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ESTACAS PRÉ-FABRICADAS CRAVADAS

PRECAST DRIVING PILES

Nogueira Simões, Teresa; engªcivil ,gabinete tecnico da SOPECATE

RESUMO

O sistema de estacas pré-fabricadas de betão


armado como fundação, é uma ciência que se tem
desenvolvido provavelmente mais do que outros tipos
de estacaria especialmente na técnica de cravação,
determinação da capacidade última, e no controlo de
qualidade do betão. O uso da equação de onda na
determinação da capacidade última é um desses
grandes desenvolvimentos tendo criado um
renascimento do interesse na aplicação deste
sistema.
Fig. 1 – Cravação de Estacas Pré-fabricadas
ABSTRACT

The science of precast piling has probably developed more than any other piling method, especially
with regard to driven technique, determination of bearing capacity, and concrete quality control. Use of
the wave equation in bearing capacity determinations is one such advancing with a consequent rebirth of
interest in the application of precast piles.

1. DESCRIÇÃO GERAL

As estacas pré-fabricadas cravadas, são a solução mais apropriada quando importantes camadas de solos
de fraca resistência se sobrepõem aos estratos escolhidos para fundação. Não são apropriadas em solos
que contenham seixo grosso mas podem ser usadas, por exemplo, em solos com cascalho disperso.

As estacas são instaladas por repetidas pancadas de um martelo sobre um elmo, que protege a estaca, até
atingir uma profundidade apropriada de fundação ou até estar reunido o conjunto de circunstâncias
exigido pelo projecto. O alinhamento durante a cravação é assegurado por uma torre provida de guias
laterais que orientam a cabeça da estaca.

As estacas pré-fabricadas são fornecidas ao estaleiro sob a forma de segmentos de comprimentos


variáveis, os quais podem ser seleccionados segundo as condições geotecnicas locais. Os segmentos têm a
ponta, ou as pontas cobertas por uma junta de aço, consoante o número de segmentos que têm de ser
acrescentados, que permite a extensão imediata do comprimento da estaca e a penetração mais profunda
no solo. Estas juntas estão ligadas à armadura longitudinal e transmitem as tracções, compressões e
momentos ao longo da ligação e estão calculadas para serem pelo menos tão resistentes quanto a própria
estaca.
Fig. 2 -Junta tipo Fig. 3 - Aplicação a Junta

Correntemente são fornecidas várias secções de estacas ( desde 235x235 mm a 400x400 mm2) que são
fabricadas sob estrito controlo em fabrica. Os comprimentos nominais dos segmentos variam normalmente
entre 6 a 12 m. Um apertado controlo de qualidade é também aplicado no fabrico da Junta

2. CAPACIDADE ESTRUTURAL

A capacidade estrutural da estaca é dada pela resistência dos seus materiais com os adequados coeficientes
de minoração e é depois comparada com o solo em causa através de uma fórmula dinâmica de cravação.
As fórmulas dinâmicas são úteis e fáceis de aplicar em obra dando-nos estimativas imediatas da
capacidade da estaca através das “negas”. No entanto, para que possam ser aplicadas com sucesso houve
que desenvolver correlações necessárias entre os Ensaios Dinâmicos realizados em estacas e a aplicação
dessas fórmulas.

Os Ensaios Dinâmicos de Cravação são baseados na teoria da


propagação de onda de tensão ao longo da estaca, produzida como
consequência do impacto recebido durante a sua cravação no terreno.

Fig. 4

Com o objectivo de confirmar as correlações adoptadas têm-se executado em Portugal vários ensaios
dinâmicos em estacas cravadas. Os resultados são obtidos pelo método “CASE”, tomando como dados de
trabalho os registos efectuados em obra. Graças a este sistema de análise dinâmica é possível:
Determinar a capacidade de carga da estaca,
Controlar a sua integridade estrutural
Controlar a possível existência de tracções durante a cravação
Conhecer a energia de cravação

O método CASE foi desenvolvido pela CASE western reserve university em cleveland (OHIO, EUA) e
baseia-se no fenómeno físico de propagação das ondas de tensão, ao longo da estaca, produzidas como
consequência do impacto por ela recebido durante a sua cravação no terreno. Como hipótese de trabalho
supõe-se que o solo oferece uma resistência total Rt à cravação, compreendendo duas componentes, uma
estática Rs e outra dinâmica, Rd. A componente dinâmica Rd é considerada proporcional à velocidade de
penetração da estaca, denominando-se Jc a constante de proporcionalidade adoptada.

Tomando como dados de análise os registos de força e aceleração medidos na cabeça da estaca durante a
cravação, obtém-se uma resistência total Rt à cravação e a componente dinâmica Rd, com uma suposição
da constante Jc, com a qual é possível determinar a componente estática de resistência do solo, a que
interessa conhecer.

O método CAPWAP constitui um avanço na investigação iniciada no método CASE e elimina a incerteza
que deriva da suposição da constante Jc aplicada neste último método. No dito programa tem-se em conta
comportamentos elasto-plásticos do solo que tornam necessário o recurso a métodos numéricos para
encontrar uma solução mais complexa da Equação de Onda.

A maioria destes programas, e este que também descrevemos, baseiam-se no método inicial de Smith, o
qual em 1960 estabeleceu um modelo matemático no qual se representavam a massa, o sistema de
amortecimento, estaca e solo mediante elementos de massa unidimensionais ligados entre si com molas
elásticas e viscosas.
A análise dinâmica realizada pelo CAPWAP estabelece uma individualização como a anteriormente
mencionada, atribuindo três constantes ao elemento solo:

Ru – Resistência estática
q – deformação de rotura do solo
Js – coeficiente de amortecimento (dimensional)

No processo de cálculo com o CAPWAP parte-se de umas condições de contorno que podem ser ou os
valores de força ou os de aceleração obtidos com o equipamento analisador e estes conjuntamente com os
parâmetros supostos para o solo, dão lugar a umas forças calculadas. As sucessivas comparações entre as
forças calculadas e as reais registadas durante a cravação fazem que o processo seja iterativo e possa
chegar-se a calcular uma curva que se sobreponha com a medida realmente obtendo-se os parâmetros
necessários para uma boa correlação representando com grande exactidão o tipo de terreno atravessado
durante a cravação.

Em 1984 ultimou-se um programa denominado CAPWAP-C que se diferencia do anterior,


individualizando o sistema massa-estaca-solo de forma contínua, aumentando a sua precisão.

Foi este último programa desenvolvido, o aplicado no processo de registos tomados nos ensaios realizados
em Portugal

3. EXEMPLO

Vila Real de Sto António – Instalações do Porto de Pesca

Segundo prospecção prévia detectaram-se formações aluvionares de espessura variável. Estas formações
são constituídas por camadas intercaladas de lodos arenosos com fracas características mecânicas, N<12, e
areias médias a finas onde se obtiveram valores de Nspt mais elevados. A formação Miocénica,
constituída por uma argila castanha, ocorre a uma profundidade variável entre os 15 e os 20 m.
As estacas a instalar, de secção 300x300 mm2 deverão suportar uma carga de 100 Ton

Foram ensaiados pares de estacas de modo a que uma atinja a nega durante o ensaio e outra não.
Estaca Secção Comprimento Resist.Fuste Resist.Ponta Resist.Total Nega
(m) (Ton) (Ton) (Ton) (mm/p)
50 T300 20.4 231 64 295 1
51 T300 13.2* 77 41 118 8
94 T300 12.4* 71 96 167 6
97 T300 18.5 195 45 240 0
143 T300 14.0* 95 87 182 8
144 T300 19.5 187 80 267 2

* comprimento provisório

Das 6 estacas ensaiadas 3 estavam, no momento do ensaio, alojadas numa camada de areia fina a 13 ou 14
m de profundidade. Nestas estacas observa-se uma resistência total mobilizada muito variável, entre as
118 e 182 Tons manifestando-se a heterogeneidade do terreno.
As restantes 3 estacas foram cravadas até à nega calculada, (aos 17 e 18 metros) , conseguindo-se um
considerável aumento de resistência do conjunto estaca-terreno devendo portanto o encastramento ser
feito nesta camada.

O sistema de estacas pré-fabricadas aparece principalmente como um simples método para providenciar
uma boa fundação.
A execução propriamente dita, em obras com variáveis condições geotecnicas, requer no entanto uma
avaliação contínua da correlação entre as “negas” de cravação e as tensões geradas pelo atrito, os efeitos
de variação do peso do martelo ou o uso de diferentes materiais para elmos de protecção, a ordem de
cravação no terreno ou o hastear da estaca.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Candela, J. e Sainz Baranda, B. (1993): Ensayos dinámicos de carga en pilotes prefabricados hincados
para la cimentación de estructuras en la isla de La Cartuja, Sevilla, Ingenieria Civil, nº90.

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