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8.

8 ESCOAMENTO PERMANENTE VARIADO

Usualmente dimensionamos os canais considerando um escoamento


permanente uniforme, com o escoamento paralelo ao fundo do canal, com uma altura
“h” constante, o qual possui um sistema simples de dimensionamento, porém há trechos
em um canal onde encontramos escoamentos variados, podendo ocasionar Remansos e
Ressaltos.

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8.8.1 Carga Específica

𝑣²
He = h +
2𝑔

He= Carga Específica(m.c.a);


h= Altura da linha d’água em relação ao fundo do canal (m);
v= velocidade do fluido (m/s);
g= gravidade (m/s²).
Em outras palavras, desconsidera-se a cota “z”

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8.8.1 Carga Específica

Por exemplo, considerando o caso de um canal de seção retangular com 3 m de


largura, conduzindo 4,5 m³s de água, encontram-se os valores de “h” e “He”, que se
acham na Tabela A-14.3.1-a. Os valores de “h” e “He”, mostrados na tabela, quando
representados graficamente, dão a curva típica ilustrada na Figura A-14.3.1-a.

Quando h=He, significa que o canal não


possui escoamento, ou seja está parado v=0
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8.8.2 Profundidade Crítica

Na Figura A-14.3.1-a (gráfico anterior), verifica-se que o valor mínimo da


carga específica ocorre no ponto C, que corresponde a uma profundidade pouco
superior a 0,60 m. Abaixo ou acima dessa profundidade, eleva-se o valor de He.
A profundidade correspondente ao ponto C denomina-se “profundidade
crítica”, sendo, portanto, aquela para o qual o valor de v²/(2.g)+h é um mínimo.
A figura abaixo exemplifica a mudança de movimento uniforme para variado
com o aparecimento do regime crítico onde aparece a profundidade crítica.

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a. Profundidade Crítica em Canal Retangular

Considerando-se um canal de seção retangular, de declividade constante e com


1 metro de largura:
3 2
He = ∙ ℎ𝑐 ∴ ℎ𝑐 = ∙ 𝐻𝑒
2 3

3 𝑞2 2ൗ
ℎ𝑐 = ∴ ℎ𝑐 = 0,47 ∙ 𝑞 3
𝑔
Onde:
hc= profundidade crítica (m);
q= vazão no canal por metro de largura de canal (m³/s cada 1m);
He= energia específica (m);
g= aceleração da gravidade (m/s²)

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b. Profundidade Crítica em Canal Circular parcialmente cheio

Considerando-se um canal de seção circular parcialmente cheio:

2ൗ
𝑄 3
ℎ𝑐 = 0,483 ∙ + 0,083 ∙ 𝐷
𝐷

ℎ𝑐
Equação válida para 0,3 < < 0,9
𝐷
Onde:
hc= profundidade crítica (m);
Q= vazão no canal (m³/s);
D= Diâmetro da seção circular (m);

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8.8.3 Velocidade crítica:
𝑄
v𝑐 = = 𝑔 ∙ ℎ𝑚𝑐
𝐴𝑐

𝐴𝑐
ℎ𝑚𝑐 =
𝐵

vc= Velocidade crítica (m/s);


Q= Vazão no canal (m³/s);
hmc= Altura média crítica em relação ao fundo do canal (m), válidos para canais de
formato irregular;
Ac= Área crítica (m²);
B= Largura superior (m);
g= gravidade (m/s²).

Quando o canal for retangular:


hmc = hc 7
8.8.4 Declividade crítica:
𝑔 ∙ ℎ𝑚𝑐
I𝑐 = 2
𝐶 ∙ 𝑅ℎ

Ic= Declividade crítica (m/m);


hmc= Altura média crítica em relação ao fundo do canal (m), válidos para canais de
formato irregular;
Rh= Raio hidráulico (m);
C= coeficiente de atrito de Chézy;
g= gravidade (m/s²).
Quando o canal for retangular:
hmc = hc

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8.8.5 Número de Froude:
𝑣
𝐹𝑟 =
𝑔∙ℎ

Fr= Número de Froude;


v= Velocidade do escoamento (m/s);
h= altura da lâmina de água (m);
g= gravidade (m/s²).

8.8.6 Regimes de escoamento:


• Subcrítica ou Fluvial:
Fr<1; I<Ic; h>hc

• Crítica:
Fr=1; I=Ic; h=hc

• Supercrítica ou Torrencial:
Fr>1; I>Ic; h<hc

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Regimes nos canais:

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8.8.7 Ressalto hidráulico:
O salto ou ressalto hidráulico é uma sobrelevação brusca da superfície líquida.
Corresponde à mudança de regime de uma profundidade menor que a crítica para outra
maior que esta, em consequência do retardamento do escoamento em regime inferior
(rápido) (Figura A-14.3.8-a). É um interessante fenômeno que se observa
frequentemente no sopé das barragens (Figura A-14.3.8-b), a jusante de comportas e nas
vizinhanças de obstáculos submersos.

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8.8.7 Ressalto hidráulico:

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8.8.7.1 Tipos de Ressalto hidráulico:
O ressalto hidráulico pode apresentar-se com duas formas:
• O salto elevado, com um grande turbilhonamento, que faz certa porção do líquido
rolar contra a corrente (Figura A-14.3.8-c). Nesse caso, o ar entranhado permite uma
certa aeração do líquido.

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• Superfície agitada, porém sem remoinho e sem retorno do líquido. Essa segunda
forma ocorre quando a profundidade inicial não se encontra muito abaixo do valor
crítico (Figura A-14.3.8-d).

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8.8.8 Remanso hidráulico:
O escoamento uniforme em um curso de água caracteriza-se por uma seção de
escoamento e declividade constantes.
Tais condições deixam de ser satisfeitas, por exemplo, quando se executa uma
barragem em um rio. A barragem causa a sobrelevação das águas, influenciando o nível
da água a uma grande distância a montante. É isso que se denomina remanso.

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Exemplo:
5) Um canal de concreto mede 2 m de largura e foi projetado para funcionar com uma
profundidade útil de 1 m (Figura A-14-e(1)). A declividade é de 0,0005 m/m.
Determinar a vazão e verificar as condições hidráulicas do escoamento.

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Resolução exemplo 5:
𝐴𝑚 = 2,0 ∙ 1,0 = 2,0 𝑚²
𝑃𝑚 = 1,0 + 2,0 + 1,0 = 4,0 𝑚

2,0
𝑅ℎ = = 0,5 𝑚
4,0
𝐼 = 0,0005 𝑚/𝑚
Calcula-se a vazão:

1 2/3 1/2
Q = 𝐴𝑚 ∙ ∙ 𝑅ℎ ∙ 𝐼
n

1
Q = 2,0 ∙ ∙ 0,52/3 ∙ 0,00051/2 = 2,17 𝑚3 /𝑠
0,013
Calculando a velocidade:

𝑄 2,17
𝑣= = = 1,08 𝑚/𝑠
𝐴𝑚 2,0
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Resolução exemplo 5:
Carga específica:

𝑣² 1,08²
He = h + = 1,0 + = 1,06 𝑚
2𝑔 2 ∙ 9,81
Profundidade crítica:

2 2
ℎ𝑐 = ∙ 𝐻𝑒 = ∙ 1,06 = 0,707 𝑚
3 3
Velocidade crítica (como é retangular hc=hmc

v𝑐 = 𝑔 ∙ ℎ𝑚𝑐 = 9,81 ∙ 0,707 = 2,63 𝑚/𝑠

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Resolução exemplo 5:
Calculando o coeficiente de Chézy, com n=0,013

𝑅ℎ 1/6 0,51/6
𝐶= = = 68,5
𝑛 0,013
Declividade crítica:

𝑔 ∙ ℎ𝑚𝑐 9,81 ∙ 0,707


I𝑐 = 2 = = 0,00294 𝑚/𝑚 > 0,0005 𝑚/𝑚
𝐶 ∙ 𝑅ℎ 68,52 ∙ 0,5
Conclui-se que o regime é fluvial (tranquilo).

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Exemplo:
6) Admitindo agora que o canal do exercício anterior (Q=2,17 m³/s) com 0,004 m/m.
Porém agora calculando os dados empregando o Método dos Parâmetros
Adimensionais.

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Resolução exemplo 6:
Q∙n 2,17 ∙ 0,013
= = 0,0702
b 8Τ3 ∙ I 1Τ2 2,08Τ3 ∙ 0,0041Τ2
Da Tabela A-14.2.11-a e com m=0, tem-se:

h
= 0,24
𝑏
ℎ = 𝑏 ∙ 0,24 = 2,0 ∙ 0,24 = 0,48 𝑚
Considerando Am=0,96 m² e Pm=2,96 m:

Q 2,17
𝑣= = = 2,26 𝑚/𝑠
𝐴𝑚 0,96

𝐴𝑚 0,96
𝑅ℎ = = = 0,324 𝑚
𝑃𝑚 2,96

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Resolução exemplo 6:
Carga específica:

𝑣² 2,26²
He = h + = 0,48 + = 0,740 𝑚
2∙𝑔 2 ∙ 9,81
Profundidade crítica:

2 2
ℎ𝑐 = ∙ 𝐻𝑒 = ∙ 0,740 = 0,494 𝑚
3 3
Velocidade crítica (como é retangular hc=hmc)

v𝑐 = 𝑔 ∙ ℎ𝑚𝑐 = 9,81 ∙ 0,494 = 2,20 𝑚/𝑠

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Resolução exemplo 6:
Calculando o coeficiente de Chézy, com n=0,013

𝑅ℎ 1/6 0,51/6
𝐶= = = 68,5
𝑛 0,013
Declividade crítica:

𝑔 ∙ ℎ𝑚𝑐 9,81 ∙ 0,494


I𝑐 = 2 = = 0,0032 𝑚/𝑚 < 0,004 𝑚/𝑚
𝐶 ∙ 𝑅ℎ 68,52 ∙ 0,324
Conclui-se que o regime é supercrítico (torrencial).

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