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ANÁLISE DA FUNDAÇÃO EM RADIER – ASPECTOS RELEVANTES

Raft foundations analysis – relevant aspects

Irani Pereira dos Santos Vilela1, Emil de Souza Sánchez Filho 2


1
Engenheira civil M.Sc.UFF, Niterói, Brasil, irani@sciens.com.br
2
Professor D.Sc. UFF, Niterói, Brasil, emilsanchez@uol.com.br

Resumo. A NBR 6122:2010 menciona apenas brevemente o dimensionamento de radier,


direcionando o projetista para a NBR 6118:2014, ou para as normas estrangeiras, tais como as ACI
360R:06. Atualmente a fundação em radier está associada a projetos de interesse social. Este trabalho
tem como objetivo analisar os parâmetros primordiais para uma completa análise desse tipo de
fundação, tais como as tensões no solo, o módulo de reação vertical do solo, a magnitude dos
carregamentos e deslocamentos, e a complexidade da superestrutura. A partir do modelo de Winkler,
este trabalho apresenta o parâmetro básico para o exame dos deslocamentos no radier: o módulo de
reação vertical do solo 𝜅𝜅, sendo o mesmo introduzido nesta análise por meio de expressões empíricas,
tabelas e correlações. A utilização correta da magnitude do módulo de reação vertical do solo leva a
dimensionamentos menos conservativos e, consequentemente, a menores custos. As prescrições da
NBR 6118:2014 e do ACI 318:2011 aplicáveis ao radier protendido são apresentadas neste artigo.

Palavras-chave: fundação em radier, módulo de reação do solo, concreto protendido.

Abstract. NBR 6122:2010 briefly mentions the mat foundation design, just enough to direct the
designer to the NBR 6118:2014, or to other international codes, like the ACI 360R-06. Currently, in
Brasil, the mat foundation is associated with projects of social interests. The purpose of this paper is
to analyze the primordial parameters to run a complete analysis of the raft foundation, including the
soil stress, the modulus of subgrade reaction, the magnitude of both loads and settlements, and the
superstructure complexity. Based on the Winkler model this paper analyses the following basic
parameters for analysis and design of raft foundation settlements: the modulus of vertical subgrade
reaction through empiric expressions, tables, and correlation. The correct choice of the modulus of
subgrade reaction results in less conservative and less expensive designs. NBR 6118:2014 and the
ACI 318:2011 prescriptions to the prestressed mat foundation are also shown in this paper.

Keywords: mat, raft, reaction modulus, prestressed concrete.

1. INTRODUÇÃO
O uso do sistema radier é bastante antigo. Esse sistema é encontrado em fundações de aquedutos da
Roma Antiga, por exemplo. No século XVII, durante período do rei Luís XIV, L’aqueduc de Retz,
que trouxe água ao castelo St-Germain-en-Laye, foi executado com fundação em radier. Entretanto,
as teorias de análise desse tipo de fundação datam do século XIX (ALBINO, 2017). A grande
contribuição para a análise do radier foi proposta por Emil Winkler (1867), por meio do seu modelo
conhecido como Solo de Winkler, que admite que a reação do solo é proporcional aos deslocamentos,
por meio de uma constante de proporcionalidade 𝜅𝜅.
Define-se radier como uma fundação superficial de grandes dimensões que recebe os carregamentos
e os transmite ao solo ou à rocha (NBR6122:2010). É possível analisar a fundação em radier como
um elemento rígido. Nesse tipo de análise, os recalques são mínimos e as pressões do solo são
uniformes em toda a área do radier. Porém, há recalques diferenciais que causam variações nas
pressões do solo e nas tensões de flexão na placa.

2. MÓDULO DE REAÇÃO VERTICAL DO SOLO


Em geral, nas análises da fundação em radier, adota-se um valor médio constante para o valor de 𝜅𝜅.
O ensaio de placa (NBR 6489:1984) permite obter o módulo de reação do solo por meio da curva
pressão x deslocamento. Outras opções para se obter o módulo de reação do solo são: tabelas, cálculo
do recalque direto, correlações, e expressões empíricas.
O conceito do módulo de reação considera que o comportamento do solo atende à hipótese de
Winkler:
q
κ= (1)
w
onde
κ=módulo de reação vertical;
𝑞𝑞 =carga aplicada;
𝑤𝑤 =deslocamento.
Expressões empíricas são propostas para estimar o valor do módulo de reação vertical do solo.
Algumas dessas expressões são apresentadas abaixo:
Autor Módulo de reação do solo
Es 1 1
PERLOFF (1975) κ= (𝑘𝑘𝑘𝑘/𝑚𝑚³) (2)
1 − ν2 Is B
BOWLES (1997) κ = 36qa (lb⁄ft³) (3)

Es B4 Es 1
12
VÉSIC (1961) κ = 0,65 � (𝑘𝑘𝑘𝑘⁄𝑚𝑚³) (4)
EI 1 − ν2 B
onde
Es = módulo de deformabilidade do solo;
E = módulo de Young do material da fundação;
𝜈𝜈 = coeficiente de Poisson;
Is = fator de forma do radier e de sua rigidez (Tabela 1);
I = momento de inércia da fundação;
q𝑎𝑎 = tensão admissível em kips/𝑓𝑓𝑓𝑓 2 ;
B = menor dimensão da fundação.
Tabela 1 – Valores do coeficiente de forma Is. VELLOSO e LOPES (2014).
Flexível
Rígido
Forma Centro Borda Média
Círculo 1,00 0,64 0,85 0,79
Quadrado 1,12 0,56 0,95 0,99
Retângulo L/B=1,5 1,36 0,67 1,15
2,0 1,52 0,76 1,30
3,0 1,78 0,88 1,52
5,0 2,10 1,05 1,83
10 2,53 1,26 2,25
100 4,00 2,00 3,7
1000 5,47 2,75 5,15
10000 6,90 3,50 6,60

Na ausência de valores experimentais, usar tabelas para determinar o valor do módulo de reação do
solo.

Tabela 2* – Valores de 𝜅𝜅 para solos não coesivos. Adaptada de GUPTA (1997).

Compacidade Módulo de reação do solo 𝜿𝜿 (kgf/cm3)


SPT (N) Solo Seco ou Saturado Solo Submerso
Fofo < 10 1,5 0,9
Medianamente Compacto 10 - 30 1,5 – 4,7 0,9 – 2,9
Compacto > 30 4,7 – 18 2,9 – 10,8

Tabela 3* – Valores de 𝛋𝛋 para solos coesivos. Adaptada de GUPTA (1997).

Coesão Resistência não confinada à coesão (kgf/cm2) Módulo de reação do solo (kgf/cm3)
Rija 1–2 2,7

Muito Rija 2–4 2,7 – 5,4

Dura >4 5,4 – 10,8

*Valores acima aplicam-se a uma placa 30 cm X 30 cm ou viga com 30 cm de largura.

Tabela 4 – Valores de 𝜿𝜿 em, kN⁄𝒎𝒎𝟑𝟑 adaptada por VELLOSO e LOPES (2014).


Argilas Rija Muito rija Dura
2
𝑞𝑞𝑢𝑢 (kN⁄𝑚𝑚 ) 100 – 200 200 – 400 400
faixa de valores 160 – 320 320 – 640 640
Valor proposto 240 480 960

Areias Fofa Medianamente compacta Compacta


Faixa de valores 60 – 190 190 – 960 960 – 320
Areia acima N.A. 130 420 1600
Areia submersa 80 260 960
Tabela 5 – Valores módulo de reação vertical. Adaptada de MORAES (1976).
Tipo de solo 𝜅𝜅(kN/m3) 103
turfa leve – solo pantanoso 5 a 10
turfa pesada – solo pantanoso 10 a 15
areia fina de praia 10 a 15
aterro de silte, de areia e cascalho 10 a 20
argila molhada 20 a 30
argila úmida 40 a 50
argila seca 60 a 80
argila seca endurecida 100
silte compactado com areia e pedra 80 a 100
silte compactado com areia e muita pedra 100 a 120
cascalho miúdo com areia fina 80 a 120
cascalho médio com areia fina 100 a 120
cascalho grosso com areia grossa 120 a 150
cascalho grosso com pouca areia 150 a 200
cascalho grosso com pouca areia compactada 200 a 250

Os trabalhos de SCOTT (1981) e BAROUNIS (2013) correlacionam os valores de 𝜅𝜅 com o Standard


Penetration Test (NSPT) e com a resistência do Cone Penetration Test (CPT).
SCOTT (1981) propõe a correlação de 𝜅𝜅 com o NSPT para solos granulares:

κSPT(0,3) = 1,8N60 (5)

onde
𝜅𝜅SPT(0,3) = módulo de reação do solo corrigido para placa de 300mm em MN/mm3;
𝑁𝑁60 = NSPT corrigido para levar em conta a energia dissipada do martelo.

0,72NSPT (6)
Brasil: N60 =
0,60

BAROUNIS (2013) propõe uma correlação entre 𝜅𝜅 e o CPT.

𝜅𝜅CPT = 100𝑞𝑞𝑐𝑐 (7)


𝜅𝜅CPT(0,3) = 0,12𝜅𝜅CPT (8)
𝐿𝐿
( + 0,5)
𝜅𝜅FCPT = 𝜅𝜅CPT(0,3) 𝐵𝐵 (9)
𝐿𝐿
1,5( )
𝐵𝐵
onde
κCPT = módulo de reação do solo em MN/m3;
qc = resistência não drenada do solo em MPa;
κCPT(0,3) = módulo de reação do solo corrigido para placa de 300 mm em MN/m3;
κFCPT = módulo de reação do solo da fundação em MN/m3;
B, L = respectivamente largura e comprimento da fundação em m.
BAROUNIS e ARMAOS (2016) comparam os resultados obtidos por correlações do módulo de
reação do solo com o CPT e SPT para solos granulares em Cristhchurch, Nova Zelândia. A conclusão
dos autores é que ambas as correlações, CPT e NSPT, resultam em valores para o módulo de reação
do solo na faixa proposta por BOWLES (1997), sendo que a correlação com o CPT resultou em
recalques diferenciais de 9% a 12% maiores que a correlação com o SPT. Porém, os momentos de
flexão foram menores na correlação com o CPT com uma faixa menor de variação entre 19% e 23%.
O estudo de ALMEIDA (2001) correlaciona o módulo de reação do solo ((𝜅𝜅) com o índice de suporte
Califórnia, por meio da expressão resultante do ajuste da curva, curva esta obtida a partir do ábaco
apresentado no ACI-360R-06, que relaciona CBR com o tipo de solo classificado segundo a ASTM
D2487-00. A Tabela 6 mostra a faixa de variação do CBR para os solos classificados segundo a
ASTM D2487-00. A Figura 1 mostra a curva sugerida por ALMEIDA e ARCARO (2001), que gera
a expressão para o módulo de reação do solo em função do CBR.
Tabela 6 – Faixa de variação do CBR de acordo com o tipo de solo. adaptada de ACI360R-06 e ASTM D2487-00.
Solo Mín. CBR Máx. CBR
OH 2 5
CH 2 5
MH 2,5 8
OL 2 8
ML 3 15
CL 3 15
SC 10 20
SU 10 20
SP 15 25
SM 20 40
SW 20 40
GC 20 40
GU 25 50
GP 35 60
GM 40 80
GW 60 80

onde
G = pedregulho
S = areia
M = silte
C = argila
W = bem graduado
P = mal graduado
U = uniformemente graduado
L = baixa a média compressibilidade
H = alta compressibilidade
O = orgânico

Figura 1 – Curva de ajuste dos valores de 𝜿𝜿 em função do CBR. Fonte: ALMEIDA (2001).

A curva gera as expressões (10) e (11) para os valores do módulo de reação do solo em função do
CBR.
ALMEIDA (2001) κ = 2,495(ln 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶)3 + 89,78(ln 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶) − 35,06 (𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝⁄𝑖𝑖𝑖𝑖3 ) (10)
ALMEIDA e κ = 0,06906(ln 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶)3 + 2,485(ln 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶)
(11)
ARCARO (2003) − 0,9705 (𝑘𝑘𝑘𝑘𝑘𝑘 ⁄𝑐𝑐𝑐𝑐3 )

BOWLES (1997) propõe uma correlação entre o módulo de reação do solo e a tensão admissível:
𝜅𝜅 = 36𝑞𝑞𝑎𝑎 (12)
onde
𝑞𝑞𝑎𝑎 = tensão admissível em kips/ft2.
Na análise das expressões, tabelas e correlações, para determinar o módulo de reação do solo,
observa-se que este não é um fator intrínseco ao solo. Esse parâmetro depende, além de tipo de solo
e sua rigidez, do formato da fundação, das relações entre as rigidezes da fundação e a superestrutura.
Esses fatores influenciam os valores do módulo de reação vertical do solo em diferentes regiões do
radier. Na preparação deste estudo, observou-se que a variação nos valores do módulo de reação do
solo em uma mesma fundação só será significativa em estruturas de grandes dimensões e sensíveis a
recalques (VILELA, 2016).
3. PARÂMETROS DE PROJETO
Para um bom desempenho de qualquer elemento de concreto, o que inclui a fundação radier, é
necessária a atenção a todos os aspectos relacionados com a tecnologia do concreto. O objetivo é
obter um concreto que atenda às especificações de projeto. Essas especificações normativas adotadas
nos projetos vão além da resistência do concreto à compressão.

3.1. Classe de agressividade e qualidade do concreto


A rigor, para estabelecer a durabilidade e o desempenho do concreto, requeridos em projeto, deverão
ser feitos ensaios que indiquem os parâmetros mínimos necessários. Na falta desses ensaios, adotam-
se as prescrições da NBR 6118/2014 para assegurar a qualidade do concreto. O risco de deterioração
está relacionado à classe de agressividade a que o concreto é exposto (Tabela 7). Valores mínimos de
resistência à compressão e o fator água/cimento são prescritos em função da classe de agressividade.
A Tabela 8 reproduz a tabela 7.1 da NBR 6118/2014.
Tabela 7 – Classe de agressividade ambiental (CAA). Fonte: Tabela 6.1 NBR 6118/2014

Tabela 8 – Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto. Fonte: NBR 6118/2014

A NBR 6118/2014 faz prescrições para o cobrimento em função da classe de agressividade,


conforme demonstrado na Tabela 9.
Tabela 9 – Correspondência entre a classe de agressividade e o cobrimento nominal. Fonte: NBR 6118/2014

3.2. Módulo de Elasticidade e resistências do concreto


O módulo de elasticidade do concreto tem influência direta nas deformações. A NBR 8522/2017
estabelece o método de ensaio para o módulo de elasticidade do projeto. Na falta de ensaios, pode-se
adotar a prescrição da NBR 6118/2014 para concretos de 20 a 50 MPa de resistência à compressão.
𝐸𝐸𝑐𝑐𝑐𝑐 = 5600𝛼𝛼𝐸𝐸 �𝑓𝑓𝑐𝑐𝑐𝑐 (13)
𝐸𝐸𝑐𝑐𝑐𝑐 = 𝐸𝐸𝑐𝑐𝑐𝑐 (14)
0,2𝑓𝑓𝑐𝑐𝑐𝑐
𝐸𝐸𝑐𝑐𝑐𝑐 =𝛼𝛼𝑖𝑖 = 0,8 + ≤ 1,0 (15)
80
onde
𝛼𝛼𝐸𝐸 = Parâmetro em função da natureza do agregado que influencia o módulo de elasticidade;
𝐸𝐸𝑐𝑐𝑐𝑐 = Módulo de elasticidade inicial do concreto;
𝐸𝐸𝑐𝑐𝑐𝑐 = Módulo de deformação secante do concreto.
O módulo de elasticidade e fck em MPa.
Para tensões de compressão menores que 0,5fc e tensões de tração menores que fct, o coeficiente de
Poisson (𝜈𝜈) a NBR 6118/2014 pode ser igual a 0,2 e o módulo de elasticidade transversal Gc igual a
Ecs/4.
2
𝑓𝑓𝑐𝑐𝑐𝑐,𝑚𝑚 = 0,3𝑓𝑓𝑐𝑐𝑐𝑐 3 (16)
onde
𝑓𝑓𝑐𝑐𝑐𝑐,𝑚𝑚 = resistência média à tração do concreto em MPa;
𝑓𝑓𝑐𝑐𝑐𝑐 = resistência característica à compressão do concreto em MPa.
3.3. Cordoalhas e armadura passiva
Além dos parâmetros supracitados, um bom desempenho da fundação em radier requer que todas as
prescrições normativas sejam observadas. Para os fios e cordoalhas do concreto protendido, as NBRs
7482 e 7483/2008 reúnem as recomendações a serem adotadas. Para o concreto armado, as
prescrições estão na NBR 7480/2008. Para o radier protendido, as cordoalhas mais usadas são as de
½", baixa relaxação e tensão última de ruptura (fpu) de 1860 MPa, enquanto no concreto armado, o
aço usual é o CA-50 com 500 MPa de resistência característica ao escoamento. Na prática, os sistemas
protendidos com aderência posterior e sem aderência se mostram mais vantajosos e competitivos.
Porém, essa escolha deverá ser posterior às análises das condições de flexibilidade, layout e
segurança.
Quanto ao uso de uma armadura mínima, de acordo com a NBR 6118/2014, pode-se afirmar que no
radier em concreto armado é necessária uma armadura mínima de flexão. Porém, a falta de uma
normativa específica para radier impede o consenso sobre essa prescrição, no caso do radier
protendido. O PTI DC10.1-08 estabelece condições em que essa armadura mínima de flexão pode ser
dispensada. Existe a necessidade de colocação de uma armadura construtiva e outra de fretagem nas
ancoragens passivas e ativas.

3.4. Outros parâmetros


O fator de forma é definido pela razão entre o perímetro do radier e sua área. O PTI (post-tension
institute) recomenda que o fator de forma não exceda o valor 24. Caso seja necessária a correção,
segundo o PTI, algumas medidas devem ser tomadas. Entre elas está a modificação da projeção em
planta da fundação, se for possível dividir a fundação em duas que serão analisadas e dimensionadas
em separado. Outra opção seria a introdução de vigas para enrijecimento e o reforçar do solo para
diminuir a retração ou a expansão do mesmo. O uso de uma malha adicional de armadura passiva
pode ser necessário.
Em relação ao fator de forma, a FPA (Foundation Performance Association) questiona o limite de 24
para esse fator. Segundo a FPA, esse limite conduz a resultados imprecisos, visto que este se baseia
no dimensionamento de áreas retangulares muito extensas, e contradiz a prescrição do próprio PTI,
na seção 6.3 do manual Design of post-tensioned slabs-on-grade. A FPA recomenda que o PTI
justifique quais critérios foram adotados para se chegar ao valor limite de 24, ou indique um
procedimento diferente para ser adotado pelo projetista numa planta de radier específica, por
exemplo, uma análise por meio do método dos elementos finitos. Albino (2017) recomenda levar em
conta os efeitos da torção na análise desses casos.
A implementação de nervuras no radier tem o efeito de enrijecimento. Albino (2017) recomenda que
o espaçamento entre elas não ultrapasse 4,5 m e não seja inferior a 1,8 m, mantendo uma relação entre
o maior e o menor espaçamento de 1,5. A altura da nervura influencia diretamente na capacidade do
momento resistente, da força cortante e nos deslocamentos. Se a opção for a adoção de nervuras com
alturas diferentes, Albino (2017) recomenda que a relação entre as alturas não seja maior que 1,2.
Quanto à largura, recomenda-se que esta esteja no intervalo entre 15 e 35 cm.
Não menos importante na análise da fundação em radier é a correta caracterização do solo e o
entendimento de sua estrutura, especialmente nos casos em que se tratar de solo fino. Esses solos têm
um comportamento peculiar na presença de água, sendo os índices LL (limite de liquidez) e IP (índice
de plasticidade) essenciais para a compreensão do comportamento mecânico do solo.
Alguns solos têm comportamento expansivo em presença de água, sendo importante verificar o grau
médio de expansão e a atividade do solo. Por exemplo, sabe-se que as argilas ilitas têm atividade
muito menor do que as montmorilonitas. Assim, o PTI DC10.1-08 (2008) recomenda que, na presença
de solos expansivos, sejam verificadas as situações de levantamento do centro e das bordas da placa,
visto que para cada uma dessas premissas o comportamento estrutural da placa irá mudar. Para o
levantamento do centro, o radier se torna uma viga contínua sobre base elástica com as extremidades
em balanço, ao passo que o levantamento das bordas torna a placa uma viga bi-apoiada com as
extremidades apoiadas no solo. Na presença de solos expansivos, a recomendação é usar o radier
nervurado. Pode-se também optar pela substituição da camada expansiva por um solo já estabilizado.
É necessário um estudo de viabilidade antes da escolha dessa opção.
Solos colapsíveis, quando não saturados, são porosos, com grande índice de vazios. Porém, quando
ocorre a infiltração d’água, esses solos têm grandes recalques repentinos que, mesmo mantendo a
pressão aplicada, levam ao colapso da estrutura do solo. A NBR 6122/2010 não recomenda a
instalação de fundações superficiais nesse tipo de solo. Porém, BOWLES (1997) sugere uma
expressão (17) empírica para verificar o potencial de colapso em um solo.
𝛾𝛾𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 = 17,3 − 0,186(𝐿𝐿𝐿𝐿 − 16) (17)
onde
𝛾𝛾𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 = peso específico com solo seco (kN/m3);
𝐿𝐿𝐿𝐿 = limite de liquedez (%).
Quando 𝛾𝛾𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 in situ é menor do que a expressão (17) o solo é potencialmente colapsível e a opção
do radier protendido deve ser avaliada com cuidado, levando-se em conta o grau de colapso de cada
solo. Uma forma de viabilizar o emprego do radier protendido nesses solos é usar métodos de
melhoria do solo, com estabilização ou compactação, com o objetivo de reduzir o recalque de colapso,
podendo viabilizar a solução em radier protendido.
A manta retardadora de vapor é uma manta colocada sob a base do radier para evitar que a água e o
vapor gerados durante a execução do radier percole. Essa água pode gerar patologias que
influenciaram diretamente na durabilidade da fundação. A manta retardadora de vapor deve ser
especificada de acordo com a ASTM E 145-11, (ALBINO, 2017).

4. CONCLUSÕES
A fundação em radier exige atenção a muitos aspectos, desde análise e dimensionamento, montagem,
concretagem e pós-concretagem. Além disso, não se pode desprezar a importância do conhecimento
do solo. Uma campanha mínima de sondagem, nos moldes das prescrições da NBR 6484/2001 e NBR
8036/1983, para identificar a presença de solo expansível ou colapsível é de extrema necessidade,
visto que toda a análise poderá ser alterada na presença desses solos. A escolha adequada dos
parâmetros e o atendimento às prescrições normativas são imprescindíveis. Quando escolhida uma
normativa internacional para a análise do radier, é preciso verificar se tal normativa se adequa às
condições nacionais de solo e projeto, deixando claro qual foi a normativa escolhida.
Nesse trabalho, ficou demonstrado que muitos dos tópicos relacionados com o radier ainda não estão
claramente normatizados. Concluiu-se que as normativas do Brasil precisam sanar as lacunas
relacionadas ao tema radier. Além disso, é necessária a publicação de uma normativa nacional para a
fundação em radier.

REFERÊNCIAS
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[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6122: projeto e execução de fundações.
Rio de Janeiro, 2010.
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[4] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE – ACI. Building code requirements of structural concrete (ACI 318-11),
2011.
[5] ALBINO, F.S. Radier simples, armado e protendido – teoria e prática. Campinas, 2017.
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terreno de fundação. Rio de Janeiro, 1984.
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fundações superficiais. 2 ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2014.
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[12] BOWLES, J. E.; Foundation analysis and design. 5th ed. Singapore: McGraw-Hill, 1997.
[13] ALMEIDA, L.C. Laje sobre solo para fundação de residência. Dissertação de mestrado apresentada à comissão
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requisitos para obtenção do título de mestre em Engenharia Civil na área de engenharia de estruturas. Campinas,
2001.
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[15] BAROUNIS, N; ARMAOS, P.; Sensitive analysis of the vertical modulus of subgrade reaction, as estimated from
CPT for the design of foundations and comparison with values from SPT for a site in Christchurch. NZEE, Annual
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[17] VILELA, I.P.S., Análise de Radiers de Concreto Estrutural. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia, como requisito parcial
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[18] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 8522: determinação dos módulos
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[19] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7482: fios de aço para estruturas de
concreto protendido – especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7483: cordoalhas de aço para estruturas
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[21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7480: aço destinado para armadura de
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[24] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM E 145-11: standard specification for plastic
water vapor retarders used in contact with soil or granular fill under concrete slabs. West Conshohocken, 2011.
[25] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6484: solo – sondagens de simples
reconhecimento com SPT – método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
[26] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 8036: programação de sondagens de
simples reconhecimento dos solos para construção de edifícios. Rio de Janeiro, 1983.

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