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PAVIMENTO RODOVIÁRIO EM CONCRETO

(Whitetopping)
Mecanismo Estrutural sob os Efeitos da
Temperatura(Cura+Gradiente de Radiação
Solar) e Repetição de um Eixo de Carga de Projeto

Eng. Germano Saraiva


CONFEA RNP: 110.809.165-2
1) Generalidades
Inicialmente cabe ressaltar que neste mecanismo estrutural, os
esforços atuantes, no sistema estrutural, são de ordem estática, caso
dos efeitos da temperatura e de ordem dinâmica, caso de um eixo de
carga com rodas duplas, acoplado a um veículo em movimento
retilíneo.

2) Temperatura como carga estática


2.1) Cura
A cura do concreto estrutural encerra aos 7 dias e neste
processo, devido ao calor de hidratação, a temperatura chega a
atingir 55°C. Tal temperatura causa expansão da massa de
concreto enquanto endurece; como regra geral, o máximo
diferencial térmico entre a temperatura interior e a exterior, da
massa de concreto, não deverá exceder a 20°C para evitar a
fissuração pelo campo de tensão induzido na massa de concreto,
na cura.
Para o cálculo dos esforços à tração devido à cura da massa de
concreto, basta conhecer:
• O módulo de elasticidade na tração aos 7
dias;
• O coeficiente de dilatação térmica e
• O gradiente térmico neste processo.

2.2) Radiação solar


A radiação solar causa gradiente térmico entre as faces da placa
de concreto do pavimento, ocasionando esforços de compressão
e tração em ambas as faces da placa de revestimento do
pavimento.
Para o cálculo dos esforços à tração devido à radiação solar da
massa de concreto, basta conhecer:
• O módulo de elasticidade;
• O coeficiente de dilatação térmica e
• O gradiente térmico neste processo.

3) Repetição de um eixo como carga dinâmica


Calculado os efeitos dos esforços provocados pela temperatura de cura
e da radiação solar, ter-se-á um valor residual da resistência à tração
estática para combater as tensões cíclicas dinâmicas induzidas pela
repetição de um eixo de carga de projeto, ou seja:
 (estática residual ) = (Tensão a tração estática de laboratóri o) − (temperatura)

Pela NBR ABNT 6118, item 23.5.4.2 a fadiga a tração cíclica


dinâmica no concreto, é dado pela expressão a seguir:
f ctd , fad = 0,135( f ck )2 / 3 sendo fck correspondente a resistência
à tração estática remanescente ou residual.

Para o cálculo dos esforços à tração devido a repetição de um eixo de


carga em movimento retilíneo sobre um pavimento de concreto,
teremos necessariamente que utilizar ferramentas numéricas que
possam fazer o integral da equação do equilíbrio dinâmico, a seguir:
M ä+ Da+ K a = F (tR, Nr )
onde:
[M] = matriz massa;
[D] = matriz de amortecimento;
[K] = matriz de rigidez;
{F(tR,Nr)} = vetor das forças externas aplicadas, função do período
de rotação(tR) e do número de repetição(Nr) de um eixo de carga de
projeto;
{ a } = vetor das acelerações nodais;
{ a } = vetor das velocidades nodais e
{ a } = vetor dos deslocamentos nodais

Pelos gráficos 1 e 2, apresentados a seguir, fica fácil compreender


como atuam os esforços numa placa de concreto na forma de
revestimento(whitetopping) como pavimento rígido.

O gráfico 1 mostra o limite de tensão disponível quando a placa,


independente da espessura, está submetida a um gradiente térmico de
10°C em função do fck.

O gráfico 2 exibe a evolução da tensão dinâmica à tração com a


repetição de um eixo de carga, padronizado em 8,20 toneladas, sobre
o pavimento rígido(whitetopping), com 26 cm´s de espessura e
calculado através de modelo matemático dinâmico, não linear. Pelo
gráfico, para um concreto com fck igual a 35 MPa, a placa não suporta
mais que um tráfego igual a N = 1,8E+07.

Baixo desempenho estrutural para um investimento muito alto!


PAVIMENTO RÍGIDO SIMPLES
Tensão dinâmica residual disponível à Fadiga para um
Tensão disponível para Fadiga em MPa

gradiente térmico de 10°C no CONCRETO


1,30
1,25
1,20
1,15
1,10
1,05
1,00
0,95
0,90
0,85
0,80
0,75
0,70
0,65
0,60
20 25 30 35 40 45 50

Resistência característica (fck) do concreto estrutural em MPa


ABNT NBR 6118: 11.4.2.2 e 23.5.4.2
Gráfico 1 – Tensões dinâmicas numa placa de concreto

Esp=26 cm (N de 1E+00 a 2E+07)


105,00
Tensão dinâmica de tração, t/m2

100,00
95,00
90,00
85,00
80,00
75,00
70,00
65,00
60,00
55,00
50,00
45,00
40,00
35,00
30,00
1,50E+07

1,60E+07

1,70E+07

1,80E+07

1,90E+07
1,00E+00

1,00E+06

2,00E+06

3,00E+06

4,00E+06

5,00E+06

6,00E+06

7,00E+06

8,00E+06

9,00E+06

1,00E+07

1,10E+07

1,20E+07

1,30E+07

1,40E+07

2,00E+07

Tensão dinâmica em função da repetição do eixo de carga, número N

Gráfico 2 – Tensões dinâmicas numa placa de concreto com 26 cm de espessura


CONCLUSÃO
Pelos resultados, utilizando uma análise dinâmica não linear,
evidencia-se a necessidade de se reforçar a matriz de concreto
estrutural, com armaduras convencionais, geocélulas ou reforços
estruturais, na forma de fibras estruturais, fibras estas metálicas ou
sintéticas, pois mesmo uma placa em concreto apenas estrutural, na
espessura de 26 cm´s, não atende ao tráfego acima de 2E+07
repetições de um eixo de carga padronizado em 8,20 t.

Mesmo se reduzindo a espessura da placa de concreto, com o uso de


armadura na forma de tela soldada, os custos e lentidão de execução,
conduzem esta alternativa executiva na inviabilização do
investimento, sobretudo de ordem pública. Também, o uso de
Geocélulas adequadas estruturalmente, em função da elevação dos
preços deste insumo no mercado, inviabilizam o investimento,
sobretudo de ordem pública.

Por fim, as fibras estruturais, face aos valores comerciais e a forma


como são misturadas com a massa de concreto, na fase de usinagem
constituindo um compósito, possibilitam a redução da espessura da
placa de concreto do pavimento, da ordem da metade daquela
atualmente em uso; podem ser executadas pelo mesmo processo do
concreto convencional na pavimentação. Por exemplo, placas na
espessura de 12 cm´s, calculadas com ferramentas numéricas usando
a técnica do método dos elementos finitos, aplicado a condições de
carregamento dinâmico e não linear, mostram que, dependendo das
condições do Subleito, pode-se atingir N(tráfego de projeto) no
patamar de 108 repetições do eixo padrão de projeto, de 8,20 t.

Assim, torna-se altamente competitivo com os pavimentos


revestidos com asfalto denso, tanto a longo prazo como
inicialmente, sem contar com a grande diferença de tempo quanto
a vida útil entre ambos!

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