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COMISSÃO DE ESTUDOS ABNT NBR 8800

ROBERVAL PIMENTA / ALBERTO LEAL


DESLOCAMENTOS LIMITES
PROPOSTA DE AJUSTES
DATA FOLHA

DESLOCAMENTOS LIMITES
PARA TERÇAS DE COBERTURA
COMISSÃO DE ESTUDOS ABNT NBR 8800
ROBERVAL PIMENTA / ALBERTO LEAL
DESLOCAMENTOS LIMITES
PROPOSTA DE AJUSTES
DATA FOLHA

1. ASPECTOS GERAIS

O dimensionamento das terças de cobertura para o Estado Limite de Serviço –


Deslocamentos Excessivos (ELS – DE) é realizado a partir dos deslocamentos limites, estabelecidos
pela ABNT NBR 8800:2008 (Anexo C):

o Ações gravitacionais: L / 180 (combinação rara: sobrecarga de cobertura e peso


próprio de elementos estruturais e construtivos);

o Vento de Sucção (valor raro): L / 120

Figura 1.1 – Terças de cobertura

Embora o critério seja bastante usual nas rotinas dos escritórios de projeto e na literatura
técnica, é importante destacar que o procedimento apresenta uma inconsistência em relação à
abordagem do Método dos Estados Limites.

A limitação de flechas é importante para garantir a aparência (aspecto) da estrutura, evitar


vazamentos e danos a elementos não estruturais, especialmente os frágeis, sujeitos à fissuração
(forros e outros elementos apoiados ou suspensos nas terças), decorrentes de deslocamentos
excessivos. Nese sentido, as ações variáveis deveriam estar associadas aos fatores de combinação:

o Quase permanente (2), para a aparência (ou aspecto);

o Frequente (1), caso o estado limite seja reversível (telhas metálicas, forros e outros
elementos não sujeitos à fissuração),

o Raro, caso o estado limite seja irreversível (telhas, forros e outros elementos sujeitos
à fissuração.

OBS: Na versão atual da ABNT NBR 8800, a combinação rara, incluindo as ações permanentes
e variáveis, é indicada para qualquer situação.

Diante do exposto, seria natural imaginar que a alteração apenas na indicação dos fatores de
combinações e o ajuste proporcional dos deslocamentos limites atuais (L / 180 e L / 120) corrigiria
a inconsistência.
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No entanto, o ajuste evidencia uma outra inconsistência. No caso da avaliação das terças de
cobertura para o valor frequente do vento de sucção, por exemplo, o deslocamento seria limitado
a L / 400, conforme indicado a seguir:

o Vento – valor raro (ABNT NBR 8800:2008)………….…………………………………………..L / 120


o Vento – valor frequente (Ajuste proporcional, considerando 1 = 0,30)………….L / 400

Fica evidente que isso não faz sentido, especialmente quando comparado com a flecha limite
estabelecida para outros elementos como, por exemplo, vigas de piso (L / 350) e vigas de cobertura
(L / 250). Não é razoável que o critério para dimensionamento das terças (elementos secundários
de cobertura) seja mais rigoroso que o critério adotado para outros componentes estruturais de
maior relevância.

2. RECOMENDAÇÕES DE NORMAS ESTRANGEIRAS

Os deslocamentos limites de terças de cobertura são retratados em literaturas e normas


técnicas estrangeiras. Na Tabela 2.1, são representados os valores recomendados pelo IBC:2021
para elementos estruturais de cobertura.

Tabela 2.1 – Deslocamentos limites para elementos estruturais de cobertura (IBC:2021)

Algumas observações são importantes para a melhor compreensão das recomendações


apresentadas na Tabela 2.1. A ação de vento (W) pode ser ajustada a partir de um percentual de
42% (para período de recorrência de 10 anos) do seu valor característico, definido para um período
de recorrência de 700 anos.
Caso os valores característicos de vento, estabelecidos pela ABNT NBR 6123:1988 (período
de recorrência de 50 anos) sejam utilizados, é preciso que um ajuste diferente seja realizado. Neste
caso, é razoável adotar um percentual de 61% (0,782, de acordo com a Tabela 23 do Anexo B – ABNT
NBR 6123:1988) da ação de vento atuante na cobertura para possibilitar a utilização dos
deslocamentos limites, indicados na Tabela 2.1.
O deslocamento limite, considerando ações permanentes e variáveis (D + L), deve ser
avaliado apenas quanto o elemento estrutural estiver sujeito ao efeito de deformações lentas
(fluência). No caso de elementos estruturais de aço, a combinação em questão não se aplica.
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O IBC:2021 comenta ainda que as flechas dos elementos secundários de cobertura,


destinados apenas ao suporte de telhas metálicas, não podem exceder o limite de L / 150. Nessa
condição, o deslocamento de outros componentes de cobertura deve estar limitado a L / 180,
conforme indicado na Tabela 2.1.
A Tabela 2.2 apresenta os deslocamentos limites recomendados pelo BS EN 1993-1-1:2005
(National Annex) para vigas em geral, submetidas apenas ao valor raro da ação variável. Para terças
de cobertura, no entanto, não são sugeridos valores limites. É comentado apenas que o
deslocamento limite deve ser compatível com as particularidades do elemento de vedação.

Tabela 2.2 - Deslocamentos limites sugeridos pelo BS EN 1993-1-1:2005 (National Annex)

3. PROPOSTA DE AJUSTES NO VALOR LIMITE

A proposta para ajuste no valor do deslocamento limite das terças de cobertura consiste em
igualar o critério adotado para as vigas de cobertura (L / 250), deixando ao responsável técnico pelo
projeto, em comum acordo com o cliente, a decisão de “quais combinações de serviço deverão ser
usadas, conforme o elemento estrutural considerado, as funções previstas para a estrutura, as
características dos materiais vinculados à estrutura e a sequência de construção”, conforme B.2.4
do Anexo B do projeto de revisão da NBR 8800.

Tabela 3.1 – Situações típicas para o dimensionamento das terças de cobertura para ELS – DE

Elemento Estrutural Flecha


Combinação
Limite
Terças de cobertura destinadas 0,3 V (frequente)
apenas ao suporte de telhas AP + 0,6 AV (quase permanente) L / 250
metálicas
0,7 AV (frequente)
Terças de cobertura que suportam V (rara)
elementos construtivos frágeis AP + 0,6 AV (quase permanente) L / 250
(forros e telhas sujeitos a fissuração) **
AV (rara)
* AP: Ação Permanente | AV: Ação Variável | V: Vento.
** Foi admitido que, após a instalação do forro, apenas a ação variável atue na cobertura metálica.
Por se tratar de um estado-limite irreversível (fissuração em elementos frágeis), o valor
característico da ação variável foi utilizado.
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Na Tabela 3.1, são apresentadas algumas situações de combinações típicas utilizadas em


projetos estruturais reais de terças de cobertura, conforme item 4.8.7 do projeto de revisão da NBR
8800.

4. COMPARATIVO ENTRE METODOLOGIAS

O comparativo entre os resultados obtidos por diferentes critérios de cálculo é importante


para fundamentar possíveis ajustes no deslocamento limite atual, sugerido pela ABNT NBR
8800:2008. Neste sentido, o momento de inércia necessário para a conformidade das terças (em
relação ao ELS – DE) é o principal parâmetro de avaliação.

Tabela 4.1 – Ações e combinações


Carregamentos Ações [kN / m2]
Peso Próprio - Telhas Peso Próprio - Terças Ação Variável Vento

1 0,06 0,04 0,25 0,00


2 0,12 0,04 0,25 0,00
3 0,06 0,04 0,50 0,00
4 0,12 0,04 0,50 0,00
5 0,00 0,00 0,00 0,60

A Tabela 4.1 apresenta valores de ações usualmente adotados em projetos de coberturas de


aço e admitidos para a análise em questão. Além disto, admitiu-se que as terças estão biapoiadas,
espaçadas a cada 2.500 mm, possuem vão livre de 6.000 mm e não são sustentam elementos frágeis
ou sujeitos à fissuração.

A Tabela 4.2 ilustra os valores dos momentos de inércia I NEC, obtidos através dos distintos
critérios de avaliação do Estado Limite de Serviço – Deslocamentos Excessivos. É importante
ressaltar que o estudo das metodologias do IBC:2021 e ABNT NBR 8800:2008 contemplou apenas
a ação variável (valor característico) e a combinação rara (ações permanentes e variáveis),
respectivamente.
Por outro lado, de maneira mais coerente com o Método dos Estados Limites, a nova
metodologia proposta avaliou duas situações, destacadas a seguir. O dimensionamento ao ELS –
DE, em termos práticos, pode ser realizado a partir do maior dentre os valores de momento de
inércia (INEC,3) obtidos.

o Combinação quase permanente (aparência ou aspecto da estrutura): valor


característico das ações permanentes e valor quase permanente (2) da ação
variável.

o Combinação frequente (estados limites reversíveis, tais como vazamentos e


formação de poças na cobertura): apenas o valor frequente (1) da ação variável e,
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eventualmente, o valor característico de ações permanentes aplicadas após a


instalação do elemento frágil.

Observe que os resultados obtidos pelo critério atual da norma brasileira de aço e o critério
proposto (em vermelho) são bem próximos (razão INEC,3 / INEC,1). Para o “Carregamento 1”, por
exemplo, o momento de inércia INEC,3 (maior valor dentre 219,7 cm4 e 153,8 cm4) corresponde a
99% do momento de inércia INEC,1 (igual a 221,5 cm4). Para os carregamentos “2”, “3” e “4”, as razões
entre os valores totalizam 105%, 93% e 97%, respectivamente.

Tabela 4.2 – Momento de Inércia Necessário (INEC) para terças sujeitas a ações gravitacionais e que
não suportam elementos frágeis
Estado Limite de Serviço - Deslocamentos Excessivos (ELS - DE)

ABNT NBR 8800:2008 IBC:2021 PROPOSTA DE AJUSTE


Carregamentos INEC,1 INEC,2 INEC,3 INEC,3 / INEC,1 INEC,3 / INEC,2
Comb. Comb. Comb.
L / 180 L / 150 L / 250
219,7 AP + 0,6 . AV
1 221,5 AP + AV 131,8 AV 99% 117%
153,8 0,7 . AV
272,5 AP + 0,6 . AV
2 259,5 AP + AV 131,8 AV 105% 117%
153,8 0,7 . AV
351,6 AP + 0,6 . AV
3 379,7 AP + AV 263,7 AV 93% 117%
307,6 0,7 . AV
404,3 AP + 0,6 . AV
4 417,7 AP + AV 263,7 AV 97% 117%
307,6 0,7 . AV

Na prática, nesta situação e para esses carregamentos, a proximidade entre os resultados


obtidos pelo critério proposto e pelo atual critério da Norma permite concluir que o consumo de
aço, em ambos os casos, é equivalente.
O comparativo entre o critério proposto e o sugerido pelo IBC (razão INEC,3 / INEC,2), destacado
em azul, mostra que ambos os critérios também conduzem a resultados muito próximos
Na Tabela 4.3, são apresentados os valores dos momentos de inércia necessários,
considerando apenas a atuação do vento de sucção. Os resultados demonstram que o critério
proposto conduz a seções de menor dimensão (INEC,3 / INEC,1 = 63%, em vermelho) que o da atual
versão da NBR 8800, porém mais próximas das seções obtidas com o critério do IBC-2021 (INEC,3 /
INEC,2 = 82%, em azul).

Tabela 4.3 – Momento de Inércia Necessário (INEC) para terças sujeitas ao vento de sucção e que
não suportam elementos frágeis
Estado Limite de Serviço - Deslocamentos Excessivos (ELS - DE)

ABNT NBR 8800:2008 IBC:2021 PROPOSTA DE AJUSTE


Carregamentos INEC,1 INEC,2 INEC,3 INEC,3 / INEC,1 INEC,3 / INEC,2
Comb. Comb. Comb.
L / 120 L / 150 L / 250
5 253,1 V 193,0 0,61 . V 158,2 0,3 . V 63% 82%
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As verificações apresentadas anteriormente foram realizadas para situações em que o


sistema estrutural de cobertura não sustentava elementos frágeis, sujeitos a danos irreversíveis.
Para avaliar também o comparativo entre as diferentes metodologias nessas condições, as tabelas
4.4 e 4.5 ilustram os resultados obtidos. Para avaliar a possibilidade de danos irreversíveis a
elementos construtivos e estruturais, deve-se levar em consideração apenas as ações que atuam
após a instalação do componente. A versão atual da norma brasileira, por outro lado, considera
todas as ações permanentes atuantes na cobertura, o que é inconsistente.

Tabela 4.4 – Momento de Inércia Necessário (INEC) para terças sujeitas a ações gravitacionais e que
suportam elementos frágeis
Estado Limite de Serviço - Deslocamentos Excessivos (ELS - DE)

ABNT NBR 8800:2008 IBC:2021 PROPOSTA DE AJUSTE


Carregamentos INEC,1 INEC,2 INEC,3 INEC,3 / INEC,1 INEC,3 / INEC,2
Comb. Comb. Comb.
L / 180 L / 360 L / 250
219,7 AP + 0,6 . AV
1 221,5 AP + AV 316,4 AV 99% 69%
219,7 AV
272,5 AP + 0,6 . AV
2 259,5 AP + AV 316,4 AV 105% 69%
219,7 AV
351,6 AP + 0,6 . AV
3 379,7 AP + AV 632,8 AV 93% 69%
439,5 AV
404,3 AP + 0,6 . AV
4 417,7 AP + AV 632,8 AV 97% 69%
439,5 AV

Tabela 4.5 – Momento de Inércia Necessário (INEC) para terças sujeitas ao vento de sucção e que
suportam elementos frágeis
Estado Limite de Serviço - Deslocamentos Excessivos (ELS - DE)

ABNT NBR 8800:2008 IBC:2021 PROPOSTA DE AJUSTE


Carregamentos INEC,1 INEC,2 INEC,3 INEC,3 / INEC,1 INEC,3 / INEC,2
Comb. Comb. Comb.
L / 120 L / 360 L / 250
5 253,1 V 463,2 0,61 . V 527,3 V 208% 114%

Na Tabela 4.4, observa-se que o critério baseado na combinação quase permanente conduziu
ao maior momento de inércia para o carregamento 2, enquanto para os carregamentos 1, 3 e 4, o
critério baseado na combinação rara foi determinante. Novamente, observa-se que o critério
proposto e o da atual versão da NBR 8800 são próximos.
Na Tabela 4.5, são apresentados os resultados de momento de inércia para as terças de
cobertura sujeitas a ventos de sucção. Observa-se que o critério proposto foi determinante, mas
que conduz a momentos de inércia de mesma ordem de grandeza que o critério do IBC-2021 (INEC,3
/ INEC,2 = 114%, em azul). Nesta situação, o critério da atual NBR 8800 conduz a resultados muito
inferiores aos obtidos com o critério do IBC-2021 (253,1 cm4 contra 463,2 cm4, apenas 54,6%).
Observa-se que não se faz distinção se os elementos não estruturais sustentados pelas terças
são ou não suscetíveis à fissuração, conduzindo sempre ao mesmo valor de momento de inércia,
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ou seja, à mesma seção. Portanto, é evidente que as combinações adotadas pela ABNT NBR
8800:2008 para dimensionamento das terças, com base no estado limite de deslocamento
excessivo, e que suportam elementos frágeis, não são coerentes com o Método dos Estados
Limites.

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