Você está na página 1de 90

Proposta de aprimoramentos na regulação do

setor elétrico para permitir integração eficiente de


recursos de armazenamento no sistema elétrico
brasileiro
Detalhamento das tecnologias de armazenamento

Produto 1
Relatório Final

Elaborado para

Setembro de 2020

Nº do Contrato: 83353537
SUMÁRIO
1 Resumo executivo ........................................................................................................................ 7

2 Introdução.................................................................................................................................. 10

2.1 Visão geral do projeto ......................................................................................................... 10

2.2 Objetivo deste relatório ...................................................................................................... 11

2.3 Organização do relatório .................................................................................................... 11

3 Sistemas de armazenamento – Aspectos técnicos e econômicos ............................................ 12

3.1 Tecnologias de armazenamento......................................................................................... 14

3.1.1 Processos de armazenamento mecânicos................................................................. 15

3.1.2 Sistema de armazenamento químico ....................................................................... 17

3.1.3 Sistemas Eletroquímicos ........................................................................................... 18

3.1.4 Sistemas Elétricos e magnéticos ................................................................................ 22

3.1.5 Sistemas Térmicos de Armazenamento (Thermal Energy Storage – TES) ............ 23

3.2 Evolução da capacidade instalada ...................................................................................... 24

3.3 Cenários futuros.................................................................................................................. 25

3.4 Parâmetros técnicos ............................................................................................................ 26

3.4.1 Capacidade e duração de descarga ........................................................................... 26

3.4.2 Tempo de resposta .................................................................................................... 27

3.4.3 Eficiência de conversão ............................................................................................. 28

3.4.4 Nível de maturidade .................................................................................................. 29

3.5 Parâmetros econômicos ..................................................................................................... 29

3.5.1 Custos atuais .............................................................................................................. 29

3.5.2 Projeções para o futuro ............................................................................................. 31

3.5.3 Possíveis fatores de risco ........................................................................................... 32

4 Seviços prestados para o sistema............................................................................................... 34

4.1 Balanço geração – demanda ............................................................................................... 37

4.1.1 Curto prazo: serviços ancilares (complementares) ................................................. 37

4.1.2 Longo prazo: mecanismos de confiabilidade ........................................................... 38

4.1.3 Horizonte diário: mercado e despacho .................................................................... 38

PSR 1
4.2 Serviços de rede ................................................................................................................... 39

4.2.1 Serviços para a rede de transporte ............................................................................ 39

4.2.2 Serviços para a rede de distribuição ......................................................................... 40

4.3 Difusão dos serviços prestados ........................................................................................... 41

5 Adoção das tecnologias – Experiência internacional ............................................................... 44

5.1 Balanço geração – demanda ............................................................................................... 50

5.1.1 Curto prazo: serviços ancilares (complementares) ................................................. 50

5.1.2 Longo prazo: mecanismos de confiabilidade ........................................................... 52

5.1.3 Horizonte diário: mercado e despacho .................................................................... 52

5.2 Serviços para rede ............................................................................................................... 53

5.2.1 Serviços para a rede de transporte ............................................................................ 53

5.2.2 Serviços para a rede de distribuição ......................................................................... 54

6 Modelos de negócios – experiência internacional ................................................................... 55

6.1 Mecanismos de mercado ligados aos serviços dos SA....................................................... 55

6.1.1 Serviços ancilares ....................................................................................................... 55

6.1.2 Mercados de capacidade – Mecanismos de confiabilidade ..................................... 64

6.1.3 Balanço de geração e demanda ................................................................................. 68

6.2 Serviços para a rede............................................................................................................. 70

6.2.1 Serviços para a rede de transmissão ......................................................................... 70

6.2.2 Serviços para a rede de distribuição ......................................................................... 72

6.3 Estudos de casos de mercados para baterias...................................................................... 74

6.3.1 Fundamentos ............................................................................................................. 74

7 Conclusões ................................................................................................................................. 79

8 Referências ................................................................................................................................. 80

Anexo A .......................................................................................................................................... 86

Acoplamento setorial – Sector coupling.............................................................................. 86

Anexo B .......................................................................................................................................... 89

PSR 2
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Macro temas abordados no projeto. Fonte: PSR ......................................................... 11
Figura 2- Classificação de sistemas de armazenamento de acordo com a natureza. Fonte: [2] 12
Figura 3 - Classificação dos SA por tipo de processo. Fonte: [4] ................................................ 13
Figura 4 Classificação quanto ao tempo de armazenamento. Fonte: [2] .................................. 13
Figura 5 Capacidade de armazenamento em operação global por tecnologia. Fonte [9].......... 14
Figura 6 Comparação entre sistemas de armazenamento – Capacidade de armazenamento x
duração da descarga. Fonte [2] ..................................................................................................... 15
Figura 7 Comparação de energia e potência específica entre baterias e super capacitores. Fonte:
[26] ................................................................................................................................................. 18
Figura 8 - Representação técnica da bateria de fluxo redox. Fonte: [4] ..................................... 21
Figura 9 - Densidade de potência e de energia de super capacitores. Fonte: [2]........................ 23
Figura 10. Mix tecnológico dos sistemas de armazenamento. Fonte [11] ................................... 24
Figura 11. Evolução de nova capacidade instalada de sistemas de armazenamento
eletroquímicos por ano . Fonte [12] ............................................................................................. 25
Figura 12. Projeções sobre a capacidade de armazenamento global ; dois cenários de transição
de energia (referência e duplicação) e duas penetrações de armazenamento (baixa e alta). Fonte
[9] ................................................................................................................................................... 26
Figura 13. Projeção sobre a capacidade instalada de baterias a nível global [12] ........................ 26
Figura 14. Relação entre capacidade instalada e duração de descarga de diferentes tecnologias de
armazenamento. Fonte [13]........................................................................................................... 27
Figura 15. Eficiência de reconversão das principais tecnologias de armazenamento. Fonte [14]
........................................................................................................................................................ 28
Figura 16. CAPEX por unidade de potência das principais tecnologias de armazenamento. Fonte
[14] ................................................................................................................................................. 30
Figura 17. CAPEX por unidade de energia de algumas tecnologias de armazenamento Fonte [14]
........................................................................................................................................................ 30
Figura 18. CAPEX por potência e energia de armazenamento com baterias entre 2013 e 2018.
Fonte [16] ....................................................................................................................................... 31
Figura 19. Economias de escala em armazenamentos com baterias. Fonte [17] ....................... 31
Figura 20. Projeções atuais do custo unitário e 2030 para as principais tecnologias de baterias.
Fonte: [9] ........................................................................................................................................ 32
Figura 21. Projeção do custo unitário por energia de armazenamento por bateria. Fonte: [12]... 32

PSR 3
Figura 22 – Drivers de demanda de armazenamento. Fonte: [2] ................................................ 34
Figura 23 - Serviços prestados pelos sistemas de armazenamento de energia. Fonte: [9] ......... 35
Figura 24 - Aplicações de sistemas de armazenamentos e respectivos tempos de descarga e
potencial valor. Fonte: [4] ............................................................................................................. 36
Figura 25 – Sinergia entre serviços prestados pelos Sistemas de Armazenamento. Fonte: [4].. 37
Figura 26 - Serviços prestados por SA divididos por tecnologia. Fonte: [9] ............................... 42
Figura 27 - Serviços prestados por SA instalados no mundo – Data referência Agosto 2020.
Fonte: [37] ...................................................................................................................................... 42
Figura 28 - Crescimento da capacidade instalada de usinas reversíveis na China. Elaborado por
PSR. Fonte: [37] ............................................................................................................................. 45
Figura 29 - Crescimento da capacidade instalada de baterias na China. Fonte [36] ................. 45
Figura 30 –Evolução histórica de usinas reversíveis instaladas nos EUA. Fonte: [31], elaborado
por PSR ........................................................................................................................................... 46
Figura 31 –Evolução histórica da capacidade instalada por tecnologia nos EUA. Fonte: [31],
elaborado por PSR ......................................................................................................................... 46
Figura 32 – Capacidade instalada de bateria de grande escala por química. Fonte: [34] .......... 47
Figura 33 - Aplicações de baterias, Fonte: [34] ............................................................................ 47
Figura 34 - Capacidade de potência instalada dos sistemas de armazenamento por país no
mercado europeu Fonte [39] ........................................................................................................ 48
Figura 35 - Projetos atualmente em operação – União Européia. Fonte: [39], elaborado por PSR
........................................................................................................................................................ 49
Figura 36 - Evolução da capacidade instalada de baterias na UE e EUA. Fonte: [37][39] ........ 49
Figura 37 - Evolução das tecnologias de SA na EU. Fonte [39] .................................................. 50
Figura 38 - Capacidade de potência instalada de baterias por país no mercado europeu,
considerando baterias em operação e projetos. Fonte [39] ......................................................... 50
Figura 39 - Tecnologias de armazenamentos que prestam serviços complementares de regulação
de frequência. Elaborado por PSR. Fonte: [37]............................................................................ 51
Figura 40 - Tecnologias utilizadas para aumentar confiabilidade do sistema. Elaborado por PSR.
Fonte: [37] ...................................................................................................................................... 52
Figura 41 - Tecnologias voltadas para atender o mercado dando suporte com despacho.
Elaborado por PSR. Fonte: [37] .................................................................................................... 53
Figura 42 - Tecnologias SA que prestam serviços na rede de transmissão. Elaborado por PSR.
Fonte: [37] ...................................................................................................................................... 54

PSR 4
Figura 43 - Tecnologias SA que prestam serviços na rede de distribuição. Elaborado por PSR.
Fonte: [37] ...................................................................................................................................... 54
Figura 44 – Tipos de Reserva no mercado do PJM. [73] ............................................................. 56
Figura 45 – Mercado de Reservas - PJM. Fonte: [73] .................................................................. 56
Figura 46 – Linha do tempo do mercado de reserva sincronizada. Fonte: [73] ......................... 57
Figura 47 -Curva de equivalência entre Reg A e Reg D utilizada no PJM. [53] ......................... 59
Figura 48 – Linha do tempo do Market Clearing PJM Fonte: [75] ............................................. 59
Figura 49 – Processo do Market Clearing PJM Fonte: [75] ......................................................... 60
Figura 50 Processo de oferta no DAM. Fonte:[77] ...................................................................... 61
Figura 51 - Distribuição monetária por serviços de cada projeto de Baterias. Fonte: [56] ....... 64
Figura 52 - Algorítmo para determinação de EFC. Fonte: [47] .................................................. 65
Figura 53 -Modelo de operação contínua para armazenamento no PJM [58] .......................... 68
Figura 54 - Funcionamento das ofertas bloqueadas com ligação no algoritmo europeu de
correspondência. Fonte [49] ......................................................................................................... 69
Figura 55 - Perfil de demanda anual simulados em [62]............................................................ 73
Figura 56 - Exemplo de preço spot no Reino Unido para compra e venda de energia ............. 74
Figura 57 - Evolução da demanda e maturação da bateria de lítio. Fonte: [64] ........................ 75
Figura 58 - Modelo financeiro de projeto no leilão de ERF no RU ............................................ 76
Figura 59 – Preços históricos do leilão semanal PCR .................................................................. 77
Figura 60 – Modelo financeiro do leilão PCR na Alemanha ....................................................... 77
Figura 61 - Modelo financeiro para o projeto da Tesla ............................................................... 78
Figura 62 Representação gráfica do acoplamento setorial [80] .................................................. 86

PSR 5
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Tempos de resposta das principais tecnologias de armazenamento. Fonte [14] ...... 28
Tabela 2 - Nível de maturidade das principais tecnologias de armazenamento, sendo 1 para sem
maturidade e 3 para muito madura. Fonte: [14] ......................................................................... 29
Tabela 3 - Tecnologias de armazenamento utilizados nos principais mercados elétricos do
mundo. Elaborado por PSR. Fonte: [30][31][36][37][38][39] .................................................. 44
Tabela 4 - Equipamento de armazenamento conjugado em leilões de capacidade no Reino
Unido. Fonte [45] .......................................................................................................................... 66
Tabela 5 - Premissas do caso base para cálculo de EFC para os leilões T-4 de 2019 e 2020 ...... 66
Tabela 6 - Capacidade firme adotada nos leilões T4 de 2019 e 2020 .......................................... 67

PSR 6
1 RESUMO EXECUTIVO
Os sistemas elétricos em todo o mundo vêm sendo transformados em função do avanço
tecnológico, que vem permitindo a entrada de novas fontes de produção, mais notadamente as
fontes renováveis não convencionais como eólicas e solares, seja como geração centralizada ou
distribuída. A variabilidade e intermitência da produção das renováveis não convencionais,
associada com a alteração no perfil de consumo – acelerada pela atual pandemia - alteram os
fluxos de potência desde o sistema de transmissão até o ponto de consumo e demandam cada
vez mais flexibilidade operativa do sistema para gerenciamento da confiabilidade sistêmica.

No contexto das mudanças tecnológicas destaca-se a introdução dos equipamentos de


armazenamento físico de energia. O armazenamento é um recurso versátil, transversal, que
possui controle em seu acionamento e que presta diversos serviços para os sistemas elétricos:
pode atuar como gerador, como um equipamento de um sistema de transmissão e podem ainda
ter conexão ao sistema de distribuição, sendo então classificados como recursos energéticos
distribuídos. Esta pluralidade de atuação já vem sendo materializada na participação dos
sistemas de armazenamento físico em vários mercados de energia, de capacidade, de serviços
ancilares e até mesmo de flexibilidade em muitos países.

No Brasil, historicamente, o armazenamento sempre esteve muito presente na matriz elétrica


através do seu significativo parque gerador hidrelétrico com reservatórios de acumulação, que
vem atuando como a principal fonte de flexibilidade ao sistema. Com a penetração das
renováveis não convencionais no país, o papel do armazenamento vem ganhando mais
importância, seja ele o armazenamento hidroelétrico ou os físicos por baterias, e potencializado
por diversos benefícios ao sistema de potência:

• Facilitar a integração com o uso final de energia elétrica,

• No caso do armazenamento distribuído, permitir a produção próximo ao consumidor, o


acesso à energia elétrica em regiões não conectadas à rede, a partir de fontes intermitentes,

• Aumentar a estabilidade, flexibilidade, confiabilidade e resiliência da rede de energia elétrica,


permitindo assim uma melhor inserção e incremento do uso de fontes renováveis.

Nesse contexto, esse relatório é o primeiro de um trabalho dividido em três relatórios e tem
como objetivo apresentar uma visão geral técnica e econômica sobre as tecnologias de
armazenamento incluindo a sua adoção internacional. Para isso, aborda as definições
tecnológicas, descreve os tipos de serviços prestados, discute a utilização das tecnologias de
armazenamento internacionalmente e os modelos de negócio existentes.

No geral, observou-se que existem diversas tecnologias que podem ser utilizadas como sistemas
de armazenamento (SA) e o nível de maturidade de cada tecnologia se encontra em momento
diferente, além de características, capacidade de armazenamento e tempo de acionamento
distintos. Sem dúvidas, as tecnologias com maior nível de maturidade são os sistemas de
armazenamento mais encontrados atualmente no mundo: o armazenamento hidroelétrico –
convencional ou usinas reversíveis - e baterias de íon-lítio. As usinas hidráulicas reversíveis
(UHR) representam atualmente 95% de toda capacidade instalada de SA no mundo, mas as

PSR 7
baterias apresentam o maior crescimento na última década, principalmente as de tecnologia de
Íon de Lítio, cujo crescimento na China foi de cerca de 1650 MW. Os EUA apresentaram um
crescimento das baterias mais acentuado a partir de 2014, indo de uma capacidade instalada de
200 MW a 1000MW em 2019. Na Europa, esse crescimento seguiu essa mesma tendência, com
um crescimento acentuado a partir de 2016, tendo seus principais representantes a Alemanha
com cerca de 400 MW de capacidade instalada de baterias e Reino Unido, que possui cerca de
5.5 GW entre projetos em operação, anunciados, autorizados e com pedidos de autorização.

Os serviços prestados pelos sistemas de armazenamento englobam serviços ancilares,


principalmente de regulação de frequência, controle de tensão e partida independente (Black
Start), cuja resposta rápida dos sistemas é fator importante para esse serviço. Destaca-se que a
regulação de frequência, serviços de capacidade e de arbitragem – capacidade de “modular” a
produção de energia ao longo do dia - são os serviços mais acionados para os SA. Estes serviços
são majoritariamente fornecidos por grande parte das UHRs, pelas usinas de ar comprimido e
pelas térmicas, principalmente as térmicas solares, que armazenam a energia em sal fundido
para utilização em períodos noturnos e com pouca incidência solar.

Serviços para a rede especificamente ainda são poucos explorados, mas eles englobam
principalmente alívio de congestionamentos e retardamento de novos investimentos e aqui vale
ressaltar os agregadores, que vêm evoluindo e ganhando destaque, principalmente nos EUA, e
na Alemanha. Estes consistem em agentes que agregam pequenos Recursos Energéticos
Distribuídos (REDs) em usinas virtuais para que esses recursos atuem no mercado com os
geradores tradicionais.

Para a remuneração desses serviços, observam-se vários arranjos, sendo os mais comuns a
utilização de mecanismos de pagamento por preços em um mercado de curto prazo e a
utilização de contratos de curto prazo para a prestação do serviço. Como exemplo, tem-se o
mercado de serviços ancilares de regulação de frequência dos EUA (PJM e CAISO) que
remuneram os sistemas de armazenamento no day ahead market considerando o desempenho
operativo do sistema de armazenamento. Na Alemanha, os serviços ancilares de regulação de
frequência utilizam leilões de curto prazo para a prestação de serviço. Os leilões são feitos
semanalmente, já no Reino Unido, a contratação desse serviço é realizada através de leilões que
possuem contratação por um período de 4 anos. Como um todo, a utilização dos preços
horários nos mercados atacadistas para identificar o valor e remunerar os serviços de arbitragem
de energia é fundamental para o modelo de negócio dos sistemas de armazenamento.

Por fim, cabe mencionar que muitos países – como EUA, Alemanha, Reino Unido, China e
Austrália - vêm também atuando para remover barreiras para a participação do armazenamento
nos mercados atacadistas de energia, visando criar ajustes nas suas regras de mercado para que
todas as tecnologias possam competir em uma mesma base. A Federal Energy Regulatory
Comission (FERC) dos EUA lançou no final de 2018 a Order 841, que instrui diretrizes para
remover barreiras à participação do armazenamento físico – sobretudo o distribuído de
pequena escala – nos mercados de energia. Mais recentemente, em setembro de 2020, a mesma
FERC estendeu este conceito aos demais recursos energéticos distribuídos em sua abrangente
Order 2222. A Colômbia, seguindo o mesmo caminho, apresentou também uma regulação

PSR 8
recente para incentivar a entrada de SA em instalações do sistema de transmissão. A Austrália,
possui majoritariamente baterias, com investimento recente em sistemas de armazenamento,
mas já possui um mercado de regulação de frequência voltado especificamente para as baterias
e visa a redução do mercado spot de 30 minutos para 5 minutos para facilitar a previsão de
preços e reduzir os riscos delas.

De uma forma geral, a redução dos custos das baterias vem dando protagonismo aos SA físicos
centralizados e distribuídos que, em conjunto com os SA “clássicos” – como o das hidroelétricas
– vem despertando um interesse global pela sua integração nos mercados elétricos para o
fornecimento de alguns serviços. A experiencia internacional mostra que a “receita de bolo”
tem sido buscar a remoção de barreiras para a participação dos SA nos mercados de eletricidade,
o aperfeiçoamento (como a maior granularidade) dos preços dos mercados atacadista e a
definição de produtos e serviços que alinhem os interesses sistêmicos com a capacidade dos SA
de fornecê-los.

PSR 9
2 INTRODUÇÃO

2.1 Visão geral do projeto


Os sistemas elétricos mundiais vêm sendo transformados em função do avanço tecnológico que
vem permitindo a entrada de novas tecnologias, mais notadamente as fontes renováveis, seja
como geração centralizada ou distribuída. A variabilidade e intermitência da produção das
renováveis, associada com a alteração no perfil de consumo – acelerada pela atual pandemia -
alteram os fluxos de potência desde o sistema de transmissão até o ponto de consumo e
demandam cada vez mais flexibilidade operativa do sistema para gerenciar a confiabilidade
sistêmica.
A prestação de serviços de flexibilidade pode ser fornecida por geradores, sistemas de
transmissão e recursos energéticos distribuídos, que forneçam a resposta rápida para alteração
das curvas de carga, controle dos parâmetros de estabilidade, controlabilidade e qualidade das
redes elétricas, e variabilidade da geração. Os equipamentos de armazenamento físico de energia
podem também prestar esses serviços e nos mercados internacionais já vêm participando em
mercados de energia, capacidade, serviços ancilares e oferta de flexibilidade.
No Brasil, o sistema hidroelétrico existente oferece uma significativa capacidade de
armazenamento, com o fornecimento de flexibilidade. No entanto, restrições de transmissão
difíceis de serem aliviadas, a diminuição da expansão do sistema com recursos hidrelétrico com
reservatório juntamente com o aumento da demanda, e por consequência a diminuição da
regulação do sistema e o avanço tecnológico do armazenamento físico de energia criam nichos
para a implementação de novos equipamentos para o fornecimento de flexibilidade no atacado.
Há várias possibilidades de utilização dos sistemas de armazenamento no Brasil, como por
exemplo:
• Integração de diferentes fontes de geração de energia com o uso final de energia elétrica,
• Geração de energia elétrica próximo ao consumidor, o acesso à energia elétrica em regiões
não conectadas à rede, a partir de fontes intermitentes,
• Aumento da estabilidade, flexibilidade, confiabilidade e resiliência da rede de energia
elétrica, a inserção e incremento do uso de fontes renováveis.

Todos esses serviços são historicamente demandados em muitos países e mais recentemente
vêm sendo comercializados através de mercados. Para a atuação plena desses equipamentos nos
mercados é necessário que os modelos regulatórios evoluam, com a retirada das barreiras para
a sua participação nestes ambientes negociais. Por exemplo, o enquadramento regulatório do
armazenamento como gerador, consumidor, comercializador ou mesmo ativo de transmissão
tem sido um debate ativo em muitos países, cuja definição é fundamental para a criação de
modelos de negócios sustentáveis e definir o ambiente onde o recurso competirá para o
fornecimento de um serviço definido.

Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo propor as alterações regulatórias necessárias
para a incorporação desses serviços no sistema elétrico brasileiro considerando as diversas
tecnologias de armazenamento disponíveis. Para isso, serão abordados os temas relevantes

PSR 10
relacionados a inserção de novas tecnologias no sistema, tais como os macro temas e suas
abordagens mostrada na Figura 1

.
Figura 1- Macro temas abordados no projeto. Fonte: PSR

Os macro-temas mostrados na Figura 1serão desenvolvidos em 3 (três) relatórios, da seguinte


forma:
1. Relatório 1 – Visão geral técnica e econômica sobre as tecnologias de armazenamento
incluindo a sua adoção internacional;
2. Relatório 2 – Visão geral sobre inserção das novas tecnologias no sistema;
3. Relatório 3 – Proposta de aprimoramentos da regulação aplicável sobre o setor
elétrico.

2.2 Objetivo deste relatório


Este primeiro relatório tem como objetivo apresentar uma visão geral técnica e econômica sobre
as tecnologias de armazenamento incluindo a sua adoção internacional. Para isso, aborda as
definições tecnológicas, descreve os tipos de serviços prestados, discute a utilização das
tecnologias de armazenamento internacionalmente e os modelos de negócio existentes.

2.3 Organização do relatório


Este relatório é composto de 8 capítulos em que o Capítulo 1 é o resumo executivo deste
Relatório 1, o Capítulo 2 mostra a visão geral do projeto e o objetivo do produto/ subproduto
desenvolvido no capítulo de Introdução. O Capítulo 3 aborda uma visão geral dos aspectos
técnicos dos sistemas de armazenamento, o Capítulo 4 mostra um panorama dos principais
serviços prestados pelos sistemas de armazenamento no setor elétrico. No Capítulo 5 são
ilustrados experiências internacionais relacionadas a adoção das tecnologias, enquanto que no
Capítulo 6 são mostrados os principais modelos de negócios empregados nesses países. Por fim,
o Capítulo 7 mostra a conclusão do subproduto abordando os principais pontos e o Capítulo
8 contém a lista da referência bibliografia consultada para esse relatório. Adicionalmente,
inseriu-se o Anexo A que discorre um brevemente sobre o acoplamento setorial, um tema que
conecta o armazenamento com outros setores.

PSR 11
3 SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO – ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS
Devido à inserção massiva das fontes renováveis não convencionais os sistemas elétricos
vivenciam maior intermitência na geração das usinas. A característica intermitente dessas fontes
pode causar grandes desbalanços de geração e demanda em determinados horários. Como
consequência dessa inserção, o controle de acionamento de usinas que provêm energia em um
determinado momento do tempo é um serviço que os sistemas elétricos demandam cada vez
mais. Sendo assim, se torna cada vez mais urgente a necessidade de inserção de equipamentos
que tragam flexibilidade operativa para o sistema elétrico.
Os sistemas de armazenamento (SA) podem ser definidos como equipamentos que
transformam a energia de um estado para outro - Lei da Conservação da Energia [1] e possuem
três processos: Carregando, armazenando e descarregando [2]. Os SA também podem ser
definidos como equipamentos que armazenam energia em um determinado instante de tempo
para que esta seja usada posteriormente quando necessária [4]. Essa classificação é ampla e
consegue abordar diversos tipos de tecnologia.
A literatura internacional utiliza diversas taxonomias para os SA. A classificação das tecnologias
a partir da natureza do processo é a mais comum, em que os processos podem ser químicos,
eletroquímicos, mecânicos, elétricos (e magnéticos) e térmicos. Porém, há ainda a classificação
de acordo com o serviço prestado (suprimento energético ou de potência, serviços ancilares,
serviços para redes de transporte), utilização da tecnologia para serviços com diferentes
durações (longo prazo e curto prazo), de acordo com a localização do recurso de
armazenamento (centralizado, descentralizado, fixo ou móvel) e de acordo com a remuneração
(por mercado, por custo de investimento ou por custo de operação). As classificações são
resumidas na Figura 2.

Figura 2- Classificação de sistemas de armazenamento de acordo com a natureza. Fonte: [2]

A exemplificação das tecnologias utilizadas nos processos de transformação listados é mostrada


na Figura 3. Estas ainda podem ser classificadas nos macro processos de transformação: Energia
cinética e energia potencial. É importante destacar que a classificação mostrada inclui processos
de transformação que não possuem o estado inicial como energia elétrica. No contexto do setor
elétrico, há uma definição mais restrita de que o armazenamento é definido como um processo
que permite que a energia elétrica seja retirada da rede para ser reinjetada em outro momento.
O vetor usado neste processo de ida e volta pode variar, mas o estado inicial e final da energia é
a eletricidade [3]. Porém essa definição traz limitações para os sistemas de armazenamento,

PSR 12
considerando que existem processos que o estado inicial não é a eletricidade. Ou seja, a
utilização da definição de [4] permite que seja considerado tipos de armazenamento de energia
associado ao setor elétrico, independentemente de o estado inicial ou final ser elétrico ou não.
Dessa forma, o leque de tecnologias se amplia, incluindo, por exemplo, usinas hidrelétricas
convencionais com reservatórios, que, embora não possam ser “carregados” por meio da
eletricidade, eles representam a energia que é armazenada e convertida em eletricidade. Outras
tecnologias que se enquadrariam nesta definição seriam usinas termossolares com
armazenamento de energia térmica (geralmente através de sais fundidos) e todo o uso de
hidrogênio produzido por eletrólise diretamente em usos finais de energia

Figura 3 - Classificação dos SA por tipo de processo. Fonte: [4]

A classificação relacionada à temporalidade é estabelecida de acordo com o tempo de carga e


descarga da tecnologia e, consequentemente, o uso a que se está destina do SA. Dessa forma, a
classificação é dividida em curto prazo e longo prazo, em que o tempo relacionado ao curto
prazo pode variar de segundos a dias e o tempo relacionado ao longo prazo está relacionado a
semanas, meses e transferência de energia entre períodos sazonais.

Figura 4 Classificação quanto ao tempo de armazenamento. Fonte: [2]

PSR 13
Os SA podem ainda ser classificados de acordo com sua localização de conexão nos sistemas,
resultando na classificação centralizado (conexão no sistema de alta tensão) e descentralizado
(conexão no sistema de baixa tensão), equipamentos móveis ou estáticos e por fim, a
classificação econômica é dada pelo custo de investimento, operação ou custo anual de serviços.
Como exposto no objetivo deste trabalho, tem-se o foco nos SA centralizados.

No restante desta subseção, é feita uma tentativa de fornecer uma descrição resumida de cada
uma dessas tecnologias. Definições mais exaustivas e detalhes técnicos não são fornecidos neste
documento para não interferir na leitura do material já amplamente disponível na literatura
especializada, como as referências [9] [14][15].

3.1 Tecnologias de armazenamento


Como pode-se observar na Figura 3, a grande variedade de tecnologias se deve à complexidade
e versatilidade do processo de armazenamento de energia. As diferenças entre estas tecnologias
ao nível dos parâmetros técnicos (dimensão máxima, energia armazenável, duração da
descarga, eficiência, vida útil ou densidade energética), econômicos e ambientais não têm
permitido que uma tecnologia se imponha como referência. Além disso, o armazenamento de
energia pode fornecer serviços muito diversos para o setor elétrico e a tecnologia ideal irá variar
dependendo do serviço. Nesta subseção será apresentada uma descrição resumida de cada
tecnologia, porém inicialmente será dada uma breve visão geral da comparação do uso e
características das tecnologias no mundo.
Inicia-se com a apresentação da participação das principais tecnologias de armazenamento no
mundo em meados de 2017 de acordo com [4], apresentada na Figura 5.

Figura 5 Capacidade de armazenamento em operação global por tecnologia. Fonte [9]

No lado esquerdo da Figura 5, nota-se que a Pumped Hydro Storage - PHS (Usinas Hidrelétricas
Reversíveis – UHR) é a fonte de armazenamento com maior capacidade instalada em relação às
outras tecnologias de armazenamento (térmica, eletroquímica e eletromecânica). De uma
forma geral, o termo UHR será utilizado neste relatório para descrever um recurso hidroelétrico
com armazenamento, como será descrito a seguir.

PSR 14
No lado direito da Figura 5, é mostrada a divisão em subgrupos tecnológicos (por exemplo,
tipos de baterias) dentro da classificação principal tecnológico (eletroquímica). Observa-se que
dentro dos SA témicos, a tecnologia Malten Salt Termal Storage é a mais utilizada, representando
75% da capacidade instalada de SA témicos. Já nos SA eletroquímicos, as baterias de Íons-Lítion
são as mais utilizadas representando 59% da capacidade instalada. Para os processos
eletroquímicos, a flywheel (volantes de inércia) é a tecnologia mais utilizada representando 59%
da capacidade instalada.

Figura 6 Comparação entre sistemas de armazenamento – Capacidade de armazenamento x duração da


descarga. Fonte [2]

Como pode ser visto na Figura 6, dentro das tecnologias de SA, a PHS é uma das tecnologias
que possuem maior capacidade de armazenamento. Adicionalmente a maturidade da fonte
impulsiona o número de capacidade instalada. Será visto nas próximas sessões um maior
detalhamento sobre os SA.

3.1.1 Processos de armazenamento mecânicos

Tradicionalmente os processos mecânicos podem ser divididos em: (i) bombeamento


hidráulico, (ii) Armazenamento em ar comprimido e (iii) Energia rotacional - volantes de
inércia. Porém, pode-se incluir as usinas hidrelétricas convencionas com reservatório como um
equipamento de armazenamento mecânico também, dado o princípio utilizado para
armazenamento ser igual ao das usinas reversíveis, tecnologia já consolidada e difundida como
sistema de armazenamento.

3.1.1.1 Usina Hidrelétrica Reversível


Essas usinas, chamadas de Usina Hidrelétrica Reversível (UHR) ou Pumped Hydro Storage
(PHS) ou Pumped Hydroelectric Energy Storage (PHES), em inglês são o tipo de sistema de
armazenamento em grande escala mais antigo. Uma usina reversível possui dois reservatórios
de água, em alturas diferentes, um mais baixo e outro em local mais elevado. Para ela gerar

PSR 15
energia para o sistema, a água do reservatório mais alto deve fluir até o baixo, onde se encontram
os geradores, esse é momento de geração de energia elétrica e por consequência injeção de
energia na rede elétrica. Quando a energia deve ser armazenada, provavelmente em momentos
que há grande geração das outras usinas do sistema e demanda baixa, a PHS recebe energia
elétrica do sistema e a usa para acionar uma bomba de água que leva o líquido até o reservatório
mais alto. É a forma de armazenamento mais difundida atualmente. Apesar disso, é também a
tecnologia mais difícil de instalar e seu potencial depende das características hidrogeológicas de
cada território disponível na literatura especializada
Esta tecnologia representa 95% de todos sistemas de armazenamento no mundo e a eficiência
do processo de bombeamento e turbinamento da água é de 80%. Devido ao longo tempo para
bombear a água, esse processo deve ocorrer em períodos com grande geração de renovável. [6].
É interessante ressaltar que as usinas hidrelétricas convencionais não são listadas como SA,
porém as usinas de bombeamento estão na lista de transformação do processo mecânico. As
hidrelétricas convencionais e as PSHs possuem o mesmo princípio de transformação de energia,
transformam energia potencial gravitacional em energia elétrica. Adicionalmente, os tipos de
serviços prestados tanto pelas hidrelétricas convencionais, quanto pela PHS, são similares.
Dessa forma, para sistema com predominância hidráulica, deve-se considerar também as usinas
hidrelétricas convencionais com reservatório como SA.
3.1.1.2 Armazenamento de energia com ar comprimido (Compressed Air Energy Storage -
CAES)
Nos sistemas de armazenamento de energia com ar comprimido ou Compressed Air Energy
Storage, ou CAES, em inglês), a eletricidade é usada para comprimir o ar e armazená-lo em
locais confinados a alta pressão. Este processo faz com que o ar aqueça, então esse calor deve ser
removido. Quando a energia armazenada é necessária, esse ar comprimido é liberado para
acionar uma turbina. Essa expansão do ar comprimido faz com que o ar esfrie, de modo que o
processo também requer calor. Caso o calor previamente retirado seja utilizado para esse
aquecimento, estaremos diante de um sistema adiabático, ou diabático no caso contrário
Esse tipo de sistema também é amplamente utilizado na indústria, como fonte de energia para
perfuração, cortes etc.
A eficiência dessa fonte é reduzida em relação às outras tecnologias devido à energia utilizada
para comprimir o ar e para o aquecimento posterior.
3.1.1.3 Energia rotacional – Volantes de armazenamento de energia ou Volantes de inércia
(Flywheel Energy Storage - FES)
A Energia rotacional ou volantes armazenamento de energia ou até mesmo denominados
volantes de inércia, Flywheel Energy Storage – (FES), em inglês, a energia é acumulada na forma
cinética, utilizando uma massa que gira (volante) em alta velocidade. O volante é feito
normalmente por aço ou plástico reforçado com fibras e a energia acumulada depende do
momento de inércia que depende da densidade do material e formato. Este volante é conectado
a uma máquina elétrica que funciona como motor, quando se deseja armazenar energia e como
gerador quando se deseja devolver energia ao sistema. Ou seja, o sistema completo depende de

PSR 16
uma máquina elétrica e um conversor o qual converte a energia elétrica em mecânica fazendo
o sistema girar e converte a energia mecânica em elétrica no momento de descarregamento.
Devido ao tempo que tem para permanecer em movimento, caso sua energia não seja
necessária, é necessário manter o sistema com mínimas resistências e isso geralmente é feito
operando o volante em vazio e usando rolamentos magnéticos. Destaca-se que a energia é
limitada pela velocidade que o material suporta.

3.1.2 Sistema de armazenamento químico


O armazenamento químico consiste no uso da eletricidade em um processo químico que
permite a produção de um combustível, normalmente um gás, que pode ser reconvertido em
eletricidade por meio de outro processo (power-to-gas, ou P2G, em inglês). O processo de
carregamento mais simples é, sem dúvida, a eletrólise da água para a produção de hidrogênio,
vetor de energia que sempre foi amplamente estudado pelos cientistas, embora também existam
processos para a produção de metano. Esses gases podem ser misturados com outros (como,
por exemplo, CO2) para produzir um gás sintético.
Uma vez que o combustível é gerado, ele deve ser armazenado. Para o hidrogênio, existem
muitas alternativas tecnológicas em estudo, desde o armazenamento em tanques de gás
comprimido ou líquido até tecnologias baseadas na ciência dos materiais, nas quais o elemento
adere a um material poroso. O hidrogênio é o elemento mais leve e simples existente na
natureza, não tendo odor ou cor. Não é fácil encontrá-lo em sua forma natural, devido à sua
alta reatividade. Ele está presente em quase todos compostos orgânicos na natureza e na água.
A crosta da Terra é formada 50% por ele, tornando ele o elemento químico mais comum. A
densidade gravimétrica de energia é a maior da natureza, correspondendo a 33.3kWh/kg, no
entanto isso ocorre devido à baixa massa do elemento, visto que sua densidade volumétrica é
cerca de um terço da densidade do gás natural, 3 kWh/m3.
Como dito anteriormente, a densidade gravimétrica energética da célula de hidrogênio é a
maior da natureza e isso pode ser percebido na massa total de um carro movido a hidrogênio.
O tanque de baterias de um carro elétrico pode chegar a pesar cerca de 6 vezes mais que aquele
de hidrogênio. Além disso, carros movidos a hidrogênio possuem um alcance maior,
permitindo veículos de mais longa distâncias e contando ainda com um sistema de
reabastecimento com um tempo similar a carro com combustão de combustíveis fósseis. [25]
Para a conversão de gás em eletricidade existem diferentes soluções. Tanto o hidrogênio quanto
o metano podem ser usados para operar células a combustível, outra tecnologia ainda em fase
de maturação. Outra alternativa é usar turbinas a gás convencionais. Em ambos os casos, no
entanto, a eficiência de ida e volta é muito baixa em comparação com outras tecnologias de
armazenamento, tornando improvável que a energia para gás possa competir neste segmento
de mercado. No entanto, nos últimos anos tem-se imposto a ideia de combinar estas tecnologias
de armazenamento químico com o sector do gás, aproveitando as infraestruturas existentes para
transporte e distribuição do gás produzido através da eletricidade, num processo denominado
acoplamento setorial (sector coupling, em inglês). O Anexo A apresenta mais informações sobre
acoplamento setorial.

PSR 17
3.1.3 Sistemas Eletroquímicos
A seguir será abordado os SA baseados na eletroquímica considerando as baterias de diferentes
tipos. Devido ao princípio de construção das baterias, há um trade off entre densidade de energia
e de potência como pode-se ver na Figura 7. A Figura 7 mostra um dilema encarado na indústria
de baterias, que consiste no desenvolvimento de uma bateria com maior densidade de potência
e menor densidade de energia ou o contrário. Devido ao princípio de construção da bateria, ela
terá uma maior densidade energética em detrimento de ter uma reduzida densidade de potência
e vice versa. Isso ocorre porque para se ter uma maior capacidade de armazenamento de energia,
é necessário acrescentar mais material ativo nos eletrodos, o que aumenta a resistência interna
e consequentemente reduzindo a potência.
As baterias podem ser construídas a partir de diversos elementos químicos, como por exemplo
de lítion, níquel, cádimo, chumbo, sódio, enxofre e outros em que cada um possui
características específicas sobre o aporte de energia.

Figura 7 Comparação de energia e potência específica entre baterias e super capacitores. Fonte: [26]
As subseções seguintes abordarão brevemente sobre os sistemas de armazenamento
eletroquímicos convencionais e não convencionais.

3.1.3.1 Baterias convencionais

3.1.3.1.1 Baterias Chumbo-Ácido (Pb-Ac)


Apesar de ser uma das mais antigas tecnologias de baterias utilizadas, tendo cerca de 150 anos
de existência, ainda é considerado um dos melhores sistemas eletroquímicos conhecido e
considerada uma tecnologia madura perdendo somente para a nova tecnologia de baterias de
íon de lítio. No eletrodo negativo encontramos chumbo, enquanto no positivo encontramos
óxido de chumbo. O eletrólito que separa os dois eletrodos é um ácido, geralmente ácido
sulfúrico.

PSR 18
A densidade de energia liberada em uma reação envolvendo os elementos químicos da bateria
de chumbo-ácido corresponde ao valor teórico de 160Wh/kg. No entanto a bateria possui
componente ativos, como grade nos eletrodos, polos, carcaça da bateria, separadores e água
para dissolver o ácido sulfúrico, que resultam em uma densidade útil menor, cerca de 25 e
40Wh/kg [2].
As baterias chumbo ácido são quase totalmente recicláveis. Mais de 99% das baterias de chumbo
coletadas e Europa e EUA são recicladas.[27].
Em relação à segurança, as baterias Pb são consideradas um sistema seguro com eletrólito
líquido e materiais ativos que não são inflamáveis. No meio do fogo, a estrutura pode queimar,
mas isso é evitável se utilizados matérias retardantes. Para parâmetro de comparação, por
exemplo, as baterias de Íon Lítio possuem uma densidade energética muito maior, aumentando
o risco durante incêndios, além de componentes materiais reativos e eletrólito inflamável.
Baterias de chumbo possuem um tempo de operação longo, contanto que se evite utilizações
que acelerem a deterioração dela, como sobrecorrente, descarregamento total da bateria,
permanência durante longos períodos com pouca carga. Elas são principalmente utilizadas
como baterias de partida, para acionamentos e como baterias estacionárias em sistemas
emergenciais de suprimento de eletricidade. São frequentemente utilizadas em sistemas com
geração renováveis.

3.1.3.1.2 Baterias de Níquel-Cadmio (Ni-Cd)


Energia é armazenada nas baterias de níquel cadmio convertendo hidróxido de níquel em
oxihidróxido de níquel. A densidade teórica de uma bateria dessa tecnologia é 210 Wh/kg.
Essas baterias possuem uma vida úti longa, uma capacidade de alta corrente e pode ser operado
dentro de uma ampla gama de temperaturas.
Elas podem ser armazenadas em qualquer estado de carga, (state of charge – SOC), sem causar
danos ou mudanças irreversíveis na sua capacidade de armazenamento, ou seja, podem ser
sobrecarregadas ou descarregadas ao máximo [2]

3.1.3.1.3 Baterias de Íon Lítio (Li-ion)


As baterias de Íon Lítio, Li-ion, em inglês, usam uma gama de diferentes estruturas químicas,
sendo que são categorizados como de alta performance ou alta energia, dependendo da química
da célula. Usam o lítio como elemento fundamental, transferindo íons de lítio do ânodo para o
cátodo quando ele está descarregando e vice-versa para o carregamento.
Visto a grande presença da bateria de Lítio, em relação aos outros SA eletroquímicos, conforme
Figura 5, muitos estudos ainda estão em curso para desenvolver melhor a tecnologia. Um dos
principais focos é quanto à segurança dessa tecnologia. As baterias de lítio precisam de sistemas
de monitoramento durante toda operação, devido a possíveis instabilidades térmicas no
eletrodo negativo ou eletrólito, as quais devem ser levadas na fabricação das células. Essas
baterias ainda devem ser operadas entre 30% a 70% de carga para assegurar uma vida útil longa.
[28]

PSR 19
As baterias de lítion representam a tecnologia de referência para baterias de pequeno porte e são
as que mais crescem nos últimos anos, sendo a base de muitos aparelhos eletrônicos e até de
veículos elétricos. São utilizadas também setor de energia, para regulação de frequência e
suavização de picos. Para esses projetos uma potência nominal média maior que 1MW é
utilizada.
Outra aplicação no setor energético é na integração de renováveis. O crescimento substancial
de renováveis na rede gera a necessidade de desenvolvimento de sistemas de armazenamento de
energia. As principais aplicações são em gerações eólicas, as quais possuem um perfil altamente
variável e muitas vezes há descasamento de pico de geração e de demanda, sendo necessário
então o armazenamento.
Mais recentemente, a Vale está instalando um sistema de armazenamento com baterias de Íon
Lítio no Terminal da Ilha Guaíba no Rio de Janeiro com o intuito de reduzir em 20% o custo
da energia no porto, utilizando a energia armazenada nos horários de pico. O projeto tem no
total 10 MWh de energia. [29]

3.1.3.2 Baterias de alta temperatura

3.1.3.2.1 Bateria de Sódio-Enxofre (NAS)


Essas baterias operam nominalmente em temperaturas elevadas acima de 300°C, em que,
durante a descarga, o sódio (eletrodo negativo) é oxidado formando íons que posteriormente
se combinam com o sulfeto do eletrodo positivo. Devido a operação em alta temperatura, a
bateria precisa de um sistema de aquecimento confiável e um monitoramento da temperatura.
Variações de temperatura para mais ou para menos podem diminuir a eficiência do
equipamento e até mesmo causar interrupção do funcionamento. Caso a temperatura diminua,
a resistência interna aumenta e a eficiência do equipamento diminui drasticamente [2]. Caso a
temperatura aumente e o aquecimento seja elevado, o funcionamento deverá ser interrompido.
Devido às altas temperaturas e à inflamabilidade do sódio em contato com a água, existem
medidas de segurança
A maior instalação com sistema utilizando bateria NAS é um ligado à rede de 154kV no Japão,
conectado a um parque eólico de 54MW, com 34 turbinas, sendo que as baterias balanceiam as
flutuações de potência.

3.1.3.2.2 Bateria de Sódio-Níquel-Cloro (ZEBRA - Zero Emission Battery


Research)
A bateria de Sódio Níquel Cloro é semelhante à bateria de Sódio Enxofre, porém com uma
capacidade específica inferior [2]. Sua capacidade teórica corresponde a 305 Ah/kg contra 377
Ah/kg da NAS, no entanto, devido à sua tensão nominal maior 2.58 V contra 2.1 V, a densidade
energética das duas são aproximadamente iguais.

3.1.3.3 Baterias de fluxo

3.1.3.3.1 Bateria de fluxo redox

PSR 20
Outro tipo de bateria é a bateria de fluxo redox, que possui armazenamento externo, podendo
então ser dimensionada independentemente quanto à potência e energia. A membrana, onde é
conectada a fonte ou a carga, separa dois tanques com eletrólitos que armazenam a energia.
Esses eletrólitos são bombeados para a membrana e a troca de cargas iónicas ocorre por ela.
A quantidade de energia que pode ser armazenada é dependente de quanto de eletrólito há,
enquanto a potência é determinada pelo tamanho do eletrodo. Como são características
distintas, a potência e energia são dimensionadas independentemente, sem que o aumento de
uma das duas grandezas reduza a outra, como ocorre nas outras tecnologias de baterias.
Essas baterias possuem uma eficiência, comprometida pela eficiência da bomba dos eletrólitos,
sendo em torno de 70 a 80 %.
Em comparação a outras tecnologias, a bateria de fluxo possui as vantagens
• de poder ter grande capacidade de armazenamento;
• vida útil longa, visto que os eletrodos não reagem e então não deterioram;
• independência de potência e energia;
• baixo custo de manutenção;
• rápida recarga, com alteração do eletrólito.

No entanto, ela tem a desvantagem de:


• baixa densidade de potência e energia;
• acessórios necessários, que diminuem a eficiência;
• dificuldade em selar as células;

Figura 8 - Representação técnica da bateria de fluxo redox. Fonte: [4]

PSR 21
3.1.4 Sistemas Elétricos e magnéticos

3.1.4.1 Capacitores e Super capacitores


O capacitor e super capacitor armazenam energia no campo elétrico. Para isso uma fonte deve
fornecer energia previamente através de um fluxo de corrente, assim como as baterias. O
capacitor é formado por dois eletrodos e um material dielétrico separando-os, o qual, na
presença de um campo elétrico externo, forma dipolos elétricos, que são pares de cargas
estacionárias e, logo, não constituem corrente.
Os eletrodos do super capacitor são de material metálico ou carbono e são imersos em um
líquido eletrólito com íons que perdem carga com dificuldade. O eletrodo libera elétrons no
eletrólito ou capta elétrons da solução, gerando uma diferença de potencial entre eles. Uma
camada de cargas com sinal oposto ao do eletrodo se forma na superfície do mesmo a uma
distância muito pequena. Essa configuração é conhecida como camada dupla, pois há uma
camada de cargas opostas nos dois eletrodos, e a distância entre os condutores é somente o raio
dos íons envolvidos. Essa pequena distância gera a capacitância com valor muito acima do
capacitor tradicional.

Os super capacitores são utilizados em aplicações em que seja necessária uma grande densidade
de potência e uma densidade de energia alta não é necessária. A

Figura 9 apresenta exemplos de super capacitores, ilustrando a diferença de densidade de


potência e de energia, diferença essa característica desse tipo de SA. Esses componentes são,
então, adequados para fornecer energia de partida no setor de transporte, para assegurar
confiabilidade para sistemas e compensar flutuações de curto período de cargas. [4]
Além disso, super capacitores vêm sendo utilizados em geradores eólicos, fornecendo alta
potência para motores elétricos usados para prevenção de danos à turbina, em situações de
vento com alta intensidade. No setor de transportes, eles são utilizados para recuperar e
armazenar a energia cinética da frenagem, que antes era convertida e dissipada em calor.

PSR 22
Figura 9 - Densidade de potência e de energia de super capacitores. Fonte: [2]

3.1.4.2 Sistemas de armazenamento eletromagnéticos supercondutores


Em condutores normais os elétrons, acelerados por um campo elétrico, interagem com a malha
de cristais do metal condutor, gerando perdas ôhmicas. No estado de supercondutor os elétrons
formam os chamados pares Cooper, pares com momentum total 0, e esses pares de elétrons
percorrem a malha de cristal do condutor sem fazer contato algum e então sem perdas de carga
por colisões.
O sistema de armazenamento com supercondutor é composto por bobinas supercondutoras,
sistema de refrigeração criogênica e um inversor. O armazenamento de energia ocorre no
campo magnético induzido na bobina, com a passagem de corrente. Por outro lado, quando se
deseja descarregar, o campo magnético cria a corrente, injetando energia elétrica na rede.
Atualmente essa tecnologia não é utilizada ainda como sistema de armazenamento. Assim como
os capacitores possuem uma alta densidade de potência e baixa densidade de energia e possuí a
vantagem de armazenar energia sem partes rotativas ou processos químicos. De acordo com [4]
possíveis aplicações seriam na área de armazenamento de curto prazo, estabilização de rede ou
ainda para manter qualidade de tensão e fontes ininterruptas de energia.

3.1.5 Sistemas Térmicos de Armazenamento (Thermal Energy Storage – TES)

3.1.5.1 Armazenamento de energia por calor sensível


Em tecnologias de armazenamento térmico, a eletricidade é usada para acumular energia
térmica em um vetor. Essa energia térmica pode então ser reconvertida em energia elétrica ou,
como no caso do armazenamento químico e do acoplamento de setores, utilizada diretamente
em algum uso final, como aquecimento ou resfriamento de edifícios.
No caso da conversão final em energia elétrica, existem diferentes soluções tecnológicas,
baseadas em diferentes fluidos de acumulação térmica, embora a mais difundida seja a baseada

PSR 23
em sais fundidos (Molten salts, em inglês). Esta solução, já utilizada em centrais termo-solares
(Concentrated Solar Power, ou CSP, em inglês), permite armazenar energia térmica nos sais e
extraí-los novamente através de um ciclo a vapor.
No caso de aproveitamento para uso final, a energia térmica pode ser acumulada em um
material com alta capacidade calorífica, geralmente água, por meio de resistores ou bombas de
calor (ou ciclos de refrigeração, no caso de acúmulo de frio) e posteriormente extraída para
alimentar o uso final por meio de trocadores de calor.

3.1.5.2 Armazenamento de energia por mudança de fase


O armazenamento de energia por mudança de fase leva em consideração do princípio de calor
latente dos materiais. Se contrapondo ao armazenamento por calor sensível, durante recarga ou
descarga de energia não há uma grande variação de temperatura, de forma que é possível manter
o ambiente a uma temperatura desejada de forma constante. A densidade de energia ainda é
maior, permitindo que o sistema seja mais compacto. [2]

3.2 Evolução da capacidade instalada


Mundialmente, tecnologia de armazenamento mais utilizada no setor elétrico é, sem dúvida,
usina reversível, conforme já mostrado na Figura 5. Essas usinas, que vêm sendo desenvolvidas
e instaladas desde o início da exploração hidrelétrica dos territórios fazem parte do sistema
elétrico em muitas jurisdições. [9]

Ainda de acordo com [9] a segunda tecnologia mais utilizada depois do bombeamento é o
armazenamento térmico, principalmente na forma de usinas termo solares com sistemas de
acumulação à base de sais fundidos. Em seguida, na terceira posição, mas com um crescimento
muito contínuo nos últimos anos, são os SA eletroquímicos por meio de baterias,
principalmente de íon de lítio

. A Figura 10 mostra o recente crescimento das tecnologias de armazenamento, excluindo


bombeamento (por razões de escala) e sais fundidos (que nem sempre estão sendo usados para
armazenamento de eletricidade). Observa-se claramente como as baterias de íon-lítio vêm
conquistando uma fatia cada vez maior do mercado.

Figura 10. Mix tecnológico dos sistemas de armazenamento. Fonte [11]

PSR 24
A Figura 11 mostra a evolução da inserção de baterias e mostra como a instalação desses
equipamentos no setor elétrico aumentou significativamente nos últimos anos, ultrapassando
3 GW em 2018; entretanto, em 2019 houve uma queda no número de novas instalações. De
acordo com a IEA [12], isso mostra como a instalação de baterias está intimamente ligada aos
regulamentos e incentivos existentes em cada país.

Figura 11. Evolução de nova capacidade instalada de sistemas de armazenamento eletroquímicos por
ano . Fonte [12]

A Figura 11 também mostra como, mesmo que as baterias de grande escala tenham registrado
um aumento importante, as baterias “atrás do medidor” cresceram de forma exponencial nos
últimos anos.

3.3 Cenários futuros


Embora todos os especialistas concordem em considerar o armazenamento de energia um
elemento-chave da transição energética, há muita incerteza sobre seu desenvolvimento futuro,
também gerada pelas muitas opções tecnológicas disponíveis.

Em [9]estima-se que a capacidade de armazenamento global terá que crescer de atualmente de


menos de 5 TWh para 7 ou 15 TWh em 2030, dependendo do cenário (Figura 12). Além dos
números, o gráfico também indica que boa parte desse crescimento será coberto, segundo a
IRENA, pelas baterias dos veículos elétricos e pelo armazenamento térmico das usinas termo
solares, embora também se preveja um crescimento moderado de PHSs.

PSR 25
Figura 12. Projeções sobre a capacidade de armazenamento global ; dois cenários de transição de
energia (referência e duplicação) e duas penetrações de armazenamento (baixa e alta). Fonte [9]

Pelo que concerne o armazenamento eletroquímico, [12] prevê um crescimento da capacidade


instalada que tenderá a superar 100 GW em 2030 e 200 GW em 2040 para cumprir com os
objetivos de descarbonização. Como se pode observar na Figura 13, boa parte desses
investimentos são esperados na China e Índia.

Figura 13. Projeção sobre a capacidade instalada de baterias a nível global [12]

3.4 Parâmetros técnicos


Nesta subsecção, serão fornecidos dados básicos sobre tecnologias de armazenamento,
permitindo uma melhor compreensão das diferentes características destas soluções e da
necessidade de satisfazer a procura de novos serviços com uma combinação equilibrada destas
tecnologias.

3.4.1 Capacidade e duração de descarga

Nem todas as tecnologias podem atingir grandes escalas (embora algumas tecnologias, tais
como baterias, sejam modulares), nem têm a mesma capacidade de armazenar energia e atingir

PSR 26
altas durações de descarga. A Figura 14 mostra a relação entre dois parâmetros (capacidade e
duração de descarga) para diferentes tecnologias.

Figura 14. Relação entre capacidade instalada e duração de descarga de diferentes tecnologias de
armazenamento. Fonte [13]

Como se pode observar, as tecnologias que podem alcançar capacidades instaladas mais
elevadas são as PHS e, a tecnologia power to gas, que podem ser realizadas com estações de
grande escala. Pelo que diz respeito à duração de descarga, as mesmas tecnologias apresentam
capacidades elevadas, seguidas pelo ar comprimido e baterias eletroquímicas, que por outro
lado, são referência para instalações de pequena escala, tais como equipamentos de
armazenamento residenciais. No gráfico, também são indicadas em que áreas estas tecnologias
poderiam ser utilizadas (nos pontos de demanda (end-user), nas redes ou no segmento de
geração).

3.4.2 Tempo de resposta

O tempo de resposta de um equipamento de armazenamento, isto é, o tempo necessário para


se iniciar a descarga de energia é um parâmetro técnico muito relevante e que afeta o tipo de
serviços que será capaz de proporcionar cada tecnologia. Na Tabela 1 são apresentados os tempos
de resposta das principais tecnologias de armazenamento.

PSR 27
Tabela 1 - Tempos de resposta das principais tecnologias de armazenamento. Fonte [14]
Baterias eletroquímicas Milissegundos
Supercapacitor Milissegundos
Usinas reversíveis Segundos - minutos
Ar comprimido Minutos
Volante de inercia Minutos
Hidrogênio (power-to-gas) Minutos
Sal fundido Minutos - horas

Como se pode observar na tabela, as tecnologias com respostas mais rápidas são as baterias
eletroquímicas, os supercapacitores e as usinas reversíveis. Esses equipamentos são os que
podem proporcionar serviços que requerem esta característica, como a provisão de reserva
primária ou secundária ao sistema elétrico.

3.4.3 Eficiência de conversão

As tecnologias de armazenamento analisadas têm também eficiências distintas. O parâmetro


possível de ser analisado nesse caso é a eficiência de reconversão (round – trip efficiency) , que é
a relação entre a energia descarregada e a energia utilizada no carregamento. Na Figura 15 são
mostradas as eficiências das diferentes tecnologias.

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%

Figura 15. Eficiência de reconversão das principais tecnologias de armazenamento. Fonte [14]

A maioria das tecnologias (baterias, supercapacitores, volantes e PHSs) estão na gama de


eficiência de 80% a 90%, enquanto a eficiência cai quando se considera o ar comprimido, o
armazenamento de calor de sal fundido e, sobretudo, o armazenamento químico através do
hidrogênio. Estes números, no entanto, não deixam estas tecnologias fora do circuito. Deve-se
lembrar que esta é a eficiência de conversão, ou seja, considera que a energia é transformada
novamente em eletricidade no final do processo. Tanto o armazenamento térmico como
químico podem ser mais eficientes se a energia for utilizada diretamente para o uso final. Além
disso, o hidrogênio poderia ser utilizado em aplicações que não podem ser eletrificadas.

PSR 28
3.4.4 Nível de maturidade

Nem todas estas tecnologias se encontram ao mesmo nível de maturidade. A Tabela 2 mostra
informação sobre as diferentes tecnologias e o nível de maturidade, ordenando desde a mais
madura (nível 3) até à menos madura (nível 1).

Tabela 2 - Nível de maturidade das principais tecnologias de armazenamento, sendo 1 para sem
maturidade e 3 para muito madura. Fonte: [14]
Usinas reversíveis 3
Baterias de Chumbo Ácido 2,5
Ar comprimido 2
Baterias de Íon Lítio 2
Sais fundidos 2
Volante de inércia 1,5
Supercapacitor 1,5
Hidrogênio (power-to-gas) 1

Como se pode ver, ao lado de tecnologias consideradas como plenamente maduras, tais como
a PHS, existem tecnologias quase maduras, tais como baterias de chumbo-ácido, e outras que
ainda precisam passar por parte da sua curva de aprendizagem (baterias de lítio-íon, ar
comprimido ou sais fundidos). Ao mesmo tempo, o potencial real do armazenamento de
hidrogênio e a estratégia de energia para o gás ainda não foram demonstrados.

3.5 Parâmetros econômicos

3.5.1 Custos atuais

O custo unitário das diferentes tecnologias de armazenamento é sem dúvida o parâmetro que
terá o maior peso na definição do portfólio tecnológico. Como demonstrado na subsecção
anterior, nem todas as tecnologias se encontram no mesmo ponto da sua curva de
aprendizagem e, por conseguinte, não têm o mesmo potencial de redução de custos. As Figura
16 e Figura 17 apresentam os custos de capital (CAPEX) por unidade de potência e energia das
principais tecnologias 1.

1Os OPEX das tecnologias de armazenamento são muito baixos em comparação com o CAPEX e variam na mesma
gama de preços para quase todas as tecnologias.

PSR 29
5000
4000

[€/kW]
3000
2000
1000
0

Figura 16. CAPEX por unidade de potência das principais tecnologias de armazenamento. Fonte [14]

Baterías iondede
Baterias íonlitio
Li

BateríasBaterias
plomo-ácido
de Pb

Arcomprimido
Aire comprimido

Sais fundidas
Sales fundidos

Usinas
Bombeo reversíveis
hidroeléctrico

0 100 200 300 400 500 600


[€/kWh]

Figura 17. CAPEX por unidade de energia de algumas tecnologias de armazenamento Fonte [14]2

Como se pode ver, existem diferenças substanciais de acordo com o CAPEX expressas por
potência ou por energia, dependendo da capacidade de armazenamento de cada tecnologia. Os
equipamentos com os custos unitários mais baixos por energia (euros/kWh) são os baseados
em tecnologias mais maduras, seguidos pelas baterias eletroquímicas, entre as quais as baterias
de chumbo-ácido apresentam atualmente custos mais baixos do que as baterias de lítio.

A Figura 18 foca as baterias e mostra como os custos unitários, por potência e energia, variam
para baterias com diferentes durações de descarga. Claramente, as baterias com maior duração
têm CAPEX mais elevado, versus custos unitários de energia mais baixos.

2 Por razões de escala, o gráfico não mostra a unidade CAPEX do flyweels, que é de cerca de 2.750 euros/kWh.

PSR 30
Figura 18. CAPEX por potência e energia de armazenamento com baterias entre 2013 e 2018. Fonte [16]

Também deve ser lembrado que as baterias eletroquímicas ainda têm economias de escala
significativas. Como pode ser visto na Figura 19, uma bateria residencial pode ter um custo
energético unitário que é mais do dobro do de uma bateria de grande escala.

Figura 19. Economias de escala em armazenamentos com baterias. Fonte [17]

Este é um parâmetro muito importante que, a menos que as inovações tecnológicas tornem
possível reduzir estas economias de escala, afetará o equilíbrio futuro entre baterias distribuídas
e centralizadas.

3.5.2 Projeções para o futuro

No futuro, as reduções de custo mais importantes afetarão as baterias eletroquímicas 3, em que


esta subseção se centra. A Figura 20 mostra o custo unitário atual e a redução esperada para os
principais tipos de baterias. Espera-se que quase todas as tecnologias eletroquímicas reduzam o
seu custo em 50-60%, atingindo custos unitários entre 150 e 250 US$/kWh.

3Espera-se também uma redução moderada no custo unitário dos sistemas de ar comprimido e uma maior para os
volantes de inércia. Outras tecnologias, como a PHSs, terão o seu custo médio unitário mantido.

PSR 31
Figura 20. Projeções atuais do custo unitário e 2030 para as principais tecnologias de baterias. Fonte: [9]

IEA [12] prevê uma evolução semelhante no custo unitário dos sistemas de armazenamento de
baterias. A Figura 21 apresenta a projeção deste custo, dividindo-o entre custos de baterias e
custos de acessórios e mostrando também a variação entre os custos unitários de baterias com
diferentes durações. Pode-se ver que a redução de custos mais significativa ocorra até 2025.

Figura 21. Projeção do custo unitário por energia de armazenamento por bateria. Fonte: [12]

3.5.3 Possíveis fatores de risco

O desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia depende também de alguns


fatores de risco que afetam ou podem afetar o setor no futuro. Esta subseção analisa os riscos
operacionais, os riscos relacionados com a escassez de matérias-primas e os riscos ambientais 4.

Os riscos operacionais dependem da tecnologia. Por exemplo, as centrais hidrelétricas


reversíveis têm o risco de inundação se houver um defeito na construção dos reservatórios
(embora este risco seja muito pequeno). Em geral, todas as tecnologias têm riscos inerentes ao

4 A subsecção centra-se nos riscos inerentes às tecnologias, não nos riscos de mercado que o investidor tem de gerir.

PSR 32
seu funcionamento que podem prejudicar o seu ambiente imediato ou as pessoas que com elas
trabalham.

No que diz respeito às matérias-primas, as baterias, especialmente as baterias de íon lítio,


apresentam um risco não negligenciável de escassez de material no futuro. Isto porque mais de
50% da atividade mineira de lítio e cobalto, crucial para a produção destas baterias, é altamente
concentrada geograficamente. [18] Em particular, a extração de cobalto depende em 50% da
República Democrática do Congo. [19] Quaisquer problemas geopolíticos nestas regiões
poderiam ter um grande impacto no fornecimento de matérias-primas para a sua produção. De
uma forma geral, como descrito em [20][21], a geopolítica da energia pode ser bastante afetada
com o desenvolvimento das renováveis e a disputa por matérias primas para as baterias.

Um problema adicional com as baterias é a sua toxicidade. No fim da vida destes dispositivos,
têm de ser reciclados e este processo pode ser laborioso e dispendioso.

PSR 33
4 SEVIÇOS PRESTADOS PARA O SISTEMA
A demanda por armazenamento se torna mais clara quando há alta penetração de energia
renovável não convencional e quando o sistema elétrico convencional já não suporta por si só
a compensação da intermitência das fontes. A inserção de recursos renováveis não
convencionais intensificam a demanda dos sistemas elétricos por sistemas de armazenamento,
uma vez que a necessidade de flexibilidade e controle aumenta. Os drivers para o aumento por
demanda de armazenamento vão além da absorção da variabilidade das eólicas e solares.
Conforme pode ser visto na Figura 22, a demanda de armazenamento pode ser gerada de acordo
com o segmento de atuação e os principais drivers de aumento de demanda por armazenamento
são:
• Segmento de geração:
o Alta penetração de energia renovável não convencional
o Erros de projeção de geração de energia renovável não convencional
o Prestação de serviços ancilares
o Evitar “curtailment” de energia renovável não convencional
o Inserir flexibilidade para sistemas com predominância termelétrica inflexível
• Segmento consumo
o Suprir erros de projeção de demanda
o Mecanismo de gerenciamento pelo lado da demanda
• Redes de transmissão
o Expansão e/ou readequação (reconfiguração ou recapacitação)das redes de
transmissão e distribuição.

Figura 22 – Drivers de demanda de armazenamento. Fonte: [2]

Assim como existem diferentes taxonomias de tecnologias de armazenamento, também os


serviços que esses equipamentos podem fornecer ao sistema podem ser classificados de
diferentes maneiras. Antes de olhar para os mais utilizados, deve-se notar que, a nível técnico-
econômico, quase todos os serviços estão relacionados à capacidade de armazenamento para
ajudar o sistema a manter o equilíbrio entre geração e demanda, deslocando esses elementos ao
longo do tempo.

PSR 34
A nível teórico, um único serviço que o armazenamento pode prestar ao sistema, pode dar
origem a muitos sub-serviços e, sobretudo, a muitos produtos diferentes que serão trocados em
diferentes segmentos do mercado da eletricidade, dependendo do horizonte de tempo, limites
geográficos e termos do contrato que estão sendo considerados. Ao focar no curtíssimo prazo,
o armazenamento pode contribuir para o equilíbrio entre geração e demanda, fornecendo
serviços complementares. Se forem considerados horizontes de tempo mais longos, pode-se
falar em serviços de arbitragem. Se, por outro lado, o prazo do contrato for alargado, pode-se
falar em serviços de confiabilidade, associados aos mecanismos de segurança do abastecimento.
Se o equilíbrio entre geração e demanda considerando a rede e suas restrições, o armazenamento
pode prestar serviços à rede de transmissão e distribuição, melhorando parâmetros técnicos ou
permitindo o atraso de investimentos. A partir desses conceitos, muitas taxonomias foram
feitas, como, por exemplo, a apresentada em [9]. A Figura 23 compila os serviços prestados
pelos SA classificados de acordo com seu uso final [9]. Os serviços podem ser:
• Prestados para rede principal;
• Serviços ancilares;
• De infraestrutura de rede de transmissão;
• De infraestrutura de rede de distribuição;
• Para o consumidor final;
• Conexão Off-grid;
• Para o setor de transporte.

Figura 23 - Serviços prestados pelos sistemas de armazenamento de energia. Fonte: [9]

Essas taxonomias, no entanto, misturam o conceito de serviço para o sistema com os conceitos
de produtos de mercado e modelos de negócios. O exemplo mais óbvio surge quando se fala do
chamado serviço de suporte às renováveis, ou seja, um equipamento de armazenamento que
está associado fisicamente a uma usina que aproveita a energia renovável intermitente e que
permite de alguma forma nivelar o perfil das injeções dessa usina. No entanto, no que diz
respeito ao sistema, este mesmo serviço pode ser prestado por outro recurso de armazenamento,

PSR 35
localizado noutro ponto da rede (salvo se não houver congestionamento) ou com outro
proprietário.
Nesta subseção, a atenção está voltada para os serviços, mais do ponto de vista técnico do que
regulatório, analisando também algumas experiências internacionais marcantes e destacando
alguns modelos de negócios. Questões regulatórias, em nível de desenho de mercado, tipo de
produto que o armazenamento pode comercializar e barreiras à sua participação, serão
analisadas no segundo relatório.
Os serviços prestados pelos sistemas de armazenamento também se diferenciam pelo tempo de
descarga dos equipamentos. Considerando uma taxonomia próxima a apresentada em [9], a
taxonomia de [4], mostra a relação entre tempos de descarga e os serviços de armazenamento
conforme mostrado na Figura 24.

Figura 24 - Aplicações de sistemas de armazenamentos e respectivos tempos de descarga e potencial


valor. Fonte: [4]

Como pode-se observar, as categorias de aplicações dos serviços apresentam diferentes durações
das descargas que variam desde 1 segundo a mais de 10 horas. É importante destacar que um
único SA pode prestar múltiplos serviços. Ou seja, um sistema de armazenamento que presta o
serviço de potência, também é capaz de prestar o serviço de suporte de tensão. A Figura 25
mostra a sinergia entre os serviços prestados.

PSR 36
Figura 25 – Sinergia entre serviços prestados pelos Sistemas de Armazenamento. Fonte: [4]

4.1 Balanço geração – demanda

4.1.1 Curto prazo: serviços ancilares (complementares)

A grande flexibilidade e rapidez de resposta operacional de algumas tecnologias fazem do


armazenamento um recurso ideal para fornecer ao sistema os serviços complementares
necessários para garantir o equilíbrio entre a geração e a demanda em tempo real. Estes serviços
podem incluir regulação de frequência, controle de tensão e reativo ou partida independente
(Black – Start).

No entanto, na prestação destes serviços de equilíbrio, o equipamento tem de lidar com a


limitação relacionada com a sua energia armazenável. Com vista à integração do
armazenamento em mercados de serviços complementares, tem-se tentado, em alguns
contextos, definir novos produtos que se adaptem às características técnicas destas tecnologias
e lhes permitam tirar partido das suas potencialidades. Como exemplo desse movimento, pode-
se citar os mercados PJM e o sistema elétrico Canário da Espanha. No Brasil, os serviços
ancilares são prestados por sistemas de armazenamento tradicionais das usinas hidrelétricas. Os
mercados do PJM e Canário da Espanha serão abordados com mais detalhes no capítulo 6 deste
relatório.

PSR 37
4.1.2 Longo prazo: mecanismos de confiabilidade

Os mecanismos de confiabilidade procuram garantir a segurança do fornecimento de


eletricidade a longo prazo. Estes mecanismos estão tornando-se elementos centrais na regulação
dos sistemas elétricos durante a transição energética, uma vez que conseguem reduzir o risco
dos agentes através de contratos a longo prazo respaldado por “lastro” de suprimento físico. Os
serviços normalmente solicitados ao marco destes esquemas estão relacionados com a injeção
de energia durante as condições de escassez no sistema elétrico em um momento futuro. Podem
estar associados a produtos de capacidade ou de energia, dependendo do tipo de escassez que
ocorre em cada sistema.

A participação dos recursos associados à demanda e do armazenamento em mecanismos de


confiabilidade é frequentemente apontada como o elemento-chave para a implantação destas
tecnologias, uma vez que a remuneração associada pode desempenhar um papel importante na
análise custo-benefício destes equipamentos. Contudo, é também frequente ver como são
questionadas as possibilidades reais de armazenamento para fornecer um produto que serve
para reduzir os investimentos na geração. Esta discussão conduz inevitavelmente à definição de
suprimento “firme” de armazenamento, ou na nomenclatura do sistema elétrico brasileiro,
pode-se aproximar o termo ao conceito de Garantia Física, ou simplesmente seu “lastro”, ou
qualquer medida equivalente de confiabilidade em suas distintas dimensões.

O suprimento firme representa a contribuição esperada de um recurso para a segurança do


abastecimento do sistema. É normalmente um parâmetro calculado pelo regulador ou pelo
operador do sistema numa fase de qualificação e é também utilizado para limitar a quantidade
de serviço de confiabilidade que o recurso pode negociar no marco do mecanismo. Diferentes
metodologias foram propostas e estão sendo utilizadas para calcular a oferta firme de
armazenamento. Este tema será abordado em mais detalhes no capítulo 6 e no relatório 2,
porém destaca-se a utilização dos SA nos mecanismos de confiabilidade no Reino Unido,
Califórnia e o operador do sistema de New England nos Estados Unidos.

A capacidade do equipamento de armazenamento para fornecer serviços de confiança depende,


sem dúvida, da tecnologia, particularmente da energia armazenável e da duração da descarga.
Tecnologias com durações mais curtas, tais como baterias ou supercapacitores, podem
contribuir para a segurança do fornecimento em sistemas que têm problemas em satisfazer
picos de demanda e onde as condições de escassez têm durações muito curtas. No entanto,
apenas tecnologias de armazenamento a longo prazo, tais como o bombeamento ou hidrogénio,
podem contribuir (dependendo das condições técnicas) em sistemas de energia limitada, tais
como sistemas com elevada penetração hídrica, onde as condições de escassez podem ter longas
durações.

4.1.3 Horizonte diário: mercado e despacho

Além do tempo real e do curtíssimo prazo, existem tecnologias de armazenamento cuja duração
de descarregamento lhes permite fornecer serviços de balanço entre a geração e a demanda no
horizonte diário. Este serviço pode ser definido como arbitragem, quando se coloca ênfase nos
preços de mercado, ou na gestão da carga (load management) ou no corte de picos (peak

PSR 38
shaving), concentrando-se nos aspectos técnicos. Contudo, no que diz respeito ao sistema, o
equipamento fornece sempre o mesmo tipo de serviço, deslocando parte da demanda/geração
no horizonte diário, de acordo com as necessidades do sistema (independentemente de estas
serem expressas diretamente pelo operador ou refletidas através dos preços de mercado). Para
que este serviço seja fornecido de forma economicamente eficiente e em ambiente de mercado,
é importante que os preços de mercado possuam granularidade compatível com a resposta que
o sistema exige de seus atores. É para esta atividade que o movimento de migração de Preços de
Liquidação de Diferenças horários que o Brasil fará em 2021 é fundamental. A granularidade de
preços já é horária em todos os mercados atacadistas mundiais, o que permite identificar de
maneira econômica a necessidade de serviços e com isso atrair seus “prestadores”, como o
armazenamento.

Quando estes serviços têm de ser prestados através da participação num segmento mais
específico do mercado da eletricidade, como no caso dos serviços complementares, surge a
necessidade de definir produtos que se adaptem às peculiaridades das tecnologias de
armazenamento. Como exemplo, há participação de SA nos mercados diários do PJM e Itália
que serão abordados em mais detalhes no capítulo 6.

4.2 Serviços de rede

4.2.1 Serviços para a rede de transporte

Considerando o equilíbrio entre a geração e a demanda a nível zonal ou nodal, as tecnologias


de armazenamento podem fornecer, além dos serviços já mencionados, alguns serviços
específicos para a rede. Os recursos de armazenamento podem ser utilizados em áreas da rede
que se encontrem temporariamente ou sistematicamente congestionadas. Desta forma, o
armazenamento seria utilizado diretamente como um ativo de transmissão e permitiria o
adiamento de novos investimentos na rede. As vantagens desta alternativa em relação às
infraestruturas de transmissão tradicionais são as seguintes:
• Os recursos de armazenamento são modulares e podem ser dimensionados de acordo
com a necessidade local da rede que estão conectados;
• O tempo necessário para instalar este equipamento é curto, geralmente muito mais
curto do que o das infraestruturas tradicionais.

O principal problema com esta solução, contudo, é regulamentar, uma vez que o operador de
rede possuiria ativos capazes de alterar inclusive os preços de mercado. De fato, os preços
nodais, embora calculados, devem ser um sinal suficiente para que os agentes do mercado
invistam num recurso de armazenamento para tirar partido da diferença nos preços nodais
associados ao congestionamento. Contudo, existem problemas de gestão de risco que estes
preços nodais não resolveriam. O ajuste do armazenamento como um ativo de rede é uma
questão regulatória que está a ser estudada em muitas jurisdições, como por exemplo a
Califórnia.

Na Colômbia já há regulação para consideração de SA como equipamentos de transmissão. A


UPME (Unidad de Planeación Minero Energética, similar à EPE no Brasi) realizou uma

PSR 39
chamada pública para definição dos critérios de seleção de investidor e controlador do primeiro
projeto de bateria a ser instalado no departamento Atlántico, com o objetivo de mitigar
inconvenientes gerados pela falta ou insuficiência de energia no sistema de transmissão regional
STR. A princípio, o projeto deve iniciar operação em 30 de junho de 2022 e ter até 50MW de
capacidade instalada, divididos em subestações de 110kV e 34.5kV. [10]

4.2.2 Serviços para a rede de distribuição

Quando os ativos de armazenamento são instalados na rede de distribuição, também podem


prestar serviços ao operador desta rede. Mais uma vez, o serviço está muitas vezes relacionado
com a possibilidade de adiar novos investimentos nas infraestruturas tradicionais. Na rede de
distribuição, o armazenamento pode ser instalado de forma isolada ou dentro de um ponto de
consumo. Neste último caso, o ativo será localizado atrás de um medidor e é impossível separar
a sua atuação da resposta à demanda.

Nesse projeto não será analisado os serviços de armazenamento distribuído ao operador da rede
de distribuição, nem os mecanismos (em termos de concepção do mercado e tarifas) para os
incentivar. No entanto, o armazenamento distribuído também pode fornecer serviços ao
sistema e à rede de transmissão. Isto ocorre normalmente através de um agregador, que é um
grupo de agentes do setor, que reúne muitos Recursos Energéticos Distribuídos (REDs) de
pequena escala e os representa em alguns segmentos de mercado [22]. Esse grupo de REDs,
chamados de usinas virtuais (virtual power plant, ou VPP, em inglês), são operados como usinas
tradicionais, com parâmetros de capacidade mínima e máxima, rampa de subida e descida e
para participar no mercado de energia e de serviços ancilares.

Essas usinas virtuais são controladas por centrais que processam dados de mercado atacado,
previsões do tempo, suprimento de energia e demanda para otimizar a operação dos REDs
despacháveis. O agregador pode aumentar a flexibilidade da rede, com serviços ancilares, para
injeção de novas energias renováveis variáveis, reduzir custo marginal ao reduzir um pico de
demanda que obrigaria o despacho de uma usina térmica ou ainda adiar a necessidade de novos
investimentos no sistema de transmissão devido à redução de demanda.

Neste contexto, há espaço para uma maior coordenação TSO-DSO (Transmission System
Operator e Distribution System Operator, respectivamente operador do sistema de transmissão
e operador do sistema de distribuição em inglês)[24] na qual será necessária uma interação
muito mais estreita do que é atualmente entre o operador da rede de transmissão e os
operadores da rede de distribuição. Esta coordenação deverá permitir ao TSO adquirir serviços
que trazem mais segurança ao sistema que são prestados pelos ativos instalados na rede de
distribuição e otimizar esses ativos quando estes podem prestar serviços a diferentes agentes.
Todas estas discussões, tanto as centradas no papel dos agregadores como as centradas na
coordenação entre operadores, podem ser aplicadas a todo o conjunto de recursos distribuídos
e não são específicas às tecnologias de armazenamento.
Na Alemanha, os serviços prestados pelas VPP aos TSO é um serviço já difundido. A empresa
Next, fundada em 2009, iniciou a prestação de serviço de reserva para os 4 principais TSOs da
Alemanha em 2013 com a VPP Next Pool, que possuía na época 500MW. Atualmente a empresa

PSR 40
conta com 4GW de capacidade agregada, tendo baterias em seu portfólio desde 2016, e presta
serviços ancilares, balanceamento de geração e demanda, para 7 TSOs Europeus. A Next é
operadora da própria VPP e participa dos leilões dos TSOs para prestação de serviços. Em caso
de desequilíbrio de frequência, a empresa recebe um pedido do operador do sistema solicitando
uma certa quantidade de reserva de controle. Internamente, o operador da VPP através de
decisões de modelos de simulação decide qual ativo fornece quanta reserva de controle, com
base nas restrições individuais dos ativos. As respectivas unidades são então aceleradas ou
reduzidas rapidamente. Os donos dos ativos recebem receita adicional por este serviço.[67].

Nos EUA as FERC emitiu recentemente a order No 2222 que obriga os operadores dos sistemas
isolados e regionais a incluírem esses agregadores a suas tarifas, como será melhor visto na Seção
6.2.2.3. Nesse ponto é interessante notar a proporção que esses agentes podem chegar no
sistema, sendo previsto até 2025 que os REDs totalizem cerca de 350GW de potência instalada,
sendo veículos elétricos, placas solares em telhados e coberturas e gerenciamento de demanda
residencial e armazenamento em baterias os principais representantes desse grupo em ascensão
no país. [23]
Para o Brasil, o uso de VPP também poderia ser utilizado em que se poderia participar do
gerenciamento de carga, o ERAC (Esquema regional de alívio de carga). Este tópico poderá ser
melhor abordado no relatório de diagnóstico e sugestões para o setor elétrico.

4.3 Difusão dos serviços prestados


A penetração do armazenamento na prestação de cada serviço depende tanto da tecnologia
como das características do sistema e da sua regulação. Segundo [9], a nível global, o
armazenamento mecânico, especialmente o bombeamento hidroelétrico, é utilizado
principalmente para deslocar a produção e a demanda no horizonte diário (Figura 20). O
armazenamento eletroquímico é principalmente utilizado para fornecer serviços
complementares de regulação de frequência. O armazenamento térmico, por outro lado, está
mais associado ao backup de plantas renováveis intermitentes (devido, sobretudo, à sua
utilização em plantas termo solares).

PSR 41
Figura 26 - Serviços prestados por SA divididos por tecnologia. Fonte: [9]

De acordo com o Departamento de Energia dos EUA (Department of Energy, ou DOE) [37],
considerando todas as tecnologias de sistemas de armazenamento, e os projetos de SA instalado
até agosto de 2020, cerca de 1600, os serviços ligados ao balanço oferta-demanda considerando
o deslocamento de produção são as mais proeminentes, e que cerca de 43% dos projetos de SA
existentes no mundo tem essa finalidade. No hall de serviços ancilares, o serviço de regulação
de frequência é prestado por cerca de 20% dos projetos enquanto o serviço de suporte de tensão
é prestado por apenas 1% dos projetos. É possível ver que o mesmo projeto pode fornecer
serviços diferentes como será melhor visto mais à frente.

Figura 27 - Serviços prestados por SA instalados no mundo – Data referência Agosto 2020. Fonte: [37]

PSR 42
A Figura 27 também explicita que o mesmo projeto de SA pode fornecer serviços diferentes,
uma vez que o somatório no gráfico resulta em 2660 e na base de dados há 1600 projetos. Este
assunto será visto mais à frente.

No próximo capítulo serão ilustrados, de forma não exaustiva, alguns exemplos dos serviços
prestados pelo SA em diferentes países.

PSR 43
5 ADOÇÃO DAS TECNOLOGIAS – EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL
Este capítulo tem como objetivo abordar a temática da experiência internacional de utilização
das tecnologias de sistemas de armazenamento. Será visto inicialmente a evolução do
crescimento dos SA ao longo dos anos considerando uma abordagem geográfica amplificada, e
em seguida, dada a classificação dos serviços, comentado no capítulo 4, será mostrada a
utilização dos países na adoção dos serviços.
Os SA mais utilizados no mundo são: Usinas Reversíveis, Baterias, Ar comprimido,
Armazenamento térmico e Flywheels (volante de inércia). Como dito anteriormente em 3.1.1.1
as Usinas Hidrelétricas com reservatório tradicional não são consideradas na literatura
internacional como Sistemas de Armazenamento. Porém, essas possuem o mesmo princípio de
transformação de energia, transformam energia potencial gravitacional em energia elétrica e
conseguem armazenar energia no presente para utilização em um momento futuro.
Adicionalmente em [35] destaca-se que em alguns países como Brasil e Chile possuem um
parque hidrelétrico com reservatório que tradicionalmente tem prestado os serviços de
arbitragem, serviços ancilares e serviços de confiabilidade. Em sistemas com predominância
hidráulica, salienta-se que os sistemas de armazenamento são as UHEs convencionais e estas
devem sim ser consideradas como SA.
Uma estratificação em grandes áreas geográficas é mostrada na Tabela 3, que ilustra a utilização
de diferentes SA no mundo. É possível observar que as usinas reversíveis e as UHEs com
reservatório ainda são as mais utilizadas, mas os principais incrementos na capacidade instalada
dessa tecnologia nos EUA e na União Europeia ocorreram até a década 1990, diferentemente do
Japão e China que aumentaram suas capacidades ainda mais recentemente.

Tabela 3 - Tecnologias de armazenamento utilizados nos principais mercados elétricos do mundo.


Elaborado por PSR. Fonte: [30][31][36][37][38][39]
CAPACIDADE

USINAS UHE
INSTALADA BATERIA AR COMPRIMIDO ARMAZENAMENTO TÉRMICO FLYWHEEL
REVERSÍVEIS
COM RESERVATÓRIO
TOTAL [MW]

ESTADOS
21.671,50 33.828,00 1.013,30 110,00 405,00 47,00
UNIDOS

UNIÃO
47.561,53 36.855,18 5 1.216,85 290,50 946,80 408,24
EUROPEIA

AMÉRICA
1.024,80 115.397,54 54 - 10,50 -
LATINA

CHINA 31.399,00 149.168,00 1.709,60 12,09 419,33 3,22

5 O banco de dados de hidroelétricas com reservatórios na Europa contempla somente os seguintes países: Alemanha,

Austria, Bélgica, Suiça, República Tcheca, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Itália, Holamda Noruega, Polônia,
Suécia, Eslováquia, Eslovênia e Reino Unido

PSR 44
JAPÃO 27.421,78 4.065,80 209,35 - - -

TOTAL 129.078,61 334.660,52 4.183,68 412,59 1.781,63 458,46

As baterias, tecnologia de armazenamento em ascensão, ainda se mostra tímida na América


Latina em comparação com os números dos EUA, China e União Europeia. Atualmente
somente Chile apresenta projetos em operação de baterias, no norte do país, nas regiões Arica
e Antofagasta[30] e a Colômbia está com projeto para ser licitado de um sistema com bateria
de Lítio íon de 50MW para atender o sistema de transmissão regional (tensão de até 110kV) em
Atlántico para mitigar possíveis faltas de energia devido à insuficiência da rede de transmissão.
[10]
A China, após o ano 2000, aumentou em 10 GW a capacidade instalada total de usinas
reversíveis a cada 10 anos, como visto na Figura 28. De acordo com [36], é planejado que até o
final de 2020 chegue em 40 GW e ao final de 2025, 90 GW.

Figura 28 - Crescimento da capacidade instalada de usinas reversíveis na China. Elaborado por PSR.
Fonte: [37]

Em 2018, o país ainda apresentou um alto número de novos desenvolvimentos em baterias,


com crescimento anual de 175,2%, com uma pequena redução em 2019, tendo um crescimento
a uma taxa mais razoável de 59,4% [36]. A diminuição em 2019 foi devido a uma queda da
lucratividade de novos projetos, pela falta de novos incentivos fiscais.

Figura 29 - Crescimento da capacidade instalada de baterias na China. Fonte [36]

Para se manter um alto nível de crescimento de sistemas de armazenamento são utilizados


diversos mecanismos para fomentar o mercado, tais como: mercado, mecanismo de ajuste de

PSR 45
preços, inovações tecnológicas e suporte de políticas relevantes. Através de pesquisas com
fornecedores de sistemas de armazenamento, CNESA (China Energy Storage Alliance –
Associação chinesa da indústria de armazenamento de energia) [36] prevê que nos próximos
cinco anos o mercado chinês de sistemas de armazenamento vai se manter em um
desenvolvimento estável e rápido. Em uma previsão conservadora, eles estimam um total de
mais de 15GW de capacidade instalada até 2024 e para um cenário ideal, eles consideram cerca
de 23 GW até o mesmo ano. Cabe ressaltar que nessas estimativas as usinas reversíveis não estão
levadas em consideração. Em ambos cenários, a bateria é o elemento armazenador que verá o
maior crescimento.
Assim como na China, a principal tecnologia de armazenamento instalada atualmente nos EUA
é de usina reversível, constituindo cerca de 97% dos sistemas de armazenamento do país.
Porém, a evolução dessas tecnologia ocorreu a partir de 1970, com um crescimento acentuado
até os anos 2000, quando atingiu cerca de 21GW de capacidade instalada, valor que não
apresentou grande variação desde então, como pode ser visto na Figura 30.

Figura 30 –Evolução histórica de usinas reversíveis instaladas nos EUA. Fonte: [31], elaborado por PSR

A Figura 31 mostra a evolução das principais tecnologias, alternativas às reversíveis. A partir de


2003 o armazenamento de energia por meio de bateria teve um movimento crescente nos EUA,
com destaque a tecnologia NiCd. Desde os anos 2000, as novas instalações de armazenamento
inseridas nos EUA foram quase exclusivamente de baterias. [34]

Figura 31 –Evolução histórica da capacidade instalada por tecnologia nos EUA. Fonte: [31], elaborado
por PSR

PSR 46
O EIA (U.S – Energy Information Administration) [34] normalmente divide as baterias em
duas categorias, de grande escala, que está conectada diretamente à rede de transmissão e possui
capacidade nominal maior que 1 MW e as baterias de pequena escala, que possuem menor
capacidade nominal e normalmente são conectadas ao sistema de distribuição, para atender os
consumidores finais. Da capacidade total instalada de baterias nos EUA, 869 MW foram
instaladas até 2018 na categoria de grande escala, a maioria por geradores independentes.

Ainda nesse ano, as baterias de baixa escala correspondiam a um total de 234MW instalados,
sendo 50% no setor comercial, 31% em residências, 15% na indústria e 3% diretamente nas
redes de distribuição das utilities. [34]

Como pode ser visto na Figura 32, a bateria de lítio é a principal utilizada no sistema dos EUA,
correspondendo a 92% do total, isso devido à alta eficiência durante o ciclo completo, ao tempo
curto de resposta e alta densidade de energia. [34]

Figura 32 – Capacidade instalada de bateria de grande escala por química. Fonte: [34]

Avaliando a inserção dos sistemas de armazenamento nos mercados das jurisdições dos EUA,
verificou-se que as baterias de grande escala são inseridas no sistema principalmente para
prestação do serviço de regulação de frequência, correspondendo a 75% da capacidade total
instalada. Em seguida estão a prestação de serviço de reserva de capacidade de operação e
suporte de tensão. A Figura 33 mostra a distribuição dos serviços prestados pelas baterias para
cada operador dos sistemas nos EUA.

Figura 33 - Aplicações de baterias, Fonte: [34]

PSR 47
A tendência de crescimento, dos últimos 10 anos, do uso de baterias é vista também nos países
europeus, devido ao desenvolvimento da tecnologia de baterias de Íon -Lítio e consequente
redução de custo. No continente europeu, os países atualmente com maior número de projetos
em operação e em desenvolvimento são Reino Unido, Espanha e Alemanha conforme mostra a
Figura 34.

Figura 34 - Capacidade de potência instalada dos sistemas de armazenamento por país no mercado
europeu Fonte [39]

Até agosto de 2020 havia cerca de 13 GW capacidade de SA instalada no Reino Unido, 7.0 GW
na Espanha e 6.7GW na Alemanha É importante salientar que a base de dados disponibilizada
não inclui o armazenamento distribuído atrás do medidor. Porém, observa-se alguns projetos
de pequena escala:35 projetos do Reino Unido são de baterias de pequeno escala totalizando 25
MW, na Alemanha esse número é de 15 projetos e 20 MW e na Irlanda as baterias de pequena
escala em Dublin da Tesla totalizaram 2 MW, divididos em 2 projetos.[39]
Separando os SA pela natureza da tecnologia, nos países do continente europeu com maior
presença de sistemas de armazenamento, observa-se que o SA mais proeminente são as usinas
reversíveis, Figura 35.

PSR 48
Figura 35 - Projetos atualmente em operação – União Européia. Fonte: [39], elaborado por PSR

Colocando foco nos sistema de armazenamento eletroquímicos, observa-se que o crescimento


da capacidade instalada de baterias de larga escala na União Europeia iniciou após 2013 como
mostra a Figura 36.

Figura 36 - Evolução da capacidade instalada de baterias na UE e EUA. Fonte: [37][39]

Além disso, é interessante observar também o crescimento do uso de armazenamento térmico,


visto na Figura 37, isso ocorreu na última década, principalmente na Espanha, que possui
atualmente 53 projetos de usinas térmicas solares, majoritariamente com armazenamento de
sal fundido[40].

PSR 49
Figura 37 - Evolução das tecnologias de SA na EU. Fonte [39]

O futuro para os sistemas de armazenamento eletroquímicos de larga escala também é


promissor no continente Europeu. A Figura 38 mostra os projetos existentes, em construção,
autorizados e com pedidos de autorização. Observa-se que a Irlanda, que não inicialmente não
aparecia na lista de países com grande capacidade instalada de SA, passa para segunda posição
somente abaixo do Reino Unido.

Figura 38 - Capacidade de potência instalada de baterias por país no mercado europeu, considerando
baterias em operação e projetos. Fonte [39]

Os principais serviços prestados pelos SA serão apresentados nas seções subsequentes


destacando a experiência dos países que fazem uso desses serviços.

5.1 Balanço geração – demanda

5.1.1 Curto prazo: serviços ancilares (complementares)

Como visto em 4.1, os serviços ancilares, classificados como serviços de curto prazo incluem os
serviços de regulação de frequência, controle de tensão e reativo e partida independente (Black
– Start).

As baterias inseridas no sistema de grande porte do Chile, além de fornecerem o serviço de


arbitragem para o sistema, também prestam serviço de regulação de frequência. O Chile é o

PSR 50
único país na América Latina com projetos localizados de bateria, totalizando 32 MW
atualmente de capacidade instalada, sendo que 100% dos projetos atuam com serviços ancilares
de regulação de frequência 6, conforme Figura 39. A América Latina, mais especificamente na
Argentina, possui ainda uma usina reversível que garante uma reserva de capacidade girante ao
sistema. A capacidade instalada da usina é de 750 MW e ela fornece ainda serviço de arbitragem,
como será visto na seção 5.1.3.

Na Europa, observa-se a grande utilização de baterias de Lítio para o serviço de regulação de


frequência. O total de capacidade instalada é de 1.1 GW[39], em que 73% das baterias desse
tipo, no continente, atuam com serviço ancilar. E aqui é interessante notar a participação do
volante de inércia para regulação de frequência na Europa. Devido à sua rápida resposta e
frequente ciclo de carregamento/descarregamento, o volante de inércia (flyweels) é um bom
regulador de frequência [41]. Na Europa, há somente um projeto dessa tecnologia, e por isso a
Figura 39 mostra que 100% dessa tecnologia na Europa exerce essa função.

Figura 39 - Tecnologias de armazenamentos que prestam serviços complementares de regulação de


frequência. Elaborado por PSR. Fonte: [37]

Este projeto de volante de inércia é o maior no mundo em relação a potência nominal. Está
localizado no Reino Unido, totalizando 400MW, utilizados no centro da EURATOM (European
Atomic Energy Community), onde são realizados testes com fusão nuclear. Um experimento,
com duração de 20 segundos, chega a consumir da rede 1000 MW, o que corresponde a uma
grande fração da capacidade da estação de energia local. O volante de inércia é carregado
durante muitos minutos e é descarregado na rede rapidamente, diminuindo congestionamento
da rede local, devido à redução de demanda durante os experimentos. [41] Além desse
equipamento na Europa, nos EUA um projeto de Flywheel de 20 MW regula a frequência no
sistema de Nova York. Outro projeto dessa tecnologia se encontra na Pensilvânia, também com

6O projeto Los Andes e AES Angamos, ambos da AES Gener, fornece serviços de contingência críticos para manter
a estabilidade da rede elétrica no norte do Chile, uma importante área de mineração. Os projetos monitoram
continuamente a condição do sistema de energia e se ocorrer um desvio de frequência significativo, como a perda de
um gerador ou linha de transmissão, o sistema Los Andes fornece até 12 MW e AES Angamos fornece até 20MW de
energia quase que instantaneamente. A saída pode ser mantida por 20 minutos e 15 minutos na potência máxima,
respectivamente, permitindo que o operador do sistema resolva o evento ou coloque outras unidades em espera
online.

PSR 51
20MW, projetado para 20 anos de vida útil e 100.000 ciclos completos de descarga, podendo
responder em até 2 segundos. [42]

5.1.2 Longo prazo: mecanismos de confiabilidade


Além disso as usinas reversíveis são muito acionadas para garantir uma maior confiabilidade ao
sistema dos países analisados, principalmente para garantir uma reserva de capacidade de
suprimento, rotativo e não rotativo. Das usinas totais presentes no sistema dos EUA, 21GW,
cerca 54% atua para aumentar a confiabilidade do sistema, na América Latina essa participação
aumenta para 73% de um total de 1 GW, contando com usina reversível Los Reyunos na
Argentina, 224 MW e Pedreira em São Paulo – Brasil, 20 MW. Na União Europeia, do total de
47GW de usinas reversíveis, 88% prestam o serviço de confiabilidade.
Na América Latina, o Chile apresenta as baterias para prestação desse serviço. O projeto de
20MW aumenta a capacidade de reserva de suprimento rotativa e por isso pode-se considerar
que 100% das baterias em operação no Chile acrescentam à confiabilidade do sistema. Esse é
ainda um exemplo que um sistema de armazenamento pode prestar múltiplos serviços. Essa
mesma usina do Chile também presta serviço de arbitragem.

Figura 40 - Tecnologias utilizadas para aumentar confiabilidade do sistema. Elaborado por PSR. Fonte:
[37]

5.1.3 Horizonte diário: mercado e despacho


As usinas reversíveis são principalmente usadas, nos EUA, países europeus e latino americanos
para deslocamento de carga, gerando na hora de ponta e armazenando fora da ponta, reduzindo
o custo da energia. Todas PHS, listadas, da América Latina, desempenham essas funções sendo
que na Argentina há 2 projetos, que totalizam 974MW de capacidade instalada e no Brasil há
um projeto de 20MW em São Paulo. [38]
Vale notar que as usinas norte-americanas e alemã de ar comprimido também são utilizadas
para deslocamento de carga, assim como as usinas térmicas solares da Espanha.

PSR 52
Projetos de baterias de íon lítio estão em desenvolvimento nos EUA e Europa, principalmente
Alemanha, Reino Unido e Irlanda para aumentar a flexibilidade do sistema e deslocar a geração
no tempo. Atualmente, devido à baixa capacidade de armazenamento de energia, elas são mais
utilizadas no controle de frequência, devido ao tempo rápido de resposta. Como pode ser visto
na Figura 41, somente 17% das baterias no EUA atuam com suporte ao despacho e 23% na
Europa no total de 980 MW e 1164 MW respectivamente.
Há ainda o armazenamento de energia em usinas solares com sal fundido. Os EUA possuem 3
usinas desse tipo totalizando atualmente 405 MW de capacidade nominal instalada que são
utilizadas para atender à demanda nas regiões instaladas, como mostrado na Figura 41, toda
fornecem esse serviço. No Chile há atualmente 5 projetos em construção de usinas termo
solares, sendo que 2 estão parados devido a problemas financeiros da Abengoa.

Figura 41 - Tecnologias voltadas para atender o mercado dando suporte com despacho. Elaborado por
PSR. Fonte: [37]

5.2 Serviços para rede

5.2.1 Serviços para a rede de transporte


A bateria de níquel cadmio do Alaska de 27MW, gera uma compensação de reativo, melhorando
a qualidade da energia do sistema de transmissão. No sul da Itália, existem três projetos, da
operadora de transmissão Terna, em operação de bateria de sódio enxofre, totalizando 35 MW,
com capacidade para fornecimento de energia por cerca de 7 horas, para fornecer regulação de
frequência, suporte de tensão e aliviamento de congestionamento da transmissão. [44]

PSR 53
Figura 42 - Tecnologias SA que prestam serviços na rede de transmissão. Elaborado por PSR. Fonte: [37]

5.2.2 Serviços para a rede de distribuição


Serviços de distribuição, behind the meter, ainda estão em ascensão, com poucos dados
disponíveis atualmente. [39] Porém, como dito anteriormente, o volante de inércia, utilizado
na Inglaterra, fornece um serviço de aliviamento do congestionamento do sistema de
distribuição durante os testes realizados, devido à grande potência fornecida em curto espaço
de tempo. A bateria de níquel cadmio aparece em um projeto de 2003, em Fairbanks, Alaska
com 25MW, capaz de fornecer potência durante 15 min, caso haja uma falha na geração local.
No Chile, foi localizado somente um projeto de bateria 180kW destinado ao deslocamento On-
Site de geração renovável e aumentar a capacidade da microgrid constituída por geração solar e
geradores diesel no Tierra Atacama Hotel. [43] Essa potência corresponde a menos de 2% da
capacidade total instalada de bateria de Lítio no país.

Figura 43 - Tecnologias SA que prestam serviços na rede de distribuição. Elaborado por PSR. Fonte: [37]

PSR 54
6 MODELOS DE NEGÓCIOS – EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL
Neste capítulo serão abordados alguns modelos de negócio relacionados aos serviços prestados
pelos SA.

6.1 Mecanismos de mercado ligados aos serviços dos SA


A seguir serão apresentados os modelos de mercados regulamentados em alguns operadores de
transmissão dos EUA. De uma forma geral, nos EUA, a FERC (Federal Energy Regulatory
Comission) emitiu a Order 841 em 2018 [68] que adiciona ao código de regulação federal a
definição de Recurso de Armazenamento de Energia (ESR – Energy Storage Resource) como
sendo um recurso capaz de receber energia da rede e armazenar para reinjetar essa energia em
outro momento na rede. [68]

O regulamento fornece diretrizes e estabelece que cada operador de transmissão (ISO/RTO –


Isolated System Operator/ Regional Transmission Organization) nos estados americanos deve
criar um modelo de participação para os ESRs nos mercados de energia.

Os modelos devem respeitar os seguintes critérios: [68]

• Deve ser garantido que os ESR podem vender no mercado de energia, de capacidade e
de serviços ancilares, nos casos em que eles são tecnicamente capazes de prover.
• Os ESRs podem ser despachados e ajustar preços como vendedores e compradores no
mercado varejista;
• Deve-se contabilizar as características físicas e operacionais dos recursos de
armazenamento através de parâmetros de licitação ou outros meios;
• Limite mínimo deve ser 100kWh.
• A energia armazenada e posteriormente revendida de volta ao mesmo mercado da
compra deve possuir o preço marginal atacadista local.

Este regulamento é muito importante para a realidade americana, pois com ele a FERC atua
para aperfeiçoar, através de práticas uniformes, as regras para a integração dos ESRs nos
mercados de eletricidade americanos. A seguir discutiremos as regras existentes em cada
mercado específico.

6.1.1 Serviços ancilares

6.1.1.1 PJM

A utilização de reservas de capacidade é necessária para proteger o sistema elétrico de pontos


operativos resultantes da incerteza das fontes renováveis e da flutuação de demanda e falha de
unidades geradoras [73]. A participação de SA no mercado de reserva de capacidade, serviço
ancilar e energia é previsto através das diretivas estabelecidas pela FERC em 2018. [74] Ou seja,
os SA podem participar desses três mercados, porém como eles são otimizados [75], as fontes
não podem prestar dois serviços no mesmo instante de tempo.

Dentro do mercado de reserva, existem produtos diferenciados tais como os mostrados na


Figura 44.

PSR 55
Figura 44 – Tipos de Reserva no mercado do PJM. [73]

Como pode ser visto na figura anterior, os tipos de reserva são diferenciados de acordo com o
tempo necessário para a resposta do sistema. Existem produtos de tempo de resposta de até 30
min, que é o Day Ahead Scheduling Reserve, o tipo de resposta de até 10 min, o mercado de
Reserva Primária7, e a Reserva Secundária com o tempo de resposta de 10 a 30 min.

A Figura 45 resume a separação do mercado de reserva, em que se pode observar a divisão da


reserva primária em reserva sincronizada e não sincronizada. A reserva sincronizada é dividida
em conjuntos chamados Tier 1 e 2. O Tier 2 ainda divide os produtos em flexível e inflexível.

Figura 45 – Mercado de Reservas - PJM. Fonte: [73]

As reservas Tier 1 são reservas atreladas ao despacho econômico do mercado e operam de forma
que sua capacidade não seja totalmente utilizada. A não utilização completa da capacidade no
despacho é porque as usinas devem, quando solicitadas, aumentar sua geração no intervalo de
até 10 min. A reserva Tier 2, possuem fontes que estão ofertadas dentro do mercado de reserva
sincronizado e possuem desempenho confiável. Os Sistemas de Armazenamento podem
participar da reserva sincronizada Tier2, e somente do Tier 1 caso requisitem e dependem da
aprovação do PJM. [74]. As usinas reversíveis podem participar das reservas não sincronizadas,
uma vez que off line, conseguem optar a suprir o serviço em 10 min. Os outros SA só poderão
participar de reservas sincronizadas.

7 sincronizadas ou não com a rede;

PSR 56
Os serviços de reserva sincronizada requisitados pelo PJM são serviços de confiabilidade. Suas
ofertas abrangem 4 tipos de ofertas, Offer MW, Offer Price, Condense Energy Use e Condenses
Startup Cost. Destaca-se os dois primeiros produtos, a oferta de MW e a oferta de preço

• Offer MW, é o total de reserva sincronizada oferecida pela unidade geradora. A reserva
sincronizada é definida conforme o valor de aumento de potência que a unidade geradora
pode realizar em 10 min;
• Offer Price, que deve ser um número positivo não maior do que o custo de Operação e
Manutenção (O&M) da unidade geradora (determinado por um comitê) acrescido de
uma margem de USD 7.50/MWh.

Há requisitos explícitos de Must Offer para as reservas sincronizadas Tier 2 (PJM, 2020c):

• Todos os recursos que não sejam de emergência que possam prover energia e reserva
sincronizada devem submeter as ofertas em Tier 2. Isto é aplicável somente durante
períodos para os quais o PJM acionou um Aviso de Reserva Primária, Aviso de Redução
de Tensão ou Aviso de Rejeição Manual de Carga.

Figura 46 – Linha do tempo do mercado de reserva sincronizada. Fonte: [73]

As ofertas de reserva sincronizada Tier 2 devem ser submetidas até às 14:15 do dia anterior ao
dia de operação. O clearing price das reservas sincronizadas e não sincronizadas são calculados
a cada 5 min durante a hora de operação pela Locational Price Calculator, entretanto o mercado
de reserva não sincronizada é baseado em custo.

Nos Estados Unidos, a regulação de frequência é equivalente ao controle de frequência


secundária, enquanto o controle de frequência primário é mais comumente conhecido como
resposta de frequência. O meio mais comum para uma unidade fornecer regulação de
frequência é seguindo um sinal de controle de geração automática (Automatic Generation
Control -AGC, em inglês) do operador do sistema, que calcula o erro de controle de área (Area
Control Error, ACE, em inglês) de desvios de frequência e desequilíbrios de energia de
intercâmbio. De acordo com a Figura 44, o mercado de regulação de frequência está atrelado
ao Day Ahead Scheduling Reserve – secondary Reserves.

Para criar um incentivo para que as unidades de resposta rápida participem da regulação de
frequência, a Federal Energy Regulatory Commission (FERC) que exigiu que os operadores de
sistema adicionassem um pagamento por desempenho com um ajuste de precisão ao

PSR 57
pagamento de capacidade normalmente usados em mercados de serviços ancilares. Dessa
forma, no PJM, o mercado de regulação de frequência possui pagamento por desempenho.

O serviço de regulação de frequência é compensado com base em três componentes principais


[59]:
(i) Regulation capacity (𝐶𝐶) (Capacidade de regulação): quão bem um recurso segue um sinal
de regulação
(ii) Regulation Mileage (𝑀𝑀) (Capacidade de regulação): Quantidade absoluta de regulação
para cima e para baixo
(iii) Performance factor (𝜌𝜌): é uma pontuação de 0 a 1 que indica o desempenho de uma
unidade em seguir o sinal de regulação. O PJM incorpora medidas de atraso, correlação
e precisão da resposta dos equipamentos.

Os participantes do mercado day-ahead regulation, devem oferecer lances de preço de


Regulation capacity e um lance de preço de Regulation Mileage. É importante destacar que o
preço ofertado pelo serviço de regulação não pode ultrapassar o limite de 100 $/MW. [75].O
operador do sistema credita aos fornecedores de regulação o preço de compensação Regulation
capacity de mercado (𝜆𝜆𝐶𝐶 ), o preço de compensação Regulation Mileage (𝜆𝜆𝑀𝑀 ) e o fator de
desempenho de sua unidade durante o período de aquisição. É importante destacar que uma
unidade de máquina deve atingir uma pontuação mínima de desempenho para ser qualificada
para receber créditos e manter esse desempenho mínimo durante um determinado período para
ser elegível para licitar no mercado regulamentar no futuro.
O crédito de regulação no mercado do PJM pode ser descrito como:
𝑀𝑀
𝜆𝜆𝑅𝑅 = 𝜌𝜌𝜌𝜌 ∗ (𝜆𝜆𝐶𝐶 + ∗ 𝜆𝜆𝑀𝑀 )
𝑀𝑀𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅

O termo Reg A será explicado em seguida. O mercado de regulação de frequência do PJM


considera dois tipos de sinais de regulação: (i) sinal tradicional, mais lento, chamado Reg A e,
(ii) um sinal mais rápido, chamado Reg D. Os SA de baterias, que são recursos dinâmicos e de
acionamento rápido, estão atrelados ao sinal RegD. Este sinal mais rápido tem também a
particularidade de garantir uma energia líquida nula no horizonte horário (ou seja, a elevação
de energia que é demanda ao recurso é igual à energia a ser diminuída no horizonte horário).
Este serviço apresenta características claramente concebidas para uma integração eficiente do
armazenamento (avalia a resposta rápida e dá uma solução às limitações energéticas).

O problema com este desenho surge no momento de definir a reserva obrigatória. Como
existem dois serviços com características diferentes, é necessário definir um sistema de
equivalência entre eles. Dessa forma, foi decidido utilizar fatores de equivalência (que definem
o "valor" do Reg D em relação ao Reg A) que variam com a quantidade de reservas de Reg D
adquiridas de acordo com uma curva pré-definida que pode ser vista na Figura 47.

PSR 58
Figura 47 -Curva de equivalência entre Reg A e Reg D utilizada no PJM. [53]

O eixo x representa a percentagem de reservas cobertas através do serviço Reg D, enquanto o


eixo y representa o fator pelo qual o montante da oferta Reg D é multiplicado para equivalência
com as ofertas Reg A.

A linha do tempo do mercado de regulação segue a mesma cronologia mostrada na Figura 46 e


exemplificada na Figura 48.

Figura 48 – Linha do tempo do Market Clearing PJM Fonte: [75]

As ofertas de regulação devem ser submetidas até às 14:15 do dia anterior ao dia de operação.
O clearing price da regulação é calculado a cada 5 min durante a hora de operação pela Locational
Price Calculator .

PSR 59
Figura 49 – Processo do Market Clearing PJM Fonte: [75]

6.1.1.2 CAISO

O CAISO opera dois mercados para melhorar a integração da geração renovável, manter a
confiabilidade do sistema e eficiência de custo: Mercado do dia seguinte (Day Ahead Market -
DAM) e o Mercado em tempo real (Real Time Market – RTM).

O mercado DAM, como o próprio nome diz, é o mercado estimado para o dia seguinte. O
processo inicia-se com a estimativa do perfil da demanda do dia seguinte para assim prosseguir
com a contratação de energia para o atendimento às cargas. O CAISO utiliza as ofertas para
planejar a operação do dia seguinte ao menor custo e atendendo todas as necessidades de
confiabilidade do sistema. As ofertas do DAM podem ser de energia física, virtual ou serviços
ancilares e com a contratação desses produtos, o mercado esboça uma primeira imagem de qual
será a geração e demanda do dia seguinte e durante esse processo.

Já no mercado RTM, os resultados do DAM são utilizados junto com outros dados para
contratar energia de balanceamento no curto prazo. Os proponentes oferecem energia e serviços
ancilares para atenderem a mudanças que possam ocorrer depois da simulação do DAM e ele é
realizado a cada 15 minutos e a cada 5 minutos. O RTM pode definir instruções para aumento
de geração ou redução.

Juntamente com o DAM, o Real Time Market (RTM) compõem o mercado de atacado do
CAISO para energia e serviços ancilares. Os serviços ancilares no mercado do CAISO são
produtos para manter a confiabilidade da rede e são contratados em sua totalidade no DAM,
mercado foward de compra e venda de energia em quantidade, preço e tempo de entrega
específicos, no futuro. Entretanto, o ajuste fino dos serviços ancilares se encontram no RTM.
Assim como no PJM, os serviços ancilares no CAISO também são remunerados por
performance.

De forma resumida, os dois mercados se diferenciam:

PSR 60
i) no tempo de contratação: o DAM contrata para atender demanda do dia seguinte,
sendo realizado uma vez por dia, enquanto o RTM atende a demanda da hora seguinte,
num intervalo de 15 e 5 minutos;
ii) O DAM contrata toda energia necessária para serviços ancilares do dia seguinte, mas o
RTM contrata serviços ancilares para possíveis demandas adicionais que surgem em
tempo real.

Os serviços ancilares contratados tanto durante o DAM como o RTM consistem em produtos
que agregam à confiabilidade da rede e estabilidade. Os serviços vendidos nesses mercados são
de regulação de frequência para cima e para baixo, que consistem no controle de frequência do
sistema, aumentando-a ou reduzindo -a. Nesses casos, os ativos devem aumentar a produção
de energia ou diminuir.

Outro serviço que pode ser vendido são as reserva girante e não girante. A primeira é a
capacidade de unidades geradoras atenderem a um sinal de controle em 10 minutos. Enquanto
reserva não girante é a capacidade do ativo, que pode estar sincronizado com a rede e gerar
energia em uma potência específica, também dentro de um intervalo de 10 minutos.

A Figura 20 apresenta o processo de oferta no processo do DAM, no qual estão inseridos os


serviços ancilares.

Figura 50 Processo de oferta no DAM. Fonte:[77]

O serviço de regulação de frequência é compensado com base em três componentes principais


[59]:

(i) Regulation capacity (𝐶𝐶) (Capacidade de regulação): quão bem um recurso segue um sinal
de regulação - Regulation up e regulation down
(ii) Regulation Mileage (𝑀𝑀) (Capacidade de regulação): Quantidade absoluta de regulação
para cima e para baixo
(iii) Performance factor (𝜌𝜌): é uma pontuação de 0 a 1 que indica o desempenho de uma
unidade em seguir o sinal de regulação.

Os participantes do mercado DAM devem oferecer lances de preço de Regulation capacity e um


lance de preço de Regulation Mileage e o operador do sistema credita aos fornecedores de
regulação o preço de compensação Regulation capacity de mercado (𝜆𝜆𝐶𝐶 ), o preço de
compensação Regulation Mileage (𝜆𝜆𝑀𝑀 ) e o fator de desempenho de sua unidade durante o
período de aquisição. É importante destacar que uma unidade de máquina deve atingir uma
pontuação mínima de desempenho para ser qualificada para receber créditos e manter esse
desempenho mínimo durante um determinado período para ser elegível para licitar no mercado
regulamentar no futuro.

PSR 61
O crédito de regulação no mercado do CAISO pode ser descrito como:
𝜆𝜆𝑅𝑅 = 𝜌𝜌𝜌𝜌 ∗ (𝜆𝜆𝐶𝐶 + 𝜌𝜌𝜌𝜌𝜆𝜆𝑀𝑀 )
O CAISO trata os SA como recursos não geradores (Non Generator Resource, NGR). As unidades
NGR têm duas opções de participação no mercado regulatório: no - REM (Regulation Energy
Management) (tradicional) e REM.
As unidades no -REM estão sujeitas aos mesmos requisitos que as unidades de regulação
tradicionais e devem atender ao requisito de energia contínua de 60 minutos (ou seja, para
fornecer capacidade de regulação de 1 MW, uma unidade NGR no-REM deve ser capaz de
fornecer pelo menos 1 MWh). Já a necessidade de energia contínua para unidades NGR-REM
é de 15 minutos. As unidades NGR-REM só podem participar do mercado de regulação CAISO,
e a assinatura do REM pode ser alterada mensalmente. CAISO compensa o deslocamento de
energia das unidades NGR-REM. Ao participar do REM, uma unidade NGR envia um ponto
de despacho considerando o State of Charge (SoC) a sua escolha. O CAISO manterá este ponto
de acionamento despachando energia do RTM para o próximo intervalo de despacho em tempo
real. Essa energia de equilíbrio é enviada para cada unidade NGR-REM junto com o sinal AGC
pelo Sistema de Gerenciamento de Energia (Energy Manager System - EMS). O EMS também
leva em consideração a eficiência da unidade no despacho. A compensação de energia REM é
garantida durante as operações normais, enquanto em casos de emergência o SoC é restaurado
posteriormente. Na liquidação do mercado de regulação CAISO, a energia de regulação cobrada
e descarregada do armazenamento e a energia REM despachada são liquidadas ao preço
marginal locacional (Locational Marginal Price, ou LMP) do RTM, além da liquidação da
capacidade e da quilometragem. Como o REM garante a manutenção do SoC dos NGRs, a
consequência da liquidação de energia é que as unidades NGR-REM devem pagar por suas
perdas de energia em seu LMP.

6.1.1.3 Sistema Canário – Espanha

O sistema elétrico das Canárias faz parte do sistema eléctrico isolado na Espanha, no qual,
devido à pequena dimensão e à impossibilidade de interconexão com o sistema peninsular
nacional, a regulamentação prevê um regime regulatório especial baseado no custo do serviço.

Neste contexto, o operador do sistema das Ilhas Canárias teve a permissão de construir e operar
algumas estações de bombeamento hidrelétricos (como a usina de bombeamento Chira-Soria
de 200 MW que está em construção). De acordo com [60] a usina hidrelétrica de bombeamento
Chira - Soria oferece uma série de benefícios para o sistema elétrico das Canárias, dentre eles
está a capacidade de regulação de frequência, em que a usina está apta a compensar as variações
da produção de energia eólica, garantindo assim a segurança do sistema. Outros benefícios são
apontados com a utilização desse SA, os quais se destacam a garantia de suprimento de energia,
maior integração das fontes renováveis e maior independência energética de fontes mais cara e
poluentes como a utilização de usinas a combustíveis fósseis.

PSR 62
6.1.1.4 Austrália

O Operador do mercado de energia australiano (AEMO) definiu critérios técnicos para o


registro de novos projetos de sistemas de armazenamento por baterias no mercado de controle
de frequência. Um novo ativo, para se registrar nesse mercado, deve atender a alguns
parâmetros técnicos, conforme descritos em [54] e apresentar a expectativa de capacidade
utilizada para o controle de frequência.

Na Austrália há 8 mercados de regulação de frequência (FCAS – Frequency Control Ancillary


Service),

1. Regulação de levantamento, usado para corrigir em eventuais valores de frequência


abaixo de 50 Hz. O limite mínimo de frequência é 49,85 Hz.
2. Regulação de abaixamento, usado para corrigir eventuais valores de frequência acima
de 50Hz. O limite máximo é 50,15 Hz.
3. Levantamento rápido, fornecendo uma resposta de até 6 segundos para deter maior
queda de frequência devido uma contingência.
4. Abaixamento rápido, fornecendo uma resposta de até 6 segundos para deter uma alta
maior de frequência devido a uma contingência.
5. Levantamento lento, fornecendo uma resposta de até 60 segundos para estabilizar a
frequência depois de uma queda devido uma contingência.
6. Abaixamento lento, fornecendo uma resposta de até 60 segundos para estabilizar a
frequência depois de um levantamento devido uma contingência.
7. Levantamento atrasado, que é uma resposta de até 5 minutos para recuperar a
frequência ao normal.
8. Abaixamento atrasado, que é uma resposta de até 5 minutos para recuperar a
frequência normal.

Os proponentes devem apresentar uma proposta para os serviços listados e o agente de


despacho nacional de eletricidade, durante o período de despacho do mercado, irá conceder o
serviço às ofertas por ordem de custo, sendo que o preço ofertado mais alto que é concedido
serviço é o valor marginal para a categoria.

PSR 63
Figura 51 - Distribuição monetária por serviços de cada projeto de Baterias. Fonte: [56]

Para otimizar as receitas, as baterias de larga escala são desenvolvidas para monetizar múltiplos
cenários em paralelo. [56] A Figura 51 mostra a distribuição de receita por serviço prestado de
4 projetos de bateria de grande escala da Austrália. [56] É possível notar que, excetuando o
projeto Gannawarra, que é todo comercializado no mercado varejista, as baterias têm suas
receitas distribuídas pelos serviços existentes.

A capacidade de prever com precisão a receita desses serviços, entretanto, continua sendo um
desafio para o SA, uma vez que a capacidade de capturar receita é incerta devido à dependência
de preços spot à vista, sinais de preços FCAS e mudanças materiais futuras no sistema de energia
previsto, tais como o impacto da mudança no mix de geração e novos projetos de interconexão.

Esse problema é muito apontado como sendo causado pelo preço spot ter atualmente um
período de 30 minutos. A partir de 2021, no entanto, está previsto uma transição para o preço
spot de 5 minutos [57], o que deve fornecer sinais melhores de preço.

6.1.2 Mercados de capacidade – Mecanismos de confiabilidade

6.1.2.1 Reino Unido

Para a participação dos SA no mercado de capacidade do Reino Unido, foi necessária a criação
de metodologias que pudessem refletir a capacidade de resposta rápida desses equipamentos
nos leilões de capacidade. Dessa forma, os sistemas de armazenamento puderam participar no
mercado de capacidade do Reino Unido, introduzido em 2014, ofertando a sua capacidade
firme.

A capacidade firme de equipamentos não convencionais é definida de forma a responder a


seguinte questão: dada uma determinada penetração desse recurso, qual é a quantidade de
capacidade firme de duração infinita perfeitamente confiável que o recurso pode deslocar
enquanto mantendo exatamente o nível de confiabilidade do sistema? A capacidade firme é

PSR 64
calculada através de um modelo matemático8. Esse algoritmo parte de um caso base sem
armazenamento nenhum, acrescenta a ele um armazenamento com capacidade pequena, como
100 MW com determinada duração (0,5 horas, 1 hora etc.) e recalcula o nível de risco através
de uma métrica, por meio de uma simulação do modelo. Então ele retira esse sistema de
armazenamento e adiciona capacidade de armazenamento com infinita duração de um recurso
e verifica se chega ao nível de confiabilidade anterior. Até que esse nível seja atingido, a
capacidade de armazenamento com duração infinita é incrementada. O nível de confiabilidade
é expresso neste caso em termos de expectativa de energia não suprida (LOLE - Loss Of Load
Expectation). Esta operação é repetida para unidades de armazenamento com duração de
descarga diferente na potência máxima, de meia hora a 24 horas [45]. O algoritmo para
determinação da capacidade firme equivalente (Estimated Firm Capacity – EFC) pode ser visto
na Figura 52, onde K é o contador de iterações e 𝛼𝛼 = 100% corresponde à modelagem do
sistema de armazenamento com um gerador convencional com 100% de disponibilidade.

Figura 52 - Algorítmo para determinação de EFC. Fonte: [47]

8 LCP Unserved Energy Model (UEM), que é um modelo de simulação Monte Carlo sequencial no tempo de
adequação do Reino Unido. Esta ferramenta é um submódulo relacionado ao software Dynamic Dispatch Module
(DDM) usado no relatório anual de capacidade de eletricidade.

PSR 65
Tabela 4 - Equipamento de armazenamento conjugado em leilões de capacidade no Reino Unido. Fonte
[45]
Duração [horas] Capacidade [MW] Usinas
0,5 1,01 1
1 96,44 15
2 20,48 1
5,5 286,60 2
6 1 643,99 6

12 418,35 4

Total 2 466,88 29

Por enquanto, as instalações que assinaram contratos de capacidade baseiam-se em baterias


eletroquímicas, com capacidades instaladas resumidas na Tabela 4, de acordo com a duração da
descarga. Para efeito de exemplificação, serão apresentados os valores das premissas adotados
nos leilões T – 4 (leilão para 4 anos à frente) de 2019 e 2020 e as respectivas capacidades firmes
adotadas para cada categoria de duração de armazenamento, nas Tabela 5 e Tabela 6.
Tabela 5 - Premissas do caso base para cálculo de EFC para os leilões T-4 de 2019 e 2020

Duração [horas] Capacidade no leilão 2019 Capacidade no


T-4 2023/24 [MW] leilão 2020 T-4
2024/25 [MW]
0,5 1719 1067
1 1584 1091
1,5 152 152
2 9 9
3 5 5
4 115 65
6 2005 2004
20+ 740 740
Total 6330 5133

PSR 66
Tabela 6 - Capacidade firme adotada nos leilões T4 de 2019 e 2020
Capacidade firme Capacidade firme
Duração [horas] T-1 (%) T-4(%)
0,5 10,59 12,38
1 20,43 24,77
1,5 30,83 36,97
2 41,04 48,62
2,5 50,51 58,78
3 57,94 66,18
3,5 62,77 70,98
4 65,93 73,76
4,5 68,16 75,79
5 70,20 94,64
5,5+ 95,08 94,64

De acordo com [46] a redução se deu devido a uma atualização de informações de mercado e
em particular as unidades de armazenamento às quais foram concedidos acordos de capacidade
de mercado em leilões recentes.

Entre os dados dos dois leilões, há principalmente uma redução nas premissas quanto à entrada
de armazenadores de curta duração (de 30 min a 1 hora). Isso refletiu em um aumento da
capacidade firme em todas as categorias de duração de armazenamento, visto que se torna
necessário uma maior utilização da capacidade dos ativos considerados para manter o nível de
confiança do sistema.

6.1.2.2 Califórnia e ISO New England

Nos Estados Unidos, diferentes sistemas permitem que o armazenamento participe nos seus
mecanismos de capacidade. O fornecimento fixo destas tecnologias é normalmente
determinado como a potência que uma unidade de armazenamento pode manter durante um
determinado período e é definido por um teste físico de fornecimento de eletricidade. Na
Califórnia, esse período é igual a quatro horas. Isto significa que as unidades de armazenamento
com tempos de descarga a plena potência inferior a quatro horas também poderão obter uma
capacidade líquida qualificada para participar no mercado de capacidade, mas esta será inferior
à sua potência instalada Na ISO New England, o mesmo conceito é utilizado, porém
considerando a potência que a unidade de armazenamento pode manter durante duas
horas[48].

6.1.2.3 Chile

O ministério de energia, apresentou em setembro de 2020 o plano estratégico de flexibilidade


para o país. [52] Foram apresentadas 5 medidas para a maior adoção de sistemas de
armazenamento para os diferentes serviços, que serão vistas nesse relatório.

PSR 67
A primeira medida apresentada pelo ministério de energia do Chile [52] é reconhecer a
contribuição do armazenamento ao local de instalação para o aumento da confiabilidade do
sistema, visto que hoje em dia não há uma metodologia definida para o reconhecimento da
contribuição feita por centrais geradoras com capacidade de regulação e de armazenamento
para a confiabilidade do sistema. Objetiva-se então aperfeiçoar o regulamento de potência e a
norma técnica de potência para que se sejam criadas metodologias para a contabilização da
contribuição dos sistemas capazes de armazenamento para a confiabilidade do sistema.

6.1.3 Balanço de geração e demanda

6.1.3.1 Estados Unidos - PJM

A maioria dos estados dos EUA introduziu pelo menos um modelo de participação (em alguns
há mesmo dois modelos, um específico para bombeamento) em que a energia do
armazenamento pode ser comprada ou vendida numa base horária, dependendo do preço.

Em alguns sistemas é permitido que o SA decida se quer ser despachado pelo operador ou se
quer fazer sua operação própria. No primeiro caso, o operador despacha o recurso de
armazenamento da forma mais eficiente possível, levando em conta alguns parâmetros técnicos
específicos (tais como capacidades mínimas e máximas ou o estado inicial de carregamento)
que os agentes podem apresentar juntamente com a suas ofertas. No segundo caso, o despacho
do recurso é determinado pelas propostas de preço-quantidade apresentadas pelo agente e o
suprimento da carga deve ser controlado pelo próprio agente, que deve modificar as suas
propostas no mercado em tempo real para assegurar a viabilidade da operação do gerador.

No PJM, os recursos de armazenamento podem optar pelo chamado modo de operação


contínua, através do qual podem apresentar propostas cuja quantidade depende do preço
combinado, como se pode ver na Figura 53.

Figura 53 -Modelo de operação contínua para armazenamento no PJM [58]

6.1.3.2 União Europeia

O algoritmo de despacho diário do mercado (EUPHEMIA)- para compor seu day-ahead Market
- é comum a todos os países membros da União Europeia. Os formatos de oferta de preços
utilizados podem variar em cada mercado atacadista de cada país, mas em geral não há nenhum
formato que tenha sido especificamente adaptado para sistemas de armazenamento [49]. A
única coisa que pode ser afirmar (e não em todos os países) é que uma unidade de

PSR 68
armazenamento não vende energia se não a tiver adquirido previamente, através de ofertas
conhecidas como ofertas por “blocos vinculantes”, onde o recurso garante o direito de estar
“despachado” por um conjunto de horas seguidos.

Figura 54 - Funcionamento das ofertas bloqueadas com ligação no algoritmo europeu de


correspondência. Fonte [49]

6.1.3.3 Itália

A Itália tem uma capacidade de bombeamento hidrelétrico muito elevada (mais de 7 GW, de
acordo com [50]). Historicamente, estes recursos têm sido utilizados, entre outras funções, para
armazenar energia durante a noite (importação de energia a preços baixos de França) e para a
reinjetar nas horas de ponta do dia.

No entanto, após o apagão que afetou o sistema eléctrico italiano em 2003, o operador pediu
para definir anualmente uma capacidade estratégica de bombeamento hidroelétrico para
garantir a segurança do abastecimento [51]. Esta capacidade é isolada do resto dos recursos de
bombeamento e é operada no mercado diretamente pelo operador do sistema. A remuneração
destes bens é regulamentada.

6.1.3.4 Chile

O relatório de estratégia [52] apresenta como medida relacionado aos serviços de arbitragem,
melhorar os procedimentos de programação de injeção e retirada de energia dos sistemas de
armazenamento. Isto porque atualmente, a escolha de recurso a ser despachado para arbitragem
de preço se baseia em uma metodologia que leva em conta uma lista de prioridade de colocação,
podendo levar a soluções ineficientes e não leva em consideração as características dinâmicas
dos recursos.

Para os SA se distinguem a injeção e retirada da operação. Para a injeção, o método é semelhante


à de uma central geradora, com um custo variável dependendo da demanda em determinado
período. E nesse caso não é considerado o custo de oportunidade da energia armazenada e então
não é possível otimizar o seu uso ao longo do tempo.

Para a retirada de energia, há uma metodologia que requer diversas iterações entre agente
armazenador e o coordenador do sistema, para definir a programação da operação, o que pode
gerar certas dificuldades em um contexto de maior periodicidade para realizar esta programação
(por exemplo, com programação intra diária), e com um alto número de sistemas de
armazenamento no sistema.

PSR 69
Tendo em vista o contexto atual, o ministério da energia busca com essa medida melhorar a
metodologia para programação da operação em tempo real dos sistemas de armazenamento,
garantindo uma operação com custo mínimo do sistema elétrico, considerando programações
de operação intra diária e a existência de diversos sistemas de armazenamento, além de fornecer
aos proprietários dos SA mecanismos que os ajude a obter informações que mitiguem os riscos
de operação de suas instalações.

6.2 Serviços para a rede

6.2.1 Serviços para a rede de transmissão

6.2.1.1 Califórnia

Em alguns sistemas elétricos nos Estados Unidos (Califórnia, MISO e PJM), está a ser estudada
a possibilidade de incluir ativos de armazenamento na rede de transmissão, em iniciativas
definidas como SATA (Storage As a Transmission Asset).

A discussão mais avançada é provavelmente a californiana. Numa iniciativa que, de momento,


está em espera, enquanto se aguardam desenvolvimentos regulamentares, tanto estatais como
federais, o operador do sistema avançou propostas para permitir a criação de um modelo de
regulamentação híbrido [61]. Neste modelo, o recurso de armazenamento seria um ativo de
rede, sujeito a remuneração regulada pelos seus serviços de transmissão, mas poderia também
participar em alguns segmentos de mercado. A remuneração obtida no mercado seria deduzida
da remuneração regulamentada, com a consequente poupança para os consumidores.

A CAISO propõe três variantes do contrato SATA, com durações diferentes, ou seja, 10 anos,
20 anos e 40 anos, que seriam ajustados à intensidade dos investimentos em diferentes
tecnologias de armazenamento. A CAISO propõe também o envio diário de notificações aos
proprietários dos recursos SATA, informando-os quando o bem pode participar no mercado,
sendo o proprietário do recurso responsável pela licitação, respeitando os compromissos
comerciais em caso de recurso. As notificações seriam feitas numa base de 24 horas e teriam em
conta os níveis de carga esperados e o estado da rede.

6.2.1.2 Colômbia

Na Colômbia, foi estabelecida e agosto de 2019 a regulação 098 que define mecanismos para
incorporação dos sistemas de armazenamento de energia com baterias (SAEB) no Sistema
Interconectado Nacional.

No país, para se instalar um SAEB é preciso se identificar a necessidade de tal. Essa identificação
é feita pela UPME (Unidad de Planeacion Minero Energetica) [10]que recomenda a instalação
do SAEB, indicando se o reforço deve ser feito no Sistema de Transmissão Nacional (STN) ou
no Regional (STR). Esses projetos serão incluídos no plano de expansão do SIN.

Desses projetos, aqueles que objetivarem somente atender necessidades dos sistemas de
distribuição local, deverão ser remunerados como atividade de distribuição. (Outra resolução
definirá o tratamento à energia de recarga e descarga desse tipo de projeto)

PSR 70
A remuneração do agente vencedor da licitação é feita com base na oferta econômica do
proponente, através da Receita Anual Esperada (do espanhol Ingreso Anual Esperado – IEA).
Essa receita deve refletir os custos associados à pré construção, como licenças ambientais,
estudos e demais permissões, os custos de construção, os custos de oportunidade de capital
investido e gastos de administração, operação e manutenção.

Os SAEB serão operados remotamente pelo CND (Centro Nacional de Despacho) de forma a
reduzir o custo de operação do sistema, sendo os vencedores das licitações são responsáveis pela
manutenção e disponibilidade do SAEB nas condições requeridas no momento de carga e
descarga durante as operações do CND. Os vencedores do leilão deverão também se
responsabilizar pela correta operação dos sistemas de medição e comunicação para a operação.

6.2.1.3 Chile

O relatório estratégico [52], apresenta uma medida para aperfeiçoar o tratamento dos sistemas
de armazenamento no planejamento de transmissão e sua participação em mercados
competitivos.

Essa medida objetiva refinar a forma como os SA podem ser incorporados ao processo de
planejamento da transmissão, considerando os SA então como ativos da transmissão,
cumprindo os seguintes critérios:

• Ser competitivo economicamente em comparação a outras soluções convencionais de


transmissão;
• Ser complemento à infraestrutura convencional de transmissão para efeitos de manter
ou melhorar os níveis de segurança e qualidade do serviço do sistema elétrico. Em
particular, o gerenciamento de eventos ocorridos no sistema de transmissão como
sobrecarga térmica das linhas (congestões), apoiar a operação do sistema perante a
desconexão de instalações de transmissão ou apoiar funções da rede durante
manutenções delas;
• Se substituição ou retardamento de investimentos em transmissão sempre que for
comprovada a eficiência econômica;
• Seu uso será priorizado para os fins que foram identificados no plano de expansão da
transmissão, de acordo com regras e critérios definidos para seu funcionamento;
• Pagamento eficiente, evitando duplo pagamento de infraestrutura.
• Melhorar as condições de operação, remuneração e participação em outros mercados
para sistemas de armazenamento que foram instalados com base no planejamento da
transmissão;
• Estabelecer critérios para avaliação dos benefícios operacionais sistémicos que
implicam a incorporação de sistemas de armazenamentos como suporte aos sistemas
de transmissão no processo de planejamento;
• Aperfeiçoar as condições para o tratamento que se dará à licitação, operação e
remuneração da infraestrutura que possui tamanho maior que os requerimentos
estabelecidos no processo de planejamento de transmissão.

PSR 71
6.2.2 Serviços para a rede de distribuição

6.2.2.1 Holanda

Na Holanda, a empresa ENECO lançou em 2016 a iniciativa CrowdNett, através da qual oferece
aos prosumidores que tenham instalado um painel fotovoltaico descontos na aquisição de
baterias residenciais. Os prosumidores também recebem uma remuneração anual de cerca de
450 euros para deixar que o agregador utilize até 30% da capacidade da bateria para fornecer
serviços de ajuste ao sistema.[63]

6.2.2.2 Alemanha

O modelo de negócio da Alemanha fornece para consumidores de médio porte tarifas variáveis
no tempo, incluindo otimização de pico da carga. Esse modelo busca agregar valor adicional a
contratos flexíveis de fornecimento de eletricidade, considerando o impacto no preço final do
consumidor, tanto do custo no mercado atacadista quanto do componente de rede da tarifa.
Um produto desse modelo é a otimização do preço atacadista, pelo controle do tempo de
consumo de energia de um bem para reduzir o preço de fornecimento no mercado spot.

Na situação atual da Alemanha é feita a otimização do perfil de consumo considerando o preço


spot instantâneo e a componente do pico de demanda, calculado anualmente. Em [62] é
analisado esse modelo com o estudo de caso contendo um portfólio agregado de instalações de
PHS com um total de 55MW de capacidade instalada e uma flexibilidade disponível de 32 MW.
O algoritmo de otimização busca minimizar o custo de eletricidade do portfólio através do
deslocamento de carga.

Além do cenário atual da Alemanha, descrito acima, [62] analisa dois cenários: (i) onde somente
o preço spot instantâneo é considerado e (ii) cenário de otimização considerando o preço spot
instantâneo e a componente de pico da demanda calculado mensalmente.

Com o modelo de otimização da geração das PHS, a Next Kraftwerke, agente agregador desse
modelo na Alemanha, relata que há uma redução do custo de fornecimento de energia de 10%,
além de uma diminuição de 20-25% do pico de carga.

A simulação realizada com os três cenários diferentes e o cenário original é mostrado na Figura
55, onde o gráfico (1) é o caso original, sem a otimização do agregador, (2) apresenta o caso
com otimização do preço spot instantâneo, (3) é o cenário com otimização considerando preço
spot instantâneo e o componente de pico da demanda calculado anualmente e (4) considera o
pico de demanda mensalmente.

PSR 72
Figura 55 - Perfil de demanda anual simulados em [62]

6.2.2.3 EUA

Em 17 de setembro de 2020, a FERC emitiu a nova Order N°. 2222 [69], cujo objetivo é permitir
que os REDs possam participar de mercados varejistas ao lado de fontes tradicionais de energia
por meio dos agentes agregadores. São incluídos ao grupo dos REDs que podem ser agregados
por um agente, as placas solares em telhados/coberturas, baterias instaladas em casa,
mecanismos de resposta à demanda e ainda veículos elétricos estacionados e recarregando, os
quais podem se tornar uma grande bateria e fornecer energia para a rede em certos momentos.
[66]

É esperado, com essa medida, que os custos da energia final para os consumidores reduzam
devido ao aumento de agentes competindo no mercado, além de mais flexibilidade para a rede
e resiliência e mais incentivos ao desenvolvimento na indústria.

Essa regra afetará principalmente aqueles ativos que não teriam, sozinhos, tamanho e/ ou
performance necessários para entrar no mercado e serão agregados de forma a atingirem os
requisitos.

Agora, cada operador de transmissão ISOs ou RTO deve apresentar um modelo de tarifa que
irá incluir os REDs como agentes pertencentes de seus respectivos mercados, respeitando um
limite que não passe de 100 kW para recursos agregados e que considere características técnicas
como requisitos locacionais de REDs agregados, parâmetros de licitação e fatores de
distribuição, requisitos de medição e telemetria e ainda garantir uma integração entre o agente
agregador, o operador regional da rede, a utility de distribuição e o agente do mercado varejista.

Tal como a Order 841, este regulamento é muito importante para a realidade americana, pois
com ele a FERC atua para aperfeiçoar, através de práticas uniformes, as regras para a integração
dos REDs nos mercados de eletricidade americanos.

PSR 73
6.3 Estudos de casos de mercados para baterias
Nesta seção será mostrada mecanismos de mercado somente para viabilização de baterias. É
importante destacar que esses mercados não são isonômicos em relação a todos os sistemas de
armazenamento.

6.3.1 Fundamentos
Na prática, grande parte dos investimentos em baterias na Europa tem sido viabilizada através
de uma remuneração pela prestação dos serviços ancilares, que pode ser regulada e determinada
ex ante, ou então por um mecanismo de mercado que seleciona e remunera os prestadores de
serviço de acordo com um preço. Em geral, esses mecanismos são todos competitivos, onde os
prestadores de serviço competem entre si por contratos de serviços ancilares, ofertando receitas
fixas/reembolsos para remunerar o serviço, como no caso dos leilões competitivos da Alemanha
e do Reino Unido.
No entanto, há uma outra fonte de receitas importante para as baterias além da prestação de
serviços ancilares, que é a possibilidade de comprar energia através do mercado de curto prazo
nas horas fora de ponta, onde o preço na energia é mais baixo, e vendê-la nas horas de ponta,
onde o preço é mais alto. Enquanto a bateria não está prestando serviço ancilar ao sistema, ela
fica livre para operar no mercado de curto prazo. A Figura 56 apresenta um exemplo de
operação financeira possível, no mercado do Reino Unido, quando podia ser comprada energia
no período de menor preço e vende-lo no período de ponta.

Figura 56 - Exemplo de preço spot no Reino Unido para compra e venda de energia

Dois outros elementos importantes a serem considerados nos modelos financeiros são as
estimativas de custo de investimento (CAPEX) e custo operativo (OPEX) do projeto, já que o
processo de tomada de decisão de investimento envolve uma análise de custos e benefícios
esperados. Em suma, se os custos de capital mais operação excederem o benefício esperado do
projeto, ele não é levado adiante.

Nessas análises geralmente se considera uma vida útil de 10 anos por projeto, que é
relativamente curta quando comparada com as outras tecnologias de armazenamento, e o
OPEX é tipicamente definido como um percentual do CAPEX por ano.

PSR 74
No entanto, há uma grande incerteza na estimativa desses parâmetros, pois nem sempre há
informação disponível de um projeto específico ou então nem sempre a informação é 100%
precisa.

Além disso, deve-se levar em consideração que os custos dessas tecnologias não muito maduras
podem reduzir de forma significante com o passar do tempo. Por exemplo, segundo o
BNEF[64], o CAPEX das baterias de íon de lítio já reduziu cerca de 73% desde 2010.

Figura 57 - Evolução da demanda e maturação da bateria de lítio. Fonte: [64]

A seguir, serão apresentados alguns exemplos de mercados financeiros de alguns dos países com
maior presença de projetos correntes e futuros.

6.3.1.1 Reino Unido

Foram identificadas as seguintes peculiaridades no caso do Reino Unido:

• Os contratos de prestação de serviços ancilares (leilões EFR para regulação de


frequência) possuem uma duração de 4 anos, portanto, a receita pelo fornecimento
desses serviços só é garantida por 4 anos. Nos anos subsequentes, o investidor fica
exposto ao risco.
• Existe a possibilidade de uma receita extra para o investidor por meio da participação
no mercado de capacidade, gerando uma maior estabilidade. Além disso, esses
contratos têm duração de 15 anos, cobrindo toda a vida útil econômica da bateria.
• Apesar de a variabilidade dos preços no país ser relativamente alta, o benefício
capturado pelo projeto no mercado spot é pequeno pois a receita dos preços spot
representam uma parcela muito pequena das receitas totais.

O preço utilizado no modelo do Reino Unido para a prestação de serviços ancilares de regulação
de frequência foi baseado no preço médio ponderado do leilão regulação de frequência (EFR)
realizado em 2016, cujo valor é de 18.5 $/MW.

O gráfico a seguir ilustra o modelo financeiro de um projeto típico do leilão EFR do Reino
Unido durante toda sua vida útil econômica. A receita contratual é garantida nos primeiros 4

PSR 75
anos de operação, e nos anos subsequentes o investidor fica exposto ao risco de ficar
descontratado ou então de ser contratado a preços inferiores, já que a queda nos preços das
baterias tende a aumentar a competitividade e também a diminuir o preço de equilíbrio desses
leilões.

Figura 58 - Modelo financeiro de projeto no leilão de ERF no RU

6.3.1.2 Alemanha

Já no caso da Alemanha foram identificadas as seguintes peculiaridades:

• Os leilões para prestação de serviços ancilares (leilões PCR para controle primário de
frequência) são realizados semanalmente, o que gera uma maior instabilidade para o
investidor já que suas receitas contratuais são garantidas por apenas 1 semana.
• O benefício capturado pelo projeto no mercado spot é muito pequeno. Isso ocorre
porque geralmente as receitas obtidas com os preços spot já compõem uma parcela
muito pequena das receitas totais, mas na Alemanha especificamente, a volatilidade
dos preços não é tão alta, o que contribui ainda mais para a redução desse benefício.
• O custo de investimento da tecnologia no país ainda está relativamente mais alto em
comparação com os outros países analisados.

O preço utilizado no modelo da Alemanha para remunerar os serviços ancilares foi baseado na
média dos preços resultantes de 6 leilões PCR realizados em 2017 (semanas 6 a 11).

O gráfico a seguir ilustra os preços históricos dos leilões semanais de PCR realizados:

PSR 76
Figura 59 – Preços históricos do leilão semanal PCR

A seguir é mostrado um exemplo do modelo financeiro de um projeto típico do leilão de PCR


na Alemanha contratado em 42 das 52 semanas no ano. Observa-se que a receita adquirida no
mercado spot é bem pequena em comparação com a adquirida no contrato. Há uma grande
incerteza no investimento, pois os preços que ainda são mais altos tendem a diminuir de forma
significante, e porque os contratos atualmente são de curtíssima duração.

Figura 60 – Modelo financeiro do leilão PCR na Alemanha

6.3.1.3 Austrália

No caso da Austrália foram identificadas as seguintes peculiaridades:

PSR 77
• Apesar de ter ganhado uma grande cobertura na mídia, o projeto da Tesla (bateria
gigante de 100 MW) não possui todas as informações oficiais disponíveis.
• Nota-se que a bateria gigante construída no sul da Austrália foi um projeto estratégico
para a Tesla para expandir seus negócios além dos carros elétricos, por isso se justifica
uma margem mais baixa para a empresa.
• A Austrália possui preços bastante voláteis, favorecendo o benefício capturado no
mercado spot. No entanto, o projeto possui uma limitação contratual de operação
neste mercado, podendo vender somente até 30% da sua capacidade total no spot.
• Percebe-se um custo de investimento bem inferior aos demais projetos analisados,
que pôde ser alcançado com a economia de escala.

O gráfico abaixo ilustra um modelo financeiro para o projeto da Tesla. Mesmo com a limitação
de operação no mercado spot, ele consegue obter receitas no spot um pouco maiores em função
da grande variabilidade de preços no país. Observa-se também que a receita no spot após o
término do contrato aumenta ainda mais já que a bateria fica livre para utilizar 100% da sua
capacidade no mercado spot, no entanto o investidor fica exposto ao risco sem garantias de
contratação.

Figura 61 - Modelo financeiro para o projeto da Tesla

PSR 78
7 CONCLUSÕES
Este relatório teve como objetivo apresentar uma visão geral, técnica e econômica, sobre as
tecnologias de armazenamento incluindo a sua adoção internacional. Para isso, foram
abordadas as definições tecnológicas dos sistemas de armazenamento, a descrição dos tipos de
serviços que as tecnologias podem prestar ao sistema elétrico, discutiu-se a utilização das
tecnologias de armazenamento internacionalmente e os modelos de negócio existentes.

Observou-se que existem diversas tecnologias que podem ser utilizadas como sistemas de
armazenamento e o nível de maturidade de cada tecnologia se encontra em momento diferente.
Sem dúvidas, as tecnologias com maior nível de maturidade são os sistemas de armazenamento
mais encontrados atualmente no mundo: o armazenamento hidroelétrico – convencional ou
usinas reversíveis - e baterias de íon-lítio.

Nos recentes anos as matrizes energéticas mundiais foram se alterando com a penetração dos
recursos renováveis não convencionais, sobretudo eólica e solar, que possuem forte
variabilidade e não controlabilidade de sua produção. Esta intermitência é um dos drivers de
demanda de maior necessidade de flexibilidade nos sistemas elétricos, que criam oportunidade
para os sistemas de armazenamento. Atualmente, os serviços prestados pelos sistemas de
armazenamento se concentram principalmente na prestação de serviços ancilares na regulação
de frequência e em arbitragem de energia temporal.

Para a remuneração desses serviços, observam-se vários arranjos, sendo os mais comuns a
utilização de mecanismos de pagamento por preços em um mercado de curto prazo e também
a utilização de contratos de curto prazo para a prestação do serviço. Como exemplo, tem-se o
mercado de serviços ancilares de regulação de frequência dos EUA (PJM e CAISO) que
remuneram os sistemas de armazenamento no day ahead market considerando o desempenho
operativo do sistema de armazenamento. Na Alemanha, os serviços ancilares de serviço de
regulação de frequência utilizam leilões de curto prazo para a prestação de serviço. Os leilões
são feitos semanalmente, já no Reino Unido, a contratação desse serviço é realizada através de
leilões que possuem contratação de 4 anos. Como visto, a utilização dos preços horários para
identificar o valor e remunerar os serviços de arbitragem de energia é fundamental para o
modelo de negócio dos sistemas de armazenamento.

Outra questão importante abordada no relatório é a necessidade de regras isonômicas e não


discriminatória para a participação de todas as tecnologias nos mercados relevantes. Devido à
diversidade tecnológica, alguns países não trabalharam em montar um ambiente de mercado
isonômico para a contratação dos sistemas de armazenamento, como pôde ser observado no
Reino Unido e Alemanha. Por outro lado, os mercados dos EUA já tratam os sistemas de forma
isonômica e não discriminatória através de alterações da regulação para capturar as
características operativas (de descarga) de cada tecnologia de armazenamento nos mercados de
curto prazo, de serviços ancilares e mesmo nos mercados de capacidade. A garantia de acesso
não discriminatório ao armazenamento evita a criação de “cotas” de participação em mercados,
permite o desenvolvimento de portfolios e busca a maximização do valor prestado pelas
tecnologias ao consumidor final.

PSR 79
8 REFERÊNCIAS
[1] Richard Feynman (1970). The Feynman Lectures on Physics Vol I. Addison Wesley.
ISBN 978-0 -201-02115-8.
[2] Michael Sterner · Ingo Stadler, “Handbook of Energy Storage - Demand,
Technologies, Integration”, ISBN 978-3-662-55504-0 (eBook)
https://doi.org/10.1007/978-3-662-55504-0. 2019.
[3] Kalaiselvam, S.; Parameshwaran, R.; Energy Storage: an overview.
[4] Energy storage Technologies, Book Energy for Sustainable Development, ISBN 978-0-
12-814645-3
[5] Energy storage: Tracking the technologies that will transform the power sector, Delloit
(2020), Acesso em 12 de Agosto de 2020. Disponível em :
https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/no/Documents/energy-
resources/energy-storage-tracking-technologies-transform-power-sector.pdf
[6] Letcher, Trevor M.; Pumped-Storage hydroelectricity,
[7] International Hidropower Association, Pumped Storage Tracking Tool,
https://www.hydropower.org/hydropower-pumped-storage-tool, acessado em:
28/08/2020
[8] NS Energy, Largest pumped storage plants in operation and development.
https://www.nsenergybusiness.com/features/largest-pumped-storage-plants/
[9] IRENA (2017), Electricity Storage and Renewables: Costs and Markets to 2030,
International Renewable Energy Agency, Abu Dhabi. ISBN 978-92-9260-038-9
[10] UPME – Colombian Ministry of Mines and Energy , Convocatoria Pública UPME
STR 01-2020 Almacenamiento de Energía con Baterías – Atlántico,
https://www1.upme.gov.co/PromocionSector/InformacionInversionistas/Paginas/UP
ME-STR-01-2020-Almacenamiento-de-Energ%C3%ADa-con-Baterias-Atlantico.aspx
[11] WEC, World Energy Council, 2019. Energy Storage Monitor - Latest Trends in Energy
Storage 2019. Report.
[12] IEA, International Energy Agency, 2020c. Capital cost of utility-scale battery storage
systems in the New Policies Scenario, 2017-2040. IEA, Paris,
https://www.iea.org/data-and-statistics/charts/capital-cost-of-utility-scale-battery-
storage-systems-in-the-new-policies-scenario-2017-2040.
[13] IEA, International Energy Agency, 2015. Technology Roadmap: Hydrogen and Fuel
Cells. Informe técnico.
[14] CE, Comisión Europea, 2020. Study on Energy Storage – Contribution to the Security
of the Electricity Supply in Europe. Final report.
[15] CE, Comisión Europea, 2014. Electricity Storage in the Power Sector. Policy brief

PSR 80
[16] EIA, U.S. Energy
Information Administration, 2020a. Monthly Energy Review.
Informe mensal de 26/08/2020.
[17] Burger, S., Jenkins, J. D., Huntington, S. C., Perez Arriaga, I. J., 2019. Why
Distributed? A Critical Review of the Tradeoffs between Centralized and
Decentralized Resources. IEEE Power and Energy Magazine, vol. 17, iss. 2, pp. 16 24
[18] ECA, European Court of Auditors, 2019. EU Support for Energy Storage. Briefing
Paper
[19] Few S., Schmidt O., Gambhir A., 2016. Electrical Energy Storage for Mitigating
Climate Change. Graham Institute report.
[20] IRENA (2019), A new world – The geopolitics of
the energy transformation, Abu
Dhabi, ISBN 978-92-9260-097-6, Disponível em: https://www.irena.org/-
/media/Files/IRENA/Agency/Publication/2019/Jan/Global_commission_geopolitics_n
ew_world_2019.pdf
[21] O’Sullivan, Meghan; Overland, Indra; Sandalow, David, “The geopolitics of renewable
energy”, working paper, Columbia, Havard, NUPI, 2017. Disponível em:
https://www.belfercenter.org/publication/geopolitics-renewable-energy
[22] IRENA (2019), Innovation landscape brief: Aggregators, International Renewable
Energy Agency, Abu Dhabi, ISBN 978-92-9260-114-0
[23] Wood Mackenzie, United States Distributed Energy Resources Outlook,

[24] CEDEC, ENTSOe, GEODE, E.DSO, EURELECTRIC, 2019. TSO-DSO Report: An


Integrated Approach to Active System Management with the Focus on TSO-DSO
Coordination in Congestion Management and Balancing. Informe técnico.
[25] LePan N., Visual Capitalist, “6 ways Hydrogen and Fuel Cells Can Help Transition to
Clean Energy”, acesso em 26/08/2020, https://www.visualcapitalist.com/6-ways-
hydrogen-and-fuel-cells-can-help-transition-to-clean-energy/
[26] Ziemann, S.; Grunwald, A.; Schebek, L.; Müller, D.B. and Weil, M. “The future of
mobility and its critical raw materials”, Revue de Métallurgie, EDP Sciences, 2013,
DOI: 10.1051/metal/2013052
[27] Geoffrey J. Maya, Alistair Davidson , Boris Monahov, “Lead Batteries for utility energy
storage: A review.“ – Journal of Energy Storage 15 (2018).
https://doi.org/10.1016/j.est.2017.11.008
[28] Tianmei, Chen, Yi Jin, Hanyu Lv.,Antao Yang, Meiyi Liu;Bing Chen;Ying Xie; Qiang
Chen – “Applications of Lithium-Ion Batteries in Grid-Scale Energy Storage Systems”
doi.org/10.1007/s12209-020-00236-w
[29] Vale.com, “A Vale está instalando, no Rio de Janeiro, um dos maiores sistemas de
armazenamento de energia em bateria para suprimento de demanda elétrica do país. “
Acesso em 24/08/2020, http://www.vale.com/brasil/pt/aboutvale/news/paginas/a-vale-
esta-instalando-no-rio-de-janeiro-um-dos-maiores-sistemas-de-armazenamento-de-

PSR 81
energia-em-bateria-para-suprimento-.aspx
[30] Revista Electricidad – Baterías en Chile buscan dar un paso más en servicios
complementarios. https://www.revistaei.cl/informes-tecnicos/baterias-chile-buscan-
dar-paso-mas-servicios-complementarios/#. Acessado em: 05/09/2020
[31] U.S. Energy Information Administration – Electric Power Annual 2018, Washington,
DC, Published at: Octuber 2019. https://www.eia.gov/electricity/annual/pdf/epa.pdf
[32] Seltzer, Molly A.; “ Why Salt Is This Power Plant’s Most Valuable Asset”, Smithsonian
Magazine, Agosto 2017, acessado em 27/08/2020,
https://www.smithsonianmag.com/innovation/salt-power-plant-most-valuable-
180964307/
[33] Wang, Jihon; Luo, Xing, Overview of Current Development on Compressed Air
Energy Storage, EERA Technical Report, University of Warwick,
https://doi.org/10.1016/j.egypro.2014.12.423
[34] U.S. Energy Information Administration - Battery Storage in the United States: An
Update on Market Trends, Washington, DC,
https://www.eia.gov/analysis/studies/electricity/batterystorage/pdf/battery_storage.pdf
[35] Moreno, R.; Ferreira, R.;Barroso, L.; Rudnick,H; Pereira, E., “Facilitating the
Integration of Renewables in Latin America - The Role of Hydropower Generation
and Other Energy Storage Technologies”, IEEE power & energy magazine, 2017.
[36] CNESA – China Energy Storage Alliance – White Paper 2020 report.
http://en.cnesa.org/white-paper-access-multyear
[37] U.S. Department ofEnergy, Energy Storage Systems Program – DOE Global Energy
Storage Database https://www.sandia.gov/ess-ssl/global-energy-storage-database-
home/
[38] International Hidropower Association, Pumped Storage Tracking Tool,
https://www.hydropower.org/hydropower-pumped-storage-tool, acessado em:
28/08/2020
[39] Directorate – General for Energy, Database of the European energy storage
technologies and facilities - https://data.europa.eu/euodp/data/dataset/database-of-
the-european-energy-storage-technologies-and-facilities
[40] NREL, Concentrating Solar Power Project - https://solarpaces.nrel.gov/, acessado em
28/08/2020
[41] Mustafa E. Amiryar and Keith R. Pullen, A review of Flywheel Energy
Storage System
Technology and Their Application, School of Mathematics, Computer Science and
Engineering, University of London.
[42] Beacon Power, 20 MW Flywheel Energy Storage Plant, https://www.sandia.gov/ess-
ssl/docs/pr_conferences/2014/Thursday/Session7/02_Areseneaux_Jim_20MW_Flywh
eel_Energy_Storage_Plant_140918.pdf

PSR 82
[43] Kraftwerk Renewable Power Solutions, PV – Battery – Diesel Hybrid Solution in
Atacama Desert
[44] TERNA , Pilot Storage Project, https://www.terna.it/en/electric-system/system-
innovation/pilot-storage-projects, acessado em 28/08/2020
[45] NationalGrid, 2017. Duration-Limited Storage De-Rating Factor Assessment - Final
Report. Informe técnico.
[46] National Grid, 2020. 2020 Electricity Capacity Report – Final Report.
[47] Borozan, Stefan; Evans, Michael P.; Strbac, Goran; Rodrigues, Tiago; Contribution of
Energy Storage to System Adequacy and its Value in the capacity Market, DOI:
10.1109/PTC.2019.8810740
[48] ISO New England, 2018. Forward Capacity Market (FCM) Qualification Examples for
Storage Technologies. Examples for participation. Informe técnico.
[49] Herrero, I., 2018. Market Mechanisms and Pricing Rules to Enhance Low-carbon
Electricity Markets Efficiency. Tesis doctoral.
[50] Terna, 2019. Dati statistici sull’energia elettrica in Italia. Anuario estadístico.

[51] AEEG, Autorità per l’Energia Elettrica e il Gas, 2005. Delibera n. 175/05 -
Regolamentazione delle unità di produzione di energia elettrica e pompaggio di
rilevanza strategica: modificazioni ed integrazioni alle disposizioni delle deliberazioni
dell'Autorità per l'energia elettrica e il gas 30 dicembre 2003, n. 168/03.
[52] Ministerio de Energía, Estrategia de flexibilidade para el sistema eléxtrico nacional –
El camino hacia un sistema eléctrico sostenible – Septiembre 2020
[53] PJM, Pennsylvania JerseyMaryland Interconnection, 2015. Details of Benefits Factor
Calculation. Presentación para los agentes.
[54] AEMO Operations Department, Battery energy storage system requirements for
contingency FCAS registration, 2019
[55] AEMO, Guide to ancillary services in the national electricity
market
[56] ARENA, Large-Scale Battery Storage Knowledge Sharing Report
[57] AEMO, Five- Minute Settlement: High level design, 2017.
[58] PJM Energy Storage Participation Model:Energy Market – 841 Requirements
[59] Bolun Xu, Yury Dvorkin, , Daniel S. Kirschen, C. A. Silva-Monroy, Jean-Paul Watson,
“Comparison of Policies on the Participation of Storage in U.S. Frequency Regulation
Markets”, 2016
[60] Red Eléctrica da Espana. https://www.ree.es/es/actividades/proyectos-
singulares/central-chira-soria, acessado em 31 de agosto de 2020.
[61] CAISO, California ISO, 2018. Storage as a Transmission Asset: Enabling Storage
Assets Providing Regulated Cost-of-service-based Transmission Service to Access
Market Revenues.

PSR 83
[62] De Clercq, Simon; Schwabeneder, Daniel; Corinaldesi, Carlo; Bertetti, Odilia; Woyte,
Achim; How to create value through Aggregation: A business model review for
multiple regulatory environments in Europe. Vienna University of Technology.
[63] Hanley, S., 2016. Netherlands Utility to Use Tesla Powerwall to Make a Virtual Power
Plant.
[64] Bloomberg New Energy Finance- https://about.bnef.com/blog/behind-scenes-take-
lithium-ion-battery-prices/
[65] Edward Barboura, I.A. Grant Wilsonb, Jonathan Radcliffea, Yulong Dinga and
Yongliang, A review of Pumped Hydro energy Storage development in significant
international electricity markets
[66] Financial Times, New rivalto power plants: chains of electric vehicles selling into the
grid, publicação: 17/09/2020
[67] Next-kraftwerke. Website: https://www.next-kraftwerke.com/company, acessado em:
31 de agosto de 2020.
[68] FederalEnergy Regulatory Commission. Order No. 841 – Final Rule – Electric Storage
Participation in Regions with Organized Wholesale Electric Markets. 28/02/2018.
[69] Federal
Energy Regulatory Commission. Order No 2222: A New Day for Distributed
Energy Resources – Fact Sheet

[70] PJM.(10 de Julho de 2020). Who Whe Are. Fonte: https://www.pjm.com/about-


pjm/who-we-are.aspx

[71] PJM. (10 de Julho de 2020a). Map of PJM territory served. Fonte:
https://www.pjm.com/-/media/about-pjm/pjm-zones.ashx?la=en

[72] PJM.(10 de Julho de 2020b). PJM History. Fonte: https://www.pjm.com/about-


pjm/who-we-are/pjm-history.aspx

[73] PJM. (10 de Julho de 2020c). Reserve Market. Fonte:


https://www.pjm.com/Globals/Training/Courses/ol-reserve-market.aspx
[74] PJM (28 de agosto de 2020). Q & A for Electric Storage Resource Participation Model
https://pjm.com/-/media/committees-groups/committees/mic/20190206/20190206-
item-07c-faq-for-order-841-and-hybrids.ashx
[75] PJM (28 de agosto de 2020) PJM regulation Market
https://pjm.adobeconnect.com/_a16103949/p286s4q68k3/

[76] CAISO. (6 de Julho de 2020c). Acronyms List. Fonte:


http://www.caiso.com/Documents/ISO-AcronymList.pdf

[77] CAISO. (6 de Julho de 2020d). Market processes and products. Fonte:


http://www.caiso.com/market/Pages/MarketProcesses.aspx

PSR 84
[78] CAISO. (6 de Julho de 2020f). Day-Ahead Overview. Fonte:
http://www.caiso.com/CBT/NEW-Day-Ahead Overview/story_html5.html

[79] CAISO. (7 de Julho de 2020g). Real-Time Overview. Fonte:


http://www.caiso.com/CBT/NEW-Real-TimeOverview/story_html5.html
[80] EPRS, European Parliamentary Research Service, 2019. Energy Storage and Sector
Coupling: Towards an Integrated, Decarbonised Energy System. Policy brief.
[81] Eurostat, 2020. Final Energy Consumption in Transport by Type of Fuel.
https://ec.europa.eu/eurostat/web/energy/data/main-tables. Consultada el 28/08/2020.
[82] EIA, U.S. Energy Information Administration, 2020a. Monthly Energy Review.
Informe mensal de 26/08/2020.
[83] IRENA, 2018. Hydrogen from Renewable Power: Technology Outlook for the Energy
Transition. Informe técnico.
[84] ENTSOe & ENTSOg, 2018. Power to Gas - A Sector Coupling Perspective. Informe
técnico.

[85] Enea Consulting, 2016. The Potential of Power-To-Gas. Informe técnico.

PSR 85
ANEXO A

Acoplamento setorial – Sector coupling

Vários setores econômicos, como de transporte e grande parte da indústria, continuam


altamente dependentes de combustíveis fósseis e matérias-primas que emitem gases de efeito
estufa. O acoplamento setorial é uma das principais apostas para a descarbonização dessas áreas
da economia. Há dois aspectos desse conceito: end-use sector coupling e cross-vector
integration [80]

O acoplamento setorial de uso final (end-use sector coupling) supõe uma eletrificação direta
daqueles setores que não utilizam a eletricidade como principal elemento em seu processo
produtivo, como podem ser o setor de transporte, grande parte da indústria ou o aquecimento
doméstico. Alguns desses setores, como o de transporte, aumentaram sua eletrificação nos
últimos cinco anos, porém, conseguir uma eletrificação total desses setores é muito difícil, como
pode ser o caso particular do transporte aéreo.

Ao contrário, o cross-vector integration supõe uma eletrificação indireta, produzindo os recursos


necessários para esses setores por meio da eletricidade. Se este processo for realizado a partir de
eletricidade produzida sem emissão de gases com efeito de estufa, isso implica também uma
descarbonização destes setores. O conceito de cross-vector integration está intimamente
relacionado ao de potência para X (potência para gás, potência para líquido, potência para
aquecimento, etc.), ou seja, com a conversão de eletricidade para outro vetor de energia que
pode ser utilizado em outros setores da economia. Isso pode ser visto graficamente na Figura
62.

Figura 62 Representação gráfica do acoplamento setorial [80]

Como já dito anteriormente, o vetor de energia no qual a atenção dos especialistas está se
concentrando é, sem dúvida, o hidrogênio [80], que pode ser produzido através da eletrólise da

PSR 86
água, devido à sua versatilidade e à grande variedade de utilizações que pode ter. . Seu potencial
em diferentes setores da economia é detalhado a seguir.

Transporte

Atualmente, a eletrificação do setor de transporte é muito baixa. Na União Europeia, a


eletricidade representa 1,67% do consumo final de energia deste setor [81], enquanto nos
Estados Unidos é ainda menor, com 0,26% [82].Alcançar a eletrificação direta de grande parte
deste setor seria muito difícil, apesar dos inúmeros benefícios, uma vez que exigiria uma
expansão da rede de transmissão e distribuição de energia elétrica, bem como uma mudança
quase total da frota de veículos. Por outro lado, o aumento da demanda de eletricidade
produzida pela recarga simultânea de inúmeros veículos elétricos pode criar situações de risco
na segurança do abastecimento [80].

Porém, o uso do hidrogênio poderia ajudar a descarbonizar o setor de transportes sem


comprometer a segurança do abastecimento do sistema elétrico, aproveitando a possibilidade
de produzir hidrogênio em momentos de baixa demanda (e preços baixos) e armazená-lo para
consumo. de transporte. No entanto, como o hidrogênio em veículos deve ser convertido em
eletricidade em uma célula a combustível, a eficiência da conversão de hidrogênio nesses usos é
muito baixa, em torno de 23% [13]

Industria

Embora a eletrificação da indústria seja mais avançada do que o setor de transportes, a


descarbonização total do setor pode ser muito mais complexa. A demanda de energia da
indústria pode ser atendida por meio de vetores de energia limpa (eletricidade ou power-to-X).
No entanto, alguns setores industriais utilizam os combustíveis fósseis não como fonte de
energia, mas como parte de seu processo produtivo, como o gás e o petróleo para os processos
produtivos da indústria química e plástica [83].

A utilização do hidrogênio produzido por fontes de energia não poluentes em alguns processos
produtivos seria um passo importante para a descarbonização da indústria. Os processos
produtivos com maior potencial de aproveitamento de hidrogênio são detalhados a seguir:

• Produção de amônia, essencial para a cadeia de abastecimento de fertilizantes.


• Produção de metanol, elemento amplamente utilizado na indústria química.
• Produção de aço, por meio de processos alternativos baseados na redução do ferro.
• Refino de petróleo bruto, principalmente no processo de hidrogenação para produção
de petróleo mais leve.

Setor Gasista

Atualmente, o hidrogênio pode ser despejado na rede de gás sem a necessidade de modificações,
até a concentração de 20%; porém, com algumas adaptações técnicas, esse valor pode ser bem
maior, até 70% [83]. Além disso, se esse hidrogênio for convertido em metano, essa integração
seria facilitada.

PSR 87
A infraestrutura de gás supõe um armazenamento subterrâneo de energia muito significativo
(na Europa, é estimado em mais de 1.100 TWh; [84]), o que permitiria que grandes quantidades
de energia fossem armazenadas por longos períodos de tempo, com um horizonte sazonal. O
armazenamento através da rede de gás pode representar uma alternativa de menor custo para
expandir a infraestrutura elétrica e aumentar drasticamente as instalações de armazenamento
elétrico.

Porém, como no caso do transporte, a eficiência de conversão do hidrogênio é baixa, o que afeta
negativamente sua viabilidade. Outro elemento a considerar na análise de viabilidade é o fator
de carga. Estima-se, por exemplo, que o fator de carga necessário para que as instalações de
eletrólise sejam viáveis seria superior a 2.500 horas por ano [85]. Essas horas deveriam ter preços
baixos da eletricidade para produzir hidrogênio.

PSR 88
ANEXO B

Alemanha – Tarifa de transmissão e os sistemas de armazenamento

Na legislação de energia alemã, atualmente não há tarifação para a injeção de eletricidade na


rede de transmissão. Entretanto, até final de 2020, será apresentada uma nova proposta
legislativa alterando, entre outras, a "Energiewirtschaftsgesetzt". A nova lei incluirá uma
disposição segundo a qual qualquer geração na Alemanha que solicite conexão terá que pagar
pela conexão. A nova lei não prejudicará a instalação de geração renovável no sistema, pois os
custos de conexão serão financiados por uma sobretaxa para os consumidores após um sistema
de leilão baseado na Erneuerbare Energien Gesetz (Lei de energia renovável, em alemão) (EEG
2017). Porém, esses custos de conexão dificultarão a instalação do armazenamento de energia,
que não poderá repassar os custos de conexão para o consumidor. O setor vê como uma possível
solução isentar diretamente, neste texto legislativo nacional, o armazenamento de energia.

No país, a eletricidade armazenada retirada da rede é considerada como uma carga de um


consumidor final e então todos impostos ao consumidor final deveriam ser pagos durante a
recarga. Uma segunda taxa seria ainda cobrada ao retornar a energia para a rede. No entanto,
há algumas exceções como

• Taxas da rede não precisam ser pagas quando é realizado serviço de balanceamento de
energia no mercado de Reserva. Nesse caso específico, não há taxas nem para injeção
ou retirada de energia da rede.
• Há redução de tarifas de rede para consumidores com uso exclusivo de armazenamento
(não menos que 20% do preço de energia anual)
• Instalações de sistemas de armazenamento conectadas à rede são isentas de taxas de
rede para armazenamentos por 20 anos depois de comissionadas. Isso é aplicado a
usinas reversíveis comissionadas a partir de agosto de 2011(ou por 10 anos quando as
usinas aumentam a capacidade de geração em pelo menos 7,5% ou em 5% a capacidade
de armazenamento)
• Usinas com armazenamento de energia por hidrogênio, estarão isentas de taxas da rede
por 20 anos se elas estiverem conectadas à rede até 4 de agosto de 2026.

Vale frisar também que, ao contrário dos dispositivos estacionários de armazenamento de


eletricidade, o armazenamento em veículos elétricos não se enquadra nas regras de isenção, são
devidos encargos totais de rede.

Destaca-se ainda que há uma redução de tarifas de rede para clientes com consumo alto de
energia (tipicamente clientes da grande indústria) com consumo de energia que excede 7 000
horas de carga completa por ano e 10 GWh. Dependendo das horas de plena carga, a tarifa de
rede deve ser de pelo menos 10, 15 ou 20 % da tarifa normal de rede.[14].

PSR 89

Você também pode gostar