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MARIANA CONTI CRAVEIRO

PACTOS PARASSOCIAIS PATRIMONIAIS:


ELEMENTOS PARA SUA INTERPRETAÇÃO NO
DIREITO SOCIETÁRIO BRASILEIRO

Tese de Doutorado em Direito Comercial

Orientadora: Professora Titular Paula A. Forgioni

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo


São Paulo
2012
MARIANA CONTI CRAVEIRO

PACTOS PARASSOCIAIS PATRIMONIAIS:


ELEMENTOS PARA SUA INTERPRETAÇÃO NO
DIREITO SOCIETÁRIO BRASILEIRO

Tese apresentada como requisito parcial


de obtenção do grau de Doutor em Direito
Comercial pelo Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, sob a
orientação da Professora Titular Dra.
Paula A. Forgioni.

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo


São Paulo
2012
Aos meus pais,

Luis Alberto e Magda


AGRADECIMENTOS
A jocosa afirmação de que redigir uma tese acadêmica é um calvário
ganha sentido completo apenas após trilhado o caminho. A travessia, de fato,
não depende apenas do esforço e bom ânimo do pesquisador, mas muito da
colaboração e compreensão de quem, direta ou indiretamente, em maior ou
menor grau, auxilia-o a enfrentar as escarpas.
Em primeiro lugar, agradeço à minha orientadora, Profa. Paula Andrea
Forgioni, e à Universidade de São Paulo pela oportunidade de, uma vez mais,
regressar à velha e sempre nova academia para cumprir o ciclo da minha
formação, sendo despiciendo anotar meu orgulho em cumprir todas as suas
etapas na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, esperançosa de que
o trabalho que ora se conclui esteja à altura dessa responsabilidade. À Profa.
Paula, em específico, minha gratidão por tudo o que me ensinou durante mais
de doze anos de convivência acadêmica e profissional. Sua conhecida
exigência por qualidade cativou-me desde o nosso primeiro encontro e sinto-
me honrada pela confiança que, desde aquele dia de 1999, depositou em mim e
no meu potencial, estimulando-me a buscar a realização de meus propósitos.
Ao Professor José Alexandre Tavares Guerreiro pela generosidade em
confiar-me a utilização de sua rica biblioteca e em muito discutir comigo o
tema escolhido, encorajando-me a enfrentá-lo. Ao Professor Francisco Satiro
de Souza Jr., pelas sugestões e críticas que me permitiram melhor dimensionar
o trabalho. Ao Professor Gustavo Saad Diniz, da Faculdade de Direito da USP
de Ribeirão Preto, pelo constante intercâmbio de ideias.
Ao Max-Planck-Institut für ausländisches und internationales
Privatrecht, nas pessoas do Prof. Klaus Hopt e Dr. Jan Peter Schmidt, pela
bolsa de estudos concedida durante o ano de 2010 e pela singular
oportunidade de, em Hamburgo, encontrar as condições ideais para estruturar
esta tese. Aos colegas de instituto, nas pessoas de Elena de Carvalho Gomes,
Catarina Monteiro Pires, Mariana Fontes da Costa, Margarida Almeida, Victor
Hugo Chacon e Gabriel Saad Kik Buschinelli que me brindaram, durante a
estada Alemanha e o período de redação da tese, com profundas discussões e
envio de material, na mais pura essência da colaboração acadêmica.
Aos colegas de pós-graduação, Marcel Edvar Simões, Ligia Paula Pires
Pinto Sica e Carla Tomazella, pelo debate de ideias e pela segurança de poder
contar com suas críticas. A Rodrigo Carneiro Cipriano, pelo inestimável
auxílio na pesquisa e colheita do material, bem como nas discussões e
revisões iniciais do texto. Igualmente, a Marilia Ferreira de Miranda e aos
acadêmicos de direito Ana Carolina Folgosi Bittar, Bruna Ha yar Fuscella,
Pedro Bini Ferreira, Paulo Henrique Pinto e Ana Luisa Taborda Sanches, pela
reunião de textos e revisão de bibliografia.
Ao meu “capo”, Fabio Buccioli, por me permitir, ao longo de tantos
anos, a quotidiana vivência dos temas que perfazem o objeto desta tese. Aos
colegas de escritório Guilherme José Braz de Oliveira, Verônica Vargas da
Rosa e Thiago Munhoz Agostinho, pela compreensão ao substituirem-me em
tantas ausências. A Cristiane Ferreira Fidêncio e Ricardo Borges de Lima,
pelo suporte constante e eficiente, fundamental na árdua compatibilização
entre o ri gor da vida acadêmica e a frenética atividade na advocacia, pelo que
também a gradeço às diligentes Rosana Hashimoto e Cacilda de Oliveira.
A todas as minhas ami gas-irmãs, nas pessoas de Lia Mitsue Ota
Zanchet, Marina Garcia Marini Stamato e Maria Lucia Lacerda Coelho de
Paula Lopes, pelo suporte ao meu esforço e constante torcida para que tudo
chegasse a bom fim, no que agradeço também a Ulrike Warneke, Beatrix
Andraus e Eliana Ka neshiro.
E, sobretudo, a gradeço aos meus pais Luis Alberto e Magda, a quem
dedico este trabalho, pelo incansável encorajamento e por tudo o que
empreenderam para que eu estivesse aqui, hoje; ao meu marido, Godofredo
Carbinatto Júnior, pela paciênci a e renúncia ao proveito de momentos felizes,
em prol deste trabalho; a toda minha família, enfim, pela força e serenidade
que me proporcionam, sem o quê nada pode ser realizado.
RESUMO
O fenômeno da contratualização do direito societário tem se intensificado nos
diversos ordenamentos, sobretudo com relação a sociedades anônimas
fechadas – constituidas no âmbito de joint ventures e aquelas que recebem
investimentos de private equity. Nesse cenário, os acordos celebrados entre
acionistas para re ger seu relacionamento soci etário de maneira complementar
e paralela aos atos constitutivos das sociedades (amplamente designados
“shareholders’ agreements”) são traços característicos. Designados em 1942
por G IO R G IO O P P O como Contratti Parasociali, sua análise doutrinária, em
geral, tem se focado no exame de sua relação com o contrato ou estatuto
social, ocupando-se principalmente dos acordos incidentes sobre a
organização e funcionamento da companhia (notadamente os acordos de voto)
e seus efeitos societ ários. Com relação aos pactos relativos a direitos
patrimoniais dos celebrantes, o fato de não produzirem efeitos diretos sobre a
companhia reduz seu exame sob a ótica do direito societário. A tese tem como
objetivo primário, assim, caracterizar esse grupo de contratos assinalando
como sua função econômica a de modelar o relacionamento societário entre as
partes. Verifica-se, pois, que as disposições do pactos em exame não apenas
geram vínculos obrigacionais entre os signatários, mas também gravam o
status de sócio de cada um deles. No Brasil, o estudo dos pactos parassociais
é centrado no exame dos acordos de acionistas previstos no art. 118 da Lei
6.404/76, não tendo sido identificadas obras que avaliem os pactos
parassociais como gênero de que o acordo de acionistas é espécie. Pouco se
explora, sob a perspectiva societária, ajustes com conteúdo patrimonial ou
mesmo aspectos gerais dos pactos parassociais, como sua interpretação e
limites de validade. O escopo principal da tese seria, então, o de examinar
como as peculiares circunstâncias em que se inserem os pactos parassociais
patrimoniais influenciam seu processo de interpretação e propor elementos
para que considerações derivadas da lógica societária orientem o intérprete,
buscando superar argumentos de concepção individualista, ligados a defesa de
ampla liberdade contratual das partes na celebração de ajustes relativos a seus
direitos patrimonais. Com esse propósito, analisa-se regras consagradas de
hermenêutica - notadamente as relativas à necessidade de exame da função
econômica do contrato e da boa-fé objetiva - e elementos de sustentação da
lógica societária, como o escopo comum, os deveres e direitos dos sócios.
Além disso, verifica-se os principais elementos apontados na doutrina como
limitadores da autonomia contratual no direito societário e, por fim, reflete-se
sobre a relação dos pactos parassociais patrimoniais com os alvos de tutela do
direito societário.
Palavras chave: - pactos parassociais – acordo de acionistas – joint ventures
– private equity – direitos patrimoniais – status socii - boa-fé objetiva – dever
de lealdade - interpretação.
ABSTRACT

The phenomenon of contracts in corporate law has intensified in the various


legal s ystems, particularl y with respect to closel y held corporations –
incorporated as joint ventures and those that receive private equit y
investments. In this scenario, the agreements executed between shareholders
governin g their relationship in a complementary and parallel manner to the
company bylaws (widely known as “shareholders' agreements”) are
characteristic features. Designated in 1942 by Giorgio Oppo as Contratti
Parasociali, its doctrinal anal ysis, in ge neral, focuses on the examination of
the relationship with the contract or b ylaws of the company, dealing primaril y
with a greements regardin g organization and operation of the company
(notabl y the voting agreements) and the corporate effects arising therefrom.
With respect to agreements concerning patrimonial ri ghts of the parties, the
fact that the y do not produce direct effects on the compan y reduces its
anal ysis from the perspective of corporate law.The initial purpose of the
thesis, thus, is to characterize this group of contracts indicating that their
economic purpose is to model the corporate relationship between the parties.
The provisions of the a greements in question not onl y create obligation ties
between the parties but also mark their partner status. In Brazil, the anal ysis
of shareholders’ agreements is centered in “acordos de acionistas” provided
for in art. 118 of Law 6404/76, and no studies were found regarding
shareholders’ agree ments as a class of which acordo de acionistas is a t ype.
Agreements with patrimonial contents or even general aspects of shareholders’
agreements, such as their interpretation and validit y limits, are poorl y studied.
The main purpose of the thesis thus, is to examine how the peculiar
circumstances in which the patrimonial shareholders’ agreements are inserted
may impact their interpretation process and to propose elements so that
aspects arising from the specific corporate logic may orient the interpreter,
aimin g at overcoming individualistic arguments, linked to the defense of
broad freedom of contract by the parties in the adjustments concerning their
patrimonial ri ghts. The recognized rules of hermeneutics are anal yzed -
especiall y those relating to the need to examine the economic function of the
contract and the objective good faith - and the supporting elements of
corporate logic, as the ordinary scope, duties and rights of the partners. In
addition, the main elements pointed out in the doctrine as limiting of the
contractual autonomy in corporate law are verified and the relationship of
shareholders’ agreements with the targets of protection of corporate law is
anal yzed.

Keywords: - Shareholders’ a greements - joint ventures - private equit y –


patrimonial rights – status socii - objective good faith – fiduciary duties -
interpretation.
RIASSUNTO
Il fenomeno della contrattualizzazione del diritto societario viene sempre più
intensificandosi nei diversi ordinamenti, soprattutto con riferimento alle
società anonime chiuse – quelle costituite nell’ambito di operazioni di joint
ventures e quelle che ricevono investimenti di private equity. In questo
scenario, i patti celebrati tra gli azionisti per regolare il loro rapporto
societario in maniera complementare e parallela agli atti costitutivi della
società (a cui genericamente ci si riferisce col nome di “shareholders’
agreements”) costituiscono tratti caratteristici di tale fenomeno. Denominati
nel 1942 da G IO R G IO O P P O Contratti Parasociali, la loro analisi dottrinaria, in
generale, si è incentrata sul rapporto che intercorre tra gli stessi e il contratto
o lo statuto societario, approfondendo in particolar modo i patti incidenti
sull’organizzazione e il funzionamento della società (specialmente gli accordi
per il voto) e i loro effetti societari. Con riferimento ai patti riguardanti i
diritti patrimoniali dei soci, il fatto di non produrre effetti diretti sulla società
ne ha limitato l’esame sotto l’ottica del diritto societario. La tesi ha come
obiettivo iniziale, dunque, quello di caratterizzare questo gruppo di contratt i,
mettendone in luce come la loro funzione economica sia quella di modellare il
rapporto societario tra le parti. Si dimostra, poi, come le disposizioni dei patti
in esame non solo generano vincoli obbligazionari tra i firmatari, ma
informano anche lo status di socio di o gnuno di questi. In Brasile, lo studio
dei patti parasociali è incentrato sull’esame de gli “acordos de acionistas”
previsti nell’art. 118 della Le gge 6.404/76, e non sono state trovate opere che
considerano i patti parasociali alla stregua di un genere di cui l’acordo de
acionistas è una specie. Si indagano poco, sotto la prospettiva societaria, i
patti con contenuto patrimoniale e gli aspetti generali dei patti parasociali ,
come la loro interpretazione e i li miti di validità. Lo scopo principale della
tesi sarebbe, allora, quello di esaminare come le circostanze peculiari in cui si
inseriscono i patti parasociali patrimoniali influiscono sul loro processo di
interpretazione e proporre degli elementi affinché considerazioni derivate
dalla logica societaria orientino l’interprete, al fine di superare argomenti di
concezione individualistica legati alla difesa dell’ampia libertà contrattuale
delle parti nell’esecuzione di contratti relativi ai loro diritti patrimoniali. Con
questo proposito, vengono analizzate regole consacrate di ermeneutica –
specialmente quelle relative alla necessità di esaminare la funzione economica
del contratto e quella della buona-fede oggettiva – e gli elementi su cui si
fonda la lo gica societaria, come lo scopo comume, i doveri e diritti dei soci.
Si passano al vaglio, , inoltre, i principali elementi che l a dottrina individua
come limiti all’autonomia contrattuale nel diritto societario e, infine, si
procede ad una riflessione sul rapporto dei patti parasociali patrimoniali con
gli obiettivi di tutela del diritto societario.

Parole-chiave: - patti parasociali – accordo tra azionisti – joint ventures –


private equity – diritti patrimoniali - status socii– buona fede obbiettiva –
dovere di lealtà - interpretazione
LISTA DE ABREVIATURAS

AASP Associação dos Advogados de São Paulo


AA.VV. Autores Vários
AgRg Agravo Regimental
AktG Aktien gesetz (Lei Acionária Alemã)
AI Agravo de Instrumento
Art. Arti go
Apel. Apelação
Bull. Jol y Bulletin Jol y (periódico francês)
CC Código Civil
CDC Código de Defesa do Consumidor
CF Constituição Federal
Cf. Conforme; Confira-se
cit. Já citado anteriormente
Coord. Coordenador; coordenação
Coords. Coordenadores
CPC Código de Processo Civil
Des. Desembargador
D.j.e Diário de Justiça do Eletrônico
D.O.U Diário Oficial da União
Ed. Edição
Edcl Embargos de Declaração
EI Embargos Infringentes
FDUSP Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo -
Largo São Francisco
i.e isto é
j. julgado em
LGDJ Librerie Générale de Droit et Jurisprudence
LSA Lei de Sociedades por Ações (Lei n.º 6.404/76)
MC Medida Cautelar
Min. Ministro
n. Nota
nº Número
obs. Observação
Org. Organizador; organização
Orgs. Organizadores
p. Página
Par. ou § Parágrafo
pp. Páginas
pt. Parte
RDM Revista de Direito Mercantil - Industrial, Econômico e
Financeiro
REsp Recurso Especial
Riv. Dir. Comm. Rivista di diritto commerciale e del diritto generale delle
obligazioni
RO Recurso Ordinário
RT Revista dos Tribunais
RTDCom Revue trimestrielle de droit commercial et de droit
ecónomique
S.A. Sociedade Anônima
s/d Sem data
ss. Seguintes
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TJRJ Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
TJSP Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
UTET Unione Tipografico-Editrice Torinese
vol. Volume
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original. Em ambos os casos, procura-se, com isso, minimizar eventuais erros
de compreensão derivados da tradução realizada para o vernáculo.
1

ÍNDICE

Í NDI C E .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... . ER RO ! I N DI C A DO R N ÃO D E FI NI DO .

P RÓ LO G O . .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... 5

I NT RO DU Ç ÃO ... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... ... 2 0

1. Contratualização do direito societário ................................... 24


2.Contratos parassociais: função e noção ................................... 27
3. Oppo como ponto de partida ................................................. 32
4. A posição de G U Y O N e sua importância para a tese. ................ 39
5. Posição da doutrina brasileira ............................................... 41
5 .1 Pr op o st a t eó r i c a de C A L I X T O S A L O M Ã O F I L H O .. ..... .... ..... .... .... ..... .... .... 4 2
6. Contratos parassociais patrimoniais: precisão terminológica ... 44
7. Inovação de perspectiva ....................................................... 48
8. Plano da Tese ...................................................................... 52

1 - HI S TÓ RI C O DA C O NT RA T A Ç Ã O P A R AS S O C I A L .... .... .... ..... .... ..... ... 5 3

1.1 - Ponderações iniciais: disciplina societária centrada no contrato


de sociedade e na caracterização dos tipos societários ................ 53
1.2 - Evolução no direito brasileiro ........................................... 56
1 .2 .1 - O C ód i g o Co m e r c i al Br a s i l e ir o de 1 8 50 . .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .... 5 6
1 .2 .2 - Fi n al do s é c ul o XI X e c o me ç o do X X: l e i s ac i o ná r i a s b r as il e i r a s e a
p r o l if e r aç ã o d os s i n d i c at o s d e v ot o .... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .... 5 7
1 .2 .3 - O s co n t r at os p a ras s o c i ai s s ob a di s c i pl i na s o c i e t á ri a d o De c r e t o- L e i n .
2 6 27 / 4 0 ... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... 5 8
1 .2 .4 - L e i n . 6 .4 04 / 7 6 : e di f i ca ç ã o de n o vo s i s t ema d e d i r ei t o s oc i e t á r i o
b r a s i l ei r o. .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .... 6 0
a ) C o n t e x t o .. ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... 6 0
b ) P o s i ç ã o d e v a n g u a r d a : p r e vi s ã o l e ga l d e a c o r d o s d e a c i o n i s t a s n o a r t . 1 1 8 d a L e i
6 .4 0 4 / 7 6 . . .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... 6 2
c ) R e d a ç ã o o r i g i n a l d o a r t i go 1 1 8 d a L ei 6 .4 0 4 / 7 6 ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... 6 4
d ) A l t e r a ç õ e s n o a r t i g o 1 1 8 p e l a l e i 1 0 .3 0 3 / 2 0 0 1 .. ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... 6 4
1 .2 .5 - Pac t o s p ar a s s oc i a i s e d i s c i pl i n a d o Có d i g o C i v i l 2 0 02 .. .... ..... .... .... 6 6
1.3 - Notas de comparação le gislativa ....................................... 68
1 .3 .1 - Br ev e n o t í c i a da s l e g i sl a çõ e s d a Eu r op a Co n t i ne n t a l .... .... ..... .... .... 6 9
2

1 .3 .2 – Pe c u l i a r i da d es do d i r e i t o d a c o mmo n l a w . ..... .... .... ..... .... ..... .... .... 7 2


1.4 – Conclusão e reflexões sobre o panorama atual ................... 75

2 - C A RA CT ER I ZA Ç Ã O DO S P A CT O S P A R A S S OC I AI S P AT R I MO NI AI S :
F U N ÇÃ O EC ON ÔM I C A .... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... ... 7 8

2.1 - Pactos parassociais patrimoniais: função econômica ........... 78


2 .1 .1 - Var i e d a de d e p a c t o s e f u n çã o e c on ô mi c a es p e cí f i c a . ..... .... ..... .... .... 8 1
2.2 - Pactos relativos à compra e venda de participação societária –
aspectos gerais ........................................................................ 83
2 .2 .1 - O p ç õ es de c o mp r a e d e v e nd a d e a ç õ es .. .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... 8 7
2 .2 .2 - Ac or d os de v e n d a c o nj u n t a . ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... 9 0
a ) D i r e i t o d e v e n d a c on j u n t a - t a g a l o n g r i g h t . ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... 9 0
b ) o b r i g a ç ã o d e v e n d a c o n j u n t a – d r a g a l o n g r i g h t ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... 9 1

2.3 - Acordos restritivos da circulação de ações ......................... 93


a ) c l á u s u l a s d e p r e f e r ê n c i a .. ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... 9 5
b ) C l á u s u l a d e c o n s en t i me n t o . ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... 9 6
c ) C l á u s u l a s d e p e r m a n ê n c i a ( “ l oc k i n ” o u “ l o c k u p ” ) .. ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... 9 8

2.4 - Pactos ligados a outros direitos patrimoniais dos sócios ..... 99


2 .4 .1 - Ac or d os de n ã o c o n co r r ê nc i a .. .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 10 0
2 .4 .2 - Ac or d os pr e v e nd o ou t r a s p re s t a ç õe s a c e s só r i a s d os s ó ci o s ..... .... .. 10 2
a ) f i n a n c i a m en t o , c a p i t a l i z a ç ã o e d i s t r i b u i ç ã o d e r e s u l t a d os d a s o c i ed a d e .. .. 1 0 5
b ) t r a n s f e r ê n c i a d e t e c n o l o gi a e c e s s ã o e m u s o d e d i r e i t o s d e p r o p r i e d a d e
i n t el e c t u a l e / o u at i v o s . . ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... .. 1 0 9
c ) f o r n e c i me n t o . ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... .. 1 0 9

2.5 - Conclusão ..................................................................... 110

3 - DI S CI P LI N A J U RÍ D I C A D OS P A CT O S P AR AS S O CI A I S P AT R I M O NI AI S NO
DI R EI T O B R A SI L EI R O .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... . 11 1

3.1 – Disciplina legal: introdução ........................................... 111


3.2 - Oponibilidade e acordos de acionistas ............................. 114
3 .2 .1 - Rel a t i v i d a de d e c o nt r a t o s e a co r d os d e a c i on i s t as .... ..... .... ..... .... .. 11 5
3.3 - Oponibilidade e pactos parassociais com outros conteúdos
patrimoniais .......................................................................... 120
3.4 - Produção de efeitos reflexos. .......................................... 125
3.5 – Ex ecução específica ...................................................... 128
3

3.6 - Pactos parassociais patrimoniais e outras categorias contratuais.


............................................................................................ 132
3 .6 .1 - Co n t r at o pl u ri l ate r al c om c o mu n hã o d e e s c o po . C on t r a t o s de l on g a
d u r aç ã o, r e l ac i o n ai s, i nc omp l e t o s o u d e c o l ab o r aç ã o . .... ..... .... .... ..... .... .. 13 3
3 .6 .2 - C on t r a t os i nc o mp l e t os ... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 13 6
3 .6 .3 - Co n t r at os - q u ad r o .. .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 13 7
3 .6 .4 - C on t r a t os no r ma t i v os .... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .. 13 8
3.7 - Conclusões. Propost a de definição de pactos parassociais
patrimoniais e utilidade do subgrupo proposto. ........................ 139

4 . – EL EM EN TO S P A R A I N T ER P R ETA Ç ÃO D OS P AC TO S P A R AS S O C I AI S
P ATR I MO NI AI S N O DI R EI T O S O CI E TÁ RI O B R A SI L EI RO . ..... .... .... ..... . 14 1

4.1 – Pressuposto essencial ao exame da interpretação: pactos


parassociais e sua intrínseca li gação com a relação societária. .. 142
4.2 – Segundo pressuposto: real alcance da teoria geral dos contratos
nos pactos parassociais patrimoniais ....................................... 145
4.3 – O papel da interpretação para os pactos parassociais
patrimoniais .......................................................................... 149
4.4 - Elementos da tradicional teoria da interpretação dos negócios
jurídicos ............................................................................... 154
4 .4 .1 - I n t e r p re t a ç ã o c o n f or me a i nt e n ç ão c o mu m d as p a r t e s: f u nç ã o ec o nô mi c a
d o c on t r a t o . Co n t e xt o ne g oc i a l e e s p í r i t o d o con t r at o. ... ..... .... .... ..... .... .. 15 5
4 .4 .2 – Bo a f é e t u t e l a d a co n f i a nç a n as r e l a ç õe s e n t r e s óc i o s . Es t a do d e s óc i o
e e x p e c t a t i v a s l e g ít i ma s .. .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 15 9
a ) b o a - f é o b j et i v a n a s r e l a ç õ e s s o c i e t á r i a s .. .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 5 9
b ) A f f e c t i o s o c i e t a t i s , c o n f i a n ç a e ex p e c t a t i v a s l e g í t i ma s ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 6 2

4.5 – Elementos de interpretação baseados em al guns princípios de


sustentação à lógica societária ............................................... 164
4 .5 .1 - Es co p o co mu m: a b a se da n oç ã o de s o c i e da d e . .... .... ..... .... ..... .... .. 16 5
4 .5 .2 - D ev e r e s do s s ó c i os ... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 16 7
a ) D ev e r e s d e s ó c i o n o d i r e i t o p o s i t i v o b r a s i l e i r o . ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 7 2
4 .5 .3 - Es co p o co mu m e d e v er e s d o s s óc i o s c o mo el eme n t o s p ar a a
i nt e r p r et aç ã o de p a ct os p a r as s o c i ai s pa t ri mo n i ai s ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 17 3
4 .5 .4 - Ve da ç ão a o pa c t o l e o ni n o .. ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 17 6
a ) L e gi s l a ç ã o b r a s i l e i r a ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... .. 1 7 9
4

b ) P a c t o s l e o n i n o s n a p r á t i c a s o c i e t á r i a ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 8 0
c ) V ed a ç ã o a o p a c t o l e o n i n o e i n t e r p r e t a ç ã o d o s p a c t o s p a r a s s o c i a i s p a t r i m o n i a i s .
.. .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... .. 1 8 3
4 .5 .5 – Di r e i t o s d e s óc i o . .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .. 18 3
a ) d i r e i t o a n ã o r e s t a r p r i s i o n e i r o d a s o c i ed a d e: c i r c u l a ç ã o d e a çõ e s e d i r e i t o d e
r et i r a d a ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... .. 1 8 5
b ) d i r ei t o a p er ma n e c e r as s o c i a d o . .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 9 0
b .1 ) e x c l u s ã o d e s ó c i o e p ac t o s c o m o p ç ã o d e c o mp r a .. ... ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 9 0
b .2 ) r e s g a t e d e a ç õ e s . ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 9 5
c ) d i r e i t o a n ã o t er s u a p a r t i c i p a ç ã o d i l u í d a i n j u s t i f i c a d a m en t e .. ... ... .... ... ... .. 1 9 8
d ) C on c l u s ã o .. ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .... ... ... ... .... ... ... .. 1 9 9

4.6 – Outros elementos apontados na doutrina. ......................... 200


4 .6 .1 . I n t r o du ç ã o: Pa ct o s p a r as s o ci ais pa t ri mo n i ai s e a di s c u s s ão s o bre
a u t o no mi a c o nt r a t u al n o d i r e i t o s o ci et ár i o . ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .. 20 0
4 .6 .2 - O r es p e i t o a o t i po s o c i e t á ri o ... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .. 20 1
4 .6 .3 - o r e s p ei t o ao i n te r e ss e s o c i a l .. .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .... ..... .... .. 20 3
4 .6 .4 - O r es p e i t o à o rd e m p ú bl i ca s o c i e t ár i a ... .... ..... .... .... ..... .... ..... .... .. 20 5
4.7 - Interpretação dos pactos parassociais patrimoniais e alvos de
tutela do direito societário. .................................................... 210
5 - CONCLUSÕES ................................................................. 214
5

PRÓLOGO

Relatório de pesquisa (2008-2010)

1. A presente tese (Pactos parassociais patrimoniais. Elementos para


sua interpretação no direit o societário brasileiro 1) representa a fase final de
pesquisas ligadas ao tema da autonomia contratual no direito societário que
vimos desenvolvendo desde o ano de 2008, quando o projeto original de
doutoramento (Fundamentos do direito societário brasileiro e limitação da
autonomia privada) foi apresentado.

2. Cumpre dizer, porém, que as inquietações intelectuais ligadas a


esses t emas têm raízes mais antigas. Desde o curso de graduação e os
primeiros passos na advocacia societária, no final dos anos 90, inquietava-nos
notar que não havia obras de direito societário tratando de contratos
celebrados entre sócios (salvo aquelas lidando sobre acordos de acionistas),
ao passo que, quotidianamente, eram múltiplas as hipóteses desses contratos
com que a jovem estudante se deparava (acordos de financi amento à
sociedade, contratos sobre a compra e venda de participações, contratos de
associação e joint venture, contratos de fornecimento de tecnologia, etc.).
Qual a influência do direito societário sobre esses contratos? Seriam as partes
totalmente livres para estipulá-los, desde que respeitadas as condições gerais
de validade do negócio jurídico ou haveria restrições próprias do direito
societário 2?

1
A pr o p ós i t o d a l o c uç ã o “p a c t o pa r a s s oc i a l ” e m l u ga r de “ c o nt r at os p a r a s s o c i a i s ” , o pt o u -s e
p or a d o t á -l a em r es p e i t o a s e u u s o ge n e r al i za d o . P o r o u t r o l a do , a p a l a vr a “ p a c t o ” t r a z e m
s i a i d ei a d e l a t er al , ac e s s ó r i o a a l go q u e é p r i n ci pa l e , m u i t o em b o r a t a l ve z s e j a es s a a
r a z ão p ar a s u a ut i l i z aç ã o qu a nt o a o s a j u s t e s e xt r a e s t a t u t á r i os , nã o s e t e n c i on o u e n f a t i z a r
e s s e a s pe c t o . No t e xt o , po r t a n t o , uti li z ar - s e - á i nd i st i nt a me n t e “ pa c t o s ” o u “c o n t r at o s ”
p ar a s s oc i a is .
2
Se m e l h a nt e q ue s t i o n a m en t o é f e i t o po r A N A F E L I P A L E A L : “ O pr o b l e m a a an a l i s a r é,
a s s i m o d e s a be r s e , pa r a al ém d os l i mi t es ge né r i c o s à a ut o n om i a pr i vad a , os a c or d o s
p ar a s s o c i a i s e s t ã o ai nd a su j e it o s a os l i mi t e s tí pi c o s do c on t r a t o de s oci ed a d e” ( Al gu ma s
n ot a s s o br e a p ar a s s o ci al i d a de n o d i r ei t o po rt ugu ê s , i n Re vi s t a d e Di r e i t o d a s So c i e da d e s,
I , pp . 1 5 7) . No Ca p í t u l o 4 ver - se - á q u e m e no s o c o nt r a t o d e s oci ed a d e e m a i s o
r e l a c i on a m e nt o po r e l e ge r a d o e s u a l ó gi c a p r ó pr i a é q ue , o r a s e a r gum e n t a , i m põ e
6

3. Buscando criar arcabouço teórico que pudesse apresentar respostas a


indagações desse gênero, não se encontrava, à época, obras que expusessem ou
sistematizassem as re gras gerais, os princípios de direito societário que,
violados, determinariam a nulidade do ato ou ne gócio jurídico, ou obras que
tratassem os contratos parassociais de forma específica e abrangente 3.

4. Passados mais de dez anos, constata-se com pesar que a doutrina


brasileira ainda se ressente de trabalhos de teoria geral do direito societário,
que enunciem, de maneira sistemática, seus princípios estruturais, funcionais,
valorativos e a lógica própria desse ramo do direito 4. Ao contrário, a recente
produção científica em direito societário, no Brasil, tem se concentrado na
descrição dos tipos societários e no exame de temas específicos a eles li gados 5

p ec u l i a r i d a de s ao pr o c e s so i n t e r pr e t a ti vo a s er s e gu i d o q u an t o a o s p a c t os p ar as s o c i a is
p at r i m on i a i s .
3
S ob r e a d i s c i p l i n a d a nu l i d a de d o c o nt r a t o d e s o c i e da d e e d e a t o s s o c i e t á r i o s , c om o a
d el i be r a ç ã o a s s e m bl ea r , a li t e r at ur a é vas t a e be m co n he c i d a a p e c ul i ar i da d e da a n ul a ç ã o.
Cf . o cl ás s i c o d e J O S E P H H É M A R D , T hé o r i e e t p ra ti q u e d e s n u ll it é s de s oc i é t é s et d es
s o ci é t é s d e f a i t , P ar i s , Si r e y, 19 2 6 e E R A S M O V A L L A D Ã O A Z E V E D O E N O V A E S F R A N Ç A ,
I n va l i d a de d a s de l i be r a çõ e s d e a s s e mb l é i a da s S .A., Sã o P a u l o , M a l h ei r os , 1 9 99 . P o uc o s e
f a l a , c on t u do , d a n u l i d ad e qu e a t i nge c o n t r a t os o ut r os c e l e br a d os e nt r e s ó ci os . Ha ve r i a
t a m b ém co m r e l a ç ã o a e l es q u e s e m a t i z ar as r e gr a s d e nu l i d a de ( p a r a p r ot e ç ã o de t e r c e i r o s
d e b o a -f é, po r e xem p l o ) o u o f a t o de s e r e m c el eb r a d os n o co n t e xt o d e um r e l a c i o n am e n t o
s o ci e t á r i o e m na d a i nf l ue n c i a a p os s i bi li da d e d e s ua a n ul a ç ã o? Dú vi d as c o m o e s s a sã o a
b as e d a t e s e .
4
A e xe m pl o d a s o b r as de H E R B E R T W I E D E M A N N , Ge s e l l s c ha f ts r e c ht I – Gr un d l ag en
M ün c h en , B e c k, 1 9 80 ; K A R S T E N S C H M I D T , G e se l l sc h a ft s r e ch t . 4 ª ed ., K ö l n , He ym a n n s,
2 00 2 ; A N T Ó N I O M E N E Z E S C O R D E I R O , Ma nu a l de d i r e it o das s oci e d a de s . – Da s so ci e d ad e s
e m g e ra l ., Vo l . 1 , Co i m b r a , Al m ed i n a , 2 00 4 e Y V E S G U Y O N , L e s s oc i é t é s – Am é n a ge m e n t s
s t a t ut ai re s e t c o n ve n t i ons e n t r e a s so ci é s , i n T r ai t é de s Co n t r at s, J a cq ue s Ghe s t i n ( c o or d .) ,
5 ª e d ., P a r i s , LG DJ , 2 0 0 0 ; e n t r e o ut r o s .
5
Ne s s e pa s s o , i n ci si va s a s pa l a vr as d e M E N E Z E S C O R D E I R O , a r e s p ei t o d a ve r i f i ca ç ã o d o
m e s m o l i m it a do r , n o d ir e i t o p o r t u gu ê s : “[ n ] a fi xaç ã o d e um a d o gm á t i c a d a s s o c i e da d e s
e nc o n t r a m os u m d i l e m a : de v e -s e i ns i s ti r nu m a c on s t r u çã o d e c o n ce i t o s ger ai s o u pa s s a r a
u m a de s c r i ç ã o d o s t i p os de s o ci ed a d es , m a i s s i m pl es e d i r e c t a ? Es t a ú l t i m a o p çã o t e m s i d o
p r i vi l e gi a d a e m e xp o si çõ e s d e ca r i z m u i t o e l e m e nt a r o u e m t e xt os d i r i gi d os a n ã o -j ur i s t a s.
El a d o m i n a, ai nd a , n al gu m a do u t r i n a po r t u gu e s a t r a di c i o n a l i s t a , q ue t r a b a l ha c o m
c l a s s i f i c aç õ e s e l e m e n t a r es e pa s s a , de p oi s , a u m a e x e ge s e de á r e a s m a i s c o n he c i d as d a
p ar t e ge r a l do Có d i go d e S oc i e d a de s Co m e r c i a i s . Nã o é s a t i s f a t ór i a. Al é m do r e t r o ce s s o
c i e nt í f i c o e c u l t u r a l q ue i m p l i c a , e l a n ã o p ode a s s e gu r a r um p r ogr e s s o n a Ci ê n c i a d o
Di r e i t o d as s o ci ed a d es . Al ém d i s s o, a b di c a d e u m a ve r d a d e i r a d i m e ns ã o d o ut r i ná r i a , n a
t r a d i ç ão u ni ve r s i t á r i a d o e n s i n o d o Di r e i t o n o Oc i d e n t e Co nt i n e n t a l . A c o ns t r u ç ã o ge r a l é
m a i s a m b i c i os a , s e n d o a d op t a d a pe l o s m e l h or e s t r a t a d i st a s d a m at ér i a” . ( Man u al de d i r e i to
d as s o ci e d a de s – Da s s oc i e d ad e s e m g e r al , V ol . 1 , Co i m b r a , Al m e d i na , 2 00 4 . p. 1 7 9) .
G U Y O N t a m b ém e n un c i a no i n í c i o d e s ua o br a ( Le s s o ci ét é s , c i t . , p. 9 ) , q ue s e r i a i nú til
7

em dinâmica que, aliás, pode também ser verificada quanto aos contratos
comerciais 6.

5. A ausência de manifestações doutrinárias como as acima apontadas,


por decorrência, frequentemente torna pouco claro, ao intérprete, o espaço de
exercício da autonomia privada que os fundamentos e princípios próprios do
direito societário deixam entrever 7.

6. Nesse contexto, como será reiterado incontáveis vezes ao longo da


tese, o que havia – e há – a respeito de contratação entre sócios, no Brasil, diz
respeito ao próprio contrato de sociedade ou, em sede parassocial, ao acordo
de acionistas, previsto na Lei n. 6.404/76.

7. Decidiu-se, assim, restringir o projeto de pesquisa inicial, alterando


seu foco para o tema dos contratos parassociais, pois essa opção pareceu a um
só tempo útil e realista, no sentido que permitiu que se continuasse a
examinar a relação entre autonomia privada e direito societário, sem que a
pesquisa que se considerou inicialmente realizar sobre os princípios do direito
societário brasileiro acabasse por se mostrar incompatível com as limitações
de tempo para a conclusão do doutoramento.

8. Feito esse corte metodoló gico inicial, optou-se por realizar, como
primeiro passo para o desenvolvimento do trabalho, levantamento

e s cr e ve r um a o br a q ue u m a v e z m a i s d e sc r e v e ss e o r e gi m e l e ga l d a s s o c i e da d e s , po i s a
d ou t r i n a é , d e s t e po n t o d e vi s t a , ab u nd a n t e .
6
D e f at o , co m o e s cl a r e c e P A U L A A. F O R G I O N I , a o t r a t a r d e co n t r a t o s em p r e s a r i a i s , “ n ão h á
u m e sf or ç o do gm á t i c o pa r a a co m p r e en s ã o do m e c an i s m o d e f un c i on a m e nt o c o m u m de s s e s
n egó c i os ; t a m p o uc o , e nc o nt r am os o d e s e nvo l vi m en t o de c o nc e i t o s ap to s pa r a e xp l i c á -l o s
e m s u a l ó gi c a p e c u l i a r ” ( Te o r i a ge r a l d os c o n t r at o s e mp r e sa r i a i s , S ã o P a ul o, RT, 20 0 9, p.
1 7-2 0 ) . À m es m a c o nc l u s ã o c h e ga -s e c o m r e l a ç ã o a os p a c t os p a r a s s oc i a is , c o m o s e ve r á a o
l o ngo d e st a t e se .
7
G U Y O N a po n t a m es m o co m o ob j e t i vo d e se u t r a ba l h o “ a bu s c a d o l uga r oc u pa d o p e l a
von t a d e i nd i vi d ua l e p e l a l i b e r da d e co n t r a t ua l no d i r e i t o s oc i e t á r i o ” , o qu e s e r i a
c on v e ni e n t e e m pr e e n de r t a m b é m c om r el aç ã o a o d i r e i t o b r a si l e i r o. Em e s p e ci a l qu a nt o a o s
p ac t o s p ar as s o c i a i s , é pr e c i s o a va l i a r q u ai s p r in c í p i os d e vem s e r r e s p e i t ad o s na r e d a çã o e
e xe c u ç ã o ( L e s s oc i é t é s .. , c i t ., p .9 ) .
8

bibliográfico e jurisprudencial, no Brasil 8, com relação a pactos parassociais


e, por consequência, acordos de acionistas. Os principais termos utilizados
para a pesquisa foram “parassocial ”; “acordo de acioni stas”; “sindacati di
voto”, “pactes d’associés”, buscando identificar o conteúdo das obras
consultadas a seu respeito.

9. Na doutrina, partiu-se de nossos clássicos, perpassando (i)


comentários às leis; (ii) manuais; (iii) tratados; (iv) monografias 9- 10; (vi)

8
C ab e m a qu i o s a gr a d e c i m en t o s , u m a ve z m a i s , à ge ne r o s i da d e do P r of . J O S É A L E X A N D R E
T A V A R E S G U E R R E I R O p or pe r m i t i r o a ce s s o à s ua r i c a bi b li o t e ca , e m q u e f o i pos s í vel
c on s u l t a r o br a s -c h a ve p a r a o de s e n r o l a r d a p es q u i s a .
9
No q ue d i z r es p e i t o à d o ut r i na b r a s il e i r a , h ouve p r e o c u p aç ã o em r e a l i z a r u m p a no r a ma
c r on o l óg i c o d as gr a n de s o br as d o d i r ei t o co m e r c i a l p át r i o, de m o d o a t e n t a r i d e n t i f i c a r e m
q ue m o m e n t o hi s t ó ri c o o q ue s t i o n am e n t o s ob r e p a ct os p a r a s so c i a i s s u r gi u. De s t a f or m a, e m
o r de m d e p u bl i c aç ã o , e s t a s f o r a m as o br as f u n d a m e nt ai s c o ns u l t a d a s c o m e ss e p r op ó s i t o
( o ut r as es t ã o l is t a da s n a s e ç ã o “r e f e r ê n ci a s bi b li o gr á f i c as ” ) : J O S É D A S I L V A L I S B O A ,
( Vi s c o nd e de Ca i r u ) , Pr i n c i p i os d e d i r e it o mer c a n t i l e l ei s d e ma r i nh a, 6 ª e d., R i o d e
J a ne i r o , Ac ad ê m i c a , 1 87 4 ; S A L U S T I A N O O R L A N D O D E A R A Ú J O C O S T A , ( o Co ns e l h e i r o
Or l a n do ) , Co d i g o Co m me r c i al d o I mp e r i o d o Bra z i l , R i o d e J a ne i r o , La e m m e r t , 18 6 4;
D I D IM O A G A P I T O D A V E I G A J U N I O R , As s o ci e d a de s a n on y ma s ( L e i n . 3.1 5 0, d e 4 de
n ov e mb r o d e 18 8 2 - C o mm en t a r i o ) , Ri o de J a n ei r o, N ac i o n al , 18 8 8; D I D I M O A G A P I T O D A
V E I G A J U N I O R , Co di go Co m me r c i a l c om me nt a d o, Ri o d e J an e i r o , La e m m e r t , 18 9 8; J O S É D A
S I LV A C O S T A , D i r ei t o c o mme r c i a l mar i t i mo , Ri o d e J a n e i r o, J or n a l do Co m m e r c i o , 18 9 9;
A N T O N I O B E N T O D E F A R I A , Co di g o C o m m e rc i a l b r az il e i r o , Ri o de Ja ne i r o , Ri b e i r o d o s
S an t o s , 1 90 3 ; H E R C U L A N O I N G LE Z D E S O U Z A , D i r e i t o c om me r ci al ( p r e l e cç õ e s pr o f e s s ad a s
n a Fac u l d ad e L i vr e d e Sc i e n c i as J u r í di c as e Soc i a e s d o Ri o de J a ne i ro e c omp i l a d as p e lo
b ac h ar e l Al b er t o Bi ol ch i n i ) , S ã o P a ul o , Es co l a s P r of i s si o n a es S a l e si an a s , 1 90 6 ; B R A S I L I O
A U G U S T O M A C H A D O D E O L I V E I R A , ( o B ar ã o Br a s i li o M a ch a do ) , O C od i g o Co m me r ci al d o
Br a s i l e m s ua f o r maç ã o h i s t ór i c a, S ã o P a ul o , S al l e s, 1 9 10 ; J O S É X A V IE R C A R V A L H O D E
M E N D O N Ç A , Tr a t a do d e di r e it o c o mme r ci al b r az i l e ir o, Vol . 1 , 1ª ed ., Sã o P a u l o, Ca r d o z o
F i l ho , 1 9 10 ; S A L V A D O R A N T O N I O M O N I Z B A R R E T O D E A R A G Ã O , S o ci e d a de s a no n ym as , R i o
d e J an e i r o , F r an c i s c o Al v es , 19 1 4; S P E N C E R V A M P R É , Das s o c i e da d e s an o ny ma s –
c om m e nt a r i o à c on s o l i daç ã o d a s l e i s s o br e s oc i e d ad e s an o ny ma s e e m c o mm an d i t a p o r
a cç õ e s ( D e c r. n . 4 34 d e 4 de j u l h o de 1 8 91 ) , S ã o P a u l o, P o c a i -W ei s s , 19 1 4; D E S C A R T E S D E
M A G A L H Ã E S , Cu r s o d e d i r e i t o c ome r c i a l , Vo l . 1, 1ª e d. , Sa l va d o r , B a hi an a , 1 9 19 ; S P E N C E R
V A M P R É , T r at a d o e l e me n t ar d e di r e it o c o mme r ci al , 3 v., Ri o d e Ja n e ir o , Br i gu i e t , 1 92 2 ;
A L F R E D O D E A L M E I D A R U S S E L , C ur s o d e di re i t o c om me r ci a l b r as i l ei r o, R i o d e J a n e i r o,
S ci e n t i f i c a , 1 9 23 ; W A L D E M AR F E R R E I R A , Cu rs o d e di re i t o c o m me r c i al , Vo l . 2 ., S ã o P a u l o,
S al l es Ol i ve i r a , 19 2 7; A L F R E D O D E A LM E I D A R U S S E L , S oc i e d ad e s a n on y ma s : t h e o ri a e
p r at i ca , R i o de J a n ei r o, Le i t e Ri be i r o , 1 9 29 ; O C T AV I O M E N D E S , Cu r s o de d i r e ito
c om m e rc i a l t e r r e st r e , Sã o Pa ul o, S a r ai v a , 1 93 0 ; J O S É X A V IE R C A R V A L H O D E M E N D O N Ç A ,
Pr o b l e mas da s s o c i e da d e s a no n ym as , Sã o P a u l o , RT, 1 93 1 ; G U D E S T E U D E S Á P I R E S ,
S oc i e d ad e s a no n y mas ( s ub s i d i os pa r a a r e f or m a da l e i ) , Ri o d e J a n ei r o, J or n a l d o
Co m m e r c i o, 19 3 5; T R AJ A N O D E M I R A N D A V A L V E R D E , S oc i e d ad e s an o ni mas , Vol . 1 , Ri o d e
J a ne i r o , Bo r s o i , 19 3 7 ; T R A J AN O D E M I R A N D A V A L V E R D E , S o c i e da d es p or aç õ e s
( c om en t á r i o s ao De c r e t o - Le i n . 2 .6 27 , d e 2 6 de s e t e mb r o d e 1 94 0 ) , Vo l . 2 , Ri o de J a n e i r o,
Re vi s t a Fo r e ns e , 1 9 41 ; G U D E S T E U D E S Á P I R E S , Ma nu a l d as s o c i e da d es a n on i ma s , Ri o d e
J a ne i r o , Fr e i t as B a s t o s , 1 9 42 ; W A L D E M A R F E R R E I R A , I n s t i t u i ç õ es d e d i r e i t o c o me r ci al,
Vo l . 1 , R i o de J a n e i r o, Fr e i t as B a st os , 19 4 4; A N T O N I O B E N T O D E F A R I A , Di r e i t o c o me r ci al ,
9

pareceres publicados 11 e (vi) artigos 12. Na jurisprudência, examinou-se


decisões do Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal 13.

Ri o d e J a ne i r o , C oe l h o Br a n c o , 1 9 47 ; W A L D E M A R F E R R E I R A , Tr a t a do d e di r e i t o c o me r ci al ,
Vo l . 8 , S ã o P a u l o, Sa r a i va, 19 6 0 -2 ; C A R L O S F U L G Ê N C I O C U N H A P E I X O T O , So c i e d ad e s p o r
a çõ e s ( c om en t á r i o s ao De c r e t o- l ei n. 2. 62 7 , d e 26 d e s et em br o d e 19 4 0 , co m a s a l t e r aç õ e s
d a L e i n . 4. 72 8 , d e 1 4 de j u l h o d e 1 96 5 , Le i d o Mer c a d o d e Ca pi t ai s ), Vol 5, Sã o P a u l o,
S ar a i va , 1 97 2 -3; F R A N M A R T I N S , Cu r s o d e di r e i t o c om er c i a l , C ea r á , Un i ve r s i t á r i a , 19 5 7;
W I L S O N D E S O U Z A C A M P O S B AT A L H A , C om en t á r i o s à Le i d a s So c i e da d e s An ôn i ma s , V ol . 2,
Ri o d e J an e i r o , Fo r e n se , 1 9 77 ; E G B E R T O L A C E R D A T E I X E I R A e J O S É A L E X A N D R E T A V A R E S
G U E R R E I R O , Da s s oc i e d ad e s a nô n i ma s no d i r e ito br a s il e i r o , Vo l . 2 , S ã o P a u l o, Bu s ha t s k y,
1 97 9 ; O S M A R B R I N A C O R R E A - L I M A , Di r e i t o d e vo t o n a s oc i e d ad e a nô n ima , i n RT 5 30 ( d e z.
1 97 9 ) , p p. 26 -3 7 ; L U I Z G A S T Ã O P AE S D E B A R R O S L E Ã E S , Co me nt á r i o s à Le i d a s S oc i e d ad e s
An ô ni mas , Vo l . 2 , S ã o P a u l o, S a r a i va , 1 9 80 . Ai n da n o q ue t a n ge à d o ut r i na b r as i l ei r a,
b us c o u-s e i d e nt i f i c ar a s o br a s m o n ogr á f i c a s s o b r e o t e m a a qu i p ubl i c ad as , l oc a l i z a n do -s e
c i n co p r i nc i p a i s t r a b al ho s at é o m o m en t o : C E L S O D E A L B U Q U E R Q U E B A R R E T O , Aco r d o d e
Ac i o n i s t a s, Ri o d e J a n ei r o, Fo r e ns e , 1 9 82 ; M O D E S T O C A R V A L H O S A , A c o r d o d e Ac i o n i s t as ,
S ão P au l o , S a r ai va , 1 9 8 4 ; C E L S O B A R B I F I L H O , A c or d o de Aci on i s t a s , Be l o Ho r i z o nt e , De l
Re y, 1 99 3 ; J O Ã O L U I Z C O E L H O D A R O C H A , Ac o r do d e Ac i o n i s t as e Ac or d o de C ot i st as , R io
d e J a n e i r o, Lu m e n J u r i s , 2 0 02 ; M A R C E L O M. B E R T O LD I , A co r d o d e Ac i o ni s t as , Sã o P a u l o,
RT , 20 0 6. Em 20 1 1, n o d e c or r e r d a r e d aç ã o f i na l d o t r a b al ho , f o i pu b l i c ad a a o b r a d e
M O D E S T O C A R V A LH O S A , Ac or d o d e A c i on i s t a s – Ho me na g e m a Ce l s o Bar b i Fi l h o , Sã o
P au l o , S a r ai va , 20 1 1 .
10
Na do u t r i n a e s t r a ng e i r a , f o i p os s í ve l c o ns u l t a r a s s e gui n t e s o br a s m o n o gr á f i c a s : G I O R G IO
O P P O , C on t r a t t i p ar a so ci al i , Mi l an o , Va l l a r d i , 1 94 2 ; L U I G I F A R E N G A , I c o nt ra t ti
Pa r a s oc i a l i , M i l an o , Giu f f r è , 1 9 87 ; G I U S E P P E S A N T O N I , Pa t t i p a ra s o c i al i . Na p ol i , J ove n e,
1 98 5 ; J Ü R GE N D O H M , Le s a c co r d s s ur l ’ e x e r c i c e du d r oi t de v o t e d e l ’ ac t i on n ai r e . Ge ne ve,
Li br a i r i e d e l ’ u n i ve r s i t é G eo r g & C i e S. A , 1 97 1 ; A N T O N I O P E D R O L , L a an ó ni m a ac t u al y l a
s i n di ca c i ó n d e a c ci on e s , M a dr i d, Re vi st a de De r e c h o P r i va do , 1 9 69 ; G A S T O N E C O T T I N O , L e
c on v e nz i o n i d i v o t o n e l l e s o ci e t à c o mme r c i a l i , M i l an o , Gi uf f r é , 19 5 8; M AR I O L E IT E
S A N T O S , C on t r a t os pa r a s s oc i a i s e ac o r do s d e v o t o n a s s o ci e d a de s a n ón i ma s , Li s b o a,
Co s m o s, 1 99 6 .
11
Ent r e o s r e p e r t ó r i os q ue m a i s co n t r i b uí r am a o d e s e n vo l vi m en t o da s pe s q ui sa s , e s t ão:
F Á B I O K O N D E R C O M P A R A T O , Di r e i t o e mpr e s a r i al : e s t ud o s e pa r e c er e s , S ã o P a ul o, S a r a i va,
1 99 0 ; F Á B I O K O N D E R C O M P A R A T O , No v o s en s a i os e p a re c e r es d e d i r ei to e mp r e s ar i a l , Ri o
d e J a ne i r o , F or e n s e, 1 9 81 ; L U I S G A S T Ã O P A E S D E B A R R O S L E Ã E S , Es t u d os e p a r ec e r es
s o br e s oc i e d a de s an ô ni ma s, Sã o P a u l o, R T, 1 9 89 ; L U I S G A S T Ã O P AE S D E B A R R O S L E Ã E S .
Pa r e c er e s , V ol . 2, Sã o P a u l o , S i ngu l a r , 2 00 4 ; A L F R E D O L AM Y F I LH O e J O S É L U I Z B U L H Õ E S
P E D R E I R A , A L e i d as S . A. , R i o de J a n ei r o, Re no var , 1 99 2 ; A L F R E D O L A M Y F I L H O , Te ma s d e
S .A. : e x po s i ç õe s , pa r e c er e s , Ri o d e J a ne i r o , R e no va r , 2 0 07 ; A N T O N I O J U N Q U E I R A D E
A Z E V E D O , Es t u do s e p a re c e r e s d e d i r e i t o pr iv a do , S ã o P a u l o, S a r a i va , 2 00 4 ; A N T O N I O
J U N Q U E I R A D E A Z E V E D O , No v os e s t u d os e p a r ec e r e s de d i r e it o p ri v ad o , S ã o P a ul o, Sa r a i va,
2 00 9 . A LF R E D O L A M Y F I L H O e J O S É L U I Z B U L H Õ E S P E D R E I R A , J o s é Lu i z , Di r e i t o d a s
Co mp an h i a s , Ri o , Fo r e n s e , 2 0 09 .
12
P r o ve ni e n t e s d e l e va n t a m e nt o n a b as e d e d a do s e l e t r ô ni ca I U SD A TA, be m c o mo
e xt r aí do s d a l e i t u r a da s p r i n c i pa i s m on o gr a f i a s s o br e o t em a d e c o nt r a t o s p a r as s o c i a i s .
13
N a s e ç ã o R E F E R Ê N C I A S J U R I S P R U D E N C I A I S e n c o nt r a-s e o pa n or am a g e r al do s r e s ul tados
d o T JS P n ã o f o r a m c i t a do s t o do os a c ór dã o s c o n su l t a d o s p o r qu e a m a i o r i a de l e s a pe n a s
t a n ge n c i am o pr o b l e m a a s er t r a t a do n a p r es e n t e t e s e, c om o s e ve r á m a i s a di an t e . A na l i s o u -
s e , e n t ã o, ap e n as o s p o uc o s a có r d ã os r e l e va nt e s , de t o d as as c o r t e s p e squ i s a da s , q u e po d e m
s e r e n c on t r a d os n a s e ç ã o “ A N Á L I S E S J U R I S P R U D E N C I A I S ” , o n d e t a m b é m s e e nc o nt r a m o s
10

10. Com relação aos arti gos de doutrina, o intento inicial era o de
realizar pesquisa manual, “capa a capa”, das principais revistas de direito
comercial, tendo em vista que (i) os índices, quando existentes, não são
frequentemente atualizados. (ii) revistas antigas não têm seus artigos
catalogados, um a um, nos programas de pesquisa, demandando conferência
física e (iii) essa modalidade de pesquisa permite que se obtenha panorama da
produção doutrinária sobre determinado tema e também dados estatísticos
sobre a sua verificação.

11. Contudo, a paralisação das atividades da Biblioteca de Direito


Comercial da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo durante a
maior parte do ano de 2010 inviabilizou a pesquisa pretendida. Por
consequência, os artigos consultados no Brasil foram, substancialmente,
aqueles apontados pela base de dados eletrônica IUSDATA, cujas cópias
foram obtidas antes do fechamento da biblioteca, além de al guns artigos
referidos nesses primeiros textos e nas demais obras consultadas.

12. Julga-se oportuno indicar, sucintamente, as conclusões obtidas ao


cabo do levantamento em questão:

(i) evol ução na doutrina: pode-se dividir a evolução doutrinária do


tema dos contratos parassociais, no Brasil, em quatro grandes fases.

A primeira fase, compreendida nos clássicos tratados, enfoca o


contrato de sociedade como reflexo ou sinônimo do relacionamento

p ar â m e t r o s d e pe s q ui s a s e a p or c e n t a ge m a p r o xi m a d a do s t e m a s t r a t a do s n os a c ó r dã o s . Em
e s pe c í f i c o , c o m r e l aç ã o a o T r i b un a l d e Ju s t i ç a d o Es t a do d e Sã o P a u l o , o l e va n t a m e nt o d e
a c ór d ã os é t a r e f a qu e i m p o r t a d i f i c ul da d es de p r e c i s ã o e ab r a n gê n c i a . Vi s t o q u e a
d i gi t a l i z aç ã o de s e us j u l ga do s a i nd a e st á e m f a s e d e i m p l e m en t a ç ã o, a p e s qu i s a em s u a s
b as e s de d ad o s e l e t r ô n i c as é nã o r a r o f al ha ( ve z qu e os m e c an i s m o s d e bu s c as n ã o s e
m o s t r a m d e t od o c on f i áve i s pe l a d e s a r m on i a n a i n de xa ç ã o d e j ul ga d os ) e l i m it a d a no t e m p o
( d e m od o qu e a có r d ã os m a i s a n t i gos d e ve m s e r i d e nt i fi c ad o s m a nu a l m e nt e n o s r e pe r t ó r i o s
o f i c i a i s ) . P e l a s d i f i c u lda d e s a po n t a da s , nã o s e ad o t ou a a ná l i s e j ur i s pr u d en c i a l c o m o
e l e m e nt o c e nt r al da l i nha m e t o do l ó gi ca s e gui da , q u e s e f i xo u , p r e ci pu a m e nt e , n o e xa m e d a
d ou t r i n a . Es sa e s c o l ha n ã o a f as t a , po r é m , o i n t e re s s e em s e r ea l i za r t r ab a l h o es p e c í f i c o, em
o ut r a se d e , e m q u e os e s f o r ç os s e j a m d i r e c i o na d os e x c l u si va m e n t e à a ná l i s e j u ri s p r u de n c i al
c om p l e t a d o t e m a d os p a c t os pa r a s s oc i a i s e / o u a co r d os de a c i o ni st as n o Br a s i l .
11

societário e apenas marginalmente aponta a possibilidade de


contratação que com ele não coincida 14. No Brasil, as principais
referências são os comentários ao art. 302 do Código Comercial de
1850.

A segunda fase, correspondente às primeiras décadas do Século XX,


contempla a discussão sobre acordos de voto. Entre nós, ficou célebre
o Caso Martinelli, de 1924, cujo deslinde judicial contou com
pareceres da lavra de expoentes brasileiros como E D U A RD O E S PÍ N O LA ,
C A RV A LH O DE M EN D O N Ç A e C LÓ V IS B EV I LA CQ U A 15. Centrava-se o caso
na discussão sobre a validade de acordo de voto mediante o qual se
convencionava a indicação de diretor de sociedade anônima. As
questões fulcrais para sua decisão, contudo, mais que no exame de
validade da vinculação do voto, centraram-se na validade da indicação
e revogação de administradores em acordo de voto. Com o estudo
desse caso, foi possível depreender a mentalidade do início do século
com relação a t emas tão importantes para a teoria li gada aos contratos
parassociais, em específico, os acordos de voto.

O período de vigência do Decreto 2.324/40 representa a terceira fase


de apreciação do problema, tendo em vista a expansão da utilização de
acordos de voto e outros acordos de acionistas no pós-guerra e, de
outro lado, a ausência de regra legal específica, no Brasil, sobre
acordos de acionistas e sua validade. É nesse período que, justamente
em virtude do prestígio que os pactos parassociais passam a ostentar,
G IO RG IO O P PO publica a obra pioneira para o tema, Contratti
Parasociali, em 1942 16.

14
As o br as c on s u l t a da s n ão c on t i n h am s e ç ã o e s pe c í f i c a s ob r e co n t r a t os e n t r e s ó c i o s ou
m e s m o ac o r d os d e vot o.
15
Cf . Re v i s t a d e di re i t o c i v i l , c omm er c i a l e c r i mi n a l 87 ( j a n . 1 92 8 ) , p p. 46 0 -5 00 ; 5 32 -3 7;
6 00 -1 0; e Pa n de c t a s br a s i l e ir a s 2 , p t . 2 , p p . 5 17 e s s .
16
Co nt ra t t i Pa r as o c i a l i , M i l an o , Va l l a r d i , 1 9 42 .
12

Por fim, a última fase inicia-se com a promulgação da lei 6.404/76,


que trouxe disposição expressa sobre acordos de acionistas e, na
doutrina, é marcada pelas discussões sobre a opção adotada pelo
legislador 17. Nessa fase, surgem mono grafias específicas sobre o tema
acordo de acionistas 18.

Conclui-se, então, que o contexto econômico mundial, o intenso fluxo


de relações comerciais e societárias propiciado pela globalização e a
própria evolução pela qual o direito societário passa nos últimos vinte
anos - em que proliferam as “joint ventures” internacionais e os
investimentos de “private equit y” em sociedades anônimas fechadas -
exige que nova fase se inicie na compreensão de contratos
parassociais, de modo a compreendê-los na sua real motivação e
utilização no bojo dos mais diversos relacionamentos empresariais.

(ii) tratamento específico do tema em obras de caráter geral (tratados


e manuais de direito comercial): feitas as considerações acima,
verificou-se que as poucas obras de conteúdo panorâmico que
efetivamente tratam de contratos parassociais, cuidam precipuamente
dos acordos de voto e seus problemas próprios ou, se posteriores a
1976, referem-se a acordos de acionistas. Em ambos os casos, porém,
não se discute a repercussão, sob a ótica societária, de contratos com
conteúdo exclusivamente patrimonial (e não político) cel ebrados por

17
N es s e s e nt i d o , p er t i ne n t e a c o n cl u s ã o d e C A L I X T O S A L O M Ã O F I L H O : “ [ a] d i s c u ss ã o em
t o r no do a c o r do d e a c i o ni st a s t e m s e ce n t r a do no s ú lti m o s a n o s em t o r n o d e t e m a s
a pl i c at i vo s . A p r eo c u p a ç ã o ce n t r a l t e m si do a d i s c u ss ã o d os ef e i t os , ab r a n gê n c i a e
c on s e qu ê n ci as d o a co r d o, t ud o na t u r a l m e n t e pr e c e di do d a t r ad i c i o n al e i na f a s t á ve l a n á l i s e
d e su a n a t ur e z a j u r í d i c a” ( Aco r d o d e Aci o n i s t a s c omo i n s t â nc i a d a est ru t u r a so c i e t ár i a, i n
O N o v o Di r e i t o S oc i e t á ri o , 3 ª e d . r e f o r m ul ad a , S ão P a ul o , Ma l h e i r o s , 2 00 2 , p . 9 4. O a r t i go
d o a ut or , a p r o p ós i t o , é d o s ú n i c os or i en t a d os à a n á l i s e d o a c o r do d e ac i o n i s t a s p e l a
p er s p e c t i va d e s u a f u n çã o no di r ei t o s o ci et á r i o – e nã o a p e n a s c om o um c on t r a t o ( “ A
p r es e n t e d i s c us s ã o t e m u m a p r o po s t a m e t o d ol ó gi c a d i ve r s a . O p on t o d e p a r t i d a é o
r a c i oc í n i o t e óri c o s ob r e a f u nç ã o d o a c o r do d e a c i on i s t a s d en t r o do s i s t e m a s o ci e t á r i o,
p r op o s t a , p or t an t o , e m i n e nt em e n t e t e ó r i c a” . I d e m , i bi de m ) .
18
P a r a l i s t a d a s p r i n ci pa is m o n ogr a f i a s , c f . no t a # , a c i m a .
13

sócios. Por fim, é constante a referência a O P PO e ao que propôs na


obra Contratti Parasociali de 1942 19.

(iii) monografias: as principais monografias sobre o tema versam sobre


o acordo de acionistas previsto na lei 6404/76. Não foram encontradas
monografias brasileiras sobre pactos parassociais enquanto gênero de
que o acordo de acionistas é espécie.

(iv) jurisprudência: a jurisprudência sobre acordo de acionistas não é


vasta e, quando as decisões não são centradas em aspectos de direito
processual, referem-se a questões ligadas ao voto 20. Outra conclusão é
o patente descompasso entre a extensa utilização de contratos
parassociais na realidade negocial e as raras decisões jurisprudenciais
que os tem em mira. O sigilo dos pactos parassociais e sua submissão à
arbitra gem são fatores que impedem o acesso às decisões em lides que
os envolvem.

13. Tendo obtido os resultados acima, partiu-se para temporada de


pesquisa de 3 meses (junho, julho e a gosto de 2010) no Max-Planck-Institut
für ausländisches und internationales Privatrecht em Hamburgo, Alemanha,
que concedeu bolsa de estudos para o projeto intitulado Contractualisation of
Company Law: An European Perspective.

14. Durante o período em Hamburgo, realizou-se levantamento


doutrinário sobre o tema da contratação parassocial, com a oportunidade única
de discuti-lo com o Prof. Klaus J. Hopt, com pesquisadores-sênior da entidade

19
C a be s a l i e n t a r a p e r sp e c t i va do s c o nt r a t o s p a r a s s o c i a i s p ar a o t e m a d o po d e r de c o n t r ol e,
a pr e s e n t a da p el o P r of . F Á B I O K O N D E R C O M P A R A T O m es m o a nt e s d a Le i n. º 6. 40 4 / 76 , n a s
p r i m e i r a s e di ç õ e s da ob r a O p o d e r d e c on t r o l e n as s o c i e da d e s an ô ni m as .
20
Há , c o nt u d o, d e c i s õe s qu e t oc a m as p e c t os r e l e va n t e s p a r a o e n f o q u e qu e se p r oc u ra
c on f e r i r a o p r e se n t e t r a b a l ho , s e n d o n e c es s á r i a a a n á l i s e da d e c i s ã o d o S TJ , R ES P 3 8 8. 42 3 -
R S , Qu a r t a Tu r m a , r e l . M i n . S A L V I O D E F I G U E I R E D O T E I X E I R A , j . 1 3. 5. 03 , q ue s e e n co n t r a
n a s eç ã o A N Á L I S E S J U R I S P R U D E N C I A I S , a o f i na l d o t r a b al ho .
14

(Drs. Felix Steffek; Walter Doralt e Jan Peter Schmidt) e demais bolsistas e
pesquisadores 21.

15. Ao final do primeiro mês de levantamento biblio gráfico na vasta


biblioteca do Instituto 22- 23, de debates com pesquisadores, bem como de
aprofundamentos sobre o que já se trazia do Brasil, tendía-se a eleger como
hipótese de trabalho a proposta de avançar no que O P P O fizera em 1942 e
dotar a expressão “contratos parassociais” de conteúdo mais amplo, alinhado à
posição de G U Y O N , para quem a sociedade deve ser vista como a estrela maior
(mas não única) de uma nebulosa contratual que a cerca, havendo interação e
influênci a mútua entre ambas 24.

16. Refletia-se, para embasar a linha de pesquisa, que esses contratos,


celebrados ao redor da sociedade, devem respeito ao direito societário, ainda
que eles não estejam diretament e ligados à organização da sociedade, que é o
principal critério adotado por O PP O para determinar a peculiaridade ínsita aos

21
Agr a d e ci m en t o s , e m e s pe c i a l , à s c o l e ga s El en a de C ar va l h o G om e s , D ou t o r a em D i r e ito
Ci vi l n a Uni ve r s i d a de F ed e r a l de M i n as Ge r a i s , s o b a or i en t a ç ã o d o P r o f . J oã o Ba pt i s t a
Vi l l el a e n a Un i ver s i d a d e d e P i s a, e C a t a r i na M o nt ei r o P i r e s , d ou t o r a nd a e m Di r e i t o Ci vi l
n a Uni ve r s i d a de d e Li s b oa , so b a or i en t a ç ã o d o P r o f . D r . P e d r o P a i s d e Va s co n c e l o s , p e l o
i n t e ns o d e ba t e i n t el e c t u al do q u al r es u lt o u a o pç ã o po r e n f oc a r a p en a s o s pa c t o s
p ar a s s o c i a i s pa t r i m on i ais ( e n ã o o s a j u s t e s de vo t o ) c om o o b j e t o da t e s e .
22
Co m gr at a s u r p r e sa , de p a r ou -s e no I n s t it u t o c om a co l e ç ã o d a s n os s a s p r i n ci p a i s r e vi stas
j u r í d i c as . De s s a m an e i r a f o i p o ss í ve l , ao m e n o s co m r e l a ç ã o a Re v i s t a d e Di r e i to
Me r ca n t i l , r ea l i z a r o l e van t a m e n t o pa n or â m i c o a qu e a c i m a s e r ef e r i u , o b t e nd o a
f r e qu ê n ci a d e p r od u ç ão no t e m a d e c o nt r a t o s pa r a s s oc i a i s n es s a i m p or t a n t e p u bl i c aç ã o
b r as i l ei r a. Es s e l e va n t a m e nt o c o nf i r m ou o qu e a pe s q ui s a r e a l i z a d a n o Br a s i l j á a p on t a va:
p r ep o nd e r â nc i a d e a r t i g o s t r at a n d o d e a s p ec t o s e sp e c í f i c o s d o s a c o r do s de a ci on i s t a s e,
m a i s e s pe c i a l m e n t e, a co r d os d e vot o . D e f a t o , n ã o se i de n t i fi c o u a r ti go s q ue e xam i na s s e m
( i ) o s p a ct o s pa r a s s oc ia i s c om o gê n e r o e / o u ( i i ) o s a c or do s p a r a s s oc i a i s ce n t r a d os e m
d i r e i t o s i n di vi du a i s do s s óc i o s p e l o vi é s do di r ei t o s o c i et ári o. I n f e l i zm e nt e, n ã o h o uv e
t e m p o h á bi l p a r a r ea l i z a r o m e s m o l e va n t a m e n t o p an o r âm i co c om r e l a ç ã o à Re vi s t a d o s
Tr i bu n ai s, d es d e s e u nú m e r o 1, ou a i n d a a Re vi st a Fo r e ns e .
23
Va l e r ef e r i r a l gu m a s o b r a s co n s ul t ad a s , s o br e t u d o f r a n c es a s e a l e m ãs , qu e c on t r i b u í r am
s i gni f i c at i va m e n t e p a r a o r e f i na m e n t o d o t ema d a t e s e : F E L I X C H R I S T O P H E R H E Y , Fr e i e
Ge s t a l t u ng i n Ge s e l l s ch af t sv e r tr ä ge n un d i hr e S c h r an k en , M ün c h en , Be c k, 2 0 04 ; J E AN -
J A C Q U E S D A I G R E e M O N I Q U E S E N T I L LE S - D U P O N T , Pac t e s d ’ Ac t i o n na i r e s , P a r i s , J o l y, 19 9 5;
J E A N -P H I L I P P E D O M , L e s mo n t ag e s e n d r oi t de s s oc i é t é s . I n Pr a t i q ue d e s a f f a ir e s . P ar i s,
J o l y, 19 9 5; C L A U D I O K Ö H L E R , N e b e na b re d e i m Gmb H u nd A kt i en r e c ht – Z ul ä s s i g k ei t un d
Wi r k un g , F r a n kf u r t a m M a i n , La n g, 1 99 2 .
24
Le s s o ci ét é s … c i t ., p. 30 3 , i n ver b i s : “ La so c i é té e s t a i n si c om p a r a bl e à l ’ é t oi l e m a j e ure
d ’ un n e bu l e u s e co n t r a c t ue l l e ” .
15

contratos parassociais. Estar-se-ia a configurar os contratos parassociais, sob


essa ótica, como algo próximo a “contrat os relevantes para o direito
societário”.

17. Partiu-se, então, para a configuração da tese com vistas a essa


orientação tendo sido encontrados argumentos e base doutrinária para explorá-
lo 25. Todavia, a principal dificuldade que se pôs então foi a de tratar, em uma
única tese, de acordos dos quais facilmente se reconhece a necessidade de sua
submissão ao direito societário e muito já se produziu em doutrina (acordos de
voto) e aqueles pactos ou ajustes, entre sócios, que em princípio dizem
respeito apenas a direitos individuais seus – e nada ou pouco influenciariam
na vida da sociedade ou sua organização 26.

18. E é justamente sobre os últimos que o interesse em cot ejar com a


lógica própria do relacionamento entre sócios e com os princípios de direito
societário se mostrou mais interessante: raríssimas obras 27 os observam sob
essa perspectiva, no sentido de matizar a autonomia contratual em prol dos
alvos de tutela desse ramo do direito, ou mesmo tendo em conta a relação
societária efetivamente desejada pelas partes e suas específicas demandas.

Entende-se que esse questionamento é válido e deve ser feito, ainda


que, ao final e em cada caso específico, conclua-se que os contratos sob
exame não têm efetivo potencial de lesão aos alvos de tutela da disciplina e/ou
de desvirtuamento da relação societária, ou ainda, não seja possível impor

25
Vi de , p or e xe m p l o , C H R I S T O P H W E B E R , Pr i v a t a ut o n om i e und Au ß e ne i n f l u ß im
Ge s e l l s c ha f t s r e c ht , Tü b in ge n , M o hr Si e b e c k, 2 0 00 .
26
Ta m b ém s er i a ne c e ss á r i o e xam i na r a h i p ó t es e d e c o nt r a t o s c e l e br a d os c o m n ã o s ó c i o s , os
q ua i s p u de s s e m p r od u zi r ef ei t os r e l e va nt e s p a r a o d i r e i t o s o ci et ár i o ( p or e xe m p l o , a c or d o s
d e co o pe r a ç ã o , a c o r do s c o m di r i ge n t e s o u a c o r d o s c om c r e d or e s ) o q ue a l a r g ar i a de m a i s o
c a m po de i n ve s t i ga ç ã o e t a l ve z de s vi a ss e o f o co da pr i nc i p a l q u es t ão qu e m o t i vo u a
p es q u i s a : o s li m it es da au t o no m i a c o n t r a t ua l na co n f i gu r a ç ã o de u m r e l a c i o n am e n t o
s o ci e t á r i o .
27
Co m o a s o b r as de Y V E S G U Y O N , L e s s oc i é t é s ... , c i t .; S O P H IE S C H I L LE R , L es l i mi t e s d e la
l i b e r t é ... c it . ; be m c o mo L A U R E N T C O N V E R T , L ’ i mp e r at i f e t l e s up pl ét if d an s l e dr oi t d e s
s o ci é t é s , P a r i s , LG DJ , 20 0 3 e G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T , Du c o n t r at e n dr o it d es
s o ci é t é s , P a r i s , L’ H a r m a t t a n , 2 00 8 .
16

restrições à autonomia contratual na celebração desses pactos, a menos que


haja previsão legal expressa, em nome da segurança jurídica 28.

19. Novo corte metodológico foi, então, necessário: o exame de


contratos parassociais que não disciplinam direitos políticos dos sócios (e
com isso influenciam a organização da sociedade), mas direitos patrimoniais
e individuais que, em tese, ouvidos os ecos do individualismo contratual do
Século XIX 29, poderiam ser livremente dispostos e alienados por seus
titulares.

Trata-se, afinal, de averiguar os termos em que esses contratos devem


receber restrições advindas sej a da necessidade de respeito a interesses de
terceiros e, claro, dos próprios sócios, signatários ou não (tutelados por
aquilo que os franceses convencionam desi gnar por “ordem pública
societária”) 30, como também decorrentes da própria noção de sociedade e dos
deveres e direitos a ela correlatos.

20. Diante dessa nova correção de rota na pesquisa, o tempo que


restava no Instituto foi utilizado para colher material correspondente. A
oportunidade de reflexão permitida pelo período no exterior, no ano de 2010,
foi fundamental para que o trabal ho pudesse ser segmentado e adaptado às
reais dimensões de uma tese de doutorado, reservando para futuros projetos os
outros aspectos do amplo tema da autonomia contratual no direito societário,
linha de pesqui sa que tanto nos fascina.

21. Por ocasião do exame de qualificação, as contribuições da banca


formada pelos Prof. Drs. Paula A. Forgioni, José Alexandre Tavares Guerreiro

28
Co ns o a nt e s e r á e xp o s t o no i t e m 1 .3 , n a ge n e r al i da d e da s l e gi s l a ç õe s c o ns u l t a d as , nã o se
e nc o n t r a m d i s po s i ç õe s l ega i s e s p ec í f i ca s n o q ue s e r e f e r e à va l i d ad e d o s c on t r a t o s
p ar a s s o c i a i s ou a p a r â m e t r os p a r a s u a i nt er p r e t a ç ão .
29
Cf ., ai nd a P A U L A A. F O R G I O N I , A e v ol uç ã o do d i r e i t o c ome r c i a l br as i l ei r o: d a me r c an c ia
a o me rc a d o, Sã o P a u l o , RT , 2 0 09 . p . 21 8 .
30
N es s e p on t o , e n o r e ve r so d a m oe d a , t o ca -s e o t e m a d a p r od u çã o de e f e i t o s c on t r at uais
p er a n t e t e r c e i r o s . No d i r e i t o b r asi l e i r o, n ec e s s á r i a a c on s u l t a a L U C I A N O C AM A R G O
P E N T E A D O , Ef ei t os co n t r at ua i s p e r an t e t e r c ei r os, Sã o P a u l o , Qu a r t i e r La t i n, 20 0 7.
17

e Francisco Satiro de Souza Jr. foram significativas e realçaram a ainda


persistente amplitude do tema, demandando nova reflexão sobre o enfoque a
ser adotado.

22. Assim, após avaliar as ponderações feitas e o mat erial de pesquisa


recolhido, decidiu-se por delimitar o trabalho elegendo como ponto fulcral da
tese a discussão e propositura de elementos que devem orientar a
interpretação dos contratos parassociais patrimoniais em detrimento de uma
análise de sua natureza e/ou um seu possível enquadramento em uma categoria
dogmática.

A matriz para a reflex ão empreendida, nesses termos, é a função


econômica de referidos pactos e o modo pelo qual integram o estado de sócio 31
de seus pactuantes, no contexto da relação societária existente entre eles,
visto que são fundamentos para a superação de leitura meramente
obrigacional dos pactos parassociais patrimoniais, tocando aspectos básicos
do direito societário.

31
Ne s t e t r a b al ho pe r f i l ha -s e a p os i ç ã o de M E N E ZE S C O R D E I R O a o ad o t a r a e xp r e s s ã o de
e s t ad o d e s óc i o p a r a de s i gna r s u a p os i ç ã o j u r í d i c a, c om o s e ver á n o Ca p í t ul o 4. A r e s p ei t o,
a f i r m a B R U N E T T I , a p oi ad o e m D A LM A R T E L L O , q ue “s e po d er i a f a l a r a q ui d e ‘ p os i ç ã o
j u r í d i c a do s ó ci o n a s o ci ed a d e’ m as p a r e c e m ai s ef i ca z , t a m b é m p or q u e o r el a c i o n am e n t o é
ger a l m e n t e d e l on ga d ur a ç ã o, m a n t er a e xpr e s s ã o ‘ e s t a do de s óc i o ’ c o m o a q ue l a q u e
m e l h or i nd i c a o c on j u nt o d e d e v e r e s e di r ei r os , da s f u nç õ e s e po d e r es c a b e nt e s a o s óc i o n a
s o ci e d a de o u p e r an t e a so c i e d ad e ( “[ s ] i p o t r e bb e pa r l a r e qu i d i ‘ po s i z i o ne gi u r i di ca d el
s o ci o n el l a s o c i et à ’ m a s e m b r a p i ù e f f i c ac e , a nc h e pe r c h è i l r a p p or t o è ge n e r al m en t e di
d ur a t a , m an t e n er e l ’ es p r e s s i on e ‘ s t a t o di s o ci o’ co m e q ue l l a ch e m e gl i o i nd i c a li n s i e m e d ei
d ove r i e de i d i r i tt i , d ell e f u n z i on i e d ei p ot e r i s pe t t an ti al s o c i o n e l l a s oc i e t à o ve r s o l a
s o ci e t à ” . T r a t t at o d e l D i ri t t o de ll e S o c i e t à, 2ª . Ed . T om o I , M i l a no , Gi uf f r é , 19 4 8, p 2 2 1) .
Co n t r a o u s o da e xp r e s s ã o, A N Í B A L S A N C H E Z , a o t r a t a r s ob r e os di r e i t os d e s ó c i o , a f i r m a
“ qu e d ó a s í d e t e r m i n a do e m t é r m i n o s j u r í di co -p os i ti vos e l l ad o a c t i vo d e l o q ue , co n a l gun a
i m p r o pr i e d a d, a co s t u m br a a d e s i gna r s e t o d a vi a h o y c o m o el s t a t us s o c ii ( . ..) ; u n a s i t u ac i ón
q ue , bi e n m i r a d as l as co s a s , e s p r ef e r i b l e c a l i f i ca r c o m o un a c ua l i d a d o po s i c i ó n s u bj e ti va,
c om p u e s t a d e t o do u n ha z de r e l a c i o ne s j u r í di c a s. Se t r a t a , e n t o do c aso , d e un a p osi c i ó n
c om p l e j a y, p o r l o ge n er al , n o e s t r i c t a m e n t e p e r so n a l s i n o f u n gi bl e , d ot ad a d e m e n o r
e s t a bi l i da d y m a yo r p ol i va l e n c i a qu e l a qu e d i s t i n gu e a l o s l l a m ad o s f e no m e no s d e es t a d o
e n s e n t i d o e s t r i c t o – p o r l o de m á s i gu a l m e n t e c o n t r ove r t i d o s ( pe n s em o s c om o p ar ad i gm a
e n el ‘ e s t ad o c i vi l ’ ) L a ac c i o n y l os d e r e ch o s d e l ac c i o ni st a ( ar t . 47 a 50 LS A) i n R O D R I G O
U R I A , A U R E L I O M E N E N Z E S y M A N U E L O L I V E N C I A ( o r g) . Co me n t ar i o a l re g i me n l e ga l d e l as
s o ci e d a de s me r c a nt i l es , To m o I V, Vol . 1 , M a dr i d , Ci vi t a s , 1 99 4 , p . 9 9 . En t r e n ó s e sc l a r e c e
W A L D I R I O B U LG A R E L L I q u e “ n ã o é p a c í f i c a n a d ou t r i n a a ac e i t a ç ã o d o t e r m o ‘ s t at us ’ p a r a
q ua l i f i ca r o s d i r e i t o s e de v e r es d o a ci on i s t a , t e r m i n o l o gi a d e f e nd i d a po r As c a r e l l i e a c e i t a
e m ge r a l pe l a do u t r i n a i t a li a n a ” ( A Pr ot e ç ã o à s Mi n o ri as n a So c i e d ad e Anô n i ma , Sã o
P au l o , P i o ne i r a , 1 9 77 , p. 28 ) .
18

Justificativa e contribuição original à ciência jurídica brasileira

21. Como se evidenciou acima e também na Introdução que segue, a


tese Pactos Parassociais Patrimoniais. Elementos para sua interpretação no
direito societário brasileiro justifica-se, principalmente, pela ausência de
estudos doutrinários brasileiros aprofundados sobre o tema dos contratos
parassociais e, no específico, quanto a pactos parassociais que regulem
exclusivamente direitos patrimoniais e individuais dos sócios (e não seus
direitos políticos).

Quanto a esses últimos, a contribuição inovadora estaria não apenas no


corte metodológico realizado mas, sobretudo, no exame desses contratos pela
perspectiva da relação societária sobre a qual se apóiam e/ou que deles
deriva– e não pelo viés exclusivo do direito comum dos contratos.

Por fim, o próprio tema da interpretação dos pactos parassociais


patrimoniais, com a tentativa de indicação de elementos caros à lógica
societária e aos princípios e fundamentos do direito societário é inovador, não
se tendo encontrado qualquer obra brasileira que o explore detidamente 32.

Em vista desse enfoque, o conteúdo apresentado nos capítulos iniciais


sobre o tema dos pactos parassociais não t em o objetivo de esgot ar cada
aspecto ali comentado, mas antes fornecer ao leitor premissas para a
compreensão do cerne da discussão que se propõe, cujos argumentos são
desenvolvidos no Capítulo 4.

32
P E G G Y L A R R I E U no t i c i a a au s ê nc i a d e e s t u d os , t a m bé m n a F r a n ç a , a r es p e i t o da
i n t e r pr e t a ç ã o de p a c t os p a r a s s oc i a i s , s e m p r e m a i s c om u n s na p r á t i c a s o c i et á r i a ( “ [ o ] r , s i l a
q ue s t i o n de l a va l i d i t é e t d e l ’ e f f i ca c i t é d es p a ct es e xt r a -s t at ut a i r e s , d o nt l ’ a c t u a l it é e st
t o uj ou r s c on s i d é r ab l e , a m a i n t e s f oi s é t é t r a i t é , e m r e van c h e , c e l l e d e l eu r i n t e r pr é t at i on
r e s t e à c e j o ur i né d i te . P o ur t a n t , el l e pr és e n t e d es i nt ér ê t s pr a t i qu e s e t t h é or i qu e s
c on s i d é r ab l e s ” . L ’ i n t e rp r é t a t i o n de s p ac t e s e x t r a - s t at ut a i r e s , i n Re vu e d e s So c i é t é s 4, o ut . -
d ez ., 2 00 7 , p . 6 97 -8 . Gr i f ou -s e .) .
19

Com relação aos elementos apontados para balizar a interpretação dos


pactos parassociais patrimoni ais, no Capítulo 4, uma vez que se trata de
construções teóricas sobre com base nos argumentos levantados, não se espera
que sejam os únicos, como se evidenciará oportunamente.

Finalmente, cumpre esclarecer que o estudo não se valerá da


perspectiva da nova economia institucional (NEI) e de noções ligadas ao
movimento de análise econômica do direito (law and economicsi) pois se
considera que esse estudo deve ser feito posteriormente, quando os resultados
do exame dos pactos parassociais patrimoniais pelo viés ora proposto já
tiverem sido convenientemente tratados e “decantados” na doutrina, podendo
melhor servir de ponto de partida 33.

33
A u t i l i z aç ã o d os m ét od o s d a An ál i s e Ec o n ô m i c a d o Di r e i t o d e ve or i en t a r -s e p e la
p r ud ê nc i a , co m o i n di ca P A U L A A . F O R G I O N I em AED – Pa r an ó i a ou Mi s t if i ca ç ã o? , i n R DM
1 39 , pp . 4 24 -2 50 . En t e n de -s e c o n ve n i e nt e i n di c a r m a t e r i al c o ns u l t a do, q u e p od e vi r a
s e r vi r e m f u t ur o s e s t u dos d e pa c t o s p ar a s s o ci ai s s ob a ót i c a de l aw an d e c on o mi c s : L U C I A N
A R Y E B E B C H U K , Li m i t i n g C on t r a c t ua l Fr ee d om i n C or p o ra t e L a w : T h e D es i r a b l e
Co n s t r ai n t s On C ha r t e r Ame n d m en t s i n Ha r v a r d L a w R e vi e w, Vo l . 10 2 , No . 8 , ( 1 98 9 ) , p p.
1 82 0 –1 8 60 ; d o m e sm o a u t o r , T he D e b at e on Co n t r ac t u a l Fr e e d om i n C o rp o r at e L a w, i n 8 9
Co l u mb i a La w Re v i e w ( 19 8 9) , p p. 1 39 5 -14 1 5; O L I V E R H A R T , Co n t r ac t u a l f r e e d om i n
c or p o r at e l a w, a r ti c l e s a n d c o mme nt s: a n e c o no mi s t ’ s p er s p e c ti v e o n t h e t he o r y of t he
f i r m, i n Co l um bi a Law Re vi e w 89 ( 1 9 89 ) , p p . 1 75 7 e s s ; B E R N A R D S. B L A C K , I s Co r po r a t e
l a w Tr i v i a l ? : A Po l i t i ca l a nd Ec o no mi c An a l y si s, N or t h we s t e r n U ni ve r s i t y La w Re vi ew
Vo l . 8 4 , No . 2 ( 1 9 90 ) , p p . 5 43 -5 93 ; F R A N K H. E A S T E R B R O O K e D A N I E L R . F I S C H E L . R. , Th e
Ec o n omi c St r u c t u r e of Co r po r a t e La w , C a m b r i d ge , H a r va r d Un i ve si t y, 1 99 1 ; H E N R Y
H A N S M A N N , Co r p or a t i on an d Co n t r ac t , La w W o r ki n g P ap e r N °.6 6 / 2 00 6 ( m a r -20 0 6) ,
Eu r o p e a n Co r po r a t e Go ver n a n ce I n s t i t u t e , di s pon í ve l e m : h t t p: // s s r n .c om / ab s t r a c t =8 9 28 3 0;
R E I N I E R R K R A A K M A N . e t a l ., T h e an a t om y of c o r p or a t e l a w: a c o mpa r a t i v e an d f u nc t i o n al
a pp r o ac h , Ne w Y or k, O xf o r d, 2 0 04 ; R O B E R T A R O M A N O , Fo u nd a t i o ns of c o r po r a t e l a w,
Ne w Yor k, Fo u nd a t i o n P r e s s , 19 9 3; J O H N A R M O U R e t a l ., T h e e s s e nt i al el e me nt s o f
c or p o r at e l a w, La w wo r k i n g p a pe r , n .º 1 34 , 2 0 09 , d i s p oní ve l em :
h t t p: // s s r n .c om / ab s t r a c t=1 4 36 5 51 ; J O H N C . C O F F E E J R e A D O L F . A . B E R LE , T h e f u t u re a s
h i s t o ry : t h e p r o s pe c t s f or g l o ba l c on v e rg e n ce i n co r p or a t e go v er n a nc e an d i t s
i mp l i c a ti o ns , T he Ce n t e r f or La w a n d E co n om i c S t ud i e s Wo r ki n g P ap e r , n .º 14 4 , 19 9 9,
d i s po n í vel e m : h t t p: // p a pe r s .s s r n .c om / pa p e r .t a f ? ab s t r a c t _ i d= 1 42 8 33 .
.
20

INTRODUÇÃO

Costuma-se afirmar que o direito societário tem por objetivo básico


oferecer a disciplina das sociedades, considerando a necessária tutela de três
grandes grupos de interesse: (a) os sócios/acionistas; (b) os credores da
sociedade; e (c) demais terceiros que com ela interaj am ou por ela possam ser
afetados 34. Com isso, deve permitir o desenvolvi mento do mercado, a
segurança e a previsibilidade com relação às formas societárias de exercício
da atividade empresarial.

Desde as primeiras codificações, o fenômeno societário foi se


expandindo e sofisticando ao sabor das exigências práticas dos agentes
econômicos 35. Nessa evolução, acoplaram-se paulatinamente à disciplina

34
M E N E Z E S C O R D E I R O v a i a l é m , i n d i c an d o e nt r e o s o b j e t i vos do di r ei t o s o ci et ár i o: “a
t u t e l a d os s óc i os m i n or i t á r i o s; o e q ui lí b r i o dos m er c a d os ; a t r a n s pa r ê n ci a do s e n t e s
c ol ec t i vo s ; a p r o t e cç ã o de t e r c ei r os , d e s i gn a d am e n t e cr e d o r es ; o s di rei t os e a d i gn i da de
d as p e s s oa s ; a c on c or r ê n c i a ; os va l o r e s b á s i c os d o or d e na m e n t o ; a a c tu a çã o f i s c a l i z ad o r a
d o Es t a d o , m or m e n t e c o m es c o po s f i s c ai s ” ( Ma nu a l d e d i r e i t o das so c i e d ad e s , V ol . I ,
Co i m b r a , Al m e di n a , 2 0 04 , p. 1 67 ) . Na m e s m a l i n h a , H E R B E R T W I E D E M AN N r e ún e o s
p r i nc í p i o s val or a t i vo s l iga do s a e s s es t r ês a l vo s de p r o t e ç ão p or p a r t e d o di r ei t o s o c i et á r io
n o t e r c e i r o c a pí t ul o d e s u a c l á s s i c a o b r a: o s óc i o i n di vi d u al m en t e c on s i d er ad o
( I n di vi d u al s ch u tz ) , a m i no r i a ( Mi n de r h ei t s ch u tz ) , o s i n ve s t i d or e s ( Ka pi t al an l e g er s c h ut z ),
a l é m do s i n t e r e ss e s d os c r e d or e s ( Gl ä u bi g e r i n t e re s s e n ) e d o s t r ab a l h a do r e s
( Ar b e i t n e hm e r i n t e r e s se n ) . Cf . Ge s el l s ch a f t s r e cht , Vol . I , M ü nc h en , B ec k, 1 98 0 . P ar a u m a
vi s ã o a l i n h ad a a o m o vi m e nt o d o l aw an d e co nom i c s, qu e n ão s e r á ad o t a da n e st e t r ab a l h o,
s u bl i nh a m H E N R Y H A N S M A N N e R E I N I E R K R A A K M A N : “ As a no r m a t i ve m a t t e r , t h e o ve r al l
o bj e c t i ve o f c or p o r at e l a w – as of a n y br a n c h o f l a w – i s p r e s um ab l y t o s e r ve t h e i n t e r e s t s
o f s o c i e t y a s a wh ol e . M or e p ar t i cu l a r l y, t h e a pp r o pr i at e goa l o f c o r po r a t e l aw i s t o
a dv a n ce t h e a g gr e ga t e we l f a r e of a f i r m ’ s s ha r e h ol d e r s , e m p l o ye e s , s u pp l i e r s , a n d
c us t o m e r s wi t ho u t u nd u e s ac r i f i ce – a n d, i f p os s i b l e , w i t h be n e f i t – t o t h i r d p ar t i e s s uc h a s
l o c al c om m un i t i e s an d b e ne f i c i a r i e s o f na t u r a l e n vi r on m e n t . T h i s i s wha t e co n om i s t s
wo ul d c h a r ac t e r i z e a s t o p u r s ui t of o ve r al l s oc i a l e f f i c i e n c y” ( Wh at i s co r p or a t e l a w? , i n
R E I N I E R K R A A K M A N e t a l ., An a t om y of c or p o r at e l a w: a c o mp ar a ti v e a n d f u nc ti o n al
a pp r o ac h , Ne w Yor k, O xf o r d Un i v er s i t y, 2 00 4 , p . 1 8) .
35
Es c l a r e c e , a s s i m , S Y L V I O M A R C O N D E S M A C H A D O : “ [ a ] s s oc i e d a de s c om e r c i a i s f o r m a m -
s e , t od a s , p o r u m a c o n j un ç ã o d e c a p i t a l e tr a b a l h o, m a s e xi gem , p a r a r e a l i z a çã o d o s
e m pr ee n di m en t o s d o c o m é r c i o e da i nd ú s t ri a , di f er e n t e s c o m b i na ç õ es d es s e s el em e n t o s
f u nd a m e nt a i s , c ab e n do à c i ê n ci a j ur í di c a a c o m p os i ç ã o d as f ór mu l a s n e ce s s á r i a s . A
h i s t ó ri a d a s s o ci ed a de s c o me r ci ai s es t á p r es t a ao c o nj unt o d os t i po s c r i a dos , q u e
21

original dos tipos societários 36 regras relativas, por exemplo, aos grupos de
sociedades, ao direito concorrencial e ao mercado de capitais – e, assim, o
processo interpretativo passou a considerar esse novo cenário para além dos
problemas intrínsecos às sociedades unitariamente consideradas.

A evolução contínua é traço característico do direito societário, ora


alargando seu âmbito de incidência, ora afinando seu instrumental. Ramo do
direito comercial, duas considerações podem demonstrar as raízes de sua
particular dinamicidade.

A primeira li ga-se ao fato de que os agentes econômicos sempre buscam


a melhor acomodação possível de seus interesses, e, assim, com relação à sua
atuação em sociedade, desenvolvem continuamente novas formas de utilizar os
instrumentos jurídicos à sua disposição. Mais que isso, na falta de instrumento
idôneo, criam-no. É a partir dessa constatação fática que o direito societário
vai se reformulando, em processo indutivo, para acompanhar o que surge da
prática dos agentes, sendo continuamente marcado pelos reflexos daquilo que
sua criatividade gera no mercado 37- 38.

r e pr e s e nt am a s a ti sf a ç ão j u rí d i c a d e n ec e s s i d ad e s e co n ôm i c as ” ( Ens a i o s ob r e a so c i e d ad e
d e r e s po n s ab i l i d a de li m i t ad a , Te s e d e Li vr e - Do c ê n c i a , F a c ul d a d e d e Di r ei t o d a
Un i ver si da d e de S ã o P a u l o, Sã o P au l o , 1 9 40 , p . 13 . D es t a c o u -s e ) .
36
Co nf o r m e s a l i e n t a M E N E ZE S C O R D E I R O , “ [ o] di r ei t o da s s o c i e da d e s n ão t e ve uma
e vo l u ç ã o d o t i p o r a ci on a l . El e a nt e s a d vei o d e u m a pa u l a t i n a e vo l u ç ão . ( . ..) O s vá r i o s t i p os
d e s o ci e d a de s f or a m s ur gi n d o i s ol ad a m e nt e , e xp a n di n d o-s e em f u nç ã o d e c o or d e na d a s
c om p l e x a s e a pr o xi m a n d o -s e d o ve l h o c o nt r at o ( c i vi l ) d e s o c i ed a d e” . Ma nu a l de d i r e i to
d as s o c i e da d e s, c i t ., p. 26 .
37
N es s e s e nt i do , o c on t ra t o em e r g e c om o gr an d e i ns t r u m e nt o u ti li za d o e r e u t i li z a d o p ela
p r át i c a p ar a a t e nd e r a o di r e i t o s oc i e t á r io ( cf . G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T :
“ [ l ] ’ u ti li s a ti o n d u c o nt r a t c om m e i ns t r u m e nt d’ ad a pt at i on d u dr o it de s s o ci ét és a u x be s o i ns
d es en t r e p r i s e s et de s a s s o ci és e s t u n p hé n om è n e q ui t r ou ve s a s ou r c e d a n s un e p r a t i q ue . A
c e t t e ad a p t a t i on , l es p r a c t i c i e ns o nt uti li s é , voi r e d é t ou r n é , d e s i n s t r um e nt s j u r i d i q ue s a u
t it r e d e s qu e l s s e t r o u ve e s s e nc i e l e m e n t l e c on t r a t ” Du c o nt ra t e n d r oi t des s o c i é t é s , c i t ., p.
1 6) . So b r e a c o nt r i bu i ç ã o da p r á t i c a na f or m a ç ão d o di r e i t o c om e r ci al , c f . J E A N
P A I L L U S S E A U , L’ e n r i c hi s s e me n t d u dr o i t e t de la p r at i qu e p r of e ss i o n ne ll e ( u n t é mo i g na g e) ,
i n AAV V, L e d r oi t d e l ’ e nt r e p r i s e d a ns s e s r e l a t i o ns e x t e r ne s à l a f i n d u X X e s i è c l e :
mé l a ng e s e n l ’ ho n ne u r de Cl au d e C ha mp a ud , P ar i s , Da l l o z , pp . 4 8 3 -5 0 6; AAV V, Tr a v au x
d e l ’ as s o c i at i on He n r i Ca p i t a nt de s a mi s d e l a c u l t u r e j u ri di q u e f r an ça i s e – L e r ôl e d e l a
p r at i qu e d as l a f or ma t i o n d u dr o it , t . X XXI V, P a r i s , Ec on o m i c a , 1 98 3 ; P AU LA A.
F O R G I O N I , I nt er p r e t aç ã o do s n eg ó c i os e mp r e s ar i a i s , i n , W A N D E R L E Y F E R N A N D E S ( c o or d . ) ,
Fu n da me n t o s e p r i nc í p io s do s c on t r a t os e mp r e s ar i a is , S ã o P au l o , S ar a i va , 2 00 7 , p p. 9 7 -
22

A segunda refere-se à compreensão do direito societário como um dos


instrumentos mais importantes de formatação do mercado pelo Direito 39.
Regulando a estrutura e funcionamento das sociedades, o direito societário
acaba por modelar o mercado que lhes serve de cenário 40.

Mas há um aspecto do direito societário que é pouco explorado e se


demonstra fundamental para o raciocínio que se pretende desenvolver nesta
tese: trata-se de uma disciplina voltada, também, à regulação e à tutela do
relacionamento societário que os sócios erigem (ou relação societária,
“gesellschaftliche Verhältnis” na terminologia alemã) e não apenas da
organização societária (“Verband”) decorrente de sua associ ação e sua
problemática peculiar 41- 42.

1 07 e R DM 1 3 0, pp . 7 - 3 8. Cf ., ai n d a , a p os i ç ã o de L A U R E N T C O N V E R T s o br e a p e r s pe c t i va
f r a n ce s a , n o s e nt i do d e q ue , n a qu e l e pa í s , “ a l e i est á e m t o da p ar t e” e , a s s i m , de i xa -s e
p ou c o e s pa ç o p a r a a a t ua ç ã o d os a ge n t e s ( “ La l o i es t p ar t ou t ! El l e n e l a i s s e q u e d e s
f a c ul t es d e c h oi x m i n i m e s au x pr a t i c i e n s ” . L’ i m pé r a t i f et l e s u p pl ét i f d a ns l e d ro it d e s
s o ci é t é s . Ét ud e de d r oi t co mp a ré Ang l e t e r r e – Es p ag n e - Fr an c e . P a r i s . LG DJ , 2 00 3 , p.
2 09 ) .
38
A i nd a c om M E N E Z E S C O R D E I R O : “ P r og r e s s i vam e n t e , d i ver s o s a s p e c t o s, pe l o s p r ob l e m as
q ue s u s ci t a r am , ob t i ve r a m d es e n vo l vi m e n t os m a i s e l e va do s . Co m o t e m p o e s e m p r e so b a s
m a i s v ar i ad a s c on t i n g ên c i a s , f o i p os s í ve l p r oc e de r a ge ne r a l i z a ç õe s e d es c o br i r pr i nc í p i os
( ... ) A or i ge m f r a gm e n t á r i a do Di r e i t o da s s o c i e d a de s n ão é i nó q ua . T em c o ns e q u ên c i a s
e f e ct i va s , q u e a i n da h oj e s e f a ze m s e n t i r . Ap e na s a c o n si de r a ç ã o d a e vo l uç ã o h i s t ó r i c o -
d ogm á t i c a p er m i t e a pr e e n de r a f e n o m en o l ogi a a p on t a d a . ( Ma nu a l .. . , c i t ., p . 4 6 -4 7 ) .
39
S ob r e f o r m a t a ç ã o do m e r ca d o p e l o Di r e i t o , c f . P A U L A A. F O R G I O N I , A e v o l u çã o do
d i r ei t o co me r c i a l b r asi le i r o : d a me r ca n c i a ao me r c ad o , S ão P a ul o , R T, 20 0 9, pp . 1 8 7-2 4 1;
e I R T I N A T A L I N O , T e o r i a g e ne r a l e d e l d i ri tto e p r o bl e ma d e l m er c a t o, i n L ’ or d i n e
g i ur i di c o d e l me r c at o , 3 ª ed ., Ro m a, La t e r z a , 2 0 0 4 , p p . 5 7 -9 5 .
40
I ss o s e m f a l a r na t e m á t i c a pr ó p r i a d o d i r e it o d o m e r c a do d e ca p i t a i s , e s p ec i a l i z a ç ã o do
d i r e i t o s oc i et á r i o .
41
Es s e as p e c t o s e r á a pr of u n da d o n o Ca p í t u l o 4 . De a n t e m ã o , c o n vé m c o m pa r t i l ha r a l i ção
d e M E N E Z E S C O R D E I R O s o b r e a i n s er ç ã o d a s r e l a ç õ e s e n t r e s ó c i o s n o c a m p o d o d i r e i t o
s o ci e t á r i o : “ [ o] m o de r n o Di r ei t o d a s s o ci ed a des t r a n sc e n de o li m i ar b i di m e ns i o n a l d os
e xc l u s i vos r e l a c i o na m e n t os s ó c i o/ s oc i e d ad e : h á, ai n d a , l i g a çõ e s di r e t a s e nt r e o s pr óp r i o s
s ó ci o s . P a t en t e s n o c a s o d o s a c o r do s pa r a s s oc i a i s , t ai s l i ga ç õ es o c or r e m , a i n d a,
i n s t r u m en t a l m e n t e , e m vár i os p l a n os . Al é m di s so , c u m p r e r e c o r d ar os d e ve r e s d e l e al da d e,
q ue a t od o s un e m ” ( Man u al ..., c i t ., 5 1 4) .
42
O r a c i o c í ni o é s e gu i d o p o r D A L M A R T E L L O a o ex a m i n a r o t e m a d a s r e l a çõ e s i n t er na s à
s o ci e d a de , c uj a l i ç ão – p o r s ua r el e vâ n c i a p a r a o s a r gu m e n t os or a t r at ad o s - v a l e
t r a n s cr e v e r i nt e gr a l m e n t e, ve r t e n do -a pa r a o p o r t ugu ê s: “ o di r ei t o m od er n o di s t i ngu e n o
f e nô m e n o a ss o c i a t i vo um a or d e m d ú pl i ce d e m a n i f e s t a çõ e s : d e u m l a d o , o p r o ce s s o
j u r í d i c o a t r a vé s do q ua l a p l u r a l i d a de d os s ó c i o s e de s e us ap o r t e s p a t r i m on i a i s s e r e du z à
23

Somente tendo por base essa relação jurídica fundamental – que se


reflete em diversos instrumentos jurídicos – é que a di scussão sobre a
contratualização do direito societário e a utilização de pactos parassociais
pode ser realizada, pois é com vistas à construção desse relacionamento
societário que as partes se aproximam e celebram pactos parassociais, dando
respaldo a seus interesses comuns.

Nesse passo cabe esclarecer que a personalização do relacionamento


societário ocorre mais intensa e tipicamente nas sociedades em que o intuitus
personae é relevante, demandando a utilização de instrumentos como os
acordos parassociais 43. Portanto, a ênfase do estudo ora realizado não recai
sobre acordos de acionistas celebrados em companhias abertas 44.

u ni d a d e p e s so a l e p a t r i m o n i a l d o en t e a ss o c i a t i vo; d e ou t r o a vi d a d e r e l a ç ã o d o e n t r e
a s s oc i a t i vo , c o m o i nd i vi d ua l i d a de o p e r an t e n o m u nd o j u r í di co p e r an t e o u t r os s uh e it o s . Nã o
s e t r a t a d e d u a s di s t i n tas : d e u m p e r í o do d e f o r m a ç ã o, q u e s e s u c ed e po r u m p e r í o d o d e
vi da o u d e a çã o . M e s m o q u an d o o e nt e é c on s t it u í d o e p e r s egu e no c om é r c i o j u r í di co a s
f i n a l i d ad e s q ue l h e f o r a m a s s i na d a s , a t u a e se d e s e nvo l ve , at ra v é s de u ma c o nt í nu a r e de d e
r e l aç õ e s en t r e o s co n s óc i o s e en t r e e s s es e o e nt e a s s oc i a ti v o , a o br a d e c o n s ol i d a ç ã o d a
u ni d a d e c o r p or a t i va f r e nt e o s i n d i ví du o s que c on c or r e m p a r a f or m á -l a : ve r i f i c a -s e
c on s t a n t e a a ç ã o d e u m a f or ç a c e nt r í pe t a q ue a s s e gu r a a co e s ã o e a e s t a bi l i da d e do i n t ei r o
e nt e c o l e t i vo. T r at a -s e m a i s , po r t a n t o, d e do i s l a do s ou de do i s a s pe c t o s d o f e n ôm en o
a s s oc i a t i vo . M e t a f o r i c a m e n t e , m as r e a l i s t i c a m en t e , a c o m um o bs e r va ç ã o q u al i f i c ac o m o
i n t e r na e e x t e r n a a du p l a f ac e d o f e n ôm e n o. D el i ne i a , q u as e , a o r e d o r d a s oc i e d a de u m
l i m it e ( a ‘ ce r c h i a s oc i a l e ’ ) p a r a c o l o c ar -l he d e n t r o a s r e l a çõ e s d a p r i m e i r a c a t e go r i a ; f o r a
a qu e l a s d a s e gu n da ” ( I r ap p or ti gi ur i di c i i nt er n i nel l e so ci e t à c omme r ci al i , M i l a n o,
Gi u f f r è , 1 9 37 , p . 9. G r i f o u-s e ) .
43
G É R A LD I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T a no t a q ue o i nt u it u s p e r so n ae s er i a o e l e m e nto
f u nd a m e nt a l pa r a a u t i l iz a ç ã o d e c on t r a t o s n as r el aç õ e s s oc i e t á r i a s a o pe r m i t i r e s t a bi l i da d e
a os a s s o c i a do s ( “ l ’ i n t ui tu s pe r s o na e i n t e r vi e nt c o m m e m o bi l e de l ’ u t i l i sat i on d u c on t r a t en
t a n t q u’ i n st r u m e nt de s t a b i l it é p a r l e s a s s oc i é s m u s p a r c e s e n t i m e n t ” . Du c on t r a t … , c i t . p.
1 3) .
44
So br e e s s a qu e s t ã o t am b é m e s cl ar e c e m G R A H A M S T E D M A N E J AN E T J O N E S q ue o nú m e r o
d e s óc i o s t o r e na o uso d e “ s ha r e h ol d e r s a g r ee m e n t s ” i m p r a t i c áve l . ( “[ s ] h a r e ho l d e r s’
a gr e e m e n t s ar e p r e do m i n a t l y m a d e be t w e e n t he m e m b er s o f pr i va t e c o m p a n i es ; n o t l e ast
b ec a u s e pu b l i c c om p a ni es c o m m o nl y h a ve l a r g e m e m be r s h i p s , t h us m a k i n g t he u s e of su c h
a gr e e m e n t s i m p r a c t i c al ” Sh a r eh o l d er s ’ Agr e e m e n t s , Lon d on , Swe e t & M a xw el l , 1 9 98 , 3ª.
Ed i ç ã o , p. 1) . F A B I O K O N D E R C O M P A R A T O a p on t a a u t i li z a ç ão d e pa c t o s pa r a s s o ci a i s c o mo
c a r ac t e r í s t i ca d a “ s o ci e d a de a nô n i m a de pe s s o a s” ( Re s t r i ç õ e s à c i r cul a ç ão d e a ç õe s em
c om pa n hi a f e c h ad a : no v a et ve t e r a , i n N ov o s En s ai os e Par e c e re s d e Di r e i t o Em pr e s a ri al ,
Ri o , Fo r e ns e , 1 9 81 , p. 3 4 -3 5) .
24

1. Contratualização do direito societário

Em que pesem essas considerações, as relações societárias têm sido


disciplinadas pelo legislador, tradicional e fundamentalmente, enfocando-se a
existênci a de um estatuto 45 ou contrato social. É ele que, fixando a estrutura da
sociedade e a forma de sua atuação junto a terceiros, seria a “lei entre as
partes” 46 daquela sociedade e o parâmetro de interação com os demais agentes
perante os quai s atua 47.

Cuidou-se, então, de definir le galmente conteúdos mínimos aos


estatutos, tendo em vista não apenas relações internas entre sócios 48 e
sociedade, mas também – e sobretudo – externas. Com o estatuto e a sua
necessária publicidade, seriam fornecidas aos demais agentes do mercado
informações sobre a disciplina daquela soci edade, como o tipo adotado, a
responsabilidade dos sócios, os poderes e competências na ge stão e os limites
da vinculação da sociedade em obrigações contraídas em seu nome 49.

45
Ne s t e t r a ba l h o u t i l i z ar -s e - á a e xpr e s s ã o “ e s t a t ut o s o ci al ” e m ho m e n a g e m à s u a l a r ga
d i f us ã o na p r á t i c a so c i e t á r i a , e m qu e pe s e ha v e r qu e m r e s er ve o t e r m o “ e st at ut o ” pa r a o
c on j u n t o de r e gr a s vo l t a d a s a um a s s u nt o e s p e cí f i co c o m o e m “ e s t a t u t o d a t er r a” , “e s t a t u t o
d o i d o s o” , “ e s t a t ut o d o es t r an ge i r o” , “ e s t a t u t o d a c r i a nç a e do a do l e s c en t e ” , “ e s t a t ut o d a
m u l h er c a sa d a ”, e n t r e o u t r os , a d ot a n do “ es t a t u t o s s o c i a i s ”, n o p l u r al , p a r a o c a s o d e
r e gr am e n t o de s oc i e d a d e o u a s s oc i a ç ã o. O d i c i o n ár i o Au l e t e au t o r i z a o u s o n o s i n gul ar :
( e s .t a .t u .t o ) s m . 1 . J u r . L ei or g â n i c a q u e es t ab e l e c e o s p r i n cí pi o s d e f un c i o na m e n t o de u m a
i n s ti t ui ç ã o, em p r e s a , e n t i da d e , a s so c i a ç ã o e t c ., o u d e u m s e t o r , s e gm en t o e t c . ( e s t a t ut o d o
c l u be , e s t a t u t o p r e vi de n c i á r i o) ; r egu l a m en t o ; r egi m e nt o 2 . P .e xt . R e gu l a m en t o ou c ód i go
c om s i gn i f i c a d o e va l o r d e l e i o u de n o r m a : e s t a t ut o da c r i a n ça e do a d o l e s c e nt e .
46
S o br e a e xp r e s s ão i n f o r m a O R L A N D O G O M E S q ue “ o co n t r a t o t em s o b re o s c on t r a t a n tes
r e a l m e nt e f o r ç a o b r i g at ór i a a t a l p ont o q ue s e t or n o u a xi o m á t i c a a d e c l ar a ç ã o d e q ue f a z
l e i e nt r e a s pa r t e s ” ( Tr a ns f or ma ç õe s Ge r a i s d o Di r e i t o d a s O br i g a ç õe s , RT , S ã o P a u l o,
1 98 0 , p .7 7) .
47
É c o m um o p a r al el o t r a ç ad o e n t r e a or g a n i z aç ã o d a c o m pa n h i a e a o r ga n i z a ç ã o do
Es t a d o . P o r t o do s , c f . H E R B E R T W IE D E M AN N , G es e l l s c h af t s re c h t , vol . I , M ün c he n , Be c k,
1 98 0 , p . 1 8 .
48
P a r a a p e r s pe c t i va i n t e r na à s o c i e da d e , f u nd a m e nt al a c l á s si ca o b r a d e A R T U RO
D A LM A R T E L LO , I r ap p or t i g i ur i di c i i nt e r n i n e ll e s o ci e t à c o mme r c i al i , j á c i t a d a .
49
So br e o p a pe l d o es t a tu t o s o ci al , c f . D IE G O C O R A P I , G l i s t a t ut i d el l e s o c i e t á pe r a zi o ni,
M i l a n o, Gi u f f r è , 1 97 1 , p . 1 0 3 e ss .
25

Porém foram surgindo necessidades práticas – ligadas à sempre mais


sofisticada configuração do relacionamento societário entre as partes – para as
quais o estatuto, com sua função organizativa do exercício coletivo da
atividade empresarial, ou mesmo a lei, abstrata e geral, não apresentaram
resposta 50.

A infinit a possibilidade de criação de negócios jurídicos com base em


cada vez mais diversas e especializadas operações econômicas passou a
impactar cada vez mais o relacionamento entre sócios e conduziu os agentes
econômicos, pois, a estipular os mais variados ajustes sobre ele incidentes, no
exercício de sua autonomia contratual, resultando em sofisticada engenharia
negocial 51- 52.

50
L A U R E N T C O N V E R T a n o t a , s o b r e a s di f er e n t e s f u n ç õe s do s es t a t u t o s so c i a i s f r e nt e as
c on v e nç õ e s p a r a s s oc i a i s , q u e a s úl t i m a s pe r m e t e m a d ap t a ç ã o m a i s f a c i l i tad a d os i nt e r e s s e s
d os d i ver s o s m e m br o s d a s o c i e da d e o u gr u p os d e m e m b r o s , ao p as s o qu e “ o f o r m a l i s m o
l i ga do a t o m a d a d e de c i s ã o co l e t i va i n c i t a os s ó c i o s a ‘ se e n t e nd e r e m d i r et am e n t e ’ ” ( “ [ l ] a
r é gl em e n t a t i o n st r i c t e d e s s t a t ut s e t l e f or m al i s m e qu i en t o u r e l a p r i s e d e dé c is ion
c ol l e ct i ve i nc i t e en c o ns é q u en c e l e s a s s oc i é s à ‘ s’ en t e n dr e d i r e c t e m e nt ’ . Le s pa c t e s
p er m et t en t e n ou t r e d e m od u l er l a t en e u r d e s r e l a t i o ns e n t r e l e s di f f ér e n t s m e m br es d e l a
s t r u c t ur e o u e n t r e gr ou p es d e m e m br e s , c e qu e l e r e co u r s au x s t a t ut s n e p er m e t d e f a i r e
q ue de m a n i èr e c o l l e ct ive , b r u t e e t l i m it ée ( c r é at i on de c at égo r i e s d ’ a c t i o ns , vo t e s u r e
l ’ i n t é r e s s em e n t d e c h a c un , va r i a t i on s d e s d r o i t s d e vo t e , e t c ) . Le s c on ve nt i on s f a vo r i s e nt
l ’ a d ap t a t i o n ”. L’ i mp ér a t i f . .. c i t . , p p. 49 6 -9 7) .
51
T U L L I O A S C A R E L L I r e f e r e -s e a o f e nô m e n o a o c o n s t at ar , j á e m 19 5 5, a “ m a ggi o r e
i m p o r t an z a ch e , n el l o st e s s o l avo r o d e l l ’ a v vo c a t o, a s s u m e l a c .d . a s sis t e nz a c on t r a t t u a l e
c on u n ’ a t t i vi t à c h e a vo l t e r i c or d a p i ut t ost o qu e l l a d el l ’ ‘ i n ge gn er e ’ i nt e s a a c r e a r e
‘ m a c ch i n e ’ gi ur i d i c h e , c he n on q ue l l a d e l ‘ pa t r o n o’ n e l c o zz o di op p os t e i n t e r p r et az i o n i ”
( No r ma g i ur i d i c a e r ea lt à s o c i al e, i n Pr o bl e mi gi ur i di c i , V ol . 1, M i l a no , G i uf f r è, 19 5 9, p.
1 10 ) . I n t e r e s sa n t e no t a r, n e s s e s e n t i d o, q u e o p r e st i gi ad o pe r i ó d i c o f ra n c ês Bul l et i n J o l y
S oc i é t é s j á co n t é m s e ç ão d e s i gna d a i n gé g ni er i e f i n an c i é r e pa r a t r at a r j us t am e n t e d e
p r ob l e m a s a f ei t os a e s sa r e al i da d e . J E A N P A I L L U S S E A U o bs e r v a qu e a i de i a d e “ en ge nh a r i a
j u r í d i c a” e voc a a i dé i a d e o p e r aç ã o co m p l e xa , m e s m o qu e o t er m o s e j a um “ b a r ba r i s m o ”
( “ [ l ] a r ec h e r c he de c e s m u l t i pl e s t e ch n i q ue s e t s o l ut i o n s é voq u e nt l ’ id é e “ d ’ i n gé n i e r i e ”
j u r i d i qu e , s i c e n ’ e s t ce l l e “ d ’ i ngé n i e r i e j u r i dic o - f i s c al o-f i n a n ci èr e ” , b ar b a r i s m e , c e r t e s,
m a i s Ô c om b i e n en voc a t e u r ! Le r é su l t a t d ’ e ns e m b l e , s u r t ou t s ’ il e s t c o m pl e xe ( pl u s i e u r s
s o ci é t é s , p a r e xe m pl e s on t c on s ti t u é e s a ve c d e m u l t i pl e s r el a ti on s en t r e el l e s) , é vo qu e
l ’ i d é e d e ‘ m on t a ge’ vo i r e d e ‘ m o n t a ge c om p l e x e’ ” . L ’ En r i c hi ss e me n t du dr o i t e t de l a
t h é or i e j u r i di q ue p ar l a p r at i qu e p r of e s s io ne l l e ( u m t é mo i g n ag e ) i n Le Dr o i t d e
l ’ Ent r e p r i s e da n s s es r e l a ti o ns e x t e r n es à l a f i n d u XX e Si e c l e – Mé l ag e s e m l ’ h on n eu r d e
Cl a u de C ha mp a ud , P a r i s , Da l l oz , 1 9 97 , p.5 0 4) .
52
No m es m o s e n t i d o, M E N E Z E S C O R D E I R O a no t a q ue “ [ t ] a n t o na l e i c o m o na d o ut r i na , ca d a
n egó c i o co n t r a t ua l su r g e c om o u m e s pa ç o i ns u la r e b em de l i m i t a do ; e l e a pr es e n t a -s e c o m o
u m a f i gu r a a u t ô no m a e i n t e i r a m en t e de s li ga d a , q u er e m t e r m os d e c e l e br a ç ã o , q u e r n o
r e gi m e , d e qu a i s qu e r o ut r os n e góc i o s c i r c un d a nt e s . O t r á f e go c o me rc i a l f ac u l t a u m c e ná r io
26

De certo modo, a própria gênese da sociedade torna-se complexa, no


sentido de que, para atender a função econômica expressa na associação entre
as partes interessadas em desenvolver atividade econômica conjunta, um nodo
negocial, complexo e único, mais frequentemente passa a ser criado.

Conforme tem sido apontado na doutrina européia 53, sobretudo francesa,


a chamada contratualização do direito societário (contractualisation du droit
des sociétés) emerge, assim, para complementar e enriquecer a disciplina
legal 54, tanto pela introdução de cláusulas estatutárias especificamente
talhadas, como, especialmente, pela celebração de contratos que, no jargão
internacional, são genericamente desi gnados como “shareholders’
agreements” 55.

e f e c t i v o b a s t ant e di f e r ent e. M ui t a s ve z es o s c o nt r a t o s e n ca d e i a m -s e, u n s n os o ut r o s , d e t al
m o do q u e su r ge t o da u m a s é r i e de i n t e r a c ç õ e s r e l e van t e s p a r a o r e gi m e a pl i cá ve l ” ( Ma nu a l
d e d i r e i t o c o me r c i al , V ol . I , 2 ª e d. , Co i m br a, Al m ed i n a , 20 0 7, p p . 3 6 6 -67 , gr i f a m o s) .
S ob r e a e st r ut u r a ç ã o d e u m a r c a bo u ço co n t r a t u al c o m pl e xo p a r a d a r vi d a a op e r a ç õ e s
e c on ô m i c as s i n gul ar e s , f u n da m e n t a l a t e s e d e J E A N - P H I LI P P E D O M , L es mo n t a ge s e m d r oi t
d es s o c i ét és , P a r i s , J ol y, 1 9 98 . V. a i n d a, p a r a c o n t r a t os c o l i gad o s n o di r e i t o b r a si l e i r o,
F R A N C I S C O M A R I N O F I L H O , C on t r a t o s co l i g a do s, S ã o P a u l o , S ar a i v a , 2 0 09 .
53
No q u e t a ng e à a u t o no m i a c on t r a t u a l no d i r e ito s oc i e t á r i o , r e f e r ê nc i a e s pe c i a l d eve s e r
f e i t a a M A R C U S L U T T E R e H E R B E R T W I E D E M A N N ( or gs .) , G e s t a l t u ng sf r e i he it i m
Ge s e l l s c ha f t s r e c ht . De ut sc h l a nd , Eur o p a u n d U S A. 11 . Z G R- S y mp os i u m “ 25 J ah r e Z G R ”,
Be r l i n , W a l t e r d e G r u ye r , 1 99 8 ; S O P H IE S C H I L L E R , Le s l i mi t es d e l a l i b er t é c o nt r a c t u el l e
e n dr o i t d e s s oc i é t é s : l es c on n e xi o n s r ad i c a l e s, P a r i s , LG DJ , 20 0 2; D O M E N I C O G I O R D A N O ,
L e l i mi t az i o ni al l ’ a u t ono mi a p r i v a t a n el l e s oci et à di c ap it a li , M i l an o, Gi u f f r è , 20 0 6;
D A N I E L E S P I N A , La a ut o n om í a p r i v ad a en l a s so c i e d ad e s d e c ap i t a l : p ri nc i pi o s
c on f i g u r ad o r es y t eo r í a g e ne r a l , M a d r i d, M ar c i a l P o ns , 20 0 3.
54
No di z e r d e Y V E S G U Y O N , “ [ l ] e d r oi t de s s o ci ét é s e s t a i n s i a ss o u pl i , i n f l é c hi e t e n r i chi
p ar d e s co n t r a t s co n c l us p a r l a s o c i é t é ou pa r l e s a s s oc i é s , e nt r e e u x o u ave c de s t i e r s ”
( L es so c i é t é s ... ci t . p . 9 ) .
55
As d en o m i n aç õ e s do s c o nt r a t o s q ue p o de m s e r r e c o nd u z i do s a e s s e t e r m o ge n ér i co s ã o as
m a i s d i ve r s a s , e m f u nç ã o d a s pe c u l i a r i d ad e s de c a da o r d en a m e nt o . V ár i o s a ut or e s t r a z e m
a no t a ç õ es a e s t e r e s p e i t o . Em r es u m o , L U I G I F A R E N G A e n u nc i a , po r ex e m p l o, q u e “ a s
r a z õe s d o ap a r e nt e d e s i n t e r es s e p or pa r t e d o l egi s l a d or e d a d ou t r i n a par a o s c on t r a t o s e m
e xa m e s ã o o bt i da s e s s en c i a l m e nt e n a ext r e m a he t e r o ge n e i d ad e do f e n ô m e no q ue s e q u e r
d es i gn a r c o m a e xp r e s s ão ‘ co n t r a t o s p ar as s o c i a i s ’ . T a l e xp r es s ã o t a n t o é f e l i z n a s u a
f o r m ul aç ã o e, as s i m , de i m e d i a t a ap r e e ns ã o , s obr e t u d o, pe l o s pr á ti co s q ua n t o e s c o nd e e m
s u as c o s t a s um a r ea l i d ad e em qu e s e e nc o nt r am f at t is pe c i e d i f i ci l m e n t e r e c on d uz í v e i s a u m
f e nô m e n o h o m o gê n eo e , p o r t a nt o, i ni dô n ea a r e p r e se n t a r u m a ca t e go r i a j ur í di c a ( i n v e r bi s:
“ l e r a gi o ni de l l ’ ap p a r e n t e d i si n t e r e s s e da pa r t e de l l e gi s l at o r e e de l l a do tt r i na p e r i
c on t r a t t i i n es a m e va nn o r i c er c a t e e s s e nz i a l m e n t e ne l l a e s t r e m a e t e r o ge n ei t à de l f e n om en o
c he s i vu ol e r i ch i a m a r e c on l ’ e s p r es s i o n e ‘ co n t r a t t i p a r a so c i a li ’ . T a l e e s p r e s s i o ne , t a n t o è
f e l i c e ne l l a s u a f or m ul a z i o ne e , q u i n di , di i m m ed i a t a a p pr e n s i on e s o pr a t t u tt o d a pa r t e d e i
27

• 2.Contratos parassociais: função e noção.


Na maioria das vezes, esses “shareholders’ a greements” são contratos
que, de maneira mais ou menos intensa, dizem respeito à relação societária
estabelecida entre os pactuantes, sem se confundir, entretanto, com os
estatutos sociais. A doutrina francesa, por essa razão, vale-se do termo
extraestatutário (extra-statutaire) para a eles se referir, enquanto a doutrina
italiana mantém a expressão parassocial (parasociale) cunhada por G IO RG IO
O PP O 56.

Diversamente dos estatutos, cuja função primordial é determinar a


estrutura da companhia e as regras de sua vinculação perante terceiros (função
organizativa, portanto), os contratos a que nos referimos têm normalmente por
objetivo regular o exercício de direitos dos sócios, fundados em sua
participação na sociedade.

Com essa contratação, as partes buscam disciplinar interesses e


situações não compreendidos no estatuto social, conferir a regras societárias

p r at i c i , t a n t o na s c o nd e a l l e s u e sp a l l e u n a r ea l t à i n c u i s i r i s con t r a no f a t t i s p e c i e
d i f f i c il m e n t e r i c on d uc i bi li ad u n f e no m e no o m o ge n e o e , pe r t a n t o, i n i do n e a a r ap p r es e n t a r e
u na c a t e go r i a gi u r i d i ca ” ( I c o nt r at t i pa r a s oc i a l i , M i l an o , Gi u f f r è , 1 9 87 , p p . 3 -4) .
Co n s i de r a ç õ e s s e m el ha n t e s s ã o f ei t a s p o r J E A N -J A C Q U E S D A I G R E e M O N I Q U E S E N T I L L E S -
D U P O N T , Pac t e s d’ a c t i o n na i r e s , P a r i s , J ol y, 1 9 9 5 p . 3 ; M Á R I O L E I T E S A N T O S , Co nt r a t o s
p ar a s s oc i a is e a c or d o s de v o t o na s s o ci ed a de s a nó n i ma s , Li s bo a , Co s m o , 1 99 6 , p p. 14 -1 5;
G I U S E P P E S A N T O N I , Pa t t i p ar a s o ci a li , Na p ol i , J o v en e , 1 9 85 , p. 1 2 e s s .; J O U S S EN,
Ge s e l l s c ha f t e r a bs p r ac h en… c i t . p. 5 ; e L AU R R IE U ( “ O r , t o ut e l a d if f i c u l t é c o ns is t e à
d r es s e r u n e t ypo l o gi e d e c e s a cc o r d s pa r t i cu l i e r s . Da ns l ’ un i v er s ‘ ba r i o l é ’ , p o ur ne p a s d i r e
‘ b ar oq u e’ d e s p a c t e s e x t r a -s t a t ut ai r es , l a gr a nd e di ve r s i t é de s s it u a t i ons q u’ i l s o n t po u r
o bj e t d e t r a i t e r d oi t ê t re so u l i gné e , c e t t e d i ver s i t é n e c on n ai s sa n t d ’ a ut r e li m i t e qu e c e l l e
t e n an t à l ’ i m a gi n a t i o n de l eu r s a c t e ur s” . L’ i n t e r p ré t a t i o n … , c i t , p. 69 9 ) .
56
No a l e m ã o ut i l i z a -s e m ai s c o m u m e nt e N eb e na b r ed e n , o u s e j a , c o nv e n ç õ e s l at er ai s . P ara
c on v e nç õ e s d e vo t o , t em -s e St i mmv e rb i n d un g . Cu m p r e n ot ar qu e a p r ó p r i a d i f e r en ç a
t e r m i n ol ógi c a de n ot a a d i ver s a p er s p e c t i va q u e s e t e m d es s e s c on t r a t os , j á qu e no t e r mo
s h ar e h ol d e r s ’ ag r e em en t a ê nf a s e é d a da a o f a t o d e o a j us t e s e r o a c o r do d os s ó ci os (=
a qu i l o q ue de f i n i r a m p ar a s e u r e l a c i o na m e n t o) . N os d i r e i t o s c o nt i ne nt a i s , a s e xp r es s õ e s
u s ad a s ( p ar a s o c i al e; ext r a -e s t a t u t a i r e ; Ne b en a br e d e ) a po n t a m pe r f i l m a i s do gm á t i c o,
vol t ad o à r e l a ç ão e n t r e e s se c o n t r a t o e o e s t a t u to / c on t r a t o s o ci al . Co m o s e ve r á n o de c o r r e r
d a exp l a na ç ã o, e ss a e s c ol ha s e r e f l e t e n a pr o d uç ã o a ca d ê m i c a e na p r óp r i a c o m pr ee n s ão d o
f e nô m e n o, j á qu e q u a se nã o se e nc o nt r a m o b r a s – e xc e t o a l gu m a s c on t r i b u i ç õe s m a is
r e c en t e s – q u e a va nc e m a p a r t i r d o e xa m e d a f un c i o na l i d a d e d o s c o nt r at os n o f e n ôm e n o
s o ci e t á r i o gl o ba l m e n t e c on s i d e r ad o , s u p e r a n do , a s s i m , a pe r s p ec t i va “ c on t r a t u a l i s t a ”
i n a ugu r ad a p or O P P O .
28

sentido mais específico no que tan ge a seu relacionamento, ou mesmo


contratar quais serão as bases pelas quais determinada sociedade será
constituída e governada, peculiaridades do negócio idealizado e seu
detalhament o 57.

Tenciona-se, ao final, personalizar o relacionamento societário existente


entre os signatários e/ou construi-lo conforme suas particulares necessidades e
objetivos comuns.

Frequentemente aponta-se como motivos para a celebração desses


contratos em sede apartada do estatuto social: (i) o fato de que eles o
antecedem, como nos contratos de investimento, associação ou de joint
venture; (ii) o fato de não necessariamente envolverem todos os acionistas de
uma companhia, mas apenas aqueles que entre si desejam compor interesses;.
Todavia, é cada vez mais comum que sejam celebrados por todos os sócios,
trazendo a identificação completa entre as partes do contrato de sociedade
(iii) a especificidade do interesse re gulado, que pode afetar diretamente
apenas a esfera jurídica dos contratantes – e não da companhia, de terceiros 58
ou ainda de eventuais outros sócios não signatários; e (iv) a menor
publicidade a que são submetidos quando comparados com os atos
constitutivos das sociedades, que são levados a registro no órgão competent e 59.

Noticia-se que, por sua função de personalizar e detalhar o


rel acionamento societário entre as partes, os campos mais característicos da

57
Qu a nt o a o m o m e n t o de ce l e b r a çã o G I U S E P P E S A N T O N I e s c l a r ec e q u e “ os c on t r a tos
p ar a s s o c i a i s pe r m i t em a o s s ó c i os c r i a r u m ví n c u l o p u r am e n t e o br i ga t ó r i o e nt r e e l e s , o q u al
p od e s e r e f e r i r q u al qu e r d a s f a se s qu e c a r a c t e r i z a m a vi d a d a s o c i e d ad e : t an t o a o
d es e n vol vi m e n t o d a at i vi da d e s oc i a l , q ua n t o a s e u i n í c i o e c e ss a ç ã o” ( “[ i ] c on t r a t ti
p ar a s o c i a l i c on s e nt on o a i s o c i d i cr ea r e u n vi n co l o p ur a m e n t e ob b l i gat o r i o f r a di l or o , il
q ua l e pu ó r i f e r i r s i ad u na qu a l u nq u e d e l l e f a s i c h e c a r a t t e r i z z an o l a vi t a d el l a s o c i et à:
t a n t o a l l o s vo l gi m en t o d el l ’ at ti vi t à s oc i a l e , q u an t o a l l ’ i n i zi o e al l a c e s s a zi on e di qu e s t a ”.
( Pa t t i pa r as o c i al i , c i t . , p. 4) . No m e s m o s e nti do , c f . O P P O , Co nt ra t t i pa r as o c i a li , c it . , p.
8 4.
58
Em a l gun s c a s o s , p o r ém , a co m p a nh i a é r e f l e xa m e n t e a f e t a d a pe l a co n t r a t a ç ão . No
d i r e i t o b r a si l e i r o h á mes m o a s u a e xp r e s s a vi n c ul aç ã o e m s e t r at a n d o d e d e t e r m i na d a s
o co r r ê n ci as de a c or d o s de a c i o ni s t as .
59
Cf . L A U R E N T C O N V E R T , L’ i mp er a t i f . .. c i t . pp . 49 5 / 50 1 .
29

utilização de shareholders’ agreements são as sociedades formadas em virtude


de acordos de joint venture, aquelas em que se verifica intenso caráter intuitu
personae, e as companhias em que há o ingresso de fundos de private equity 60.

Em todos os casos, os shareholders’ agreements permi tem que o


rel acionamento societário seja especificamente modelado, ajustado aos
interesses das partes 61 por disciplinarem pormenores que não caberia aos
estatutos sociais regrar e fazem com que, no estado de sócio de cada partícipe
do ajuste, incluam-se os deveres e direitos previstos parassocialmente 62.

Com relação à suposta relação de hierarquia entre estatuto social e


contrato extraestatutário ou parassocial 63, observa-se, com referência aos
acordos de associação, investimento e joint venture que ela é frequentemente
invertida, ostentando o contrato parassocial – firmado por todos os sócios 64

60
C f . J E A N -J A C Q U E S D A I G R E e M O N I Q U E S E N T I L LE S -D U P O N T , Pa c t e s d’ A ct i on n ai re s . cit.
p p. 2 -3 e S T E D M A N E J O N E S , S ha r e ho l d er s ’ Agr e e me n t s . c i t ., p . 1. C o m o j á a po n t ad o , a s
c on s i d e r aç õ e s d o pr e s e n t e t r a b al ho n ã o a ba r c a m o u n i ve r s o p e cu l i a r da s c o m p an h i a s
a be r t a s .
61
Na e xp r e s s ão d e P E G G Y L A R R I E U , “[ l ] eu r p o si t io nn e m e nt en m e m a r ge d e s s t a t ut s s oc i a ux
d ém o n t r e d ’ ai l l e ur s l ’ i nt en t i o n de s s i gn a t ai r es d e l e s t a i l l e r à l a m e s u r e de l e u r s i n t é r ê t s ”.
( L ’ i nt er p r é t at i on … , c i t . p . 6 98 ) .
62
C f . a u t or i za d a op i n i ã o d e M E N E Z E S C O R D E I R O , Ma nu a l ..., ci t ., p . 5 07 . M a i s a di an t e , no
Ca p í t u l o 4 , e s s e a s p e ct o s e r á ap r o f un d a do e m vi s t a d e o “ e s t ad o de só ci o” s e r el e m e n t o
f u nd a m e nt a l pa r a i n t e r p r et aç ã o d os p a c t os pa r a s s oc i a i s , so b a ó t i c a o r a pr o p os t a .
63
S ob r e o t e m a, c a b e a gr a d e ce r a s l ú c i d as o bs e r v aç õ e s q ue o P r of . J O S É A L E X A N D R E
T A V A R E S G U E R R E I R O n o c u r s o de d i s c u s sõ e s n a f a s e i n i c i a l d e r e d aç ã o d o pr e s e n t e
t r a b al ho , e m a b r i l d e 2 0 1 0 .
64
G U Y O N e vi d e nc i a a d i f i c ul d a d e de s ep a r a ç ã o e n t r e e s t a t u t o s e p a c t os pa r a s s o ci ai s,
q ua n do h á i d en t i d a de e n t r e os s i gn a t á r i os , po r se t r a t a r d o m e s m o o bj e t i vo e do c a m po d e
a t u aç ã o ( “ [ b ] i e n q u e f o r m e l l e m e n t di st i nc ts d es s t a t ut s , l e s pa c t e s e n s on t di f f i c il m e n t e
d i vi s i bl e s l o r s qu ’i l s ont é t é c o nc l u s e nt r e t ous l es a s s oci é s , c ar l e s u n s e t l e s a u t r e s
t e n de n t à l a r é a l i z a t i o n d ’ un m ê m e o b j e ct i f et o n t l e m ê m e d om a i n e d ’ a p pl i ca t i o n ” L e s
s o ci é t é s … , c i t . p . 3 1 0) . O a l vo c o m u m de a m b o s o s i n st r u m e nt o s j u r í dic os é , co m o s e t e m
r e s s al t a do , o r e l a c i on am e nt o s o ci e t á r i o e xi s t e n t e en t r e os p ac t u a nt es . O a u t or p on d e r a,
c on t u d o, qu e “ o pr i n c í p io pa r e c e s er o da s e p a r a ç ã o en t r e o s i n s t r um en t o s , j á q u e nã o f a r i a
s e nt i do r e co r r e r -s e a d o i s i nst r u m e n t os q u an d o u m s ó p u de s s e c u m p r i r a m e s m a f u n ç ã o,
m a s a u n i c i d ad e s e i m põ e qu a nd o o p a c t o t em c a r á t e r f un d a m en t a l n a r el aç ã o so c i e t á r i a ”
( “ l e p r i n c i p e s e m b l e ê t r e l ’ i n dé p e nd e nc e du p a c t e e d e s s t a t u t s , c a r o n n e co n ç oi t p a s
p ou r q uo i l e s a s s oc i é s ont eu r e c ou r s à d eu x a c t e s s ’ il s e n t e n da i n e nt l es t r ai t er co m m e u m
t o ut . Ce p ed a nt l ’ i n di vi si b il it é s ’ i m p o s e si l e pa ct e a u n c a r a ct ér e f o n da m e n t al pa r c e qu e
q u’ i l a cc o r d e l es d r oi t s i n d i vi du e l s a ux a s s oc i é s e t si c e u x- c i s o n t t o us p a r t i e s à c e pa c t e ”
( I d e m , p . 3 11 ) .
30

para a gênese do relacionamento societário entre os pactuantes e/ou as


características cruciais desse relacionamento – muito mais relevância para o
que realmente pretendem as partes com relação àquele negócio que o estatuto
social 65, com função organizativa da pessoa jurídica que serve de instrumento
para que os interesses dos contratantes sejam atendidos 66- 67.

Essa percepção, todavia, raramente é alvo de comentários ou


aprofundamentos doutrinários 68. Em outras palavras, não se “alargou” o campo
de visão a respeito do fenômeno societário, de modo a nele incluir ajustes
entre sócios (especialmente entre todos os sócios) que não equivalem ao
estatuto social, mas que determinam as reais condições da relação societária

65
C R I S T I N A C E R O N I c om e n t a a i n ve r s ã o d e r el e vâ nc i a e n t r e p ac t o s p a r a so c i a i s e c o nt r a t o ou
e s t a t ut o s o ci a l ( “ s pe s s o è d a l l ’ a c c or d o pa r a s o ci al e c h e r i s ul t a a u t e n ti c am en t e l a vol o n t à e
gl i i nt er e s s s i de i pa s c ic e nt i , m en t r e pe r al t r o v e r so s i a s s i s t e di c on t i n u o a l l a p a l e se
i n f l u en z a ch e t a l i p att i po s s o no e se r c i t a r e i n co n c r et t o s u l t e no r e d el c o nt r at t o s o c i al e ”.
S i mu l az i on e e pa t t i pa ra s oc i a l i , i n Ri vi s t a Tr i m es t r a l e d i D i r i t t o e P r oc e du r a Ci vi l e, 19 9 0,
p . 11 1 5) . S o br e o t r a t a m e n t o d o ut r i ná r i o da q ue s t ã o , ap o nt a E D G A R J O U S S E N q u e m u i t o
e m bo r a a l gun s m a nu a i s e c o m e nt á r i o s à l e gi s l a ç ã o a i n d a e n un c i e m qu e o c o nt r at o s o c i al
c on s t r ó i a b a se d a s o ci e d a de , a p r a x i s s em p r e m a i s c ol oc a e s s a af i r m aç ã o e m xe q u e, t e nd o
e m vi s t a qu e d e f or m a s e m p r e m a i s f r eq u en t e o s s óc i o s r e gul a m o e xe r c í c i o d e di r e i t o s de
s ó ci o p or m e i o de c onven ç õ es e xt er i or e s a o c on t r a t o s oc i al ( “ [ d ] er Ge s e l l s c h af t sve r t r a g
b i l d et di e Gr u n dl age d e r G es e l l s c h a f t . S o o d er ä h n l i c h l a u t et d i e Fo r m u l i e r un g i n ei ni ge n
Le h r b üc h e r n u nd K o m m en t a r e n . Di e P r a xi s j ed o ch s t e l l t di e s e T he s e m eh r un d m eh r i n
F r a ge . De n n i m m e r h ä u f i ge r r e gel n Ge s e l l s c ha f t e r d i e Au sü b un g de r G e s e l l s c h af t er r e c h t e
d ur c h Ve r e i n b ar u n ge n a u βe r h a l b de s Ge se l l sch a f t s ver t r a ge s ” . Ge s e l l s c h af t e r a b sp r a ch e n
n eb e n Sa t z u n g u n d Ge s e l l s ch a ft s v er t ra g , K ö l n , O t t o Sc h m i d t , 1 9 95 , p . 1 ) .
66
Ou t r o a s pe c t o r e l e va n t e e po u c o e xp l o r ad o , c o nf or m e a s s e v er o u , e m en t r e vi s t a de
1 6/ 0 4 / 2 01 0 , o P r o f . J OS É A L E X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O é o f a t o d e q u e , u m a ve z
a dm i t i d a i nd e pe n d ên c i a d o ví n c ul o o b r i ga c i o n al pa r a s s oc i a l m e n t e c on s t i tu í d o pe l a s p a r t e s,
e l e p o de , a de p en d e r d a n a t u r ez a da o br i ga ç ã o c on t r a t a da , p e r du r a r m es m o s e u m d o s
s i gna t á r i o s nã o m a i s é s ó c i o o u a i n d a q ue a s o c i e da d e s e j a di ss o l vi d a, d e c or r ê n c i a d o
p r i nc í p i o da o br i ga t o r i ed ad e do s c on t r a t o s . As s i m , s e no pa c t o um a c i o ni s t a o b r i ga -s e a
d et er m i na d a c on d ut a f r e n t e a os de m a i s e n ão a c u m pr e, s ua r e s p on s a bi l id ad e p er s i st e ai n d a
q ue , n o m ei o t e m p o, a s o c i e da d e n ã o m a i s e xi s t a ( ou m e s m o n ã o t e n h a s i d o co n s t it uí d a,
a pe s a r d a s pr e vi s õ es co n t r a t u ai s ) .
67
O P P O j á r e f l e t i a a r e s pe i t o d e ss a hi p ót e s e: “o lt r e a t al e di p e nd e nz a p u ó i n t e r c o r r er e f r a i
d ue n e go zi u n ne s s o d i di pe n de n z a r e c i p r oc a qu a n do i l ne go zi o a c es s o r i o a s s u m e ve s t e
e s s en z i a l e i n r a p or t o a ll ’ i n t e nt o p e r s egu i t o i n c on c r e t o , s i c h e n o n s i s a r e bb e vo l u t o il
c on t r a t t o s o c i a l e s en z a i l n e goz i o p a r as o c i a l e ” . ( Co n t r at t i p ar as o ci a li ci t., p . 82 ) .
68
M A N U E L C A R N E I R O D A F R A D A ap o nt a a l gu m as c o ns i d e r a ç õe s ne s s e s e nt i d o e m Ac or d o s
p ar a s s oc i a is “ om ni l at e r a i s ”: um no v o c as o d e “d e s co n s i de r a ç ão ” da p e r so n al i da de
j u r í di ca ? , i n Di r ei t o da s S oc i e d ad e s e m Rev i s t a 2 , o u t . 2 0 09 , pp . 9 7 -13 5 .
31

existente (i.e., e não apenas os termos da estruturação da companhia por meio


do estatuto) 69.

Nessa linha, ousa-se ora dizer que “contratar sociedade”, no contexto


peculiar em exame, não pode mais ser, necessariamente, sinônimo da
celebração do contrato social (contrato de sociedade) e muito menos da
elaboração do estatuto e sua aprovação assemblear. Na grande maioria dos
casos, na atualidade, a causa econômica do fenômeno societário (i.e. reunião
de esforços para consecução de escopo comum) não é eficazmente atin gida –
ou refletida – apenas nesses instrumentos, muito embora ainda existam
sociedades calcadas em contextos econômicos e relacionamentos societários
mais simples, com seus contornos traçados pelo estatuto ou contrato social,
bem como pelas disposições legais aplicáveis ao tipo societário em questão.

No contexto negocial das últimas décadas, ao contratar sociedade


(criando sociedade nova ou ingressando em pré-existente) as partes mais
frequentemente convencionam entre si um plexo de ajustes e contratos,
necessários ao atingimento de seus interesses e regulação de sua conduta,
tendo em vista aquele relacionamento societário 70.

69
S A N T O N I c o n f i r m a o r a ci oc í n i o a o e xp l i c a r q ue “ o d e s en vol vi m e n t o d as r el aç ões
j u r í d i c as q u e n a s c em de u m c on t r a t o de s o c i ed a d e é f r e q u e n t e m e nt e , na p r á t i c a,
i n f l u en c i a d o p or a c or do s e p a ct ua ç õ es e s t i p ul ad o s p o r um a p ar t e o u p e l a t ot al i da d e d o s
s ó ci o s , e n t r e el e s , c o m a p r ó pr i a s o c i e da d e o u m e sm o c om t er c e i r o s ” ( “ [ l ] o s vol gi m e n t o
d ei r a p po r t i gi ur i di c i c he na s c on o d a u n c o nt r a t t o di s o c i et á è s p e s so , n el l a p r at i c a,
i n f l u en z a t o d a a c co r d i e pa t t u i z i o ni st i pu l a ti da un a p ar t e o d al l a t ot al i t à de i s o ci , t r a di
l o r o, o c on l a s t e s s a so c i e t à o a dd i r i tt ur a c on t e r zi ” Pa t t i p a ra s o c ial i , ci t ., p .1) . P e l a
c om p l e xi d ad e t e ó r i c a a d i c i o na l q u e os t e n t a m , n ã o s e r ã o al vo d a p r e s e nt e t es e o s c on t r a t o s
f i r m a d os e nt r e s óc i o s e s o c i e da d e o u m e s m o en t r e só c i o s e t e r c e i r o s ( e . g d i r e t o r es ,
c r e do r e s , e t c ) q ue , n ã o o bs t a n t e , t a m b é m i m p a ct am o r el ac i o n am en t o s o ci et á r i o .
70
G I O R G I O O P P O , 4 5 a n o s a pó s i nt r od u z i r o t e r m o “c o n t r a t os p a r as s o c i a i s ”, n a do u t rina
i t a li a n a , r e f l e t e a r es p e i t o do f e n ôm e n o q u e a c i m a s e a po n t ou , c o ns t at a n d o q u e “ a f i r m o u -
s e , s e j a na n o s sa l i t e r at ur a q u e n a l i t e r a t u r a e st r an g e i r a qu e n ão e xi s t i ri a s o ci ed a de d e u m
c e r t o po r t e e m t o r no d a qu a l n ã o s e c r u z em ac o r do s d e s t e t i p o, co m a f u nç ã o d e a d e qu a r o
e s qu e m a s o ci et ár i o ao s i n t e r e s s e s c on c r e t os da s pa r t e s e a s s i m , d e a l gu m m od o , d e
‘ p er so n a l i z ar ’ a d i s c i p l in a do i n s ti t ut o ” ( “[ s ]i è a f f e r m a t o , s i a n el l a n o s t r a l e tt e r a t ur a c h e
n el l a l ett er a t t ur a s t r a ni er a c h e n o n vi s ar e b b e s o ci et à d i un q ua l c h e r i l i e vo i n t or n o al la
q ua l e no n s i i nt r e c c i no a cc o r d i d i q ue s t o t i po, c o n l a f un z i o ne di a d egu a r e l o s ch e m a
s o ci e t a r i o a gl i i n t e r e s si c on c r e t i d el l e pa r t i e q u i nd i , i n qu a l c he m o d o, di ‘ p e r s o na l i z z a r e ’
l a di s c i pl i n a d e ll ’ is ti t ut o” ) . L e c on v e nz i o n i pa r a so c i a li tr a d ir it t o de l l e o bb li g a zi oni e
d i r it t o de ll e s oc i e t á , i n R i vi s t a d i Di r i tt o Ci v i l e , 6 , 19 8 7, p . 51 8 . N o m e s m o s e n t i d o,
32

Com referência a esse relacionamento, o estatuto e a pessoa jurídica da


sociedade, most ram-se, afinal, como peça da engrenagem montada pelas
partes 71.

Por consequência, não se pode desconsiderar os fatores acima apontados


como elementos de atração da lógica societária – e não meramente contratual
– a esses ajustes em que verdadeiramente se funda grande parte dos
rel acionamentos societários nos dias de hoje.

3. Oppo como ponto de partida

Entre os esforços doutrinários realizados na tentativa de descrever as


modalidades de contratos entre sócios, foi fundamental – ao menos para os
países ligados à tradição romano-germânica – a obra de G IO RG IO O P PO ,
Contratti parasociali, publicada em 1942.

Desde então, a expressão contrato (ou pacto) parassocial (patti


parasociali, pactes de associés) foi recepcionada em vários ordenamentos
jurídicos, sendo constante na doutrina, em que pese se referir a uma miríade
de situações diversas.

Para O P PO , em síntese, contratos parassociais seriam aqueles contratos


distintos do contrato de sociedade, mas que com ele guardam uma coli gação
(collegamento). Contudo, não obstante essa coligação, o que se re gula no
contrato parassocial teria efeito apenas obrigacional entre os pactuantes, não

a f i r m a S A N T O N I qu e “ a su a d i f u s ão n a pr a xe s o c i e t á r i a é i n d is c ut í ve l . Co m ê nf a s e , p od e -s e
a f i r m a r q ue n en h um a s o c i e da d e po d er i a f u n ci on a r c om r e gul ar i da d e s e m a i n t e r ve n ç ã o d e
t a i s t r at a t i va s e c om p o ne n t e s ne go ci ai s r ea l i z a d os p e l o s s óc i o s fo r a do s e s qu e m a s
s o ci e t á r i o s , c o m r e l aç ã o à r ea l i z a ç ã o d a a t i vi da d e co m u m ” ( “[ l ] a l o r o d i f f usi o n e
n el l ’ a m bi t o d el l a p r a s s i s oc i e t a r i a è i ndi s c us s a. Co n en f a s i , p uò af f er m a r s i c h e n e s su n a
s o ci e t à p ot r eb b e f u n z i on a r e co n r e go l a r i t à s en z a l ’ i nt er ve n t o d i t a l i t r a tt a t i ve e
c om p o ni m en t i ne goz i a l i r ag gi u nt i da i s o c i a l di f u o r i d egl i s c h e m i s o cie t a r i , i n m e r i t o al l a
r e a l i z z az i o n e de l l ’ a t t i vi t à co m u n e” . Pa t t i p a r aso c i al i , c it . , p . 2 ) .
71
É c l a r o q ue nã o s e c o gi t a d i z e r q u e a s o c i e da d e, u m a ve z c r i a d a, n ã o t e nh a s e us
i n t e r e ss e s p r ó pr i o s o u qu e ou t r o s i n t e r es s e s n ão a c or r am a e l a d ur an t e a s ua e xi s t ê nc i a . A
p er s p e c t i va q u e s e t o m a , a qu i , é a da s pa r t e s q ue s e r e l ac i o n a m e m s o c i e da d e e o m od o
c om o e s t a t u t o o u c o n t r a t o pa r a s s oc i a l i m pa c t a m e s s e r e l a ci on a m e nt o .
33

vinculando a companhia. Ou seja, as disposições contratuais seriam


inoponívei s, a menos que não se trate, por exemplo, de situações em que a
totalidade dos sócios é também si gnatária do acordo 72.

Sob a ótica do direito civil, considerando a dogmática contratual da


época, O PP O procurou analisar os contratos que se multiplicavam na prática e
determinar o sentido da sua acessoriedade com o contrato ou estatuto social 73,
além de avaliar se deveriam “sujeitar-se à peculiar disciplina de forma e
substância que é própria do contrato social” 74.

Apresentou classificação desses mesmos contratos adotando como


cri tério a sua capacidade de influir ou não na organização e/ou
funcionamento da sociedade, não os examinando sob a perspectiva do negócio
que as partes buscavam concretizar. Nesse sentido, os contratos parassociais
poderiam ser divididos em 75:

a) contratos que podem restringir seus efeitos e sua ação somente aos sócios
contratantes e ter eventualmente, para a sociedade e outros sócios uma
repercussão de mero fato, nem favorável, nem desfavorável 76.

72
I n v e rb i s : “ i n ogn i ca s o i l c ol l ega m e nt o d e l co n t r a t t o a c c e s so r i o c ol c o nt r at t o s o c iale
n on è o p po n i bil e f uo r i de i r a p po r t i i m m e di at i c on l a c o nt r op a r t e d el pa t t o a c c e s so r i o e c i oè
n on è o pp o ni b il e a gl i a lt r i s oc i , a ll a s o c i e t à e ai t e r z i . Ci ò s i gn i f i c a c he u na r i pe r c us s i o ne
r e a l e d e l l e vi ce n d e d e l n e go z i o ac c e s s or i o s u l l a p o s i z i on e de l l e p a r ti ne l l a s o c i et à è i n
p r i nc i p i o e s c l us a: u n a ta l e r i p er c u s i o ne p o t r à a ve r s i s o l o i n qu a l c he i po t e s i e p r e ci s a m e n t e
i n qu a nt o t ut ti i s oc i si a n o a l t e m po s t e s s o so gge t i de l r a p po r t o ac c e s s or i o ” ( Co nt ra t ti
p ar a s oc i a li ci t ., p . 8 2 ) .
73
P a r a b oa a n ál i s e d a p os i ç ã o de O P P O do p on t o d e vi s t a d a c ol i ga ç ã o n e goc i a l , c f . a o b ra
d e F R A N C I S C O M A R I N O , C on t r a t os co l i g a do s , c it . p p. 57 -6 0.
74
Co nt ra t t i ..., ci t ., p . 40 .
75
Ess a c l a ss i f i ca ç ã o é r ep e t i d a i n c a ns a v e l m e nt e pe l o s au t o r e s q u e s u ce d e r a m O P P O n a
I t á l i a e no Br a s i l , se m q u e d e l a se e xt r a i a m ai s q u a l qu e r r e s ul t a d o t eó r i c o pa r a o e xa m e
d os p a c t os p a r a s so c i a i s n o d i r e i t o s o ci et ár i o e vi d en c i a nd o -s e , a o c o nt r á r i o, ca r a c t e r í s t i c a s
d e um ou o u t r o t i p o d e p a ct o p a r a s s oc i a l n a d o g m á t i c a c on t r a t u a l .
76
“ P o s s o no r es t r i nge r e i l o r o e f f e t t i e l a l or o a zi on e a i s ol i s o ci s ti pu l a nt i e d a ve r e
e ve n t u a l m e nt e p e r l a s o c i e t à ( e gl i a l t r i s oci ) u na r i pe r c us s i o n e d i m e r o f a t t o , n è
f a vo r e vol e , nè s f a vor e v o l e ” ( Co nt r a t t i … , c i t ., p . 7. )
34

b) contratos que podem ser destinados a gerar para a sociedade vantagens


particulares a cargo dos sócios e que não são previstas no contrato social,
para evitar publicidade 77.
c) contratos que podem incidir diretamente sobre a sociedade ou serem
destinados a influir sobre sua vida e sobre a determinação de sua ação, ou
mesmo invadam juridicamente a esfera de direitos da sociedade e a
competência de seus órgãos 78.
Importante not ar, pois, que O PP O entendia relevantes como contratos
parassociais, para os fins de sua investigação, apenas os contratos agrupados
em B) e C). Ou seja, o estudo da acessoriedade e seus efeitos seria necessário
ou mesmo oportuno apenas quando esses contratos incidissem de qualquer
modo sobre a vida social. Por consequência, os contratos previstos no grupo
A) – principais alvos da presente análise – não foram considerados por O P PO
em seu estudo, justamente pelo corte metodológico que nele se pode
identificar e não – como hoje podemos avaliar – porque não sejam alvos da
disciplina societária.

Ainda em decorrência dos estudos de O P P O , assim, tornou-se pacificado


na doutrina dos diversos ordenamentos o entendimento se gundo o qual esses
contratos, ao produzirem efeitos apenas entre as partes, deveriam ser regidos
pelo direito comum das obrigações, e não pelo direito societário (i.e., não se
aplicariam as re gras relativas ao contrato de sociedade).

Como acima se referiu, essa visão não atende totalmente ao que a


realidade negocial tem apresentado desde que a obra de O P P O foi escrita. Por
essa razão, tendo em vista as limitações deste trabalho e o enfoque que se
pretende conferi r sobre a funcionalidade dos contratos parassociais para o
relacionamento societário e para que a intenção comum das partes na
77
“P o ss o n o e s s e r e di r et t i a pr o c u r ar e a l l a s o ci et à va n t a g gi p ar t i c ol a r i a c a r i c o d e i s o c i (e
c he n o n ve n go n o pr e vi s t i n e l c o nt r at t o so c i al e p e r e vi t ar e l a pu b bl i ci t à) ” ( I de m , p .9 ) .
78
“ P os s o n o i n c i d er e d i r e t t a m e nt e s u l l a s oc i et à o i n q u an t o s i a no d i r e tt i a d i n f l u i r e s ul la
s u a vi t a e su l l a d e t e r m i n a zi on e d el l a s ua a z i o ne o i n q u an t o a d di r i tt u r a i nva d an o
gi ur i di c a m e n t e l a s f er a d i di r i tt i de ll a s o c i e t à e l a co m p e t e nz a d ei s uoi o r gan i s o s ti t u e nd o
a q ue s t i ul t i m i i si ngo l i s o c i o l a l o r o s om m a o p e r an t i i n ve s t e e xt r a s oc i a l e ” ( I d em , p . 1 1) .
35

associação seja atingida, não serão aqui aprofundadas as reflexões de O P PO ,


mais centradas no exame da dogmática contratual 79.

Pode-se dizer que, em termos gerais, a doutrina italiana posterior à obra


de O P PO trilhou o mesmo caminho, avaliando precipuamente a coli gação
negocial entre contrato social e contrato parassocial, apresentando, por vezes,
novas classificações para os contratos parassociais.

Comentando a evolução da doutrina italiana sobre os pactos


parassociais, C R IS TI N A C ERO N I esclarece que ela se deu preci puamente no
sentido de identificar quais os critérios capazes de atribuir aos pactos
parassociais significado juridicamente mais apropriado ao sistema normativo,
com base em duas linhas conexas: (i) a verificação do tipo de relação entre
contrato social e parassocial e (ii) a investigação sobre a possibilidade de
reunião das várias modalidades de pactos parassociais em uma única categoria
negocial conceitualmente autônoma 80.

Destaca-se, nesse sentido, as obras de L U IG I F A R EN G A 81 e G I U S E P PE


S A N TO N I 82, além da coletiva de F RA N CO B O N E LL I e P I E R G IU S TO J A EG E R 83.

79
P a r t i n d o d a pe r s p e ct i va d a di st i nç ã o en t r e c o ntr a t o s o c i al e pa r a s oc i a l , O P P O c e nt r a s ua
a ná l i se n o e xa m e da n a t ur e z a da r e l a ç ão e n t r e o s c on t r a t o s e de c a da c on t r a t o p ar a s o c i al
( I d e m , p . 6 7) . T om a n d o a c o l i g aç ã o i gu al m e n t e e xi s t e n t e e n t r e os c on t r a t o s , r es a l t a a
e xi s t ên c i a d e c o n e x ã o e c o nô mi c a e a ut o n om i a j ur í d i c a ( p. 72 ) , m a s r e c ha ç a a i d ei a d e u m
n egó c i o ú n i c o e c o m p l e xo q ue a b ar qu e t o da a f a t ti s p e ci e, e m vi st a d a n ec e s s á r i a di s t i nç ão
( “ no n pu ó s b o c c a r e al l a c o nf i gu r a z i on e di u m ne go zi o c om pl e s s i vo c h e a s s o r ba l ’ i n t e r a
f a t t i s p e ci e” I d e m , p. 88 ) . C R I S T I N A C E R O N I m e n c i o na e i gu a l m e n t e c r i t i ca a t e nt at i va d e
c r i a ç ão d e u m “s u p e r n e góc i o ” , s e gu i n do a l i nh a de a ná l i se f u nc i o n a l da c ol i ga ç ã o e n t r e
n eg ó c i os di s ti nt o s ( Si mu l a z i on e ... , c i t ., p. 1 .1 18 )
80
( Si m ul a z i o ne .. .., c i t . , p. 11 1 5) . D e f at o, s e gun d o a a u t or a, a p e r s pe c t i va do m i n a nt e n os
e s t ud o s da q ue l e p a í s é a d e p e s q ui s a t i p o l ógi c a r e l a t i va a o s co n t r a t o s p a r a s so c i a i s ( “ [ i ]n
q ue s t a p r o sp e t t i va , c h e è f on d am e n t a l m e n t e di r i c er ca t i po l o gi ca , l o st ud i o r e l a t i vo ai pa t ti
p ar a s o c i a l i s i è p os t o i nn a nz i t t utt o il pr o b l e m a di el ab o r a r e qu e i ‘ c r i t e r i d ’ i n di vi d u az i o n e ’
d ei pa t t i m e de s i m i , e que s t o a l f i n e di r i s p on d ere a d u n qu e s i t o pr e l i mi na r e c h e r i gua r d a l a
p os s i b il e i d e n t i fi c a zi on e d i u na a p po s i t a c a t e go r i a c o m pr en s i v a di t u t t i qu es t i a cc o r d i e , s u
q ue s t a b as e , c o gl i e r e e s p ec i f i ca r e l a n at ur a d el r ap p or t o e si s t e nt e t r a co n t r a t t o so ci a l e e
p at t i p a r as o c i a l e ” . I d e m , i b i d em ) . No t a -s e , a s s i m , q u e o t e m a d a i nt er p r e t a ç ão d os
c on t r a t o s p ar a s s o c i ai s ou m e s m o a su a a n ál i s e d o p on t o de vi s t a d a f u nç ã o qu e
d es e mp e nh a m n o r e l a c i on a me nt o s oc i e t á r i o n ã o f or am t r a t a do s co m a ê nf a s e q u e, a o
c on t r á r i o , a e l e s s e p r e t e nd e d ar n e s t e t r a b a l h o.
81
I c on t r a t ti pa r as o c i a li , M i l an o , Gi u f f r è , 19 8 7
36

Em breve síntese, FA R E N G A classifi ca os contratos parassociais


conforme incidam (exerçam influência) ou não sobre a organização social,
desi gnando-os, respectivamente, “contratti parasociali in senso stretto” e
“contrati parasociali extrasociali”, esses últi mos relativos apenas a direitos
individuais dos contratantes.

A relevância da distinção estaria em que a disciplina da nulidade,


anulabilidade e resolução dos contratos parassociais variaria conforme se
tratasse ou não de contrato “associativo” ou “incidente sobre a organização”.
O autor compara, por exemplo, os cenários de resolução contratual quando se
trata de “sindacato di voto” (incidente sobre a organização) e “sindacato di
blocco” (“extrasociali”).

Além disso, F A R E N G A sustenta que há graus de autonomia dos diversos


contratos parassociais, na medida em que somente com relação aos patti
“extrasociali” ela existiria de fato, ao passo que nos contratos parassociais
incidentes sobre a organização social, ela seria apenas genética 84.

Muito embora se possa extrair importantes conclusões dessas análises,


elas não tocam o tema da interpretação dos contratos parassociais e sua
conformidade com os princípios societários.

Igualmente, não se examina o problema, em regra, sob o ponto de vista


do relacionamento societário criado pel as partes, em que mesmo contratos
tidos por “extrasociali” (isto é, que não dizem respeito à organização da
sociedade) podem ser vistos como inerentes e basilares a esse mesmo

82
Pa t t i pa r as o c i a li , c i t . .
83
Si nd a ca t i di vo t o e s i n dac a t i d i b l o cc o , M i l an o , Gi u f f r è , 1 9 93 .
84
No d i z e r d o a ut o r , “s o n o i n ve c e c o nt r a t t i a u t on o m i q u ei c on t r a tti p ar a s o c i a l i che
i n f l u is c on o s ol o s ul l e s i t u az i o ni i n d i vi du a l i de r i va nt i d al c on t r a t t o d i s oc i e t à e c h e
p er t an t o si p o ngo no co m e un qu a l c os a di ‘ e s te r no ’ r i s p et t o al l a so c ie t à e s on o p e r c iò
e xt r as o c i a l i ” ( I c o n t r at t i p ar a s oc i a l i , c it ., p. 22 5 ) .
37

rel acionamento e, portanto, integradores da disciplina aplicável aos sócios


signatários e configuradores de sua conduta enquanto tais 85.

Seu escopo permanece na verificação da acessoriedade entre contratos,


enquanto ora se busca avaliar os contratos parassociais sob o todo complexo
em que as partes se inserem para sua associação societária.

G IU S EP PE S A N TO N I , por sua vez, classifica os contratos parassociais em


pactos “complementari”, que são os que geram vantagem à sociedade e têm
seu regime aproximado aos dos contratos em favor de terceiro; e pactos
“collaterali”, seriam aqueles voltados exclusivamente a direitos individuais
dos sócios que, no seu entender, não seriam capazes de influenciar a vida da
sociedade 86.

Dentre as contribuições de S A N TO N I , deve-se sublinhar a acurada análise


sobre a confusão interpretativa que frequentemente leva a se dizer algo sobre
pactos parassociais que, em verdade, aplica-se apenas aos “sindacati di voto”,
ignorando-se, assim, toda a série de contratos e pactos que, em tese, não
influenci am a sociedade 87- 88.

85
Ai n da co m r e l a ç ã o a o s c o nt r at os p a r a s s oc ia i s q u e de s i gn a “ ext r a s o ci al i ” po r não
i n t e r f e r i r na o r ga n i z a çã o da s o ci ed a de , F A R E N G A s e d e l o ng a na a n ál i s e d e su a va l i d a d e,
p er p a s s a nd o c a d a m od a l i d a de d e co n t r a t o de s s a na t u r e z a e a p o nt a n d o q u es t õ e s e s pe c í f i c a s
q ue p od e m a pr e s e n t ar , s em e n t r e t a nd o e nu n ci a r c r i t é r i o s d e i nt e r p r e t açã o q ue p os s a m s e r
u s ad o s co m vi s t a s a ou tr o s c on t r a t o s pa r a s s oc i a i s “ e xt r a so c i a l i ” q ue p o r ve n t u r a a i n d a nã o
s e t e nh a m m a n i s f es t ad o , o q ue s e r i a f u nd a m e nt a l co n s i de r a n do a c r i a t i vi d ad e e a c r e sc e n t e
c om p l e xi d ad e d as o c a s i õe s e m q u e s e d e s en vol ve m ( I c o n t r at t i Pa r a so c i a l i , c it . , p p. 37 3 e
s s ) . Na p r e s en t e t e s e , pr oc u r a -s e j us t a m e n t e av a l i a r e p r op o r cr i t é r i os i nt e r p r e t a t i vos p a r a
o s co n t r a t o s p a r a s s oc i a is “ e xt r as o c i a l i ” ( q ue d e si gn a m os p a t r i m o n i a i s ) ba s e a do s n a l ógi c a
p r óp r i a q ue d á s u po r t e a o r e l a c i o na m e n t o s o c i e t á r i o e o t o r na d i ve r s o de q ua l q u er o u t ro
r e l a c i on a m e nt o c o n t r at u a l .
86
Cf . Pa t t i p a ra s o c i al i , ci t ., p . 1 44 -1 45 ; p . 14 7 e p. 22 3 .
87
I n ve r b i s : “ I n ve r o , no n v ’ è du b bi o c h e i l m a l i nt e s o i n t e r p r e t a t i vo o r a s e gna l a t o va d a
r i c o nd o t t o a ll ’ ar b i t r a r i a a s s i m i l a z i on e de i p r obl e m i e r m e ne u t i c i d ei c o nt r at ti pa r a s o ci a li
c on q ue l l i , s pe c i f i c i e p ar z i a l i , de gl i a c co r d o d i vot o , c o n l a c o ns e gue n z a c h e t ut t i s on o
s t a t i ge n er a l m e n t e r i s o l ti da un a c on s o l i d at a c or r e n t e gi u r i s pr u d en z i a l e i n b a s e a l l a
val ut a z i o n e de l l a c o nf o r m i t à de i p a t ti al l ’i n t er ess e s o c i al e ( Pa t t i pa r as o c i a l i , c it . p . 2 0) .
88
So b r e o pr o b l e m a, c f . i t e m 5 d e s s e ca p í t u l o , a s e gui r .
38

Além disso, S A N TO N I ensaia um passo na direção da proposta desta tese,


ao ressaltar que o tema da definição de critérios interpretativos para os
contratos parassociais deveria ser tratado antes mesmo de se avaliar questões
sobre validade e eficácia dos pactos, determinando se ela deve reali zar-se com
base nas normas de direito societário ou recorrendo-se aos princípios gerais
dos contratos 89.

Em que pese essa preocupação, o autor não aprofunda o tema de forma


satisfatória, adotando a mesma linha de O P PO e F A R EN G A de considerar como
possível alvo de preocupações societárias apenas o que “incide sobre a
sociedade”.

Pelo que até o momento já se adiantou, essa perspectiva parece não


servir quando se joga luzes ao fato de os pactos parassociais serem peças-
chave na disciplina do relacionamento societário, ainda que não gerem
qualquer efeito direto sobre a sociedade (= pessoa jurídica).

Em suma, grande parte dos autores que vêm seguindo a tradição italiana
inaugurada por O P PO enxergam distinção de negócios (i.e. contrato
social/contrat o parassocial), ainda que coligados, onde em verdade – e
tomando-se a perspectiva do relacionamento eri gido entre os contratantes –
verifica-se unicidade de intenções e de propósitos dos signatários/acionistas.
Além disso, seu enfoque é precipuamente voltado ao exame tipológico dos
contratos parassociais, o que pouco tem contribuído para que sejam
encontradas soluções para as crescentes dificuldades teóricas colhidas da
prática 90.

89
“ S o r ge c os í l ’ es i ge n z a d i c hi ar i r e, pr i m a a n c o r a d ei qu e s i t i i n e r e nti a l l a va l i d i t à e al la
e f f i c a ci a d e i co n t r a t ti pa r as o c i a l i , i c r i t e r i d i va l u t a z i o ne a l l a cu i st re gu a q ue i c on t r a t ti
d eb b a no e s s e r e e s a m i n at i , e , i n p a r t i c o l a r e, s e l ’ i nt er p r e t a z i o ne di q ue s t i ul t i mi va d a
e f f e t t u at a i n b a s e a l l e n o r m e d i d i r i tt o s o c i e t ar io o i n ve c e r i c o r r en d o a i p r i n c i pi ge n e r ali
d et t a t i d a l n ost r o o r d i nam e n t o pe r i c on t r a t t i ” ( I de m , p. 11 ) .
90
M a i s u m a ve z , ca b e a q u i r ep r o du z i r a cr í ti c a d e C R IS T I N A C E R O N I d e q u e a s s o l uç ões
c ogi t a d a s pe l a d ou t r i n a s o br e o s pa c t o s pa r a s s o ci a i s a p r e s en t a m l a c u na s p el o s e u
d es c o m p as s o c o m a r e al i da d e p r á t i c a ( “ l e ar go m e t a zi on i a s o st egn o d i o gni s ol uz i o ne
a va n z a t a, t r o v an o q u i nd i un a l o r o gi u s ti f i c a z i on e s o l a m e nt e pe n s a nd o d i a f f r o n t a r e e
39

4. A posição de GUYON e sua importância para a tese.

A doutrina francesa tem se mostrado mais propensa a abarcar, em um


mesmo complexo negocial, os variados instrumentos que, ao fim e ao cabo,
servem à estruturação da sociedade em seu dúplice aspecto, ou seja, como
relacionamento e como organização 91.

Nesse contexto, Y V ES G U Y O N figura como autor fundamental para o


entendimento do fenômeno societário na atualidade, envolvi do e sustentado
pelas mais variadas manifestações contratuais 92.

A nota diferenciadora da leitura de G U Y ON sobre os pactos parassociais


é, justamente, a sua percepção de que esses contratos são internos ao
fenômeno societário, e não se situam em seu exterior como poderia fazer
sugerir o fato de que se consubstanciam em instrumentos diversos do contrato
ou estatuto social ou que possam não gerar efeitos sobre a organização e
funcionamento da sociedade.

Essa posição pode ser verificada na metáfora de que se vale G U Y O N para


explicar o fenômeno, já referida: a sociedade seria a estrela maior de uma
nebulosa contratual que a envolve. O estatuto refere-se a essa “estrela maior”,
enquanto os pactos parassociais dão sustentação à “nebulosa” em que ela se
insere. O relacionamento societário, ora se conclui, é estruturado e regido por
essa teia de instrumentos jurídicos que se imbricam mutuamente.

r i s o l ver e l a q u es t i on e d i ba t t ut t a e n t r o un a l o gi c a m e r a m e nt e a s t r a t t a e a vu l s a d a l l a r e al t à,
m e nt r e va l ut an d ol e a l l a s t r e gu a d i u m c r i t er i o c he t e n g a pa r i c on t o an c h e d e i r i s ul t ati
gi ur i di c i pr o ven i e n t i d a l l a p r at i c a ap p l i c a zi o n e de l f en o m e no i n q ue s t i o n e , e s s e s i r i vel an o
i n du b bi am e n t e l a c u no s e ”. Si mul az i o n e. .., ci t ., p . 1 1 21 ) .
91
Co m o e x e m pl o , G E O R G E S R I P E R T e G. R O B L O T , Tr a i t é de Dr oi t C o mm er c i a l , a t ua l.
M I C H A E L G E R M A I N , T . 1 , Vo l . 2 – L e s S o c i e t é s Co mm e r ci al e s ; G É R A LD I N E G O F F A U X -
C A L L E B A U T , Du co n t r a t …, c i t . e S O P H I E S C H I L L E R , Le s l i mi t e s ... , c i t ..
92
Ne s se p e c ul i ar , val e r e f e r i r a b e l a n ot a d e J O S É M I G U E L E M B I D I R U J O s ob r e a vi d a e o b ra
d e Gu yo n , e m q u e r e s s al t a o ê xi t o í m p ar qu e a o b r a L es So c i é t é s – Am én a ge me n s
s t a t ut ai re s e t c o n ve n t i ons e n t r e a s s oc i é s a l c a nç ou na Fr a n ça e n o e x t e r i o r , t e nd o s i do
c on t e m p l a da c o m o p r ê m i o de m e l h o r ob r a d e pr át i ca j ur í di c a p e l a Co m pa g ni e de s Avo c a t s -
Co n s ei l s d ’ Ent r e p r i s e s d e Pa r i s et d e l ’ Î l e d e Fr an c e . ( Ne c ro l ó g i c a: Y ve s Gu y on ( 1 93 4 -
2 00 5 ) , i n Re vi s t a d e De r e ch o M e r ca n t i l , nº 25 7 , j u l h o – s et em b r o , 2 00 5 , p p . 1 67 5 -16 7 7 ) .
40

G U Y O N contribui, portanto, para desfazer a impressão de que, porque


não relativos necessariamente ao funcionamento da sociedade ou inseridos no
estatuto social, pactos parassociais seriam imperceptíveis ao direito
societário 93.

Ao tomar os contratos parassociais como manifestações da autonomia


contratual no direito societário, G U Y O N focaliza apropriadamente o cerne do
problema: os contratos parassociais integram o arsenal com o qual as partes se
armam na entabulação de um negócio societário e são tão ou mais relevantes
que o próprio estatuto social 94.

Seguindo o raciocínio de G U Y O N , parece ser crucial avaliar se a


utilização desses instrumentos é compatível com os ditames, princípios e
lógica próprios do relacionamento societário. A autonomia existente entre o
negócio representado pelo estatuto social e o contrato parassocial passa a ser,
sob o prisma do relacionamento a que ambos se referem, menos nítida,
sobretudo tendo em vista que, em grande parte dos casos, as partes coincidem.

Em todos os casos, a contratação não poderia ferir o que a tradição


francesa desi gna como ordem pública societária. Contudo, como é
sabidamente impossível definir com exatidão o que se enquadra nesse

93
Na m e s m a l i nh a , G E O R G E S R IP E R T e G. R O B L O T , M I C H E L G E R M A I N ( a t u a l .) , T ra i t é de
Dr o i t C omm er c i a l , c i t ., p . 3 9 7.
94
A c l a s si f i c aç ã o p r o po s t a p o r G U Y O N p ar a o s c on t r a t o s e xt r a -e s t a t ut ár i os e ngl o ba a )
p ac t o s s o br e a s i t ua ç ã o d o s a s so c i a d os ; b ) p a c t os so b r e a s i t u aç ã o d os d i r i ge nt es ; c) pa c t o s
s o br e a s i t u a çã o d a s o c i e da d e ( n el es i n cl uí d os o s a c o r do s d e vo t o e a c o r d o s p a r a o
f i n a nc i a m e n t o d a so c i ed ad e ) e d ) p ac t o s c el eb r a do s p or o c as i ã o da l iq u i d aç ã o e p a r t i l ha
( L es s o c i é t é s… , c i t . ) . N o pr e s e n t e t r a ba l h o , a l ém do s a co r d os d e vot o , n ã o s e e x am i na o s
p ac t o s s o br e a s i t u a ç ã o d o s di r i ge n t e s p or e n vol ve r e m t e m a s de d i r e i t o d o t r ab a l h o e, m a is
q ue i s s o , p or t r az e r e m à di s cu s s ã o a s p ec t o s l i ga d os à s p r eo c u pa ç õe s c o m bo a s pr át i ca s d e
c or p o r at e go v e rn a nc e . Os p a ct o s o r a e s t u da d o s r e f e r em -s e pr e c i p ua m e n t e a p os i ç õ e s
i n vi di d u a i s d o s s ó ci os , a i n da qu e e m be n e f í c i o d a s o ci e d a de ( c om o ac o r d os pr e v e nd o
p r es t aç ã o a c es s ó r i a ) . S O P H I E S C H I L L E R f a z l e i t ur a pe c u l i a r d o f e n ôm e n o, i n d i c an d o a
s e gu i n t e di vi s ã o do s pa c t o s ( ou “ a m én a ge m e n t s ” ) : ( i ) a c or d o s r e l a t i vo s à n e c es s i d a de d e
u na g ar a n t i a p ar a t o d a c r i a ç ã o d e at i vi d a d e; ( i i ) ac o r d os r e l a t i vo s à n ec e s s i d ad e de u m a
p r ot e ç ã o da g a r a nt i a p a r a t o do o d es e n vo l vi m e n t o de u m a a t i vi da d e ; ( i ii ) ac o r d os r e l a t i vo s
à c on e xã o e nt r e o p od e r e a r e sp o ns a b i l i d a de e n t r e os a s s o ci ad o s ; ( i v) a co r d os r e l a t i vo s à
c on e xão e n t r e o po d e r e a r e s po n s ab i l i d a d e do s d i r i ge nt e s e ( v) a c o r do s r e l a t i vos à co n e xã o
e nt r e o p od e r e a r e s po n s ab i l i d a d e d o s a s s o ci ad o s ou di r i ge n t e s pa r a a co n cl us ã o de u m
c on t r a t o d e c au ç ã o ( Le s l i m it e s de l a l i be rt é c o nt r ac t u e ll e ... ci t .) .
41

conceito, GUYON evidencia a necessidade de se examinar os pactos


parassociais ou extra-estatutários com vistas aos objetivos da ordem pública
societária, que aponta serem a proteção dos minoritários, a igualdade dos
acionistas e a proteção dos credores sociais 95.

Nesse sentido, segundo o autor, seriam válidas as convenções que não


contrariassem os objetivos da ordem pública societária, as estipulações
imperativas dos estatutos e o interesse social 96.

Ou seja, ao ampliar a análise dos pactos parassociais, preocupando-se


com seus efeitos perante a ordem pública societária e não apenas perante a
companhia, GUYON contribui significativamente para a construção do
raciocínio que permeia este trabalho.

5. Posição da doutrina brasileira

Na doutrina brasileira os pactos parassociais são mais examinados com


vistas a sua relação com a companhia, valendo-se, muito, da obra de O P PO .

Dentre as mono grafias mencionadas no Prólogo, não se encontrou, como


já se apontou, obra que examinasse com profundidade o impacto dos contratos
parassociais sobre a relação societária, ou seja, que tratasse dos ajustes
parassociais dentro de sua real dimensão de instrumentos para acomodação de
interesses das partes no seio da sociedade. Ao contrário, há várias obras que
cuidam da natureza jurídica dos acordos de acionistas, suas várias
classificações e as peculiaridades da le gislação brasileira.

Sobre os limites de validade dos contratos parassociais derivados da


própria noção de sociedade de direito societário – temas relevantes para a

95
Cf . L e s s o ci é t é s .. .., c i t ., p . 3 0 9.
96
Es s a p os i ç ã o s e r á co m e n t a da a d i a nt e , no C ap í t u l o 4 .
42

presente investi gação, portanto – as menções são breves e pouco


aprofundadas 97.

5.1 Proposta teórica de C A L I X T O S A LO M Ã O F I LH O

No cenário brasileiro, poi s, pode-se indicar como um dos poucos textos


com propósito claro de examinar o tema dos pactos parassociais sob enfoque
eminentemente teórico o ensaio de C A L IX TO S A LO MÃ O F I LH O , Acordo de
Acionistas como Instância da Estrutura Societária 98.

Nele, o autor centra sua análise na existência dos centros


parassocietários de poder e em como eles devem relacionar-se com a estrutura
da sociedade. Parte-se do pressuposto de que apenas acordos que se integram
na estrutura societária são capazes de produzir efeitos para além dos
contratantes pois, em regra, “de sua característica parassocial decorre a
impossibilidade destes modificarem a relação social. Podem apenas modificar
as relações entre as partes, em certos casos com força vinculante para a
sociedade” 99.

Por decorrência, nessa leitura, os contratos ligados a compra e venda de


ações e preferência não atingiriam a “relação social” ou a “estrutura da
sociedade” 100 e, assim, seriam irrevelantes para a disciplina societária. Nota-

97
C E L S O A LB U Q U E R Q U E B A R R E T O a p r es e n t a o s e gui n t e r o l de pr o i b i ç õe s ao s p a c t os,
d em o n s t r a nd o , as s i m , pr e o cu p a ç ã o c o m s eu s ef e i t os s ob r e al vo s de pr o t e ç ã o d o d i r e i t o
s o ci e t á r i o : “ ( a) i n d et er m i na ç ã o d e e s co p o o u ‘ a c or d o s e m a b e r t o ’ , c a r a c t e r i z ad o s p e l a
i n e sp e c i f i c i d a de d o a j u st e , q ua n t o à s m at ér i a o u di r et r i z es d o vo t o ” ; ( b ) ce s s ã o do d i r e ito
d e vo t o se m t r a n s f e r ên c i a d a ti t ul ar i da d e d a s açõ e s ; ( c ) ne go ci aç ã o do vo t o ( c r i m e – a r t .
1 77 , § 2º do CP ) ; ( d ) vi o l a çã o d e d i r e i t o s e s s en c i a i s d o a c i o ni st a; ( e ) vi o l a çã o d a
l e gi s l a çã o a n t i t r u s t e ; ( f ) a c or d o d a no s o a os i n t e r es s e s d a s o c i e da d e ; ( g) a c o r do s qu e
t e n ha m po r ob j e t o a s de c l a r a çõ e s d e ve r d ad e ( a p r o va ç ã o de c on t a s e t c ) ” ( Ac or d o s d e
a c i on i s t a s , c it ., p . 6 4) . O a u t o r , co n t u do , n ão e xa m i n a co m m a i s va ga r c a d a u m de s s e s
a s pe c t o s .
98
i n O N o v o Di r e i t o S oc i e t á r i o , 3 ª e d . r e f o r m ul a d a , S ã o P a ul o, M al h e i r o s , 2 00 2 .
99
( C A LI X T O S A L O M Ã O F I L H O , Ac o r do d e Ac i o n i s t as ..., ci t ., p .9 6 )
100
S o br e o s q u ai s o au t or a ss e ve r a s e r e m “[ t ] r ad i c i o na i s el e m e nt o s de d i s c i pl i na di reta
e nt r e s ó c i o s , s eq u e r co be r t os p e l a l ei s oc i et á r i a ( q ue n ã o p r e vê d i s c i p l in a e s p e cí f i c a p a r a
p r ef er ê n c i a n a ve n d a d e a ç õ e s e n ão t r a z di s c i p li n a de c om p r a e ve n d a , e xc e t o o l i m i t e
43

se, então, que o autor parece manter-se alinhado com O P P O , entendendo como
relação social não o relacionamento complexo entre sócios, mas apenas aquilo
que se pode observar por seus efeitos na sociedade.

Todavia, mais adiante no mesmo texto, reconhece que a interpretação de


um pacto de preferência (i.e. sem efeitos diretos sobre a sociedade) somente
pode ser adequadamente realizada se tomada a perspectiva societária – e não
meramente contratual 101. A justificativa seria a de que um ajuste dessa natureza
consta de acordo que passou a integrar a estrutura societária.

Em que pese o pioneirismo da análise, não se evidencia qual a condição


para que um ajuste parassocial venha a ser considerado como “integrante da
estrutura societária” e, assim, sujeito à perspectiva do direito societário.

As dificuldades em lidar com o assunto são reconhecidas pelo autor, que


afi rma ser “interessante observar que as consequências da inserção do acordo
de acionistas na estrutura societária parecem muito mais óbvias e naturais que
a própria inserção como hipótese teórica” 102.

Compreendendo essas dificuldades teóricas e compartilhando a


preocupação de C A LIX TO S A LO MÃ O FILHO quanto à possibilidade de
interpretação de pactos com conteúdo diverso do voto pela ótica societária 103,
buscar-se, neste trabalho, examinar elementos para justificar a aproximação
do direito societário a esses pactos.

gen é r i c o do a r t 1 09 ) e s sa s r e gr a s e m n ad a a f e t a m a r el aç ã o ou e s t r u t u r a so c i e t á r i a ” ( i d em ,
i b i d em ) .
101
I d em , p . 1 02 .
102
I d em , p . 1 03 .
103
P r o s s egu e o a ut or : “ A r e l a ç ã o f i c a m a i s e vi d e nt e e ne c e s s ár i a n a qu e l e s ca o s em q ue,
a nt es q u e n a t u r ai s, as co ns e q uê n c i a s da i n s er ç ã o do a c or d o na e s t r ut ura s o ci et ár i a ge r a m
p r ob l e m a s do u t r i n ár i os . É o q u e o c o r r e n o qu e r e sp e i t a a os a c o r do s sob r e o e x e r cí ci o d e
vot o ( q ue s ã o , de r e s t o , o t i po m a i s co m u m ) . Aq u i , d e u m l a do , r e s s a l t a a c a r a c t e r í s t i ca
s o ci e t á r i a ( d e f at o ) d o a c or do . De ou t r o , a po s s i b il i d a de d e c h oq u e e n t r e a s d i s p os i ç õ e s
s o br e vo t o do s e s t a t u t os e da l e i ” ( i de m , i bi de m . G r i f o u-s e )
44

6. Contratos parassociais patri moniais: precisão ter minológica

Há uma categoria específica de contratos parassociais intensamente


debatida na doutrina: os acordos de voto (voting agreements). As motivações
que determinam a celebração desses acordos geralmente se ligam à
estabilidade de poder dentro da companhia e/ou à reunião de minoritários para
melhor defesa de seus interesses na sociedade.

As questões que surgem a respeito dos acordos de voto, assim, tocam


temas muito relevantes para o direito societário, razão pela qual a doutrina
jurídica construída a seu respeito é vastíssima, e as poucas regras legais
existentes sobre o tema de contratos parassociais neles se concentram 104. De
fat o, desde o início do século XX, a doutrina é abundante e detalhada sobre os
acordos de voto e seus efeitos no direito societário 105.

O voto, ao gerar consequências diretas na vida societária, é fator


natural de atração do direito societário a referidos acordos, o qual impõe
limites de validade, para que esses pactos não possam servir a propósitos

104
Cf . i t e m “ No t a s d e co m p ar aç ã o l e gi sl at i va ” n o Ca p í t u l o 1.
105
Al é m da s o br a s q ue t r a t a m d e a c o r do d e a c i o n i s t a s e , p o rt a nt o e xpl i ca m a s i s t e m á tica
d os ac o r do s d e vot os , cf . G A S T O N E C O T T I N O , L e c on v en z i o n i d i v o t o ne l l e s o c i e tà
c om er c i a l l e , M i l a no , G i u f f r è , 19 5 8; P IE R G I U S T O J A E G E R e F R A N C O B O N E L L I ( c o or d .) ,
S i nd a c at i d i v ot o e s i nd ac a t i di b l o cc o , M i l a no , Gi u f f r è , 19 9 3; M Á R I O L E I T E S A N T O S ,
Co n t r at o s p a r as s o ci ai s e ac o r do s d e v ot o n a s s oc i e d ad e s a nó n i ma s, Li s b o a, Co s m os , 19 9 6;
H A R T M U T L Ü B B E R T , Ab s t i mm un g sv e r e i n ba r u ng e n i n d e n Ak t i en - um Gm b H- Re ch t e n d e r
EW G - St a a t e n, d e r S c h w ei z u nd Gr o βb r i t a nn i en s , B a d e n - Ba d en , No m os , 1 97 1 ; C H A R L E S
F R E Y R I A , Ét u d e d e l a ju r i s p ru d e nc e s ur l e s c on v en t i o n s p o rt a nt at t ein t e a l a li b e rt é d u
v ot e d a ns l e s s o c i é t és , i n R e vu e t r i m e s t r i e l l e d e d r o i t c o m m e r ci al , n. º I V, 1 95 1 , p p . 41 9 -
4 37 ; J O A Q U IM G A R R I G U E S , Si n d i c at os d e Ac c i o ni s t as , i n R e vi s t a d e D e r e ch o M e r ca n t i l , n. º
5 5, J a n e i r o – M ar ç o , 1 95 5 , pp . 9 1- 10 7 . G I O R G I O S E M IN O , I l p ro b l e ma d e l l a va l i di t à d ei
s i n da c at i d i vo t o , Mi la no , Gi u f f r è , 2 0 03 ; R A Ú L V E N T U R A , Ac or d o s d e v ot o : al g u mas
q ue s t õ e s de p oi s d o Có d i g o da s S oc i e d ad e s Co me r ci ai s ( C S C , ar t . 17 º ) , i n Est ud o s v á r i os
s o br e s o ci e d a de s a nô n ima s : c om e n t á r i os a o Có di g o da s S oc i e d a de s Co me r c i ai s, Co i m b r a,
Al m e d i n a, 19 9 2, pp . 7 - 1 01 ; V A S C O D A G AM A L O B O X A V I E R , A va l i d a de d os s i n d i c at os d e
v ot os n o di r ei t o p or t u guê s c on s t it u í d o e co n s ti t ue nd o , i n Re vi s t a da O r de m d o s Ad vo gad o s
P or t u gue s e s 3 ( d e z. 19 8 5) , p p . 63 9 -5 3; AA V V ., T r av a ux d e L ’ a s so c i a t i o n He n r i Ca pi t at
p ou r l a Cu l t u r e J ur i di q u e Fr a nç a i s e , T . X - L es c o n so r t i u ms d 'a c t i o nn a ir e s e t l a p r ot e c t i on
d es mi n or i t és da n s l e s s o c i é t é s a no n ym es ( J o u r né e d e B er n e ) . Ve n t e à t e mpé r a m e nt
( J ou r n é e de N eu c ha t e l ) , P a r i s , Li b r a r i e Da l l o z , 1 95 6 .
45

indesejados, conforme os preceitos de cada ordenamento jurídico 106, sobretudo


aqueles ligados à regulação do mercado de capitais.

Com relação às demais espécies de acordos extraestatutários ou


parassociais, a multiplicidade de conteúdos que podem apresentar em
decorrênci a dos diversos interesses que as partes procuram com eles tutelar
dificulta que sejam agrupados em uma única cat egoria jurídica, sendo que,
como adiante ver-se-á, esses outros ajustes não são examinados em
profundidade na perspectiva de sua função no relacionamento societário
existente entre os pactuantes.

Pouco se comenta, em sede doutrinária, sobre as variadas formas de


contratos parassociais que não se identificam com acordos de voto. No mais
das vezes, os autores enunciam e explicam as principais modalidades desses
pactos sem, contudo, proceder ao exame sob o contexto da relação em que se
fundam.

Por essa razão, a presente tese tem como objeto de análise, os pactos
parassociais voltados exclusivamente a disciplinar direitos individuais e
patrimoniais de sócios, que ora se convenciona tratar por pactos parassociais
patrimoniais 107 – em oposição, portanto, a contratos parassociais cujas
cláusulas refiram-se a direitos sociais como o voto e temas correlatos, que
afetem a organização da sociedade de forma direta e imediata 108.

106
Cf . , p or e x e m pl o, o § 2 º d o a r t . 1 1 8 da L S A, qu e d e t er m i na q u e os “ a c o r do s n ão p o de r ão
s e r i n vo c a do s pa r a e xi m i r o ac i o n i st a de r e s p ons a bi l i da d e no e xer c í c i o d o d i r e i t o d e vo t o
( a r t . 1 1 5) ou d o p od e r d e co n t r o l e ( a r t s . 1 16 e 1 1 7) ” .
107
Ai n da q ue a e s c o l ha t e r m i n o l ógi c a po s s a s e m o s t r a r r e l a t i va m e nt e i m p e r f e i t a , n ão se
e nc o n t r a n a d o ut r i na o ut r a d es i gn a çã o es p e c í f i c a p a r a o s u b c on j u nt o de a j u s t es q ue se
p r oc u r a e s t u d ar , d e n t r o d o a m p l o co n j un t o do s pa c t o s pa r a s s oc i a i s . P or o u t r o l a d o , nã o
p ar e c e n do i gu a l m e nt e c or r e t o de i xa r d e i nc l u i r o t e r m o p a ra s s o ci ai s p ar a de s i gn a r o s
c on t r a t o s e m e xa m e , o p t ou -s e po r q u a l i f i c á-l o u t il i za n do a m e s m a di s t i nç ã o en t r e d i r e i t o s
p ol í t i c os e pa t r i m o ni a i s de qu e s e va l e a Le i n . 6. 40 4 / 76 pa r a e vi d e n ci ar a s di f e r e n t e s
p r er r o ga t i vas co n f e r i da s a o s a c i on i s t a s .
108
Co m o a c i m a s e a p o nt o u L U I G I F A R E N G A , n a m e s m a l i n h a, d es i gn a e s s e gr up o de
c on t r a t o s c o m o c o nt ra to s pa r as s o c i ai s e x t r a sso c i a i s ( c o n t r a tt i pa r a s oci al i e xt r a s oc i a l i ) ,
c on s i d e r an d o qu e nã o g e r a m e f e i t o s so b r e a o r ga n i z a çã o da s o ci ed a de , m as a p en a s s ob r e
d i r ei t os i nd i v i d uai s d os s ó c i o s , e m op o si ç ão à q ue l e s q ue d e si gn a m c on t r a t os p a r as s o ci ais
46

Dito de outra maneira, os ajust es de que ora se ocupa dizem respeito,


portanto, a posições patrimoniais e individuais (i.e., não políticas) de seus
celebrantes, em oposição aos “contratos parassociais organizativos”, os quais,
rel acionando-se a direitos políticos do acionista, possibilitam a int erferência
direta na organização e funcionamento da companhia (e, com isso, mais
diretamente se verifica a sua suj eição ao direito societário).

Por óbvio, forçando-se a análise, mesmo o direito de voto tem conteúdo


patrimonial, no sentido de que seu exercício pode gerar vanta gens ou
desvantagens para a companhia e para acionistas. Todavia, uma vez presente a
proibição de negociação de voto 109, os acordos que o tem por objeto são
encarados sob a perspectiva de seu caráter de direito político do acionista. De
outro lado, é evidente que os acordos patrimoniais são mais frequentemente
acompanhados de acordos de voto que possibilit am sua concreção perante a
companhia. Todos eles servem, como se viu, para ajustar a relação societária
aos desígnios dos celebrantes.

Com a designação pactos parassociais patrimoniais, é preciso


esclarecer, ainda, que não há a pretensão ou o intuito de apresent ar rol
completo de todas as suas manifestações ou mesmo detalhar o regime
aplicável a cada um deles 110.

s t r i ct o se n s u , ca p a ze s d e p r o du z i r e f ei t os s o br e a or ga n i z a ç ã o d a s o c i e d ad e ( a co r d os d e
vot o e d e ad m i n i s t r a ç ã o , po r e xem p l o ) ( I c o nt r a t ti pa r as o c i a li , M i l a n o , Gi u f f r è , 1 98 7 , p p .
2 24 -2 5) . O pt o u -s e p o r nã o ut i li z ar a m e s m a e xp r es s ã o , po i s s e en t e n de a l go t a u t o l ógi c o
c ha m á -l o s a o m e s m o t em p o p a r as s o c i ai s e e x t r a ss o c i ai s . Fi c a r e gi s t r a d a, d e q u al q u e r
m a ne i r a , a p r o xi m i da d e de c o nc e i t o s . J á na cl a s s i f i c a çã o pr o p os t a p o r O P P O , o s c on t r a t o s
d e q u e s e o cu p a r á s ã o aq u e l e s p r e vi s t os n o s gr u po s “ a” ( c o nt r at os c e le br a d os p o r s ó c i os
c om r el aç ã o a s e u s di r ei t os i ndi vi d ua i s ) e “ b” ( c o nt r at os c e l e br a d o s po r s ó ci o s q ue ge r a m
b en e f í c i o p ar a a so c i e da d e – m a s n ão a l t e r a m o u t ê m o c on d ã o d e a l t e r a r a s u a
o r ga n i z a çã o ) .
109
Có di go P en a l , a r t . 17 7 , § 2 – I n c or r e n a pe n a de d e t e nç ã o , de 6 ( s e i s ) m e s e s a 2 ( d oi s)
a no s , e m u u l t a , o a c i on is t a q u e, a f i m d e ob t e r va nt a ge m p ar a s i ou p a r a ou t r e m , n e go c i a o
vot o n a s d el i be r a ç õ e s d a a s s em bl é i a g e r a l .
110
Co m o be m s a l i e n t ou P rof . F R A N C I S C O S A T I R O p o r oc a s i ã o do e xa m e d e qu a l i f i c a ç ão da
t e s e , e s s es p a c t o s, pe l a c o m p l e xi d a d e q u e e n vo l ve m , en s e j a r i a m c ad a q ua l u m a m o no gr a f i a
o u t es e a s e u r es p e i t o . De i x e -s e vi n c a do , p o r t a nt o , q u e nã o é o i nt ui t o d o t r a b al ho r e a l i z ar
47

Isso não apenas porque é impossível elencar e descrever todos os


ajustes parassociais que a criatividade empresarial pode originar, mas também
porque se tomou por base apenas pactos que, na experiência societária, são
mais frequent es, quiçá típicos 111.

Tem-se, assim, acordos de compra e venda de participações societárias


(incluindo opções de compra e de venda - call options e put options) e
cláusulas de saída conjunta (tag along e drag along rights clauses); acordos
de preferência (first offer ou first refusal rights) ou sobre a transmissibilidade
de ações (como a cláusula de aprovação, “clausola di gradimento”, “clause
d’agrement”); acordos de não-concorrência, permanência na sociedade (lock
in) e não-restabelecimento e acordos prevendo prestação acessória com
conteúdo patrimonial, incluindo obrigações de capitalização e financiamento,
fornecimento e transferência de tecnologia, prestação de serviços ou
conferênci a de bens em favor do empreendimento comum.

Esses ajustes, já se apontou, são comumente celebrados em momento


anterior à constituição da sociedade ou ao ingresso de determinado sócio
como parte do relacionamento societário, no bojo de acordos de associação,
investimento ou joint venture. Nesse sentido, são mais frequentemente
firmados por todos os sócios que se lançam em um empreendimento comum.

A nota unificadora desses variados pactos reside na incidência sobre a


esfera patrimonial dos signatários, seja ela presente ou futura, mediata ou
imediata, e o objetivo deste trabalho seria então, partindo dessa constatação,

o u p r e t e nd e r t am a n h a f a ç a nh a : r e un i r e m a p e n a s um a t e s e de do u t o r am en t o o q ue s e r i a
o bj e t o d e vár i as de l a s .
111
É po s s í v e l a f i r m a r , c o m O P P O , q u e o s p a ct os p a r a s s oc i a i s s ã o d em o n s t r a çã o do
f e nô m e n o d a t i p i c i d ad e s oc i a l q u e nã o po d e se r d e s co n s i d er a d o p e l o i n t é r pr e t e ( “ a qu e s t o
p un t o no n è es a ge r at o p a r l a r e d i u n a c e r t a t i p i ci t à s o ci a l e d el f e no m e n o: ti pi c it à c h e no n
p uò e s s er e i gn or a t a o s ot t ova l u t a t a da ll ’ i nt e r p r e t e ” Le c on v e nz i o n i p ara s oc i a l e tr a di ri t to
d el l e o bb li g a zi on i e d ir i tt o d e ll e s o ci e t à , c it ., p . 51 9 ) . Con f o r m e a s s i n al a P A U L A A.
F O R G I O N I , c om es c ó l i o e m B O B B I O , “ [ a] pr á t i c a r e i t e r a d a e di s s e m i n a da d e a t o s dá o r i g e m a
c om p o r t a m e nt o s s oc i a l m e n t e s t í pi c o s ou à “ t ip i c i d ad e s oc i a l ” e, n e s s e s e n t i do , p od e -s e
vi s l u m br a r c e r t a “ r ac i o n a l i d ad e e s p on t â n ea ” n a f or m a ç ã o d o o r d e n a m en t o j ur í di c o ” ( A
e v ol u ç ã o d o d i r ei t o co me r c i a l ... ci t ., p p . 2 3 7-2 3 8) .
48

apontar elementos de interpretação desses ajustes, considerando que suas


disposições integram a disciplina que as partes de comum acordo escolheram
para reger seu relacionamento societário.

7. Inovação de perspectiva

Tradicionalmente, os direitos patrimoniais e, sobretudo, o direito de


propriedade, revelam-se como referências da autonomia contratual, e,
portanto, sua submissão ao direito societário e seus princípios seria
controvertida, se tomada posição ligada ao individualismo contratual 112.

Talvez por essa razão, em que pese sua relevância na atual vida
empresarial, os pactos parassociais que ora se designa “patrimoniais” não têm
sido estudados de forma sistemática sob a perspectiva da lógica própria que
informa o relacionamento societário, repetindo-se o simples argumento de
que, dizendo respeito a direitos patrimoniais dos sócios e sendo autônomos do
estatuto social, seriam regidos pela teoria geral dos contratos – o que não
implica, entretanto, que estejam como que imunes ao regramento societário, a
salvo da incidência de suas re gras cogentes e de seus princípios.

112
Co n vé m j á r ep r o du z i r a l i çã o d e M E N E Z E S C O R D E I R O q ue m u i t o i n f l u e nc i a o s a r gu m e ntos
d es t e t r a ba l h o, c om r e l a çã o à a i n da f r eq u e n t e “ i n s e ns i b il i d a d e” n a c o ns i d e r a ç ã o d e
a s pe c t o s co m o a l e a ld ad e n as r e l a ç õe s e nt r e p a r t i c u l a r es : “ [ o ] l i b e r al i s m o e as
c od i f i c a ç õ es d el e t r i b u t á r i a s f o r a m po u co s en s í ve i s , no i ní ci o , à i de i a de l e a l d ad e . D e
r e s t o , i s s o s u ce d e u, em ge r a l , c o m o s c o n ce i t os i n d et e r m i n a d os q ue p os t u l a va m
o r de n a m en t o s a l a r g ad o s p ar a al é m do j us po s i t um . Ao s c i d a dã o s e r a m r e c on h ec i d o s
d i r e i t o s q u e el es e xer c e r i a m c o m o b e m l h es p a r e ce s s e . Ap e na s e r a d e v i da o be d i ê n ci a a o s
c on t r a t o s l i vr e m en t e c e l e br a d os e , n a t u r al m en t e , à l e i . P a r a a l é m d i s s o , nã o h a v e r i a m a i s
“ l e a l da d e s ” e xi gí ve i s ” ( A l ea l d a de no di re i t o d e s o ci ed a de s , i n R e vi s t a d a Or d e m d o s
Ad vo ga do s , d e z/ 2 0 06 , p . 2 ) . Ad e m a i s , s o br e t u d o e m p a í s es d a c om m on l a w, o r e s pe i t o a o
c on t r a t o é e xt r e m o e , p or es s a r a z ão q u e e s c a p a à a ná l i se d e a pl i ca d o r es d e d i r e i t o m en o s
p r ud e nt es , nã o é s al u t a r r e p r od u z i r m i m e t i c a m e nt e o s pa c t o s e co n ven ç õe s i d e a l i z ad o s e m
a m bi en t e i ns t it uc i o n a l t ã o d i st i nt o do b r a si l eir o . Cf . ne s s e p o nt o, L A U R E N T C O N V E R T ,
L ’ i mp er a t i f e t l e su p pl ét if … p . 50 1 e s s ( “ en A n gl e t er r e, l ’ i m p e r at i f c or r e s p on d e n e f e t a u
r e s pe c t d e l a l i b er t é c o n t r a ct ue l l e , t a n d is qu e le s u pp l é t i f i n t é r e s s e l ’ ap p l i c a t i o n e f f e c t i ve
d e l a l oi l égi f é r é e . C’ e s t l e c o nt ra t q u i e s t ob li ga t o i r e pl u s q ue l a d i s pos i ti on l é g al e . Le s
c on v e t i o ns d o i ve n t ê t r e r e s pe c t é e s pa r l e j u g e e t p a r l e l é gi s l a t e ur . La vér i t a bl e l o i e s t e n
c on s é qu e n ce d’ e s s e nc e c o n t r a ct u e l l e pl u s q u e p ar l em e n t a i r e . La f o r c e o bl i ga t o i r e d e s
c on v e nt i on s s e po s e en c o ns é q ue n c e e n d es t e r m e s d i f f é r e nt s d e c eu x qu i p r é va l e n t s u r l e
Co n t i n en t ” . G r i f o u -s e ) .
49

Para que sejam válidas, soluções contratuais não podem afrontar ou


distorcer os fundamentos do direito societário, demandando do intérprete e do
aplicador do direito o domínio dessas bases e a reflex ão sobre o modo pelo
qual forjam a liberdade contratual. Esse controle é tarefa árdua tendo em vista
a criatividade dos indivíduos, a multiplicidade das necessidades que, sempre
mais, surgem no mercado e as maneiras nem sempre evidentes pelas quais
podem corromper as relações societárias e/ou afetar os alvos de tutela do
direito societário. O sigilo desses contratos e sua frequente submissão à
arbitragem costuma dificultar, por outro lado, sua análise 113.

São raros, assim, os estudos que, para além das discussões específicas
sobre acordos de voto, tratam de contratos celebrados no bojo de um
rel acionamento societário e que compõem aquele conjunto ne gocial complexo
a que antes se referiu. Como já se mencionou, não se encontrou, no Brasil,
obra em que essa perspectiva seja adotada e as respectivas conclusões sejam
enunciadas com esse específico propósito 114.

No Brasil, a discussão centra-se no acordo de acionistas e nas


particularidades relativas a essa forma de contrato parassocial, prevista
expressamente no art. 118 da Lei n. 6.404/76 para a disciplina (i) da compra e
venda de ações, (ii) do direito de preferência em adquiri-las, (iii) do exercício
do direito de voto e (iv) do exercício do poder de controle 115.

Por consequência, a maioria dos estudos acadêmicos brasileiros sobre


acordos de acionistas gira em torno (i) do caráter taxativo ou enumerativo do
rol de matérias previstas no art. 118 da lei, bem como dos efeitos de uma ou
outra posição no plano da validade; (ii) da execução específica prevista no

113
Co n s ul t ou -s e t a m b é m , s e m ê xi t o, os an u á r i os da I C C ( I n t e r n at i on a l C ha m b e r of
Co m m e r c e) de P a r i s , e m q u e de c i s õ es ar b i t r a i s sã o p ub l i c a d as .
114
Os p a r e c er e s c om p i l a d os p e l o P r of . F A B I O K O N D E R C O M P A R A T O e m N ov o s En s ai o s e
Pa r e c er e s d e Di r e i t o Emp r e s ar i a l , ci t ., s ã o d aq u el es p o uc o s t e xt os e m q u e o m es m o vi é s é
o bs e r v a do . Nã o s e e n c o n t r o u , po r é m , o b r a q u e co m p i l a s s e as c o nc l u s õ es q u e d e l e s po d e m
s e r e xt r aí do s p ar a a t e or i a ge r a l d o di r e i t o s o c i e tá r i o .
115
I n s er i do p e l a Le i n . 1 0 . 3 03 / 2 0 01 .
50

mesmo arti go; (iii) de considerações sobre sua eficácia e oponibilidade a


terceiros; (iv) de sua rescisão, resilição ou denúncia; bem como de temas
específicos dos acordos de voto 116.

Como pano de fundo à discussão desses principais temas ligados aos


acordos de acionistas fica a afirmação superficial de que eles – como também
outros contratos entre acionistas cujas matérias extrapolam as previ stas em lei
– são regidos pelo direito geral das obri gações.

A ênfase em afirmar a submissão dos contratos parassociais ao direito


geral das obri gações e à teoria geral dos contratos, contudo, foi feita por O P PO
para salientar a distinção entre esses contratos e os estatutos e contratos
sociais, tendo em vista os ditames específicos direcionados a esses últimos
pelo direito societário e não de modo a afastar sua relevância no contexto
societário vivido pelas partes 117.

Sem refletir sobre esse ponto, permite-se que se obtenha impressão –


não devidamente contestada na doutrina brasileira 118 – de que os contratos
parassociais, porque distintos do contrato social e, sobretudo, quando não
tratam das matérias previstas no art. 118 da lei acionária brasileira, não
seriam sujeitos à disciplina societária, com o que não se pode razoavelmente
concordar.

116
A d e s p e i t o d a e vi de n t e r el e vâ n c i a de t a i s qu e s t õ es , i m p o r t a d e s de j á f r i s a r q u e sua
a ná l i se s e r á a q ui em pr e e nd i d a a pe n a s de f o r m a a n ci l a r , q ua n do a s s i m s e m o s t r a r ú t il p a r a o
d es e n vol vi m e n t o d a t e s e. O e s f or ç o d e s t e e s t ud o é , pr e c i s a m e nt e, l a n ça r l u ze s so b r e
p r ob l e m a q ue e s c ap a à q u e l e s t i p i ca m e n t e a bo r d ad o s pe l a d o ut r i na p át r i a no q ue t a n ge a o s
c on t r a t o s p a r as s o c i a i s .
117
Cf . i t e m 4 .2 , Ca p í t u l o 4 .
118
Na m a i o r i a da p r od u ç ã o d ou t r i n á r i a s o br e o a ss un t o , o s j ur i st as n ã o es c l a r e c e m co m o o
d i r e i t o s o ci et ár i o de ve i n c i di r s o br e c o n t r a t os pa r a s s o ci ai s , va l en d o - se d e e xp r es s õ e s
va g a s . P or e xe m pl o, vi d e a o bs e r va ç ã o de F A B I O K O N D E R C O M P A R AT O : “a va l i d a de d e t a i s
n egó c i os e r a , e nt ão ( a nt es d a Le i n. 6.4 0 4/ 76 ) , c o m o a i n da é ho j e , s ubm e t i da à s n o r m a s
c om u n s do di r ei t o p r i v a do , a pa r da s r e gr a s ge r a i s do di re i t o s o ci et ár i o ” ( Ef i c á c i a d o s
a co r d os de ac i o n i s t as , i n N ov o s e n s ai o s e pa r e ce r e s d e d i r e i t o e mp r es a r i a l , Ri o d e
J a ne i r o , F o r e ns e , 1 9 81 , p . 76 . Gr i f ou -s e ) .
51

Por consequência, ajustes parassociais que não se enquadram no rol de


matérias previsto em lei, ou mesmo aqueles que, previstos no art. 118,
refiram-se a direitos individuais dos sócios (e.g., compra e venda de ações),
acabam por não receber a devida análise e interpretação sob a perspectiva do
direito societário, podendo levar a resultados não acurados 119.

Faz-se necessário, assim, examinar o modo pelo qual o direito societário


impacta os pactos parassociais patrimoniais no direito brasileiro, propondo
pautas para sua interpretação em consonância com seus princípios e
fundamentos e com a relação societária desejada pelas partes ao celebrá-los.

Para que o direito societário cumpra seu papel de oferecer ao mercado


instituições com um padrão mínimo de aceitação, conferindo se gurança
jurídica e viabilizando as relações entre os vários agentes econômicos, é
imprescindível verificar essa sempre mais complexa realidade negocial
formada pelos pactos parassociais patrimoniais que, ao intérprete menos
atento, poderia ser tida por mero conjunto de contratos entre particulares
(i.e., sem qualquer relevância para a disciplina societária) 120.

Mais que simplesmente revisitar a posição de O PP O – e dos demais


autores que trataram dos pactos parassociais - ou mesmo discuti-la, urge tomá-
la como apenas um ponto de partida para, avançando, examinar os pactos
parassociais patrimoniais considerando sua função na disciplina do
rel acionamento entre as partes que se associam em sociedade e, com isso, sua
interpretação sob a égide do direito societário.

119
Re a l i z a da p e s q ui s a n a j u r i s pr ud ê nc i a p á t r i a, ve r i f i c o u -s e a e s c a ss e z d e d ec i s ões
j u di ci ai s q ue i nd i q ue m a a p l i c aç ã o d o d i r e i to s o ci et ár i o a c on t r a t o s p a r a ss o c i a i s . Os
j u l gad o s l o ca l i za d os ap e na s t an gen c i a m o p r ob l e m a , n ã o e n f r e nt an d o cl a r a m e n t e a qu e s t ã o.
P ar a a s po u c as e xc eç õ e s, cf . a a n á l i s e pr e s e n t e n a s e çã o A N Á L I S E S J U R I S P R U D E N C I A I S , a o
f i n a l d o pr e s e nt e t r a ba l h o .
120
Es s a p os i ç ã o é, de c e r t a f or m a, r es u l t a n t e da t r a n s po s i ç ã o e xa ge r a d a d e n oç õ e s ob t idas
e m r e gi m e s de c o m mo n l a w p a r a a r ea l i da d e br a s i l e i r a .
52

8. Plano da Tese

Diante do exposto, o cerne do trabalho reside na anál ise de elementos


para a interpretação dos contratos parassociais patrimoniais no direito
brasileiro, baseados nos princípios que informam nossa disciplina societária e
a lógica própria dos relacionamentos societários em que esses pactos são
celebrados.

Apresenta-se, então, considerações sobre o histórico da contratação


parassocial (Capítulo 1), a caracterização dos pactos parassociais patrimoniais
e sua função econômica (Capítulo 2), além da análise de sua disciplina
jurídica no direito brasil eiro (Capítulo 3).

No capítulo 4, examina-se possíveis elementos para a interpretação dos


pactos parassociais no Direito brasileiro adotando-se a perspectiva eleita e
apresenta-se al gumas conclusões para a tese ora sustentada.

Nesse sentido, parte-se das regras t radicionais de interpretação,


passando pelo exame de elementos que sustentam a lógi ca societária, e por
alguns elementos geralmente apontados pela doutrina para indicar os limites
da autonomia contratual no direito societário, examinando-se, ao final, a
necessidade de respeito aos alvos de tutel a do direito societário.
53

1 - HISTÓRICO DA CONTRATAÇÃO PARASSOCIAL

S U M Á R I O : 1 . 1 - P o n d e r a ç õ e s i n i c i a i s : d i s ci p l i n a s o c i e t á r i a c en t r ad a
n o c o n t r a t o d e s o c i ed a d e e n a c a r a c t e r i z a ç ã o d o s t i p o s s o c i e t á r i o s 1 .2
- E v o l u ç ã o n o d i r ei t o b r a s i l e i r o 1 .2 .1 - C ó d i g o C o m er ci a l d e 1 8 5 0
1 .2 .2 - F i n a l d o s é c u l o X IX e c o me ç o d o X X : l ei s a c i o n á r i a s
b r a s i l ei r a s e a p r o l i f e r a ç ã o d o s s i n d i c a t o s d e v o t o 1 .2 .3 - O s
c o n t r a t o s p a r a s s o c i a i s s o b a d i s c i p l i n a s oc i et á r i a d o D ec r e t o- L ei n .
2 6 2 7 / 4 0 1 .2 . 4 - L e i n . 6 . 4 0 4 / 7 6 : ed i f i c a ç ã o d e n o v o s i s t e ma d e
d i r ei t o s o c i e t á r i o b r a s i l e i r o a) c o n t ex t o b ) P os i ç ã o d e v a n gu a r d a :
p r e v i s ã o l e ga l d e a c o r d o s d e a c i on i s t a s n o a r t . 1 1 8 d a L ei 6 . 4 0 4 / 7 6 .
c ) R ed a ç ã o o r i g i n a l d o a r t i g o 1 1 8 d a L ei 6 .4 0 4 / 7 6 d ) A l t e r a ç õ e s n o
a r t i g o 1 1 8 p el a l e i 1 0 . 3 0 3 / 2 0 0 1 1 .2 .5 - P a c t o s p a r a s s o c i a i s e
d i s c i p l i n a d o C ó d i g o C i v i l 2 0 0 2 1 .3 - N o t a s d e c o mp a r a ç ã o
l e g i s l a t i v a 1 . 4 - C on c l u s õ e s .

1.1 - Ponderações iniciais: disciplina societária centrada no contrato de


sociedade e na caracterização dos tipos societários

Ao se analisar a história das sociedades comerciais, nota-se que a


utilização de contratos parassociais é relativamente recente, não tendo sido,
via de re gra, contemplada nas legislações.

De fato, apenas a partir da se gunda metade do século XX é que a


doutrina sobre o tema foi se consolidando e ordenamentos como o Brasil
(1976) e Portugal (1986) passaram a contar com algumas regras específicas
sobre contratos parassociais.

Antes de se passar a um breve excurso históri co sobre a evolução


legislativa e doutrinária da questão, com a simples finalidade de oferecer ao
leitor panorama do cenário em que os argumentos da tese foram colhidos,
cumpre lembrar que até o início do Séc. XX a sociedade foi tida,
essencialmente, como um contrato 121. Natural, portanto, que as primeiras
legislações elegessem esse contrato como centro da disciplina societári a 122.

121
De f a t o, o s u r gi m en t o d a p e r s on a l i d a de j u r í d i c a , de u m l a do , e o de s e n vo l vi m e nt o d as
c om p a n hi a s , d e o ut r o , é q u e a o s p ou c os f o r a m p er m i t i n do a vi s ão d a s oc i e d ad e c om o u m a
i n s ti t ui ç ão q u e ul t r ap a s sa o co n t r a t o qu e l h e d á or i ge m . N es s e s e n t i d o, M E N E Z E S C O R D E I R O
a po n t a , co m r e l a çã o ao p er í o d o d e e l a b or aç ã o d o C od e de Co mm e r c e , “ [ a ] do u t ri n a d a
54

Por outro lado, conquanto pareça evidente, deve-se recordar que a


sociedade, vista como reunião de esforços e recursos de um grupo de pessoas
físicas ou j urídicas para um fim econômico comum, prescinde de qualquer
contrato escrito para sua existência.

O que depende de certas condições – dentre elas a celebração de um


contrato/ estat uto com conteúdos mínimos previstos em lei – é a atribuição,
pelo ordenamento jurídico, de características específicas conforme o tipo
societário escolhido 123: a personalidade jurídica e a responsabilidade limitada.

A legislação societária se ocupa de indicar quando e como esses efeitos


jurídicos são autorizados pelo ordenamento e o tratamento que se deve dar à
sociedade que não os ostenta.

Essas considerações podem esclarecer a ausência de manifestações de


contratação extraestatutária/parassocial nos períodos em que, tomadas as

é po c a l ogo a pu r o u q u e a “ s oc i e d a de ” t a n t o d e s i gna va o c on t r a t o d o m e s m o no m e c om o o
“ c or p o m o r a l f or m a d o p o r v á r i o s s ó c i os ” ( Ma n u al .. ., c i t . p. 4 5 ) . C om pl e t o es t u d o da
e vo l u ç ã o d a c on c e pç ã o da s o c i e da d e c om o u m c o nt r a t o , d e s d e o s t e m p os r om a n o s, p od e s e r
e nc o n t r a do e m C L A U D E C H A M P A U D , L e c o nt ra t de s oc i é t é ex i s t e - t - i l e n c or e ? , i n L O Ï C
C A D IE T ( or g.) , L e dr o i t c o nt e mp o r ai n d es c o nt r a t s , P a r i s , Ec o no m i c a , 1 98 7 , pp . 1 25 -3 9.
Nã o s e r e t o m a r á , a q ui , di s c u s s ão s ob r e a c a r a c t er i za ç ã o d a so c i e d ad e co m o co n t r a t o o u
i n s ti t ui ç ã o.
122
Exp l i c a M E N E Z E S C O R D E I R O q u e “[ i ] ni c i a l m e nt e , a s s oc i e d ad e s c om e r c i a i s s u r gi a m nos
c ód i go s de c o m ér ci o , c o m o um co n t r a t o en t r e o ut r os . Ao l on go d o s é cu l o XI X e d o s éc u l o
XX, el as ga nh a r a m um a p r o j e cç ã o qu e o br i go u a m ú l t i pl a s i n t e r ven ç õ es l e gi s l a t i va s e q u e
p os s i b ili t ou s éri os a l a rga m e n t o s d o ut r i ná r i o s e j u r i s p r ud e n ci ai s. D esp r e n de r a m -s e e n t ã o,
d a ve r t e n t e c o op e r at i va , da n d o a z o a c i r c un s t a n ci ad a s o r ga n i z a çõ e s j u r í d i c a s.
P r ogr e s s i va m e n t e , a m a t é r i a f oi r e ti r a da do s c ó di go s d e c om ér c i o , su r gi n do e m l e is
e xt r a v a gan t e s ” ( Ma nu a l d e di r e i t o d a s s oc i e d ad es , c i t . , p . 4 5 ) .
123
Na e vol uç ã o d a s f o r m a s s oc i e t á r i a s , o r e c o nh e c i m e nt o d e r e s t r i ç õ es à r e gr a ger a l da
r e s po n s ab i l i da d e il i mi t ad a d o s s ó c i os n a s ce u co m o um p r i v il é gi o, d u ran t e o p e r í o do e m
q ue a s c o m pa n hi as – f u n da d a s so b r e a r e sp o ns a b i li d a de l i mi t a da d o s a ci on i st a s –
d ep e n di a m , j u s t a m en t e , d e c on c e ss ã o p a r a e xi s ti r e m . N o c ur s o d o sé c ul o XI X, m u i t o
e m bo r a a c on s t i t ui ç ã o da s c om pa n hi a s n ã o m a i s d e p en d es s e d e ou t o r ga d e a ut or i z a ç ã o p o r
p ar t e do Es t ad o , e l a s s om e nt e s e r i a m l e ga l m e nt e r ec o n he c i d as se o e s t a t u t o e a or ga n i z aç ã o
d a s oc i e d ad e a t e n de s s e m a c on d i ç õe s e s t a be l e c i d a s e m l e i e s u bm e t i d a s a r e gi s t r o e m ór gã o
e s t a t a l . Cf . a s í nt es e de K L A U S J . H O P T a r e s p ei t o e m G e s t al t un g sf r e i he it i m
Ge s e l l s c ha f t s r e c ht im Eu ro p a – Ge ne r a l be r i c h t in Ge s t a lt u n gs f r ei h e i t im
Ge s e l l s c ha f t s r e c ht - Z GR S o nd e r he f t 1 3 - or g. M A R C U S L U T T E R e H E R B E R T W IE D E M A N N ,
W al t e r de Gr u yt e r , B e r l i n , 1 99 8 , p .1 24 .
55

formas preponderantes de sociedade, inexistia sequer a necessidade de


contrato escrito/estatuto para regular o relacionamento entre os sócios.

Por consequência, tudo o que fosse necessário acrescer ou alterar à


disciplina concordada, ou ainda complementar à regra legal, poderia ser
pactuado e repactuado (verbalmente) entre os sócios, sem que a questão da
parassocialidade fosse levantada, muito embora, na prática, já ocorresse.

Em outras palavras: só faz sentido falar em contratação parassocial ou


extraestatutária a partir do momento em que (i) as regras sobre a necessidade
ou a imposição de elaboração de um estatuto, bem como sobre outros aspectos
da vida societária foram se tornando mais presentes nas legislações e
adquirindo caráter cogente, reduzindo e autonomia das partes na organização
da sociedade 124 e, de outro lado, (ii) a complexidade da vida negocial passou a
gerar novos interesses na relação societária 125- 126, especialmente no decorrer
do último século.

124
Qu an t o m a i s a l e gi s l a ç ão e nr i j e ce a ut i l i z a çã o de d e t e r m i na n d o i n s t i tu t o , c om i nt ensa
r e s t r i ç ã o da a u t on o m i a c on t r a t u a l , é n a t u r a l q ue a s p a r t e s bu s q ue m f o r m a s a l t e r n at i va s p a r a
a l c a nç a r o m e s m o o b j e t i vo. No c a s o e s pe c í f i c o e m d i s c u ss ã o , q u a nt o m ai s o d i r e i to
s o ci e t á r i o f o i s e t or n a ndo d et a l h a d o e c om p l e x o, r es t r i ngi n do a a ut o n o m i a d e r e da ç ã o d o
e s t a t ut o s oc i a l , o i nt e re s s e d a s p a r t e s e m c o n t r a t a r a r e gul a ç ã o d e s e us i n t e r e s se s e m
c on t r a t o s p ar a l e l o s a ume n t o u c o n s i de r a vel m en t e . N o d i z e r de S O P H I E S C H I L L E R , “ [ p ] l u s l e
d r oi t d e s so c i é t é s e st or ga n i s é pa r d e s r è gl es p r éc i s e s , p l us l a li b e r té c o n t r a ct u e l l e e st
u t il i s é e ” ( Le s l i mi t e s d e l a l i b e rt é… , ci t ., p . 3) .
125
C E LS O B A R B I F I L H O a po n t a a d i ve r si da d e d e i n t er e s s e s no s e i o d a co m p a nh i a c om o a
m a t r i z h i st ó r i c a d a n e ce s s i d a de d e c e l e b r aç ã o d e p ac t o s p a r a s so c i a i s . Cf . Ac or d o d e
Ac i o n i s t a s, De l R e y, B e l o Hor i zo n t e , 1 9 93 , p .2 1 .
126
O f e nô m e no é be m c o m p r e e nd i d o e s i n t e ti z a do p or D A I G R E e S E N T I L L E S - D U P O N T : “Os
p ac t o s d e a c i o ni s t a s n a s c er a m e s e d es e n vo l ve r am a o s ab o r d a s c i r c un s t â nc i a s . Se u
d es e n vol vi m e n t o p r o vé m , p e l o e s s e n ci al , da c on c e nt r a ç ã o d a s em pr e s a s , da r e s t r u t u r aç ã o
d os gr u po s , d a c o op e r aç ã o e nt r e a s s o c i e da d e s , d a di l u i ç ã o do c a p i t a l d os gr a n d e s gr up o s e
d a d i ve r s i f i c a ç ã o da s f on t e s d e f i n a n ci am e n t o d a s e m p r es a s , gr a n d e s ou m é d i a s , qu e
a pe l a r a m m a i s e m a i s a o s a po r t e s e m f u n do s p r óp r i o s ” ( “ Le s p a c t e s d ’ a c t i on n a i r e s s on t n és
e t s e s o n t d éve l o pp é s a u gr é de s c i r c o n st a n c e s . Leu r d é vel o p pe m e n t p r o vi e n t , po u r
l ’ e s s e nt i el , d e l a c o n ce n t r a t i o n d e s e n t r e p r i s es, d e l a r e s t r u c t u r at i on de s gr ou p es , d e l a
c oo p é r at i on en t r e l e s so c i e t és , d e l a d i l ut i on du c ap i t a l d es gr an d e s gr ou p e s e t de l a
d i ve r s i f i ca t i o n de s s o urc e s d e f i na n c e m e n t d es e n t r e pr i se s , gr a n d e s o u m o yen n e s, qu i o nt
d e pl u s e n p l us f ai t a pp e l a u x ap p o r t s e n f o n ds p r o p r es ” . P a c t e s d’ Act i on n a i r e s, c i t ., p. 2) .
56

1.2 - Evolução no direito brasileiro

1.2.1- O Código Comercial Brasileiro de 1850

O Código Comercial Brasileiro, de 1850, cuidava das “companhias de


comércio ou sociedades anônimas” em seus arts. 295-99, tendo por modelos os
códigos francês 127 e português 128.

Uma peculiaridade, porém, fez com que o diploma influenciasse


sobremaneira o tema dos contratos parassociais no direito brasileiro, ecoando
até hoje: o art. 302 previa expressamente a nulidade de “[t]oda a cláusula ou
condição oculta, contrária às cláusulas ou condições contidas no instrumento
ostensivo do contrato”.

Não obstante toda a construção doutrinária que se se guiu, sobretudo a


seminal obra de G I O RG I O O P PO tratando dos termos da relação de

127
As pr i m ei r as c o di f i c aç õ e s do s é cu l o XI X l a n ç ar a m m o d el o l e gi s l a t i vo, co m r e l a ç ã o ao
d i r e i t o s o ci e t á r i o , cu j o s r ef l exo s s ã o s en t i d o s a t é o s n o s so s di as . O C od e Na po l é o n, d e
1 80 4 i nt r o d uz i u a di s c ip l i n a do co n tr a t o d e s oc i e da d e , e o Co d e d e C om m e r c e de 1 80 7
t r o uxe a di s ci p l i n a d e 3 t i p o s de s o c i ed a d e: em n o m e co l e t i vo , e m c om a n di t a e s o c i e da d e
a nô n i m a , s em p r e en f a t i z a nd o a s c ar a c t e r í s t i c a s m í ni m as q ue e s sa s s oc i e d a de s de ve r i a m
o s t en t a r p ar a q ue f i z e s s em i n c i d i r o r e gi m e l e ga l . A d i s c i p l i n a l e ga l da s s oc i e d a de s f oi
o r i gi na l m e n t e f o r j a da , p o r t a nt o, pe l o c on t r at o de so c i e da d e e pe l a s n ot as c a r ac t e r i z a do r as
d os di ve r s o s t i p o s s o cie t ár i o s , bu s c a nd o -s e c on f e r i r t ut e l a a o c on t e úd o q u e a s p a r t e s
c on t r a t a va m c o mo s o c i e da d e . Nã o h ou v e no m o vi m e nt o c o d i f i c a do r , c o m o s e vê, a
c on s t r u ç ão d e um a “ pa r t e g e ra l ” d o d i r e i t o s oc i e t á ri o , q ue s e r vi s s e d e gui a n a
i n t e r pr e t a ç ã o d a s r e l a ç õ es s o ci et ár i a s e i nd i c a s s e p r i n cí pi o s ba si l a r e s qu e de ves s e m s e r
r e s pe i t a d o s i n d ep e n de n t e m en t e do t i p o e s co l h id o, c o m o r e gr am e n t o g e r a l d o f e n ôm en o
a s s oc i a t i vo . Es s a op ç ã o l e gi s l a t i va se r e p l i c ou n os m a i s d i ve r s o s or d e na m e n t o s j ur í d i c o s
i m p a ct an d o o d e s en vol v i m e n t o da d ou t r i n a j u r íd i c a s o c i e t á r i a , b as t an t e c e nt r a d a no s t i p os
s o ci e t á r i o s e n a s q ue s t õ e s a el es co r r e l a t a s . Co n f i r a -s e , a r e s pe i t o , os t óp i c os “O Có di go d e
Co m é r c i o F r a nc ê s ” e “ Fo r m a ç ã o d o r e gi m e l e ga l ” i n A L F R E D O L AM Y F I L H O e J O S É L U I Z
B U LH Õ E S P E D R E I R A , A Le i d as S .A., 3 ª. e d , v o l . I , Re no va r , R i o , 1 9 97 , p . 5 1 a 5 9 e
M E N E ZE S C O R D E I R O , Ma n ua l … , c i t , p. 14 9 -15 0 ( s o br e a u t i li d a de d e u m a pa r t e ge r a l ) e p.
2 32 -2 33 ( s o b r e as co n s e q u ên c i a s p ar a a Ci ê nc i a d o Di r e i t o ) .
128
Ap on t a T R A J A N O D E M I R A N D A V A L V E R D E q ue “ [ o] C ód i go C om e r c i a l , p u bl i ca d o ne sse
a no ( d e 1 85 0 ) , q u e e n t r o u e m e xe cu ç ã o e m 1 º d e j a n ei r o d e 1 85 1 , t e ve co m o m o de l o s , n e m
p od i a de i xa r d e s e r as s i m , o s c ó d i go s f r an c ê s e po r t u gu ê s . Fo i , co mo os pr e c e de n t e s
d i pl oma s , e x c es s i v a me nt e a v ar o no r e gu l a r as s o c i e da d es a nô n i ma s . Ad m i t e a s a ç õ es ao
p or t a d o r , p o r é m d e cl a r a qu e e l a s s e t r a ns f e re m p o r vi a d e ‘ e n dô s s o ’ . F a ci l i t o u, c o m
l i n gua g e m i m p r ó pr i a , i n t er pr e t a ç õe s e r r ô n e a s , s e be m qu e , n o a r t . 2 9 6, m a nt en h a a
d i f e r en ç a en t r e e s cr i t ur a , e s t a t u t os e a t o d e a u t o r i z a çã o . N a d a d i z s ô b r e a r e u ni ã o ou a
a s s em b l é i a d os a c i o ni st as ” ( S o ci e d a de s p or a ç õe s , Vo l . 1 , R i o d e J a ne i r o , F or e n s e , 19 4 1 ,
p . 1 6. D e s t a co u -s e ) .
57

acessoriedade entre contrato social e parassocial, a cominação de nulidade


pelo art. 302 do Código Comercial de 1850 acabou por gerar espécie de
“ranço” sobre a contratação extraestatutária, como que a tornando, prima
facie, suspeita 129.

No momento da contratação, quase sempre é impossível esquadrinhar


todos os aspectos pelos quais algo pode ser tido como contrário “às cláusulas
ou condições contidas no instrumento ostensivo do contrato”. Na dúvida,
inexistindo critérios objetivos para dotar essa interpretação de maior
segurança ou mesmo previsão legal expressa, evitou-se quanto possível a
celebração de contratos diversos do estatuto ou contrato social 130.

1.2.2 - Final do século XIX e começo do XX: leis acionárias brasileiras e a


proliferação dos sindicatos de voto

Após a promulgação do Código Comercial em 1850 seguiram-se leis


específicas sobre sociedades anônimas no direito brasileiro, que, entretanto,
nada previ ram com relação aos contratos parassociais (ou seja, contratos entre
sócios diversos do estatuto social) e, em especial, aos sindicatos de voto que
começavam a despontar também no Brasil.

129
N es s e s en t i d o , i nf o r m a T A V A R E S G U E R R E I R O q u e , “ é f r e qu e nt e o uv i r -s e , de p es s oas
a l h ei as à e xpe r i ê n c i a s oc i e t á r i a c o nt e m p o r ân e a , q ue o s c h a m a d o s a c o r d o s d e a ci on i s t a s , n a
ver d a d e, c o n s t i t u em e x p ed i e n t e m a l i gn o m e r c ê do q ua l s e c on v en c i o na m a j u s t es i l í ci t os ,
p r át i c as a bu s i va s , m an o br a s f r a ud u l e nt a s . Ess a vi s ão do i n s t it u t o , a s si m p r e co n ce i t uo s a
c om o s u pe r f i c i a l , n ã o r a r a s ve z e s ad o t a da p or c e r t o s m i li t a n t e s d o di r ei t o, n ã o a f e i t o s à
e xt r ao r d i n ár i a vi t a l i d a d e c o m qu e s e d e s e n vo l ve e m n os s o s di a s a di sci p li n a j u r í di ca d as
a t i vi d ad e s em p r e s a r i a i s . Re f e r e -s e, ve z ou ou t r a , a a nt i ga a ver s ã o do di r ei t o f r a n c ês a o s
p ac t o s p ar a s s o c i a i s . Tr a z -s e à c o l a ç ão , à gui sa d e r e f or ç o a r gu m e nt at i vo , a p ar t e f i na l d o
a r t . 3 0 2 d e no s s o C ód i g o Co m er c i a l , q u e f ul m i na d e nu l i d a de “ t o da c l á u s ul a o u c o n di ç ã o
o cu l t a , c o n t r á r i a às c l á u s ul a s o u c o n di ç õ e s co n ti d a s n o i n st r um e n t o do c o nt r a t o ( s o ci al ) ”.
i n P r e f á c i o à o b r a d e C E L S O B A R B I F I LH O , Ac o rd o de Aci on i s t a s , ci t ., p . 9 . Cf . , t a m b ém ,
W A L D I R I O B U L G A R E L LI , An o t a çõ e s s ob r e o a co r d o de c o t i s t a s , i n RD M 9 8 , p . 44 e s s .
130
Co m o a di a n t e s e ve r á , e s s a s i t u a çã o p e r du r o u a t é o a d ve n t o da l e i 6.4 0 4/ 76 e f o i mesmo
u m do s m o t i vos q u e l e v a r a m o l e gi s l a d or a p r e ve r e xp r e s s a m en t e o s a c o r d os d e ac i o n i s t a
n o a r t . 1 18 d a l ei . Co m r e l a ç ã o ao s a c or d o s c el eb r a do s e m s o c i e da d es l i m it a d as ,
e nt r et an t o , a L ei n. 6. 40 4 / 76 n ã o f oi s uf i c i e n t e p ar a a p l a c ar as d ú vi da s s o br e a va l i d a de d e
a c or d o d e qu o t i s t a s , c o nf o r m e s e r á a bo r d ad o n o i t e m 1 .2. 5, a ba i xo .
58

A ausência de menções a contrat os parassociais seja nas leis, seja nos


comentários que a elas se fizeram 131, indicam inexistência de preocupação
efetiva, no Brasil, em oferecer disciplina legal específica voltada aos
contratos celebrados com vistas a interesses ínsit os ao relacionamento
societário, mas de forma paralela ao contrato social.

Por outro lado, na Europa, o período foi fértil em discussões sobre


validade dos sindicatos de voto, que experimentavam, então, grande
desenvolvimento 132.

1.2.3 - Os contratos parassociais sob a disciplina societária do Decreto-Lei


n. 2627/40

Paralelamente ao desenvolvimento da teoria de O P P O sobre os contratos


parassociais, em 1942, no Brasil vigia o Decreto-Lei n. 2.627/40, que não
trazia menção expressa e direta à contratação parassocial 133. O único
dispositivo a relacionar-se indiretamente ao tema era o art. 27, que previa a
possibilidade de estabelecimento de limitações à circulabilidade das ações 134.

131
Cf . R E LA T Ó R I O D E P E S Q U IS A ( 2 00 8 -20 1 0) , c on s t a nt e do P r ól ogo .
132
C on f i r m a m D A I G R E e S A N T I L LE S -D U P O N T qu e , t om an d o p or i n d í ci o a j ur i s p r u dê n cia
s o br e c on ven ç õe s d e v ot o do f i n al d e S é c ul o XI X, o s a c o r do s en t r e s óc i o s vo l t a d os a
o r ga n i z a r o c o n t r ol e c om u m de u m a s oc i e d a de f o r a m o s p a c t o s pa r a s s oc i a i s pi o ne i r a m e n t e
a do t a d os . ( “ Ce s o nt t r é s c er t ai n m e n t l e s a c c or d s en t r e a ct i on n a i r es o u gr o up e s
d ’ ac t i on n ai r es d e s t i n és à o r ga n i s e r l e c o n t r ôl e c o m m u n d ’ u ne s o ci é t é o u d ’ u m gr o u pe d e
s o ci é t é s q ui ont f o r m é à l ’ o r i gi ne l es p r e m i e r s pa c t e s d ’ a ct i on n ai r es . La j u r i s p r ud e nc e s u r
l e s co n ve n t i o ns d e vo t e , q u e l ’ o n vo i t a pp a r a î t r e d è s l a f i n du XI X xi èc l e , e n e s t um
i n di ce ” . Pa ct e s … , c i t ., p . 2 ) .
133
I m p or t an t e n ot ar qu e na I t ál i a, n o m e s m o p er í od o , o l e gi sl ad o r d o C od i go Ci vi l d e 1 942
o pt o u d el i be r a d am en t e p or nã o pr eve r n o t ext o l e g al di s p o si ç ão a r e s p eit o d o s s i n da c at i di
v ot o, t e nd o e m vi s t a s u a m u l t i p li c i d ad e , d e c l i n an d o es s a p o s i ç ão n a “ e xp o si çã o d e
m o t i vos ” d o Co di ce C i vi l e , c on f o r m e no t í c i a d e G A S T O N E C O T T I N O ( Le c o nv e n z i on i d i v o to
n el l e s o c i e t á c om me r ci a l i , M i l a n o , G i uf f r é, 1 9 58 , p . 2 0 ) . So m e nt e n a r e f o r m a o p er a d a
p el os De c r e t o s n. 5 e n. 6 , d e 2 00 3 , é q u e a I t á l i a p a s s ou a c o nt a r c o m p r evi s ã o l e ga l so b r e
p ac t o s p a r as s o c i a i s , c u j a e xi s t ê n c i a e i m po r t â n c i a , d ep o i s d e m ai s de 6 0 an o s , c l a m a va p o r
m a i o r s e gu r a nç a j u r í d i ca .
134
Ai n da q ue p r e s en t e s n o e s t a t u t o s o c i a l , a s lim i t a ç õ e s à c i r c u l a çã o d e a ç õe s p od e m s e r
t i d a s co m o pa c t o s p a r a s s oc i a i s d e c o nt eú d o p a t r i m o ni al , no s en t i d o ma t er i al c o n f er i do a
e s s es c on t r a t o s ( G U Y O N p r o f e s sa e s s a o pi ni ã o . Cf . L e s s o c i ét és . .., c i t . p p. 3 1 -33 ) . Nã o
o bs t a n t e , es s e pr i s m a d e a n ál i s e n ã o f o i d e s envo l vi do na oc a s i ã o . A c a r a c t er i za ç ã o d e
p ac t o s c o m o m a t e r i a l m e n t e o u f o r m a l m e n t e e xt r a - e s t a t u t á r i os , s egu nd o o au t o r d e pe n d e d e
59

A doutrina da época, assim, concentrava-se no exame da validade dos


acordos de voto no direito brasileiro, sem tratar de outras hipóteses de
contratos parassociais 135.

Em que pese essas considerações, a prática societária foi recepcionando


ajustes parassociais com conteúdos variados. O pós-guerra e as peculiares
condições econômicas geradas permitiram el evado volume de investimentos
que, em grande parte, traziam consigo a necessidade de disciplinar o
rel acionamento societário de forma mais complexa e sofisticada.

No Brasil, essa fase corresponde à industrialização da economia e às


grandes modificações econômico-sociais que dela decorreram. A partir dos
anos 60, o então BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico)
desempenhou importante papel na disseminação dos acordos de acionistas, ao
vincular o investimento em companhias à sua celebração 136.

De outro lado, o aumento no volume de operações de joint ventures


estimulado pelo crescimento industrial, com a atração de investimentos
estrangeiros contribuiu para a consolidação dos acordos de acionistas na
prática societária nacional, malgrado a ausência de regra le gal específica 137.

s u as d i s p o si çõ e s c o ns ta r e m a p en a s f o r m a l m e nt e n o e s t a t ut o, m a s m a t e r i a l m e nt e n ã o
c or r es p o nd e r e m a cl áu s u l a s e s t a t ut ár i as vol t ada s à o r ga n i z aç ã o e a o f un c i o na m e n t o d a
s o ci e d a de .
135
V. F R A N C I S C O C A V A L C A N T I P O N T E S D E M I R A N D A , T r a t ad o de D i r ei t o Pr i v ad o , T om o L,
S ão P au l o , RT , p . 2 98 e s s ., p a r a hi st ó r i c o d a qu e st ão e a ná l i s e d a s l e gi s l aç õ e s em q u e , à
é po c a , de b a t i a -s e a v a l i d a de do s a co r d os d e vot o. Nã o s e e nc o nt r a n a o b r a d o gr a nd e
t r a t a d i st a b a i a no , en t r e t a n t o, m e n ç ão a o ut r o s c o n t r a t os pa r a ss o ci ai s. M O D E S T O
C A R V A L H O S A r et r a t a e m d e t a l h es o e m b a t e do u t r i n á r i o no d i r e i t o b r as il ei r o, s ob a é gi de d o
De c r e t o-l ei 2 62 7 / 4 0 ( Co me nt ár i o s à l e i d as S oc i e d ad e s Anô n i ma s , 3 ª ed ., S ão P a u l o,
S ar a i va , 2 0 03 , vo l .2 . p .5 14 -5 16 ) .
136
Cf . M O D E S T O C A R V A L H O S A , Co me n t á ri os … , c i t ., p . 5 1 6. C E LS O B A R B I F I L H O , Aco r d o…,.
c i t , p . 3 5.. Me s m o n a Eu r o p a , a a t i vi da d e de i n ve s t i m e n t o em c a pi t a l de r i s c o ( c a pi t al -
r i s q ue ) d e b an c os de i n ves t i m e nt o t a n t o e st at ai s co m o p r i va d o s f oi f at or d e t e r m i n a nt e p a r a
a e xp an s ã o d a ut i l i z aç ã o d i u t u r na d e p a ct os p ar a s s o c i a i s . A r es p e i t o , c f . J E A N -J A C Q U E S
D A I G R E , Pa c t e d ’ a ct i on n ai r es e t c api t al ri s q ue – T y po l o gi e e t a pp r é ci ati on , i n Bu ll e t i n
J o l y So c i é t é s, 1 99 3 , n . 2 , p . 1 5 7 -1 5 8.
137
C A R V A L H O S A r ef e r e a u t il i za ç ã o do s a c or d o s na s j oi n t v e n t u re s , s ob r e t ud o com
p ar t i c i pa ç ã o e s t r a n ge i r a ( C o me n t á r i os , c i t ., p . 51 6 ) . I gu a l m e n t e , L A M Y F I L H O e B U L H Õ E S
P E D R E I R A , A l ei da s S .A, c i t ., p. 91 .
60

A segurança na celebração de acordos de acionistas ou pactos


parassociais, entretanto, não era satisfatória.

De um lado, a ausência de re gra legal explícita permitia que os juízes


ainda se apegassem às teses mais conservadoras sobre as convenções de voto,
determinando a sua invalidade 138. De outro, como referiu-se, o art. 302 do
Código Comercial de 1850 continuava vigente, gerando suspeita sobre
eventuais contratos celebrados para além do estatuto social.

Nesse cenário, junto de muitas outras exigências, houve-se por bem


realizar a reforma do diploma acionário, de modo a torná-lo compatível com a
pujança permitida pelo milagre econômico vivenciado no Brasil no início dos
anos 70.

1.2.4 - Lei n. 6.404/76: edificação de novo sistema de direito societário


brasileiro

a) Contexto

A reforma da legislação societária, que culminou com a promulgação da


lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, teve por objetivo declarado “criar
modelo de companhia adequado à organi zação e ao funcionamento da grande
empresa privada, requerida pelo atual estágio da economia brasileira” 139.

138
A j ur i s p r u dê n c i a no p e r í o do , e n t r e t a nt o, é m í n gu a . Co n f or m e n o t i c i a C E L S O D E
A L B U Q U E R Q U E B A R R E T O , o c a s o “ C a s o I n co t e m a ” ( i n RT 3 5 1, j a n. 19 6 5, pp . 1 7 0 -3 ) , “ [ a ] o
q ue s a i b a m os , é u m d o s po u c os j u l g ad o s d os t r ib u na i s b r a si l e i r os s o b re o t e ma e r e t r a t a a
o r i e nt a ç ã o co n t r á r i a ao s a c or d o s d e a c i o ni s t a s da do u t r i n a e j ur i s p r u dê n c i a f r an c e s as , qu e
s e cr i s t al i z ou n o De c r e t o- L e i f r a nc ê s de 1 93 7 , d ec l a r a nd o nu l o s os r e fe r i do s a co r d os . A
o pi n i ã o do ut r i n ár i a p ost er i o r a o m e n c i on a do ar e st o, q u e é de 1 96 2 , ve i o , e nt r et an t o , s e
f i r m a n do , e nt r e nó s , no se n t i d o d e a d m i ti r , e m p r i n c í pi o , a va l i d ad e d o s a c or d o s d e
a c i on i s t a s , qu e s o f r er i a l i m it a ç õ es , a pe n a s s e o c on t e ú do d e s u as di s p o si ç õe s f o s s e
c on t r á r i o a d i s po s it i vo s l e ga i s e s p ec í f i co s . P e r m a n e c i a a be r t a , c on t u do , a c o nt r o vé r s i a
s o br e a s co n s e qü ê nc i a s j u r í d i ca s d o d e s c um p r i m e n t o d a s ob r i g a ç õe s a s s um i d a s no a c or d o
d e ac i o n i s t a s , val e d i z e r , s o br e a c o er c i b i l i da d e de s u as d i s p o si çõ e s e s eu s e f e i t o s pe r a n t e
a de l i be r a ç ão d a as s e m b l é i a d e a c i on i s t a s .” ( Ac o r do .. ., c i t ., pp . 4 3 -4 ) . A co e r c i bi l i d ad e é
f r e q ue n t e m en t e a po n t a d a c om o a r a z ã o d e t e r m i n an t e da s d i s po s i ç õ es d o a r t . 1 1 8 d a L ei
6 .4 04 / 7 6.
139
Cf . L A M Y F I L H O e B U L H Õ E S P E D R E I R A , A Le i d a s S .A., c i t ., vo l . I , p . 1 3 5.
61

Por consequência, os juristas encarregados da elaboração do


Anteprojeto, ALFREDO L A MY FI L H O e JOSÉ LU I Z BULHÕES P E D R E I RA
esmeraram-se em criar diploma consentâneo com os mais expressivos avanços
no direito societário, inspirando-se, sobretudo, na lei societária alemã de 1965
e em institutos consagrados no direito norte–americano.

Como resultado, deu-se uma revolução no cenário societário brasil eiro,


com a construção de verdadeiro sistema aplicável às sociedades anônimas. Um
todo completo, organizado, cuidando de inúmeros aspectos sobre os quais, até
então, pouco se comentava seja em doutrina que em jurisprudência
nacionais 140.

Ao longo de sua vigência, e em que pesem as alterações pontualmente


realizadas, o sistema previsto na lei das sociedades anônimas foi-se
consolidando e o diploma é frequentemente apontado, como um dos mais
modernos do mundo, tendo em vista a época de sua promulgaç ão.

140
I m p or t an t e n ot ar qu e a Le i 6 .4 0 4/ 7 6 , m u it o e mbo r a t e n ha t r az i d o di s pos i ti vo s ap l i c á veis
a ou t r o s t i pos s oc i e t á r io s , s o br e t u d o c o m r e l a ç ã o à s r e gr a s c on t á b ei s e d e o p er a ç õ es d e
r e e s t r ut ur a ç ã o s o c i e t á r i a , f o i c o nc e bi da c o m o u m a l e i e s p e ci al so b r e s oc i e d ad e s an ô ni mas ,
n ão ha ve nd o a i nt e n ç ã o de cr i ar u m c ó di g o g e r al d e s o ci ed a de s , c om e nu n ci aç ã o d e
p r i nc í p i o s b as i l ar e s a o f e nô m e n o a s s o ci at i vo . A r es p e i t o , L AM Y F I L H O e B U L H Õ E S
P E D R E I R A e s c l a r ec e m o s a r gu m en t o s qu e f u nd a m en t a r a m a de c i s ã o: “ a i n co n ve n i ê n ci a d e
f i c a r e m s uj ei t as à i ne vi t á v el i n f l e xi b i l i d a d e do s c ód i go s s ob r e n or m a s r e l a t i va s à s
s o ci e d a de s em p r e s á r i a s e m ge r al , e , m ui t o e sp e c i a l m e nt e , à s s o ci e d a de s an ô ni m as ; a
i m p o r t ân c i a d a Le i d a s S. A . c o m o i ns t r u m e n t o de p o l í t i c a e c on ô m i c a; a s i gni f i ca ç ã o d a L ei
d as S. A c om o f o r m a d e or ga n i za ç ã o d a gr a n de e m p r e sa , e ss e n c i a l n o pr o c es s o d e
d es e n vol vi m e n t o ec o n ô m i c o b r as i l ei r o, e a n e c e ss i d a d e de s u a i nt e gr a ç ão c o m a l e gi sl aç ã o
q ue di s c i p li n a o s m e r c a do s d e va l or e s m ob i l i á r i o s ; e a c on v en i ê n c i a d e pr e s e r v ar a
f l e xi bi l i d ad e d e ad a p t aç ã o d a l ei à s f r eq u e nt e s t r a n s f or m aç õ e s d e u m a e c on o m i a em r áp i d o
d es e n vol vi m e n t o e d a s ec o no m i a s m o de r n a s , qu e r e ve l a m e vi de n t e t e nd ê n ci a p a r a
h om o ge n e i z a ç ã o d o r e gi m e l e gal , i n co m p a t í vel co m o e s f or ç o de c o di f i c aç ã o , q ue s u põ e a
p er m an ê n c i a n o t e m p o ” ( A L e i d as S . A ., c i t ., vo l . I , p. 1 32 -1 33 ) . C o m o o t e m p o
d em o n s t r o u, e n t r e t a n t o, a l on g a ge s t a ç ã o d o e n t ã o p r o j e t o de Có d i go Ci vi l f ez c o m qu e a
Le i d a s S .A f un c i o na s s e co m o l e i ge r a l d e s oc i e d a de s s e m , e nt r e t a n t o , t e r s i d o e l a b or a d a
c om e s s a f i n a l i d a de e s e m t er s i d o d ot a d a , p o r c o n s eq u ên c i a , de di sp o s i ti vo s a p t os a
f o r ne c e r b as e s p a r a a t e or i a ge r a l d e s o ci ed a d e s n o d i r e i t o br as i l ei r o.
62

b) Posição de vanguarda: previsão legal de acordos de acionistas no


art. 118 da Lei 6.404/76.

Dentre as incontáveis inovações buscadas pelo le gislador e levadas a


efeito com maestria pelos responsáveis pela redação da lei 6.404/76, uma das
mais corajosas foi, precisamente, a previsão explícita de acordos de
acionistas 141- 142.

Não se limitou o legislador a enunciar legalmente o que já ocorria na


prática, validando os contratos e convenções entre acionistas. Ao contrário – e
nisso reside a verdadeira audácia - incluiu regra tratando dos efeitos de
referidos negócios jurídicos perante a companhia; sua oponibilidade perante
terceiros; bem como a execução específica das disposições contratuais,
determinando as matérias que, previstas no contrato, autorizariam a incidência
plena dessas regras (exercício do direito de voto e a compra e venda de ações
- 145
e preferência para adquiri-las) 143- 144

141
P ar a r e p r o du ç ã o d a s j u s ti f i c a t i va s qu a n t o à co n ve n i ê n ci a e op o r t un i d a de d e dar
t r a t a m e nt o e s p e cí f i co a os a co r d os de a c i o ni st a s n a l e i 6 .4 06/ 7 6 , v. L A M Y F I LH O e B U L H Õ E S
P E D R E I R A , A L ei da s S . A. , c i t ., vo l . I , p. 15 4 . De m o do e s pe c i a l , e s c l a r e ce m o s a u t or e s d a
l e i , a p ós s u a pr o m u l ga ç ã o , q ue : “ [ o ] ar t . 11 8 r e gu l a o ac o r d o d e a c i o n i s t a s – m o d al i da de
c on t r a t u a l d e pr á t i c a i n te n s a em t od a s a s l a t i t u d es , ma s qu e o s có d i g os t e i m am e m i g no r ar .
Oc o r r e qu e e s sa f i gu r a j u r í d i c a é d a m a i o r i m p or t ân c i a p ar a a vi d a co m e r c i a l , e a a us ê n c i a
d e di s c i p l i n a l e ga l é , ce r t a m e n t e , a c au s a d e gr a nd e n úm e r o d e ab u s os e m a l e f í c i o s qu e s e
l h e a t r i b ue m ” ( i d e m , p . 2 3 8) .
142
Es c l a r e c e -s e q u e , “[ s ] e n s í vel a e xi g ê n ci as p r át i c as d a vi d a n e go c i a l , o l egi s l a d or de
1 97 6 h ou v e p or be m pr e s t i gi a r o i ns t i t ut o , co n s a gr a n do -o c o m o i n s t r um e n t o h áb i l a
p r ee n c he r s ua s ve r d a de i r a s f i n al i da d e s , t ai s co m o d es e j a d as p e l as p ar t es c on t r a t a n t e s .”
( E G B E R T O L A C E R D A T E I X E I R A e J O S É A L E X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O , Da s so c i e d ad e s
a nô n i ma s n o di re i t o b ras i l ei r o, vo l . 1 , Sã o P a u l o , Bu s ha t s k y, 19 7 9, p. 3 0 3) . Cf . t a m b é m
C A R V A L H O S A , Co me nt ár i o s … , c i t . p. 54 3 .
143
So br e o c r i t é r i o t axa t i vo o u en u m e r at i vo d o r o l de m a t é r i a s c on s t a nt e d o t ext o l e gal,
b em c om o s e f e i t o s d el e de c o r r en t e s , c f . o Ca pí t ul o 3 , a s e gu i r .
144
Co nf i r m a C A R V A L H O S A q ue “ [ a ] o di s c i p li n a r a e s pé c i e , o di pl o m a vi ge n t e f o i i n ova d or,
n ão qu a n t o a o c o nt eú do d e t a i s a ve n ç a s, q u e o be d e c em à t r a di ç ã o h o j e u n i ve r s a l m e n t e
c on s a gr ad a , m a s p e l o f at o d e s e r p r a t i c am en t e um a d as p r i m e i r a s l e i s que d e m an e i r a d i r e t a
t r a t a d a m at ér i a , an t e c ip an d o- s e , na é p oc a , a o pr o j e t o da s o ci e da d e an ô ni m a eu r o pé i a . P o r
o ut r o l a d o , c on c r e t i z a o q u e, a r es p e i t o , p r op u nh a m o ut r os a n t e r i or es pr o j e t os d e r e f or m a,
n ot a d a m e nt e o d e As c ar e l l i e o f or m u l a d o p o r De Gr e gor i o ( es s e ú l t i m o t r a t a va ap e n as d o s
s i n di ca t o s d e vo t o ) ” ( Co me n t ár i os , ci t . p . 5 1 7) .
63

Assumiu-se, portanto, posição totalmente diversa daquela que se


consolidou na Europa, sobretudo nos países latinos 146, a respeito da limitação
de efeitos de contratos parassociais a seus contratantes 147.

Com relação à proposta do presente trabalho, é fundamental observar


que a particularidade de contarmos, desde 1976, com previsão legal expressa
sobre aspectos tão relevantes ao tema dos pactos parassociais no direito
brasileiro fez com que seu estudo devesse, necessariamente, passar pela
avaliação teórica desses mesmos aspectos.

Por consequência, desde a promulgação da lei, nossa doutrina se


debruça sobre os acordos de acionistas e suas características próprias,
legalmente moldadas 148. É preciso, porém, avançar doutrinariamente em pontos

145
Ve r -s e -á n o Ca p í t u l o 3, c o n t ud o , q ue a e xec u ç ão e s p ec í f i c a d e co n t r a to s j á er a p r e vi sta
n o CP C d e 19 7 3 .
146
C on f i r m a m e s s a p o s i ç ão , na I t á l i a , R A F F A E L E T O R I N O , ao co m e n t ar o s a c or d o s d e
b l oq u e i o ( “ m e n t r e l e cl au s o l e s t at ut a r i e h a nn o um a e f f i c a c i a c. d. r ea l e , r i s u lt a n do l a l o ro
vi ol az i o n e i no p po b i l e a l l a s o ci e t à e p r i va di ef f i ca c i a n e i s uo i c o nf r o n t i , i pa t ti
p ar a s s o c i a l i d i bl oc c o – c o m e t u t t i i c o n tt r a t ti p a r a s oc i a l i – h a nn o un ’ e f f i c a ci a m er a m e n t e
o bb l i ga t o r i a , vi nc o l a n o s o l o i c o nt r a e n t i c h e vi p a r t e c i pa n o e l a l or o vi o l a zi on e , d a l p un t o
d i vi s t a d el l a s oci e t à n on r i l eva i n a l c u n m od o in m e r i t o a l val i do e d e f f i c a ce t r as f e r i m e n t o
d el l a pa r t e c i p a zi o n e ” I Nu ov i C on t r a t t i N el l a Pr a ss i Ci v il e e Co m me r c i a l e , To r i n o , UT ET,
2 00 4 , p. 18 9 ) e L U C A B U T T A R O ( “ vi n c o l a no u n i c a m e nt e l e p a r t i c on t r a e nt i e n o po s s on o
e s s er e f a t t i va l e r e n e i c o n f r on t i de l l a s oc i e tà , d at a l a s u a q ua l i t à d i t e r z o ” ) Ver b e t e
“ Si n d ac a t i Az i o n ar i ”, i n , A N T O N I O A Z A R A e E R N E S T O E U L A ( c o or d . ) , N ov i s s i m o Di g e s t o
I t a l i a no , To r i no , UTET, 20 1 0, p. 42 6 ) .
147
De ve -s e es c l a r e c e r , p o r é m , qu e o d i r e i t o al em ã o no q ua l s e i ns p i r ou o l e gi sl ad o r foi
p r ec u r s o r na a c e i t a ç ã o j ud i c i a l d e e xe c u çã o e s p e c í f i c a d e c on t r a t o s , c om ge r a ç ã o d e e f e i t o s
p ar a a c om p a n hi a . N o t i c i a M E N E Z E S C O R D E I R O : “ Ad m i t i d a s – s a l vo d e t e r m i na d a s
l i m it aç õ e s ( …) a s c on ven ç õ es d e vo t o, a C i ê n c i a J ur í di c a a l e m ã t i r ar i a di ve r s a s e
i m p o r t an t e s c o n cl u s õ e s, q ua n t o a o s e u r e gi m e . As s i m , a s c on ven ç õ es de vo t o f o r a m
c on s i d e r ad a s s u s c ep t í v e i s d e e xe cu ç ã o e s p e c í f i c a , qu a nt o i no b s e r va d as . ( … ) . A
j u r i s p r ud ê nc i a a dm i t i u es t a o r i e nt aç ã o , na d e ci s ã o l i d er a n t e e j á c i t a d a d o BG H 2 9 -m ai -
1 96 7 ” ( em A c or d o s pa r as s o c i a i s , i n Re vi s t a da Or d e m d os Ad vo ga d os , P o r t uga l , 2 0 01 , I I ,
p . 5 3 3) . M a i s a d i a nt e ( p . 5 3 9) o a u t or e x am i n a a qu e s t ã o e m c o m p ar a ç ã o a o d i r e i to
p or t u gu ês , e s c l a r e c e n do qu e “ n ã o é p o ss í ve l – c on t r a o q ue vi m os o co r r e r no D i r e i t o
a l e m ã o – a e xe c u çã o e s p e cí f i c a d e a c o r do s pa r a s s oc i a i s . Re p a r e - s e : o vo t o t em e f e i t o s
s o ci e t á r i o s : n ã o m er a m e n t e “ ob r i ga ci o n a i s ”. Ad m i t i r u m a a cç ã o d e c u m p r i m e nt o ( … ) s e r i a
c on f e r i r , a o ac o r d o p a r as s o c i a l um a e f i c á c i a s u p r a p ar t es . O D i r e i t o a l e m ã o ad m i t e -o ; o
Di r e i t o p o r t u gu ê s nã o ” ( p .5 39 ) .
148
Na s í n t es e d e C E LS O B A R B I F I LH O , “[ o ] a c or d o de a c i o ni s t as , t al co m o di sc i p li n a d o no
d i r e i t o b r a s il e i r o , é u m i n s ti t ut o í mp ar , q ue n ã o e n co n t r a p a r a di gm a i d ê nt i c o no d i r e ito
e s t r a nge i r o . A ss i m s e n d o , a so l u ç ã o da s q u e st õe s m a i s e sp e c í f i c a s , s u r gi da s p o r s u a
u t il i z a ç ão e m n o s s o or d e na m e n t o, e nc o n t r a -s e , m ui t a s ve z e s , s e m q ua l q u e r s ub s í di o
64

que, pela própria evolução da matéria societária, nem o legislador de 1976,


nem a jurisprudência puderam alcançar, com vistas ao universo mais amplo
dos pactos parassociais que não se limita à hipótese legal ou, melhor dizendo,
não se confunde ou se identifica plenamente com ela.

c) Redação original do artigo 118 da Lei 6.404/76

Tornando à disposição le gal, previa ori ginariamente o arti go 118 da Lei


6.404/76 que seriam respeitados pela companhia, quando arquivados em sua
sede, os acordos de acionistas sobre o exercício de direito de voto, a compra e
venda de suas ações e a preferência para adquiri-las 149.

Seriam estas as matérias a que, à época, portanto, entendeu-se


necessário conferir os efeitos previstos na lei: a produção de efeitos perante a
companhia, a oponibilidade a terceiros e, por fim, a execução específica. No
Capítulo 3 serão tratadas as principais discussões derivadas dessa escolha.

d) Alterações no artigo 118 pela lei 10.303/2001

Após vinte e cinco anos de aplicação da lei, o arti go 118 sofreu


alterações de modo a atender novas exigências da prática societária brasileira,
rel ativas à utilização sempre mais larga de acordos de acionistas para a

e xt er n o . Po r i s s o, ca b e a o s j ur i st as b r asi l ei ros a co n s t r uç ã o d o ut ri nár i a do p er f i l e d o s


p r i nc í p i os d o i ns ti t ut o em n o s s o d i r e it o ” ( Ac o r d o … , c i t . , p . 8 - gr i f o u -s e ) . En t en d e -s e qu e
e s s e e s f o r ç o j á t e m s i d o r e al i z ad o , e , p or t an t o , n ão é o bj et i vo d o t r ab a l h o j u n t a r m o -no s à
e s s a l i n h a d e p e s qui s a m a s, p a r t i n do d el a , c o ns i d e r a r o t r a t a m e nt o de o ut r o s c on t r a t os
p ar a s s o c i a i s no d i r e i t o br a s i l e i r o .
149
Re d a ç ã o or i gi n a l : Ar t . 1 1 8. Os a co r d os d e a c i o n i s t a s , s ob r e a co m p r a e ve n d a d e s u as
a ç õe s , p r e f e r ê nc i a p a r a ad q ui r i -l a s , o u e xe r c í c i o do d i r e i t o d e vo t o , d e ve r ã o s e r o bs e r vad o s
p el a c o m pa n h i a q u a nd o a r q u i va d o s n a s ua s e d e . § 1º A s o b r i ga ç õ e s o u ôn u s d e c or r e n t e s
d es s e s ac o r d os s o m en t e s er ã o op o ní ve i s a t e r c e i r o s , d e p oi s d e a ver b a d os n os l i vr o s d e
r e gi s t r o e no s ce r t i f i c ad o s d a s a ç õ e s, s e e m i t id os . § 2° Ess e s a co r d o s n ão p od e r ã o s e r
i n vo c a do s pa r a e xi m i r o a c i o n i s t a d e r e s p on s a bi l i d ad e n o e xe r c í c i o d o d i r e i t o d e vo t o
( a r t i go 11 5 ) ou d o p o d e r d e c on t r o l e ( a r t i gos 1 1 6 e 1 1 7) . § 3 º Na s c on d i ç õe s p r e vi s t as n o
a c or d o , os a c i o ni s t as p ode m p r o m o ve r a e xe c u ç ã o es p e cí f i c a d a s ob r i g a ç õe s a s s um i d a s . §
4 º As a ç õe s a ve r b a da s n o s t e r m os d e s t e ar t i go n ã o p o de r ã o s e r ne go c i a d a s em bo l s a o u n o
m e r c ad o d e ba l c ã o . § 5º No r e l a t ór i o a nu a l , o s ó r gão s da a dm i ni s t ra ç ã o d a c o m p an h i a
a be r t a i n f o r m ar ã o à a s s e m bl éi a- g e r a l as d i s po s i ç õ es s o br e p ol í ti c a d e r e i nve s t i m e n t o d e
l u c r os e d i s t ri b u i ç ã o d e d i vi de n d os , c on s t a n t e s d e a c o r do s de a ci o n i s t a s a r q u i va d o s n a
c om p a n hi a .
65

consolidação do poder de controle, sobretudo no que se refere à execução dos


acordos de voto.

Em primeiro lugar, cuidou-se de incluir o exercício do poder de


controle como matéria objeto dos efeitos específicos previstos pela lei. Com
isso, passou-se a considerar, legalmente a figura dos pooling agreements,
mediante a qual os acionistas si gnatários do acordo, reunidos previamente,
decidem por maioria o sentido que deve ser dado ao voto do grupo 150.

Buscou-se, então, conferir eficácia ainda mais plena aos acordos de


acionistas frente ao que já previa a redação original do art. 118, cristalizando
o papel da companhia como gendarme 151 das disposições estabelecidas entre os
pactuantes.

Uma série de disposições foram assim incluídas no texto le gal, que


passou a contar com 11 parágrafos 152. Algumas disposições (par. §8, §9)
passaram a prever hipóteses de verdadeira autotutela dos acionistas pactuantes

150
Cf . C A R V A L H O S A , Co m en t á r i o s , c it ., p . 5 18 .
151
O P P O u t i l i za a e xpr e s s ã o pa r a c r i t i c a r d ur a m e n t e a po s i ç ã o br a s i l e i r a d e co n f e r i r e f e itos
“ e xt r a -p a r t e s ” ao a c o r do d e a ci on i s t a s , a i n da a o t e m p o da vi gê nc i a d o t e xt o o r i gi n a l d o a r t .
1 18 ( “n o n s i pu ò f a r e de l l a s oc i e t à i l ge n da r me d e l r i s pe t t o di a c c or d i f a t t i al l e s ue
s p al l e” . Le c o nv e n z i on i … , c i t . p .5 30 ) .
152
§ 6 o O a c o r do de a ci on i s t a s cuj o pr a z o f o r f i xa do em f u n ç ã o de t e r m o o u c o nd i ção
r e s ol ut i va s om en t e p od e s er d e nu n c i ad o s e gu n d o s ua s e s t i p ul a ç õ es . ( I nc l u í d o p e l a Le i n º
1 0. 30 3 , d e 2 0 01 ) § 7 o O m a n da t o ou t o r ga d o n o s t e r m o s d e a c o r do de a ci o n i s t a s p a r a
p r of e r i r , e m a ss e m b l é i a - ge r a l o u e s pe c i a l , v o t o c o n t r a ou a f a vo r d e d e t er m i na d a
d el i be r a ç ã o, po d e r á pr e v e r pr az o s u p e r i o r a o c on s t a nt e do § 1 o d o ar t . 1 26 d e s t a
Le i . ( I nc l u í d o p e l a Le i n º 1 0.3 0 3, de 2 00 1 ) § 8 o O p r e s i de n t e da a s s e m bl é i a o u d o ór gã o
c ol egi a d o d e de l i b e r a ç ã o da c o m pa n hi a n ã o c o m pu t a r á o vo t o p r o f e r i do c om i n f r a ç ã o d e
a c or d o de a c i o ni s t a s d e vi da m e n t e ar q u i v ad o .( I n cl uí d o p el a L e i n º 10 .3 0 3, de 2 00 1 ) § 9 o O
n ão c o m p a r e c i m e n t o à a s s e m bl éi a o u à s r e un i õ e s do s ó r gã o s de a d m i n i s t r a ç ão d a
c om p a n hi a , b e m c o m o a s a b st en ç õe s d e vo t o d e q u a l qu e r p ar t e de a c or d o de a c i o ni s t a s o u
d e m e m b r os d o c on s e l h o d e a d m i ni st r aç ã o e l e i t o s no s t e r m os d e a c or d o d e a c i o ni s t as ,
a s s egu r a à pa r t e p r e j ud i c a da o d i r e i t o de vot a r c om a s aç õ e s p e r t e nc e n t e s a o ac i o n i s t a
a us e n t e ou o m i s s o e , n o ca s o de m e m b r o d o c o n s el ho d e a d m i n i s t r a çã o , p e l o c o ns e l h e i r o
e l e i t o co m o s vo t o s da p a r t e pr e j u d i c ad a .( I n c l u í do p el a Le i nº 1 0 .3 03 , d e 20 0 1) § 1 0. Os
a c i on i s t a s vi n c u l a do s a a co r d o d e a c i o ni s t a s de v e r ã o i n di ca r , n o a t o d e a r q ui va m e n t o,
r e pr es e n t a nt e p a r a c o m un i c a r -s e c o m a c o m pa n h i a , pa r a pr e s t a r o u r e c e be r i n f or m a ç õ e s,
q ua n do s ol i ci t ad a s .( I n c luí do pe l a Le i nº 1 0. 30 3, d e 2 0 01 ) § 1 1 . A c o m pa n hi a p od e r á
s o l i c it a r a os m e m b r o s d o a c or d o e sc l a r e c i m e n t o s o b r e su a s c l á us u l a s .( I n c l uí do p el a L e i n º
1 0. 30 3 , d e 20 0 1)
66

frente àquele inadimplente, com relação aos acordos de voto 153. Outras
procuraram dar fim a discussões doutrinárias (§6) e organizar o modo de
administração do acordo junto da companhia (§7, §10, §11).

Não se aproveitou a oportunidade, porém, para introduzir modificações


na redação original do texto que esclarecessem os principais pontos
controversos a respeito dos pactos parassociais ou mesmo para oferecer-lhes
disciplina geral e mais detalhada, sob a perspectiva societária.

1.2.5- Pactos parassociais e disciplina do Código Civil 2002

Será explorado, adiante, o tema dos limites de aplicação do artigo 118


da Lei 6.404/76.

Uma das principais limitações discutidas pela doutrina, antecipa-se


desde já, refere-se ao fato de somente ser possível dotar contratos parassociais
dos efeitos previstos na lei 6.404/76 se realmente se tratar de acordos de
acionistas. Com relação a execução específica, ulteriores comentários serão
realizados no Capítulo 3.

Dessa maneira, escapariam à disciplina da lei 6.404/76 acordos


celebrados com vistas aos demais tipos societários, ainda que tendo por objeto
as matérias indicadas no art. 118. Com relação a eles – e em especial à
sociedade limitada – é necessário, portanto, analisar o que, a respeito, prevê o
Código Civil Brasileiro 154.

153
S ob r e o t e m a c f . D A N IE L M O R E I R A D O P A T R O C Í N I O , Au t o t u t e l a do Aco r d o d e Aci on i s t as –
No vo r e gi m e e s t a b el ec i d o p e l a Le i 1 0.3 0 3/ 20 0 1, i n RD M 1 35 , J u l ho - s e t e m b r o/ 2 0 04 , p p.
1 94 -2 05 ; V I V I A N E M Ü L L E R P R A D O , Ap l i c aç ã o i me di a t a d a no v a d is c i p li na s ob r e ac o r do d e
a ci on i s t as , i n Re vi s t a d e D i r e i t o Ba n c á r i o d o M e r c a do d e C a p i t a i s e da Ar bi t r age m n .º 1 7,
a no 5 – j u l h o-s e t e m b r o de 2 0 02 , pp . 2 6 2 -2 6 8.
154
A n e c es s i d a d e d e e xa m e d os a c or d o s d e c o t i s t a s é e n f a t i z ad a po r E R I C K C O R V O , ao
c om e n t a r q ue “ o a c o r do de s ó c i os d e so c i e d ad e l i mi t a d a pe r m a n ec e o b j e t o de d is c us s õ es
( o u s u po s t a s di s cu s s õ es) , n o t a da m e n t e no qu e s e r e f e r e à su a l i c i t u d e, va l i d a de , e f i c á c i a
p er a n t e a s o c i e da d e e t e r c e i r o s e, p r i n c i p al m en t e , a s ua vi n cu l a ç ã o à di s ci p l i n a l e ga l d o
a c or d o de a c i o ni s t a s . A c or d o s d e s ó ci os d e s oci e d ad e s l i mit ad a s à l u z d o C ód i g o Ci v i l d e
2 00 2 i n A AVV, Te ma s d e D i r ei t o S oc i et á r i o e E mp re s a r i a l Co n t e mp or â n eo s – Li b e r
67

Gestado desde os anos 70 e fi nalmente promulgado em 2002, o Código


Civil Brasileiro operou a unifi cação do regramento das obrigações no Brasil e
reuniu a disciplina societária antes constante do Código Comercial de 1850 e
do Decreto 3708 de 1919, que regulava singularmente a sociedade limitada, no
título Do Direito de Empresa.

Em que pese toda a discussão e cuidado em sua elaboração, os quase


trinta anos que separaram o anteprojeto da entrada em vigor do diploma
fizeram com que muitas posições assumidas pelo legislador não se
mostrassem, afinal, compatíveis com a realidade a ser disciplinada.

Um dos aspectos mais controversos no novo códi go é, precisamente, a


disciplina das sociedades comerciais. Sem considerar toda a construção
jurisprudencial verificada nos anos de tramitação, o texto final acabou por
representar verdadeiro retrocesso em muitos pontos.

Sem muito delongar na discussão, importa dizer que a sociedade


limitada, antes tida como tipo societário flexível, que bem atendia às mais
variadas necessidades práticas com o amparo de consistentes correntes
jurisprudenciais, teve seu regime radicalmente alterado.

De fato, o enrijecimento das regras legais aplicáveis (como quorum


elevado para deliberações, por exemplo), não condizentes com o estági o de
desenvolvimento do instituto, retirou-lhe muito de seu atrativo.

Curiosamente, porém, o Códi go não forneceu às sociedades limitadas


dispositivo legal específico sobre a contratação parassocial, na esteira do
que, com relação às sociedades anônimas, a lei de 1976 realizou.

Ao contrário, manteve-se na linha do antigo Código Comercial de 1850


no sentido de condenar contratos que contrariem o disposto no contrato social,
gerando semelhante inse gurança.

Am i c o r u m Pr of . Dr . Er a s mo Val l ad ã o Az ev e d o e No va e s Fr a nç a , S ã o P a u l o, M a l h e i r os ,
2 01 1 , p .8 4.
68

Ocorre que ao invés de decretar a nulidade de referidos contratos, a lei


determinou que “é ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado,
contrário ao disposto no instrumento do contrato” 155, o que não reduziu as
dificuldades e insegurança na celebração de acordos de cotistas.

De outro lado, o tema da aplicação subsidiária da Lei das Sociedades


Anônimas às sociedades limitadas, já de certa forma pacificado no direito
anterior, recebeu tratamento bizantino 156.

De qualquer maneira, o entendimento predominante é o de que o artigo


118 da Lei de Sociedades Anônimas não se aplica subsidiariamente a
contratos parassociais de outros tipos societários ou seja, esses outros
contratos não têm o condão de produzir os efeitos legais de que são dotados os
acordos de acionistas 157.

Não havendo a intenção de produzir os efeitos específicos do art. 118 da


Lei de Sociedades Anônimas, contudo, os acordos de cotistas (como de resto
todos os contratos parassociais) seriam em princípio válidos e vinculantes
entre as partes contratantes. Entretanto, mesmo essa evidente constat ação, por
vezes, encontra dificuldades em sua compreensão e aceitação.

1.3 - Notas de comparação legislativa

Não se busca, na presente tese, realizar completo estudo de Direito


Comparado sobre o tema dos contratos parassociais, o que exigiria a análise

155
Ar t . 99 7 , p a r á gr a f o p r i m e i r o .
156
To r n ou -s e c om u m u s a r es s a e xpr e s s ã o p a r a q ua l i f i c a r o c om p l e xo, pr o l i xo e es c a l o na do
s i s t e m a d e r ef er ê n c i a s c r uz a da s e a p l i c a ç ão s u bs i d i á r i a n o Có d i go C i vi l . P ar a o a s s u nt o , cf .
P A U LA A. F O R G I O N I , A u ni c i d a de d o r e gr a me nt o j ur í di c o da s s o c i ed a de s l i mi t a das e o Ar t .
1 .0 53 d o C ód i g o Ci v i l – Us o s e c os t u me s e r e g ê n c i a s up l e t i v a i n AAV V , T e ma s d e Di r e i to
S oc i e t á r i o e E mp re s a r i a l Co nt e mp o r ân e os – Li b e r Am i c o r um Pr of . D r . Er a s mo Va l l a dã o
Az e v e do e N ov a es Fr a n ç a , S ã o P a ul o, Ma l h e i r o s , 2 01 1 , p p . 2 16 -2 23 .
157
Ve r -s e -á q u e , c o m r e l a ç ã o à e x e cu ç ã o e sp e c í f i c a , e s s a c i r c u s t â nc ia po u co al t e ra o
r e gi m e a p l i c á ve l , p o i s s egu nd o a l e gi s l a ç ão p r oc e s s ua l e m vi go r , t o d o c o nt r at o p od e t e r
e xe c u ç ã o e s p e c í f i c a , se o b s er v a d os o s r e q ui si t os ne l a e n un c i a do s .
69

aprofundada dos institutos a ele afeitos nos diversos ordementos jurídicos 158.
Contudo, entendeu-se relevante trazer a notícia da legislação estrangeira para
evidenciar a ausência, em geral, de regramento abrangente a respeito desse
grupo de contratos, que pudesse oferecer indícios para a sua interpretação.

1.3.1 - Breve notícia das legislações da Europa Continental

Desde os anos oitenta, discute-se na Europa o texto de uma diretiva


sobre direito societário, tratando sobre a estrutura de sociedades e poderes de
seus órgãos (Quinta Diretiva, proposta inicialment e em 19.08.1983) ainda não
aprovada, que prevê artigo sobre a disciplina de pactos parassoci ais 159.

O legislador português de 1986 adotou o texto ori ginalmente proposto


para a Quinta Diretiva européia 160, incluindo-o como arti go 17 de seu Código
de Sociedades Comerciais 161. Ao fazê-lo, não conferiu aos contratos

158
A r es p e i t o do s e sf or ç o s c o m p ar a t í st i c os , va l e co n f e r i r a o b r a c o l e t i va o r gan i z a d a por
F R A N C O B O N E L L I e P IE R G I U S T O J AE G E R ( Si n d ac a t i d i Vo t o . S i n da c at i di Bl o cc o , M i l a n o,
Gi u f f r é , 19 9 3) e , e n t r e n ó s , a s í n t es e de C E LS O B A R B I F I L H O , Ac o r d o d e A ci o n i s t a s:
p an o r ama a t u al ..., c i t . p p . 3 2-3 4 .
159
Cf . T e r c ei ra mo d i f i c a ç ão à pr o p os t a d e q ui n t a d i r e ct i va d o Co ns e l h o ba s e ad a n o a r tigo
5 4º d o Tr a t a do C EE , r e l a t i v a à e s t r ut u ra da s s o c i e da d es an ó ni mas e a o s p od e r es e
o br i g a çõ e s do s s eu s ó rg ã os , a p r e s en t a d a e m 1 2/ 12 / 9 1. D i s po n í vel e m h t t p : // e u r -
l e x.e ur o p a. eu / Le x Ur i Se r v/ Le x Ur i S er v.d o ?u r i = OJ : C: 1 9 91 : 3 2 1: 0 0 09: 0 0 12 :P T: P DF e
M E N E ZE S C O R D E I R O , Ma n ua l .. . c i t ., p . 5 75 .
160
Cf . M E N E Z E S C O R D E I R O , Aco r d os p a r as s o c i ai s , c i t ., p. 3 39 .
161
Ar t i go 1 7. º A c o r do s p a r a s s o c i ai s - 1 - Os a c o r d o s p ar as s o c i a i s c el eb r a d o s e n t r e t o do s ou
e nt r e a l gu ns s óc i o s pe lo s qu a i s est es , n e s s a qua l i da d e, s e o br i gu e m a u m a c o nd u t a nã o
p r oi b i d a po r l e i t ê m ef e i t os e nt r e os i nt er ve n i e nt e s , m a s c om b a se n e l e s n ã o p o de m s e r
i m p u gn a do s a c t o s d a s o c i e da d e o u d os s óc i o s p a r a c o m a s oc i e d ad e . 2 - O s a c o r d o s
r e f e r i d os n o n ú m er o a n t er i or p o de m r e s p ei t ar a o e xe r c í c i o do di r ei t o d e vo t o , m a s nã o à
c on d ut a d e i n t e r ve n i e nt e s o u d e ou t r a s p es s o a s no e xe r c í c i o de f u n ç õ e s de a dm i ni s t r aç ã o
o u d e f i s ca l i za ç ã o . 3 - Sã o nu l o s os a c or d o s p e l o s qu a i s um s ó c i o s e o br i ga a vo t a r : a )
S e gu i nd o s e m p r e a s i n s t r uç õ e s d a s o c i e da d e o u d e u m do s s eu s ór gã os ; b ) Apr o va nd o
s e m pr e a s p r op o st as f e it a s p or e s t e s; c ) Exe r c e n d o o d i r e it o de vot o o u a b s t e nd o -s e de o
e xe r c e r e m c o nt r a p a r t i d a de va n t a ge n s e s pe c i a i s .
70

parassociais os efeitos que no Brasil são produzidos pelos acordos de


acionistas 162.

Na Alemanha, a Lei de Sociedades por Ações (AktG) apresenta


dispositivos sobre a proibição de voto exercido seguindo-se instruções da
sociedade ou de seus administradores (§ 136) e o comércio de voto (§405). Na
doutrina, o tema também é tratado pelos comentaristas da lei nos comentários
ao §23, relativo à elaboração do Estatuto Social (“Feststellung der Satzun g”),
tendo em vista que a alínea 5 prevê a validade para as disposições
complementares (“Ergänzende Bestimmungen”) que não contrariem o disposto
em lei. No direito alemão é mais frequente a celebração de acordos
parassociais (designados Nebenverträge ou Nebenabreden) nas sociedades
limitadas, não existindo disposição específica, contudo, na lei que as rege
(GmbHG). Também neste caso, a doutrina toca o tema dos pactos parassociais
ao comentar o §3 da lei, no âmbito da autonomia na celebração de ajustes que
excedam o conteúdo previsto, no mesmo art igo, para o contrato social (“Inhalt
des Gesellschaftsvertrags”) 163.

A Itália incluiu no Codice Civile disciplina específica sobre contratos


parassociais apenas em 2003 (art. 2341-bis e 2341-ter) 164. Todavia, havia

162
Cf . A N A F E L I P A L E A L , Al g uma s n o t as s o b r e a p a r as s o ci ali ad i d ad e n o di r e i t o p o rt uguês,
i n Re vi s t a de Di r ei t o d a s So c i e da d e s , 1, 20 0 9, pp . 1 3 5 -1 8 3 e R A U L V E N T U R A , Aco r d os d e
v ot o: a l g um as q ue s t õ e s de p oi s d o Cód i g o da s So c i e da d e s C om er c i a i s ( CS C, a r t . 1 7 º) , i n
Es t u d os vá r i o s s ob r e s o ci e d a de s a nô n i ma s : c om en t á r i o s ao Có d i g o d a s So c i e d ad e s
Co m e r c i ai s, Co i m b r a , A l m e d i n a, 1 99 2 , p p. 7 -1 0 1. O p i o ne i r o a r t i go p ub l i c a do n a qu e l e p a ís
f o i d a l a vr a d e F E R N A N D O G A L V Ã O T E L LE S , Un i ã o de co n t r at os e c o nt r at o s p ar a - s o ci ai s , in
Re vi s t a d a Or d em do s A d vo ga do s P or t u gu es e s 1 -2 , j a n . -j u n, 1 95 1 , p p. 3 7 -1 03 .
163
Cf . Cl áu d i o K ö hl er , Ne b e na b r ed e n i m Gmb H- u n d Ak t i e n r ec h t – Zu l ä ss i gk e i t und
Wi r k un g , F r a n kf u r t a m M a i n , P et e r La n g, 19 9 2, pp . 3 -7 .
164
Ar t 2 3 41 b i s - I p a t t i , i n q u a l un q ue f o r m a s t i p ul at i , c h e a l f i ne d i s t a b il i z z a r e gl i as s etti
p r op r i e t a r i o il gove r n o d e l l a s oc i e t à : a ) h an n o p e r og ge t t o l 'e s e r ci zi o d e l di r it t o di vo t o
n el l e s oc i e t à p e r a z i o n i o n el l e so c i e t à c h e l e c o n t r ol l an o ; b ) p on gon o l i m i t i al
t r a s f e r i m e nt o d e l l e r e l a t i ve a z i o ni o d e l l e pa r t e c i p a zi on i i n s oc i e t à c h e l e c o nt r ol l an o ; c )
h an n o p e r o g ge t t o o p e r ef f e t t o l 'es e r c i z i o an c h e c o n gi u n t o d i u n'i n f l u en z a do m i n a nt e s u
t a l i s o c i e t à , no n p oss o no a ver e d u r at a s u p er i or e a c i n qu e a nn i e si i nt en do n o s ti p u l a ti p e r
q ue s t a d u r at a an c h e s e l e pa r t i ha n no p r e vi st o u n t e r m i n e m a ggi o r e ; i pa t ti s on o r i n no vab i li
a l l a s ca d e nz a . Qu a l or a i l p a t t o no n p r e ved a un t e r m i n e d i d ur a t a , c i a s c un c on t r a e nt e h a
d i r i tt o di r e ce d e r e c on u n p r e a vvi s o d i c e n tot t a nt a gi o r n i . Le d i s p os i zi o n i d i qu e s to
a r t i c o l o no n s i a pp l i c a no ai pa t t i s t r um en t a li a d a c co r d i d i c o l l a bo r a z i o n e n e l l a p r od u zi on e
71

previsão sobre a duração de “sindacati di blocco” relativos a sociedades de


capital aberto no decreto legislativo de n. 58 de 24.2.1998 (Testo Unico della
Finanza), em parte aproveitada na redação incluída no Codice Civile 165.

Na França, ordenamento mais refratário à aceitação dos acordos de


voto, o tema dos pactos parassociais não conta com disposição única na
legislação, sendo referido em dispositivos de diversas leis, sobretudo relativas
ao mercado de capitais 166. A lei de 1999 que implementou as sociedades por
ações simplificadas (“SAS”) permitiu maior flexibilidade de redação dos
estatutos, sem tratar especificamente, porém, dos pactos parassociais.

A Espanha, já admitia os acordos de voto enquanto vi gente a lei de


sociedades anônimas de 1951. O art. 6º de referida Lei prescrevia que os
pactos firmados entre os sócios, mantidos ocultos, não seriam oponíveis à
sociedade. Essa disposição foi mantida pelo art. 7.1 da Lei de Sociedades
Anônimas (Decreto 1564/1989): “Los pactos que se mantengan reservados
entre los socios no serán oponibles a la sociedade”.

Em julho de 2010, entretanto, a disciplina foi alterada justamente para


incluir disposição relativa à transparência dos acordos, atualizando a questão
frente às sempre mais rí gidas re gras de corporate governance. Para exigências
de publicidade previstas na lei, o legislador espanhol restringiu a noção de
pactos parassociais para “aquellos pactos que incluyan la regulación del
ejercicio del derecho de voto en las juntas generales o que restrinjan o

o n el l o s c a m b i o di be n i o s e r vi zi e r e l a t i vi a s oc i e t à i n t e r a m e nt e po s s ed u t e d ai pa r t e c i p a nt i
a l l 'a c c o r do .
165
C f . R A F F A L E T O R I N O Si n d ac a t i di b l o cc o i n i nu o vi c o nt r a t t i n e l l a p r a s s i c i vi l e e
c om m er c i a l e , a cu r a d i P ao l o Ce n d on , vo l . XX I I , p . 3 6 .
166
P a r a e l e nc o da s d i s posi ç õ e s r e l a t i va s a o t e m a , c f . R I P E R T e R O B L O T , M I C H E L G E R M A IN
( a t u al .) Tr a i t é d e Dr oi t Co m e r ci al , 18 ªe d . To m o 1 , Vo l .2 , P ar i s , LGDJ , 20 0 3, p. 39 9 . N a s
p ági n a s 23 9 -24 1 , ve r i f i c a -s e a c r í t i ca s o br e a s i m p e r f e i ç õe s d a l e i d e 1 9 66 , q u e al t e r ou a s
d i s po s i ç õ es co n st a nt e s d o Co d e de C om m e r c e s o br e a s s o c i e da d e s e a p r ol i f er aç ã o
l e gi s l a t i va po s t e r i o r . G U Y O N e s c l a r e ce q u e a s d i ve r sa s r e f e r ê n c i a s l e g a i s a p a c t o s
p ar a s s o c i a i s nã o s e r e f e r e m a s e us l i m i t e s d e v al i da d e , m a s a t e m a s c o m o co n t a s
c on s o l i d ad a s , d e f i ni çã o d e c o n t r ol e m a j o r it á r i o e d e a ç ã o de c o nc e r t o ( Le s s o ci ét é s … c i t .,
p . 3 09 ) .
72

condicionen la libre transmisibilidad de las acciones en las sociedades


anónimas cotizadas 167

Em suma: nas legi slações européias consultadas o tratamento dos


contratos parassociais é pontual, deixando em aberto, para o intérprete e
aplicador do direito, um vasto campo de atuação e a tarefa de det erminar os
limites de validade de contratos parassociais 168.

Talvez seja justamente essa a causa da proliferação dos contratos


parassociais ou, para usar a terminologia francesa, do movimento de
contractualisation du droit des sociétés: a aparente ampla liberdade que a
legislação confere, quando se toma a regra geral do direito privado de que “o
que a lei não veda está permitido” 169.

Esse entendimento, contudo, parece equivocado, como se procurará


demonstrar no Capítulo 4.

1.3.2 – Peculiaridades do direito da common law

Nos países alinhados à common law, algu mas peculiaridades impactam o


tema dos pactos parassociais, quando confrontados aos regimes previstos nos
direitos continentais.

167
At u a l a r t . 51 8 da L e i d e So c i e da d e s An ôn i m a s .
168
G U Y O N e s c l a r e ce qu e , c ad a ve z m ai s, a s l e gi s l aç õ e s m e n c i on a m a e xi s t ên c i a de s ses
a c or d o s s em , e nt r e t a n t o , p r e ci s a r s u a s c on d i ç õ e s d e va l i d a d e o u o r i e nt a r s u a i n t e r pr e t a ç ã o,
d ei xa n do a o s t r i b un a i s de c i di r ( “ Ma i s l a l oi ne p r é c i s e pa s l e s c o n di t i on s d e va l i di t é d e c e s
c on v e nt i on s . On pe u t s e ul em e n t t i r e r d e ce t t e ré f é r e n c e l ’ i d é e qu e de t e l s a c c or d s n e s o n
p as t ou j o u r s nu ls . Ma i s i l a pp a r ti e n e au x t r i b u na u x de d é c i de r qu a nd i l s s on t va l a bl e s ” . L e s
s o ci é t é s , ci t , p . 3 0 9) .
169
C E L S O B A R B I F I L H O d i z m es m o q u e : “ [ a ] e xpe r i ê n c i a do d i r e i t o e st r an ge i r o m os t r a q u e,
e m f a c e da s c a r a ct er í st ic as pe c ul i a r es d o a c or d o d e ac i o n i s t a s , s u a pr e vi s ã o e d i s c i pl i n a e m
l e i tr a z e m ma i s d i fi c u l dad e s do q u e s ol u ç õe s . En qu a nt o n e góc i o j u r í d i c o, e l e de v e e xi s t i r e
s e r a pl i ca d o de n t r o do p r i n c í pi o d e d i r e i t o pr i va d o se gu nd o o qu a l é p er mi t i d o t u d o aq u il o
q ue a l e i n ã o p r o í b e” ( A co r d o… , c i t . , p . 3 8. G r i f o u-s e ) . Em o u t r o e n s a i o, c on t u do , o a u t o r
e s cl ar e c e , e m v e r da d e , q ue a a u s ê nc i a d e d i s ci pl in a e xpr e s s a a pe n a s f a z c o m q u e a af e r i ç ã o
d a l i c it u de s e d ê a pos t er i o r i ( “ e ss e s p a í s e s, e m s ua m ai o r i a , nã o c ui d a m d e um a d i s c i pl i na
l e gal d o s a c o r do s de a ci on i s t a s , a dm i t i n do s ua c el eb r a ç ão à l uz d o d i r e i t o o b ri gac i o n al
c om u m e d ei xa n do a a f e r i çã o d e s u a l i c i t u d e p a r a os c a s os c o nc r e t o s , e m q ue s e r e p e l e o
u s o d o i n st it u t o pa r a ve n da d e vo t o o u a l i j ame n t o d e m i n or i a s ” . Ac o r do d e Aci on i s t a s :
p an o r ama a t u al ..., c i t ., p.3 4 ) .
73

Com relação ao direito inglês, o próprio âmbio de abran gência da lei,


nas rel ações privadas é muito reduzido, quando comparado ao direito de
matriz romano-germânica, razão pela qual inexiste disciplina legal dos
acordos celebrados entre acionistas 170.

O regime desses contratos, por consquência, é modelado pelos


precedentes e, principalmente, pela contribuição da prática. Como o respeito
ao contratado goza de prestí gio ímpar, a tendência da jurisprudência é a de
preservar, ao máximo, o que as partes tiverem validamente contratado 171: em
caso de litígio pouco espaço é deixado ao juiz, que deve interpretar e aplicar o
contrato respeitando a vontade das partes manifestada no documento,
assegurando o que fora estabelecido entre elas.

Nesse cenário, os contratos entre acionistas florescem, adaptando aos


seus interesses as regras legais cogentes, voltadas principalmente à
organização das sociedades. Por permitirem aos particulares possibilidade
submeterem-se a regramento mais próx imo de sua real intenção comum, os
ajustes entre sócios são reconhecidos e tipos por salutares.

Consequência peculiar dessas ponderações é que, com certa


tranqüilidade impensável nos países da tradição romano-germânica, admite-se
que os pactos parassociais prevaleçam sobre os estatutos sociais se guindo a

170
L A U R E N T C O N V E R T , a n o t a , c om p a r a nd o s i s t e m a s d e co m mo n l a w e c i v i l l aw , q ue “ a f o r ça
vi nc u l a n t e da s p r á t i c as co n t r a t ua i s s ã o a s s az d i f e r e nt es d e u m l a do e d e ou t r o d o C an a l d a
M a nc h a . O c os t um e b r i t â n i c o r e q ue r q u e o l e gi s l a d or n ã o i nt e r ve nh a n a s r e l a ç õ es e n t r e a s
p es s o a s , nã o s e n d o de s ua c om p e t ê n c i a a m e n o s q ue h aj a a b us o , en q ua n t o n a t r a di ç ã o
l a t i n a o ó r gã o l e gi s l a t i vo é d i r e t a m e nt e e n vol vi d o pa r a a de t e r m i n a ç ão d as c o n di ç õ e s qu e
e nvo l vem a s r e l a çõ e s c on t r a t u ai s . As pa r t e s dis põ e m po r c on s e qü ê n ci a d e um a l i b e r da d e
m a i s a m pl a n a I ngl a t e r r a pa r a d e t er m i na r o i m p er a t i vo q ue s e i m p or á a e l as ( d o ut r i na d a
f r e e do m o f c o nt r a c t ) , e o c o nt r at o c o n s t it u i n o es s e n ci al a l e i q ue l h e s se r á ap l i c á vel ” ( “ L a
p l a ce e t l a f o r c e co n t r a i gna n t e de s p r a t i q ue s c o nt r a c t u e l l e s s ont a i n si di f e r e nt e s d ’ un c ô t é
e t d e l ’ a u t r e de l a M a n c h e . La c ou t u m e br i t an n i q ue veu t q u e l e l é gi s l a t e ur n ’ i n t e r vi e nn e
p as d a ns l e s r e l a t i o ns e nt r e p e r s on n es , q u i n e s o nt d e s a c o m pé t a n c e q ue s ’ i l y a a b u s,
a l o r s q ue da n s l a t r a di ti on l a ti n e, l ’ o r ga ne l égi s l a t i f e s t di r e c t e m e nt c on c e r né pa r l a
d ét er m i na t i o n d es c o n di t i on s e nc a d r a nt l es r el at i on s c on t r a c t u e l l e s . Le s p a r t i e s j o ui r ont e n
c on s e qu e n ce d’ u n e l i be r t é p l u s gr an d e e n A n gl et e r r e po u r d e t er m i ne r l ’ i m p e r át i f q ui
s ’ i m p os e r a à e l e s ( d oc t r i n e o f f r e e do m o f c o nt r a c t ) , l e co n t r a c t c on s t i t u an t p ou r l ’ e s s e nt i el
l a l o i q u i l e u r s e r a a pp l i c a bl e” . L’ i m pé r a t i f ... c i t., p. 2 06 ) .
171
Cf . L A U R E N T C O N V E R T , L ’ i mp e r at i f ... ci t ., p . 4 9 5 e s s ..
74

regra de que o especial derroga o geral e tendo por base a noção de que
acordos são feitos para melhorar a situação jurídica das sociedades privadas 172.

C O N V ER T noticia, ainda, que um dos principais debates na comunidade


jurídica britâni ca refere-se à possibilidade de acordos privados derrogarem os
direitos previstos legalmente para os acionistas: na tradição de respeito à
autonomia privada, muitos advogam que essa possibilidade seria justificada
quando os direitos renunciados dizem respeito a interesses privados dos
acionistas, sem qualquer relevância para interesse público 173.

Nos Estados Unidos a legislação societária é, fundamentalmente, de


competência estatal e não federal, como ocorre no Brasil. 174- 175. De outro lado,
seguindo a característica do sistema de Common Law, a intervenção estatal,
por meio de leis é quase incipiente e, por consequência, os contornos dos
institutos são moldados, no essencial, pela prática e pela evolução
jurisprudencial 176.

172
I de m , p p . 20 2 -20 3 . N e s s a li nh a t am bé m a po n ta C E LS O B A R B I F I L H O : “ [ n] a I n gl at er r a,
p aí s d a co m mo n l a w, o i n s t it u t o nã o s ó f o i s e m p r e a c ei t o c om o m u i t o u ti li za d o e
d es e n vol vi d o n a vi da e m pr e s a r i a l . Há n a qu e l e pa í s o vot i n g agr e em en t , f i gu r a c on t r a t u al
c uj a f or ç a vi n cu l a n t e a j u r i s p r ud ê nc i a t em re co n he c i d o co m o s u pe r i o r a o s pr óp r i o s
e s t a t ut os s o ci a i s ( Ac o r d o d e a c i on i s t a s : p an o r am a.. . c i t ., p . 3 3-3 4 ) .
173
L ’ i mp er a t i f . .. c i t . , p . 2 0 4.
174
C f . T H O M AS J O Y C E , Sh a re h o l de r Ag r ee me n t s : A U. S. Pe r s p ec t i ve , i n P IE R G I U ST O
J AE G E R e F R A N C O B O N E LL I ( c oo r d .) , S i nd a ca t i d i v o t o e si nd a c ati d i bl o c c o, M i l a n o,
Gi u f f r è , 1 9 93 , p . 35 5 .
175
“ Nos EU A a s s oc i e d a d e s a n ôn i m a s s ã o o b j et o d e l e i s e s pe c í f i c a s no s d i ve r s o s Es t a d os.
Es s a s l e i s , e m r e gr a, l i m i t a m -s e a di s c i p li n a r a co n s t it u i ç ã o d a s oc i e dad e e s eu s a s pe c t o s
f u nc i o n ai s, na d a d i s p on d o s o br e o s a c o r d os d e a c i o ni st as . T od a vi a , l á a s c on ve n ç õ es d e
vot o e b l oq u e i o s ã o am pl a m e n t e ut i l i z ad a s e ac e i t a s , a m e n os q ue t e n h am f i ns il í ci t os ou
vi s e m a a l i j a r m i no r i a s. As s i m e m t ai s c o nve nç õ e a s f o r m as d o p oo l i n g a g r e e m en t , d e
c a r át er c on t r a t u a l e de s t i n a do a o r ga n i z ar gr up o s de c o nt r o l e . Já os
s h ar e h ol d e r s ’ ag r e e me nt s o bj e ti va m r e gu l a r a e l e i ç ão de a dm i n i st r a d or e s . E h á a i n da a
f i gu r a d o vo t i n g t r u st , m od e l o c o r po r a t i vo d e r e p r es e n t a ç ã o d e m i no r i a s n a s gr a nd e s
c om p a n hi a s , c a r a c t e r i z a nd o um a f or m a m a i s a b e r t a d o s i n d i c a t o de vo t o eu r o pe u . P r e s t i gi a -
s e n o Di r e i t o Nor t e -A m er i ca n o a p l e na e f i c á c i a d os a c or d o s d e ac i o n i s t a s, po r m e i o d a
ma nd a t o r y i nj un c ti o n, or d e m d o j u i z da d a di r et am e n t e à p a r t e pa r a q u e c u m p r a o pa c t u a do ”
( C E L S O B A R B I F I LH O , Ac o rd o d e ac i o n i s t as : pa nor a ma ..., c i t ., p. 34 ) .
176
Ne s s e s en t i d o , c f . a a n á l i s e qu e J O Y C E T H O M A S f a z ao a n al i s ar a l e gi s l aç ã o do Es t a do d e
De l a wa r e c om o p a r a d i gm a d os r e gr a m e nt o s e s t a du a i s a m e r i c a no s ( S ha r e ho l d e r
Ag r e e m e nt s . .. c i t . ) .
75

As peculiaridades acima evidenciadas fornecem elementos para


compreender o cenário em que se desenvolvem tão intensamente os
shareholders’ agreements: eles serão, efetivamente, o instrumento que reunirá
as disposições com que os acionistas signatários, voluntariamente, modelaram
seu relacionamento.

É por esse viés que o t ema dos shareholders’ agreements (i.e., contratos
entre acionistas) é analisado, e não sob a ótica tão cara à doutrina dos países
de civil law, de sua ligação com o contrato ou estatuto social (evidenciada nas
expressões parassocial ou extra-estatutário).

1.4 – Conclusão e reflexões sobre o panorama atual

Atualmente, a utilização de contratos parassociais – “acordos de


acionistas” ou não - é intensa e generalizada na prática societária brasileira e
estrangeira.

Um dos fatores que, de resto, influencia não apenas o Brasil, mas


também os ordenamentos jurídicos de países em que há alto grau de
internacionalização da economia é a força da produção de modelos
contratuais e de negócios proveniente dos Estados Unidos (a chamada
“americanização” do direito).

Se de um lado o direito norte-americano é pródi go em lançar ao mundo


modelos contratuais, a mesma intensidade de produção não se encontra com
rel ação a estudos acadêmicos relativos aos pactos parassociais, o que deriva
da própria concepção de companhia e de liberdade contratual vigente nos
diversos estados que compõem aquela nação.

Mais além, é preciso observar que a própria concepção do direito


societário e seus objetivos, seu tratamento doutrinário e legal diferem muito
entre os países de tradição anglo-saxônica e aqueles filiados de linhagem
romano-germânica, o que pode explicar esse aparente paradoxo.
76

Já desde os anos 90, vive-se acentuação no fenômeno da contratação


parassocial em todo o mundo, com volume sempre maior de obras e autores,
sobretudo na Europa, a cuidar do assunto 177.

As operações econômicas transacionais moldadas no modelo das joint


ventures, de um lado, e os investimentos realizados pelos fundos de private
equity de outro 178, elevam sobremaneira o número de contratos parassociais e
os dotam de sempre novas funções e objetivos, no interesse das partes
contratantes dos mais diversos ne gócios: a existência de contratos parassociais
pode mesmo ser indicada como um traço característico, do ponto de vista de
estruturação jurídica, dessas operações.

Além disso, os contratos parassociais, sempre multiformes, podem ser


encontrados nas mais diversas operações econômicas.

177
E D G A R J O U S S E N c om e n t a q u e “ o c on t r a t o o u e s t a t u t o s o c i al c o nf i gu r a a s b a s e s da
s o ci e d a de d e a c or d o c o m o q u e a l e i p r e vê . Na pr á t i c a m o s t r a -s e s e m pr e m a i s q u e os só c i os
r e gul a m , e m o u t r o s co n t r a t o s pa r a l e l o s ao c o nt r at o o u e st at ut o so c i a l , var i ad o s e
i m p o r t an t e s a s pe c t o s f un d a m en t a i s e de r e l e v ân c i a p ar a a s oc i e d a de . I s s o val e p a r a t od o s
o s ti po s de s oci e d a de , m a s pr i n c i p al m en t e p ara a s s o c i e da d e s d e ca p i t a l . O si gni f i ca d o
d es s e t i p o d e c on t r a t o s , as s i m , nã o é d e s e s u be s t i m a r . C on t u do a do ut r i na a r e s pe i t o é
a pe n a s e sp a r s a . ( i n v er b i s : “ Na c h de m Ge s e t z t b i l d et d er G es e l l s c h a f t s ve r t r a g d i e
Gr u n dl a g e e i n e r G es e l l s c h a f t . I n d er P r a xi s z e i gt s i c h j ed o c h z un e hm en d , da β
Ge s e l l s c ha f t e r vi el f a c h w i c ht i ge un d für di e Ge s e l ls c ha f t b ed e u t en d e
Gr u n ds e n t s ch e i d un ge n n eb e n d e m Ge s el l s ch a f t s ve r t r a g i n e i ge n e n s c hu l d r e c ht l i ch e n
Ve r t r ä ge r e ge l n . Da s gi l t f ü r al l e Ge se l l sc h a f t s typ e n , vor a l l em f ü r K a pi t a l ge se l l sc h a f t e n.
Di e Be d e ut un g d e r a r t i ge r V e r t r ä ge i m W i r t s c h a f t s l e be n i s t kau m z u üb e r s c hä t z e n.
Gl e i c h wo hl i s t d a s di es b e z ü gl i c h e S c h r i f t u m n ur s pä r l i c h ” . Ge s e l l s c h af t e r a b sp r a ch e n
n eb e n Sa t z u n g u n d Ge s e l l s ch a ft s v er t ra g , K ö l n , O t t o Sc h i m i d t , 1 9 95 , p . V) .
178
Co m o j á se m e n c i on o u o s a j u s t e s pa r a s soc i a i s s ã o el em e n t o s f un d a m en t a i s na
e s t r u t r a çã o d e op e r a çõ e s d e ca p i t a l de r i s c o p e l os f u nd o s d e ve n t u r e c ap i t a l e p r i v at e
e qu i t y . A e vo l uç ã o do f e nô m e no d a c o nt r at aç ã o p a r a s s oc i a l , s u a c r e s c e nt e s o f i st i c a çã o e
s u a d i f u sã o ge n e r al i z ad a s ã o i nt r i ns i c a m e n t e li ga d as a o c r e s c en t e vo l u m e d e o p e r aç õ e s
d es s e g ên e r o n o s m a i s d i ver s o s pa í s e s . D A I G R E e S A N T I L L E S -D U P O N T r ef o r ç a m , a i nd a , a
i n f l u ên c i a da s pr á ti ca s a m er i ca n a s c o m o d e t e r m i n an t e s de s s e pr o c es so : ( “ [ d] e m ê m e , l e
d év e l o pp e m e nt d e s op é r a t i o ns d e c a p i t a l -r i s q ue a é t é l ’ oc c as i on de l ’ u t il i sat i o n et d e l a
c r éa t i o n d’ u n e m ul t i pl i ci t é d e pa c t e s , pa r fo i s tr é s c o mp l e x es . L’ a cc e l é r a t i o n d e s
t r a n s m i s si on s d ’ e nt r ep r is e s , e m p a r t i c u l i e r d es t r a ns m i s s i o n s i n t r a f am i lia r e s de P M E-P M I a
s u sc i t é l a f l ori r as o n d e t r è s no m b r e ux pr o t o c ol e s ” e “ l ’ i n f l u en c e d es p r a t i q ue s an gl o -
a m é r i c ai ne s a s o u ve nt é t é de t e r m i n a nt e” . Pa ct es . .. c i t ., p p.2 -3 ) . D e f a t o , o t e m a d o s pa c t o s
p ar a s s o c i a i s é i m p ac t a d o di r e t a m e n t e p el a s p r á t i c a s c on t r a t u a i s di ut u r na m e nt e t a l h a d as n o s
e s cr i t ór i os d e a d vo c a ci a a m e r i c a n os c u j o s “ m od e l os ” r a p i d a m en t e a t i n g em as m ai s di ve r s a s
r e a l i d ad e s j u r í d i c as .
77

São encontrados na estruturação prévia e gestação de operações no


mercado de capitais (como lançamento inicial de ações ou ofertas públicas de
aquisição), ou mesmo na preservação de interesses em virtude dessas mesmas
operações; na consolidação de grupos de poder com a criação de estruturas
piramidais; na fixação de remuneração de administradores, na previsão de
mecanismos de saída de sociedades etc.

Como se apontou na Introdução, a doutrina francesa frequentemente


utiliza a expressão ingégnierie financiére para agrupar alguns dos aspectos
ligados aos temas acima indicados, para os quais os aplicadores do direito
vêm utilizando os variados arranjos contratuais para atingir o resultado
desejado.

Tudo isso, enfim, compõe o cenário em que se desenvolverá o presente


estudo.
78

2 - CARACTERIZAÇÃO DOS PACTOS PARASSOCIAIS


PATRIMONIAIS: FUNÇÃO ECONÔMICA

2.1 - Pactos parassociais patrimoniais: função econômica

Retomando o que se disse na Introdução, pouco se enfatiza, na doutrina


societária, que o termo “sociedade” refere-se tanto ao relacionamento
societário fundado na cooperação (ou aos comportamentos societários, que
autores alemães designam por Gesellschaftsverhältnisse) quanto à pessoa
jurídica, à organização gerada por esse mesmo relacionamento (a
“Verband 179”) 180.

O direito societário tem por objeto, por consequência, ambas as facetas


do fenômeno e essa percepção é crucial para bem compreender os pactos
parassociais em sua função econômica: eles formatam o relacionamento
societário entre as partes, independentemente de produzirem,
necessariamente, efeitos sobre a organização da pessoa jurídica, da
sociedade 181.

Na Introdução, apontou-se preliminarmente como função econômica dos


pactos parassociais, em geral, integrar, detalhar e personalizar a disciplina
do relacionamento societário existente entre as partes, regulando o exercício

179
No e nt en d er de O T T O C A R L O S V IE I R A R I T T E R V O N A D A M E K , b as e a do e m W IE D E M A N N , “ a
p al avr a Ve r b a nd t e m s e n t i do pl u r í voc o e m a l e m ã o, em s en t i d o e s t r it o , d e si gn a a s
a s s oc i a ç õe s q u e pe r s e gu e m f i n s p o lí ti c o s e e xe r c e m i n f l u ên c i a s o ci al ( ...) ; e m s e nt i do l a d o,
a br a n ge a s a s s oc i a ç õ es p r o pr i am en t e d i t a s e as s o c i e da d e s” ( t r ad u çã o p ar a o p or t ugu ês d o
a r t i go d e a u t or i a d e H E R B E R T W I E D E M AN N , Ví nc u l o s d e l e a l d ad e e r eg r a d e
s u bs t a n ci al i da d e i n AAV V, Te ma s d e Di re i t o S oc i e t á r i o e Emp r es a r i a l Co nt emp o r ân e o s.
L i be r Ami co r u m Pr of . D r . Er as m o Va l l a d ão Az e v ed o e No v ae s Fr a nç a , M al he i r o s , Sã o
P au l o , 2 0 11 ,p . 1 4 5, no t a 5 .) .
180
Vo l t a r -s e - á a o t em a n o Ca p í t u l o 4.
181
So br e a d ua l i d a de d o f e n ôm e n o s o c i e t á r i o , cf . K A R S T E N S C H M I D T , G e s el l s ch a ft s r e cht,
c i t ., p. 3 e s s e M E N E ZE S C O R D E I R O , Ma n ua l . .., ci t . p . 2 4 .
79

de direitos de sócio 182- 183, já se tendo afirmado, com relação aos ajustes
centrados em direitos políticos, que é quase imediato o reconhecimento de sua
função integradora do regime a que os sócios desejam se submeter, tendo em
vista sua associação societária 184.

Com relação aos pactos parassociais que envolvem direitos patrimoniais


(e não políticos) dos sócios, essa função é peculiar e não diretamente
percebida.

É forçoso reconhecer, contudo, que as partes também os celebram com


vistas a complementar e detalhar aspectos de seu relacionamento, fazendo-os
integrar o regramento de sua convivência societária. A peculiaridade, aqui,
repousa em fazê-lo não com base no exercício do direito de voto para modelar
a estrutura e funcionamento da sociedade, mas atribuindo essa função
integradora ao manejo de direitos indivi duais do sócio frente aos demais.

Tome-se como exemplo por excelência dos pactos parassociais


patrimoniais os ajustes de compra e venda de participações: ao contrário do
que se pode aventar à primeira vista, eles atendem à necessidade de regulação

182
Cf . D A I G R E e S A N T I L L E S -D U P O N T ( “ c e q ui f ai t l ’ o r i gi na l i t é d e c es a c c or d s , c ’ e s t m o ins
l e u r f o r m e , l ’ a c t e gl o b al s t r u c t u r é d a ns l e q uel il s s ’i n s è r en t , q ue l eu r f i na l it é: il s s o nt
d es t i né s à i nf l é c h i r ou à c o mp l é t e r l e s c l a us e s ha b i t u e ll e s d e s st at ut s ” Pa c t e s
d ’ ac t i o n na i r e s , c i t , p. 2 . Gr i f o u -s e) . Ai n d a aq u i , t o d a vi a , os a u t o r es s e v o l t a m à i n t e gr a ç ã o
d o e s t a t ut o , q ua n do a ó t i c a or a p r o po s t a te m e m m i r a a c om p l e t a d i s c i pl i na do
r e l ac i o n am en t o s o c i et ári o .
183
Te n do e m vi st a a r e l e v ân c i a da n oç ã o de f u n ç ã o ec o n ômi ca d os c o nt r a t o s p ar a s s o c iais
p at r i m on i a i s p a r a o s a rgum e n t o s d e s e n vo l vi do s ne s t a t e s e , c on vém d e i xa r as s e n t a do , c o m
b as e e m O R L A N D O G O M E S , q ue “ a f u nç ã o e co n ô m i ca e s o c i a l d e um co n t r a t o é pr o p or c i o n a r
à s pa r t e s o m e i o l í c i t o pa r a a l c an ç a r f i m t ut e l a d o p e l o or d e na m e n t o j u r í d i c o ”.
( T ra n s f o rm aç õ e s G e r ai s do Di r e i t o d a s Ob r i ga ç õe s , R T, Sã o P au l o , 1 9 8 0 , p .7 6 ) .
184
Va l e t r a n s cr e ve r a c l a r a l i ç ão d e C R I S T I N A C E R O N I , e m q ue r e s s a l t a , c o m ba s e e m O P P O ,
s e r t í pi c o do s c ont r a t o s pa r a s s o ci ai s i nt e gr a r o r e gu l a m e nt o s o c i e t á r i o co m n or m a p a r a l e l a
d es e j a d a p e l a s p a r t e s , e q ue o i n t e ns o e m pr e go d e ss e s c on t r a t o s d e s m en t e qu e t en h a m
p ou c a i n f l u ên c i a n o f e nô m e n o s oc i e t á r i o ( “ [ i] n r e a l t à è t i pi c o i n ve c e d e l l a s t r u tt u r a
n ego z i a l e d ei p at t i p a r a s oc i a l i i n t egr a r e i l r e gol a m e n t o s o ci e t a r i o c o n u na no r m a t i va
p ar a l l el a, no n s o l o vo l u t a m e nt e es t e n s i va m a, a vol t e, e d è qu e l l o c h e pi ù c o nt a,
vol u t a m e n t e d i f f o r m e da gl i i m p e gn i d e l l o s t a tu t o o d el l ’ a tt o c ost it uti vo , a co n f e r m a c h e
l ’ a t t u a l e , m a s si c c i o i mp i e go d i q u es t e co n ve n z i on i pr i va t e , s e m b r a c os ì s m e nti r e l a
c or r en t e s ca r s a i n f l ue n z a l o r o a t t r i bui t a nei c o n f r on t i d el f e n om en o s o c i e t a r i o ”.
S i mu l az i on e ..., c i t ., p. 11 1 8) .
80

e solução de aspectos cruciais para o relacionamento societário e não apenas à


alteração patrimonial das partes.

De fato, ao determinar condições de desconstituição do vínculo entre


sócios e fornecer-lhes alternativa diante de situações extremas (como nos
casos de impasse decisório e/ou alienação de lote majoritário de ações a
terceiros – tag along right) entre outras aplicações, esses ajustes formatam, de
maneira evidente, a relação entre os sócios. São, portanto, parte indissociável
da dinâmica existente entre eles: encontram-se completamente imersos na
rel ação societária 185.

Em suma, os pactos parassociais patrimoniais contribuem, de forma


singular, para a configuração do regime global que deve valer entre os sócios,
sendo entabulados justamente sob essa ótica e com essa finali dade. Nesse
sentido, os pactos parassociais (patrimoniais ou não) informam a
caracterização do estado de sócio 186. Vale transcrever na íntegra, aqui, a lição
de M EN E Z E S C O RD E I RO :

“[r]ecordamos que o estado das pessoas pode ser entendido numa


de t rês acepções: - o estado-qualidade, correspondente a uma
determinada posição da pessoa; - o estado como complexo de
situações jurídicas correspondentes a essa qualidade ou por ela
potenciadas ou condicionadas; - o estado enquanto complexo de
normas jurídicas reguladoras dessa massa de situações. As
referidas acepções estão inter-li gadas. Parte-se do estado-
qualidade, decorrendo, dele, as outras duas acepções. Pois bem:
ao admitir o “estado de sócio”, podemos exprimir, de modo
sintético, todo um mutável mas consistente conjunto de posições

185
Cf . J U N Q U E I R A D E A Z E V E D O , a o e xa m i na r c a s o c o nc r e t o en vol ve n do p ac t o p ar a s s o ci al
r e l a t i vo a o p çã o d e v e n d a d e a ç õ es , co m p r o pr i e d a de a s s e ve r a q ue “ [ o ] co n t r a t o de o p ç ã o
d e ve n da d e aç õ e s ( …) p o s su i r e l a ç ã o c o m o s d e m a i s n e gó c i o s c e l e b r a d o s e nt r e a s p a r t e s,
n ot a d a m e nt e c o m o a c or d o de a c i o n i st a s da C om p a n hi a , ce l e b r a do n a m e s m a da t a e e n t r e as
m e s m a s p a r t e s . Am b os t ê m n at ur e z a p a r a s s oc i a l , i s t o é , s e c o l o ca m a o l ad o do c on t r a t o
s o ci a l e s e d e s t i n a m a i nt e g r ar e c om pl e m e n t a r a r e l a çã o e nt r e o s s ó c i o s d a s oc i e d ad e ”
( No v os En s ai o s … c i t ., p. 2 45 . G r i f ou -s e ) .
186
A o b r a de G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T t a m b é m p ar t e de s s e po n t o de vi s t a , co m o se
d ep r e e nd e d o P r e f á ci o d e J E A N - P IE R R E G A S T A U D : [ l ] e s p ac t e s e xt r a -s t a t ut ai r es q ui a p ri ori
r e l è ve n t d e l a d éf i ni t i on e t d u r é gi m e c l a s s i q u e d e s c on t r a t s o nt - il s p o ur fi n d ’ a mé na g e r l e
s t a t ut d ’ as s o c i é ” ( Du co n t r a t …, c i t ., Gr i f o u-s e ) .
81

jurídicas que, por lei, pelo contrato de sociedade, por outros


acordos (designadamente: os parassociais) e por deliberações
societárias lhe possam advir” 187- 188.

Quando não se capta devidamente essa função dos pactos parassociais


patrimoniais, diga-se uma vez mais, acaba-se por erroneamente enxergá-los
como negócios jurídicos a salvo do regramento do direito societário, quando o
que ocorre em verdade não autoriza símile afirmação: os pactos parassociais
patrimoniais mostram-se como elementos-chave na estruturação de
rel acionamentos societários e, portanto, devem ser observados e interpretados
à luz do direito societário e seus princípios.

2.1.1 - Variedade de pactos e função econômica específica

Uma vez assentada a função econômica dos pactos parassociais


patrimoniais como integradora da disciplina vigente entre os sócios e, por
isso, inspiradora da dinâmica que entre eles deve ser observada, cumpre

187
Ma nu a l ..., c i t . p . 50 6- 5 0 7 . Gr i f o u -s e.
188
Es c l a r e c ed o r a, t a m bé m , a p o s i ç ão d e B R U N E T T I : “ O c o n c e i t o d e st at u s c om pr e e n d e uma
s é r i e de r e l a ç õe s c ol i ga d a s e i nt e r d ep e n de n t e s f or m a n do u m or d e n am e n t o es p e c í f i c o; n ã o
c or r i s po n de p or i s s o a u m a r e l a ç ã o ú ni ca e n e m m e s m o s e a d ap t a à q ue l a d e t i t u l a r i d ad e . É
u m a s i t u aç ã o c om p l e xa ou , m e l h o r , u m c om p l e x o de r e l a ç õ es c o n e xa s . ( .. .) As s i m , co m o s e
d á u m s t a t us d e f a m í li a, d e f i l h o l e gí t i m o , d e inc a p az , d e he r d e i r o , de f a l i d o , e t c h á um
s t a t u s d e s óc i o .” ( “I l c o nc e t t o d i s t at u s co mp r e nd e u n a s e r i e d i r ap p or t i c ol l e ga t i e
i n t e r de p e nd e n t i f or m a n t i u n a p po s i t o o r di n a m e nt o; n o n c o r r i s po n de p e r ci ò a un r a pp o r t o
s i n go l o e n ep p ur e s i ad a t t a a q ue l l o d i t i t ol a r i t á. È u n a s i t u az i o n e co m p l e s sa o , m e gl i o , u n
c om p l e s s o di si t ua z i o n i c on n es s e ( .. .) . Qu i n d i , c om e s i dà u no s t a t us di f a m i gl i a , d i f i gl i o
l e gi t t i m o , di i n c ap a c e, d i er e d e , d i f a l l i t o , ec c ., vi è un o s t a t u s d i s o c i o e , qu a nd o
l ’ a p pa r t e n e nz a a l l a s oc i e t à è do c u m en t a d a d a u m t it o l o di c r e d i t o , qu es t o è a tt r i but i vo di
t a l e s t a t u s ” Tr a tt a t o. .., ci t ., p . 2 2 2) . O a ut or c o m e nt a, a i nd a , a s p os i ç õ e s de o u t r o s au t o r e s
c om o S A L A N D R A , q ue e n t e nd e i n exa t a a e xp r e s s ão , p o r c on s i d e r ar qu e a co n di çã o j u r í d i c a,
n o s t a t us , é i gu al a t o do s a qu e l e s q u e a i n ve s t e m , e nq u a nt o o m e s m o nã o o c o r r er i a n a
s o ci e d a de , nã o a bo r d a , c on t u d o, a f or m a ç ã o do e s t a do d e s óc i o p e l a s r e l aç õ e s e nt r e s ó c i o s.
Cf . n o t a 3 1 , a ci m a, p a r a a p os i ç ã o d e A N Í B A L S A N C H E Z . Na d ou t r i n a al em ã o vo c áb u l o
e m pr e ga do é “ Mi t g l i e d sch a f t ” . P ar a o a s s un t o , c f . K A R S T E N S C H M ID T , t ó p i c o “ P a r t i c i p aç ã o
c om o r e l a ç ã o j u r í d i c a e c o m o di r ei t o s u bj et i vo ” - Di e Mi t g l i e d s c ha f t al s Re c h t s v er h ä l t n is
u nd a l s s ub j e k t i v es Re c h t , G es e l l s c h af t s r ec h t , c i t . , pp 5 49 -5 50 . P a r a b o a r e s e n ha s o br e o
a s s un t o , v. t a m b é m D A N I E LA R A M O S M A R Q U E S M A R I N O , O s t a t u s s oc i i i n Er a s m o V al l a dã o
Az e ve d o e No vae s F r a nç a ( c o o r d.) , Di r e i t o S o c i e t ár i o C on t e mp o râ n e o I , S ã o P a u l o,
Qu a r t i e r La t i n, 20 0 9, pp . 16 3 -18 2 .
82

perpassar os principais registros dessa função, em vista dos ajustes


parassociais patrimoniais mais comumente verificados na prática societária 189.

Consoante já se afirmou, não é objeto dessa tese – diante da inconteste


multiplicidade de ajustes parassociais que a prática societária acusa – a
enunciação ou descrição exaustiva de cada uma das modalidades de pactos
parassociais patrimoniais.

O exame realizado, ao contrário, tem por escopo realçar aqueles traços


dos ajustes em análise que apoiam a tese de que devem ser interpretados
valendo-se das regras e princípios societários. Adota-se, assim, corte
metodológico que privile gia a visão panorâmica das modalidades de ajustes
verificados em detrimento da profundidade no exame das características e
questões típicas de cada um deles.

A doutrina t radicionalmente a grupa esses ajustes sob classificações


diversas. Os acordos parassociais são, então, reunidos sob a locução de
“acordos de bloqueio” – quando se procura sublinhar a possibilidade de,
contratualmente, as partes garantirem a coesão do bloco acionário signatário
do pacto, com a utilização de cláusulas de restrição da circulação de ações,
nelas incluídas as diversas formas de estruturação de direitos de preferência,
evitando, “bloqueando” eventual esvaziamento dos acordos de voto que
tenham firmado.

189
P a r a o d e se n vol vi m e n t o de s s e c a pí t u l o va l e -s e, s ob r e t u do , d a s ob r a s : S T E D M AN E J O N E S ,
S ha r e ho l d e r s’ Ag r ee me n t s ... ci t ., e D A I G R E e S A N T I L LE S -D U P O N T , Pa c t e s .. . c i t ., qu e
a pr e s e n t a m de s c r i ç ã o d os a c or do s m a i s c o m u m en t e ve r i f i c ad o s na p r át i c a, ac o m p an h ad o s
d e s u a s m o t i vaç õ e s. Co m r e l a çã o à ob r a d e S T E D M A N E J O N E S sã o o s pr ó p r i os a u t o r e s q ue
r e s s al t a m a n ot áve l a us ê n ci a d e bi b l i o gr a f i a n a m a t é r i a : “t h e pu r p os e o f t hi s b o ok i s t o
e xa m i n e a s ub j e c t wh i c h s ee m s t o r e c e i v e l es s a t t e n ti o n i n t he s t a nd a rd l eg a l t e x t s t h an it
p er h a ps d es e r v e s. S h ar e h o l de r s ’ a gr e e m e n t s a r e be i n g u s e d i n c r e a s i n gl y b y l e gal
p r ac t i t i o ne r s a s a t o ol t o ‘ c u s t o m i s e ’ a co m p a n y’ s o wn e r s h i p a nd m a na ge m e nt s t r uc t u r e t o
m e e t t h e s p e c i f i c o bj e ti ves o f t h e i r c li en t s . As a r e s ul t , t h e y f o r m t he hu b o f m an y
d i f f e r e nt t yp es o d t r an s a c t i on , b u t , be c a us e t he y a r e i ne xt r i c a b l y l i n k e d t o a c o m p an y’ s
a r t i c l e s o f a s so c i at i o n , ca nn o t b e co n s i de r e d i n is o l a t i o n” ( S h ar e h ol de r s ’Ag r e e m en t s .. . c i t .,
p . i x) .
83

De outro lado, ganham a designação “acordos de defesa”, quando o que


se está em jogo é a utilização dessas mesmas cláusulas – unidas naturalmente
a acordos de voto – com o objetivo de criar minoria organizada e coesa para
fazer frent e ao controlador 190- 191.

Para os fins deste trabalho, contudo, essas classificações mostram


apenas que diante de diversas motivações, as partes efetivamente lançam mão
de quanto o mais possam para asse gurar que o relacionamento societário de
que fazem parte ostent e as características desejadas e seja pautado pelas
regras que entendem mais coincidentes com seus interesses. Nesse sentido,
parecem não contribuir, per se, para a análise dos elementos que devem ser
considerados no processo interpretativo dos pactos parassociais patrimoniais.

2.2 - Pactos relativos à co mpra e venda de participação societária –


aspectos gerais

Ajustes parassociais fundados na compra e venda de participações


servem cada vez mais a i númeras finalidades no contexto de uma associação
societária 192- 193.

190
S e gu n do P E G G Y L A R R I E U , há a ut o r e s n a Fr a n ça q ue c l as s i f i ca m a i n da os p ac t o s em
f u nç ã o de s u a n a t u r e za j u r í d i c a, en q ua n t o ou t r os p r ef e r e m c o ns i d e r a r o a s p ec t o o r gâ n i c o,
c on t r a p on d o a c o r do s l i g a do s a o e xe r c í c i o d e po d e r àq u e l e s r el a t i vo s a o c a p i t a l ou m e s m o
a pr e s e n t a r di vi s ã o t r i p a r t it e e n t r e “ pa c t o s d e ge s t ã o ”; “p a c t o s do a c i o na r i a d o” e “ p a ct o s d e
s a í da ” . A a u t o r a , a s eu t u r no , d i vi d e o s p ac t o s c om ba s e na f i n a l i d a de d e c a d a p a c t o , e m
p ac t o s d e c o l ab o r aç ã o p or um p er í od o m a i s o u m e n os l o n go d e t e m p o e p ac t o s d e
r e s i s t ê nc i a , c o m vi s t as à p r ot eç ã o do s s i gna t á r i o s f r e nt e a a t a q ue s d e t er c e i r o s ou m e s m o
d os p r ó pr i os s ó c i o s ( L’ i nt e r p r é t ati on … , c i t , p. 69 9 ) .
191
N a d o ut r i na it a l i a n a en co n t r a -s e a m e nç ã o a s i n da c at i f i na n zi a ri q ue s e r i a m a qu e les
c on t r a t o s pa r a s s oc i a i s m e d i an t e o s q u ai s o s óc i o -f i n a nc i a d or o u a i n s t it u i ç ã o d e c r é d i to
p r oc u r a r e d u z i r o r i s c o r el a t i vo à f u t ur a r e ve n da d a p ar t i c i pa ç ã o s o ci et ár i a ( c f . L U C A
B U T T A R O , S i n da c at i Az i o n ar i , c i t . p . 4 2 6) . Es s e s a c or d o s – ve r -s e - á no C ap í t u l o 4 – po d e m
t e r s u a va l i d a de q u e s t i on ad a , n a m ed i d a em qu e po s s a m es t a b e l e ce r r e l a ç ã o l e o n i na e n t r e
a s p ar t es .
192
M u i t a s d a s r e f l e xõ e s a q ui a pr e s e n t ad a s e n c on t r a m -s e t a m b é m e m M A R I A N A C O N T I
C R A V E I R O , As p e c t o s S o ci et ár i o s d a Par t i ci p a ção d o Es t ad o e m So c i e d ad e s Anô n i ma s,
Di s s e r t a ç ã o d e M es t r ad o , F D US P . 2 0 07 , p p . 1 41 -1 48 e n o ar t i go Al gu n s a sp e c t os j urí d i c os
d o d e s i nv e s t i me n t o na s o pe r a çõ e s de p r i v at e e q ui t y i n As p e c t os d o Me r c a do d e C a pi t ai s ,
c oo r d . F r a n c i s c o Sa t i r o d e So uz a J r ., S a r a i va, n o p r el o. Qua n t o a est e úl ti m o, a i n d a nã o é
p os s í ve l i n d i c ar as pá gi na s d e q ue c a d a a ss e r t i v a f o i r e t i r a d a .
84

Em grande parte dos casos, elas se referem à necessidade de previsão de


regras de saída, de modalidade de desfazimento do vínculo societário na
ausência de re gra legal ou mesmo de condições fáticas que o permitam de
forma natural, sobretudo quando se leva em conta a baixa liquidez verificada
quanto a ações de sociedades anônimas fechadas 194.

De fato, é forçoso admitir que grande parte das sociedades anônimas


fechadas não oferece condições concretas para que a saída se verifique de
maneira satisfatória, ou seja, que o investimento encontre liquidez. Na maioria
dos casos, os únicos interessados na aquisição de ações de companhias
fechadas são os próprios acionistas que, havendo na associação forte caráter
intuitus personae, são também titulares, usualmente, de direitos de preferência
meticulosamente estruturados 195

Considerando a necessária dilação do relacionamento societário no


tempo 196, as partes procuram precaver-se desde logo, utilizando os ajustes
sobre compra e venda de parti cipações para obter alternativas para findar sua
associação ou minorar eventuais consequências da saída de um sócio 197- 198.

193
C A R LO S A U G U S T O S I L V E I R A L O B O p r op õ e a o q u e d es i gn a a c or d o s s o br e aç õ e s u ma
c l a s s i f i c aç ã o em : ac o r d os d e p r e f e r ê nc i a , d e p r o m e s sa o u o p ç ão d e c o m pr a o u v e n da , d e
c on s e nt i m e nt o pr é vi o e de ve d a ç ão à a l i e n aç ã o ( Aco r d o d e Ac i o n i s t a s, i n Di r e i t o d a s
Co mp an h i a s , ( c oo r d ) . A L F R E D O L A M Y F I L H O e J O S É L U I Z B U L H Õ E S P E D R E IR A , R i o , F or e n s e,
2 00 9 , vol . I , p. 46 5 ) . Na p r e s en t e a n á l i s e , a c r es c e n t a r -s e - á o s a c or do s d e ve n da c o n j un t a d e
p ar t i c i pa ç õ es .
194
Ne s s e s e n t i d o, “[ s ] h a r eho l d e r s of p r i va t e co m p a ni e s a r e us u a l l y f a ce d wi t h r e s t r i ct ions
o n t h e t r a ns f e r a bi l it y o f t h e i r s ha r e s an d wi t h t he a bs e n c e o f a m a r ke t i n t h o s e s h a r es ,
e s pe c i a l l y i f t h e y a r e n o t i n a c o nt r ol l i ng p os i t i on . No t s ur pr i si n gl y, a p e r s on a c qu i r i n g
s h ar e s i n a p ri va t e c o m p a n y wi t h o ut o bt a i ni ng co n t r o l wi l l b e i n cl in e d t o s e e k s p e c i al
p r ot e c t i o n s and ri ght s to s a f e gu a r d this p o si t i o n” (STEDM AN E JONES,
S ha r e ho l d e r s’ Ag r ee me n t s , c i t . , p . 1 ) .
195
Co m o j á s e c o m e nt ou , a s s o ci ed a de s d e p es s o a s e a s l i mi t a da s o f e r e ce m a p os s i b il i dade
d e d i s s ol uç ã o d o ví nc u lo s o c i e t á r i o d e um d o s s ó c i o s , m e di a n t e s ua so l i c it a ç ão e co m o
p ag a m e nt o d e s eu s h ave r e s , c on f o r m e o d i s p ost o n o s A r t s . 1 .0 29 e 1. 03 0 do Có d i go C i vi l
( M A R I A N A C O N T I C R A V E I R O , Al g u ns as p e ct os j u r í d i c os . .., c i t .) .
196
No i t e m 3 .6 .1 , a ba i xo , e s s a p e c ul i ar i da d e s er á e x a m i na d a c om o f a t o r c ar ac t e r i z a d or dos
p ac t o s p a r as s o c i a i s .
197
So b r e a pe r s p e c t i va d a pr á t i c a n or t e -a m e r i c a na a r e s p ei t o de a j u s t e s de c o m pr a e ven da
c om o vá l vu l a s d e s aí da e s ua f un d am e n t a l i m po r t â n ci a na gê n e se do r el a c i o n am e n t o
s o ci e t á r i o , e s c l a r e c ed o r es os e n s ai os d e c f . E L L I O T M . S U R K I N , “ Ho w d o I ge t o ut of he r e ?
85

Nesse cenário, a função integradora do pacto parassocial patrimonial é


evidenciada, na medida em que oferece às partes a possibilidade de regrar, de
antemão, aspect os potencialmente danosos à associação e/ou ao negócio
comum.

Com efeito, os ajustes relativos à compra e venda de participações


societárias apresentam distintivo traço programático, com a determinação dos
cri térios e parâmetros dentro dos quais futura compra e venda deverá ser
realizada entre os sócios e, principalmente, a enunciação de liames entre a
ocorrência de eventos próprios àquele relacionamento (ex.: impasse, alteração
de determinada circunstância etc.) e a conclusão da compra e venda e/ou
exercício de opção de compra ou de venda.

Além disso, a vigê ncia de cláusulas desse gênero desde o início do


rel acionamento societário permite que se tenha panorama mais concreto tanto
das hipóteses em que a saída dos sócios deve ocorrer, como de efeitos que
dela decorrem, seja com rel ação ao patrimônio dos sócios como também para a
companhia 199.

A d i s c u ss i o n o f e xi t s t r at e gi es i n c l o s e l y-he l d r e a l e s t a t e LL Cs ” i n Th e p r ac t i c a l r e a l st a te
l a wy e r , M ai o 2 00 2 , d i s po n í ve l em h t t p :/ / fi l es .a li -
a ba .o r g/ t h um bs / d a t a s t ora g e / l a c i do i r e p / a r t i cl e s / PR EL_ A C FA3 DB _t h u m b. pd f . Do m e s m o
a ut or “W h e n J o i n t V e n t u r e r s Ca n 't A gr e e - T h e Bu y- S e l l R e vi s i te d ” d i s po n í vel e m
h t t p: // www . a cr e l . or g/ Do c um en t s / S e m i na r s / a 0 00 0 28 .p d f .
198
Cf . D A I G R E e S E N T I L L E S -D U P O N T , Pa c t e s. .., ci t ., p . 1 7 .
199
J á é p os s í v e l p er c e b er , aq u i , a l gun s i n dí c i o s de e ve nt u a l d es vi r t u a m e nt o d a d i s c i p lina
s o ci e t á r i a . S e r i a l í c i t o , p o r e xe m p l o, qu e a s pa r t e s d et er m i na s s e m , c on t r a t u a l m e nt e , t od o s
o s m úl t i pl os a s p ec t o s en vo l vi d os n a di ss o l u ç ão d o v í n c u l o s o c i e t á ri o en t r e e l as , qu a nd o a
l e i vi ge n t e s ob r e o t i p o s oc i e t á r i o em q u es t ão n ão a pr e s e n t a – e n e m po d e a p r e s en t a r –
t a n t a s m i n ú ci as ? Em c a so p os i ti vo , q ua i s os f r e i o s q u e s e ap r e s e nt a m p ar a a i r r es t r i t a
l i b e r da d e c on t r a t u a l ? Va l e a qu i d e t e r m o -no s e m u m e x er c í c i o : a l ei de s o c i e da d e s
a nô n i m a s pr e vê r e gr a s de r e e mbo l s o de a ç õe s p el a c o m p an h i a e m c a s os e s p ec í f i co s , c o m
i n di ca ç ã o d e c r i t é r i o pa r a a pu r a çã o d o v a l or a s e r pa go a o a ci on i s t a . Nã o s e t r at a n d o d e
h i pó t e s e d e di s s o l u ç ão do ví nc u l o s oc i e t á r i o a utor i za d o r a do r e e m bo l s o , p o de r i a m a s p a r t e s
s u pe r a r a l i m i t a ç ã o l e g a l d e h i p ót es e s , f a z e nd o va l e r e nt r e e l a s r e gi m e di ve r s o,
j u s ti f i c a nd o -o c o m a u t i li z a ç ão de a c or d o s d e c o m p r a e ve n da d e p a r t i c i p aç õ e s? Ne s s e
s e nt i do , c f . L U I S G A S T Ã O P AE S D E B A R R O S L E Ã E S , Ac or d o de Aci on i s t a s e Op çã o de V e nd a
( “ PUT ”) i n Pa r ec e r e s , Vo l . 2, S ã o P a u l o , S i n gu l a r , 2 0 04 , p . 13 9 5.
86

Exemplificando: a saída de um sócio que decide fazer valer os acordos


de compra e venda celebrados com os demais pode não gerar efeito financeiro
direto para a companhia, tendo em vista que será o adquirente – e não ela –
quem pa gará o preço das ações, ao contrário do que ocorre, por ex emplo, no
recesso 200.

Todavia, o impacto dessa retirada, para a companhia, pode não ser


inócuo se a presença do acionista alienante no quadro societário for vital para
o êxito da sociedade, considerando sua posição global de sócio e as prestações
acessórias a ele li gadas 201- 202.

Tomando o exemplo acima, é necessário avaliar as regras de compra e


venda, e mesmo o seu exercício, sob a ótica de colaboração societária, que
justifica e embasa o relacionamento até então existente 203.

200
A p r op ó s i t o , a i n d a q ue n ão r ar o s , a co r d os p ar a s s o ci ai s p r e ve n do a o br i g a ç ã o de a
c om p a n hi a ad q ui r i r a s a ç õ e s d os ac i o n i s t a s s i gn at á r i o s n a o c o r r ên c i a d e d e t e r m i na d o
e ve n t o s ã o p a s s í ve i s d e c on t e s t a ç ão n a m e di d a e m q ue a a qu i s i ç ã o da s p r ó pr i a s a ç õe s p e l a
c om p a n hi a , e m b e ne f í c i o d o s ó c i o qu e s e r et i r a, po d e f er i r o i n t e r e s s e s o c i a l e s om e n t e é
a ut or i z a d a e m c a s os e s p ec í f i co s c on s t a n t es d o ar t . 30 d a Le i 6. 40 4 / 76 . C r i a r -s e -i a, ne s s e
c a so , u m a f o r m a de r e c e s so o u de r e s gat e c o n t ra t ua l , o q u e nã o pa r e c e a de q ua d o. D e f a t o,
s e a l e i d e s o c i e da d e s a n ô ni m as p r e v ê e xp r es s a m e n t e a h i p ó t e se d e r e s ga t e d e a ç õ e s , s e r i a
m a i s c on s e nt ân e o es t r ut u r a r a s a í da d o a c i o n i s ta c om b a s e e m aç õ e s r e sga t á vei s , pr e v e nd o
n o e s t a t u t o a s co n di çõ e s d e r es ga t e . ( Cf . , c o n s i de r a ç õe s j á t ec i d a s e m M A R I A N A C O N T I
C R A V E I R O , Al g un s a s pe c t o s j u rí di co s ... , c i t .. )
201
Cf . S T E D M A N E J O N E S , Sh a re h o l de r s ’ Ag r e e me nt s , c i t ., p. 24 6 .
202
Na o pi n i ã o d e C A R V A L H O S A , c o nt u d o, “ [ a] i nd a q ue a a l t e r a ç ão d a ti t ula r i d a de d a s aç ões
p os s a i n f l ui r n o po d er de c o nt r ol e s o c i e t á r i o, par a a c o m pa n h i a é j ur i di c a m e n t e i r r e l e va n t e
t a l a l t e r a ç ã o” ( C om e n t á r i os , c i t ., p. 56 5 ) .
203
Ve r -s e -á no Ca p í t u l o 4 qu e a s i t u a çõ e s c om o a o r a de s c r i t a é p r e ci s o a va l i a r o e xe r c í cio
d o d i r e i t o d o al i en a n t e e do a dq u i r e nt e c o m vi s t a s a o r e l a c i o na m e n t o s oc i e t á r i o e a bo a -f é
q ue n e l e de ve i m p er ar . C O M P A R A T O e s c l a r e ce , ne s s a l i n ha , qu e a co r d os d e c om pr a e v e nd a
e p r ef e r ê n c i a en t r e s ó c i os n ã o s ão m e r a s o br i ga ç õe s b i l a t e r a i s i s o l a da s , m a s i n c l u em - se n o
b oj o d o c o nt r at o p l u r i l a t e r a l qu e é b a s e d o r el ac i o n am e n t o en t r e e l a s , do q ua l d e co r r e a
n ec e s s i d ad e d e o b s e r vâ n ci a d a bo a -f é e a f i d e l i d a de s o ci et ár i a ( “ É qu e a ve n d a d e a ç õ e s,
e m t a l hi p ó t e s e, de i xa d e s er u m c on t r a t o bi l at er al i s ol a d o, e m q ue c a da p ar t e p e r s e gu e
i n t e r e ss e s p r ó pr i os q ue s e c o nt r ap õ e m , m a s i n s er e -s e n o co n t e xt o d e u m a r el aç ã o
p l ur i l at e r al , na q ua l a s a t i s f a ç ão d os i n t e r e s s es i n d i vi du a i s f i c a su b or d i n a da à r e al i z aç ã o
d o i nt e r e s s e c om u m ” . R e s t r i ç õe s à c i r c ul aç ã o de a ç õe s .. . , c i t . , p .5 0)
87

2.2.1 - Opções de compra e de venda de ações

Desdobrando o núcleo básico da previsão de regras sobre o re gi me da


compra e venda entre sócios, tem se consolidado na prática societária a
outorga de opções de venda (“put options”) e/ou de compra (“call options”)
rel ativas à participação societária dos contratantes.

De fato, é difícil encontrar sociedade anônima fechada, atualmente, em


que essas modalidades de pactos não ex istam, sobretudo em se tratando de
“joint ventures” ou de sociedades alvo de investimento em capital de risco por
parte de fundos de “private equit y” ou “venture capital”, que são o foco das
considerações ora empreendidas. Ou seja, repita-se, passou a ser “típico”
nessas formas de associação societária a sua estruturação com base nessas
opções 204.

A outorga de opção de compra ou de venda (“call ” e “put options”) tem


por finalidade conferir à parte beneficiária, respectivamente, o direito de
comprar as ações do outorgante ou vender-lhe suas próprias ações, na
ocorrência de determinado evento deflagrador, desde logo previsto.
Igualmente são previstas opções cruzadas, as “buy or sell clauses” 205.

A função econômica da pactuação é, também aqui, li gada a necessidade


de previsão antecipada de saída do acionista do negócio, pelas mais variadas

204
No t a -s e, m a i s u m a ve z , o f e n ô m en o d a “t i pi f i c aç ã o s oc i a l ” , r ef e r i d o n a no t a 1 11 .
205
P ar a e x a m e a c u r a do s o b a pe r s p e ct i va s o c i e t á r i a , n o di r e i t o f r a n c ê s, c f . P A U L L E C A N N U ,
Va l i d a t i o n de l a c l a us e b u y or s e l l , et d ur é e d es pa c t e s d' ac t i o n nai r e s (CA P a r i s , 3e c h . B,
1 5 d é c. 2 0 06 , C MP , S T I M et C GTH c / S N CM et C M N, D. 2 00 7 . AJ 16 2 ) , i n R TD C om ,
j a n ei r o – m a r ç o , 2 0 07 , p p. 16 9 -74 . S ob r e a s o p ç õe s c r u z a d a s, cf . , a i n d a , A L A I N C O U R E T ,
Ce s s i o n d ’ a c t i o ns . Éc ha n ge d e p r o me s se s u ni l at ér a l e s r é ci pro qu e s . Pr o m e s s e
s y na l l a g mat i qu e . Ve n t e p ar f ai t e. No t e : Ce s s i on d’ a c i o ns : r é qu a l i f i c at i o n d e p ro me s s e s
c r oi s é e s en v en t e pa r f a i t e , i n B ul l et i n J ol y S oc i é t é s , M ar ço , 2 00 6 , p p .3 77 -3 86 . P ar a a
q ue s t ã o d o p r e ço ne s s a s c l á u su l a s , de si gn ad a s j oc o s am e n t e n a p r á t i ca c o m o “ o m el et e,
s u ec a s , t e xa n a s , s i c i l i ana s , a m e r i c an a s , s h ot gu n , r o l e t a r us s a o u e s c o l ha d e S a l o m ã o ”, cf .
G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T , Du c o nt r a t .. ., c i t . p . 2 58 -9 .
88

razões, de acordo com peculiaridades ínsitas a cada relacionamento


societário 206- 207.

Entre os eventos ensejadores do exercício das opções, ressaltam-se as


situações de impasse (“deadlock”) entre sócios, em que os ajustes têm por
objetivo permitir o “wa y out”, com deslinde ami gável e supostamente célere
para o imbróglio 208.

Considerando a perspectiva ora adotada, um ponto de reflexão que se


deve desde já apontar e tem sido bastante discutido, sobretudo, na doutrina e
jurisprudência francesas e italianas 209, deriva da circunstância de, não raro, as

206
H E R M E S M A R C E L O H U C K e xp l i c a qu e “[ o ] s m e ca n i s m o s d e s a í d a d a no va s o c i ed a d e,
f o r m ul ad o s pa r a u m ou ou t r o s ó ci o , s ã o t e m as d e s ag r a d á ve i s n o r e p e r t ór i o d a en g e nh a r i a
d e u m a j o i n t ve n t u r e. Di s c u t i r o wa y o u t q u a nd o s e i ni c i a u m n o v o e m p r e e nd i m e n t o,
e s t r u t ur a d o s o b r e a c on vi c çã o do s uc e s s o, é a a dm i s s ã o d e um p o s sí ve l f r a c a ss o , q u e o
e m pr es á r i o n ã o a c ei t a e n ca r a r . En t r e t a nt o, t a i s m ec a n i s m os e s t ã o pr e s e n t e s n a g r a nd e
m a i o r i a de n ovo s n e gó c i o s . Co m ef ei t o, é r e it er a d a a o ut o r ga d e op ç õ es – r e cí pr o c as o u
u ni l at er a i s – e n t r e s ó ci os o b j e ti van d o a s aí d a d o ne gó ci o c o m u m . S e a as s o c i a çã o f a l h ar , s e
a s e xp e c t a t i vas n ã o f or e m al c a n ç ad a s , q ua l q u e r do s s ó c i os – o u u m de l es – t e m o d i r e it o de
r e t i r a r -s e d a s oc i e d ad e , c ab e n do ao o ut r o a o b r i gaç ã o d e pa ga r d e t e r m i n ad o p r e ç o p e l a
p ar t i c i pa ç ã o so c i e t á r i a d o r e t i r a n t e . É u m a f ó r m u l a s á bi a e e f i c i e n t e p a r a e vi t a r po l ê m i c a s
d e d i f í c il s ol u ç ão , c o ns u m i d o r as d e t e m po e de r e c u r so s e f a t a i s ca u s a do r a s de d es ga s t e s
i r r e c up e r á ve i s a o s s óc i o s e , p r i nc i p a l m e n t e, à pr ó p r i a s oc i e d ad e . A a l t er n a t i va de r e t i r a d a
s e r á e f i c a z , n a m e di d a em q ue s e j a p r a t i c a m e nt e vi á ve l e j ur i d i c a m e nt e vá l i da ( Pa c t o s
s o ci e t á r i os l e o ni n o s , i n RT 7 60 – F e ve r e i r o / 1 99 9, p . 6 5) .
207
An ot a C A R N E I R O D A F R A D A , a r e s p ei t o d a f u nç ã o do p a ct o e m p r e ve r r e gr a de e x cl usão
o u e x o ne r a ç ão d o qu a dr o s o c i a l , q ue “ s ã o r a r as as s o c i e da d e s ( ...) qu e p r ev ê e m o u r e gu l a m
n o s e u p a c t o o d i r e i t o de e xo n e r aç ã o . P o r é m , n os a c or d o s p a r a s s oc i a i s , a b un d am f i gu r a s
c om o a c a l l opt i o n , o t a g a l o ng ri gh t , et c ., o s q u ai s, s e n do t e cn i c a m e nt e d i s ti n t os da
e xo n e r aç ã o , pe r s e gu e m o m es m o e sc o p o d e d e s i n ve s t i m e n t o e c o nô m i c o e d e l i m i t a ç ã o d o
r i s c o t a m b é m a s s o ci ad o à e xo ne r a ç ã o ” ( Ac o r do s p a r as s o c i ai s “ om ni l at e r a is ”. .. ci t ., p.
3 17 6 , n ot a 18 ) .
208
Ou t r o s e ve n t o s co m u ns sã o , p o r e xe m p l o , o t é r m i n o do c i c l o d e i n ve s t i m e n t o e m c as o d e
o pe r a ç õe s d e p r i va t e eq u i t y ou o at i ngi m e n t o d e d et e r m i n a d a e t a p a em p r o j e t o c o m e r ci al
l e vad o a c ab o p e l a s o c i e da d e . Co m o j á s e de s t a c o u e m o u t r a o p or t un i d a de “[ n ] o c a s o
e s pe c í f i c o da s op e r a çõ e s de pr i va t e eq u i t y , a s o p çõ e s pr e s t a m -s e a g a r an t i r a o f u n do a
ven d a d e s ua p a r t i c i pa çã o n o m o m e nt o e m qu e o i n ves t i m en t o a t i n ge s e u áp i c e d e
r e nt ab i l i da d e ou a f o r ne c e r -l h e a l t er n a t i va c as o o co r r a m e ve n t o s pa t o l ó gi c os q u e t or n e m a
p er m an ê n c i a n a s o ci e d a de i nd e s ej ad a ” ( M A R I A N A C O N T I C R A V E I R O , Al g un s a s pe c t os
j u r í di co s .. ., c i t .. ) .
209
Co m o j á s e d e s t a c o u no a r t i go Al g un s a s p e c t o s j u r í di c os do d e s i n ve s t i m en t o nas
o pe r a çõ e s d e pr i v a t e e q u i t y o s pa c t o s l e oni n o s s ão t r a t a d os , en t r e n ós , po r d oi s pr i n c i p a is
a r t i gos . O m a i s a n t i go, d a l a vr a d o P r of . L U I S G A S T Ã O P AE S D E B A R R O S L E Ã E S ( Pa c t o s
Pa r a s so c i a i s . Na t u r ez a j u rí di ca – Ex e cu ç ã o e s pe c í f i ca – O pç ã o d e r ec o mp r a d e
p ar t i ci p a ç ão a c i on á r i a e i ne x i s t ê n ci a d e i nf r i n gê n c i a do s a rt s . 2 88 d o Có di go Co m e r c i a l e
1 37 2 do C C p o r n ã o c o nf i gu r a r p a ct o l e o ni no, i n RT 6 0 1, 1 9 85 , p p . 40 -4 9) e , d e o u t r o
89

opções de venda acuradamente estruturadas isentarem o acionista do risco do


negócio.

Realmente, como defende H U CK , a hipotética opção de venda que tenha


por evento autorizador estar a sociedade em situação de prejuízo pode fazer
com que seu beneficiário não participe das perdas inerentes à qualidade de
sócio e, assim, ser tida como pacto leonino.

Ainda neste exemplo, se os pactos parassociais patrimoniais não forem


examinados pela ótica de sua função econômica integradora da disciplina
global da dinâmica societária existente entre os sócios, um ajuste como o
acima comentado não terá sua nocividade prontamente reconhecida. Ao
contrário, não é raro encontrar argumentos no sentido de que se lhe deve
aplicar apenas a teoria geral dos contratos, visto que não se trata de cláusula
aposta no cont rato ou estatutos sociais 210.

l a d o, o j á c é l e br e Pa c t os S oc i e t á r i o s L e on i n os , d e a u t o r i a d o P r of . H E R M E S M A R C E L O
H U C K ( I n RT 76 0 , 1 99 9 , pp . 6 5-7 3 ) . Na Fr a n ç a a d i s cu s s ã o é m a i s int en s a e h á di vi s ã o
e nt r e a s C âm a r a s Co m e r c i a l e Ci vi l d a Cô r t e de C a s s a ç ão , c o n f or m e n o t i c i a E M M A N U E L L E
C L A U D E L ( Cl au s e s l é on i n e s e x t r a- s t a t ut ai r e s, l e s v o i s d ’ un c o mp r o mi s , i n Mé l a ng e s
J e an t i n - Pr o s pe c t i v e s du d r oi t éc o no mi q u e , P a r i s , D al l oz , 1 9 99 , p p. 18 4 -18 6 ) , Cf . a i n d a,
e nt r e o u t r os : C LA U D E C H A M P A U D e D I D IE R D A N E T . Cl au s e l éo n i n e. Pa c t e d 'a c t i o nn a ir es .
Pr o me s s e de r a c ha t d 'ac t i o ns . Pr i x mi n i mu m. C ar a c t è re l é o n i n ( no n ) ( Co m . 1 6 n o v. 20 0 4,
Be l kh el f a e t a u t r e c / Ro s sl er ) . i n RT D C o m , j a n. - m ar . 20 0 5, p p . 1 11 -1 6; F A B I E N
K E N D É R I A N , La c on t r i bu t i o n a u x p e r t e s s oc i a l es , i n Re v u e d e s So c i é t é s 4, ou t .-d e z . 20 0 2,
p p. 61 7 -51 ; G U S T A V O M I N E R V I N I , Pa r t e ci pa z i o ne a s c op o di fi n an z i a men t o e p a tt o l e on i no
i n Co nt r a t t o e I m p r es a , 1 98 8 , p . 77 1 e s s .; G A B R I E L LO P I A Z Z A , La c au s a m i s t a c r e d i t o-
s o ci e t à i n Co nt r at t o e Im p r e s a, 1 9 87 , p p . 80 3 e s s . e Pa t t o l e o ni n o I n: Enc i c l o p ed i a d el
d i r i tt o , X XXI I , M i l an o , Gi u f f r è , 19 8 2, pp . 5 2 6 e s s.
210
Ch e c a r , p a r a e s s e r a c i o c í ni o , L U I S G A S T Ã O P AE S D E B A R R O S L E Ã E S , Pa ctos
Pa r a s so c i a i s . Na t u r ez a j u r í di ca .. . ci t . p p. 4 6 -4. F Á B I O K O N D E R C O M P A R AT O t e c e s e v e r a s
c r í t i c a s a e s s a p o s i ç ão , vi s t o q u e a ci r cu n s t â nc i a d e o pa c t o l e on i n o c on s t a r d e i nst r um e n to
s e pa r a d o d o co n t r a t o s e r i a i n d i f e r en t e p ar a a d et er m i na ç ã o d e s ua n ul i da d e e p o de r i a , a o
c on t r á r i o , s e r i n dí c i o d e a s p e ct o f r a u du l e n t o d a s up o s t a r el aç ã o so c i e t á r i a ( O d i r ei t o a o s
l u c ro s no s c on t r at os i n Di r e i t o Emp r es a r i a l - Es t u do s e Par e c e r es , S ão P a u l o , Sa r a i va ,
1 99 0 p .1 6 9) , n o q ue é a c o m p a n ha d o p o r H E R M E S M A R C E L O H U C K : “n ã o f a r i a s en t i d o
j u r í d i c o - o u m e s m o l ógi c o – a d m i ti r q u e a si mpl e s e s ti p u l a çã o d e c l á u s ul a d e e xo n e r a ç ã o
d e p r e j u í z os f e i t a e m co nt r a t o a pa r t a d o f os s e suf i ci en t e p ar a r e t i r a r d a m e sm a a c a r ga d e
i li c i t ud e . Fo r a a s s i m , p or u m e s p er t o e xp e d i e nt e de o r de m f or m al , a s pa r t e s po d e r i am
e vi t a r a i nc i d ê nc i a d e u m a n o r m a d e o r de m p úb l i c a q ue ( … ) c on s u bs t a n c i a o c o r ol ár i o d o
p r i nc í p i o da c om u n hã o de e s co p o, e s s e n ci a l e m t o do e q u al qu e r co n tr a t o d e so c i e d ad e ”
( Pa c t o s s oc i e t á r i o s …, ci t . p . 7 1 ) .
90

Ou seja, muitas vezes se examina o pacto fora da perspectiva do


rel acionamento societário e da capacidade de burla a princípios ínsitos à
própria noção de sociedade, adotando-se critério meramente formal para
justificar essa posição 211, o que não parece admissível.

2.2.2 - Acordos de venda conjunta

Outro grupo de cláusulas parassociais de larga utilização, relativas à


compra e venda de participações, é o dos chamados acordos de venda
conjunta.

Neles, procura-se estabelecer obrigaç ões e direitos de uma parte


participar (no “tag along”) ou de fazer com que a outra parte participe (no
“drag along”) da oportunidade de venda do pacote acionário.

Manifesta-se também com esses ajustes a função do pacto parassocial


patrimonial na configuração do relacionamento societário entre as partes,
visto que permitem que seu interesse econômico em disciplinar a participação
na venda de lote de ações seja atendido. Cumpre passar a exemplos para tornar
a explanação menos abstrata.

a) Direito de venda conjunta - tag along right

No ajuste desi gnado como “tag along” 212, uma parte obriga-se a incluir a
participação de outro (ou outros) pactuante(s) na negociação de venda a
terceiro de sua própria participação. Há, portanto, o direito de o(s)
beneficiário(s) vender(em) sua participação conjuntamente à daquele que

211
Cf . a i n d a, qu a n t o a p a ct o l e o n i no c o nt i do e m a j us t e p a r a s so c i a l , M A R I O L E I T E S A N T O S ,
Co n t r at o s Par a s s oc i a i s e Ac o r do s de Vot o n a So c i e da d e An ôn i ma , Co s m o s , Li s b o a, 19 9 6,
p p. 74 -7 7 ( do q ua l va l e d e st ac a r o t r e c ho d a p . 7 6: “ O pa c t o l e on i n o e xt r a -e s t a t u t á r i o de ve
s e r co n s i de r a d o n u l o, m es m o q ua n do c e l e br a d o p o r a p e na s p ar t e d o s s ó c i o s , e t e n h a p o r
o bj e c t o p r e s t aç õ e s e qu i v a l e nt e s e n ã o i dê n t i c a s à s d i r e t am en t e s a n ci on a da s p o r l e i ” ) .
212
A e xp r e s s ão em i n gl ê s f o i m a n t i d a e m d e c o r r ê n c i a d e s e u i n t e ns o u s o n a p r á t ica
s o ci e t á r i a b r a s i l e i r a .
91

assim se obri gou, pelas mesmas condições ou em condições previamente


concordadas 213.

Com origem no direito norte-americano, os ajustes prevendo o direito de


saída conjunta têm por escopo proteger os minoritários em caso de venda do
controle de uma companhia. Por meio da contratação, os minoritários, têm a
oportunidade de participar, nas condições previstas, do prêmio de controle
pago pelo terceiro ao controlador. O ajuste é igualmente relevante ao
propiciar ao minoritário uma via de saída da sociedade frente à alternância de
controle, não permanecendo associado a novo sócio com o qual nem sempre
poderá ter boa relação.

Sobretudo nos casos em que a rel ação societária tem marcado caráter
intuitu personae, a integração da disciplina do relacionamento entre sócios
com os ajustes de venda conjunta é fundamental ao garantir que o minoritário
tenha a chance de aproveitar a oportunidade de venda obtida pelo controlador.

b) obrigação de venda conjunta – drag along right

Nos pactos que prevêem a obrigação de venda conjunta (“drag along


right”), o acionista obri ga-se a alienar suas ações juntamente com aquelas de
outro, que as pode oferecer a terceiro dentro de um mesmo lote, nas condições
que restarem decididas entre o terceiro e o acionista que capitaneia a
negociação.

O acionista vinculado ao “drag along” encontra-se, portanto, em


situação de sujeição, correspondente ao direito potestativo do credor da
obri gação em solicitar a inclusão das ações no pacote negociado se as
condições previstas no ajuste tiverem sido cumpridas (e.g: preço mínimo,
condições de pagame nto).

213
N o d i r e i t o b r a s il e i r o há a p r e vi sã o l e ga l d e T ag Al o ng n a a l i e n aç ã o d e c o n t r ol e de
c om p a n hi a a b e r t a , c f . a r t . 25 4 -A d a Le i 6.4 0 4/ 76 .
92

A aceitação de cláusulas potestativas como as que acima referimos está


longe de ser pacífica no Brasil. Ao contrário, nossa tradição aponta para a
possibilidade de o devedor insurgir-se contra os termos em que o credor da
obri gação pot estativa quer ver a alienação concluída 214.

Na redação da cláusula, assim, convém cuidar de critérios objetivos


para o preço que o credor da obri gação estará autorizado a negociar com
terceiro, na tentativa de minimizar o risco de que o devedor procure
caracterizar arbítrio na determinação do valor de venda entre o terceiro-
adquirente e o acionista credor da obrigaç ão.

A lógica de elaboração das cl áusulas de “drag along” assenta-se,


justamente, em fornecer ao credor da obrigação a possibilidade de negociar o
pacote acionário com autonomia frente ao proprietário das ações e, de outro
lado, que o adquirente possa ingressar na sociedade sem dever relacionar-se
com minoritário que, a seu ver, não seria essencial ao negócio. Como se verá
no Capítulo 4, contudo, cláusulas dessa natureza não podem representar
expropriação das ações do acionista devedor.

Importante apontar que na cláusula de “tag alon g”, antes comentada, o


problema não se verifica por ser a venda conjunta um direito do acionista
vinculado. Se as condições de venda pactuadas com terceiro não forem
interessantes, ele poderá sempre renunciar ao seu direito de venda conjunta,
sem a conclusão da alienação de suas ações.

Como essa alternativa não é a ideal, tendo em vista todas as motivações


que levam o acionista a estipular o direito de “ta g along”, também neste caso
é importante que a cláusula de “ta g along” preveja dados objetivos e mínimos

214
Na vi gê nc i a do Có di go Ci vi l d e 1 91 6 , o a r t . 1 .1 25 p r e vi a e xp r e s sa m e n t e se r n ul o o
“ c on t r a c t o de c om p r a e ve n d a, qu a nd o s e d e i xa ao a r bí t r i o ex c l u s i vo d e um a d a s pa r t e s a
t a xaç ã o d o p r e ço ” . O C ód i go Ci vi l vi gen t e r ep r o du z i u a r e gr a n o a r t . 4 89 . P e r m i t i u,
e nt r et an t o , q u e o p r e ç o se j a f i xa d o po r t e r c e i r o de s i gn ad o p el as p a r t e s ( a r t . 4 8 5) ou m e s m o
s e j a de t e r m i n a do p e l a c o t a ç ã o e m b o l s a e m d e t e r m i n ad o di a e l u ga r ( a r t . 4 86 ) . P or f i m , o
a r t . 4 8 7 p r e vê a h i p ót e s e e m q ue a d et e r m i na ç ã o d o pr e ç o pe l a s p ar t es s e j a r e a l i z a da c o m
b as e e m í nd i c e s de t e r m i n a d os o u d et er m i ná ve i s .
93

de determinação do preço, de forma que o acionista beneficiado não se veja


forçado a renunciar a seu direito por não concordar com o valor de venda
combinado com o terceiro.

Considerando as possíveis dificuldades na execução específica das


obri gações contratadas (tanto no caso de “tag along” como “drag along”),
verifica-se, na prática, a inclusão de penalidades bastante severas para
desincentivar o descumprimento da obri gação ou mesmo a sua conjugação com
opções de compra ou de venda. O objetivo, então, seria garantir ao acionista
beneficiário diversas ferramentas para, afinal, obter o resultado desejado 215.

Na confi guração de relacionamentos societários sempre mais complexos


e sofisticados, é inegável a relevância de pactos como os acima comentados,
incluídos e integra dos ao regime vigente entre as partes por meio da
contratação parassocial. Nesse sentido, eles se incluem no estado de sócio dos
pactuantes, gerando expectativas legítimas quando à possibilidade de saída do
rel acionamento nos termos pactuados.

2.3 - Acordos restritivos da circulação de ações

Os ajustes fundados sobre a compra e venda de participações são


frequentemente formatados considerando, ainda, cláusulas relativas à restrição
da circulação de ações 216.

Como traço comum, essas cláusulas cumprem função econômica li gada à


necessidade de preservação do quadro de sócios, em vista de exigências
específicas do relacionamento em questão 217.

215
Ca b e r e s s a l t a r , p o r ém , qu e a s c l á us u l a s de s a í d a co n j u nt a n ã o c o n f er e m a p o ss i b i li dade
d e ad j u di ca ç ão i m ed i a t a e a u t om á t i c a , a o t e r c e i r o , d as a ç õ e s do a c i o ni s ta a e l a s vi n cu l a d o,
t e n do em vi s t a qu e o di r ei t o b r as i l e i r o s o m en t e a dm i t e a t r a ns f e r ê n c i a c om p u l s ór i a d e
p r op r i e d ad e e m s i t u a ç õe s m u i t o e s p ec í f i c a s .
216
V. M A R I A N A C O N T I C R A V E I R O , As pe c t o s s oc i e t á r i o s ... ci t . p 1 29 -1 33 e 1 4 3.
217
El e s ga r an t e m a “ po s s i b i li t é d e s ur v e i l l a n ce d e l a c om p o s i t i o n d u c ap i t a l ” ( G E R A L D I N E
G O F F A U X - C A L L E B A U T , Du c o nt r at ... c i t , p . 2 50) . P a r a a s di ve r s a s u t i l i za ç õe s d a s c l á us u l a s
94

Nesse sentido, são previstas (i) as diversas modalidades pelas quais o


direito de preferência na aquisição das ações pode ser erigido entre as partes,
e a relativa disciplina 218; (ii) cláusulas regulando a necessidade de aprovação
dos sócios para o ingresso de terceiro na sociedade (cláusulas “di gradimento”
ou “d’agrement”) e, ainda (iii) cláusulas prevendo a permanência do acionista
na sociedade por período mínimo de tempo (as “lock in” ou “lock up
clauses”).

As cláusulas de restrição da circulação das ações têm por objeto


permitir, também, a eficácia de acordos de voto 219.

Além disso, considerando uma vez mais o caráter intuitus personae de


que tipicamente se revestem as soci edades em que esses pactos são

d e r es t r i çã o d e ci r cu l a ç ã o n o co n t e xt o d e s o ci e d a de s f e c ha d a s qu e r e c e b e r a m i n ve s t i m e n to
d e “ ve n t ur e c a p i t a l ” e / ou q u e d ã o c or p o a um a r e l a ç ã o d e j o i n t v e nt u r e e s ua m o t i va ç ã o d o
p on t o de vi s t a d a l ó gi c a c om e r c i a l q ue e m b a sa a m b a s as s i t u a ç õe s , c f . S T E D M A N E J O N E S ,
S ha r e ho l d e r s’ Ag r ee me n t s , c i t . , c a pí t ul o s 3 e 4 . De n t r e a s p r i nc i p a i s c a us a s d e ut il i z a ç ão d e
r e f e r i d as c l á u s ul a s p ode m o s ap o nt ar , c om b a s e ne s s e s au t o r e s : ( i ) n e ce s s i d a de d e
c om p r o m e t i m e n t o d a s pa r t e s c om o n e gó c i o ; ( i i ) a t u aç ã o es p e c í f i c a e i n t e n s a d e um a d as
p ar t es ( o u de c ad a u m a d e l a s ) c o m o co n di ç ã o i nd i s p e ns á ve l do s uc e s s o d o ne góc i o ; ( i i i )
p r es e n ç a d e “ co l l a t e r a l a gr e e m en t s ” e n t r e a s p a r t e s , o u s e j a , p r e vi s ão de o b r i gaç õ e s
a c es s ó r i a s c o m o l i c e n ci am e n t o d e d i r e i t o s d e pr o p r i e da d e i n t e l e c t ua l , f o r n ec i m e n t o d e
m a t é r i a pr i m a e / o u s e r v i ç os , u t il i za ç ã o d e a t i v os p el a c o m pa n h i a , en t r e o ut r o s ( i d e m , p.
2 45 -2 46 ) . Cf ., a i nd a , M A R I A I S A B E L D E A L M E I D A A L V A R E N G A , Fi n a l i d ad e s do di re it o de
p r ef e r ê n ci a p a r a a aq ui s i ç ã o de a ç õe s i n AA V V, T e mas d e D i r e i t o S oc i e t á ri o e
Em pr e s a ri al Co nt em po r â ne o s . L i b er Ami c o r u m Pro f . Dr . Er a s mo Va l l a d ão Az ev e d o e
No v a e s Fr an ç a , Ma l h e i r o s , Sã o P a u l o , 2 01 1 , p p. 4 7 2- 49 1 . P o r f i m , T R A J A N O D E M I R A N D A
V A LV E R D E a c r es c e n t a q u e “ [ é ] f or a de d ú vi d a q u e a s r es t r i ç õe s à c i r c u l a çã o d a s a ç õ e s
c on c o r r em p a r a as a f a s t ar d o m er c a do , i m pe d i n do - s e , as s i m , o i n g r es so n a s o ci ed a de d e
p es s o a s q u e p o de m t e r i nt er ê s s e na s ua r u í na , o u n ã o o f e r ec e m a s g a r a nt i a s m o r ai s o u
p ec u n i á r i a s n e c es s á r i a s , a f e r i d a s s e gu nd o o c r i t é r i o d os a t u a is a ci on is ta s ” e m a i s a d i a nt e,
q ue a m e d i d a “ vi s a , m ui t a s ve z es , ga r a n t i r a e s t a b i l i d a de d a a dm i ni s t r aç ã o da co m p an h i a . É
u m m e i o i n di r e t o d e i m p e di r qu e a s o ci ed a de , de u m m o m e nt o p a r a o ut r o, ca i a n as mão s d e
c on c o rr e n t e s , o u de p e s s oa s q u e nã o s e pr e o c up a m s e n ão c o m o l u cr o im ed i a t o ” ( So c i e d ad e
p or a ç õ es , c i t , Vo l . 1, p . 2 11 ) .
218
So b r e c l áu s u l a s de p r e f e r ên c i a , c f ., Cf . J O S É A LE X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O ,
I n t e r pr e t a ç ão d e Pr e f e r ên c i a s na L e i de S o c i ed a de s Anô n i ma s i n A A V V, Te ma s d e Di r e i to
S oc i e t á r i o e Emp r e s ar i a l Co n t e mpo r â ne o s . Li b e r A mi c o ru m Pr o f . Dr . Era s mo Va l l a dã o
Az e v e do e No v ae s Fra n ç a, Ma l h e i r o s , S ã o P a u l o , 2 01 1 , p p. 38 9 . M I C H E L D A G O T , L e pa c t e
d e pr é f é r e nc e , P a r i s , Li t e c, 19 8 8, A N T O I N E G A U D E M E T , La p or t é e d e s pa c t e s de p r é f é r en c e
o u d e pr é e mp t i o n s u r des t it r e s d e s o ci é t é , i n R e vu e d es s o c i é t é s, n. º 3, m ar ç o , 2 01 1 , p p.
1 39 -1 48 .
219
O u s e j a , d e na d a a d i a nt a r i a vi nc u l a r o vot o s e o a c i o ni st a p e r m an e c e ss e l i vr e p ara
a l i e n ar s ua s a ç õe s .
95

celebrados, eles têm por mira garantir a permanência daquele acionista cujas
características o fazem crucial para o negócio e, ainda, evitar o ingresso de
acionistas não desejados (e.g. concorrentes) 220.

a) cláusulas de preferência

As formas mais comuns de disciplina do direito de preferência na


aquisição de participação societária, no Brasil, são os chamados “first refusal
rights” (direito de primeira recusa), ainda que, na prática, haja ainda os “first
offer rights” (direito de primeira oferta). A preferência pode, ainda, ser
contratada em benefício de todos os sócios, indistintamente, ou apenas de
alguns.

Tratando-se de cláusulas de first offer, o acionista a ela vinculado, que


pretende alienar suas ações, deve oferecê-las, em primeira mão, aos demais
acionistas signatários do pacto, para que façam uma primeira oferta para o
lote de ações oferecido. Não se concluindo o negócio pelo valor ofertado, o
acionista que deseja vender suas ações estará livre para oferecê-las a
terceiros, desde que o faça por preço e condições melhores que aquelas
oferecidas pelos titulares do direito de preferência. Ou seja, os acionistas
titulares do direito têm a possibilidade de assinalar qual será o valor mínimo
de venda das ações 221.

Tratando-se de cláusulas de first refusal o procedimento é diverso. O


acionista que deseja alienar sua participação, tendo ou não recebido oferta de
terceiro, informa aos titulares da preferência sobre seu intento, indicando o
preço desejado pelas ações, bem como as demais condições do ne gócio.

220
No di r ei t o i t al i a no , B U T T A R O e xp l i c a q u e “ e s s en d o n e l n os t r o o r d i na m e n to la
c i r c ol ab i l i t à de l l e a z i o ni e l e va t a a pr i n c i p i o di o r d i n e p u bb l i c o ( ... ) , l e c l a us o l e s t a t u t a r i e
p os s o no p r eve d e r e s o l o d e l l e li m it a z i o n i al t r as f e r i m e n t o i nt e r v i v os d e l l e az i o n i , e no n
a nc h e c on t e n er e u n d i vi et o a s s o l ut o di a l i en a z i on e , d i vi e t o c he c o s t i t ui sc e i nv e c e di r e go l a
l ’ o gge t t o d e i s i n da c a ti d i b l o c co , ed i n q uan t o s o l o i n t a l m o do s i ga r a n t i s c e l a
c om p a t t e z z a d e l gr u p po ” ( S i nd a c at i az i o n ari , c it ., pp . 42 7 ) .
221
Cf . D A V I D E P R O V E R B I O , I p at t i p ar a s oci a li , M i la n o, I ps o a , 2 0 04 , p . 4 7 .
96

Caso haja oferta de terceiro, é comum que existam previsões obrigando


o sócio a comunicar seus dados aos demais, concomitantemente à oferta.
Inexistindo oferta de terceiros, é i gualmente usual que se preveja a
necessidade de o acionista primeiramente ofertar suas ações a terceiros e,
estipulado o preço e as demais condições da venda, repassá-los aos acionistas
para que, querendo, façam-se substituir ao terceiro no negócio.

Aponta-se como vanta gem da modalidade de first refusal o fato de


permitir aos acionistas beneficiários do pacto tanto a prioridade na aquisição
das ações, como também a possibilidade de bloquear o ingresso de terceiro
indesejado; ao passo que na hipótese de first offer, uma vez recusado o
negócio pelos acionistas, o terceiro está livre para vender, em princípio, a
qualquer terceiro, respeitadas as condi ções ne gociais da oferta originária 222.

b) Cláusula de consentimento

Bastante frequente são também as cláusulas que condicionam a


circulação de ações à aprovação prévia dos acionistas ou mesmo de órgãos de
administração da sociedade. No direito italiano, são designadas, assim,
“clausole di gradimento” (art. 2355 do Codigo Civil) e, na França, “clause
d’agrement” ou “de placet” (art. 228-23 Code de Commerce).

Verifica-se, também com relação a essas cláusulas, a preocupação dos


signatários do pacto em manter controle sobre o quadro societário, com a
oportunidade de avaliar se o eventual novo ingressante ostenta características
que se harmonizam com as dos demais, em prol do negó cio comum. São
manifestações da intensidade do caráter pessoal da associação daquele grupo
de acionistas, portanto.

Quando comparadas às cláusulas de preferência, as cláusulas de


consentimento teriam a função pura de evitar o in gresso de acionista
indesejado sem que, para tanto, os demais acionistas devam adquirir as ações.

222
Cf . I de m , p . 4 8.
97

Todavia, o mais comum é que as cláusulas de consentimento acompanhem as


cláusulas de preferência.

Em caso de cláusulas estatutárias de consentimento que sujeitam o


ingresso do acionista à aprovação de órgãos da companhia, debate-se na
doutrina brasileira sobre a sua compatibilidade com a re gra do art. 36, uma
vez que seria i mpossível regular no Estatuto, com a precisão e minúcia
requeridas pela lei, as múltiplas razões que levariam a se decidir pela
inadequação da t ransferência 223.

Também as cláusulas parassociais de consentimento, muito embora não


prevejam a necessidade de aprovação de órgão da sociedade, podem ter por
efeito, igualmente, o aprisionamento do acionista que o arti go 36 visa evitar,
ao condicionar a alienação de ações a decisão de um ou todos os demais
sócios. Essa circunstância demonstra a necessidade de sua interpretação em
consonância com princípios societários e não apenas sob o aspecto contratual,
como se verá no Capítulo 4 224.

223
Ne ss e s e nt i do , F Á B I O K O N D E R C O M P A R A T O o p i na q ue a r ed a ç ã o d o a r t . 3 6 d a Le i n.
6 .4 04 / 7 6 “p a r e c e e xc l u i r a c l á u s ul a de pl a c e t , p o i s a e s p ec i f i c i d a d e de s t a c o n si st e,
e xa t a m e n t e , n a a t r i bu i ç ã o d e um p o de r a r b i t r á r i o de d e c i s ão a o ór gã o a d m i n i s t r a ti vo o u à
a s s em b l é i a g e r al , q ue , p o r d ef i ni ç ã o , n ã o p o de s e r r e gul ad o ‘ m i n uc i o s a m e nt e ’ n o s
e s t a t ut os ” ( Cf . O Pod e r d e Co nt r o l e n a So c i e da d e An ôn i ma , 4 ª. Ed . , R i o, Fo r e n se , 20 0 5, p .
1 84 ) . Co n t r a M O D E S T O C A R V A L H O S A : “ [ n ] a d ou t r i n a b r a s i l e i r a , di ve r ge m o s a u t o r es a
r e s pe i t o d a p os si b il i d a de de s e e s t a b el e c e r e s s a e sp é c i e d e r es t r i çã o . P a r ec e -n os qu e n ão h á
q ua l q u er i m pe d i m e nt o à s u a ad o ç ão ” ( Co m e n t ár i o s ... , c i t , v. 1 p . 3 54 ) . O au t o r r e f e r e q u e
t a m b ém T R A J A N O D E M I R A N D A V A L V E R D E s e r i a f avo r á ve l à a d oç ã o da c l á us u l a . É pr e c i s o
n ot a r , c on t u d o, qu e V A L V E R D E p on d er a – q u a nt o à p r eo c up a ç ã o e xp r e ss a po r F Á B I O
K O N D E R C O M P A R A T O – , q u e “a r e c u s a da s o c i e da d e, p or s e u ó r gã o c o m p e t e n t e , d e da r o s e u
c on c u r s o o u o s eu c on s e nt i m e nt o à t r a ns f e r ê nc i a d e a ç õ es , a i n d a q u a n d o p e l o s e s t a t ut o s
n ão n ec e s s i t e d e m o ti va ç ão , h á de t e r s e m pr e u m f un d am en t o j u st o, um m o t i vo gr a ve. O
n os s o d i r ei t o n ã o re c o nh e c e at o s d e pu r o ar b í tr i o , q ua n d o e m j ô go r es p e i t á vei s i nt e r e s s e s
p r ot e gi d os p e l a l e i ” ( S oc i e d a de s p or a ç õe s , Vol . 1 , c i t ., p. 21 2 ) . Em po s i ç ã o m a i s r e c e nt e,
C A L I X T O S A LO M Ã O F I L H O i n di c a , a o c om e n t a r a o br a d e F A B I O K O N D E R C O M P A R A T O , qu e a
i n t e r pr e t a ç ã o d o a r t . 3 6 e d a s c l á u s ul a s q ue s ob e l e s ã o cr i ad a s de ve m o r i e n t a r -s e p e l a
p r ot e ç ã o do i n t e r e ss e s o ci al , ou s e j a , “ q ua n t o m ai s a s c l á u su l a s d e l i m it a ç ã o à c i r c ul aç ã o
p ud e r e m s e r j us t i f i ca d a s co m o i n st r um e n t o de p r ot eç ã o do i n t e r e ss e p r óp r i o d a s o c i e da d e
( e nã o do s a c i on i st a s ) m a i s a m pl a s u a i nt e r p r e t a çã o po d e r á s e r ” ( O p od e r de c on t r o l e ...,
c i t ., p. 1 84 ) .
224
I n t e r e s s an t e ca s o j u d i c i a l r e l a t i vo a c l áu s u l a d e c o ns e n t i m e n t o e à ne c e s s i da d e d e
a r bi t r a m en t o de pr e ç o é e xa m i n ad o p o r C L A U D E C H AM P A U D e D I D I E R D A N E T , As s o c i é
d és i r a n t q ui tt e r l a so c i ét é . Es t i ma t i o n d e l a v al eu r d e s es d r o i t s s o ci aux . Ap p l i c a t i o n d 'u n
98

c) Cláusulas de permanência (lock in ou lock up)

Por meio dos ajustes de “lock in” ou “lock up”, busca-se garantir a
permanência de sócios e/ou fundadores no ne gócio, bem como a sua atuação
comprometida na sociedade.

Essa preocupação é marcante nos casos de investimento por parte de


fundos, que determinam seu ingresso na sociedade pela perspectiva de
produção de resultados positivos, diretamente decorrentes da atuação dos
sócios “operacionais” 225.

Igualmente, nas “joint ventures”, as cláusulas de permanência são de


extrema relevância pois, no mais das vezes, o envolvimento direto e intenso
de cada parte é determinante para o sucesso do empreendimento comum.
Assim, havendo intenção de uma delas de retirar-se, a presença da limitação
de alienação das ações abre espaço para, negocialmente, encontrar-se solução
menos danosa para o ne gócio 226.

Além das cláusulas de “lock in”, os pactos parassociais geralmente


prevêm, ainda, ajustes de prestação de serviço pelos quais se requer sua
atuação exclusiva e em dedicação exclusiva para a companhia 227.

c on v e nt i on p a r ti c ul è r e d e r a ch a t . C on d i t i o n de va l i d it é . Dé t e rm i na t i o n e x pe r t al e de
l 'a r ti c l e 1 84 3 - 4 d u co d e ci v i l . Ab s e nc e d' ob l i g at i o n d e pr é e mp ti o n à d éf aul t d e
p r és e n t a t i on d 'u n c es s i on na i r e à l a s o ci ét é ( Pa r i s , 1 r e ch . A, 3 0 o ct . 2 0 0 7 , S an c he z Rui z c/
S t é Ar t s s a ns Fr o nt i è r e s e t S t é M C W) , i n R T D C o m , j an e i r o - m a r ç o. 20 0 8, pp . 1 2 7 -2 8 . C f .
t a m b ém a s co n s i d er a ç õ e s d e G É R A L D I N E G O F F A U X -C A L L E B A U T , D u C on t r a t ... c i t , p . 25 8 .
225
“ Es s e nt i al l y, t he i n ve s t or i s i nve s t i n g i n t h e s ki ll s o f t h e m a n a ge m e n t t e a m r a t he r than
i n t h e c o m pa n y. H e w i ll be co n c er n e d t h e r e f o r e t o en s u r e t h a t t h e f o u nd e r s r e m a i n
c om m i t t e d t o t h e co m p a n y” ( S T E D M AN E J O N E S , S ha r e ho l d er s ’ Agr e e me n t s , c i t ., p . 1 93 ) .
226
“R e st r i c t i o ns o n t r an s f e r m a y b e of p a r am ou n t i m po r t a n c e i n c i r c u m st an c e s wh e r e the
i n vo l ve m e nt of ea c h j o i nt ve n t u r e r i s i n d i s pe n s ab l e . Wh e r e t h er e i s t he c a s e , t h e s u cc e s s o f
t h e j o i nt ve n t u r e co u l d be s e r i o us l y i m p a i r e d i f a p ar t y w e r e a l l o we d t o t r a ns f e r i t s sh a r e s
a nd c e a s e t o pa r t i c i p a t e i n t h e e qu i t y o f t h e j oi nt ve n t u r e . Of c o u r se , l oc ki n g-i n a r e l u c t a nt
p ar t y w i l l n ot al wa ys b e be n e f i c i al , b ut i t s ho ul d at l e as t p r e ven t o n e p a r t y wa l ki ng a wa y
wi t h o ut f i n di ng a s o l u t io n w hi c h i s a c c e pt a b l e t o b ot h p a r t i e s ” ( i d e m , p . 2 4 6)
227
Ne s s es c a s os s ã o pr e vi s t o s, ai nd a , s e gu r o s so b r e os p r of i s si on a i s -c ha v e , pa r a o s c a sos
d e m or t e ou i n v al i de z ( i d e m , p . 19 4 ) .
99

Com relação ao foco da presente análise, é preciso avaliar que os


variados ajustes de restrição de circulação de ações demonstram-se mais que
meras obri gações de fazer ou não fazer de um sócio a outro. Ao contrário, essa
disciplina – escolhida e aceita pelos si gnatários – passa a compor seu estado
de sócio, gerando legíti mas expectativas sobre a manutenção do quadro
societário e/ou sobre efeitos derivantes da saída dos sócios sobre seu
rel acionamento, considerados os diversos papéis desempenhados.

2.4 - Pactos l igados a outros direitos patri moniais dos sócios

Cumprindo a função de inte grar a disciplina aplicável aos sócios (e


formar, assim o “estado de sócio” antes referido), os acordos parassociais com
teor patrimonial não se restringem às pactuações alicerçadas na compra e
venda de ações.

Ao contrário, a crescente complexidade e sofisticação dos


rel acionamentos societários faz com que múltiplos aspectos patrimoniais
sejam igualmente tratados em sede parassocial, tendo presente a necessidade
de regulação global do fenômeno associativo.

São verificados muito frequentemente na prática societária, destarte,


acordos de não concorrência e não restabelecimento, bem como ajustes
rel ativos a prestações acessórias do mais variado tipo, a cargo dos sócios.

Por sua relevância para a configuração da relação societária existente


entre as partes, também esses pactos devem, necessariamente, ser
compreendidos em função do relacionamento a que se prestam e não de
maneira isolada.
100

2.4.1 - Acordos de não concorrência

A não concorrência entre sócios pode ser apontada como decorrência


natural da lealdade que entre eles deve imperar. A realidade, contudo, não é
tão evidente 228.

Diante das diversas circunstâncias que informam a contratação de


sociedade, é possível que, em determinados casos, os sócios decidam se
associar em um projeto comum justamente por serem concorrentes.

Em outros casos, a sociedade é concorrente de um sócio, sem que tal


fat o seja necessariamente danoso para qualquer um dos dois; em outras
situações, ainda, e ao contrário, a eventual concorrência de um dos sócios
frente à sociedade ou a outros sócios pode ser letal para o relacionamento
idealizado. E é fácil supor, por fim, que a mera participação de um mesmo
sócio no capital de sociedades concorrentes pode ou não ser fator de
deslealdade 229.

Em suma: não há re gra unívoca para a questão, o que ressalta a


rel evância da conformação da disciplina societária vigente entre as partes por

228
M A R I A J E S U S P E Ñ A S M O Y A N O , a o t r at a r d as ob r i ga ç õe s d e n ã o c o n c o r r ên c i a c o m o
p r es t aç õ e s a c e s só r i a s af i r m a q u e e l a s n ã o d e c or r e m a ut o m á t i c a e i r re m e d i a ve l m e n t e d o
p r i nc í p i o d e bo a f é , e is q ue “ e l e s t a b l ec i m i en t o d e un a p r oh i b i c i ó n d e com p e t ê n ci a e n e s t e
c on c e pt o n o s ol ap a l a b u en a f e q ue , p r e si di e n d o t o da l a c o n t r a t a ci ó n m er c a n t i l , h á d e
e nc o n t r a r s e t a m b i e n p r e s en t e e n l a s r e l a c i on e s en t r e e l s óc i o y l a s o ci ed a d y l o s s ó c i os
e nt r e s i . So n d o s q u e s t ion s i n de p e nd i e n t e s y n o p u ed e e nt e n d er s e , d e m od o g e n er a l , qu e
u na c on d uc t a d e l a c c i o n i s t a a d e cu a d a a l pr i n c i p i o d e l a bu e n a f e ge n er e t a l de ve r d e
r e s pe t o h ac i a l a s o ci e d a d q u e i nc l u ya l a p r o hi b i c i ó n d e c om p e t i r c o m el l a. So l a m e nt e e n
a l gún s u pu e s t o e xc ep c i o na l m u y r em ot o , p u ed e de d u ci r se e s t a o bl i ga c i ó n c o m o u n a c a r ga
p ar e e l a c c i on i s t a a t e n di e n d o a l p a r t i c ul ar o bj e t o so c i a l , y n o h a br í a n e c e si da d , e nt on c e s,
d e es t a b l e c er pr e s t a c i o ne s a c c e s o r i a s c om e s t e c o nt e n i d o” ( L a s pr e s t a ci on e s ac c e s or i a s e n
L a S o c i ed a d An ón i ma , M a d r i d , Ar a n z a d i , 1 9 96 , p. 22 2 ) . Na o p i ni ã o d e K A R S T E N S C H IM I D T ,
q ue m s e o br i ga à p r om o ç ã o d e um es c o p o c o m um n ã o de ve c o m p r om e t ê -l o . P o r
c on s e qu ê n ci a, p o de r e s t a r ob r i ga do a e vi t a r a co n c or r ê n c i a e m r e l a ç ã o à so c i e d ad e , m a s
t a m b ém , e ve n t u al m en t e , c o m r e l a ç ão a s e u s co n s óc i o s ( i n v e r bi s “ [ w] er si ch z u r Fö r d e r un g
e i n es ge m ei s a m e s Zwe c ks ve r pf l i ch t e t , d a r f d i e s e n g e m ei s am e n Zwe c k n i c ht ge f ä hr d e n.
De m gem ä β ka nn e r ve r p f l i c h t et s e i n, si c h e i n em We t t be we r b s i m V er h ä l t n i s z u d e r
Ge s e l l s c ha f t , aber eve n t ue l a u ch zu sein Mi t ge s e l l s c h af t er n , zu e n t h a l de n ”
( Ge s e l l s c ha f t s r e c ht , c it , p. 59 5 ) .
229
Para e xe m pl o s de restrição de c o n c o r r ê nc i a , cf. STEDM AN E J ON E S,
S ha r e ho l d e r s’ Ag r ee me n t , c i t . , p . 2 5 9.
101

meio de contratação parassocial. Para que o tema da concorrência possa ser


adequadamente tratado conforme o contexto específico de cada sociedade, as
partes valem-se de pactos parassociais para deixar desde logo avençadas as
condições em que atividades concorrentes poderão ser exercidas ou não.

Ao fazê-lo, tratam da não concorrência (i) durante o período em que


permanecem sócias e (ii) quando uma delas retira-se da sociedade,
estabelecendo frequentemente, neste último caso, obrigação de não
restabelecimento 230.

Na medida em que essas obrigações suprimem das partes que a elas se


vinculam a possibilidade de atuar livremente, fica salientado o caráter
patrimonial 231 e não político da avença. Não se perca de vista, contudo, que
essa supressão patrimonial a que as partes se submetem é desej ada e celebrada
em vista do relacionamento societário e sob esse prisma deve ser
compreendida 232.

230
Cf . c a s o d a Ci a d a J u t a , c l á s s i co n a l i t e r a t ur a j u r í di c a na c i o na l a r e spe i t o d o t e m a da
n ão co n co r r ê n ci a e p r ot e ç ã o d a c l i e nt el a na al i en a ç ão de e s t a b e l e c i m e n t o c o m er c i a l .
( Ap e l a çã o Cí ve l 2. 18 3 , ST F, R e vi s t a d o S up r e m o T r i b un a l Fe d e r a l , vo l . 2 , p . 4 80 -4 83 e
vol . 3 p . 18 7 -19 4 ) e E R O S R O B E R T O G R A U e P A U L A A. F O R G I O N I , Cl á u s ul a de nã o -
c on c o rr ê n c i a ou d e nã o - r es t a b el ec i m en t o . Evo l u ç ão h i s t ó ri c a, f un ç ão ec o nô mi c a e an á l i s e
j u r í di ca e I n t e r p re t a ç ão de Cl á u s ul a de Nã o C on c or r ê n ci a e s t ab e l e c i da e m Ac or d o d e
Ac i o n i s t a s i n O Es t a d o, A Emp r es a e O C on t r a t o, S ão P a ul o , M a l h e i r o s, 20 0 5, p p. 27 3 -30 0
e p p. 30 1 -3 10 , r e s p ec t i va m e n t e .
231
E xa m i n a n do c l á u s ul as de nã o -c on c o r r ên c i a p e l o p r i s m a d o d i r e it o d o t r a b a l h o fica
c a r ac t e r i z a d o o c a r á t e r pa t r i m o n i a l do a j us t e p oi s a s de c i s õ es j u r i s p r ud e n ci a i s i n d i c am ,
c om f r eq u ê nc i a , q u e a l i ci t ud e li ga -s e ( i ) à pr e vi s ã o de p r a zo d e r e st r i ç ão c o m p a t í ve l c o m
o m e r c a do e m q ue s t ã o e ( i i ) a o p a ga m e nt o de c on t r a pa r t i da pe c u ni á r i a à r e s t r i ç ã o d a
l i b e r da d e d o t r a b a l ha d or e m e s c o l he r s eu e m p r e gad o r . C f . T RT - S P , R O n .º 0 24 8 40 0 -
7 1. 20 1 0.5 .0 2 .0 05 3 , 1 7 ª Tu r m a d o E. Tr i b u na l Re gi o na l d o T r ab a l h o d a 2 ª Re gi ã o, Re l .
S us e t e M e n d es Ba r b os a d e Az e ved o ; RO, n .º 01 3 74 0 07 7 20 1 05 0 20 0 17 , 1 0ª T ur m a d o E.
Tr i bu n al Re gi o na l do Tr a b al h o d a 2 ª Re gi ão , r e l . D es . Câ n di da Al ves Le ã o; R O N. º
0 14 3 30 0 -52 .2 0 10 .5 .0 2. 0 0 7 8, 16 ª T ur m a d o E. Tr i b u na l R e gi o n al do T r ab a l h o d a 2 ª Re gi ã o,
R E L. D e s . S a nd r a Cu r i d e A l m e i da ; R O n . º 00 1 56 0 0- 92 .2 01 0 .5 .0 2.0 0 46 , 1 6 ª Tu r m a do E.
Tr i bu n al Re gi on a l d o Tr a ba l h o d a 2 ª Re gi ã o , r e l . De s . An a M ar i a M o r a e s Ba r bo s a M a ce d o;
RO n. º 01 9 83 .2 0 05 .0 1 9. 0 2 .0 0-8 e T ST , AI n .º T ST - AI RR - 86 4 / 20 0 0-0 6 4 - 0 1 -4 0.8 , 2 ª T u r m a,
r e l . J o s e ni l do d o s Sa n t o s Ca r va l h o , j . 16 .5 .0 7 .
232
N ão s e p od e ol vi d a r , é c l a r o , os e f ei t os a nt ic on c or r en c i a i s q u e a s c l áu s u l a s d e não
c on c o r r ên c i a e / ou e xc l us i vi d a de p od e m ge r a r . N es s e s e nt i do , “ r e s t r i c ti o n s a r e n ot
n ec e s s a r i l y a ba d t h i ng a n d s o m e m a y e ven b e cr u c i a l t o t h e su c c e ss o f t h e j o i nt ve n t u r e.
Ge n er a l l y, i f t h e j oi n t v e nt ur e r s c a n s h o w t h a t t h e y wi l l a t l e as t op t m i se t h e be n e f i t s ( … )
102

2.4.2 - Acordos prevendo outras prestações acessórias dos sócios

Para a constituição de qualquer sociedade anônima é requisito


indispensável que o capital social seja formado mediante a contribuição dos
sócios, a qual serve de medida de seus direitos e obri gações e é mesmo ínsita
à noção de sociedade (“reunião de esforços e recursos”) 233.

Na sociedade anônima vige a regra de que a obri gação primordial e


típica do acionista é a de inte gralizar o capital subscrito de modo que, ao
fazê-lo, o acionista passe a gozar de responsabilidade limitada 234.

Todavia, tomando em consideração os diversos interesses que afluem


para a formulação de um relacionamento societário, constata-se, em número
sempre mais expressivo, casos em que fatores alheios à contribuição formal
dos sócios ao capital social assumem relevo preponderante para o
empreendiment o comum 235- 236.

t h e n t h e r e st r i cti on s ar e m o r e l i ke l y t o b e al low ed . Ho we ver , r e s t r i c t i on s s ho u l d go n o


f u r t h er t ha n i s n e ce s s a r y f or t he r e a s on a b l e pr o t e c t i o n o f t h e p a r t i e s; an yt h i n g be yon d t h i s
i s l i ke l y t o f a l l f o u l o f a pp l i c a b l e c om p e t i ti o n l a w” ( S T E D M AN E J O N E S ,
S ha r e ho l d e r s’ Ag r ee me n t , c i t ., p. 25 9 ) . So b o t em a , c f . t am b é m C A LI X T O S A LO M Ã O F I LH O ,
n ot a d e t ext o 5 7 i n F Á B I O K O N D E R C O M P A R A T O e C A L I X T O S A LO M Ã O F I L H O , O Po d er d e
Co n t r ol e . .. c i t . .
233
L e i 6 .4 0 4/ 7 6 , Ar t . 7º - O ca p i t a l s oc i a l pod e r á s e r f o r m a d o c om c on t r i b u i ç õe s em
d i nh e i r o o u em qu a l q ue r e s p éc i e d e b e ns s u s c et í ve i s de a val i a çã o e m d i n he i r o .
234
Na Al e m a nh a , c om r e l a ç ã o à s c on t r i b u i ç õe s d os s ó c i os , di st i n gue -s e a s co n c ep ç õe s de
Be i t r a g , qu e s er i am t o dos o s de ver es a qu e se o br i ga m o s a c i o ni s t as p a r a q ue o ob j e t o
s o ci a l po s s a s er cu m p r i d o e Ei n l ag e r e s t r i t a a o a po r t e a c i on i s t a p a r a a f or m a ç ã o do c a pi t al
d a s o ci e d a de e s e u p a t r i m ôn i o , de t e r m i n a nt e de r e s po n sa b i l i d a de ( K A R S T E N S C H M I D T ,
Ge s e l l s c ha f t r e c ht , c i t ., p p. 56 7 -56 8 ) .
235
Co m o e xp l i c a F Á B I O K O N D E R C O M P A R A T O , e m t e xt o c l á s s i c o , “ [ e] c o nom i c a m e n t e , po de
s u ce d e r qu e a p r e s t a çã o pr i nc i p a l do a c i on i st a n ão s e j a a p a r t i c i p a çã o no c a pi t a l e , s i m ,
( ... ) s e c o m p r om e t a a f o r ne c e r à so c i e da d e , e m c on d i ç õe s a l t a m e nt e f a vor á v e i s , a m a t é r i a
p r i m a i n d is pe n s á ve l à s ua pr o d uç ã o i n d us t r i al , o u u m a a s si s t ê nc i a t éc n i c a d e gr a nd e
r e l e vâ n c i a .” ( Re s t r i ç õe s à c i r cu l a ç ão .. . c i t ., p . 3 7 ) . Exe m pl o f r e q ue n t e na s s o ci ed a d es d a
á r e a d e t ec n o l o gi a d a i n f or m aç ã o é a b a i xa c o nt r i bu i ç ã o m o n et ár i a p a r a a f or m aç ã o d o
c a pi t al , po r p ar t e d o ac i o n i st a “d e s e nvo l ve d or ” d a t e cn o l ogi a , a c o m pa n ha d a , c on t u do , d e
s u a ob r i ga ç ão de p r e s t a ç ão ac e s s ór i a, a s s um i da em pa c t o p a r a s so c i a l , pe l a qu a l s e u s
p r és t i m os – f un d a m en t a i s ao e s c o po d a s o c ie da d e – d e ve m s e r r e a l i z a d os . Cf . L U I Z
F E R N A N D O A M A R A L H A LE M B E C K , Ar r a nj os s o ci et ár i o s u su ai s e m ne g ó ci o s d e I n t e r n et , i n
L U Í S E D U A R D O S C H O U E R I , ( o r g.) , I nt e r n e t : o d i r e it o n a e r a v i rt ual , Ri o d e J a n e i r o,
F or e n s e, 2 00 1 , p p. 9 -1 5
103

Apresenta-se, então, o tema das prestações (ou obri gações) acessórias 237,
que poderiam ser definidas como obrigações sociais relativas à posição de
sócio, de caráter acessório e facultativo, onerosas ou gratuitas, reguladas
essencialmente nos estatutos sociais e alheias ao capital social 238.

Para que sejam consideradas como obrigações sociais, porém,


geralmente se refere que seja necessário que elas constem dos estatutos
sociais, inclusive como medida de proteção do acionista frente ao que dele se
exige. Se guindo essa orientação, caso sejam previstas em contratos a latere,
devem ser tratadas como obrigações entre sócio e sociedade, com efeitos
meramente obri gacionais para o inadimplemento. O critério para que ensejem
ou não efeitos societários parece ser, portanto, formal 239.

No Brasil o art. 120 da lei 6404/76 prevê a possibilidade de suspensão


de direitos do acionista faltoso em caso de não cumprimento de obrigação
legal e/ou estatutária, o que pode levar à conclusão de que efeitos societários
somente são aplicados ao descumprimento de obrigações societárias previstas
nos estatutos sociais.

C O MP A RA TO , contudo, apresenta posição mais ampla, no sentido de que


a suspensão dos direitos do acionista pode ocorrer se o inadimplemento da

236
Es pe c i a l m e nt e c om r e l a çã o à s j oi nt v en t u r e s, S T E D M A N E J O N E S p o n t ua m s er r aro
e nc o n t r a r a l gum a s oc i e d a de “ w hi c h i s n ot d ep e n de n t o n t h e j oi n t ve n t u r er s f o r s o m e
r e s ou r c e s i n ad d i t i o n t o f i na n c e” . O s au t o r e s ap o nt am co m o t í p i c as c o n t r i b ui ç õ e s
a c es s ó r i a s d os s óc i o s ( i ) d i r e i t os d e p r op r i e d ad e i n t e l e c t u al , ( i i i ) o f o r n ec i m e n t o d e
m e r c ad o r i a s e s er vi ç o s , ( i i i ) a c o l o c aç ã o de e m p r e ga d os à d i s p os i ç ã o da c o m pa n h i a ; ( i v) a
p er m i s sã o d e u t il i za ç ã o de p r op r i e d ad e s , u ni da d es i nd u st ri a i s e m a q u iná r i o e u ni d a de s d e
p es q u i s a . ( S ha r e ho l d e r s’ Ag r e e m e n t , c i t . , p p. 2 5 2 -2 25 ) .
237
Cf . M A R Í A J E S Ú S M O Y A N O ( L as p r e s t ac i o n es . .., c i t ., p p .11 3 -14 0 ) p ar a c o m p l eta
d es c r i ç ã o da s p r i n c i pa i s o b r a s e da e vol uç ã o do t e m a d o po n t o de vi s t a l e g al e do u t r i n á r i o,
i n c l us i ve s o b a pe r s p e ct i va d e d i r e i t o c om p a r a d o .
238
É s em p r e M A R Í A J E S Ú S M O Y A N O q u e m a ss i m a s c on c ei t ua ( I de m , c i t ., p . 6 8 ) .
239
Cf . M A R I A J E S Ú S P E Ñ A S M O Y A N O “ [ u ] n s i m pl es p a c t o a l m a r ge n d e l o s e st at ut o s n unca
p od r í a da r l uga r a p r es t ac i o n es d e e s t e ti po ; s i m pl es m e n t e e s t a r í a mo s a n t e r e l a ci on e s
j u r í di ca s i nd e pe n d i en t es e n t r e l a s o c i e da d y l o s s o c i o s c om o t e r ce r o s , s o me t i d as al
d er e c h o c o mú n . ( ...) . Es ne c e sa r i o q u e se o f r e z c a u n c ua d r o c l ar o y p r e ci so d e c uá l e s s o n,
o c u ál es pu e d en s er , l a s ob l i ga ci on e s d e l o s s o c i o s f r e n t e a l a s oci e d a d a t r a v é s d e
f ó r m ul as j ur í di c a s a d ec u a da s ” ( L as p r e s t ac i o n e s… , c i t ., p . 6 7 ) .
104

obri gação acessória puder ser configurado como falta no dever de colaboração
do acionista. Ou seja, mesmo que a prestação acessória conste de pacto
parassocial, seu inadimplemento poderia, nesse caso, gerar efeitos
societários 240.

A previsão das prestações acessórias em pactos parassociais é freqüente


e o fato de que suas disposições inte gram o estado de sócio dos celebrantes
exige interpretação adequada.

Em muitos dos casos, trata-se de obri gações assumidas apenas por um


grupo de acionistas ou mesmo por uma única parte do contrato parassocial.
Em outros, a previsão fora dos estatutos diz justamente com a necessária
confidenci alidade dos termos avençados, não sendo favorável a publicidade
que é ínsita aos estatutos.

Com acerto, O PP O , já nos anos 40, identificou essa modalidade de


ajustes entre sócios, salientando a peculiaridade de eles serem contratados
entre sócios com vistas a gerar vantagem à sociedade 241.

Nesse particular, muito embora não sejam previstos nos estatutos


sociais (e, portanto, em tese, “externos” à sociedade) sustenta-se nesta tese,
na linha de C O MPA R A T O , que os ajustes que estipulam obri gação acessória aos
sócios devem ser vistos sob a perspectiva de que também eles integram a
formulação desejada pelas partes para aquele relacionamento societário 242.

240
Re s t r i ç õ es . .. c i t ., pp . 4 1- 42 . V. t am bé m o t e xt o d e M A R I O E N G L E R P I N T O J R ., Ex c l usão
d e Ac i o n i s t a i n RD M 5 4 , p p . 83 -8 9 , e m q u e d e f en d e a p o s s i bi li d ad e d e e xc l us ã o d o
a c i on i s t a q u e f al t a ao d e ve r d e c ol a b o r a ç ã o a o i na d i m p l i r o br i ga ç ã o d e p r e st aç ã o a ce s s ó r i a
( p . 8 6 - 87 ) . Es s a r ef l e xã o s er á r et om a d a no C ap í t u l o 4 .
241
I n v er b i s , “ ( p ) o ss o n o e s s e r e d i r e t t i a p r oc u r a r e a l l a s oc i e t à v a nt a g gi p a r t i co l a r i a c a r ico
d ei s oc i e c he n o n ve ng o no p r e vi s t i ne l c o nt r at t o s o c i al e pe r e vi t a r e l a pu b bl i ci t á pr o p ri a
d i qu e s t o, pe r e s cl ud e re p r e t e s e d i r e t t e d i t e r z i , pe r m a n t e ne r e a l l e c o n ve n z i on i r e l a t i ve
u na p i ú f a c i l e m o di f i c ab i li t á” ( C on t r a t t i . .., c i t . p . 9 ) .
242
Al gu m as ob r i ga çõ e s a c e s s ó r i a s s ão p r e vi s t a s em be n e f í c i o ou va nt a g e m p ar a a s o c i e dade
e , c om r el a ç ã o a e l a s , é m e n os á r d uo s u st en t a r q ue d e va m s e r o bj e t o d e t ut e l a s o c i et ár i a.
To d a vi a , é c o m u m q u e p a ct o s pa r a s s oc i a i s p r ev e j a m pr e s t a ç õe s a c e s s ó r i a s s e m r e f l e xo
i m e d i a t o p a r a a s o ci ed a de ( e x.: p e r m i ss ã o de a c es s o de u m só c i o ao b an c o d e da d os d e
o ut r o ) . Ta m b ém ne s t e c a s o, ai nd a q ue n ã o h a j a i m p a c t o di r et o p a r a a c o m p a nh i a ( e n t e nd i d a
105

De fato, a ausência de efeitos societários do eventual inadimplemento


não afasta a relevância do que foi contratado como conjunto de regras a que se
submeteu o sócio em vista daquele negócio, daquel e empreendimento comum
que as partes tencionavam desenvolver valendo-se, também, das prestações
acessórias pactuadas.

É curial que se depare com o argumento de que cabe ao direito


societário re gular apenas a constituição e o funcionamento da sociedade e que,
portanto, matérias não diretamente ligadas a esses aspectos não seriam alvo
desse ramo do direito. Como será reiterado no decorrer da explanação, essa
posição parece não condizente com a ideia de direito societário tomada sob a
ótica da lógica que leva as partes a se associar.

Ao direito societário cabe igualmente tutelar, repise-se, o


relacionamento existente entre os acionistas e, nesse sentido, as prestações a
que se obri gam no bojo desse relacionamento tornam-se também seu alvo 243.

Assentada a posição sobre o tema, cumpre passar ao exame de al gumas


obri gações acessórias habitualmente previstas em pactos parassociais.

a) financiamento, capitalização e distribuição de resultados da


sociedade

Não obstante vigorar a regra da responsabilidade limitada dos acionistas


ao capital efetivamente subscrito, pactos parassociais prevendo regras para
futura capitalização da companhia e/ou seu financiamento por parte de todos
ou alguns dos sócios são muito comuns, inclusive para que eles mitiguem,

c om o e n t e di ve r s o e , e m t es e , t e r c e i r o à pa c t u aç ã o ) , e l e a ca b a po r s e f a ze r s e n t i r s ob r e o
r e l ac i o n am en t o e n t r e aqu el es a c i o ni st as o q u e, nã o é d i f í c il s u p or , t e m o c on d ão d e a l t e r a r
a d i nâ m i c a e n t r e e l e s e , r e f l e x am e n t e , a f e t a r a s o ci ed a d e.
243
No C ap í t u l o 4, s e r á e xp l o r a do c om m a i s v a g a r o t em a d o d e ve r d e c o l a bo r a ç ã o e n t re
s ó ci o s e d a p r ot eç ã o d a s l egí t i m as e xp ec t a t i va s .
106

voluntariamente, o benefício da responsabilidade limitada em vista daquele


projeto comum que convencionam l evar a termo 244.

Nesse grupo de cláusulas também se encontram regras voltadas à


proteção do minoritário contra a diluição de sua participação, tendo em vista
os planos de aumento do capital social e a necessidade de futuros aportes 245.
Com essa medida procura-se estabelecer contratualmente proteção mais
concreta e efetiva em face das disposições legais antidiluição 246, determinando,
por exemplo, quais casos são autorizadores de aumento de capital e quais, ao
contrário, deverão ser resolvidos por meio de endividamento, não se
descurando do respeito ao interesse social 247- 248.

De outro lado e em que pesem as disposições legais e estatutárias


atinentes, contrata-se também as condições em que os lucros da companhia

244
P r e ve n d o -s e , po r e xe m p l o , o of e r e c i m e nt o d e ga r an t i a s pe s s o ai s do s ó ci o ou a sua
o br i ga ç ã o d e i n v es t i r na s o c i e da d e m a i s d o q ue o e xi gi do pe l a m e r a i n t e gr al i z aç ã o d o
c a pi t al s u bs c r it o , o br i ga n do -s e a p ar t i c i pa r de a um e n t o s d e c a p i t a l fut ur o , a r e i n ves t i r
l u c r os , en t r e o u t r a s hi pó t e s e s. Cf . S T E D M A N E J O N E S , Sh a r e h o l de r s ’ Ag r e e me nt s , c i t ., p. 24 8
e 2 57 . O a s su n t o s e r á ai nd a c om e n t a do n o i t e m 4 .5 .5 , c ) .
245
A m e s m a l i n ha d e r a ci oc í n i o s e ap l i c a a o s ca s o s de d i l u i ç ã o d e p ar t i c i pa ç ã o em vi r t u de
d e o pe r a ç õ es d e r e o r ga n i z a çã o s oc i e t á r i a . I gu a l m e n t e , aj u s t e s ant it a k e o v e r s ã o s e m p r e
m a i s c o m un s .
246
Co m o s e r á t r a t a d o n o i t e m 4.5 .5 , c ) , a ga r an t i a d o a c i o n i s t a a n ã o d i l u i ç ã o, no Br a sil,
e s t á exp r e s sa m e n t e pr e v i s t a n os a r t . 10 9 e 1 7 0, § 1 º d a Le i 6 .4 04 / 7 6 . Ar t . 1 7 0. De po i s d e
r e a l i z a do s 3/ 4 ( t r ê s q ua r t o s ) , n o m í ni m o, do c ap i t a l s o ci a l , a c om p a nh i a p od e a um e n t á -l o
m e di an t e s u bs c r i ç ã o p ú bl i c a o u p a r t i c ul ar d e a ç õ e s . § 1 º O p r e ç o de e m i s s ã o d e ve r á s e r
f i xa do , s e m d i l u i ç ã o i nju s t i fi ca d a da p a r t i c i p a çã o d os a n ti go s ac i o n i s t a s, a i n da q u e t en h a m
direito de pr e f e r ê n c i a p ar a s u bs c r e vê -l a s , tendo em vi s t a, a l t e r n a t i va ou
c on j u n t a m en t e : ( R e da ç ã o d a d a pe l a L ei n º 9. 45 7 , d e 1 99 7 ) .
247
A r es p e i t o d e cl áu s u l a s a n t i di l ui çã o ( “a n t i - d i l ut i o n” o u “ p ar i p as s u ” ) c f . D A I G R E e
S E N T I L L E S - D U P O N T , Pa c t e s d ’ Ac t i o n na i r e s , c i t . p. 2 2.
248
I n t e r e s s a nt e , n es s e p a r t i c u l a r , e xa m i n a r a s c o n t r o vé r s i a s qu e d e r a m o r i ge m a o c aso
P E T R O P L A S T I C , r e l a c i o na d a s a aj us t e s pa r a s s o c i ai s p r e ve n do r e gr a s s o b r e a p a r t i c i p aç ã o
d os pa c t u an t e s n o s f utur os a u m e nt os d e c a p i t a l e c e s s ã o an t e c i p ad a d e a ç õe s d e l e s
d er i va n t e s Co nf i r a -s e o pa r e c e r de P H I L O M E N O J O S É D A C O S T A ( R F, 2 9 8, pp . 1 4 0 -1 5 1) n o
c a so , e m r e s p os t a a q ue s i t o s f o r m ul ad o s s ob r e a po s s i b i li d a de d e co n ve n ç ão d e ac i o n i s t a s
a l t e r a r a e f et i va ç ã o d e d i r e i t o s co n s agr a d os a o a ci on i s t a , c o m o o d e di r ei t o de p r e f er ê n c i a
n as e m i s s õe s de a ç õe s . Ve r i f i q ue -s e , a de m a i s , o Ac ó r d ão da de c i s ã o p r o f er i da pe l a 4ª
Câ m a r a Ci vi l d o T J RS e m 2 7. 5. 87 e r es p e c t i vo c o m en t á r i o , p el o m e s mo au t o r ( RDM 7 0,
p p. 83 -9 3) b e m c o m o a s c o ns i d e r a ç õe s d e G A L E N O L A C E R D A e nf at i za n d o a c o m pl e xi d a de d o
c a so ( S oc i e d ad e an ô ni m a. Re al i za ç ã o p au l a t in a d o c a p i t a l . Ac o r do de Ac i o n i s t a s i n RT
7 04 , p p . 2 1 -35 ) .
107

deverão ser reinvestidos ou distribuídos, com base nos planos de negócio


decididos pelas partes 249- 250, ou ainda formas diferentes de distribuição de
lucros entre os acionistas.

Acordos prevendo a distribuição de lucros de forma desproporcional à


participação social ou, de qualquer maneira, em benefício de um ou outro
sócio são tradicionalmente apontados como uma das ocorrências mais comuns
de pactos parassociais 251. Sua real utilização, contudo, esbarra no necessário
respeito ao princípio de vedação de pacto leonino – adiante comentado – e,
também, nas diversas implicações fiscais decorrentes da atribuição de lucros
de um acionista a outro.

No Brasil, ajustes dessa natureza são mais comuns em sociedades


limitadas, com relação às quais encontram amparo legal (art. 1.007, Códi go
Civil Brasileiro), ainda que haja quem os interprete, para efeitos fiscais, como
doação. Já nas sociedades anônimas, sua utilização é controversa em virtude
de o art. 109 exigir tratamento igual aos acionistas dentro da mesma classe e a
transferência de recursos de um acionista a outro, em vista do acordo, ser
tributada.

Não se pode deixar de considerar, no cont exto atual, que sejam


previstos em detalhe, nos pactos parassociais, inúmeros aspectos reunidos nos
chamados planos de negócio (“business plans”), tais como o volume de
investimentos e prazos de sua realização, com previsão de aumentos de
capital, financiamento externo e/ou critérios a serem informados ao Conselho
de Administração para chamada de capital autorizado; etapas de consolidação
do empreendimento comum e condições de sua verificação e implantação;

249
Na t u r a l m e nt e , es s a s p r e vi sõ e s s ã o ac o m p an h a d a s d e a co r d os de vo t o.
250
Ci e n t e d e s s a p r á t i c a , o l egi s l a d o r d e 20 0 1 p r e vi u, e xp r e ss a m e n t e , no § 5º d o a r t . 118
q ue o s ó r gã os de a d m i n i st r a ç ão d a c o m pa n h i a a be r t a d e ver ã o f a z e r c o ns t a r d e s e us
r e l a t ó r i os a n ua i s a s di spo s i ç õ es s o br e p ol ít i c a de r e i nv e s t i me n t o de l uc r os e d i st ri b ui ç ã o
d e di v i d e n do s , c o ns t a n t e s d e ac o r do s d e ac i o n i s t a s a r qu i va do s n a co m p a nh i a
251
Cf . O P P O , C on t r a t ti p a ras o c i a l i , c it , p .7.
108

eventual abertura de capital ou admissão de acionista investidor, emissão de


debêntures, ent re outros.

Na linha do que se sustenta nesta tese, a interpretação desses ajustes


deve levar em conta a intenção das partes em formatar seu relacionamento com
base em todos esses aspectos, não sendo por isso totalmente correto afirmar-se
que devam ser considerados como obrigações sujeitas exclusivamente ao
direito comum, sem quaisquer conseqüências societárias.

Cabe, então, tecer algumas considerações: o sócio não é obrigado, pela


lei, a continuamente aportar novos recursos na sociedade. Mas se ele
contratou com os demais que assim faria, é isso o que deve fazer, em
benefício da sociedade e em atendimento à legítima expectativa dos demais
contratantes pois em muitos casos seu inadimplemento impacta algo que
baseou a decisão dos demais signatári os em se tornarem sócios.

Se esse ajuste é interpretado apenas com vistas ao direito das


obri gações, ter-se-á a execução por perdas e danos e é necessário considerar
que a prestação inadimplida pode gerar um grave problema na sociedade e
minar em definitivo o relacionamento societário entre as partes.

Ainda mais grave: tomando-se uma interpretação superficial da função


dos pactos parassociais patrimoniais, é bastante provável que o devedor da
obri gação tente dele se desvencilhar, argumentando que o direito societário
não o obriga a financiar a sociedade para al ém de sua contribuição ao capital
social.

Todavia, o contrato por ele firmado em função desse relacionamento


societário, sim. Nesse exemplo, o acionista não estaria sendo, também, desleal
com os demais sócios ao frustrar o cumprimento do acordo? Sua conduta é
conforme os princípios basilares do direito societário, fundados na boa-fé e na
lealdade entre sócios e entre sócios e sociedade? Considerações dessa ordem
serão retomadas no Capítulo 4.
109

b) transferência de tecnologia e cessão em uso de direitos de


propriedade intelectual e/ou ativos.

Para o bom êxito do negócio comum, é normal que as partes avaliem, no


patrimônio de cada uma, aquilo que podem trazer ao uso da sociedade 252.

Assim, é comum convencionar-se que uma ou todas as partes deverão


licenciar o uso de direitos de propriedade intelectual, fornecer a tecnologia
necessária ao novo empreendimento ou, ainda, franquear o uso de ativos de
sua propriedade (como imóveis e maquinários, por exemplo), determinando
ainda as condições de remuneração e de prestação 253.

Não raro, essas obrigações formam o núcleo em torno do qual todo o


restante do relacionamento societário deve ser erigido e a sociedade poderá
desempenhar seu objeto social.

Por consequência, qualquer turbação que essas obri gações possam


apresentar pode comprometer sensivelmente a atividade social, e, portanto, a
conduta do acionista responsável por sua execução deve ser aferida não apenas
com base nos aspectos obrigacionais, mas, vale repetir, também com vistas ao
impacto gerado naquele substrato contratado com os demais acionistas.

c) fornecimento

Seguindo o mesmo raciocínio, as obrigações de fornecimento de matéria


prima e/ou insumos para a sociedade constituem o exemplo clássico de
obri gações acessórias 254.

252
F A B I O K O N D E R C O M P A R A T O , Re s t r i ç õ es à c i r c u l a çã o ... ci t ., p . 33 .
253
É co m u m t a m b é m q u e u m a da s p a r t e s , d e t e nt o r a d e l i c e nç a o u de a u t o r i z a ção
go ve r n a m e n t a l p ar a d e t e r m i n ad a a t ua ç ã o t en h a es t e c o m o se u gr an d e t r un f o n a a s s o ci aç ã o
( e x: s oc i e d a d e X t e m l i c en ç a da AN VI SA p a r a ven d er pr o d ut o s , e n qu a n t o s u a s ó ci a Y t e m
m a i s t e c n ol o gi a p ar a p r o du z i -l o s ) .
254
M O Y A N O e xp l i c a q ue e l a s s u r gi r a m d a n e c es s i d a d e d e s e ob r i ga r o s óc i o a r e a l i z ar
f o r ne c i m e n t o e m b e ne f í c i o da s o ci ed a de , n o ca s o de c om pa n hi a s q ue e xt r a í a m a ç ú ca r d a
b et er r a b a n a Al e m a nh a d o s é c u l o XI X ( L a s pr e s t a c i on e s ... ci t ., p . 37 ) .
110

A admissão de determinado acionista em sociedade pode estar


intimamente ligada à sua capacidade de com el a manter relação de
fornecimento de insumos essenciais à sua atividade e/ou em condições mais
favoráveis 255- 256, ainda que essa obrigação seja assumida apenas em sede
parassocial.

Constata-se, aqui, a importante função que os pactos parassociais


assumem na modelagem do relacionamento societário. Não sendo o fornecedor
um mero credor e sim um credor-acionista, o exame de sua conduta deverá
pautar-se também pelos princípios societários, como será evidenciado no
Capítulo 4 257.

2.5 - Conclusão

A função econômica dos diversos acordos parassociais patrimoniais


pode ser apontada como a de formatar, de maneira personalizada, aspectos
fundamentais ao relacionamento societário, impact ados pelo exercício de
direitos patrimoniais dos sócios, de modo que ele se desenvolva nos
quadrantes desejados pelas partes, integrando a disciplina dada pela lei e
pelos estatutos sociais.

255
No di r ei t o t r i but á r i o i nt e r na c i o na l , o f o r n ec i m e n t o de b e ns e s e r vi ço s e nt r e s o c i e da des
c ol i ga d a s su j e i t a -s e a r egr a s s ob r e p re ç o d e t r a ns f e r ê n ci a. C f . L U I Z E D U A R D O S C H O U E R I ,
Pr e ç o s d e T r an f e r ê nc i a no Di r e i t o T r i b ut ár i o Br as i l ei ro , 2 ª ed ., S ão P a u l o , D i a l ét i c a,
2 00 6 , p p. 4 4 e s s .
256
Um a co n s eq u ê nc i a d a no s a p a r a o n e gó c i o c om u m e m c a s o d e s a í d a do a c i o n ista
vi nc u l a d o à o b r i ga ç ã o a c e s s ó r i a po d e s er ap o nt a d a n o f a t o d e qu e a q ue l e s b en s o u s er vi ç o s
a t é e nt ã o p or e l e f o r ne c i d o em c a r á t e r b en é f i c o pa r a a c o m p a nh i a p as s a r e m a o b e d ec e r o s
p ad r õ e s de m e r c ad o , o u s e j a , “ a t a r m ’ s l e n gt h t e r m s ” , a u m e n t a n do o cu s t o e xp e r i m e nt ad o
p el a co m p a nh i a ( c f . S T E D M A N E J O N E S , S h ar e h ol d e r s ’ Ag r e em en t s , c i t ., p . 2 5 6) .
257
De i xe -s e vi n c a d a a l i ç ão d e C O M P A R A T O , n o s en t i d o de q u e “ a c o nf i a n ç a é t a m b é m u m
d ev e r d o s óc i o p a r a co m o s d em ai s , de ve r d e t r a t á -l os nã o c om o c o nt r ap a r t e s , n um c on t r a t o
b i l a t e r a l e m q ue c ad a qu a l pe r s e gu e i n t e r es s e s i n di vi d ua i s , m a s c omo c ol a b o r ad o r e s n a
r e a l i z a çã o d e um i nt er e s s e c o m um ” ( R e st r i çõ e s à c i r c ul a ç ã o.. . c i t ., p .40 ) .
111

3 - DISCIPLINA JURÍDICA DOS PACTOS PARASSOCIAIS


PATRIMONIAIS NO DIREITO BRASILEIRO

3.1 – Disciplina legal: introdução

Retomando o que se afirmou no Capítulo 1, o direito brasileiro conta


com disciplina lega l específica sobre pactos parassociais em sociedades
anônimas, consist ente no artigo 118 da lei 6.404/76 258 que, com relação a
ajustes patrimoniais, volta-se apenas àqueles sobre a compra e venda de ações
e preferência para adquiri-las.

Segundo a doutrina, a decorrência dessa opção legislativa é a de que


somente com relação aos pactos parassociais relativos às matérias previstas no
art igo 118 é que devem ser produzidos os efeitos le gais da oponibilidade e da
execução específica.

Não significa, em absoluto, que pactos parassociais com conteúdo que


extrapole o rol legal sejam atacados em sua licitude ou validade 259. O elenco de

258
J á se r e f e r i u q ue i n ú m e r o s s ã o os t e xt o s , a r t i go s , l i vr os e t e s e s qu e t r a t a m d os a c ordos
d e a ci o n i s t a s p r e vi s t o s n a l e i 6 .40 4 / 7 6. P o uc os , s e nã o r a r o s , e n t r e t a nt o , s ão o s q u e
e xa m i n a m o f en ô m e no da c o nt r a t a ç ã o p a r a s s oc i a l p ar a a l é m d o m o d el o l e ga l a pr e s e nt ad o
p el o a r t . 11 8 e su a s c ar a c t e r í s t i c a s p r óp r i a s . Ou s e j a , a r i c a pr át i ca s o c i e t á r i a r el at i va a o s
c on t r a t o s p a r as s o c i a i s n ã o t em r e ce b i d o da d o ut r i na a at en ç ã o que s u a i m p or t â n c i a
e c on ô m i c a e xi ge .
259
O m e s m o s e d i ga c o m r e l a ç ão ao s pa c t o s p a r as s o c i a i s c e l e br a d o s e m o u t r o s t ipos
s o ci e t á r i o s : el e s p od e m s e r va l i d a m e nt e c e l e b r a d o s , m a s nã o s ã o r e c o n d uz i d o s à no ç ão d e
a c or d o s de a c i o ni st as pa r a o s f i n s r e s er va d os e x c l us i va m e nt e a el e s p e l a l e i . C f ., a r es p e i t o
o e xc e l e nt e e c o m p l e t o ar t i go d e E R I C K C O R V O , A co r d os d e s ó c i o s d e s oc i e d ad e s l i mi t ad as
à l u z do C C / 20 0 2, i n A AV V, Te ma s d e D i r ei t o So c i e t ár i o e E mpr e s a r i al Co nt e mp o r ân e o s.
L i be r Ami co r u m Pr of . D r . Er as m o Va l l a d ão Az e v ed o e No v ae s Fr a nç a , M al he i r o s , Sã o
P au l o , 20 1 1, p p. 8 4- 11 4 , d o q u al s e e xt r a i : “ m ui t o de de b a t e e das di s c u ss õe s so b re
a c or d o s de s ó c i os gi r o u e m t o r no d a c on f u s ão e n t r e c on c ei t os di st i nt o s , t ai s co m o l i c it u d e,
val i da d e e e f i c á ci a d o s a c or d o s de s óc i o s ” ( I d e m , p . 85 ) . P ar a a e vo l u çã o do t e m a c f .,
a i n da , J O S É A LE X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O , Ev o l uç ã o e pe r s pe c t i v a s d as s o c i e da d es p or
q uo t a s de r e sp o ns a bi li da de l i mi t ad a , i n A ASP , S ão P a u l o , p. 1 0 2 e pr e f ác i o d a o br a d e
C E L S O B A R B I F I L H O ( Ac o r do d e a ci on i s t a s , c i t ) e W A L D I R I O B U L G A R E L L I , An o t aç õ e s s ob r e
112

matérias, com vistas ao plano da validade, é enumerativo e a determinação da


invalidade é realizada a posteriori 260.

Ao contrário, no que diz respeito à produção dos efeitos jurídicos


previstos em lei a lista é tax ativa: somente com relação àquelas matérias eles
podem ser produzidos, o que se justifica pelo fato de que se trata de exceções
à regra geral de produção de efeitos dos contratos e, portanto, a regra deve ser
interpretada de maneira estrita.

Em que pese essa distinção, depara-se frequentemente com


manifestações pouco claras e mesmo atécnicas com relação ao problema 261.

o a c o rd o de c ot i s t as , in RD M 98 , p p. 4 4 - 49 . Ca b e r e f e r i r , p or f i m , q u e a s u ge s t ã o d e
C E L S O B A R B I F I L H O d e q u e “ n a Re f o r m a d a L ei d a s S / A p o d e r -s e -i a f az e r m en ç ã o à
a dm i s si bi l i da d e d e a c o r do s de a ci on i st a s e m out r os ti p os s o ci et ár i os ” nã o f o i a t e nd i da
( Ac o r do d e Ac i o n i s t as : Pa no r a ma at u a l d o i nst it ut o n o di r e it o b r a si l e iro e p r o po s t a s pa ra
a r e f or ma d e s ua d i s c i pli n a l eg a l , i n R DM 1 21 , 2 0 01 , p . 3 8 ) . M a i s q ue p e r m i t i r a c o r do s d e
a c i on i s t a s e m o u t r os ti pos , de f e n de -s e , n e s t a t e s e, qu e o a r t i go 11 8 de ve r i a t r a t a r d e pa c t o s
p ar a s s oc i a is c om o gê ne r o de q ue o s a c o r do s d e a c i o ni st as , c o m s ua s p e cu l i a r i d a de s , s ã o
e s pé c i e s .
260
Va l e t r an s c r e ve r a co m p l e t a c i t aç ã o d e C O M P A R AT O : “ [ e ] n t r e n ó s , a Le i nº 6 .4 04 , de
1 97 6 , di s s i p a nd o a n ti ga s e i n f un d ad a s d ú vi da s , l e gi t i m o u e xp r e s s a m e n t e os a c or d o s d e
a c i on i s t a s c o m o p a c t os p a r a s s oc i a i s , a s s i n a nd o - l he s d o i s obj e t o s : a r e gu l a ç ã o d o e xe r c í c i o
d o vot o e a c o m p r a e ven d a d e aç õ e s , ou pr e f e r ê n ci a p a r a a d qu i r i -l as . D aí n ã o s e de v e
i n f e r ir , p or é m, q u e s e t e n ha do r a v an t e po r p ro i b i d a a c e l eb r a ç ão de a c or d o s a c i o ná r i os
c om ou t r o s ob j e t o s . Na ve r d a de o pr i nc í p i o da l i c it u d e de s s e s p a c t o s p a r a s s oc i a i s e xi s t i a
d es d e an t e s do a dve nt o d a qu e l e d i p l o m a l ega l , c o m o p r oc u r e i de m o s t ra r al hu r e s ( . ..) . A
v al i da d e de t a i s n eg ó c ios e r a , e nt ão , c o mo ai n d a é h o j e , s ub me t i d a às n o r mas c o mu ns d o
d i r ei t o pri v a do , a p ar d a s r eg r a s ge r a i s do d i r e i t o s oc i e t á ri o . A p r o m ul ga ç ão d a no va l ei
d e s o c i e da d e s po r a ç õe s n ão ve i o, de a l gum a f o r m a , r e s t r i n gi r a p o s si bi l i da d e j u r í di ca d e
u t il i z a ç ão d e a co r d o s en t r e a c i o ni s t a s m a s , t ão -s ó , d i s c i pl i na r o s s eu s efe i t o s e m r e l a ç ão a
t e r c ei ro s , i ncl u s i v e a p r óp r i a s oci e d a de , da d o o p r i n c í pi o da e f ic á c i a r el ati va d os
c on t r a t o s ” ( Ef i c á c i a do s a c or d o s ..., c i t ., p. 7 6. Gr i f o u- s e) . So b r e a n ec e s s i d ad e d e
a va l i aç ã o d a v a l i d ad e a po s t e r i o ri , af e r i n d o-s e o c on t e ú do d e ca d a c o nt r at o , c f . P IE R
G I U S T O J A E G E R e F R A N C E S C O D E N O Z Z A , Ap p u n t i di di r it t o c o mme r c i al e, I , I m p r e sa e
s o ci e t à , 4ª Ed ., Mi l an o , Gi uf f r è , 19 9 7, p. 24 9 .
261
Co m o e x e m pl o , j ul ga -s e qu e s t i o ná vel a a f i r m a ç ã o d e C A R V A L H O S A p a r a q u e m o r o l de
m a t é r i a s s e r i a l i ga d o a nt e s à va l i da d e q ue à pr o d uç ã o d e e f e i t o s l e gai s e sp e c í f i c o s:
“ [ p] o d e nd o t e r po r c on t e ú do a co m p r a e ve nd a e a p r e f e r ên c i a n a a q u i s i çã o de a ç õ e s e a
vi nc u l a ç ão d o vot o a de t e r m i n a da s di r et r i z es c o nv e nc i o n ad a s s ob r e e s p e cí f i c os a s s unt o s
( a c or d o de vot o e de e xer c í c i o do p od e r de c o nt r o l e ) , a l e i n ão e xc l u i u a e fi c á c i a, mas ,
s i m, a v al i da d e pe r a nt e a c omp a nh i a e t e r ce i ro s e m ge r a l d os a c or d os d e ac i o n is t a s q u e
v e rs e m s o b re o ut r as q ue s t õ e s , v. g. , l i m i t a ç ã o d e r e sp o ns a b i l i d a de p e ss o a l p or dí vi d as d a
c om p a n hi a e t c .” ( C om en t á r i o s ..., ci t ., p . 55 2 . Gr i f o u -s e) .
113

Nesse ponto, como havia sugerido B A R B I F I LH O , a reforma da Lei das


S/A pela Lei n. 10.303/2001 poderia ter alterado a redação original do
dispositivo, de modo a aclarar as dúvidas sobre a real finali dade da inclusão
de matérias em seu bojo.

Concluindo-se pelo caráter enumerativo da lista de matérias previstas


no artigo 118 decorre, como esclarece C O MP A RA TO , que não se pode ligar a
locução acordo de acionistas a um único negócio típico, tendo em vista que
sob a rubrica é possível criar ajustes com características muito diversas 262.

Todavia, somente podem ser acordos de acionistas para plena aplicação


das re gras constantes do artigo 118 da lei de sociedades anônimas os pactos
parassociais que tenham por escopo a regulação da compra e venda de ações e
rel ativo direito de preferência, exercício de voto e exercício do poder de
controle 263.

Em que pese essa posição, fundada na necessidade de restrição na


aplicação de regra excepcional relativa à oponibilidade, não se encontrou

262
Out r os , c o m o A L B U Q U E R Q U E B A R R E T T O , a f i r m am q ue s e t r a t a d e um c on t r a t o tí p ico,
n om i na d o, p e l o f a t o d e a l e i t er t r a z i d o d en o m i n aç ã o e c a r a c t e r í s t i c a s e s p ec í f i ca s . I n
v e rb i s : “ t r a zi d o s p a r a o di r ei t o pos it i vo b r a s i l e i r o p el a l e i 6 .4 04/ 76 , o s a c o r do s d e
a c i on i s t a s p a s sa m a c o n st it u i r u m a es p é c i e c on t r a t u al pr óp r i a , c o m d en o m i n aç ã o e
c a r ac t e r í s t i ca s es p e c í f i c a s , d e c or r e n t e s d e s u a r e gu l a m en t a ç ã o” ( Ac o r do …, c i t . , p . 3 7) .
Ta m b é m A N T O N I O J U N Q U E I R A D E A Z E V E D O an o t a qu e “ [ n] o d i r e it o b r a si l e i r o, e st á pr e vi s to
n a Lei d a s S o ci ed a de s An ôn i m a s ( a r t . 11 8 ) , s en d o, p o i s , ne gó ci o n o m i n a d o o u t í p i c o ”.
( No v os Es t u do s e Par e c e r es .. . c i t ., p .12 4 ) .
263
C A R LO S A U G U S T O D A S I L V E I R A L O B O e s c l a r e ce qu e “ [ o ] s a c o r do s de a c i o n i s t a são
m o da l i d a d es de ‘ c o n t r a t o pa r a s o ci a l ’ , c on c e i t o d ou t r i n á r i o c r i a do p o Op p o ( …) qu e
c om p r e e nd e c o nt r a t o s e m q u e as pa r t e s r e gul a m o c o m p l e m en t a m s e u s d i r ei t os e o b r i gaç õ e s
c om o s ó ci os d e de t e r m in a da s o ci ed a d e e p or i s s o s ã o c o ns i d e r a do s c oli ga d os a o co n t r a t o
s o ci a l ou a c es s ó r i o de ste . C om o e x em p l o d e co n t r a t os p a r a s s oc i a i s , q ue nã o s e e n q ua d r a m
n a d e f i n i ç ã o d e ac o r d o d e a ci on i s t a s , c a be c i t a r o s ch a m a do s ‘ a c or d o s pa r a l e l o s ’ , c om u n s
e m j o i nt ve n t u r es , me di a n t e os q u a i s os a c i o ni st as s e o br i ga m a p r es t aç õ e s nã o
c om p r e e nd i d a s n o â m b i t o do co n t r a t o s o c i a l e d o e s t a t ut o, m a s es s e n c i ai s a o
e m pr ee n di m en t o c o m u m a s e r r ea l i za d o a t r a vé s da so c i e d ad e e m p r e sá r i a ” ( Ac o rd o d e
Ac i o n i s t a s ... c i t , , p . 4 41 ) . M a i s a d i a nt e n o m e s m o t e xt o r e f or ç a q ue “ f r e qu e n t e m en t e , n o
m e s m o i n st r um e n t o s ob o t í t ul o “ a c o r do d e a ci on i s t a s ” s ã o r eu n id os o u t r o s pa c t o s
p ar a s s o c i a i s qu e a s p ar t es c o n ve n ci on a m , m a s a s d i s po s i ç õ es e s p e ci ai s do a r t . 1 1 8 s om e n t e
s e a p l i c a m à s e s t i p u l açõ e s c o m p r ee n d i da s no c o n ce i t o l e ga l de a co r d o d e a ci on i s t a s ”
( i d e m , p .4 45 ) .
114

justificativa para que o artigo 118 tratasse apenas dessas matérias, ainda que
elas sejam (ou tenham sido, na época da elaboração da lei) as mais relevantes.

Uma redação que contemplasse o gênero dos pactos parassociais e não


apenas a espécie delineada pela lei (acordo de acionistas) parece mais
adequada para o contexto atual, ainda que se fizesse consignar expressamente
que alguns efeitos peculiares somente seriam atribuídos a algumas
modalidades de pactos parassociais.

Pelo acima exposto, a expressão “acordo de acionistas” será empregada,


doravante, para referência aos pactos parassociais expressamente previstos na
lei 6.404/76 que são os únicos aos quais a lei conferiu efeitos excepcionais.

Passa-se, assim, à análise dos principais tópicos da disciplina dos


acordos de acionistas, identificando, por conseguinte, seus reflexos para os
pactos parassociais patrimoniais 264.

3.2 - Oponibilidade e acordos de acionistas

Mencionou-se no Capítulo 1 que a autorização legal e expressa para que


o acordo de acionistas produza efeitos não somente entre as partes, mas
também frente à companhia e terceiros, constitui a principal peculiaridade da
legislação brasileira frente àquelas que se ocuparam da questão.

De fato, a lei com isso denota coligação mais intensa entre o que é
contratado entre as partes do acordo e o resultado dessa contratação na vida
da companhia, sobretudo na utilização de acordos de voto.

Como bem salienta C A LIX T O S A LO MÃ O F I LH O , essa interação legalmente


desejada denota o reconhecimento, no Brasil, de “centros parassocietários de

264
Re i t e r a -s e q ue o o b j e t i vo d es s e e xa m e l on ge es t á d a a p r es e n t a çã o d e t a l ha d a e
a pr o f u n da d a d o s m úl t i plos e c o m pl e xo s a s p e ct os q ue s e p od e r e ti r a r do t e m a d os a c or d o s
d e ac i o n i s t a s e pa c t o s par a s s o c i ai s em ge r a l n o d i r e i t o br a s il e i r o . A s si m, o t e xt o qu e s e gu e
p r oc u r a of e r e c e r p an o ra ma d os p r i n c i p ai s t óp i co s da m a t é r i a p a r a qu e s e r e f l i t a s o br e s e u s
e f e i t o s pa r a o s p a ct o s p a r a ss o c i a i s p a t r i m o ni ai s .
115

poder” influindo sobre a vida social, com a determinação de regras claras para
o embate entre ambos 265. Operou-se aqui , como em nenhum outro ordenamento,
uma aproximação do regramento obrigacional do acordo de acionistas com o
caráter real das disposições relati vas à organização e funcionamento da
companhia.

Por essa razão, retomando o que antes se dizia sobre a função


econômica de ajustes parassociais patrimoniais, tem-se que os acordos
eri gidos sobre a compra e venda de participações e/ou relativos à preferência
em adquiri-las – porque previstos no artigo 118 – devem produzir os efeitos
previstos na lei, o que não acontece com outros ajustes parassociais com teor
patrimonial.

Com o intuito de avaliar se existe real diferença de regime entre os


diversos pactos parassociais patrimoniais conforme estejam ou não previstos
no rol le gal de matérias, é fundamental, nesse passo, deter-se sobre o
significado da oponibilidade e da produção de efeitos diretos e reflexos, pelo
contrato parassocial, avaliando sucintamente os termos em que o princípio da
relatividade dos efeitos dos contratos foi mitigado com relação aos acordos de
acionistas.

3.2.1- Relatividade de contratos e acordos de acionistas

Segundo o princípio da relatividade dos efeitos dos contratos, a relação


jurídica contratual deve produzir efeitos exclusivamente entre os pactuantes, a
menos que a lei determine, expressamente, de forma contrária 266- 267.

265
O n o v o d i r e i t o s o ci et ári o , 2 ª. e d., Sã o P au l o , M a l h e i r os , p. 9 6.
266
Ve j a -s e o c a s o da e s t i p u l a çã o e m f a vo r d e t e r c ei r os , exe m p l o po r e xce l ê n ci a de n e gó cio
j u r í d i c o e m qu e s e ve r i f i ca a pr o d u ç ã o d e e f e i t o s j u r í d i c os n a e s f e r a de i nd i ví d uo q ue n ã o é
p ar t e da c o nt r at aç ã o , m a s a p en a s p or el a , i n t en c i o na l m e n t e , b e ne f i c i a d o.
267
Ao t r a t ar d a o r i ge m d a r el at i vi d a d e d a s co n ve n ç õe s L U C I A N O D E C AM A R G O P E N T E A D O ,
e xp l i c a q u e o s e u c on c e i t o de r i va d os p r e c e i t o s int r od u zi do s p el a r evo l u çã o f r a n c e s a e e s t á
p r of u n da m e n t e ar r a i ga d o à c on s t r u ç ão d o m o d e l o d a “ s o c i e da d e c i vi l d e i nd i ví d uo s ” ( e m
116

O princípio refere-se aos efeitos diretos produzidos pelo contrato,


ligados à prestação assumida de uma parte a outra e a pretensão de vê-la
cumprida, bem como à responsabilidade de cada uma delas para o
adimplemento 268.

Nesse sentido, não é possível que duas partes contratem obrigação


vinculante de uma terceira, responsável pelo seu adimplemento, se esta última
não teve a oportunidade de manifestar sua vontade 269.

Para além dos efeitos diretos ligados ao adimplemento das obrigações


contratadas, todavia, reconhece-se que o contrato produz efeitos reflexos
sobre terceiros. Mais uma vez, cumpre transcrever a síntese de C O MPA R A T O , a
respeito:

“toda relação obri gaci onal representa um f ato da vi da jurídica que,


como tal, produz efe itos reflexos sobre t erceiros. O mecanismo de
produção desses efeit os reflexos está l igado ao conhecimento - e feti vo
ou presumido – da relação obrigacional por quem não é parte” 270.

Os pactos parassociais, sendo contratos, não escapam a essas


ponderações.

o po s i ç ã o à s oc i e d a de e s t a m e nt a l ) ( Ef e i t o s C on t r a t u ai s . .., c i t ., Sã o P a u l o, Q ua r t i e r Lat i n,
2 00 7 , p . 2 1 ) .
268
Cf . C O M P A R A T O , No v o s Ef i c á ci a d o s A c or d o s de Ac i o n i s t a s, i n No vo s e ns a i o s ... c i t . p.
7 9.
269
L U C I A N O D E C A M A R G O P E N T E A D O r e s s a l t a a i mp or t ân c i a d o p r i n c í pi o da r e l a t i vi d a de dos
e f e i t o s do s c on t r a t o s e e xt r a i a l gu m a s co n s eq ü ê n c i a s gen é r i c a s da r e l a ç ão d o t e r ce i r o c o m
o c o n t r a t o: “ [ o t e r ce i r o] : ( i ) n ã o p o de s e r p a r t e co n t r a su a vo n t a d e o u s e m ne n h um a t o
p r óp r i o q ue o vi n cu l e à d ec l a r a ç ã o n e goc i a l , n ã o po d en d o se r vi n c ul ad o a o c o n t r a t o, o q ue
é c on s e qü ê n ci a d a i d é i a ge r a l d e qu e a r e s po n sa b i li d a d e e m d i r e i t o é p el o a t o p r óp ri o ; (i i )
n ão p od e s e pr e v a l e ce r d e um c o n t r a t o d e q ue n ão é p ar t e, pa r a f a z er va l e r u m di r e i t o ou
o bt e r u m be n e f í c i o q u a l qu e r de c a us a c o nt r a t u a l . At é m e s m o n a e s t i p ul a ç ã o e m f a vor d e
t e r c e i r o, po r e xe m p l o , e nt e n d e -s e q ue o be n e f i c i á r i o d a e st i pu l a ç ã o n ã o p o de s e va l e r d a
c l á us u l a c o m p r om i ss ó r ia do c o nt r at o e nt r e e st i pul a n t e e pr o m it e n t e a se u f a vo r . Es t a
c on c l u s ão é p a r a l el a à an t e r i o r ; ( i i i ) n ão po d e t a m b é m c o ns i de r a r -s e o b r i g ad o
c om p u l s o r i a m en t e p o r dí vi d a c o nt r a t u a l a l h e i a s em at o p r ó pr i o c o n t r a t ua l o u f o nt e l ega l d e
i m p u t aç ã o d e r es p o ns a b i l i d a de . A s si m , o t e r c ei ro f i ca e s t r a n ho a o c on t r a t o , p o de n do -l h e s e
a pl i c ar o cé l e b r e a f o r i s m a : r e s i n t e r al i os a c ta, ne q ue n oc e t ne q u e p r od e s t , o u a i n da o
n em o a l t e r i s t i pu l ar i p ot es t . Ap e sa r d e l e s , t e m se e n t e nd i d o qu e a l gum a e f i c á c i a o co n t r a t o
a pr e s e n t a pe r a n t e a qu e l e s q ue n ã o s ão p a r t e ” ( Ef e i t o s C on t r a t uai s .. . c i t . p. 22 ) .
270
Ef i c ác i a d os Ac or d o s d e Ac i on i s t a s , i n N ov o s e ns a i o s ... ci t . p . 7 9 .
117

Em princípio, suas disposições referem-se exclusivamente às partes


contratantes mas, por expressa disposição legal, no caso de serem acordos de
acionistas, são oponíveis à companhia quando nela arquivados.
Imprescindível, nesse ponto, anotar o que se deve entender por oponibilidade.
Para t anto, recorre-se a L U C IA N O DE C A MA R G O P EN TE A D O que explica que

“[a ] op onibilidade, no si stema ci vi l brasi leiro, pode se referir , no


campo contrat ual, a um poder formativo que decorre do contr ato,
orientado a for mar u ma relação jurídica, a uma imunidade, também
del e decorrente, no se ntido de que os e feito s de cada si tuação jurí dica
conflitante com o c ontrato a ele não será oposta. (…) O poder
for mativo mani fest a-s e no direit o de pre ferênci a e na opção de c ompra,
de modo mais salient e. A imunidade mani festa-se na inal egabilidade
do desconhecimento do conteúdo do contrato, na mera permanência do
vínculo obri gacional, ainda cont ra a vontade do interessado. (…) Desse
modo t raduz-se a favor do contrato oponível um preval ecimento no
conflito com outras posições jurídicas com ele conf litantes” 271

De outro lado, também por regra le gal específica, acordos de acionistas


são oponíveis a terceiros quando os ônus e obrigações forem averbados nos
livros sociais. Por fim, pactos parassociais produzem efeitos reflexos a
terceiros, como é possível suceder a qualquer contrato, sejam ou não acordos
de acionistas 272.

A doutrina procurou interpretar o alcance das disposições legais para


que o intrincado texto presente no artigo 118 pudesse ser esclarecido se não
com relação a todos os pactos parassociais, ao menos com relação aos acordos
de acionistas.

271
Ef ei t os C on t r a t ua i s p e ran t e T e rc e i r o s , S ão P a u l o , Q ua r t i e r L a t i n , 2 00 7 , p p. 17 4 e 17 5 –
gr i f o u -s e .
272
A a c e i t a ç ão d e qu e c on t r a t o s p r od u ze m r e f l e xo s a qu e m d el es n ã o é pa r t e é r e s u l t a do da
e vo l u ç ã o d o gm á t i c a d o d i r e it o c i vi l e d as t r a n s f or m a ç õ e s p or q u e p a ss o u o di r ei t o d as
o br i ga ç õ e s du r a nt e o s éc u l o XX . No s d i a s a t u a i s , e s f o r ç a-s e po r d e l i n e ar a p os i ç ã o
i n t e r m e di á r i a e nt r e a ri gi d e z i nd i v i d ual i st a f und a da n os d i s po s it i vo s o r i gi n ai s d o C od e
Na p ol e ó n , e o e s t a t i s mo exa c er b a d o d a se gu nd a m et ad e do s é cu l o vi nt e ( c f . L U C I A N O D E
C A M A R G O P E N T E A D O , Ef e i t o s Co n t r at u ai s ... c i t ., p. 20 ) .
118

Nesse sentido, afirma-se que a previsão do arquivamento 273 –formalidade


necessária para que o acordo de acionistas seja oponível à companhia — li ga-
se à preocupação de os acordos de voto serem conhecidos e respeitados 274.

Considerando o impacto do voto na vida da companhia – ou seja, a


capacidade de gerar efeitos sobre ela – é facilmente percebida a relevância de
se dotar acordos de voto de se gurança jurídica e eficácia perante a companhia,
evitando que sejam turbados. Pela oponibilidade, a companhia não pode ale gar
desconhecimento dos termos do acordo de voto.

Por outro lado, a previsão de averbação das obrigações e ônus


contratados no acordo de acionist as nos l ivros sociais procura dar publicidade
desses ajustes a terceiros de boa-fé, interessados na aquisição de ações
gravadas, sobretudo no que diz respeito a disposições relativas à preferência
na aquisição de ações 275, de modo que de antemão conheçam a oponibilidade de
que são munidas em favor dos pactuantes.

Os direitos, obriga ções e ônus presentes nos acordos passam, pela


averbação, a ter sua integração no estado de sócio reconhecida pela
companhia 276, não podendo o terceiro de boa-fé que eventualmente tenha
contratado a compra e venda de ações, em desrespeito ao acordo, fazer valer
seu direito perante ela e os demais acionistas.

273
P a r a o e nt e n d i m e nt o d o qu e s e de ve co n s i de r a r a r q ui v a m e nt o, p a r a o s f i ns l ega i s , c f . O
Re s p 23 .6 6 8 -3 , d e 1 99 3 co m e n t a do e m P A U L O D E L O R E N Z O M E S S I N A e P A U L A A. F O R G I O N I
S oc i e d ad e po r Aç õ e s. J u r i s p ru d ê nc i a . Ca s o s e Co m e n t ár i o s , S ão P au l o , R T , 19 9 9, p. 3 7
( r e f e r i d o n a s p á gi n a s 1 3 8 -1 39 ) .
274
Cf . C O M P A R A T O , Ef i cá c i a d os Ac or d os de A c i on i s t a s , i n N ov o s e ns a i o s ... ci t . p . 8 1 .
275
L U C I A N O D E C A M A R G O P E N T E A D O p o nt ua , s o b r e o t em a d a p u bl i c i dad e , qu e “ [ p] a r a a
o po n i bi l i d ad e é s e m pr e ne c e s s ár i o u m p l u s , u m a os t e n s i vi da d e f o r m a l do co n t e úd o d a
r e l a ç ão j u r í di ca ” ( Ef e i t o s Co nt r a t u ai s ... c i t ., p . 17 4 ) . No c a s o d a s r e gr as d e c o m pr a e
ven d a e p r e f e r ên c i a p r e vi s t a s e m a co r d o d e a ci on i s t a s , p ar a s u a op o ni b i li da d e a t e r c e i r o s
p r evi u o l e gi s l a do r a p u bl i ci da d e po r m e i o d a a ve r b aç ã o no s l i vr o s s o ci ai s.
276
Ai n da c om o e f ei t o d a a v e r ba ç ã o, t em - s e q ue o t er c e i r o a dq u i r e nt e de a ç õ es s o br e as
q ua i s f or a m c o n t r a t ad os t e r m o s d e a co r d o de ac i o n i s t a s , s e c o nc lu i d a c ab a l m e n t e a
a l i e n aç ã o da s a ç õe s gr a va d a s , n el e s s u br o ga -s e. Tr a t a n do -s e de o u t r a s m at ér i as n o a co r d o ,
a s d i s po s i ç õe s r e l a t i va s n ã o s ã o t r a n s f er i da s a u t o m at i ca m e n t e c om as aç õ e s .
119

Se a aquisição se deu em desobediência ao pactuado, o titular da


preferência desrespeitada ostenta, em virtude da oponibilidade prevista em lei ,
poder formativo relativo àquela compra e venda 277. Ciente a companhia do
acordo (em virtude do arquivamento e averbação), pode – senão deve, em vista
de suas funções registrárias 278 – recusar o re gistro de transferência de ações
que não guarde respeito que foi contratado parassocialmente.

Reitera-se, nesse sentido, que a preocupação se justifica pelo fato de


que os acordos de voto perderiam sua utilidade se o acionista que se
comprometeu a votar em determinado sentido estivesse livre para alienar suas
ações previamente à Assembléia em questão. Por isso, juntamente com o
acordo de voto celebra-se acordo que impede a livre transferência de ações
por parte do signatário do acordo.

Pois bem, se esse pacto de restrição à venda não fosse oponível a


terceiros, facilmente o acionista que desejasse furtar-se da obrigação de voto
concordada venderia, de qualquer maneira, suas ações a terceiros de boa-fé.
Optou-se, assim, por dotar a companhia de funções registrárias quanto aos
acordos de acionistas nela depositados: a companhia não poderá fazer
escriturar em seus livros transferência feita em desacordo com o disposto em
acordo de acionistas averbado em sua sede.

277
Ai n d a co m L U C I A N O D E C AM A R G O P E N T E A D O , E f e i t o s C on t r at ua i s .. . c i t ., p p. 74 -7 5.
278
Cf . J O S É A L E X A N D R E T A V A R E S i n A R N O L D O W A LD ( c o or d .) , O di r e i t o n a dé c ad a d e 8 0:
e s t ud o s j urí di c o s em ho me n ag e m a H el y L op e s Mei r el l es , Sã o P a ul o, R T, 1 9 85 , p p. 14 3 -
4 9. 279R e f e r i u -s e n o Ca p í t u l o 1 a p r e oc u p aç ã o e xt r e m a d o l e gi s l a d or d e 20 0 1 e m c o m o que
p ot e n c i a l iz ar a op o ni b il i da d e d o s a c or d o s d e vo t o e d e e xe r cí c i o do p od e r d e co n t r o le
p er a n t e a c o m p a n hi a, po r m e i o d a i n cl us ã o d e no vos p a r á gr a f o s n o a r t . 1 1 8 d a Le i 6 .4 04 / 7 6
c om o d e c l a r ad o i nt u ito de f a ze r a c o m pa n h i a, p o r m e i o da at ua ç ã o d o p r es i d e n t e d a
As s e m bl éi a, gu a r di ã d a s di s p o si ç õe s c on t r a t a d as e m a c or d o s d e a c i on i s t a s . Al é m d i s s o , a
c om p a n hi a p a s so u c on t a r c om d i s p osi t i vo e xpr e s s o q u e l he a ut or i za s o li c i t a r i n f o r m aç õ e s
s o br e o t e o r d o ac o r do d e a c i on i s t a s à s p a r t e s con t r a t a nt es . Di a n t e di ss o n ã o se p o de n e g ar ,
a o m e n os n o s i st e m a da l e i so c i e t á ri a em vi g or , o pl e n o r e c o nh e c i m e nt o do a co r d o d e
a c i on i s t a s c o m o f o r o d e e s t i p u l a çõ e s c r uc i a i s p a r a a co m p a nh i a , o u a r e gr a l e ga l nã o t e r i a
q ua l q u er ut i li d ad e .
120

Eis, assim, descrição sucinta do quadro idealizado pelo le gislador para


os acordos de acionistas e as razões para restrin gir a oponibilidade a esse
grupo de contratos parassociais.

3.3 - Oponibilidade e pactos parassociais com outros conteúdos


patrimoniais

Em decorrência do texto legal e do acima exposto, o exame das regras


de produção de efeitos de contratos parassociais, para a companhia e terceiros,
restringe-se a acordos de acionistas, desdobrando-se a análise, como se
apontou, com vistas à oponibilidade de acordos de voto 279 – que escapam à
presente tese – e àquela veri ficada em acordos de compra e venda de ações e
preferência para realizá-la.

Contudo, já se afirmou, acordos de compra e venda e de preferência


constituem apenas uma parte dos ajustes parassociais com caráter patrimonial
de que se pode cogitar na atualidade.

Com relação, portanto, a pactos parassociais de conteúdo patrimonial


que extrapolam ajustes fundados na compra e venda, há que se examinar quais
as consequências do fato de que não são oponíveis à companhia e a
terceiros 280.

279
Re f e r i u -s e n o C a p í t u l o 1 a p r e o cu p a ç ã o e xt r e m a d o l e gi s l a d o r d e 20 0 1 e m co m o q ue
p ot e n c i a l iz ar a op o ni b il i da d e d o s a c or d o s d e vo t o e d e e xe r cí c i o do p od e r d e co n t r o le
p er a n t e a c o m p a n hi a, po r m e i o d a i n cl us ã o d e no vos p a r á gr a f o s n o a r t . 1 1 8 d a Le i 6 .4 04 / 7 6
c om o d e c l a r ad o i nt u ito de f a ze r a c o m pa n h i a, p o r m e i o da at ua ç ã o d o p r es i d e n t e d a
As s e m bl éi a, gu a r di ã d a s di s p o si ç õe s c on t r a t a d as e m a c or d o s d e a c i on i s t a s . Al é m d i s s o , a
c om p a n hi a p a s so u c on t a r c om d i s p osi t i vo e xpr e s s o q u e l he a ut or i za s o li c i t a r i n f o r m aç õ e s
s o br e o t e o r d o ac o r do d e a c i on i s t a s à s p a r t e s con t r a t a nt es . Di a n t e di ss o n ã o se p o de n e g ar ,
a o m e n os n o s i st e m a da l e i so c i e t á ri a em vi g or , o pl e n o r e c o nh e c i m e nt o do a co r d o d e
a c i on i s t a s c o m o f o r o d e e s t i p u l a çõ e s c r uc i a i s p a r a a co m p a nh i a , o u a r e gr a l e ga l nã o t e r i a
q ua l q u er ut i li d ad e .
280
Ne s s e s en t i d o , c f . o e n t e nd i m e n t o de L U C I A N O D E C AM A R G O P E N T E A D O : “D e m od o ger al,
d ev e r -s e -i a co n s i de r a r o s at os j u r í di c os c o m o ino p on í ve i s . I s s o s e r i a co ns e q üê n ci a l ógi c a
i m e d i a t a d o pr i nc í pi o da r e l a t i vi d a de d os e f e i t o s do c on t r a t o . P ort a n to , n at ur a l m e n t e , u m
c on t r a t o é i ni po n í ve l f r e n t e a t er c e i r o s , c om o r e gr a, s e n d o n e ce s á r i o , c as o q ue s t i o n ad a a
r e l a ç ão j u r í d i c a d el e d e c or r e n t e , u m r e m é d i o pr o c es s u a l q ue é a a ç ã o de c l a r a t ó r i a, d e m od o
121

A primeira consequência é a de que, não obstante os pactos parassociais


patrimoniais possam dizer respeito a aspectos vitais ao funcionamento da
companhia (tome-se, por exemplo, o ajuste sobre a t ransferência de tecnolo gia
ou o direito de uso de marca de titularidade de um acionista) e, sobretudo,
forneçam elementos estruturais do relacionamento entre os sócios, a ausência
de re gra de publicidade e oponibilidade a seu respeito informa que ela,
companhia, não estaria de qualquer forma adstrita à sua observância.

As disposições do pacto parassocial diverso do acordo de acionistas,


porque não oponíveis à companhia ou a terceiros, não estão imunizadas em
caso de conflito com posições jurídicas com elas contrastantes, seja da
companhia, seja de terceiros.

Os acionistas contratantes, únicos vinculados ao ajuste, não conseguem,


por decorrência e em plena aplicação do princípio da relatividade dos efeitos
dos contratos, obter, imediatamente, qualquer efeito societário dessa
contratação, como ocorreria se a obriga ção fosse estabelecida nos estatutos
sociais 281.

É preciso ponderar, contudo, que a ausência de re gra de oponibilidade


não seria bastante para afastar plenamente o dever de a companhia respeitar o
contratado, sobretudo quando se tem em mente pactos parassociais firmados
por todos os acionistas, cuja função econômica, frise-se, é justamente modelar

a i m pe d i r a m a n ut e n ç ã o da qu e s t ã o c o m o c o n t r o ver t i da ” ( Ef e i t o s C on t r a t u ai s. .. c i t . p.
1 74 ) .
281
N ão é d e m ai s r e p i s ar , a q ui , q u e a au s ê n c i a d e p r od u çã o de ef e i t os s oc i e t á r i o s não
e qu i va l e a d i z er qu e o d e s c u m pr i m en t o d e pa c t o s p ar a s s o c i a i s pa t r i m on ia i s n ã o ge r e e f e i t o s
i m p a ct an t e s d o r el ac i o n am e n t o s oc i e t á r i o e xi s t e nt e e n t r e a s p ar t es ( vo l t e -s e a o e xe m pl o d o
d es c u m p r i m e nt o d e ob r i ga çã o d e f o r n e c i m e n t o ou d e nã o co n c or r ê n c i a qu e po d e l e va r u m
s ó ci o a d e c i di r po r s u a r e t i r a da d a s o ci e d a de , e x e r c en d o e ve n t ua l o p ç ão d e ve n d a e xi s t e n te
e m s e u f a vo r ) , o u m e s m o q ue a s i t u a çã o n ão d e va s e r e xa m i n a d a s o b o pr i s m a d a l e a l da d e
s o ci e t á r i a . Es s a s p on d er a ç õ es se r ã o a pr o f u n da d a s no Ca p í t u l o 4 .
122

o relacionamento societário pretendido pelas part es em vista daquela


companhia e daquele empreendimento comum 282.

Nesses casos, a dissociação entre o interesse das partes contratantes e o


interesse da companhia é reconhecidamente difícil de ser realizada, visto que
esse último acaba por se caracterizar como o interesse comum dos sócios uti
socii 283.

O respeito ao que foi pactuado de forma parassocial, nessas


circunstâncias, diz com a própria configuração da companhia e do modo pelo
qual os acionistas signatários do pacto entendem conveniente e oportuno que
ela persiga seu objeto social e que eles se relacionem em vista de seu projeto
comum. Seria leviano, pois, sustentar que a companhia reste completamente
desconectada da pactuação parassocial, pela simples ausência de regra legal
que erija a oponibilidade 284.

De fato, a regra excepcional de oponibilidade de um ne gócio jurídico


frente a outras posições jurídicas é fundada em regime de publicidade, de
282
I m po r t a n t e no t a r , c o nt ud o , qu e e m m ui t os c a sos a c om pa n hi a n ã o p o de s e r vi s t a c o mo
t e r c ei ro c o m r e l a ç ão a o s ef e i t os d o co n t r a t o pa r a s s o ci al f i r m a do p or s óci o s , p or s er t i t ul a r
d e i n t e r e s s e m a n i f e s t a me nt e a f e t a do p el a c o nt ra t a ç ã o e , c o m o s a l i e n t a C O M P A R A T O : “ [ o ]
c on c e i t o d e pa r t e nã o e s t á li ga d o à m a ni f e s t a ç ã o de vo n t a de n e go c i a l , m as s i m a o
i n t e r e ss e , q u e c o ns t i t ui o nú c l e o d o d i r e i t o s ub j e t i vo, c o m o b e m de m o n st r ou a c l á s s i c a
a ná l i se d e J he r i n g” ( Va l i d ad e e Ef i c á c i a de Aco r d o d e Ac i o ni s t as . Ex e c u ç ã o e s p e c í f i ca d e
s u as e st i pul a ç õe s .. . c i t ., p. 5 7 ) . Ta m b é m L U C I A N O D E C A M R G O P E N T E A D O , a po i a do e m
A N T O N I O J U N Q U E I R A D E A Z E V E D O es c l a r e c e a p os s i b ili d a d e d e o t e r c e i r o a o ne góc i o s e r
p ar t e co m r e l a ç ã o a s eu s e f e i t o s ( Ef ei t os C on t r a t u ai s . .. c i t . pp . 41 / 4 3) .
283
S ob r e a pe c u l i a r i d ad e d o s c on t r a t o s p a r a s so c i a i s f i r m ad o s p o r t o d os os s óc i o s ou
a c i on i s t a s j á a p on t a d a , to m e -s e um a v e z m a i s a li ç ã o de C O M P A R A T O , n o s e nt i do d e q ue “ o s
a c or d o s e m q u e s ã o pa r t e s , p r at i ca m e n t e , t od o s o s a c i on is t a s de um a c o m p an h i a s ã o
e xe q u í ve i s c o nt r a e l a , m e s m o q u a nd o e s t a n ã o t e n ha s i d o, f or m a l m e n t e , p ar t e n a r el aç ã o
j u r í d i c a. E i s t o p el a bo a r az ã o d e qu e , e m t ai s c o nve n çõ e s , é i m po s s í vel d i s ti n gui r – e
m e no s a i nd a s ep a r a r – o i nt e r e s s e s o c i a l da pes s o a j ur í di c a do i nt e r es s e i n di vi d u al d o s
a c i on i s t a s ” ( Va l i d ad e e Ef i c ác i a de Ac o r do d e Ac i o n i s t as . Ex e c u ç ão es p e c í f i c a d e s u a s
e s t i p ul a ç õ es i n N ov o s En s a i os d e Dir e i t o e mp r e s ar i a l , c i t ., p . 6 7 ) . Em s em e l h a nt e l i n ha d e
a r gu m e n t a çã o , c f . C A R N E IR O D A F R A D A ( “ Ac o r d o s P a r a s s o ci ai s “ Om n i l at e r a i s ” – Um n ovo
c a so de “ d e s co n s i de r a ç ã o” da p e r s on a l i d a de j ur í di c a ? ”, i n Di r e i t o de S o c i e da d es em
Re v i s t a . a n o I , vol . 2, O u t ub r o de 2 0 09 , p . 9 8 ) , e m q ue s e e xa m i na “ s e e a t é qu e p on t o u m
a c or d o pa r a s s o ci a l qu e i n c l ua o u e n gl o be t od o s os s ó c i o s de u m a s o ci ed a de c o m e r c i a l po d e
s o pr e p or -s e a r e gr a s j u s so c i e t á r i a s ” .
284
At é p or q u e , c om o j á e s c l a r ec i d o , a c i m a , n es s e s c a so s e l a p od e s e r co n s i d er a d a pa r t e (=
c e nt r o d e i n t e r e s se s ) d o c on t r a t o p a r as s o c i a l .
123

forma que o terceiro por ela atingido conheça a imunidade de que goza o
contrato em questão, com a finalidade precípua de desautorizá-lo a alegar
ignorância de seus termos.

Tratando-se, todavia, de situação em que as partes dos dois negócios em


confronto são, em última análise, as mesmas, a regra de oponibilidade quer
parecer desnecessária: pela boa-fé que deve prevalecer entre os acionistas, não
seria racionalmente possível à companhia alegar total desconhecimento de
determinado ajuste parassocial, obtendo-se, na prática, resultado equivalente
ao buscado pela regra de oponibilidade 285.

Com relação a terceiros, assim, não há que se falar em oponibilidade


dos preceitos do contrato parassocial de cunho patrimonial que tenha por
escopo outras estipulações que não a compra e venda de ações e preferência.

Havendo conflito entre a posição jurídica de um terceiro e determinadas


disposições constantes do contrato parassocial, ser-lhe-ia autorizado ale gar
desconhecimento do ajuste, o qual é naturalmente privado do poder de suj eitar
terceiros a seus termos (i.e, o oposto do que ocorre em casos de
oponibilidade).

Pela outra faceta da oponibilidade, não haveria na hipótese qualquer


poder formador que pudesse servir de óbice à plena realização da posição
jurídica do terceiro.
285
Ai n d a C O M P A R A T O , s o b r e c as o s d e i d e n t i da d e t o t a l e n t r e o s s i gn a t á r i os do p a cto
p ar a s s o c i a l e os a c i oni s t a s d a c om p a nh i a , i nf o r m a q ue “ [ a ] r e gr a e xc e p c i o na l d a
d es c o ns i de r a ç ão d a pe r s o na l i d a d e j u r í d i c a t e m , a í , i n t e i r a a pl i c aç ã o , t r a t a nd o -s e , c om o s e
t r a t a , de e vi t a r qu e o f or m a l i s m o da ap a r ê n c i a p o s s a s e r i n voc a d o pa r a a e l us ã o d o
c um p r i m e n t o d e o br i ga ç õe s de c o l a b or a ç ã o o u d e c o nf i an ç a r e c í p r o c a e a f i d el i da d e
s o ci e t á r i a ” ( Va l i d a de e Ef i c á ci a d e Aco r d o d e Aci on i s t a s . Ex e cu ç ã o Es p e c í f i c a d e s u as
e s t i p ul a ç õ es , i n No vo s e n sa i o s ... ci t ., p . 6 7 ) , t e ndo a n t e s as s e ver a d o qu e “ [ s ] er i a co n t r á r io
a o m ai s el em e n t a r p r i nc í p i o d a bo a -f é s oc i e t á r i a vi r a q ue l a c o m pa n hi a, po r m e i o d e ou t r o s
d i r e t or e s , n ã o s i gn at á r i o s ( …) a l e g ar d e s co n h e c i m e n t o d o p a c t o a c i o ná r i o . A f u n ç ã o d e
n ot i f i c aç ã o d a pe s s oa j u r í d i c a , í n s it a n a f o r m a l i d ad e d o ar q u i va m e n t o d o a c o r do n a s e de d a
c om p a n hi a , f oi , no c a so , r e a l i z a d a p e l a p r es e n ç a d e c on t r o l a do r e s e di r et o r e s d es t a , co m o
p ar t es n a c on v en ç ã o d e vot o . P o i s m ai s “ r e a l i da d e ” q ue s e q u e i r a e m r e s t a r à p es s o a
c ol et i va , é b e m de ve r qu e a “ ci ên c i a ” e “ von t a d e ” d e s t a c on f u nd e m -s e co m a c i ê nc i a e a
von t a d e d o s e u s co n t r o l ad o r e s e r e p r es e n t a nt e s l e gai s ” ( C O M P A R A T O , Va l i d a de e
Ef i c ác i a ..., c i t ., p. 65 -6 6 ) .
124

Nesse sentido, pode-se co gitar que, ao adquirir ações vinculadas a pacto


parassocial que prevê outras prestações a seu titular, o terceiro de boa-fé, com
rel ação a elas, não se subrogaria automaticamente na posição jurídica de seu
predecessor, ao contrário do que ocorre com relação às obrigações e ônus
ligados à compra e venda de ações e preferência 286.

Por essa razão, é comum que se preveja cláusulas de sucessão nos


pactos parassociais patrimoniais, mediante as quais o acionista signatário que
vender sua participação acionária obriga-se a transferir ao comprador das
ações também a sua posição contratual no pacto. Tratando-se muitas vezes,
contudo, de obri gações intuitus personae, a alteração da parte no pacto
parassocial patrimonial pode mudar o contexto societário a que ele se refere.

Esse é, ao menos, o conjunto do que se pode extrair da análise da


doutrina brasileira sobre o alcance do art. 118, que enxerga a oponibilidade
dos acordos de acionistas – e não de pactos parassociais – centrada nos ajustes
de voto e de compra e venda, ori ginalmente constantes do texto legal.

Diante dessas considerações, conclui-se que (i) acordos relativos ao


exercício do direito de voto e/ou do poder de controle são oponíveis à
companhia, que não pode fugir à observância de seus termos; (ii) acordos
sobre compra e venda de ações e preferência para adquiri-las são oponíveis a
terceiros, uma vez averbados nos livros da companhia, afastando eventuais
negócios jurídicos entabulados em desrespeito ao acordo. A companhia tem
ciência desses acordos e não deve registrar transferências de ações que os
contrariem; (iii) ajustes relativos a outras matérias não são oponíveis à
companhia e/ou a terceiros. Em caso de acordo firmado por todos os
acionistas, essa afirmação deve ser mitigada pela necessária observância da
boa-fé, que impede à companhia de alegar desconhecimento dos termos
contratados em sede parassocial.

286
N es s e s en t i d o : “ a t r a ns f e r ê n ci a d as a çõ e s , gr a v a da s co m e st i pu l a ç õe s de a co r d o de
a c i on i s t a s r e gul a r m e n t e r e gi s t r ad o s , i m p or t a a a u t o m á t i c a t r a ns f e r ê nc i a d e d e ve r e s , ô nu s e
r e s po n s ab i l i da d es es ti pul a d os n e s s es pa c t o s ” ( i de m , p. 8 4) .
125

3.4 - Produção de efeitos reflexos.

Frente às conclusões apontadas para o tema da oponibilidade, verifica-


se que é no campo da produção de efeitos reflexos a partir de pactos
parassociais patrimoniais que repousa a maior relevância para o argumento
que norteia esta tese.

Se é pacífico que os pactos parassociais, em regra e à ex ceção dos


acordos de acionistas, não são oponíveis à companhia e/ou t erceiros, daí não
se pode deduzir, diretamente, que por isso, eles não sejam capazes de afetar
sobremaneira suas esferas jurídicas e, por sua própria função econômica, não
tenham o condão de impactar seja o relacionamento societário entre as partes,
seja, mediatamente, as relações entre a companhia e terceiros como credores,
outros acionistas e todos os stakeholders.

Conforme já se mencionou, aos contratos aplica-se o princípio da


rel atividade de seus efeitos, no sentido de que o vínculo contratual gera
direitos e obri gações, relativos às prestações avençadas, apenas para as partes
contratantes 287.

Há, porém, outros efeitos derivantes do contrato que não se limitam às


prestações concordadas. Como fato, o contrato gera efeitos na esfera jurídica
de terceiros alheios à estipulação, podendo tanto beneficiá-los como lesá-
los 288. São os chamados efeitos reflexos da contratação.

287
Na s í nt es e de V I N C E N Z O R O P P O , o pr i n c í p i o d e r e l a t i vi d ad e d o s c o nt r a t o s a s s ume
s i gni f i c ad o s po s it i vo s e ne g at i vo s . S ã o p o s t ul ad o s po s it i vo s do p r i n cí pi o ( i ) o f a t o d e q u e
c on t r a t o n ã o i m põ e o br i ga ç õe s ( t a i s c o m o c on t r a t a da s ) a t e r c e i r o s , ( i i ) o c o n t r a t o nã o p od e
s u bt r a i r di r e i r o s d e t e r ce i r o s , o q ue n ã o s i gn i f i c a q ue n ã o t en h a o co n d ã o d e vi o l a r d i r e i t o
d e t e r ce i r o s e ( i i ) o co n t r a t o nã o p od e i m p e di r t e r c ei r o d e a d qu i r i r u m d i r e i t o ( I l co n t r at t o,
M i l a n o, Gi u f f r è , 2 00 1 , p p. 5 66 -7 ) .
288
Co m r e l a ç ã o à a m p l i t u de do p r i n c í pi o d a r e l a t i v i d ad e d os co n t r a t os e a se u s s i gni f i c ados
n eg a t i v o s, R O P P O e s c l a r ec e qu e el e n ã o f a z c o m qu e “o t e r c ei r o s e j a i m un e a q ua l q u e r
c on s e qu ê n ci a f át i ca d o c on t r a t o i n t e r - al i os . É b e m p o ss í ve l q u e u m co n t r a t o t e nh a , d e f a t o,
c on s e qu ê n ci as m u i t o r el eva n t es p a r a t e r c e i t o s a e l e e s t r a nh o s” ( “ i l t e r z o s i a i m m u n e d a
q ua l s i a s i c o ns e gue n z a f a t t u a l e de r i va n t e da l c o nt r a t t o i nt e r - a li os . È b e n p os s i b il e c h e u n
c on t r a t t o a bb i a , d i f a t to , c on s e gu e nz e a n c h e m ol t o ri l e va nt i pe r t e r z i e st r an e i a d e s s o ”),
a f i r m a n do a i nd a qu e “ o p r i n cí p i o n em m e s m o i m pe d e qu e o c o nt r a t o l e s i o ne n ão a pe n a s
126

A própria oponibilidade (antes comentada) e o regime de publicidade


ligam-se a essa preocupação, na medida em que alertam possíveis terceiros
sobre contratos que podem afetar sua esfera jurídica.

Além disso, não se pode olvidar que, ao incidir sobre a relação


contratual parassocial, a boa-fé objetiva faz surgir às partes deveres em face
de terceiros, expandindo a eficácia contratual 289.

Cabe então avaliar essas considerações com relação a contratos


parassociais patrimoniais. No Capítulo 2, examinou-se sua função econômica,
em base a suas principais ocorrências, tendo se assentado que esses contratos
têm por causa determinante a integração e moldagem da disciplina global do
rel acionamento societário que as partes querem ver desenvolvido, formatando
o estado de sócio de cada qual.

s i m p l e s i nt er e s s e s , m a s ve r d a de i r o s e pr ó p r i os d i r e it o s o u p o si çõ e s j u r i di ca m e n t e
p r ot e gi d a s d o t er c e i r o ” ( “ [ i ]l p ri n c i p i o n e pp u r e i m p e d i s ce c he i l c o ntr a t t o l e d a n o n gi à
s e m pl i ci i nt er e s s i , m a ver i e p r o pr i d i r i tt i o c o m un q ue p os i z i o n i gi ur i d i c a m e nt e p r o t et te
d el t er z o ” . I l Co nt r a t t o, c i t ., p . 5 64 ) . Da m e s m a f o r m a , ap o nt a q u e s u r ge m a o t e r c e i r o
d ev e r e s de r e s pe i t o à po s i ç õe s c o nt r a t u a i s da s p ar t es , o r i gi n a da s p el o c o nt r a t o ( i d e m , p.
5 65 ) .
289
L U C I A N O D E C A M A R G O P E N T E A D O a n o t a q ue a r e gr a do ar t . 4 2 2 do C od i go Ci vil
Br a s i l e i r o ap l i c a -s e i n i c i a l m e n t e à s p a r t e s c o nt r at an t e s , em vi s t a d o q u e é c o nt r at ad o
( e f e i t o i nt er - p a rt e s) . No t i c i a , p or é m , q u e no d ir e i t o co m p a r ad o s e co m p r e en d e qu e a l gu n s
c on t r a t o s os t e n t a r i a m “e f i c á c i a de p r ot e ç ã o a o t er ce i r o , d e r i va d a j us t a m e n t e d a cl áu s u l a
ger a l d e b oa -f é ” . ( Ef ei tos C on t r a t u ai s .. . c it . p . 1 7 7) . Ne s se s e n t i d o, co n vé m t r a n s c r e ve r o
e nt en d i m e nt o d e M A N U E L A. C A R N E I R O D A F R A D A : “ Qu a l q ue r c on t a c t o h u m an o e, d e s t e
m o do , t a m b ém a q ue l e q ue s e e s t a b el e c e no â m b i t o d e u m a r e l a ç ã o c o nt r a t u a l , p ot e n c i a
r i s c o s d e i n t e r f e r ên c i a s da n o sa s n a i nt eg r i d a de p e s so a l o u p a t r i m o n i a l do s i n t e r ve n i e n t e s.
( ... ) Em f o co e s t á a d e f e sa d e p o s i ç õe s j u r í di cas q ue n ã o f o r a m ab r a n gi d a s no p r ogr a m a
c on t r a t u a l li vr e m en t e e s t i p ul ad o pe l a s pa r t e s m a s qu e po d e m se r a f e c t a da s d ur a n t e a s u a
e xe c u ç ã o . Qua n d o as s i m a co n t e c e, o d a no p r o du z i d o é i n de p e nd e n t e do i nt e r e s s e d e
c um p r i m e n t o e f al a-s e e n t ã o d a oc o r r ê n c i a d e da n os a c o mpa n ha n t e s ou p ar a l e l os
( Be g l e i t e n s ch a de n ; Pa r a l l e l s c ha d en ) . ( . ..) U m r e l an c e , a i n da q u e r áp i d o , s ob r e o s d i ve r s o s
c om e n t á r i o s a o c ó d i go c i vi l a l e m ã o pe r m i t e l o go i de n t i fi c a r u m l a r go e s p e ct r o d e d ec i s õ e s
n as q ua i s a j u r i s p r ud ên ci a ge r m ân i c a , d e s e n v o l ven d o p r ae t e r l eg e m o s i s t e m a j u ri d i c o
s o br e t u d o c om a m p a r o d o § 24 2 ( c l á u s ul a d e b o a - f é) , r e c o nh e c eu a vi o l a ç ão de d e ve r e s
c on e xos c o m o c on t a c t o c on t r a t u a l m a s i n s us c e pt í ve l de d e s en c a d e a r a a p l i c aç ã o d as r e g r a s
ger a i s d o i n c um p r i m e n to p o r qu e al he i a à r e l a ç ã o d e p r e s t a çã o ” ( C on t r a t o e de v e r e s d e
p r ot e ç ã o, Co i m b r a, Al m e d i na , 19 9 4, p . 14 3 ) . Cf . ai nd a , J U D I T H M A R T I N S - C O S T A , Da Bo a - f é
n o Di r ei t o Pr i v ad o , Sã o P a u l o , RT , 20 0 0, pp . 4 37 -4 54 e M E N E ZE S C O R D E I R O , Da Bo a F é
n o Di r e i t o Ci v i l , Co i m b r a, Al a m e d i na , 20 1 1 pp . 6 0 4-6 1 5.
127

O próprio relacionamento societário gera efeitos perante terceiros, razão


pela qual o direito societário deve tutelar suas posições jurídicas 290. Se os
contratos parassociais – e em especial, os patrimoniais – estruturam esse
rel acionamento, sua capacidade de afetar os mesmos terceiros alvo de tutela
pelo direito societário deve ser apreciada.

Com relação aos ajustes relativos à compra e venda, não é difícil pensar
em efeitos reflexos da pactuação perante eventuais acionistas não signatários,
credores dos sócios e da companhia e outros terceiros, não obstante, repise-se
mais uma vez, esses contratos sejam mais comumente avaliados apenas sob a
perspectiva do vínculo obri gacional criado entre as partes.

Efetivament e, as condições de compra e venda estipuladas podem fazer


com que acionistas não signatários vejam sua participação política
enfraqueci da, diante de alterações no quadro social.

De outro lado, acordos de compra e venda que isentam o acionista


vendedor do risco do empreendimento levado a cabo pela sociedade pode ser
considerado leonino e, assim, danoso frente aos demais acionistas que não
contam com esse suposto privilégio.

Pense-se, ainda, em contratos de compra e venda de participações que


exponham a companhia a danos em face da retirada de acionista fundamental
ao negócio ou, ainda, nas hipóteses de dano ao credor pessoal do sócio,
mascaradas em contratos de compra e venda de participações pelos quais o
acionista abre mão das ações integrantes de seu patrimônio em circunstâncias
desfavoráveis ao credor.

Além disso, são variadas as hipóteses de efeitos reflexos produzidos,


junto a terceiros, por acordos prevendo obri gações acessórias dos acionistas,
incluindo a não concorrência. Por exemplo, o acordo de fornecimento de

290
Ex em p l o s s ão a s r e gr a s s o b r e r e p r e se n t a ç ão d a s o c i e da d e p e r a nt e t e r c ei t os e a qu elas
r e l a t i va s à c om p o si çã o e p r ot eç ã o d o c a p i t a l s o c ia l .
128

matéria prima de um acionista para a sociedade atin ge não apenas ela mas,
mediatamente, também outros acionistas que não sejam si gnatários do acordo
mas que, é claro, participam dos benefícios ou prejuízos decorrentes da
atividade social em que esses insumos são empregados. Em outro exemplo, o
pacto de não concorrência pode gerar efeitos substanciais no mercado de
atuação da companhia, atingindo reflexamente os acionistas não si gnatários e
terceiros.

Em conclusão, é inegável que, não obstante os pactos parassociais


patrimoniais tenham por objeto direitos patrimoniais individuais dos
signatários, podem gerar efeitos sobre terceiros não contratantes, exigindo que
sua interpretação considere a capacidade de afetar os alvos de tutela do direito
societário (e.g. credores, outros aci onistas).

3.5 – Execução específica

Como já se salientou, ao lado da oponibilidade a outra peculiaridade


conferida aos acordos de acionistas pelo art. 118 seria o direito a execução
específica 291 das disposições, quando arquivado na companhia.

Por ex ecução específica entende-se a possibilidade de se obter, por via


judicial, prestação idêntica àquela que se teria se o devedor houvesse

291
Le i 6 .40 4 , a r t . 1 18 d a § 3 º: “ Na s c o nd i ç õ e s p r e vi s t a s n o ac o r d o, o s a ci on i s t a s podem
p r om o v e r a e xe c u çã o e s pe c í f i c a d a s ob r i ga çõ e s a s s um i d a s ” . C a b e e s cl ar e c e r q u e n ã o s e t e m
p or o b j e t i vo a p r o f un d ar o e xa m e da e xe c u ç ão e s p ec i f i c a d e pa c t o s pa r a s s o ci ai s , ou m e s mo
d e a c o r do d e a c i o ni st as, t em a b a s t a nt e e xpl o r a d o n a do u t r i n a b r a si l e i ra . Cf . , a ss i m , J O S É
A L E X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O , E x ec u ç ão Es p e c í f i ca de Co nt ra t o s d e Ac i o ni s t a s , in
RD M , n . 4 1, J a ne i r o / M a r ç o de 19 8 1; A N D R É C A V A L C A N T I D E A L B U Q U E R Q U E A B B U D ,
Ex e c u ç ã o es p e c í f i c a do s a co r d os d e a ci on i st a s , S ão P au l o , Qu a r t i e r Lat i n, 20 0 6; A N T O N I O
C A R L O S M O N T E I R O D A S I LV A F I L H O , Aç ão p a r a Ex e cu ç ão Es pe c í f i c a d e Ac o r do d e
Ac i o n i s t a s, Di s s e r t a ç ão d e M e st r ad o a pr e s e n t a da a o De pa r t a m e n t o de D i r e i t o P r o c e ss u a l d a
F ac u l d ad e d e Di r e i t o da U ni ve r s i d ad e d e S ã o P a u l o, 19 9 9; C E LS O B A R B I F I L H O , Ac o r do d e
a ci on i s t as : pa n or a ma at ua l d o i ns ti t ut o n o di re i t o b ras il e i r o e pr o po st a s pa r a a r ef o r ma
d e s u a d i s c i p l i na l e ga l, i n R DM 1 21 20 0 1 , p p . 30 -5 5; C E L S O B A R B I F I LH O , Ef e i t o s d a
r e f or m a d o Cód i g o de Pro c e s so Ci vi l na e x ec u ç ão e s pe c í f i c a do a co r do d e ac i o n is t a s , in
RD M 1 0 9, 19 9 8, pp . 1 7 -38 , J O S É I G N Á C I O B O T E L H O D E M E S Q U I T A , Ex e c u ç ã o e s p ec í f i ca d e
Di r e i t o de Pr e f e r ê n c i a Or i g i n ad o d e Ac o rd o d e Ac i o n i s t as i n AAVV , T e ma s d e Di r e i t o
S oc i e t á r i o e E mp re s a r i a l Co nt e mp o r ân e os – Li b e r Am i c o r um Pr of . D r . Er a s mo Va l l a dã o
Az e v e do e N ov a es Fr a n ç a , S ã o P a ul o,M a l h e i r o s, 2 01 1 , p p. 83 6 -8 48 .
129

cumprido o acordo. Ou seja, trata-se da obtenção da prestação exatamente


como estabelecida entre as partes, e não uma indenização pelo
descumprimento 292- 293.

No Brasil, a execução específica de obrigações juridicamente


infungíveis já constava do Códi go de Processo Civil ao tempo da promulgação
da Lei 6.404/76 294 e, atualmente, o tema é tratado nos artigos 466-A e 466-B
do diploma processual 295- 296.

292
Expl i c a J O S É A L E X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O , qu e “ [ n] a ve r da d e , a n o s s o ve r , o que
q ua l i f i ca a e xe cu ç ã o e s p e cí f i c a co m o t a l é o o bj e t o s o br e o q u al r e ca e m a s p r ovi d ê n c i a s d e
s a t i s f a ç ão d o c r e d or d a o br i ga ç ão o u, s ob o ut r a p e r s pe c t i va , a n at u r e z a sa t i sf at i va d e t a i s
p r ovi d ê nc i a s . N o c e n t r o da p r o bl em á t i c a e s t u da d a , l o c a l i z a -s e a p o s si bi l ida d e d a s a t i sf aç ã o
i n n a t u ra , d e d i r ei t os e xi gí vei s ( i d es t , b e ns j u r i d i c am e n t e t ut e l a d o s) , s e m a
a l t e r n at i vi da d e de r em é d i o s c om p e n sa t ó r i o s . O s up r i m e n t o j u di ci ár i o ob j e t i va do p e l a
e xe c u ç ã o es p e c í f i c a a t u a c on c r e t a m e nt e no s en t i d o d a vo nt ad e c o n tr a t ua l , e xpr e s s a n o
a c or d o . Co n s eq u en t e m e n t e , a c om p o s i ç ão d a l i d e , n o c a s o , n ã o s e t r a d u z e m r ep a r a çõ e s , d e
s u po s t a e qu i va l ê nc i a i nd en i z a t ó r i a ; a o co n t r á r io , d ev e a s s egu r a r o cu m p r i me n t o em e sp é c i e
d as es t i pu l a ç õe s a j u s t a da s ” ( Ex e c u çã o Es p e c í f i c a de C on t r a t o s de Ac i on i s t a s . c it . , p .4 5) .
293
Q ua n t o a o s t i po s de exe c u ç ão , val e t r a n s c r e v e r a l i ç ã o d e C E LS O B A R B I F I L H O : “ [ a]
e xe c u ç ã o po r qu a nt i a c e r t a é s em p r e es p e c í f i c a, p o i s n e l a b u s ca -s e o c um p r i m e n t o d a
o br i ga ç ã o d e pa ga r um dé b i t o . Fo r a e s s a h i p ó t ese , a e x e cu ç ã o e s p e cí f i c a e s t á b a si ca m e n t e
l i ga da à s o b r i ga ç õ e s de d a r , f a z e r e nã o f a z e r . A e xe cu ç ã o e s p e cí f i c a d a o br i ga ç ã o de d a r é
e m r e gr a p o ss í ve l , d e s d e q u e a c o i s a exi s t a . A de n ã o f a z e r vi ab i l i za -s e q ua n do o a t o n ã o
t e n ha s i d o pr a t i ca d o . J á a de f a z e r d ep e n de d e a pr e s t a ç ã o se r f u n gí ve l ( e x e m pl o: co n s t r ui r
u m m ur o ) , n a t u r a l m e nt e i n f u ngí ve l ( e xe m p l o : f a z er u m s h o w ) ou j u r i d ic am en t e i n f u n gí vel
( e xe m p l o : p r es t a r d e cl a r a ç ã o d e vo n t a de ) . A s o b r i gaç õ e s f un gí ve i s p o de m s e r e x e c ut ad a s
e s pe c i f i c a m e nt e p or t e r c e i r o s, e m p r oc e d i m e nt o r e gu l a d o d o Có d i go de P r o c e s s o Ci vi l ,
c or r en d o o s c u s t o s a car go do i na d i m p l e nt e. As n a t ur a l m e n t e i nf u n gí ve i s s ó p o de m s e r
p r es t ad a s p el o p r ó pr i o d e v ed o r , e ve nt u a l m e nt e p e r s u a di d o m e di an t e m e c a ni s m o s d e p r es s ã o
d e vo nt a d e , c om o m ul t a s e t c ., a p r i m o r a do s da Re f o r m a d o Có di go d e P r o c e ss o Ci vi l d e
1 99 4 . S e m es m o a s s i m o d e ve d o r pe r m a n ec e r i n a di m pl e n t e , s ó r e s t a m p er d a s e d an o s . J á a s
o br i ga ç õ e s j u r i d i c a m e nt e i nf u n gí v e i s t ê m m e c a n i sm o p r ó pr i o pa r a e xe c u ç ão e s p ec í f i c a , qu e
é o s u p r i m e nt o j u d i ci a l da vo nt a d e nã o m a ni f e s t a d a vo l u nt ar i am e n t e . E s ã o a s o b r i gaç õ e s
d e f az e r j u r i d i c a m e nt e i nf u n gí ve i s , o u s e j a , p r es t a r de c l a r a ç ã o d e vo n t a d e ( vo t o) e c on c l ui r
c on t r a t o ( c om p r a e ve n da d e aç õ e s ) . Qu e i nt e r e s s a m ao s a c or d o s d e a ci on i s t a s , c uj a s e d e
p ar a e xe cu ç ã o es p e cí f i c a es t á n o s ar t s . 6 41 e 6 39 d o Có di go d e P r o c es s o Ci vi l ,
r e s pe c t i va m e nt e ” ( Ac o r do d e Aci on i s t a s : Pa no r a ma a t u a l do i ns ti t ut o n o Di r ei to
Br a s i l e i r o ... ci t . p . 4 9 ) .
294
An t e r i o r m en t e , a s i st emá t i ca d a e x ec u ç ão e s p ec í f i c a e r a t r a t a d a pe l o C ó d i go de P r oc e sso
Ci vi l n os a r t i go s 6 39 e 6 4 1, vi ge nt e s de s d e s u a i n s ti t ui ç ã o p e l a L e i 5 .8 69 , d e 1 1 d e
j a n ei r o d e 1 97 3 , p o r t a nt o , an t e r i o r e s à Le i d e S . A..
295
Os ar t i go s 4 66 - A e 46 6 - B do CP C f o r a m a c r e s c i do s pe l a L ei 1 1 .2 32 de 2 2. 12 .2 0 05 e
s u bs t it uí r a m , r e s pe c t i v a m en t e , o s a n t i gos a r t i go s 6 41 e 6 3 9 r e vo ga d o s pe l a m e s m a L ei .
296
Os a r t i go s q ue t r a t a m de e xe c u ç ão e s pe c í f i c a de o b r i ga ç õ es j u r i d i c a m en t e i n f u ngí veis
d i s põ e m : “ Ar t . 4 6 6- A. Co nd e n a d o o d e v e d or a e m i t i r d e cl a r a ç ã o d e vo n t a de , a s e nt e n ç a,
u m a ve z t r a n si t a da e m j u l gad o , p r od u z i r á t od o s os e f e i t o s d a d e c l a r a ç ã o nã o e m i t i d a . Ar t .
130

Examinando, pois os artigos acima citados, conclui-se que as obri gações


infungíveis são passíveis de execução específica quando forem promessas de
prestar declaração ou de concluir contrato; no primeiro caso, a sentença
transitada em jul gado produzirá todos os efeitos da declaração não emitida, já
no segundo, produzirá os efeitos do contrato não concluído.

Por consequência qualquer contrato ou obri gação que se enquadre


nessas hipóteses é passível de execução específica, ou seja, a possibilidade de
obter-se a execução específica de um contrato deriva unicamente das
disposições previstas no Código de Processo Civil. Nessa esteira, o, art. 118,
§ 3º da Lei 6.404 apenas reforça a possibilidade de execução específica do
acordo de acionistas 297- 298.

Quando se fala em execução específica de acordo de acionistas, tanto a


legislação quanto a doutrina voltam-se à compra e venda de ações, à
preferência para adquiri-las e ao exercício do direito de voto 299, cujas

4 66 - B. Se a qu e l e qu e s e co m p r om e t e u a co n c l ui r um c o nt r at o n ã o c u m pr i r a o b r i ga ç ã o , a
o ut r a p a r t e , s e n do i s s o po s s í vel e nã o e xc l u í d o p e l o t ít u l o , p od e r á ob t e r u m a s e nt e n ç a qu e
p r od u za o m e s m o e f e i t o d o c o n t r a t o a s er f i r m a d o .
297
C E L S O B A R B I F I L H O e n t e nd e q u e “ [ o] a r t . 1 1 8 , § 3 º, d a Le i d e S / A d i s põ e q u e as
o br i ga ç õ e s c o ns t a n t e s do s a co r d o s d e a ci on i st a s t ê m e xe c u ç ã o e s pe c í f i c a , m a s i s s o é u m a
r e du n dâ n c i a , de vez q u e e l a s o t e r i a m po r f orç a da l e i p r oc e s s ua l . Ass i m , i m pr o c e de o
e nt en d i m e nt o d e q ue o s a c o r do s c om ob j e t o s e xt r av a gan t e s a o s vi st os n o a r t . 1 1 8 nã o s e j a m
p as s í ve i s d e e xe c u çã o e s pe c í f i c a ” ( i d e m , i b i d e m ) .
298
N o m e s m o s e nt i d o , M O D E S T O C A R V A L H O S A , i n v e r bi s “ M e sm o qu e n ã o h ou v e ss e a
e xp r e s s a r e f e r ê n ci a à e xe c uç ã o e s p e cí f i ca n a l e i s o c i e t ár i a ( § 3º a r t . 1 1 8) , o s r e gu l a r e s
a c or d o s de a c i o ni s t a s ob r e vo t o s ( e c o n t r ol e e m i no r i t á r i o ) e de c o m p r a e ve nd a d e a ç õ e s,
q ue c o n f i gu r a u m p r é - c on t r a t o , s e m p r e p od e r ã o s er pa s s í ve i s d a m e di da j ud i c i al o u
a r bi t r a l , n o s t e r m os d o s r e f e r i do s a r t s . 46 6 -A, 4 6 6- B e 46 6 - C d o Có d i go d e P r o c e s s o C i vi l ”
( Ac o r do d e Ac i o ni s t a s , c i t . , p. 36 5 ) e L U I S G A S T Ã O P A E S D E B A R R O S L E Ã E S : “ I r r e l e va n t e
p or q u e, e m ve r d a de , o l e gi s l a do r d e 1 9 76 , a o c on t e m p l a r a s e ç ã o V do c ap . X ( ar t . 11 8 e
§ §) a o ac o r d o d e ac i o n i s t a s , c om p r e e nd e nd o , a l é m do n ome n j u r i s , a s p a r t e s , o ob j e t o e,
a i n da , a s o l u ti o , nã o p rod u z i u n e nh u m a r e gr a r e l a t i va à ac t i o , f a z e nd o um a r e m i s s ã o à l ei
p r oc e s s ua l . C om o p on d e r ou An t ôn i o Ca r l o s de Ar a ú j o C i nt r a, a i n s e r çã o d o § 3º n o a r t .
1 18 , q ue s i m p l e s m e nt e d i z qu e os a c i on i s t a s p od e m pr o m o ve r a e xe c u ç ã o es p e cí f i c a d a s
o br i ga ç õ e s , n a s c o nd i ç õ es p r e vi st as n o a c or d o , s er i a d i s p en s á ve l , j á q ue n ã o i n t r o du z iu
n en h um a r e gr a ad j e t i va d i ve r sa da q u el a pr e vi s t a n o a r t . 6 39 d o CP C, q u e , e m s i , é
p l e na m e n t e a pl i cá ve l à e s pé c i e ” ( Pa c t o s Pa r as s o c i a i s . Na t u r e za j ur í di c a ... c i t . p p. 44 ) .
299
C E LS O B A R B I F I LH O e x p õe , j us t a m e n t e , s ob r e q ua i s ti p o s de a c or d o r e ca e m o s es t ud os:
“ Nã o o bs t an t e a p o ss i bi li da d e d a e xi s t ê n ci a d e a c o r do s co m ou t r o s ob j e t o s q u e n ã o o s
e nu n c i a do s no t e xt o da l e i s oc i e t á r i a , é i ne gá ve l q ue o m a i o r i n t e r es s e p r át i co e u s u al
vol t a-s e s o br e a q u e l e s a co r d os q u e t en h am o b je t o s t í pi co s , o u s e j a , a c om p r a e ve n da d e
131

disposições nos pactos são, usualmente, tratadas como obri gações de contratar
e prestar declaração de vontade, respectivamente.

Todavia, cumpre escl arecer que não necessariamente todas as


modalidades de acordos que derivam das matérias previstas no art. 118 da Lei
de S.A., serão passíveis de execução específica. Isso porque, com a
sofisticação dos ajustes firmados entre sócios, um acordo que envolva, por
exemplo, compra e venda de ações, pode ainda assim não preencher os
requisitos do art. 466-B 300. É possível, ainda, que em al guns casos peculiares, a
eventual execução específica não atenda, afinal, aos objetivos buscados pelos
sócios 301.

De outro lado – o que se mostra mais relevante para a reflexão proposta


neste trabalho – um pacto parassocial patrimonial mesmo que fundado em
matérias que não se incluem naquelas previstas no art. 118 da lei 6.404/76,
pode ser passível de execução específica, desde que, frise-se, envolva
obri gação de emitir declaração de vontade ou promessa de contratar 302.

A existência de disposição expressa no art. 118, §3º da Lei de S.A.


apenas confere maior grau de certeza quanto à possibilidade de execução

a ç õe s , a pr e f e r ê n ci a p a r a a d qu i r í - l as e o e xe r c í c i o d o d i r e it o d e vo t o . Ta i s a j u s t es
i m p l i c a m , e m ú l t i m a a n ál i s e, pa c t u a çã o d e o b r i ga ç õ e s de c o nt r at ar e d e p r es t a r d e c l a r a ç ã o
d e vo n t a de ” ( Ef ei t os da R ef or ma d o Có di go d e Pr o c es s o Ci vi l ... ci t ., p .2 4 ) .
300
Um co n t r a t o d e c om p ra e ve n da d e a ç õ e s p od e co n t e r , po r e xem p l o , u m a c l á u s ul a de
a r r e pe n di m en t o , o q u e o i m p os s i b il i t a r á de se r e xe c ut ad o e s pe c i f i c a m e nt e. C f . J O S É
A L E X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O , E x ec u ç ão Esp e c í f i c a d e Co nt r a t o s de Ac i o ni s t a .. . c i t ., p.
5 0.
301
C E LS O B A R B I F I L H O e x pl i c a q ue a s di f i cu l d a de s i m p o st as p e l a exe c u ç ã o e s p e cí f i ca do
a c or d o d e a c i o ni s t a s f r e n t e à di na m i c i d a de d a s r el aç õ e s s oc i e t á r i a s , l e v a m os p a c t ua n t e s a
b us c a r m e i o s al t er n a ti vo s p a r a s o l uc i o n as e ve n t u ai s c o nt r o vé r s i as , i n ve r b i s : “ P a r a s e
e vi t a r o s pe r c a l ç os e a s d i f i c u l da d e s d e um a e xe c u ç ã o es p e c í f i c a j ud i c i a l do a co r d o d e
a c i on i s t a s , a p r á t i c a so c i e t á r i a t e m c on s a gr ad o a pr e vi s ã o c o nt r at ua l d e m e i os d e s a í da d o
p ac t o pa r a o s c a s o s d e i n ad i m p l e m e nt o, s i ste m a q u e m u i t o s a dvo ga d o s c on s i d e r am o
m e l h or i ns t r u m e nt o d e p r es e r va ç ã o d a a ve nç a ” ( Ac o r do d e A c i o ni s t a s : Pan o ra ma a t ua l do
i n s ti t ut o n o D i r ei t o Br a s i l e ir o. .. c i t . , p . 4 9 ) .
302
“ O c a m po d e a pl i ca ç ã o da c h a m ad a e xe c u çã o e s pe c í f i c a e s t á n as ob r i ga çõ e s d e da r c oisa
c e r t a , d e n ã o f a z er , e d e f a z e r , es t a s úl t i m a s q ua n do j ur i di c a m e n t e i n f u ngí ve i s . T a i s
o br i ga ç õ e s , p o r t a nt o , q u an d o o b j e t o d e a co r d o d e a c i on i s t a s , s e r ã o p a s s í ve i s d e exe c u ç ã o
e s pe c í f i c a ” ( C E L S O B A R B I F I L H O , Ef e i t o s da Ref or ma d o Có di g o d e Pr o c e s s o Ci v i l . .. c i t . p.
3 7) .
132

específica de acordos de acionistas, sobretudo quando se tem em mente a


preocupação do legislador societário em conferir aos acordos de voto eficácia
social 303.

Qualquer outro contrato, inclusive pacto parassocial, que se revista de


promessa de emitir declaração de vontade (art. 466-A do CPC) ou preveja
promessa de contratar (contrato preliminar) (art. 466-B do CPC) é também
plenamente passível de execução específica,

Conclui-se assim que na mesma medida em que é válida e eficaz a


celebração de contrato entre acionistas com objeto que não esteja previsto em
Lei 304, esse acordo poderá ser executado especificamente, desde que preencha
os requisitos dos arts. 466-A e 466-B do CPC 305.

Ou seja: pelo menos um dos efeitos do art. 118 da Lei de S.A. – a


execução específica não é, em verdade, prerrogativa exclusiva dos pactos ali
previstos.

3.6 - Pactos parassociais patrimoniais e outras categorias contratuais.

Caracterizados os pactos parassociais patrimoniais quanto a sua função


econômica e examinada a disciplina le gal, é preciso analisá-los com vistas às

303
Ne s s e s e n t i d o A N D R É D E A LB U Q U E R Q U E C A V A L C A N T I A B B U D c o m en t a q ue “ [ a ] e xp r e s s a
p r evi s ã o de s s a p o s s i bi l id ad e e m r e l a ç ã o a o s ac o r d os d e a c i o ni st as , c o n t ud o , a dve i o p a r a
e s pa n c ar as dú vi da s q u e an t e s d a vi gê n ci a d a L ei de S o ci e d a d e s An ô ni m as ai n d a
p er m ea v a m a n o s sa dou t r i n a e j u r i s p r ud ê n ci a, a c er c a d a p o s s i bi l i da d e d e s e o b t e r o
c um p r i m e n t o e s pe c í f i c o d a s o br i ga ç õe s c o nt i da s n o t a da m e n t e o s d e vo t o ” ( Ex e c u ç ã o
Es p e c í f i c a do s Aco r d os d e Aci on i s t a s , c i t . p. 114 ) .
304
Re p i s an d o o a r gu m e n t o e m c o nf r o n t o co m o te m a d a e xe c u çã o e s pe c í f i c a , ve r i f i qu e -se
a s p os i ç õ e s C E LS O B A R B I F I L H O , Ef e i t o s da Ref or ma d o Có di go d e Pr o c e s s o Ci v i l ... c i t , p p.
2 3-2 4 ) e A N D R É D E A L B U Q U E R Q U E C A V A L C A N T I A B B U D E x ec u ç ão Es pe c í f i c a ... ci t ., p . 1 0 6) .
305
Se m c on t a r , a i n da , q u e a ob t e n çã o d e r e s ul t ad o pr o c e s su a l e s pe c í f i c o é e xpr e s s ã o d a
gar a n t i a co n s t it u c i on a l da aç ã o , c o m o s i n t e t iz a A N D R É D E A L B U Q U E R Q U E C A V A L C A N T I
A B B U D : “ [ e ] m ve r d a de , e s s a n o r m a d a l e i s oc ie t á r i a ne m p r e ci s a r i a e xi s t i r . A o f er t a d e
t u t e l a j ur i s di c i o n al apt a a co n c ed e r a qu e m t e nh a um d i r e i t o , t u d o a q ui l o e p r ec i s a m e n t e
a qu i l o a q u e f aç a j us – de qu e c o ns t it ui exe m p l o a t u t el a es p e c í fi c a -, é m e s m o c on t e ú do d a
gar a n t i a c on s t i t u c i o na l d a a ç ã o ( C F, a r t 5 º, i n c . XX XV) , t al c o m o c o nc e b i d a p e l a vi s ã o
m o de r n a e i n s t r um en t a l is t a d o p r oc e s s o ci vi l ”. I de m , p. 1 13 ) .
133

diversas categorias dogmáticas que neles se imbricam em virtude de aspectos


peculiares a esse tipo de contratação e à função econômica que desempenham.

3.6.1- Contrato plurilateral com comunhão de escopo. Contratos de longa


duração, relacionais, incompletos ou de colaboração.

Tomado o caráter duradouro da relação societária alvo dos pactos


parassociais, é preciso notar que eles também são celebrados na perspectiva de
sua duração por longo tempo (normalmente, pelo menos enquanto as partes
permenecerem sócias).

Como consequência, os pactos parassociais patrimoniais ostentam


disposições normativas, regulamentadoras das múltiplas ocorrências que
podem ou mesmo devem ser verificadas naquele relacionamento societário.

Nesse sentido, os pactos parassociais assentam-se na colaboração que


deve existir entre os sócios como base fundamental de qualquer
rel acionamento societário 306.

É em vista dessa colaboração, portanto, que são celebrados e devem ser


interpretados os pactos parassociais patrimoniais, em que pese haver
manifestações na doutrina no sentido de neles não se enxergar base
colaborativa. Essa posição é tomada, contudo, quando se analisa apenas o
objeto mediato do pacto – a alienação de participações societárias, por
exemplo – e não a relação societária em que se insere e o papel que nelas
desempenha.

Os pactos parassociais podem ser alinhados à categoria de contratos


plurilaterais com comunhão de escopo tendo em conta que, por meio deles
seus celebrantes formulam ditames para seu relacionamento societário 307. Com

306
Es s e a s p ec t o s e r á t r a t a d o n o C a p í t u l o 4.
307
C a b e a n o t a r , t o da vi a , q ue n ã o h á i d e nt i da d e co m o s c on t r a t o s as s o c i at i vo s , n a l e i t u r a a
e l e s pr o p os t a p o r P A O L O F E R R O - L U Z Z I , vi s t o qu e e ss e s ú l t i m o s t ê m e m m i r a a cr i a ç ã o d e
u ma o r g an i z a çã o e n ã o a p r e vi s ã o d e di r ei t os s u bj et i vo s . No s co n t r a t o s p a r a s so c i a i s , a s
134

esse intento, valem-se seja de acordos de voto que de pactos com os mais
diversos conteúdos patrimoniais, como já se apontou.

Na doutrina o caráter plurilateral é frequentemente apontado com


rel ação apenas aos acordos de votos, mas ele não deve ser afastado, de plano,
daqueles patrimoniais 308. Nesse ponto, parece haver confusão de conceitos,
diante da complexidade do fenômeno.

Como será adiante explorado, o contrato parassocial – plurilateral – é


moldura para que operações concretas, que podem ter caráter bilateral, (como
a compra e venda de ações de um acionista a outro) realizem-se.

Como é cediço, o caráter plurilateral de um contrato é caracterizado


pela possibilidade de sobrevida do contrato mesmo diante da ruptura do
vínculo com uma das partes e pela previsão de regras e obriga ções vinculantes
àquele grupo, em vista de um escopo comum, e não de parte a parte, como
sucede nos contratos bilaterais sinalagmá ticos.

Na perspectiva que se adota nesta tese, os contratos parassociais


patrimoniais aproximam-se mais de contratos plurilaterais, ainda que algumas
prestações possam ter caráter bilateral (ex.: pactos prevendo prestações
309
específicas a apenas uma das partes) . Isso porque, sem desviar demais o

p ar t es bu s c am r e gu l a r s e us di r e it o s r e l a ti v o s a e ss a o r ga ni z a ç ã o ( so c i e d ad e ) . S e r i a
p os s í ve l p or é m a p r o xi m ar as n o ç õe s q ua n d o s e f a l a d e p ac t o s p a r as s o c i a i s c el eb r a d os a n t es
m e s m o da c o ns t i t ui ç ã o da c o m p an h i a e m qu e s e m e sc l a , po r t a n t o, o o bje t i vo d e c r i a ç ão d a
o r ga n i z a çã o c o m a q u e l e de r egu l a m en t a ç ã o d o exe r c í c i o d i r e i t os d as pa r t e s en q ua n t o
s ó ci a s . C f . P A O L O F E R R O - L U Z Z I , Mi l a no , Gi u f f r é , 19 7 6 e M A R C I O F E R R O C AT A P A N I , Os
Co n t r at o s As s oc i a t i v o s , i n E R A S M O V A L L A D Ã O A Z E V E D O E N O V AE S F R A N Ç A ( Co or d .) ,
Di r e i t o S o ci e t ár i o Co n t e mpo r â ne o – I , S ã o P a u l o, Qu a r t i e r La t i n, 20 0 9, pp .8 7 -10 3
( e s pe c i a l m e n t e pp . 92 -9 3) .
308
Su s t e n t a nd o a bi l at e r a l id a d e d o s a co r d os d e c o m pr a e v e nd a e bl oq u ei o c f . a p o s i ç ão de
C A R V A L H O S A , Co me nt ár i o s ... pp . 55 3 - 55 4 ; 5 58 - 5 59 e 5 64 e R A F F A E L E T O R I N O ( “ I si nd a c at i
d i bl oc c o , a di f f e r e n z a d e i s i n da c a t i d i vot o n on c o ns t i t ui s c o no c o nt r a tt i pl uri l at er a li co n
c om u n i o ne d i s c op o ” . I Nu ov i C on t r a t t i n e ll a pr a s s i c i v il e e c om m er c i a l e , To r i n o , UT ET,
2 00 4 , p . 1 8 8) .
309
P r e c i s a a a n ál i s e d e C E LS O B A R B I F I LH O : “ [ p ] a r a M o d es t o Ca r va l ho s a s ó o ac o r d o de
vot o t em a n a t ur e z a p a r as s o c i a l e p l u r i l a t e r a l . O a c or d o d e b l oq u e i o s er i a co n t r a t o
t i pi c a m e nt e b i l a t e r a l , d e ca r á t e r p a t r i m o ni a l , c o m p r e s t a çõ e s s i na l a gm á t i c a s , qu e a dm i t e m
e xc e ç ã o d e n ã o c um p r i m e n t o. Em b o r a r e p ut e c o r r e t a a o b s e r va ç ã o d e no s s o m a i o r M e s t r e
135

enfoque, é preciso anotar que os variados ajustes de caráter patrimonial são


reunidos em único instrumento normativo das relações societárias entre os
signatários na medi da em que as prestações não se exaurem de parte a parte,
mas referem-se àquele relacionamento, àquele grupo de sócios que assim quis
disciplinar sua convivência.

Como será adiante esclarecido, as categorias contratuais em jo go,


tratando-se de pactos parassociais patrimoniais, não têm entre si divisão
rígida, no sentido de que referidos pactos ostentam características de mais de
uma delas que, por isso, não se excluem.

A doutrina ainda não é uníssona, reconhecendo a plurilateralidade aos


acordos de voto e insistindo, por vezes, no caráter bilateral dos acordos de
bloqueio, nos quais muitos pactos parassociais patrimoniais incluem-se, ainda
que em muitos casos (como nos contratos de investimento ou nos acordos de
associação ou “joint venture”) sejam efetivamente plurilaterais e permaneçam
vigentes mesmo quando uma das partes deixa de participar da avença 310.

n o a s s un t o , p en s o qu e po d e e s t a r pr es e n t e a p l u r i l at e r a l i d ad e no a co r d o d e bl o q ue i o , na
m e di da em q ue o o bj e t i vo d a r e s t r i ç ã o d e t r an s f e r ê nc i a d a s a ç õ es é c o m um a vá r i o s
a c i on i s t a s , e p od e s e r vi o l a do po r a p e na s u m de l e s , s em p r ej uí z o d e p e r m a nê n ci a e
e xi gi b i l i da d e q u a nt o a o s d e m a i s ” ( “ A co r d o d e Ac i o ni s t a s : p a no r a m a a t ua l d o i ns t it ut o n o
d i r e i t o br as il ei r o e p r o po s t a s p a r a a r e f o r m a d a d i s c i pli na l e ga l i n R D M 1 21 , p . 3 6 ) .
310
A di sc u s s ã o s o br e o c a r á t e r b i l a t e r a l ou pl ur i l at er a l d e aj us t e s p ar a s s o c i ai s i m pa c t a a
a dm i s si bi l i da d e , po r c on s e q uê n ci a, d a s va r i a d a s h i p ó t es e s d e s e u t ér m i no , e s pe c i a l m e n t e
q ua n t o a p o s s i bi li d ad e de d e nú n c i a . Na do u t r i n a br a s i l e i r a d os úl ti m os a n os , e s s e a s pe c t o
t e m s i d o a m p l a m en t e d is c ut i do e , co n s i d er a n d o n ã o s e r f ul cr a l p a r a os a r gu m e n t o s d e s t a
t e s e , n ã o s e r á a p r o f u n da d o. C on f i r a -s e , a s s i m , L U I S G A S T Ã O P AE S D E B A R R O S L E Ã E S ,
Re s o l u çã o de a c or d o de a ci on i st a s por q ue b r a d e a f f ec t i o s o c i e t at i s , in i n AAVV, T e ma s
d e Di r e i t o So c i e t ár i o e E mpr e s a r i al Co nt e mp o r ân e os – Li be r A m i c or u m Pr o f . D r . Er a s mo
Va l l a d ão Az e v ed o e No va e s Fr a n ç a , S ã o P au l o , M al h e i r o s , 20 1 1, p p. 4 4 3-4 5 2; M A R I A
I S A B E L D E A L M E I D A A L V A R E N G A , I mp o s s i bi l id ad e d e r e s i l i çã o u n i l at e ra l d e a c or d o d e
a ci on i s t as p o r p r a z o i nde t e r mi n a do ( c om en t á r i o a o a c ór d ã o d o T r i bu n al d e J u s t i ç a do
Es t a d o d e S ão Pa u l o n a Ap e l aç ã o C í v el n. 2 1 1. 92 4 .1 / 4) , i n R D M 10 8 , 19 9 7, pp . 1 86 -9 6;
C E L S O B A R B I F I LH O , Ac o r do d e a ci on i s t a s : p an o r ama a t u al d o ins t i t ut o n o d i r ei to
b r as i l ei r o e p r op o st as pa r a a r e f o rm a d e s u a d i s c i p l i n a l e g a l , i n RD M 1 2 1, 20 0 1, pp . 3 0 -
5 5; M O D E S T O C A R V A L H O S A , Aco r d o d e a c i o n i s t a s , i n RD M 10 6 , 1 99 7 , p p. 20 -2 4;
M AU R I C I O M O R E I R A M E N D O N Ç A D E M E N E Z E S , R e s ol u ç ã o d e a co r d o d e a ci on i s t as c om ba s e
n a q u eb r a da a f f e ct i o s o c i e t a t i s ( c om en t á r i o ao a có r d ão d o S u pe r i o r Tr i b u na l d e J u s t i ç a
n o Re c ur s o Es p e ci al n. 38 8 .4 23 - RS ) , i n RT D C , n .º 2 3 , 2 00 5 , p p . 1 41 -6 7 e WA L D, A r no l d o,
Do c ab i me n t o d a de n ún c i a v az i a d e a co r d o d e a c i on i st a s fi r m ad o po r p r az o i n d e t er m i na d o,
136

Prosseguindo no mesmo raciocínio, os pactos parassociais patrimoniais


não podem ser examinados, pois, como contratos de intercâmbio com
execução instantânea. Ao contrário, agrupam-se melhor, ainda que não
perfeitamente 311, ent re os contratos de colaboração ou relacionais 312- 313.

Tomando as características dos contratos relacionais, ao menos duas


delas podem ser identificadas nos contratos parassociais patrimoniais: eles
tendem a se protrair no tempo e disciplinam, portanto, questões futuras entre
as partes.

3.6.2 - Contratos incompletos

A mesma ordem de fatores que aproxima os pactos parassociais


patrimoniais da categoria dos contratos rel acionais e/ou de colaboração faz
com que possam ser vistos como contratos incompletos, tal como propostos
pela doutrina alinhada ao law and economics.

São contratos incompletos aqueles que “não contêm – e não podem


mesmo conter – a previsão de todas as vicissitudes que serão enfrentadas pelas
partes” 314.

e s pe c i a l me n t e n o s ca s o s d e i n ad i mp l e me n t o e d e má - f é d a o u t r a p a rt e o u de c on f l i t o d e
i n t e r es s e s s u pe r v e ni en t e ( P ar e c e r ) , i n R D C v nº 78 , 1 9 96 , pp . 1 5 1 -7 5
311
O e n ca i x e n ã o é p e r f e i t o p e l o f a t o d e os c on t r a t o s p a r as s o c i a is re f e r i r e m -s e a um
r e l a c i on a m e nt o qu e , po r s i s ó , j á s e b a se i a na c ol a b or aç ã o , i . e . , o s só c i o s j á de ve m
c ol ab o r a r e nt r e si po r e s t a r e m l i ga d os p o r ví nc u l o s o ci et á r i o . O c on t r a t o p a r as s o c i a l a p en a s
i n t e gr a e mo d el a es s e ví n cu l o . A o c o n t r á r i o, a a ná l i s e d o ut r i ná r i a d o s co n t r a t o s r e l ac i o n a is
e nf o c a a c ol a b or aç ã o de a ge nt e s e c on ô m i c os e m p r i n c í pi o i nd e pe n d en t e s q ue , p o r f o r ç a d o
c on t r a t o , pa s s a m a o s t e nt ar c er t a i n t e r de p e nd ê nc i a . A a p r o xi m a ç ã o f e i t a n o pr es e n t e
t r a b al ho , p or i ss o , n ã o t em a p r e t e ns ã o de a t e s t a r a t o t a l i d e nt i da d e en t r e c o nc e i t o s , m a s
a pe n a s e vi de n ci ar a sp e c t os qu e p od e m s e r a p r ove i t a d os pa r a m e l h or c on f i gur a ç ã o e
t r a t a m e nt o d o s p ac t o s p a r as s o c i a i s p at r i m on i a is.
312
Te r m i n ol ogi a c on s a gr a d a d e I A N M C N E I L , Th e r el at i o n al t he o r y o f co nt r a c t : Se l e cted
Wo rk s o f I an Ma cn e i l , Lo nd o n, S w ee t & M a xw e l l , 20 0 1.
313
C f . J U N Q U E I R A D E A Z E V E D O : “ O a c o r do de a ci o n i s t a s é c on t r a t o d e co l a b or a ç ão . à
s e m e l ha n ç a d a s pa r c e r i a s . ( … ) ; e m t e r m i n ol o gi a at ua l , d e i n f l u ên c i a no r t e -a m e r i c a na , p o r
s e r de l o n ga d u r aç ã o e exi gi r c o l a bo r a ç ão c on s t a n t e , p od e s er c l a s si f i ca d o c o m o ‘ co n t r a t o
r e l a c i on a l ’ ( N ov o s e s t ud o s e Pa r e ce r e s , c i t . p . 1 24 ) .
314
En t e n di m e n t o d e P A U L A A . F O R G O N I , qu e i n f o r m a, a i nd a , c o m ba s e e m A N T O N I O N I C I T A
e V I N C E N ZO S C O P P A , q u e o c o nt r a t o s e r i a c om pl e t o a o e s t ab e l e c er as o b r i gaç õ e s da s p a r t e s
137

Também os contratos parassociais patrimoniais enfrentam, pois,


algumas daquelas que são apontadas como causas de incompletude contratual,
como a impossibilidade de previsão do futuro e a imprecisão dos termos do
315
acordo, frequentemente amplos e “abertos” .

Por consequência, as partes igualmente estão sujeitas à necessidade de


repactuação em vista de situações ou eventos não previstos, aos quais mesmo
os termos amplos e as “válvulas de escape” previstas no instrumento do
contrato podem não ser bastantes para o deslinde do impasse 316.

3.6.3- Contratos-quadro

Os contratos parassociais patrimoniais abrigam, ainda, características


dos chamados contratos-quadro.

Na dicção de J U N Q U EI RA DE A Z E V ED O , o contrato-quadro

“po de ser definido como aquele que busca fixar al gu mas das principais
regras às quai s se submeterão os contratos pont uais a serem
futura mente celebrados pelas partes; o co ntrato quadro visa criar um
quadro único para governar o conjunto das relações continuadas entre
os contratantes” 317.

Os ajustes parassociais de caráter patrimonial, convém repisar,


raramente são objeto de variados instrumentos apartados e específicos para
cada ajuste. Ao contrário, o mais comum é que se redija instrumento úni co,
em que as partes incluirão todos os pactos que desejam observar em seu

p ar a c a d a s i t u aç ã o p o s s í ve l a t u al ou f u t u r a q ue t e r i a m s e u r e s p e i t o ga r a nt i do p o r
a ut or i d a d e e xt er n a , co m ap l i c a ç ã o d e s a nç õ e s p el o i n ad i m p l e m e nt o ( Te o r i a G e r a l d o s
c on t r a t o s e mpr e s a r i ai s , c i t . p. 71 ) .
315
Cf . i d e m , p . 72 e R A C H E L S Z T AJ N e H A R O L D O D U C L E R C V E R Ç O S A , A i n c omp l e t u d e do
c on t r a t o d e so c i e d ad e , i n R D M 13 1 , 2 00 3 , p p . 7 -20 .
316
Cf . P A U L A A. F O R G I O N I , T e or i a … c i t ., p . 72 e , s ua f o nt e , G I U S E P P E B E L L A N T O N I O , I
c on t r a t ti i nc o mp l e ti n e l d i r it t o e n e l l ’ e co n om i a, p . 7 5.
317
( pa r e c er ) C on t r a t o- qu a dr o . I mp o ss i b il i da d e s up er v e n i e nt e d a o b r i ga ç ã o d e ce l e b r ação
d os c o nt ra t os d e e x e c uç ã o ( c o mp r a e v e nd a ) po r i n e xi st ên c i a de c r it é r io c on s e ns u a l pa ra
e s t i p ul a ç ã o d o p r e ç o. I na d mi s s i b il i d ad e de a r bi t r ame n t o j u di ci a l d o pr e ç o. R e so l u ç ão e x
n un c d os Co n t r a t os - q u ad r o s e r e s t it u i ç ã o d o e nr i q u e ci m en t o s e m c au s i n No v os Es t u do s e
Pa r e c er e s d e Di r e i t o Pr i va d o, Sã o P au l o , S a r a i va , 1a . E d i ç ão , 2 ª . Ti r a ge m , 2 01 0 , p . 1 6 7.
138

rel acionamento, ou seja, incluem desde acordos de voto até os pactos


patrimoniais ora comentados.

Por consequência, esse contrato único (ge ralmente intitulado, na prática


internacional, como “General A greement” ou “Shareholders’Agreement)
acolhe e enuncia as regras que devem ser seguidas pelas partes no curso de
sua convivência, ditando critérios para as futuras contratações e/ou operações
que serão realizadas sob sua égide.

O instrumento contratual que abri ga esses ajustes, por si, tem caráter de
moldura geral e mais ampla, enquanto os pactos nele contidos (ex: acordos
sobre compra e venda de ações) oferecem a moldura relativa, especificamente,
às operações de compra e venda que as partes poderão levar a termo.

Em ambos os casos, reitera-se o caráter programático seja dos pactos,


seja do instrumento contratual que os contém 318.

3.6.4 - Contratos normativos

Outra classificação doutrinária à qual podem se alinhar os contratos


parassociais patrimoniais, na esteira do que foi dito sobre os contratos-
quadro, é a de contratos normativos.

Segundo R O PP O , contratos normativos são aqueles com os quais as


partes definem cláusulas de futuros contratos, gerando a obrigação de inclui-
las se e quando eles forem celebrados 319. Por consequência, prestam-se a
declarar ou conformar uma situação jurídica preexistente.

318
Na l it e r a t ur a, e n c on t r a -s e a i nd a a e xp r e ss ã o “ ac o r do gu a r d a -c hu v a” , s o b o q ua l vá rios
o ut r o s a j u st e s ou p a c t os s ã o c e l eb r a d os . A d i nâ m i c a , t od a vi a , é di v e r s a , n o s e n t i d o qu e , n a
n oç ã o de c on t r a t o gu a r d a- c h u va , a c e nt u a -s e o a s p ec t o d e c o l i g aç ã o d e vár i os c on t r a t o s a
u m e l e m en t o c a us a l c o m u m , e m bo r a n ã o s e e s t e j a a t r a t a r d o es t a b e l e ci m en t o , c o m o oc o r r e
n o c on t r a t o -q ua d r o, d e t e r mo s g e r ais d en t r o d o s q ua i s os v ari a d os pa c t o s d e ve m s e r
c e l e br a do s ( i . e. a m o l du r a c o nt r a t u a l ) .
319
i n v er b is : “ I c o nt r a t t i nor m a t i vi s o n o i co n t r a tti c o n cu i l e p a r ti d e f i nis co n o l e cl au sole
d i f u t ur i c on t r a t ti . Da e s s i n as c e l ’ o b bl i go d i i n s e r i r e t a l i c l a u so l e n e i f u t u r i c on t r a t ti , s e e
q ua n do s a r a n no c o nc l u s i ” . I l co n t r at t o, c i t ., p. 52 6
139

Ainda segundo o autor, os contratos normativos apresentam subtipos,


dentre os quais os contratos normativos internos, verificados quando as partes
do contrato normativo e do contrato a ser celebrado são as mesmas.

Espécie de contrato normativo interno é, justamente, o cont rato-quadro


acima referido 320, enquanto contrato normativo externo é aquele que prevê
condições de contratação a serem observadas pela parte ao firmar contrato
com terceiro (e.g. contrato de distribuição estabelece condições que o
distribuidor deverá observar no contrato de venda do produto ao consumidor
final).

3.7 - Conclusões. Proposta de definição de pactos parassociais


patrimoniais e utilidade do subgrupo proposto.

Os pactos parassociais patrimoniais, cumprindo função econômica de


moldar o relacionamento societário verificado entre seus signatários,
apresentam características que os alinham em subgrupos contratuais diversos
e, de certa maneira, complementares, em vista de apresentarem, de um lado,
caráter colaborativo, longa duração e incompletude – resultando na sua
inclusão junto dos contratos rel acionais – e, de outro lado, o caráter
pro gramático/normativo de suas disposições – aproximando-os dos contratos-
quadro.

Diante do exposto no capítulo 2 e neste capítulo 3, pode-se propor a


seguinte definição de trabalho para os pactos parassociais patrimoniais: trata-
se de ajustes celebrados entre sócios de sociedades anônimas fechadas, em um
ou vários instrumentos contratuais diversos dos estatutos sociais, tendo por
objeto direitos patrimoniais individuais de cada parte, com o fim de integrar e
modelar o regime do relacionamento societário entre elas ex istente e, assim,
informar o estado de sócio de cada um dos signatários.

320
Cf . I de m , i b i de m .
140

Do ponto de vist a dogmático, ostentam características, seja do subgrupo


dos contratos de colaboração/relacionais que daquele dos contratos
normativos, incluídos os contratos-quadro.

Os contratos parassociais patrimoniais tanto podem conter matérias


específicas dos acordos de acionistas previstos no art. 118 da Lei de S.A (ou
seja, compra e venda e preferência) como abarcar outras matérias relevantes
para o relacionamento societário que as partes buscam desenvolver.

No primeiro caso, beneficiam-se da oponibilidade de suas disposições;


em ambos os casos, poderão ser executados de forma específica, quando
atenderem aos requisitos da legislação processual, em que pese a redação do
art. 118 dar a entender que somente o que está ali inscrito tem execução
específica.

A utilidade que se pretende obter, com a definição e caracterização ora


realizadas, é a de evidenciar as peculiaridades desses ajustes para sua
adequada interpretação, consentânea com sua função econômica. Partindo
dessas peculiaridades, passa-se ao exame de elementos que devem ser
considerados no processo interpretativo.
141

4. – ELEMENTOS PARA INTERPRETAÇÃO DOS PACTOS


PARASSOCIAIS PATRIMONIAIS NO DIREITO SOCIETÁRIO
BRASILEIRO

“ En ve r t u d u p r i n c i p e d e l i b e r t é c on t r a c t u e l l e , le s a c t i o nn a i r e s
d e vr ai en t p ou voi r di s p os er d e l e ur s d r o it s i nd ivi d ue l s c o m m e
i l s l ’ e n t e nd e nt . La r e a l i t é e s t pl u s n u an c é e”
M I C H E L G E R M A I N 321

Nos capítulos anteriores, procurou-se caracterizar os pactos parassociais


patrimoniais evidenciando a sua função econômica de instrumento
fundamental à estruturação e definição da relação societária existente entre as
partes signatárias, ainda que afetem, imediatamente, apenas a esfera jurídica
dos celebrantes.

Todo contrato parassocial, explicou-se, é firmado por sócios tendo em


mira direitos e obrigações relacionados às suas posições jurídicas fundadas
nessa qualidade, para a melhor disciplina de seu relacionamento.

Ou seja, muito embora os contratos parassociais patrimoniais sejam


regrados pela teoria geral dos contratos, eles encontram-se, necessariamente,
insertos em uma relação entre sócios.

Assim, pergunta-se: essa circunstância exige do intéprete qualquer


inflexão no processo hermenêutico normalmente realizado com relação a
contratos em geral ou mesmo outros contratos empresariais não baseados em
uma relação soci etária?

Esse questionamento é a pedra angular dos argumentos que serão


desenvolvidos a respeito da interpretação dos pactos parassociais
patrimoniais, objeto final da presente tese.

321
a t u al i za d o r d o c l á s s i c o Tr a i t é d e Dr o i t C om m er c i a l d e R I P E R T E R O B L O T , c i t . , p . 3 9 7.
142

4.1 – Pressuposto essencial ao exame da interpretação: pactos parassociais


e sua intrínseca ligação com a relação societária.

Ao decidirem-se pela celebração de contrato de sociedade 322, as partes


têm em vista os elementos intrínsecos e essenciais desse contrato, e sua
causa/função econômica: a reunião de esforços e recursos em prol de um fim
comum, com divi são dos resultados obtidos (positivos ou não).

Apresentam, pois, a intenção de associar-se para o atingimento desse


escopo comum e, tratando das sociedades a que se refere no presente trabalho,
essa intenção ostenta caráter intuitus personae, ou seja, cada uma das partes
contratantes não apenas tem intenção de se associar, como a tem em vista e
por conta de determinadas características das demais.

Celebrado o contrato social (ou aprovado o estatuto social), convém


frisar, duas ordens de efeitos são geradas.

De um lado, nasce a sociedade (“V erband”) enquanto ente que


desenvolverá o objeto assinalado pelas partes e, nas sociedades anônimas e
nas sociedades limitadas, a inscrição no re gistro do comércio faz surgir sua
personalidade jurídica, que se desprende da pessoa dos seus sócios.

De outro lado – e é aqui o ponto nevrál gico para a tese – surge o


vínculo societário entre as partes, que passam a ser sócios 323, partícipes de
uma relação duradoura 324 em vista de um escopo comum 325.

322
A a f i r m a ç ã o p r o c e d e a i n da q ue s e t e n ha e m m en t e a c o nc e p çã o i ns t i t uc i o n al i st a da
s o ci e d a de , p o i s s e gun d o a m e l ho r d ou t ri n a há s e m pr e u m c o nt r at o pl ur il at e r al en t r e a s
p ar t es , qu e o r i gi n a a pe s s oa j ur í d i c a /i n s ti t ui ç ã o.
323
A e x e m pl o d o q ue s e ve r i f i c ava n a r e d a ç ã o do a r t 1 º d o De cr et o 2 .6 2 7/ 4 0 , n e s t e t r a ba lho
a do t a -s e s i no n í m i a en t r e o s t er m o s s óc i o e a c i o n i s t a ( c f . a r e s pe i t o , T R A J A N O M I R A N D A
V A LV E R D E , So c i e da d e p o r a ç õe s , F o r en s e , Ri o, vo l . I , p . 7 5 -7 6 ) . Es t a o p çã o é t o m a da p a r a
e nf a t i za r o r e l a ci on a m e nt o s o c i e t á r i o e n t r e as p a r t e s , a i n d a q ue o m ai s t e c ni ca m e n t e
c or r et o , no c a s o d e s o ci ed a de s a n ôn i m a s f e c h a d a s , f o s s e ac i o ni s t a. Ab re- s e m ã o d e ut i l i z a r
a e xp r e s s ão p or el a l i ga r -s e i gu al m en t e a os a c i o n i s t a s d e s o ci ed a de s de c ap i t a l a b e r t o, e m
q ue o ví n cu l o s o c i et ár i o e n t r e a s p ar t es é í nf i m o s e c o m p ar a d o àq u e l e qu e s e t e m e m m e n t e
n es t e t r a b al h o . So br e a d i ve r si da d e d a c o nf i gu r a çã o d a p o s i ç ão j ur í di c a de s óc i o n o s
d i ve r s o s t i p o s s oc i e t á r i os , c f . M E N E Z E S C O R D E I R O , Ma nu a l ... ci t ., p . 49 8 .
143

Esse liame, a seu turno, faz brotar entre as partes um plexo de direitos e
deveres que não têm apenas origem legal ou estatutária 326: decorrem mesmo da
própria noção de sociedade e da lógica inerente a esse contrato, calcada em
sua função econômica, a exemplo do dever geral de colaboração mútuo (em
vista da busca pelo fim comum) e do dever de lealdade 327- 328.

Insistiu-se em sublinhar, nos capí tulos iniciai s, o fato de ser sempre


mais comum que, cientes desse liame que os liga e procurando detalhar melhor
as regras do relacionament o que deve se desenvolver entre eles em vista de

324
C f . M E N E Z E S C O R D E I R O , Man u al . .., c i t ., p p. 51 5 -52 1 , p a r a “ o s t a t u s de s óc i o c omo
s i t u a çã o d ur ad o ur a ” .
325
Na s e m p r e ac u r a d a e xp l an a ç ã o d e M E N E ZE S C O R D E I R O , t em - se q u e “ qu a n d o d ua s o u mais
p es s o a s s e e nc o nt r am co m u m p r o j e t o so c i e t á r i o , e l a s a c t ua m e m du a s ve r t e n t e s : a ss um i ndo
o br i ga ç õ e s u m a s p a r a c o m a s ou t r a s ; f i x an d o u m q ua d r o d e or g a n i z aç ã o q u e , d e p oi s , i r á
d es e n vol ve r n o v a s a c t ua ç õ es p r o d ut i va s . O m od o p or q u e s e c on e ct em e s s e s d oi s s ubs t r a t os
é v ar i áv e l . T e or i c a m e n t e , o s ub s t r a t o o br i ga c i o na l s e r á m á xi m o na s s o c i ed a d es c i vi s p u r a s,
vi nd o a d i m i n ui r s uc e s s i va m e n t e n as s o c i e d a d e s e m no m e c o l ec t i vo , p o r qu o t a s e
a nó n i m a s . Ta m b é m t e o r i c am e n t e , e s s e m e s m o s u b s t r a t o va r i a n a r a zã o i n ve r s a d o s ub s t r a to
o r ga n i z a ci on a l ” ( Ma n ua l .. ., c i t ., p. 1 7 9) . No p r e s e nt e t r a b a l ho , j á s e a p o nt ou , t e m -s e e m
m i r a s o ci ed a d es a n ôn i m a s f e c ha d as , em q u e , pr e c i s a m e nt e, o s u b s t r a t o o b r i gac i o n al a q u e
o a ut o r s e r e f e r e é a c en t u a do .
326
A b o a -f é n a e xe c u ç ão d o co n t r a t o de s o c i e d a d e é f on t e d e d e ve r e s au t ô n om o s d os s ó c ios
p ar a co m os de m a i s . Cf . G I U S E P P E A L B E R T O R E S C I O , La d i s t i n zi o ne de l s oc i a l e d a l
p ar a s oc i a l e i n Ri v i s t a d el l e S o ci et à, p . 6 28 . R ef e r ê n c i a n o t e m a d a s r el aç õ e s f i du c i á r i a s
e nt r e a ci o n i s t a s , c f . E R I C H F E C H N E R , Di e T r e ub i n d un g d es Ak t i o nä r s . Z u gl e i c h e i n e
Un t e r s uc h un g ü b e r d as Ve r h ä l t ni s v o n S i tt li ch k e i t , Re c ht u n d T re u e , He r m an n B öh l a u s
Na c hf o l ge r , W e i m a r , 1 9 4 2 . Na s í n t e s e d e M E N E Z E S C O R D E I R O , “ [ o ] s di r ei t os p a t r i m o ni a i s e
o s pa r t i c i p a t i vos d o s s óc i o s n ão e s go t a m o t e or d o e s t ad o d e s ó c i o . Os s óc i o s e nc o n t r a m -
s e , ai nd a , i m e r so s nu m a t e i a d e d i r e t o s e de v e r e s m ú t u os . Al é m d i s so, s u r gem t u t e l a s
i n di r et as e di ve r sa s o u t r a s p o s i ç õe s a t i va s ” ( Ma n ua l .. .. c i t ., p. 51 2 ) . V., ai nd a , p os i ç ã o j á
e xt er n a d a de D A LM A R T E L L O .
327
Tó p i c os q u e s e r ão e xpl or a d os no i t e m 4 .5 , i nf r a .
328
Ad ot a -s e a po s i ç ã o d e qu e m e s m o e m s o ci ed a d e s a n ôn i m a s – s o b r et udo f ec h a da s , a l vo
d es t a t e s e – há o d e ve r de l e al da d e e n t r e o s a c i o ni s t as , e i s qu e noç ão f un d a m en t a l à
p er s e gu i çà o pr ó p r i o e s c op o co mu m, í n s i t o a t oda s o ci ed a de . N e s s e po n t o a m p ar a -s e e m
C O M P A R A T O , pa r a q u e m “ [ e ] m t o da s o ci ed a d e, e s t a b e l e ce -s e u m qu a dr o ger a l d e r e l aç õ e s
e nt r e o s s ó ci os , f u n da da s na f i d e l i d a de e c on f ia n ça r e c í p r oc a s . É a a f f e c t i o o u b o na fi d e s
s o ci e t a ti s . Es s e r e l a c i o n a m en t o e s pe c i a l d e bo a - f é e d e ver d a de i r o i n t u it u s pe r s o na e p od e
e xi s t i r na s oc i e d a de a nô n i m a f e c h ad a , n ot a d a m en t e a q u e c o nt a, c o m p l em en t a r m e nt e a o
e s t a t ut o, co m a c or d o p a r t i cu l a r e n t r e t od o s os a c i o ni s t as ( . ..) . ( Re s t r i ç õe s à c i r c ul a ç ão d e
a çõ e s ... c i t ., p . 49 ) .
144

seus peculiares interesses, os partícipes da relação societária celebrem pactos


parassociais 329.

Pois bem. Os pactos parassociais são celebrados em função daquele


liame, daquele vínculo existente entre as partes a que linhas antes se referia,
que buscam personalizar. Por consequência, encontram-se inegavelmente
“submersos” naquele conjunto de direitos e deveres que decorrem desse
mesmo vínculo, ainda que não expressos na lei ou no estatuto. De outro lado,
aquilo que as partes acordam parassocialmente passa a integrar o mesmo
conjunto de direitos e deveres; passa a compor o estado de sócio de cada um
dos celebrantes 330.

Tomada essa perspectiva, a atração da disciplina societária aos pactos


parassociais não decorreria assim, necessária e exclusivamente de qualquer
efeito que possa ter na sociedade (= pessoa jurídica) ou de seu caráter
organizativo/político e sim por decorrência lógica da própria noção de
sociedade e da função econômica que os pactos parassociais – em especial os
patrimoniais – desenvolvem sobre a relação jurídica existente entre os
signatários.

O contrato parassocial patrimonial nada mais seria que um instrumento


contratual que complementa a disciplina da mesma relação gerada pelo
contrato de sociedade ou, ainda, informa os caracteres dessa relação antes
mesmo da gênese da sociedade. Na medida em que essa contratação integra e

329
Co m o s e vi u, o s pa c t o s pa r a s s oc i a i s p od e m d i ze r r e s p ei t o a o e xe r c í c i o d e di r ei t os de
s ó ci o q u e a c a be m p o r a f et a r a o r gan i z a ç ão e o f un c i o na m e n t o d a c om p a n hi a , n o t a da m e n t e
q ua n do f un d a do s n o s di r e i t o s p o lí ti c o s , m as igua l m e n t e p o de m t e r p o r o b j e t o di r e i t os
p at r i m on i a i s do s s óc i os q u e , e m p r i n cí p i o , nã o af e t a r i a m a s o c i e da d e e n qu a nt o p es s o a
j u r í d i c a d is ti n t a . Em a m b os o s c a s os , p l a s m a m e i m p a ct am o r el ac i o n am e n t o s o c i e t á r i o
e nt r e as pa r t e s .
330
Cf . no t a n ú m e r o 3 1 .
145

influenci a a relação societária entre os celebrantes, o direito societário é


chamado a intervir 331.

Por “atração da disciplina societária”, esclareça-se, não se pretende


provocar qualquer aproximação do contrato parassocial às regras relativas ao
estatuto social, formalidades e demais regras cogentes ligadas à organização
da pessoa jurídica.

O que se quer dizer, apenas, é que as regras e princípios societários


voltados ao relacionament o, ao vínculo existente entre sócios devem ser
observados, ainda que o contrato parassocial seja patrimonial. Ou seja, ainda
que tenha por objeto direito individual do acionista, gerando efeitos, em
princípio, apenas entre as partes contratantes, porém em vista de sua relação
societária. A realidade sobre a qual incidem os pactos parassociais é, pois,
mais nuançada e complexa, como advertiu M I CH E L G E R MA I N na citação que
abre este Capítulo.

Adiante serão examinadas as principais consequências das reflexões ora


empreendidas sobre a indefectível ligação do contrato parassocial patrimonial
não tanto com o estatuto social, mas com a relação societária que advém da
contratação de sociedade e da intenção das partes em concluí-la.

4.2 – Segundo pressuposto: real alcance da teoria geral dos contratos nos
pactos parassociais patrimoniais

Esclarecida a inserção dos pactos parassociais (patrimoniais ou não) no


contexto da relação societária entre as partes, é hora de evidenci ar o alcance
da teoria geral dos contratos nos pactos parassociais patrimoniais.

331
Te n do e m vi s t a qu e “ [ o] D i r e i t o da s s o ci e d a de s o r d en a e l e gi t i m a o f u n c i on a m e nt o das
r e a l i d ad e s d e qu e s e oc u p a. El e d i s c i p l i n a as r e la ç õe s q u e se e s t a b el ec e m e n t r e os só c i o s e
a s s egu r a a e f i c á c i a e r ga o m n es d a a c t ua ç ã o s o c i e t á r i a . Re gul a o s b e ns s o c i ai s . As s e gu r a a
a dm i ni s t r aç ã o e a r e p r e s e n t a ç ão . Em s um a : d á c or p o à e xi s t ê nc i a e a o f un c i on a m e nt o d a s
s o ci e d a de s ” ( M E N E Z E S C O R D E I R O , Man u al . .., ci t ., p . 1 6 7. Gr i f o u -s e) .
146

O esforço é necessário porque, como muito já se afirmou neste trabalho,


encontra-se repetidamente, na doutrina nacional e estrangeira, menções ao
fat o de que os contratos parassociais são submetidos às regras gerais sobre
contratos, sem que maiores esclarecimentos sobre o real si gnificado de
afi mações desse gênero sejam tecidos.

Da análise aprofundada e comparada das obras que trataram do


assunto 332, pode-se, entretanto, extrair conclusões mais precisas ao se colocar o
problema sob o prisma da inserção do pacto social na relação societária.

De fato, a preocupação central dos que inicialmente cuidaram dos


contratos parassociais era a de evidenciar a distinção desses contratos frente
aos contratos ou estatutos sociais 333.

Nessa ótica, salienta-se que os contratos parassociais – porque não se


igualam aos estatutos e desempenham outro papel – teriam sua estipulação
regrada pela teoria geral dos contratos e não pelas regras societárias, quer
dizer, pelas regras incidentes sobre a estipulação do contrato ou estatuto
social que, sabe-se, são bastante restritivas da autonomia contratual 334.

Tomada a leitura nesses quadrantes, não se pode concluir, ainda que


obliquamente, que os contratos parassociais não devam respeito ao direito
societário ou a preceitos próprios da ló gica societária 335.

332
S ob r e t u do C f . G I O R G I O O P P O , Co nt r a t ti . .. c i t .; L U I G I F A R E N G A , I co n t r at ti ... cit.;
G I U S E P P E S A N T O N I , Pa t t i p a ras o c i al i . c it . e Y V E S G U Y O N , Le s s oc i é t é s , c i t .. N o d i r e i to
b r as i l ei r o os vá r i o s t e xt o s d e B A R B I F I L H O , C A R V A LH O S A , A L B U Q U E R Q U E B A R R E T O , L E Ã E S ,
e C O M P A R A T O , r e f e r i d os n o P r ól o go.
333
Cf . c r í t i c a d e C R I S T I N A C E R O N I , c on s t a nt e da n o t a 79 .
334
So b r e t ud o qu a n t o à f u n ç ão d e e st r ut u r a r p e ss o a j u r í d i c a ( qu a nd o há s e p a r a ção
p at r i m on i a l ) e / o u pr e ve r os t er m o s d a r es p o ns a b i li d a de d o s só c i o s , e m a m bo s o s ca s o s e m
vi s t a d a pr o t e ç ã o d e t e r c e i r os .
335
I n ci s i va s e p r ec i s a s , n e s s e po n t o, a s pa l a vr as d e M A R T I N A P A I A R D I N I a o c o m e nt ar qu e a
i n di f er e n ç a do p a ct o p a r a a s oc i e d a de n ã o e q u i va l e a i n d i f e r e nç a p ar a a l ei , t e nd o e m vi s t a
q ue a c au s a so c i e t á r i a s e r e a l i z a so b r et ud o en tr e o s s óc i o s e nã o a pe n as p e r a nt e e l e s e a
s o ci e d a de ( i n v e rb i s : “ [ l ] ’ i n d i f e r e nz a de l p a t t o pe r l a s oc i e t à n on e qu i va l e a i n d i f e r en z a
p er l a l e gge , po i c hé l ’ o r di na m e n t o p uò sa n z i on a r e a n c h e i l pa t t o no n c o i nvo l g en t e l a
s o ci e t à , da t o c he l a c a us a s o c i a l e de ve r e al i z za r s i a n c he e d a nz i t t ut t o tr a i so c i e n on s olo
147

Simplesmente ocorre que os requisitos de vali dade dos contratos e


estatutos sociais não precisam ser observados quanto aos pactos
parassociais 336, não obstante se tratar de pactuação li gada à mesma base, que é
o relacionamento societário entre os si gnatários.

Outro aspecto que contribui para a incorreta análise do tema é o fato de,
em regra, os efeitos jurídicos dos pactos parassociais serem apenas
obrigacionais e não sociais (ou reais, diretamente incidentes sobre a vida
social, superando a solução por perdas e danos).

Como se apontou no capítulo 3, a doutri na é enfática em ressaltar que os


efeitos dos contratos parassociais verificam-se em nível contratual e não
societário.

Trata-se, afinal, de aplicação do princípio de separação entre a


sociedade e seus sócios 337, pois, na presença do “schermo” da pessoa
jurídica 338, o que o acionista contrata parassocialmente não pode vincular a
companhia ou seus órgãos, exceto nos casos previstos de maneira bastante
singular no art. 118 da Lei 6.404/76.

De outro lado, no mesmo raciocínio, o inadimplemento do que foi


acordado parassocialmente (ex. prestação acessória) não geraria, per se,
qualquer efeito social direto, como por exemplo a suspensão do direito de

t r a q ue s t i e l a s o ci et à” . S u i p re s s u po st i di c o nfi gu r a bil it á de l di v i e t o di p a tt o l e on i n o , i n
Ri v . Di r . C om m . , 2 01 1 , 1 , p . 1 0 9) .
336
Cf . G I U S E P P E A LB E R T O R E S C I O , La di s t i nzi o n e d e l s oc i a l e da l p ar a s oci al e ( s u l l e c.d.
c l a us o l e st a t ut ari e p a ras o ci al i i n Ri vi s t a d el l e So c i e t à, 19 9 1, p. 59 6 - 6 5 6 . Em es p e c i a l , o
a ut or a p o nt a a s d i ver s a s o c or r ê n c i a s da s e p ar a ç ã o e c o n t r a po s i ç ã o e n t r e o ne gó c i o s o c i a l e
o p a r a s s oc i a l n os p l a no s : ( i ) da c on s t i t ui ç ã o ; (i i ) da v al i da d e ; ( i i i ) d a e f i c á c i a ; ( i v) d a
i n t e r pr e t a ç ã o e ( v) d a m o d i f i c a çã o d e c ad a u m d os n e gó c i o s . ( p . 5 9 9 -6 0 0 ) .
337
No s c om e n t á r i o s da l e i a c i o ná r i a a l e m ã e n f at i za -s e , a o a na l i sa r o s a c or d o s pa r a s s o ci ais,
o f a t o q ue a el e s s e ap l i c a o p ri n cí pi o da s e pa r a çã o e n t r e s o ci e d a de e ac i o n i s t as
( “ Tr e n nu n gs p r i n z i p” ) . C f ., po r e x em p l o , C om e n t á r i o s ao § 2 3, V Ö L K E R R Ö H R I C H T i n K L A U S
J H O P T e H E R B E R T W IE D E M A N N ( o r g. ) , Ak t i e n g e s e t z Gr oβk o m me nt ar , Be r l i n, De G r u yt e r
Re c h t , s d ., R dn 2 3 8;
338
Te r m i n o l o gi a de F R A N C E S C O G A L G A N O ( La s o c i et à e l o s ch e r mo g i ur i di c o d ella
p er s o n al i t à gi u ri d i c a, i n Gi u r i s p r ud e n za C om m e r c i a l e 1 , 1 9 83 , p p . 5 e 1 6) .
148

voto do acionista inadimplente, como ocorreria, no di reito brasileiro, se a


estipulação constasse do estatuto social (art. 120 Lei 6.404/76). Ao contrário,
apenas as consequências obrigacionais, conforme tenham sido convencionadas
(multas, penalidades), seriam, em princípio, impostas ao faltoso 339.

Dessas afirmações não decorre, contudo, que a ausência de efeitos


sociais aos si gnatários afaste a necessária coerência dos contratos parassociais
patrimoniais ao direito societário - no sentido de que devem respeito aos
fundamentos e princípios que incidem sobre a relação societária alvo da
pactuação, como adiante se verá.

Mais uma vez é preciso frisar que O P P O examinou o problema com base
na dualidade de negócios jurídicos, ainda que interligados 340, quando aqui se
foca a unicidade do relacionamento societário estruturado seja nos estatutos
sociais, seja nos contratos parassociais e é verificada pela composição do
estado de sócio dos celebrantes, o qual inclui tanto as disposições legais e
estatutárias como também aquelas parassocialmente estipuladas 341.

Em resumo: mesmo tendo por objeto direitos individuais que não


incidem sobre a organização da sociedade, os pactos parassociais patrimoniais
são celebrados por sóci os em função de um relacionamento societário e,
portanto, mesmo que se valham do direito comum dos contratos para sua
estipulação, não podem ser examinados como um negócio jurídico totalmente

339
C om o s e an t e c i p ou n o C ap í t u l o 2 , a o e xa m i n a r j u s t a m e nt e c a so en vol ve n do pa cto
p ar a s s o c i a l pa t r i m on i a l , C O M P A R A T O a d vo g a, t od a vi a , d an d o su s t e n t a çã o a o r ac i o c í n i o q u e
s e bu s c a d e s e n vo l ve r n e st a t e s e , q ue s e o i na d i m p l e m en t o do q ue f o i c on t r a t a d o e n vo l v e
v i o l aç ã o d e de v e r d e c ol ab o ra ç ã o i ne r e n t e à s r e l aç õ e s s o ci et ár i as, s e r i a po s sí vel a
s u sp e n sã o de d i r e i t o s p r e vi s t a n o ar t . 12 0 d a l e i 6. 40 4 / 76 , q ua n d o n ã o f o s se p os s í ve l a
m e di da m a i s d r á s t i c a d e e xc l u s ã o d e s ó ci o : “ a s l e i s a c i on á r i a s de a l gu ns p a í s es , i nc l u si ve
d o n os s o , c o n sa gr a m o u t r o r e m é di o s oc i e t á r i o a d e qu a d o a s a nc i o n ar a s vi o l a ç õe s d o s
d ev e r e s de c ol a b o r aç ã o d e a ci on i s t a s , e m f un ç ão d o i n t e r e s s e c o m um . É a s u s p en s ã o d o
e xe r c í c i o d os d i r e i t os s o ci et ár i os ( Le i nº 6. 40 4 , d e 19 7 6, ar t . 1 20 ) . R e st ri çõ e s à
c i r c ul a ç ã o.. ., c i t . , p p. 41 -4 2 . Es s a p o si çã o - q u e l i ga o i na d i m p l e m en t o d o pa c t o
p ar a s s o c i a l ao d e s r es p e i t o a de ve r de a c i o ni s t a , en s e j a nd o s us p e ns ã o de d i r e i t o d e vo t o e,
a s s i m , e f e i t o s o ci al – não é m u i t o e nf a t i z a d a na d o ut r i na .
340
Cf . O P P O , C on t r a t ti .. ., c i t . p . 3 0 e s s.
341
Cf . um a ve z m a i s , M E N E Z E S C O R D E I R O , ( Man u a l .., c i t ., p . 5 0 7) .
149

a ele alheio ou mesmo um contrato celebrado entre partes que entre si não
guardem uma relação de colaboração 342.

Ou, em outras palavras, os contratos parassociais patrimoniais são


regulados pelo direito comum dos contratos, mas na sua interpretação devem
ser consideradas as preocupações societárias que levaram as partes a celebrá-
los (que refletem sua função econômica) e as diretrizes do direito societário
voltadas à tutela desse relacionamento e de terceiros por ele afetados.

4.3 – O papel da interpretação para os pactos parassociais patrimoniais

Diante da ausência de regra específica, no direito brasileiro, sobre os


limites de validade dos pactos parassociais ou mesmo de indícios para sua
compreensão como categoria dogmática, a proposição de elementos para a
interpretação desses negócios jurídicos assume papel primordial para que se
obtenha maior grau de segurança jurídica na verificação, a posteriori, seja de
sua licitude 343, seja de sua consonância com a intenção comum das partes e a
função econômica por elas desejada 344.

342
C f . C O M P A R A T O , Re s t r i ç õ e s à ci rc u l a çã o d e aç õ e s e m c o mp a nh i a f ec h a da : No va et
Ve t e r a , i n N ov o s e ns a i o s ... c i t ., p . 5 0 .
343
De m an e i r a ge r a l , G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T s u ge r e q u e o s p ac t o s r e l a t i vos ao
c a pi t al de v a m r e s pe i t a r d o i s pr i nc í p i os i m p or t ant e s : a c i r c u l ab i l i da d e da s a ç õe s e o d i r e i t o
d e r e s t a r a s s oc i a d o , o s q u ai s s e r ã o t r a t a do s m a i s a di a n t e . To da vi a , c o m o s e ve r á d a
e xp l a n a çã o q u e s e gu e , a n e ce s s i d a de d e co n j u ga r o s a s pe c t o s da t e o r i a ger a l d o s c on t r a t os
c om f u n da m e n t os s o ci et ár i os p od e a p o nt a r o ut r os e l e m en t o s a o r i e n t a r o i n t ér pr e t e ( Du
Co n t r at … , c i t ., p. 25 1 ) .
344
F R A N C I S C O P A U L O D E C R E S C E N Z O M A R I N O e cl a r e c e qu e “ t o do n e gó c i o j ur í d i c o d eve ser
i n t e r pr e t a d o . A de m o n s t r a ç ã o de s s a a s s e r t i v a é s i m pl es . P o r m e i o d a i n t e r pr e t a ç ã o,
d et er m i na -s e o c on t e ú do d o n e góc i o j u r í di c o, qu a l s e j a , o c onj u nt o d os pr e c e i t o s o u r e gr a s
q ue de l e em a n a m , qu e r s e j a m e xp r es s o s o u d e c l ar ad o s , i s t o é c o nt i do s n a d e c l a r a ç ã o
n ego c i a l , q u er s e j a m i m p l í c it o s o u n ã o de c l a r a d os . Ou t r os s i m , é c o m u m a f i r m a r qu e
i n t e r pr e t a r um n e gó c i o j u r í d i c o é d e t e r m i na r o s e u s e nt i do o u s i g n i f i c a do . Or a , t od o
n egó c i o j u r í d i c o t e m (o u p o de t e r ) c o nt eú d o ( o u s e nt i d o ) ” ( I n t e r pre t a ç ão do N e gó c i o
J ur í d i c o , S ã o P a ul o, S a r a i va , 2 01 1 , p . 6 5 ) .
150

Contudo, como já ressaltou P A U LA A. F O RG IO N I , muito embora o tema


da intepretação dos negócios empresariais 345 seja de fundamental importância
para a segurança e previsibilidade necessárias ao bom funcionamento do
mercado e das instituições, pouca atenção lhe tem sido destinada no Brasil 346-
347
, muito em virtude da pretensão positivista da clareza absoluta do texto
contratual 348- 349.

No raciocínio da autora, também contribui para os poucos avanços


doutrinários no campo da intepretação dos contratos empresariais na doutrina
brasileira o fato de ser algo recente a discussão sobre a existência de contratos
que não se encaixam nos moldes do contrato de int ercâmbio (em que prestação
e contraprestação se exaurem com o adimplemento; e onde o lucro de uma
parte é o prejuízo da outra) 350 e que, portanto, requerem interpretação
diferenci ada.

Como se apontou no Prólo go, já se tem desenvolvido, no Brasil, linha


de análise dos contratos comerciais como grupo especial em virtude do fato de

345
I m po r t a n t e r e s s a l t a r qu e m es m o e nt r e s ó ci os n ão s en d o n e ce s s a r i a m e nt e e m p r es a r i al,
u m a v ez qu e a r e l aç ã o e n t r e s ó c i os t e m p o r e s c op o s e u s d i r e i t o s e m u m a s o c i e da d e
e m pr es á r i a , a l ógi c a e m pr e s a r i a l a t i n ge a c on t r a t a ç ão .
346
“Q ue m o bs e r va a do u t r i n a d o di r ei t o m e r c an ti l d e p ar a -s e c om f e n ôm e n o p e cu l i a r : no
m a i s da s ve z e s , p o uc a ou ne n hu m a i m p or t â n c i a d á -s e à at i vi d a d e d e i n t e r p r et aç ã o d o s
n egó c i os e m p r e s a r i ai s , c om o s e a l e t r a d o i ns t r u m e n t o exi s t i s s e p o r s i só , e p or s i s ó f o s s e
c a pa z d e d i s c i p l i n ar a r e l a ç ã o f or m a t a d a pe l o s a ge n t e s ec o n ôm i c o s no s a m p l os q u a dr a n t es
d a a u t on o m i a pr i va d a” ( P A U L A A. F O R G I O N I , T e or i a Ge r al d os Co n t r at os Em pr e s a ri ai s,
c i t ., p. 2 15 ) .
347
F R A N C IS C O M A R I N O t a m b ém a n o t a, a r es p e i t o do “ d es p r e s t í gi o ” d a s r e gr a s d e
i n t e r pr e t a ç ã o, q u e “ f r e q u e nt e m e n t e o va l o r d a s n or ma s j urí d i c a s i nt e pr e t a ti v a s n ã o é
o bj e t o d o m er e c i d o r ec o nh e c i m e nt o. I ss o s e de v e à an t i ga p os i ç ã o – i n f e l i z m e n t e at é h o j e
d ot a d a d e s e gui do r e s – d e a c o r do co m a q ua l t a i s no r m a s t e r i a m n at u r e z a d e ‘ me r o s
c on s e l h os ou s u ge s t õe s ’ , s e m a i m p er a t i vi d a de d a s d e m a i s n or m a s j ur í di c a s ”
( I n t e r pr e t a ç ão ... , c i t ., p. 7 1) .
348
“ o r e p úd i o d ogm á t i c o à a t i vi d a d e i nt e r p r e t a t i va é i n j u s ti f i c á vel e p e r i gos o , d e s a gu a ndo
– a o co n t r á r i o do q u e cr i am os a n t i go s – no a u m en t o d o gr a u d e i ns e gu r an ç a e
i m p r e vi si bi l i da d e j ur í dic a s ” ( P A U L A A. F O R G I O N I , Ap o nt a me n t o s s o b r e a l g u mas r e g r as d e
i n t e r pr e t a ç ão do s c on t ra t o s c o me r c i ai s : Pot hi e r , Ca i r u e C ód i g o C om e r c i a l de 1 85 0 , i n
RD M 1 4 1, J a n e i r o - M a r ç o / 2 0 06 , p . 4 0 ) .
349
Cf . c r í t i c a de T U L LI O A S C A R E L L I em N or ma g i ur i di c a e r e a l t à s o c i a l e – i n Pr o bl emi
g i ur i di c i , t o m o I , M i l a no, Gi u f f r é , p p. 8 5 e s s . .
350
P A U L A A . F O R G I O N I , Te o r i a Ge ra l . .. c i t . , p . 2 15 .
151

que sua interpretação deve ser pautada por vetores peculiares à sua função
econômica e à sua inserção na ordem jurídica do mercado, não obstante seu
regramento legal ser o comum a outros grupos de contratos 351.

Trazendo o argumento para o campo dos contratos parassociais


patrimoniais, ainda não se encontram estudos, no Brasil, em que a mesma
proposta é avaliada ou desenvolvida, muito embora essa reflexão seja
rel evante para o avanço científico no direito societário pois, como pontua
J O S É A L EX A N D R E T A V A R ES G U E R R E I RO ,

“[o] te ma da int erpretação domina o estu do dos grandes proble mas na


vi vência do direito so ciet ário, principalmente porque nessa pro ví ncia
há limites peculiares à especialíssima nat ureza e à função da
companhia – à sua estruturação como a gente econô mico, em uma
pal avra. Por variados moti vos, a interpret ação dos atos e negócios
pert inent es ao direi to das sociedades refo ge, não poucas vezes , ao
domínio geral do direi to privado” 352.

Como exemplo dessa necessidade, tem-se que as disposições le gais


sobre contratos de intercâmbio não são plenamente aplicáveis aos contratos
parassociais patrimoniai s mesmo quando, como se viu no capítulo 2, o pacto
parassocial preveja a compra e venda de ações ou outras modalidades de
alienação de direitos 353, ou seja, ainda que como resultado fi nal do pactuado
exsurjam contratos de intercâmbio (a compra e venda em si). Ao contrário —
também se espera ter esclarecido no Capítulo 2 — o pacto parassocial
patrimonial traz características de um contrato de longa duração porque
duradoura a relação a que ele se refere e justamente pelo fato de sua função
econômica fundar-se na disciplina e definção dessa mesma relação.

351
Cf . o s pi o n e i r os t r a b a l ho s d a P r o f a. P A U L A A. F O R G I O N I j á c i t a do s : T eo r i a Ge r al dos
Co n t r at o s Empr e s a r i ai s; Ap on t a me n t os s o br e a l g uma s r e gr a s d e i n t e r p r et aç ã o d os
c on t r a t o s c o me rc i a i s : Po t h i e r , C ai ru e Có d i g o Co m e r ci al d e 1 85 0 e I nt er p r e t aç ã o d e
n eg ó c i os em pr e s ar i ai s no n ov o Có d i g o C i v i l Br a s i l e ir o ( R DM , n . 1 30 , p . 7-3 8 ) .
352
I n t e r pr e t a ç ão d e Pr e f e r ê nc i a s …, c i t ., p. 38 9 .
353
So b r e t ud o e m r az ã o da j á c o m e nt a d a co n c ep ç ã o i nd i vi d ua l i s t a d o s d i r e i t os de
p r op r i e d ad e .
152

Como resultado, à exceção de menções esparsas e artigos pouco


divul gados 354, não se encontrou, na pesquisa empreendida, estudos sistemáticos
sobre as re gras gerais que devem informar a interpretação dos pactos
parassociais patrimoniais no direito brasileiro, considerando as
particularidades ora descritas, o que lança o desafio de t ratar do tema, mesmo
sabendo-se não ser possível, de um só lance, esgotá-lo 355.

É preciso verificar, pois, condicionantes que influenciam a intepretação


dos pactos parassociais patrimoniais, tomando-se por base o raciocínio
descrito no item 4.1, acima, em que se evidencia sua íntima relação com o
liame societ ário existent e entre os celebrantes.

Em situações similares, o estudioso poderia se voltar à contemplação


sistemática da jurisprudência que, com relação ao negócio jurídico sob exame,
tivesse se formado 356- 357.

No Brasil, todavia, também a jurisprudência é incapaz de indicar


caminhos seguros para a interpretação dos pactos parassociais patrimoniais.

Isso porque, as decisões jurisprudenciais brasileiras centram-se, sem


surpresa, em aspectos próprios dos acordos de acionistas caracterizados no
capítulo anterior. Ou seja, não há uma perspectiva sobre o gênero dos pactos
parassociais, patrimoniais e políticos, mas a ênfase na sua principal espécie,
no direito brasileiro 358.

354
P o r e xe m p l o , um d o s r a r o s a r t i gos a l i n ha d o s c o m a p r o p os t a é d a l a v r a d e M A U R IC IO
M O R E I R A M E N D O N Ç A D E M E N E Z E S , Re s o l u çã o d e a c or d o d e a c i on i st a s ... c i t ., e m q ue
c om e n t a a d e c i s ã o no R ec u r s o Es p e ci a l n. º 3 88 .4 2 3- R S ( ca s o P et r op l a s t i c ) , si ngu l a r
d ec i s ã o j u di ci al a e nf r e n t a r o t e m a c om vi é s m a i s a p r o xi m ad o a o ad o t a d o n e s t a t e s e.
355
R e i t e r a -s e m a i s u m a ve z qu e n ã o s e t em a pr e t e n s ão de a cl ar a r t o do s os m ú l tiplos
a s pe c t o s qu e po d e m de r i va r d a e n un c i a çã o d e a l gu ns e l e m e nt os e c r i t é r i o s vá l i d o s pa r a a
i n t e r pr e t a ç ã o do s c o nt r a t o s s o b exa m e .
356
c f . G U Y O N , L e s s o c i é t é s… ci t ., p . 3 0 8 -3 0 9.
357
A e xe m p l o de e s t u do s c om o o s d e P A U L A A. F O R G I O N I , Co nt ra t o d e D i s t ri bui ç ã o, São
P au l o , R T, 2 0 05 e L U C I A N O D E C AM A R G O P E N T E A D O , Ef e i t o s C on t r a t ua is .. c i t .
358
Cf . s eç ã o A N Á L I S E S J U R I S P R U D E N C I A I S .
153

Não bastante essa dificuldade, a colheita de dados é comprometida pelo


fato de que, sempre mais, questões empresariais complexas são submetidas à
arbitragem e, assim, ao correspondente sigilo. É verdade que esse não é um
problema verificado apenas no direito brasileiro, tendo em vista a crescente
expansão da arbitragem empresarial no contexto internacional.

Todavia, aliado à ausência de disciplina le gal sobre o conjunto dos


pactos parassociais, esse aspecto intensifica a inse gurança jurídica que cerca o
tema. Mesmo a doutrina é afetada pela impossibilidade de avaliação e
discussão dos grandes casos em que o assunto é abordado, freando-se o
desenvolvimento de estudos a ele ligados 359.

Em resumo: do que se sustentou até o momento, pode-se apontar como


premissas fáticas, no direito brasileiro, para o estudo do processo de
interpretação dos pactos parassociais patrimoniais: (i) a ausência de regra
legal específica sobre validade, determinando a verifi cação a post eriori; (ii) a
ausência de jurisprudência consolidada e conhecida, dificultando estudos
sistemáticos; (iii) o foco sobre a espécie acordo de acionistas; (iv) a
complexidade das estruturas em que, frequentemente, os pactos parassociais
patrimoniais são incluídos e (v) a sua celebração típica em sociedades
anônimas fechadas e/ou sociedades limitadas, em que a relação entre as partes
é dest acada 360.

É nesse cenário que ora se procura apontar elementos para a


interpretação dos pactos parassociais pat rimoniais, tomando por pressupostos

359
Co n f or m e j á r e f e r i d o e a m ai or i a d o s j u l gad o s f oc a q ue s t õ e s p r oc e s s ua i s , co m o p od e ser
d em o n s t r a do n a s eç ã o A N Á L I S E S J U R I S P R U D E N C I A I S , q u e co n t é m o s pa r â m e t r o s de p e sq u i s a
u t il i z a d os e a po r c e nt a ge m de t e m as e n c o n t r a do s . Nã o s e o b t e ve , i g u al m en t e , d ec i s õ e s
r e l e va n t e s do e xam e d o s a n uá r i o s d a I C C ( I n t e r na t i on a l Ch a m be r o f C o m m e r ce ) , co m o j á
s e s a l i e nt ou .
360
Na h oj e cl ás s i c a l i ç ã o d e C O M P A R A T O , “ [ a ] ‘ s o c i e da d e a nô n i m a de p e s s oa s ’ e m e s p ec i a l,
e s t á l on ge d e s e r aq u el e ‘ m e c a ni sm o j u r í d i c o’d e s c r i t o po r Ri p e r t . El e n ã o e xi s t e l o nge e
f o r a do a co r d o p e r s o na l í s s i m o d as p a r t e s , a m od o de u m d eu x e x m ac h i n a q u e vi ve e a g e
a ut on o m am e n t e , l i vr e d a von t a d e e d o s i n t e r es s e s q ue o e n ge n d r ar a m . P o r d et r ás do v é u d o
a no n i m a t o e n xe r ga -s e a r e a l i d a de c on c r e t a d o s s ó ci o s , c om s u as i n te nç õ e s , p a l a vr a s e
o br a s ” ( No v o s En s ai o s e Par e c e r es . . ., p . 40 ) .
154

teóricos a sua celebração por partícipes de uma relação societária, adstritos


por direitos e deveres decorrentes dessa mesma relação, gerada pelo contrato
de sociedade (item 4.1, acima) bem como o real alcance da teoria geral dos
contratos na sua apreci ação (item 4.2).

Nessa linha, procurar-se-á atender à lição de E RO S R O BE R T O G RA U , ao


enunciar três das mais importantes pautas intepretativas recomendadas pela
prudência: “(i) a primeira relacionada à interpretação do direito no seu todo;
(ii) a segunda, à finalidade do direito; (iii) a terceira, aos princípios” 361.

4.4 - Elementos da tradicional teoria da interpretação dos negócios


jurídicos

Como primeiro passo na tentativa de enunciação de elementos para a


interpretação dos pactos parassociais patrimoniais, cumpre voltar aos
clássicos para obter ferramentas úteis ao processo.

Como relembra P A U LA A. F O RG I O N I , o direito brasileiro assistiu ao


evoluir da fixação das regras para a interpretação contratual a partir da
sistematização levada a termo por P O TH I E R , em 1761, chegando ao art. 131 do
Código Comercial de 1850 e à sua derrogação formal pelo Código Civil de
2002 362.

361
En s ai o e Di s c ur s o s obr e a i nt e r pr e t a ç ão / a pl i caç ã o d o D i r e i t o. 3ª Ed. M a l h e i r o s, São
P au l o , 2 00 5 , p. 3 9 . O a ut or , e m t r e c ho a n t er i or , e s c l a r e ce s e r a i nt e r p r e t a çã o do d i r e i to
“ um a p r u dê n c i a – o s a be r p r á t i c o, a ph r ó ne s i s , a q u e r ef e r e A r i st ót e l e s ” e , p o r
c on s e qu ê n ci a, c om es c ó l i o e m C O M P A R A T O , “ o i n t é r p r et e at ua s e g un d o a l ó gi c a d a
p r ef er ê n c i a , e n ã o c on f o r m e a l ó gi c a d a c o ns e q uê n c i a : a l ó gi c a j u r í d ic a é a da e s co l h a
e nt r a vá r i a s p o ss i bi l i da de s c or r e t a s ” ( En s a i o ... c i t . , p . 3 5 ) ”.
362
Ai n d a co m a p oi o e m F R A N C I S C O M A R I N O , n ot a - s e q ue o C ód i go Ci vi l de 20 0 2 m a nt e v e a
l i n h a d o Có di go Ci vi l d e 19 1 6 em p r e ve r p o u c a s r e gr a s d e i nt er p r e t a ç ã o ( i n c l u i nd o o a r t .
1 13 ) , p o si çã o e l ogi a d a p o r pa r t e d a d o ut r i na q ua n d o c o m pa r a d a c o m a po s i ç ã o d e ou t r o s
o r de n a m en t o s e m q ue a s va r i a da s r e gr a s d e i n t e r p r e t aç ã o i n c l uí d a s n o t ext o l e g a l a c ab a r a m
p or s e r co n s i de r a d a s n a j ur i s p r u dê n c i a c o m o m e r o s “c o n se l h o s ” ( I n t e r p re t a ç ão .. . ci t . p.
7 1) . C on t u do , c o m o s e ap o nt ou ac i m a , à é po c a d e vi gê n c i a d o Có d i g o Ci vi l d e 1 9 16 a
i n t e r pr e t a ç ã o d o s ne g óc i o s e m pr es a r i a i s t i nh a s u a or i en t a ç ã o c o m pl em e n t a d a p e l a s
d i s po s i ç õ es d o C ód i go C om e r c i a l o q u e , ao m e no s f o r m a l m e nt e , n ã o m a i s o co r r e . Ne s s e
s e nt i do a c r í t i c a de P A U LA A. F O R G I O N I d e q ue “ o c ó di go br a s i l e i r o af a s t o u -s e d e s u a
155

A relevância dessas regras, explica a autora, li ga-se à sua capacidade de


reunir em enunciados lógicos o que a prática mercantil demandava (e ainda
demanda), tendo em conta “o fluxo de relações econômicas e a principal
função do direito comercial, motivo mesmo de sua gênese: dar condições para
o melhor funcionamento possível do mercado” 363.

Considerando a discussão que ora se pretende aprofundar sobre


condicionantes à interpretação dos pactos parassociais patrimoniais algumas
dessas regras devem ser avaliadas 364.

4.4.1 - Interpretação conforme a intenção comum das partes: função


econômica do contrato. Contexto negocial e espírito do contrato.

A primeira enunciação de Pothier aponta que

“nas convenções mai s se deve indagar q ual foi a int enção


commum das partes contrahentes, do que qual he o sentido
grammatical das palavras” 365

Seguindo a posição de P A U LA A. F O R G IO N I , fundada em B ET T I , ao


questionar qual a intenção comum das partes deve-se apurar, em verdade, qual
a função econômica que as partes buscaram obter com a pactuação e, por
consequência, qual a racionalidade jurídica que deve orientar a intepretação

d ec l a r a d a f on t e d e i ns p i r a ç ã o e – o qu e é m u i t o pi o r – d e no s s a t r a di ç ã o , c or p o r i f i c a da n o
Có d i go C om e r c i a l ” ( A po nt am en t o s s o br e a l g uma s r e g r as .. . c i t ., p. 3 4) .
363
I d em , p . 3 3 .
364
O q u e n ã o s i gni f i c a q ue a s d e m a i s r e gr a s l an ç a da s po r P O T H I E R e / o u t r a n s cr i t a s no
Có d i go Co m e r ci al n ã o s e j am a p l i c á ve i s ao s pa c t o s p a r a ss o c i a i s p a t rim o n i a i s , en q ua n t o
n egó c i o j ur í d i c o c om o q ua l q u e r ou t r o . O qu e s e pr o c ur a , a q u i , é e vi de n ci ar aq u e l as r e gr a s
q ue m ai s i m p a ct am a i n t e r p r e t a çã o d o s p a ct o s pa r a s s oc i a i s pa t r i m o ni a i s , em vi s t a d a
a r gu m e n t a çã o q ue s e p r o c ur a r e a l i z a r .
365
Co nf o r m e s a l i e nt a P AU L A A . F O R G I O N I , l i ga m - s e à pr i m ei r a r e gr a de P ot hi e r t a m b é m a
d éc i m a , u nd é c i m a e d u od é c i m a r e g r a s , t o d a s vol t ad a s à bu s c a d a i n t e n çã o d a s p a r t e s
q ua n do d a ce l e b r a ç ão d e um n e gó c i o . A s e xt a r egr a a po n t a a ne c e s si da d e de i n t e r p r et aç ã o
d as c l á u s ul a s c o nt r at u a is c o m ba s e no n e gó c i o gl o b a l , q ue s e r ve a u m a f un ç ã o e c o nô m i c a
ú ni c a ( c f . Te o r i a Ge ra l d o s Co n t r at o s Emp re s a r i a i s , c it . pp . 2 2 5-2 2 7) .
156

do negócio, considerando aquilo “que, no mercado, normalmente se busca com


tal prática” 366.

Também o art. 131 do Código Comercial de 1850 previa a necessidade


de interpretação das cláusulas contratuais com base na intenção comum das
partes (ou vontade objetiva), indicando que o comportamento das partes
posterior à avença seria seu melhor indício 367- 368.

Pois bem, se a função econômica dos diversos pactos parassociais


patrimoniais foi apontada como a de integrar e modelar o regime jurídico do
rel acionamento societário existente entre os celebrantes, é preciso que os
termos contratuais sejam avaliados com vistas a esse escopo, considerando os
elementos essenciais da causa societária (como a colaboração, a participação
nas contribuições, lucros e perdas) e os deveres dela decorrentes.

Ao contrário, a interpretação que tome suas cláusulas como as de meros


contratos entre particulares e não como sócios, desconsiderando o todo a que
servem (i.e. a relação societária entre os signatários) não condiz com a
intenção comum que determinou a celebração do contrato e, nesse caso,
reduziria o negócio à inutilidade 369.

366
I d em , p p. 22 2 - 22 3 .
367
Ar t . 13 1 , 3 . “ o f a t o do s c o nt r ae n t e s p os t e r i o r a o c on t r a t o , q u e ti ver r el aç ã o c om o o b jeto
p r i nc i p a l , s e r á a m e l ho r e xpl i c aç ã o da von t a d e qu e a s pa r t e s t i ve r a m n o a t o d a c e l e b r aç ã o
d o m es m o c o nt r at o” .
368
D e o ut r o l a d o, o Có d i go C i vi l d e 20 0 2, n o a r t . 1 12 p r ev ê qu e “ n a s d e cl ar a ç õ es de
von t a d e s e at en d e r á m a i s à i nt e n ç ão n el as c o ns u bs t an c i a da d o q ue a o s e n t i d o li t er a l d a
l i n gua g e m ” s e m p r e ve r c r i t é r i o s d e ap u r a çã o d a vo nt ad e , r a z ã o p e l a qu a l s e gue n e c e s s á r i o
u t il i z a r a s r e gr as p r e vi s t a s no C od i go Co m er c i a l , c uj a “ r e vo ga ç ão f o r m a l p e l o no vo Cód i go
Ci vi l ( .. .) n ã o l o gr ou ext i r p á -l a s d e no s s o s is t e m a j u r í d i c o . A s si m c o m o é i m po s s í ve l
r e vo g a r a s r e gr a s d e P o t hi er ( ...) n ã o s e p o de s u p r i m i r a p en a d as a t r a d iç ã o q u e e xi s t e n a s
e nt r an h a s de n o s s o d i r e i t o m e r c a nt i l ” ( P A U L A A . F O R G I O N I , i de m , c i t . p . 2 2 8) .
369
Ai n da c om P A U LA A. F O R G I O N I , “ o co n t r a t o d e ve s e r co n ce b i d o d e a c o r do c om u ma
f u nç ã o ( = f u nç ã o e c on ô m i c a = c a us a ) e a i n t e r pr e t a ç ã o d a a ve n ç a de v e l e v a r à s u a
c on s e c uç ã o . C a s o c on t r á r i o , a t i r a r -s e -i a o c on t r a t o à i n u t i li d a de – d e c i s ão i n c om p a t í vel
c om a l ógi c a d o s i s t e m a . Em s um a : s e a s p a r t e s c o nt r a t a r a m , s e u e sc o p o e r a a t i n gi r
d et er m i na d a f u n çã o ec o nô m i a , p or q u e o n e góc i o nã o p o de r a ci on a l m e nt e s e r e n t e nd i d o
c om o a t i vi d a de d e d e l e i t e ” ( Te o r i a. ..c i t . , p . 2 2 3 ) .
157

O risco de interpretação inidônea também aparece, na espécie, quando


se interpreta o pacto parassocial patrimonial “em tiras” 370, ou seja, sem inseri-
lo no panorama societário.

Nesse passo, convém lembrar a lição de A N TO N IO J U N QU EI R A DE

A Z E V E D O , com escólio em O R T E G A Y G A SS E T , de que “o negócio jurídico é o


negócio jurídico e suas circunstâncias” 371.

Nos pactos parassociais patrimoniais, em que pese o conteúdo


contratual versar sobre direitos patrimoniais dos sócios uti singuli 372, a
circunstância de entre eles haver relação societária impõe que sua
interpretação a cont emple 373.

Tomando essa linha de argumentação, a chave de leitura dos pactos


parassociais sob o prisma societário não se assenta, apenas, na produção de
efeitos na sociedade de que podem ser privados os pactos em exame, mas na
peculiaridade de voltarem-se ao liame entre os sócios.

Na mesma direção, a alínea 1 do art. 131 do Código Comercial de 1850


informava que “a inteligência simples e adequada, que for mais conforme a
boa-fé, e ao verdadeiro espírito e natureza do contrato deverá sempre
prevalecer à rigorosa e estrita significação das palavras”.

Em contratos parassociais patrimoniais, essa regra assume singular


importância na medida em que impõe o exame do verdadeiro espírito do

370
C om a e xp r e s s ão r e nd e -s e h om en a ge m a o P r of . E R O S R O B E R T O G R A U , i n c an s á ve l ao
e ns i n a r qu e nã o s e i nte r pr e t a di r ei t o e m t i r a s ( “ [ n ] ã o s e i nt e r p r e t a m t ext o s de di r ei t o,
i s o l a da m e n t e , m a s s i m o d i r e i t o , n o s e u t o do – m a r c a do , n a d i cç ã o d e A s ca r e l l i , p el a s s u as
p r em i s sa s i m pl í ci t as . En s ai o e D i s cu r s o s ob r e a i n t er p r e t a çã o/ a pli ca ç ão d o Di r e i t o . 3 ª E d.
M a l he i r o s , Sã o P a u l o, 2 0 05 . p. 1 2 7) . Da m e s m a f o r m a , a s d i s po s i ç õ es c o nt r a t u a i s n ã o
p od e m s e r a va l i ad a s s e nã o e m s e u co n j u nt o .
371
N e g óc i o J ur í d i c o , Ex i s t ê n c i a, Va l i d a de e Ef i cá c i a , 4 ª Ed ., S ã o P a u l o, Sa r a i va, 20 0 2, p.
1 18 .
372
Co m o e nf a t i z a O P P O a o se r e f e r i r ao s c o nt r a t o s e m a n á l i s e .
373
F R A N C I S C O M A R I N O a p o n t a , e n t r e as ci r cu n s t ân c i a s a a va l i a r n a i n t e r p r et a ç ã o c on t r a t u al
a s “ q ua l i d a d es da pa r te ou da s pa r t e s e n vol vi d a s ( e s p ec i a l m e n t e n o s n e gó c i o s i n t ui tu
p er s o n ae ) e e v e nt ua l r e l a ç ão e x i s t e nt e en t r e e l a s ”. I n t e rp r e t a çã o ... ci t ., p . 11 6 .
158

contrato, em detrimento da literalidade das palavras e, para avaliá-lo, é


necessário examinar não apenas a função econômica pretendida pelas partes,
mas igualmente, o contexto global em que o negócio foi celebrado.

Na arena societária, os contratos parassociais patrimoniais só podem ter


por espírito a disciplina de seus direitos de sócio até o ponto em que não
desvirtuem a própria lógica societária, alicerçada nos pressupostos
elementares do escopo comum e da partilha de resultados, positivos ou
negativos, bem como sejam condizentes com os direitos e deveres gerados
pela associação entre as partes, como o de lealdade e colaboração.

Contudo, o exame do “espírito do contrato” no contexto em que foi


celebrado é dificultado, não raro, pela extrema sofisticação a que che gam
algumas relações societárias, refletidas em um sem número de contratos,
instrumentos, pactuações das mais diversas 374.

Para interpretar adequadamente os contratos parassociais patrimoniais


conforme seu espírito e assim determinar limites de sua validade, apreciar sua
execução e os termos de seu adimplemento, ou mesmo verificar existência de
fraude ou simulação que os fulmine, é imprescindível ter presente esse quadro
complexo 375- 376, baseado, já se disse exaustivamente, em um relacionamento
societário.

374
Cf . as a r gu t a s co n s i de r a ç õ es d e M A U R I C I O M O R E I R A M E N D O N Ç A D E M E N E Z E S : “ O j u r ista
d ev e s e vol t a r p a r a a n a l i s a r a s p e ct os s ub st a n ci ai s d o f e n ôm e n o a s s o ci at i vo , q ue m u i t a s
ve z e s n ã o s e l i m i t a m à s cl áu s u l as e c o n di ç õ e s f or m a l m e n t e c on ve n c i o n ad a s no c o nt r at o o u
e s t a t ut o so c i a l , m as se en c o nt r a m r ef l et i da s e m di ve r s os ou t r o s in s t r u m e nt o s , c o m o
a c or d o s p ar a s s o ci ai s, c o r r es p o nd ê nc i a s , e s t ud o s de vi a b i li d a d e r ub r i c a do s p e l o s
i n t e r e ss a d o s e, a i nd a , e m f a t o s c o nc r e t o s q ue , e m b o r a s ej am r el ev a nt es , nã o c h e ga r a m a s e r
r e du z i d os a e s c r i t o , da d o o d i n a m i s m o p r ó pr i o d a vi d a e c on ô m i c a” ( R e s o l u çã o de a c or d o
d e ac i o n i s t as . .. c i t . , p . 1 5 8) .
375
De f a t o , c o m o r e s s a l t a L E C A N N U a p r op ó si t o da o b r a de D OM , “l a co m p l e xi t é j ur i di que
a s e s p r op r e s l o i s ” ( Le s mo n t ag e s e n dr o i t d e s s o ci ét és , ci t ., p . 7) .
376
P A U L A A . F O R G I O N I c o m en t a a s co n cl us õ e s d e I AN M C N E I L s ob r e a c o m p l e xi d a d e dos
n egó c i os : “ c a da ne gó ci o e s t á e n r a i z ad o ( “e m b e dd e d” ) e m r el aç õ e s c o m p l exa s , de f o r m a
q ue s e e xi ge se j a m c o n s i d e r a do s os e l e m e nt os e s s en c i a i s da s r e l a ç õe s q ue o s e n vol ve m ”
( T eo r i a .. c i t . p . 2 13 ) .
159

Imbricam-se no contexto que norteará o intérprete, como se viu,


caracteres peculiares como a colaboração das partes, a longa duração do
rel acionamento que os contratos parassociais patrimoniais têm por foco re grar
e o caráter programático/normativo de suas estipulações.

4.4.2 – Boa fé e tutela da confiança nas relações entre sócios. Estado de sócio
e expectativas legítimas.
a) boa-fé objetiva nas relações societárias

Voltando à primei ra alínea do art.131 do Codigo Comercial, tem-se que


a interpretação deve ser pautada pela boa-fé, sendo que o Código Ci vil de
2002 enunciou expressamente, no art. 113, que “[o]s negócios jurídicos devem
ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”.
Adicionalmente, prevê o art. 422 do Código Civil que “os contratantes devem
guardar assim na conclusão dos contratos, como em sua execução, os
princípios da probidade e boa-fé”.

Como tem sido evidenciado na doutrina, as disposições acima


transcritas relacionam-se com o império da boa-fé objetiva nos ne gócios
jurídicos. Na lição já consagrada de J U D I TH M A R T IN S -C O S TA a boa-fé objetiva
consiste em modelo objetivo de conduta, fundado em probidade e lealdade
com que o homem médio deve se comportar, adaptada ao contexto de cada
caso concreto 377.

377
Cu m p r e t r an s c r e ve r o e n t en d i m e nt o d a a ut or a de q ue “ p or ‘ b o a -f é ob j e t i va ’ – s egu nd o a
c on o t a ç ão q u e ad v ei o d a i n t e r p r et aç ã o c on f e r i d a ao § 2 42 d o Có d i go Ci vi l a l e m ão , d e l a r g a
f o r ç a e xp an s i o ni s t a em ou t r o s o r de n a m en t o s , e , b e m a s s i m , d a qu e l a q ue l h e é a t r i b u í da n os
p aí se s d a c om mon l a w – m o d e l o d e c o nd u t a s oc i a l , a r q u ét i po o u s t an d ard j u r í d i c o se gu nd o
o qu a l ‘ c a da p e s s oa d e ve a j u s t a r a pr óp r i a c on d ut a a e s s e a r qu é t i p o , o br a n do c o m o ob r a r i a
u m h o m em r e t o : co m ho n es t i da d e , l ea l d a de e p r o bi d a d e. P or e s s e m o de l o ob j e t i vo d e
c on d ut a l eva m -s e e m c o n s i d e r aç ã o os f at or e s c o nc r e t o s do c a s o, t a i s c om o o s t at u s pe ss o al
e c ul t ur a l d o s e n vol vi d o s, nã o s e ad m i t i nd o um a a p l i c aç ã o m e câ n i c a do s t a nd a r d, d e ti p o
m e r a m e nt e s ub s u nt i vo ” D a b oa f é. .. , c i t ., p . 41 1 , r ef e r i n d o- se a o b r as a n t er i or e s ( “ Os
p r i nc í p i o s i nf o r m a d or e s do c on t r a t o d e co m p ra e ve n d a i n t e r n ac i o n al n a C on ve nç ã o d e
Vi e n a de 1 98 0 ”, i n Re v i s t a d e I nf or ma ç ã o L e gi s l a ti v a , n . 1 26 , Br a s í l i a, ab r -j u n . 1 99 5 , p.
1 20 e “ Cr i s e e m o d i f i c a çã o d a i d éi a d e c o nt r at o n o d i r ei t o br a s i l e i r o , Re vi s t a do Di r e i t o d o
Co n s umi do r , Sã o P a u l o , R T, 1 9 92 , v. 3, p . 1 4 1 ) . No s pa c t o s p a r a ss o c i a i s , o f a t o de o s
c e l e br a n t e s s er e m s ó c i o s de v e s er f at or a c o ns i d e r a r n o c a s o co n c r et o , m od e l a nd o a bo a -f é
s e gu n do e s s e p ad r ã o .
160

Esse modelo, segundo a autora, ostenta, no moderno direito contratual,


um papel sistematizador 378, que se traduz em fonte de deveres de conduta,
prestação e proteção; em cânone de interpretação dos negócios jurídicos e em
limite ao exercício de direitos subjetivos 379.

Conforme acentua M EN E Z E S C O RD E I RO , a apreciação da boa-fé objetiva


em cada caso concreto faz evidenciar aqueles que, no contexto, são os valores
fundamentais do ordenamento jurídico, ultrapassando o exame de disposições
individualmente consideradas 380- 381.

Não se trata de cogitar, ao se referir ao predomínio da boa-fé objetiva


em negócios empresariais, de solução “desconectada da realidade dos negócios
e fundada em valores outros que não a busca do melhor funcionamento do
mercado”, mas, ao contrário, zelar para que a solução seja mais rente à
realidade do caso concreto, propiciando mais confiança no sistema 382.

378
Ai n d a c o m J U D I T H M A R T IN S - C O S T A , o pe r f i l si st e m at i za d o r da b o a -f é “ p e r m i t e e n co n tro
d e s o l u ç ão , p e l o i nt é r p r e t e , qu e n ã o e s t á n e c e s s a r i a m e n t e t i pi f i c ad a na s c a t e go r i a s i n t r a -
s i s t e m á ti c a s ” ( O s av a t a re s d o Ab us o d o D i r ei t o e o r u mo i nd i c ad o p el a Boa - Fé , T r a ba l h o
a pr e s e n t a do a o C on gr es s o I n t e rn a c i on al d e Di rei t o C i v i l - Co n st i t u co n al da Ci d a de d o Ri o
d e Ja n e i r o – 2 1 -2 3 d e s e t e m br o d e 2 00 6 , p . 3 3 ) .
379
I d em , p . 2 6 .
380
“ A bo a f é e xp r i m e , e m c a d a s i t u aç ã o c o n c r e t a , os val o r e s f u n d a m e n t a i s d a o r dem
j u r í d i c a. P o de m o s c on sid er ar q u e, ao s d i ve r s o s pr o b l e m as s o l u ci on a dos p el o Di r ei t o, n ã o
s e a p l i c a m , pr o p r i a m e n t e , n or m as i s o l a da s : a nt e s , t o d o o s i st e m a é c h am ad o a de p o r ”.
( Ma nu a l ..., c i t ., p. 18 5 ) .
381
An ot a L U I S G A S T Ã O P A E S D E B A R R O S L E Ã E S q u e a “ e xi gê n c i a da b oa -f é , p o r ém , é m ais
a c en d r a d a no s c ha m a d a s c o nt r a t o s i n t ui t u p e r son a e, on d e a pe s s o a d o co n t r a t a nt e – n ã o
i m p o r t a s e p es s o a f í s i ca o u j u r í d i c a , pa s s a a s e r e l e m en t o c au s a l do ne gó ci o, c o m o n a s
c ha m a d a s s oc i e d ad e s a n ô n i m a s d e pe s s oa s e n o s p ac t o s p ar as s o c i a i s ” ( Re s ol uç ã o de a c or d o
d e a c i o ni s t as p or q u eb ra de Af f e ct i o S o ci e t a t is i n AAV V , T e ma s d e D i r ei t o S o ci et á ri o e
Em pr e s a ri al . .. c i t . p. 4 47 . G r i f ou -s e )
382
Ad ve r t ê n ci a é d e P A U L A A . F O R G I O N I e m I nt e r p r e t aç ã o d e ne g ó c i o s em pr e s a r i ai s no
n ov o Có di go Ci v i l Br as i l e i r o i n RDM , n . 1 30 , p 27 . A a u t o r a t am b é m e s cl ar e c e , s ob r e a
n ec e s s i d ad e d e e x a m e d a b o a -f é e m t e r m o s c on c r e t o s, c on s i d er a d a a f u n ç ã o e c o nô m i c a e m
j o go , qu e “ [ s ] em pr e q u e o e x e r c í ci o d a f a c ul da d e as s e gu r a d a p or c l á u s ul a de s vi a r -s e d e s e u
f i m e c on ô m i c o [ i .e ., d e s u a f u n ç ão ec o n ôm i c a ] ha ve r á a b us o de di r ei t o. I gu al m en t e , o
a vi l t a m e nt o à b oa -f é , c om a f r us t r a ç ã o d a l e g í ti m a e xp e c t a t i va c on s i d e r ad a em t e r m o s
o bj e t i vo s , t a m b ém s e r á co m p o r t a m en t o r e pe l i d o pe l o s i s t e m a d e di r ei to c o m e r ci al , ai nd a
c om b as e no s a r t s . 1 8 7 e 4 22 ” ( A e v ol uç ã o. . . c i t ., p . 1 34 ) . Co m r e l a ç ã o a os pa c t os
p ar a s s o c i a i s , t am bé m o d i r e i t o s o c i e t á r i o , com o r am o do di r ei t o c om e r ci a l , d e p en d e d a
b oa - f é o b j e t i va e da p r o t e çã o d a l e gí t i m a e xp e c t at i va p a r a s u a hi gi d e z .
161

A tutela da confiança, a propósito, demonstra-se, na expressão de


M E N E Z E S C O RD E I RO , como um dos “princípios mediantes” da boa-fé, na
medida em que ela oferece aos partícipes do negócio meio de defesa das
legítimas expectativas que nele depositam, amparadas que são não pelo que
explicitamente se coleta dos termos do negócio, mas por todas as normas que
envolvem esse relacionamento contratual 383.

Isto posto, é preciso considerar que nas relações entre sócios – alvo dos
pactos parassociais patrimoniais, em ex ame – a boa-fé objetiva e a tutela da
confiança estão ligadas de modo indissociável aos deveres de lealdade e
colaboração a elas inerentes 384- 385, que serão tratados no ponto 4.5, bem como
ao estado de sócio de cada parte que, como já se apontou, é formado também
pelas disposições dos pactos parassociais

Seguindo a advertência feita por C O M P A RA TO , a interpretação que


desconsidere a boa fé nas relações societárias, objetivada pelos critérios da

383
“ A b oa f é op e r a , p or ve z e s, a t r a vé s d e p r i nc í p i os m e di an t e s . D es t e s , o m a i s si gn i f i c a tivo
é o da t u t e l a d a c o n f i a nç a . Co n t r a c en a nd o c o m a a u t o no m i a p r i vad a , a t u t e l a da c o nf i an ç a
o pe r a e m de f e s a da s r e p r es e n t a ç õe s l e gí t i m a s da c o nt i nu i d a de q ue o s di ve r s o s op e r a do r e s
j u r í d i c os s e m p r e c o l o ca m n a s m úl t i pl as o c or r ê n c i a s em q u e a s s e n t em a s u a ac t i vi d a de . A
s o ci e d a de é um a a b s t r a ç ão . Ape n a s a c on f i a n ça qu e o s p ar t i cu l a r e s t e n ha m na s u a
c on s i s t ê n ci a e n a f u nc i ona l i da d e da s n or m a s q ue a r o d ei am p e r m i t e a ope r a c i o na l i d a de d o
s i s t e m a ” ( Man u al .., c i t ., p . 1 8 5)
384
Na s í nt e s e de M E N E ZE S C O R D E I R O “ c o m o m an i f e s t a ç ão g er a l d a bo a -f é e d a t ut el a da
c on f i a n ç a, t em o s d e ve r e s de l e a l da d e : e nt r e s ó ci os e e nt r e e s t e s e o s a dm i ni st r a d o r es . A
r e a l i d ad e so c i e t á r i a e xi ge q u e a s p e s s oa s po s s a m c o n f i a r u m a s n a s o u t r a s , pe l o m en o s
f u nc i o n al m en t e . De ss e v e c t o r d er i va m v á r i a s a pl i ca ç õ e s, d es i gn a d a m e n t e a t r a vé s d a s
r e gr as ge r a i s d o ab u s o do d i r e i t o ” ( Man u al .., c i t . , p . 1 8 6) .
385
Ai n da s o b r e a b o a -f é n a s r el aç õ e s s oc i e t á r i a s c f . L A U R E N T G O D O N , L e s ob l i g a ti o ns des
a s so c i é s , P ar i s, Ec o no m i c a , 1 99 9 , p . 8 9 e s s . Va l e r e p r od u z i r , e m e s pe c i a l , s e u
e nt en d i m e nt o d e q ue “ em d e f i ni t i vo, o pr i n c í p i o d a b o a - f é t e m r e l evo co n s i de r á vel n o
d i r e i t o de s o c i ed a d es e s e i m p õe t a n t o na s r e l a ç õe s e n t r e as s o c i a do s q ue p e r an t e a p es s o a
j u r í c i a , s e j a pe r a n t e a e m pr e s a e m s i e nt en d i da c o m e um co n j u nt o s d e m ei os d e t r a ba l h o e
c a pi t al , i m p oo n do o r e s p e i t o do i n t e r es s e d os s a l a r i a d os , d o s c r e d or e s , d o s f or n e c ed o r e s,
q ue d o pr ó p r i o Es t a do ” “ En d éf i ni t i ve , l e p r i n cip e d e b on n e f o i a u ne po r t é e co n s i dé r a b l e
e n d r oi t d es s oc i é t é s e t s ’ i m p os e au t a nt d a s l e s r e l a ti on s e nt r e a s s oc i é s , qu ’ a ve c l a
p er s o n ne m or a l e , voi r e ave c l ’ e n t r e p r i s e e l l e m ê m e e n t e n du e c o m m e u n e ns e m b l e d e
m o ye n s e n t r a va i l et en c a p i t a l i m p o sa n t l e r e s p e ct de l ’ i nt ér ê t de s s a l a r i é s , d e s cr é a n c i er s,
d es f o u r ni s se u r s , voi r e d e l ’ Et a t l ui -m ê m e” ( p . 9 0- 91 ) . M a i s a di a n t e n a p . 9 1 , e xp l i c a s e r
u m d e ve r d i f u s o , a s e r o b s er v a d o em t o da s i t ua ç ã o f á t i c a de c o r r e nt e do f a t o d e o
r e l a c i on a m e nt o s o c i e t á r i o pe r d u r ar no t e m p o .
162

lealdade e colaboração facilmente resulta em “absurdos lógicos e graves


injustiças” 386.

Ocorre que, muitas vezes, essa preocupação é dirigida apenas à


interpretação do contrato de sociedade ou do estatuto social, ou ainda é
referida no exame de deliberações assembleares.

Com base no que se expôs, cumpre frisar, assim, que também os pactos
parassociais patrimoniais, porque instrumentos vitais para construção do
rel acionamento societário desejado pelas partes, devem ser ex aminados sob o
enfoque da boa-fé entre sócios.

b) Affectio societatis, confiança e expectativas legítimas

Além do exame da boa-fé objetiva nas relações societárias, ao se


interpretar um contrato parassocial patrimonial cabe ponderar que ele se
demonstra necessário para dar concreção à intenção das partes ao
associarem-se.

Em grande parte das sociedades anônimas fechadas, já se apontou, a


figura de cada sócio (com sua reputação e específicas contribuições)
prepondera sobre sua mera contribuição de capit al. Ao buscar um sócio,
ressaltou-se, as partes procuram o parceiro com que, juntos, perseguirão seus
objetivos econômicos.

Nesse sentido, verifica-se entre os sócios um estado de ânimo


continuativo que os leva a colaborar na busca pelos resultados almejados,
resumido na expressão affectio societatis 387- 388.

386
“N ão r e s t a dú vi da d e qu e es s a c a r ac t e r í s t i ca d e c o n t r a t o d e bo a -f é va r o u o s s é cu l o s e
m a r c a a i n da , f u n da m e n t al m en t e , a s n o s sa s s oc i e d a de s de p es s o a s , m e s m o r e ve s t i d a s d a
f o r m a a c i on á r i a . O i n t é r pr et e nã o p o de , po i s , de i xa r d e l e var e m c o ns i d e r a çã o e s s e
p r i nc í p i o , s ob pe n a d e co m e t e r , no s um mun i u s f o r m a l i st a , a bs u r d os l ó gi co s ou gr a v e s
i n j u st i ç as ” ( Re s t r i ç õ e s à c i r cu l a ç ão de a ç õe s em c o mp an h i a f ec h ad a : no v a e t v e t er a i n
No v os En s ai o s .. ci t ., p . 40 ) .
163

Derivam desse estado legítimas expectativas sobre o comportamento de


cada um dos sócios, com base naquilo que objetiva e concretamente se espera
de alguém que se toma por sócio e, ainda, no contexto de cada específica
sociedade, o que se espera de cada um dos sócios 389.

Essas expectativas legítimas, objetivadas pelos deveres de sócio acima


referidos; pela boa-fé que deve imperar nas relações societárias; e pelo escopo
comum que determina a própria reunião das partes em sociedade, devem
servir, também, como componente importante do processo interpretativo,
tendo em vista que a affectio societatis que as gera enseja “uma exacerbação
do cuidado e diligência próprios de um contrato bona fidei” 390- 391.

387
F u nd a m e nt a l , p a r a o t em a, o t e xt o Re s t r i ç õe s à c i r c ul aç ã o d e a ç õe s e m c o mp anhia
f e c ha d a: n o va e t v et er a d e F A B I O K O N D E R C O M P AR A T O i n No v os E ns a i o s e Par e c e r es d e
Di r e i t o Empr e s a r i al , F or e n s e, Ri o , 1 9 81 , p p .3 2 - 5 1 . Cf . t a m b ém , no d i r e i t o f r a n cê s , e m qu e
a n o ç ão de a f f e c t i o s oc i e t at is é m u i t o u t i li z a d a n a j ur i s p r u dê n c i a A L A I N V I A N D I E R , L a
No t i o n D’ As s o c i é , P ar i s , LG DJ , 1 97 8 , p p .75 -9 1 .
388
A u t i l i z a ç ã o “ a c r í t i c a e a bu s a da ” d a no ç ão d e af f ec t i o s o ci e t at i s é cr i ti c a da n o t e xt o de
E R A S M O V A L LA D Ã O A ZE V E D O N O V AE S F R A N Ç A e M A R C E L O V I E I R A V O N A D AM E K , “ Af f e c t i o
s o ci e t a ti s ” : um c o nc e i t o s u p er a d o n o mo de r n o d i r e i t o s o c i et ár i o pel o c on c ei t o d e f i m
s o ci a l i n Te ma s d e Di re i t o S oc i e t á r i o , Fa l i me n t a r e T eo r i a da Em pr e s a, Ma l h e i r o s , Sã o
P au l o , 2 0 09 , p p .2 7-6 8 .
389
Na s s o ci ed a d es f e c h a d a s , a d e f i n i ç ão d e p ap é i s d i ve r s o s d os s ó c i os é t r aço c o m um . P ode
h av e r o s ó c i o i nve s t i d or e o s óc i o “ e m pr e s á r i o ”, o s ó c i o d e t e nt or d a te cn o l ogi a e a qu e l e
c om e xp er i ê n c i a co m e r c i a l no m e r c ad o de a t u a ç ã o da c om p a n hi a , e n t r e ou t r o s . É m e s m o
i n t ui ti vo q u e, p a r a a r e a l i z a çã o de a t i vi da d e c o m e r c i a l , as p a r t e s p r oc ur e m n o o ut r o a s
q ua l i d a d es e p o t e nc i a l i da d es qu e , s o z i nh a s , n ã o os t e n t a m .
390
Na o p i ni ão d e C O M P A R A T O : “ A af f ec t i o soc i e t a t is é , po r t a n t o, não u m e l e m ento
e xc l u s i vo do c on t r a t o d e s o c i e da d e , di s t i n gu i n do -o do s d e m ai s c o n t r a t o s , m as u m c r i t é r io
i n t e r pr e t at i v o dos de v e r e s e r e s po n s ab il i d a de s d os s ó c i os e nt r e si , e m vi s t a d o i nt e r e s se
c om um . Que r i s t o s i gnif i ca r q ue a s oc i e d a d e n ão é a ú n i c a r e l a ç ã o j u r í d i c a m a r c a d a p o r
e s s e e s t a d o d e â ni m o c o nt i n u a ti vo, m as q u e e l e c o m an d a, n a s o c i ed a d e, um a e xa c e r b a ç ã o
d o c ui da d o e di l i gê n c i a p r ó pr i os de u m c o nt r at o b on a f i de i . Em e s p ec i a l , o s óc i o qu e
d es c u m p r e d i s p os i ç ã o e s t a t u t á ri a e , s ob r e t u do , c o nt r a t u a l ( p oi s a r e l açã o c o n ve n c i on a l é
ma i s p es s o a l e c on c r et a q u e a s u b mi s s ão a n orm as e s t a t u t ár i a s ) c o m o é o c a s o de a c or d o s
d e ac i o n i s t a s n um a s o c i e da d e a nô n i m a , p r at i c a f al t a pa r t i cu l a r m e n t e gr a ve s ob o a s p ec t o d a
é t i c a s oc i e t á r i a ; e l e s e p õe e m c o nt ra d i ç ão c o m s u a a n t e r i or e s ti p u l a ção ou d e c l ar a ç ão d e
v on t a d e, r e ve l a n do - s e p es s o a p ou c o co n f i á ve l en q ua n t o s óc i o ( ve n i r e c on t r a f a c t u m
p r op r i u m ) ” ( Re s t r i ç õ e s. . ., c i t , p. 39 . G r i f o u-s e ) . C f ., a i n d a, A L A I N V I A N D IE R , L a no t i o n ...,
c i t ., p. 7 9.
391
Co m e nt an d o a e s p é ci e do s a c or d o s de a c i o ni s t as , es c l a r e c e L E Ã E S q u e “ s e j a q ua l f o r s eu
c on t e ú do ( . ..) , o a co r d o de a c i o n i s t a s é n or t ea d o s e m pr e pe l o i n t e r e s s e c om u m d o s
p ac t u a n t es . Ne s se s a j u s t e s pr e va l e ce s e m p r e a m e s m a e xi gê n ci a d e d ur a ç ã o d o c on s e ns o e
d e co m u nh ã o de e s c o po q u e vi go r a no s c o nt r at o s d e s oc i e d a de . Aus e n t e s e s sa s c o n di ç õ e s , o
a c or d o f i c a r á i gu a l m e n t e c om p r o m e t i do , e , po r c o n s eq u ên c i a , s e t o r na r á s us c e t í vel d e
164

Nesse ponto e em conclusão, cumpre transcrever a lição de C O MP A R A TO


de que a affectio societatis é composta de dois elementos, a fidelidade e a
confiança, que devem também orientar a intepretação dos pactos parassociais
patrimoniais:

“[a ] fidelidade é o escrupuloso respeit o à pala vra dada e ao


entendi mento recíproc o que presidiu a constituição da soci edade, ainda
que o quadro social se haja alterado, mesmo completamente. Por outro
lado, a confiança é t ambém um de ver do sócio para co m os de mais,
dever de tratá-los não como contrapartes, num contrato bilateral em
que cada qual perse gu e interesses indi viduai s, mas co mo c ol aborad ores
na realização de um interesse comum”

Assim, espera-se ter demonstrado, já de antemão, que qualquer iter


hermenêutico que prescinda do exame dos elementos acima apontados no
contexto global da associação societária entre os celebrantes afi gura-se
inidôneo aos pactos parassociais patrimoniais e à função econômica que
desempenham.

4.5 – Ele mentos de interpretação baseados e m alguns princípios de


sustentação à lógica societári a

Do que se expôs acima e desdobrando o exame dos critérios mais


tradicionais de interpretação dos ne gócios jurídicos, parece ser útil e
necessário, a seguir, apurar como alguns princípios que oferecem sustentação
à própria lógica inerente a qualquer relacionamento societário podem ser
utilizados na interpretação dos contratos parassociais patrimoniais pois, como
salienta T R A J A NO DE M I R A N D A V A LV E R D E ,

“A ili citude de um ato pode simplesment e decorrer da sua


incompatibilidade com um si stema ou uma det er minada insti tuição.
Assim, em matéria de soci edade (…) não é exato dizer-se que tudo o
que não é proibido, é permitido; cada insti tuição legal tem um
mecanismo e uma funç ão própria, e o que desnatura essa função e força
esse mecanismo é ilegal ” 392

e xt i nç ã o ” ( Re s ol uç ã o d e a co r d o d e a ci on i s t a s por q u eb r a de Af f e c t i o So c i e t at is i n AAVV,
T e ma s d e Di r e i t o S o ci e t á r i o e E mpr e s a r i al ... c i t . p . 4 48 ) .
392
S oc i e d ad e s An ô ni mas , Ri o , B or s o i , 1 9 37 , p. 33 2 -33 3 .
165

4.5.1 - Escopo comum: a base da noção de sociedade

A noção de sociedade, no direito brasileiro, é dada pelo art. 981 do


Código Civil: “celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente
se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade
econômica e a parti lha, entre si, dos resultados”.

Do enunciado se depreende que aqueles que celebram sociedade


pretendem colaborar para atingir um escopo definido pelas partes 393, cujos
resultados serão compartilhados 394. A reunião de esforços e recursos não é
eventual, ocasional ou despropositada: ela atende a essa busca por frutos a
partilhar 395.

393
K A R S T E N S C H M ID T e s cl ar e c e q u e s e es t á e m vi s t a de um es c o p o c o mu m , ú n i co,
p er f i l ha d o p el as pa r t e s; nã o a c o mu nh ã o, p el as pa r t e s , de vá r i o s e s c op o s / f i n al i da d e s
i n di vi d u a l m e nt e pe r s e gui d o s . Ou se j a , um e s c op o c o m um s up r a -i n di vi d u al
( “ üb e r i n di vi d u e l l e r V er b a n ds z we c k” ) . Cf . G es e l l s c h af t s re c h t , c i t ., p . 61 . Op t a -s e, n e s t e
t r a b al ho , p o r pr i vi l e gi a r a l o cu ç ã o e s c o po c omu m e m d e t r i m e n t o d e f i m s o c i a l , n a m ed i d a
e m q ue a pr i m e i r a r es s a l t a a u ni ã o da s p a r t e s pa r a a co n s ec u ç ã o d o ob j e t i vo, a i nd a qu e o
m e s m o nã o s e po s s a f az e r q u an d o s e e s t i ve r d i an t e d e s oc i e d a de s u ni p es s oa i s , o q u e nã o é
o c a s o n e s t e t r a ba l h o. A no ç ão d e e s c op o co mu m p od e d i vi d i r -s e n o ob j e t o so c i a l e n o
r e s ul t ad o f i nal ( l u c r o ou va n t a g e m e co n ô m i ca ) , s e n do o p r i m e i r o a a t i vi d a de n ec e s s á r i a
p ar a a o bt e n ç ão d o s e g un d o. P a r a a i nt e r p r e t a çã o do o bj et o s o ci al e a s c on s e qu ê n ci a s d e
s u a a l t e r a ç ã o e / o u d e s vi o, c f . o c l á s s i c o t e xt o de J O S É A L E X A N D R E T A V A R E S G U E R R E I R O ,
S ob r e a i n t e rp r e t a çã o d o ob j e t o s oc i a l , i n RDM 5 4 , p p. 67 -7 2.
394
A R T U R O D A LM A R T E L L O , e m r e s u m o, a f i m a q u e “ [ l ] a c a u s a d el c ont r at t o di s o cietà
c on s i s t e r e b be ne l l ’ i nt en t o co m u ne d el l a d i vi s i o ne d ei gu ad a gn i , n e l l a vo l o nt à d ’ un i o n e,
n el l a or ga n i z za z i o ne c o l l e tt i va d e l l e f o r z e p a t r i m on i a li s i n gol e ( ... ) , n el l a m i r a d el
r a ggi u n gi m en t o d ’ un f i n e c om u n e , o ne l l a c o m u na n za d i s c o po , e t c . et c . . ( I Co n t r at t i d el le
I mp r e s e Com me r ci a l i , P a d o va , C e d a m , 1 9 58 , p . 21 1 ) .
395
Cu m pr e r e p r od u zi r o e n t e nd i m e n t o d e H E R M E S M AR C E L O H U C K p ar a q u em “ é c on c eito
a s s en t e qu e a co m u nh ã o d e e s c op o f u n ci on a c o m o o e l e m e n t o u ni fi ca d o r d e q u al q u e r
r e l a ç ão s o ci e t á r i a , s e j a q ua l f o r a f o r m a j u r í d i c a a t r a v és d a qu a l s e e xt e r i o r i z e. Se , n u m
c on t r a t o qu al q ue r , a s p ar t e s p osi ci o n am - s e d i a l e ti c a me nt e f r e n t e a f r e nt e , j á n a s
s o ci e d a de s c o l oc a m- s e l a do a l a d o, vo l t a d as p ar a o f i m c om um. É e s s e d es e n ho q u e de f i n e
a pr ó p r i a f i l o so f i a i n f or m ad o r a do c on c ei t o b á s i c o d e s o c i e da d e . No ca s o es p e c í f i c o d a s
s o ci e d a de s c o m e r ci ai s, o f i m c o m um al m ej a d o , e m t o r n o d o q ua l – e p a r a qu a l – r e ún e m -s e
o s só c i o s , é a p r o du ç ã o d e l uc r o s . Há u m a d e c i s ão c o nj u n t a de c o nj u g aç ã o d e e s f or ço s e
t r a b al ho , s egu un d o u m a e s t r u t ur a or ga n i c am e n t e e s t r u t u r ad a e m b usc a d e s s e o bj e t i vo ”
( Pa c t o s S oc i e t á r i os Le o ni n o s , c i t ., p . 6 6. Gr i f o u -s e) .
166

Em todas as relações geradas a partir do contrato de sociedade, o escopo


comum passa a “estrela polar” 396 que orientará seu desenvolvimento. Na
expressão de W I ED E MA N N , o escopo comum acordado pelos sócios é a lei vital
da sociedade 397.

De modo especial – é preciso enfatizar – o escopo comum norteia as


relações que se travam entre os sócios, levando à instauração – não apenas
perante a sociedade, mas também entre eles — de deveres 398. Segundo
A U LE T TA , a comunhão de escopo deve considerar-se constantemente presente
na determinação e na interpretação das obrigações dos sócios, pois eles
elegem, como fim essencial de sua relação, a sua consecução 399.

396
Exp r es s ã o d e W I E D E M A N N , a p l a ud i d a po r E R A S M O V A L LA D Ã O e M A R C E LO V O N A D A M E K ,
q ue r e pr o d uz e m a l i ç ã o d o m e s t r e al em ã o de qu e o f i m s oci a l “ al ém d e s e r el e m e n t o
c on s t i t ut i vo ( ...) t am b é m é do t a d o d e ef i c á c i a f u nc i o n al ( f un kt i o ne l l e W i r kun g) , p oi s : ( i )
f i xa a s d i r e t r i z es d a p o l ít i c a s oc i a l ; ( ii ) d e t e r m i n a o s d i r e i t o s e d e ve r e s do s s óc i o ( e m
e s pe c i a l s u a i n t e ns i d a de ) , de l i m i t a nd o , a s s i m , a s e s f e r a s i n di vi d u al e c ol e t i va ; e ( i i i ) d i r i ge
o s es t ági o s d a vi d a s oc i a l . Co m e f ei t o, a s r el aç õ e s en t r e s ó c i os e e n t r e e s t e s e a s o c i e da d e
é m a r c ad a p e l a f i n al i da d e c om u m ” ( “ ‘ Af f e c t i o S o ci et a t is ’ . ..” , c i t . p. 45 ) .
397
“ de r ve r e i nb a r t e Zw ec k i st d a s Le b en s g e se t z t d e s Ve r b an d e s” ( G es e l s c h af t sr e c h t , c i t, p.
1 0) .
398
“A ef i cá c i a f un c i o na l d a de t e r m i n a ç ão d o f i m s o c i a l r e ve l a -s e ( …) n a m ed i d a em q ue
i m p r e gn a o c on t e ú do d a s r e l aç õ e s j u r í d i ca s e n t r e a c or p o r a ç ã o e o s m e m br o s , e a q u el a s d o s
m e m b r os e n t r e si ” ( “ Di e f u n kt i on e l l e W i r ku n g d e r Zw ec ka br e d e er w ei s t s i ch ( … ) da β s i e
d i e R e c ht sve r h äl t ni ss e z wi sc h e n ve r b a nd u n d M i t gl i ed u n d di e j e n i gen z wi s c h e n de n
M i t gl i e d er n u n t e r ei na n de r i nh a l t li c h p r ägt ” H E R B E R T W IE D E M A N N , i de m , i bi de m ) .
399
N o o r i gi na l : “ [ l ] a c om u n i on e de l l o s co p o è da t e ne r s i c o st an t e m e n t e p r e s en t e , n el la
d et er m i na z i o ne e ne l l a i n t e r p r e t a zi o n e de gl i o bb l i gh i de i s o c i ; qu e s ti p on gon o c om e f i n e
e s s en z i a l e d e l l or o ac c o r do i l r a g gi un gi m e nt o di t a l e s co p o” ( I l C o n t r a tt o d i So c i e t à
Co m me r c i a l e . Re qu i s i t i – Co n c l us i o n e – Vi z i , Mi l a no , Gi u f f r è, 1 9 37 , p. 56 ) . L A U R E N T
G O D O N , co m e nt an d o a d i s p os i çã o d o C od i go Ci vi l F r a n c ê s q ue i m p ô e q u e a s oc i e d ad e s e j a
c on s t i t uí d a n o i n t e r e s s e co m u m d as p a r t e s , e xpl i c a q ue e s s a r e da ç ã o “ c o l o ca e m e vi dê n c i a
a co m u nh ã o d e i nt e r e s s e s q u e l i ga os m e m b r o s e qu e se o põ e a q u e e l e s p e r s i g am s e u
i n t e r e ss e p a r t i c ul a r , e go í s t a , i n co m p a tí vel c o m o e s p í r it o s oc i et á r i o . P or c o ns e q uê n c i a , a
c on s e c uç ã o d a e xp l or a ç ã o é pr e c e di da t a m bé m d a n ec e s s i d a de de um e s p í r it o d e un i ão
n aq u i l o qu e o de c a no Ha m e l e n xe r gou c o m o o p r i m e i r o el em e n t o e ss e n c i a l do c o nt r a t o de
s o ci e d a de ” ( n o o r i gi n al : “ m et en e vi de n c e l a c o mmu na u t é d’ i n t é r ê t s qui li l e s m e m b r e s et
q ui s ’ o p po s e à c e qu e c er t ai n s p ou r s u i ve n t l e ur i nt é r ê t p a rt i c ul i er , ég o ï s t e , i n co m p a t i b le
a ve c l ’ e s p r i t s o ci ét ai r e. P a r c o ns é q ue n c e , l a r é u s s i t e d e l ’ e xp l o i t a ti o n pr o c è de -t -e l l e a u s si
d e l a né c e ss i t é d’ u n es p r i t d ’ u ni on d an s l e q ue l l e D o ye n H am e l vo ya i t l e pr e m i e r é l é m e nt
e s s en t i e l d u co n t r a t d e s o c i é t é ” ) Le s o bl i ga ti o ns d e s as s o c i é s , P a r i s , Ec on o m i c a , 19 9 9, p.
8 6. Ma i s a d i a nt e, na m e s m a pá gi n a , c on c l u i qu e “ pa r a a l é m d as o b r i gaç õ e s pa t r i m o n i a i s e
o bj e t i va s , o c on t r a t o d e s o c i e da d e e xi ge o r e s p ei t o d e o br i ga ç õe s e xt r a p a t r i m o ni a i s e
s u bj e t i va s q ue se qu a li f i c a r i a m d e ‘ p ol í t i c as’ ” ( no o r i gi n al : “ a u-d e l à d ’ en g a ge m e n t s
167

Em síntese, fica-se com a lição de J.X. C A R V A LH O DE M EN D ON Ç A de que


“ os sócios cooperam para o escopo comum, e, em lugar dos interêsses
antagônicos ou opostos, que se observam nos outros contratos, no de
sociedade, todos os sócios se esforçam para o mesmo resultado, no qual estão
empenhados 400”

4.5.2 - Deveres dos sócios

Da noção de sociedade depreende-se que o dever primordial de todo


sócio é contribuir com recursos para que o escopo comum ou fim social seja
realizado e, com isso, os resultados da atividade sejam atingidos e partilhados.
Nada obriga o sócio, porém, a perseguir o escopo comum com todos os seus
meios, renunciando integralmente à sua individualidade, a exemplo das
comunidades de matiz socialista 401, vedando-se, assim, prestações
suplementares não previstas no estatuto social 402.

Desse dever ori ginal, pecuniário, desdobram-se deveres laterais de


conduta, gerados pela própria participação na sociedade, inte grantes do estado
de sócio (“Mitgliedschaftspflichten”, na doutrina alemã) 403- 404.

p at r i m on i a u x e t o b j e ct i f s , l e co n t r a t d e s o c i é t é e xi ge l e r e s pe c t d ’ o bl i ga t i o n s e xt r a -
p at r i m on i a l e s e t s u bj e ct ive s q u e l ’ o n q u a l i f i e r a d e po l i ti qu e s ”) .
400
T ra t a d o d e Di r e i t o C ome r c i a l Br as i l e i r o , Vo l . 3, 4ª e d. , Ri o d e J a ne i r o , Li vr ar i a Ed i t ora
F r ei t as B a s t os , 19 4 5, p . 1 4.
401
W I E D E M A N N , Ge s e l l s c ha f t s r e c ht , p . 11 , i n v e r bi s: “ Di e Mi t gl i e de r si nd al l er d ings
n i r gen d s ve r p f l i c h t et , d en Ge m e i n s ch a f t s z we c k m i t a l l en M i tt e l n z u un t e r s t ü t ze n u nd i h r e
I n di vi d u al i t ä t a u f zu ge be n : d i e Ge s e l l s c ha f t i st k ei ne ‘ Leb e n s ge m e i n s ch a f t ’ ” .
402
Es s a r e gr a p r o t e t i va d e ve s e r so p e sa d a , em c a da c a s o, c o m as r e a i s n e c es s i d a d es da
s o ci e d a de e c o m o q ue g l o b al m en t e f o i c o nc o r d a d o e nt r e os s ó c i o s.
403
P a r a K A R S T E N S C H M I D T “ a p a r t i c i p a çã o s o ci et á r i a c o m o r e l a ç ã o j u r í d i ca e n seja
p r er r o ga t i vas e n t r e o s s óc i o s e a s o ci ed a de , m a s t a m bé m e n t r e o s pr ó p r i o s s ó c i o s. Es s a
d ua l i d a d e d e o r i e n t a ç ão de p r e r r o ga t i va s t e m s i gn i f i c ad o , s ob r e t u do , p a r a o s de ve r es d e
l e a l d ad e e c o ns i de r a ç ão , a t é a j us t i f i ca ti va p ar a d e ve r e s de r e s s ar c i m e n t o de d an o s ” ( n o
o r i gi na l : “ [ d ] i e M i t gl i ed s c ha f t a l s Re ch t v e r hä l t ni s b egr ü nd e t e i ne S o n d er r e c ht be z i e h un g
z wi s c h e n d e m Mi t g l i e d u nd d e m Ve r b an d , a b er au c h un t e r d e n Mi t gl i ed e r n s e l bs t .
Be d e ut u n g h a t di es e m e h r f ac h e Ri c h t un g d e s S o n de r r e c h t s ve r h ä l t n i s s es vo r a l l em f ü r d i e
Lo ya l i t ä t s -u nd Rü c ks i c ht s pf li ch t e n bis hi ne i n in die B e gr ü nd u n g vo n
S ch a d e n e r s at zp f l i c h t e n” .) Ge se l l sc h a f t sr e ch t , c it ., p . 5 52 . No d i r e it o a le m ão é m u i t o m a is
c l a r a a r el aç ã o en t r e a c i o ni s t a s , at é p el a s e çã o e s pe c í f i c a d a Akt G ( § 53 ) . Na m e s m a l i n h a,
168

Trata-se de deveres decorrentes do mandamento geral da boa-fé na


execução do contrato de sociedade e da necessária confiança que deve haver
entre os sócios 405- 406, os quais devem ser observados para maior segurança nas
rel ações societárias, ainda quando não haja disposições legais expressas que o
determine.

São, portanto, “parte fundamental do direito societário ‘não escrito’ 407


ou, para adotar a terminolo gia de E RO S R O B E R T O G R A U , do direito
pressuposto. Instrumentalmente, são necessários à consecução do escopo
comum e da manutenção da rel ação societária entre as partes.

a po n t a M E N E Z E S C O R D E I R O : “ A l e al da d e e xi gí ve l a o s s ó c i os i n s c r e ve -s e no se u pr ó p r i o
s t a t u s e n q ua n t o s ó c i os . Ta l s t a t u s exp r i m e um a s é r i e de d i r e i t o s e d e de v e r e s, í ns i t os na
p r óp r i a i d e i a de p a r ti c ip aç ã o s oc i a l . Ent r e o s d ev e r e s e m ca u s a i nc l u e m s e , pr e c i s a m e nt e,
o s d a l e a l d ad e . Tr a t a s e d e u m a i de i a a n ti ga , d e p oi s r e t om a d a e a p r o f un d ad a . Hoj e,
p od e r e m os f a l a r , ne s t e d om í n i o , n o e xe r c í c i o d a s p o si çõ e s s oc i a i s d e ac or d o c om a b o a f é,
s e gu i n d o s e a s vi as d e c on c r e t i z a çã o d es t e i n s t it ut o : t u t el a d a co n f i a nç a ( p . e x., p r oi bi ç ã o
d e ve n i r e c on t r a f a c t u m p r op r i u m ) e p r i m a z i a d a m a t e r i a l i da d e s u bj a c e nt e ( p. e x.,
p r oi b i ç ã o de a c t os e m u la t i vo s) . ( A l e a l d ad e no d i r e i t o de s o c i ed a de s . ci t . p. 8. ) . P o r f i m ,
A N I B A L S A N C H E Z c o ns i de r a qu e n o l a do pa s s i vo d a p o s i ç ão j u r í di ca d o s ó ci o “ l a ún i c a
o bl i ga c i ó n pr o p r i a m en t e d i c ha d e l s ó c i o es l a de r e a l i z a r l a a p or t ac i ó n pr o m e t i d a . Co n e s t a
a f i r m a c i ón n o s e de s c a r t a , s i n e m b ar go , l a po s i b l e r e l e va nc i a o ca s i o n al d e un di s cu t i d o
‘ d ev e r de f i d e l i d ad ’ , d er i va d o ( .. .) de l a a p l ic a c i ón e s pe c í f i c a d e l pr i nc i p i o ge n er a l d e
b ue n a f e y d e l p os t u l a do de c o l a bo r a c i ón d e l sóc i o a l ‘i n t e r é s c om ú n ’ q ue , p o r na t u r a l e z a,
d i s ti n gu e al c o n t r a t o d e s o c i e da d e n t o d as s u s m a n i f e s t a ci on e s ” ( C o me n t á r i os . .. c i t . p p.
9 9-1 0 0) .
404
Va l e nd o -s e de o u t r a t e r m i n ol o gi a , D A LM A R T E L L O r e s s al t a a exi s t ê n c i a d e o b ri ga ç õe s do
s ó ci o f u nd a d as n a n e c e s s i d a d e d e s u a c ol a b or aç ã o p a r a a c o ns e c u çã o do e s co p o c o m um .
( “ [ l ] ’ o bb li ga z i on e d el so c i o , p er ch i vo gl i a p e n e t r a r n e i l p i e no c on t e n ut o, n o n c o m p r e nd e
s o l t a nt o l a p r est az i o ne p a t r i m o n i al e e s t a ti c a de l c o nf e r i m en t o , m a a nc h e q u e l l a
s q ui s it am e n t e p e r s o na l e e d i na m i c a de l l a c ol l ab o r az i o n e. I s oc i m e tt o n o i ns i e m e d el le
e nt i t à p a t ri m o ni a li e s’ i m p e gna n o d i i m p i e ga r l e, c o l l a bo r a n do i n un a i m p r e s a . S c op o
i m m e d i a t o d e l c on t r a tt o d i so c i e t à è p e r t a nt e l ’ ob b l i go d i c on f e r i r e e c o l l a b or a r e ; s c op o
d el l a c o l l a bo r a z i on e è i l gu a d a gn o s o ci al e e l a s ua r i p ar t i zi on e f r a i si ngo l i s o c i ” . I
Co n t r at t i ..., c i t ., p. 21 1 ) .
405
Sí n t e s e f u nd a da e m H E I N R I C H L E H M A N N , G e s e l l s c ha f ts r e c h t , 3 ª Ed . a t u a l i z a da p or R ol f
Di e t z , F r an z V a hl e n , B e r l i n , 19 7 0 ( “ Di e Tr e u e p f l i ch t , d i e s i ch a us d e r e n ge n
Ve r b un d en h e i t de r Ge s e l l s c ha f t e r und dem V er t r au e n e r gi b t , das s i e s i ch
e nt ge ge nb r i n ge n m ü ss e n , um ge m e i ns a m e i n Ha n de l s ge w e r b e z u b e t r e i be n , i s t ge g e nü b e r
d er bü r ge r l i c h- r e c h t l i c h en Ge s e l l s c h af t en ge s t e i ger t ” ) .
406
Cf . C O M P A R A T O , “ Re s t r i ç õ es … ” , c i t ., p . 4 0, m e nc i o n ad o n a no t a # , a c i m a .
407
Na e xp r es s ã o de K A R S T E N S C H M I D T , “ [ d ] i e Tr e ue p f l i c h t e n m a c h en e i n en we s e nt l i ch en
Te i l d e r ‘ u n ge s ch r i e b e n e n Le g al o r d n un g’ i m G e s el l s ch a f t s r e c ht ” . G es e l l s c h af t s re c h t , c i t .,
p . 4 88 .
169

Baseados no caráter fiduciário da relação societária, comumente são


desi gnados deveres fiduciários (fiduciary duties 408) ou, no alemão,
“Treuepflichten” (deveres de lealdade). Sua formulação teórica remonta ao
século XIX, tendo sofrido avanços e retrocessos que marcaram o direito
societário no decorrer do século XX, principalmente no direito alemão 409.

Com base na doutrina alemã, mais avançada na matéria, pode-se


apontar, sob a designação ampla de deveres de lealdade (“Treuepflichten”), o
dever mais genérico de perseguir e fomentar o escopo comum,
(“Zweckförderungspflicht”), o dever de lealdade propriamente dito
(“Loyalitätspflicht”), o dever de consideração e respeito 410; na doutrina
italiana, enfatiza-se o dever de colaboração 411.

408
Cf . M E N E Z E S C O R D E I R O , A l e a l da d e no d i r e i t o de s o ci ed a de s , i n R e vi s t a d a Or de m dos
Ad vo ga do s , d e z / 20 0 6.
409
P a r a a n á l i s e da e vo l u ç ão do s d e v e r e s d e l ea l d a d e e s ua c on f i gu r aç ã o c o m o d e ver d e
a uxí l i o e c on s i d er a ç ã o , c f . H E R B E R T W I E D E M A N N , Ví n c u l os de L e al da d e e r e gr a d e
s u bs t a n ci al i da d e: u ma c om pa r aç ã o de s i s t e ma s , i n AAVV, Te ma s de Di re i t o S o ci et á r i o e
Em pr e s a ri al C on t e mp or â n e os .. . c i t . p p. 14 7-16 8 , o nd e há a s pr i nc i p a i s r e f er ê n c i a
b i bl i ogr á f i c a s n o Di r ei t o Al e m ã o . A de m a i s , pa r a co m p l e t a a n á l i s e d o d e s en vol vi m e n t o
h i s t ó ri c o d o s “T r e ue p f l ic h t e n” n o d i r e i t o a l e m ão, c f . P E T E R S T E L Z I G , Z u r Tr e u ep f l i ch t d e s
Ak t i o n är s u nt e r be s o nd e r e r Be r üc k s i c h t i g un g i hre r g e s ch i c h t li c h en Ent wi c k l un g , 2 00 0 . Cf .
a i n da , A N T Ó N I O M E N E Z E S C O R D E I R O , A l ea l d a de n o d i r e i t o da s s oc i e d ad e s i n R e vi s t a d a
Or d e m d o s Ad v o ga d os , Li sb o a , d e z / 20 0 6, ( n ú m er o s de pá gi n as n ão i nf o r m a d os . Te xt o
d i s po n í vel em
h t t p: // www .o a. pt / Con t e u do s / Ar t i go s / d e t a l he _ a r tigo. as p x ?i dc = 30 7 77 &i d s c= 5 41 0 3 &i d a =5 4 1
2 9) .
410
Es s a e s c a l a é e nu n ci a d a po r K A R S T E N S C H M I D T q u e , c o m r e l a çã o a o di r ei t o a l e m ão,
i n di ca s e r e m os d e ve r e s d e l e a l d a de ( T r eu e pf l i c ht en ) o s m ai s i m po r t a n te s d e ver e s l e g ai s,
c om p a r a nd o -s e a o s de v er es d e c o nt r i bu i ç ã o a o ca p i t a l ( Be i t ra g s pf l i c ht e n ) , q ue e nt en d e m
c on t r a t u ais , ou s e j a , f u nd a do s n a p r e vi s ão d o e s t a t u t o so ci a l a r e s pe i to . C om r e l a ç ã o a o s
p r i m e i r o s, es c l a r e c e o a ut o r q ue l e va m p o r s ua ve z a de v e r e s l a t e r a i s . T od o s o s d eve r e s
s e r i a m , a s si m , r e s ul t ad o e c o n c r e t i z a ç ão d o d e ve r ge r al s o c i e t á r i o de f o m en t o a o e s c op o
c om u m ( Z we c k f ör d e r un g s pf l i c ht ) . Ge s e l l s c haf t sre c ht , c i t ., p. 55 7 . No Br a s i l , c om o s e ve r á,
o s de ve r es de l e a l d ad e d os s ó c i o s e nt r e si en c on t r a m f u n da m e n t o no d e ve r g e r a l de b o a -f é,
i n e xi s t i nd o d is po s i ç õ es e sp e c í f i c a s à e x ce ç ã o do ca s o d o c on t r o l a d o r , a o qu a l a l ei
6 .4 04 / 7 6 i m p õ e e xpr e s s a m e nt e d e ve r e s d e l ea l d a de e c o ns i de r a ç ão p a r a c om o s d e m a i s
a c i on i s t a s .
411
Ta m b é m na d o ut r i na b r a s i l e i r a é t r a di ci on a l a re f e r ên c i a a o de v er de c o l a bo r a ç ão , c o mo
s e p o de de p r e en d er d a p a ss a g e m d e J . X C A R V A L H O D E M E N D O N Ç A : “ o s s ó ci os de ve m
m a ni f es t ar a vo n t a de d e c oo p e r ar at i va m e n t e p ar a o r e s u l t a do q u e pr o c ur e m ob t e r , r e u ni nd o
c a pi t ai s e c ol o c a nd o -s e n a m es m a s i t u a çã o de i gua l d a de . É i nd i s p en s á ve l à s oc i e d a de a
i d e nt i da d e d e i n t e r ês s e s , a c oo p er a ç ão e c on ô mi c a, na f r a s e d e RI P ERT , o u a v on t a d e d a
c ol ab o ra ç ã o a ti v a do s sóc i o s , n a exp r e s sã o d e T HA L LER , t e nd o ê st es s e m p r e em vi s t a o
170

O dever de lealdade dos sócios 412, assim composto, dirige-se seja à


sociedade, seja aos demais sócios 413 e, na formulação de W I ED E MANN ,
“compreende a orientação das relações jurídicas societárias para uma correta
colaboração de todos os participantes a fim de atingir o fim social” 414

Nesse sentido, deve ser entendido como diretriz de conduta, como


cláusula geral cujo preenchimento depende da análise de cada situação
concreta em que seu cumprimento é exigido 415. Ou seja, ainda com
W I E D E MA N N , “[o] conteúdo e a extensão dos deveres de lealdade re gem-se de
acordo com a respectiva projeção no agrupamento de interesses, devendo,
portanto, ser determinados no caso concreto” 416- 417.

f i m c o m um , a r e a l i z a ç ã o d e u m e nr i qu e c i m e nt o p el o c o nc u r s o d o s se u s c ap i t a i s e d a s u a
a t i vi d ad e . M ui t o b em e xpl i ca va o n os s o J O Ã O MO NT EI R O q u e ‘ n a c ol ab o r aç ã o e s t á a
i d é i a vi s ce r a l d e t ô da a s o c i e da d e ’ ” Tr a t a do , ci t ., vo l .3 , p . 2 3 .
412
T a m bé m o s a d m i n i s t r a do r e s o s t e n t a m d e ve r e s de l e a l da d e p e r a nt e a co m p a nh i a e os
a c i on i s t a s . T od a vi a, e ss e a s p ec t o n ão s e r á e xp l o r a do p or e s c a pa r a o t e m a da i n t e r p r et aç ã o
d os p a c t o s pa r a s s oc i a i s p a t r i m o n i a i s .
413
W IE D E M A N N e xp l i c a , a r e s pe i t o de a q u em s e de s t i n a o de ve r d e l ea l d a d e, q u e “se
c ol oc a m a s r e l a çõ e s j u r í d i c as d i r e t a m e n t e pa r a c o m a s oc i e d ad e c o m o t a m b é m p ar a c o m o s
d em a i s só c i o s , u m a ve z q u e a e xi s t ê n ci a de s s a s r e l a çõ e s é h oj e i nc o nt r ove r s a” C f . Ví nc u l o s
d e l ea l d a de .. ., c i t ., p. 1 5 3 . Cf . , a i n da , K A R S T E N S C H M I D T , Ge s e l l s c ha f t sr e c ht , c i t ., p . 5 5 6,
q ue s ep a r a o s de ve r es d os s óc i o s en t r e aq u e le s q ue ger a m p r et en s ã o p ar a a s o c i e da d e
( S oz i a l pf li c h t e n) e a q ue l e s qu e ge r a m p r e t e n s õ e s i n di vi d u a i s ( I n di v i du a l pf li c ht en ) e o
c é l e br e ca s o L i n ot yp e ( B GH 1. 02 .1 98 8 ) q u e c o ns a g r ou en t e n di m en t o n a j ur i s p r u dê n c i a
a l e m ã de q u e os d e ve r e s d e l e a l da d e ve r i f i ca m -s e e n t r e a ci o n i s t a s – e não a pe n a s pe r a n t e a
c om p a n hi a .
414
Li ç ã o pi n ç a d a p o r E R A S M O V A L L A D Ã O A Z E V E D O E N O V AE S F R A N Ç A e M A R C E L O V I E I R A
VON A D A M E K e m “ ‘ Af f e c t i o S oc i e t at i s ’ .. . ” , c i t ., p .4 6, n ot a 3 7 . Gr i f ou -s e .
415
Co nf i r m a -n o W IE D E M A N N : “ o d e ve r d e l e a l d a de , n o d i r e i t o s oc i e t á r io co m o um t o do,
a pe n a s po d e s er co m p r e en d i do c o m o um a c l á u s ul a g e r a l , q ue p õ e um i n d i c a do r d e c am i nh o
p ar a o c om po r t a m e nt o c o r r e t o n a vi da a s s oc i a t i va , m a s q ue r e c ol he , n a s di ve r s a s r e l aç õ e s
j u r í d i c as , d is ti n t o s c o n te úd o s ”. Ví n cu l o s d e l e al d a de .. . ci t ., p . 15 4 . No m e s m o s e n t i d o,
K A R S T E N S C H M I D T , “ m a n m uβ s i c h d a r ü be r kl a r s e i n , da s Lo ya l i t ä t s p f lic h t en – u nd d am i t
a uc h d i e ge s e l l s c ha f t l i ch e n T r e u e p f l i c h t en – ke i n e Re c ht s q u el l e o d e r R e ch t s n o r m en s i n d,
s o nd e r n daβ von di e s e n P f li c h t en st et s nur ge n er al kl a u s el ha f t im Si n n e
kon kr e t i s i e r un s b ed ü r f t i ge r P f l i ch t e n au s e i n er So nd e r ver b i n d un g ( ... ) d i e Re d e i s t ”
( Ge s e l l s c ha f t s r e c ht , c it ., p . 5 88 ) .
416
Ví nc u l o s de l e a l d ad e ... , c i t ., p. 1 54 .
417
P ar a d e t a l h ad o e s t ud o d o d e v er de l e a l d a d e e m s o c i e da d e s no c o nt e xt o d e j oi nt ve n t u res,
c f . M A T T H I A S B A U S , Tr e u ep f l i c h t e n de s Akt i on ä r s i n Ge me i ns c h af t s un t e rn eh me n , F r an kf ur t
a m M a i n, P e t e r L a n g, 1 9 91 .
171

Da mesma maneira, a intensidade dos deveres de lealdade depende mais


da configuração da sociedade e dos relacionamentos societários que do tipo
societário (formal) escolhido 418, não cabendo, portanto, argu mentar que eles
existiriam apenas em sociedades de pessoas, muito embora tenham nelas se
originado.

Importante notar, ainda, que os deveres de lealdade verificam-se não


apenas durante a existência da sociedade, mas devem ser observados mesmo
antes de sua constituição e depois de eventual desfazi mento do vínculo do
sócio, seja com relação à sociedade que frente aos demais sócios 419.

O dever de colaboração dos sócios, nesse passo, demonstra-se como


consequência necessária do escopo comum e da noção mesma de sociedade,
vez que se não houvesse o comprometimento das partes em colaborar, a sua
associação societária careceria de sentido. Mais que uma noção etérea de
colaboração, os sócios encontram-se concretamente ligados ao dever de agir
em prol de sua associação comum, devendo ser sancionadas condutas que, ao
contrário, sejam inconciliáveis com esse dever 420.

No mesmo sentido, o dever de consideração e respeito entre sócios liga-


se à confiança necessária ao desenvolvimento da relação societária, pois não é

418
K AS T E N S C H M I D T , i n v er b i s : “[ a ] be r i s t d oc h j e de M i t gl i e d s ch a f t Qu el l e m eh r s e i t iger
S on d er r e c h t s be z i e h un g en . W i e di ch t di e So nd e r r e c ht s b e z i e hu n g z u m V e r ba n d u n d z u de n
a nd e r e n M i t gl i ed e r n i m kon kr et e n F al l i st , h ä ng t d a nn we n i ge r vo n d e r Re c ht s f or m a b a ls
v on d e r t at s äc h l i c he n Ge s t a l t u ng d e s Ve r ba n de s ” ( Ge s e l l s c ha f t s r e c ht , c it ., p. 55 3 . Gr i f o u -
se).
419
Cf . K AR S T E N S C H M I D T , Ge s el l s ch a f t s r e ch t , ci t ., p . 58 8 .
420
A U L E T T A c om e n t a q ue a ved a ç ão d e co n c or r ê n c i a do s s óc i o s f oi u m a da s m a n i f e st aç ões
d o d e ver ge n ér i co d e c o l a b or aç ã o i n cl u í d o s no Có d i go C om e r c i a l i t al i an o ( I l C on t r a t t t o ...,
c i t ., p. 57 ) . C om r e l a ç ã o a e s s e a s pe c t o e t e nd o e m vi s t a a c a u s a d o c o n t r a t o de s o c i e da d e
M A R C E L O V I E I R A V O N A D A M E K a f i r m a q u e “o s ó c i o d e ve s e a b s t e r de q u ai s q u er
c om p o r t a m e nt o s q ue , d e a l gum a f o r m a , p os s a m o bs t a r a s u a e f i c a z p er s e c uç ã o , e i s s o n ã o
s e s a t is f a z ap e n as c o m u m a a t i t ut e p as s i va , m a s , em ce r t o s c a s os e d e p end e nd o da e s t r u t u r a
r e a l p od e e xi gi r i gu a l m e nt e a c o l a bo r a ç ão a t i va do s ó c i o: nã o a pe n a s u m a a b s t en ç ã o, m a s,
p or vez e s , at é m e s m o u m a a ç ão ” Abu s o d e mi no r i a e m di re i t o s oc i e t á r i o ( a b us o d a s
p os i ç õ e s s ub j e t i v a s mi nor i t á ri a s ) . T es e d e Dou t o r a do e m Di r e i t o C om e r c i a l , F a cu l d a de d e
Di r e i t o d a Uni ve r s i d a de d e Sã o P a u l o, 20 1 0, p . 1 4 0. P a r a es t ud o es p e c í f i c o a r e s pe i t o do
d ev e r d e n ã o co n co r r ê n ci a d o ac i o n i s t a no d i r e i t o al e m ã o , c f . J Ö R G S C H N E I D E R ,
We t t b ew e rb s v e r bo t f ü r A kt i on ä r e, Fr an kf ur t a m M ai n, P e t e r Lan g , s d .
172

concebível que os mesmos indivíduos que assumem o compromisso de


colaborar para atingir determinado escopo comum comportem-se sem atentar
para quaisquer impactos de seus atos para o rel acionamento a que estão
vinculados.

a) Deveres de sócio no direito positivo brasileiro

No direito brasileiro, os deveres de sócio encontram fundamento na


regra geral de boa-fé objetiva, prevista nos art. 187 e 422 do Códi go Civil,
não havendo seção específica, seja no Código Civil que na Lei de Sociedades
Anônimas (lei 6.404/76), a respeito das relações entre os sócios em geral 421.

A lei 6.404/76, ao prever a fi gura do controlador como órgão da


sociedade, dotado de poderes e responsabilidades, incluiu no parágrafo único
do art . 116, que el e deve:

“usar po der com o fim de fazer a compa nhia realizar o seu


obj eto e cumprir sua função social, e tem deveres e
responsabilidades par a com os demais acionistas da empresa, os
que nel a trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos
direitos e interesses deve leal mente respeit ar e atender” (gri fou -
se).

Explicitou-se, aqui, o dever de lealdade do controlador para com os


demais acionistas como consequência do binômio poder/responsabilidade de
que é investido, em vista de sua maior capacidade de afetar a realização do
escopo comum por todos partilhado e, assim, as eferas jurídicas alheias.

Contudo, em que pese não haver menção específica na lei, também os


demais acionistas vinculam-se ao dever de lealdade na medida em que são
sujeitos à regra geral de boa-fé e que são vedados comportamentos emulativos
dos minoritários, ou mesmo o abuso de seu direito de voto (art. 115 422) 423.

421
Na Al e m a nh a , a l ei d e s oc i e d a de s a nô n i m a s ( A kt G) po s s u i Ca pí t ul o s o br e a s r el aç õ es
e nt r e s óc i o e s o ci ed a d e, e do s s ó c i os en t r e s i ( § 5 3 a a § 75 ) .
422
Ar t . 1 15 . O a c i o ni s t a de ve e xe r c e r o d i r e i t o a vo t o n o i n t er es se d a c o m p a n hi a;
c on s i d e r ar -s e -á a b us i vo o vo t o e x er c i d o c om o f i m de c a u s ar da n o à co m p a nh i a o u a o u t r os
173

4.5.3 - Escopo comum e deveres dos sócios como elementos para a


interpretação de pactos parassociais patrimoniais

Voltando ao objetivo do presente capítulo, do que foi acima exposto


pode-se colher valiosos elementos para a interpretação de pactos parassociais
patrimoniais.

Consoante se procurou apontar, esses pactos têm por função econômica


moldar a relação societária existente entre sócios gerando prerrogativas,
deveres e direitos aos pactuantes, com base em direitos individuais e
patrimoniais seus. Esse conjunto de regras inte gra a posição jurídica dos
signatários naquela sociedade, ou, seja, seu estado de sócio.

Tomando os deveres de lealdade, verifica-se que eles operam para


proteger os interesses não apenas da sociedade mas, no contexto em que foi
firmado contrato parassocial patrimonial, também dos consócios que são parte
desse contrato.

Evidencia-se, nesse ponto, e é preciso enfatizar, que no fenômeno


societário em exame não é possível apartar duas figuras distintas: o sócio e a
parte do contrato parassocial, já que a parte do pacto só o é porque é
igualmente sócio, e o sócio tem seu conjunto de prerrogativas formatado,
daquela maneira e naquela sociedade, porque é parte do pacto parassocial
patrimonial.

Mostra-se inapelável, assim, a interpenetração de figuras, que permite


que os deveres de lealdade do sócio devam ser considerados no exame de seu
comportamento não apenas perante a sociedade ou os demais sócios no que se

a c i on i s t a s , o u d e o bt er , p a r a s i o u p a r a o u t r e m , va n t a ge m a q u e n ã o f a z j us e d e qu e
r e s ul t e, ou p os s a r e s ul tar , pr e j u í z o pa r a a co m p a nh i a o u p a r a o u t r o s ac i o n i s t a s . ( Re d aç ã o
d ad a p e l a Le i n º 1 0 .3 03 , d e 2 00 1 )
423
So b r e o t e m a , c f . a t e se de d ou t o r a m e nt o d e M A R C E LO V I E I R A V O N A D AM E K , Ab u so de
mi n o r i a em Di r e i t o s o ci et ár i o ( Abu s o da s p o si çõ e s s u bj e t i v a s mi n o ri t á ri as ) . FD U SP , 2 0 10 .
174

refira a atos sociais como o voto, a administração e a fiscalização, mas antes


de forma global, abrangendo sua conduta como parte do pacto parassocial.

Os deveres de lealdade, enquanto deveres de salvaguarda dos interesses


dos demais acionistas pactuantes são invocados, então, para se apurar, em
concreto, se determinada conduta do acionista é adequada à específica relação
societária que criou com os demais, valendo-se dos pact os parassociais, bem
como às legítimas expectativas criadas nesse relacionamento. Em outros
termos, examina-se se a conduta é condizente com a função econômica do
contrato celebrado e a boa-fé objetiva a ele correspondente, ou se, ao
contrário, há ato ilícito previsto no art. 187 do Código Civil 424.

No caso específico dos contratos parassociais com conteúdo


patrimonial, ainda que essa percepção não seja imediat a, como já se salientou
nos capítulos anteriores, ela não é menos válida.

Ao contrário, é possível que justamente nos pactos de conteúdo


patrimonial resida grande possibilidade de desvirtuamento da lógica
societária.

Em muitos casos, o que à primeira vista pode parecer o exercício


regular de direito previsto no pacto é, em verdade, ato ilícito. Essa
constatação somente se faz possível se o intérprete não se limitar a aspectos
formais da teoria geral dos contratos ou mesmo do direito de propriedade mas,
ao contrário, perquirir os impactos da conduta naquela relação societária. Sim,
pois se é pacífico, na atualidade, que no exame de toda e qualquer relação
contratual deve-se considerar a boa-fé e lealdade de parte a parte 425, isso é
tanto mais verdade quando as partes são também sócias.

424
“ Ta m b ém co m e t e a t o il í c it o o ti t ul a r d e u m d i r e i t o qu e , a o exe r c ê -l o , e xced e
m a ni f es t am e n t e o s l i m i te s i m po s t o s pe l o s e u f im e c o nô m i c o ou s o c i a l , p e l a bo a -f é o u p e l o s
b on s c o st um e s ” .
425
Cf . A N T O N I O J U N Q U E I R A D E A Z E V E D O , No v os Es t u do s ... c i t . p . 1 2 5.
175

Na interpretação de pactos parassociais de conteúdo patrimonial, é


crucial, assim, considerar que o dever de lealdade existente entre os sócios
signatários deve servir de base para sua conduta, reprimindo comportamentos
que sejam incompatíveis com o fim de sua associação comum.

Nesse passo, e tendo em vista a nem sempre imediata constatação do


que ora se argumenta, vale transcrever, na íntegra, a bela e pioneira lição de
C O MP A RA TO que, ao examinar justamente o caso de pacto parassocial relativo
a compra e venda de ações (patrimonial, portanto) asseverou precisamente
que:

“[o]s poderes normal mente li gados à pro pri edade, como o de ali enar,
por exe mplo, não podem ser exercidos se gundo o mes mo critério,
quando não há nenhu ma relação societária envol vida nessa propri edade
e quando, ao contrário, essa relação existe. A fortiori, a estipulação de
preferência à aquisiçã o de bens não pode s er interpretada da mesma
for ma, ent re sócios e não-sócios. Se a rela ção societ ária existe e se,
ademais dela, foi estipul ado um direito de preempção de ações, está
fora de cogitações o absolutismo da propriedade (vender a quem
quiser, pelo preço que bem entender) e a máxi ma caveat emptor, pois
não se cuida de inte resses puramente indi viduais (mea res agitur).
Trata-se, antes, de proteger e reforçar os laç os de comunhão societ ária,
dando-se aplicação ao princípio da fideli dade e da perseguição do
interesse comum (nostra res a gi tur), que e xclui toda manobra tendente
a descartar o direito de preempção recon hecido aos sócios” (Gri fou -
se).

É preciso ressaltar, por fim, que os deveres de lealdade acima


sucintamente expostos não correspondem a qualquer forma de paternalismo,
de proteção excessiva de partes menos “espertas”, ou mesmo à supressão do
erro ou da perspicácia de um ou outro acionista, com vi és moralista; ao
contrário, servem à tutela de relações societárias fundadas em confiança
mútua de a gentes econômicos que se reúnem em vista de um objetivo
compartilhado, estabilizando-se comportamentos em vista de maior se gurança
e previsibilidade 426.

426
Af i n a l , co m o s a li e n t a P A U L A A. F O R G I O N I , “ [ a] b oa -f é n o d i r ei to c om e r c i a l não
a c om p a nh a pa d r õ e s q ue a a p o nt a r i a m c om o r e f l e xo d e a l t r u í s m o exa c er b a d o o u d e a l go
s e m e l ha n t e . Ao c o nt r ár i o, i n di c a a r e t i dã o de c om p o r t a m e nt o no m e r c ad o , co n f or m e o s
m o de l o s a l i e s pe r a d os ( i n c l u s i v e o r e s pe it o à s no r ma s , p r óp r i o do h ome m a t i v o e pr o b o) .
176

Se assim não fosse, e entre as partes de um relacionamento societário


valesse a mais irrestrita liberdade de atuação, a própria ideia de sociedade
restaria comprometida 427.

4.5.4 - Vedação ao pacto leonino

Prosseguindo no exame de elementos fundamentais à lógica societária


que devem impactar a interpretação dos pactos parassociais patrimoniais
depara-se com a vedação do pacto leonino 428.

A desi gnação sociedade leonina advém de fábula segundo a qual uma


vaca, uma cabra e uma ovelha colaboraram em uma caçada da qual também
participou o leão e ele, ao final, ficou com todo o produto obt ido 429.

A ratio da proibição de pacto leonino estaria assentada, então, no fato


de que seria um contrassenso admitir que agentes econômicos reunissem seus
esforços para a consecução de um escopo comum sem que, ao final, os
resultados (positivos ou não) fossem efetivamente repartidos.

Ou seja, se a sociedade é um relacionamento colaborati vo, ele não o


pode ser apenas com relação aos recursos e esforços empreendidos. Pois,

Ao s e a t r e l a r a u m s t an d ar d d e c om p r o t a m e nt o e m p i r i c a m e nt e ob s e r v á ve l , a bo a -f é
c om e r c i a l ab a n do n a r a s go s d e s ub j e t i vi s m o p a r a a f l o r ar c om o l i nh a d e t e r m i ná ve l d e
c on d ut a” ( T eo r i a G e ra l … ., c i t ., p . 10 1 ) . Co m o s e a po n t ou a ci m a, os d ev e r e s d o s só c i os
p er m i t e m qu e s e f o r m e es s e s t a n da r d do q ue s e t e m p o r b oa -f é n a s r e l a ç õ e s s oc i e t á r i a s , o u
s e j a , q ua l o p a d r ão d e c om po r t a m e nt o e s p e r ad o d e um s óc i o .
427
Nã o s e po d e pe r d e r d e vi s t a q u e e m s oc i e d a de a s p a r t e s c om p a r t i l h a m o bj e t i vo c o m um e,
a s s i m , an i m a m -s e , na di c ç ã o d e D A LM A R T E L L O , po r um e sp í r i t o de s ol i da ri e da d e , n o
s e nt i do d e q ue a va nt ag e m d e um a d e ve se r t am b é m va nt a ge m p ar a a ou t r a ( “ Si è os s e r va t o,
i n f a t ti , ch e m e n t r e n ei c on t r a tt i di s ca m b i o i l co n t r a e nt e c u r a i p r o pr i i nt e r e ss i a
d et r i m e nt o e a s c ap i t o di q ue l l i d ell ’ al t r o ( s ei n S c ha d e n, m ei n Ge wi nn ) ; ( .. .) n el c on t r a tto
d i s oc i e t à g li i n t e r e s si di t ut ti i c o nt r a e nt i a ndr e bb e r o p a r al l el i , si c c hè l ’ i nt e r a r e l azi o ne
p og g i e re b b e s u l l o s pi rit o di s o li d ar i e t à ( s ei n Vo r t e i l , me i n Vo rt ei l , me i n Vo r t e i l , s e i n
Vo r t e i l ) ” ( I Co nt r a t ti . .., ci t ., p . 2 0 8) .
428
P a r a co m p l e t o l ev a nt am e n t o hi s t ó ri c o e d e di r e i t o c om p a r a do a r es p e i t o do t e m a , cf.
L U I S V A S C O N C E L O S A B R E U , A s o c i e da d e l e on i n a ( ar t . 99 4 . o d o Có d i go C i vi l ) , i n Rev i s t a d a
Or d e m d o s A dv o ga d os , n o 56 , I I , a go s t o 1 9 9 6 , pp . 6 19 -6 65 . Va l e t a m b é m c o n s ul t a r o
c l á s s i co de A N GE L O S R A F F A , Pat t o l e o ni no e n ul l i t à d e l co nt r at t o so c i al e , Ri vi s t a d el
Di r i t t o Co m m e r ci al e, 19 1 5, p p. 65 6 -65 9 .
429
Cf . L U I S V A S C O N C E L O S A B R E U , A s o c i e da d e l e o n i n a, c i t ., p. 62 0 .
177

como ressalta P A U LA A. F O RG IO N I , as partes somente se vinculam por meio de


contratos se, deles, esperam que resulte situação melhor que aquela verificada
na sua ausência 430.

Daí porque se diz que, em verdade, não há societas leonina já que a


existênci a de pacto que prive as partes de lucros e/ou de perdas seria
incompatível com a ideia de sociedade. Nesse sentido, anota K A R S T EN
S C H M ID T que a caracterização de um tal relacionamento como societas
somente poderia indicar ironia ou anedota por nele faltar o verdadeiro escopo
comum, ficando um dos partícipes com todo o proveito da empreitada
enquanto os demais apenas suportam os esforços 431.

Analisando a evolução histórica da proibição do pacto leonino, bem


como estudos de direito comparado na matéria, pode-se verificar que ela
encontrou sua justificativa, por muito tempo e, sobretudo, nos direitos latinos,
no fato de o lucro ter sido indicado nas legislações como elemento essencial
do contrato de sociedade, enquanto na Alemanha outra linha de argumentação
foi se guida, mais ligada ao escopo comum 432.

Como consequência, encontra-se na doutrina posições que diferenciam o


tratamento a ser dado conforme se trate de sociedade em que um dos sócios
não participa dos lucros ou quando ele não participa das perdas. Como aponta
L U IS V A S CO N CE L O S A B R E U , essa diversa concepção decorre, naturalmente, da
própria conceituação de sociedade que cada ordenamento, em cada momento
histórico, apresenta.

430
T eo r i a Ge r a l ..., c i t ., p. 59 .
431
Ge s e l l s c h af t sr e c h t , c i t . p . 58 . No o r i gi na l : “ Es l i e gt a uf d er Ha n d , we r h i e r d en
‘ Lö we n a nt e i l ” e r h ä l t , und d e m ge m ä β s ol l es am ge m ei ns a m e n Zw e c k f e h l e n. Da e i ne r d e r
Be t e i l i gt e n al l ei n di e V or t ei l e z i e h en s ol l , wä hr e n d a l l e a nd e r e n n u r d i e La s t e n t r a ge n,
h ei βt e s , di e B e z e i c hn u ng d e r Lö we n ge s e l l s c ha f t a l s ‘ s oc i e t a s ’ se i n ur s c h er z h a f t o d e r
i r o ni s ch ge m e i n t ” . Re t o m a -s e , a qu i , a c r í t i c a d e C O M P A R A T O , d e q u e n ã o s e e s t á , e m
ver d a d e, p er a n t e u m a s o c i e d ad e .
432
Co n c l u s ã o q u e se e xt r a i d o e xa m e f e i t o p o r L U I S V A S C O N C E L O S A B R E U , i d e m , p p. 623 -
6 47 .
178

Nesse sentido, nos ordenamentos em que o escopo de lucro consta como


elemento do contrato de sociedade, defende-se que a supressão de lucros a um
sócio configuraria a sociedade leonina a condenar, ao passo que a não-
participação do sócio nas perdas não teria o mesmo efeito. Isso porque
somente no primeiro caso a causa do contrato de sociedade seria atingida 433- 434.

Com o desenvolvimento dos debates doutrinários, apurou-se que


também o risco é elemento natural do contrato de sociedade, ainda que não
expressamente previsto em lei 435. Essa circunstância permite caracterizar como
leonina a sociedade em que um dos sócios apenas ganha e nada arrisca 436.

Nessa linha, é preciso enfatizar que o sócio deve se submeter à álea do


negócio que procura desenvolver em conjunto e que o fato de as legislações
preverem a responsabilidade limitada sobre as perdas não afasta esse risco,
mas apenas restringe os efeitos das obrigações sociais ao patrimônio social,
evitando sua comunicação com o do sócio.

433
O es t ud o d e L U I S V A S C O N C E L O S A B R E U a p r e s e nt a c om p l e t a r e s e n h a d a s p os i ç ões
d ou t r i n á r i a s n o di r e it o eu r o pe u , c o m o a s d e S R A F F A , F E R R I , G R A Z I A N I , D I S A B A T O ,
F E R R A R A J R . , C O R S I , P I A Z Z A e M I N E R V I N I , n a I t ál i a e F E R R E R C O R R E I A , P I R E S D E L I M A ,
A N T U N E S V A R E L A e P I N T O F U R T A D O , em P o r t u ga l .
434
En t r e n ós , cf . a po s i ç ã o d e L E Ã E S : “ a p ar t i ci pa ç ã o d e t o do s o s s óc i o s n os r e s u l t a do s da
q ue s t ã o so c i a l é pr e s s u po s t o i nd is p e ns á ve l à e xi s t ê nc i a d a so c i e d a d e . A p ar t i c i pa ç ã o d o s
s ó ci o s n os r e s ul t a do s da s o c i e da d e co n s t i t u i um el em en t o e ss e n c i al de s t e t i p o co n t r a t ua l ,
d e m o d o q u e , qu a n do f a l t a , t e r e m os u m c on t r a t o de o u t r o t i po , m a s n ão s e gu r a m e nt e d e
s o ci e d a de . J á a p ar t i ci pa ç ã o d e t o do s os s ó c i os n a s pe r d a s nã o es t á i mp í c i t a n a no ç ã o d e
s o ci e d a de c o m o e l e m en t o e s s en c i a l ” . ( Pac t o s Pa r a s s oc i a is – Na t u r ez a J u r í di c a – Ex e c u çã o
Es p e c í f i c a – Op ç ã o d e r e co mp r a de p ar t i ci p a ç ão s o ci et ár i a e i n ex i st ê n c i a de i n f r i n g ên c ia
d os a r t s . 28 8 do C Co me rc i a l e 1 .3 7 2 do C C , p or nã o c on f i g u ra r p a ct o l eo n i n o, i n RT – an o
7 4 – n o ve m b r o de 1 9 85 – vol u m e 6 01 , p . 4 7 ) . O au t o r j u s ti f i c a a a f i r m aç ão c o m o di s po sto
n os a r t s . 2 8 7 d o Cód i go Co m er c i a l d e 18 5 0 e 1 .3 63 d o C ód i go C i vi l de 1 9 16 , vi gen t e s à
é po c a .
435
A r e l a ç ão l u c r o/ r i s co , c u r i a l n o d i r e it o c o m er c i a l , é a s s i m s i nt e t i z a d a p o r C A I R U : “ Não
p od e p r et en d er l uc r o q u e m n ã o c o n co r r e r p a r a a l gu m n e gó ci o c o m f u nd o i n du s t ri a l , o r d e m
o u r i s co ” ( i n P A U LA A . F O R G I O N I , Ap o nt ame n t o s s ob r e a l gu ma s r e gr a s ... , c i t . p. 39 -4 0) .
436
P o s i ç ã o d e f e nd i d a e n t r e n ós , p o r H E R M E S M A R C E L O H U C K ( Pac t o s s oc i e t á r i o s l eo n ino,
c i t ., p . 6 7 ) . T H I B A U T M A S S A R T ap r e s e nt a i n t e r e s s an t e a ná l i s e d e p o s i c i on a m e nt o j u d i c i al
q ue c h an c e l a o p e r aç ã o de r e s ga t e d e a ç õ es d e ac i o n i s t a i n ve s t i d o r em C es s i o n d’ a c t i o ns .
Pr o me s s e u n i l a t é ra l e d’ ac h at . Pr i x Mi n i mu m. C ar a c t è re l è o ni n ( n on ) . Cl a u s e d ’ i n t é rê t .
Fa c u l t é de s u b s t it u ti o n. No t e : Vi v e l e c a pi t al - r isqu e s a ns r i s q u e, i n Bu l le t i n J o l y S o c i é t é s,
a br i l , 2 0 02 , p p .4 99 - 5 09 .
179

Como bem esclarece H E R M ES M A R C E LO H U C K , ainda que o sócio não


deva aportar mais recursos ou sacrificar seu patrimônio à sociedade para que
ela faça frente às perdas derivadas da atividade social, ele continua sujeito ao
resultado da empreitada, seja porque não houve lucro a distribuir, seja porque
o próprio valor patrimonial de sua quota é afetado pelos resultados negativos
da atividade 437.

Outro aspecto debatido em doutrina é o fato de mais frequentemente a


proibição de pacto leonino ser referida com relação a contratos sociais, o que
levaria ao argumento de que pactos apartados não seriam sujeitos à restrição.

Estudos mais recentes, contudo, salientam a necessidade de avaliação


material da proibição de pacto leonino incidindo sobre a relação societária,
independent emente de, formalmente, não constar do contrato social. Ou seja,
havendo vedação legal à sociedade leonina, deve ser condenado tudo o que,
indiretamente, provocar o mesmo efeit o, como j á evidenciava C O MP A R A TO 438.

Por fim, os efeitos do pacto leonino são diversos nas variadas


legislações, entendendo-se, para o bem da segurança jurídica, que o mais
conveniente é decretar a nulidade apenas do pacto leonino, e não de toda a
rel ação societária existente entre os signatários.

a) Legislação brasileira

A lei de sociedades anônimas prescreve, no art. 109, a participação nos


lucros como direito essencial do acionista 439, enquanto o Código Civil
brasileiro apresenta a vedação de pacto leonino em seu artigo 1.008, in verbis:

Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer


sócio de participar dos lucros e das perdas.

437
I d em , i b i d em .
438
V. no t a n o Ca pí t ul o 2 .
439
So br e o t e m a , c f . o c l á s s i c o d e L U I S G A S T Ã O P A E S D E B A R R O S L E Ã E S , Do Di r ei t o do
Ac i o n i s t a ao D i vi de n do , Sã o P a u l o , Ob e l i s c o, 1 96 9 .
180

Anteriormente, o Código Civil de 1916 dispunha

Art. 1.372. É nula a cláusula, que atribua todos os lucros a um dos


sócios, ou subtraia o quinhão social de al gum deles à
comparticipação nos prejuízos.

E, finalmente, o Código Comercial de 1850 previa:

Art. 288 - É nula a sociedade ou companhia em que se estipular


que a totalidade dos lucros pertença a um só dos associados, ou
em que algum seja excluído, e a que desonerar de toda a
contribuição nas perdas as somas ou efeitos entrados por um ou
mais sócios para o fundo social.

Ou seja, pelo Código Comercial decretava-se a nulidade da companhia


ou sociedade, enquanto no Código Civil de 1916 a nulidade prevista era da
cláusula contratual. Na opinião de L EÃ ES , fundada em G R A ZIA N I , essa
peculiaridade da le gislação comercial então vigente “repousa na ideia de que a
comparticipação nos lucros e perdas diz respeito à própria causa da sociedade,
atingindo assim o contrato em sua unidade”.

Determinando expressamente a nulidade apenas da cláusula contratual,


o Código Civil de 2002 alinhou-se com a necessidade de preservação das
rel ações societárias e da própria sociedade enquanto pessoa distinta de seus
sócios.

Um ponto importante é que no art. 1.008 mencionou-se genericamente a


nulidade de “cláusula contratual”, não fazendo referência direta a “contrato
social”, o que afasta dúvidas sobre a incidência da proibição a cláusulas
contidas também em pactos parassociais.

b) Pactos leoninos na prática societária

Como se antecipou no Capítulo 2, a discussão sobre o caráter leonino de


certos pactos parassociais de conteúdo patrimonial é verificada,
principal mente, quando se examina os arranjos de compra e venda de ações
estruturados para permitir via de saída aos sócios, em especial os ajustes
181

fundados em opções de compra e de venda de ações que, como se disse,


sempre mais são usados para a solução do vínculo societário entre as partes
em virtude de inúmeras circunstâncias como desavenças, impasses, alterações
de condições comerciais, entre outras.

Para parcela da doutrina e jurisprudência, esses pactos devem ser tidos


por pactos leoninos quando as partes estipulam preço para a compra e venda
de ações e/ou critério para determiná-lo sem considerar eventual
desvalorização patrimonial sofrida pela sociedade.

Argumenta-se que o acionista vendedor é isentado da perda decorrente


do risco da atividade empresarial, o que não seria compatível com a noção de
sociedade e, por isso, alvo da proibição de pacto leonino 440. Mais grave, sob
essa ótica, são os casos sempre mais comuns em que se estipula que o valor a
ser pago pelas ações deve equivaler ao valor investido acrescido de correção
e juros.

De outro lado, os interessados na sobrevivência do ajuste argumentam


que não pode haver restrição à livre fixação de preço de ações, visto que são
bens particulares dos sócios signatários e “a proibição do pacto leonino
aplica-se apenas nas relações da sociedade com seus associados e não
naquelas dos associados entre si” 441. Apontam, assim, que a circunstância de
um acionista pactuar com outro o preço de sua participação em valor igual ao
investido não se ligaria à noção de exclusão de participação das perdas
necessária para configurar sociedade leonina.

A justificativa seria a diferença de causa entre o contrato de compra e


venda da participação acionária e o contrato de sociedade, esse sim sujeito à

440
P o s i ç ã o e xt e r na d a po r H U C K e m Pa c t os s o c i e tá ri os l e o ni no s , c it , p . 66 e pe l a P r i m eira
Câ m a r a Ci vi l d a Co ur d e Ca s s at i on f r a n ce s a , c o nf o r m e n ot í ci a d e G U Y O N ( L e s so c i é t é s ...,
c i t . p . 3 20 ) e E M A N U E L L E C L A U D E L ( Cl a u s es l é o n i ne s e xt r a- e s t a t ut ai re s .. . c i t ., p p. 18 3 -
1 89 ) .
441
Sí nt e s e d e G U Y O N p ar a o e nt en d i m e nt o d a Câ m a r a Co m e r ci al da C ou r d e ca s s a t i on ( Les
s o ci é t é s … , c i t ., p . 3 2 0) .
182

proibição de se prever que todos os lucros ou prejuízos da sociedade recaiam


ou sejam subtraídos a determinado acionista 442.

Essa visão é frontalmente oposta àquela que se procura desenvolver na


presente tese, em que se enfatiza que a causa societária deve ser verificada
não apenas no contrato de sociedade, mas em tudo o que os sócios pactuam em
função e por conta do relacionamento societário entre eles existente. Ou seja,
também os acordos de compra e venda de ações, conquanto relativos a bens de
sua propriedade particular, estão inseridos no âmbito daquela relação
societária 443.

Finalmente, aponta-se a inexistência de dano a terceiros pelo ajuste


entre as partes. Ou seja, ainda que a relação entre elas possa ser
eventualmente descaracterizada pelo ajuste supostamente leonino, ele não
afeta qualquer terceiro, mas apenas os pactuantes.

Cumpre esclarecer que, neste caso, a relação jurídica deveria ser tratada
como verdadeiro mútuo, que não confere ao credor qualquer ingerência na
vida da sociedade. Ao cont rário, nos casos em discussão, o credor disfarçado
de sócio – geralmente fundo de investimento – tem seu crédito garantido tanto
pelas regras que convencionar para a compra e venda como também pela
possibilidade de participar ativamente da sociedade (via acordos de voto, por
exemplo), de modo a obter os resultados que entende satisfatórios para seu
investimento 444.

442
So b r e a d i s c us s ã o r e l a t i va à s di f e r e n t e s ca u s as e n vo l vi d as , c f . G A B R I E L L O P I A Z Z A , La
c au s a mi s t a c r e di t o- s o c ie t à , i n Co n t r at t o e i mp res a , 1 9 87 , p p . 8 0 3 -1 5 ) .
443
R e t om a -s e , n e s s e p o nt o, a i ns u p er á v e l l i ç ão de C O M P A R A T O t r a n s cr i t a n a p á gi na #,
s u pr a .
444
Vi d e, a r e s p ei t o, M A R I O L E I T E S A N T O S , Co n t r at os p ar a ss oc i a i s e aco do s d e v o t o nas
s o ci ed a de s a n ón i ma s , C os m o s , Li s bo a , 1 9 96 , p p . 7 5- 77 , e m e s p e ci a l , n o t a 1 6 3.
183

c) Vedação ao pacto leonino e interpretação dos pactos parassociais


patrimoniais.

Das discussões acima referidas obtém-se a relevância do tema do pacto


leonino nas relações societárias, o que exige do intérprete de contratos
parassociais patrimoniais apurar, em cada caso concreto, se a ratio da
proibição do pacto leonino está ou não sendo afetada pelas disposições
contratuais.

Nesse exame, será necessário avaliar, ainda, até que ponto as


disposições do pacto parassocial condizem com a proibição de pacto leonino
ou se, ao contrário, apontam a relacionamento outro que não societário (ex.
mútuo).

Em outras palavras, ao trazer a preocupação relativa a cláusulas


leoninas para o processo interpretativo dos pactos parassociais patrimoniais
contribui-se para evitar que eles sejam livremente usados para “fazer
indiretamente aquilo que a lei diretamente proíbe” 445, ferindo a lógica
societária e a própria função econômica subjacente ao contrato de sociedade.

4.5.5 – Direitos de sócio

Outro elemento importante para que a interpretação dos pactos


parassociais patrimoniais seja consentânea com sua função econômica de
modelar o relacionamento soci etário existente entre as partes é o conjunto dos
direitos de sócio previstos em lei e/ou no estatuto (ou seja, direitos de soci uti

445
Exp r es s ã o de G U Y O N ( “ i l n e s er vi r a i t à r i e n d’ ed i c t e r d e s r è gl e s d’ o r d r e pu b l i c ( ...) si
l e s a s s oc i é s p ou va i en t f a i r e i nd i r e c t e m en t , c’ e s t -à -d i r e p ar de s e s t i p ul at i ons e xt r a -
s t a t u t ai r e s , c e qu e l a l oir l es i nt e r d it d e f a i r e d i re c t em en t , c’ e s t - à -d i r e , d a ns l es s t a t ut s L e s
s o ci é t é s .. ., c i t ., p. 3 0 7). Ma i s a d i a nt e o a ut o r c o nf i gu r a s i t u aç ã o co m o e ss a c o m o “ t e a t r o
d e ap a r ê nc i a s ” ( i d e m , i b i d em ) . So b r e a f r au d e à l ei , e xp l i c a C O P P E R R O Y E R qu e a f r a ud e a
l e i c o ns i s t e “ n o f at o d e r e a l i z ar um a t o s i m u l a d o e o s t e ns i vo , m a s f i c t í c i o , c o m o ob j e t i vo
d e e l u d i r as d i s p os i ç õ e s i m pe r a t i va s d e um t e xt o l e ga l ” ( “ La f r au d e à l o i c on s i s t e do n c
d an s l e f a i t d ’ a c co m p l i r u m a c t e si m ul é e t o s t en s i bl e , m ai s f i ct i f , d a ns l e b u t d ’ él ud e r l e s
d i s po s iti o n s i m p é r a t i ves d’ u n t e xt e l é g a l ”. T r ai t é de s S o c i é t és , Tom e I I – P r i nc i p e s
Gé n ér a u x e t d e l e ur ap p l i c a t i o n à l a m at i è r e de s s o c i é t és , P a r i s , Si r e y, 1 9 39 , p. 27 7 ) .
184

socii 446), bem como construções doutrinárias e jurisprudenciais relativas


àqueles direitos que não podem ser suprimidos aos sócios 447.

Como se referiu anteriormente, os pactos parassociais patrimoniais


referem-se a direitos dos sócios, que, em princípio, concernem apenas à esfera
patrimonial dos signatários.

Contudo, no processo de sua interpretação é preciso perquiri r se


referidos ajustes parassociais atingem, indiretamente, direitos de sócio
garantidos em lei ou no estatuto e que, por isso, ou são irrenunciáveis (no
caso de direitos individuais) 448- 449, ou somente podem ser modificados pela
Assembléia Geral (no caso de di reitos sociais estatutariamente previstos).

446
Os d i r e it o s s o ci ai s do s óc i o sã o d i vi d i d os , n a d ou t r i n a , e n t r e di re i t o s i nd i vi d uais,
i r r e n un c i á ve i s ( na m es m a l i n ha d e r a c i o c í ni o do s d i r e i t o s i n d i vi dua i s d o h om e m ) , e
d i r e i t o s s o ci ai s, c u j a re vo g a ç ã o s om e n t e p o de oc o r r e r m e d i a n t e a p r o va çã o as s e m b l e ar .
S ob r e e s s a t e r m i n o l ogi a , es c l a r e c em E G B E R T O L A C E R D A T E I X E I R A e J O S É A L E X A N D R E
T A V A R E S G U E R R E I R O q u e “ os di r e it os d o s a c i o ni st a s pe r a nt e a s o ci ed a de po d em s e r
a gr up a do s e d ua s gr a nd e s c a t e go r i a s : o s d ir e i t os i nd i vi d ua i s e os d i r e it o s s o ci ai s.
Di s t i ngu em -s e u n s e ou t r o s p or do i s a s p ec t o s f u nd a m e nt ai s : ( a ) s ua o r i ge m e ( b )
p os s i b ili d a d e d e s u a m o d i f i c aç ã o . As s i m os di r ei t os i n di vi d u a i s t e m o r i ge m n a l e i , a o
p as s o q ue o s di r e it os so ci ai s t êm s u a ori ge m n o e s t a t ut o . Os di r e i t o s i nd i v i d ua i s n ã o s ão
s u sc e t í ve i s d e m od i f i c a ç ã o, ne m p e l o s es t a t u t o s , n e m p el a A s se m b l é i a G e r a l ; j á o s di r e i t os
s o ci a i s a d m it e m m o di f i c aç ã o , p or p r e vi s ão e s t a t u t á ri a , s ub m e t e n do -s e , p or t an t o , a o
p r i nc í p i o m a j o ri t á r i o , qu e go ve r n a a vi d a d a c om p a n hi a de s d e s u a c on s t i t ui ç ã o ( Da s
S oc i e d ad e s An ô ni mas . .., c i t ., p . 2 7 8 -2 7 9) No m e s m o s e n t i d o, B R U N E T T I ( T r at t at o .. . , vo l . I ,
p . 2 24 ) .
447
Co nf o r m e a c en t u a C O M P A R A T O , “ o pr i m e i r o e m a i s c l a r o l i m it e a o e x e r cí ci o d o po d er,
e m q ua l q u er t i po d e s oc i e d ad e , p o l í t i c a ou p r i va da , é d a do p el os d i r e i to s f u nd a m e nt a i s d o
s ó ci o o u i n di ví d u o. ( …) É c l a r o qu e , n a s oc i e d a d e m e r c a nt i l , n ã o s e p o de f a l a r e m d i r e i t o s
n at ur a i s d o s s óc i o s , a n te r i o r es à c o n st i t u i ç ào s oc i al . M a s po d e -s e e d e v e-s e f r i s a r q u e , s e m
o r e sp e i t o a ce r t a s p r e r r o ga t i va s p e s s o ai s e l e m e n t a r es , n ã o há s o c i e da d e, pu r a e
s i m p l e s m en t e ” . Fun ç õ es e di s f u n çõ e s d o r es g a t e ac i o n ár i o i n R DM 7 3, p . 68 ) .
448
A do u t r i n a d e s i gna os d i r e i t os i ndi vi d ua i s d os s ó c i os t a m b é m co m o di r e i t os p róprios
( S on d er r e c h t e , n o d i r e it o a l e m ã o ) o u i n t a n gí ve i s . A l e i 6 .4 0 4/ 7 6 d en om i n a -o s d i r e i t os
e s s en c i a i s , el en c a nd o -o s n o a r . 1 09 : d i r ei t o de p a r t i c i p a r d o s l uc r o s s o c i a i s , di r ei t o d e
p ar t i c i pa r d o ac e r vo d a c om p a nh i a , e m c a s o d e l i q ui da ç ã o, di r e i t o d e f is c al i z ar , na f o r m a
p r evi s t a e m l ei , a g es t ã o do s ne gó c i o s so c i a is , o d i r e i t o de pr e f e r ê n ci a e o d i r ei t o d e
r e t i r a d a. O di r ei t o d e vo t o , a s eu t u r n o, s e r i a s o ci al , t e nd o e m vi s t a q ue o es t a t u t o po de
p r ev e r r e s t r i ç õ e s a e s se d i r e i t o. Em c l á s si co t r ab a l h o s ob r e o d i r ei t o d a s m i n or i as ,
W A L D Í R I O B U L G A R E L L I a n ot a qu e “ a co n s t r uç ã o d o s c ha m a d os d i r e i t os e s s en c i a i s d os
a c i on i s t a s de c o r r eu da ne c e s s i d ad e d e se o po r um l i m i t e a o p od e r q u a s e a bs o l u t o d a s
As s e m bl éi as , e xer c i d o p e l a s m a i o r i a s , en t e n den do -s e qu e n ã o o bs t a n te i nd i s p en s á ve l o
p r i nc í p i o m a j o r it á r i o p ar a a f or m a ç ã o da vo nt a d e s oc i a l , nã o p od e r i a i r ao p o nt o d e f r u st r a r
o ‘ s t a t u s ’ do a ci on i s t a . ( A Pr ot e ç ã o à s Mi n o r i as n as S oc i e d ad e s An ô n i ma s , Sã o P a u l o,
P i on e i r a , 1 9 77 , p . 2 8 ) .
185

Para avaliar essa proposição, serão comentados três direitos de sócio


mais próximos aos temas previstos em pactos parassociais 450: o direito à livre
circulação de ações, ou seja o direito não restar prisioneiro da sociedade; o
direito de permanecer associado, ou seja, de não ser excluído do quadro social
e o direito a manter a participação social não diluída 451.

Tendo em vista as considerações tecidas no tópico anterior, não se


explorará novamente, aqui, o direito essencial de participação nos resultados
da atividade social.

a) direito a não restar prisioneiro da sociedade: circulação de ações e


direito de retirada

A preocupação de que o acionista não se torne “prisioneiro de seu


título” é central no direito das sociedades anônimas. De fato, tomadas as

449
No di ze r d e M O D E S T O C A R V A L H O S A a r e s pe i t o d o s di r eit os i n d i vi du a i s d o só c i o , “ [ v] isa
a no r m a a t u t e l a r o i n te r e s s e p ú bl i co . Qu a l q ue r d el i be r a ç ã o e m co n t r á r i o é n ul a, s e j a a
s i m p l e s d ec i s ã o d a a s se m b l é i a , s e j a a m od i f i c a ç ão e s t a t u t á r i a . T a m bé m s e r á n u l a a
c on v e nç ã o d e r e nú n ci a ou d i s p os i ç ã o . E, m a i s , a a ç ão d e n u l i d ade , em t o da s e s s a s
h i pó t e s e s , é i m p r e s cr i t ível ”. C om e n t á r i os à Le i d e S o c i e da d es An ô ni mas , 2 º Vol ., Sã o
P au l o , S a r ai va , p . 33 8 .
450
Nã o s e e n t e nd e co n ve n i e n t e, n e s t a se d e , e sm i uç a r t ot al m en t e o t e m a do s di r ei t os de
s ó ci o , s u a e vo l u ç ão l e gi s l a t i va e d o ut r i ná r i a o u m es m o s e u t r a t am en t o ju r i s pr ud e nc i a l p o r
f u gi r a o f oc o d a a r gu m e nt aç ã o . P o r es s a r a za o nã o se c ui da r á de d i r e i t o s p ol ít i c o s d os
s ó ci o s o u m e s m o de t o d os os d i r e i t o s p r e vi s t o s n o a r t . 1 0 9 da l e i 6.4 0 4/ 76 .
451
Es s e s t r ês gr u po s m a i s a b s t r a t o s r e ú n em d i ve r s as e n un c i a ç õe s de d i r e i t o s b á si c os dos
a c i on i s t a s , q u e sã o d es cr i t os d e f or m as va r i a da s n a s l e gi sl aç õ e s . No di r ei t o br a s il e i r o , p o r
e xe m p l o , a o se r e f e r i r a o di r ei t o d e n ão t e r s u a pa r t i c i p a ç ão d il u í d a ( ab s t r a t o ) , t e m -s e e m
c on c r e t o a p r e vi s ã o d o d i r e i t o d e pr e f e r ê n c i a na su b s cr i çã o d e au m en t o s d e c a pi t al
( c on c r e t o ) ; a o di r ei t o de p e r m a ne c e r a s s oc i a d o ( a bs t r a t o ) l i ga m -s e a s r e gr as co n t r a
e xc l u s ã o d e s ó c i o ( n a s l i m it a d a s ) e a ga r a nt i a d e co n s ul t a a c l a ss e , n o c a s o d e r es g a t e
( c on c r e t o ) e a s s i m p o r di a n t e . O qu e s e p r oc u r a f az e r , a qu i , é i n di c a r a l gu n s c a s o s d e
d i r e i t o s d e s óc i o q ue , d e f or m a g er a l , pe r m i t e m a c on vi vê n c i a na s o c i e d a de e t u t e l a d o s
a ge n t e s , e m l i n h a co m a l ó gi c a s o c i e t á r i a . Ad e m a i s , n ão e xi s t e um a l i s t a, u m r ol co m p l e t o
d e q ua i s sã o o s d i r e i to s e s s e n ci ai s e s o c i ai s d os a ci o n i s t a s o u u m a s u a c l a si f i c aç ã o
d ef i ni t i va , r az ã o p el a q u a l s e en t e n de m a i s p r o dut i vo t r a t a r d os pri n c í p io s qu e o s em b a s a m
e as f i n a l i d a de s a qu e pr o c u r am a t e n de r . S o br e a va r i e d a de d a c l a s s i f i c a ç ão d os d i r e i t o s
d os a c i o ni st as , c f . B U L G A R E L L I , A Pr ot eç ã o. .., c i t ., p p . 3 0-3 1 . O m e s m o a u t or r ea l ç a o f a t o
d e, n o di r e i t o b r a si l e i ro, o s d i r e it os b á s i c os pr evi s t o s no a r t . 1 09 s ere m “ a cr es c i d os d e
o ut r o s q ue a l e i c o nt e m p l o u, di s p e r s os p o r t o do o co r p o d o di pl o m a l e g al , c on f e r i d os o r a
a o a c i o ni s t a i n di vi d u a lm e nt e , o r a c o m o i n t e gr an t e da c om u n i d ad e , or a p or s ua p os i ç ã o
c om o m i no r i a ( i d e m , p . 3 5) . Na m e s m a l i n ha , M O D E S T O C A R V A LH O S A , C o me n t ár i o s ... , c i t .,
p p. 33 8 -3 39 e M E N E ZE S C O R D E I R O , M an u al . .., c i t ., p . 5 1 1.
186

origens do tipo societário, a circulabilidade das ações foi apontada como um


seu traço caracterizador, peculiar frente às sociedades de pessoas em que a
alteração do quadro social dependia da concordância dos demais sócios,
quando não resultava na dissolução total da sociedade.

Como bem explica T RA J A N O DE M I RA N D A V A LV E RD E , contudo, “[a]


transmissibilidade das ações e não sua livre transmissibilidade, é que
constitui um dos característicos essenciais delas” 452, sendo que “o princípio da
limitação à transmissibilidade evoluiu na razão inversa do próprio conceito do
que seja uma sociedade anônima” 453, tendo em vista a presença expressiva de
sociedades anônimas fechadas na generalidade dos ordenamentos jurídicos.

Como já se apontou no Capítulo 2, nas sociedades anônimas fechadas,


ainda que não sejam previstas quaisquer restrições à circulação das ações a
realidade dos fatos mostra que, em verdade, ela seria igualmente dificultada
pela falta de liquidez. De outro lado, o caráter mais pessoal da relação entre
os sócios acaba por exigir que certos limites à livre disposição das ações
sejam previstos, o que pode ocorrer tanto no estatuto como em pactos
parassociais.

Conjugando ambas as considerações, tem-se que a regra geral nas


sociedades anônimas é a circulabilidade das ações, em contraposição ao que se
verifica nas sociedades de pessoas. Todavia, reconhecendo-se que existem
sociedades anônimas também ostentam traços dessas últimas, a legislação

452
S oc i e d a de p o r Açõ e s , c i t . , v.1 , p . 20 9 . N a l i ç ã o de F A B I O K O N D E R C O M P A R A T O ,
“ [ e ] m bo r a n ã o c o n st e no e l e n co d o s di r e it os e s s enc i a i s d o a c i on is t a e xpr es s o n o ar t . 1 09 d a
Le i n º 6. 40 4 / 7 6, n i n gu é m põ e e m d ú vi da q u e a p o s s i bi l i d ad e de t r a n s f er ê n c i a d a s aç õ e s
c on s t i t ui u m a d e s s as p r e r r og a t i va s. T r a t a - s e, c o m ef e i t o, d e u m do s pr i nc í pi o s
f u nd a m e nt a i s d a s s o ci ed a d es a c i o ná r i a s . Ma s a p os s i bi li da d e de t r a n s f e r ê nc i a , p e l o
a c i on i s t a , d a s a ç õe s q u e po s s u i , nã o i m p l i c a, n e c es s a r i a m e n t e , a c o m pl et a l i b e r da d e d e
t r a ns f e r ê n ci a. Qua s e t o d as a s l e gi s l a ç õe s a d m i t e m , e xp r es s a m e nt e, qu e o s e s t at ut o s s o c i ais
c on t e n ha m c l á u s ul a s r e s t r i ti va s da c i r c u l a çã o d a s a ç õ e s d es d e qu e , c o m o é i n t u i t i vo, nã o
a c ar r e t e m a i n t r a n sf er i b i li da d e pr á t i c a d a po s i ç ão a c i o ná r i a ” ( O p od e r d e c o nt r ol e .. ., c i t .,
p . 1 79 ) .
453
M O D E S T O C A R V A L H O S A , C o m en t á r i o s. .., ci t ., v. 1, p. 35 0 .
187

brasileira permite excepcionalmente, com relação a elas, que se erijam


restrições estatutárias.

A redação do art. 36 da lei 6.404/76 prevê que “[o] estatuto da


companhia fechada pode impor limitações à circulação das ações nominativas,
contanto que regule minuciosamente tais li mitações e não impeça a
negociação, nem sujeite o acionista ao arbítrio dos órgãos de administração da
companhia ou da maioria dos acionistas”

Verifica-se, assim, a preocupação do legi slador em, de um lado, atender


à necessidade de controle dos acionistas sobre o quadro social e, de outro,
evitar que essa autorização legal sirva de expediente para aprisionar o
acionista na sociedade 454.

Além disso, a necessidade de previsão de fórmulas para que o acionista


vendedor receba contrapartida adequada é fundamental para que as cláusulas
de restrição de circulação de ações possam se justificar, não traduzindo
limitação indevida na liberdade do acionista 455.

A interpretação dos pactos parassociai s que prevejam cláusulas de


restrição à circulação de ações ou mesmo pact os de compra e venda entre
acionistas (como opções de compra e de venda, que também ditam regras para
a alienação das ações) não pode desconsiderar essas preocupações.

Ainda que se argumente que o acionista pactuante pode renunciar à


tutela legal, aceitando que as cláusulas sejam-lhe menos protetivas, não
parece aceitável que o faça de forma absoluta, permitindo às partes

454
A p r e o cu p aç ã o c om o d i r e i t o e s s e nc i a l d o s ó ci o e m d e s f a ze r -s e d e s ua s a ç õe s ve r i f i c a -se
t a m b ém p a r a o s c as o s de i n cl us ã o d e r e st r i ç ã o e m m om e n t o p o s t e r i or à c on s t i t u i ç ã o d a
s o ci e d a de , p o r de c i s ã o d a m a i o r i a : “P a r á gr a f o ún i c o . A l i m i t aç ã o à c i r c u l a ç ão c r i a d a p o r
a l t e r a ç ão e s t at ut á r i a s o m e nt e s e ap l i c a r á às a ç õe s c uj os t i t ul a r e s co m e l a e xp r e s sa m e n t e
c on c o r da r e m , m e d i a n t e pe d i d o de a ver b a ç ã o n o l i vr o d e ‘ Re gi st r o de Aç õ e s No m i na t i va s ’ ” .
455
Cf . G É R A LD I N E G O F F A U X -C A L LE B A U T , Du Co n t r at … , ci t , p . 2 5 6-2 5 8, es p e c i a l m e nt e i tem
3 59 . P a r a a a ut or a , “ [ l ] a d é t e r m i n at i on du p r i x de s a c t i o n s p e ut é g al em e n t po s e r d e s
p r ob l è m e s . L’ e xi ge n c e d ’ un e j us t e co n t r e pa r t i e, d ’ u n j u s t e p r i x, c o r o l l a i r e d e l a li b r e
c e ss i bi l i t é , e s t r e c on n ue p a r l a j ur i s p r u de n c e e l a do c t r i n e ” ( p. 2 58 ) .
188

beneficiárias da cláusula total control e sobre a venda de sua participação


acionária 456. Até porque, neste caso, ser-lhe-ia suprimido totalmente um dos
atributos do próprio direito de propriedade das ações, que é o de delas dispor.

O que se comentou até aqui se refere aos casos em que o acionista


deseja desfazer-se de sua participação acionária por meio da alienação de
ações, ou seja, pela circulação de sua propriedade. Trata-se, assim, de
intenção do acionista fundada apenas em sua conveniência pessoal de não
mais fazer parte da sociedade.

Há situações, porém, em que a decisão do acionista de desvincular-se da


sociedade é determinada por sua discordância de deliberações relevantes da
Assembléia Geral, as quais, determinadas a critério de cada legislador, teriam
o condão de alterar si gnificativamente a base daquela sociedade e/ou as
prerrogativas dos acionistas 457.

Nessas hipóteses, em contraponto ao princípio majoritário, apresenta-se


a resposta do direito de retirada ou recesso do acionista que discordar da
deliberação 458, direito essencial do acionista no direito brasileiro 459.

456
G É R A LD I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T c om pa r t i l h a d es s a p r eo c u p a ç ã o: “ i l f a u t a na l ys e r l es
m o da l i t és de l a c l a us e o u d u pa c t e p o ur vo i r s i e l l e s n e r e nd e n t p as l ’ a c t i on n a i re
p r i s i o nni e r d e s on t i t r e e n l ui ôt an t t o ut e ga r an t i e ” ( i d e m , p . 2 5 7) .
457
No Br a s i l , o a r t . 1 37 da L e i 6. 40 4 / 76 p r evê q ue “ [ a ] ap r o va ç ã o d a s m a t é r i a s p r e vi s tas
n os i n c i s os I a VI e I X do a r t . 1 36 dá a o a c i o n i s t a d i ss i d e nt e o di r ei t o d e r et i r a r -s e d a
c om p a n hi a , m ed i a n t e r e e m b o l s o d o val or d a s s ua s a ç õe s ( a r t . 4 5 ) , o bs e r va d a s a s s e gu i n t e s
n or m a s ( .. .) ” . As m a t ér i as e l e i t a s p el o l e gi s l a do r c o m o a u t or i za d o r as d o r e c e s s o s ã o : I -
c r i a ç ão d e a çõ e s pr ef e r e n ci ai s ou a um en t o d e cl as s e d e aç õ e s pr e f e r e n ci a i s e xi s t e n t e s, s em
gua r d a r pr o p or ç ã o co m a s de m a i s c l a s s es d e a ç õ e s pr e f e r e n ci ai s , sa l vo s e j á p r e vi s t os o u
a ut or i z a d os p e l o e s t a t ut o; I I - a l t e r a çã o n a s pr e f e r ê nc i a s , va n t a ge n s e c o n di çõ e s d e r es g a t e
o u a m o r t i z a ç ão d e u m a o u m a i s c l a s s e s d e a çõ e s pr ef e r e n ci ai s, ou c r i a ç ão d e n o va c l a s s e
m a i s f a vo r e c i d a; I I I - r e du ç ão d o d i vi d e nd o ob r i ga t ór i o; I V - f us ã o d a c o m p an h i a , o u s ua
i n c or p o r aç ã o e m ou t r a ; V - p a r t i c i p a ç ão e m g r u p o de s o c i ed a d es ( a r t . 26 5 ) ; VI - m u d an ç a
d o o b j e t o da c o m pa n hi a ; e I X - c i s ão d a co m p a nh i a . T od a s e ss a s m a t é r i a s , j u s t a m e nt e p o r
s u a r e l e v ân c i a , e ns e j a , a a pr o va ç ã o de a c i on i s ta s q ue r e pr e s e n t a m , no m í n i m o , a m e t a d e
d as aç õ e s c om d i r e i t o a vo t o , s e m a i o r q uo r u m n ã o f o r p r e vi s t o n o e s t a t ut o ( ar t . 1 36 ) .
458
Cf . L U I Z E D U A R D O B U L H Õ E S P E D R E I R A : “ [ o ] di r ei t o de r e t i r a d a s ur gi u c o m o c o n t r a pe s o à
c om p e t ê n ci a, r e co n he c i d a à As s e m bl é i a G er a l , d e m o d i f i c a r a s ba s e s e s s en c i a i s d o co n t r a t o
d e co m p a nh i a ( ... ) i m p os t a p e l a n ec e s s i d ad e d e a c o m p an h i a s e ad a p t a r à s m od i f i c a ç õe s d e
s e us a m b i en t e s . – c o m a f a c ul da d e d o a c i o ni s t a d e o p t a r p o r n ã o c o nt i nn u ar s ó c i o d e
s o ci e d a de e ss e n c i a l m e n t e da q u el a q ue exi s t i a a o s ub s c r e ve r s ua s aç õ e s” ( Di r e i t o s dos
Ac i o n i s t a s i n A L F R E D O L AM Y F I LH O e J O S É L U I Z B U LH Õ E S P E D R E I R A ( c o or d ) , D i r ei t o d a s
189

Considerando que as deliberações sociais devem ser sempre tomadas no


interesse da companhia, é ela que, havendo discordância de acionista a
respeito da deliberação, deve reembolsá-lo.

Tornando ao tema da interpretação dos pactos parassociais patrimoniais,


se a lei proibe que o estatuto ou mesmo a Assembléia Geral retirem ao
acionista seus direitos essenciais, naturalmente se conclui que os pactos
parassociais patrimoniais não podem ter por efeit o o mesmo resultado, visto
que a lei, nesse passo, limitou sensivelmente a autonomia privada: o direito de
ret irada não pode ser renunciado em termos genéricos, no pacto parassocial 460.
Quando muito, poderá prever hipóteses específicas de renúncia ao exercício
do direito previsto em lei.

Assim, por exemplo, cláusulas que obrigam o acionista a permanecer


como sócio por determinado período de tempo (as “lock in clauses”,
mencionadas no Capítulo 2) não poderiam ter por efeito impedir cabalmente o
acionista de exercer seu direito de retirada, nos casos legalmente
contemplados.

Em outros termos, o acionista pode se obrigar a não alienar as suas


ações, voluntariamente. Todavia, em presença de deliberação ensejadora de
direito de recesso – que i gualmente terá como resultado a sua retirada do
quadro social – poderá exercitar regularmente seu direito, ainda que tenha
subscrito pacto genérico de permanência por um determinado período de
tempo, pois esse último não pode atingir seu direito essencial ao qual o
acionista não pode renunciar, de antemão e de forma genérica.

Co mp an h i a s , vo l 1 , R i o, Fo r e ns e , 2 0 09 p . 3 2 6) . P a r a os c o n t or n o s do di r e i t o de r e ti r ad a e
s u a f u nç ã o d e t u t e l a do s a c i o ni st as – e nã o m e i o de en r i q u ec i m e n t o – va l e r ef e r i r o
e xc e l e n t e ac ó r d ã o r e l a t a do p el o M i n i s t r o Ed ua r d o R i b ei r o ( Re s p 19 7 . 3 29 - Sã o P a u l o , 3ª
Câ m a r a , j u l gad o e m 02 . 0 2 .19 9 9) . Cf ., ai n d a O T T O V O N G I E R K E , Su l l a S t or i a d e l pr i n c i pio
d i ma g gi o r a nz a , R i vi s t a de l l e s o c i e t à , 1 9 58 , p p . 1 10 3 -11 2 0;
459
Ar t . 1 0 9. Ne m o e s t a t u t o so c i a l n em a a s s e m bl éi a- g e r a l p od e r ão p r i v ar o a c i o ni s t a dos
d i r e i t o s de : ( ...) V - r e t i r a r -s e d a s oc i e d a de n o s c as o s p r e vi s t o s n e s t a Le i .
460
C A R V A L H O S A , Co me nt á r i o s … , c i t . p. 36 0 .
190

Com esse exemplo pode-se ponderar que se no processo interpretativo


do pacto parassocial em questão o sistema de direito societário vigente no
Brasil não for adequadamente compreendido, atendo-se – ao revés e ao modo
dos hermeneutas da common law – ao texto contratual 461, a mesma conclusão
não será obtida.

b) direito a permanecer associado

b.1) exclusão de sócio e pactos com opção de compra

Ao lado do direito de o acionista desvincular-se da sociedade, seja por


alienação de ações de sua propriedade, seja pela retirada ensejada por
deliberações assembleares, outra garantia mostra-se fundamental para a sua
segurança: o di reito a permanecer associado, se assim o desejar 462.

De fato, “o acionista é membro da sociedade, ele não pode ser privado


desta qualidade porque se teria uma verdadeira expropriação. É somente com
seu consentimento que seu direito pode desaparecer” 463.

A exclusão de sócio, assim, é medida extrema e apenas


excepcionalmente prevista nas legislações. No direito brasileiro, O Códi go
Civil prevê a exclusão de sócio remisso (art. 1.004) e judicial, por justa causa
(art. 1.030), na parte relativa às sociedades simples, bem como extrajudicial
(art. 1.085), em caso de sociedades limitadas, nas quais a justa causa deve ser

461
Cf . m e nc i o n ad o n o i t e m 1. 3. 2.
462
Na s e m p r e h i a l i n a exp l a na ç ã o d e C O M P A R A T O , “ [ n ] i ngu é m é o br i ga d o a s e r a c i o n ista
n em a pe r m a n e ce r n a c o m pa n hi a, m a s , e m c on t r a pa r t i da , n i n gu é m po d e s e r pr i va d o, d e
m o do i n de vi d o o u a b us i vo , de s ua c on d i ç ã o d e a c i o ni s t a ; p o r qu e , s e o pu d es s e , t o d o o
s i t e m a d e d e f e s a d os di r ei t os e ga r a nt i as e ss e n c i a i s s e r i a vã o e a b s u r do ” ( Fun ç õ es e
d i s f u nç õ es … , ci t ., p . 6 8 ) . Co n st at a -s e c o m o au t o r , c o nt ud o , q ue “ e s s e d i r e i t o f u n da m e nt al
n ão é ge r a l m e nt e p o s t o e m f o co p e l a d ou t r i n a ” ( i d em , p. 7 3, no t a 5 ) .
463
No or i gi na l , “ [ l ] ’ ac t i o nna i r e e s t m e m b r e d e l a s o c i é t é ; il n e p e ut p a s ê t r e p r i vé d e c et te
q ua l i t é pa r c e q u’ i l a ur a i t l à u ne vé r i t a b l e e xp r o p r i a t i on . C ’ e st s eul e m e n t a vec s o n
c on s e nt em e n t qu e s o n d r o i t pe u t di s p a r a î t r e ” ( G E O R G E S R I P E R T e G. R O B L O T , M I C H E L
G E R M A I N ( a t u al .) , T r ai té de D r oi t Co mm e r c i al , c i t ., p. 3 76 ) .
191

apurada em Assembleia ou reunião de sócios 464. A lei de sociedades anônimas


prevê a hipótese de perda da qualidade de acionista em caso de acionista
remisso 465 e no caso de resgate de ações 466.

No regramento das sociedades anônimas, assim, não há dispositivo


específico e expresso autorizando a exclusão do acionista do quadro social em
casos que escapem a aspectos patrimoniais, ou seja, que não di gam
diretamente com a obrigação fundamental do acionista de integralizar o
capital social (ou com as especialíssimas operações de resgate).

E a justificativa pode ser encontrada no fato de que a lei, nesse ponto,


não foi especificamente talhada para sociedades anônimas fechadas, em que
outras obri gações do acionista são tão ou mais importantes que a contribuição
ao capital e onde os laços de lealdade e de cooperação erigem-se com forte
carga pessoal de um acionista para com os demais.

Nesse contexto, a exclusão de acionista mostra-se ainda mais


excepcional, demandando a apreciação judicial de eventual pedido de exclusão
do acionista que, muito embora tenha honrado a obrigação primária que lhe
cabia pelo tipo societário, ou seja, a int egralização do capital, comporta-se de

464
M A R C E LO V I E I R A V O N A D A M E K a p r es e n t a s í n t e s e d o s p r i n ci pa is a s pe c t o s l i ga d os às
m o da l i d a d es d e e xc l u s ã o d e s óc i o p r e vi s t o s n o C ód i go C i vi l , d es t ac a n do -s e o e xa m es d o s
j u í z os de pr o p or c i o n al i da d e d e i gu a l d a de de t r at a m e n t o n a e xc l u s ã o po r f a l t a gr a ve
( Ap o nt am e n t o s à e x c l u s ão d e s ó c i o s po r f a lt a gra v e no Có d i g o C i v i l , i n AA V V, T e m as d e
Di r e i t o So c i et á r i o e Emp r e sa r i a l Co nt em po r ân e o s – Li b e r A m i c or u m Pr o f . Dr . Er a s mo
Va l l a d ão Az ev e d o e No v a e s Fr a n ça , S ã o P a u l o , M a l he i r o s , 2 0 11 , pp . 1 8 5-2 1 5.
465
Ar t . 10 7 . Ve r i f i c a d a a m or a d o a ci on i s t a , a c o m pa n h i a po d e , à s ua e s c o l ha : I - p r om o ver
c on t r a o a ci on i s t a , e o s q u e c om e l e f o r e m s o l i d a r i a m e nt e r e sp o ns á ve i s ( a r t i go 1 0 8 ) ,
p r oc e s s o de e xe c u ç ã o p a r a c ob r a r a s i m p o r t â n c i a s de vi d a s, s e r vi n d o o b o l e t i m d e
s u bs c r i ç ã o e o a vi s o d e c h am a d a c o m o t í t u l o e xt r a j u di c i a l no s t e r m os do Có di go d e
P r oc e s s o C i vi l ; o u I I - m a n d ar ve n d e r a s a çõ e s e m bo l s a de v a l o r es , p o r c on t a e r i s c o d o
a c i on i s t a . ( . ..) . § 4 º S e a co m p a nh i a n ã o c o ns e g ui r , p or qu a l qu e r d os m ei o s p r e vi st os n e s t e
a r t i go, a i n t e gr a l i z a ç ã o d as a ç õe s , p od e r á d e c l ar á -l a s c ad u c as e f a z e r s u a s a s e nt r a d a s
r e a l i z a da s , i n t e gr al i z an d o-a s c o m l uc r o s o u r e s e r va s , e xc et o a l e ga l ; s e nã o t i ver l uc r o s e
r e s e r va s s u f i c i e nt e s , t e r á o p r az o d e 1 ( u m ) a no p a r a c o l o c ar a s a ç õe s c a í d as e m c o m i s s o,
f i n do o q ua l , n ã o t en d o si do e nc o n t r ad o c om p r a d or , a a s s e m bl éi a - ge r a l de l i be r a r á s ob r e a
r e du ç ã o do c a pi t a l e m i m p o r t â nc i a c o r r es p o nd e n t e.
466
V. ap o nt am e n t o s s ob r e o r e s ga t e d e aç õ e s n o i t em s uc e s s i vo.
192

maneira desleal, falhando ao cumprimento dos deveres societários, impedindo


o bom andamento dos negócios sociais e a consecução do escopo comum.

Para tanto, e diante da ausência de dispositivo legal expresso, os


interessados na exclusão deverão comprovar judicialmente a impossibilidade
de permanência do acionista por comprometimento do escopo comum, sendo
certo que se trata de decisão radical a ser tomada pelo juiz, em vista do
interesse da companhia na preservação da empresa e mediante pagamento de
indenização 467.

Por essas razões, nas sociedades anônimas fechadas os acionistas


procuram alternativas extrajudiciais para o deslinde de desavenças, prevendo
de antemão reprimendas contratuais para comportamentos que entendem
desleais ou apenas indesejados entre eles.

Seguindo a prática societária norte-americana, essa alternativa cada vez


mais é representada por opções de compra (“call options”) outorgadas pelos
acionistas uns aos outros, inclusive de maneira interligada.

467
O t e m a d a e xc l u s ão d e ac i o n i s t a t em s i do s e m pr e m ai s e xp l or ad o e m s e d e d ou t r i n á r i a e
j u r i s p r ud e nc i a l , e m de sd ob r a m e nt o d a e vol u ç ã o d as h i pót e s e s d e d i ss o l u çã o p a r ci al da
c om p a n hi a , o u s e j a, en c e r r a m en t o d o ví n c ul o s o ci et ár i o c o m um d o s s óc i o s . A d i s s o l uç ã o
p ar c i a l “p r o pr i am e n t e d i t a ” f oi r ec o n h e c i d a co m o a l t e r na t i va a o pe d i d o de d i s s ol uç ã o t ot al
d e c om p a nh i a , c o m o p a ga m e n t o d e ha ve r e s a o a c i o ni s t a qu e n ã o m a i s en c o nt r a va
c on d i ç õe s d e r e l a c i o n ar -s e c o m o s d em ai s , co m r i s c o à a t i vi d a de s o ci al . De s en vol ve u -s e,
e nt ão , o a r gu m e n t o d e q ue , e m c o nd i ç õ es s e m e l h an t e s , o a c i on i st a p ode r i a r e qu e r e r nã o a
s u a pr ó p r i a r e t i r a da d a s oc i e d a de , m as a e x p ul s ã o da q u el e q u e , p or s u a c on d ut a,
i n vi ab i l i za va o p r o s se g u i m e nt o da so c i e d ad e . So br e o a s s un t o , c o n f i r a -s e o e xc e l e n t e
a r t i go de P R I S C I L A M A R I A P E R E I R A C O R R Ê A D A F O N S E C A , e m qu e s ã o r ef e r i d o s e
c om e n t a d os o s p r i n c i pa i s ac ó r dã o s q ue s u s t e n t a m o a r gu m e nt o. Em p a r t i c u l a r , va l e
t r a n s cr e v e r a p r e c i s a s í nt es e f o r n e ci da p e l a a u t o r a c om r el aç ã o a o a m pa r o l e ga l d a
e xc l u s ã o d e a c i o ni s t a n o d i r e i t o p o si ti vo b r a s i l e i r o , co m ba s e no a r t . 1. 03 0 d o Cód i go
Ci vi l : “ M a l gr a do a p r e vi s ão d e e x c l us ã o j u di c i a l e s t e j a i ns e r i d a no c a pí t ul o r e f e r en t e à s
s o ci e d a de s s i m p l e s , a p l ic a -s e, i n di sc u t i ve l m e nt e , t a l m o da l i d a d e de e xp u l s ã o às so c i e d ad e s
l i m it ad a s c om o t am b é m à s s o ci ed a de s a n ô ni m a s f e c h ad a s . É qu e d i a nt e da m a n i f e s t a l a c un a
d a L e i d as S .A. – q u e a p e na s p r e vê e xpr e s s a m e nt e a e xc l u s ã o o c a s o d e a c i on i s t a r e m i sso
( a r t . 1 0 6 e 10 7 , i n c i s o I I ) e de r e s ga t e de a ç õ es ( a r t . 4 4) – m a s p r i n ci pa l m e n t e e m r a z ão d a
n at ur e z a i n t u i t us pe r s on a e d a s o c i e da d e a n ôn i m a f ec h a d a , a d m i t e -s e, s e m r e st r i ç õe s , a
a pl i c aç ã o s u b s i di á r i a da qu e l a s r e gr a s a t i n e n t es à s s oc i e d ad e s de p ess o a s ” ( A d i s s o l uç ã o
p ar c i a l i n v e rs a n a s s oc ie d ad e s a nô n i ma s f e c ha d as i n Re vi s t a d a AA S P, n º 9 6 , M a r -20 0 8 . p.
1 10 ) . V. t a m bé m , M A R I O E N G L E R P I N T O J R ., Ex c l u s ão d e Ac i o ni s t a , ci t. , e , c om e n t a n do a
a c ol h i d a j ur i s p r u de n c i a l d a pr e s e r v aç ã o d a e m p r e s a p e l a e x c l us ã o d e s óc i o s , P A U L A A.
F O R G I O N I , A Ev ol uç ã o d o Di r e i t o C om er c i a l ... c i t ., pp . 9 4 -9 8
193

Em al guns pactos, inclui-se dentre os eventos deflagradores de seu


exercício as circunstâncias similares às que ensejariam, nas sociedades
limitadas, a exclusão de sócio por justa causa; em outros, a opção de compra é
outorgada sem a previsão de eventos condicionantes de seu exercício,
bastando a manifestação de vontade do beneficiário, no modo e tempo
previstos 468.

No primeiro caso, apesar da aparente celeridade e simplicidade, como se


apontou no capitulo 3, a execução específica da opção de compra poderá
encontrar entraves, pois sempre poderá haver discussão a respeito da real
verificação do evento autorizador, na tentativa da parte a ser “excluída” de
defender-se.

Mesmo em se tratando de opção de compra incondicionada, ou seja,


cujo exercício independe da verificação de eventos especificados no contrato,
a discussão poderá recair sobre o momento do exercício da opção ou mesmo
sobre o preço a ser pago ao acionista que deverá reti rar-se da sociedade 469.

A interpretação do ajuste deverá considerar, então, se a opção de


compra contratada como sucedâneo da exclusão de sócio garantirá

468
Re f e r ê nc i a é f e i t a , n ova m e nt e, ao c o m en t á r i o d e P A U L L E C A N N U à d e c i s ão j u di c i a l em
q ue s e e xa m i n a s e a ex e c uç ã o de s s a s c l á u s u l a s co m p or t a ex c l u s ão d e ac i o n i s t as.
( Va l i d a t i o n de l a c l a us e b u y o r s e l l .. ., c i t .) Os j u í z es d a Co r t e d e Ap e l a ç ã o co n c l ue m q u e,
t r a t a n do -s e d e c l áu s u l a d e s aí da c on c or d a da e nt r e as p a rt es , e l a n ão t e r i a o c a r át er d e
s a nç ã o ( “[ p ] o ur l a Co ur d ’ a p pe l , l ’ e xc l u s i on e s t p a r e l l e -m ê m e un e s a n c t i o n . En r e v a nc h e,
l a c l a u se d e s o r t i e a c c e p t é e n e r e v ê t p a s c et t e na t u r e ” p . 1 71 ) .
469
O t e m a é t r a t a d o em Agr avo d e I ns t r u m e n t o ( TJ SP , A I n. 0 45 8 56 1 -06 .2 01 0 .8 .2 6. 00 0 , 1 a.
Câ m a r a d e Di r e i t o P r i va do , r e l . De s . C a r l o s A u gu s t o d e S a nt i R i be i r o , 1 2. 04 .1 1 ) c u j a s
p r i nc i p a i s c on si d e r aç õ e s co n vé m t r a n s c r e ve r : “ [ a ] du z o a gr a va d o qu e em 24 d e a gos t o d e
2 00 7 f oi exc l u í d o d a s oci e d a de q u an d o pr e m e n t e a va l o r i z a ç ã o d as a ç õ e s d a F l ow CC T V M
e m r a z ão d a a be r t u r a d o ca p i t a l d a BM & F . I s t o s e d eu q u an d o o i nt e r e s s a do t e r i a c o m pr ad o
a s ua p ar t i c i pa ç ã o n a s e m pr e s a s , v al en d o- s e d e u m ‘ i n s t r u me nt o d e op ç ão d e c o mp r a’ d e
d ep o s i t a nd o o va l o r c o r r e s po n de n t e a a p e na s 7 % d o c a p i t a l s oc i a l ” ( … ) “ Va l e p on d e r ar ,
t o da vi a , q u e so m e n t e a p ó s a m pl a p r o d uç ã o de p r o va s é q ue s e p od e r á a f e r i r , m e d i a ne j u í z o
d ec l a r a t i vo de c e r t e z a , s e a s u p r ac it a d a ‘ o p ção de c o mpr a ’ d e a ç õe s é v ál i d a ou n ão ( o
a gr a va do a l e g a q ue f o i um a ‘ m a n o br a ’ p a r a e xc l u i -l o d o s q ua d r os da em p r e s a s e m
o bs e r v â nc i a a os a r t s . 1 .0 04 , § ú ni c o e 1 .0 8 5 d o Cód i go Ci vi l ) , s e o a u t o r t e m di r e i t o d e
c on t i n u a r a s er s óc i o d a c or r é e q u al o qu i n h ão q u e el e e f e t i va m e nt e po s s ui ( …) , be m c o m o
a a l e ga d a c i r c un s t â n ci a d o r e c or r e n t e t e r d e s co n s i de r a d o a va l o r i z a ç ão d a s a çõ e s q u a n do d o
e xe r c í c i o d a op ç ã o de c o m pr a ” ( gr i f o u - s e) .
194

efetivamente ao excluído a não-expropriação de suas ações, seja pela real


verificação dos eventos previstos como deflagradores do exercício; seja pelo
pagamento de valor justo 470.

O argumento contrário a essa última preocupação – e que poderia ser


levantado em interpretação do pacto parassocial patrimonial feita
exclusivamente sob a ótica da teoria ge ral dos contratos – seria o de que o
preço deve ser livremente pactuado entre as partes sem maiores considerações
societárias, tendo em vista que será um ou mais acionistas quem comprará as
ações do acionista “ex cluído” – e não a companhia. Ou seja, que qualquer
rel ação com os critérios legais de apuração de haveres e/ou de cálculo de
valor de reembolso ou de resgate seria descabido.

Essa posição não parece plenamente satisfatória pois, inexistindo


previsão legal nas sociedades anônimas para exclusão de acionista, não seria
aceitável simplesmente transpor contratualmente o instituto de um tipo
societário a outro, sem fazê-lo acompanhar das garantias legalmente previstas
para o acionista alvo da ex clusão, travestindo-o de mera compra e venda.

A preocupação com a indenização justa do excluído deve ser observada,


igualmente, nos casos de exclusão contratualmente estruturada, para que
realmente se apresente como contrapartida à limitação de seu direito de
permanecer associado, em prol da companhia e não dos acionistas que
exercerão a opção.

Também será preciso avaliar se opções de compra previstas em pactos


parassociais patrimoniais não conferem aos acionistas que poderão ex ercê-la a
possibilidade de retirar arbitrariamente do acionista seu estado de sócio, em
circunstâncias não contratadas, ainda que com pa gamento do valor justo. Isso

470
A a p ur a ç ã o do val or r e a l d a a çã o c o m ba s e e m t o do s o s el e m en t o s d o at i vo é n ec e s s á r ia
n a di s s o l u çã o t ot a l d a c om p a nh i a . S e a e xc l u s ã o é p e r m i t i d a c om o a l t er n at i va à d i ss o l uç ã o
t o t a l , o m e s m o c r i t é r i o de ve r i a s e r o be d e c i d o . Cf TJ S P , Ap e l . Ci v. nº 2 17 .3 5 2 -1 / 7 , 8ª
Câ m a r a Cí ve l d o TJ S P , r e l . De s . J o s é Os ór i o , j . 0 3. 05 .1 9 95 , r e f e r i d o po r P R I S C I L A C O R R Ê A
D A F O N S E C A ( i d em , p. 1 13 ) .
195

porque é direito fundamental do sócio permanecer associado, salvo se não


tiver expressamente manifestado desejo diverso.

Pelo exposto quer parecer que a opção de compra não será abusiva, sob
a ótica societária, assim, se realmente for exercida naqueles quadrantes dentro
dos quais o acionista outorgante concordou em abrir mão de seu estado de
sócio e se corresponder a pagamento de valor justo.

Por essa razão, para que de fato haja celeridade na execução do


contrato, sem prejuízo da tutela do direito do acionista em permanecer
associado, é fundamental que os termos contratuais da opção de compra sejam
muito bem descritos, prevendo-se tempo, modo e eventos autorizadores de seu
exercício, os quais devem ser formulados de maneira mais obj etiva possível,
acompanhados de critérios de apuração do valor real da ação, mínimo
aceitável para a fixação do preço 471.

Caso contrário, havendo definições genéricas para as circunstâncias em


que um acionista está obrigado a vender suas ações para os demais, a margem
para desvios e abusos é naturalmente maior, demandando reflexão mais
profunda e amplo conjunto probatório, no momento de sua interpretação e
execução.

b.2) resgate de ações

Ainda que não ligado diretamente ao tema da interpretação dos pactos


parassociais patrimoniais, entende-se conveniente referir outra modalidade
prevista na lei de sociedades anônimas para que o acionista seja privado de
seu estado de sócio: o resgate de ações, definido como a operação pela qual a

471
F al a -s e e m mí ni m o p o i s o s a j ust es ge r a l m e nt e pr e v ê m c ál cu l o s f u nd a do s e m mú l t i pl os do
val or r e a l d a aç ã o ou m e s m o de f i n e m , e nt r e s i , o qu e en t e n d e m p o r va l o r r e a l e co m o e l e
d ev e s e r ca l c u l a do . Cf . a r e s p e i t o , L U I S G A S T Ã O P A E S D E B A R R O S L E Ã E S , A d e f i n i ç ã o d e
Eb i t d a , S e l i c e Ga a p , i n Pa r ec e r e s , vol . I I , S ã o P a u l o , S i ngu l a r , 2 0 04 , p . 1 1 59 -1 17 2 .
196

companhia paga ao acionista para retirar de circulação as ações de sua


propriedade 472- 473.

Caso o acionista seja titular de ações cujo res gate é desde logo previsto
no estatuto social — ou seja, ações resgatáveis – essa perda da qualidade de
sócio não só é conhecida e tem seus termos definidos estautariamente (valor
de reembolso, prazo de resgate, entre outros) como o acionista expressamente
com ela anuiu ao subscrever as ações. Não há que se falar, pois, em lesão a
seu direito de permanecer associado 474.

Quando o resgate é decidido em assembléia, ele poderá atingir uma


classe inteira de ações ou ações determinadas por sorteio 475. No primeiro caso,

472
Ar t . 4 4 . O e s t a t ut o o u a a s s e m bl é i a - ge r a l e xt r a o r di ná r i a p od e a ut o r i z a r a ap l i c a ç ã o d e
l u c r os o u r es e r va s no r e s ga t e o u n a a m or t i z aç ã o de a ç õ e s , d e t e r m i n an d o a s c o nd i ç õe s e o
m o do d e pr o c e d e r -s e à op e r a ç ão . § 1 º O r e s gat e c o n s i s t e no p a ga m e nt o d o va l o r d a s a çõ e s
p ar a r e t i r á -l a s d ef i ni t iva m e n t e d e c i r c ul aç ã o , c o m r e d uç ã o o u nã o d o c a pi t al s oc i a l,
m a nt i do o m e s m o c a p i t a l , s e r á at r i bu í d o , qu a n do f o r o c a s o , no vo v a l o r no m i n a l à s aç õ e s
r e m a ne s c e nt e s .
473
Co m pe t a a ná l i se d o i ns t i t ut o, c o m r e s en h a d a s pr i nc i p a i s m an i f e st a ç õe s d ou t r i n á r i as é
f e i t a p or L U I S L O R I A F L A C K S , As pe c t o s s oc i e t á r i os d o r es g a t e de a çõ e s i n R DM 1 23 , p p.
1 20 - 1 4 2, 20 0 1, c om r ef e r ê n c i as ao e n t ã o pr o j e t o d e l e i q ue c u l m i n ou n a l e i 1 0 .3 03 / 2 00 1 .
474
Mu i t o e m bo r a a s a ç õ e s r e s ga t á ve i s ( e/ ou pr e f e r e n ci ai s c o m p r i vi l é gi o s d e r e em b o l so)
m o s t r e m -s e m e c a n i s m os d e gr a n d e va l i a p ar a a e s t r u t ur a ç ã o de c om pa n hi a s e a c om o d aç ã o
d os i n t e r e s s es d e di ve r s os gr u po s de a c i o ni s t a s q ue a e l a a c o r r e m , s ua a c ei t a çã o nã o f oi
p ac í f i ca , s o b r e t ud o na Eur o p a. Co m o e xe m pl o d o s r i c os d e ba t e s t r a va d o s s ob r e o as s u nt o,
val e c o nf e r i r o s vo l um e s pu b l i c a do s em Gi u r is p r ud e nz a co mme r c i a l e , em 1 9 79 e 1 98 0
( “ Az i o ni p r i vi l e gi a t e e p ar t ec i p a z i on e a l l e p er d i t e ” ) , r eu n i n do p a r e c er e s de G I O V A N N I
C A S E L L I , A R T U R O D A L M A R T E L LO , A G O S T I N O G A M B I N O e P I E R G I U S T O J A E G E R . A r e s p e i t o
d e su a u t i li z a ç ã o c o m o i n st r um e n t o l e gí t i m o pa ra l e va r a e f ei t o a p a r t i c ip a çã o d o a c i o n i s ta
f i n a nc i a d or e na m e s m a l i nh a d o q u e f o i e xp o s t o a r e sp e i t o do s pa c t o s l eo n i no s , L I N O
G U G L I E LM U C C I ap o nt a q u e a p a r t i ci p aç ã o do f i n a nc i a d or as s e m e l h a-s e m a i s a u m
f i n a nc i a m e n t o q ue a u m a p ar t i c i pa ç ã o a c i on i á r i a ( “ La p a r t ec i p a z i o n e d e l l a f i na n z i a r i a
a pp a r e , d un q u e , a s s a i p i ù s i m i l e a u n f i n an z i a m e nt o, c h e no n a u n a p a r t e c i p az i o n e ve r a e
p r op r i a . Q ua l i s on o , a l l o r a , l e d i f f e r e n ze f r a qu e s t a s or t a di op e r a zi on e a t i p i c a di
f i n a nz i a m e n t o e u na o r d i na r i a o p er a z i o ne d i f i n a nz i a m e n t o? ) m a s , e n t r e t a nt o , s ã o
c on f e r i d os a e s s e f i n a n ci a d o r d i r e i t o s d e s ó ci o c om “ m a ggi o r i po s si b il it à op e r a t i ve e
m a ggi o r e c r e di bi l i t à ” ( Lo s mo b i l i z z o d el l e p ar t e c i p az i o ni n e i p at ti p a r as o c i al i d el l e
f i n a nzi a r i e r e gi on al i p riv at e, i n Ri vi s t a d e l l e s oci et à , 19 8 0, p p. 11 9 6 -2 0 1) .
475
Ar t . 44 ( . ..) § 4 º O r es g a t e e a a m or t i z aç ã o q u e n ã o ab r a n ge r e m a t o t a l id a de d a s a ç õe s de
u m a m e sm a cl a s s e s e r ã o f ei t os m e d i a n t e s ort e i o; so r t e a d as a ç õ e s cu s t o di ad a s n os t er m os d o
a r t i go 4 1 , a i n s t i t u i çã o f i n a n ce i r a e s p e c i f i c a r á , m e d i a nt e r a t e i o , a s r e s ga t a d as o u
a m or t i z ad a s , s e o u t r a f o r m a nã o e s t i ver pr e vi s t a n o co n t r a t o de c u s t ó di a .
197

e salvo previsão diversa no estatuto, será necessária a concordância de


titulares de, pelo menos, cinqüenta por cento das ações da classe atingida 476.

Essa exigência foi introduzida na reforma da lei de sociedades anônimas


pela lei 10.303/2001, em resposta à então frequente utilização do resgate
como instrumento de exclusão de acionista 477, amparada pelo entendimento de
que seria um direito potestativo da companhia, ao qual o acionista “excluído”
não poderia se insurgir 478.

Cabe notar que se trata de uma fórmula de saída da sociedade, prevista


em lei, cuja conclusão, contudo, depende da existência de lucros ou reservas
da companhia. É a companhia e não seus acionistas que se obrigam com o
titular das ações resgatáveis a honrar o contratado.

No que toca ao critério de definição do preço de resgate deliberado em


Assembléia (não estatutário, portanto), há discussão doutrinária relativa a seu
alinhamento com os critérios para emissão de ações em aumento, valor
contábil das ações ou, como parece mais justo sob o argumento da
contraposição ao direito do acionista em permanecer associado, o valor real
das ações, tal como referido ao se comentar as opções de compra, acima 479.

476
Ar t . 44 ( .. .) § 6 o Sa l vo di sp o s i ç ão e m c o nt r ár i o d o e s t a t ut o s o c i a l , o r e s ga t e d e a ç õe s de
u m a ou m a i s c l a s s es s ó s e r á ef et u a d o s e , e m a s s e m bl éi a e s p e ci al co n vo c a da p a r a de l i b e r a r
e s s a m at ér i a e s p e cí f i c a, f or ap r o va d o po r a c i o ni st as q u e r e pr e s e nt em , no m í n i m o , a m e t a de
d as aç õ e s d a ( s ) c l a s s e ( s ) a t i n gi da ( s ) .( I n c l u í do p e l a Le i nº 10 .3 03 , de 2 0 0 1 )
477
F Á B I O K O N D E R C O M P A R A T O c o m e nt a a r e d a çã o o r i gi n a l d o a r t . 4 4 d a Lei 6 .4 04 /76
c r i t i c a n do o a bu s o d o i n s t it ut o , po i s “ o e xc e s s i v o e c o n d e n á ve l l i be r a l i s m o d a l e i b r a s i l e i r a
p er m i t i u q ue o n e gó c i o de r e s ga t e s er vi s s e , d i s to r c i da m e n t e , p a r a b e n e f i ci ar o ac i o n i s t a e m
d et r i m e nt o d a c om p a n hi a , ou o a ci oni s t a c o nt r o l a d or em de t ri m en t o d o a c i o ni s t a ”.
( Fu n ç õe s e d i s f u nç õ e s d o r e s g at e a c i o ná r i o , i n RD M , 7 3 , p . 6 9 ) .
478
Cf . R E SP n . 6 8 . 37 8 -5 -P R, r e l a t o r Mi n. E D U A R D O R I B E I R O , co m e n t a d o po r P A U L O D E
L O R E N Z O M E S S I N A e P A U L A A N D R E A F O R G I O N I , So c i e da d e po r Aç õe s . .., c i t ., p. 41 7 .
479
L U I S L O R I A F LA C K S c o m e nt a a s di ve r s a s o pi ni õ e s d o ut ri n ár i as d e M O D E ST O
C A R V A L H O S A e T A D E U D E C H I A R A ( c r i t é r i o a l i nh a do ao a r t . 17 0 ) , J O S É L U I Z B U L H Õ E S
P E D R E I R A ( c o nt ra ) , F A B I O K O N D E R C O M P A R A T O ( val o r r e a l , p ar t i nd o do va l o r c on t á b i l e
i n c l ui nd o t od o s o s ele m e n t o s do a t i vo ) O S M A R B R I N A C O R R Ê A L IM A ( c r i t ér i os d e
r e e m bo l s o ) , T R AJ A N O D E M I R A N D A V A LV E R D E , W I L S O N C AM P O S B A T A L H A e P O N T E S D E
M I R A N D A ( v a l or r e a l c o r r e nt e e m b ol sa ou , nã o h a ve n d o, o val or no m i n a l d a a ç ã o) .
( As p e c t os … , ci t . p p. 1 35 -1 37 ) .
198

c) direito a não ter sua participação diluída injustificadamente

Outro direito essencial do acionista é o de manter sua participação


societária, ou seja, não vê-la compulsoriamente diluída, com prejuízo a seu
quinhão das reservas e acervo social, bem como à sua possível ingerência na
administração da sociedade 480.

No direito brasileiro, o direito de preferência 481 na subscrição de ações e


outros títulos conversíveis em ações consta do rol do art. 109. Para efetiva
tutela do acionista, porém, não basta prever o direito de preferência na
subscrição de ações, se o efetivo exercício desse direito puder ser obstado.

Assim, o art. 170, § 1º prevê que o preço de emissão de novas ações


deverá ser fixado sem a diluição injustificada dos antigos acionistas,
elencando critérios que, respeitados, resultam em operação aceitável, ainda
que comporte diluição dos acionistas que não exercitarem seu direito de
opção 482.

Como de resto ocorre com os direitos essenciais, os pactos parassociais


patrimoniais não podem servir de meio para que o direito à não-diluição seja

480
“ C ’ es t l a t r a du c t i o n l é g a l e d u d r o i t qu i a pp a r t i e n t à l ’ a c t i o n na i r e s ur l ’ a c t i f s ocial;
l ’ e m i s s i o n d’ a c t i o ns no u ve l l es vi e n dr a i t di m i nu e r l a q u i t it é d e s o n d r o i t . Le d r oi t
p r éf ér e n t i e l d e s ou s c r i p t i on e s t u m d ro i t i ndi v i d ue l d e l ’ a c t i o nn a i r e ” ( R I P E R T e . R O B L O T ,
M I C H E L G E R M A I N ( a t u al . ) , T r ai t é de D ro i t Co mm e r ci al , c i t ., p. 62 1 ) .
481
M AU R O R O D R I G U E S P E N T E A D O , a m pa r a d o em P O N T E S D E M I R A N D A , e s c l a r ec e s e r o t e rmo
p r ef e r ê n ci a e q ui vo c a do , t e n do e m vi s t a q u e , n a e s p éc i e , n ã o se t r a t a d e do t a r o ac i o n i s t a
d e d i r e i t o pr ef e r e n ci al f r en t e a o u t r o s q u e c o m e l e co n co r r e m p a r a o m es m o o bj e t i vo ; o
t e r m o op ç ão s er i a, as s i m , t ec n i c a m en t e c or r e t o , p oi s s e r e f er e a o p o de r d o a c i o ni s t a d e
s u bs c r e ve r o u nã o o a um e n t o pr o p os t o , a s e u cr i t é r i o ( Au me nt os d e c ap i t al n a s so c i e d ad e s
a nô n i ma s , S ão P a ul o , S a r a i va , 19 8 8, p . 1 94 ) .
482
Ar t . 1 70 , § 1º - O p r e ço d e e m i s s ã o d e ve r á s e r f i xa d o , s em d i l u i ç ã o i n j u st i fi c a da da
p ar t i c i pa ç ã o d o s a nti go s a ci on i st a s , a i n da q u e t en h am di r e i t o de pr e f e r ê n ci a p a r a
s u bs c r e vê -l a s , t en d o e m vi s t a , a l t er n a t i va o u c o nj u n t a m e nt e : I - a pe r s p e ct i va d e
r e nt ab i l i da d e da c o m pa n hi a; I I - o va l o r d o pa t r i m ô n i o l í q ui do d a aç ã o ; ( I n cl u í d o pe l a Lei
n º 9. 45 7 , de 1 9 97 ) ; I I I - a c o t a çã o de s u a s a ç õ es e m Bo l s a d e V al o r e s ou n o m e r c a d o d e
b al cã o o r ga n i z a do , a d m i t i d o á gi o o u d es á gi o e m f u nç ã o da s c o nd i ç õ e s do m e r c a do .
199

elidido ou mesmo implicar renúncia irrestrita e prévia por parte dos


signatários a essa ga rantia legal 483.

Exemplo desse risco pode ser colhido em pactos que, não raro, prevêm o
financiamento da sociedade pelo controlador, garantindo-lhe a possibilidade
de, a seu critério e a qualquer tempo, fazer aprovar aumento de capital com
emissão de novas ações, cuja integralização se dá com o crédito existente
contra a sociedade.

Essa deliberação, conquanto benéfica à sociedade – que não será


obri gada utilizar seus recursos para pagar os empréstimos – não é inócua
quanto aos demais acionistas e as disposições contratuais que eventualmente a
prevejam deverão ser interpretadas com vistas a essa circunstância.

Para que o ajuste seja válido, o mesmo pacto parassocial deveria prever
renúncia expressa e específica dos acionistas com relação ao aumento de
capital em questão (ou à série de operações de mesma motivação),
determinando as condições em que ele será realizado e o valor do preço de
emissão a ser aplicado. Em suma: quais as condições em que o acionista
efeticamente concorda em ver sua participação diluída.

Mais uma vez, no caso apresentado, a interpretação do pacto não pode


deixar de considerar essas preocupações de natureza societária, observando o
ajuste apenas pela ótica do direito contratual.

d) Conclusão

Do que acima se expôs, nota-se que os direitos essenciais do acionista


são importante baliza a considerar na interpretação dos pactos parassociais
patrimoniais.

É preciso avaliar, pois, se o contrato em análise oferece risco de elisão


desses direitos essenciais, em afronta ao mandamento legal constante do caput

483
Em r e sp e i t o , a s s i m , ao m a n da m e n t o do c a pu t e do P ar á gr a f o 2º do a r t . 1 0 9 .
200

e do pará grafo 2 do art. 109. Ademais, ainda que haja previsão de renúncia do
acionista, ela somente pode ser feita e intepretada de modo restrito, atingindo
casos específicos em que o direito essencial em jogo possa ser exercido (e não
o será), e não como renúncia genérica, abstrata e “à largada” de toda
possibilidade de seu exercício.

Afinal, o que se procura garantir ao se prever os direitos essenciais ao


acionista é a possibilidade exercê-los, se assim lhe aprouver; sua renúncia
pode atingir, pois o exercício do direito, e não o direito em si.

4.6 – Outros ele mentos apontados na doutrina.

4.6.1. Introdução: Pactos parassociais patrimoniais e a discussão sobre


autonomia contratual no direito societário.

Nos itens anteriores, procurou-se apontar elementos para a interpretação


dos contratos parassociais patrimoniais em vista de sua função econômica,
focada no regramento e estruturação da relação societária entre as partes. A
proposta partiu, assim, do exame de re gras consa gradas de interpretação de
negócios jurídicos (item 4.4), chegando, no específico, à análise de aspectos
fundamentais à relação societária, que não podem ser descurados na
interpretação dos pactos parassociais patrimoniais (item 4.5).

Na doutrina, contudo, as preocupações que animaram o estudo ora


realizado são tradicionalmente tratadas no âmbito de tema mais vasto, qual
seja, o dos limites da autonomia contratual no direito societário, que, no
Brasil, como se adiantou no Prólogo, não tem sido explorado de maneira
consistente.

No debate doutrinário sobre o tema 484, assim, os pactos parassociais são


mais frequentemente examinados pelo viés dos limites da autonomia das partes

484
No d i r e i t o al e m ão , f a l a -s e em Ge s t a l t u n gs fr e ih e i t i m Ge s e l l s c ha f ts r e c ht ( l i be r d a de de
c on f i g u r aç ã o n o di r e i t o s oc i e t á r i o ) ; n a F r a nç a , em l i b e r t é c o nt r a c t u e l l e e n d r oi t d es
s o ci é t é s e , na I t ál i a, a ut o n om i a pr i va t a n e l d i r i t to s o c i e t a r i o.
201

em celebrá-los e definir seus conteúdos. Em que pese essa diversa perspectiva,


julga-se relevante referir os principais limites apontados, avaliando se também
constituem elementos a ponderar na interpretação dos contratos parassociais
patrimoniais 485.

Em linhas gerais, pode-se apontar, na doutrina, três principais


limitações à autonomia contratual em vista dos pactos parassociais ligadas ao
respeito ao tipo societário; ao interesse social e à ordem pública societária 486.

4.6.2 - O respeito ao tipo societário

O império do princípio da tipicidade societária representa, para as


partes, a primeira limitação da autonomia contratual no direito societário.
Assim, não lhes é dado celebrar sociedade que fuja aos tipos expressamente
previstos em lei ou mesmo modificar todas as regras aplicáveis à forma de
sociedade adotada 487, em nome da segurança jurídica. Sob outro prisma, a
limitação da autonomia é justificada, ainda, pelos efeitos e privilé gios que, em
contrapartida a lei faz derivar de cada tipo societário e o sistema que se eri ge

485
Ne s sa l i n h a , L A U R E N T C O N V E R T r ef e r e -s e à o r d e m pú b l i c a, a c l á u s ul a s i m p e r a t i vas do
e s t a t ut o e o i nt e r e s s e s oc i a l , c om am p a r o e m a r e s t o d a Co r t e d e Ca s s a ç ã o ( “ Un e c on ve n t i on
q ui n’ e s t c o nt r ai r e n i à l ’ or d r e p ub l i c , n i a u x cl a u s e s i m pé r a t i ve s d es s t a t u t s o u à l ’ i nt é r êt
s o ci a l d oi t a c on t r a r i o ê t r e e n p r i nc i p e au t o r i s é e. C a ss . c o m , 13 f é vr . 1 9 96 r e vu e d e s
s o ci é t é s 1 9 96 , p . 78 1 , n ot e J. J Da i gr e” . L’ i mpe r a t if .. . c i t . p. 49 9 , n o t a 55 ) .
486
K L A U S H O P T e s c l a r ec e qu e a j ur i s p r u dê n c i a d e c a da or d e n am e n t o i n d i c a c am i nhos
d i ve r s o s pa r a a d e f i ni ç ã o d a s r e gr a s co gen t e s qu e i m pa c t a r i a m a a u t on o m i a co n t r a t ua l .
As s i m , n a F r an ç a e Es p a nh a , es p e ci al r e l e vo r e c eb e m o s “p r i n c í p i os ger a i s d e d i r e i to
s o ci e t á r i o ” ; n a I t á li a , a d es c r i ç ã o e r e s p e i t o ao t i p o c ont r a t u a l ; n a A l e m an h a , a
i n s t r u m en t a li z a ç ã o do s d e v er e s de l ea l d a d e ( “ Tr e u ep f l i c h t e n” ) ou o r e sp e i t o à bo a -f é
( “ Tr e u u n d Gl a u be n ” ) , b e m c o m o n a Ho l a nd a e na Su í ç a o u t r a s c l á us u l a s ge r a i s s a o
e xa m i n a d as n o d i r e i t o s o ci e t á r i o ( Ge s t a l t u ng sf re i h ei t i n Eur o p a, ci t ., p . 13 0 ) . No ca m p o
e s pe c í f i c o d o s p a c t o s pa r as s o c i a i s , G U Y O N an o t a , no m e sm o s e nti do de C O N V E R T ( n o t a
a nt er i or ) q u e “ d e m a n i è r e g é ne r a l e , o n d o i t a dm e t t r e q ue l e s c on ven t i o n s e n t r e a ss o c i é s
s o nt va l a b l e s l o r s qu ’ e ll e s n e s o nt p as co nt ra i r e s à u ne r è gl e d ’ o r d r e pu b l i c , à un e
s t i p ul at i on i m pé r a t i ve d es s t at u t s o u à l ’i n t é r ê t s o c i a l ” ( Le s s o c i é t és , c i t ., p. 30 9 ) .
487
Co m pa r a n do a t i p i c i d a de s o ci et ár i a e a q ue l a co nt r a t u a l , G U Y O N es c l a r e c e q u e “n ’ e xi ste
q ue d e s s oc i é t é s n om m é e s e t n on d es s o c i é t é s inn o m m é s ou ‘ s u i gen e r i s ’ . D’ au t r e p a r t l e s
a s s oc i é s n ’ on t p a s l a f a c ul t é de m o d i f i e r t o u t es le s r è gl e s a p pl i ca b l e s à l a f o r m e de s o c i é t é
q u’ i l s ont a d op t é e ”. So b r e o t e m a , n o di r e i t o b r a s i l e i r o , f u nd a m e nt a l a c o ns u l t a à o br a d e
R A C H E L S Z T A J N , Co n t r at o d e s o c i ed a de e Fo r m a s S o c i e t ár i a s , S ã o P a u l o, S ar a i v a , 1 9 89 .
202

em torno deles para sustentá-los, bastando referir a responsabilidade limitada


ou ilimitada do sócio e a sua relação com a prot eção de credores e terceiros.

O próprio surgimento dos pactos parassociais e sua proliferação, como


se mencionou nos capítulos iniciais, podem ser compreendidos como
decorrênci a do primado da tipicidade, pois esses ajustes podem ser
caracterizados como tentativas das partes em conformar seu relacionamento
societário de forma mais personalizada frente ao que a lei prevê para o tipo
societário em questão: geralmente concent rando-se em aspectos de
organização e funcionamento da sociedade, que deverão ser refletidos no
estatuto social.

Com essa premissa, mostra-se natural a preocupação de que os pactos


parassociais não constituam subterfúrgios das partes para burlar as re gras
cogentes sobre a caracterização do tipo societário 488.

A principal dificuldade encontrada é, porém, identificar quais seriam,


na legislação de cada ordenamento, os traços que realmente caracterizam o
tipo societário e que, portanto, não podem ser corrompidos pelas partes pela
celebração de pactos parassociais 489.

Em que pese essa ponderação, tendo em vista que os pactos parassociais


patrimoniais não se referem a aspectos de organização e funcionamento da
sociedade anônima, o critério de validade do pacto fundado no respeito ao tipo

488
Co m o s a l i e n t ou H O P T ( no t a a c i m a ) , so b r e t ud o na I t á l i a , e s s e c r it é r i o de a p ur a ç ã o de
val i da d e d os p a c t os é m ui t o co m e nt ad o .
489
S ob r e a d i f e r en c i a ç ão d o m é t od o l o t i p ól ó gi c o e a di f e r e n c i a ç ã o e nt r e t i p o e c o n ce i t o , cf.
G I O R G I O D E N O V A , Nu o v i Co n t r at t i , To r i n o , UTE T, p p .1 0 - 1 6 ( “I l m e t o d o t i po l o gi co . Em
e s pe c i a l , c o m r e l a ç ã o à d i f i c ul d a d e o r a a p on t a da , an o t a o a u t o r , c om b a s e e m La r e nz , qu e
“ [ m ] e nt r e i l c on c e t t o si e l ab o r a m e t t e n d o i n e vi de n z a gl i el em e n t i c om u n i a t u t t i gl i
i n di vi d u i de l gr u pp o , e d è q ui n d i un a s om m a d i e l e m en t i c a r a t t e r i s t i ci t u tt i n e c es s a r i , i l
t i p o si e l a bo r a i n di vi d u an d o i da t i ca r a t t e r i s ti ci i n f u n z i on e d i un q u adr o c om p l e s s i vo c h e
s i c ogl i e m e d i an t e u na i n t ui z i on e gl ob a l e : si cc h é no n è n e ce s s a r i o c h e t ut t i i da ti si a n o
p r es e n t i i n t ut t i gl i i nd i vi du i de l gr up p o. N e c on s e gue ch e m e nt r e s us s u m e r e s i gn i f i c a
r i s p on d e er e i n t e r m i ni d r a s t i c i ( sì o n o ) a l l a d om an d a s e i l c as o i n di vi d u al e r i e n t r i n el
c on c e t t o , c i oè n e pr e s e nt i t u tt i gl i e l e m en t i e ss e nz i a l i , il q ue si t o s e il c as o d i s pe c i e si a
r i c o nd u ci bi l e al ti p o c on s en t e i n vec e u na r i s po s t a gr ad u a l e ( pi ù o m e n o ) , c he è i n f u n zi on e
d el l a c or r i s p o nd e nz a c o n i l q u ad r o gen e r a l e ” ( p . 12 ) .
203

societário não parece, em princípio e abstratamente, contribuir como elemento


a ser considerado em seu processo interpretativo.

4.6.3 - o respeito ao interesse social

Outro critério de validade dos pactos parassociais apontado em doutrina


é o respeito ao interesse social: seriam válidos pactos parassociais que não lhe
servissem de afronta.

Novamente, aqui, o critério parece à primeira vista mais relevante ao


exame de pactos parassociais políticos ou organizativos, em vista dos quais há
possibilidade mais próxima de atuação das partes em desrespeito ao interesse
social. O reconhecimento desse fato pode ser verificado, no direito brasileiro,
do pará grafo 2º do artigo 118 da lei de sociedades anônimas, que veda ao
signatário do acordo de acionistas invocá-lo para se eximir de suas
responsabilidades no exercício do direito de voto e/ou do poder de controle 490.
Ou seja, ainda que haja acordo de voto e de exercício conjunto de poder de
controle, o acionista deve sempre orientar-se pelo interesse social,
independent emente do que foi pactuado.

Um exame mais aprofundado da questão, porém, denota o impacto do


interesse social também sobre os pactos parassociais patrimoniais, mesmo que
se refiram, apenas, à esfera patrimonial dos si gnatários: essa contratação,
como se afirmou anteriormente, insere-se no âmbito de um relacionamento
societário, em que as partes devem atuar em vista de um escopo comum.

Na medida em que o interesse social é consequência do escopo


comum 491, e esse último, como se viu, é a estrela polar dos relacionamentos

490
§ 2 ° Es s es a c or d o s n ã o p o de r ã o se r i n voc a d os p ar a e xi m i r o a c i o ni s ta de
r e s po n s ab i l i da d e n o e x er c í c i o do di r ei t o d e v o t o ( a r t i go 1 1 5) o u d o p od e r de c on t r o l e
( a r t i go s 11 6 e 1 17 ) .
491
Nã o c ab e , a q ui , r e f e r i r t o d a di s c u s sã o a r e s p ei t o da n o ç ã o d e i nt er e s s e s o ci a l , d i vi di do o
d eb a t e e nt r e a c or r e n t e co n t r a t u al i s t a q u e o e n xe r g a c o m o i nt e r e s s e c o m u m do s s óc i o s e
a qu e l a i n s t i t u ci on a l is t a , q u e , a o r e vé s , i d e nt i f i ca -o c o m o i nt e r e s s e da c o m pa n h i a , d o e n t e
q ue s e d e s p r e ga d a p e s s o a d o s s óc i o s . En t e n de - s e , p oi s, qu e o f un d am e n t a l , i n d ep e n de n t e
204

societários, também na interpretação dos pactos parassociais de cunho


patrimonial sua eventual violação deverá ser avaliada, espécie com relação
àqueles ajustes que, muito embora se refiram a direitos patrimoniais dos
sócios, geram efeitos na sociedade, como, por exemplo, as prestações
acessórias.

Não se trata, contudo, de anular a separação patrimonial entre acionista


e sociedade, exigindo que o acionista sacrifique sua esfera patrimonial em
benefício do interesse social ou de admitir que todo negócio jurídico
celebrado pelo acionista sofra ingerência de terceiro, ou seja, da companhia.

O que se mostra necessário, porém, é examinar cada pacto parassocial


sob a premissa de que as partes signatárias são também acionistas, sócias, e
por isso devem respeitar deveres de lealdade, dentre eles, como se explicou no
item 4.5, o dever de atuar em prol do escopo comum, fundamento último do
interesse social 492- 493.

d a p o s i ç ão a d ot a d a , é a p r e s e nt a r o i n t e r es s e s o ci al c o m o co n s eq u ê nc i a l ó gi ca d a i de i a d e
e s co p o c o m um . Nã o h á s o c i e da d e s e m e s co p o c o m um , en t ã o o i n t e r e s s e s o ci a l p o de s e r
e xt r aí do d o i n t e r e s s e à b oa c o ns e c u ç ã o de s s e e s c o po . C f . a r es p e i t o , a s co n s i de r a ç õ es d e
S O P H I E S C H I L L E R , L e s l imi t es . .., c i t ., p . 1 2 0 e s e gu i nt es . A a u t or a c o nc l u i q u e , c om o í nd i c e
d e r es t r i çã o à a ut o n om ia co n t r a t u al “[ l ] ’i nt ér ê t so c i a l e s t u ne n ot i o n p ol ys ém i qu e qu i p e ut
c or r es p o nd r e à l ’ i nt é r ê t d e s a s s o ci és o u à c e l u i d e l ’ e nt r ep r i s e ( ... ) I l es t a l o r s di f f i c i l e
d ’ en vi s a ge r d ’ ut i l i s e r l a n o t i o n d ’ i n t ér êt s o c i a l ” ( I d e m , p . 12 9 ) . No m e s m o se n t i d o , cf .
C R I S T I N A C E R O N I , S i mu l a z i o ne ... p . 1 1 25 .
492
P a r a i nt er e s s a nt e e c om p l e t a a ná l i s e a r e s p e i t o d a c or r e l a ç ã o e n t r e i nt e r e s s e s o c i al e
d ev e r de l e a l d a de , c o nf i r a -s e a t es e d e d o ut or a m e n t o d e M A R C E L O V IE I R A V O N A D AM E K ,
Ab u s o d e mi n or i a e m d i r ei t o s o c i e t á ri o ( a b us o da s p os i ç õ e s su b j e t i v as m i no r i t á ri a s ) , e m
e s pe c i a l pp . 1 37 -1 42 e 1 46 -1 5 0 . No es t u d o, o a ut o r a po n t a, c o m pr o p r i e da d e , a m a i o r
u t il i d a de d a no ç ão d e d e v er d e l e a l da d e f r en t e à qu e l a de i n t e r e s s e s o c ia l pa r a o t em a d o
a bu s o de m i no r i a . De s s a a ná l i se , po d e -s e d i z e r qu e t a m b ém no c a m po d a i n t e r pr e t a ç ã o d o s
p ac t o s p a r as s o c i a i s p at r im on i a i s o c r i t é ri o d o r e s p ei t o a d e v er e s d e l e a l da d e po r p ar t e d o s
s i g na t á ri o s pa r e c e se r m ai s ef i ci en t e q u e o e x a me d o re s p e i t o ao i n t e r e s s e s oc i a l .
493
C f . G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T “ l e d r o i t de s so c i é t é s c o m p or t e de s pr i nc ipes
gén é r a u x n on é c r i t s , ga r an t i e s d e st i né e s à pr o té g e r l ’ a ss o c i é , t e l s q ue l e d r oi t de vo t e, l e
d r oi t d ’ ê t r e as s o c i é o u , da n s l e c a dr e d e s s o c i ét és a n on ym es , l a l i b r e né got i ab i li t é d e s
a c t i o ns . I l co n t i e nt é gal e me n t en ge r me l ’ i dé e d’ u n i n t é r ê t s o c i al q ui d oi t g u i de r l e
f o nc t i on n em en t d e l a s oc i é t é q u i c on s t it u e l e c a dr e d e s co n v en t i o n s em c au s e ” ( Du co n t r at
e n dr o i t .. . c i t . p. 24 0 . G r i f ou -s e ) .
205

4.6.4 - O respeito à ordem pública societária

Grande parte das referências doutrinárias, especialmente francesas, a


respeito dos limites da autonomia contratual na redação de pactos parassociais
indica serem eles determinados pela necessidade de respeito à ordem pública
societária 494- 495, que seria formada pelas regras imperativas e princípios do
direito societário 496.

Como evidenciam Y V ES G U Y O N e S O P H IE S CH I L LE R , cont udo, verificar


concretamente o conteúdo da noção de ordem pública societária para apurar
sua eventual violação é tarefa árdua, trazendo insegurança para quem a ela se
volta 497- 498.

494
Se gu e m a l gu m as m a n i f e s t a çõ e s d a d o ut r i na f r a n ce s a n es s e s e nt i do : Y V E S G U Y O N ( “ [ l]e
r a pp e l d u p r i n ci pe d e l a l i be r t é d e s c o nve nt i on s e t l ’ a bs e n ce d’ u n e i n t e r di c ti o n d e
c on t r a c t e r e n t r e l e s a s so c é s n e su f f i s e n t p a s, c ar i l f a u t a u s si t e ni r c om p t e d e l ’ o r dr e pu b l i c
s o ci é t a i r e ( … ) l e s l i m ite s de c et o r d r e pu b l i c s o n t f l o ue s ” Le s So c i é t é s …, c i t . , p. 3 0 8) ;
G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L E B A U T ( “ En t an t q u e co n t r a t s , i l s de vr o nt r ép o nd r e a u x e xi g en c e s
d u dr o i t c om m um de s ob l i ga t i o ns , m a s i l f aut é gal em e n t t en i r c o m p t e d e l e u r p l a c e
p ar t i c ul i ér e . C on c l u s l e p l u s s ou ven t d a ns l e c a dr e d es s o c i é t é s a n o n ym e s , c es p a ct es n e
d ev r o nt pa s c on t r e v en i r à l ’ o r dr e p ub l i c s o c i ét ai r e , c o mp os é d e pr i n c i p es g é né r a ux e t d e
r è gl e s l é g al e s p ar ti c u l ié r e s . P o u r r e c o nn a î t r e l e ur va l i d i t é , il f a ut m e t t r e e m oe u vr e c e
b al an c e m e nt en t r e l a l i be r t é c o nt r ac t u e l l e e l l ’ o rd r e p ub l i c s o c i é t ai r e. (… ) La n a t ur e d e c e s
p ac t e s e t l e c on t e xt e pa r t i c u li e r e xp l i q u en t l a di ver si t é d e s s ou r c e s de l ’ o r d r e p u bl i c. De
f a ç on g én é r a l e , l a j ur i sp r u d en c e a p r i s e n c o ns i d é r a t i o n c e s de u x é l e m e n t s e t a p o s é d e s
c on d i t i o n s gé n ér a l e s d e v a l i d i t é q ui e m p r u nt e nt a u d r o i t d e s c o n t r at s et a u x pr i n c i p es d u
d r oi t d e s s oc i é t é s . De f a ço n pl u s s pé c i f i q u e , l ’o rd r e pu b l i c s e t r a d ui t é g a l e me nt p a r un
e ns e mb l e de r è gl e s l é gi sl at i ve s pl us p r éc i s e s qu i , t a n t ôt r e s t r e i gn en t l a va l i d i t é d e c es
c on v e nt i on s , t a n t ôt c on fi r m e n t l a l i be r t é d e s as so c i é s de l e s c o nc l u r e . ( D u C on t r a t ... , c i t .,
p . 2 39 , gr i f o u -s e )
495
Em P o r t u ga l , A N A F E L I P A L E A L va i n a m e s m a l i n ha a o a f i r m a r q u e “ [ c ] a s o se j a p o s s í vel,
d en t r o d os l i m i t es d a int er p r e t a ç ã o, r e t i r a r a a pl i ca b i li d a de d a no r m a s oc i e t á r i a a ou t r o s
c on t r a t o s , e nt ão a í s ub su m i r -s e -á o a c or d o pa r a s s oc i a l a o r egi m e d a s n o r m a s i m pe r a t i va s
s o ci e t á r i a s , o qu e i m p lic ar á a s ua i n va l i da d e n o c a s o d e o s e u co n t e úd o s e r c on t r á r i o a
e s t a s ” ( Al g u mas n o t a s s ob r e a p ar a s s oc i a l i d ad e... c i t . p . 15 8 ) .
496
Te n d o p o r o bj et i vo , s e gu nd o G U Y O N , “ a p r o t e çã o d os ac i o n i st a s m i n or i t á r i os, a
i gua l d a d e d o s a c i o ni st as e a p r o t e ç ão d os c r e d o r e s ”, o q u e d em a n d a o r e cu r s o a n oç õ e s
i m p r e ci s as c o m o o i n t er es s e s oc i a l o u a s e gu r a n ça d a s o b r i g aç õ e s s o c i a i s , q ue c a be r i a à
j u r i s p r ud ê nc i a d e t e r m i na r ( L e s s o c i é t é s… , c i t ., p . 3 0 9) .
497
Re s pe c t i va m e nt e , L e s s oc i e t é s …, ci t ., p . 3 09 e Le s l i m i t e s …, ci t ., p . 1 8-4 0 . Na p á gina
1 9, a a u t or a a n ot a q ue a t e r m i n ol ogi a f oi em p r e g ad a pe l o s r e da t o r e s d o Có di go Ci vi l d e
1 80 4 , e xp l i c a n do e m s e gu i da q u e a s v er d a d ei r a s l i mi t a ç õe s à au t o n om ia c o nt r at u a l f o r a m
s e nd o c on s t r u í d as p el a ju r i s p r ud ê nc i a e i m p o st a s pe l o s l e gi s l a do r e s . A pa r t i r da p á gi n a 2 0,
a pr e s e n t a r e f l e xã o s o br e a “ d i f f i c u l t é d e dé f i n i r l a n o t i o n d’ o r d r e pu b l i c ” , e xpl o r a n do , ( i ) a
d i f i c ul da d e de d e t e r m i n ar as r e gr a s de o r d em p ú b l i c a, ( i i ) a d e t e r m i n aç ã o , p el o l egi s l a d or ,
206

A dificuldade inicial aparece ao se vincular a validade dos pactos


parassociais ao respeito a regras imperativas do direito societário, já que não
há critérios ou indícios claros, nos diversos ordenamentos, de quais seriam
elas, apartando-as das regras dispositivas que podem ser alteradas ou
desconsideradas pel as partes 499.

De fato, a menos que o dispositivo legal em questão tra ga, em seu


próprio texto, menção a seu caráter cogente, ele não será imediatamente
reconhecido. No Brasil, bom exemplo de regra imperativa cujo
reconhecimento é inegável e propiciado pela própria redação do dispositivo é
o caput do art. 109, ao mencionar expressamente que “nem o estatuto social
nem a assembléia-geral poderão privar o acionista dos direitos de: (...)”

Prosseguindo, obstáculo ainda maior se encontra com relação à


definição dos princípios societários que não podem ser desrespeitados pelos
pactos parassociais.

Em primeiro lugar, muitos desses princípios, embora reconhecidos pela


doutrina e jurisprudência, não se encontram positivados, o que permite que,
em interpretação estrita, argumente-se que não há, no caso, verdadeira
proibição ou limitação à autonomia privada, a qual, pelo princípio da
legalidade, somente pode ser restringida pela lei 500.

d o c a t á t e r d e o r d e m pú b l i c a de u m t e xt o, ( i i i ) o m o no p ól i o d o l e gi sl ad o r na a t r i b u i ç ã o do
p od e r de d e t e r m i n a ç ão da o r de m p úb l i c a , b e m c om o ( i v) a d et er m i na ç ã o d o c a r át er d e
o r de m p úb l i c a de u m t e xt o pe l o j ui z. C O P P E R R O Y E R d e di co u t od o u m c ap í t u l o em s e u
T ra i t é d es S oc i e t é s a o p r ob l e m a , e xa m i n a nd o o s c am i nh o s d a j ur i s p r u dê n c i a f r a n c es a e
l i d a nd o c o m a n e ce s s i d a de d e d e f i ni çã o d o c ar át e r i m p er a t i vo d e r e gr a s s o c i e t á r i a s
( Ch a pi t r e V I – La no t i o n d’ o r d r e p ub l i c , p p . 2 9 7-3 5 3) .
498
Ne s s e s en t i d o , c f . S O P H I E S C H I L L E R , L e s l i mi t e s… c i t ., p. 38 .
499
Ad i c i o n e-s e o p e r c a l ç o t r a z i d o p el a di s cu s s ão s ob r e a po s s i b i li d a de de r e nú n ci a a
d i r e i t o s s u bj e ti vos p e l o t i t ul a r qu e s ej a o ú ni co b en e f i c i á r i o da p r o t eç ã o i d ea l i z a d a c o m o
r e gr a d e o r de m p úb l i c a . Cf . S O P H I E S C H I L L E R , c i t . , p. 4 0 e ss . ; M I C H E L G E R M A I N , L a
r e no n ci at i on a ux d ro i ts p r o pr e s de s a s s oc i é s : i ll u s tr a ti o ns , i n M é l a ng e s en l ’ h o nn e ur d u
P r . F . T e r r é , L’ a ve n i r d u d r oi t , P ar i s, Da l l o z , 1 99 9 , p p . 4 01 - 4 1 3.
500
Se gun d o S O P H IE S C H I L L E R , o s a ut o r e s c l ás s i c o s c om o P L A N I O L , R I P E R T , B O U L A N G E R e
C A P IT A N T , “ c on s i d e r a nd o q u e a r e gr a d e or d e m p úb l i c a é c a p a z d e r es t r i ngi r a l i b e r da d e
d as c o n ve n ç õe s – c or o l á r i o d o si s t em a i ns ta u r a do c om o C od i go Ci vi l F r a nc ê s –
207

Além desse aspecto, na ausência de positivação, há a dificuldade em se


reconhecer os princípios societários, bem como, aplicá-los no processo
interpretativo 501, elegendo qual deles deve preponderar em cada caso
concreto 502.

Por razões dessa natureza, o respeito à ordem pública societária,


abstratamente concebida, não se mostra como critério eficaz na apuração dos
limites da autonomia contratual do direito societário e, por conseguinte, como
índice de validade dos contratos parassociais patrimoniais e/ou elementos
concretos para sua interpretação.

Nesse cenário, S O P H IE S CH I L L E R , em sua pioneira e ousada obra Les


limites de la liberté contractuelle en droit des sociétés propõe que o exame
dos limites incidentes sobre a contratação, no direito societário, deve
perquirir não sobre a obrigatoriedade de re gras e princípios, mas “de certos
elementos essenciais à matéria, no seu conjunto”.

r e c on h ec e m es s e p o de r a pe n a s à l e i , q ue s er i a a a u t or i da d e m a i s im po r t a n t e s o br e a
a ut on o m i a pr i va d a . Ou , n a op i n i ã o de C AP I T A N T r e pr o d uz i d a p el a au t o r a , a n oç ã o de o r d e m
p úb l i c a s e r i a m u i t o am pl a , de ven d o s er s u b or d i n a da a o p r i nc í p i o d e l e ga l i d a de , na f a l t a d o
q ua l a p o r t a e s t ar i a ab e r t a a o t ot al i t a r is m o. No r e s um o d e S C H I L L E R , es s a p os i çã o p od e s e r
c om p r e e nd i d a s ob a ót i c a i n d i vi d u a l i s t a qu e pr e v a l e ci a a o t e m po e m q u e f oi em i t i d a ( n o
o r i gi na l , “ ce t t e p o s i t i o n s e r et r ou v e da n s l e s t h éo r i e s i n d i vi du a l is t e s q ui c on s i d è r en t q u e l a
l i b e r t é d e s h o m m e s n e p e u t ê t r e l i m i t ée da n s l ’ i n t ér êt c o m m un qu e pa r d e s l o i s ”. L e s
l i mi t e s… , c i t ., p. 23 ) . P o r s u a ve z , G É R A L D I N E G O F F A U X - C A L L E B A U T p o nd e r a , c o m
p r op r i e d ad e , q u e “ s e na i n t e r p r e t a çã o d e f r a ud e o j u i z t i ve r u m a c on c e pç ã o m u i t o
e xt en s i v a , i s s o p od e a t e n t ar c on t r a a l i be r da de e a se gu r an ç a c o n t r a t u a i s m a s u m a
i n t e r pr e t a ç ã o r e s t r i ti va a r r i s c a c ol o c a r em xe q u e a s i s t e m á t i c a d a s r e gr a s d e d i r e i t o ” ( Du
Co n t r at … , c i t ., p. 27 1 ) .
501
N es s e se n t i d o , c o m o b e m r e s u m e C O M P A R A T O , “ a o c o n t r á r i o d o q u e co m u m e nt e se
i m a gi na , os d e s vi o s de r ac i o c í n i o j u r í di co n ã o c os t u m a m p r o vi r de di f i cu l d a de s n o
r e c on h ec i m e n t o d e e xc e ç õe s a o s p r i n cí pi o s , m as si m d a n ã o a p l i c a çã o d o s pr óp r i o s
p r i nc í p i o s , m e s m o o s ma i s e l e m en t a r e s ” ( Ap a r ê n c i a de r e p r e se n t a ç ão : a i n s us t e nt a bi l i d ad e
d e um a t eo r i a ” i n RD M 1 11 , p . 39 ) .
502
So b r e a c ol i s ão e nt r e p r i n c í pi os , c f . E R O S R O B E R T O G R A U , Ens a i o e d i s c u r so s o bre a
i n t e r pr e t a ç ão/ a pl i c aç ã o d o di re it o, cit ., p . 1 83 . O a u t o r r e s sa l t a q u e, ha v e nd o co l i s ã o , “ a
e s co l h a d o p r i n c í p i o há d e s e r f e i t a , p e l o i nt ér p r e t e ( s e m p r e di a n t e d e um c a s o c on c r e t o) , a
p ar t i r d a po n de r a ç ào d o co n t e úd o d o p r ó pr i o pr i nc í pi o , a o pa s s o que a d e c l a r a ç ã o d a
v al i da d e de c a d a r e gr a , d i a nt e d e c a da c a s o, de p e nd e d a c o n s i de r a ç ã o d e c r i t é r i o s f or m ai s,
e xt er i or e s a e l a s ” .
208

Isso porque “a identificação, no seio das re gras existentes, daquelas que


as partes não teriam o direito de dispor se revela impossível, tendo em conta a
ausência de caráter operativo das noções de ordem pública e de re gra
imperativa” 503, ao mesmo tempo em que não impede a formulação de pactos
que, embora formalmente alinhados às re gras constantes da lei, afrontam o
direito societário em aspect os fundamentais 504.

A aut ora considera, então, mais útil que examinar cada regra em sua
individualidade, determinar, no direito societário, ligações fundamentais (que
desi gna “conexxions radicales”) que não podem ser rompidas, mesmo quando
não haja formulação legal expressa a respeito dessa proibição 505.

No estudo, S O PH I E S CH I L LE R examina duas dessas connexions radicales,


aquela existente entre atividade e garantia 506 e a verificada entre poder e
responsabilidade 507, esclarecendo que elas foram escolhidas pelos efeitos que

503
L es l i mi t e s … ci t ., p . 1 4 7.
504
A p o nd e r a ç ã o f e i t a p or S C H I L L E R p a r e c e s i n t e t iz a r o qu e s e p r oc u r a de f e n de r n e s t a t ese:
“ Le dr oi t d e s s o c i é t é s i m po s e al o r s l a pr é s e n c e d e ga r a nt i e s d on t l ’ o r gan i s a t i o n v a r i e r a
s u i va n t l a f or m e s o ci al e c h oi s i e. La p r é s e nc e de c o n ve nt i on s ou l a m i s e e m p l a c e d ’ u m
m o nt age so c i é t a i r e p e u t p e r m e t t r e de f a i r e d i s p a r aî t r e t o u t e ga r a nt i e e f f e c t i ve , t ou t e m
m a i n t e na n t u m pa r f a i t r e s p e ct f or m e l d e s r è gl es i m pé r a t i ve s e xi s t a n t e s . Un e t el l e
c on s t r u c t i o n co n t r a ct ue ll e d o i t ê t r e r e j e t é e . ( i d e m , p . 14 8 )
505
I d em , p . 1 49 .
506
Em b r e ve s í n t e s e, o p r i m e i r o bi n ô mi o p r o po s t o , r es t a r i a j u st i fi c a do pe l o f a t o de a
p r óp r i a gê ne s e d e q u a l q u e r s o ci e d a de s e r d e t e r m i na d a e m f un ç ã o d e u m a at i vi da d e, qu e s e
d es e n vol ve r á e n vo l ven d o nã o a pe n a s o s s óci o s , a d m i ni s t r a do r e s e e m p r e ga d os c o m o
t a m b ém t e r c ei r os , d em a n da n d o s e gu r a nç a j u r í d i c a . El a e n t ão de v e s e r s a l va gu ar d a d a,
p r ot e gi d a , ga r a nt i da , m e n os n o s e n t i d o p a t r i m o ni a l q u e n o s e n t i d o d e s ua r e a l e e f e t i va
c on s e c uç ã o ( I d em , p . 1 5 0) . Co m o e x em p l o s d e m a n i f e s t aç õ e s c o nt r a t u a i s q u e po d e m
a t e nt ar c on t r a e s s e l i am e es s e n c i a l , a au t o r a i n d i c a a qu e l a s r e l a t i va s a p a r t i c i p aç õ e s
r e c í pr o c a s e au t o -c on t r o l e , a n e go c i a çã o c om a s p r ó pr i a s a ç õe s , a m b a s l i gad o s a o t e m a d a
d i l ui ç ão ( “ w a t e r i n g” ) d o c a pi t a l so c i a l , i n c l u i nd o as c o n ve n çõ e s qu e o b t ê m e s se s e f e i t os
p or m e i o de t e s t a s -d e -f e r r o , p a r t i c i pa ç õ e s i n d ir e t a s ou c i r c ul a r e s , b em c o m o “ c a s c at a d e
s o ci e d a de s ” o u es t r u t u r a s “ pi r a m i d a i s ” ( i d e m , p p 34 6 a 38 0 ) . De m o d o m a i s r e l e va nt e p a r a
o ar gu m e nt o d e s t a t es e , a a u t o r a i ndi c a , a i nd a , c o m o p o s s í ve i s d e s vi r t ua d or as d o bi n ô m i o
a t i vi d ad e / gar a n t i a a s c lá u s ul as d e i na li e n a bi l i da d e e d e r e s t r i çã o na c i r c ul aç ã o d e aç õ e s
( i d e m , p p. 3 81 -3 88 ) .
507
J á a l i ga ç ã o e n t r e po d e r e r e s p on s a b i l i d ad e d ec o r r e d a a s s un ç ã o c o l e t i va do r i s c o e do
p r i nc í p i o m a j or it á r i o , qu e pe r m i t e q u e o c on t r o l a do r o r i e nt e o s r um o s d a s o c i e da d e e d e
s u a a t i vi d a de ( i d e m , p . 1 81 ) . A a u t o r a e l e n c a e n t r e os p a ct os li ga d os a e s s a p r e oc u p aç ã o
a qu e l e s qu e p e r m i t e m a d i s s o ci aç ã o e n t r e po d er e r e sp o ns a b i l i d a de c om o a co r d o s e n t r e
u s uf r u t u á r i o e n u -pr o p r i e t á r i o ( i d e m , p . 39 0 ) , a l o ca ç ã o d e d i r e i t o s s o ci ai s ( p . 3 9 4) ,
209

geram nas operações levadas a termo pela prática societária francesa, sendo
certo que o rol das ligações fundamentais a proteger deverá ser ampliado “na
medida em que a imaginação em matéria de engenharia societária se
desenvolverá” 508.

A iniciativa é louvável, na medida em que as reflexões e elementos


trazidos pela autora seguem a linha de t ranspor o individualismo na análise da
autonomia contratual no direito societário (i.e avaliar problemas não apenas
pelo viés contratual), e, por consequência, coaduna-se com a proposta que,
nesta tese, é diri gida à interpretação dos pactos parassociais.

4.7.5 Conclusão

Como já se adiantou no decorrer da explanação, os critérios geralmente


apontados pela doutrina como limites à autonomia contratual no direito
societário, à exceção da inovadora leitura de S O P H IE S CH I L L E R , são fundados
em noções bastante amplas.

Por conseguinte, em que pese devam ser considerados na interpretação


dos pactos parassociais patrimoniais, não contribuem, por si só, para que o
processo interpret ativo seja adequado à função econômica reservada a esses
contratos.

A vagueza desses parâmetros (tipo societári o das sociedades anônimas;


interesse social e ordem pública societária) dificulta que, com relação ao caso
concreto, o intérprete possa encontrar a justa medida entre a liberdade das

a c or d o s s ob r e di vi s ã o d e p e r d as , e xa m i n a nd o a hi p ó t e s e d e p ac t o l e o ni no ( p p. 39 6 e s s ) ; a
“ c as c a t a d e s o c i e da d es ) ( i de m , p .4 0 3) ; c l á u s ul as d e ga r a n t i a s do p as s i v o ( pp . 4 0 5 e s s ) e
c on v e nç õ e s qu e a um e n t a m o po d er , s em au m e n t ar a r es p o ns a b i l i d a de , e vi c e – ve r s a ( i d em ,
p p. 41 1 e s s )
508
I d em , i b i d em , n ot a 1 0 4.
210

partes na determinação do conteúdo negocial e, de outro lado, as limitações


que ela efetivamente deve sofrer 509.

Por essa razão é que, nesta tese, optou-se por investigar elementos mais
objetivos para informar a interpretação dos pactos parassociais patrimoniais:
seja com base nas regras de hermenêut ica do ne gócio jurídico testadas ao
longo de decênios de experimentação prática; seja examinando-se a função
econômica dos pactos em tela e a sua íntima li gação com a essência da noção
de sociedade 510 e com o status de sócio dos celebrantes.

4.7 - Interpretação dos pactos parassociais patri moniais e alvos de tutela


do direito societário.

Como última etapa ao se cogitar de elementos para a interpretação de


pactos parassociais patrimoniais em coerência com sua função econômica e
para além de seu exame pela exclusiva ótica do direito comum dos contratos, é
preciso considerar os alvos de tutela do direito societário, em perspectiva,
pois, teleológica.

Apontou-se na Introdução que o direito soci etário deve disciplinar as


sociedades em vista dos variados grupos de interesse que a ela acorrem,
principal mente os sócios/acionistas, os credores, e outros terceiros afetados
por sua atividade. Nas companhias abertas, há a preocupação com os
investidores e com a poupança popular.

509
Cf . cr í t i c a s de P E G GY L A R R I E U , I n t e r pr é t a t i o n de s p a ct es e x t r a - st at ut a i re s , c i t . pp . 701-
7 11 .
510
S O P H IE S C H I L L E R t a m b ém a ve nt a e s s e c a m i n h o , a n t e s d e pr o p or a s c on e xõ e s r ad i cais
( L es l i m i t e s …, ci t .p . 14 8 “ En d r o i t d es s o ci ét és , l a f a ç o n l a p l us o p ér a t o i r e de p r o cé d e r
p ar a î t êt r e l a d é t e r m i n a t i o nd e c e qu i e s t e s s e nt i el da n t o ut e s o c i é t é ” ) . P a r a o â m bi t o de s s a
t e s e , p or é m , r e p u t ou -s e p r ud e nt e n ã o a va n ça r n a i n ve s t i ga ç ã o d e se m e l h a nt e s c o ne xõ es n o
d i r e i t o br as i l ei r o, j á qu e o e s f or ç o s u pe r a r i a o o bj et i vo d a t e s e , f o c ad a n a i nt er p r e t a ç ã o d o s
p ac t o s p a r as s o c i a i s p at r im o ni a i s .
211

Pela perspectiva da ordem jurídica do mercado 511, a disciplina societária


deve garantir que as relações dos titulares desses interesses – entre si e com a
sociedade – sejam seguras, gerando confiança e previsibilidade quanto às
formas societárias de exercício da atividade empresarial.

Em atenção a essa necessidade, o regramento le gal incidente sobre os


variados tipos societários foi se aperfeiçoando, buscando sempre melhor
cumprir seu papel face à contínua evolução, na realidade fática, das
sociedades comerciais. Da mesma maneira, princípios próprios foram se
sedimentando, gerando verdadeiro ramo especial do direito, na acepção de
A S C A RE L L I 512.

Na medida em que os pactos parassociais patrimoniais são sempre mais


utilizados para estruturar relações entre acionistas e formatar a realidade
societária que entre eles existe, eles não podem fugir ao “radar” do direito
societário, que, para evoluir em consonância aos clamos da prática, deve
tomá-los em conta na formulação de garantias e proteções a seus alvos de
tutela.

De outro lado, mesmo na ausência de regras positivadas que desnudem o


liame necessário entre os pactos parassociais patrimoniais e os objetivos do
direito societário, a interpretação desses ajustes deve examinar a coerência
entre ambos 513.

511
Co m o en s i n a P A U L A A. F O R G I O N I , ap o i a da e m N A T A LI N O I R T I , o m e r c a do é um a o r d em
q ue s e b a s ei a e m co m p or t am e n t o s p r e vi s í ve i s e ca l c u l á ve i s . As s i m , d e co m p or t am e n t o s
“ l e va à p o ss i bi li da d e d e p r e vi sã o do co m p or t am e t o do ou t r o a ge nt e e , co m i s s o, u m a
o r de m. Os a ge n t e s e c o n ô m i c os c on f i a m qu e s u a a t u a çã o ( e a a t u a ç ã o do s o u t r o s s e r á
b as e a d a em r eg r a s , d e f or m a q u e o r i s c o e s t a r á n o s uc e s s o o u i ns uc e s s o da j o g ad a , e n un ca
n as r e g ra s d o j o g o” . Es s a l ógi c a de f u nc i o n am e n t o do m e r c ad o en q ua n t o or d e m , p a ut a d a
e m n o r m a l i d ad e , un i f o r m i d a de e r e gu l a r i d a de de c om p o r t a m e nt o s , e xp l i c a “ a r az ã o d e
i n s ti t ut o s q ue pr ot e ge m o c o m p or t a m e n t o p l a ne j a d o n a c e r t e za d e qu e o ou t r o a t u a r á
c on f o r m e a r e gr a ( v. g. ‘ p r o t e çã o d a l e gí t i m a e xp e c t a t i va ’ , ‘ bo a -f é ’ , ‘ c o nf i an ç a ’ ) ” . A
e v ol u ç ã o d o d i r ei t o co me r c i a l … , c i t ., p. 2 30 .
512
Pa n or a ma d o di r e i t o c o me r ci al , Sã o P au l o , S a r a i va , 19 4 7, p. 24 .
513
So b r e e s sa n e c es s i d a d e, s us t e n t a F R A N Ç O I S T E R R É qu e p a r a de t e r m i n a r a a dm i s s i b il i dade
d e a j u s t e s i nc i d e n t es s ob r e a r e l a ç ão s oc i e t á r i a , m a i s q ue a pr e c i á -l o s i s ol ad a m e nt e , p e l o
d i r e i t o do s c o nt r at os , é pr e c i s o e xa m i n á -l o s no c o nt ext o e m q ue s e i n s er e m p ar a d e t e r m i n a r
212

E isso por uma necessidade de compatibilidade lógica com o sistema de


direito societário. Se assim não fosse, pouco adiantaria formular regras
protetivas (ex. direitos essenciais de acionista) se, pela pactuação, o mesmo
dano puder ser causado, mediante a utilização de meios que, em princípio, não
guardariam relação necessária com o direito societário (porque, como muito se
diz na doutrina, eles não se referem à organização e ao funcionamento da
sociedade).

Exemplo evidente do que se procura argumentar: a compra e venda de


ações, por si, não é sujeita ao direito societário, dizendo respeito apenas ao
patrimônio dos envolvidos, sendo-lhe aplicável o regramento geral dos
contratos e obri gações. Todavia, quando sua utilização tem por efeito a
exclusão de acionista, ela deve ser examinada à luz dos princípios societários
de proteção ao acionista. O mesmo se diga das cláusulas de “lock in”: o
acionista pode abrir mão de alienar suas ações em certas condições, pois elas
integram seu patrimônio, mas a interpretação do ajuste não pode levar a que
ele reste obrigado a perpetuar-se na sociedade, o que seria afronta aos
princípios societários que vedam o emprisionamento do sócio. Nesses casos,
pois, em que pese inexistir efeito sobre a organização e funcionamento da
companhia, é inegável a atuação do direito societário.

Diante da criatividade dos agentes, parece válida a su gestão de que a


interpretação dos pactos parassociais patrimoniais devesse ser orientada, pois,
pela caracterização da ilicitude dos pactos não tanto por seu objeto, que pode

s e se u s ef e i t os , e v e nt u a l me n t e c o nj ug a do s , s ã o c o m pa t í ve i s ou n ão c om o s ob j e ti vo s d o
d i r e i t o s oc i et á r i o , j á q ue n ã o s en d o p o s s í ve l o b t e r l i st a d a s r egr a s s o ci e t á r i a s i m p e r a t i va s,
c um p r e ve r i f i c a r e l e m en t o s d a m a t é r i a e m s eu c o nj un t o . ( “ [ p ] l utôt qu e d ’ a pp r é c i e r
i s o l é m en t u n a m én a g em e n t d u d r o it d e s so c i é t és pa r l e d r oi t d e s co n t r at s , o n r é i nt é gr e r ai t
c e t a m én a gem e n t d a ns u n en s e m b l e pl u s va s t e. En d ’ au t r e s t e r m e s , l e c a r a ct èr e a d m i s s i b le
d es a m é na ge m e nt s c on t r a c t u e l s e s t d ét er m i na nt s ui va n t q u e l e u r s ef fe t s , é ve nt u e l l e m e n t
c on j u gué s en t r e eu x p a r a i s s en t c on f o r m e s o u n on au x o b j e ct i f s vi s é s p a r l e d r oi t d e s
s o ci é t é s . Et l a dé t e r mi n a t i o n d u ca r a ct èr e o bl iga t o i r e ne s ’ o pé r é p as e n po s a nt u n e l i s t e
d e r è gl e s i mp ér a t i v e s , mai s e n d é f i ni s s a nt c e r t a i ns é l ém en t s de l a ma t i è r e d an s s o n
e ns e mb l e ” . P r ef á c i o à o b r a d e S O P H I E S C H I L L E R , Le s l i m i t e s de l a l i b e rt é c on t r a ct ue l l e e n
d r oi t de s s o c i é t é s : l e s c on n ex i o n s r ad i c a l e s , P ar i s, LG DJ , 2 00 2 . Gr i f ou - s e ) .
213

ser extremamente variado e, por si, lícito, mas por seus efeitos frente aqueles
objetivos fulcrais da disciplina societária 514.

Inexistindo regra legal específica, no Brasil, que delineie os efeitos a


sancionar no direto societário 515, o intérprete não escapa à necessidade de
buscar, na jurisprudência e na doutrina brasileiras, quais são, no nosso
ordenamento jurídico, os objetivos da disciplina societária a proteger.

Por essas razões, essa pauta de pesquisa deve receber maiores atenções
da comunidade acadêmica, de modo que dos debates surjam contribuições para
a formulação de re gras específicas sobre a validade dos pactos parassociais
patrimoniais em vista dos efeitos relevantes ao direito societário que possam
produzir 516.

Em suma, no contexto atual de utilização dos pactos parassociais –


patrimoniais ou não – seria recomendável que a disciplina legal não se
restringisse ao disposto no art. 118 da lei 6.404/76, mas os tratasse como
gênero e atentasse, com maior acuidade, à sua função econômica e aos
potenciais efeitos frente aos interessados na tutela societária.

514
A e xem p l o d o q u e s e ve r i f i c a n a l e gi s l a ç ã o an t i t r ust e b r a s i l e i r a , j á q ue t am b é m n aq u e la
e s f e r a a c r i a t i vi d a d e d os a ge n t e s é m a r c an t e e a m er a e nu n ci a ç ã o d e a t o s il í c it o s n ão
a br a n ger i a t od a a p o s s i bi li d ad e de d a no à or de m e c on ô m i c a q u e se p r o cu r a p r ot e ge r . Cf .,
s o br e e s s a o p çã o l e gi s l at i va , P A U L A A. F O R G I O N I , Os Fun d a me n t o s d o An t i t r u st e , 3 ª e d. ,
S ão P a ul o , R T, p. 14 7 -15 0 .
515
Na l e gi s l aç ã o an t i t r us te , a n t e s r ef e r i d a , e s s a e n u nc i a ç ã o f o i r e a l i z a da n o a r t . 20 d a l ei
8 .8 84 / 9 4.
516
C om o j á c o m en t a d o, A L B U Q U E R Q U E B A R R E T O e s b oç a o p r o b l e m a a o a p on t a r a l guns
l i m it es de va l i d a de d o s pa c t o s p ar a s s o ci ai s s em , t o da vi a , a p r of u n da r o t em a .
214

5 - CONCLUSÕES

1. A contratualização do direito societário é fenômeno que,


ine gavelmente, tem se expandido e se intensificado nos diversos
ordenamentos, sendo os pactos parassociais um de seus traços mais
característicos. O estudo desses contratos geralmente não os enfoca sobre o
ponto de vista do relacionamento societário de que os signatários são parte, o
que demanda a análise de sua inafastável relação com a própria noção de
sociedade e os princípios que a sustentam.

2. Ao se falar em pactos parassociais, em geral aparta-se, de um lado,


aqueles que incidem diretamente sobre a organização e funcionamento da
companhia (notadamente os acordos de voto) daqueles pactos que, em
princípio, referem-se apenas a direitos patrimoniais dos celebrantes, enquanto
sócios.

3. Os primeiros foram as manifestações originárias do fenômeno,


havendo farta doutrina e preocupação constante de examinar seus efeitos
societários. No segundo caso, porém, o fato de os efeitos obrigacionais do
pactuado recaírem, em regra, apenas aos contratantes, acaba por permitir que
se afirme que eles são re gidos pela teoria geral dos contratos sem que a
ressalva de que também devem respeito ao direito societário seja explorada.
Por esse viés, no mais das vezes, subestima-se eventuais conseqüências
societárias desses contratos.

No Brasil e na Itália muito dessa percepção advém do ape go doutrinário


à obra que originalmente designou os contratos parassociais como tais e
enunciou as principais questões dogmáticas a eles ligados: Contratti
Parasociali, escrita em 1942 por G IO RG I O O PP O . Nesse estudo - e em muitos
que o seguiram, como se examinou na Introdução - o enfoque recai (i) no
liame entre contrato social e parassocial, na coli gação ou acessoriedade entre
215

negócios jurídi cos 517 e (ii) nas ocorrências de pactos que geram efeitos para a
companhia, ou seja, afastando-se do campo de análise os ajustes entre sócios a
respeito do exercício de direitos que afetem, precipuamente, o seu
patrimônio 518.

Passados quase setenta anos da publicação obra de O P P O , porém,


percebe-se que essa ótica, embora tenha contribuido si gnificativamente para a
análise teórica dos pactos parassociais no direito civil não seria suficiente
para embasar análise que, em cada caso concreto, o intérprete deve realizar.
De fato, os reclamos da práti ca societária e as questões jurídicas que suscitam
não se encaixam, apenas, na relação entre contratos, mas antes demandam
compreensão global do fenômeno societário que se sofistica sempre mais e
que esses ajustem vêm disciplinar.

4. Para investigar o assunto sob a ótica proposta, foi necessário


caracterizar, ainda que sucintamente, no Capítulo 2, os pactos parassociais
patrimoniais de modo a separá-los dos contratos organizativos e políticos,
com relação aos quais a doutri na societária de há muito se ocupa. Marcar essa
distinção foi imprescindível para examinar como e sob qual justificativa
também essas convenções firmadas entre particulares, que não possuem direto
para a companhia, devem orientar-se pelos princípios societários.

Com esse intuito, apurou-se a função econômica desses pactos


peculiares, matriz de toda interpretação contratual. Avaliou-se, então, que ela
não poderia ser colhida em cada ajuste isoladamente considerado – como
ocorre ao tratá-los apenas como meros contratos – mas a partir de sua
inserção no relacionamento societário. Nessa perspectiva, a função econômica
dos pactos parassociais patrimoniais exsurge como aquela de personalizar e

517
G I O R G I O O P P O , Co nt r a t t i Pa r as o c i a l i , c it . , p . 2 .
518
Co m o se e n f a t i z ou , e s s e s co n t r a t os q u e nã o i nc i d e m d i r e t a m en t e s o br e a o r ga n i z a ç ã o e
f u nc i o n am e n t o d a c o m pa n h i a, n a l e i t u r a d e O P P O , s ã o vi s t o s c o m o me r o f a t o , o qu e
d i s pe n s a r i a a ne c e s s i dad e d o exa m e d a s ua c o ne x ã o co m o c o nt r at o d e s o c i ed a d e.
Evi d e nc i a -s e , n e ss e p e c u l i a r , a d i f e r e nç a d o e s t u do o r a r ea l i z a d o, qu e pa r t e d a f un ç ã o d a
p ac t u a ç ão p a r a s so c i a l p a r a o r el a c i o n am en t o e n t r e os só c i o s ( Co n t r at t i… ci t ., p p . 7 -8) .
216

estruturar esse relacionamento, por meio do regramento de direitos


patrimoniais de seus partícipes, incidentes sobre sua esfera jurídica.

5. Nesse exame se constatou que, no cumprimento de sua função


econômica, as disposições dos pactos em exame não apenas geram vínculos
obrigacionais entre os si gnatários – como muito se salienta, mas também
gravam o status de sócio de cada um deles. A ênfase da doutrina em referir
que os efeitos do pacto limitam-se às partes contratantes seria justificada,
assim, pela necessidade de se evidenciar as diferenças formais entre contrato
social e parasocial (regras de constituição, publicidade etc) e com vistas à
disciplina da oponibilidade do contratado perante a companhia, permitida, de
forma ímpar, no direito brasileiro. Não se enfatiza, porém, de maneira
contundente, que essas considerações não têm por efeito afastar a incidência,
sobre os pactos parassociais, do direito societário. Por consequência,
procurou-se insistir nesse aspecto tão relevante ao tema.

6. Todas as circunstâncias acima expostas influenciam,


inexoravel mente, o processo de interpretação dos pactos parassociais
patrimoniais sem que se encontrasse, no Brasil, obras voltadas especificamene
ao problema, apontando, para o intérprete, balizas a considerar. Assim,
objetivo desta tese foi de investigar e apontar elementos que devem orientar o
processo de interpretação dos pactos parassociais patrimonias, em vista de sua
pertinência ao relacionamento societário existente entre os pactuantes.

7. Em primeiro lugar, partiu-se da constatação de que, na legislação


brasileira, a par da regra geral de interpretação dos negócios jurídicos 519, não
há regras sobre a interpretação dos pactos parassociais, em geral, ou mesmo
sobre a relação entre os pactos parassociais e a disciplina societária. Ao
prever no art. 118 da lei 6.404/76 os acordos de acionistas, espécie de pacto
parassocial que pode disciplinar o direito de voto, exercício do poder de
controle e a compra e venda de ações, o legislador brasileiro deu ênfase a dois

519
Ar t . 11 3 d o Có di go Ci v i l .
217

aspectos peculiares: a execução específica do contratado, em linha com a


legislação processual, e a oponibilidade do acordo perante a companhia e
terceiros. Por decorrência, a nossa produção acadêmica centra-se no exame de
temas correlatos aos acordos de acionistas, especialmente no que toca aos
acordos de voto e controle, e as formas de vinculação da companhia. No
Capítulo 3, verificou-se a relação entre a disciplina lega l existente e a
interpretação dos pactos parassociais patrimoniais, bem como a consequência
de muitos deles não se engl obarem naqueles mencionados em lei: os pactos
parassociais patrimoniais que não se referem à compra e venda de ações e
preferência para adquiri-las não são oponíveis a terceiros, valendo apenas
entre as partes. Todavia, como qualquer contrato, produzem efeitos reflexos a
terceiros os quais podem não ser aceitáveis sob a ótica societária.

8. A seu turno, a jurisprudência sobre o tema é míngua, espécie no que


se refere a ajustes que não se identificam com acordos de voto, não sendo
possível dela extrair princípios ou lineamentos sobre necessária submissão dos
pactos parassociais patrimoniais aos ditames do direito societário, que
pudessem orientar a interpretação 520.

9. Nesse contexto, procurou-se, a partir da função econômica dos pactos


parassociais patrimoniais delineada no Capítulo 2, avaliar alguns elementos
que pudessem servir de norte para o intérprete, de modo a incluir no processo
hermenêutico considerações ligadas à própria lógica societária a que esses
contratos devem servir.

Ou seja, elementos que servissem para afastar a apressada conclusão de


que os pactos de conteúdo patrimonial seriam alvo de irrestrita liberdade
contratual das partes, no pleno gozo de seu direito de propriedade sobre os
objetos da cont ratação.

520
Ex c eç ã o ne c e s s ár i a s e d e ve f a z er a o a c ór d ã o d o ST J s ob r e o c a s o P e t r o pl as t i c, em que
e s s a r el aç ã o f o i a po n t a d a .
218

10. No Capítulo 4, pois, em um primeiro lance, voltou-se a elementos


fundados nas regras consagradas de hermenêutica, que determinam a
necessidade de exame da função econômica do contrato, da intenção comum
das partes e da boa-fé objetiva para resultado idôneo, consentâneo com as
legítimas expectativas geradas pelo negócio. Como conclusão dessa análise,
parece possível enunciar que a interpretação dos pactos parassociais
patrimoniais:

a) não pode desconsiderar a causa societária que irmana os


pactuantes, ou seja, tratar esses contratos como se as partes não se
encontrassem vinculadas em sociedade, não fossem sócias;

b) deve realizar-se com base nas circunstâncias da associação


societária entre as partes e o contexto global em que o contrato
foi celebrado, apurando-se o complexo quadro fático e negocial
que sempre mais caracteriza as relações societárias;

c) deve pautar-se pela boa-fé objetiva, concretamente apurada com


base no relacionamento societário que envolve as partes, em
respeito da confiança e da legítima expectativa entre elas,
pautadas pela affectio societatis, ou seja, pelo estado de ânimo
colaborativo que as leva a cooperar em vista de um escopo
comum.

11. Ademais, todos esses aspectos devem ser considerados em vista de


outros elementos, imprescindíveis à sustentação da lógica societária: o escopo
comum, os deveres de lealdade, a vedação de pacto leonino e os direitos dos
sócios. Com relação a eles, pois, concluiu-se que:

a) alicerce da noção de sociedade, o escopo comum orienta todas as


relações emanadas do contrato de sociedade ou, na expressão de
Wiedemann, é a lei vital da sociedade a que as partes,
voluntariamente, sujeitam-se;
219

b) o escopo comum assinala aos sócios, pois, deveres de conduta,


pautados na relação fiduciária que entre eles deve existir,
independente de previsão legal. São deveres laterais de conduta,
que ultrapassam a obrigação primária do sócio de contribuir com
recursos para a formação do capital social. A partir do direito
alemão, esses deveres são desi gnados deveres de lealdade
(Treuepflichten) e voltam-se tanto para a conduta do sócio perante
a companhia como – e especialmente para o argumento da tese –
perante os demais sócios.

c) Nesse sentido, os deveres de lealdade servem de pauta de


avaliação da conduta dos sócios, examinando a sua adequação
frente aquela específica relação societária que estabeleceu com os
demais em vista de um escopo comum, valendo-se, inclusive, de
convenções parassociais patrimoniais.

d) Por consequência, a interpretação de pactos parassociais


patrimoniais deve levar em conta o respeito a esses deveres
coibindo resultados que atentem contra o escopo comum a ser
perseguido. Essa necessidade é verificada mesmo que (e
especialmente quando), aparentemente, o objeto do contrato
refira-se a direitos individuais e patrimoniais do celebrante, sem
impacto direto para a companhia. A conduta do sócio globalmente
considerada deve coadunar-se a esses deveres, e não apenas os
atos societários refletidos diretamente na companhia como o voto,
a participação em assembléia, a administração e a fiscalização da
atividade social.

e) Ainda em vista de fundamentos da noção de sociedade, a vedação


do pacto leonino também decorre da ideia de submissão das partes
ao escopo comum, já que não faria sentido assinalar escopo
comum a todos se uma das partes (i) colhesse sozinha seus frutos;
(ii) não participasse das perdas verificadas na realização da
220

atividade ou mesmo (iii) restasse isenta do risco inerente à


atividade. Por esse viés, a interpretação dos pactos parassociais
patrimoniais deve avaliar se el es têm por efeito a burla das regras
proibitivas dos pactos leoninos, ainda que, formalmente,
afi gurem-se como contratos válidos sob a perspectiva da teoria
geral dos contratos. No Brasil, o pacto leonino é sancionado de
nulidade, conforme o art. 1.008 do Códi go Civil.

f) por fim, os direitos de sócio são vitais para a convivência


societária, não podendo ser suprimidos. A interpretação dos
pactos parassociais deve, então, avaliar se suas disposições
afetam esses direitos, já que o art. 109 da Lei 6.404/76 limita
expressamente a autonomia das partes com relação a eles. Como
exemplos de direitos passíveis de afronta por pactos parassociais
patrimoniais, aponta-se o direito de não restar prisioneiro da
sociedade; o direito a permanecer associado e o direito a não ter
sua participação diluída injustificadamente.

g) Quanto ao direito de não restar prisioneiro da sociedade, a


atenção se volta a pactos relativos à restrição na circulação de
ações, como os ajustes de direito de preferência, consentimento e
permanência, aos quais se contrapõe o direito de recesso ou
retirada do acionista.

h) Sobre o direito de se manter associado, os pactos de opção de


compra devem ser examinados de sorte a apurar se a exclusão do
acionista por elas perpetrado é coerente com sua tutela ou se, ao
revés, impõe-se expropriação ao acionista vinculado.

i) Por fim, a interpretação de pactos parassociais patrimoniais que


prevejam regras de capitalização e financiamento da sociedade
deve considerar se o acionista a que elas se sujeita terá tido
condições de manifestar as condições em que aceita ver sua
221

participação acionária reduzida ou se, ao contrário, há renúncia


genérica e tácita – inadmissível - a esse seu direito.

12. Enunciados os elementos que se pode colher do exame da função


econômica dos pactos parassociais patrimoniais e sua inserção na relação
societária, cerne do presente trabalho, avaliou-se elementos tradicionalmente
apontados na doutrina como limitadores da autonomia contratual, quais sejam
(i) a tipicidade social, (ii) o interesse social e (iii) a ordem pública societária.
A vagueza desses termos, contudo, faz com que pouco orientem, em concreto,
o intéprete, corroborando a utilidade de critérios mais objetivos como os
apontados nos itens precedentes.

13. Como reflexão final, a envolver os tópicos precedentemente


desenvolvidos, cuidou-se da necessidade de a interpretação dos pactos
parassociais patrimoniais guardar coerência com os objetivos do direito
societário que, sucinta e genericamente, podem ser indicados como a proteção
dos sócios, dos credores e de terceiros afetados pela relação societária. Ou
seja, reforça-se a necessidade de, no exame dos pactos parassociais
patrimoniais, valer-se de perspectiva teleológica.

No estágio atual do direito brasileiro, contudo, o intérprete não encontra


toda a consolidação teórica, legislativa ou jurisprudencial para lhe indicar, de
forma concreta e sistemática, quais os objetivos que o direito societário pátreo
persegue e, por conseqüência, quais efeitos e danos potencialmente gerados
pelos pactos parassociais patrimoni ais se deva coibir.

Frente a essa dificuldade, entendeu-se conveniente sugerir que a


legislação societária brasileira passe a contar com disciplina mais abrangente
dos pactos parassociais - patrimoniais ou não - caracterizando sua eventual
ilicitude pelos efeitos gerados na órbita do direito societário.

Optando-se por essa linha, seria necessário indicar, a ex emplo do que


ocorre na legislação antitruste brasileira, tanto os alvos de proteção da
222

disciplina quanto os efeitos que ela deve reprimir. O benefício deste caminho
seria o de oferecer disciplina que, afinal, fizesse frente à criatividade dos
agentes que, na prática societ ária, buscam os contratos parassociais para
regular seu relacionamento societário.

14. Naturalmente, outros elementos que não aqueles referidos nos itens
10 e 11, acima, podem e devem ser considerados para a interpretação dos
pactos parassociais patrimoniais e não se teve a pretensão de esgotá-los.

Ao contrário, não se tendo encontrado manifestações doutrinárias que


tenham tratado do mesmo assunto, sob a mesma ótica, o objetivo foi o de
trazer a lume essas reflexões e sugestões, com vistas a aproximar do direito
societário o exame dos contratos parassociais patrimoniais. Cuidando-se de
proposta inexplorada, anseia-se que outros estudos possam aperfeiçoar e
corri gir as inevitáveis falhas ou lacunas presentes neste trabalho.
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33

ANÁLISES JURISPRUDENCIAIS

TJSP - P O R C E N T A G E M D E T E M A S
Número de Decisões Porcentagem
Decisões analisadas 231 100%
Questões Processuais 181 78,35%
Conformidade com a lei
44 19,05%
de S.A. e Voto
Interpretação 6 2,6%

TJ – SP
ACÓRDÃO N.º 1
Data do julgamento 17/10/2002
n.º do acórdão AI. nº 250.715.4/7
Relator Silveira Netto
O acórdão entende o acordo de acionistas como
apto a manter equil íbrio entre os sócios e
sociedade. A decisão de tornar sem efeito as
Comentários deliberações de determinadas assembléias
fundamentou-se, portanto, no que havia sido
decidido anteriormente entre as partes, no
acordo
ACÓRDÃO N.º 2
Data do julgamento 10/12/2002
n.º do acórdão Apel. nº 126.712.4/3
Relator Ruiter Oliva
O julgado entende que o acordo de acionistas
somente se insere no âmbito societário se versar
sobre as matérias previstas no art. 118 da Lei de
Comentários S.A. (compra e venda de ações ou direit o de
voto que estejam ar quivados na sede). Caso
contrário, é disciplinado pelo Código Civil, e
não pelo direito societário.
ACÓRDÃO N.º 3
Data do julgamento 11/11/2007
n.º do acórdão AI 529.384.4/3-00
Relator Boris Kauffmann
O Acórdão interpreta o acordo de acionistas que
trata de quorum exi gido para reunião do
Comentários
Conselho de Administração de maneira a não
inviabilizar a existência da companhia
ACÓRDÃO N.º 4
Data do julgamento 09/11/2010
n.º do acórdão AI. nº 990.10.280.968-4
Relator Grava Brazil
O Agravo de Inst rumento trata caso de
Comentários
antecipação de tutela, por isso o exame não é
34

aprofundado. No entanto, nota-se no acórdão a


consideração da quebr a do affectio societatis e a
redução dos honorári os do sócio-administr ador
para um patamar muito menor do que o
convencionado anteriormente, tentando
preservar a integridade da Sociedade.
ACÓRDÃO N.º 5
Data do julgamento 18/11/2008
n.º do acórdão Apel. nº 597.279-4/7-00
Relator Grava Brazil
Entendeu-se que devido à quebra da affectio
societatis, a administração conjunta pela
totalidade dos sócios prevista no contrato social
se tornou inviável. Assim, permitiu-se que a
Comentários administração da sociedade se realizasse por
dois dos sócios até o fim da lide. Logo, o
acórdão coloca a preservação da sociedade à
frente tanto do contrato social, como acordo de
acionistas.
ACÓRDÃO N.º6
Data do julgamento 16/09/2009
n.º do acórdão Apel. n.º 628.733.4/9-00
Relator A. C. Mathias Couto
Em acordo de acionistas contendo cláusula que
proíbe pessoas estranhas à companhia de
Comentários ingressarem em sua sede, o Relator entende tal
estipulação como lícita, uma vez que analisa o
acordo como um simples contrato.

STJ
Data do julgamento 13/08/2002
n.º do acórdão Medida Cautelar. nº 4.220
Relator Ari Pargendler
Ao interpretar acordo de acionistas cujo objeto a
cisão parcial da companhia e uma cláusula
acessória de “admi nistração transitória”, a
Relatora comenta que normas s ocietárias e
acordos parassocias se distinguem pela causa
eficiente, e que estes são acordos paralelos e
Comentários
dependentes do estatuto, e representam a
“declaração e a obri gação pessoal do sócio como
titular de seu patrimônio”. Com esse
fundamento, o Acordo de Acionistas deve
prevalecer.

CASO PETROPLÁSTIC

Abaixo, tem-se a anál ise de caso bastante citado ao longo da tese, envolvendo a
empresa Petroplastic (Recurso Especial n.º 388.423-RS).
35

A Primera Indústria e Comércio Ltda. ajuizou Ação Ordinária contra Petroplastic


Indústria de Artefatos Plásticos Ltda. e Petrobrás Química S.A. - Petroquisa para
resolver o acordo de acionistas, argument ando, em síntese que, por ter se
rompido a affectio societatis, com a exclus ão de uma das partes do acordo, não
poderia este prosseguir. A sentença, proferida pela Juíza de Direito Rejane
Maria Dias de Castro Bins, julgou procedente o pedido tendo por resolvido o
acordo de acionistas. Ou seja, entendeu que a quebra da affectio societatis seria
suficiente para extinguir o acordo de acionistas.

Em segunda instância, o Desembar gador Armínio José Abreu Lima da Rosa,


negou provi mento à A pelação de Petroplastic por entender que ela descumpriu o
acordo de acionistas, uma vez que pass ou a agir, abertamente, contra a
cooperação e interesses comuns.

Importante destacar, que o acórdão entendeu que a quebra da affectio societatis,


por conduta “rematadamente emer gente” de um dos partícipes não si gnificaria
outra coisa senão inequívoco inadimplement o da mais básica, mai s óbvia e mais
relevante obri gação contratual. O acórdão também ressaltou que, quando se fala
em affectio societatis, não se trata do crasso erro de equiparar, sempre, contrato
plurilateral com sociedade, o que se deseja expri mir, e o foi, com todas as letras,
corresponde ao grave incumpri mento contratual por parte da Petroplastic que
levou “ao óbito da pos sibilidade de vida em comum. Sabe-se que o dever básico,
aqui, corresponde, inequivocamente, à contribuição comum, à ‘socialização’ a
que alude Pontes de Miranda (in "Tratado de Direito Privado", 38/9, par. 4.185,
7), a quebra da proclamada affectio societatis outra coisa não traduz, ao fim e ao
cabo, senão rematada inadimplência a básico dever”.

O STJ ao analisar a questão destaca a ausência de confiança e quebra do dever de


cooperação e lealdade entre as partes do acordo de acionistas de que se cuida.
Assim, apóia a solução dada em primeira e segunda instância, a resolução do
acordo de acionistas.

Logo, tanto o STJ, quanto as instâncias ordinárias concluíram que a resolução do


acordo de acionistas foi medida de rigor. Para tanto, utilizam como fundamento a
quebra da affectio societatis, com alicerce na deslealdade e no conjunto de
atitudes incompatíveis com o dever de cooperação, inclusive a vedação do acesso
do representante da empresa Primeira Indústria e Comércio Ltda. às
dependências da Companhia.
36

REFERÊNCIAS JURI SPRUDENCIAI S

PANORAMA GERAL DOS RESULTADOS

Instância judicial: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo


Data de levantamento 13.3.11
(checagem):
Campo de pesquisa: Inteiro teor (= “Pesqui sa livre”)

Argumento de Espécie de decisão: Número de resultados:


pesquisa:
a) Acórdãos 190
A) “Acordo de
b) Decisões 6
acionistas”
Monocráticas
a) Acórdãos 31
B) “Acordo de
b) Decisões 2
quotistas”
Monocráticas
a) Acórdãos 2
C) “Pacto parassocial” b) Decisões 0
Monocráticas

Total de Resultados: 231 decisões

Devido ao número elevado, optou-se por não citar todos os acórdãos consultados:
na seção A N Á L I S E S J U R IS P R U D E N C I A IS apres entou-se a porcentagem dos temas, e
uma análise dos principais acórdãos.

Instância judicial: Superior Tribunal de Justiça


Data de levantamento 13.3.11
(checagem):
Campo de pesquisa: Inteiro teor (= “Pesqui sa livre”)

Argumento de Espécie de decisão: Número de resultados:


pesquisa:
A) “Acordo de a) Acórdãos 18
acionistas” b) Decisões Monocráticas 121
B) “Acordo de a) Acórdãos 0
quotistas” b) Decisões Monocráticas 3
C) “Pacto a) Acórdãos 0
parassocial” b) Decisões Monocráticas 0

Total de Resultados: 139 decisões


37

ACÓRDÃOS CONSULTADOS

1 - RE S P N . º 1.102.424 – SP 10 - REsp n.º 388.423 – RS


R E L A T O R ( A ): M I N I S T R O M A S S A M I Relator(a): Ministro Sálvio de
UYEDA Figueiredo Teixeira
D A T A D O J U L G A M E N T O : 18/08/2009 Data do julgamento: 13/05/2003
11 - AgR g no AgRg na MC n.º 4.220
2 - REsp n.º 856.826 – DF
– RJ
Relator(a): Ministra Nancy Andri ghi
Relator(a): Ministra Nancy Andri ghi
Data do julgamento: 19/02/2008
Data do julgamento: 11/11/2002
3 - MC n.º 13.304 – PR
12 - MC n.º 4.220 – RJ
Relator(a): Ministra Eliana Calmon
Relator(a): Ministra Nancy Andri ghi
Data do julgamento: 25/09/2007
Data do julgamento: 13/08/2002
4 - REsp n.º 784.267 – RJ 13 - MC 2.035/MG
Relator(a): Ministra Nancy Andri ghi Relator(a): Ministro Cesar Asfor
Data do julgamento: 21/08/2007 Rocha
Data do julgamento: 21/10/1999
5 - Edcl no Resp n.º 388.423 – RS
Relator(a): Ministro Jorge 14 – RO em MS 10.120/RS
Scartezzini Relator(a): Ministro José Delgado
Data do julgamento: 07/12/2006 Data do julgamento: 29/04/1999

6 - RO em MS nº 18.769 – PR 15 - AgR g no AI n.º 142.333


Relator(a): Ministra Eliana Calmon Relator(a): Ministro Carlos Alberto
Data do julgamento: 02/12/2004 Menezes Direito
Data do julgamento: 26/06/1997
7 - AgR g na MC n.º 8.527 – PR 16 - REsp n.º 43.457-2
Relator(a): Ministra Eliana Calmon Relator(a): Ministro Eduardo Ribeiro
Data do julgamento: 17/08/2004 Data do julgamento: 30/10/1995
8 - AgR g no AI n.º 481.023 - MG 17 - Edcl no REsp n.º 27.517-2
Relator(a): Ministro Fernando Relator(a): Ministro Eduardo Ribeiro
Gonçalves Data do julgamento: 15/06/1993
Data do julgamento: 18/12/2003
9 - REsp n.º 413.722 – RS
18 - REsp n.º 27.517
Relator(a): Ministro Sálvio de
Relator(a): Ministro Eduardo Ribeiro
Figueiredo Teixeira
Data do julgamento: 23/03/1993
Data do julgamento: 13/05/2003

As decisões monocrát icas do STJ não foram indi vidual mente citadas, tratando
basicamente de discussão de competência interna do STJ e do cabimento dos
recursos diante das sumulas 5 e 7 (impossibilidade de interpretação de cláusula
contratual e fatos pelo STJ).
38

Instância judicial: Supremo Tribunal Federal


Data de levantamento 13.3.11
(checagem):
Campo de pesquisa: Inteiro teor (= “Pesqui sa livre”)

Argumento de Espécie de decisão: Número de resultados:


pesquisa:
a) Acórdãos 1
A) “Acordo de
b) Decisões 7
acionistas”
Monocráticas
a) Acórdãos 0
B) “Acordo de
b) Decisões 0
quotistas”
Monocráticas
a) Acórdãos 0
C) “Pacto parassocial” b) Decisões 0
Monocráticas

Total de Resultados: 8 decisões

ACÓRDÃOS CONSULTADOS

1 - ADI 1846 MC / SC
Relator(a): Ministro Carlos Velloso
Data do julgamento: 25/06/1998

Decisões monocráticas do STF foram consult adas mas não citadas, uma vez que,
por suas próprias car acterísticas, não tratam o tema dos acordos de acionistas,
mas, basicamente de (i) análise da legislação que proíbe o Poder Executivo, às
empresas públicas e de economia mista cujo controle acionário pertença ao
Estado e (ii) descabimento da via recursal.

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