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1. Introdução
Discussões sobre a importância do Agro Brasileiro para a segurança alimentar mundial têm
levando a divergências quanto ao número de pessoas que o Brasil alimenta no mundo,
variando de 1 bilhão e 1,5 bilhão. Ainda que pareca quase ufanismo apresentar números tão
elevados, tem-se que manter credibilidade nas estimativas, derivadas de algum método para
seus cálculos.
Como método simples escolheu-se, neste trabalho, partir da produção de grãos e oleaginosas,
alimentos básicos de amplas populações no mundo e insumos mais importantes para a
produção de proteína animal e então quantificar quanto o Brasil contribuiu na alimentação de
pessoas no Brasil e no mundo. A hipótese é de que os grãos e as oleaginosas vêm sendo a base
da alimentação humana, para consumo direto das pessoas, alimentos processados ou como
insumo para ração para a produção das principais carnes. Segundo o site Alimentare (2020), os
cereais fornecem cerca de 45% da energia diária dos humanos, ao mesmo tempo em que
aportam significativa parcela de vitaminas e nutrientes essenciais.
Neste presente trabalho, foram calculadas duas alternativas básicas: a primeira baseada na
produção física de grãos e a segunda no valor dos diferentes produtos, a partir de preços
internacionais. Agregou-se à segunda alternativa, a transformação da carne bovina exportada
pelo Brasil em equivalente grãos. Para as duas alternativas básicas, calculou-se o número de
pessoas que a produção brasileira alimenta no mundo. Para os autores, a segunda alternativa
aproxima-se mais da resposta de quantos habitantes o Brasil alimenta.
Tomando como base informações do International Grains Council (IGC), fez-se um exercício
simples partindo do quantitativo dos principais grãos produzidos no mundo e no Brasil: arroz,
1
Pesquisador da Embrapa
2
Analista da Embrapa
3
file:///C:/Users/Marco/Downloads/PROJE%C3%87%C3%93ES%20DO%20AGRONEG%C3%93CIO_2019-
20%20a%202029-30%20(3).pdf
4
https://www.worldbank.org/en/research/commodity-markets
cevada, milho, soja e trigo (Tabela 1). O total para o Brasil inclui outros grãos e o quantitativo
do arroz é em casca, enquanto os dados do IGC são para arroz sem casca. Da produção
brasileira, subtraíram-se as importações por serem quantitativos vindos do exterior para
alimentar a população brasileira. No caso do trigo, os valores de produto importado têm sido
significativos, entre 5 a 7 milhões de toneladas, enquanto para os demais grãos as importações
foram pouco significativas. A partir dos dados de produção, estabeleceu-se o percentual da
produção brasileira destes grãos em relação à mundial. Com uma hipótese forte de que o
consumo seria uniforme no mundo, foi possível quantificar o número de pessoas que o Brasil
alimenta, com base na sua participação na produção mundial de grãos e oleaginosas.
Além das informações do IGC, decidiu-se checar os dados com fontes oficiais internacionais,
como o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA em inglês), a Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, em inglês) e o Banco Mundial. Foram
selecionadas as mesmas variáveis de produção do mundo e do Brasil e a população mundial.
Depois estabeleceram-se cálculos de participação do Brasil na produção mundial e finalmente
calculou-se a população alimentada pelo Brasil.
Nesta versão, o Brasil alimentaria em 2020 a 625,008 milhões de pessoas dos 7.755,568
milhões da população mundial, segundo o USDA; e 628,223 milhões de pessoas de acordo com
a FAO. Ou seja, são valores bastante aproximados em relação àqueles compilados a partir do
IGC. Isto significaria que o Brasil alimentaria sua população de 212 milhões de habitantes e
mais de 410 milhões somente com suas exportações (tomando-se os dados de 2020). O que é
significativo é o aumento da participação do Brasil: de 2009 a 2020 o Brasil passou a alimentar
mais 200 milhões de pessoas.
5
HAZZAN, S.& POMPEO, J. N.. Matemática Financeira. Ed. Saraiva, 7a edição. 20111 p.
54-56.
Tabela 4. População Alimentada pelo Brasil, segundo dados do USDA
Produção Brasil
Produção Mundo subtraídas as População Alimentada
Ano Brasil/Mundo (%) População Mundial
(Milhões de Toneladas) Importações (Milhões pelo Brasil*
de Toneladas)
2011 2.339,1 140,8 6% 7.002.860.604 421.553.806
2012 2.452,7 144,8 6% 7.085.763.408 418.456.196
2013 2.433,6 166,6 7% 7.169.640.142 490.878.119
2014 2.652,3 172,0 6% 7.254.228.377 470.392.088
2015 2.733,0 190,2 7% 7.338.964.960 510.684.985
2016 2.695,5 164,1 6% 7.424.282.488 452.110.507
2017 2.872,7 219,9 8% 7.509.065.705 574.693.204
2018 2.822,2 209,0 7% 7.591.932.907 562.343.036
2019 2.851,8 224,0 8% 7.673.533.972 602.797.159
2020 2.870,8 231,4 8% 7.755.567.903 625.007.905
*Produtos: Arroz, Cevada, Milho, Soja e Trigo
Fonte: USDA; AgroStat; Banco Mundial. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/advQuery;
http://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm; https://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.TOTL. Acesso:
11/11/2020
Outra alternativa de cálculo foi estimar a população alimentada pelo Brasil não mais na
quantidade de produção, mas incorporando seus preços em nível internacional6. Assim,
tomaram-se os preços internacionais para os diferentes produtos e multiplicaram-se pelas
respectivas produções em nível de mundo e do Brasil. Assim, para 2020 como soja (US$ 320/t)
tem preço superior em 104% ao do milho (US$ 156,95/t), a exportação de soja é mais
importante para a alimentação de pessoas do que o próprio milho. E, consequentemente, o
número de pessoas alimentadas pelo Brasil varia em relação aos cálculos anteriores.
Multiplicou-se a produção individualmente dos grãos (arroz, cevada, milho, soja e trigo) por
seus preços correntes por tonelada, fornecidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o
que se nomeou de Valor da Produção, tanto para o Mundo como para o Brasil. Em seguida,
fez-se a sua proporção em relação ao total, como realizado anteriormente. De fato, percebe-se
6
Ver Tabela de valores correntes dos produtos no Anexo.
um acréscimo de cerca de 55 milhões de pessoas nos valores obtidos para a População
Alimentada pelo Brasil (Tabela 6 e 7).
A carne exportada pelo Brasil contém em grande medida os insumos milho e soja,
principalmente a de suínos e aves, já incluídos na participação do Brasil na produção de grãos.
Um ajuste necessário refere-se à carne bovina exportada, no caso do Brasil, produzida
basicamente em pasto. A produção nacional consumida internamente está computada na
alimentação dos 212,235 milhões de habitantes do Brasil. Assumiu-se que toda a carne bovina
exportada tem origem na produção em pasto, embora alguma parte provenha de
confinamento, e parte da alimentação contenha grãos, como soja e milho.
Os dados da Tabela 8 mostram que o Brasil, em 2020, alimentou 772,600 milhões de pessoas,
sendo 212,235 da população brasileira e mais 560,365 milhões de outros países, via
exportação de grãos e carne bovina convertida em grãos. A variação da população total
alimentada pelo Brasil em 2019 de 809,472 milhões em relação a 2020 deve-se à variação de
preços dos produtos nos dois anos considerados. Assim, pode-se afirmar que ao redor de 800
milhões de pessoas são alimentadas pelo Brasil, incluindo a população brasileira. Além do alto
quantitativo de pessoas alimentadas, é importante também observar o crescimento do Brasil
no período como um todo. De 2011 a 2020, o Brasil passou a alimentar mais 259,442 milhões
de pessoas.
5. Considerações Finais
d) Valoração dos Grãos pelo Preço Médio Mundial (FMI): Tomando-se somente grãos
com dados de produção do IGC, descontadas as importações do Brasil, e valorizados
(os grãos) pelos preços médios do FMI, o Brasil alimentou em 2020 a 692,157 milhões
de pessoas, sendo 212,235 de brasileiros e 479,922 de outros países;
e) Valoração dos Grãos pelo Preço Médio Mundial (FMI) e Carne Bovina Exportada
Convertida em Grãos: Computando-se o valor dos grãos com dados do ICG,
descontadas as importações do Brasil, e transformada a carne exportada em
equivalente grãos, o Brasil tem alimentado em 2020 a 778,600 milhões de pessoas,
sendo 212,235 de brasileiros e 566,365 milhões de outros países.
REFERENCIAS:
PINTO, A.C.J. &. MILLEN, D.D. Nutritional recommendations and management practices
adopted by feedlot cattle nutritionists: the 2016 Brazilian survey. São Paulo State
University (UNESP), College of Technology and Agricultural Sciences, NR C - Research Press,
p. 392-407.