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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Centro de Ciências Humanas e Sociais


Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Arqueologia

Resenha Crítica
Disciplina: Antropologia Biológica I

Profª.: Nanci Vieira

Maria Victória Valeriolete Bandeira Dário

O Macaco Nu: resenha crítica dos


capítulos II - SEXO e V - AGRESSÃO.

Rio de Janeiro, RJ

2023
O Macaco Nu

Capítulo II - SEXO e Capítulo V - AGRESSÃO

"O Macaco Nu" é uma obra clássica escrita por Desmond Morris, renomado zoólogo,
etólogo e antropólogo britânico. Publicado pela primeira vez em 1967, este livro provocativo
e até polêmico discute as complexidades do comportamento humano, oferecendo uma
perspectiva diferente sobre a evolução e a natureza humana.
A metáfora do "macaco nu" refere-se à condição desprotegida e desprovida de pelos
do ser humano em comparação com outros primatas. Morris explora a biologia, a psicologia e
a cultura para tentar desvendar os mistérios por trás de muitos aspectos da vida humana,
desde a linguagem até o sexo, passando pela maneira como nos vestimos e nos comportamos.
É um livro clássico e muitas vezes referenciado até hoje, contém ideias e pensamentos
únicos e inovadores para a época e sua escrita, apesar de ser informativa, é de fácil
compreensão e acesso o que o torna ainda mais chamativo para a leitura. Porém, é um texto
que reflete muito o olhar conservador da época, lendo com os pensamentos do tempo em que
ele foi lançado, já tinha algumas ideias polêmicas e ultrapassadas, mas ler o livro com o olhar
da sociedade atual chega a ser difícil de continuar.
Assim como boa parte das obras, especialmente as revolucionárias, é importante
destacar que o texto tem seus pontos bons e seus pontos ruins, é um livro que tem seu valor
histórico, no papel desempenhado em alterar a maneira em como o ser humano se estuda, e
há muitas informações interessantes e argumentos para impulsionar boas indagações sobre
determinados assuntos, como por exemplo algumas comparações com nossos antepassados
primatas, lembrando que somos apenas uma parte dessa linha de evolução.
Dito isso, as impressões ruins deixadas pelo autor em suas falas ofuscam esses pontos
positivos, especialmente durante os dois capítulos analisados, onde existem muitas
afirmações polêmicas, principalmente relacionadas ao comportamento sexual. Além de
questões desatualizadas e carregar inúmeros valores da época que já não se aplicam, é
perceptível as várias opiniões pessoais associadas, sendo muitas vezes até preconceituosas.
Pelo livro ter sido publicado em 1967, se entende que muitas informações e dados foram
obtidos durante esses quase 60 anos, fazendo com que boa parte do conteúdo do livro se
tornasse obsoleta.
Algumas questões que particularmente me incomodaram em sua fala e pensamento
foram por exemplo, logo no começo do capítulo sobre sexo onde o autor escreve:
A única solução é colher os resultados médios obtidos em
amostras representativas das sociedades mais florescentes.
As sociedades pequenas, atrasadas e mal sucedidas podem
ser em grande parte desprezadas. (MORRIS, 1967).
Logo depois ele diz que os estudos foram baseados em indivíduos estadunidenses, e
que esses seriam “de uma cultura biologicamente muito rica e próspera, que pode
considerar-se representativa do macaco pelado moderno” (MORRIS, 1967), deixando muito
claro sua opinião, que ele descreve como verdade absoluta, de que o ser humano “normal” e
“mais evoluído” seria aquele da sociedade branca e ocidental inglesa/norte-americana, não só
desprezando as informações de outras culturas, como afirmando que essas seriam somente
exceções menos evoluídas do ser humano. Essa crença da hierarquia evolutiva entre as
culturas é um pensamento que ocorre por todo o livro.
Outra questão que o autor repete diversas vezes durante o capítulo sobre sexo, como
se fosse uma informação cientifica, é o pensamento de que os humanos seriam, por natureza,
animais que só poderiam ou prefeririam se relacionar sexualmente com somente um parceiro
durante a vida, que precisaria necessariamente estar em um casamento ou relacionamento
para ter relações sexuais e que quando isso ocorre por fora desse namoro ou casamento seria
só exceção, Desmond diz que “O macaco pelado teve de criar capacidade para se apaixonar,
para se ligar sexualmente a um companheiro fixo, para se acasalar” e também que a união
prolongada de um par seria importante para criar uma família.
Com certeza grande parte dessa opinião se dá pela ideia de se ver como o
representativo de toda uma espécie, mas essa questão parece muito influenciada pelos valores
critãos inseridos nessa sociedade. Consequentemente, há inúmeras falas misóginas nesse
capítulo, sobre o corpo da mulher, sobre os lábios e seios como partes do corpo que
evoluíram para ser estritamente sexuais e chamar atenção dos homens, ele comenta ainda que
a fêmea humana evoluiu para poder realizar atos sexuais durante a gravidez porque “com o
sistema de um-macho-uma-fêmea seria perigoso deixar o macho frustrado durante tanto
tempo. Constituiria perigo para a estabilidade do casal.” (MORRIS, 1967).
Toda sua fala sobre mulheres biológicas neste capítulo é extremamente problemática e
dá uma abertura enorme para a violação e sexualização das próprias, ele descreve questões
culturais e patriarcais como sendo o normal ou correto, porque na percepção dele seria algo
natural e evolutivo, tudo isso ele coloca no livro não como uma hipótese ou informações
tiradas de pesquisas científicas, mas sim como uma verdade que foi claramente montada em
cima de uma porcentagem muito pequena de toda uma espécie.
Isso sem contar seu total desinteresse sobre as questões de gênero e homosexualidade,
não se comenta sobre mesmo quando ele trata o ato sexual como ato de prazer e não de
reprodução da espécie, que é claro, é um reflexo de sua época e crença, mas o que só mostra
como o livro está ultrapassado.
No capítulo sobre agressão, esse problema continua, pode-se interpretar em vários
comentários do autor a existência de uma hierarquia de forças, onde um lado é dominante e o
outro submisso, muitas vezes colocando a mulher ou a parte mais feminina da relação como o
lado submisso, isso é trazido por Morris, como uma questão natural e evolutiva e não social e
cultural, é claro. Ele inclusive relaciona essa submissão feminina com o ato sexual das
espécies, onde seria comum a parte “feminina” se virar e curvar para ser dominada pela parte
“masculina”, a partir disso, faz um recorte muito estranho associando esse ato com a forma
como os professores puniam os alunos na época com tapas nas nádegas.
Durante o capítulo o autor descreve as ações de agressão que ocorrem na sociedade
humana comparando com situações de dominância e agressão na vida animal, especialmente
a dos nossos antepassados, novamente ele traz essa sociedade violenta em que vivemos e
parece dar uma desculpa de que os humanos são assim pois essa é a sua natureza, pode-se
concluir então que ele acredite que o humano já nasce propício para essa chamada agressão, é
fácil de ver que ele simplesmente não considera a influência do ambiente, da sociedade e da
cultura em cima dos seres humanos em quase nenhum momento, quando essa influência
ocorre o tempo todo.
Dito isso, o livro é sim um clássico que foi importante para a sua época, para o estudo
da Etologia, trata de questões importantes e tenta inovar em vários pontos, mas só deve ser
lido assim, como leitura a parte e com o senso crítico sempre trabalhando, porque são tantas
falas e pensamentos não só muito ultrapassados hoje em dia, como até problemáticos para a
época, que ter esse livro disponível para pessoas que pensam com essa mesma mente
conservadora e moralista de Desmond Morris ou que não entendem mais a fundo dos
assuntos comentados, pode gerar um entendimento muito errado da espécie humana e da
sociedade em que vivemos.
REFERÊNCIA

MORRIS, D. O MACACO NU. Edição Integral. São Paulo, Brasil: CÍRCULO DO LIVRO
S.A., 1967. Tradução por: Hermano Neves.

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