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Unidade 3

Fundações profundas
Introdução da Unidade

Olá, amigo(a) discente! Seja bem-vindo(a)!

Na unidade anterior foram apresentados os sistemas de fundação mais usuais e como são
classificados. Como você deve se lembrar, os sistemas de fundações são divididos em dois
grandes grupos: as fundações rasas (como é o caso das sapatas) e as fundações profundas (o
caso dos tubulões, por exemplo).

Nesta unidade, a partir da interpretação de um laudo de SPT você será apresentado ao


processo de dimensionamento geotécnico para fundações profundas. Evidentemente, há
métodos diferentes para as diferentes formas de transmissão de tensões ao solo (fundações
diretas e indiretas). Na unidade 3, vamos abordar os dois casos. Trata-se de um conteúdo
muito importante, assim como os demais. Não deixe de se esforçar no seu estudo!

Objetivos

Espera-se que após concluir o estudo desta unidade você seja capaz de:

 Aplicar o método semiempírico de Décourt-Quaresma para o dimensionamento


geotécnico de estacas;

 Utilizar o resultado de um laudo de SPT para o dimensionamento de tubulões.

Conteúdo Programático

Aula 01 – Estacas

Aula 02 – Tubulões
Estacas

#No estudo do dimensionamento das estacas, o primeiro passo sempre é compreender como
estas funcionam. Posteriormente, pode-se compreender como dimensioná-las.

Uma terceira informação importante diz respeito às práticas mais usuais de projeto.

1.1 Como funcionam as estacas

Quando uma estaca é introduzida no solo, seja por cravação ou escavação, surgem, em geral,
dois mecanismos de transferência de tensões. O mais óbvio, e que origina até a sua
classificação, é a transmissão através da superfície lateral da estaca.

O corpo da estaca é denominado de fuste e do contato entre o fuste e o solo surge,


naturalmente, atrito entre eles. A magnitude deste atrito é função do tipo de solo. Solos mais
argilosos tendem a “aderir” mais fortemente ao fuste. Isto é o que se denomina de resistência
lateral da estaca (RL).

O fato é que, à medida que a carga vai sendo aplicada à estaca, começa-se a mobilizar outra
forma de resistência, além da lateral, que é chamada de resistência de ponta (RP). Novamente,
as características do solo de apoio irão influenciar na intensidade desta resistência.

Diante disso, fica claro que o quanto uma estaca consegue suportar de carga (sua resistência
ou capacidade de carga) é função de sua interação com o solo.

Se uma estaca atravessa um solo muito frágil, como uma argila muito mole, a sua capacidade
de carga vai depender, em grande medida, da sua resistência de ponta e o contrário também é
verdadeiro; se a resistência do solo na cota de apoio da estaca for muito baixa, a resistência
lateral irá se sobressair.

Vamos entender facilmente como funcionam as estacas a partir da figura 1.

Figura 1 – Transferência de tensões para o solo a partir de uma estaca

Fonte: Adaptado de suporte.altoqi.com.br.


Videoaula 1
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Nesta videoaula, antes de


apresentarmos o método de Décourt-
Quaresma, iremos abordar algumas
considerações gerais sobre projeto de
estacas.

1.2 Método semiempírico Décourt-Quaresma

Este método foi apresentado pelos autores no final da década de 1970 e se baseia na
determinação das resistências laterais e de ponta de uma estaca com base em duas variáveis
geotécnicas:

 Resistência unitária lateral (RL);

 Resistência unitária de ponta (RP).

O equacionamento para a obtenção destas variáveis é bastante simples e, como já antecipado,


depende da análise do laudo de SPT do solo.

1.2.1 Determinação da resistência unitária lateral do solo

Os autores traduziram a resistência unitária lateral do solo através da equação 1:

Onde:

NL representa o valor médio de resistência à penetração SPT do solo ao longo do fuste da


estaca.

O NL é obtido fazendo-se a média aritmética dos valores de NSPT que envolvem o fuste da
estaca desprezando-se os valores da ponta da estaca e o imediatamente anterior.

Os valores de NL estão limitados entre 15 e 50 para as estacas de deslocamento e estacas


escavadas com uso de lama. No caso das estacas Strauss o limite para o NL é 15. Os valores de
RL são dados de KPa ou kN/M².

1.2.2 Determinação da resistência unitária de ponta

Neste caso, o equacionamento é um pouco diferente (equação 2) e depende da aplicação


conjunta de uma tabela (tabela 1) que contém um coeficiente característico do solo.

Onde:
NP é o valor médio do índice de penetração na ponta ou base da estaca, obtido a partir de três
valores.

O valor do NP é dado pela média aritmética entre os valores de NSPT da ponta, o


imediatamente anterior e o imediatamente posterior.

Tabela 1 – Coeficiente característico do solo “C”

SOLO C (kN/m2)

Argila 120

Silte argiloso 200

Silte arenoso 250

Areias 400

Fonte: CINTRA (2010).

Uma vez obtidas estas duas variáveis, pode-se determinar os valores das resistências laterais e
de ponta.

1.2.3 Determinação das resistências lateral e de ponta

O equacionamento é igualmente simples:

Onde temos:
RL: resistência lateral da estaca

rL: resistência unitária lateral

U: perímetro da estaca

L: comprimento da estaca

RP: resistência de ponta da estaca

Rp: resistência unitária de ponta

AP: área de ponta da estaca

1.2.4 Determinação da capacidade de carga

Em 1966, Décourt introduziu os fatores α e β para efetuar ajustes nas parcelas da resistência
de ponta e lateral, respectivamente. Estes valores podem ser encontrados nas tabelas 2 e 3.
São fatores de minoração que levam em consideração o modo de execução da estaca.

Tabela 2 – Fatores β para ajuste da resistência lateral

ESTACAS ESCAVADAS
ESCAVADAS HÉLICE ESTACA
CRAVADAS COM LAMA
SOLO EM GERAL CONTÍNUA RAIZ
EM GERAL BENTONÍTICA

ARGILA 1,0 0,80 0,90 1,0 1,50

SOLO
1,0 0,65 0,75 1,0 1,50
INTERMEDIÁRIO

AREIAS 1,0 0,50 0,60 1,0 1,50

Fonte: Décourt

Tabela 3 – Fatores α para ajuste da resistência de ponta

ESTACAS ESCAVADAS
ESCAVADAS HÉLICE ESTACA
CRAVADAS EM COM LAMA
SOLO EM GERAL CONTÍNUA RAIZ
GERAL BENTONÍTICA
ARGILA 1,0 0,85 0,85 0,30 0,85

SOLO
1,0 0,60 0,60 0,30 0,60
INTERMEDIÁRIO

AREIAS 1,0 0,50 0,50 0,30 0,50

Fonte: Décourt

A introdução destes fatores aprimorou a formulação para o cálculo da capacidade de carga


total de estacas, ficando a formulação final definida como segue:

Cujos termos já foram definidos anteriormente.

1.2.5 Determinação da capacidade de carga admissível

Em função das simplificações do método, do desconhecimento preciso de alguns parâmetros


do solo e de prováveis erros decorrentes da execução das estacas, serão utilizados fatores de
segurança para obter a capacidade de carga admissível de uma estaca.

O método propõe a aplicação de duas equações e a adoção do menor valor obtido na


aplicação das duas formulações:

O menor dos dois valores obtidos nas equações 6 e 7 deve ser comparado com a capacidade
de carga estrutural da estaca (RE) (também chamada de carga de catálogo). Este valor reflete a
resistência do material do qual é feita a estaca e é fornecido pelo fabricante, no caso das pré-
moldadas, ou informada pelo executor, no caso das moldadas in loco.

Para fins de projeto, deve-se utilizar como capacidade de carga geotécnica o menor dos três
valores, os dois obtidos através das equações 6 e 7 e a capacidade de carga estrutural. Desse
modo não se corre o risco de romper o solo e nem a estaca.
Videoaula 2
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Agora que você teve acesso a um dos


processos mais utilizados no
dimensionamento de estacas, assista à
videoaula na qual abordamos os “blocos
de coroamento” para estacas.

1.2.6 Limitações de Projeto

Para complementar este assunto, é preciso destacar que todo sistema de fundação por estaca
possui determinados limites que precisam ser observados.

Por exemplo: até que profundidade um equipamento de Hélice Contínua consegue perfurar o
solo?

Em primeiro lugar, isso depende do tipo de equipamento. Há aqueles que possuem trados de
23m, 24m e alguns de 30m. Esse é um tipo de limitação.

Outro tipo de limitação está relacionado ao solo. À medida que a escavação se aprofunda, a
resistência do solo aumenta e a eficiência do equipamento em escavar o solo diminui.

No caso de hélices contínuas, os equipamentos conseguem perfurar normalmente até SPT 45.
Esta condição é denominada de “limite de escavabilidade”. Se o caso fosse de um
equipamento para cravação de estacas isso seria designado por “limite de cravabilidade”.

A tabela 4 apresenta alguns destes limites para diversos tipos de sistemas de estacas
correlacionados ao NSPT do solo.
Tabela 4 - Limites de Cravabilidade e Escavabilidade para alguns sistemas de fundação por
estacas

Outros itens precisam ser verificados no projeto, como os destacados a seguir:

 Viabilidade executiva da solução adotada;

 Cálculo da capacidade de carga das estacas para as sondagens, comprimentos e


arrasamentos adotados em projeto;

 Quantidade de estacas adotadas em cada pilar deve ser compatível com a capacidade
de carga das estacas calculadas e sua capacidade estrutural; e

 Distância mínima entre estacas (d) em função do seu diâmetro (Φ):

o Pré-moldadas d >2,5 Φ e Moldadas “ in loco” d > 3,0 Φ

1.2.7 Exemplo de Cálculo

Vamos tomar o perfil do solo destacado no croqui a seguir. Trata-se de um solo argiloso e,
como se percebe, não foi identificada a presença do lençol freático. O sistema disponível na
localidade é um equipamento para estacas escavadas com trado de comprimento de 20
metros e que é capaz de perfurar solos com NSPT até 29. A cota de arrasamento estabelecida
no projeto foi de 1,5m de profundidade. Com base nestas informações determine a
capacidade de carga para uma estaca de diâmetro de 50cm. O executor informa que a
capacidade de carga estrutural desta estaca é de 1100 kN.

Figura 2 – Croqui perfil do solo


1º PASSO – definição do comprimento da estaca e das suas características geométricas:

O problema indica que o topo da estaca (cota de arrasamento) estará situado a 1,5m de
profundidade em relação à superfície do terreno. Ao mesmo tempo informa que o
equipamento tem capacidade de cortar o solo até NSPT 29. Dessa forma, a ponta irá alcançar
no máximo até a cota -14m.

Como o comprimento máximo do trado do equipamento é de 20 metros, então, é possível


fixar a cota de ponta nesta posição. Com isso, tem-se uma estaca de comprimento de 12m.

As demais características geométricas necessárias para o cálculo são a definição do perímetro


(U) e também da área de ponta (Ap).

2º PASSO – definição dos coeficientes de ajuste “α” e “β” e “C”

Esta definição é feita com base nas tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1: solo argiloso -> “C” = 120 kN \ M²

Tabela 2: Solo argiloso + Sistema de estacas escavadas em geral -> “β” = 0,80

Tabela 3: Solo argiloso + Sistema de estacas escavadas em geral -> “α” = 0,85

3º PASSO – Cálculo dos SPTs médios de ponta (NP) lateral (NL) a resistência de ponta
O SPT médio de ponta (NP) é obtido pela média aritmética entre o NSPT situado na ponta da
estaca, o imediatamente anterior e o imediatamente posterior.

Figura 3 – Croqui perfil do solo

O SPT médio lateral (NL), é obtido pela média aritmética entre o NSPT que envolve o fuste da
estaca, exceto o da ponta e o anterior. Dessa forma, como pode ser observado no croqui,
serão tomados os NSPTs desde a cota – 5m até a cota -12m, assim:

4º PASSO – Cálculo da resistência total da estaca

Aplicando-se à equação 5, tem-se:

5º PASSO – Cálculo da resistência admissível da estaca


Para esta definição é preciso considerar as equações 6 e 7 e comparar com a capacidade de
carga estrutural (carga de catálogo) definida pelo executor.

Para aplicar a equação 7 é preciso identificar a parcela referente à resistência lateral e total.
Para facilitar o reconhecimento, a parcela da resistência lateral está identificada em azul e a da
resistência de ponta em vermelho.

O executor da fundação informa que a capacidade de carga estrutural desta estaca é de 1100
kN.

Diante desta informação, é preciso adotar o menor dentre os três valores, para poder proteger
o elemento mais frágil, que neste caso é o solo. Adota-se então, como capacidade de carga
geotécnica desta estaca, o valor de RADM1, ou seja, 748,08 kN.

Videoaula 3
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Assista à videoaula em que serão
abordados alguns princípios gerais para
projeto de blocos de coroamento para
estacas.

Leitura Obrigatória

Para complementar os seus conhecimentos sobre dimensionamento de estacas, faça a leitura


dos capítulos 1 e 2 do livro Fundações por estacas: projeto geotécnico, escrito pelos autores
José Carlos A. Cintra e Nelson Aoki.

Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Loader/38862/pdf.


Indicação de Vídeo

Há canais no YouTube que podem ser úteis para enriquecer seu conhecimento sobre os temas
aqui abordados. Exemplo disso é o canal “FUNDAÇÕES SEM COMPLICAÇÕES”, do engenheiro
Vinícius Lorenzi. Não deixe de conferir os vídeos que podem aprofundar ainda mais o seu
aprendizado!
Tubulões

Esta aula será dedicada ao estudo e dimensionamento geotécnico de tubulões. Será


apresentado um método que tem por base o SPT.

2.1 Introdução

O tubulão, de acordo com a NBR 6122, pode ser descrito como:

Elemento de fundação profunda em que, pelo menos na etapa final da escavação do


terreno, faz-se necessário o trabalho manual em profundidade para executar o
alargamento de base ou pelo menos para a limpeza do fundo da escavação, uma vez
que neste tipo de fundação as cargas são resistidas preponderantemente pela ponta

(ABNT, 2019).

No caso dos tubulões, a grandeza fundamental para o seu dimensionamento geotécnico é a


tensão admissível ou tensão resistente de cálculo do solo.

Essa tensão deve satisfazer, simultaneamente, aos estados limites últimos (ELU) e de serviço
(ELS) para cada elemento isolado de fundação, bem como para o conjunto.

Vários fatores devem ser considerados para a determinação da carga admissível, considerados
os casos específicos:

 Características geomecânicas do subsolo; posição do nível d’água;

 Profundidade da base da fundação;

 Dimensões e forma dos elementos de fundação;

 Eventual alteração das características dos solos (expansivos, colapsíveis etc.) devido a
agentes externos (encharcamento, contaminação, agressividade etc.);

 Alívio de tensões;

 Eventual ocorrência de solicitações adicionais como atrito negativo e esforços


horizontais devidos a carregamentos assimétricos;

 Características ou peculiaridades da obra;

 Sobrecargas externas; inclinação da carga;

 Estratigrafia do terreno;

2.2 Dimensionamento geométrico

A geometria de um tubulão, a ser definida, envolve os elementos constantes na figura 4.


Figura 4 – Elementos geométricos de um tubulão a céu aberto

Fonte: Adaptado de ALONSO (2019).

Videoaula 1
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Assista à videoaula para aprender mais


sobre a tipologia de tubulões e suas
aplicações.

Por sua vez, as bases podem ser de dois tipos: circulares ou alongadas, também chamadas de
falsa elipse, em função do seu formato (figura 5). Há tubulões que não possuem base alargada
em função da relação entre resistência do solo e carga do pilar.

Figura 5 – Tipos característicos de bases para tubulões vistas em planta

Fonte: Adaptado de ALONSO (2019).

O fuste, normalmente, é de seção circular (figuras 4 e 5), adotando-se, de acordo com a nova
NR 18, o diâmetro mínimo de 90cm para tubulões escavados manualmente. A profundidade
de escavação também não poderá exceder 15m.

Quando, porém, a projeção da base for em forma de falsa elipse a relação a/b deverá ser
menor ou igual a 2,5, para garantir uma distribuição uniforme de tensões.
A área da base do tubulão é calculada desprezando-se tanto o peso próprio do tubulão quanto
o atrito lateral entre o fuste e o terreno. Assim, a área de uma base será calculada
genericamente pela equação 1:

Onde:

Ab: é a área da base;

P: é a carga característica do pilar a ser transmitida ao solo;

σs: é a tensão admissível do solo.

Se a projeção da base for circular, utiliza-se a equação 2:

Onde:

D: é o diâmetro da base.

Caso a base tenha projeção em forma de falsa elipse, deve-se utilizar a equação 3:

Onde:

b: é a menor dimensão da base;

x: é o alargamento.

Seguindo a sequência, o próximo elemento a ser dimensionado é o fuste. Quando existem


apenas cargas verticais ou os momentos fletores são muito baixos, ele é dimensionado como
um pilar de concreto simples e a armação é apenas construtiva e tem a finalidade de fazer a
ligação com o bloco de coroamento e com o pilar (equações 4).

Onde:

σc é a resistência do concreto, calculada pela equação 5:


Sendo:

fck: a resistência característica do concreto;

ϒc: o coeficiente de minoração da resistência do concreto. Adota-se o valor de 2,2 para


concretos C25 e 3,6 para concretos C40.

A determinação da altura da base do tubulão parte do princípio de que o ângulo “α”,


assinalado na figura 4, deve ser de pelo menos 60º para suportar adequadamente as tensões
de cisalhamento. Sendo assim, surgem 2 formulações para a sua determinação: a equação 6,
para o caso de bases circulares, e a equação 7, para o caso de bases alongadas.

No caso dos tubulões a céu aberto a altura “H” não deve superar 2,0m, por questões de
segurança.

Muito importante ainda, uma vez que os tubulões são estruturas massivas, é a determinação
do seu volume. O volume do fuste é calculado semelhantemente a um cilindro de base com
diâmetro “φ” e altura situada entre a cota de arrasamento e o topo da base.

O volume da base pode ser calculado aproximando-se a um volume de uma estrutura tronco-
cônica, no caso de bases circulares (equação 8).

Onde:

Ab: é a área da base do tubulão

Af: é a área do fuste

H: é altura da base

A formulação é um pouco diferente no caso de tubulões com base em falsa elipse. A seguir,
apresentaremos a proposição do professor Douglas Constantino, que representa uma ótima
aproximação.

Figura 6 – Determinação do volume de uma base em falsa elipse


Fonte: Adaptado de Constantino (2004)

2.3 Determinação da tensão admissível do solo

A tensão admissível do solo pode ser determinada através de diversos equacionamentos,


alguns teóricos e outros semiempíricos.

Os métodos semiempíricos são estabelecidos com base no ensaio de SPT. No caso do tubulões
é bastante simples e vamos apresentar a proposição de ALONSO (2019), expressa através da
equação 9:

Onde o SPTMÉDIO é a média aritmética dos SPTs na região localizada entre a cota de apoio e o
término do bulbo de tensões (L).

O bulbo de tensões é estimado em função do lado menor da base do tubulão (b) ou “D” se for
circular de acordo com a equação 10 e figura 7.

Figura 7 – Determinação do SPTmédio para cálculo da tensão admissível do solo


A título de exemplo, considerando a equação 9 e a figura t temos o seguinte valor para a
tensão admissível do solo:

Existem limites para esta tensão admissível. No caso das argilas não se deve utilizar valores
maiores que 600 kN/ m² e no caso das areias 800 kN/ m².

Videoaula 2
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Assista à videoaula e aprenda mais sobre
o processo de execução de tubulões.

2.4 Exemplo de dimensionamento de tubulão

Considere o croqui a seguir e dimensione um tubulão em base alargada para o pilar P10 que se
encontra próximo à divisa do terreno e possui carregamento característico de 1500 kN. O solo
sobre o qual o tubulão irá se assentar é arenoso e varia de medianamente compacto a
compacto. Pense que o concreto a ser utilizado na moldagem do tubulão será da classe C25 e a
escavação do tubulão será manual.

Figura 8 – Croqui de dimensionamento de tubulão

1º PASSO: estimativa do comprimento médio do bulbo de tensões

Considerando que é desejável que a base do tubulão esteja centrada no centro de gravidade
do pilar P10 e que o lado maior da base alargada esteja paralelo à divisa, pode-se deduzir que
o valor de “b” será 1,5m.

Uma vez que o comprimento do bulbo de tensões varia entre 2b e 3b, adota-se, por
segurança, o comprimento de 2b.

Desse modo:

L= 2 Xb = 2 x 1,5m = 3m

2º PASSO: estimativa do SPT médio

Sendo assim, considerando a definição do SPT médio apresentada, pode-se estabelecer o


seguinte valor:

3º PASSO: estimativa da tensão admissível do solo

O solo foi descrito como arenoso, portanto, o limite para a tensão admissível é exatamente
800 kN\m², então é possível manter este valor e concluir o dimensionamento do tubulão.

4º PASSO: Conclusão do dimensionamento da base do tubulão em planta

Como se trata de uma base alargada, então,


Isolando-se o valor de x (alargamento) temos:

x= 0,576 = 0,6m (arredondamento sempre de 5 em 5 cm)

Por definição (veja figura 5)

A=b + x = 1,5 + 0, 6 = 2,10m

5º PASSO: Dimensionamento do fuste do tubulão

Sabendo-se que o concreto adotado é da classe C25 (25 MPa ou 25.000 kN\M²), pode-se
determinar a tensão admissível do concreto para dimensionamento do fuste:

Dessa forma:

6º PASSO: Dimensionamento da altura da base do tubulão

Como a base é alargada deve-se utilizar a equação 7

H=0,866×( 2,1-0,9)=1,04=1,05m

7º PASSO: Estimativa do volume da base do tubulão


Utilizando-se a formulação proposta por Constantino, tem-se:

Em resumo:

Videoaula 3
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Agora, assista à videoaula na qual será


refeito o passo a passo do
dimensionamento de um tubulão.

Leitura Obrigatória

Leia os capítulos 1 e 4 do livro Fundações diretas: projeto geotécnico, dos autores José Carlos
A. Cintra, Nelson Aoki e José Henrique Albiero.

Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/38868.


Videoaulas

Prezado(a) aluno(a)!
Você também poderá encontrar todas as videoaulas, clicando em “Módulos” no “Menu
Lateral” e acessar a página de vídeos.

Videoaula Resolução de Exercício


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Assista!

Encerramento

Nesta unidade você teve a oportunidade de aprender a dimensionar, de maneira bastante


sintética, estacas e tubulões.

Há outros processos de dimensionamento além dos que foram apresentados aqui e, também,
alguns específicos para determinados tipos de estacas. O mais importante é que você
compreenda a necessidade de garantir a segurança do elemento mais sensível do sistema de
fundação, sendo o solo ou os elementos que compõem o sistema.

Não deixe de aprofundar os seus conhecimentos a respeito desse tema e aprender mais
sempre que possível.

Referências

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e Execução de


Fundações. Rio de Janeiro: ABNT, ago. 2019.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo — Sondagem de


simples reconhecimento com SPT — Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, ago. 2019.

ALONSO, Urbano Rodriguez. Exercícios de fundações. 3. ed. São Paulo: Editora Blucher, 2019.

CINTRA, José Carlos A.; AOKI, Nelson. Fundações por estacas: projeto geotécnico. Oficina de
Textos, 2010. E-book.

CINTRA, José Carlos A.; AOKI, Nelson; ALBIERO, José Henrique. Fundações diretas: projeto
geotécnico. Oficina de textos, 2011.

FALCONI, Frederico (org) et al. Fundações: Teoria e Prática. São Paulo: Editora Oficina de
Textos, 2019.

SCHNAID, Fernando; ODEBRECHT, Edgar. Ensaios de Campo e suas aplicações à Engenharia de


Fundações. 2. ed. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2012.

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