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 proteção do patrimônio
cultural e o tombamento
PALAVRAS-CHAVE
Patrimônio cultural; tombamento; função social da propriedade.
ABSTRACT
The juridical protection of the cultural patrimony, since the Federal
Constitution of 1988, does not depend on a previous list, but
one of its instruments. The list concept was studied considering that in the
Brazilian legal order the right of property must fulfill its social function. One
may condude that among the social functions of the property (and of the
city) is the preservation of the cultural patrimony. The restrictions im-
posed to the practice of the right of property constitute propter rem obliga-
tion. Therefore, for the effective protection of the cultural patrimony it is
essential to guarantee the rights to the educauon and culture, included
among the fundamental rights in the Constitution of 1988. The effec-
tiveness of these social rights depends on the State positive iction in the
definition of public policies of environmental education and access to cul
ture. So, one may State the importance of the cultural patrimony preserva-
tíon to the practice of the citizenship and for a sustained development.
KEYWORDS
Cultural patrimony; Public goods; social function of the property.
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l.JNTRODUÇÃO
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
PIVA (2000, 114) acrescenta que se trata de “um bem protegido por um
direito que visa assegurar um interesse transindividual, de natureza indivisí
vel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstân
cias de fato”.
É a chamada "classificação tricotômica dos interesses” que admite três
categorias de interesses — públicos, -nivados e metaindividuais ou difusos
— e foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Código de De
fesa do Consumidor. De acordo com o artigo 81, parágrafo único, da Lei
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4. DOTOMBAMENTO
O tombamento é um dos instrumentos de proteção do patrimônio cultu
ral, criado pelo Decreto-Lei 25/37, e constitui "uma restrição parcial ao direito
de propriedade, localizando-se no início duma escala de limitações em que a
desapropriação ocupa o ponto extremo” (CRETELLA JU N IO R , 1973, 50).
De acordo com SO UZA FILHO (2005, 83), “o tombamento é o ato admi
nistrativo da autoridade competente, que declara ou reconhece valor históri
co, artístico, paisagístico, arqueológico, bibliográfico, cultural ou cientifico de
bens que, por isso, passam a ser preservados” . Para esse autor, constitui-se, por
tanto, em ato declaratório. Assim entende também ME1RELLES (1994, 125).
Para FIG U EIR ED O (2005, 59):
Por outro viés, entende MACHADO (2004,900) que é possível a opção pela
via legislativa ou pela via administrativa, já que não há vedação constitucional.
MILARÉ (2004, 279) afirma que o tombamento: ”(.••) é o resultado final
de um processo administrativo, estabelecido por lei para a adequada apura
ção da necessidade de intervenção na propriedade, com vistas à proteção de
bens de significativo valor para o patrimônio cultural brasileiro”. O mesmo
autor admite, no entanto, que a identificação do valor cultural de um bem
possa ser determinada também por lei específica ou por via judicial.
Posição extremada é adotada por TELLES (1992, 83), que entende que o
tombamento compulsório deveria revestir-se da forma de ato legislativo, em
cada caso específico, e não por ato administrativo, pois uma restrição a direito
constitucionalmente previsto, como o de propriedade, deveria decorrer de lei.
Não se pode confundir a caracterização de um bem como integrante do
patrimônio cultural (pela via judicial ou legislativa), sujeitando-o a outras
formas de proteção previstas em lei, com o ato do tombamento (ato adminis
trativo), sobretudo após £ vigência do artigo 21'6 da Constituição Federal de
1988. Só a partir do tombamento é que se produzem os efeitos limitativos do
direito de propriedade característicos desse ato, tais como a impossibilidade
de demolir ou modificar o bem, sem autorização prévia do Poder Público
competente.
6. IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO
Por todo o exposto, verifica-se a relevância da pesquisa acerca do patri
mônio cultural de toda a humanidade.
Com o destaca SO ARES (2001, 441):
Assim é que a Constituição Federal, em seu artigo 225, § l.°, inciso VI,
estabeleceu que incumbia ao Poder Público promover a educação ambiental
em todos os níveis de ensino.
Sobreveio a Lei federal 9.795/99 para instituir a Política Nacional de
Educação Ambiental, estabelecendo em seu artigo 2.° que a educação am
biental é um componente essencial e permanente da educação nacional, de
vendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades
do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Define educação ambiental (artigo l.°) como o processo por meio do
qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida
e sua sustentabilidade.
Dentre os princípios básicos da educação ambiental, inclui-se a concep
ção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência
entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sus
tentabilidade (artigo 4.°, inciso II).
Assim, insere-se como objetivo fundamental da educação ambiental a defesa
da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício e o fortaleci
mento da cidadania, mediante o incentivo à participação individual e coletiva,
permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente.
Nessa linha, tem-se difundido a metodologia da Educação Patrimonial,
inspirada no trabalho pedagógico desenvolvido na Inglaterra sob a designa
ção de Heritage Education (HORTA, 1999, 5).
De acordo com HO RTA (1999, 5).
CONCLUSÕES
1) O bem ambiental que integra o patrimônio cultural brasileiro tem
natureza jurídica de bem de interesse difuso, e por essa razão pertence à
coletividade.
2) O tombamento é ato exclusivamente administrativo e constitutivo
dos efeitos inerentes à proteção do bem contra a destruição ou modificação
de suas caiacterísticas ou do seu valor cultural, vinculado à deliberação do
órgão de preservação competente.
3) Cabe aos órgãos de preservação deliberar sobre o tombamento dos bens
de valor reconhecido para a proteção e valorização do patrimônio cultural.
4) As restrições ao direito de propriedade decorrente do tombamento
constituem-se em limitações administrativas, da mesma natureza daquelas
decorrentes do zoneamento.
5) A preservação do bem protegido é uma das formas de cumprimento
da função social para o exercício do direito de propriedade.
6) A educação patrimonial é um importante instrumento para a valo
rização da cultura, a ser incorporado ao processo educativo em todos os
A proteç Ao do patrimônio cultural e o tombamento
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NOTAS
1 BRASIL. Decreto-Lei 25/37. Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico
nacional. Presidência da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2005. Disponível
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2 BRASIL. Constituição (1988). Presidência da República Federativa do brasil, Brasília, DF,
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* BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 134297-8. Relator: Min. Celso de Mello. Brasília,
13 de junho de 1995. Disponível cm: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 13 mar. 2006.
4 Diretoria do Patrimônio H istórico e Artístico Nacional (DPH AN), do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional criada pela Lei 378, de 13 de janeiro de 1937.
’ • BRASIL. Constituição (1988). Presidência da República Federativa do Bi. -il, Brasília, DF,
2005. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br>. Acesso em: 22 jul. 2005.
6 BRASIL. Constituição (1988). Presidência da República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
2005. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br>. Acesso em: 22 jul.2005.
7 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Apelação cível 7.377. Relator: Min. Castro Nunes.
Brasília, DF, 17 de junho de 1942. Revista dos Tribunais 147/785.
8 Art. 180. O amparo à cultura é dever do Estado. Parágrafo único. Ficam sob a proteção
especial do Poder Público os documentos, as obras e os locais de valor histórico ou artístico,
os monumentos e as paisagens naturais notáveis, bem como as jazidas arqueológicas.
" Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.