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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - CIDADE UNIVERSITÁRIA

1º TRABALHO PRÁTICO - PROBLEMAS ESPECIAIS DE FUNDAÇÕES E OBRAS SUBTERRÂNEAS

ALUNA: GABRIELA ALVES ESTRELA

I. APRESENTAÇÃO

Fundação é o elemento de uma estrutura responsável por transmitir as cargas da estrutura para o terreno. É
importante que essa transmissão de cargas seja adequada, ou seja, não deve gerar problemas, de qualquer
natureza, para a estrutura. A forma adequada de transmissão da carga para o terreno, através da fundação, visa
atender dois requisitos: segurança com relação à ruptura e recalques compatíveis com a estrutura. Sendo assim,
pelo primeiro requisito o solo de fundação não pode entrar em colapso, ou ruptura; pelo segundo requisito os
recalques para as cargas que irão atuar precisam ser compatíveis com aqueles tolerados pela estrutura.
As fundações são geralmente divididas em dois grupos: fundações rasas e fundações profundas. As
fundações rasas - também chamadas de diretas ou superficiais - que tem sua profundidade de assentamento
delimitada pela largura, ou o dobro da largura, da fundação de acordo com o critério de projeto adotado. Mas
suas profundidas são reduzidas à poucos metros. As fundações profundas, que faz parte do objetivo principal
deste trabalho prático, são geralmente peças de comprimento muito maior que a largura ou diâmetro; A NBR
6122:2019 passou a especificar a profundidade superior a oito vezes a menor dimensão em planta, sendo a
profundidade mínima de 3 metros de comprimento para esse tipo de estaca. Na prática, o comprimento dessas
fundações, em obras de edificações e industriais, são de 8 a 20 metros. Mas podem ultrapassar facilmente esses
valores, coisa que ocorre muito em regiões de solo mole, muito comum em obras portuárias.

Figura 1 - fundação rasa em sapata corrida Figura 2 - fundação profunda com estacas de concreto pré-moldado
As fundações profundas, transmitem suas cargas ao terreno, tanto através da base quanto da superfície
lateral da fundação, como mostra a figura abaixo. As setas indicam a reação do terreno sobre uma estaca
profunda.

Figura 3- reação do solo sobre a estaca

Existem dois tipos de fundações profundas: estacas e tubulões; a NBR 6112:1996 incluía um terceiro tipo,
os caixões, que foram retirados por desuso, da versão 2010 da norma. Pode-se afirmar que as estacas constituem
o tipo mais empregado de fundação profunda.
As estacas podem ser classificadas quanto ao deslocamento de solo associado ao processo de instalação
da estaca, que podem ser: de grande, pequeno ou "sem deslocamento" do solo mediante sua cravação. Outra
classificação se refere ao tipo de material empregado, estacas de madeira, concreto, de aço, mistas ou outros.
No processo de execução de estacas pré-moldadas de concreto, pressupõe-se o processo de execução
sendo de cravação por percussão; quando o processo de instalação não for o mencionado, as estacas passam a
ter designação específica, como: estaca tipo Frankli, estaca raiz, e etc.

II. DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA

A capacidade de carga (carga de ruptura) de estacas pode ser determinada por meio de fórmulas estáticas,
fórmulas dinâmicas e métodos empíricos. Nas fórmulas estáticas e nos métodos empíricos a capacidade de carga
Qrup da estaca é estimado pela expressão:

A carga de atrito lateral é resultante das resistências do solo por atrito lateral atuantes ao longo da superfície
lateral da estaca, podendo ser dada por:
A resistência de ponta é o produto da resistência de ponta unitária pela área da base da estaca, ou seja:

Os métodos empíricos empregam os valores obtidos nos ensaios de campo diretamente para estimativa do
atrito lateral unitário e da resistência de ponta unitária, sem passar por parâmetros geotécnicos. Pode-se dizer
que a utilização de métodos empíricos na determinação da capacidade de carga é uma tendência mundial, e no
Brasil, métodos semiempíricos têm sido propostos desde o final da década de 70.

III. MÉTODOS EMPÍRICOS

A. Método de Aoki e Velloso (1975)

O método de Aoki e Velloso (1975) constitui experiência adquirida pelos autores quando de sua atuação
na então Companhia de Estacas Franki. O método surgiu a partir de correlações entre resultados de provas de
carga em estacas, resultados de ensaios de cone (CPT) e sondagens à percussão. Foram empregadas correlações
existentes na empresa, desenvolvidas por Costa Nunes e Fonseca (1959) entre a resistência de ponta do cone qc
e o N do SPT.

Para o cálculo do atrito lateral unitário e da resistência de ponta, as expressões empregadas são:

sendo
α e K - fatores que correlacionam os resultados do ensaio de cone com o SPT, os quais são dados na tabela 1;
N - número de golpes do SPT;
F1 e F2 - fatores de correlação, dados na tabela 2, que depende do tipo de estaca.

B. Método de Décourt e Quaresma (1982)


O método de Décourt e Quaresma, ou simplesmente método de Décourt, pois foi o autor que apresentou
uma série de atualizações do método, emprega apenas os resultados de sondagens à percussão. Os valores de
atrito lateral unitário si podem ser estimados a partir da expressão:

Sendo 𝑁 ̅ o valor médio de N ao longo do fuste, calculado sem levar em conta os valores de N considerados no
cálculo da resistência de ponta.
No caso de N menor que 3, considerar N=3; e no caso de N>50, considerar N=50, exceto nos casos de estacas
Strauss e tubulões, em que o limite para N deve ser de 15.
Para o cálculo de resistência de ponta unitária rp a expressão a ser empregada é:

Observações para os dois métodos descritos:


1) Para o cálculo da resistência de ponta, deve ser considerado o valor do contorno da seção (seção cheia),
em função do embuchamento, exceto no caso de estacas cuja ponta se assenta sobre rocha. Para o cálculo do
atrito lateral, existem autores que consideram o perímetro externo real da seção, e outros que consideram o
perímetro correspondente à seção embuchada; aqui iremos considerar o perímetro real.
2) Não se deve considerar, no cálculo do atrito lateral, o comprimento desde o nível do terreno até a cota
de arrasamento da estaca.

C. Método de Pedro Paulo Costa Velloso (1979)


Velloso (1979) definiu para capacidade de carga lateral ao longo da estaca e capacidade de carga de ponta,
as seguintes expressões:

e
IV. CÁLCULO DA CAPACIDADE DE CARGA PARA OS TRÊS MÉTODOS

Dados o perfil de sondagem a percussão fornecido pelo professor neste trabalho e a estaca
escolhida que foi pré-moldada quadrada de concreto com seção de 300x300 e carga nominal de 50tf
(equivalente à 500 kN)
Para o cálculo do número de golpes nas camadas em que esse valor ficou uma fração, vamos fazer
uma regra de três simples para saber o número de golpes que seriam necessários para avançar os 30
centímetros finais que a norma indica.
Dessa forma, vamos considerar o número de golpes para a camadas à 6m, 7m, 14m, 15m, 16m e
20m como 43, 50, 3, 3, 3 e 11 respectivamente; sendo esse valor a quantidade de golpes que seriam
necessários para avançar os últimos 30cm de profundidade com o SPT.
Outra escolha importante é sobre que NSPT adotar; neste trabalho, assim como recomendado em
norma, iremos utilizar o NSPT sempre referente aos últimos 30cm.
A. Método de Aoki e Velloso (1975)
Como mencionado anteriormente, o método de Aoki e Velloso, considera para os cálculos de resistência
lateral e de ponta o tipo de solo em que se encontra as camadas. Para o perfil fornecido sempre que um solo for
uma mistura (ex: areia e silte) iremos considerar os parâmetros K e α sendo o menor deles, à favor da segurança.
Portanto para a sondagem fornecida, de acordo com a tabela 1 e 2 e as fórmulas explicitadas acima é possível
elaborar a seguinte tabela com os valores metro a metro da carga admissível, segundo este método:

Conclusão Prévia: para o método de Aoki e Velloso é possível ver que a carga nominal da estaca (50tf) cruza
a curva de carga admissível do solo em 3.5m - 4m, ou seja, profundidades menores que 4m não são seguras para
construir caso a carga aplicada seja em torno da carga nominal da estaca.
Z (m) SPT Soil Type K alpha Qs (tf)* Qp (tf) Qadm (tf)

0 0 0 0 0.00 0 0

1 11 Areia e Silte - Medianamente compacta 4.00 0.030 0.00 22.63 11.31

2 10 4.00 0.030 4.53 20.57 12.55

3 12 10.00 0.014 8.64 61.71 35.18

4 31 10.00 0.014 14.40 159.43 86.91

5 32 10.00 0.014 29.28 164.57 96.93

6 43 10.00 0.014 44.64 221.14 132.89

7 50 10.00 0.014 65.28 257.14 161.21

8 31 10.00 0.014 89.28 159.43 124.35

9 10 10.00 0.014 104.16 51.43 77.79

10 16 10.00 0.014 108.96 82.29 95.62

11 8 10.00 0.014 116.64 41.14 78.89

12 8 10.00 0.014 120.48 41.14 80.81

13 3 2.20 0.040 124.32 3.39 63.86

14 3 2.00 0.060 125.23 3.09 64.16

15 3 2.00 0.060 126.46 3.09 64.77

16 3 2.20 0.040 127.69 3.39 65.54

17 6 2.20 0.040 128.60 6.79 67.69

18 10 2.20 0.040 130.41 11.31 70.86

19 15 2.20 0.040 133.43 16.97 75.20

20 11 2.20 0.040 137.95 12.45 75.20

21 8 6.00 0.030 141.27 24.69 82.98

22 15 6.00 0.030 146.21 46.29 96.25

23 23 6.00 0.030 155.47 70.97 113.22

24 30 6.00 0.030 169.66 92.57 131.12

25 35 6.00 0.030 188.17 108.00 148.09

25.45 40 6.00 0.030 209.77 123.43 166.60


* referente à resistência no topo de cada camada.
00 valores alterados para os últimos 30cm de SPT
Gráfico Carga Admissível x Profundidade
Carga Admissível (tf)
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
0

10
Profundidade (m)

15

20

25

30

B. Método de Décourt e Quaresma (1982)

O método de Décourt e Quaresma, considera para os cálculos de resistência lateral e de ponta não considera
diretamente o tipo de solo em que a estaca está, mas sim a média do número de golpes necessários até a camada
analisada. Portanto para a sondagem fornecida, de acordo com a tabela 3 e as fórmulas explicitadas acima é
possível elaborar a seguinte tabela com os valores metro a metro da carga admissível, segundo este método:

Conclusão Prévia: para o método de Décourt e Quaresma é possível ver que a carga nominal da estaca (50tf)
cruza a curva de carga admissível do solo em torno de 4.0m, ou seja, essa é a profundidade de assentamento
deste método para uma carga nominal de 50tf.
Z (m) NSPT Soil Type C (tf/m2)s_aux (tf) [N/3+1) Qs (tf)* Qp (tf) Qadm (tf)

0 0 0 0 0 0.00 0 0

1 11 Areia e Silte - Medianamente compacta 25.00 1.00 1.20 1.20 15.75 8.48

2 10 25.00 2.83 3.40 4.60 24.75 14.68

3 12 40.00 3.33 4.00 8.60 63.60 36.10

4 31 40.00 3.75 4.50 13.10 90.00 51.55

5 32 40.00 5.27 6.32 19.42 127.20 73.31

6 43 40.00 6.33 7.60 27.02 150.00 88.51

7 50 40.00 7.62 9.14 36.16 148.80 92.48

8 31 40.00 8.88 10.65 46.81 109.20 78.01

9 10 40.00 9.15 10.98 57.79 68.40 63.10

10 16 40.00 8.67 10.40 68.19 40.80 54.50

11 8 40.00 8.45 10.15 78.34 38.40 58.37

12 8 40.00 8.06 9.67 88.00 22.80 55.40

13 3 12.00 7.72 9.26 97.26 5.04 51.15

14 3 12.00 7.31 8.77 106.04 3.24 54.64

15 3 12.00 6.96 8.35 114.38 3.24 58.81

16 3 12.00 6.65 7.98 122.36 4.32 63.34

17 6 12.00 6.37 7.65 130.00 6.84 68.42

18 10 12.00 6.19 7.42 137.43 11.16 74.29

19 15 12.00 6.09 7.31 144.73 12.96 78.85

20 11 12.00 6.08 7.30 152.03 12.24 82.14

21 8 40.00 6.02 7.22 159.25 40.80 100.03

22 15 40.00 5.91 7.09 166.34 55.20 110.77

23 23 40.00 5.91 7.10 173.44 81.60 127.52

24 30 40.00 6.03 7.23 180.67 105.60 143.14

25 35 40.00 6.23 7.47 188.14 126.00 157.07

25.45 40 40.00 6.47 7.77 195.91 135.00 165.46


* referente à resistência no topo de cada camada.
00 valores alterados para os últimos 30cm de SPT
Gráfico Carga Admissível x Profundidade - [Décourt-Quaresma]
Carga Admissível (tf)
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
0

10
Profundidade (m)

15

20

25
Carga Admissível para Estaca

30

C. Método de Pedro Paulo Costa Velloso (1979)

Área da Perímetro
αl αp
Ponta (m² ) (m)
1.00 1.00 0.09 1.2

ʎl ʎp

1.00 1.00

Conclusão Prévia: para o método de Pedro Paulo é possível ver que a carga nominal da estaca (50tf) cruza a
curva de carga admissível do solo em aproximadamente 4.0m, ou seja, profundidades menores que 4m não são
seguras para construir caso a carga aplicada seja em torno da carga nominal da estaca.
Z (m) SPT Soil Type Cl (t/m2) Cp (t/m2) Qs (tf)* Qp (tf) Qadm (tf)

0 0 0 0 0.00 0 0

1 11 Areia e Silte - Medianamente compacta 0.80 40.00 0.00 19.80 9.90

2 10 0.80 40.00 10.56 27.90 19.23

3 12 0.85 50.00 20.16 39.60 29.88

4 31 0.85 45.00 32.40 84.38 58.39

5 32 0.85 45.00 64.02 100.73 82.37

6 43 0.85 45.00 96.66 138.60 117.63

7 50 0.85 45.00 140.52 172.80 156.66

8 31 0.85 45.00 191.52 147.15 169.34

9 10 0.85 45.00 223.14 103.95 163.55

10 16 0.85 45.00 233.34 93.83 163.58

11 8 0.85 45.00 249.66 54.68 152.17

12 8 0.85 45.00 257.82 39.15 148.49

13 3 0.63 25.00 265.98 24.98 145.48

14 3 0.63 25.00 268.25 15.30 141.77

15 3 0.63 25.00 270.52 11.03 140.77

16 3 0.63 25.00 272.78 6.75 139.77

17 6 0.63 25.00 275.05 10.13 142.59

18 10 0.63 25.00 279.59 15.75 147.67

19 15 0.63 25.00 287.15 24.00 155.57

20 11 0.63 25.00 298.49 24.00 161.24

21 8 0.85 45.00 306.80 29.70 168.25

22 15 0.85 45.00 314.96 45.53 180.24

23 23 0.85 45.00 330.26 66.23 198.24

24 30 0.85 45.00 353.72 91.80 222.76

25 35 0.85 45.00 384.32 116.78 250.55

25.45 40 0.85 45.00 420.02 140.40 280.21


* referente à resistência no topo de cada camada.
00 valores alterados para os últimos 30cm de SPT
Gráfico Carga Admissível x Profundidade - [Método Pedro Paulo Costa
Velloso]
Carga Admissível (tf)
0 50 100 150 200 250 300
0

10
Profundidade (m)

15

20

25
Carga Admissível para Estaca
Carga Nominal Estaca Pré-Moldada Concreto 300x300 50tf
30

V. CONCLUSÕES
Através do trabalho foi possível notar que cada método tem seus parâmetros de simplificações e suas
hipóteses, portanto, cada um apresenta um valor particular de solução. Foi possível notar que os três métodos
tiveram respostas diferentes para a resistência do solo, e consequentemente da carga admissível, ao longo da
profundidade.
Os três métodos: de Aoki e Velloso, Décourt e Quaresma e Pedro Paulo Costa Velloso tiveram resultados
próximos quanto à “zona segura de construção”, ou seja, nos três métodos seria necessário assentar a fundação
em profundidades da ordem de 3,5 a 5 metros, para uma estaca pré-moldada de concreto com seção de
300x300mm e carga nominal de 50tf.

Numa situação em que eu devo escolher qual método adotar, à favor da segurança, escolheria uma
profundidade de assentamento da ordem de 4m, visto que dois dos três métodos usados deram valores nesta
ordem de grandeza.

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