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FUNDAÇÕES PROFUNDAS: GESTÃO DE DESEMPENHO E PRÁTICAS OPERACIONAIS

INOVAÇÃO NO ENSAIO SPT


Eng. Civil Nelson Aoki
Professor USP/São Carlos
São Paulo, 10/12/2013

RESUMO
Este artigo visa divulgar recentes pesquisas realizadas por professores e pesquisadores do Departamento de
Geotecnia da USP – São Carlos na área de investigação geotécnica.

A pesquisa sobre a execução do ensaio SPT e a interpretação dos dados obtidos neste ensaio de campo visa
determinar o comportamento e a resistência estática do solo, ao longo e abaixo do amostrador padrão, a
partir das seguintes inovações:
- Determinação da eficiência  do ensaio SPT, por meio de prova de carga estática realizada no
sistema haste e amostrador padrão SPT;
- Medição do comprimento Li da amostra recuperada (embuchamento) de solo dentro do
amostrador, logo após obtenção do NSPT;
- Determinação da relação de atrito Rf, da resistência de ponta rp e de atrito lateral rl do solo, a partir
da eficiência , do valor NSPT e do valor Li.
Adicionalmente, apesar das diferenças com o ensaio CPT no qual a resistência de ponta qc corresponde ao
de um cone com ponta fechada, o comportamento do solo pode ser avaliado a partir de rp e Rf utilizando-se,
provisoriamente, os gráficos de Robertson (1986, 1990) que objetivam esta finalidade.
A resistência do solo determinada a partir das inovações propostas pode ser aplicada na determinação da
capacidade de carga de estacas por um novo método de cálculo denominado Aoki-Hamilton que utiliza o
mesmo conceito de fator de transformação de resistência modelo/protótipo do método Aoki-Velloso, sem a
necessidade de se recorrer aos coeficientes empíricos  e K deste antigo método.
A comparação do resultado de capacidade de carga previsto com e sem consideração da eficiência do ensaio
SPT comprovado com prova de carga estática permite concluir que os atuais métodos de previsão de
resistência de estacas devem corrigir o valor NSPT antes de serem aplicados.

ITEM TITULO PAG.


1. Determinação da eficiência  do ensaio SPT....................................................................2
2. Dados básicos do ensaio e do amostrador SPT..................................................................2
3. Resultados de ensaio SPT com medida do comprimento da amostra recuperada...........3
4. Resistência estática á penetração do amostrador, atrito lateral, resistência ponta e K...5
5. Previsão indireta do tipo de comportamento do solo.......................................................6
6. Capacidade carga método Aoki-Hamilton.........................................................................9
7. Aplicação previsão capacidade carga estaca hélice contínua...........................................9
8. Comprovação capacidade carga com prova de carga estática........................................13
9. Conclusão.........................................................................................................................13

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1. Determinação da eficiência  do ensaio SPT

A eficiência  do impacto do martelo de peso W caindo de uma altura H do ensaio SPT pode ser
determinado a partir da curva carga-recalque executada sobre a haste do amostrador logo após a contagem
do número de golpes para medida do valor NSPT, de acordo com Aoki et alli (2007)*.

No exemplo que se segue para uma dada profundidade o resultado do ensaio SPT foi:
NSPT = 6 golpes / 30 cm
Portanto, a penetração média permanente do amostrador no solo para um golpe do martelo vale:
S=300/6 = 50 mm/golpe
A realização de uma prova de carga estática (PCE) rápida sobre o conjunto haste/amostrador/solo logo após
a medida desta resistência NSPT permitiu a obtenção da curva carga-recalque da Figura 1:

CARGA Q DESCARGA Carga (kgf)


0 100 200 300 400 500 600 700 800
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60

Figura 1. Resultado da prova de carga estática no amostrador SPT.


Nesta PCE o deslocamento máximo não se atingiu a penetração de 50 mm e, a área hachurada sob a curva
carga-recalque extrapolada até este valor de deslocamento vale 36419 kgf.mm.
Esta área corresponde ao trabalho Wnc gerado por forças resistentes não conservativas de reação por atrito
lateral na interface solo-amostrador e, assim:
Wnc = área sob a curva carga-recalque = 36419 kgf.mm
A energia potencial do martelo na posição inicial antes do impacto vale:
V = 65. 75. 10 = 48750 kgf.mm
Portanto, a eficiência  do impacto vale:
 = Wnc/V = 36419/48750 = 75 %

*Aoki, N., Esquivel, E.R., Neves, L.F.S., Cintra, J.C.A. (2007). The impact efficiency obtained from static load test performed
on the SPT sampler. Soils and Foundations, v. 47, No. 6, p.1045-1052.

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2. Dados básicos do ensaio e do amostrador SPT.


A Tabela 1 apresenta as dimensões amostrador padrão, eficiência do impacto calculado no item anterior e
relação “a” entre atrito lateral interno/externo aplicado ao exemplo que se segue:
Tabela 1. Dimensões amostrador padrão, eficiência e relação de atrito interno/externo.
DIMENSÕES AMOSTRADOR PADRÃO DO ENSAIO SPT c/ medida de RECUPERAÇÃO
Eficiencia SPT 0,75 a = rli/rl 2,00 SONDAGEM EXEMPLO
Dexterno amostrador 5,08 cm Peso haste 3,60 Aponta fechada 20,27
Dinterno amostrador 3,49 cm Uexterno 15,96 Ainterna embuchada 9,57
Dexterno anel cortante 3,81 cm Uinterno 10,96 Aponta=int+anel 11,40
Eparede amostrador 0,80 cm Lexterno 45,00 Aparede amostrador 10,70
Eparede anel cortante 0,16 cm Lponta 2,00 Aponta do anel 1,83

3. Ensaio SPT com medida do comprimento da amostra recuperada.


A medida do comprimento de amostra recuperada (embuchamento) no ensaio NSPT é ítem obrigatório na
norma de sondagem ASTM D1586-11: Standard Test Method for Standard Penetration Test (SPT) and Split-
Barrel Sampling, conforme prescrito no item 7.5 desta Norma.
A Figura 2 apresenta o perfil de sondagem cuja eficiência foi medida conforme item 1 com medida do
comprimento de penetração de solo no amostrador conforme prescrito na ASTM D1586-11:

Figura 2. Perfil de sondagem SPT do EXEMPLO.

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Trata-se formação de areias de dunas e areias siltosas sedimentares de compacidade variável que repousam
sobre a camada de argila arenosa dura de elevado índice de penetração NSPT.
Nota-se que o comprimento de penetração de solo é muito variável sendo notadamente pequeno na
camada de argila dura devido ao elevado valor da adesão entre as paredes internas do amostrador e o solo.
No caso de solos arenosos o comprimento é muito maior devido ao baixo valor da relação de atrito.
A Tabela 2 apresenta os resultados do ensaio SPT realizado com o equipamento e equipe que apresentou a
eficiência medida no item 1, incluindo a medida do comprimento Li da amostra recuperada, o peso das
hastes Wp, dados da ponteira (L, SL), relação de atrito Rf e resistência estática Ru, ao longo de profundidades
crescentes:

Tabela 2. Ensaio SPT (valores de NSPT , Li , Wp, L , SL , Rf e Ru).


PROF NSPT Li Wp L SL Rf Ru
m g/30 cm cm kgf cm cm2 kgf
0
1 5 40 7 2,1 29,3 0,011 658
2 7 45 11 2,1 29,3 0,010 902
3 14 38 14 2,1 29,3 0,011 1755
4 16 35 18 2,1 29,3 0,012 1999
5 19 40 22 2,1 29,3 0,011 2364
6 29 25 25 2,1 29,3 0,017 3583
7 34 32 29 2,1 29,3 0,014 4193
8 30 38 32 2,1 29,3 0,011 3705
9 32 40 36 2,1 29,3 0,011 3949
10 34 48 40 2,1 29,3 0,009 4193
11 36 39 43 2,1 29,3 0,011 4436
12 37 37 47 2,1 29,3 0,012 4558
13 39 35 50 2,1 29,3 0,012 4802
14 43 45 54 2,1 29,3 0,010 5289
15 46 36 58 2,1 29,3 0,012 5655
16 65 34 61 2,1 29,3 0,013 7971
17 71 33 65 2,1 29,3 0,013 8702
18 73 31 68 2,1 29,3 0,014 8946
19 75 8 72 2,1 29,3 0,055 9189
20 91 5 76 2,1 29,3 0,087 11139

Os valores das colunas 4 a 8 da Tabela 2 foram determinados a partir das seguintes fórmulas:
Wp= (PROF+1)*(peso haste por metro)
L={Lp2+[(Dext-Dp)/2]2}½
SL= L(Dext+Dp)/2
Rf= rl /rp=(rli /a)/rp
Ru= .W.H.((30/NSPT+75)/75).NSPT / 30 ……………….(kgf)

O termo ((30/NSPT+75)/75) refere-se á correção de altura de queda em relação ao sistema de referência


colocado sobre o indeslocável (rocha ou solo indeformável).
O peso do martelo vale W= 65 kgf e, a altura de queda é igual a H=75 cm.

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4. Resistência estática á penetração do amostrador, atrito lateral, resistência ponta e K.


A Tabela 3 apresenta os valores das parcelas (R) de resistência estática á penetração do amostrador,
atrito lateral (rl e rli), resistência de ponta (rp) e valor (K) equivalente do método Aoki-Velloso.

Tabela 3. Resistência R, atrito rl e rli, ponta rp e valor K.


R1 R2 R3 R4 R rlint rl rp K rlinterno
2 2 2
kgf kgf kgf kgf kgf kgf/cm kgf/cm kgf/cm rp/NSPT kPa
259 332 64 11 665 0,76 0,38 35 6,9 76
331 476 91 13 913 0,97 0,48 50 7,1 97
711 864 166 29 1769 2,07 1,04 90 6,4 207
850 950 182 35 2017 2,48 1,24 99 6,2 248
931 1189 228 38 2386 2,71 1,36 124 6,5 271
1811 1446 277 74 3608 5,28 2,64 151 5,2 528
1868 1910 366 76 4221 5,45 2,72 200 5,9 545
1502 1824 350 61 3737 4,38 2,19 191 6,4 438
1554 1986 381 63 3985 4,53 2,26 208 6,5 453
1475 2263 434 60 4232 4,30 2,15 237 7,0 430
1773 2210 424 72 4479 5,17 2,58 231 6,4 517
1880 2222 426 77 4605 5,48 2,74 232 6,3 548
2044 2286 438 83 4852 5,96 2,98 239 6,1 596
1940 2789 535 79 5343 5,65 2,83 292 6,8 565
2369 2725 523 96 5713 6,90 3,45 285 6,2 690
3439 3736 717 140 8032 10,02 5,01 391 6,0 1002
3816 4024 772 155 8767 11,12 5,56 421 5,9 1112
4058 4020 771 165 9014 11,83 5,91 420 5,8 1183
6884 1760 337 280 9261 20,06 10,03 184 2,5 2006
9110 1455 279 371 11215 26,55 13,27 152 1,7 2655

Os valores das colunas 2 a 11 foram determinados a partir das seguintes fórmulas:


R1=.Dext.(Lext-Lp).rl
R2=.Dint.a.rl.Li
R3=(/4.(Danel2-Dint2).(rl/Rf)
R4=(SL.Lp/L).rl
R =R1+R2+R3+R4
rli= a. rl
rl = {Ru+Wp}/{.Dext(Lext- Lp)+.Dint.a.Li+/4.(Danel2-Dint2)/Rf + SL Lp/L}
rp=rl/Rf =rpi
K= rp/NSPT

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5. Previsão indireta do tipo de comportamento do solo.


A Tabela 4 apresenta a classificação do solo segundo Aoki e Velloso e os valores de resistência de ponta e
relação de atrito que permitem caracterizar o comportamento do solo conforme Robertson et ali (1986)*.
Tabela 4. Classificação solo AV, NSPT, qt = rp e Rf
EXEMPLO
PROF Solo NSPT qt Rf
m AV Mpa %
1 100 5 4 1,1
2 100 7 5 1,0
3 100 14 10 1,1
4 100 16 11 1,2
5 100 19 14 1,1
6 100 29 16 1,7
7 100 34 22 1,4
8 120 30 21 1,1
9 120 32 23 1,1
10 120 34 26 0,9
11 120 36 25 1,1
12 120 37 25 1,2
13 120 39 26 1,2
14 120 43 32 1,0
15 120 46 31 1,2
16 120 65 43 1,3
17 120 71 46 1,3
18 310 73 46 1,4
19 310 75 19 5,5
20 310 91 16 8,7

A Figura 3 apresenta os pontos correspondentes no gráfico de Robertson (1986).


100,0

10 12

11
9
10,0
8
7
Cone resistance q t (MPa)

6
5
4
1,0
3
1
Increasing
sensitivity 2
0,1
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Friction ratio (%)


Figura 3. Gráfico comportamento de solo Robertson (1986).
*Robertson, P.K.,Campanella, R.G.,Gillespie, D. and Greig, J. (1986). Use of piezometer cone data. Proceedings of the
ASCE Specialty Conference In Situ`86: Use of In Situ Tests in Geotechnical Engineering, Blacksburg, 1263-80, American
Society of Engineers (ASCE).

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A Tabela 5 apresenta o tipo de comportamento do solo conforme Robertson (1986).


Tabela 5. Comportamento do solo conforme Robertson (1986).

Comparando-se a classificação do solo indicadas pelo sondador (coluna 2 da Tabela4) com os


pontos de mesma cor da Figura 3 com significado descrito na coluna 2 da Tabela 5 pode-se concluir que:
- A camada de solo entre 1 e 7m de profundidade foi classificado como areia fina cinza marrom,
medianamente compacta a compacta pelo sondador e correspondem aos pontos amarelos sobre o
gráfico da Figura 3 comportamento tipo 7 e 8 de areia, silte arenoso e areia siltosa;
- A camada de solo entre 8 e 17m de profundidade foi classificado como areia fina e areia fina
siltosa e cinza medianamente compacta marrom a muito compacta pelo sondador e correspondem aos
pontos de cor azul sobre o gráfico da Figura 3 comportamento tipo 9 de areia;
- A camada de solo entre 18 e 20m de profundidade foi classificada como argila arenosa dura cor
cinza pelo sondador e corresponde aos pontos de cor vermelha sobre o gráfico da Figura 3
comportamento tipo 11 que corresponde a solos de granulação fina muito dura pré-adensada ou
cimentada.
A Tabela 6 apresenta a classificação do solo segundo Aoki e Velloso e os valores de resistência
de ponta e relação de atrito que caracterizam o comportamento do solo ( Robertson, 1990)*.
Tabela 6. Classificação solo AV, NSPT, Qt e Rf
EXEMPLO
PROF Solo NSPT Qt Rf
m AV g/30cm %
1 100 5 38 1,1
2 100 7 55 1,0
3 100 14 99 1,1
4 100 16 109 1,2
5 100 19 137 1,1
6 100 29 164 1,7
7 100 34 219 1,4
8 120 30 210 1,1
9 120 32 229 1,1
10 120 34 262 0,9
11 120 36 254 1,1
12 120 37 255 1,2
13 120 39 261 1,2
14 120 43 322 1,0
15 120 46 312 1,2
16 120 65 429 1,3
17 120 71 461 1,3
18 310 73 459 1,4
19 310 75 191 5,5
20 310 91 157 8,7

*Robertson, P.K. (1990). Soil classification using the cone penetration test. Canadian
Geotechnical Journal, 27(1), 151-8.

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A Figura 4 apresenta os pontos correspondentes no gráfico de Robertson (90.

Figura 4. Gráfico comportamento de solo Robertson (1990).


A Tabela 7 apresenta o tipo de comportamento do solo conforme Robertson (1990).
Tabela 7. Resistência Qt e Rf
ZONE SOIL BEHAVIOUR TYPE
1 Sensitive, fine grained
2 Organic soils, peats
3 Clays-clays to silty clay
4 Silt mixtures clayey silt to silty clay
5 Sand mixtures, silty sand to sand silty
6 Sands, clean sands to silty sands
7 Gravelly sand to sand
8 Very stiff sand to clayey sand
9 Very stiff fine grained

Comparando-se a classificação do solo indicadas pelo sondador (coluna 2 da Tabela 6) com os


correspondentes pontos de mesma cor na Figura 4 cujo significado encontra-se na coluna 2 da Tabela 7
pode-se concluir que:
- A camada de solo entre 1 e 7m de profundidade foi classificado como areia fina cinza marrom,
medianamente compacta a compacta pelo sondador e correspondem aos pontos amarelos sobre o
gráfico da Figura 4 tem comportamento tipo 5 e 6 de areia e misturas de areia, areia siltosa e silte
arenoso;
- A camada de solo entre 8 e 17m de profundidade foi classificado como areia fina e areia fina siltosa e
cinza medianamente compacta marrom a muito compacta pelo sondador e correspondem aos pontos de
cor azul sobre o gráfico da Figura 4 comportamento tipo 6 de areia e areias siltosas;
- A camada de solo entre 18 e 20m de profundidade foi classificada como argila arenosa dura cor cinza
pelo sondador e corresponde aos pontos de cor vermelha sobre o gráfico da Figura 4 tem comportamento
tipo 9 que corresponde a solos de granulação fina muito dura pré-adensada ou cimentada.
Conclui-se que a classificação de comportamento do solo pode ser razoavelmente bem inferida
pela relação de atrito e resistência de ponta determinada a partir da simples medida do
comprimento Li da amostra recuperada (embuchamento) no amostrador SPT.

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6. Capacidade carga novo método Aoki-Hamilton


No novo método denominado Aoki-Hamilton por ser baseado no Princípio da Conservação de
Energia de Hamilton, não há mais necessidade de se conhecer a priori o tipo de solo uma vez
que o comprimento Li da amostra recuperada (embuchamento) permite determinar a
resistência de ponta e atrito a partir dos valores de resistência à penetração NSPT e da eficiência
 avaliados conforme itens anteriores.
Assim, a capacidade de carga é determinada pela mesma expressão de Aoki-Velloso:
PR = PL + PP
PL= ∑ U L r`l
PP= S. r´p
A resistência de ponta r´p da estaca é determinada pela expressão:
r`p= rp / F
A resistência de atrito r´l da estaca é determinada pela expressão:
r`l= rl / F
Os coeficientes de transformação F para os diversos tipos de estacas são os de Aoki-Velloso e
encontram-se na tabela 8:
Tabela 8. Coeficientes F de transformação
Tipo estaca F
Raiz 3,00
Metalica 1,75
Franki 2,50
Helice 3,50
Premoldada 1+B/80
Escavada 3,50
B=lado ou diâmetro

7. Aplicação previsão capacidade carga estaca hélice contínua


A Tabela 9 apresenta os resultados de cálculo de capacidade de carga pelo método de Aoki-
Velloso (AV) onde se adotou os valores de coeficientes de transformação da Tabela 8 no caso de
estaca hélice contínua:
F1 = 3,5
F2 = 7,0
Para cada profundidade de assentamento da coluna 1 apresenta-se nas colunas 9, 10 e 11
respectivamente as parcelas de atrito lateral PL , ponta PP e total PR para este método de
cálculo.
A Tabela 10 apresenta os mesmos resultados pelo método de Aoki-Hamilton (AH) considerando
a eficiência medida de 75% e o valor único de coeficiente de transformação:
F = 3,5
Para cada profundidade de assentamento da coluna 1 apresenta-se nas colunas 9, 10 e 11
respectivamente as parcelas de atrito lateral PL , ponta PP e total PR para o novo método de
cálculo.

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Tabela 9 . Capacidade de carga método Aoki-Velloso (método não considera eficiência)


CAPACIDADE DE CARGA MÉTODO AOKI-VELLOSO
OBRA EXEMPLO SON D A GEM EXEMPLO SETUP 100%
Prof. Cota NSPT  k rl estaca rp estaca rl acAV PL PP PR AV
2 2 2 2
(m) (m) g/30cm % kgf/cm kgf/cm kgf/cm kgf/cm tf tf tf
1 17,32 5 0,014 10,0 0,10 14 0,10 2 28 30
2 16,32 7 0,014 10,0 0,14 20 0,24 4 39 43
3 15,32 14 0,014 10,0 0,28 40 0,52 8 79 87
4 14,32 16 0,014 10,0 0,32 46 0,84 13 90 103
5 13,32 19 0,014 10,0 0,38 54 1,22 19 107 126
6 12,32 29 0,014 10,0 0,58 83 1,80 28 163 191
7 11,32 34 0,014 10,0 0,68 97 2,48 39 191 230
8 10,32 30 0,020 8,0 0,69 69 3,17 50 135 184
9 9,32 32 0,020 8,0 0,73 73 3,90 61 144 205
10 8,32 34 0,020 8,0 0,78 78 4,67 73 153 226
11 7,32 36 0,020 8,0 0,82 82 5,50 86 162 248
12 6,32 37 0,020 8,0 0,85 85 6,34 100 166 266
13 5,32 39 0,020 8,0 0,89 89 7,23 114 175 289
14 4,32 43 0,020 8,0 0,98 98 8,22 129 193 322
15 3,32 46 0,020 8,0 1,05 105 9,27 146 206 352
16 2,32 65 0,020 8,0 1,49 149 10,75 169 292 461
17 1,32 71 0,020 8,0 1,62 162 12,38 194 319 513
18 0,32 73 0,024 3,5 0,88 73 13,25 208 143 352
19 -0,68 75 0,024 3,5 0,90 75 14,15 222 147 370
20 -1,68 91 0,024 3,5 1,09 91 15,25 239 179 418

Tabela 10 . Capacidade de carga método Aoki-Hamilton para eficiência de 75%


CAPACIDADE DE CARGA MÉTODO AOKI-HAMILTON 75%
OBRA EXEMPLO SON D A GEM EXEMPLO SETUP 100%
Prof. Cota NSPT Li Tipo rl estaca rp estaca rl acAH PL PP PR
2 2 2
(m) m g/30cm cm solo kgf/cm kgf/cm kgf/cm tf tf tf
1 17,32 5 40 100M 0,11 10 0,11 2 19 21
2 16,32 7 45 100G 0,14 14 0,25 4 28 32
3 15,32 14 38 100M 0,30 26 0,54 9 51 59
4 14,32 16 35 100M 0,35 28 0,90 14 56 70
5 13,32 19 40 100M 0,39 36 1,28 20 70 90
6 12,32 29 25 120M 0,75 43 2,04 32 85 117
7 11,32 34 32 120G 0,78 57 2,82 44 112 156
8 10,32 30 38 100M 0,63 54 3,44 54 107 161
9 9,32 32 40 100M 0,65 59 4,09 64 116 181
10 8,32 34 48 100G 0,61 68 4,70 74 133 207
11 7,32 36 39 100M 0,74 66 5,44 85 130 215
12 6,32 37 37 100M 0,78 66 6,22 98 130 228
13 5,32 39 35 100M 0,85 68 7,07 111 134 245
14 4,32 43 45 100G 0,81 83 7,88 124 164 287
15 3,32 46 36 100M 0,99 81 8,87 139 160 299
16 2,32 65 34 120G 1,43 112 10,30 162 219 381
17 1,32 71 33 120G 1,59 120 11,89 187 236 423
18 0,32 73 31 120G 1,69 120 13,58 213 236 449
19 -0,68 75 8 320,00 2,87 53 16,44 258 103 361
20 -1,68 91 5 300,00 3,79 43 20,24 318 85 403

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FUNDAÇÕES PROFUNDAS: GESTÃO DE DESEMPENHO E PRÁTICAS OPERACIONAIS

A Figura 5 apresenta o gráfico de valores PL, PP e PR para os dois métodos de cálculo.

EXEMPLO ESTACA HELICE CONTINUA - B = 50 cm EF=75%


Capacidade carga (tf)

0
1
2 PRAH
3 PLAH
4 PR AV
5 PLAV
6
7
8
9
10
11
12
Cota ou profundidade (m)

13
14
15
16
17
18
19
20
0

100

200

300

400

500

Figura 5. Gráfico capacidade carga ao longo da profundidade para eficiência de 75%.


Conclui-se que na profundidade de assentamento de 10 m e uma eficiência de 75% a estaca
apresentaria uma carga de ruptura de 207 tf para o método de Aoki-Hamilton e 226 tf para o
método de Aoki-Velloso.

Para demonstrar a importância do efeito da eficiência sobre a determinação da capacidade de


carga a Tabela 11 apresenta os resultados pelo método de Aoki-Hamilton (AH) considerando
uma possível eficiência aleatória de 60% e o mesmo valor único de coeficiente de
transformação:
F = 3,5

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Tabela 11 . Capacidade de carga método Aoki-Hamilton eficiência de 60 %


CAPACIDADE DE CARGA MÉTODO AOKI-HAMILTON 60%
OBRA EXEMPLO SON D A GEM EXEMPLO SETUP 100%
Prof. Cota NSPT Li Tipo rl estaca rp estaca rl acAH PL PP PR
2 2 2
(m) m g/30cm cm solo kgf/cm kgf/cm kgf/cm tf tf tf
1 17,32 5 40 100M 0,09 8 0,09 1 16 17
2 16,32 7 45 100G 0,11 11 0,20 3 22 26
3 15,32 14 38 100M 0,24 21 0,43 7 41 47
4 14,32 16 35 100M 0,28 23 0,72 11 45 56
5 13,32 19 40 100M 0,31 28 1,03 16 56 72
6 12,32 29 25 120M 0,60 35 1,63 26 68 94
7 11,32 34 32 120G 0,62 46 2,26 35 90 125
8 10,32 30 38 100M 0,50 44 2,76 43 86 129
9 9,32 32 40 100M 0,52 48 3,28 51 93 145
10 8,32 34 48 100G 0,49 54 3,77 59 106 166
11 7,32 36 39 100M 0,59 53 4,36 69 104 172
12 6,32 37 37 100M 0,63 53 4,99 78 105 183
13 5,32 39 35 100M 0,68 55 5,67 89 108 197
14 4,32 43 45 100G 0,65 67 6,32 99 131 230
15 3,32 46 36 100M 0,79 65 7,11 112 128 240
16 2,32 65 34 120G 1,15 89 8,26 130 176 305
17 1,32 71 33 120G 1,27 96 9,53 150 189 339
18 0,32 73 31 120G 1,35 96 10,89 171 189 360
19 -0,68 75 8 320,00 2,30 42 13,18 207 83 290
20 -1,68 91 5 300,00 3,04 35 16,22 255 68 323

Neste caso a carga de ruptura prevista pelo novo método seria de PR = 166 tf valor que, como
esperado, é proporcional à eficiência do ensaio e que se distancia ainda mais do valor 226 tf
calculado pelo método tradicional.
A Figura 6 apresenta o gráfico de valores PL, PP e PR pelo método de Aoki-Hamilton para o caso
de 60% de eficiência.
EXEMPLO ESTACA HELICE CONTINUA - B = 50 cm EF=60%
Capacidade carga (tf)
0
1
2 PR AH
3 PLAH
4 PR AV
5 PLAV
6
7
8
9
10
11
Cota ou profundidade (m)

12
13
14
15
16
17
18
19
20
0

100

200

300

400

500

Figura 6. Gráfico capacidade carga ao longo da profundidade para eficiência 60 %.

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Neste caso, a carga de ruptura calculada pelo método de Aoki-Velloso seria muito contra a
segurança em razão do desconhecimento do real valor de eficiência do ensaio SPT.
Note-se que o inverso pode ocorrer mostrando a extrema importância da determinação deste
valor que deveria ser obrigatoriamente declarado em cada perfil de sondagem de simples
reconhecimento do solo SPT.

8. Comprovação capacidade carga com prova de carga estática.


A Figura 6 apresenta os resultados da prova de carga estática lenta realizada na estaca exemplo.
PROVA CARGA ESTÁTICA ESTACA EXEMPLO : HELICE CONTINUA D=50 cm
CARGA DESCARGA Polinômio (CARGA) Linear (B/30+PL/AE)

RESISTENCIA (tf)

0 50 100 150 200 250 300


0

10
DESLOCAMENTO (mm)

20
y = 0,0008x 2 - 0,0586x + 0,9254
R² = 0,9816
30

40

50
VEEN = 211 tf CHIN = 215 tf MAZURKIEWICZ = 247 tf NBR = 200 tf TERZAGHI 297 tf

Figura 6. Resultado da prova de carga estática estaca hélice continua B=50 cm


Conclui-se que dependendo da interpretação a carga de ruptura seria variável entre 200 tf e 297
tf para uma previsão de 226 tf de capacidade de carga pelo método de Aoki-Velloso e 207 tf
pelo novo método de Aoki-Hamilton, com eficiência de 75%.

9. Conclusão
Conclui-se que a medida da eficiência do ensaio SPT, obtida em prova de carga estática no
amostrador, aliada à medida de recuperação do solo no interior do amostrador permite a
obtenção de:
- parâmetros resistentes do solo na ponta do amostrador;
- estimativa indireta do tipo de solo com correlação de Robertson et alli (1986, 1990);
- novo método para determinação da capacidade de carga de estacas que permite levar
em conta a eficiência do ensaio SPT.

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BIBLIOGRAFIA
Aoki, N.; Cintra, J.C.A. (2000). The application of energy conservation Hamilton’s principle to
the determination of energy efficiency in SPT tests. In: VI International Conference on the
application of the stress-wave theory to piles, São Paulo. p. 457-460.
Aoki, N.; Esquivel, E.R.; Neves, L.F.S; Cintra, J.C.A. (2007). The impact efficiency obtained from
static load test performed on the SPT sampler. Soils and Foundations, vol. 47, n. 6, p. 1045-
1052.
Yuri Daniel Jatobá Costa, João Paulo da Silva Costa, Avelino Lourenço Silva Jr., 2012, Medidas da
Eficiência do Ensaio SPT em Areia Através de Provas de Carga Estática no Amostrador Padrão
(PCESPT), Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Trabalho
Completo

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