopai – Você me enganou! Eu não gosto de homem!!
Filhocão – É sempre a mesma cena, vocês fingem não saber, mas é isso que procuram! Vem,
pega. Só têm nos dois aqui. Você gosta, eu sei que gosta...
Filhopai – Tira a mão! Eu não tô brincando... Parei de brincar com você.
Filhocão – Pega aqui.
Filhopai – E assim? Tá gostoso? E se eu apertar mais um pouco! Ovos estralados, mexidos?
Você gosta?
Filhocão – Pára. Você está me machucando! Ai!!! Solta! Não estou mais brincando. Parei de
brincar.
Filhopai – Solta, solta o meu cabelo! Não vou mais brincar.
Filhocão – Agora eu quero fazer o homem.
Filhopai – Acabou a brincadeira. Chega. Desce. Sai do meu quarto!
Mãe Aborto – Pele tenra, macia. Carne dourada por hora num molho de ervas finas. Uma
pitada de sal, uma pitada de açúcar para tirar o azedo. Tudo preparado com muito carinho.
Regue a carne com um bom vinho para amaciá-la e leve ao forno. O forno deve ser pré-
aquecido na temperatura de centoevintegraus. Não! Na temperatura de duzentosgraus. Não,
mais quente ainda, trezentosessentagraus! Na minha casa ninguém fica com fome. Coloque
a carne para assar por trinta minutos. Não abra o forno antes disso, se não você estraga
tudo.
Mãe Aborto se fecha na geladeira. Filhocão e Filhopai descem, entram na casa. Passagem da
brincadeira. Os meninos descobrem a caixa de ferramentas. Os meninos vão brincar com os
objetos do pai, abrem os armários e remexem nas ferramentas. Essas se transformam em
armas. Posicionam-se para atacar. Escondem-se atrás das portas dos armários. Expectativa.
Brincam de Casamento.
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Filhopai – Eu te recebo como minha legítima esposa.
Filhocão – Eu te aceito como meu marido.
Filhopai – E prometo te amar e respeitar.
Filhocão – Na alegria e na tristeza.
Filhopai – Na saúde e na doença.
Filhocão – Por todos os dias da minha vida.
Filhopai – Até que a morte nos separe!
Filhocão – Até que a morte nos separe! O menino rasteja pelo chão da cozinha.
Filhopai – Ele sobe na estante.
Os meninos veem a mãe dentro da geladeira e agora brincam de matá-la. Falta do pai. Culpa
da mãe.
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Mãe Aborto – (Abre a geladeira) Pronto! A comida está pronta! Ao ponto!
6. Mesa póstuma
(Filhocão, Filhopai e Mãe Aborto)
Memória da vingança da mãe. Atrai as presas pelo olfato. Manipula os dois como se fossem
cães atraídos pela comida.
Mãe Aborto – A comida está pronta meus garotos, vejam que delícia! Dourada. Cheirosa.
Podem sentir o cheiro? Não mandei descer! É para olhar de longe. Desçam daí, agorinha,
meus meninoscães! No chão! Meus cachorrinhos! Vejam como a mamãe está gostosa. Não
mandei chegar perto! Vem, magrelo! Você fica, grandão! Isso, magrelo, sente o cheiro
gostoso da mamãe, lambe, isso lambe. Agora, você, grandão! Cachorrão bobo da mamãe.
Meus garotosabortos podem se servir, se fartar, venham... O jantar está na mesa! Na minha
casa, ninguém fica com fome!
Ela os obriga a elogiar a comida e pede para eles dizerem o quanto ela é boa para eles.
Passagem para opressão e violência.
Mãe Aborto – Quem cuida vocês? Cozinha para vocês? Limpou a bunda de vocês? E o que
mais que eu faço?
Meninoscães – Você, mãe! Faz frango assado no domingo! Encapa meus cadernos e me
ajuda a fazer o para casa!
7. Naufrágio
(Filhocão, Filhopai e Mãe Aborto)
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Mãe Aborto – Os meninos começam a escorregar do seu colo. O barco da mulher está
afundando. Meus garotos, meus dois abortos, meus esgotos, estão escorrendo das minhas
entranhas. Quem fez o Homem?
Filhopai – Eu te recebo como minha legítima esposa.
Filhocão – Eu te aceito como meu marido.
Filhopai – E prometo te amar e respeitar.
Filhocão – Na alegria e na tristeza.
Filhopai – Na saúde e na doença.
Filhocão – Por todos os dias da minha vida.
Filhopai – Até que a morte nos separe!
Filhocão – Até que a morte nos separe! Pode beijar a noiva.
Filhopai/Ator – O garoto agora assume o ponto de vista do pai, o General que vai botar
ordem na zona desta casa!
Memória da partida do pai. Filhopai assume agora o ponto de vista do General, homem que
deixa a mulher. Filhopai fala do pai e diz que vai embora. O Filhopai se rebela e decide ir
embora. Ele recolhe suas coisas. Ela não aceita. Discussão. Filhocão narra a discussão da
Mãe e do Pai.
Filhocão – (Sentado na porta da geladeira). Os dois gritavam. Todos os dias, meu pai
desafiava que ia embora e nunca ia, mas hoje, ele tomou o seu lugar. Eu me escondia nos
lugares mais improváveis.
MãeAborto – Onde é que você pensa que vai? Você não pode me abandonar!
Filhopai – Eu parto. Eu não sou ignorante. Eu tenho escolha e a decisão é minha. Eu escolho
não acreditar em falsos deuses! Se disser alguma coisa, eu te estouro os miolos, te quebro
os dentes. Mulher seca, imunda, asquerosa. Eu te desprezo, te enjeito, te devolvo ao mundo
do cão. (Filhopai vai embora, levando sua mala).
Filhocão – (Para a mãe) Terra oca de amor, culpamãe. Puta mãe, puta pátria, que me pariu.
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Filhocão se fecha dentro da geladeira, narrando. Ela fica sozinha.
Mãe Aborto – Meu orgulho me sustenta, me salva da queda. Quem fez o homem? Antes
disso, devo falar de mim? (Para o público) Quem eu? Quem agora? Que tempo é este? Minha
memória? Meu presente? Meu esôfagocano alimenta os tubos de energiaraiva. Porque eu
sou a protagonista deste filme. Eu sinto com todos os meus suoresporos, minhas garras,
minhas ancas de mulher abandonada. Eu parto. Eu tomo o seu lugar. (Para o público) Devo
falar de quem? De quem se fala quando se fala de mim? A única saída de uma mulher
abandonada é virar puta. Uma autêntica puta da zona. Eu parto.
Passagem. A Mãe Aborto agora é Putinha da Zona. Memória do resgate da puta. Espaço-
Bordel. Ambiente de boteco copo sujo mal iluminado. Uma música de amor, melhor, de amor
largado, de amor traído. Está em frente a uma porta imaginária.
Putinha da Zona – Ela enxerga a porta da zona: Rua Guaicurus, centoeoitentaesete, fundos.
Uma porta verde, singela. Ela hesita por alguns instantes, tem medo de entrar mais uma vez
naquele lugar. (Ela sobe as escadasgavetas, atravessa a bancada e visualiza um corredor de
um Puteiro). Até que finalmente... Ela bate o ponto às oitoecinquentaecinco (Abre-fecha a
gaveta) e entra. Religiosamente. Na sua frente um corredor interminável, onde ela gosta de
ir num “vai em vem” constante. Entra no corredor, estreito, úmido. No fundo do corredor, o
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seu quarto, o quarto cor de rosa, onde um abajur com uma luz vermelha deixa tudo muito
mais pesado (Mergulha no esgoto). O seu corpo se contorce, ela rasteja por esse esgoto
escuro e pequeno como uma bactéria emocionalmente instável. Penetra no seu quartinho.
(Encontra o boneco, que simula um cliente). Sai daí, tem outro na sua frente, a sua hora já
acabou. (Livra-se do boneco. Deita na cama). Ela deita na cama e espera, uma longa espera
de intermináveis nove meses. E lá, aguarda os clientes. (Putinha realiza movimentos
sensuais). Ensaiando poses, posições, estratégias do seu ofício. Do sexo, da trepa, da “foda”
de todo dia. Sente o cheiro do homem que se aproxima, um cheiro acre e forte.
Enquanto isso, General desce pelas grades do alto, sugerindo entrar em um ônibus.
General – Nesse dia, ele entrou no ônibus lotado e se perdeu, como ninguém. Ele, um
joãoninguém. Ele, um lutador, fim de linha. Parou no centro sujo e penetrou num no boteco
copo sujo. Bebeu todas pra tomar coragem. Prepara-se para o primeiro round.
Putinha da Zona – Ela sentia o cheiro de macho se aproximando perto dela. Detrás da porta.
General – Entrou no puteiro às cinco da madrugada. Bateu na porta. (Som de bater de
porta)
Putinha da Zona – A puta da Zona disse: “Entra, vem, docinho”.
General – Ele entrou, constrangido, como na primeira trepa. “Oi, quanto é o serviço?”.
Do lado oposto, numa cama de metal, o General, deseja levar a moça para uma boa vida.
Ele abre a mala e retira um ramalhete de flores de plástico. Entrega as flores para ela, ela
recusa. Ele pega na mão dela e ela foge, diz que “conversar” é mais caro.
Putinha da Zona – (Para o público) A Putinha da Zona gostava do lugar, não queria ser outra
coisa na vida do que puta. (Para o General) Quinhentos paus, a noite inteira. Cada beijo de
língua custa dez paus.
General – Eu quero conversar.
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Putinha da Zona – (Para o público) Ela era uma puta de qualidade, com várias
especialidades. Mais rodada, que fechadura.
General – Vem deixa eu te levar dessa vida. Vem, me dá sua mão.
Putinha da Zona – (Para o General) Oral e anal, só com adicional e proteção extra! (Para o
General) Vem, vai, me fode, que nem os outros. Fala menos e faz mais, potrão!
General – Eu não quero te fuder, eu quero que você goste de mim.
Putinha da Zona – Vem, perfura minha carne lisa siliconada, essas pernas sedosas, minha
peleplástico perfeita, me reproduz, me introduz um varão de raça pura, de primeira linha.
Fala menos e come mais! Que a janta já tá esfriando, docinho!
General – Eu quero é te fazer feliz, porque você é o grande amor da minha vida. E o
General vai levar essa mulher perdida, abandonada, pra casa dele pra fazer dela sua mulher.
(Dimensão pública) Vejam! O homem vai salvar a mulher da zona, da lama, da difamação.
Você será a mulher mais feliz do mundo. Eu vou chegar com flores, de todas as espécies e
qualidades. Nós sairemos daqui e atravessaremos essa praça, e eu lhe comprarei o museu
dessa praça. De mármore branca, que nem essa bancada. Mandarei esculpir sua imagem na
pedra para toda eternidade. (Abre os armários) Eu te darei os faqueiros importados, de prata
e ouro. (Abre a torneira) Água limpa, potável, leite longa vida, longa vida pros filhos, espuma
jorrando, uma banheira de hidromassagem. Eu te darei também a empregada ideal (A
geladeira se abre, e a Hospedeira inicia seu lamento).
Hospedeira – Ama teus filhos? O teatro da minha morte.
General – Nós teremos filhos perfeitos saudáveis,
Hospedeira – Chama-se: “água o que me queima a pele”.
General – Com dentes fortes e rijos, com mais de trintaetrês dentes.
Hospedeira – É preciso expelir o tumor, fazer a assepsia e desinfetar...
General – Lindos, belos e arianos.
Hospedeira – Vomitar a comida estragada, que um dia foi seu banquete.
General – Sem problemas de colesterol e depressão.
Hospedeira – Ela chora a lembrança do pai, o irmão esquartejado.
General – Terão livros didáticos, com bons textos e, sobretudo, com figuras coloridas.
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Hospedeira – Sua terra, a pátria que traiu por amor a esse homem.
General – E a nossa empregada terá também filhos, não tão felizes quanto os nossos, mas
decentes e limpos. Utilitários.
Pega o megafone. Vai saindo pela porta do fundo. Voz longínqua. Vai sumindo.
Entra trilha sonora do filme Titanic. Polifonia das vozes da Putinha da Zona e Hospedeira.
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forma geométrica. Noiva Margarina coloca em cada frasco flores coloridas: roxas, brancas e
rosas. Polifonia.
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Noiva Margarina – Senhores e senhoras, obrigada por vir, obrigada pela presença. Ela entra
na limusine branca (Entra na geladeira). Daqui quinze minutos, ela estará na Igreja e
receberá os cumprimentos (Ela se fecha na geladeira).
Hospedeira – (Fecha os armários da bancada branca, com fúria) Planta na carne uma selva
de facas. Hoje é dia de pagamento. Quem fez o homem?
General – (Descendo a escada de ferro. Feliz. Traz flores nas mãos.) O homem penetra no
esgotocorpo da mulher hospedeira. Veio fincar o mastro da sua bandeira no último território
a ser conquistado. Nessa terra, não há exílio para mulher que não respeita a autoridade do
chefe da família. Elas são assim: nada lhes falta, se o leito conjugal é respeitado, mas se eles
recebem, algum dia, o menor golpe e vão à nocaute, elas desprezam os votos de amor.
Hospedeira – Você conseguiu, chegou até o topo, meu generalsenadorpresidentetirano. Veio
buscar os mortos ou os vivos?
General – Se eu pudesse ter de outra maneira os filhos, não precisaria das mulheres, e nós,
homens, estaríamos livres dessa praga!
Hospedeira – Nas ruínasescombros de uma tragédia, difícil é definir quem são os mortos,
quem são os vivos.
General – (Subindo a escada da plataforma). É a vida dos meus filhos que vim salvar!
Pedaço da minha carne, semente que fiz germinar e reguei com meus fluidos. Deixei-os sob
os seus cuidados, em conserva, para que um dia pudesse levá-los até a glória das minhas
novas conquistas, quero tê-los ao meu lado, em meu palanque. Dividir com eles a vitória, o
primeiro lugar do podium.
Hospedeira – Foi maior o amor que a lucidez. Minha propriedade é a imagem dos mortos.
Chegou tarde, homem da guerra. Os filhos dessa pátria, já estão mortos. Sempre estiveram.
General – Mortos? Sempre estiveram. Sim, agora, finalmente recupero minha razão, perdida
no dia que te trouxe de sua terra e te instalei nessa casa limpa, solo fértil, em que se
plantando tudo dá, hoje, transformado num enorme reservatório de excrementos, terra
cagada. Você sempre a traidora da própria pátria.
Hospedeira – (Para público) Ouviram? Ouviram o grito do Ipiranga?
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General – Foi este o seu começo.
Hospedeira – Puta pátria que nos pariu. “Que símbolo ostentas estrelado”. Covarde. Ela
deseja partir a humanidade em duas agora, e se lançar em queda livre.
General – (Desce a escada de ferro.) Ele se lança no mais fundo poço para resgatar a parte
que lhe falta. Os filhos sempre estiveram mortos.
Hospedeira – Mas não posso. Minha morte não tem outro corpo que o teu. É meu homem,
ainda sou tua mulher.
General – (Em cima da geladeira). Numa tragédia difícil é saber quem são os mortos e quem
são os vivos. (Abraçando a geladeira. Ele entrega os pontos, renovam os votos. Começa
juramento em polifonia com Hospedeira). Eu, generalanimalmasculino
presidentecoronelcomandantechefedonopatrãoferropedragáspetróleodinheirobomba prometo
te trair na primeira oportunidade que eu tiver, prometo de chutar o ventre só porque você
não me olhou no olho, prometo de amarrarapertarmorderchutarcuspircurrar... (Começa uma
curra com a geladeira). Te prometo a minha velhice, meus cabelos brancos, minha barriga
flácida, minha impotênciaprepotênciaarrogânciaignorância... (Chega ao gozo). Ah... ah...
Sim, eu aceito.
Hospedeira – Eu,
mãetiaavónetasobrinhalençoldocefátimanossasenhoradaconceiçãomariadasgraçasluzluziatrez
edemaiodemilnovecentosestentaeseisprivadaalmoçocaféjantafósforoestrumeperfumepropried
adeidolatriadinastiamulher, eu prometo te amar, mesmo quando você deixar de te amar. Te
ser fiel, mesmo quando você me trair. Prometo te perdoar todos os dias, quando você
atrasar pro jantar, vou requentar tua comida e tua cama. Abrir minhas pernas e enfiar
minhas unhas na tua pele. Prometo te passar as roupas que você despirá para qualquer
vagabunda. E costurá-la quando a sirigaita rasgar. Prometo também cuidar do teu cheiro de
fumo e perfume barato de mulher. Sim, eu aceito.
General –(Abre a porta da geladeira, lá dentro a noiva morta) Cinzas das minhas núpcias
(Coloca-a nos ombros). Ruínas do incêndio final, água que queima a pele (Vagando pelo
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espaço, sem rumo, indo em direção à saída). Ele comandante sem armas, coronel sem
soldados, lutador sem ringue, perdido. Batalha sem tanques.
Hospedeira – (No alto da plataforma) Eu te espero. Pacientemente. Sentada na cadeira em
frente à porta. A porta estará sempre aberta. E você terá a chave. O meu olhar vai dar uma
festa. Eu vou te amar por toda minha vida. Na hora que você chegar.
General – Eu, subúrbios, favelas, periferias. Entre escombros e entulhos, eu.
Hospedeira – Nosso amor, um nó molhado. Minhas lágrimas desaguando. Eu esperando
noites a fio. Doce, cativa. Sim, eu espero. Por toda vida. Com a porta aberta (Grita no tubo
de ventilação do teto e sai). Eu vou te amar...
General – Devo falar de mim? Eu, quem? De quem se fala, quando se fala de mim? Eu.
Quem agora? (Sai) Eu. Eu. Eu, quem?
Hospedeira – (Volta para cena e declara para o público) Estão esperando o quê? Podem ir...
A porta da rua é serventia da casa.
FIM.
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Letícia Andrade é atriz, dramaturga, professora e integrante da Maldita Cia de Investigação Teatral. Mestre em
Teoria Literária, leciona no Centro de Formação Artística do Palácio das Artes e no Departamento de Artes da
UFOP. Atua no espetáculo Suba na vida, e já escreveu mais de dez dramaturgias, dentre elas: Estamos
trabalhando para você, Arriscamundo, Prato do dia e Cara Preta.