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8.

CONDUTOS LIVRES OU CANAIS


8.1 DEFINIÇÕES
De acordo com Netto e Alvarez (1991), considera-se canais, todos os
condutos que conduzem águas com uma superfície livre, com seção aberta ou fechada.
Segundo Fernadez et al (2008), “Os condutos livres estão sujeitos a pressão
atmosférica, pelo menos em um ponto da sua seção do escoamento. Eles também são
denominados canais e normalmente apresentam uma superfície livre de água, em
contato com a atmosfera.”

“a” e “b”: 2 casos típicos de conduto livre;


“c”: caso limite de um conduto livre;
“d”: conduto forçado.
1
8.1 CONDUTO LIVRE (CANAL) ABERTO:

2
8.2 CONDUTO LIVRE FECHADO:

3
8.3 TIPOS DE MOVIMENTO:

UNIFORME
(Seção uniforme,
profundidade e
velocidade constantes)

PERMANENTE
(Numa determinada
seção a vazão
permanece constante) Gradualmente

ESCOAMENTO
VARIADO
(Acelerado ou
NÃO Retardado)
PERMANENTE
(vazão variável)
Bruscamente
2.1 – Permanente: 2.2 – Uniforme:
- Vazão constante; - Velocidade constante;
- Independem do tempo. - Profundidade constante;
- Seção invariável.
4
8.4 ESCOAMENTO PERMANENTE UNIFORME:
8.4.1 Carga Total e Carga Específica:

5
8.4.2 Carga Total:
𝑣²
Ht = Z + h +∝∙
2∙𝑔

Ht= Carga Total (m.c.a);


Z= Altura do plano de referência ao fundo do canal (m);
h= Altura da linha d’água em relação ao fundo do canal (m);
α= coeficiente entre 1,0 e 1,1, que leva em conta a variação de velocidades que existe
na seção. Na prática adota-se o valor de 1,0;
v= velocidade do fluido (m/s);
g= gravidade (m/s²).

Substituindo α=1,0:

𝑣²
Ht = Z + h +
2∙𝑔

6
8.4.3 Carga Específica

𝑣²
He = h +
2𝑔

He= Carga Específica(m.c.a);


h= Altura da linha d’água em relação ao fundo do canal (m);
v= velocidade do fluido (m/s);
g= gravidade (m/s²).
Em outras palavras, desconsidera-se a cota “z”

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8.5 DISTRIBUIÇÃO DA VELOCIDADE NOS CANAIS

seção transversal seção longitudinal

-Velocidade máxima encontrada na vertical (1)

8
Velocidade em m/s
Considerando-se a velocidade média em determinada seção como igual a “1” pode-se
traçar o diagrama de variação da velocidade com a profundidade:

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8.6 RELAÇÕES PARA VELOCIDADE MÉDIA

O serviço Geológico dos Estados Unidos apresenta as relações dadas a seguir,


que são de grande utilidade nas determinações e estimativas de vazão.
a) A velocidade média numa vertical geralmente equivale de 80% a 90% da
velocidade superficial.
b) A velocidade a seis décimos de profundidade é, geralmente, a que mais se
aproxima da velocidade média:
𝑣𝑚𝑒𝑑 ≅ 𝑣0,6

c) Com maior aproximação do que na relação anterior, tem-se:


𝑣0,2 + 𝑣0,8
𝑣𝑚𝑒𝑑 ≅
2

d) A velocidade média também pode ser obtida partindo-se de:


𝑣0,2 + 𝑣0,8 + 2 ∙ 𝑣0,6
𝑣𝑚𝑒𝑑 ≅
4

*Essa última expressão é mais precisa

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8.7 ÁREA MOLHADA E PERÍMETRO MOLHADO

8.7.1 Área Molhada (Am)


Denomina-se área molhada de um conduto a área útil de escoamento numa seção
transversal.

8.7.2 Perímetro molhado (Pm)


O perímetro molhado é a linha que limita a área molhada junto as paredes e ao fundo do
contudo.

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Algumas fórmulas para se calcular o perímetro molhado e área molhada em
seções costumeiras:
• Canal Circular:
𝐷2 ∙ 𝜃 − sen 𝜃
𝐴𝑚 =
8

𝐷∙𝜃 ℎ
𝑃𝑚 = 𝜃 =2∙ cos −1 1−2∙
2 𝐷
Sendo:
θ = em radianos;
D= diâmetro interno do conduto (m);

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Algumas fórmulas para se calcular o perímetro molhado e área molhada em
seções costumeiras:
• Canal Trapezoidal:
𝑥1 ∙ ℎ 𝑥2 ∙ ℎ
𝐴𝑚 =𝑏∙ℎ+ +
2 2
𝑃𝑚 = 𝑏 + 𝐿𝑒 + 𝐿𝑑

ℎ ℎ
𝑥1 = 𝑥2 =
𝑡𝑎𝑛𝑔 𝛼 𝑡𝑎𝑛𝑔 𝛽
Sendo:
h = a altura da lâmina de água (m);
b = largura do fundo do canal (m);
α = em graus;
β = em graus;

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8.7.2 Raio Hidráulico

O raio hidráulico (Rh) é o quociente entre a área molhada (Am) e o perímetro molhado
(Pm). Representado pela equação :

𝐴𝑚
Rh =
𝑃𝑚

Rh= Raio hidráulico (m);


Am= Área molhada (m²);
Pm= Perímetro molhado.

Em canais com formatos retangulares, não é difícil descobrir o valor de Am e Pm, a


dificuldade aparece em outros formatos, onde necessitam cálculos mais complexos,
como o de condutos circulares.

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Para facilitar nossa vida, apresenta-se uma tabela retirada do livro Manual de
Hidráulica Azevedo Netto: OBS: NA TABELA CONSIDERAR y=h
8.7.3 Equação da Continuidade

A equação que relaciona uma massa volumétrica por uma seção conhecida a uma
velocidade.
Q = Am ∙ v
Q= vazão (m³/s);
Am= área molhada (m²);
v= velocidade (m/s).

8.7.4 Fórmula de Chézy

v = C ∙ Rh ∙ I

6
Rh
C=
n
v= velocidade (m/s);
C= coeficente de atrito de Chézy;
Rh= Raio hidráulico (m);
I= declividade do canal (m/m);
n= coeficiente de Ganguillet-Kutter (da fórmula de Manning).
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Tabela do coeficiente de Rugosidade de Ganguillet-Kutter:
Unindo a Equação da Continuidade com a Fórmula de Chézy, obtém-se:

Q = 𝐴𝑚 ∙ v
Q = 𝐴𝑚 ∙ C ∙ R h ∙ I
6
Rh
Q = 𝐴𝑚 ∙ ∙ Rh ∙ I
n
1/6
𝑅ℎ 1/2
Q = 𝐴𝑚 ∙ ∙ 𝑅ℎ ∙ 𝐼1/2
n
1/6 1/2
n ∙ Q = 𝐴𝑚 ∙ 𝑅ℎ ∙ 𝑅ℎ ∙ I
n∙Q 2/3 1 2/3 1/2
= 𝐴𝑚 ∙ 𝑅ℎ ou v = ∙ 𝑅ℎ ∙ 𝐼
I n
Q= vazão (m³/s);
Am= área molhada (m²);
v= velocidade (m/s);
C= coeficiente de Chézy;
Rh= Raio hidráulico (m);
I= declividade do canal (m/m);
n= coeficiente de Ganguillet-Kutter (da fórmula de Manning). 19
8.8 PROBLEMAS HIDRAULICAMENTE DETERMINADOS

RESOLUÇÃO
Problemas DADOS INCÓGNITA SIMPLES COM
FÓRMULA

Tipo 1 n; Am; Rh; I Q SIM


Tipo 2 n; Am; Rh; Q I SIM
Tipo 3 n; Q; I Am; Rh NÃO
Para se solucionar as incógnitas “Am” e “Rh”, necessita organizar um gráfico
para se encontrar o valor de “h” e “b” (quando houver).
n∙Q
Para isso primeiramente devemos calcular o valor de , em seguida estipular
I
valores de “h” aleatórios e fixar um valor desejado de “b” (quando houver), com isso
2/3 2/3
deve-se calcular P, Am, 𝑅ℎ , 𝑅ℎ e 𝐴𝑚 ∙ 𝑅ℎ , com esses valores monta-se uma tabela e
em seguida um gráfico para então descobrir o correto valor de “h”.

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Para se calcular problemas do tipo 3
Rh – m Rh2/3
h-m Pm (h) - m Am (h) – m² Am. Rh2/3

Com os valores calculados anteriormente, preencher a tabela, para por fim montar um
n∙Q
gráfico com eixo abscissa com os valores de “h” e ordenadas com valores de
I

nQ
Com o valor de calculado inicialmente, lança-se no gráfico até encontrar a curva
I
plotada, com isso basta “descer” até encontrar o valor correto de “h” e com ele calcular
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o valor correto de Am e Rh.
Exemplo:
1) Calcular a altura h em um canal, cuja seção transversal tem a forma da figura a
seguir. A vazão é 0,2 m³/s. A declividade longitudinal é 0,0004. O coeficiente de
rugosidade n, da fórmula de Manning é 0,013.

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Resolução exemplo 1:
Calcula-se inicialmente:
n∙Q 0,013 ∙ 0,2
= = 0,13
I 0,0004
Na sequência monta-se uma tabela estimando valores aleatórios de “h”, e calcula o
restante.
Rh – m Rh2/3
h-m Pm (h) - m Am (h) – m² Am. Rh2/3

0,2 1,49 0,220 0,148 0,279 0,061


0,3 1,73 0,345 0,200 0,343 0,118
0,4 1,97 0,480 0,244 0,391 0,188
Próximo passo é montar um gráfico com os valores, lembrando que:
n∙Q 2/3
= 𝐴𝑚 ∙ 𝑅ℎ
I

23
Resolução exemplo 1:
Calcula-se inicialmente:

n∙Q
Da curva, entra com o valor de = 0,13
I
E encontra h=0,315 m

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8.9 – MÉTODO DOS PARÂMETROS ADIMENSIONAIS

Esse método, desenvolvido pelos professores Arisvaldo Nuvolari e Acácio Eiji


Ito, da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC-SP), foi inspirado no “Appendix
A” da publicação “Open-channel Hydraulics” de autoria do Professor Ven Te Chow,
1959, e abrevia os cálculos no dimensionamento de canais, utilizando a fórmula de
Chézy com coeficiente de Manning.
Foram desenvolvidas tabelas para canais de seção transversal retangular,
trapezoidal e circular.

8.9.1 Canais retangulares e trapezoidais


Na figura a seguir estão mostradas as dimensões geométricas da seção transversal
b= largura do canal (m);
h= profundidade de escoamento (m);
m= indicador horizontal do talude.
A equação tem a seguinte estrutura:
Q∙𝑛 2/3
= 𝐴 𝑚 ∙ 𝑅ℎ
𝐼1/2
Para se ter os parâmetros adimensionais, divide-se ambos os membros por uma
dimensão linear elevada a potência 8/3.

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Adotando-se a largura b como dimensão linear, chega-se a seguinte expressão
para um canal trapezoidal:
2Τ3 2
h h
Q∙n h h
2 +m∙
b b
= + m ∙ ∙
b 8 Τ3 ∙ I 1 Τ 2 b b h
1 + 2 ∙ ∙ 1 + m2
b
Para um canal retangular (m=0), a expressão torna-se mais simples:
2 Τ3
h
Q∙n h b
= ∙
b 8 Τ3 ∙ I 1 Τ2 b 1 + 2 ∙ ℎ
b

A equação de resistência, conforme Manning, apresenta a seguinte forma:


1
v = ∙ R h 2 Τ3 ∙ I 1 Τ2
n
Sendo: v= velocidade (m/s);
n= coeficiente de rugosidade de Manning;
Rh= raio hidráulico (m);
I= declividade do fundo do canal (m/m).
Tem-se então:
v∙n 2Τ3
= R h
I 1 Τ2
Dividindo-se ambos os membros por uma dimensão linear elevada a potência
2/3, tem-se os parâmetros adimensionais. Adotando-se a largura b como dimensão
linear, chega-se a seguinte expressão para um canal trapezoidal:
2 Τ3
h
v∙n 1+m∙ h
= b ∙
2 Τ 3 1 Τ 2 h
b ∙I 1 + 2 ∙ ∙ 1 + m² b
b

Para um canal retangular (m=0), a expressão torna-se mais simples:


Τ
v∙n 1 h 2 3
= ∙
2 Τ 3 1 Τ 2 h
b ∙I 1+2∙ b
b

As tabelas 14.1 a 14.4 retiradas do Manual de Hidráulica Azevedo Netto foram


preparadas considerando-se o escoamento em regime permanente uniforme, com os
valores do parâmetro adimensional h/b variando de 0,01 a 1.
Nas tabelas 14.1 e 14.3, a dimensão linear considerada é a largura do canal b,
enquanto que nas tabelas 14.2 e 14.4 a dimensão linear é a profundidade de escoamento
h.
8.10 CANAIS CIRCULARES
Num canal circular, as dimensões geométricas são a profundidade de
escoamento “h” e o diâmetro “D”.

Adotando-se a mesma metodologia exposta em anteriormente, foram


preparadas as tabelas 14.5 a 14.8, também retiradas do Manual de Hidráulica Azevedo
Netto, considerando-se o escoamento em regime permanente uniforme, com os valores
do parâmetro adimensional h/D variando de 0,01 a 1.
Nas tabelas 14.5 e 14.7 a dimensão linear considerada é o diâmetro do canal D,
enquanto que nas tabelas 14.6 e 14.8, a dimensão linear é a profundidade de
escoamento h.

38
Exemplo:
2) Calcular a vazão e a velocidade em um canal trapezoidal m=1, ou seja 45º, com as
dimensões b=2,0 m e h=1,0 m. A declividade longitudinal é 0,0004 m/m e rugosidade é
n=0,018. Observação: utilizar as tabelas de métodos de parâmetros adimensionais e
fazer comparação usando de base uma com o “b” outra com o “h”.

42
Resolução exemplo 2:
1º Tomando como base a Tabela A-14.2.11-a, calcula-se:

h 1,00
= = 0,50
𝑏 2,00
2º Da Tabela A-14.2.11-a e com m=1,0, tem-se:

Q∙n
8 Τ 3 1 Τ 2
= 0,3439
b ∙I

b 8 Τ3 ∙ I 1 Τ2
𝑄 = 0,3439 ∙
𝑛

2,008Τ3 ∙ 0,00041Τ2
𝑄 = 0,3439 ∙ = 2,4 𝑚3 /𝑠
0,018

43
Resolução exemplo 2:
3º Da Tabela A-14.2.11-c e com m=1,0, tem-se:
v∙n
2 Τ 3 1 Τ 2
= 0,4587
b ∙I

b 2 Τ3 ∙ I 1 Τ2
𝑣 = 0,4587 ∙
𝑛

2,002Τ3 ∙ 0,00041Τ2
𝑣 = 0,4587 ∙ = 0,81 𝑚/𝑠
0,018

44
Resolução exemplo 2:
4º Agora tomando como base a Tabela A-14.2.11-b, calcula-se:

h 1,00
= = 0,50
𝑏 2,00
5º Da Tabela A-14.2.11-b e com m=1,0, tem-se:

Q∙n
8 Τ 3 1 Τ 2
= 2,1844
ℎ ∙I

h8Τ3 ∙ I 1Τ2
𝑄 = 2,1844 ∙
𝑛

1,008Τ3 ∙ 0,00041Τ2
𝑄 = 2,1844 ∙ = 2,4 𝑚3 /𝑠
0,018

45
Resolução exemplo 2:
6º Da Tabela A-14.2.11-d e com m=1,0, tem-se:
v∙n
2 Τ 3 1 Τ 2
= 0,7281
h ∙I

h2Τ3 ∙ I 1Τ2
𝑣 = 0,7281 ∙
𝑛

1,002Τ3 ∙ 0,00041Τ2
𝑣 = 0,7281 ∙ = 0,81 𝑚/𝑠
0,018

Dessa forma comprova-se que tanto por uma tabela que leva em consideração
o valor de “b” quanto outra que leva em consideração o valor de “h”, obtém-se o
mesmo resultado.

46
Exemplo:
3) Qual é a profundidade de um escoamento num canal trapezoidal (m=1) que conduz
uma vazão de 2,4 m³/s e com velocidade de escoamento de 0,81 m/s? Dados n=0,018,
b=2,00 m e I=0,0004m/m.

47
Resolução exemplo 3:
1º Tomando como base a Tabela A-14.2.11-a, calcula-se:

Q∙n 2,4 ∙ 0,018


= = 0,3401 ≈ 0,3439
b 8Τ3 ∙ I 1Τ2 2,08Τ3 ∙ 0,00041Τ2
2º Da Tabela A-14.2.11-a e com m=1,0, tem-se:

h
= 0,50
𝑏

h
= 0,50 ∴ ℎ = 2,0 ∙ 0,50 = 1,00 𝑚
2,00

48
Exemplo:
4) Determinar a profundidade de escoamento de escoamento num canal circular
(D=2,00 m) que conduz uma vazão de 3,0 m³/s, conhecendo-se I=0,0004 m/m e
n=0,013. Qual é a velocidade de escoamento?

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Resolução exemplo 4:
1º Tomando como base a Tabela A-14.2.11-e, calcula-se:

Q∙n 2,4 ∙ 0,013


= = 0,3071 ≈ 0,3083
D8Τ3 ∙ I 1Τ2 2,08Τ3 ∙ 0,00041Τ2
2º Da Tabela A-14.2.11-e, tem-se:

h
= 0,81
2,0

h
= 0,81 ∴ ℎ = 2,0 ∙ 0,81 = 1,62 𝑚
2,00

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Resolução exemplo 4:
3º Com o emprego da Tabela A-14.2.11-g, tem-se para o h/D=0,81:
v∙n
2 Τ 3 1 Τ 2
= 0,4524
D ∙I
4º Da Tabela A-14.2.11-g, tem-se:

D2Τ3 ∙ I 1Τ2 2,03Τ2 ∙ 0,00041Τ2


𝑣 = 0,4524 ∙ = 0,4524 ∙
𝑛 0,013
𝑣 = 1,10 m/s

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