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Revista Brasileira de Meteorologia, 9(1): 44-53, 1994

EVOLUÇÃO DA PRECIPITAÇÁO DIÁRIA NUM AMBIENTE URBANO:


O CASO DA CIDADE DE SÁO PAULO

TERESINHA DE MARIA BEZERRA SAMPAIO XAVIER(~IAIRTON FONTENELE SAMPAIO XAVIER(I)


MARIA ASSUNÇÃO FAUS DA SILVA DIAS

Departamento de Ciências Atmosféricas/lAG


Universidade de São Paulo
C.P. 9638 - CEP 01065-970 - São Paulo - S P

RESUMO

Neste artigo, consideramos 'a variabilidade de alguns parâmetros relativos a plu-


viometria diária, para a estação do IAG (E3-035) na cidade de São Paulo, ao longo
do período 1933-1986, com o objetivo de documentar certas características mar-
cantes, como a atenuação progressiva das precipitações diárias mais fracas e o
reforço daquelas mais intensas, estas últimas presumivelmente de natureza convec-
tiva. São discutidas as possíveis causas de tais evoluções na precipitação diária,
seja em termos de efeitos locais, como a urbanização, seja em termos de causas
climáticas de caráter global.,

ABSTRACT

We consider the variability of some parameters of the daily precipitation for the station
of the IAG (E3-035) in the city of São Paulo-Brazil, during the period 1933-1986. Our
aim is to document certain marked characteristics such as the progressive attenuation
of the weaker daily precipitations and the reinforcement of the stronger ones. The pos-
sible causes of such evolution of the daily precipitations are discussed, in terms of local
effects as the urbanization and also in terms of climatic causes of global origin.

tados nas pesquisas envolvendo a análise da possível


influência dos campos térmicos urbanos e dos níveis da
O fenômeno da "ilha de calor" associada ao cresci- poluição, sobre a pluviometria. Segundo o estudo clás-
mento de centros urbanos é fato julgado bem esta- sico de Dettwiller (1970) sobre as relações entre a
belecido: (i) mediante medidas de temperaturas efetu- urbanização e o clima de Paris, o crescimento dos
a d a ao
~ longo de "cortes" transversais nas cidades, em assentamentos urbanos e da industrialização poderia
diferentes horários; (ii) pela análise das tendências de ter induzido, naquela área, a um aumento da pluviome-
temperaturas urbanas, mensais ou trimestrais; (iii) tria da ordem de 10%, sendo que parte disso provavel-
finalmente, usando dados indiretos de temperaturas mente dever-se-ia as atividades industriais; embora a
urbanas, obtidos a partir de aeronaves ou satélites. incidência desse último fator pudesse ser nulo ou
Nessa direção, muito embora seja escassa a bibli- desprezível, com respeito ao número de dias chuvosos
ografia sobre climas urbanos nos trópicos (conforme ou sobre as precipitações mais fracas. Contudo, chama
Jauregui, l988), é possível noticiar alguns estudos atenção para a grande variabilidade das medidas
realizados para a cidade de São Paulo: Lombardo & numéricas envolvidas como um obstáculo para uma
Tarifa (1983), Sansigolo (1990) e Oliveira (1991). apreciação adequada da realidade dos fatos.
Por outro lado, ainda subsistem controvérsias ou Como argumenta Landsberg (1981), um
dificuldades no que se refere à interpretação de resul- raciocínio lógico sugere um aumento da precipitação

(1) CNPq, Pesquisador Associado


Terezinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier. Airton Fontenele Sampaio Xavier, Maria Assunção Faus da Silva Dias 45

nas áreas urbanas e isso pode ser inferido diante dos estático, pois se referem a médias anuais calculadas
seguintes fatos: maior "rugosidade" aerodinâmica das para um único período de tempo, não permitindo
superflcies construfdas associada a um aumento da avaliar a existência de qualquer sinal conclusivo a
turbulência; pelo aquecimento, que constitui causa da respeito de um aumento progressivo da precipitação.
formação de correntes ascendentes; por último, pelos Xavier & al. (1992) estudaram o comportamento
níveis de poluição urbana, originando maiores acúmu- de séries pluviométricas mensais e trimestrais na
10s de núcleos higroscópios de condensação. Mas Grande São Paulo, com respeito as últimas cinco
'
conclui afirmando que, de fato, o mais difícil de décadas (1940149 a 1980189). A metodologia estatís-
demonstrar é precisamente a existência do acréscimo tica ali utilizada, incluía: (i) uma análise de coerência
na precipitação. dos dados através do cálculo de correlações; (ii)
O mesmo raciocínio foi utilizado por Tabony emprego da técnica de componentes principais
(1980) no sentido de que seria esperado, em particular, (ACP) com a finalidade de revelar possíveis similari-
o aumento das chuvas convectivas na área urbana de dades ou dissimilaridades entre os comportamentos
Londres, comparativamente as circunvizinhanças. Não dos postos pluviométricos; (iii) a análise de tendên-
obstante, também adverte a respeito do problema da cias e de quase-ciclos; (iv) finalmente, uma análise
grande variabilidade da chuva como um fator de difícil comparativa de médias pluviométricas calculadas
controle. Em seu artigo está relatada uma coerência com respeito a décadas consecutivas e a grupos de
espacial pobre entre as tendências, calculadas a partir postos, na tentativa de serem avaliados os deficits
de 70 pluviômetros espalhados numa área de 12.000 relativos da pluviometria no centro da cidade, com-
km2 centrada em Londres. Assim, as tendências parativamente a outros grupos de postos, considera-
encontradas podem ser muito diferentes para pontos dos periféricos.
separados entre si de apenas poucos quilômetros. Por No trabalho acima mencionado, a maior coerência
outro lado, no período de análise, que ia de 1911 a dos dados ocorreu durante o outono e o inverno; a
1970, não foram encontrados efeitos indubitáveis da menor coerência, para as chuvas de verão, como seria
urbanização sobre a chuva anual ou sobre os totais de esperar. Nenhuma tendência foi detectada com
acumulados no verão na área de Londres, uma vez respeito as séries pluviométricas mensais e trimestrais
que as variações detectadas nas tendências eram típi- do posto E3-036 ("Estação da Luz") (1933-1991) situa-
cas das observadas para o resto do país. Contudo, do no centro da cidade. Porém, com respeito ao posto
confessa não haver examinado a questão das chuvas E3-035 ("IAG") (1933-1991) fracas tendências positi-
intensas ou aguaceiros de curta duração ocorridos vas (embora estatisticamente significativas) foram
durante o verão, que se esperaria serem afetados pelo encontradas para as séries da chuva acumulada no
processo de urbanização. Trimestre I (janeiro+fevereiro+março) e no Trimestre II
Sobre a cidade de São Paulo, conforme Monteiro (abril+maio+junho), bem como, separadamente nos
(1986), não são suficientemente claros os sinais de meses de fevereiro e maio. Finalmente, a comparação
aumento da precipitação, especialmente em termos das médias calculadas para décadas consecutivas e
dos valores (médias) anuais. Por outro lado, embora grupos distintos de postos, revelou uma tendência de
haja apontado um aumento em termos de aguaceiros ocorrerem, de preferência nas últimas décadas,
episódicos, conclui que existe outra possível conexão, "deficits" pluviométricos relativos para o grupo com-
a saber, com aspectos mais gerais ligados a circulação posto pelos postos E3-035 + E3-036, quando com-
atmosférica regional. paradas suas médias com as de grupos de postos com
Gomes (1984) havia conjecturado sobre a anom- localizações geográficas mais periféricas; e em espe-
alia térmica e a estrutura orográfica como os fatores cial, durante os trimestres de outono, inverno e pri-
responsáveis, em conjunto, por um máximo de preci- mavera. No verão, pelo contrário, predominavam
pitação localizado próximo ao centro urbano de São "superavits" pluviométricos relativos. Porém, tais resul-
Paulo. Mas os resultados expostos não conseguem tados não podem ser considerados como conclusivos,
separar estes dois possíveis efeitos. Ademais, a diante de perturbações nos dados lifiadas a grande
ausência de um estudo em termos evolutivos, ao longo variabilidade temporal e espacial da pluviometria, bem
do tempo, não permite assegurar qualquer mudança como, pela presença de quase-ciclos.
efetivamente imputável a influência urbana. De fato, é necessário ter muita cautela ao interpre-
Da mesma maneira, Oliveira (1991) refere que a tar resultados referentes a modificações da pluviometria,
precipitação no centro de São Paulo é superior em 9% pelo motivo da existência de múltiplos fatores possivel-
e 2%, respectivamente, em comparação aos setores mente aí envolvidos, não apenas aqueles de caráter
sul e norte da capital. Porém, esses números não pare- local ou regional (temperaturas na interface cidade-
cem tão grandes ao ponto de os eximir do crivo de um atmosfera, regime de ventos, orografia, influência de rios
teste estatístico de significância, o que não foi realiza- e espelhos de água, etc.) como também os de caráter
do. Além disso, tais resultados possuem um caráter global (teleconexões e mudanças climáticas).
46 Evolução da Precipitação diária num ambiente urbano: O caso da cidade de São Paulo

Note-se que, mesmo na presença de uma ano-


malia indubitável, poderia tratar-se simplesmente de
uma anomalia topoclimática independente da existên-
cia ou não da cidade naquela localização! Como
Pittock (3977) já havia considerado, há decerto a
necessidade de separar os efeitos topográficos de
meso-escala dos efeitos antropogênicos e, conforme
ele mesmo assinala, isso sempre é difícil. De maneira
análoga, Wilson & Atwater (1972) referiam ser pre-
ciso levar sistematicamente em consideração a
importância dos aspectos topográficos no contexto de
estudos da pluviometria que se destinem a avaliar*
modificações de natureza antrópica, planejadas ou
inadvertidas.
Neste artigo, consideramos a variabilidade de
alguns parâmetros relativos a pluviometria diária, para
a estação do IAG, ao longo do período 1933-1986, com
o objetivo de documentar algumas características mar-
cantes, como a atenuação de precipitações diárias
mais fracas e o reforço daquelas mais intensas, estas FIG. 1 @ PARQUE DO ESTADO 1 E3-035 (IAG)
últimas presumivelmente de natureza convectiva. @ E3-036 (EST.DA LUZ)
@) AEROP. DE CONGONHAS

2. DADOS E METODOLOGIA
@) PQ. IBIRAPUERA @ HORTO FLORESTAL

2.1 Dados Pluviométricos


2.2 Procedimentos Metodológicos
Utilizamos neste trabalho uma série pluviométrica
diária da cidade de São Paulo, a da estação meteo- Foi desenvolvido um programa em TURBO-PAS-
rológica do Instituto Astronômico e- Geofísico I CAL permitindo calcular a partir dos dados diários, os
Universidade de São Paulo (IAGIUSP), com dados seguintes parâmetros referentes a cada mês e em
ininterruptos desde o início do ano de 1933. Limitamo- cada ano: (i) o número de dias sem ocorrência de pre-
nos aos dados que se achavam disponíveis na forma cipitação; (ii) o número de dias de chuva com precipi-
de um arquivo eletrônico, cobrindo o período 1933- tação, inferior a um limiar h predeterminado (h = 2 mm,
1986. Tal série é considerada confiável, no sentido de 5 mm, 10 mm, etc.) e também sua contribuição,em
ter sido submetida a contínuo e rigoroso controle de milímetros para a altura da chuva acumulada mensal;
qualidade nas suas fases de aquisição, transcrição e (iii) o número de dias com precipitação maior ou igual
salvaguarda dos dados. a um limiar H fixado arbitrariamentes (H = 10 mm,
Esta estação meteorológica possui como coorde- 20mm, 30 mm, etc.) e ainda sua contribuição em
nadas: 23 graus e 39 minutos de latitude sul e 46 graus milímetros para a precipitação durante o mês; (iv) e em
e 38 minutos de longitude oeste, estando localizada geral, o número de dias e sua contribuição a pluviome-
dentro do "Parque Estadual das Nascentes do Ipiranga" tria, correspondente a uma altura diária da chuva com-
("Parque do Estado") o qual abriga uma área verde preendida num intervalo arbitrariamente escolhido.
muito extensa. Na mesma área, além da reserva flore- O período 1933-1986 foi subdividido em K classes
stal propriamente dita, estão localizados os Jardins ou subperíodos consecutivos de iguais durações (K =
Botânico e Zoológico da Cidade, bem como as sedes 3 ou 6). Com respeito a cada um desses subperíodos,
do IAGIUSP e da Secretaria de Agricultura do Estado são calculadas as médias referentes aos vários
de São Paulo. Nos primeiros anos do período 1933- parâmetros acima considerados e a cada um dos doze
1986 o parque podia ser considerado como possuindo meses do ano. A análise de variância clássica foi
uma situação periférica com respeito a área urbana de empregada para testar diferenças porventura exis-
São Paulo; porém, gradualmente, foi-se transformando tentes e detectáveis entre as médias nas diversas
num enclave verde rodeado por áreas vizinhas densa- classes ou subperíodos (para K = 3 ou K = 6).
mente construídas. Portanto, os dados pluviométricos Como se sabe, a análise de variância (AV) clássica é
respectivos são mais suscetíveis de acusarem, ao um procedimento considerado robusto, pelo menos se
longo de sua evolução temporal, alterações atribuíveis grandes desvios não ocorrerem com respeito aos requisi-
a influência do meio urbano. Ver a Figura 1, a seguir. tos usualmente exigidos para a validade do teste (norma-
Terezinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier, Airton Fontenele Sampaio Xavier, Maria Assunção Faus da Silva Dias 47

lidade dos dados e homogeneidade das variâncias). Por -


Tabela 1 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura 2 30 mm, &
tal motivo, foram realizados testes específicos para veri- Pluviometria Acumulada Mensal no Verão e no Outono (Médias cal-
culadas para três períodos e Análise de Variância) (').
ficar a homogeneidadedas variâncias intra-classes(testes
de Cochran e de Bartlett) e também a normalidade das dis- Meses médias (mm) nos períodos A.V.
tribuições (teste de Kolmogorov-Smirnov).É óbvio que no 1933-1950 1951-1968 1969-1986 n. sig. (2)
caso de variáveis discretas, do tipo "número de dias", já
não faz sentido que "a priori" se cogite da hipótese de nor- VERÃO
Janeiro 81,l 89,O 85,4 p = 0,919
malidade. Portanto, quando foi necessário, paralelamente Fevereiro (3) 57,l 93,4 119,O p=0,032
a cada AV clássica, executou-se uma análise de variância Março 66,l 66.5 33.9 p = 0,533
não-paramétrica, mediante o teste de Kruskal-Wallis (KW).
OUTONO
Deve-se ainda lembrar que uma análise de variância Abril 15,9 23,O 28,3 p = 0,533
(paramétrica ou não-paramétrica)destina-se tão somente Maio (3) 5,1 24.1 31,O p = 0,019
a detectar, globalmente, a existência de diferenças entre Junho 14,8 23 23,3 p = 0,072
as médias. E onde se localizam, especificamente, a
(1) dados da estação (pluviômetro) E3-035 1IAG
análise de variância nada permite adiantar. Assim, quando (2) níveis de significância (n. sig) em termos das probabilidade de
necessário, tem-se de efetuar comparações múltiplas erro, referentes a análise de variância
entre as médias das classes; para esse fim, de preferência (3) OS valores em destaque em FEVEREIRO e MAIO, correspon-
dem a um padrão de médias crescentes; as diferenças são sig-
foi utilizado o método de Scheffé. nificativas ao nível a = 0,03 (p = 0,032) e a G 0.02 (p = 0,019)
Como referências básicas sobre todos os proce- respectivamente
dimentos estatísticos acima mencionados, remete-se
a: Siegel (1956), Conover (1971), Sachs (1978) e nula, ou seja, a não existência de qualquer diferença
Essenwanger (1986). Porém, outros procedimentos entre as médias e, particularmente, de nenhuma tendên-
foram também subsidiariamente empregados, espe- cia de crescimento ou de decréscimo das medias com
cialmente de natureza gráfica, os quais são men- respeito aos subperíodos consecutivos.
cionadas nas ocasiões oportunas. Note-se, ainda, que na mencionada tabela com-
parecem apenas os resultados para os meses dos
trimestres de verão e outono. Contudo, para os demais
3. RESULTADOS meses, as diferenças foram todas estatisticamente não
significativas, donde o motivo de que os valores
Anâlisamos os seguintes parâmetros, referentes a numéricos para esses meses tenham sido omitidos.
pluviometria diária do posto E3-035 / IAG: a con- Por outro lado, análogo padrão de crescimento das
tribuição para a altura pluviométrica mensal, dos dias médias está presente na Tabela 2, quando são conside-
com chuvas mais intensas e, complementarmente, a rados seis subperíodos de tempo consecutivos: 1933-41,
contribuição no caso dos dias com chuvas mais fracas. 1942-50, 1951-59, 1960-68, 1969-76 e 1977-86. Em
Consideramos, também, o número médio de dias com fevereiro, o padrão de crescimento das médias é signi-
chuvas mais intensas ou mais fracas. Isso será exa- ficativo ao nível p = 0,050 (isto é, 5 %). Note-se que,
minado, a seguir, em separado.
-
Tabela 2 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura > 30 mm, a
3.1 Análise da Contribuição a Pluviometria Pluviometria Acumulada Mensal no Verão e no Outono (Médias cal-
culadas para seis períodos e Análise de Variância) (i).
Mensal dos Dias com Chuvas mais Intensas
Meses médias (mm) nos períodos A.V.
Na Tabela 1 observa-se nitidamente o crescimento
33-41 42-50 51-59 60-68 69-76 77-86 n. sig. (2)
gradativo da contribuição dos dias de chuva com uma
altura maior ou igual a 30 mm, a pluviometria nos meses VERÁO
de fevereiro e maio, no decurso dos três subperíodos de Janeiro 61,O 101.1 97,O 80,9 109.7 61,O p=0,298
Fevereiro(3) 32,9 81.3 71,l 115,7 112.3 125,7 p=0,050
tempo consecutivos: 1933-50, 1951-68 e 1969-86. De Março 61,2 71,O 51,5 81,4 31,4 63,6 p=0,484
fato, com respeito a esses dois meses, em geral consi-
derados os mais representativos das estações do verão OUTONO
Abril 108,6 89,6 7§,6 109,3 83,5 75,4 p=0,928
e do outono, respectivamente, a análise de variância Maio (4) 6,4 3,8 21,4 26,7 30,3 31,8 p=0,163
resultou significativa aos níveis p = 0,032 e p = 0,019 (i.e., Junho 8,2 21,4 5,2 0,O 18,3 28,4 p=0,222
níveis de significância da ordem de 3% e 2% resp.).
(1)(2)como na Tabela 1
Para o mês de abril, verifica-se o mesmo padrão de (3) OS valores em destaque em FEVEREIRO, correspondem a um
crescimento gradativo, embora não mais se trate de um padrão de médias crescentes; as diferenças são significativas
resultado estatisticamente significativo através do teste. ao nivel a F 0,05
(4) em MAIO, os valores em destaque indicam um padrão de
Por outro lado, note-se que para janeiro o valor p = O,9l 9 médias crescentes; porém as diferenças não são significativas
(próximo de um) sugere que se possa aceitar a hipótese ao nível a E 0,05 (p = 0,163)
48 Evolução da Precipitação diária num ambiente urbano: O caso da cidade de São Paulo

embora essas médias não estejam em termos aritméti- FEVEREIRO MAIO


cos numa ordem rigorosamente crescente ou pelo
menos não decrescente, estatisticamente seria como se
o estivessem; com efeito, em testes de comparações
múltiplas de médias, os valores 81,3 mm e 71,1 mm não
diferem significativamente entre si, bem como, 115,7 mm
e 125,7 mm. O mesmo padrão é obsetvado para o mês
de maio, mas as diferenças não são mais globalmente
significativas do ponto de vista da análise de variância.
Padrões semelhantes são ainda verificados quan- (a) 1 = 1933-1950 2 = 1951-68 3 = 1969-86
do, em vez das médias calculadas nos subperíodos,
consideramos as contribuições máximas (para k = 6). FEVEREIRO MAIO
Conforme a Tabela 3.

-
Tabela 3 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura 2 30 mm, A
Pluviometria Acumulada Mensal no Veráo e no Outono (Médias cal-
culadas para seis períodos (1).

Meses médias (mm) nos períodos


- (b) 1 = 1933-41 2 = 1942-50 3 = 1951-4.5
33-41 42-50 51-59 60-68 69-76 77-86 4 = 1960-68 5 = 1969-76 6 = 1977-86
Figura 2 - Intervalos de Confiança (95%)para as Médias (mm) das
VERÃO Contribuições a Pluviometria Acumulada Mensal, dos Dias de Chuva
Janeiro 177,9 189,9 184,7 145,4 213,6 1 l 7 , l de Altura 2 30 mm, em Subperíodos de Tempo Consecutivos, nos
Fevereiro 93,l 176,4 154.5 205.5 255,8 285.5 (2) meses de FEVEREIRO e MAIO.
Março 221,O 170,9 :23,9 178,l 72,5 156,9

OUTONO
Abril 108.6 89,6 79.6 109,3 83,5 75,4 -
Tabela 4 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura 2 H (H = 5,
Maio 57,5 34,O 67,8 75,l 97,8 109,8 10, ..., 50 mm, a Pluviometria Acumulada em Fevereiro (Médias cal-
Junho 43,7 125,8 46,5 0,O 46,5 116,2 culadas para trés períodos e Análise de Variãncia) (').

(1) como na Tabela 1 médias (mm) em Fevereiro A.V. K.W.


(2) os valores em destaque em FEVEREIRO e MAIO apresentam nos períodos
um padrão de valores máximos crescentes p = n. sig.

limiares 33-50 51-68 69-86 (2)


Todos os resultados, referentes as contribuições
médias dos dias com altura da chuva 2 30 mm, nos
meses de fevereiro e maio, são resumidos nos gráficos
(a) (para k = 3) e (b) (para k = 6), da Figura 2. Nestes
gráficos, são representados intervalos para as médias,
ao nível de confiança de 95%.
(1)(2)como na Tabela 1 e 2
Por outro lado, os resultados verificados nas Tabelas (3) OS valores em destaque para H = 30 mm correspondem a um
1 e 2, com respeito aos meses de fevereiro e maio, são padrão de médias crescentes e as diferenças são significativas
reconsiderados para o caso de outros limiares, a saber: H ao nível a 5 0,03 (p = 0,032); contudo, para outros limiares H
ocorre o mesmo padrão de médias crescentes
= 5 mm, 10 mm, 20 mm, 40 mm e 50 mm (para H = 30 (4) para os limiares H = 30, 40, 50 mm não foi possível efetuar o
mm os valores ficam repetidos). Com essa finalidade, teste de Kruskal-Wallis
remetemos o leitor a inspeção das Tabelas 4, 5, 6, e 7.
Em geral, o padrão de crescimento progressivo das estatisticamente não significativos, envolve um mesmo
médias, com respeito a cada um desses dois meses, padrão, consistentemente mantido, fato que não nos
está mantido para os demais limiares selecionados; a parece explicável as custas do puro azar. Além disso,
menos de alguns casos em que a ordem das médias de acrescente-se a circunstância de que esse padrão não é
duas classes contíguas está invertida (relativamente a encontrado com respeito aos demais meses do ano.
ordem supostamente crescente ou não decrescente);
além disso, em tais casos, essas médias contíguas não 3.2 Análise do Número Médio de Dias com
são estatisticamente distintas. Não obstante, o único li- Chuvas mais Intensas
miar para o qual são encontradas, globalmente, dife-
renças significativas, é ainda H = 30 mm. De qualquer Com respeito as variáveis "número médio de dias
maneira, o padrão de crescimento que transparece da com chuva 2 H " ( H = 20 mm e H = 30 mm ) obteve-
análise dessas tabelas, mesmo nos casos considerados se o seguinte:
Terezinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier, Airton Fontenele Sampaio Xavier, Maria Assunção Faus da Silva Dias 49

-
Tabela 5 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura 2 H (H = 5, -
Tabela 8 Número Médio de Dias de Chuva com Altura 2 H (H = 30
10, ...,50 mm, à Pluviometria Acumulada em Fevereiro (Médias cal- mm) em Abril e Maio (I).
culadas para três períodos e Análise de Variância) (i).
Meses médias (mm) nos períodos
médias (mm) em Fevereiro A.V. K.W.
nos períodos p = n. sig. 33-41 42-50 51-59 60-68 69-76 77-86

limiares 33-41 42-50 51-59 60-68 69-76 77-86 (2) Abril 0,3 0.3 0,4 0,4 0,8 0,8
Maio 0,1 0,1 0,4 0,7 0.7 0,7

como nas tabelas precedentes

Para o limiar H = 30 mm, ocorre um padrão de


aumento para os meses de abril e maio, conforme
(1)(2)como em tabelas precedentes a Tabela 8. Contudo, não houve possibilidade de
(3) os valores em destaque para H = 30 mm correspondem a um testar essas diferenças através do teste de
padrão de médias crescentes e as diferenças são significativas
ao nível a G 0.05; contudo, para outros limiares H ocorre o
Kruskal-Wallis (há muitas ocorrências de valores
mesmo padrão de médias crescentes iguais a "zero"; aliás, todas as médias são inferi-
(4) para os limiares H = 30, 40, 50 mm não foi possível efetuar o ores a "um", indicando que se está diante de um
teste de Kruskal-Wallis evento raro).
Para o limiar H = 20 mm, não ocorre um padrão
-
Tabela 6 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura 2 H (H = 5,
regular (de aumento ou decréscimo) das médias
10, ..., 50 mm, a Pluviometria Acumulada em Maio (Médias calcu- dos números de dias com chuvas a partir desse
ladas para três períodos e Análise de Variância) (1). limiar, ao longo dos seis períodos consecutivos,
médias (mm) em Maio A.V. K.W.
em nenhum dos meses do ano.
nos períodos
p = n. sig. 3.3 Análise da Contribuição a Pluviometria
limiares 33-50 51-68 69-86
Mensal dos Dias com Chuvas Mais Fracas
Consideramos, agora, as Tabelas 9 e 10,mostran-
do a evolução nos k subperíodos consecutivos (para
k= 3 e k= 6, resp.) das médias das contribuições à plu-
viometria mensal, dos dias com chuva inferior a 5 mm,
com respeito aos meses de verão e outono. Conforme
(1)(2)como nas tabelas precedentes
pode ser observado nessas tabelas, são verificadas
(3) OS valores em destaque para H = 30 mm correspondem a em fevereiro contribuições consistentemente decres-
um padrão de médias crescentes e as diferenças são sig- centes (exceto o valor médio igual a 14,l mm, em
nificativas ao nivel cr 0,02 (p = 0,019); contudo, para
outros limiares H ocorre o mesmo padrão de médias
1977-86,para k = 6); além disso, tais diferenças são
crescentes estatisticamente significativas. No restante dos meses
(4) para os limiares H = 5, 10, ..., 40, 50 mm não foi possível efet- de verão e nos de outono (e também nos meses de
uar o teste de Kruskal-Wallis
-
Tabela 9 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura < 5 mm à
Pluviometria Acumulada mensal no Verão e Outono (Medias calcu-
-
Tabela 7 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura 2 H (H = 5, ladas para três períodos e Análise de Variância) (1).
10, ..., 50 mm, à Pluviometria Acumulada em Fevereiro (Médias cal-
culadas para três períodos e Análise de Varihncia) (1). Meses médias (mm) em Fevereiro A.V. K.W.
p = n. sig. (2)
médias (mm) em Maio A.V. 1933-50 1951 -68 1969-86
nos períodos
VERAO
limiares 33-41 42-50 51-59 60-68 69-76 77-86 n. sig. (2) Janeiro 19,9 15,O 16.4 ,042 ,092
Fevereiro (3) 18,9 12,8 11,5 ,0008 ,003
H = 5 mm 46,O 24,5 65,7 49,3 51,2 74,9 p = ,174 Março 16,O 14,7 13,6 ,507 ,661
H = 10 mm 33,O 15,l 53,O 43,8 44,3 62,7 p = ,167
H = 20 mm 20,2 7,O 31,6 31,7 32,8 46,7 p = ,251 OUTONO
H = 3 0 m m 6,4 3,8 21,4 26,7 30.3 31.8 p=,163 Abril 12.5 12,7 11,3 ,669 ,725
H = 40 mm 6,4 0,O 17,7 15,5 19,8 12,2 p = ,651 Maio 11,4 8,l 9,l ,092 ,145
H = 50 mm 6 , 4 , 0,O 73 5,7 15,O 12,2 p = ,822 Junho 9,8 8,1 8,O ,462 ,438

(1)(2)como nas tabelas precedentes (1)(2)como nas tabelas precedentes


(3) OS valores em destaque para H = 30 mm correspondem a um (3) OS valores em destaque, em FEVEREIRO, correspondem a um
padrão de médias crescentes; porem as diferenças não são sig- padrão de médias decrescentes e as diferenças têm um eleva-
nificativas ao nivel u 2 0,05 do nivel de significância
50 Evolução da Precipitação diária num ambiente urbano: O caso da cidade de São Paulo

-
Tabela 10 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura c 5 mm a -
Tabela 11 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura c h (h =>
Pluviometria Acumulada Mensal no Verão e no Outono (Médias cal- mm) à Pluviometria Acumulada em Fevereiro (Médias calculadas
,culadas para três períodos e Análise de Variância) ('). para três períodos e AnBlise de Variância) (I).

médias (mm) em Fevereiro A.V. K.W. médias (mm) em Fevereiro A.V. K.W.
nos períodos p = n. sig. (2) nos períodos p = n. sig. (2)

Meses 33-41 42-50 51-59 60-68 69-76 77-86 Meses 1933-50 1951-68 1969-86

VERAO (3) Janeiro


Janeiro 17,7 22,l 14,l 15,9 17,2 15,6 ,091 ,241 Fevereiro (3)
Fevereiro 21,8 16,O 12,9 12,7 9,O 14,l ,0005 ,003 Março
Março 16,O 16,O 11,2 18,3 12,4 14,8 ,150 ,226 Abril
Maio (3)
OUTONO Junho (3)
Abril 14,O 1 1 , O 14,O 11,5 11,5 11,l ,708 ,686 Julho
Maio 13,7 9,l 8,5 7,7 9,8 8,5 ,080 ,190 Agosto
Junho 10,7 8,8 7,6 8,7 9,2 6,7 ,618 ,567 Setembro
Outubro (3)
(1)(2)comonas tabelas precedentes Novembro
(3) em FEVEREIRO as médias diferem com elevado nível de sig- Dezembro
nificância (p = 0,0005 na A. V. clássica e p = 0,003 na A. V.
clássica não paramétrica ou teste de Kruskal-Wallis); os va- (I)(*) como nas tabelas precedentes
lores em destaque correspondem a um padrão de médias (3) OS valores em destaque em FEVEREIRO, MAIO, JUNHO e
decrescentes OUTUBRO, correspondem a um padrão de médias decres-
centes, a níveis altamente significativos, especialmenteno caso
dos dois primeiros meses mencionados
FEVEREIRO
-
Tabela 12 Contribuição dos Dias de Chuva com Altura c h (h = 2
mm) a Pluviometria Acumulada de Janeiro a Dezembro (Médias cal-
culadas para seis periodos e Análise de Variância) (').

médias (mm) nos períodos A.V. K.W.


p = n. sig. (2)
Meses 33-41 42-50 51-59 60-68 69-76 77-86

Janeiro 6,O 5,2 5,2 4,6 5,7 4,7


1 2 3 Fevereiro (3) 7,2 6,O 4,9 3,6 2,8 3,6
Março 6,O 5,2 4,7 4,4 5,8 ' 4,8
Abril 6,O 5,4 3,5 4,2 4,9 4,7
(a) 1 = 1933-1950 2 = 1951-68 3 = 1969-86
Maio (4) 7,3 5,5 3,4 4,9 4,3 3,1
Junho (4) 6,2 3,8 2,7 4,2 2,6 2.8
FEVEREIRO Julho 5,6 4,l 2,4 2,8 3.2 2.7
Agosto (5) 5,3 4,O 2,3 2,9 3,7 4,4
Setembro 4,9 4,9 3,4 4,O 3.9 3.6
Outubro 6,3 5.7 5.2 3.9 4.7 3.8
Novembro 5,O 5,5 4.6 5,l 3.0 4.5
Dezembro 6,4 4,2 3,6 -5,O 4,O 4,9

(1)(2)como nas tabelas precedentes


(3) em FEVEREIRO as médias diferem com elevada significânncia
(p = 0,0002 na A. V. clássica e p = 0,002 na A. V. não paramétri-
ca ou teste de Kruskal-Wallis); os valores em destaque corres-
pondem a um padrão de médias decrescentes
(b) 1 = 1933-41 2=1942-50 3=1951-59 (4) em MAIO and JUNHO as diferenças são também altamente sig-
nificativas
4 = 1960-68 5 = 1969-76 6 = 1977-86 (5) em AGOSTO há uma diferença significativa (pelos procedimen-
tos de A. V. clássica e não paramétrica); porém não se obser-
Figura 3 - Intervalos de Confiança (95%)para as Médias (mm) das va, para as médias, um padrão consistente de crescimento ou
Contribuições a Pluviometria Acumulada Mensal, dos Dias de Chuva de decréscimo
de Altura t 5 mm, em Subperiodos de Tempo Consecutivos, nos
meses de FEVEREIRO.

Por outro lado, se em vez do limiar h.= 5 mm for


inverno e primavera, omitidos nas tabelas) as dife- considerado um limiar mais baixo, h = 2 mm, padrões
renças não chegam a ser significativas. de decréscimo das contribuições médias passam a ser
Na Figura 3, os resultados encontrados para observados com respeito a outros meses, além de
fevereiro foram resumidos graficamente, estando re- fevereiro; sendo que em alguns casos as diferenças
presentados intervalos para as médias ao nível de con- são altamente significativas, conforme pode ser obser-
fiança de 95%. vado nas Tabelas 11 e 12.
Terezinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier, Airton Fontenele Sampaio Xavier, Maria Assunção Faus da Silva Dias 51

3.4 Análise do Número Médio de Dias com 2,8) e maio (de 6,4 mm no primeiro subperíodo
Chuvas mais Fracas para 31,8 mm no último, com um fator de acrésci-
mo da ordem de 5 vezes), conforme a Tabela 2.
Finalmente, na Tabela 13, ve-se que o número de Note-se que em fevereiro o aumento dá-se grad-
dias no mês com chuvas mais fracas (alturas superiores ualmente, ao longo dos subperíodos consecutivos;
a 0,l mm e menores ou iguais a 5 mm) têm diminuido, contudo, em termos do número de dias com chuva
em média, com respeito a quase todos os meses (o 2 30 mm, para este mesmo mês, não ocorrem
teste de Kruskal-Wallis revela diferenças altamente sig- mudanças significativas. Já em maio, ocorre um
nificativas, especialmente para os meses de fevereiro, salto das médias entre o segundo e o terceiro sub-
março, maio, junho e julho; porém, sendo ainda signi- período de nove anos (ou seja, da década de 40
ficativas para janeiro, abril, agosto e setembro). para a de 50); o qual é acompanhado por um salto
no número de dias (de 0,l para 0,4) conforme re-
vela a Tabela 8. Para os valores máximos, ver a
-
Tabela 13 Número de Dias no Mês com Pluviometriamaior que 0,l Tabela 3, ocorre algo semelhante. Examinando
mm e inferior a 5,O mm (MBdias calculadas para seis Períodos con-
secutivos a Análise de Varância não paramétrica) ainda as médias na Tabela 2, nota-se que para os
- -- três primeiros grupos de anos, os valores são
números médios nos períodos K.W. maiores em janeiro, comparativamente a fevereiro;
limiares 33-41 42-50 51 -59 60-68 69-76 77-86 n. sig. (2)
invertendo-se a situação para os três últimos gru-
pos de anos, quando os valores maiores estão em
Janeiro 6 I 8,l 9,7 10,O 8,8 fevereiro, em vez de janeiro. Finalmente, compa-
Fevereiro (3) 13,7 9,6 7,6 7,4 6,2 6,4
Março 14,3 1 1,4 7,9 9,3 9,3 8,2
rando maio e junho, nota-se que nos dois primeiros
Abril 12,2 1 1,7 8,2 8,6 10,l 6,9 grupos de anos, os maiores valores ocorrem em
Maio 15,6 1 1,6 6,2 7,7 8,2 4,9 junho, enquanto com respeito aos quatro últimos
Junho 15,4 10,8 5,7 7,3 6,O 4,9
Julho 1 2 II 4,3 6,2 5,6 5,9
grupos de anos os maiores valores correspondem
Agosto 9,9 9,l 4,4 6,4 6,3 7,7 ao mês de maio.
Setembro 11,7 9,O 5,9 7,l 6,9 7,O Pela Tabela 10, percebe-se que as acumulações
Outubro 11,4 9,O 8,4 7,9 8,l 7,4
Novembro 10,2 10,O 7,l 8,4 7,7 7,9
inferiores a 5 mm / dia diminuiram de forma mais
Dezembro 11,2 9,6 7,2 9,2 8,3 8,7 significativa, estatisticamente, em fevereiro (de
21,8 mm para 14,l mm, comparando os valores
(I) dados de E9-095 / IAG
(2) níveis de significância (n. signif.) em termos das probabilidades médios no primeiro e no último subperíodos,
de erro de Tipo I, para a análise de variância não-parambtrica respectivamente ); em maio houve também uma
(Kruskal-Wallis) diminuição, embora não estatisticamente significa-
Obs: Foram destacados apenas os meses para os quais: (i) as difer-
enças foram altamente significativas com respeito ao teste de tiva (de 13,7 mm para 8,5 mm). Por outro lado, pela
Kruskal-Wallis; (ii) as médias dos números de dias configuram Tabela 12, nota-se que as acumulações inferiores
um padrão de evolução dessas médias ao longo dos períodos a 2 mm /dia também decrescem significativamente
consecutivos (nesta Tabela, trata-se de um padrgo de decrésci-
mo das médias). Isso ocorre em Fevereiro, Março, Maio. Junho em fevereiro (de 7,2 mm para 3,6 mm) e em maio
e Julho. Alguns valores em tais sequências de médias não (de 7,3 mm para 3,l mm). Finalmente, consideran-
foram destacados, desde que constituem irregularidades no do os números de dias em cada mês com acumu-
contexto do padrão de decréscimo das mBdias. Mas são va-
lores vizinhos. lações entre 0,l mm e 5,O mm, conforme a Tabela
13, verifica-se também uma queda do primeiro
O teste clássico de análise de variância não foi considerado, por para o último subperíodo, tanto em fevereiro (de
estar envolvida uma variável discreta ("número de dias", para a
qual não se aplica em princípio a hipotese de normalidade) 13,7 para 6,4) como em maio (de 15,6 para 4,9).
Mas, em geral, esse decréscimo no número de
dias de chuvas mais fracas revela-se ser estatisti-
camente significativo com respeito A maioria dos
meses do ano (de janeiro até setembro).
Resumidamente, temos os seguintes fatos:
Como já mencionado na Introdução, as causas
Num estudo prévio (Xavier & al. 1992) foi mostrada das evoluções na precipitação diária podem ter uma
a existência de fraca tendência positiva para o total causa local, a urbanização, ou uma causa climática de
mensal da precipitação do IAG, com respeito aos escala global. Tentaremos a seguir atribuir a uma ou
meses de fevereiro e maio. outra causa as ocorrências mencionadas acima.
As acumulações superiores a 30 mm / dia aumen- Com relação as chuvas fortes, o que chama
taram nos meses de feveieiro (de 32,9 mm no atenção é a ordem de grandeza do aumento, que não
primeiro subperíodo para I 2 5 , i mm no último, isso é da ordem de 10% como menciona Dettwiller (1970)
correspondendo a um fator de acréscimo igual a ser o caso de Paris, mas de um fator superior a 2,8.
52 Evolução da Precipitação diária num ambiente urbano: O caso da cidade de São Paulo

Para fevereiro, a mudança gradual indicaria um pos- provocava acumulações inferiores a 2 mm foi gradual-
sível ef$o urbano, não fosse que se observa uma mente desaparecendo, em todos os meses do ano.
mudança do mês mais chuvoso, de janeiro para Esse mesmo efeito pode ocorrer nas precipitações
fevereiro, da primeira metade para a segunda metade estratiformes na retaguarda de sistemas frontais.
do período estudado. As chuvas de verão são em O efeit~urbanona chuva forte não está descarta-
grande parte causadas pela permanência da Zona de do, pois pode haver uma sobreposição de efeitos, local
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) sobre a região e global. No entanto, ao mesmo tempo que Landsberg
(Satyamurti & Rao, 1988). Uma possibilidade a ser (1981) sugere um aumento na precipitação convectiva
examinada é quanto a uma eventual mudança do mês sobre as áreas urbanas, Bornstein & Le Roy (1990)
em que a ZCAS esteve mais intensa ao longo do perío- mostram através de simulações numéricas que o
do de análise. A posição e a intensidade da ZCAS aumento da rugosidade na área urbana de New York é
sendo controlada pelas fontes de calor tropicais suficiente para promover um efeito de barreira e origi-
(Amazônia e Pacífico Sul, principalmente), portanto nar uma bifurcação do escoamento em volta da área
qualquer eventual alteração em suas características de urbana com um impacto semelhante nas nuvens con-
posição elou intensidade é de caráter global. vectivas que se partiriam em duas massas, cada uma
Para o mês de maio, o trabalho de Xavier et al. circundando a cidade de um lado, mas juntando-se
(1993) mostra que no primeiro semestre de anos asso- novamente a sotavento da área urbana; portanto, esse
ciados a ocorrência de El Nino, iniciadas no segundo efeito provocaria um deficit sobre a cidade e um supe-
semestre dos anos imediatamente precedentes, costu- ravit a sotavento. No entanto, a cidade de São Paulo
ma-se verificar forte anomalia positiva da precipitação não pode ser diretamente comparada com New York
na região da cidade de São Paulo. Como El Nino foi devido a diferenças marcantes de topografia. Apenas a
menos frequente nas décadas de 30 e 40 (conforme repetição de experimentos numéricos poderá indicar
Sugahara, 1991, e também Wright, 1989) isso explicaria qual seria, em São Paulo, o efeito da barreira urbana
o salto brusco observado entre as décadas de 40 e 50. h s chuvas fortes.
Note-se que nas décadas de 30 e 40 as acumulações Por outro lado, a comparação da estação do IAG
superiores a 30 mm 1 dia eram maiores em junho (devi- e de outros postos pluviométricos no centro de São
do a maior freqüência de frentes frias, provavelmente) e Paulo, com outros postos não muito distantes, porém,
depois passaram a ocorrer de preferência em maio. que não tenham sofrido o intenso processo de urba-
Essa seria também uma característica climática. nização, deverá subsidiar informações para esta dis-
No caso das acumulações diárias inferiores a 2 mm cussão. Sem dúvida, parece certo que o caminho ade-
e 5 mm, nota-se que o número de dias em que ocor- quado para maior esclarecimento da questão exige
rem tais acumulações também diminui. Nesse caso, esforço em mais pesquisa envolvendo a análise
deve-se cogitar que o aumento da temperatura na estatística de todos os parâmetros meteorológicos em
região urbana de São Paulo encontrada por Lombardo jogo, juntamente a outros estudos específicos, na linha
& Tarifa (1983), Sansigolo (1990) e Oliveira (1991) de trabalhos como os de Silva & Silva Dias (1986) e de
possa ser levado em conta. Imamura-Bornstein(1993) Soares Silva Dias (1986).
mostrou que nas áreas urbanas esse aumento na tem-
peratura média ocorre principalmente devido a uma
temperatura mhima noturna mais alta, resultante do AGRADECIMENTOS
armazenamento de calor naquelas áreas. A cidade de
São Paulo recebe regularmente o ar marítimo que Ao CNPq e a FAPESP, pelo apoio a esta
sobe e ultrapassa a Serra do Mar e se escoa pelo pesquisa, em diversas de suas fases. Ao Prof. Dr.
Planalto Paulista, formando nebulosidade. Com o res- Pedro Leite da Silva Dias, por algumas sugestões e a
friamento noturno, pode haver um aumento na taxa de oportunidade de frutuosas discussões. A Estação
condensação do vapor d'água. Quando a cidade era Meteorológica do IAG, que forneceu seus dados de
menor e menos poluída, ocorriam a famosa garoa e superfície (vento e pluviometria diária) e ao Dr. Paulo
chuviscos leves, com pequenas acumulações de pre- Marques dos Santos pela inestimável discussão sobre
cipitação no período vespertino e noturno. Em conse- a qualidade dos dados da pluviometria.
qüência do aumento da temperatura mínima durante a
noite, reduz-se a possibilidade de saturação do vapor
d'água no ar; além disso, com o aumento da poluição
existem mais núcleos de condensação, o vapor que
condensa se divide num número maior de núcleos, BORNSTEIN, R.D. & LE ROY, G.M. (1990),Urban Barrier
Effects on Convective and Frontal Thunderstorms,
com menor massa de água por núdeo, donde uma Preprint Volume.
probabilidade maior de ficar em suspensão e não pre- CONOVER, W. J. (1971), Practical Nonparametric Statistics
cipitar. Dessa forma, a garoa típica de São Paulo, que Wiley International Edition, New York.
Terezinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier, Airton Fontenele Sampaio Xavier, Maria Assunção Faus da Silva Dias 53

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