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Disciplina: OBRAS DE TERRA

FLUXO BIDIMENSIONAL:
REDES DE FLUXO
Professora: M.ª Roberta Centofante
Curso: Engenharia Civil
robertac@uri.edu.br
Introdução
 O estudo do fluxo bidimensional, bem como a representação e
interpretação dessa percolação através das redes de fluxo
(interpretação gráfica) é de suma importância em obras
envolvendo o solo como material de construção (Obras de Terra).

 As redes de fluxo permitem determinar facilmente a vazão


percolada ao longo do maciço, assim como a pressão da água
dos poros (pressão neutra) e, logo, a tensão efetiva em cada
ponto do maciço.
Introdução
 Permitem avaliar o risco de ocorrência de acidentes resultantes
de quick condition (anulação da resistência, passando o solo a
comportar-se como líquido denso – RUPTURA HIDRAÚLICA).
 Permitem adotar medidas de prevenção contra o piping
(erosão interna – uma das mais frequentes causas de ruptura
em barragens).

A colocação de filtros é uma boa medida de prevenção.


Introdução
 O estudo da percolação de água é muito importante, porque ela
intervêm num grande número de problemas práticos de Obras de
Terra.

Cálculo de vazões

Análise de Recalques

Estabilidade de Taludes
Conceitos Importantes
SOLO – Sistema Trifásico

Sólido + Vazios (Água e Ar)

DESLOCAMENTO DA ÁGUA NO INTERIOR DOS VAZIOS

O engenheiro deve entender os princípios de fluxo de água nos solos,


buscando resolver problemas envolvendo a percolação desse fluido,
principalmente na influência deste nas tensões efetivas.
Fluxo Unidimensional
 O fluxo de água ocorre sempre na mesma direção.

Permeâmetros

Fluxo Unidimensional

Areias Uniformes
Fluxo Unidimensional
 A percolação de água no solo ocorre somente se houver
diferença de carga total (potencial).
 Carga total (hT)
hT = hA + hp + hc

Onde:
hA é a carga altimétrica;
Velocidade de percolação da
hp é a carga piezométrica; água através do solo é muito
hc é a carga cinética. pequena  hc = 0
Fluxo Unidimensional
Carga Altimétrica (hA): é a diferença
de cota entre o ponto considerado e
a cota de referência.
Carga Piezométrica (hp): é a pressão
neutra no ponto, expressa em altura
de coluna d’água.

hA
 O fluxo só ocorre do ponto de maior carga total para um
ponto de menor carga total.
Fluxo Unidimensional – Lei de Darcy
 Quando o solo apresenta fluxo unidimensional, suas características,
a direção do fluxo e o gradiente hidráulico (Lei de Darcy) são
constantes em qualquer ponto.

h1 − h2
Q = k. .A
L

Onde:
Q é a vazão
k é o coeficiente de permeabilidade do solo
h1 = Carga total no início do fluxo
h2 = Carga total no final do fluxo
A = Área da amostra de solo
L = Comprimento da amostra de solo
Fluxo Unidimensional – Lei de Darcy
 A relação h (a carga que se dissipa na percolação) por L
(distância ao longo da qual a carga se dissipa) é chamado
gradiente hidráulico.

𝑄 = 𝑘. 𝐢. 𝐴

Onde:
Q é a vazão
k é o coeficiente de permeabilidade do solo
i é o gradiente hidráulico
A é a área da amostra de solo
Características fundamentais
Permeabilidade
 Permeabilidade é uma propriedade do solo relacionada com a
maior ou menor facilidade que as partículas de água encontram
para fluir (percolar) por entre os vazios do solo.

Coeficiente de Permeabilidade (k)

É uma das características mais importantes dos solos e intervém em


grande número de problemas da engenharia.
Conceitos Importantes
Permeabilidade
 A permeabilidade influencia a taxa de recalque de um solo
saturado quando submetido a carregamento.
 No caso de barragens de terra, o dimensionamento está
condicionado à permeabilidade dos solos usados.
 A estabilidade dos taludes e estruturas de contenção podem ser
severamente afetadas pela permeabilidade de solos
envolvidos.
 Filtros construídos com solos (barragens) são dimensionados com
base na permeabilidade.
Fluxo Tridimensional
 Quando as partículas de água se deslocam em qualquer direção
tem-se fluxo tridimensional
Exemplo: migração da água para um poço.
Fluxo Bidimensional
 Se as partículas da água seguem trajetórias curvas contidas em
planos paralelos o fluxo é bidimensional.
Exemplo: percolação na fundação de uma barragem.
Fluxo Bidimensional
 A análise é do fluxo bidimensional, objeto de estudo da presente
aula é feita recorrendo-se a dois parâmetros principais:

 Representação das linhas de fluxo (caminhos percorridos pela


água);
 E a respectiva perda de carga (dissipação da energia ao longo
do percurso).
Equação Diferencial de Fluxo
 A equação diferencial de fluxo é a base para o estudo do fluxo
bi ou tridimensional. Considerando-se um ponto definido pelas
suas coordenadas cartesianas (x, y e z), o fluxo através de um
paralelepípedo elementar em torno deste ponto, e tornando
válida a Lei de Darcy, para regime permanente (Q constante):
a soma da diferença da vazão de saída e entrada segundo as
direções (x, y, z) é nula.
Equação Diferencial de Fluxo
 Para fluxo bidimensional (inexistência de percolação segundo y):

 Para solo isotrópico (kx = kz) a equação é simplificada em:

EQUAÇÃO DE LAPLACE
Equação de Laplace
 Esta equação de Laplace é uma equação diferencial muito
conhecida e estudada.
 Ela descreve, matematicamente, muitos fenômenos físicos de
grande importância prática, entre os quais se encontra o fluxo de
água através dos solos.

𝝏𝟐 𝒉𝒕 𝝏𝟐 𝒉𝒕
𝟐
+ 𝟐
=𝟎
𝝏𝒙 𝝏𝒛

Solos Isotrópicos
Equação de Laplace
 A solução geral da equação de Laplace é constituída por dois
grupos de funções, as quais podem ser representadas, dentro
da zona de fluxo em estudo, por duas famílias de curvas
ortogonais entre si.

Métodos de resolução da Equação


Equação de Laplace
Métodos usuais de resolução da equação de Laplace:
 Métodos gráficos (redes de fluxo);

 Métodos analíticos – exatos (utilizado em casos simples);

 Aproximados – numéricos (diferenças finitas /elementos finitos);

 Métodos analógicos – elétricos, térmicos;

 Modelos físicos reduzidos.


Equação de Laplace
Métodos usuais de resolução da equação de Laplace:

Analógico - elétrico Modelo Físico


Equação de Laplace
Representação Gráfica
 A representação gráfica da Equação de Laplace é composta
por linhas ortogonais entre si. Estas linhas são chamadas de
linhas de fluxo e linhas equipotenciais.

Linhas de Fluxo – indicam a trajetória das partículas do fluido


percolado. O espaço entre elas define o canal de fluxo.
Linhas Equipotenciais – interceptam ortogonalmente as linhas de
fluxo e constituem o local geométrico com a mesma carga
hidráulica total ou mesmo potencial total.
Equação de Laplace
Representação Gráfica
 O conjunto de linhas de fluxo e equipotenciais é chamado de
rede de fluxo.

A rede de fluxo é a solução gráfica da equação de Laplace,


composta de dois grupos de curvas perpendiculares entre si,
formando quadrados curvilíneos.

 Obtidas graficamente por tentativas.

Recomendações de Casagrande (1937)


Rede de Fluxo
 Podem desenhar-se linhas de fluxo com separações idênticas para
construir elemento quadrado (𝑙𝑖 = 𝑙𝑖 ).
Linhas Equipotenciais

Linhas de
Fluxo
A rede de fluxo define os seguintes elementos:
 Número de canais de fluxo (Nf);

 Número de faixas de perda de potencial (Nd);

 Dimensões de um quadrado genérico – b = largura do canal de


fluxo e l = distância entre equipotenciais.

Estes elementos permitem o cálculo de:


 Vazão

 Cargas e Pressões Neutras

 Gradiente hidráulico
Rede de Fluxo
Para análise do fluxo bidimensional, utilizamos o permeâmetro
(modelo de fluxo) curvo.
Linhas de Fluxo
 A face interna do permeâmetro, o arco AC, é uma linha de fluxo,
na qual temos o gradiente igual a 6/12 = 0,5 (h = 6 cm – carga a
dissipar e 12 cm – distância a ser percorrida pela água).
 A face externa, o arco BD, também é uma linha de fluxo, ao
longo da qual o gradiente é igual a 6/24 = 0,25

𝑖𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎 > 𝑖𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎

Velocidades de percolação serão maiores onde o gradiente for


maior, ou seja, na parte interna a velocidade de percolação será
maior do que na superfície externa.
Linhas Equipotenciais
 Quanto mais externo ao centro do permeâmetro (face externa),
menor o gradiente.
 Sendo assim, observando o permeâmetro curvo em análise, a face
externa, apresenta maiores larguras (pois como temos um
gradiente menor, e deve-se ter a mesma vazão, a largura deve ser
maior).
Percolação sob Pranchada
 Neste caso os canais de fluxo apresentam espessura variável ao
longo de seus desenvolvimentos, pois a seção disponível para
passagem da água por baixo da pranchada é menor do que a
seção pela qual a água penetra no terreno.

Desta forma, a
velocidade da
água é variável ao
longo de um
canal de fluxo.
Percolação sob Pranchada
 Quando o canal se estreita, devendo ser constante a vazão, a
velocidade tem que ser maior, logo o gradiente é maior.
 Em consequência, sendo constante a perda de potencial de uma
linha para a outra, o espaçamento entre equipotenciais deve
diminuir.
Percolação sob Pranchada
 Significado das variáveis:

 H (H2-H1) – diferença de carga entre os lados de montante e jusante.

 Nd – número de faixas de perda de potencial.

 Nf – número de canais de fluxo na rede de fluxo desenhada.


Interpretação das Redes de Fluxo
Vazão
𝑁𝐹
𝑄 = 𝑘. ℎ.
𝑁𝐷

Gradiente (depende do ponto em análise)


𝑖=
𝑙. 𝑁𝐷
Onde:
h é a diferença de carga
l é a distância entre equipotenciais
Nf é o número de canais de fluxo
Nd é o número de faixas de perda de potencial
Interpretação das Redes de Fluxo
Cargas e Pressões
Dependendo do ponto de análise, a carga total, nesse caso, será a
carga total menos a carga já perdida devido à percolação.


ℎ 𝑇 = 𝑁𝑚 − . 𝐹𝑃
𝑁𝐷
Onde:
hT é a carga total
Nm é o nível à montante em relação ao nível de referência
h é a diferença de carga que dá origem à percolação
Nd é o número de faixas de perda de potencial
Fp é o número de faixas de perda de potencial até o ponto analisado
Interpretação das Redes de Fluxo
Cargas e Pressões
Pela expressão:
hT = hA + hp

hA é a carga altimétrica (ponto de referência (superfície inferior) até o ponto


analisado)
hp é a carga piezométrica
hp = hT − hA

𝑢 = hp . 10 (kPa)

Onde: u é a poropressão
Filtros de Proteção
Redução do Gradiente de Saída
 Como visto em Mecânica dos Solos, o fluxo ascendente (arraste
das partículas) é o que gera a chamada ruptura hidráulica.
 Devido às forças de percolação ascendente no pé do talude
(jusante), as tensões efetivas se tornam nulas (gradiente crítico) e
ocorre o que chamamos de quick condition.

O solo não apresenta resistência alguma, gerando a ruptura


hidráulica
Filtros de Proteção
Redução do Gradiente de Saída
 Na situação como das fundações de uma barragem, o gradiente
de saída poderia ser reduzido com a colocação de uma
camada de areia grossa ou de pedregulho no pé de jusante da
barragem.
Redução do Gradiente de Saída
 A inserção da areia grossa ou do pedregulho sobre a areia fina,
suscetível à ocorrência de gradiente crítico, pode ser estudada
através do modelo de duas areias em um permeâmetro.

Dados:
𝛾 = 19 kN/m³
Kb = 4ka

ℎ ℎ𝑎 ℎ𝑏
𝑄 = 𝑘 𝐴 = 𝑘𝑎 𝐴𝑎 = 𝑘𝑏 𝐴𝑏
𝐿 𝐿𝑎 𝐿𝑏
Filtros de Proteção
Redução do Gradiente de Saída
 No exemplo apresentado anteriormente, considera-se como um
filtro de proteção a areia B, na medida em que confina a areia A
e as forças de percolação que se desenvolvem nela são
relativamente baixas.
 Porém um segundo aspecto deve ser satisfeito para um filtro de
proteção: é necessário que os seus vazios não sejam tão abertos
a ponto de permitir que os grãos finos da areia A passem por eles.
 Os filtros de proteção são usados sempre que houver transição
entre camadas de solo muito diferentes. Como por exemplo,
entre a transição de uma argila compactada e o enrocamento
de uma barragem.
Filtros de Proteção
Exemplos

Filtro horizontal, tipo tapete

Filtro chaminé + filtro horizontal


Filtros de Proteção
Exemplos
Exemplo: Calcular a vazão e as cargas total e piezométrica nos
pontos A e D.

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