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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL


DISCIPLINA DE MECÂNICA DOS SOLOS I

Ângulo de Atrito Interno dos Solos


Paulo M. S. de Souza1

matheuspaulo@outlook.com

Resumo

Este trabalho tem por finalidade descrever o ângulo de atrito interno dos
solos, característica principal dos solos granulares, descrevendo os ensaios de
laboratório, amostragem de campo e obtenção de valores a partir de cálculos, sua
importância para os solos e a variação, conforme sua morfologia.

Palavras-chaves: Solos granulares, ângulo de atrito interno, resistência dos solos,


mecânica dos solos, cisalhamento.

1. Introdução

Os solos apresentam diversas características quanto a sua forma e


comportamento. Os solos granulares, quando seu teor de material fino for muito
pequeno, são classificados como não coesivos, ou seja, não apresentam a
possibilidade de se moldar.

A resistência das areias, a partir dos ensaios de cisalhamento, é geralmente


representada pelo ângulo de atrito interno, fator que permite classificar uma areia –
conforme sua compactação – em fofa ou compacta. O ângulo de atrito interno é
importante na medida em que estabelece um ângulo limite do deslizamento entre as
partículas de solo.

2. Fundamentação Teórica
2.1 Solos Granulares

Os solos granulares são conhecidos pelo predomínio da areia ou pedregulho.


Sua classificação ou não como solo granular dependerá da proporção de areia, ou
pedregulho, contido em sua composição (PINTO, 2006). Quando a presença de

1
Acadêmico do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Metodista (IPA), Porto Alegre, Rio Grande
do Sul.
1
areia, por exemplo, for maior que 50% em relação às porções presentes no solo
(inclusive de finos), será classificado como areia – exceto quando estes finos
excederam de 20 a 40%, pois nesses condições, o solo se assemelharia com as
argilas.

A areia, segundo a NBR 6502 (1995), é classificada como um solo sem


características plásticas ou coesivas, tendo suas partículas com diâmetro variando
de 0,06 mm a 2,0 mm.

Além disso, segundo Pinto (2006), é pertinente conhecer a composição


granulométrica do solo granular, ou simplesmente da areia, caso a quantidade de
finos – que passam na peneira 0,075 mm – seja menor que 5%. Os resultados da
granulometria informam se o material ensaiado é “bem graduado” (identificado pela
letra W) ou “mal graduado” (identificado pela letra P).

Figura 1 – Exemplo da graduação dos solos granulares (Fonte: Apostila de Mecânica dos
Solos I – Notas de aula, 2013).

O índice de vazios das areias também é de extrema importância para sua


caracterização (BENARDES, 2013). Tendo um índice alto, a areia se apresentará de
forma fofa, ou seja, não haverá pressão sobre ela. Se o índice for baixo, esta areia é
considerada compacta, ou seja, os grãos estão melhores “reajustados” entre si,
conforme seu formato característico.

Quadro 1 - Índice de vazios conforme a graduação


Tipo de areia emáx emín
Uniforme de grãos angulares 0,70 1,10
Bem graduada de grãos angulares 0,45 0,75
Uniforme de grãos arredondados 0,45 0,75
Bem graduada de grãos arredondados 0,35 0,65
Fonte: Apostila de Mecânica dos Solos I – Notas de aula (2013).

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Figura 2 – Formato típico de grãos de areias, em diferentes origens (Fonte: Pinto, 2006).

2.2 Resistência ao cisalhamento dos solos

Em se falando se resistência dos solos, o principal esforço observado na ruptura


é o de cisalhamento. Segundo Das (2007), é importante conhecer a resistência ao
cisalhamento para quantificar problemas de estabilidade dos solos, como por
exemplo, a capacidade de cargas, a estabilidade de taludes e a pressão lateral em
estrutura de contenção de terras.

Figura 2 – Exemplo de deslizamento, onde ocorre uma ruptura por cisalhamento do solo (Fonte:
Centro de Estudos Ambientais, 2011).

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Marangon (2013) diz que um carregamento externo aplicado à superfície, ou
mesmo o próprio formato desta massa de solo, já contribui para ocorrer tensões
tangenciais ou de cisalhamento.

2.3 Ângulo de atrito interno

É a amplitude do ângulo de deslocamento dos solos. Pode variar com a


natureza do solo ou com condições adversas, como a umidade e forma dos grãos. É
representada pela letra ᶲ. É um “subproduto” dos ensaios que determinam a
resistência ao cisalhamento, junto com a coesão (GOLÇALVES, 2007).

Segundo Caputo (2008), o atrito interno pode não só apenas ser “físico”, mas
também “atrito fictício”, pelo entrosamento de suas partículas.

A figura 3 exemplifica os esquemas relacionados aos atritos existentes entre


dois corpos:

Figura 3 – Esquemas referentes ao atrito entre dois corpos (Fonte: Pinto, 2006).

No esquema (a), a resistência por atrito pode ser explicado como sendo o
deslizamento de um corpo sobre um plano horizontal; no esquema (b), o ângulo de
atrito é o ângulo máximo para que não ocorra o deslizamento, a partir da tensão
atuante na superfície (T) em relação à força normal (N); o esquema (c) representa o
mesmo limite angular imposto em (b), porém com a inclinação do plano de contato; e
(d), mostra que a resistência ao deslizamento é diretamente proporcional à tensão
normal, sendo então representado por uma linha reta (PINTO, 2006).

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2.3.1 Critério de Ruptura Mohr-Coulomb

Segundo a teoria de Mohr (1900, apud DAS, 2007), um material se rompe pela
combinação da tensão normal e de cisalhamento, e não por essas duas de forma
máxima e isolada. Craig (2013) explica que essa ruptura ocorre quando a tensão
cisalhante se torna igual à resistência ao cisalhamento do solo estudado, quando
num ponto específico num plano dentro da massa do solo.

Ainda, diz Craig (2013) que, antes de ser firmado o princípio de tensão efetiva,
a resistência ao cisalhamento (τf) era expressa por Coulomb da seguinte forma:

τf = c + σf . tg ϕ (1)
Porém, a resistência de um solo só pode ocorrer em uma estrutura de
partículas sólidas, sendo assim, a resistência ao cisalhamento deve seguir a tensão
normal efetiva (CRAIG, 2013):

τf = c’ + σ’f . tg ϕ’ (2)

Sendo:

Τf – Resistência ao cisalhamento;
σ’f – Tensão normal efetiva na ruptura;
c – Coesão;
ϕ – Ângulo de atrito interno

Abaixo, Das (2007), apresenta alguns valores de ângulos de atrito em solos


granulares:

Quadro 2 - Valores típicos de ângulos de atrito drenado para


areias e siltes
Tipo de solo ᵩ' (graus)
Areia - Grãos Arredonados
Fofa 27-30
Média 30-35
Compacta 35-38
Areia - Grãos Angulares
Fofa 30-35
Média 35-40
Compacta 40-45
Pedregulhos com alguma areia 34-48
Siltes 26-35
Fonte: adaptado de Das (2007).

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Figura 4 – Variação do ângulo de atrito interno de uma areia com a pressão confinante (Fonte: Pinto,
2006).

A ruptura de cisalhamento irá ocorrer quando a tensão de cisalhamento em um


plano atingir um valor dado pela fórmula 2. Na figura 5, são apresentados σ1 e σ3,
que são as tensões principais maior e menor (DAS, 2007).

Figura 5 – Círculo de Mohr e envoltório de ruptura (Fonte: Caputo, 2008).

A fórmula 3 apresentada abaixo é denominada critério de ruptura de Mohr-


Coulomb:

σ'1 = σ’3 . tg² (45° + ϕ’/2) + 2c’ . tg (45° + ϕ’/2) (3)

2.4 Ensaios de resistência ao cisalhamento

2.4.1 Ensaios de campo

A retirada de amostras sem alterações de campo não é um trabalho muito


simples e, por isso, procura-se realizar os ensaios in situ (MARANGON, 2013). Os
ensaios não são tão precisos quantos os de laboratório. A tabela 3 mostra os
principais ensaios realizados em campo.
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Quadro 3 - Ensaios de campo para determinação de resistência ao cisalhamento.
Tipo de Solo

Tipos de Ensaio Melhor Não Principais características


Aplicável Aplicável

Avaliação qualitativa do estado de compacidade ou


1 - Ensaio Padronizado de
Granulares - consistência. Comparação qualitativa da
Penetração (SPT) *
estratigrafia do subsolo.

Avaliação contínua da compacidade e resistência


2 - Ensaio de Penetração
Granulares - de solos granulares. Avaliação contínua de
Estática do Cone (CPT)
resistência não drenada de solos argilosos.
3 - Ensaio de Palheta Coesivos Granulares Resistência não drenada de solos argilosos
Coeficiente de empuxo no repouso;
4 - Ensaio Pressiométrico Granulares -
compressibilidade e resistência ao cisalhamento.
* Sem interesse direto na determinação dos parâmetros de resistência.
Fonte: Marangon (2013).

2.4.2 Ensaios de laboratório

Ainda, segundo Das (2007), existem diversos ensaios de laboratório


disponíveis para se conhecer a resistência ao cisalhamento do solo:

Ensaio de cisalhamento direto;


Ensaio triaxial;
Ensaio de cisalhamento simples;
Ensaio triaxial de deformação plana;
Ensaio de cisalhamento anular ou ring shear.

Os mais utilizados, segundo Pinto (2006), são os de cisalhamento direto e o


triaxial.

2.4.2.1 Cisalhamento Direto

Como descreve Craig (2013, p. 77) o ensaio:

“O corpo de prova é confinado em uma caixa metálica (chamada também


caixa de cisalhamento ou, em inglês, shearbox) de seção transversal
quadrada ou circular, partida horizontalmente a sua meia-altura, mantida
uma pequena folga entre as duas partes da caixa. São colocadas placas
porosas abaixo e em cima do corpo de prova se ele estiver completo ou
parcialmente saturado, a fim de permitir que a drenagem ocorra livremente:
se o corpo de prova estiver seco, podem ser usadas placas de metal.”

Segundo Das (2007), este ensaio é a mais antiga e a mais simples forma para
obtenção de valores de cisalhamento do solo. Os corpos de prova podem ser de

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seção circular ou quadrados, nas medidas de 51 mm x 51 mm ou 102 mm x 102
mm, e de altura 25 mm, aproximadamente.

Figura 6 – Ensaio de cisalhamento direto (Fonte: Marangon, 2013).

2.4.2.2 Ensaio triaxial

Este ensaio, conforme Caputo (2008, p. 112) é o mais utilizado e o que


melhor se adéqua aos tipos de solo, sendo melhor do que o de cisalhamento direto.
Ele descreve o ensaio:

“São realizados em aparelhos (...), constituídos por uma câmara cilíndrica,


de parede transparente, no interior da qual se coloca a amostra, envolvido
por uma membrana de borracha muito delgada. A base superior do cilindro é
atravessada por um pistão, que por intermédio de uma placa rígida, aplica
uma pressão à amostra. A câmara cilíndrica é cheia com um líquido,
geralmente água, que se pode submeter a uma pressão θ3, que
evidentemente atua também sobre a base da amostra.”

Segundo Craig (2013), o ensaio tem a vantagem de se controlar as condições


de drenagem, sendo possível que solos saturados de baixa permeabilidade sejam
adensados, caso necessário, como parte do procedimento do ensaio, e que possam
ser realizadas medidas de poropressão.

Figura 7 – Ensaio triaxial (Fonte: Craig, 2013).


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3. Conclusões da Pesquisa
3.1 Considerações Finais

Como mostrado, os solos tem limitada resistência ao cisalhamento. Por isso, é


importante conhecer seu ângulo de atrito interno, principalmente onde este
parâmetro mais acontece – em solos granulares. Este dado, aliado à coesão, integra
os dados necessários para que se conheça a resistência ao cisalhamento do solo
em questão, facilitando assim o dimensionamento de diversas estruturas, como
obras de terra e fundações.

4. Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6.502: Rochas e Solos.


Rio de Janeiro, 1995.

_____. NBR 6.122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro, 2010.

BERNARDES, J. A. Mecânica dos Solos I – Notas de Aula. Versão 2, Porto


Alegre, 2013.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e Suas Aplicações. Volume 1, 6ª edição. Rio


de Janeiro, LTC, 2008.

CRAIG, R. F. Mecânica dos Solos. 7ª edição. Rio de Janeiro, LTC, 2013.

DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6ª edição. São Paulo,


Thomson Learning, 2007.

GONÇALVES, S. Relatório de atividade prática – ângulo de atrito. Disponível em:


<http://sofidina.blogspot.com.br/2009/06/relatorio-da-actividade-pratica-angulo.html>.
Acesso em: 12 nov. 2013.

MARANGON, M. Mecânica dos Solos II – Notas de Aula. Volume 1. Juiz de Fora,


2013.

PINTO, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 3ª edição. São Paulo, Oficina
de Textos, 2007.

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